NEWSLETTER ACES Espinho/Gaia Edição nº 9
Editorial Nesta Edição da Newsletter o tema principal é a Gestão de Doenças Crónicas. Contamos com um artigo acerca da análise da Gestão de Doença Crónica em Cuidados de Saúde Primários e com dois artigos da área cardiovascular e respiratória no adulto, elaborados por Colegas do Centro Hospitalar Vila Nova Gaia/Espinho. Relativamente à gestão de doença crónica em idade pediátrica, esta é abordada sob a perspetiva da Medicina Geral e Familiar, de uma Equipa de Saúde Escolar e da Equipa de Intervenção Precoce. No que respeita às atividades desenvolvidas em âmbito escolar destaca-se um artigo acerca do treino de SBV/DAE. A Unidade de Saúde Pública está de Parabéns pelo prémio de Saúde Sustentável na Categoria Cuidados Integrados com o projeto de Intervenção: “Outbreak-free homes”. Como novidade, temos ainda o projeto CIRCular, que passa por um programa de formação e apoio às unidades funcionais do ACES Espinho/Gaia para a construção e implementação de projetos de intervenção na comunidade. Incluímos a divulgação das próximas formações organizadas pelo Núcleo de Formação do ACeS Espinho-Gaia, que vão decorrer via Plataforma Teams.
O Núcleo Editor da Newsletter
Gestão de Doenças Crónicas Fevereiro 2021
Índice
Editorial ....................................................................................................................................... 1 Índice ............................................................................................................................................ 2 Pandemia e gestão da doença crónica: dois ou três apontamentos. ............................ 3 Gestão das doenças crónicas: doença cardiovascular ..................................................... 4 DPOC em tempos de pandemia ............................................................................................ 6 “Outbreak-free homes” – um projeto colaborativo de intervenção para a prevenção de COVID-19 nos estabelecimentos de apoio social a pessoas idosas .. 8 Gestão da doença crónica em idade pediátrica ............................................................10 Intervenção Precoce na Infância em tempos de pandemia ...........................................11 A Criança com doença crónica na escola ..........................................................................13 Treino em SBV/DAE nas escolas ..........................................................................................14 Projeto CIRCular – Colaboração para Intervenção em Rede na Comunidade ........16 Núcleo de Formação – Calendarização ............................................................................18 Ficha Técnica ............................................................................................................................19
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Pandemia e gestão da doença crónica: dois ou três apontamentos. A pandemia pelo nCov ocupou um enorme espaço na actividade do SNS. Se tentássemos alterar a visão gráfica da matriz SWOT para enxergar melhor a situação estratégica, poderíamos representá-la com uma enorme hipertrofia da zona de Ameaças, provocada pela pandemia. Uma boa parte das nossas forças estão destinadas ao combate contra a Covid 19, com desvio de recursos humanos, físicos e financeiros para EPI, ADR, UCI, hospitais de campanha, vacinação, e outros. Com prejuízo de tarefas importantíssimas, como os rastreios, o acompanhamento adequado de patologias crónicas com impacto nos indicadores de morbilidade e na mortalidade, o tratamento de factores de risco, o acesso dos cidadãos aos serviços de saúde, a qualidade da prescrição, etc. Manuel Mário Sousa Presidente Conselho
Forças:
Fraquezas
luta contra a Covid 19
Clínica ACeS E/G mmfsousa@arsnorte.min -saude.pt
Opor tuni dades
Ameaça COVID 19
As oportunidades: ou não as vemos, ou se as vemos não temos tempo nem ocasião para as olharmos como devia ser. E as nossas fraquezas, bom, essas tornam-se mais visíveis e quase sempre implicam negativamente na gestão dos serviços: são as insuficiências físicas das instalações, são os equipamentos obsoletos, avariados ou inexistentes, é a instabilidade das equipas, é o cansaço ou desajustamento dos profissionais. A gestão da doença crónica é uma subárea de desempenho que sofreu um enorme impacto negativo com a pandemia: por exemplo, o índice de desempenho na gestão da diabetes desceu 24%; na HTA desceu 32%; e quanto à multimorbilidade, a maior parte das unidades não conseguiu sequer atingir os níveis mínimos aceitáveis. Isto para não falar na gestão longitudinal do doente complexo ou em outras dimensões da saúde, como os rastreios, cujos atrasos implicarão em doença crónica de mais difícil assistência dentro de poucos meses ou anos. O plano de contingência de Outono/Inverno, fortemente condicionado pela pandemia, está a terminar a sua vigência, o que somado ao maior controle epidemiológico poderá alavancar uma retoma finalmente eficaz da actividade clínica, na qual se enquadra a gestão da doença crónica no seu global, com positivas repercussões no estado de saúde e na mortalidade geral e específica. |3
Gestão das doenças crónicas: doença cardiovascular
A doença cardiovascular (CV) constitui uma causa significativa de mortalidade e morbilidade (1). Ao longo das últimas décadas, avanços substanciais em termos diagnósticos e terapêuticos permitiram melhorar de forma marcada a abordagem global da doença CV levando, contudo, à necessidade de uma contínua atualização e integração (2, 3, 4). Neste contexto, uma intervenção pragmática, estruturada e baseada na evidência contemporânea assume um papel central ao longo de diferentes fases do continuum cardiovascular, desde a prevenção primária à mitigação do risco residual após um evento agudo. A noção do continuum de risco CV, associada aos conceitos de que quer a presença de múltiplos fatores de risco cardiovascular quer o tempo de
Eduardo M. Vilela, MD
exposição (previamente consensual no caso do tabagismo, e cada vez mais destacado noutras áreas como na dislipidemia e nas alterações do perfil glicémico) se associam a efeitos deletérios sobre o sistema CV (4, 5, 6) reforçam a importância da multidisciplinariedade na abordagem deste grupo complexo de doentes, com um lugar de destaque para a articulação entre a Cardiologia e a Medicina Geral e Familiar. De igual modo, áreas de fronteira como as decorrentes da inter-relação entre a doença CV e a patologia oncológica ou a doença auto-imune reforçam a necessidade de estratégias centradas no doente, englobando diferentes vertentes (3, 7). A expectável progressiva incorporação e difusão de novas tecnologias no campo da medicina CV, como no caso de dispositivos de monitorização de disritmias cardíacas ou o recurso a outras tecnologias assentes no
Ricardo FontesCarvalho, MD, PhD, FESC, FACC
background da telemedicina, irão levar a novos desafios nesta área em profunda e rápida expansão (8). Por outro lado, a importância reconhecida de fatores diversos como o da inflamação ou da poluição na modulação da doença CV irá levar à necessidade de desenvolvimento de novos paradigmas de prevenção (9). Finalmente, desafios intemporais como os referentes a quais as melhores estratégias práticas por forma a
Serviço de Cardiologia, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho EPE
promover estilos de vida saudáveis e compliance terapêutica (pedras basilares da prevenção CV, contudo muitas das vezes de difícil adoção e manutenção sobretudo a longo prazo) irão manter-se como um dos focos principais da atuação clínica (4, 10). O binómio do seguimento e gestão do doente com patologia CV apresenta-se assim como uma área diferenciada e em contínua evolução, assentando em evidência e conceitos de base robustos, permitindo melhorias notórias no prognóstico e na qualidade de vida deste grupo de |4
indivíduos. À medida em que a Medicina se desenvolve num percurso cada vez mais personalizado, a convergência e integração de diferentes áreas clínicas apresentará um destaque crescente no que se refere à doença CV.
Referências: 1) Roth GA et al. Global Burden of Cardiovascular Diseases and Risk Factors, 1990-2019: Update From the GBD 2019 Study. J Am Coll Cardiol. 2020;76:2982-3021. 2) Virani SS et al. Heart Disease and Stroke Statistics-2021 Update: A Report From the American Heart Association. Circulation. 2021 Jan 27. Epub ahead of print. 3) Timmis A et al. European Society of Cardiology: Cardiovascular Disease Statistics 2019. Eur Heart J. 2020;41:1285. 4) Piepoli MF et al. 2016 European Guidelines on cardiovascular disease prevention in clinical practice: The Sixth Joint Task Force of the European Society of Cardiology and Other Societies on Cardiovascular Disease Prevention in Clinical Practice (constituted by representatives of 10 societies and by invited experts)Developed with the special contribution of the European Association for Cardiovascular Prevention & Rehabilitation (EACPR). Eur Heart J. 2016;37:2315-81. 5) Mach F et al. 2019 ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidaemias: lipid modification to reduce cardiovascular risk. Eur Heart J. 2020;41:111-88. 6) Cosentino F et al. 2019 ESC Guidelines on diabetes, pre-diabetes, and cardiovascular diseases developed in collaboration with the EASD. Eur Heart J. 2020;41:255-323. 7) Zamorano JL et al. 2016 ESC Position Paper on cancer treatments and cardiovascular toxicity developed under the auspices of the ESC Committee for Practice Guidelines: The Task Force for cancer treatments and cardiovascular toxicity of the European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J. 2016;37:2768-2801. 8) Scherrenberg M et al. The future is now: a call for action for cardiac telerehabilitation in the COVID-19 pandemic from the secondary prevention and rehabilitation section of the European Association of Preventive Cardiology. Eur J Prev Cardiol. 2020 Jul 2. Epub ahead of print. 9) Münzel T et al. Reduction of environmental pollutants for prevention of cardiovascular disease: it's time to act. Eur Heart J. 2020;41:3989-97. 10) Piepoli MF et al. Update on cardiovascular prevention in clinical practice: A position paper of the European Association of Preventive Cardiology of the European Society of Cardiology. Eur J Prev Cardiol. 2020;27:181-205.
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DPOC em tempos de pandemia A pandemia por COVID-19 tem trazido algumas particularidades na gestão do doente com DPOC. De acordo com a evidência científica atual, a DPOC não parece ser um fator de risco adicional para a infeção por SARS-CoV-2. No entanto, nestes doentes, a COVID-19 pode apresentar uma maior gravidade, com maior risco de hospitalização e de mortalidade. A má adesão à terapêutica inalada, uma pior função respiratória e a dificuldade no acesso aos cuidados médicos são fatores associados a um pior prognóstico. Ainda que possa ser difícil diferenciar os sintomas usuais da DPOC dos sintomas da COVID-19, em todos os doentes com sintomas respiratórios de novo ou agravados, febre, fadiga, diarreia, náuseas, vómitos, mialgias, anosmia ou disgeusia deve ser feita a pesquisa de SARSCoV-2. Os coronavírus em geral, e o SARS-CoV-2 em particular, podem desencadear exacerbações da DPOC, cuja abordagem terapêutica
Adelaide Alves Interna de formação específica de Pneumologia do 5º ano do CHVNG/E
deverá seguir as recomendações habituais, nomeadamente, o recurso a ciclos curtos de corticoterapia e/ou antibioterapia, se suspeita de sobreinfeção bacteriana. A pandemia por COVID-19 tem também trazido alguns desafios no diagnóstico da DPOC. A realização da espirometria, pelo risco de transmissão do vírus SARS-CoV-2 durante o teste, deverá ser restringida aos casos em que se impõe um diagnóstico urgente e/ou às situações em que existe a necessidade de avaliação da função respiratória previamente a cirurgias ou outros procedimentos médicos. Nestes casos, é recomendável que os doentes sejam submetidos previamente à pesquisa de SARS-CoV-2 por RT-PCR. Os doentes devem manter a sua terapêutica farmacológica de manutenção habitual e devem ser incentivados a manter, dentro do possível, algum nível de atividade física, independentemente da suspensão em contexto de pandemia de alguns programas de reabilitação respiratória. O uso de nebulizadores deve ser evitado, pelo risco de aerossolização de partículas. Os doentes devem seguir as recomendações gerais de controlo de infeção, nomeadamente, o uso de máscara, a higienização frequente das mãos e o distanciamento social. A utilização da máscara cirúrgica não parece prejudicar a ventilação, mesmo em doentes com obstrução grave do fluxo aéreo. O uso do respirador N95 pode, de acordo com um estudo recente conduzido em doentes com DPOC, ser menos bem tolerado, sobretudo nos doentes mais sintomáticos (mMRC ≥ 3) ou com pior função respiratória (FEV1 < 30% do previsto). Deve ser reforçada a desabituação tabágica e |6
recomendada a vacinação anti-gripal anualmente. Quando disponível para este grupo de doentes, deverá também ser incentivada a vacinação contra a COVID-19. Referências: Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease. 2020 Report. Kyung SN, et al. Risks of N95 face mask use in subjects with COPD. Respir. Care 2020; 65(5): 658-664
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“Outbreak-free homes” – um projeto colaborativo de intervenção para a prevenção de COVID-19 nos estabelecimentos de apoio social a pessoas idosas Neste contexto de pandemia de COVID-19, os idosos são um grupo de particular vulnerabilidade, com um maior risco de doença grave ou de letalidade. Assim, o projeto de intervenção “Outbreak-free homes” surgiu como uma necessidade premente de resposta à população mais vulnerável em contexto da pandemia, nomeadamente aos idosos institucionalizados, não só pelo impacto da doença, mas também pela dificuldade da aplicação das medidas de prevenção (e.g. distanciamento social, uso de EPI respiratório) neste contexto. Assim, o projeto do ACES Espinho/Gaia surgiu a partir da Unidade de Saúde Pública numa fase precoce da resposta à pandemia de COVID-19, num ACES que abrange mais de 1500 utentes nos estabelecimentos de apoio social a pessoas idosas, que incluem estruturas residenciais para pessoas idosas (ERPI, comumente designados por “lares”) e dos acolhimentos familiares para pessoas idosas (AFPI, comumente designados por “casas de acolhimento”) mas também centros de dia, centros de convívio ou serviços de apoio domiciliário. O projeto teve e tem como principais objetivos prevenir a COVID-19 em
João Vasco Santos | Médico Interno de Saúde Pública | jvsantos@arsnorte.minsaude.pt
utentes destes estabelecimentos, bem como surtos nestes estabelecimentos, e ter uma intervenção rápida após a identificação de um caso suspeito. Para tal, foi criada uma resposta integrada de quase todas as Unidades Funcionais do ACES Espinho/Gaia, com as quais tem sido um prazer trabalhar, mas também colaborando com parceiros da Comunidade como os próprios estabelecimentos, a Segurança Social, as Câmaras Municipais e Proteção Civil de Vila Nova de Gaia e Espinho; com o apoio contínuo do Departamento de Saúde Pública e da ARS Norte. Foi também criado um fluxo específico de procedimentos entre todos os intervenientes para atuarem sempre que necessário. Várias intervenções foram e têm sido feitas, incluindo o auxílio e acompanhamento da operacionalização de visitas dos familiares, adaptando-as ao contexto onde são realizadas, a avaliação constante dos planos de contingência e suas adaptações e a formação em prevenção e controlo de infeção de todos os profissionais das ERPI e AFPI. Foi também realizada uma transição digital com um sistema de informação com o detalhe necessário para a intervenção adequada nos estabelecimentos e utentes/profissionais, tendo permitido a utilização de ferramentas de |8
Business Intelligence para um rápido diagnóstico de situação e posterior intervenção. Como um todo, acreditamos que o projeto seja um exemplo estruturado de boas práticas e colaboração, tendo também obtido o Prémio Saúde Sustentável na categoria de Cuidados Integrados, num momento em que foi difícil estruturar projetos de intervenção com melhoria associada devido à pressão constante existente para os ACES e para as Unidades de Saúde Pública. Conseguimos criar um canal de comunicação rápido e efetivo entre estes estabelecimentos e a Unidade de Saúde Pública e ACES Espinho/Gaia, permitindo também uma resposta e intervenção rápida. Mas também gostaríamos de aproveitar esta oportunidade para sensibilizar todos os profissionais destes estabelecimentos da importância do reconhecimento dos sintomas sugestivos de COVID-19 e imediata atuação, mas também de todas as medidas preventivas que devem ser feitas por todos estes profissionais em contexto social. No ACES Espinho/Gaia, nomeadamente com a execução do projeto “Outbreak-free homes” e com o Programa de Vigilância Sanitária destes estabelecimentos criado no contexto deste projeto, temos feito todos os esforços para que estas sejam as “caixas-fortes” da nossa área geográfica e que estes idosos consigam superar connosco este inusitado desafio, mantendo a comunicação com os que lhes são mais queridos.
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Gestão da doença crónica em idade pediátrica A OMS define doença crónica como aquela que tem uma ou mais das seguintes características: permanente; produz incapacidade residual; causada por alterações patológicas irreversíveis; exige formação especial do doente para a reabilitação; ou pode exigir longos períodos de cuidados. Em idade pediátrica, a doença crónica pode interferir no contexto da vida familiar, escolar e social. Para que seja possível uma intervenção eficaz, torna-se necessário a articulação Família-Saúde-Educação, já que esta contribui de forma importante para a obtenção de ganhos em saúde, diminuição da utilização dos recursos hospitalares, diminuição das faltas à escola e do absentismo laboral dos pais. Os CSP encontram-se numa posição privilegiada para proporcionar essa
Mariana Fonseca Assistente de MGF, USF Além D’Ouro
articulação, colocando a criança com doença crónica no centro do plano de intervenção. Cabe assim à equipa de saúde a elaboração e execução deste plano individual, contactando com os principais intervenientes presencialmente, por escrito (carta dirigida/relatório clínico/e-mail) ou por telefone. Um dos aspetos principais passa por tentar compreender o modo como a criança se adapta à doença e adere ao tratamento, bem como as repercussões que a patologia tem na sua qualidade de vida. Um outro aspeto crucial nesta abordagem é a necessidade de uma avali ação familiar, sendo a família o pilar da criança e na qual se verificam alterações repentinas de rotinas e, por vezes, até de papéis no núcleo familiar. É também importante o acompanhamento multidisciplinar (consulta hospitalar, psicologia, fisioterapia, terapia da fala, etc.), mantendo uma
Íris Santos Martins IFE de MGF, USF Além D’Ouro
relação de proximidade e interajuda com todos os profissionais envolvidos. Por último, a articulação com a escola pode ser feita tendo como intermediário o encarregado de educação ou, quando assim se justifique, poderá haver contacto direto com a direção de turma e restantes professores, seja por informação clínica (consentida pelo representante legal), seja no sentido de fornecer informação útil à gestão da doença em ambiente escolar (ensinos, formação, folhetos informativos). O desafio da gestão da doença crónica em idade pediátrica está na necessidade imperativa de articulação e envolvimento multidisciplinar, no sentido de proporcionar o melhor para a criança, mantendo-a no centro do nosso plano de intervenção.
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Intervenção Precoce na Infância em tempos de pandemia A Intervenção Precoce na Infância (IPI) é dirigida às crianças entre os 0 e 6 anos de idade, com alterações ou em risco de apresentar alterações nas estruturas ou funções do corpo, tendo em conta o seu normal desenvolvimento, com vista à concretização do direito à participação e à inclusão social dessas crianças e famílias. Os primeiros anos de vida desempenham um papel decisivo no desenvolvimento global da criança representando uma verdadeira janela de oportunidade de aprendizagem, para
aquisição
de
habilidades
motoras,
cognitivas,
linguísticas,
comunicativas e sociais.
Anabela Maia Enfermeira ELI Gaia Sul
A IPI assenta nos seguintes princípios-chave:
as crianças aprendem pelas experiências diárias com pessoas significativas e em contextos familiares;
todas
as
famílias
podem
promover
a
aprendizagem
e
eli.acesegarcozelo@arsn orte.min-saude.pt
o
desenvolvimento da criança;
necessidade de capacitação da criança/família com base nos pontos fortes existentes;
processo de intervenção deve ser dinâmico e individualizado para refletir as preferências, estilos de aprendizagem e crenças culturais da família, baseados nas suas necessidades e prioridades.
Decorrente do contexto pandémico causado pela Covid19 emergiu a necessidade de reinventar estratégias de intervenção com recurso à tecnologia, de forma a possibilitar a continuidade no apoio e articulação com toda a equipa multidisciplinar. A intervenção à distância foi privilegiada, exceto quando tal não era possível e salvaguardando as situações de risco. Tal permitiu a manutenção da continuidade na transmissão de ferramentas e estratégias para pais trabalharem com seus filhos, de forma a assegurarem ambientes seguros e estimulantes. Por outro lado, ampliou os momentos de partilha de informação e permitiu uma maior flexibilidade às famílias na gestão dos seus horários. Contudo, também nos deparamos com alguns constrangimentos. De salientar, a falta de meios tecnológicos e de destreza por parte de algumas famílias, no que concerne ao seu uso; comprometimento na observação da dinâmica familiar e menor recetividade por parte das crianças com esta modalidade de intervenção. | 11
Esta fase da pandemia que vivenciamos torna exigível o recolhimento domiciliário e as atividades letivas encontram-se suspensas, sendo por isso premente o acompanhamento das crianças e suas famílias pela equipa local de intervenção (ELI).
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A Criança com doença crónica na escola Ao longo do ciclo de vida escolar existem condições de saúde que podem comprometer o processo de aprendizagem ou o desenvolvimento individual da criança. As alterações das funções ou estruturas do corpo, decorrentes de doença crónica, têm impacto no desempenho escolar, sendo fulcral a identificação e remoção de barreiras a vários níveis, nomeadamente no que se refere à aprendizagem, atitudes, comunicação, relacionamento interpessoal e social, autonomia e espaço físico. A Saúde Escolar tem um papel fundamental de complementaridade na melhoria dos indicadores de saúde de crianças e jovens com necessidades de saúde especiais, promovendo uma maior flexibilidade e resiliência, facilitadora do processo de adaptação à sua doença.
Equipa Saúde Escolar UCC Arcozelo/ Espinho
Anabela Maia Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria acmaia@arsnorte.minsaude.pt
A intervenção da equipa de Saúde Escolar é, cada vez mais, a de gerir o processo de adaptação da criança à escola e promover a sua autonomia, pressuposto assente no projeto de Inclusão Escolar, plasmado no Plano Nacional Saúde Escolar (PNSE) 2015-2020. A referenciação, à Equipa de Saúde Escolar envolve a articulação com Equipa de Saúde Familiar e pode ser iniciada: • Pelos Serviços de Saúde (público ou privado - qualquer profissional de saúde); • Pela Escola, pelo/a pai/mãe, encarregado/a de educação (EE) ou por IPSS com intervenção na área da criança.
Natália Branco Enfermeira Especialista em Comunitária nbranco@arsnorte.minsaude.pt
A folha de referenciação depois de totalmente preenchida deverá ser enviada para o email da UCC Arcozelo Espinho, onde será rececionada pela Equipa de Saúde Escolar. Atividades desenvolvidas:
Raquel Coelho
- Contacto com criança/EE/docente, em contexto escolar e/ou domiciliário; - Visualização do Registo de Saúde Eletrónico da criança; - Articulação com outros profissionais e ou entidades que apoiam a criança/família; - Definição do Plano de Saúde Individual (PSI) estabelecendo as medidas de saúde a implementar para melhorar o desempenho e inclusão escolar da criança, tendo em conta os fatores ambientais, facilitadores ou barreira, do contexto escolar; - Execução e avaliação do PSI. O envolvimento e esforço de todos os intervenientes contribuem para uma resposta adequada às crianças assegurando a aceitação da diferença, promoção de atitudes de respeito, reconhecimento do valor e mérito pessoal, no desígnio maior que são os Direitos das Crianças.
Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria racoelho@arsnorte.minsaude.pt
Sandra Almeida Enfermeira Especialista em Saúde Infantil e Pediatria saalmeida@arsnorte.minsaude.pt
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Treino em SBV/DAE nas escolas A resolução da Assembleia da República n.º 164/2019 recomenda ao Governo o ensino de Suporte Básico de Vida (SBV) nas escolas, devendo incluir no currículo escolar dos alunos do 2.º e 3.º ciclo do ensino básico e do secundário, ensino de SBV e de desfibrilhação automática externa (DAE), assim como formação aos professores e auxiliares de educação. A Escola Secundária Diogo de Macedo encontra-se situada no Concelho de Vila Nova de Gaia, Freguesia de Olival, e faz parte integrante do Agrupamento de Escolas Diogo Macedo. É frequentada essencialmente, por alunos das freguesias de Olival, Sandim e Crestuma. A nível de população escolar, no ano letivo (2019/2020), a escola tinha uma população de 542 alunos distribuídos por 31 turmas: 13 turmas do 3º ciclo do ensino básico, 12 turmas do ensino secundário e 6 turmas do ensino profissional. Em termos gerais, o Agrupamento de Escolas Diogo Macedo, tem 179 docentes e 44 não docentes. Dispõem ainda de aproximadamente 30 Técnicos adstritos às Atividades de Enriquecimento Curricular e 37 funcionários não docentes pertencentes à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. A UCC Carvalhos, no âmbito do projeto da Saúde Escolar, realizou uma formação na Escola Diogo Macedo em Sandim, com vista a promover, para além de cultura de cidadania, técnicas de prevenção e combate à morte súbita, principalmente de causa cardíaca. Só em Portugal estima-se cerca de 10.000 mortes súbitas/ano, com uma incidência de 2 a 3 mortes durante o exercício por cada 100 mil jovens atletas. Apenas 3% das vítimas sobrevive.
Liliana Lopes de Sousa Xavier lsxavier@arsnorte.minsaude.pt João Moura da Silva Meireles jmeireles@arsnorte.minsaude.pt UCC Carvalhos
Preocupante também, são os dados do INEM que estimam que em 57% das paragens cardiorespiratórias (PCR) presenciadas, não é realizada qualquer manobra de socorro até à chegada da emergência médica. A formação decorreu nas instalações da Escola Secundária Diogo Macedo, em dois momentos distintos, com seis professores em cada sessão, selecionados previamente por um responsável da Escola, de forma a cumprir com as condições de segurança. A sessão de formação tinha como objetivo principal que os fomandos fossem capazes de providenciar SBV de qualidade, cumprindo quatro pontos chave, nomeadamente o reconhecimento de uma vítima em choque, ativar os meios de emergência médica em tempo útil, realizar compressões torácicas de qualidade e colocar as vítimas em posição lateral de segurança (PLS). Apesar de a Escola ter aquirido um DAE, e de na sessão de formação ter sido realizado treino em SBV/DAE, foi referido que a Escola terá que estar dentro de um Programa DAE para legalmente poderem utilizar o equipamento. Desfibrilhar é um ato médico, mas em Portugal pode ser delegado em pessoal não-médico no contexto de um programa de DAE. | 14
Numa situação de PCR, presenciada, devemos ter a consciência que a vítima poderá desenvolver lesões cerebrais irreversíveis ao fim de 3 a 5 minutos, sem SBV de qualidade. O cumprimento íntegro da cadeia de sobrevivência permite tornar a DAE como um meio possível de melhorar a sobrevida destas pessoas, após PCR de causa cardíaca.
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Projeto CIRCular – Colaboração para Intervenção em Rede na Comunidade Durante o processo de implementação do Plano Local de Saúde 20172020, foi identificado um problema relacionado com a desfragmentação da intervenção em saúde na comunidade. Os projetos eram pouco sustentáveis a longo prazo, com potencial para melhoria, sem avaliação do impacto na comunidade e, em alguns casos, com intervenções sobrepostas. De forma resumido, estávamos a investir muito tempo e recursos, sem conseguirmos atingir os melhores resultados possíveis. De forma a colmatar este problema, foi criado o Projeto CIRCular, um projeto de colaboração das unidades de saúde, para aumentar o impacto e sustentabilidade de projetos na comunidade. Este projeto consiste na criação de um programa de formação e apoio às unidades funcionais do ACES Espinho/Gaia para a construção e implementação de projetos de intervenção na comunidade. O programa, construído tendo por base a evidência para estruturação de projetos de intervenção na comunidade, procura garantir: Projetos de intervenção assentes nas prioridades do PLS e construídos a partir do problema e não da solução; Apoio às unidades e profissionais na construção dos projetos, garantindo um processo mais eficaz e eficiente; Um plano de monitorização e avaliação e a sustentabilidade a longo prazo dos projetos; Criação de uma base de dados mais atualizada dos projetos existentes em todo o ACES. No final do processo de formação e consultoria, cada participante (unidade funcional ou profissional) terminará com um projeto de intervenção na comunidade, desenhado especificamente para umas das suas necessidades em saúde relacionadas com as prioridades do Plano Local de Saúde, assegurando-se a inclusão de todas as etapas para um projeto de sucesso. O projeto já se iniciou há cerca de um ano com resultados bastante promissores que gostaríamos de partilhar com todos. Total de 5 projetos de intervenção na comunidade; Projetos centrados nas prioridades definidas no PLS, principalmente nos determinantes de saúde identificados, incluindo obesidade, álcool e outros; Criação de projetos de intervenção mais ambiciosos, com parceiras entre várias unidades ou com várias vias alternativas de acordo com as preferências do doente; A nível pessoal, foi um prazer implementar o projeto e acompanhar as várias equipas de 5 unidades do ACES que se envolveram, mesmo com as dificuldades trazidas pela pandemia, a quem agradeço a vontade de participar e o empenho com que abraçaram este projeto. A experiência com esta iniciativa demonstrou não só que o programa ajuda a estruturar as intervenções de forma mais simples e rápida, mas também com mais qualidade e impacto. Desta parceria e colaboração, ganhamos todos: todos os profissionais e unidades funcionais, porque vêm os seus projetos serem construídos de forma mais fluída e consistente, e com melhores resultados; o ACES, porque consegue ter uma visão mais clara e abrangente dos projetos a decorrer; e
Diogo Fernandes da Silva Médico Interno de Saúde Pública diogo.silva@arsnorte.m in-saude.pt
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por fim, os doentes e as populações que servimos, porque conseguimos melhorar os nossos resultados em saúde, muitas vezes, com os mesmos ou menos recursos.
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Núcleo de Formação – Calendarização Outras instituições/organizações (clique para aceder): Administração Regional de Saúde do Norte – Centro de Formação Universidade do Porto – Formação Contínua (formação não conferente de grau) Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto – Cursos Intensivos e Seminários (abertos) Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Oferta formativa 2019/2020 Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (Universidade do Porto) – Oferta formativa 2019/2020 Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge – Plataforma de ELearning do INSA Instituto de Higiene e Medicina Tropical – Cursos de Curta Duração e Ensino à Distância Escola Nacional de Saúde Pública – Cursos de Curta Duração Organização Mundial de Saúde – Open Courses Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) – Virtual Academy (EVA) Centros de Controlo e Prevenção de Doença (CDC) – Learning Connection Coursera – Oferta variada de cursos online FutureLearn – Oferta variada de cursos online
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Ficha Técnica A Newsletter do ACES Espinho/Gaia pretende ser uma nova ferramenta de comunicação interna e externa do ACES, que pretende partilhar e divulgar os projetos e atividades realizadas nas várias unidades funcionais.
Submissão de artigos para a próxima edição: A próxima edição da Newsletter terá como tema central as Doentes com Necessidades Especiais, não sendo, no entanto, excluídos artigos de outro âmbito. Todos os interessados deverão enviar os seus artigos (documento Word) para o e-mail dalia.santos@arsnorte.min-saude.pt até ao dia 31 de maio de 2021, de acordo com a seguinte estrutura: 1. Título 2. Nome do(s) autor(es) da notícia, local de trabalho e contacto de e-mail; 3. Fotografia; 4. Texto, com máximo de 350 palavras.
Contamos com a vossa colaboração!
Grupo de trabalho para Newsletter ACES Espinho/Gaia:
Marta Guedes, ECSCP-EG Diogo Silva, USP Maria João Paiva Teles, USF Boa Nova Dália Santos, ECSCP-EG Sandra Santos, CCS
Em caso de dúvida ou necessidade de contacto:
dalia.santos@arsnorte.min-saude.pt
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