Imagine revista
Edição 01 | Ano 1 | 2020
Acredite
Jornalismo sério e a serviço dos brasileiros
Dom Sérgio da Rocha: uma vida dedicada à renovação da Igreja Católica
Entrevista com o ministro Osmar Terra
ABSTI_ NÊNCIA
o remédio mais eficaz contra a dependência química
EDITORIAL CAPA Abstinência: o remédio mais eficaz contra dependência química
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POLÍTICA Guinada contra as drogas no Brasil
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INFÂNCIA E JUVENTUDE Renato Chiera: uma vida dedicada aos excluídos
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TURISMO 60 anos de Brasília
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TESTEMUNHO A mulher que viveu o inferno para salvar o filho
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RELIGIÃO Bispo Emérito dedicase ao resgate de vidas
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Revista ImagineAcredite Diretor Executivo Sérgio Botelho Júnior Assessora Célia Moraes Editor Sérgio Botelho Júnior DRT 8318 - DF botelhojunior73@yahoo.com.br Contato: (61) 99820- 1640 Jornalista Thiago Farias DRT 2453 - SE Diagramação Ilka Cristina Fotografias Assessorias, pixaby, freepick(capa), wikipédia, internet e arquivo pessoal Tiragem: 5.000 exemplares
O ano de 2020 será particularmente importante para o avanço nos entendimentos entre Executivo, Legislativo e Judiciário, no país. Dessa forma, será possível ao Brasil avançar nas agendas econômicas, sociais e políticas. Com efeito, novas reformas se impõem nessa direção, especialmente as de cunho administrativo e tributário. Ambas, na visão da maioria dos especialistas, fundamentais para o futuro do país. Assim, cumpre aos três poderes exercitarem a prática do entendimento, única forma de fazer com que as referidas reformas alcancem vitórias. Mesmo que sejam vitórias parciais, entendidas ao menos como significativas, nessas agendas. O processo democrático é mesmo assim, ou seja, exige entendimento entre as partes. Da mesma forma que num casamento, as partes têm de abrir mão, aqui e acolá, de posicionamentos mais radicais, em nome da boa convivência. Todavia, é necessário entender que no referido processo brasileiro não se está falando de acordos espúrios, que terminem por desmoralizar a Nação. Mas, necessariamente, entendimentos políticos que conduzam a bom termo os assuntos em tramitação no Congresso e na Justiça. Lógico que esses entendimentos devem afastar, logo de cara, qualquer tentativa de algum dos poderes se imiscuir na autonomia do outro. Antes de mais nada, é preciso entender que a independência entre os poderes é cláusula fora do debate. Entendidos, dessa forma, os procedimentos políticos entre Executivo, Legislativo e Judiciário, vale, sobretudo, consolidar as funções de cada um desses segmentos institucionais. Isso significa respeito absoluto aos preceitos constitucionais em vigor. Qualquer projeto de país, no caso, passa, sem sombra de dúvida, pela chamada segurança jurídica. Por conseguinte, não se pode imaginar que essa segurança se dê ao arrepio da Constituição, a lei de todas as leis. Dessa maneira, haverá obrigatoriamente de serem conduzidos os entendimentos. No caso, entendendo que cabe ao Supremo, em última instância, decidir o que significa, em casos sob disputa, o respeito aos princípios constitucionais. Mas o objetivo último deve ser mesmo o de buscar o progresso do país. Compreendendo que tal progresso não poderá acontecer, em nenhuma hipótese, sem que o arcabouço jurídico brasileiro seja parte do próprio progresso. Afinal de contas, qualquer Nação desenvolvida tem na segurança jurídica, e, portanto, no respeito às leis, a maior expressão de seu prestígio e poder de atração. Sendo assim, não será diferente no caso do Brasil que busca, incessantemente, o seu pleno desenvolvimento. Desse jeito, apostar no esforço das instituições na busca pelo entendimento e na aprovação de reformas importantes para o país. E reformar o funcionamento administrativo e tributário é o mais urgente desses esforços, mesmo com todas as dificuldades.
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•ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA
Dom Sérgio da Rocha Uma vida dedicada à renovação da Igreja Católica
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om o objetivo de renovar a vida da Igreja Católica Apostólica Romana, a fim de melhorar os trabalhos de evangelização mundo afora, no dia 19 de novembro de 2019, o Papa Francisco ordenou 17 novos Cardeais, entre os quais estava o brasileiro Dom Sérgio da Rocha, Arcebispo da Arquidiocese de Brasília e ex-presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Natural de Paulista Dobrada, no interior de São Paulo, Dom Sérgio da Rocha recebeu as suas bases religiosas dos seus pais, um casal de simples agricultores que foi forçado a realizar o êxodo rural. Já na zona urbana, ele foi coroinha no município de Matão, até que depois de sentir o chamado para o sacerdócio, aos 18 anos, decide
ingressar no Seminário Diocesano de São Carlos, em São Paulo. “Foi participando da comunidade paroquial local, em Matão, que pude discernir minha vocação. A participação na comunidade, em pastorais e movimentos, é cada vez mais necessária para um jovem entender e decidir sua vocação. Na vocação estão entrelaçados o chamado e a resposta, portanto, o “escolher” e o “ser escolhido”. A vocação sacerdotal é dom de Deus, mas exige escolha, resposta pessoal, que deve ser livre e consciente”, destaca o religioso ao Imaginecredite. Dentro da Igreja, o sacerdote Sérgio da Rocha constrói uma biografia marcada pela proximidade com o conhecimento, com os movimentos de pastorais e, sobretudo, com os mais pobres. Tanto é que, para ele,
três fatores marcaram sua caminhada religiosa: “O tempo que atuei como formador no Seminário, função bastante exigente, mas que oferece oportunidade privilegiada de formação permanente; o período de estudo de pós-graduação em Roma, para o doutorado; e a minha atuação como bispo no Nordeste brasileiro, primeiro em Fortaleza (CE) e depois em Teresina (PI)”. “A experiência em Roma ajudou muito na formação cultural e acadêmica; a rica experiência no Nordeste contribuiu muito, de modo especial, para a minha formação pastoral. Tive o privilégio de aprender a ser bispo com o episcopado, o clero e o povo querido do Nordeste, ali passando os meus primeiros anos de bispo. Nessas várias etapas, pude aprender muito e, com certeza, tenho ainda muito
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“A experiência em Roma ajudou muito na formação cultural e acadêmica"
a aprender, pois ser discípulo é uma condição permanente para quem é chamado a ser pastor”, completa.
Tudo pela caridade
Em junho de 2001, Sérgio da Rocha foi nomeado Bispo Auxiliar de Fortaleza pelo Papa João Paulo II. Seis anos depois, o Papa Bento XVI o nomeia Arcebispo Coadjutor da Arquidiocese de Teresina. Nesse período, ele exerceu cargos de importância para a renovação da fé católica ao integrar a Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB, a Comissão Episcopal do Mutirão de Superação da Miséria e da Fome da CNBB, além de ser o Bispo referencial e da Pastoral Vocacional no Regional Nordeste I. Com uma atuação desse porte, em junho de 2011, o Papa Bento XVI o nomeia Arcebispo Metropolitano de Brasília, chegando à Presidência da CNBB em abril de 2015 e, um ano depois, ao posto de Cardeal da Igreja de Roma. No entanto, apesar do seu crescimento na Igreja Católica, Dom Sérgio não se esqueceu de seus vínculos com os mais pobres e, por isso, escolheu um lema episcopal que o norteasse
em todas as suas ações e decisões: “Tudo pela caridade”. Segundo ele, a caridade está no coração do Evangelho e da missão da Igreja, o que torna imperativo a sua estada no coração de cada cristão e também do bispo. “A caridade deve envolver a todos, mas necessita ser vivida especialmente para com os mais pobres e sofredores. Há muita gente sofrida necessitada da caridade, que é o nome mais genuíno do amor ao próximo ensinado por Jesus”, observa.
Por mais católicos na política
E é justamente por esse ideal que o religioso tem buscado estar sempre junto aos mais pobres, tanto é que foi comunicado da sua nomeação para o posto de Cardeal Romano durante uma viagem missionária por regiões carentes de Brasília. Além disso, ele confidenciou à reportagem de Imagineacredite que a Igreja Católica possui inúmeros desafios na Capital Federal, considerado um ponto de encontro de todos os brasileiros. Segundo Dom Sérgio, diante deste cenário, a Arquidiocese de Brasília – que está presente no DF desde a sua fundação – tem procurado contribuir para a formação humana e cultural, promovendo a convivência fraterna, o diálogo e a cooperação em projetos sociais. “Com tantos desafios, sejam distritais ou federais, temos necessidade de católicos atuantes na política, sem
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corporativismo religioso, em vista do bem do nosso povo, principalmente dos mais fragilizados. Os cristãos leigos e leigas têm muito a oferecer; necessitam ser “sal” e “luz” também no campo da política”, defende.
O exemplo como superação dos desafios
Diante dos desafios inerentes a Igreja Católica no mundo, o Cardeal Dom Sérgio da Rocha faz uma avaliação positiva do governo pastoral do Papa Francisco, que, para ele, “tem nos ensinado não apenas por palavras, mas principalmente por gestos concretos, carregados de simbolismo. Ele ensina por meio do que faz. Dentre outros, tem marcado a vida da Igreja a simplicidade, a misericórdia, a acolhida fraterna, o amor aos pobres, o anúncio do Evangelho e a busca da paz”. Para o Cardeal brasileiro, uma das marcas mais importantes do pontificado de Francisco foi o Sínodo Especial para a Amazônia. “Com certeza, o Sínodo já tem ajudado a despertar maior atenção pela Amazônia, maior corresponsabilidade na missão envolvendo a Igreja presente nas outras regiões do país. Certamente irá contribuir para evangelizar melhor as diferentes realidades da Amazônia e formar comunidades”, argumenta. Por fim, Dom Sérgio afirmou que seu governo pastoral na Arquidiocese de Brasília, bem como seu cardinalato continuarão baseados nos exemplos dados pelo Santo Padre. “Em sintonia com o Papa Francisco, tenho procurado viver e ajudar a Igreja a cultivar a simplicidade, a misericórdia, o diálogo, o serviço, a justiça e a paz, dentre outros valores. Espero poder contribuir, sempre mais, para que a Igreja seja missionária, uma “Igreja em saída” ao encontro das ovelhas feridas e errantes, uma Igreja misericordiosa e acolhedora, casa de portas abertas, uma Igreja servidora, que testemunha a fé com simplicidade, coragem e esperança”.
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•POLÍTICA
Guinada contra as drogas no Brasil começou com um áudio do presidenciável Jair Bolsonaro
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urante muitos anos, sobretudo os primeiros do século XXI, o Brasil assistiu de maneira inerte o flagelo da dependência química de álcool e outras drogas crescer assustadoramente. Tudo isso motivado por políticas governamentais baseadas em ideologias que em nada ajudavam a libertar as pessoas do mundo das drogas. Com isso, cresceram as taxas de suicídio, de homicídios violentos e de dependentes em situação de rua. Neste cenário, era necessário um governo que tomasse medidas efetivas para combater a realidade de maneira lúcida e eficaz. Contudo, talvez por falta de interesse ou desconhecimento, nenhum candidato ao posto de Presidente da República Federativa do Brasil propusera a adoção de medidas mais enérgicas para o setor. Foi ai que surgiu Jair Messias Bolsonaro. Eleito sem negar ao povo o seu desconhecimento sobre muitas áreas e prometendo promover um governo composto por especialistas sem qualquer tipo de amarras, a preocupação do hoje presidente do Brasil com os dependentes químicos foi confidenciada a um dos seus coordenadores de campanha, no dia 18 de agosto de
Edu Cabral com o presidente eleito Jair Bolsonaro, em sua residência no Rio de Janeiro
2018, ainda durante a campanha presidencial. Naquele dia, por meio do Whatsapp, Bolsonaro enviou a Eduardo Cabral um áudio com os seguintes dizeres: “Cabral, manda um áudio curtinho para mim, com sugestões para tratar dependentes químicos”. O áudio curtinho solicitado pelo então presidenciável, que já liderava as pesquisas de intenções de votos, parece não ter chegado da forma como ele esperava, uma vez que, devido à sua solicitação, as lideranças do movimento contrário às drogas no Brasil se reuniram e produziram um documento com
alguns apontamentos necessários para combater o flagelo da dependência química no país. O documento, de aproximadamente duas páginas, foi assinado por Pablo Kurlander, então presidente da Confederação Nacional de Comunidades Terapêuticas (Confenact) e gestor geral da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas (Febract); Célio Luis Barbosa, presidente da Federação Norte e Nordeste de Comunidades Terapêuticas (Fennoct); Ana Martins Godoy Pimenta, presidente da Federação Nacional das Comunidades Terapêuticas Católicas, vice-secretária da Confenact, e coordenadora nacional da Rede de Grupos de Mútua Ajuda Pastoral da Sobriedade; Márcia Regina Batista Valle, presidente da Federação das Comunidades Terapêuticas Evangélicas no Brasil (Feteb); Clóvis Benevides, secretário estadual da Assistência Social de Pernambuco; Quirino Cordeiro Jr., Coordenador Nacional de Saúde Mental do Ministério da Saúde; e Helanio Eduardo Cabral Silva, da coordenação da campanha presidencial em Pernambuco. Além desses nomes, os apontamentos também contaram com a contribuição do então ministro do Desenvolvimento Social e Agrário,
Osmar Terra, que foi mantido no Governo Bolsonaro; do deputado federal Eros Biondini, presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa das Comunidades Terapêuticas; e da deputada federal Beatriz Kicis. No entanto, o documento somente ficou pronto depois das eleições e nenhum deles possuía algum grau de proximidade com o então presidente eleito Jair Bolsonaro, a não ser Eduardo Cabral. Por isso, Cabral foi incumbida a missão de entregar o texto ao novo presidente e ela foi cumprida no dia 15 de novembro de 2018, portanto, um dia antes de Bolsonaro se mudar em definitivo para Brasília-DF, uma vez que naquele dia o presidente eleito havia convocado os seus coordenadores de campanha para uma reunião em sua residência, localizada no Condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro, para tratar sobre as perspectivas de futuro para o país. Com o documento em mãos, Bolsonaro convoca nomes como Quirino Cordeiro Jr. e Adalberto Calmon para participarem do Governo de Transição, para assim prepararem uma estrutura adequada dentro da estrutura do Governo Federal para combater e prevenir o uso de drogas, bem como garantir o tratamento adequado e a reinserção social dos dependentes químicos. Como resultado, o Governo Bolsonaro racionalizou as ações colocando a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) no Ministério da Justiça e Segurança Pública, com a responsabilidade pelas ações de redução da oferta de drogas; e criando a tão sonhada Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred) no Ministério da Cidadania, a fim de que esta desenvolvesse ações voltadas à redução da demanda por drogas.
Equipe Senapred com minstro Osmar Terra
Aliás, foi graças à Senapred que o Governo Federal passou a reconhecer a importância de outras formas de enfrentamento da dependência química, a exemplo das comunidades terapêuticas, dos grupos anônimos, bem como dos grupos de mútua ajuda e de apoio familiar. Tanto é que, para além do reconhecimento, o novo governo passou a aportar investimentos em tais entidades. As CTs, por exemplo, assistiram o número de leitos financiados pelo governo passar de 2.000 para quase 20.000 em menos de um ano, além de terem atualizados os seus cadernos de emendas para melhorar a sua infraestrutura, sem contar com iniciativas voltadas à fiscalização e capacitação de tais entidades. Diante de tais atos, o hoje assessor especial da Senapred, Eduardo Cabral, comemora a ação destacando que o presidente passou a acreditar que é possível vencer as drogas graças a uma visita realizada a sede da Fazenda da Esperança, maior comunidade terapêutica da América Latina, em junho de 2019. “Pela primeira vez, as comunidades terapêuticas foram reconhecidas, porque tem um governo que acredita nisso e, apesar do Bolsonaro não entender tanto nessa questão, ele deu abertura para as pessoas que entendem", disse. "Agora um fato que o tocou muito e o fez acreditar ainda mais que é
Foi graças à Senapred que o Governo Federal passou a reconhecer a importância de outras formas de enfrentamento da dependência química possível vencer as drogas foi a visita à Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, São Paulo, que ocorreu depois que ele assumiu. Isso tocou o coração dele e o fez acreditar que é possível sim recuperar vidas do mundo das drogas. Por isso, essas coisas estão acontecendo no Brasil”, conta. Já os grupos de mútua ajuda, de apoio familiar e anônimos passaram a receber investimentos vultosos para expandirem a sua atuação no Brasil, sobretudo em regiões onde há maior vulnerabilidade social. Neste sentido, segundo a reportagem de Imagineacredite apurou, as regiões Norte e Nordeste figuram como as mais visadas pelas entidades contempladas pela iniciativa governamental. “Essa é uma vitória de todos, mas ainda tem muito a construir, ainda tem muito a se fazer, ainda tem muita droga rolando por aí destruindo vidas, mas a gente já vê uma luz no fim do túnel”, comemora Eduardo Cabral.
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• E N T R E V I S TA
Osmar Terra
Não se iludam com o canto da sereia sobre a maconha medicinal
Diante do debate envolvendo a legalização da dita maconha medicinal no Brasil, por meio do Canabidiol, para o tratamento de algumas convulsões, a Revista Imagineacredite traz uma entrevista exclusiva com o ministro da Cidadania do Brasil, Osmar Gasparine Terra. Autor de propostas que endureceram as penas para o narcotráfico, nessa entrevista, você verá o ministro denunciar os interesses escusos por trás deste debate, os riscos que corre o país e seus mais de 200 milhões de habitantes, bem como indicar algumas soluções para vencer as drogas no Brasil.
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Imagineacredite: O debate em torno da dita maconha medicinal é bem antigo, mas só agora parece ter ganhado força no cenário nacional. Por que? Osmar Terra: Isso faz parte de um movimento muito maior, inclusive de nível internacional, que é o movimento de pró-legalização das drogas. Então, acho que a população não pode se iludir com as aparências, porque atrás desse movimento que surge aparentemente para ajudar as famílias que têm filhos com problemas de saúde, grávidas e tal, vem um movimento muito mais poderoso, que nem consegue mais se esconder com as grandes empresas canadenses, empresas americanas da Califórnia e empresas brasileiras, que já estão se articulando e fazendo a mente da sociedade para lucrar com o plantio e venda da maconha. IA: Em sua opinião, existe essa maconha medicinal? OT: Na verdade não existe maconha medicinal, o que existe é uma substância ou outra, como por exemplo, o canabidiol. Cada planta de maconha tem em torno de 480 moléculas diferentes. Dessas 480 moléculas, uma que é o canabidiol, ou seja, uma de 480 pode produzir algum benefício para o usuário, para a pessoa que tenha alguma doença e assim mesmo são para doenças raras. Por exemplo, no caso de Epilepsia, o Canabidiol é melhor que os outros medicamentos ou pode ser melhor, pois isso aí ainda está em fase de teste, mas somente para 2% dos casos, porque para os outros 98% os outros medicamentos fazem um efeito até melhor que o do Canabidiol. Mas agora está se usando isso pra dizer que tem que legalizar o plantio de maconha, esse é o jogo
escondido por trás do pano: “Legalizar o plantio de maconha, porque a maconha é uma droga leve, que não tem problema”, para criar o clima para depois legalizar e assim vender maconha como se vende cigarro. A gente sabe que, diferentemente da maconha, o cigarro é uma droga lícita e que causa danos físicos, mas não causa transtorno mental grave. Já a maconha é uma droga pesada, não é uma droga leve! Ela é responsável, diferente das outras drogas, por desencadear psicoses e Esquizofrenia, que é incurável. Depois que desencadeou é incurável, e quem tem um pa-
Nós estamos trabalhando nessa questão da maconha e estamos denunciando esse jogo escondido que tem aí, para que as pessoas não se iludam rente esquizofrênico, quem tem um conhecido esquizofrênico sabe o que eu estou falando. A maconha cria retardo mental, cria danos de longo prazo nas pessoas que as usam. IA: Mas nesse debate tem pessoas que defendem o uso recreativo, porque alegam usar a maconha e nunca terem sofrido com nada. OT: Em um percentual importante dessas pessoas não é “Ah, mas eu uso há muito tempo e não tenho nada”, e eu vi a entrevista do Nelson Motta agora dizendo isso. Nelson Motta pode ser uma exceção, agora ele não pode usar essa exceção pra negar o dano que a maconha causa, bem como o sofrimento das famílias que têm filhos que são dependentes quí-
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micos da maconha e que rapidamente passam para outras drogas também. Pois há que se considerar que a maconha potencializa o efeito de outras drogas. Segundo uma pesquisa da USP, que saiu agora, a maconha não diminui a fissura das outras drogas, ela aumenta a fissura das outras drogas. Então tem todo um jogo por trás que é um jogo econômico. Essas grandes empresas do Canadá, Estados Unidos e do Brasil estão, inclusive, fazendo carteira de investimentos, que é o caso da XP Investimentos. Carteira de investimentos pra quem quer ganhar dinheiro com maconha! Elas não estão preocupadas com a saúde da população, estão preocupadas em ganhar dinheiro. Então é ilusão achar que de repente surgiu um monte de gente interessada em tratar as crianças com Epilepsia Refratária, que são nos casos de Epilepsia menos de 1%. Não é isso. Nós queremos que essa criança se trate, nós queremos que essa criança tenha acesso ao Canabidiol, à molécula da maconha, não à maconha, e não generalizar o plantio e consumo de maconha por causa das crianças que precisam do Canabidiol, que pode ter um efeito melhor que os outros medicamentos que são usados. Então, nós estamos trabalhando nessa questão da maconha e estamos denunciando esse jogo escondido que tem aí, para que as pessoas não se iludam. Essa turma que está defendendo a liberação da maconha medicinal não está preocupada com a saúde, ela está preocupada é com o uso da maconha, em institucionalizar o uso da maconha, inclusive recreativa e depois das outras drogas, porque a lógica que serve para a maconha serve para as outras drogas. A papoula, que é a planta que tem suas resinas
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na composição da heroína, que causa danos tremendos, inclusive a maior causa de mortalidade agora nos Estados Unidos é o consumo de heroína, tem efeitos medicamentosos. Tanto é que tinha xarope com moléculas da papoula, tinha o ópio, chamam-se até de “opióides”. O ópio sai da planta da papoula, mas não precisa legalizar o plantio de papoula pra tu teres. De repente uma substância como a morfina, que é um analgésico potente, é usado em condições muito restritas em hospitais. A morfina é um derivado do ópio, mas ninguém propõe plantar papoula e produzir ópio e produzir heroína para ter o medicamento, ninguém propõe dar heroína pra doente que está com dor. Se separa a molécula e se usa. Já o Canabidiol é uma coisa: Se tem uma molécula que tem efeito positivo, então eu sou a favor dela ser oferecida a população, inclusive pelo Sistema Único de Saúde e de graça. É isso que nós temos que defender! Aos pais e as mães de crianças com doenças raras e que parece que o Canabidiol tem um efeito melhor, vamos garantir para eles o acesso ao Canabidiol e, inclusive gratuito, mas não legalizar o plantio da maconha, não promover a maconha como uma solução para problemas de saúde. Esse lobby das empresas internacionais está colocando propaganda na Folha de São Paulo, que, durante toda primeira semana de outubro, tinha uma matéria de dois textos de página falando das maravilhas da maconha, entrevistando só pessoas favoráveis e quando colocava alguma opinião contrária, botava diminuindo a opinião, fazendo pouco dela, sendo que embaixo dessa matéria sempre tinha uma propaganda paga pela empresa canadense que quer vender maconha no Brasil. Então é isso que esta-
mos enfrentando e a nossa missão é não deixar legalizar a maconha, não deixar aumentar o número de pessoas com Esquizofrenia, com doença mental por causa da maconha, com retardo mental por causa da maconha, com risco de suicídio, e acidente de automóvel que é muito maior com a maconha do que com álcool. Então não deixar isso acontecer, essa é nossa preocupação. IA: Em sua avaliação, o que seria do Brasil se houvesse a legalização do plantio, venda e consumo da maconha?
OT: Seria uma tragédia! Nós já temos os problemas que chegam com o álcool. Com isso, nós vamos duplicar ou aumentar muito mais esses problemas. Hoje, nós temos entre três e quatro milhões de pessoas que consomem a maconha e até são dependentes, o que é muita gente no Brasil. As famílias que têm uma pessoa com o problema sabem o drama que é isso, pois são elas que têm dificuldades de conseguir um emprego, de trabalhar, de conseguir um diploma e que consomem outras drogas, pois a maconha potencializa esse consumo. Estamos falando de pessoas que têm o risco altíssimo de desenvolver Esquizofrenia e psicoses, de se acidentar com automóvel, então é isso que nós vamos promo-
ver? Nós vamos aumentar muito o número de pessoas com transtorno mental nas ruas, em tudo que é lugar! É isso que nós queremos para o Brasil? Por que a maconha foi proibida? Por que a maconha foi proibida no mundo? Vê o que quase todos países que compõem a ONU acham de liberar a maconha. “Ah, mas o Uruguai liberou”. É o Uruguai... “Ah, o Canadá liberou”. No Canadá a experiência está sendo muito ruim. O Uruguai liberou com o discurso do Mujica que ia melhorar a segurança e piorou a segurança. Só no último ano aumentou em 60% o número de homicídios no Uruguai. Um ano aumentar 60%, isso é um recorde mundial! Com isso fica evidente que a maconha legalizada não melhora a segurança, não melhora nada, só piora a vida da sociedade. Então, eu acho que nós temos que garantir que a maconha seja proibida. Hoje, é proibido o plantio e os juízes que estão dando autorização para o plantio estão usando o coração, não a lei, não a razão. Eles acham que estão ajudando aquelas crianças. Entretanto, eles não estão ajudando, eles estão criando uma situação que pode piorar muito a situação de outros que não estão usando e terão acesso fácil à maconha. Então acho que hoje o momento é de denuncia disso e de cobrar da sociedade uma mobilização contra isso. IA: Como o senhor analisa o julgamento do STF sobre a legalização das drogas e o movimento inicial da Anvisa sobre esse tema? Foram atos casados em favor da legalização? OT: Eu acho que tem um movimento articulado. Mas acredito que o Supremo não esteja nisso, pois esse julgamento do Supremo vem desde
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2013, quando ele foi sustado por um pedido do ministro Teori Zavascki, que era contra a liberação da maconha. Então quando ele viu que estava havendo uma tendência com três votos favoráveis à liberação das drogas, ele pediu pra sustar, pediu pra estudar. Ficou depois com o ministro Alexandre de Moraes que devolveu o projeto, ficou uns dois anos com isso na mão e depois liberou pra votação e o ministro Toffoli adiou pra esse ano. Eu acho que é uma decisão muito grave, porque se fizer uma pesquisa junto à sociedade brasileira, você verá que o povo e as famílias vivem o drama das drogas. Pode ter um usuário da maconha que acha lindo liberá-la, porque ele sente prazer quando usa. Uma droga, quando a pessoa a consome, ela não fica se sentindo mal, ela se sente bem. Tanto é que repete. Só que o dano que ela causa no cérebro não tem volta. Então o que as famílias percebem é isso: a deterioração daquele ser humano, daquele ente querido que começa a se decompor psíquica e mentalmente na frente deles. Então são milhões de famílias brasileiras que têm essa vivência e já sabem como é grave isso. Por isso, esses milhões de famílias são contra. Se tu fizeres uma pesquisa de opinião hoje, verás que mais de 70% da população brasileira é contra a legalização de qualquer droga. Então é uma posição da sociedade, depois tem no Congresso uma maioria formada, com a qual nós aprovamos agora uma lei que aumenta o rigor contra as drogas. A última votação no Senado foi há uns 08 meses e resultou no aumento do rigor, e não legaliza nada. Então nós temos uma posição contrária do Congresso Nacional, da população, da sociedade e do presidente Bolsonaro. Eu estou falando tudo isso, eu posso falar isso e posso
agir porque tenho o aval do presidente Bolsonaro. Ele está bancando essa posição em nível nacional. Com todo o respeito que eu tenho pelo Supremo, esta é uma decisão política e que não pode ser tomada baseada somente na legislação. Ela acaba sendo pelo voto que os ministros deram. Quando eles dão embasamento do voto, eles dão o voto de uma opinião que não é necessariamente jurídica, mas uma posição pessoal deles. Então, eu não acredito que o Tribunal tenha uma postura de confronto, aliás, isso não devia nem estar no Supremo Tribunal Federal, pois esse
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do pelo Congresso e reafirmado pelo Congresso na Lei 11.343, e agora com a nova lei sobre drogas. Portanto, não é punido só o uso, não é punindo com a prisão, mas ele tem que pagar algum tipo de pena para constranger o consumo. Por isso, é crime com pena de prisão o tráfico de drogas; o crime com penas alternativas é o consumo. Então é em cima desse artigo que está se criando toda essa tentativa de liberar as drogas no Brasil, mas atrás disso tem, não em cima do Tribunal, um grande lobby econômico tentando fazer.
IA: Qual o tamanho do poder do lobby em favor das drogas no Brasil, sobretudo Fica evidente que a em órgãos como do judiciário. O senhor acha que é maconha legalizada não possível contê-lo? melhora a segurança, OT: Eu acho que se o Brasil for governado pelos lobbys não melhora nada, econômicos, o país não terá futuro. O interesse do empresó piora a vida da sário ser maior que o interesse sociedade da sociedade brasileira é um absurdo, e, para isso, nós temos um presidente que não se é um assunto para o Congresso re- curva à pressão do poder econômico solver. dos lobbys. O presidente Bolsonaro colocou, por exemplo, no Ministério IA: E se o STF decidir pela legali- da Economia um ministro que não zação? se curva à pressão dos bancos, tanto é OT: Eu acredito que se acontecer o que foi o presidente que mais reduziu fato do Tribunal tomar uma decisão os juros na história do país. Então só e liberar as drogas no Brasil, nós te- um governo que não se curva a esse remos que fazer um plebiscito nacio- tipo de pressão pode tomar uma atitunal, nós temos que convocar, falar de como essa. Por isso que eu confio com o presidente, os deputados e muito que esse enfrentamento que nós senadores e convocar um plebiscito vamos fazer na questão das drogas tem pra sociedade se manifestar sobre a ver com essa postura do novo goveresse assunto. Isso é muito grave, pois no federal. vai causar um dano irreversível para milhões de brasileiros. Isso não pode IA: Diante desse cenário, de que ser uma decisão tomada só por causa forma o Governo Federal está se arde um artigozinho que foi colocado ticulando para pôr fim a este assunem dúvida, porque esse artigo que to e manter o Brasil criminalizando criminaliza o uso de drogas foi vota- as drogas e promovendo a redução
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de consumo e da demanda por entorpecentes? OT: A experiência do Uruguai e a experiência dos Estados Americanos que liberaram a maconha e o próprio Canadá vão mostrar que descriminalizar o uso só aumenta a violência, piora a qualidade de vida, e aumenta o número de pessoas com transtorno mental incurável. A partir desta constatação que proibir a droga é vital, veremos que todos os países que jogaram pesado com as drogas, a exemplo do Japão e da Suécia, conseguiram reduzir o consumo e melhorar a saúde pública e a convivência social das pessoas. Hoje, nós temos leis que já nos permitem agir com firmeza e temos um ministro da Justiça muito empenhado em fazer com que essas leis sejam executadas de fato, que é o ministro Sérgio Moro. E com a decisão do presidente, eu tenho a convicção de que nós podemos. A Suécia tinha o caos instalado no final da década de 60 por causa da liberação das drogas. O Japão tinha o caos instalado quando terminou a segunda guerra mundial, porque eles davam metanfetamina para os operários e para os soldados em combate, para que eles ficassem mais tempo acordados. Então quando termina a guerra tem uma epidemia de metanfetamina no Japão, que o levou a criar uma lei rigorosa, inclusive com prisão de usuário como é na Suécia também, e que fez toda diferença nos anos seguintes. O Japão chegou a prender no ano de 1954, portanto nove anos depois do fim da guerra, 56.000 pessoas por tráfico e consumo de drogas num ano só. Em 58, o Japão só prendeu 270 pessoas porque tirou a droga da rua. Acabou o consumo, acabou o tráfico. Diminuir não quer
Hoje está muito ruim andar nas ruas e ver cracolândia pra tudo quanto é lado, ver as pessoas drogadas se agredindo, roubando, furtando. Então isso com a liberação só vai piorar. Por isso, eu acho que nós temos que garantir uma melhoria da qualidade de vida da população dizer que acaba, pois acabar é difícil, mas diminuiu e salvou muitas vidas de pessoas que iriam ficar dependentes e não ficaram. Então o Brasil tem que repetir isso. O Brasil tem uma dificuldade adicional para fazer que são as fronteiras com os maiores produtores de drogas do mundo. Então entra muita droga todo dia no Brasil, mas com medidas de restrição... Afinal tu só resolve o problema da segurança e de tranquilidade restringindo o consumo, e não melhorando ele. Além disso, o Brasil vai melhorar o policiamento de fronteiras, onde estamos batendo recorde em cima de recorde de apreensão de drogas. Sem contar que com o pessoal sabendo que consumir e traficar agora tem penas mais duras, nós vamos conseguir reduzir o consumo.
IA: Que mensagem o senhor deixaria para toda a população? OT: Quero deixar o seguinte alerta: a droga sempre é um fator de decomposição social. Todas essas drogas que são proibidas no Brasil são proibidas em mais de 190 países, não é uma questão brasileira. A China teve o ópio livre por quase 100 anos e hoje é pena de morte pra quem trafica droga por lá. Sou contra a pena de morte, mas na China é pena de morte. A Indonésia teve as drogas impostas pela Holanda, que controlou por um bom período a economia da Indonésia como colônia e depois como país associado, e hoje é pena de morte também. Todos os países que agiram com rigor e diminuíram a oferta de drogas na rua são os países que podem ter um melhor resultado. Os que liberaram... Então não se iludam com o canto da sereia da maconha medicinal, ela é o primeiro passo para legalizar as drogas no Brasil. Não se iludam com isso. Vamos enfrentar isso e a sociedade tem que se mobilizar pra isso. IA: Sinta-se à vontade pra colocar algo que não foi abordado e que o senhor considere necessário. OT: Eu acho que a questão de enfrentar as drogas faz parte de melhorar a qualidade de vida da população brasileira. Hoje está muito ruim andar nas ruas e ver cracolândia pra tudo quanto é lado, ver as pessoas drogadas se agredindo, roubando, furtando. Então isso com a liberação só vai piorar. Por isso, eu acho que nós temos que garantir uma melhoria da qualidade de vida da população e esse processo faz parte disso.
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• P R O P O S TA
Instituto Crescer Dependentes químicos em situação de rua ganham alternativa para uma nova vida
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onforme informações colhidas pela Revista Imagineacredite junto à Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred) do Ministério da Cidadania, nos primeiros anos do século XXI, por políticas equivocadas, o Brasil assistiu de forma inerte o crescimento das cracolândias e consequentemente do número de dependentes químicos em situação de rua. É que, abalado pelo efeito danoso e nocivo das drogas, o dependente químico acaba sendo excluído da convivência social, por meio da perda de emprego e de vínculos sociais e familiares. Com isso, a tendência são as ruas e toda a violência e vulnerabilidade que a escuridão do mundo da dependência química pode proporcionar, uma vez que o consumo exagerado de entorpecentes, por sua vez, acaba retirando do indivíduo o direito de tomar decisões em sã consciência. Entretanto, no Distrito Federal, o Instituto Crescer tomou uma medida pioneira e, em outubro de 2019, inaugurou o Centro de Triagem Vem Viver, que está localizado na Avenida das Palmeiras, em Taguatinga. O espaço, segundo nossa reportagem apurou, figura como uma impor-
Equipe do Instituto Crescer
tante porta para que os dependentes químicos em situação de rua possam se libertar do aprisionador mundo das drogas. Segundo Areolenes Nogueira, fundadora do Instituto Crescer, o Centro de Triagem Vem Viver servirá como uma casa de passagem onde os usuários poderão permanecer durante 30 dias contando com atendi-
mento médico especializado 24h. A ideia é que, neste período, eles sejam desintoxicados e possam livremente escolher uma forma para vencer a dependência. “Isso aqui vai tá aberto 24 horas por dia e quem quiser sair da rua agora pode. [...] Nós vamos dar tratamento médico, emitir toda a documentação e somente depois vamos
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apresentar uma lista de oportunidades para a vida dele. Vamos perguntar se ele quer ir para um CAPS, para uma clínica ou para uma das 13 comunidades terapêuticas certificadas pelo Conen. A escolha será livre e nós apenas o encaminharemos”, detalhou Nogueira depois de ressaltar que tudo será realizado respeitando o livre-arbítrio dos usuários. Pioneiro no acolhimento de toxicodependentes em situação de rua, a proposta colocada pelo Instituto Crescer – durante o ato inaugural - logo recebeu o apoio de diversos órgãos de Governo, a exemplo da Senapred, do Ministério da Cidadania, e da senadora Leila Barros (PSB-DF) – que por meio da ex-governadora Maria Abadia garantiu o envio de recursos via emenda parlamentar -, bem como do Governo do Distrito Federal, por meio do subsecretário de Prevenção às Drogas, Rodrigo Barbosa. “Essa proposta está alinhada ao Plano Plurianual do Governo do Distrito Federal que atende a sociedade brasiliense alinhada com a Nova Política Nacional Sobre Drogas e que, com certeza, será uma referência para o país”, destacou Barbosa.
Uma resposta que precisa de apoio
Areolenes Nogueira, fundadora do Instituto Crescer
Instituto Crescer conta com um corpo de profissionais qualificados
O Instituto Crescer e o Centro de Triagem são a prova viva de que tudo o que as pessoas que sofrem com a dependência química necessitam é de apenas uma oportunidade
O Instituto Crescer e o Centro de Triagem são a prova viva de que tudo o que as pessoas que sofrem com a dependência química necessitam é de apenas uma oportunidade. Tanto é que essa ideia pode ser sentida em alguns testemunhos, a exemplo daquele dado pelo ex-residente Genilson Aparecido, durante a inauguração do espaço. Ele passou pelo processo de recuperação, depois de ser acolhido pelo pastor Paulo e Luiz, do Ministério Resgate da Igreja Batista Koinonia e que faz um trabalho de resgate de pessoas em situação de rua, e encaminhado para a Comunidade Terapêutica Caverna de Adulão. No entanto, foi esse trabalho de resgate e de recuperação na mencionada CT, aliado à primeira oportunidade dada por Areolenes Nogueira no Instituto Crescer, que ele conseguiu retornar ao convívio social com um trabalho formal e de carteira assinada. “Tive uma parte da minha vida jogada ao mundo, dividindo comida com os cachorros, até que um dia o Luiz insistiu para que eu fosse ao pastor Lúcio [presidente da Caverna do Adulão]. Fiquei quase 10 meses lá, onde falaram que eu deveria melhorar as coisas. Foi então que me levaram a dona Areolenes e hoje eu tenho a oportunidade de conhecer a sociedade e demonstrar meu trabalho com carteira assinada”, testemunhou. Ex-residente Genilson Aparecido
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Apesar da inauguração, o Centro de Triagem Vem Viver não está em pleno funcionamento, porque ele ainda não conta com o financiamento necessário para custear toda a sua equipe multiprofissional para realizar o acolhimento dos dependentes em situação de rua. De acordo com Areolenes Nogueira, o Instituto Crescer está viabilizando esses recursos via Senapred, muito embora da sociedade civil também seja de suma importância, uma vez que o público alvo do projeto tem apresentado uma grande demanda no Distrito Federal. “Depois que fizemos um material com o nosso contato e distribuímos, toda hora vai gente lá. É um movimento constante de gente que quer tomar banho, que quer alimento, que quer tudo. Mas, nesses quatro meses, apenas realizamos o cadastramento de cerca de 100 moradores de rua, pois esse é um projeto caro e a falta do recurso não nos permitiu realizar o acolhimento”, disse Areolenes. Para a fundadora do Instituto Crescer, o Centro de Triagem Vem Viver é um projeto pioneiro que vem a somar com o resgate de vidas e com todos aqueles que lidam diariamente com os toxicodependentes em situação de rua. “O grande diferencial desse trabalho é que ele vai acolher pessoas que querem sair das ruas à noite. Por exemplo: se está chovendo e ele não tem abrigo, ele sabe que ali ele tem um lugar para ser abrigado, ser triado e ser encaminhado para o serviço de acordo com a sua escolha”, ressaltou.
Instituto Crescer e PMDF se unem pelos moradores de rua
Enquanto o financiamento não chega, o Instituto Crescer – pensando em resgatar vidas das ruas - firmou uma parceria com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), o Grupo Francisco de Assis, o Projeto Banho do Bem e voluntários para executar a Operação Dignidade. A ação teve o objetivo de ir, literalmente, ao fundo do poço para mostrar uma alternativa junto aos dependentes em meio a escuridão da noite e das drogas. Por isso, a Operação percorreu as ruas de Águas Claras e Taguatinga, duas cidades satélites de Brasília, na madrugada do dia 23 de dezembro. Na ocasião, os integrantes da operação realizaram a distribuição de refeições e roupas, bem como a oferta de banhos e cortes de cabelo. Sem contar que o Centro de Triagem abriu as suas portas para aqueles que queriam uma nova vida livre das drogas. Para o coronel Schweitzer, comandante do Comando de Policiamento Regional Oeste (CPRO), um dos idealizadores da ação, a operação deixou um sentimento de enorme gratidão. “Foi bom reunir em nossa unidade (CPRO), uma centena de pessoas distintas, sob propósito comum de fazer o bem”, comemorou o coronel.
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Abstinên N
um país que tem tudo para ser uma grande nação, como é o caso do Brasil, a dependência química de álcool e outras drogas figura como um grande flagelo responsável por causar dor e sofrimento à sociedade e às famílias brasileiras. Uma vez que as políticas públicas adotadas ao longo da primeira década do século XXI no país contribuíram tão somente para a manutenção dos dependentes em seus respectivos vícios.
Como resultado, de acordo com a Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred) do Ministério da Cidadania, em mais de uma década, o Brasil viu crescer o número de consumidores de álcool e outras drogas, a prevalência e o aumento substancial de pessoas em situação de dependência química, bem como o aumento das cracolândias e das taxas de suicídios, que tem as drogas como o segundo maior fator de risco. Além disso, o país assistiu ao crescimento do número de depen-
dentes químicos em situação de rua e a consequente expansão das cracolândias, sem contar com o aumento da mortalidade dos dependentes do crack, droga esta que tem o Brasil como seu segundo maior mercado consumidor. Tanto é que, segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), 20% de todo o crack do mundo é consumido em terras brasileiras. Sendo assim, fica claro que o caos estava posto de forma irreconhecível, pois os dados que
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se tinham eram irrelevantes. Um exemplo disso é a dificuldade para encontra-los, sobretudo em plataformas oficiais de governo. Por isso, com a eleição e posse do presidente Jair Bolsonaro, percebeu-se que este problema era reflexo de uma política pública sobre drogas equivocada, a qual focava apenas na redução dos danos causados pelas drogas sobre os indivíduos, enquanto estigmatizava diversas formas de tratamento que hoje são vistas, entendidas e comprovadamente eficazes na superação da dependência química.
A dependência química de álcool e outras drogas figura como um grande flagelo responsável por causar dor e sofrimento à sociedade e às famílias brasileiras
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O remédio mais eficaz para combater a dependência química no Brasil
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Senador Eduardo Girão
Deputado Federal Eros Biondini
Ministro da Cidadania, Osmar Terra
Mudança começou pelo Congresso Nacional Diante deste cenário, uma ampla frente em defesa da vida foi formada em Brasília-DF. Ela contava com o apoio do novo governo federal, da Frente Parlamentar Mista em Defesa das comunidades terapêuticas, presidida pelo deputado federal Eros Biondini (PROS-MG); e do senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que foi um dos grandes responsáveis pela articulação e aprovação do Projeto de Lei Complementar 37/2013, de autoria do atual ministro da Cidadania, Osmar Terra, que resultou em alterações na Lei Antidrogas e no Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad). Esse texto estabelecia, entre outras coisas, a internação involuntária de dependentes químicos com o psicológico abalado em ambulatórios, para a sua desintoxicação. Neste ponto, a ideia era devolver a capacidade de tomar decisões conscientes do dependente químico e oferecê-lo alternativas para se libertar das drogas, seja em clínicas ou em comunidades terapêuticas, que passaram a ter a sua atuação reconhecida pelo Governo Federal um mês depois com a sanção, via decreto, da nova Política Nacional Sobre Drogas. Ao mesmo tempo, a PLC 37 também aumentou a pena mínima a ser aplicada a traficantes que comandam individualmente ou coletivamente organização criminosa, de cinco para oito anos de reclusão; e instituiu me-
didas que garantissem a reinserção social dos dependentes químicos acolhidos, tratados e recuperados dos seus respectivos vícios. Para o senador Eduardo Girão, a proposta que hoje tem força de lei “tem uma importância muito grande no processo de oferecimento de vagas para tratamento. As comunidades terapêuticas e demais instituições de auxílio ao dependente químico serão valorizadas e com isso, sem dúvidas, muito mais pessoas e suas famílias terão oportunidade de, através de uma atenção especializada, se afastar das drogas”. Já o ministro da Cidadania, Osmar Terra, destacou que a aprovação da PLC 37 em favor da vida e contra as drogas somente foi possível com a chegada do presidente Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. “Para se ter uma ideia, a lei que regulamenta a questão das drogas no Brasil foi gestada em 2010, aprovada na Câmara em 2013 e só veio ser aprovada no Senado seis anos depois e uma das razões foi um telefonema do presidente dizendo que isso precisava ser aprovado o quanto antes e ai ele vetou aquilo que era inadequado. Então nós temos uma lei que avança em relação às leis anteriores e que constituem as comunidades terapêuticas como braço no tratamento e no acompanhamento dos dependentes nessa luta toda que temos contra as drogas”, frisou o ministro da Cidadania.
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Governo Federal fortaleceu a luta pela vida
Luiz Roberto Beggiora, Senad
Quirino Cordeiro Júnior, Senapred
O governo incumbiu à Senapred de desenvolver iniciativas para fomentar a prevenção, o tratamento e a reinserção social de dependentes químicos
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Entretanto, o problema das drogas no Brasil é algo muito complexo e, por isso, o Governo Federal decidiu fortalecer a luta pela vida com a instituição da nova Política Nacional Sobre Drogas, por meio de um decreto presidencial assinado em abril de 2019 pelo presidente Jair Bolsonaro. O texto, além de mudar o foco do tratamento de redução de danos para a promoção da abstinência, também definiu duas frentes de atuação para combater o avanço das drogas no Brasil. Na área cujo objetivo era a redução da oferta de drogas, o governo encarregou a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) a desenvolver ações para desmantelar o narcotráfico e o crime organizado. E o resultado apareceu ainda em 2019 com a arrecadação de R$ 1.596.595,60, fruto do leilão de bens apreendidos do tráfico de drogas e que foram revertidos ao Fundo Nacional Antidrogas, para financiar ações, projetos e programas relacionados à política sobre drogas. Para Luiz Roberto Beggiora, atual Senad, os recursos oriundos do crime organizado têm conseguido promover um verdadeiro reaparelhamento dos órgãos de segurança pública nos âmbitos federal e estaduais. Segundo ele, entre as medidas possibilitadas está o fortalecimento do pelotão de cães farejadores da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que atuam na fiscalização das rodovias brasileiras; bem como a capacitação de 10 mil professores para lidar com temas ligados à saúde, à segurança e às drogas nas escolas, e o investimento em projetos que auxiliarão as forças de segurança a detectarem novas substâncias psicoativas. “Para se ter uma ideia, em 2019, já destinamos R$ 13 milhões para a área de fronteiras, que é muito carente de recursos. E esses recursos estão indo para melhorar as ferramentas de comunicação da Operação Vigia, que é uma operação integrada entre as Polícias Federal, Militar, Civil e batalhões de fronteiras, e isso vai trazer uma maior eficiência na área de comunicação nas fronteiras e consequentemente ampliará a apreensão de drogas”, exemplificou. Já na área onde o objetivo é a redução da demanda por droga, o governo incumbiu à Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (Senapred) do Ministério da Cidadania de desenvolver iniciativas para fomentar a prevenção, o tratamento e a reinserção social de dependentes químicos, o que possibilitou também o reconhecimento do trabalho desempenhado pelas comunidades terapêuticas, grupos de mútua ajuda e apoio familiar. Aliás, foi nesta secretaria que iniciativas preventivas como aquelas desenvolvidas pelo Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) nas escolas ganharam um impulso maior. Pois a pasta firmou um Acordo Técnico de Cooperação com o Conselho Nacional de Comandantes Gerais das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, responsável pelo programa, para expandir e dar maior capilaridade às ações no maior número possível de escolas públicas no país. Nas áreas de cuidados e reinserção social, a Senapred viabilizou a expansão de vagas financiadas pelo Governo Federal em comunidades terapêuticas, que passaram de 2.000 no primeiro semestre de 2019 para 20.000 vagas no primeiro semestre deste ano, com a divulgação de editais de finan-
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A importância da promoção da abstinência
Primeira reunião com toda equipe da Senapred em 2020
ciamento; reconheceu e possibilitou a promoção da expansão dos grupos anônimos, de ajuda mútua e de apoio familiar, por meio de parcerias e editais; bem como – graças ao foco na abstinência – disponibilizou cursos profissionalizantes aos dependentes químicos em recuperação nas comunidades terapêuticas. Por falar em comunidades terapêuticas, foi somente em 2019 que elas foram efetivamente reconhecidas pelos três poderes da República Federativa do Brasil. É que depois do Congresso Nacional aprovar a PLC 37 e o Governo Federal instituir a nova Política Nacional Sobre Drogas, no dia 06 de setembro de 2019, depois de muitos embates, o Pleno do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) decidiu por unanimidade reconhecer o marco regulatório das CTs. O texto – segundo a Confederação Nacional de Comunidades Terapêuticas (Confenact) – dá maior segurança jurídica às CTs e para
“apagar falsas premissas criadas por desconhecimento do funcionamento das comunidades terapêuticas, que tem resultados expressivos no atendimento e recuperação de usuários de drogas por todo o território nacional, atendendo diariamente mais de 60 mil pessoas em regime residencial”. Diante disso, o deputado federal Eros Biondini disse que a expectativa é que o Governo Federal chegue a financiar 50 mil vagas em CTs. “Nunca tivemos um governo que apoiasse tanto a política de drogas no que diz respeito à prevenção, recuperação dos dependentes químicos e reinserção social. Uma mudança na mentalidade, com foco na abstinência e não na redução de danos, que só faz incentivar o uso pelos jovens”, comemorou o parlamentar, que vê na Comunidade Terapêutica “o melhor de todos os caminhos para a recuperação de alguém que está na dependência química”.
Procurado pela reportagem de Imagineacredite, o Dr. Quirino Cordeiro Júnior, atual Senapred, lembrou que a mudança do foco do tratamento do dependente químico decorreu da gravidade encontrada no país no tocante às drogas. Por isso, ele afirmou que com a promoção da abstinência “a gente busca ajudar o dependente químico a viver uma vida em sobriedade e reinserido socialmente, para que ele possa viver uma vida plena e efetivamente cidadã”. Para Quirino, investir na redução de danos significa manter o indivíduo nas drogas. “A gente sabe que se a pessoa com dependência química continua a usar a droga, infelizmente o seu desfecho clínico vai ser muito ruim, como vinha sendo”, observa. Por isso, ele ressaltou que todos os esforços do governo são para melhorar os índices relativos direta e indiretamente à dependência química. “Nós temos uma tarefa muito difícil, devido à politicas públicas equivocadas que nós tínhamos. [...] Mas pelos resultados obtidos nesse primeiro ano de governo, nós estamos esperançosos”, completa. Apesar dos investimentos e das intenções, ficam as perguntas: Como funciona o tratamento baseado na
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A IMPORTÂNCIA DA ABSTINÊNCIA “A gente busca ajudar o dependente químico a viver uma vida em sobriedade e reinserido socialmente, para que ele possa viver uma vida plena e
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efetivamente cidadã”.
promoção da abstinência? Para responder a essa pergunta, a reportagem de Imagineacredite buscou Nelson Giovanelli, que atua na promoção da abstinência há mais de duas décadas na Fazenda da Esperança, instituição essa da qual é fundador junto com o Frei Hans Stapel Ofm, e que está presente em todos os continentes do globo terrestre resgatando vidas da dependência química. Segundo ele, o indivíduo recorre à droga quando quer fugir de algo ou algum problema que o faz perder o sentido das coisas. Por isso, ele disse que o tratamento baseado na promoção da abstinência tem o objetivo de devolver o sentido da vida ao dependente químico, por meio da verdade e também do Evangelho, como ocorre em instituições de liderança religiosa. “Não podemos ensinar aos jovens a viver na mentira, ou seja, a redução de danos faz uma proposta de não deixar a droga completamente, mas de criar um compromisso com aquilo que faz mal para sua vida e para sua saúde”, salienta.
Aliança com a fé e a espiritualidade
Neste sentido, Giovanelli sublinhou que o tratamento baseado na abstinência total demanda de um ambiente favorável capaz de evitar a chamada Síndrome da Abstinência. “No caso das comunidades terapêuticas, esse ambiente acontece num lugar onde existe trabalho, existe espiritualidade, existe natureza, existe uma convivência fraterna, existem pessoas que estão à disposição 24 horas, existe a possibilidade de receber responsabilidade. Então todos os elementos necessários estão aqui. Com isso, a crise que poderia acontecer não ocorre, porque ele recebe com todas essas ajudas o impulso necessário para não sofrer com a falta da droga”, detalha. Ele ainda confidenciou que tal conclusão foi constatada por um acupunturista do Vietnã, o qual afirmou que a existência dos fatores acima elencados ajuda a produzir a endorfina, hormônio responsável pela sen-
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sação de prazer que antes era produzida por meio da droga. “Nós recebemos com isso uma explicação científica do porquê que nas Fazendas da Esperança e em muitas outras comunidades terapêuticas não existe a Síndrome da Abstinência”, completa. A lógica do Nelson Giovanelli foi confirmada pelo saudoso Padre Haroldo J. Rham, em entrevista concedida ao Imagineacredite. De acordo com ele, esse ambiente favorável, repleto de amor, espiritualidade e fraternidade, proposto pelas CTs, são coordenados por pessoas honestas e dedicadas ao trabalho. “Dar muito afeto e muito amor. Isto é muito mais importante do que as técnicas e metodologia. Como em outros setores da vida, todo mundo corresponde ao amor verdadeiro”, concluiu. Já o pastor Galdino, fundador da Comunidade Terapêutica Desafio Jovem, a segunda do Brasil, e autor de diversos programas de tratamento terapêutico, disse ao Imagineacredite que o segredo para o resgate de vidas do mundo das drogas está “na palavra de Deus” e que, nesta caminhada de promoção da abstinência, é necessário que se trabalhe a espiritualidade junto ao dependente químico em reabilitação. “Porque se você cria um sentimento espiritual de vida, o sujeito estará propenso a aceitar os ensinamentos da palavra, então não tem importância o problema da religião. Acho que fica equidistante”, observa.
Os impactos positivos sobre as entidades
Com a mudança de foco no tratamento, o Governo Federal gerou uma série de impactos positivos, principalmente sobre as entidades que atuam no terceiro setor, a exemplo das CTs, grupos anônimos, de mútua ajuda e de apoio familiar, os quais foram reconhecidos e passaram a serem protagonistas no tratamento da dependência química.
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É unânime o desejo de todas as entidades que lidam com a dependência química na ponta que o Governo Federal dê continuidade e amplie as
Adalberto Calmon, presidente da Confenact
No tocante às CTs, Adalberto Calmon, presidente da Confenact, observou que a nova PNAD aliada aos investimentos governamentais fizeram com que as entidades do segmento ficassem mais “comprometidas com o melhoramento de seus trabalhos, tanto na formação e capacitação de suas equipes, como em melhorar as condições de suas estruturas. Felizmente, essas ações do Governo Federal possibilitaram acesso aos recursos públicos para que as comunidades possam buscar meios para se adequar à legislação, ter melhores estruturas e também a possibilidade de obter cursos realizados pelas federações”. No entanto, Calmon observou que as CTs são uma das soluções para o enfretamento da dependência no Brasil, sendo necessários também alguns investimentos nos “CAPS, nos hospitais gerais, nos leitos psiquiátricos e nos consultórios de rua que também devem ser fortalecidos pelo governo, para que seja uma ação conjunta em que a Rede de Atenção Psicossocial possa funcionar e dar resposta para a sociedade”.
Em relação aos grupos de mútua ajuda, Egon Schluter, da Cruz Azul no Brasil, observou que os investimentos federais têm possibilitado a expansão desses grupos nas regiões norte e nordeste do país. “Com este apoio estaremos formando grupos de apoio no nordeste, no norte e também ampliando nosso trabalho com grupos de apoio para indígenas, visto que atualmente nosso trabalho está mais presente na região sul do Brasil, e vínhamos tendo demanda grande da região nordeste, que não conseguíamos atender por falta de recursos”, comemora. Neste mesmo raciocínio, Fábio Magalhães da Silva, coordenador da regional Serra Negra da Federação de Amor Exigente, lembrou que a parceria junto ao Governo Federal tem permitido à “sociedade entender que pode também contar com os grupos na orientação, apoio e ajuda na reinserção social do dependente químico, dando as famílias meios de colaborar efetivamente na recuperação tanto do indivíduo, como dela mesmo”. O padre Vinícius Esch Gouvêa, do Grupo Esperança Viva (GEV) da Fazenda da Esperança, frisou que a parceria com a Senapred possibilitará o nascimento de novos grupos no mês de fevereiro e no dia 14 de março, quando mais de 30 mil pessoas serão reunidas em Manaus-AM para “dizer que toda vida tem Esperança”, já que para o GEV “o Amor e somente o Amor pode transformar o ser humano”. “O apoio de muitos voluntários, o incentivo do poder público, o trabalho eficiente e disciplinado, a
orientação para Deus, o essencial, e principalmente momentos que proporcionam formar família nos grupos nos permitem formar as pessoas em um novo estilo de vida”, ressaltou.
Nova política abre uma luz para os Estados
Com a instituição da nova Política Nacional Sobre Drogas, da Lei Antidrogas e outras normativas relacionadas ao assunto, o Governo Federal iniciou governando pelo exemplo. Um exemplo é que algumas assembleias legislativas instituíram Frentes Parlamentares Mistas em Defesa de comunidades terapêuticas, uma vez que as CTs foram reconhecidas como prestadoras de um serviço de excelência e que, portanto, tornou-se imperativa a viabilização de convênios para o acolhimento, tratamento e reinserção social dos dependentes químicos. Nesta seara, figura o Governo do Distrito Federal, que tem trabalhado para regularizar, via Conselho de Políticas Sobre Drogas, mais de 100 comunidades terapêuticas, além de ter firmado um convênio, por meio da Secretaria de Justiça e Cidadania do DF (Sejus), um convênio para garantir a reinserção social de pessoas acolhidas nessas entidades, por meio da sua capacitação profissional. De acordo com Rodrigo Barbosa, subsecretário de Enfrentamento às Drogas da Secretaria de Justiça do GDF, a medida integra o projeto denominado "Quem escolhe seu caminho é você". Inspirado no Programa Progredir, do Ministério da Cidadania, a iniciativa resultará
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ações que têm sido motivadoras de transformações no cotidiano de que atua resgatando vidas assoladas pelo flagelo causado pelo consumo de drogas num investimento de R$ 2,6 milhões oriundos do Fundo de Direito Difusos e Coletivos, do Ministério da Justiça e Segurança Pública do Governo Federal. “Esse projeto vai ofertar cursos de capacitação nas comunidades terapêuticas na modalidade itinerante. Então ele vai se deslocar em todas as 12 comunidades terapêuticas do DF que são parceiras com o GDF, bem como aquelas que possuem registro no Conselho de Política Sobre Drogas e as que deram entrada em seu registro”, acrescentou o subsecretário depois de informar que a execução do projeto iniciará em 2020 e será concluído em 36 meses. Já para Teodolina Martins Pereira, presidente do Conselho de Política Sobre Drogas do DF (Conen-DF), vinculado à Sejus-DF, a busca pela regulamentação das CTs no estado tem o objetivo de fomentar o desenvolvimento dessas entidades do terceiro por meio do repasse de recursos públicos federais e estaduais. “O maior objetivo do Conselho, além de proporcionar trabalho em excelência junto com as CTs, é que as contas sejam aprovadas e que a gente não tenha nenhum problema junto ao Tribunal de Contas do DF, junto aos órgãos de controle externo e nem interno”, acrescentou. Além disso, o Governo do Distrito Federal tem se destacado com iniciativas voltadas a este assunto. Um exemplo disso é a instituição do projeto denominado “Ame, mas não sofra”. Fruto de um convênio, a iniciativa tem o objetivo de cuidar das famílias que sofrem com a dependência química.
Um marco histórico que deve ser mantido
Diante de tantos avanços, a Pastoral da Sobriedade, por meio de Leuzalina Alessandra Silva Gomes, coordenadora regional Centro Oeste da Pastoral da Sobriedade, membro da Sociedade Internacional de Profissionais da Prevenção e Tratamento de Uso de Substâncias e especialista em dependência química, ao fazer um comparativo do antes e do depois do Governo Bolsonaro, frisou que as entidades que compõem o terceiro setor comemoram a “concretização de um marco histórico no processo de recuperação atual no país, uma vez que os grupos de mútua ajuda e o Governo Federal têm em comum a meta principal da abstinência de substâncias psicoativas como objetivo fim no processo de recuperação”. Por isso, assim como diversas entidades procuradas pela reportagem de Imagineacredite, a representante da Pastoral da Sobriedade, Leuzalina, informou que a atual preocupação do terceiro setor é a “fidelização de parcerias com os órgãos e entidades vinculados direta ou indiretamente com a dependência química que, comprometidas com os aspectos biopsicossociais, promovam capacitação profissional com foco na prevenção, recuperação e reinserção familiar e social buscando estratégias de implicações, fortalecimento de vínculos e apoio aos dependentes e seus familiares”. Por fim, a reportagem de Imagineacredite constatou que é unânime o desejo de todas as entidades que lidam com a dependência química
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na ponta que o Governo Federal dê continuidade e amplie as ações que têm sido motivadoras de transformações no cotidiano de que atua resgatando vidas assoladas pelo flagelo causado pelo consumo de drogas. “Temos uma confiança grande, pois a estratégia do Governo Federal de fomentar a diversidade dos serviços de atenção, tratamento, prevenção e reinserção social é um caminho muito bom e necessário”, resumiu Egon Schluter. Felizmente, ainda na entrevista que concedeu ao Imagineacredite, o Dr. Quirino Cordeiro Júnior observou que o Governo Federal pretende dar continuidade a tais ações, a fim de melhorar os indicadores referentes ao tema. “Nós estamos esperançosos e esperamos que com o passar do tempo, nós possamos consolidar as mudanças implementadas para que possamos ter indicadores cada vez mais robustos nos próximos anos”, disse. E finalizou: “Hoje, nós não temos dúvidas que a política de abstinência é a melhor alternativa na atualidade. Nós tínhamos resultados muito ruins e os primeiros resultados deste primeiro ano nos mostram que já estamos colhendo os frutos das mudanças implantadas nas políticas públicas no Brasil. É importante ficar claro que o cenário era tão grave que tínhamos na área das drogas, que nós da Senapred trabalhamos com ações de redução de demanda por drogas e em conjunto com outras esferas do Governo Federal, como o Ministério da Justiça que tem trabalhado de maneira importante para a repressão ao narcotráfico. Então nós temos um cenário complexo e as ações precisam ser realizadas para que possamos dar conta de toda a complexidade deste cenário”.
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Arte na Praça Projeto resgata praça das drogas e torna Sobradinho referência cultural do DF
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ioneiro e transformador! Assim pode ser definido o projeto Arte na Praça, realizado desde o ano de 2016 pela Associação dos Artistas de Sobradinho e Entorno (Artise), na Praça das Artes Teodoro Frei, situada na Quadra 08, em Sobradinho, região norte do Distrito Federal. É que ele foi o responsável por revitalizar a Praça das Artes, que antes era utilizada para a venda e o consumo de drogas, devido à sua escuridão e abandono, preenchendo-a de cidadãos até então carentes de eventos que promovessem a integração e o engajamento comunitário. Segundo o apurado por Imagineacredite, o estreitamento dos laços comunitários ocorre todos os sábados, que é quando o Artise executa o Arte na Praça, que disponibiliza à população uma feirinha de artesanato e de produtos orgânicos, oficinas de Dança e de DJs, shows artísticos, e uma rica praça de alimentação. Além disso, a iniciativa estende seus trabalhos para as escolas públicas da região, com a oferta de oficinas de Música, Artesanato e Pinturas. No entanto, para o músico e compositor Angelo Macarius, atual presidente da Artise, a maior conquista do Arte na Praça foi a transformação promovida na Praça das Artes Teodoro Frei. “Essa praça estava largada, essa praça tinha virado uma biqueira de crack. Não quero aqui estigmatizar o usuário, não é isso, está entendendo? Estou falando que, a partir do momento em que a gente chegou, a coisa mudou. A praça deixou de ser “boca”. Virou esse
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ambiente familiar que a gente está vendo aqui”, comemora. De acordo com o maestro Alex Paz, fundador do Arte na Praça e ex-presidente da Artise, para a transformação do espaço, alguns serviços tiveram que ser realizados pela Associação, tais como a implantação da iluminação em LED, aliada a restauração dos banheiros, dos bancos e do palco da praça. Como resultado, o projeto afastou a criminalidade e obteve o apoio da comunidade de Sobradinho. “Agora, os empresários têm sido muito importante para nós, porque eles têm se tornado parceiros do nosso projeto. Eles ajudam na propaganda e no marketing do nosso esquema aqui. Então eles sabem que é bom para eles estar ajudando a nossa entidade, porque sabem que está sendo bom não só pra eles, mas pra cidade em si”, acrescenta. Por falar no comércio local, a reportagem de Imagineacredite entrevistou alguns comerciantes, os quais comemoraram o fato do projeto ser capaz de combater e prevenir o uso de drogas – ao afastar a criminalidade - e de devolver a vida àquele espaço. “O movimento na Quadra 08 estava meio morto, cheio de... Estava enchendo de bandido, de pessoas que mexem com drogas. Agora o pessoal do comércio está todinho aqui fazendo parte desse projeto. Por isso, esse projeto está sendo maravilhoso”, destacou a comerciante Sandra. Já o cantor Marciano comemorou o fato do Arte na Praça valorizar os artistas locais e retirar a população do ócio. “O Arte na Praça está levando música para o povo. O povo tem que vir para a praça, o que é muito importante. E Sobradinho está de parabéns por realizar um evento maravilhoso igual a esse. Aqui o público canta e interage com a gente e a gente só tem a agradecer”, destaca.
Uma plataforma de reinserção social
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O pioneirismo e a capacidade de transformação são traços tão marcantes dentro do Arte na Praça, que, além de afastar a criminalidade, prevenir e combater o uso de entorpecentes, a iniciativa também serve de trampolim para reinserir na sociedade os dependentes químicos em tratamento na Comunidade Terapêutica Mar Vermelho, instalada em Sobradinho. Gerida pelo pastor Darley César, a CT envia seus acolhidos em fase avançada na caminhada de recuperação para erguerem toda a estrutura necessária para a realização do Arte na Praça. Com isso, eles têm a oportunidade de voltar ao convívio social e, quiçá, adquirirem uma profissão, uma vez que, segundo o pastor, desde que haja uma identificação do dependente com a proposta cultural do Arte na Praça, eles podem fazer uso das oficinas de DJs. Tanto é que, segundo ele, o Arte na Praça já conta com um ex-dependente reinserido na sociedade. “Ele foi acolhido e hoje está fazendo a reinserção. Está casado, com família e todos os finais de semana ele não só vem trabalhar, como também traz a família para curtir a proposta que é o Arte na Praça. E aí aprecia os músicos, faz uma crítica, e consegue enxergar quem faz um show bom e quem não faz um show tão legal assim”, comemora o pastor. Ainda de acordo com o religioso, a entrada dos dependentes químicos em fase avançada no Arte na Praça foi resultado de uma parceria com os diretores do Artise. “Eu não participei da formatação do Arte na Praça, mas como a gente é parceiro já há mais tempo, fui me envolvendo nas discussões e quando vi o formato que estava acontecendo, eu disse: ‘A gente se encaixa aqui. A galera nossa tem espaço. Dá pra essa galera estar participando’”, relembra. Essa visão casou perfeitamente com o método de tratamento terapêutico do Mar Vermelho, pois lá, durante a sua caminhada, o acolhido tem um leque de possibilidades para retornar ao convívio social. Tanto é que alguns acolhidos estão prestes a gravar um EP e saírem numa mini turnê por Brasília. Por isso, o pastor destaca que a união da CT com o Arte na Praça foi o casamento perfeito. “Esse projeto trouxe um renovo pra nossa cidade. A gente não tinha um espaço onde ouvir boa música, comer, participar de uma tarde e um pedaço da noite, num sábado, de uma coisa bem organizada, tranquila. E pra minha proposta de trabalho na Comunidade Terapêutica foi uma junção, né. O Arte na praça e as coisas que a gente já vem ao longo dos anos fazendo em recuperação e na área cultural. Então foi um abraço maior a essas pessoas que estão com a gente lá se reinserindo”, conclui.
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Uma fonte de promoção artística
O Arte na Praça surgiu após anos de experimentos culturais promovidos pela Artise e que não foram bem sucedidos. No entanto, foi o espirito de persistência aliada à ideia de garantir a inclusão social daquela comunidade periférica do DF e em elevar a autoestima dos artistas locais, que clamavam por espaços dentro e fora da indústria cultural, que a Diretoria da Artise decidiu reunir tudo o que havia de positivo nesses projetos e construir um só. E o saldo positivo desses experimentos quando unidos foi tão grande que o deputado estadual por Sobradinho, Ricardo Valle, decidiu destinar uma emenda parlamentar para garantir a continuidade do projeto Arte na Praça que, segundo Alex Paz, retirou Sobradinho do esquecimento cultural e a elevou ao status de Cidade-Arte do Distrito Federal. “A gente apresentou essa ideia pra ele na Câmara Legislativa. Nós fomos lá com nossa comitiva e apresentamos pra ele todo o projeto ilustrado, todo acabado, formatadinho, perfeito, redigido com um jornalista nos ajudando na redação do projeto e ele entendeu que era um projeto muito interessante... que era um projeto até barato, como ele falou", conta. "Ele falou: ‘Pra mim é um projeto altamente barato, porque trezentos mil reais para oito meses significa um gasto mensal muito pequeno. Enquanto tem pessoas por ai no DF que gastam uma emenda de trezentos mil reais num dia só’”, relembra Paz, ao acrescentar que essa parceria permitirá que o projeto seja realizado todos os sábados, até o dia 18 de julho de 2020, com a perspectiva de ser expandido para todo o Distrito Federal. Cabe destacar que a emenda parlamentar fez a Artise conceber o Arte na Praça por meio de um convênio com a Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal, viabilizado graças ao Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC). Com isso, além de garantir o acesso à cultura na periferia, o projeto acabou servindo como plataforma de escoamento da produção artística-cultural brasiliense, uma vez que o DF está fora do eixo Rio – São Paulo, que é onde figura as principais bases da indústria cultural brasileira. Além disso, por se tratar de uma região voltada ao serviço público federal, o Arte na Praça destaca-se como o primeiro projeto de valorização da arte local via convênios, o que acabou modificando a rotina dos artistas locais que foram obrigados a se burocratizarem para ter a oportunidade de apresentar os seus trabalhos em todo o DF, como explica Angelo Macarius.
“Em Brasília, sempre houve essa coisa da gente ter que intervir dentro das questões do poder público para poder fazer as coisas e o poder público ter que intervir também. Então a gente se burocratiza né? E o que a gente tem pedido para os associados [cerca de 80] é justamente que façam isso também, que vão atrás do seu CEAC, pois não é difícil... É porque realmente não é do temperamento do artista”, comenta Macarius. Por isso, o presidente da Artise ressaltou a importância da sociedade em geral olhar com mais atenção os artistas locais. “A gente precisa da comunidade – queria até usar essa palavra aqui esclarecida - pra que a gente possa prosseguir e continuar fazendo o que a gente faz que é levar a cultura. A gente não está aqui de graça, a gente está levando cultura às pessoas”, salienta.
Conheça o Arte na Praça
Para saber mais detalhes sobre a programação do projeto Arte na Praça, os interessados podem acessar a página oficial da Artise, por meio do endereço eletrônico: www.artise.org. Lá, você vai poder conferir as novidades culturais promovidas pela Associação, que é uma das raras instituições que abrange as diferentes manifestações e tendências artísticas, como Música, Poesia, Dança, Espetáculos Circenses, Marionetes, palhaços, Literatura e Artes Cênicas.
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•TURISMO
60 anos de Brasília De olho nos turistas, Governo Distrital prepara programação festiva para todo o ano
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o próximo dia 21 de abril, Brasília, considerada pela Unesco um Patrimônio Cultural da Humanidade, celebrará o seu 60º aniversário. Pensando nisso, o Governo do Distrito Federal tem preparado uma programação para atrair ainda mais turistas à capital do Brasil. Segundo, Vanessa Mendonça, secretária de Turismo do Governo do Distrito Federal, a ideia é atrair mais turistas valorizando aquilo que Brasília tem de melhor e que encanta a todos que a visita. Por isso, estão no radar de investimentos ações voltadas ao turismo cívico e ao Ecoturismo. Sem contar com a ressignificação de seus monumentos, a fim de tornar a cidade mais moderna e acolhedora para seus cidadãos e visitantes.
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Em relação ao Turismo Cívico, a ideia é investir em atos como a famosa Troca da Bandeira, que é realizada no primeiro domingo de cada mês por um dos órgãos que integram as Forças Armadas nacionais ou locais. “O turismo cívico é uma das apostas da Setur para divulgar Brasília para o Brasil e o mundo. O Bandeirão ocorre no primeiro domingo de cada mês e é uma das maiores expressões do turismo cívico do país”, argumenta. Vale destacar que o Bandeirão figura no Livro dos Recordes como a maior bandeira hasteada do mundo. Por isso, a ideia do GDF é implantar o projeto denominado “Brasília, a nossa capital”. Com ele, estudantes de outros estados brasileiros poderão ir à capital federal participar do evento e, ao mesmo tempo, serem copartícipes de um dos maiores eventos cívico-culturais do país. “Em 2019, ele [Brasília, a nossa capital] foi implementado para alunos de escolas da rede pública do DF. A partir desse ano, agências de viagens vão oferecer pacotes para visitas de estudantes de outros estados. O projeto é uma parceria da Setur do Distrito Federal junto com a Secretaria de Educação do DF e a Voetur”, detalha a secretária.
Foto: Luis Tajes
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O turismo cívico é uma das apostas da Setur para divulgar Brasília para o Brasil e o mundo" Vanessa Mendonça, secretária de Turismo
Brasília vista de outro ângulo Ainda para comemorar os 60 anos de dutivo e do trade turístico se reuniram com o Brasília, o GDF pretende investir no Governo do Distrito Federal para unirem Ecoturismo por meio do projeto Caesforços e construírem ações para a cominhos do Planalto Central. Seu obmemoração dos 60 anos. Governo jetivo é atrair ciclistas, caminhantes “Desde então, estamos trabado DF e cavaleiros para percorrerem 400 lhando para ampliar as celebrações e quilômetros de trilhas em todo dar a Brasília o que ela merece. Afipretende investir o Distrito Federal, que contam a nal, temos uma cidade incrível e o história e apresentam as belezas Governo do Distrito Federal está trano Ecoturismo naturais e arquitetônicas da capital balhando para ressignificar os nossos brasileira. monumentos e apresentar essa cidade “O Caminhos do Planalto fará moderna e acolhedora para que a populaparte do Caminho dos Goyases, que liga ção e visitantes possam vivenciar tudo o que a cidade de Goiás Velho à Chapada dos Veatemos a oferecer”, completa a secretária. deiros, ambos no estado goiano, que é um dos quatro Cabe destacar que também estão previstas as circuitos da Redetrilhas”, adiantou Vanessa, ao acresfestividades de aniversário da cidade uma programação centar que o projeto é fruto de um acordo de intenções artística-cultural, que ainda não foi divulgada. No entanassinado ainda em 2019 entre as Secretarias de Turismo, to, a expectativa é grande, uma vez que somente a festa Meio Ambiente e Agricultura, a Empresa de Assistência de réveillon promovida pelo GDF atraiu 120 mil pessoas Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Ematerpara a Esplanada dos Ministérios e 27 mil para a Praça -DF) e o Instituto Brasília Ambiental (Ibram). dos Orixás. “Além do belo espetáculo com atrações cultuDiante de tais investimentos tornou-se imperativo rais locais e nacionais, e queima de fogos, os eventos têm uma ampla articulação entre todos os envolvidos no outros números que colocam a cidade como referência na acolhimento dos turistas. Por isso que, ainda em 2019 capacidade de promoção de ações sustentáveis e com leempresários, autoridades, representantes do setor progado para a sociedade”, observa Vanessa Mendonça.
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Brasília é o 4º destino mais procurado
Foto: Wikipédia
Sabe-se que o turismo é uma grande porta para o fortalecimento da economia e geração de empregos. Por isso, o GDF está focando no bem estar dos turistas na capital federal, justamente porque um levantamento realizado pelo Google Travel indicou que Brasília foi o quarto destino mais procurado pelos brasileiros em 2019 com vistas a 2020. A cidade só perde para Londres (1º), Rio de Janeiro (2º) e São Paulo (3º). Aliada a este fator, somente em 2019, o Aeroporto de Brasília registrou aumento significativo no número de passageiros de voos internacionais. O fluxo foi de mais de 617 mil passageiros, o que representou um crescimento de 18,8% na movimentação internacional. A quantidade de aeronaves que realizaram as rotas para o exterior também aumentou, foram 4.796 pousos e decolagens, resultando em um trânsito 35,2% a mais que o ano passado. Para Vanessa Mendonça, o reflexo deste incremento foi a entrada dos novos voos internacionais no final de 2018 para Miami, Orlando, Buenos Aires e em 2019 para Cancún, Lima e Santiago. “Em dezembro, Assunção, capital do Paraguai, também passou a fazer parte do portfólio do Aeroporto. Os destinos impulsionaram o acréscimo no fluxo”, destaca. E completa: “Os números e o posicionamento de Brasília demonstram o potencial que temos para o Turismo. Vamos seguir com o trabalho de estruturar e valorizar o Turismo na cidade, buscando parcerias que visam tornar as seis décadas da cidade ainda mais especial”.
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•TESTEMUNHO
Célia Moraes
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A mulher que viveu o inferno para salvar o filho da dependência química
ada pessoa que se envolve ou já se envolveu com o trabalho de Comunidade Terapêutica no Brasil e no mundo, geralmente, foi porque teve uma vivência muito dura com a dependência química - seja consigo ou com um ente querido - e todos os seus males. Este é o caso de Célia Moraes, diretora da Comunidade Desafio Jovem de Brasília, que viveu o inferno para salvar o seu filho Sidnei Gomes dos Santos, de 42 anos, do mundo das drogas. Segundo ela, tudo começou em meados de 1989, quando recebeu a notícia de que seu filho – que na época tinha somente 12 anos – havia sido apreendido por ter cometido o ato infracional de roubo a uma rotisseria junto com outros amigos, em São Paulo. Na ocasião, ele e seus amiguinhos foram flagrados roubando peças do setor de frios, como presunto, queijo e salame. Diante disso, ela começou a questionar os motivos da prisão, mas sem desconfiar que tudo tinha origem na droga. “Mas por que meu filho roubaria comida? Eu trabalhava e não deixava que faltasse nada para ele. Éramos só nós dois. Por que ele faria isso? Ah, eu pensei, mais uma molecagem como aquela em que ele quebrou os vidros da fábrica de móveis ao lado de casa. No entanto, a verdade não demorou e soube que roubaram para vender e conseguir dinheiro. Será que ele queria comprar um tênis de marca? Pensei! Eu não podia dar esse tênis que ele tanto queria", lembrou. Minha irmã se aproximou de mim e com muito cuidado me disse que ele estava usando drogas. Por isso foi pego roubando. Precisava do dinheiro para comprar drogas. Não acreditei logo de cara e sai na defesa dele. Aquele garoto alegre, que me fazia companhia, que passeava comigo, que eu levava para escola de mãos dadas, que me abraçava e me beijava dizendo que me amava... Não, ele não estava fazendo isso!”, relatou Célia ao ImagineAcredite.
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“O dinheiro sumia da minha bolsa. Os vizinhos começaram a não permitir que seus filhos brincassem com ele. Era o começo da fase mais horrível das nossas vidas”
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Contudo, apesar da defesa motivada pelo amor de mãe, Célia logo começou a notar a realidade quando passou a ver as coisas da sua residência desaparecerem. “O dinheiro sumia da minha bolsa. Os vizinhos começaram a não permitir que seus filhos brincassem com ele. Era o começo da fase mais horrível das nossas vidas”, relembra. O garoto Sidnei havia conhecido as drogas ainda em 1989, uma vez que foi naquele ano que havia surgido uma nova droga entre os adolescentes paulistas e que era O garoto Sidnei feita a partir da cocaína. Para prohavia conhecido as duzi-la, a meninada misturava o pó da cocaína com alguns prodrogas ainda em dutos químicos em uma colher, 1989, uma vez que incluindo bicarbonato de sódio. seguida, aqueciam a colher foi naquele ano que Em diretamente no fogo e fritavam a mistura para provar dos estalihavia surgido uma dos, que faziam um barulho canova droga entre racterístico do crack. Tanto é que os adolescentes. esse processo produzia algumas pedrinhas que eram misturadas ao tabaco ou à maconha. E foi justamente por essa droga que Célia recebeu uma advertência de uma de suas vizinhas e mais uma vez foi levada pelo amor e a boa-fé de uma mãe. “Certa vez, ao chegar do trabalho, a vizinha me chamou e me advertiu: ‘Seu filho vive pedindo bicarbonato emprestado aqui em casa’. Ora, o que ele podia estar fazendo com bicarbonato? Perguntei a ele e a resposta foi a mais ridícula possível: para colocar no pão. E eu acreditei! Em uma outra vez observei que havia um pó branco no nariz dele. Perguntei o que era e ele me disse que não era nada. Eu achei, sinceramente, que era o bicarbonato que ele havia colocado no pão e tinha grudado no nariz dele. Como eu era cega”, lamenta. Contudo, a situação se agravou ainda mais quando Sidnei começou a chegar tarde em casa. Esse ato fazia com que Célia, por várias vezes, saísse de casa vestindo apenas uma camisola e desesperada em busca do seu filho nos mais diversos ambientes insalubres e de alta periculosidade. Tanto é que ela chegou a ter a sua vida ameaçada por um adolescente armado, mas ela não desistia até encontrar Sidnei. “Um dia, um dos rapazes que ficava tomando conta do portão de uma casa, ao me ver indo em sua direção, se antecipou e, com uma arma na mão, me perguntou: ‘O que a senhora quer, dona?’ Eu respondi olhando nos olhos dele: ‘Quero só o meu filho. Eu sei que ele está aí dentro’. Esse rapaz colocou a arma encostada no meu rosto e me disse: ‘Então volta pra sua casa, Dona, e se a polícia baixar aqui, a senhora vai receber seu filho com a boca cheia de formiga’”, destaca.
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A busca por ajuda
Carinho e dedicação Célia Moraes ao lado do filho Sidnei Gomes
Diante de tanto sofrimento, em 1992, quando Sidnei havia completado 15 anos, Célia decidiu procurar ajuda. “Naquela época não haviam comunidades terapêuticas, haviam Casas de Recuperação e Centros de Tratamento, ou seja, eram embriões de CTs. O primeiro lugar para onde levei meu filho foi um Centro de Tratamento no interior de São Paulo, na cidade de Tatuí. Ele ficou um mês apenas. Era muito caro para mim”. Sem condições para manter o jovem na CT, Célia buscou ajuda em psicólogos, igrejas, grupos de autoajuda, mas a situação só piorava. Até que um dia, ela ficou sabendo que seu filho estava jurado de morte e, por isso, resolveu tomar uma decisão radical. “O nome dele tinha sido colocado nos postes de luz do bairro. Isso significava morte. Não hesitei. Coloquei algumas coisas dentro de um carro velho que tinha e viemos para Brasília", disse. Em Brasília, durante um período, tivemos paz. Mas logo voltou a usar drogas e pirou muito. Eu andava desde a Rodoviária até o fim da Ceilândia procurando por ele. Em qualquer mata, boca, casa, maloca eu entrava e pedia para que me deixassem trazê-lo para casa. Muitas vezes ele fez dívidas e ficou retido até que alguém pudesse ir resgatá-lo. Foi um verdadeiro inferno. Todos da família nos abandonaram. Até que não dei mais conta e ele foi morar na rua”, conta. “Posso garantir que o meu coração doía, dor de verdade, bem forte no peito. Meu olhar era só de tristeza, tinha perdido a alegria, nada mais importava. Até que finalmente ele aceitou ir para o Desafio Jovem de Brasília. Isso foi em 2009. Fez o tratamento, saiu, recaiu, voltou, saiu, recaiu... Mas agora ele está limpo há cinco anos. Muitas perdas depois, retomou a vida. Hoje trabalha e tem uma família. Ah... Sabe aqueles amiguinhos que foram pegos com ele roubando a rotisseria? Foram mortos dois meses depois de termos chegado em Brasília”, observa.
Uma nova vida para outras vidas Hoje, Sidnei tem 42 anos e dedica a sua vida à família e ao trabalho no Desafio Jovem de Brasília. Lá, ele e sua esposa exercem a função de monitores e auxiliam na recuperação de jovens e no tratamento das famílias, enquanto sua mãe se dedica ao resgate de vidas que assim como a sua um dia estiveram jogadas no inferno das drogas. Na direção do Desafio Jovem de Brasília, Célia empenha todo o seu esforço e amor para manter viva a comunidade que um dia lhe fez falta e que hoje é luz para muitos que buscam uma oportunidade para abandonar a dependência química.
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•INFÂNCIA E JUVENTUDE
Renato Chiera Uma vida dedicada aos excluídos e carentes de afeto
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o mundo existem os santos, os leigos, os bem-aventurados e os abnegados. Neste sentido, pode-se afirmar que o padre ítalo-brasileiro Renato Chiera figura entre o último e o penúltimo dos adjetivos acima listados. É que, mesmo perante os seus 77 anos de idade, ele continua fazendo frente à violência das grandes periferias tupiniquins e à exclusão social que assola os mais pobres para resgatar e promover a vida de jovens, sobretudo, dos mais pobres de renda e também de amor. Mas o que faz um senhor de idade colocar a sua vida e a sua saúde, que como de praxe requer cuidados, no seio de um reino onde impera a injustiça social, o tráfico de drogas, e a exterminação de vidas notoriamente vulneráveis? A explicação está em sua infância. Filho de um casal de agricultores, o menino Renato Chiera, nativo de Villanova Mondovi, na região do Piemonte, na Itália, bebeu a solidariedade e a dimensão espiritual e religiosa na família e cresceu com o desejo de ser igual a São João Bosco. “Desde pequeno eu via meu pai viver para os outros e eu queria ser padre para viver para os outros. Quando tinha oito anos, eu queria ser como Dom Bosco, porque, para mim, ser padre era ser como Dom Bosco, que era padre e que amava e se dedicava muito as crianças. Com o tempo esqueci isso, mas sempre amei os jovens. Tanto é que lá na Itália, me formei em filosofia para dar aula e estar com os jovens, sobretudo, aqueles que frequentavam escolas públicas, onde aula de filosofia era uma aula de ateísmo”, relembra o religioso ao Imagineacredite. Apesar do seu ingresso no sacerdócio e da formação pensada nos alunos da rede pública de ensino italiana, sua biografia deixa transparecer que Deus tinha planos ainda maiores para aquele garoto que se tornara padre e antes de tudo um homem inspirado no legado de São João Bosco, que em sua passagem terrena foi um sacerdote incompreendido, justamente, por ir ao encontro da necessidade e da realidade daqueles jovens que não tinham onde viver e que, portanto, necessitavam de uma nova evangelização e de acolhimento.
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Desde pequeno eu via meu pai viver para os outros e eu queria ser padre para viver para os outros. Quando tinha oito anos, eu queria ser como Dom Bosco, porque - para mim - ser padre era ser como Dom Bosco que era padre e que amava e se dedicava muito as crianças" Por isso, após a sua formação, Chiera é designado para uma missão no Brasil: conduzir os trabalhos na Diocese de Miguel Couto, na Baixada Fluminense é justamente aí que sua história começa a ser comparável com a do santo que sempre o motivou, uma vez que foi aqui que ele foi aos lugares rechaçados pela sociedade brasileira para levar nada mais nada menos do que amor, compaixão e esperança às vidas destruídas pelas drogas, pela criminalidade e por tudo aquilo que significa o termo exclusão social. Tudo isso o rendeu o título de Padre das Ruas e de Padre das Cracolândias, coisa que ele sente muito orgulho. “Estou contente em ser chamado assim, porque Jesus foi Deus na rua, evangelizador na rua, foi um homem Deus de rua que estava pouco no templo, porque é na rua que estão os sofrimentos e as feridas, então tem que ser samaritano. Padre das Cracolândias, porque a Cracolândia é o inferno que é o resultado de uma sociedade que não ama mais, que exclui, que joga fora muitas pessoas
vistas como descartáveis, e que está profundamente doente. Então a Cracolândia é o rosto de Jesus na cruz que grita o abandono, e Cracolândia sendo o inferno, nós devemos entrar nele como fez Jesus para levar ressuscitado a esperança, simplesmente, amando”, acrescenta.
O fabricante de seres humanos mais humanos
Apesar de importante, a missão do padre Renato no Brasil era ainda maior do que apenas ir às cracolândias. Entretanto, ele somente percebeu isso ao ser indagado aos gritos, durante uma noite fria, na porta da Casa Paroquial de Miguel Couto, por um jovem que estava marcado para morrer. O resultado deste apelo foi a fundação de uma das mais importantes obras sociais do país para a infância e a juventude: a Casa do Menor São Miguel Arcanjo, fundada há 33 anos. “A Casa do Menor entrou em minha vida através do grito dos meninos que não queriam morrer.
“Nos matam todos se você não fizer nada!”, esse grito entrou no meu coração, e entendi que era o grito de Jesus: ‘Aquilo que tu faz ao menor faz a mim’. Aí aquela noite em que um garoto me pediu ajuda, porque já tinham matado 36 jovens em Miguel Couto e ele era o próximo a ser assassinato, foi como se Jesus tivesse me falado: “Renato, você prega que Deus ama, mas tem medo de se comprometer com eles”. Foi aí que dei meu sim e como homem, padre e cristão, entrou a Casa do Menor em minha vida”, recorda o sacerdote. Com a fundação da Casa do Menor no Brasil, o padre passou a enfrentar a marginalidade para dar perspectivas de futuro aos jovens que seriam utilizados e logo descartados pelo crime organizado que há muito domina as periferias do Rio de Janeiro. Um grande desafio, como ele mesmo classifica. “Os desafios são enormes, recebemos ameaças e se você se coloca com os últimos, você é excluído também nos julgamentos.
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Eu já tive ameaça de morte várias vezes, já tive que fugir de casa várias vezes, mas isso vale a pena porque eu sigo um Deus que morreu e eu ainda não morri. Quem sabe um dia? Acho que não mereço isso”, comenta. Para além dos perigos inerentes à sua própria vida, Renato afirma que tocar a Casa do Menor São Miguel Arcanjo no Brasil também demanda de recursos. Estima-se que, mensalmente, a instituição – que não possui fins lucrativos - gaste em torno de R$ 700 mil para manter cerca de 3.000 crianças e adolescentes usufruindo de creches, cursos profissionalizantes e educação cidadã, nos estados do Rio de Janeiro, Alagoas, Ceará e Paraíba. “Quando chega ao final do mês, a gente tem o coração na mão: “Vamos ou não vamos conseguir?“. Mas a providência nunca nos abandonou. Algumas vezes a gente duvida dela, mas Deus, que suscitou esta obra não vai abandoná-la”, destaca. No entanto, o maior desafio da obra está no presente e também no futuro e está relacionado à questão de pessoal. “Como ter pessoas vocacionadas que tenham a alma e o amor de Deus, que faça o que ele quer, que ame e que seja missionário e não apenas funcionários? Nós temos o grupo Família Vida e somos poucos demais para tantos jovens e tantas vidas”, observa com bastante preocupação, uma vez que, para ele, a Casa do Menor atua como uma fábrica de seres humanos, restaurando e promovendo vidas. “É como continuar a história da salvação”, completa Chiera. Diante de todos os desafios cotidianamente enfrentados, o padre fundador da Casa do Menor comemora o fato de que, em mais de três décadas de existência, a obra tenha conseguido salvar mais de 100 jovens e ter garantido o emprego no mercado de trabalho a pelo menos 70 mil deles. “Portanto, enquanto alguém quer matar, nós querermos ajudar e estamos mostrando que o nosso caminho está certo e que é por aí que se resolve a violência”, salienta.
O pai dos filhos de ninguém
Perante os seus 77 anos de idade, ele continua fazendo frente à violência das grandes periferias tupiniquins e a exclusão social que assola os mais pobres para resgatar e promover a vida de jovens, sobretudo, dos mais pobres de renda e também de amor"
Tanto dentro quanto fora da Casa do Menor, o Padre das Ruas se comporta como uma espécie de pai dos filhos daqueles que ninguém quer. Por isso, está sempre buscando ser uma família para quem não tem, mesmo que carregue consigo a revolta de um pai ao saber que seu filho foi assassinado depois de ter o seu pedido de ajuda ignorado por aqueles que deveriam estender a mão. Um exemplo disso está na sua análise dos dados do último Atlas da Violência, o qual mostrou que uma das maiores causas de homicídios no país são as drogas e seus comandantes, e que as suas principais vítimas são adolescentes com idades entre 14 e 24 anos. Para ele, este é o resultado de uma família fragmentada que não sabe mais amar os seus filhos, que querem apenas ser amados do jeito que são. “O menino de rua, na droga, na violência e no tráfico, antes de tudo, ele é filho do abandono da família”, lamenta. Aliada a esta situação, o padre acrescenta que a existência do abismo entre ricos e pobres que, em sua ótica, permite abala as relações interpessoais e os vínculos familiares que faz o jovem, sem perspectiva, ingressar na criminalidade ou na prostituição como meio de vida. “Outro dia um menino me falou que iria entrar para a milícia, porque lá ganharia muito dinheiro mesmo tendo que matar. Agora aquilo que me impressiona
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é a indiferença. Nós aceitamos como normal aquilo que é anormal. Aceitamos como normal que cada dia mate mais de 175 vidas - só no Rio de Janeiro são 17 por dia - até que se cria um clima de eliminação e de ódio em que as pessoas se sentem autorizadas a matar e depois perguntar quem é a pessoa. Então esta é uma situação que a mim dói muito”, deplora. Entretanto, como todo bom pai, inquieto e sempre muito firme em suas posições, o Padre Renato elenca uma série de medidas para combater o que ele chama de “aborto comunitário”. “Então analiso que a violência é o grito de quem não está bem e não se sente amado por ninguém, nem por Deus! Portanto, se não sabe se amar e nem amar, vai querer destruir. Esse é o grito de quem não é filho e de quem não tem perspectivas futuras. Agora é ai que nós – socie-
Por isso, após a sua formação, Chiera é designado para uma missão no Brasil: conduzir os trabalhos na Diocese de Miguel Couto, na Baixada Fluminense e é justamente ai que sua história começa a ser comparável com a do santo que sempre o motivou" dade e governo – devemos nos debruçar sem ideologia. A ideologia divide! Vamos ver o ser humano na sua realidade concreta, pois ele não é de direita, de esquerda, de centro, católico, evangélico ou espírita. O ser humano é ser humano e os jovens estão gritando que não estão bem, que nós estamos eliminando-os já quando nasceram. Pois já não têm útero. Então que os continuem ajudando com a escola, com a família e com a sociedade”, orienta.
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E conclui: “Tudo isso tem solução! A violência não se resolve com a violência. Agora nós somos tão desesperados e tão perdidos que nós, adultos, aceitamos como normal que se matem os nossos filhos; aceitamos que eles sejam uma ameaça, um perigo e não mais um presente. O que está acontecendo com o Brasil? Brasil, mostra a tua cara! O nosso trabalho é uma resposta à violência, mas não uma resposta com a violência, não autorizando a ter arma, não matando, não botando na cadeia que custa caríssimo e fabrica mais bandidos, mas dando família, dando Deus, dando amor, dando escola, dando profissão, dando futuro. Por que não nos debruçamos sobre isto juntos? Por que só pensamos projetos de lei para matar, para jogar na cadeia e não para salvar? Vamos pensar nisso!”.
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•MUNDO
Igreja Católica investe na escuta das vítimas para conter casos de abusos sexuais No Brasil, a Fazenda da Esperança exerce uma função central neste processo
Nelson Giovanelli, fundador da Fazenda da Esperança
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or muitos anos, a Igreja Católica Apostólica Romana, que possui mais de 1,2 bilhão de fiéis, teve a sua credibilidade manchada com acusações dando conta de que uma parcela dos seus sacerdotes e clérigos estavam cometendo abusos sexuais, de poder e de consciência junto às crianças e adolescentes que conviviam no seio religioso das igrejas romanas espalhadas pelo mundo. No entanto, apesar das acusações, era corriqueiro que a Igreja buscasse abafar os casos, transferindo as vítimas de suas paróquias e mantendo os agressores em seus respectivos cargos sem qualquer laço punitivo. A partir daí, esta que é uma instituição secular foi alvo de constantes críticas por parte da imprensa e viu sua credibilidade para anunciar o evangelho se esvair. A situação ficou crítica, o que fez ser mais do que necessária a adoção de uma medida urgente e que fosse capaz de sanar as feridas, conquistar o perdão das vítimas, resgatar a credibilidade da Igreja de São Pedro e evitar que novos casos de abusos ocorressem. Foi aí que o Papa Francisco instituiu a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores (PCTM).
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Integrantes da Comissão Pontifícia de Proteção do Menor
Composta por 16 membros de todos os continentes do mundo, a PCTM tem o objetivo de ouvir, acolher e tratar as vítimas de abusos por parte de representantes da Igreja Católica de Roma. Por ordem papal, ela passou a trabalhar com tolerância zero a quem comete e também a quem acoberta os casos de abusos por parte do clero romano. Além disso, nesta comissão está o brasileiro Nelson Giovanelli, fundador da Fazenda da Esperança, que - em entrevista à reportagem de Imagineacredite - fez um balanço de todas as ações desencadeadas pelo grupo formado pelo Papa Francisco, nos últimos meses. Segundo ele, uma das maiores conquistas da comissão foi a instituição do Conselho Consultivo de Vítimas. “Esse é um projeto que existe desde que a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores foi instituída. Ele existe em países de língua
anglo-saxônica e é um instrumento que ajuda as conferências episcopais e dioceses a como enfrentar a crise do abuso sexual dentro da Igreja, no sentido do cuidado e da escuta das vítimas, para que a voz delas possa ser ouvida de maneira diferente do que estava acontecendo. Porque elas não eram ouvidas e aí pode ser também uma forma de como a Igreja pode conduzir a prevenção e a formação para que não ocorra mais este tipo de delito”, argumenta Giovanelli. No Brasil, Nelson afirmou que o Conselho Consultivo de Vítimas foi instituído com oito pessoas, sendo quatro delas vítimas de abuso. “No momento da formação desse conselho, foi realizado um seminário que acolheu quase 300 pessoas, entre as quais 40 bispos, na Fazenda da Esperança. E foi uma repercussão muito positiva, porque, além de escutar as vítimas, nós tivemos a presença de um dos membros da Comissão Pon-
Esse é um projeto que existe desde que a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores foi instituída. Ele existe em países de língua anglo-saxônica e é um instrumento que ajuda as conferências episcopais e dioceses a como enfrentar a crise do abuso sexual dentro da Igreja"
tifícia que é um dos maiores formadores no campo de enfrentamento dessa crise que é o padre Ram Suller, um sacerdote jesuíta que viaja o mundo dando temas de formação".
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A escuta realmente ajudará a Igreja?
Muito embora o processo de escuta das vítimas tenha contribuído para que a Igreja pudesse cicatrizar essa grave chaga aberta em sua vida, tendo como líder o Papa Francisco que rotineiramente se encontra com vítimas de abuso sexuais, a Igreja Católica realmente acredita que essa linha de atuação evitará que novos casos aconteçam? Para Nelson Giovanelli, a resposta é sim. “Quando se fala do assunto e não se esconde ou não se procura colocar embaixo do tapete, sem dúvida se pode prevenir, porque um pecado e um delito dessa monta tende a cair no pacto do silêncio e é isso que prejudica. Então o beneficio desse movimento que o Papa está fazendo é no sentido de enfrentar, de não ter medo de falar, de conscientizar e de entender o que fazer e não fazer para que isso seja evitado”, explica. E completa: “O fato de não falar permite que quem está caindo nesse delito continue o fazendo e agora falando sobre isso, enfrentando com objetividade, se pode cuidar das vitimas, trabalhar o problema do agressor e se prevenir”.
"Então esse seminário provocou uma série de desdobramentos no Brasil, especialmente, por parte de religiosos que foram motivados a fazerem outros seminários, a organizarem e já se prepararem para aquilo que o Papa pediu no último Motu Próprio que ele escreveu: ‘Vós sois a luz do mundo’, onde ele pediu que todas as dioceses preparassem um lugar estável, estruturável e visível, onde as denúncias Nelson Giovanelli e o Papa Francisco de abusos pudessem chegar e os seus bispos pudessem saber como proceder quando acontecer uma denúncia”, destaca Nelson, que também é um leigo consagrado. Embora o Conselho Consultivo das Vítimas tenha o objetivo de nortear a tomada de medidas que combatam e previnam tais crimes dentro da Igreja, os processos canônicos, jurídicos e legais ainda permanecem sendo uma atribuição das dioceses, uma vez que a Pontifícia Comissão e o Conselho de Sobreviventes não trabalham sobre casos específicos já ocorridos. “Agora esse Conselho Consultivo está desenvolvendo uma conscientização através desses seminários que estão sendo feitos. Tanto é que serão realizados outros dois seminários ainda esse ano. Além disso, ele está colaborando com a CNBB e junto com a Comissão Especial para Tutela de Menor da CNBB para que sejam executados os procedimentos que o Papa está pedindo nessas últimas cartas que ele mandou”, acrescenta.
Mas por que somente agora a Igreja resolveu focar nesse assunto?
Esta é outra pergunta muito comum no meio social e a resposta, de acordo com Nelson, pode parecer um pouco controversa, mas visto do ângulo de quem estava na defensiva pode ser completamente compreensível. “O motivo maior do não enfrentamento era preservar a imagem da igreja, mas isso causou um efeito contrário, porque transferindo os sacerdotes e não enfrentando a questão de cara, o problema aumentou porque a credibilidade que a igreja precisa para anunciar o evangelho foi comprometida", comenta. Então nos lugares onde se protelou esse processo de se falar, a imprensa entrou por força nesta situação de tal maneira que houve um esforço do Papa Bento XVI e agora do Papa Francisco, com a criação da Comissão Pontifícia e o último encontro em que ele chamou todos os presidentes das conferências episcopais. Então a tomada de algumas decisões concretas e de penas que foram dadas para clérigos fizeram com que, apesar da dor, a credibilidade da igreja, que está ligada à imagem de Jesus Cristo, continue”, justifica. Por isso, Nelson Giovanelli considera que este momento de enfretamento da crise seja também um momento de purificação de uma instituição que é Santa, mas que também é humana e que precisa ser exemplo para o mundo. “A igreja é humana e este é um problema de ordem humana em que todos os segmentos precisam enfrentar. Nesse sentido, vejo com esperança, claro que com a dor necessária, para sempre mais se eliminar este problema e a igreja continuar sendo um lugar mais seguro para que as crianças e adolescentes possam estar para receber a palavra”, completa.
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Fazenda da Esperança figura como plataforma de escuta no Brasil
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Segundo o apurado pela reportagem de Imagineacredite, Nelson Giovanelli foi escolhido para integrar a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores justamente por ter uma experiência de mais de 30 anos de escuta, resgate e promoção de vidas destruídas pela drogadição na Fazenda da Esperança. Por isso, ele nos informou que o convite do Papa Francisco o fez tomar ciência do tamanho e da importância da obra social para a Igreja. “O fato de acolhermos há 40 anos as vítimas da dependência química fez a gente perceber que há 40 anos nós estamos escutando vítimas de abuNelson Giovanelli integra a Pontifícia Comissão para Tutela de Menores so sexual que por conta desta ferida entraram na drogadição, e o fato de eu ter sido nomeado pelo Papa Francisco fez a gente entender que a Fazenda é uma tido de começar um processo de abertura, de perdão e alternativa de cuidado das vítimas no sentido de oferede reconciliação. Então esse impacto foi muito forte na cer um caminho de cura das feridas e de reconciliação consciência que a Fazenda tomou, uma vez que o Papa consigo mesmo e com os outros”, analisa. recebeu a proposta de ter a Fazenda como uma alternatiDiante disso, ele destacou que a Fazenda da Espeva de cuidado e de escuta das vítimas”, observa. rança, no Brasil, conseguiu promover eventos de granAlém disso, embora esteja acostumado a ouvir, de impacto nos trabalhos de combate e prevenção ao Nelson Giovanelli destacou que, durante todos esses 30 abuso sexual dentro da Igreja. “Na última plenária que anos de escuta, o que mais o marcou foi a história de aconteceu, a gente levou os depoimentos das vítimas vida de uma mulher identificada por Anelia. “Ela simque fazem parte do Conselho Consultivo e isso causou bolizou uma experiência de esperança muito grande. um impacto muito grande, porque não só se escutou Porque tendo ela sofrido abuso dentro do seio familiar, mais uma vítima, mas se percebeu qual é o processo ela tendo chegado à Fazenda da Esperança sem qualquer que na Fazenda da Esperança, através do Método do perspectiva de vida, ela conseguiu recobrar a esperança, Homem Novo, que está no evangelho, que ajuda as víperdoar o seu agressor e iniciar um processo que hoje dá timas a conseguirem cicatrizar as suas feridas no senluz para muitas jovens”, encerra.
O fato de acolhermos há 40 anos as vitimas da dependência química fez a gente perceber que há 40 anos nós estamos escutando vítimas de abuso sexual"
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•RELIGIÃO
Dom Mario Com o apoio do Papa, Bispo Emérito dedica-se ao resgate de vidas afetadas pelas drogas
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restes a completar a idade necessária para deixar o governo pastoral da Diocese de Propriá, Dom Mario Rino Sivieri andava para lá e para cá com a seguinte dúvida: permanecer no Brasil ou retornar à Itália? E assim foram meses de reflexão até que o clérigo resolveu permanecer no Brasil, mais precisamente na cidade de Lagarto, localizado no interior do Sergipe, o menor estado da federação brasileira. Mas por que Sergipe? Por que Lagarto? Por que não retornar à Itália e reencontrar os seus familiares? A resposta é simples e repleta de sentimentos que Mario Rino Sivieri foi capaz de captar nesses quase 50 anos de estada em terras sergipanas. “Eu poderia voltar à Itália, mas três motivos são responsáveis para ficar no Brasil. Primeiro: eu posso ser útil aqui, explorando as possibilidades; o segundo motivo está ligado ao clima. Não há frio nessa região.
Com 75 anos, Dom Mario vive dentro de uma comunidade terapêutica no interior do país E terceiro, a assistência humana, pois aqui estão meus amigos, o que faz a vida ter mais sentido”, sintetiza o Bispo Emérito da Diocese de Propriá. Após resolver ficar em terras tupiniquins, em junho de 2016, portanto há um ano do anúncio oficial, Dom Mario foi ao Vaticano para uma audiência com o Papa Francisco, a qual celebrava os 50 anos da ordenação dos padres do Papa Paulo VI – responsável por enviar sacerdotes a diversas nações do mundo ocidental, na década de 60. Entretanto, o então bispo de Propriá ainda não
sabia o que dizer ao Sumo Pontífice, foi quando ele lembrou-se da sua escolha pela recuperação dos dependentes químicos acolhidos pelas Fazendas da Esperança. “Então, quando chegou a minha vez, eu olhei para ele e disse que já estava se aproximando a minha aposentadoria episcopal e que eu tinha resolvido ir morar na Fazenda da Esperança junto aos acolhidos. Ele então demonstrou muita alegria e, acompanhado de um gesto impulsionador, ele me disse: ‘Vá em frente!”, relata o clérigo. Com a chancela do papa argentino, em julho de 2017, sete meses depois, em um jantar beneficente organizado por membros da Fazenda da Esperança e amigos lagartenses, que convivera por 29 anos, Dom Mario anuncia o seu retorno em definitivo. A medida foi comemorada por todos que ali estavam, mas principalmente pelos jovens acolhidos da Fazenda São Miguel, que passariam a conviver diariamente não somente com um bispo, mas sim com um pai
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Dom Mario com os acolhidos e voluntários na Fazenda da Esperança São Miguel - Lagarto/SE
presente, que aconselha, que cuida e, sobretudo, que ouve. Qualidades importantes para a recuperação de vidas abaladas pelas drogas da vida humana, como lembrou o então coordenador da Fazenda da Esperança São Miguel, Maurício Bovo. “Um jovem que busca a recuperação precisa de alguém que o escute com o coração e o Bispo tem essa característica. Então ele, estando à disposição desses jovens, representará um sinal muito grande de amor para cada um”, destacou o também ex-acolhido Maurício Bovo. Dentro da Fazenda da Esperança, Dom Mario é visto como um pai e ele mesmo reconhece e sente tal atribuição no semblante dos jovens. “A gente dá a vida por eles, então sentimos a paternidade com todo o bem que se faz”, diz o clérigo. Mas para além da sua participa-
“A gente dar a vida por eles, então sentimos a paternidade com todo o bem que se faz” ção na fundação de três fazendas em Sergipe, o religioso possui uma história de vida que o aproxima, emocionalmente, dos jovens acolhidos pela comunidade terapêutica regeneradora, uma vez que estes, em sua maioria, não tiveram um pai presente em suas vidas, assim como Mario, que pouco pôde conviver com seu
genitor, devido à II Guerra Mundial e à sua vinda para o Brasil em 1968. Mas nem isso o desmotivou. Ao desembarcar em Sergipe, Mario fez-se o Servo de Todos e trabalhou não somente para a agitação e crescimento da fé cristã católica, como também intercedeu nas causas sociais. Este é somente um exemplo sobre o qual se pode constatar que o religioso sempre se recusou a abaixar a cabeça perante as injustiças e mais uma e pela última vez optou por dedicar os seus últimos dias de vida aos que mais precisam dele. Agora, embora o peso da idade caia sobre seu corpo, Dom Mario segue contribuindo com os trabalhos e com os jovens acolhidos na Fazenda da Esperança São Miguel. Com uma rotina de poucos compromissos, o bispo escuta, aconselha e acompanha as atividades desenvolvidas naquela
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Escolha tem precedentes
comunidade terapêutica. Inclusive, intervém por ela junto às autoridades locais. Em março de 2018, por exemplo, Dom Mario solicitou ao prefeito Valmir Monteiro a construção de um novo aterro sanitário, pois o que havia estava exalando fumaça para dentro da comunidade, bem como para um residencial entregue pelo Governo Federal. Pois bem, passaram se quatro meses até que a Prefeitura Municipal de Lagarto, por meio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, desse início à capacitação dos catadores de lixo e à prática da coleta seletiva de lixo. Com isso, o Município espera gerar renda para as famílias dos catadores e pôr fim à fumaça do lixão, uma vez que lá passará a receber somente lixo orgânico, portanto, não inflamável. Além disso, o Bispo Emérito de Propriá também tem buscado parcerias junto ao Governo do Estado, para ampliar e garantir a continuidade do convênio entre o governo e a entidade. Sem contar que, em suas viagens a Europa, o clérigo além de visitar a família e participar de even-
tos religiosos, por exemplo, aqueles ligados ao Movimento dos Focolares, Dom Mario também aproveita para solicitar apoios para a Fazenda da Esperança junto aos amigos do velho continente. Presente nas três fazendas instaladas no estado, sobretudo nas duas instaladas em Lagarto, onde ele reside atualmente, além do trabalho sócioespiritual junto aos acolhidos, o religioso também celebra missas diárias, e já conseguiu – por meio de parcerias – restaurar a infraestrutura agropecuária, bem como aquelas utilizadas para acolher os jovens e receber visitas. Tudo isso, sem citar o seu empenho em conseguir recursos para a obra, por meio do estímulo à divina providência, considerada um dos fatores chaves para a instalação da comunidade em Lagarto. Por tudo
A escolha de Dom Mario não é a única na história das Fazendas da Esperança. Entretanto, como destacou o frei Hans Stapel Ofm, fundador da Obra Nossa Senhora da Glória, a presença do Bispo Emérito de Propriá entre os acolhidos fortalece o Carisma da Esperança. “Para nós, quando os bispos decidem viver conosco, significa dizer que é a igreja entre nós. Isso torna o carisma sempre mais pleno, o que é uma alegria muito grande saber que a partir de agora a fazenda está mais completa”, comemorou o frei Hans. isso e por ser um homem que dedicou sua vida aos outros, a verdade é que Dom Mario é alvo de muito respeito e admiração pela ampla maioria dos que fazem a sociedade e a politica sergipana. Por isso que é em meio aos acolhidos da Fazenda da Esperança que ele recebe sucessivas visitas de famílias dos acolhidos, amigos de todo o mundo, autoridades, empresários e demais católicos, justamente em uma residência construída para ele, dentro da citada comunidade com recursos oriundos de doações de membros da sociedade sergipana.
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•TRANSPORTES
Governo Federal quer instituir o
Drogômetro
em 2020
Fotos: Reprodução Web
A ideia visa prevenir a ocorrência de fatalidades ocasionada pelas drogas no trânsito "A medida surgiu a partir de estratégias do gênero adotadas em países como a Austrália, o Canadá e o Reino Unido" Gustavo Camilo Batista, Diretor de Políticas Públicas e Articulação Institucional da Senad/MJSP
D
epois de instituir o já conhecido bafômetro, o Governo Federal, por meio da Secretaria Nacional Antidrogas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/ MJSP), está se articulando para instituir em 2020 o drogômetro. O equipamento terá a capacidade de detectar a presença de drogas como a maconha, a cocaína e anfetamina nos condutores de veículos automotores. De acordo com Gustavo Camilo Batista, diretor de Políticas Públicas e Articulação Institucional da Senad/MJSP, a medida surgiu a partir de estratégias do gênero adotadas em países como a Austrália, o Canadá e o Reino Unido. Sendo assim, no Brasil, para a detecção de drogas nos motoristas, a avaliação do Drogômetro será realizada em etapas distintas, mas vistas como necessárias para uma melhor confirmação do uso de drogas por parte dos condutores.
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A avaliação do drogômetro será realizada em etapas Fotos: Reprodução Web
distintas
Modelo de bafômetro utilizado
“Na primeira etapa, o funcionamento varia de equipamento, mas, no caso da saliva, normalmente é feita a coleta por meio de um dispositivo de coleta similar a um cotonete que é posto na boca e ao qual uma fração de 1 ml de saliva é absorvida. Esta amostra coletada é colocada no aparelho de triagem, no qual verifica-se, após alguns minutos, de forma preliminar, a presença de uma série de drogas no organismo da pessoa, variando de equipamento para equipamento. Depois deste exame preliminar é necessária a realização de um segundo exame, confirmatório, que deve ser feito em laboratório especializado. Este segundo exame às vezes é feito com a saliva, e às vezes com o sangue”, explicou o diretor em entrevista ao Imagineacredite. Com isso, segundo Gustavo Camilo, o cidadão que for flagrado con-
duzindo um veículo sob o efeito de álcool e outras drogas ilícitas sofrerá as penas já previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), instituído pela Lei 9.503, de 23 de setembro de 1997. “Quem “dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência" comete uma infração gravíssima, tem multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses. Seu veículo é retido até a apresentação de condutor habilitado e seu documento é recolhido. Além disso, é considerado, pelo artigo 306 do CTB, crime de trânsito o motorista que "Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência””, observou o diretor. Questionado sobre quando deve
ocorrer a implementação do drogômetro em todo o território nacional, Gustavo Camilo explicou que tal medida ainda depende da força da lei, bem como da regulamentação do Conselho Nacional de Trânsito (Conatran), do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) e do Instituto Nacional de Metrologia (Inmetro). “Para subsidiar estas regulamentações, o Ministério da Justiça e Segurança Pública lançará um edital para que os fabricantes apresentem os seus equipamentos para realização de uma pesquisa nacional. Esta pesquisa implicará na coleta em território nacional de cerca de 10 mil amostras de fluidos corporais para estabelecimento de parâmetros mínimos de acurácia para o emprego destes equipamentos, tanto na fase de triagem quanto na de exames confirmatórios e de contraprova. Após a realização desta pesquisa, que se desenvolverá no ano de 2020, e a sua consequente regulamentação, estão previstas outras ações, tais como a adoção de um programa de capacitação para agentes, policiais e peritos para uso correto dos equipamentos, a aquisição e distribuição destes equipamentos por parte do Governo Federal e a realização de uma campanha de conscientização para os motoristas”, completou o diretor de Políticas Públicas e Articulação Institucional da Senad/MJSP. Cabe destacar que o Governo Bolsonaro instituiu uma nova Política Nacional Sobre Drogas. O texto reforça a posição radicalmente contrária do governo em relação às drogas e promove a execução de políticas públicas ligadas ao combate, repressão e prevenção ao uso de substâncias psicoativas, bem como garante a abertura de espaços para acolher, tratar e reinserir na sociedade aqueles que sofrem com a dependência química.
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ARTIGO
O ATIVISMO JUDICIAL DA DESCRIMINALIZAÇÃO “LEGALIZAÇÃO” DAS DROGAS
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Supremo Tribunal Federal está caminhando na trilha do ativismo judicial! É preciso separar a atuação do Poder Judiciário na criação de políticas públicas e como indutor da aplicação de políticas públicas previamente definidas! Notadamente na temática da descriminalização do consumo de drogas, aponta-se, de forma objetiva, que o Supremo Tribunal Federal, enquanto Poder Judiciário, está criando uma política pública, o que contraria a sua atuação naquilo que é previsto nas competências e na separação dos Poderes. A Lei n. 11.343/06, recentemente, foi alterada e a mens legis não foi alterada, ao revés, o Legislador em nada alterou o espírito do artigo 28 da norma de regência, assim o fez por expor que o consumo de drogas não afeta apenas o cidadão “usuário”, esse consumo afeta todo o sistema de saúde pública, ou seja, tutela-se a coletividade no tocante à saúde pública. Referindo-se à maconha, 90% (noventa por cento) dos cidadãos expostos a ela se tornaram viciados, ainda mais, em comparações levianas com o tabaco, acrescenta-se que a nicotina não entorpece, bem como não é capaz de mudar a percepção sensitiva. Noutro sentido, as drogas ilícitas, ao revés da nicotina, através de um simples uso, demonstram sua capacidade de viciar. Numa análise da teoria constitucional brasileira e mundial, em nenhum momento, percebeu-se ou encontrou-se norma que garantisse o êxtase (deslumbramento pelo uso da
droga) do cidadão como garantia ou direito constitucional do dito usuário. O princípio da igualdade proíbe tratar de maneira diferenciada os essencialmente iguais e determina que os essencialmente desiguais sejam tratados de maneira diferenciada, conforme as suas particularidades. Nesse caso, cabe fundamentalmente ao legislador a seleção dos fatos nos quais ele liga a mesma consequência jurídica, que ele, portanto, quer considerar como iguais no sentido jurídico. A decisão sobre descriminalizar o uso de drogas ilícitas passa por um fundamento de direito individual, evidentemente que a descriminalização impacta num caráter absoluto, assim, notadamente não se pode sobrepor ao direito da coletividade. O Direito Penal, dentre outros aspectos, se apresenta como um método de controle de conduta dos comportamentos sociais, assim, a descriminalização, ao revés, mostrará para a coletividade que a regra é a postura individualista, isolando-se o bem jurídico tutelado pelo artigo 28 da Lei n. 11.343/06, isto é, a proteção da saúde coletiva, algo que transcende a esfera individual e personalíssima do cidadão “usuário”. Noutro contraponto, a descriminalização não soluciona o problema do consumo de drogas, muito menos suprime os problemas ocasionados pelo narcotráfico. Em momentos de dificuldades no desenvolvimento educacional, moral, cívico e religioso das nossas crianças e adolescentes, bem como dos conflitos nas habilidades parentais nos seios de nossas famílias, defender a descriminalização é criar um
paradoxo que permite o consumo, mas proíbe a venda! Não sejamos bobos, o paradoxo abordado acima é o primeiro passo para que a venda de maconha se torne “LEGAL”, camuflando-se interesses de investidores estrangeiros que serão, noutro momento futuro, implementados em nossa PÁTRIA AMADA! Olhem para o COLORADO (Estados Unidos), após 05 (cinco) anos de legalização da maconha, percebeu-se, através de pesquisas, que as salas de emergência estão mais cheias por razões relacionadas à maconha. Nada é completamente seguro, os riscos da dependência da maconha são reais, e o Supremo Tribunal Federal não pode negligenciá-los, uma vez que as drogas psicoativas fazem mal, prejudicam o aprendizado, isolam o usuário, tumultuam a vida familiar e causam dependência química escravizadora. Criou-se um pensamento perigoso, pensamento esse criado por grandes empresários internacionais da maconha, que procura associar que as leis proibicionistas são as causas de grandes disparidades raciais nos números de prisão e encarceramento. O argumento: legalizar a maconha para reduzir as detenções majoritárias de pobres e negros encarcerados. Desafiamos-vos a mostrarem os números dos países que descriminalizaram e diminuíram a população carcerária, esse fator não vai diminuir a possibilidade dos mais excluídos de serem presos pela maconha. Mais a mais, a nossa norma não prende quem porta um baseado de maconha, a nossa justiça criminal,
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nesse ponto, já é despenalizadora, denotando uma justiça social real neste ponto. Não se enganem, não querem apenas descriminalizar o uso de um famigerado cigarrinho “inofensivo” de maconha, estão em jogo bilhões e bilhões da indústria da maconha que investe em produtos comestíveis recheados de maconha, de vaporizadores (cigarro eletrônico) de alta potencia que poderão ser alimentados pelo óleo de haxixe e afins. O uso de maconha aumenta o risco de esquizofrenia e outras psicoses; quanto maior o uso, maior o risco, não é uma opinião vazia ou retórica de fundamento, é um argumento cientifico e publicado pelo Institute of Medicine no artigo assim intitulado “Cannabis use and transition to psychosis in people at ultra-high risk. Psychological Medicine.” Do artigo acima, percebe-se que a maconha pode causar paranoia e psicose, e essas condições estão intimamente ligadas à violência. As pessoas precisam entender que há consequências - físicas, emocionais, mentais - associadas ao uso de maconha e que provavelmente não é uma boa ideia. Os argumentos a favor da legalização do uso de todas as drogas narcóticas e estimulantes são duplos: filosóficos e pragmáticos. Nenhum dos argumentos é insignificante, mas acreditamos que ambos estejam errados, e ambos não entendem o ponto. O argumento filosófico é que, em uma sociedade livre, os adultos devem ser autorizados a fazer o que bem entenderem, sempre que estejam preparados para assumir as consequências de suas próprias escolhas e que não causem danos diretos aos outros. O locus classicus para esse ponto de vista é o famoso ensaio de John Stuart Mill On Liberty: "O único propósito para o qual o poder pode ser exercido com razão sobre qualquer membro da comunidade, contra sua vontade, é evitar danos a outros", escreveu Mill. “O seu próprio bem, físico ou moral, não é uma garantia suficiente.”
Esse individualismo radical não permite à sociedade qualquer parte na formação, determinação ou aplicação de um código moral: em resumo, não temos nada em comum, a não ser nosso acordo contratual de não interferir um com o outro enquanto procuramos nossos prazeres particulares. Na prática, é claro, é extremamente difícil levar as pessoas a tomar todas as consequências de suas próprias ações - como devem, se o grande princípio de Mill é servir como um guia filosófico da política. A dependência química ou o uso regular das drogas atualmente proibidas não pode afetar apenas a pessoa que as toma - e não seu cônjuge, filhos, vizinhos ou empregadores, nenhum homem, exceto possivelmente um eremita, é uma ilha; e, portanto, é praticamente impossível que o princípio de Mill se aplique a qualquer ação humana, quanto mais consumir ou fumar maconha. Tal princípio é praticamente inútil na determinação do que deve ou não ser permitido. Até Mill viu as limitações de seu próprio princípio como um guia para a política e negou que todos os prazeres tivessem igual significado para a existência humana. Era melhor, ele disse, ser Sócrates descontente do que um tolo satisfeito. Mill reconheceu que alguns objetivos eram intrinsecamente mais dignos de serem perseguidos do que outros. Sendo assim, nem todas as liberdades são iguais e nem todas são limitações da liberdade, consequentemente algumas são sérias e outras triviais. A liberdade que estimamos - ou devemos valorizar - não é apenas a de satisfazer nossos desejos, sejam eles quais forem. O homem mais livre não é aquele que segue servilmente seus apetites e desejos ao longo da vida. Portanto, a legalização das drogas não pode ser sustentada por princípios filosóficos. Mas se o argumento pragmático a favor da legalização fosse forte o suficiente, ele poderia superar outras objeções. É sobre esse argumento que os defensores da legalização repousam a maior parte de seu caso.
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No campo da argumentação pragmática, desconstruímos os argumentos com uma única pergunta, uma vez que ao afirmarem que a proibição, e não a maconha em si, é o problema, podemos perguntá-los: “A medicina está vencendo a guerra contra a morte”? Obviamente que não, a única certeza fundamental da vida é a morte e nem por isso abolimos as universidades de Medicina, os hospitais e as unidades básicas de saúde, pois conforme o pensamento do “legaliza aí”, poderíamos afirma que se todo homem tem que morrer, não importa muito quando isso acontecerá, se muito novo ou já idoso. Evidentemente que tal argumento somente se sustenta no campo da retórica argumentativa, a situação atual é ruim, sem dúvida, mas poucas são as situações tão ruins que não podem ser agravadas por uma decisão política-jurídica errada. Assim, ao final dos exaustivos argumentos, indaga-se, nos exatos termos já empregados pelo ministro Osmar Terra , quem está interessado na descriminalização da maconha e das drogas ilícitas como um todo? Usuários descompromissados com a saúde pública? Idealistas defensores do direito de se drogar? Ou Grupos de interesse econômico na exploração deste novo negócio? E quem vai pagar a conta? Eu, vocês, nossos filhos, nossos netos, nossa família ou a coletividade maioria que não usa drogas ilícitas? O preço é alto, inclui vínculos familiares, sangue, família e amor! É preciso mobilização e união dos atores sociais e políticos nessa cruzada contra as famílias brasileiras!
O artigo é de autoria do Subsecretário de Políticas de Enfrentamento às Drogas do Governo do Distrito Federal, Rodrigo Barbosa da Silva; W. Bruno A. de Araújo, Diretor do Observatório de Informações Sobre Drogas; e César Boanerges, Gerente de Multiplicadores; lançaram uma nota sobre o assunto.
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ARTIGO
SER DE DEUS É RENTÁVEL
Q
uando falo que ser de Deus é rentável, não quero dizer necessariamente que vamos ganhar muito dinheiro, coisa que também pode acontecer. Quando falo rentável em Deus, entendo em todos os sentidos ganhos existenciais, ganhos emocionais, ganhos familiares, nos negócios. Falo de felicidade, propósito de vida, razão de viver, falo de ganhar dinheiro de forma sustentável, honesta e perene. O que vale ganhar muito dinheiro e perder a paz, a família, os amigos e o gosto pela vida? O que proponho nessa reflexão é que você pode muito mais, na vida, nos negócios, com esperança e perseverança. O que fazer? Cultivar uma vida em Deus, que deve ser de forma diária, disciplinada e devota. Sugiro a prática da meditação cristã (pesquisar Laurence Freeman, monge inglês), reza do terço e frequentar a Santa Missa, ou a prática de oração de sua religião. Ter uma vida em Deus é encontrar o melhor de nós, o propósito Dele para nós. Dessa forma, posso dizer que ser de Deus é ser daquele que nos criou. Nele está nossa essência. Permanecer Nele é beber todos os dias nas fontes. Ser de Deus é ser integrado consigo mesmo, com a natureza e com as pessoas. Ser de Deus é alcançar a sabedoria, ou seja, ser guiado pelo Espírito Santo, por meio de sua fé. Deus rege nossas vidas por meio do Espírito Santo. Para compreendermos bem como o Espírito de Deus nos orienta, vou dar um exemplo simples, uma comparação pobre, mas reveladora. Imagine o GPS. Podemos chegar onde quisermos, guiados por essa tecnologia. Chegamos ao destino mesmo nunca tendo feito o caminho antes. O GPS
também nos tira de acidentes, de pistas interditadas, nos mostrando um outro caminho. Um dia estava eu num evento no Lago Sul, em Brasília, e devia voltar para minha casa na Asa Sul, um percurso relativamente curto, mas coloquei o GPS, mesmo sabendo o caminho. Percebi que ele estava me mandando por uma rua um pouco mais longe, que fazia uma pequena volta, resolvi seguir o GPS. Ao chegar perto de casa, dei-me que a Avenida pela qual eu viria estava interditada por causa de um feio acidente, que ficou por horas fechada, mas cheguei em casa super bem, graças à tecnologia. Por que o GPS me ajudou nessa situação? Simplesmente porque o GPS vê de cima, vê todas as ruas, eu, na minha limitação, só via a rua onde eu estava, não tinha toda a visão. Assim age o Espírito Santo, nos guia, pois vê tudo de cima, vê tudo, toda sua vida, toda sua rede de relacionamentos, vê você e seu entorno e por isso pode lhe guiar, orientar, lhe inspirar as melhores decisões. Por mais inteligentes que somos, sempre teremos uma visão míope da realidade, parcial. Ser guiado pelo Espírito de Deus nos leva a ter visão alargada, horizontes ampliados, além de estar aberto a intuições e a criatividade. Como alcançar isso? Só com Deus, em comunhão com Aquele que nos criou. A busca por comunhão é a maneira de ser de Deus. Facilmente podemos perder a comunhão com Deus, com nossas preocupações, apegos, egoísmos, individualismo, falta de perdão, vinganças ou por não nos darmos conta de sua presença amorosa em nossa vida. Para termos comunhão com Deus, devemos estar em comunhão conosco mesmos, com a natureza, o cosmo, com as pessoas e assim teremos comunhão com Aquele que tudo pode. Todos os dias pela manhã faça o seguinte exercício: em pé, feche os
olhos, sinta sua respiração, inspire e expire por algumas vezes, comece sentir seu corpo, mexa os dedos do pé, tome consciência de todos os membros do corpo, sinta os joelhos, mova os joelhos, as mãos, o pescoço, enfim, todo o corpo, você está entrando em comunhão com você mesmo. Em seguida, busque comunhão com a natureza, com o cosmo, imagine os pássaros, o verde, os rios, o universo, ame-os. Agora, lembre-se do ser humano, das pessoas que você ama, das pessoas que você vai encontrar durante o dia, entre em comunhão com as pessoas e, por fim, ouse entrar em comunhão com Deus, sente e comece a meditar, com a coluna ereta, repita na mente, a palavra Maranathá, que significa, vem Senhor, ou outra palavra que você escolher da tradição cristã e de sua tradição religiosa. Algumas pessoas dizem repetidamente: Vem Espírito Santo. Ser de Deus é rentável, e você estará preparado para empreender a sua própria vida, na família , com os amigos, nos negócios. Pronto para alçar voo, atingir o cume de seu potencial, realizar-se como pessoa e profissionalmente. Empreenda com Deus, empreenda com fé.
Frei Rogério Soares de Almeida Silveira Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora das Mercês, BrasíliaDF, Contador de profissão, autodidata em empreendedorismo e Mestre em Teologia Fundamental, pela Universidade Gregoriana de Roma. Fundador da Pastoral do Empreendedor.
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