Jornal Araguaia 2013/1

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Jornal Araguaia Ano I Nº 1 - 1º semestre de 2013

Sabores da culinária goiana e sua identidade Pamonha, pequi, guariroba... Os pratos típicos de Goiás conquistam os paladares mais diversos e mantêm-se fiéis às tradições familiares. PÁG 2

A religiosidade em Goiás No estado de Goiás se concentra um grande número de eventos turísticos religiosos. A cada ano que passa aumenta a quantidade de pessoas que passam pelo Estado, motivo pelo qual ele é tão conhecido no Brasil inteiro.

Eventos como a festa do Divino Pai Eterno, em Trindade, e a Procissão do Fogaréu, na Cidade de Goiás, duas tradições importantíssimas, são destaque no calendário anual de festividades religiosas no Estado. PÁG. 12

Capital de todos os sons Goiânia sempre teve fama de “celeiro” do estilo sertanejo. Do interior do estado veio o boom da música sertaneja na década de 1980, com as duplas Zezé di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo, de Capela do Rio do Peixe (distrito de Pirenópolis) e Goianápolis, respectivamente. E a tradição rural de Goiás emprestou à cidade de Pedro Ludovico o romance deste nicho musical tão presente no sertão brasileiro. Mas apesar de a música sertaneja moderna ainda representar a maior parte do público goianiense, o reinado não é mais absoluto. PÁG 6

A tradição do Mercado Central O Mercado Municipal de Goiânia, conhecido popularmente por “Mercado Central” foi fundado em 1950 na área onde hoje se localiza o edifício Par­­­thenon Center. A sede atual foi construída em 1986, numa área de cerca de 6 mil m², segundo comerciantes o mais antigo mercado da cidade e, talvez por isso, represente tão bem o jeito de ser do povo goiano. Alguns dos comerciantes do antigo mercado até hoje estão atuando com seus comércios na sede atual. PÁG 5


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Sabores da culinária goiana e sua identidade Pamonha, pequi, guariroba... Os pratos típicos de Goiás conquistam os paladares mais diversos e mantêm-se fiéis às tradições familiares

Ana Lúcia Gonçalves de Freitas Cora Coralina afirma em uma de suas mais belas frases que “cozinhar é a mais nobre de todas a artes”, e a culinária goiana tem seus encantos. Carrega consigo uma carga cultural, como todas as outras, mas a de Goiás sofreu influência dos mineirinhos e paulistas que, ao se deslocarem para cá na busca do ouro, trouxeram consigo seus hábitos alimentares e suas comidas. Os goianos, além de manterem vivas essas tradições, também conseguiram firmar sua própria identidade na culinária. Quem nunca ouviu falar do pequi, do empadão goiano, da guariroba e do famoso frango na telha? Isso tudo e mais um pouco compõe a gastronomia goiana. Sua identidade ficou marcada pelos frutos do cerrado, que possuem características próprias e assim podem ser identificados como

frutos de Goiás. O que muitos não sabem é que o pequi não é exclusivo do estado, é um fruto nativo do cerrado brasileiro também é encontrado no Pará, em Rondônia, no Maranhão e no Piauí. Mas os goianos conseguiram transformar o pequi em uma forma de identificar sua gastronomia: ao se falar em pequi, liga-se imediatamente ao estado de Goiás. Uma das iguarias também trazidas de outra cultura é a pamonha, típica de Minas e fortemente consumida pelos goianos. É comum em épocas de bastante milho no estado as famílias se juntarem para a tradicional pamonhada, na qual todos se reúnem com o propósito de fazer a pamonha contudo, na realidade, esta é uma forma de manter a tradição e a família unida. É muito comum encontrar lugares em Goiás em que há produtos de milho o ano inteiro. Assim, a pamonha se tornou um dos alimen-


tos da culinária goiana - foi apenas incrementada com queijo, pimenta, frango e outras formas diferenciadas de se apreciar a iguaria. Também é tradição das famílias goianas frequentar as pamonharias do estado. Outro prato que identifica de imediato a culinária goiana é o arroz com pequi. Não é muito comum como o empadão e a pamonha, mas é sempre feito nos dias de festas. Uma frase se encaixa bem ao pequi: “ame-o ou odeie-o”, pois esse fruto possui um cheiro forte, por causa do qual muitos não conseguem degustá-lo. GUARIROBA Outra iguaria típica de Goiás, também apreciada por muitos, é a guariroba, geralmente cozida com frango e também usada para fazer pastel, empadão e na pamonha. Oriundo de uma palmeira muito comum nos lar-

es goianos, o palmito amargo é ingrediente tradicional da culinária local. SABORES REGIONAIS Uma das premiadas chefes de cozinha da gastronomia goiana, Emiliana Azambuja brinca com a arte de cozinhar. Ela é o mais vivo exemplo de que podemos fazer da gastronomia uma arte. Formada no Senac Águas de São Pedro em São Paulo, fez estágios em restaurantes da Espanha e da Itália. Apaixonada pela culinária, resolveu voltar a Goiânia e fazer dos frutos do cerrado iguarias apreciadas em vários jantares requintados do Estado. São vários os eventos que ela percorre, e também participa de festivais gastronômicos promovidos em Goiás. Outra forma de manter vivas essas tradições é o slow food, um movimento do qual Emiliana participa e que tem como base a valo-

Jornal Araguaia 3 rização dos produtos regionais. Assim, a chef incentiva moradores na produção de produtos típicos regionais. Ela ousou e transformou a simplicidade da gastronomia goiana em requinte. Isso tudo é feito na sua cozinha, que se transforma na hora de suas criações em laboratório de teste gastronômico. Com isso surgiram o minissonho de surubim, o canapé de biju com mascarpone, cajuzinho passa e o mix de pétalas e folhas com espuma de gorgonzola. São pratos que os restaurantes goianos tem a oportunidade de oferecer aos seus clientes para que sejam apreciados a junção do requinte com a simplicidade, sem perder a identidade goiana e seus encantos. Um dos seus grandes desafios é inovar sempre, e com isso vem conquistando cada vez mais seu espaço no estado e na região.


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Processo de migração para o Estado de Goiás Luciano Toressane

Localizado na região centrooeste do Brasil, Goiás faz divisa com os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia e Tocantins. Segundo o IBGE, possui aproximadamente 6,2 milhões de habitantes. Durante o período da colonização, milhares de pessoas vieram em busca de apoio. Era uma época em que os escravos no país eram explorados pelos seus senhores. A migração para Goiás começou com os bandeirantes; eles saíram de São Paulo e começaram a explorar as terras do planalto, transformando-as em grandes fazendas de criação bovina. A cultura local tem suas qualidades e diversidades. O estado vem crescendo. A indústria e a pecuária são fundamentais no processo. Dentro do estado, a região onde é possível encontrar mais migrantes é Capital Goiânia - a cidade tem aproximadamente 1,3 milhões de habitantes, e sua região metropolitana

possui cerca de dois milhões. Esse crescimento populacional é gerado pela busca de empregos e qualidade de vida. São pessoas dos estados do Pará, Maranhão, Tocantins, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, e Mato Grosso. São famílias que não têm condições de viver em seu Estado da forma planejada, portanto se deslocam para o centro do Brasil para tentar conseguir algo. Outras encontram a oportunidade para estudar ou concluir seus estudos, seja no ensino médio ou superior. Com a chegada dessas pessoas, a cidade cresce, gerando empregos, e o estado ganha, pois os imigrantes são fundamentais no progresso e na construção de uma nova sociedade. Há oito anos dona Maria Silvia, moradora da cidade de Goianira, região metropolitana de Goiânia, veio em busca de emprego. Ela e seu esposo são da cidade Correntina (BA). Sair de um estado para outro é um desafio, tanto pela questão de melhorar a situação financeira com

um bom emprego quanto na construção de novas amizades. Silvia saiu de sua terra natal sem saber o que podia encontrar pela frente. Ao chegar à região metropolitana, encontrou algumas dificuldades, mas as superou com a ajuda de alguns vizinhos, e depois de seis meses conseguiu emprego em uma loja na Capital. O marido também conseguiu trabalho, como chefe de equipe em uma construtora. “Eu pensava que seria mais difícil, mas na época eu não tinha filhos e saí distribuindo currículos em lojas daqui de Goianira e em Goiânia”. A baiana revela que em sua cidade natal muito difícil conseguir emprego. “Várias pessoas de lá vêm para cá em busca de oportunidades”. Exemplos iguais a esse são comuns na região metropolitana de Goiânia. A construção civil e todo esse processo de migração faz com que o estado se fortaleça na economia e no desenvolvimento.


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A fuga do transporte coletivo Fabrício Monteiro e Cassia Braga “Não está fácil andar de ônibus em Goiânia”. Essas são as palavras de Solange Maria, 45, usuária do transporte coletivo da capital. Segundo a Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC), aproximadamente 600 mil passageiros, por meio de uma frota de 1450 ônibus, abrangendo 56 linhas, utilizam o transporte coletivo em Goiânia e cidades do entorno da capital diariamente. Para andar de ônibus, hoje o goianiense deve desembolsar R$2,70. Para um trabalhador regular, que utiliza o transporte coletivo durante 6 dias da semana, o custo no final do mês chega a aproximadamente R$140, o que em relação ao salário mínimo é uma grande parcela. O valor para muitos usuários é alto, o que os leva a utilizarem outro meio de transporte que saia mais barato ou até mesmo que custe o mesmo valor, mas que tenham mais conforto. Este é o exemplo de Fausto

Monteiro e Carlos Henrique, 27. Ele sempre utilizou o transporte coletivo, mas nos últimos tempos começou a analisar o que gastava e optou pela bicicleta para se locomover na capital: “Com o valor que eu gastava com sit-pass, comprei uma bicicleta muito boa e hoje vou aonde quiser com ela. Além de economizar dinheiro, ganho em saúde e bem estar, pois para mim é muito prazeroso”. Carlos Henrique optou por uma moto: “Comecei a observar que o valor que eu gastava por mês nos ônibus era o mesmo de uma prestação de uma motocicleta. Depois que analisei, não deu outra, comprei a moto”. A tendência é que cada vez mais pessoas façam o mesmo que Fausto e Carlos. Sair do transporte coletivo para o individual é uma realidade cada vez mais palpável. “ O sonho de cada usuário de ônibus é comprar sua moto ou o seu carrinho, ninguém aguenta isso por muito tempo”, diz Célio, 30, que durante 10 anos foi usuário de transporte coletivo. Mas o que leva as pessoas a larga-

rem o transporte coletivo e partir para o individual, realmente? São muitos os fatores, segundo usuários entrevistados. Para eles, a demora e a superlotação que contribuem para a migração para o transporte individual. Em entrevista feita pra o Jornal Gazeta do Povo, o superintendente da ANTP, Marcos Bicalho, diz que as pessoas preferem ter um carro ou uma moto do que estarem condenadas a um transporte coletivo ruim. Segundo um estudo da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP), a cada pessoa que faz um deslocamento em transporte coletivo, outras 2,4 usam o transporte individual (motocicleta, bicicleta, automóvel ou mesmo caminham). De 2003 a 2010, o transporte individual teve uma ampliação no número de deslocamentos de 21,32%, contra 17,56% do coletivo. No período, houve um aumento de 12% no número de viagens em ônibus municipais. Por outro lado, os números de viagens de moto, bicicleta e carro cresceram 111%, 58% e 21%, respectivamente.

A tradição do Mercado Central Marco Aurélio e Pedro Couto O Mercado Municipal de Goiânia, conhecido popularmente por “Mercado Central” foi fundado em 1950 na área onde hoje se localiza o edifício Par­­­thenon Center. A sede atual foi construída em 1986, numa área de cerca de 6 mil m², segundo comerciantes o mais antigo mercado da cidade e, talvez por isso, represente tão bem o jeito de ser do povo goiano. Alguns dos comerciantes do antigo mercado até hoje estão atuando com seus comércios na sede atual. O Mercado Municipal é uma referência para a aquisição de produtos e saberes oriundos da região do cerrado. Nele funcionam 108 lojas, sendo que 26 foram identificadas tra-

balhando com produtos do cerrado, o que representa aproximadamente 30% do total. Funciona de segunda a sexta das 8h às 18h, e aos sábados das 8h às 14h. Localiza-se na Rua 3, no Setor Central. É formado por muitas bancas que vendem diversos produtos industrializados e artesanais. Segundo in-

formações colhidas com os donos das bancas, a maioria dos produtos vendidos são fornecidos por produtores dos estados do Centro-Oeste, e principalmente de cidades de Goiás, dentre elas destacam-se Goiânia, Jalapão, Catalão, Piracanjuba e Caldas Novas. Nos itens relacionados à alimentação são vários produtos do cerrado para o consumo humano encontrados no Mercado Central de Goiânia, como pequi, que também é vendido em conserva na maioria das bancas, licor de jenipapo, pimenta, mel de abelha, castanhas de baru, castanha de caju, buriti e seus derivados, jatobá e o murici, vendidos também em garrafas, queijos e requeijões de todos os tipos, frutas e verduras e açougues.


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De todos os sons

Conhecida nacionalmente como cidade produtora de duplas sertanejas, Goiânia possui hoje vasta variedade de estilos musicais e público cativo para todos eles, da música clássica aos extremos do rock

HumbertoWilson Imortalizada em canções sertanejas modernas, Goiânia sempre teve fama de “celeiro” do estilo. Do interior do estado veio o boom da música sertaneja na década de 1980, com as duplas Zezé di Camargo & Luciano e Leandro & Leonardo, de Capela do Rio do Peixe (distrito de Pirenópolis) e Goianápolis, respectivamente. E a tradição rural de Goiás emprestou à cidade de Pedro Ludovico o romance deste nicho musical tão presente no sertão brasileiro. Dali em diante, foram dezenas de duplas de destaque oriundas de Goiânia, e qualquer músico sertanejo que tivesse a ambição de ter suas canções nas rádios do Brasil rapidamente se mudava para cá. Apesar de a música sertaneja moderna ainda representar a maior parte do público goianiense, o reinado não é mais absoluto. Nas últimas décadas, a capital viu florescer diversos outros estilos musicais em suas noites, como a MPB, o blues, a música

clássica, o hip hop e todos os tipos de rock – esse público, sempre presente nos eventos do gênero, reivindica para a cidade títulos como Goiânia Rock City, em alusão ao hit Detroit Rock City, da banda norte-americana Kiss, e Seattle Brasileira, referência à cidade também dos EUA que apresentou ao mundo o movimento grunge na década de 1990, de onde saíram bandas como Nirvana e Pearl Jam. “Em volume, o sertanejo ainda é o estilo mais produzido em Goiás”, afirma Fabrício Nobre, superintendente de ação cultural da Secretaria de Cultura de Goiás. Figurinha carimbada do cenário rocker goianiense, Fabrício já esteve à frente da Monstro Discos e d’A Construtora Música e Cultura, produzindo eventos que englobavam grande variedade de estilos musicais e que abrem espaço para um sem número de artistas goianos. Para o produtor, o público da cidade é diverso: “Essa é umas das coisas mais legais da cena local: tem muita gente a fim de experimentar. Eu acho isso


genial”. O superintendente destaca que até mesmo a música clássica, tida como elitista mundo afora, encontra espaço “graças ao grande emprenho da Universidade Federal de Goiás e a espaços como o Teatro Sesi”. O produtor cultural Pedro Henrique Barroso compartilha a opinião de que o sertanejo é o estilo mais produzido no Estado, e vai além: “Acho que é o mais produzido no País”. Para ele, entretanto, o rock vem crescendo muito, e as bandas cada vez estão mais profissionais. “Os festivais vêm cada vez com um maior nível de produção, estrutura, mais público. Bandas de todo o país querem tocar no nosso estado, temos aqui grandes festivais como o Tattoo Rock Fest, Goiânia Noise, Bananada, Vaca Amarela”. A exemplo do que vem sendo feito na Capital há basicamente uma década, Pedro evita a dicotomia sertanejo versus rock em seus eventos: “Trabalhamos com todo estilo de música que acreditamos ser bom”. Evolução musical Para Pablo Kossa, jornalista, produtor cultural e escritor do livro “10 Anos de Goiânia Noise - Em Terra de Cowboy Quem Toca Guitarra é Doido”, a evolução de toda produção cultural – inclusive musical – da Capital é um fenômeno natural das grandes cidades. “Goiânia é hoje uma metrópole, e como tal, apresenta cada vez mais opções para seu público”, diz. Pablo afirma que em recente viagem aos Estados Unidos teve a oportunidade de visitar diversas casas de shows de variados estilos, e constatou que as casas goianienses não perdem em nada para as gringas. O jornalista destaca ainda que atualmente o calendário musical da cidade é tão variado que é impossível visitar tudo de legal que acontece por aqui, “por falta de tempo ou dinheiro”. Mesmo assim, reconhece que a música sertaneja forma um calendário à parte, com eventos colossais e produção massiva, muito superior às de outros estilos musicais. “Goiânia evolui passo a passo quanto à diversidade musical, mas existe uma imensa

fatia de mercado para o sertanejo, que lida com cifras milionárias” Música para músicos Para Grace Carvalho, maior representante atual da MPB feita em Goiás, o público por aqui “está cada vez melhor”. A cantora reforça o coro de que bandas e artistas surgem proporcionalmente ao crescimento da cidade. “Goiânia está melhorando em muitos aspectos e na música não poderia ser diferente. Estamos virando cidade grande”, brinca. De acordo com Grace, artistas conquistam espaço e fomentam o mercado. “Percebemos hoje a quantidade de bandas e cantores de samba, o que há 10 anos era impensado. Assim também surgiram as casas que recebem estes artistas“. E finaliza: “Cabe a nós aproveitarmos esta expansão e nos profissionalizarmos cada vez mais para que a música goiana seja referência em todo o país”. Até mesmo quem arrisca os primeiros passos no concorrido cenário sertanejo se rende a outros estilo. Fellype, da dupla iniciante Fellype e Bruno, afirma que não possui preconceitos musicais. “Acredito que outros estilos, como o rock, o samba e o forró já estão incorporados no sertanejo universitário”. Versátil, o jovem cantor diz que vai a shows de rock, blues etc, mesmo com a preferência pela viola. “Goiânia oferece uma variedade grande de atrações. Quem se limita a um ou outro segmento acaba perdendo muitas noitadas bacanas”. O odontólogo Ulisses Miranda, 30, guitarrista e vocalista das bandas de rock Grieve e The Stoned Hotel, elenca a grande variedade de espaços culturais na Capital. “Apesar de o sertanejo estar estampado por aqui, tem espaço para o chorinho no Centro, para o Jazz e a MPB no Cine Ouro, casas de rock alternativo e blues, samba em vários lugares, pop, música instrumental, casas underground segurando punk e hard core”. Para o músico, hoje o sertanejo é muito mais um fenômeno comercial do que uma imposição cultural. “Tem de tudo por aqui. Só vai a show sertanejo quem quer”. Simples assim.

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O futebol do sertão goiano

Clara Chrisallys O brasileiro é um torcedor apaixonado. Quando se fala em esporte, a primeira coisa que vem à sua cabeça é o futebol. Em Goiás não seria diferente: mesmo com apenas um time representante na elite do futebol nacional, o torcedor goiano é aguerrido. O primeiro clube profissional do Estado foi o União Americana Esporte Clube, fundado em 28 de abril de 1936, já na moderna Goiânia. Durante este período de afirmação do futebol por aqui, surgiram vários clubes que foram extintos em pouco tempo. Sobreviveram apenas o Atlético, o Goiânia, o Vila Nova e o Goiás na capital. “O futebol goiano deu seus primeiros passos na antiga capital, hoje Cidade de Goiás, e há registro do esporte em algumas cidades do interior ainda no início do século passado”, conta o Jornalista João Paulo di Medeiros, correspondente do Portal Terra. Para ele, a manifestação mais forte e clara do esporte que se tornou o mais adorado do Brasil se desenvolveu com

a mudança da capital do Estado com a criação de Goiânia. Usando o “falecido” Estádio Olímpico como principal palco, os clubes mais importantes da cidade nasceram entre o fim da década de 1930 e o início de 1940. No início o futebol ainda era amador e, na capital, era movimentado pelo clássico Goiânia x Atlético, incrementado pela pequena rivalidade que havia entre Goiânia e Campinas. A supremacia do Galo Carijó acabou com o início do profissionalismo. O Atlético perdeu força e abriu espaço para o crescimento de Vila Nova e Goiás, que se consolidaram como os grandes times do Estado, arrebanhando vasto número de torcedores. Outro marco importante foi a inauguração do Serra Dourada, considerado um dos melhores do País, nos anos 1980. Do ar interiorano que havia nas arquibancadas do Olímpico à imponência do Serra Dourada, o goianiense aprendeu a gostar de futebol. Se não respira a bola como se vê em outros centros, é inegável que o esporte está inserido na cultura local.

Décadas As décadas de 40 e 50 do futebol goiano foram totalmente dominadas pela dupla Atlético e Goiânia. Nos anos 40 foram disputados sete troféus. O Galo ficou com quatro títulos e o Dragão com três. Os anos 50 foram dominados pelo Goiânia. O time alvinegro conquistou oito das dez taças disputadas. Os rubro-negros ficaram com os outros dois. A década de 60 foi a mais democrática no futebol goiano. Seis times diferentes sagraram-se campeões estaduais. Aquela era a primeira vez que outros clubes que não Dragão e Galo ganhavam a condição de melhor do estado. O Vila Nova foi o grande vencedor dos anos 60 com quatro títulos. O Goiânia ficou com dois. Anápolis, Goiás, CRAC e Atlético conquistaram um cada. Nos anos 70 destacou-se a rivalidade entre Vila Nova e Goiás. Os rivais dominaram as conquistas estaduais. O tigre obteve cinco títulos, enquanto o periquito ficou com quatro. O Goiânia ganhou um em 1974. Esta


foi a última vez que o Galo se sagrou campeão estadual. A década de 80 marcou o início do domínio esmeraldino. O Goiás conquistou seis títulos. Atlético e Vila Nova levaram dois cada. Nos anos 90, o alviverde teve o melhor desempenho da sua história, com sete conquistas. Os colorados tiveram duas e o Goiatuba ganhou o único estadual de sua sala de troféus. Na somatória geral, o Goiás foi o maior vencedor em três décadas. O Vila Nova e o Goiânia foram os grandes ganhadores em duas. O Atlético luta para ser o grande time do estado em uma década: o Dragão começou bem, conquistando o primeiro título dos anos 10 do século XXI. Mudanças Apesar de ser considerado o grande time do futebol goiano hoje, o Goiás ficou na fila durante décadas. Só em 1966, 22 anos depois da primeira edição do Goianão, a equi-

pe da Serrinha conquistou seu primeiro título. E a partir de então foi aos poucos se firmando como principal equipe. Apenas em 1997, ao conseguir seu 15° título, ultrapassou o Goiânia e assumiu a ponta na lista dos maiores campeões. Atualmente com 21 campeonatos, a equipe alviverde conquistou uma vantagem de seis estaduais sobre o segundo colocado, Vila Nova (15). O primeiro grande estádio da cidade de Goiânia foi o Olímpico. Nele aconteceram os grandes embates dos campeonatos estaduais e nacionais até a construção do Serra Dourada, nos anos 70. O Olímpico mantém a cara de uma cidade pequena, acolhedora, calorosa, onde todos se conheciam. Na metade dos anos 60 chegou a vender cadeiras cativas, uma ideia que não deu certo, apesar de uma grande campanha publicitária que teve até o Rei Pelé como garoto-propaganda. “O torcedor goiano tem uma

Jornal Araguaia 9 característica diferente dos torcedores do sudeste, sul, nordeste e norte do país”, destaca o blogueiro e comentarista da Rádio 730 Nivaldo Carvalho. Para ele o perfil agropecuário do Estado se reflete nas arquibancadas: “As pessoas aqui ainda carregam aquela timidez típica do ‘roceiro’, não somos aquela torcida barulhenta nos estádios que se manifesta e grita o tempo inteiro”. Nivaldo, entretanto, ressalta que com o surgimento da internet, as redes sociais têm ajudado um pouquinho a mudar esse perfil, principalmente da torcida jovem. Infelizmente, há uma mudança negativa no perfil do torcedor goiano, ditada pela violência. Existe uma verdadeira guerra entra facções de torcidas organizadas que já ceifou dezenas de vidas - e outras mais serão ceifadas. Por mais que as autoridades se esforcem, não estão conseguindo conter essa onda de violência.

A paixão que move o sertão Muitos goianos são movidos por uma paixão pelo futebol regional. E nos estádio é possível se ver uma torcida animada, que canta e grita para impulsionar seu time. Em Goiânia, berço das três maiores equipes do estado, Goiás, Vila Nova e Atlético-GO, pode ser observada uma disparidade de idades entre os fanáticos torcedores. José Carlos, 83, é apaixonado do Atlético-GO. Desde criança freqüenta os jogos do seu time do coração, e presenciou muitas conquistas de títulos. José não teve influência, gostava de jogar bola e sempre que podia ia ao estádio: por admiração escolheu o Atlético-GO para torcer e vibrar. Hoje José coleciona quadros, canecas e camisas que foram se acumulando durante os anos. E mesmo com a idade avançada, sempre

que pode vai ao Estádio com o filho, que torce para um time carioca, mas que leva o pai por saber da alegria que sente ao ver seu Atlético jogar. Para o jovem Vitor Rodrigues, 13, o fanatismo começou cedo. Mesmo com a pouca idade, Vitor se diz apaixonado pelo Vila Nova. Influenciado pelo pai, que também é torcedor do colorado, ele já assistiu a mais de 30 partidas e acumulou mais de sete camisas do time do coração. Vitor é tão vidrado pelo Tigrão que se recusa a usar roupas verdes, por medo de ser confundido com um esmeraldino. E ainda tem o sonho de ser jogador do time principal do Vila Nova. Já outros torcedores têm histórias mais “exóticas”. Edilson Neto, 46, é tão fanático pelo Goiás, que até chegou atrasado ao próprio casamento, em 1989, pois estava

ouvindo a partida em seu rádio de pilha, que ele até hoje não abandona.. E a paixão pelo Goiás não foi espontânea, não. Edilson aos 11 anos era torcedor do Flamengo, mas um tio prometeu lhe dar de presente uma camisa do Goiás, caso ele optasse por torcer pelo time alviverde. E daí pra frente começou a paixão. Sempre que pode, Edilson vai ao estádio vibrar as vitórias de seu time, acompanhado do seu radio. E essa paixão influencia gerações: as filhas de Edilson também são esmeraldinas. A paixão pelo futebol que envolve o sertão goiano está muito além das diferenças. Não importa a idade ou o sexo, o que vale é vibrar com o seu time e colecionar histórias para contar para as próximas gerações.


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Coronelismo em Goiás Gilcélio Olerante e Maria da Cruz Durante anos, o coronelismo foi a política predominante em Goiás. Teve início no século XIX, mas adquiriu mais destaque no século XX, entre 1912 e 1930. O coronelismo esteve relacionado com a política dos governadores, inaugurada pelo presidente Campos Sales, que significava o reconhecimento do poder local como base da estrutura política brasileira. Em Goiás, a política durante o Império esteve associada às famílias Bulhões e Jardim. Os Caiados começaram a projetar-se nas décadas de 1870 e 1880, sob a liderança dos Bulhões Jardim. Como em todo o Brasil, predominaram os “coronéis” fazendeiros, mas havia também padres, profissionais liberais, políticos. As forças de mando no estado na época estiveram sob o domínio de três famílias - Bulhões, Xavier e Caiado. “Coronelismo” provém de “coronel” e reporta-se aos coronéis da Guarda Nacional, criada pelo Regente Padre Diogo Antônio Feijó, em 1831. Depois de extinta a Guarda Nacional, deu-se a atribuição informal do título de “coronel” a homens que detinham prestígio e fortuna, algo como a aceitação consensual de sua liderança. Na cúpula do Partido Democrata em Goiás, estavam os “coronéis” mais ilustres – bacharéis em direito, médicos, engenheiros, oficiais militares etc. Em razão da inexpressividade político-eleitoral e econômica de Goiás, não eram apresentados muitos projetos para um desenvolvimento amplo para o estado. Um dado expressivo aparece no governo de Antônio Ramos Caiado, o Totó Caiado, maior autoridade do Estado de Goiás entre 1912 e 1930): “O segundo maior percentual de recursos orçamentários do estado foi destinado à educação. Quem prioriza a educação não está pensando em

manter o atraso”, conta a professora Lena Castello Branco Ferreira, autora da obra “Poder e Paixão - A saga dos Caiados”, em defesa da ideia de que a manutenção do atraso como forma de dominação sociopolítica não era como vem sendo tratada no decorrer dos anos. Sobre Totó, criou-se um mito de maldade absoluta: ele seria o protótipo do coronel violento e retrógrado, exemplar arquetípico do político atrasado, autoritário e desonesto. Entretanto, depois da Revolução de 1930, quando os Caiados e seus correligionários do Partido Democrata foram tirados do poder, uma Comissão de Sindicância foi instalada pelos revolucionários na Cidade de Goiás para receber denúncias e formalizar processos contra a chamada “situação decaída”. Nos processos localizados no Arquivo Nacional (RJ), não há um só que contenha acusações formais de crimes ou desvio de dinheiro contra o Totó Caiado, e isso quando ele se encontrava preso, no Rio de Janeiro. Mas chantagem, troca de favores, clientelismo e fraudes eram características bem comuns dos coronéis - a questão de não terem encontrado nenhuma acusação formal de crimes praticados por Totó Caiado não diz muito, pois com as condições de isolamento das populações distribuídas em Goiás na época, agravadas pela inexistência de um órgão repressivo que coibisse essa violência, tudo poderia acontecer sem que ninguém soubesse. A ausência de uma estrutura privada, ou de diversificação de classes sociais, permitia ao coronel cometer ações dentro do estado sem maiores concorrências. A sociedade goiana até então era atrasada, não estruturada e dependia estritamente desses chefes locais para sobreviver. Através de clientela e mandonismo, esses oligarcas conseguiam se organizar em espaços

relativamente grandes, proporcionando um domínio geral por todo Goiás. No final da década de 1920, a oposição ao “Caiadismo” revestiu formas de violência organizada, como a sedição na serra do cafezal, no Sudoeste goiano, que reuniu fazendeiros, peões e capangas recrutados em Mato Grosso, tendo entre seus mentores o coronel Antônio Martins Borges e seu genro, o médico Pedro Ludovico Teixeira (fundador de Goiânia). O propósito dos sediciosos era criar um pólo de rebeldia armada e forçar a intervenção federal no estado, com a conseqüente destituição dos governantes “Caiadistas”. No Estado de Goiás a Revolução de 1930 foi marcada pela transição oligárquica dos coronéis. Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado interventor federal por Getúlio Vargas em novembro do mesmo ano, disputa que contava com fortes nomes para o cargo, como os de Mário Caiado e Domingos Neto Velasco. Para alguns historiadores, o desenvolvimento só chegou a Goiás quando finalmente o coronelismo da República Velha foi tirado do poder e Pedro Ludovico assumiu o posto de liderança no estado. Durante o período que ocupou o Governo de Goiás, além da fundação de Goiânia, Ludovico construiu a rodovia que ligava a nova capital a Rio Verde, a Usina Rochedo, que fornecia luz a Goiânia, e a ponte do rio Paranaíba, na divisa do estado com Minas. O coronelismo ainda existe e existirá durante muito tempo em Goiás e no Brasil. Diferentemente dos antigos “coronéis” sertanejos – de poucas luzes e limitado alcance – os “coronéis” atuais têm motivações ideológicas, a par da consciência de que a única força capaz de romper o círculo vicioso da dependência e do clientelismo é a educação pública de bom nível, posta ao alcance de toda a população. Propositadamente, isso não é feito e jamais o será.


Ser goiano

Jullyanna Matos e Maria Paula Alves O escritor goiano José Mendonça Teles descreve o que é ser goiano: “É amar o passado, a história, as tradições, sem desprezar o moderno. É ter latifúndio e viver simplório, comer pequi, guariroba, galinhada e feijoada, e não estar nem aí para os pratos de fora”. Um ser matuto que vive na roça e preserva suas tradições, passadas de geração para geração. Esse é realmente o goiano? Ou tudo isso é muito clichê? A construção da identidade do goiano faz seu caminho nos passos dos viajantes que chegaram a Goiás atrás de ouro, no século XIX. Contudo, foram atribuídas ao Estado características auríferas, restando um imenso buraco no passado pré-aurífero. Assim se tem a ilusão de que tudo começou com o ouro por aqui. E com o fim do ciclo desse metal precioso, Goiás perdeu sua importância, chegando ao quase total esquecimento por parte dos brasileiros. A partir de 1940, Goiás torna-se o principal Estado fornecedor de produtos alimentícios do Brasil, passando a receber um grande número de agroindústrias e recebendo destaque no cenário mundial. “Em Goiás se produz a carne e o leite. Na vida tem aquele dito: a serra que emana leite e mel. Goiás emana leite, carne, soja, grãos de modo em geral, com uma

qualidade diferenciada”, atesta a professora Adélia Freitas. O goiano é fruto de uma mistura de raças: o índio nativo, o negro africano e o branco europeu. Assim, se caracteriza o traço europeu nos saraus de Vila Boa e nas óperas dos barracões em Pirenópolis, as heranças espanhola e portuguesa das cavalhadas, a procissão do fogaréu na Cidade de Goiás, nas catiras, nas folias de reis, na festa do divino Pai Eterno e nas dança do congado de Catalão. “Ser goiano é ter toda vivencia com a minha cultura. Não necessariamente preciso comer pequi para ser goiano. Mas, para entender e valorizar isso, as minhas festas, entender meus pais, meus irmãos, essa identidade, isso é muito importante para minha formação enquanto pessoa”, afirma o jornalista Marcio Venício. O goiano é dual, misto entre o roceiro e o homem da cidade grande, entre o curral e o asfalto, entre o tradicional e o moderno. “Compreendendo historicamente nossa goianidade estaremos entendendo melhor o sentido cultural do sertão, do cerrado goiano, da ideia síntese que nos deu Vila Boa de como se manter quase intacta para ser moderna, como se preservar para ser eterna”, afirma Nasr Fayad Chaul ex-presidente da Agência Goiana de Cultura Pedro Ludovico Teixeira (Agepel).

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A catira

A catira é uma dança do sertão brasileiro. De origem africana, espanhola, portuguesa e indígena, foi uma forma encontrada pelos jesuítas para catequizar os índios. Firma amizades numa saudade de tempos distantes. Mesmo os mais jovens têm essa manifestação cultural no sangue, enraizada nos corações, trazendo imensa alegria em manter a tradição. Para começar a Catira, o violeiro puxa o rasqueado e os dançadores fazem a “escova” um rápido bate-pé, bate-mão e seis pulos. A seguir, o violeiro canta parte da moda, ajudado pelo “segunda voz” e volta ao “rasqueado”. Os dançadores entram no bate-pé, bate-mão e dão seis pulos. Prossegue depois o violeiro com o canto da Moda, recitando mais uns versos, que são seguidos de bate-pé, batemão e seis pulos. Quando encerra a moda, os dançadores após o bate-pé e bate-mão realizam a figura que se denomina “Serra Acima”, na qual rodam uns atrás dos outros, da esquerda para a direita, batendo os pés e depois as mãos. Feita a volta completa, os dançadores viram-se e se voltam para trás, realizando o que se denomina “Serra Abaixo”, sempre a alternar o bate-pé e o bate-mão. A catira encerra-se com o “recortado”, no qual as fileiras trocam de lugar e assim também os dançadores, até que o violeiro e seu “segunda voz” se colocam na extremidade oposta e depois voltam aos seus lugares. Durante o “recortado”, depois do “levante”, no qual todos levantam a melodia, cantando em coro, os cantadores entoam quadrinhas em ritmo vivo. No final do Recortado, os dançadores executam novamente o bate-pé, o bate-mão e os seis pulos.


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A religiosidade em Goiás

Cleudison Alves No estado de Goiás se concentra um grande número de eventos turísticos religiosos. A cada ano que passa aumenta a quantidade de pessoas que passam pelo Estado, motivo pelo qual ele é tão conhecido no Brasil inteiro. Eventos como a festa do Divino Pai Eterno, em Trindade, e a Procissão do Fogaréu, na Cidade de Goiás, duas tradições importantíssimas, são destaque no calendário anual de festividades religiosas no Estado. Duas tradições atraentes aos olhos de quem vem de longe para prestigiar esses eventos são as belezas e a fé. É tradição dizer que o município de Trindade (GO) nasceu a partir do encontro entre a fé e a devoção. Característica muito particular da cidade, a crença no Divino Pai Eterno fez com que se estruturasse na região o que se conhece hoje como a Capital da Fé dos povos goianos. Segundo a Agetur, Goiás recebe anualmente cerca de 2,5 milhões de devotos, no encontro da maior festa religiosa do Brasil. Milhares de pessoas se reúnem para clamar em uníssono o nome do Pai. São fieis que já receberam bênçãos do Divino Pai Eterno. Maria Helena se emociona ao falar no Divino Pai Eterno e afirma que

ele já fez muitos milagres na vida dela e de seus familiares. Aos 70 anos ela ainda caminha na trilha dos Romeiros, em devoção ao Pai Eterno. “Deus salvou minha vida, me curou de doenças perigosas, curou meu filho que estava doente, e fez com que minha netinha falasse”, afirma a devota. Para o Reitor da Basílica do Divino Pai Eterno e organizador da festa de Trindade, Padre Robson, este evento tem um significado muito grande na vida das pessoas. “Elas vêm de longe em busca do clamor ao Pai, em busca da santidade e do milagre do nosso senhor salvador. É muito gratificante poder está à frente desse evento, me sinto muito gratificado e honrado, por cada ano poder receber os nossos fiéis. A casa é deles, a casa do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, afirma o padre. Na cidade de Goiás, rica em tradições religiosas, outra festa que atrai milhares de pessoas é a Procissão do Fogaréu. O evento faz a representação da noite da busca e prisão de Jesus. Todos os anos a partir da meia-noite da chamada “Quarta-Feira de Trevas”, uma multidão se reúne à frente da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte para prestigiar o maior evento da antiga capital. Segundo a Agetur, são 500 tochas distribuídas entre os Farricocos, principais personagens da festa.

Quando tudo começou Segundo os dados da Secretaria de Cultura de Trindade, a História do Divino Pai Eterno teve inicio há 172 anos. Por volta de 1840 um casal de agricultores encontrou um medalhão enquanto roçava um pasto às margens do córrego Barro Preto. Nesse medalhão havia uma imagem da santíssima romaria. Desse dia em diante, a romaria começou na casa de Constantino Xavier e Ana Rosa, onde inicialmente eles e seus familiares passaram a rezar diante do medalhão encontrado. Aos poucos os moradores locais passaram a rezar junto à imagem, o que acabou atraindo mais devotos. A notícia logo se espalhou, juntamente com a sucessão de milagres. Na igreja matriz há uma replica do medalhão feito pelo artista plástico Veiga Vale.


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