As Aventuras do Manchas e do Bui

Page 1

Texto: Estrela Matilde e Filipa Loureiro | Ilustrações: João T. Tavares


Projecto co-financiado a 75% pelo Programa LIFE-Natureza da Comiss達o Europeia


Este conto ilustrado foi elaborado no âmbito do Projeto LIFE-Natureza “Promoção do Habitat do Lince-ibérico e do Abutre-preto no Sudeste de Portugal” (LIFE08 NAT/P/000227), mais conhecido por LIFE Habitat Lince Abutre, e que tem como principal objetivo contribuir e sensibilizar para a conservação do lince-ibérico, do abutre-preto e dos seus habitats nas regiões de Moura, Mourão e Barrancos, do Vale do Guadiana e da Serra do Caldeirão. Título: As Aventuras de Manchas e Bui Ilustrações: João T. Tavares / Gobius Textos: Estrela Matilde e Filipa Loureiro Coordenação de Edição: Filipa Loureiro e Eduardo Santos

© Liga para a Protecção da Natureza. Todos os Direitos Reservados. Esta publicação não pode ser reproduzida no todo ou em parte, sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrónico ou mecânico (fotocópia, gravação, fotografia, etc.) para qualquer finalidade, sem prévia autorização da LPN.

Edição: Liga para a Protecção da Natureza Design e Paginação: Brisk Design Impressão e Acabamento: Colprinter

1.ª Edição – 1.ª Tiragem – Lisboa, 2012 2500 exemplares

Pst, pst … Olá, eu sou o Medronho Risonho. Depósito Legal: 000000/12 ISBN: 978-989-97278-2-3

http://habitatlinceabutre.lpn.pt

Vem comigo que vou contar-te uma história sobre um gato pardo e uma grande ave.


Há algum tempo atrás, no interior de uma bonita serra no sul de Portugal, vivia um pequeno lince-ibérico chamado Manchas que, com a sua mãe Pardina, aprendia a correr, a caçar e a fugir dos perigos do dia a dia. O Manchas pensava que tinha tudo o que precisava para ser feliz. Protegia-se num denso bosque da serra e aproveitava as clareiras mais abertas para caçar uns quantos coelhitos, o seu alimento preferido.

Naqueles finais de tarde mais quentes, enquanto esperava que os coelhos despertassem das suas sonecas e saíssem das tocas, o Manchas corria até às árvores mais altas na encosta para procurar o seu amigo Bui, um abutre-preto que partilhava um grande ninho carregado de ramos com os seus imponentes pais.


Por vezes não o encontrava, até que olhava para o céu, e via-o ao longe a acompanhar os pais nas suas longas viagens à procura de carcaças de animais mortos para jantar. O pequeno abutre começava agora a aprender que a sua espécie tinha um importante papel na reciclagem da vida, pois ele, tal como os outros abutres, comia animais que morriam no campo, transformando-os assim em energia para voar!

Com o passar do tempo, os dois amigos entraram numa fase muito importante das suas vidas. Chegara o momento de deixarem os seus pais e partirem numa nova etapa. O Manchas teria de encontrar uma boa toca para viver, passar a caçar sozinho, procurar uma namorada para poder ter muitos filhos e proteger o seu território de outros animais. Quanto ao Bui, chegara o momento de deixar o ninho dos pais e partir numa odisseia em busca de uma menina abutre, para juntos procurarem uma boa árvore para construírem a sua casa e começarem a sua própria família.


À medida que se foi tornando adulto o Manchas depressa se apercebeu que os coelhos que tanto gostava de caçar eram cada vez menos e, dos que encontrava, muitos estavam doentes e nem forças tinham para fugir. Apesar destes serem mais fáceis de capturar, a verdade é que se tornava cada vez mais difícil para o Manchas encontrar alimento.

A tarefa de encontrar uma boa toca também se revelou muito difícil, afinal de contas o bosque era cada vez menos denso, e havia apenas pequenos tufos de mato que não eram suficientes para um lince como o Manchas se esconder. Para além disso, existiam cada vez mais plantações de eucalipto e mais estradas com cada vez mais carros, que não eram nada boa vizinhança, pois não tinham mato para se proteger nem coelho-bravo para comer.


De facto, o Manchas só se deixava ver pelo Sr. Charrua porque a sua mãe Pardina lhe tinha ensinado que ele era um humano muito bom, que gostava de ter animais na sua propriedade e que por isso fazia de tudo para que tivessem um bom sítio para viver, muito calmo e com bastante comida.

Na serra morava um agricultor muito simpático, o Sr. Charrua, que sempre que via o Manchas fazia uma grande festa, pois sabia que este era um animal muito raro e que só existia em Portugal e Espanha. O Sr. Charrua já há muito que conhecia a família do Manchas. Ainda se lembrava dos seus pais e também dos seus avós, com quem antigamente se cruzava muitas vezes. Na aldeia, agora tomavam-no por louco por ele dizer que ainda havia linces na serra.


O Sr. Charrua, porém, era já muito velhinho e trabalhava cada vez menos as suas terras. Receava, por isso, que um dia não houvesse quem cuidasse dos “seus animais”, como ele próprio lhes chamava. Só o caçador Cartucho, por conhecer de trás para a frente todas as pedras da serra, também sabia da existência do Manchas.

- Ó Cartucho… mas tu sabes tão bem quanto eu que os linces são importantes para a nossa serra. Porque é que não me ajudas a protegê-los? – perguntava o velho agricultor. - Ora… sabes bem que também gosto muito dos linces, mas existe muita gente por aqui que acha que protegê-los é uma maluquice… por isso prefiro não falar de linces! - Pois… lá nisso tens razão. Mas sabes... acho que cada vez há mais gente que quer ver os linces de novo por aqui! – concluía o agricultor. E assim estes dois velhos amigos partilhavam um segredo, para proteger os poucos linces que ainda viviam naquela serra.


Entretanto… e depois de muito calcorrear a serra à procura de abrigo e de comida, o Manchas depressa compreendeu que aquele sítio tinha deixado de ser bom para ele. Viu que em muitos sítios os seres humanos tinham cortado grandes áreas de bosque que lhe servia de abrigo, soube que sem querer tinham atropelado mais um dos seus primos (desta vez tinha sido o primo Iberino) e percebeu que cada vez tinha menos coelhos para comer.

Do outro lado da serra, o agora imponente Bui também atravessava alguns problemas. Não conseguia encontrar uma árvore alta e sossegada para construir o seu ninho e cada vez via menos animais mortos para comer. Já nem os coelhos, outrora tão abundantes, ele encontrava. Ouviu ele dizer, pelo sabido Bufo Bufino, que agora o homem já não podia deixar no campo as ovelhas, cabras e vacas que morriam. Diziam que era perigoso porque podiam ter doenças e por isso tinham que os levar para um local próprio. O Bui não percebia que mal fazia os animais ficarem no campo; afinal de contas era a sua comida, e ele e os amigos limpavam tudo num instantinho, impedindo por isso que as doenças se espalhassem e que outros animais fossem contagiados ou morressem.


Para além de ter pouca comida, o jovem Bui começou também a aperceber-se que, por vezes, no campo os animais mortos estavam envenenados. Disse-lhe a Raposa Matreira para ele ter cuidado pois na serra vivia o Sr. Tó Xico, que não gostava de animais silvestres na sua quinta e que por isso andava a colocar veneno no pouco alimento que sobrava no campo para o Bui e para os seus amigos.

Quase em simultâneo, o Manchas e o Bui perceberam que era cada vez mais difícil viver naquela serra onde tinham sido já tão felizes.

De facto, por causa de pessoas como o Sr. Tó Xico, nos últimos anos vários animais, incluindo vários grifos e abutres amigos do Bui, tinham morrido ao comerem carcaças envenenadas.

Decidiram então partir numa jornada em busca de um melhor lugar para viver...

Afinal as árvores e os matos eram cada vez menos, não havia muita comida, e ainda havia pessoas como o Sr. Tó Xico que lhes punham a vida em risco.


Contudo, a verdade é que havia muita gente na aldeia com saudades de todos os animais que antigamente se viam com frequência e que agora estavam a desaparecer. Os agricultores eram os que mais sentiam a falta dos abutres, eles apreciavam a sua presença pois os abutres comiam o gado morto e deixavam o campo limpo e sem doenças! - Se conheço os abutres? Não conheço eu outra coisa!! Eram bichos que antes se viam muito por aí… Antigamente sabíamos se havia alguma ovelha morta, mal se viam abutres a voar nas redondezas. Eram o nosso alarme… Eh, Eh! Quanto ao lince, embora muitos não o saibam, o facto de existirem muito menos do que antigamente faz com que, no seu lugar, existam mais raposas e sacarrabos, que por sua vez, todos juntos comem mais coelhos. Alguns caçadores da serra, como o Sr. Cartucho, sabem bem disso e por essa razão também sentem falta do Manchas.


Agora, anos depois dos nossos amigos terem nascido, não se sabe de nenhum parente do Manchas a viver nas nossas serras e os do Bui só cá vêm para tentar encontrar comida, porque cada vez há menos sossego para criar família e mais perigos à espreita. Mas nem tudo é mau, o Bufo Bufino disse-me que cada vez existem mais pessoas que querem ajudar os parentes do Manchas e do Bui. Alguns deles estão a fazer ninhos para abutres e tocas para linces e a explicar que o uso do veneno é perigoso. Também a Raposa Matreira me disse que vai existir um local próprio para os criadores de gado colocarem os animais mortos e onde os abutres poderão ir comer. Nem o coelho-bravo foi esquecido! Hoje em dia muitas pessoas, desde caçadores a biólogos, estão a trabalhar em vários sítios para que cada vez haja mais coelhos. Pouco a pouco vamos todos tentando que a Natureza de antigamente recupere, e que os parentes do Manchas e do Bui possam voltar a ser felizes nos nossos bosques.


Olá! Agora que já sabes a história do Manchas e do Bui, vamos ver o que aprendeste…

Este livro pertence a:


Assinala as 5 diferenças e ajuda-me a descobrir quem é o verdadeiro Manchas

1

Une os pontos e ajuda-me a descobrir o alimento preferido do Manchas.

Solução: coelho-bravo

2 Solução: cauda; padrão do pelo; barbas no focinho; pincéis nas orelhas; olho O verdadeiro Manchas é o número 2


Sabes dizer-me que outros animais vivem com o Manchas e o Bui? Descobre na sopa de letras o nome de 12 animais.

F H E G O R I L E M C H A E R C O E L H O G O I C L U T L I A O V P B R A I T M A P I S E E R A O F R A P O S A A R A T T A I D U P A P F D G O A N G E T O J O X I Q U D T R U I T A N D Z E J I E I S L A V E A D O A B U F O H M A P E R N T R E L A S G I R A F I O

Ajudas-me a descobrir o que come o Bui? Indica ao Bui com um traço onde está o alimento. Solução: javali; ovelha; coelho-bravo

U N O P A O L O N T R A

Solução: coellho; cobra; rato; perdiz; sapo; javali; veado; lontra; grifo; bufo; rela; raposa


Ajuda o Manchas a descobrir uma toca para se esconder e o Bui uma ĂĄrvore boa para fazer o ninho.

Pinta alguns dos animais que vivem na Paisagem Mediterrânica.


Queres desenhar o que estĂĄ escrito?

Lince-ibĂŠrico

Abutre-preto


PERSONAGENS DESTA HISTÓRIA: MEDRONHO RISONHO: o narrador

MANCHAS: o lince-ibérico

BUI: o abutre-preto

SR. CHARRUA: o agricultor amigo dos animais

FIGURANTES: Lince Pardina Pais do Bui

CARTUCHO: o caçador

Primo Iberino Coelho-bravo

BUFINO: o bufo, uma ave de rapina noturna

Ovelhas

MATREIRA: a raposa

TÓ-XICO: homem que coloca veneno para os animais

Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico


“Se conheço os abutres? Não conheço eu outra coisa!! Eram bichos que antes se viam muito por aí…”

“… mas tu sabes tão bem quanto eu que os linces são importantes para a nossa serra. Porque é que não me ajudas a protegê-los?”

Beneficiário Coordenador:

Beneficiários Associados:

Este projecto está integrado no Programa Lince da LPN/FFI que conta com o Apoio do BES

Beneficiário Associado e Co-financiador:

Co-financiadores:

Projecto co-financiado a 75% pelo Programa LIFE-Natureza da Comissão Europeia


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.