Exponential Magazine - Nº 7 (fevereiro/2018)

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Black Mirror A SUPER ACLAMADA SÉRIE DE FICÇÃO CIENTÍFICA DISTÓPICA CHEGA À SUA QUARTA TEMPORADA COM NOVOS SEIS EPISÓDIOS.

OS EXTREMOS DA I.A. VINÍCIUS SOARES RESUME ARTIGO CIENTÍFICO QUE ANALISA OS FUTUROS OPOSTOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL.

O POSSÍVEL ADJACENTE DA BIOLOGIA AO UNIVERSO DA INOVAÇÃO: AS OPORTUNIDADES QUE SURGEM EXPONENCIALMENTE NA SUA VIDA SÃO PORTAS DE UM ENORME PALÁCIO.

Foto: Black Mirror S04E01: USS Callister

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INDEX

M AG A Z I N E

PÁG. 4 e 5 Foto: Black Mirror S04E02: Arkangel

A série que te faz filosofar com o travesseiro está de volta. Foto: Black Mirror S04E03: Crocodile

PÁG. 6 Como já estava previsto, 2018 começou com tudo! Essa edição da Exponential Magazine chega trazendo como matéria de capa um dos assuntos mais falados durante o mês de janeiro, que foi a recém estreada 4ª temporada de Black Mirror, o seriado que trouxe a ficção científica de volta às mesas de bar e conversas de elevador. E como esse foi um dos assuntos mais discutidos desde que os novos episódios da série foram disponibilizados pelo Netflix, nada mais sensato do que trazer o tema para as páginas da revista. Temos uma breve descrição de cada um dos seis episódios dessa nova temporada e também um quiz com perguntas feitas para testar se você realmente manja do assunto. Essa edição traz também um resumo bem direto ao ponto que Vinícius Soares escreveu em seu site, o AI News, falando sobre as oportunidades e as ameças do avanço da Inteligência Artificial. Outra matéria bem interessante dessa edição é a que o Bernardo de Azevedo e Souza escreveu sobre o tal do Possível Adjacente, que provoca uma interessante reflexão sobre os ambientes de inovação. Já a entrevista desse mês é com a sempre prestativa Sephora Lillian, uma das figuras mais frequentes em eventos e cursos sobre futurismo, empreeendedorismo e inovação que rolam pelo país. E ela é capaz de mostrar que tem bastante conhecimento a compartilhar. Não deixe de conferir! Boa leitura! ;) Bruno Seidel

Vinícius Soares traz a versão resumida do artigo que analisa os lados extremos da I.A. Foto: br.fotolia.com

PÁG. 7, 8 e 9 Conheça o Possível Adjacente, conceito tirado da biologia e que se aplica ao ambiente de inovação. Foto: br.fotolia.com

PÁG. 10 Entrevista com a empreendedora onipresente Sephora Lillian.

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Foto: Black Mirror S04E01: USS Callister

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ESPELHO DA DEPRESSÃO B lack Mirror já pode ser considerada uma das obras de ficção científica distópicas mais aclamadas do nosso tempo. Tanto é que já virou comum ler e ouvir por aí a frase "isso é muito Black Mirror" (aliás, normalmente quando alguém diz isso, coisa boa não é). Uma das principais características da produção é a desconexão entre os episódios. São sempre histórias diferentes, com personagens distintos e enredos que não se complementam. É como se, ao invés de 19 episódios, fossem 19 filmes. O principal elemento em comum entre todas essas histórias é a relação das pessoas com a tecnologia e os perigos de um futuro catastrófico. Tanto é que são raros os episódios com final feliz. As primeiras duas temporadas (os 7 primeiros episódios) foram exibidas na emissora Channel 4, no Reino Unido, entre 2011 e 2014. A partir de 2015, a série foi adquirida pela Netflix, que produziu e disponibilizou mais 12 episódios (2016 e 2017). A primeira temporada trazia temas relacionados a mídias sociais, sociedade do espetáculo e privacidade, como claramente foi visto em The National Anthem, Fifteen Million Merits e The Entire History of You. Já a segunda temporada trouxe pautas como transcendência (Be Right Back), impunidade (White Bear) e democracia (The Waldo Moment), além de um especial de natal reunindo pequenas histórias numa só (White Christmas). Na terceira temporada, tivemos Nosedive abordando o culto aos likes e a sociedades das aparências; Playtest abordou os perigos de uma inteligência artificial super avançada e a serviço dos games; Shut Up and Dance apresentou tensão e adrenalina do começo ao fim até culminar num final surpreendente; San Junipero traz a história de duas jovens nos anos 1980; Men Against Fire provoca uma cruel e perturbadora reflexão sobre o extermínio em situações de guerra e; por fim, o episódio Hated in the Nation, também conhecido como o das "abelhas assassinas". Agora, na quarta temporada, seis novas histórias chegam para tirar o sono dos fãs de ficção científica. E, como de costume, temos uma boa dose de tramas repletas de reviravoltas, melancolia, tragédias, tecnologias impressionantes, finais surpreendentes e distopia hardcore.

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USS Callister A novata Nanette Cole acorda em uma nave espacial onde a tripulação enaltece o esperto e corajoso Comandante Daly, que na vida real utiliza o DNA de seus colegas para simulá-los dentro do Infinity, um game multiplayer de uma realidade alternativa. Elenco: Jesse Plemons, Cristin Milioti, Jimmi Simpson e Michaela Coel. Dirigido por: Toby Haynes Escrito por: Charlie Brooker & William Bridges

Arkangel Depois de quase perder sua filha Sara, a superprotetora Marie investe em uma nova tecnologia que lhe permite vigiar e acompanhar a criança em tempo integral. Elenco: Rosemarie DeWitt, Brenna Harding e Owen Teague. Dirigido por: Jodie Foster Escrito por: Charlie Brooker


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Crocodile

Black Museum

A bem-sucedida arquiteta Mia Nolan esconde um passado assombroso capaz de fazê-la se livrar de qualquer pessoa que possa trazê-lo à tona. Elenco: Andrea Riseborough, Kiran Sonia Sawar e Andrew Gower. Dirigido por: John Hillcoat Escrito por: Charlie Brooker

A jovem Nish acaba parando em um museu administrado pelo excêntrico Dr. Rolo Haynes, que está cheio de artefatos e de histórias macabras. Elenco: Douglas Hodge e Letitia Wright. Dirigido por: Colm McCarthy Escrito por: Charlie Brooker & William Bridges

QUIZ BLACK MIRROR Sabe tudo sobre a série? Então vamos ver se você manja mesmo! 1 - Quem foi a primeira vítima da hashtag #DeathTo em “Hated in the Nation” (S03E06)? A) a jornalista Jo Powers B) o oficial Shaun Li C) o rapper Tusk D) Clara Meades

Hang the DJ Amy e Frank se conhecem através de um aplicativo de namoro que permite que os casais descubram quanto tempo seus relacionamentos vão durar. Dirigido por: Tim Van Patten Escrito por: Charlie Brooker

2 - Em “USS Callister”, qual objeto Daly utilizou para ter acesso ao DNA do filho de Walton? A) um ursinho de pelúcia B) um pirulito C) um fio de cabelo D) sangue 3 - O cão-robô assassino de “Metalhead” foi inspirado em um produto já existente de uma empresa da vida real. Qual? A) o Watson da IBM B) o robozinho JIBO C) o BigDog da Boston Dynamics D) o HAL9000 de 2001- A Space Odyssey 4 - Qual desses personagens possui a pior avaliação em “Nosedive" (S03E01)? A) Ryan, o irmão de Lacie B) Naomi, a “amiga noiva” C) Paul, o noivo de Naomi D) Susan, a caminhoneira

Neste episódio todo em preto-e-branco, a fugitiva Bella é perseguida por um cão-robô assassino após uma tentativa de furto. Elenco: Maxine Peake. Dirigido por: David Slade Escrito por: Charlie Brooker

OBS.: as avaliações dos episódios são resultado de uma enquete realziada com os membros dos grupos Exponentials.

5 - No episódio “The National Anthem” (S01E01), o que o criminoso faz com o dedo indicador de uma das mãos da princesa Susannah? A) corta fora e envia para a imprensa B) come C) quebra D) nada 6 - O episódio “Black Museum” foi inspirado em uma obra de Penn Jillette. Voce sabe qual? A) Hollywood Squares B) Penn & Teller Tell a Lie C) Celebrity Jeopardy D) Pain Addict Respostas: 1-A; 2-B; 3-C; 4-D; 5-D; 6-D.

Metalhead

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL UMA ERA DE ABUNDÂNCIA OU O FIM DA ESPÉCIE HUMANA por Vinicius Soares

Foto: br.fotolia.com

A edição número 17 da Revista Fonte (Prodemge) traz o artigo “Inteligência Artificial: Uma era de abundância ou o fim da espécie humana”, confira esse resumo escrito pelo Vinicius Soares no site ainews.com.br

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discussão em torno do potencial destrutivo de uma Inteligência Artificial tem sido recorrente nas grandes mídias e na comunidade científica. Através de uma revisão bibliográfica, este artigo aborda a dificuldade de ensinar às máquinas os valores humanos, explora exemplos de aplicações benéficas e maléficas e apresenta caminhos técnicos causadores e mitigadores de risco.

Discutem-se os possíveis impactos de uma Inteligência Artificial desalinhada dos valores humanos. Abordam-se os caminhos para o desenvolvimento seguro em Inteligência Artificial, nos aspectos técnicos e sociais, a fim de potencializar a Inteligência Artificial benéfica. Conclui-se não haver razões imediatas para alardes dado o atual estágio de desenvolvimento. As Inteligências Artificiais atuais e as previstas para o curto prazo apresentam, na verdade, grande potencial para melhorar a qualidade de vida humana. Mesmo não havendo risco iminente, conclui-se também que pesquisas profundas e duradouras se mostram necessárias para endereçar riscos que, no longo prazo, poderiam gerar significativos impactos negativos.

PDF: Inteligência Artificial: Uma era de abundância ou o fim da espécie humana. https://www.prodemge.gov.br/images/com_arismartbook/download/19/revista_17.pdf

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Matéria escrita por Vinicius Soares da Silveira para o site ainews.com.br Vinicius é Engenheiro de Telecomunicações pelo Instituto Nacional de Telecomunicações, Especialista em Marketing-MBA pela Fundação Getúlio Vargas e mestrando em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Itajubá.


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O POSSÍVEL ADJACENTE

por Bernardo de Azevedo e Souza

COMO UM CONCEITO EMPRESTADO DA BIOLOGIA PODERÁ TRANSFORMAR O MUNDO COMO O CONHECEMOS

Foto: br.fotolia.com

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origem da vida é um dos temas mais misteriosos, polêmicos e complexos de todos os tempos. Muitos estudiosos se dedicam a entender de que forma moléculas se tornaram organismos vivos ao longo dos séculos. Para alguns, a vida surgiu do espaço cósmico; para outros, ela se originou de vulcões submarinos. Apesar dos esforços, e mesmo com todas as teorias desenvolvidas, até o momento não temos um consenso científico em relação à origem da vida. O que sabemos é que a Terra, ainda “sem vida”, era dominada por moléculas básicas, como água, nitrogênio, hidrogênio e metano. Cada uma destas moléculas era capaz de uma série de transformações com outras moléculas na sopa primordial. Pense por um segundo em todas essas moléculas iniciais. Imagine agora todas as possíveis combinações (combinações de primeira ordem) que elas poderiam formar de modo espontâneo, colidindo umas com as outras. Centenas, milhares, milhões? Mesmo sem noções avançadas de química ou biologia, poderíamos supor que todas essas transformações seriam capazes de criar alguns elementos básicos da vida, mas não seriam capazes de criar todos os elementos.

Poderíamos até imaginar duas moléculas aleatórias se unindo e formando uma molécula de água. Contudo, não conseguiríamos imaginar que essa mesma combinação originasse, por exemplo, um girassol. Embora os elementos atômicos que constituem um girassol sejam os mesmos disponíveis nesta Terra primitiva, não seria possível criá-lo, porque ele se baseia em inovações subsequentes que levariam bilhões de anos para se desenvolver. O conjunto de todas estas combinações de primeira ordem – capazes de originar alguns elementos, mas não todos os elementos – é chamado pelo cientista e biólogo teórico Stuart Kauffman de o possível adjacente. O possível adjacente abrange todas as combinações diretamente alcançáveis na sopa primordial. O termo abarca todas as reações possíveis dentro daquele universo de moléculas – um número bastante amplo, mas, ao mesmo tempo, finito. A maioria das formas que hoje habitam a biosfera não poderiam ser criadas com aquelas combinações iniciais. Voltando ao exemplo do girassol, a planta poderia ser, sim, gerada, mas não naquele momento, não na junção daqueles elementos. Assim, poderíamos dizer que a criação de um girassol, ao menos naquela Terra primitiva, estava além dos limites do possível adjacente.

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O POSSÍVEL ADJACENTE NO CAMPO DAS INOVAÇÕES O escritor norte-americano Steven Johnson foi o verdadeiro responsável por transportar o interessante conceito de Kauffman para o campo das inovações, no best-seller Where Good Ideas Come From (2011). Ao estudar o conceito, Johnson percebeu que o possível adjacente é um padrão importante que reaparece ao longo de toda a evolução da vida. Para ele, a trajetória da evolução pode ser descrita como uma exploração contínua do possível adjacente.

Segundo o autor, o possível adjacente é como se fosse um mapa de todas as maneiras pelas quais o presente pode se reinventar. A qualquer momento o mundo é capaz de mudanças extraordinárias, mas apenas certas mudanças podem acontecer. O possível adjacente explica porque muitas inovações tecnológicas fracassaram ao longo da história. No livro, Steven Johnson traz dois casos interessantes da história das inovações, nos mostrando que muitas vezes uma ideia pode ser excelente, mas o momento em que foi desenvolvida não era o adequado.

CHARLES BABBAGE E A MÁQUINA ANALÍTICA O inventor inglês Charles Babbage (1791–1871) é considerado, pela maioria dos historiadores da tecnologia, como o pai da computação moderna. A titulação se deve porque, durante os últimos trintas anos de sua vida, Babbage idealizou aquele que viria a ser o projeto mais brilhante de sua carreira: a máquina analítica. A máquina analítica foi o primeiro computador programável do mundo, pelo menos no papel. Como todos os computadores modernos, era capaz de se adaptar e se reinventar com base nas instruções evocadas por sua programação. Apesar do brilhantismo de Babbage, cujas ideias poderiam transformar o mundo na época, a máquina jamais chegou a ser concluída em vida. A curto prazo, se tornou um beco sem saída e, consequentemente, acabou desaparecendo do mapa.

Mas por que exatamente isso ocorreu? Para Johnson, uma maneira elegante de responder é porque as ideias de Babbage escapavam dos limites do possível adjacente. O i nve n t o r s i m p l e s m e n t e n ã o d i s p u n h a d a s p e ç a s sobressalentes certas na época. Mesmo que Babbage tivesse construído uma máquina segundo suas próprias especificações técnicas, e recebesse aporte financeiro para apoiar o desenvolvimento, não havia garantia de que o equipamento funcionaria. Na verdade, ele tinha esboçado uma máquina para a era eletrônica quando a evolução mecânica movida a pavor ainda estava em curso. Em síntese, a ideia estava certa, mas o ambiente ainda não estava pronto para ela. O mesmo não se pode dizer de outra iniciativa dois séculos depois.

E SE O YOUTUBE TIVESSE SIDO FUNDADO EM 1995? O YouTube foi fundado em fevereiro de 2005 por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, três ex-funcionários do site de pagamento online PayPal. O sucesso foi tamanho que, 16 meses após a fundação, o serviço transmitia mais de 30 milhões de vídeos por dia. Dentro de dois anos, já era um dos dez sites mais visitados da web. A iniciativa dos jovens transformou por completo o modo como a informação em vídeo era compartilhada online. De uma startup financiada com os cartões de crédito pessoais de Hurley, o YouTube passou a valer US$ 1,65 bilhão. O Google viu uma oportunidade única e adquiriu a empresa em 2006. Hoje, o YouTube está avaliado em mais de 70 bilhões de dólares, figura entre os três sites mais acessados da web e é visitado por mais de 22 bilhões de pessoas todos os meses. O intessante na história do YouTube é que, segundo Steven Johnson, se Hurley, Chen e Karim tivessem colocado a ideia da startup em prática dez anos antes, em 1995, o projeto provavelmente teria sido um grande fracasso.

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Primeiro, porque a maioria dos usuários possuía conexões discadas lentas, que podiam levar minutos para fazer o download de uma imagem pequena. O download de um clipe médio do YouTube, com dois minutos de duração, levaria nada menos que uma hora para os modens de 14,4bps comuns na época. Segundo, porque a plataforma Flash da Adobe já existia. Com isso, os fundadores puderam basear o serviço de vídeos na plataforma e se concentrar apenas na facilitação do compartilhamento e discussão dos clipes, sem precisar gastar milhões de dólares para desenvolver todo um novo padrão de vídeo a partir do zero. (O detalhe é que o próprio Flash só foi lançado no final de 1996, e nem suportava vídeos até 2002). Em outras palavras, nos primórdios da Internet um site para compartilhamento de vídeos, como o YouTube, estava além dos limites do possível adjacente. Mas, com o a p r i m o ra m e n t o d a ve l o c i d a d e d e c o n e x ã o e o desenvolvimento da plataforma Flash, os jovens Hurley, Chen e Karim conseguiram tornar a empresa um sucesso. A ideia estava certa e o ambiente estava pronto para ela.


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O AMBIENTE DE HOJE ESTARÁ PRONTO PARA NOVAS IDEIAS? A boa notícia trazida por Steven Johnson é que os limites do possível adjacente estão se ampliando cada vez mais. Estamos vivendo uma época hiperacelerada, em que inovações tecnológicas estão surgindo em intervalos cada vez menores.

Cada descoberta está originando novos caminhos a serem explorados e criando novos limites no possível adjacente. É como se estivéssemos em uma grande casa, que se expande a cada porta aberta:

Você começa numa sala com quatro portas, cada uma levando a uma nova sala que você ainda não visitou. Essas quatro salas são o possível adjacente.

Mas depois que você abre uma dessas portas...

...e entra na próxima sala, três novas portas aparecem, cada uma levando a outra sala nova em folha que você não poderia ter chegado a partir de seu ponto de partida original.

Continue abrindo portas, e por fim terá construído um palácio.

A história do progresso cultural costuma ser a história de uma porta que leva a outra, permitindo a exploração de uma sala do palácio de cada vez. A abertura de cada nova porta pode conduzir a uma descoberta científica capaz de transformar o mundo. Às vezes, alguém consegue ter uma ideia que nos transporta para certas salas adiante, saltando passos extraordinários no possível adjacente. Por isso, é importante descobrir maneiras de explorar todas as possibilidades ao nosso redor.

Ambientes inovadores estão surgindo em todos os cantos do globo, estimulando novos modos de recombinar as peças sobressalentes e ajudando inúmeras pessoas a explorar o possível adjacente. Há um sem-número de caminhos abertos a cada nova ideia. Todos nós podemos liberar o possível adjacente e ajudar a humanidade a atingir todo o seu potencial. Então, vamos construir – juntos – nossos próprios palácios?

Matéria escrita por Bernardo de Azevedo e Souza empreendedor, advogado, escritor, pesquisador e entusiasta do futurismo. Fundador do site Futuro Exponencial (futuroexponencial.com)

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ENTREVISTA com Sephora Lillian apaixonada por inovação e perita em conectar pessoas.

1 - Como você diferencia um "talker" de alguém que "vai lá e faz"? SL - Existe uma grande diferença entre os dois apesar de que um complementa o outro. Trocar ideias e experiências é fundamental para qualquer processo criativo, mas uma hora tem que sair no papel e do blá-blá-blá e dar a cara à tapa para colocar o carro para andar sem medo de ser feliz ou fracassar. Aliás, errar é fundamen-tal para a melhoria constante. Eu sempre digo que a s boas ideias são as mais simples e fáceis de executar. E a pessoa que gosta do “vai lá e faz” não tem medo de tentar. Penso que tudo pode ser treinado e aprendido. Claro que algumas pessoas possuem mais facilidade que as outras, mas ser apenas “talker” não é legal. Sempre fica a sensação de que está faltando algo. 2 - Você convive direto com pessoas e iniciativas envolvendo o Governo. O que acha que o futuro reserva para essa turma? SL - Um futuro bem promissor. Pelo menos com a turma que convivo, vejo nos olhos delas a vontade de mudar e trazer impacto positivo para o ambiente governamental. É um grande desafio, no qual temos que trabalhar como pequenas células para contaminar aos poucos os mais incrédulos e acomodados. O Governo precisa se conectar à nova economia e esse trabalho começa com a mudança de mindset dos servidores. Esse processo não é fácil dentro do sistema que temos no Brasil. Não adianta sair do mindset focado em ações individuais para algo mais colaborativo, digital e exponencial, se você continua operando no mindset de escassez e da competição. Aliás, Oswi (Oswaldo de Oliveira) sempre rachava a minha cabeça com essa discussão.

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ephora trabalha no Banco do Brasil na área de Analytcs de meios de pagamentos, mas segue com seu espírito empreendedor mais forte do que nunca. É uma das iniciadoras da comunidade de inovação ETO! no Banco do Brasil e do evento iGOVnights, cujas edições falam sobre inovação governamental.

3 - Você acha que o Brasil pode ter um papel decisivo e histórico na construção do futuro? SL - Com certeza. No Brasil, temos de sobra criatividade, colaboração e coragem. Sabemos arriscar e somos especialistas em Plano B. Não deu certo uma vez, sempre existe uma outra solução. Estamos na Era da Colaboração e a vontade das pessoas de se reunírem para inovar está crescendo a cada dia. Vejo como as pessoas são contagiadas quando vão aos nossos encontros no iGOVnights. Todo mundo que vai uma vez, quer voltar, seja para contar sua história, seja para contribuir com o outro colega. 4 - O governo do PT implementou o Bolsa Família e propôs iniciativas que hoje confundem-se com a Renda Básica Universal (UBI). Na sua opinião, essa correlação existe? SL - Não creio que o PT veja o Bolsa Família como um protótipo da Renda Básica Universal (UBI). A classe política brasileira ainda está muito distante do debate sobre temas importantes como o futuro do trabalho e o UBI. O debate da reforma da previdência prova isso. Em momento algum, vi os nossos congressistas falarem sobre as profissões que deixarão de existir e a novas que surgirão em um futuro próximo e como será a relação da Previdência com esses cenários. Como discutir aposentadoria sem incluir o debate sobre o futuro do trabalho. O Brasil precisa melhorar muito nesse aspecto, pois esses temas precisam entrar na agenda política e a Renda Básica Universal é uma parte importante desse debate. 5 - Você acredita na "Democracia Direta", em que as próprias pessoas decidem as coisas no lugar de políticos eleitos? SL - Acredito sim. Esse é um processo sem volta e os políticos precisam acordar para isso. O protagonismo, cada vez mais, sairá da classe política. O empoderamento da sociedade é irreversível, mesmo o cidadão não tendo o conhecimento técnico para decidir sobre um determinado assunto.

6 - Como você vê a "moda das criptomoedas" e do blockchain. O que isso pode provocar na esfera pública num futuro próximo? SL - No momento não tenho conhecimento profundo para falar sobre criptomoedas e blockchain, mas tenho visto muitas iniciativas sensacionais que podem ajudar o Governo com a utilização dessas tecnologias. Não vejo o blockchain apenas como uma moda. Acredito que veio para ficar e acelerar processos mais transparentes e democráticos. São inovações disruptivas, como as criptomoedas, que estão ficando cada vez mais comuns no nosso dia a dia. A rastreabilidade que o blockchain oferece m u d a t o t a l m e n t e a n o s s a c u l t u ra d e passividade em relação ao destino que é dado ao nosso dinheiro. Gosto muito de explorar essa parte.

7 - Quais iniciativas hoje merecem uma atenção especial e que devem dar muito o que falar nos próximos meses? SL - Empoderamento feminino; a diversidade de gênero, moedas virtuais e sua regulamentação, realidade aumentada/virtual e suas aplicações em diversos setores – como saúde e educação; mobilidade urbana; Data Science e Inteligência Artificial. Só nessa lista, temos assuntos para anos e anos! Me sinto privilegiada, pois se Deus quiser estarei viva para assistir a maior transformação de todos os tempos, quando ocorrer a virada de chave por meio da Singularidade. Hoje só tenho a agradecer os ensinamentos e conhecimentos de todos que passaram pela minha vida nesses últimos anos. Estou aprendendo sem medo de errar e sei que tem muita gente fera para conhecer ainda. Sempre digo que sou filhote e acredito muito no poder da rede.

Foto: br.fotolia.com


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PERDEU ALGUMA COISA? Relaxa que tudo de importante fica registrado na nossa pasta compartilhada no Google Drive. Lá você encontra de tudo, inclusive o acervo de todas as nossas ATAs diárias repletas de informações.

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NA EDIÇÃO ANTERIOR A edição Nº 6 da Exponential Magazine foi para fechar em grande estilo o ano de 2017. Tivemos uma retrospectiva resgatando o que aconteceu de mais marcante em cada um dos 12 meses do ano que passou. Também tivemos os resultados dos vencedores do Exponential Awards, que foram eleitos pela própria galera. Quem também deu um show à parte foi o nosso amigo Gust, que escreveu um texto super inspirador e que tem tudo a ver com o espírito do nosso tempo.

QUER ESCREVER PARA A EXPONENTIAL MAGAZINE? Curte escrever sobre futurismo e assuntos derivados? Gostaria de usar esse espaço para apresentar seu projeto ou divulgar algo bacana? Então chega mais! Esse espaço nasceu para ser colaborativo. Quanto mais cabeças pensando em rede, mais exponencial será o conhecimento! :)

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FR A TA L O N L I N E N OVO S P R O TAG O N I S TA S DA COMUNICAÇÃO

INCRIÇÕES ATÉ 2/3 INÍCIO DO CURSO: 30/1

perestroika.com.br/cursos/mir/fractal-online


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