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ENTREVISTA ESPECIAL
CAMANÉ «SOU CANTOR PORQUE SOU FADISTA»
Descobriu o Fado aos 7 anos, em casa, com os discos dos pais. Aos 18, deu o “pontapé de saída” na sua carreira. Aos 54, é um dos fadistas mais carismáticos da sua geração. Camané confessa que o Prémio BLITZ para Melhor Voz Masculina Nacional teve um gosto especial, por ter quebrado preconceitos.
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Revista H - Quando “descobriu” a música e o fado na sua vida? Camané (C) - Tinha 7 anos e fiquei doente em casa, onde tinha muitos discos que ouvia compulsivamente, e onde também se encontravam discos de Fado. Ouvia e ficava encantado. Foi assim que “descobri” o Fado. H – Com apenas 11 anos participou, pela primeira vez, na Grande Noite do Fado, numa altura em que não havia competição em separado para os mais novos. Como recorda esta experiência? C - Foi uma ideia de um amigo do meu pai, nem me passava pela cabeça o que era um concurso. Entusiasmou-me a ideia de ir cantar
um Fado, um tradicional. Recordo que estava cheio de medo. Tenho na memória os bastidores onde estavam os cantores que ouvia e que só via na televisão, como o Carlos do Carmo. A sensação de palco também foi de algum medo no início, com as pernas a tremer, mas depois tudo bem. H – Dois anos depois, em 1979, alcança a vitória e é convidado a gravar um LP produzido pelo mestre António Chainho. Este foi o “pontapé de saída” da sua carreira? C – Não, nessa altura era muito miúdo e não tinha essa ambição. Foi antes um momento de aprendizagem com os grandes do Fado, aprender a cantar e a dividir as frases. Passado pouco tempo até parei de cantar e só decidi voltar ao Fado com 18 anos. Ficou a aprendizagem e beber do conhecimento dos mais velhos. H – O que recorda dos tempos da “rota” das Casas de Fados? C – Recordo que o Fado é uma tradição oral e as Casas de Fado foram a minha escola, onde me cruzei com músicos e fadistas que me ajudaram nessa evolução e aprendia muito a ouvi-los. Era um miúdo, e até me tratavam por “menino”. Foi aí que tive a sorte de me cruzar com todos esses grandes nomes. Com eles fui aprendendo e fui-me criando. Sempre senti abertura para arriscar e fazer experiências dentro do Fado. H – A sua forma de cantar, ao dia de hoje, não se esgota no Fado, mas este está muito presente pela emoção e vida que confere às suas músicas. Onde se enquadra? C – A minha forma de cantar só vem do Fado e tudo o que aprendi foi do Fado, sou Fadista e só sou cantor porque sou fadista. H – Venceu uma série de prémios ao longo da sua carreira. Há algum que o tenha marcado de forma particular? C – Todos são importantes, mas há um que me marcou: ter ganho o prémio BLITZ. Porque o Fado, na altura, não era bem aceite e ninguém aceitava o caminho no Fado. Este prémio foi importante, não pelo prémio em si, mas pelas barreiras que queria ultrapassar na altura. H – A cultura, em tempo de pandemia, tem sido renegada para 2º plano. O que acha que pode ser feito para a reabilitar? C – Continuar o trabalho e ter a capacidade de esperar. Aguentar estes tempos mais difíceis e tentar tirar algo de bom, como criar coisas novas para chegar a pessoas de novas formas. E confiem sempre na cultura. Sempre em segurança e com todas as medidas necessárias. Depois, ir evoluindo ao poucos. H – Que projetos tem atualmente? E em carteira? C – Neste momento, estou a trabalhar num disco novo com os meus músicos, num processo lento, porque não podemos estar juntos. Mas estou a trabalhar para, quando conseguirmos reunir-nos, podermos evoluir para o disco. H – A Saúde é uma preocupação para si? Em que medida? C – Na medida em que gosto de me sentir bem física e psicologicamente. Gosto de me sentir saudável. A saúde é o mais importante para nos mantermos bem, connosco e com os outros. H – Reflete essa preocupação no seu dia a dia? O que faz para ser “mais saudável”? C – Procuro alimentar-me bem, fazer algum desporto (agora menos do que antes), mas tento sempre dar longas caminhadas ou ir correr. Mesmo quando estou fora, em trabalho, tento sempre manter-me saudável e bem fisicamente. H – Que relação tem com a farmácia e com os farmacêuticos? C – Tenho uma relação ótima com a farmácia perto de minha casa. Vou mais pelo meu filho, para comprar leite e coisas para o bebé, mas também para mim. Há coisas que gosto de comprar na farmácia para me manter saudável. H – Têm algum hobby? C – Caminhar e ouvir música. H – O que é que a faz feliz? C – Estar com o meu filho e a minha família. H – O que é que a tira do sério? C – Racismo.
CAMANÉ
Nome: Camané Idade: 54 anos Onde nasceu: Oeiras Um filme: “Era uma vez na América” Um livro: “As vinhas da ira” Música: “Les Feuilles Mortes” Viagem: Califórnia de carro Comida preferida: Cozido à portuguesa