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AO SERVIÇO DA COMUNIDADE
COMBATER A OBESIDADE INFA NTIL «À DENTADA» APCOI
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Há dez anos que estão no terreno, junto dos jovens estudantes, a ensinar-lhes hábitos alimentares mais saudáveis. Para Mário Silva, presidente da APCOI, o próximo desafio é convencer a indústria a adotar um sistema gráfico universal para os produtos alimentares embalados, de fácil leitura para todos.
A história da Associação Portuguesa contra a Obesidade Infantil (APCOI) nasceu de uma espécie de epifania. Há cerca de 10 anos, Mário Silva estava na fila do supermercado e à sua frente encontrava-se uma criança claramente obesa a tentar convencer a mãe a comprar-lhe um pacote de batatas fritas que prometia um brinde no seu interior. A mãe tentava contra-argumentar, mas acabou por não resistir à pressão do filho e fez-lhe a vontade: comprou o snack. «Nesse dia tomei a decisão de me despedir da agência de marketing infantil onde trabalhava e onde tinha sido responsável pelo desenvolvimento daquela campanha de promoção».
Daí até fundar a APCOI foi um pequeno passo, conta Mário Silva. «O que me move, e a todos aqueles que se juntaram a esta luta, é defender o direito universal de todas as crianças à saúde, capacitando-as para combater as diversas causas desta doença», explica.
PROGRAMA PIO NEI RO E INOVA DOR
Com os objetivos bem definidos, em 2011, a APCOI implementa o programa escolar de reeducação alimentar - «Heróis da Fruta – Lanche Escolar Saudável». Desde então, e até aos dias de hoje, o projeto conseguiu melhorar os hábitos alimentares de mais de 350 mil alunos de todas as regiões do país, sendo atualmente «considerada a maior iniciativa escolar gratuita de reeducação alimentar a nível nacional», indica o responsável. Desenhado por uma equipa multidisciplinar que inclui especialistas em saúde e educação infantil, a eficácia do programa é validada continuamente por investigadores do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e surpreende com os seus resultados: «No ano letivo 2018- 2019, por exemplo, verificou-se um aumento da ingestão de frutas e legumes em 41,9% das crianças participantes e uma melhoria significativa no estado nutricional», constata Mário Silva.
NÚMEROS DIMINUEM, MAS NÃO O SUFI CIE NTE
Dados divulgados pelo COSI Portugal - Sistema de Vigilância Nutricional Infantil, integrado no estudo da OMS/Europa, e coordenado em Portugal pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), revelam que, na última década, se tem verificado uma consistente redução da prevalência do excesso de peso e de obesidade infantil em Portugal. De 2008 a 2019, os dados portugueses revelam que a prevalência de excesso de peso infantil diminuiu 8,3% (37,9 para 29,6%). Os números da obesidade também caíram 3,3 pontos percentuais (15,3 para 12%), mas subiram, em comparação com 2016. No entanto, este decréscimo não tranquiliza a APCOI que assume como um dos seus objetivos facilitar o acesso a informação proveniente de fontes credíveis, com as melhores evidências e recomendações científicas de especialistas nacionais e internacionais. Por essa razão, o presidente da associação assegura que vão continuar «a investir na atualização de materiais educativos e em novas campanhas de sensibilização focadas na luta contra a má nutrição, contra o sedentarismo e contra a discriminação».
META GLO BAL : ZERO
Perante o elevado número de crianças com excesso de peso em Portugal, o presidente da APCOI assume que a sua tarefa só estará terminada quando, em todo o mundo, se fizerem esforços para alcançar a meta global de «zero por cento de aumento». Um resultado que a OMS espera alcançar até 2025. Para que isso aconteça, será necessário, de acordo com o dirigente, que todos os países do mundo reconheçam a obesidade como doença crónica e apostem acima de tudo na prevenção. Neste sentido, a APCOI defende a adoção de um sistema gráfico universal para todos os produtos alimentares embalados, que facilite a literacia e capacitação das crianças e das famílias para a leitura de rótulos. «Não é necessário inventar a roda, apenas copiar boas práticas baseadas em evidências científicas de países como o Peru ou o Chile, onde a utilização de selos obrigatórios de advertência para produtos com excesso de sal, açúcar e gordura, conseguiu diminuir consistentemente em mais de 35% o consumo destes produtos em menos de um ano», conclui.