Telhados verdes - Uma abordagem multidisciplinar

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Nora Alejandra Patricia Rebollar (organizadora)

Telhados Verdes uma abordagem multidisciplinar

1ª edição

LEDIX (Livraria Editora Xavier) Florianópolis – Santa Catarina 2017


Nora Alejandra Patricia Rebollar (organizadora)

Telhados Verdes uma abordagem multidisciplinar © Nora Alejandra Patricia Rebollar Editoração gráfica e arte final: Marcos Roberto Rosa (marcosrrosa@gmail.com) Capa: Gabriella Kurtz Oliveira (gabriella.oliveira@unigranrio.edu.br) Supervisão: Larisa Hemkemeier Webber de Mello (larisa.mello@unigranrio.com.br) Organizadora: Nora Alejandra Patricia Rebollar (nora.rebollar@unigranrio.edu.br)

REBOLLAR, Nora Alejandra Patricia et al (Org.). Telhados Verdes: uma abordagem multidisciplinar. Florianópolis: Ledix, 2017. Supervisão de: Larisa Hemkemeier Webber de Mello. 1. Arquitetura, 2. Construções, 3. Telhados Verdes. I. Título

ISBN: 978-85-86251-56-6

CDD 720

Proibida a reprodução total ou parcial (exceto a última, com citação expressa da fonte), sob qualquer forma, meio eletrônico, mecânico ou processo xerográfico, fotocópia e gravação, sem permissão do Editor (Leis nº 5.988/1973, 9.610/1998 e 12.853/2013.). Reservados os direitos de propriedade desta edição pela Livraria Editora Xavier (LEDIX), Av. Atlântica, 409 – Fone (48) 32401642 – Florianópolis, SC – 88095-700 (editoraledix@gmail.com)


PREFÁCIO ................................................................................................... 9 SOBRE OS AUTORES ................................................................................ 11 EMANUELE TELES OURIQUES DE MELLO .................................. 11 GABRIELLA KURTZ OLIVEIRA ....................................................... 12 NORA ALEJANDRA PATRICIA REBOLLAR .................................... 13 PAOLA BEATRIZ MAY REBOLLAR .................................................. 14 VICTOR BARBOSA DO CARMO....................................................... 15 APRESENTAÇÃO ....................................................................................... 16 A HISTÓRIA DOS TELHADOS VERDES .................................................. 17 INTRODUÇÃO ................................................................................... 17 LINHA DO TEMPO ........................................................................... 20 PRÉ-HISTÓRIA .................................................................................. 22 IDADE ANTIGA ................................................................................. 24 IDADE MÉDIA ................................................................................... 32 IDADE MODERNA E CONTEMPORÂNEA ...................................... 35 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 42 REFERÊNCIAS .................................................................................. 42 ESTADO DA ARTE DOS TELHADOS VERDES ....................................... 45 CIDADE DO MÉXICO AS PESSOAS QUE ADOTAM ESTA INICIATIVA RECEBEM 10% DE DESCONTO NO IMPOSTO. ....... 52 MADRID CAPITAL ESPANHOLA LANÇA PROJETO MADRID + NATURAL ........................................................................................... 53 SUIÇA INAUGURA 100 ANOS DE TELHADO VERDE ................... 54 TELHADOS VERDES COMO FORMA DE RECUPERAÇÃO DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAIS ................................... 56


OS BENEFÍCIOS QUE OS TELHADOS VERDES PODEM TRAZER PARA AS CIDADES............................................................................ 60 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................... 64 COMO FAZER UM TELHADO VERDE .................................................... 66 INTRODUÇÃO ................................................................................... 66 CAMADA IMPERMEABILIZANTE .................................................... 71 CAMADA DRENANTE ....................................................................... 71 CAMADA FILTRANTE ....................................................................... 72 CAMADA DE SOLO ........................................................................... 73 CAMADA DE PLANTAS..................................................................... 76 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................ 84 VANTAGENS DOS TELHADOS VERDES QUANTO A ACÚSTICA E CONFORTO TÉRMICO ............................................................................. 87 CONFORTO TÉRMICO ..................................................................... 88 Telhados verdes como solução para ilhas de calor....................... 91 Telhados verdes para o conforto dos usuários.............................. 97 CONFORTO ACÚSTICO ................................................................. 100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................. 105 CONSIDERAÇÕES ESTRUTURAIS PARA O DIMENSIONAMENTO DE TELHADOS VERDES ............................................................................... 109 ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DO SISTEMA DE TELHADOS VERDES ............................................................................................ 109 INDICAÇÕES QUANTO À INCLINAÇÃO A SER ADOTADA EM UM SISTEMA DE TELHADOS VERDES ................................................ 114 IMPERMEABILIZAÇÃO DA COBERTURA PARA ASSENTAMENTO DOS ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DO SISTEMA DE TELHADOS VERDES ............................................................................................ 116 CONCEPÇÃO ESTRUTURAL DO SISTEMA DE TELHADOS VERDES ............................................................................................ 117


CONSIDERAÇÕES RELEVANTES NA CONSTRUÇÃO OU READEQUAÇÃO DAS ESTRUTURAS A SEREM UTILIZADAS NOS SISTEMAS DE TELHADOS VERDES.............................................. 122 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................ 123


Dedicamos este livro aos moradores do município de Palhoça com a intenção de apresentá-los e conscientizálos de como é importante a utilização dos telhados verdes e de como pode melhorar a sua qualidade de vida e a paisagem da cidade que habitam. Aos nossos e futuros alunos apresentando-lhes uma opção de aperfeiçoamento dentre o leque de possibilidades que a profissão, que almejam, possui. A todos que buscam conhecimento visando a melhoria na qualidade de vida do nosso Planeta.


PREFÁCIO Uma das premissas de trabalho da Faculdade de Tecnologia Nova Palhoça (Fatenp) é atuar no entorno, com dois objetivos básicos, que estão entrelaçados: utilizar a realidade local como aporte de conhecimento para os alunos e, ao ir além da sala de aula, ser uma instituição de ensino que participa ativamente do processo de transformação dessa realidade local. Entre os diferentes temas que trazem impacto ao nosso redor, os estudos ligados ao meio ambiente e à sustentabilidade em centros urbanos estão entre aqueles que tenho maior apreço, pela importância que têm na busca da qualidade de vida e no desenvolvimento futuro. Há

algum

tempo,

solicitei

a

Nora

Alejandra

Rebollar,

coordenadora do curso de Design de Interiores da Fatenp, a formação de um grupo de pesquisa multidisciplinar para trabalhar com as necessidades de Palhoça, onde a Fatenp está inserida. O município tem muitas peculiaridades, talvez a principal delas o fato de ser cortado pela BR-101, sofrendo com essa divisão de contexto, com dois lados diferentes entre si. Este livro é o primeiro resultado do trabalho inicial realizado pelo grupo e que terá vários desdobramentos. Após o levantamento sobre as vantagens dos telhados verdes no espaço urbano, o grupo seguirá com uma pesquisa de campo. A intenção é detectar no município onde existe a necessidade

de

implantação

destas

soluções

ambientais

e

de

sustentabilidade, melhorando assim o microclima, a qualidade do ar e a paisagem urbana.


Na sequência, outros trabalhos que terão impacto no espaço urbano serão apresentados, também em formato de e-book, facilitando o acesso da comunidade e ajudando o poder público com o aporte teórico e prático necessário para projetos que tornem a cidade um lugar de paisagens harmônicas e com soluções voltadas à sustentabilidade.

Larisa Hemkemeier Webber de Mello Diretora executiva da Fatenp


SOBRE OS AUTORES EMANUELE TELES OURIQUES DE MELLO Graduada e mestre em Engenharia Civil com doutorado em Engenharia

de

Produção.

Estive

vinculada

ao

Laboratório

de

Fotogrametria, Sensoriamento e Geoprocessamento da UFSC onde estive desde 1998, quando iniciei meu trabalho de conclusão de curso até o ano de 2009. Durante este período, além das atividades acadêmicas, escrevi artigos, realizei trabalhos técnicos, participei de comissões organizadoras dos congressos técnicos nacionais de médio e grande porte e participei da gestão de projetos com várias instituições, dentre elas: Itaipu Binacional, FINEP, Ministério das Cidades, etc. Fiz parte de todos os níveis hierárquicos, tendo como última ocupação, bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial nível de Doutor, financiada pelo CNPq. Em 2009, ingressei na empresa Foz do Chapecó Energia S.A. (UHE Foz do Chapecó), onde trabalhei até dezembro de 2013 no escritório matriz no desenvolvimento e gerenciamento dos projetos da área de Meio Ambiente em todas as suas etapas, desde a concepção, contratação, execução e, finalmente, conclusão. Posteriormente, fui promovida para o cargo de Coordenadora

de Projetos

acumulando

a

responsabilidade

pela

implantação do Sistema de Gestão Integrada englobando as áreas de Qualidade, Meio Ambiente e Segurança e Saúde Ocupacional. Era também minha atribuição o relacionamento institucional com os acionistas, os órgãos licenciadores e regulatórios (clientes), além do gerenciamento do Programa ANEEL de Pesquisa & Desenvolvimento da empresa. Sempre


mantive um excelente relacionamento com toda a equipe, pois considero esta característica juntamente com a disponibilidade para viagens, adaptabilidade e capacidade de liderança imprescindíveis para o desenvolvimento de minhas atividades, visando sempre associar minhas experiências às experiências da instituição, a fim de gerar resultados. Para que eu pudesse realizar minhas tarefas, além dos conhecimentos na área de Gestão e no idioma inglês, utilizava várias ferramentas computacionais, tais como: Microsoft Office (completo), softwares de geoprocessamento (Arc GIS; Envi; Idrisi), softwares gráficos (Adobe Photoshop; Corel Draw; Autocad; Microstation), entre outros. Atualmente faço parte do Corpo Docente da Faculdade de Tecnologia Nova Palhoça - UNIGRANRIO, no Curso de Design de Interiores, ministrando as seguintes disciplinas: Desenho Geométrico e Materiais de Acabamento. Além disto participo do Núcleo Docente Estruturante - NDE do curso de Design - em atividade e dos cursos de Engenharia Civil e Engenharia de Produção - ambos em processo de avaliação.

GABRIELLA KURTZ OLIVEIRA Arquiteta

e

Urbanista

formada

pelo

Centro

Universitário

Franciscano - UNIFRA - RS ano 2013. Mestre em Conforto do Ambiente Construído com ênfase na área de acústica arquitetônica pelo curso de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo PósARQ da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC ano 2015. Professora, também, na Faculdade Fatenp em Palhoça/SC no Curso de Tecnologia em Design de Interiores em regime parcial. Membro do Corpo Docente Estruturante do curso (NDE)


desde

Agosto/2016.

Atuação

nas

disciplinas

de

fundamentos

luminotécnicos, arquitetura efêmera, conforto termo-acústico, desenho arquitetônico e projeto residencial. Experiência profissional na elaboração projetual de interiores na empresa Espaço Móveis Santa Maria e estágios em construção civil. Possui experiência de intercâmbio linguístico entre Brasil e Canadá ano 2010. Participa do processo de implantação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Tecnologia Nova Palhoça FATENP/Unigranrio. É membro do grupo atuante na elaboração do Projeto Pedagógico dos cursos de Design de Interiores, Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil e Engenharia de Produção da Faculdade de Tecnologia Nova Palhoça FATENP/Unigranrio.

NORA ALEJANDRA PATRICIA REBOLLAR Possui graduação em Arquitetura E Urbanismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1985), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003), doutorado em Engenharia Civil ( 2010) na área de Cadastro Técnico Multifinalitário com o tema Habitações irregulares em encostas com áreas de APP e degradação do meio ambiente, e pós doutorado na área de Cadastro Técnico Multifinalitário com o tema: Análise do cadastramento e apresentação de propostas de uso sustentável e produtivistas nas áreas de interesse social no maciço central de Florianópolis( 2013). Regressou em 2009 de Angola, África onde acompanhou o processo de implantação da Universidade de tecnologia e ciência UTEC e coordenou a implantação do curso de Engenharia civil. Tem experiência em docência nas áreas de desenho,


projetos (arquitetônico e urbano) historia da arquitetura, estudos ambientais e topografia nos cursos de Arquitetura, Engenharia ambiental, Engenharia Civil e Design, e desenvolve pesquisas nas áreas de Processos Construtivos, saneamento básico, habitação, assentamentos, encostas, planos diretores e perícias ambientais. Docente e coordenadora do curso de design de interiores da faculdade de tecnologia nova palhoça FATENP/ UNIGRANRIO. É coordenadora do NDE do curso de design de interiores da FATENP/UNIGRANRIO assim como compõem o NDE dos cursos de engenharia civil e engenharia de produção em implantação na mesma instituição. Presta consultoria em perícias ambientais e auditoria, traduções. Participou do processo de implantação e aprovação do curso de Arquitetura e Urbanismo da instituição ESUCRI Escola Superior de Criciúma onde está coordenadora.Está a frente da implantação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Tecnologia Nova Palhoça FATENP/UNIGRANRIO como também coordena o NDE do curso em implantação.

PAOLA BEATRIZ MAY REBOLLAR É Professora desde 1998. Tem experiência nos Ensino Superior (Graduação e Pós-Graduação), Médio e Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos. Leciona disciplinas no âmbito da História, Gestão do Patrimônio Histórico Cultural e Responsabilidade Socioambiental. Atua como Consultora em Projetos de Licenciamento Ambiental desde 1997. Professora da Faculdade Cesusc.


VICTOR BARBOSA DO CARMO Possui graduação em Engenharia de Agronomia pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001), mestrado em Agroecossistemas pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006) e está cursando o Doutorado pela Universidade Federal de Santa Catarina na área de perícia ambiental com o uso de VANT junto ao laboratório de fotogrametria, sensoriamento remoto e georreferenciamento. Possui experiencia em programas de licenciamento ambiental e arqueológico em projetos do setor elétrico, infraestrutura rodoviária e loteamentos habitacionais. Atualmente é Professor Universitário da Faculdade de Tecnologia Nova Palhoça (Fatenp) onde atua na área de Desenho Técnico, Perspectiva, Ergonomia e Paisagismo.


APRESENTAÇÃO

Uma das soluções mais utilizadas em todo o mundo para aumento de áreas verdes urbanas é o telhado verde, que consiste no plantio de vegetação sobre a cobertura dos edifícios. É comprovado que os benefícios dos telhados verdes são diversos, tanto para o edifício onde é aplicado quanto para o entorno e para a cidade. As vantagens do uso dos telhados verdes são várias: a redução na temperatura das construções, a diminuição dos ruídos externos filtragem de águas pluviais implementação de hortas comunitárias. Além de contribuírem para a melhoria da paisagem da qualidade do ar, além de retardar o escoamento de águas de chuva, ajudando para redução de risco de inundação nas cidades. Muitas cidades no Brasil e no mundo já incentivam o uso de telhados verdes. O Canadá, a Alemanha, este tipo de solução é amplamente utilizada, impulsionada por relevantes incentivos fiscais. No Brasil, o município de Recife já possui lei aprovada, que obriga qualquer prédio novo com mais de quatro pavimentos a instalar telhado verde. Este e-book irá mostrar como a implantação dos telhados verdes em um município traz enormes contribuição para o bem estar dos moradores e espera-se a sensibilização de gestores públicos dos municípios para incentivar a implantação dos mesmos.


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A HISTÓRIA DOS TELHADOS VERDES PROFA. DR. PAOLA BEATRIZ MAY REBOLLAR

INTRODUÇÃO

A implantação de telhados verdes ou ecotelhados é uma tendência mundial relacionada a Arquitetura Ecológica, ou seja, o ramo da arquitetura que visa encontrar soluções construtivas adequadas aos problemas contemporâneos, especialmente aqueles relacionados com a exploração, o uso e o descarte de materiais provenientes de recursos naturais não-renováveis ou com alto impacto ambiental associado à sua produção (MINKS, 2013). Neste sentido, os telhados verdes apresentam diversas vantagens porque através do emprego da vegetação na cobertura das edificações é possível reduzir o uso de diversos materiais empregados para garantir o conforto térmico e acústico dos usuários, bem como, reduzir o consumo de energia para climatização de espaços interiores. Além destas vantagens, os telhados verdes permitem também o desenvolvimento de uma linguagem estética nas edificações que vai ao encontro do conforto visual promovido pelas plantas em meio a paisagem cinzenta das cidades. Como acontece com diversas tendências contemporâneas relacionadas à solução de problemas ecológicos, o emprego de telhados verdes não é uma inovação recente. Ao contrário, sua utilização acompanha há muito tempo a história das habitações


18 humanas (AHMED & ALIBABA, 2016). Pode-se associar os telhados verdes às primeiras cabanas construídas pelas pessoas vivendo em comunidades fixas. Conhecer a história dos telhados verdes destaca sua relevância enquanto técnica desenvolvida ao longo de milênios de interações entre as sociedades humanas e a natureza. Para apresentar esta histórica este capítulo apresenta uma linha do tempo daquilo que se conhece acerca da utilização dos telhados verdes em diferentes locais do mundo. Esta linha do tempo tem início na pré-história e se encerra nas últimas décadas do século XX quando esta técnica passa a ser novamente empregada. Porém, ao longo da história os telhados verdes foram empregados em diferentes contextos sociais, econômicos e políticos o que promoveu diferentes perspectivas de aproveitamento da vegetação cultivada. Por um lado, podemos observar coberturas verdes empregadas nos diversos continentes, principalmente, em locais com climas extremos (muito quentes ou muito frios) onde a seleção das plantas a serem utilizadas e das estratégias de aplicação das mesmas sobre as coberturas visava o conforto térmico. Em outras situações, a seleção de plantas e as técnicas empregadas apontam para um componente estético ou mesmo uma demanda de consumo dos vegetais, além do conforto. A bibliografia internacional existente sobre o tema denomina estes diferentes tipos de telhados verdes como telhados extensivos e intensivos, respectivamente (BLANKA et.al., 2013).


19 As coberturas verdes extensivas foram utilizadas desde a préhistória, principalmente, pelas camadas sociais mais baixas visando melhorar as condições de moradia através do isolamento térmico promovido pela aplicação de plantas nos telhados. Já as coberturas intensivas foram historicamente empregadas pelas camadas mais altas das sociedades com o objetivo de melhorar o conforto térmico e de promover um diferencial estético nas edificações que simbolizavam o poder das elites. Em alguns momentos da história, observou-se também a utilização de telhados verdes intensivos para a produção de alimentos. Tabela 1. Síntese de Telhados Verdes Extensivos e Intensivos ao longo da história das edificações humanas

TELHADOS VERDES EXTENSIVOS

Cultivo de plantas na cobertura das edificações para melhorar o conforto térmico.

Vilas de agricultores e pescadores na Europa (Mares do Norte e Mediterrâneo) e América do Norte na Pré-História, Idades Antiga, Média e Moderna; Vilas de colonizadores no oeste da América do Norte na Idade Contemporânea.

TELHADOS VERDES INTENSIVOS

Cultivo de plantas na cobertura das edificações para melhorar o conforto térmico, apresentar uma linguagem estética diferenciada e, às vezes, consumir os vegetais.

Centros cerimoniais na Mesopotâmia e Império Roma, Mansões Romanas, Mosteiros, Castelos e Edificações atuais.

Fonte: Elaboração da autora.


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LINHA DO TEMPO


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PRÉ-HISTÓRIA

A Pré-História é o mais longo período da história humana. Vai desde o surgimento dos primeiros humanos na África até o desenvolvimento da escrita há aproximadamente 5.000 anos atrás. Durante este período, as sociedades humanas passaram por profundas transformações em sua interação com a natureza. Ao longo do tempo, todas as regiões do planeta foram ocupadas e os diferentes grupos passaram a explorar os recursos naturais disponíveis, como a pesca, a caça e a coleta de vegetais. Esta interação permitiu o acúmulo de conhecimentos sobre a natureza, suas relações, funções e potencial de uso (CHILDE, 1986). Há aproximadamente 10.000 anos atrás, mudanças climáticas atingiram todo o planeta e promoveram a estabilização das estações do ano. A previsibilidade do clima foi essencial para que as sociedades pudessem expandir a produção de alimentos através da prática agrícola. Nesta época, em muitos lugares os grupos humanos tornaram-se sedentários e, por isso, passaram a investir mais esforços na construção de moradias duradouras. Surgem então as primeiras cabanas: edificações projetadas mentalmente e construídas com a intenção expressa de proporcionar abrigo e conforto a seus usuários (PEREIRA, 2010) Os primeiros telhados verdes dos quais se tem notícias estão relacionados a este contexto e cobriam as cabanas de agricultores, caçadores e pescadores em diferentes locais do mundo. Estas cabanas


23 eram construídas aproveitando a declividade dos terrenos. A cobertura vegetal utilizada era composta das plantas disponíveis no entorno. O objetivo destas estruturas era manter os interiores das edificações mais aquecidos ou frescos conforme o clima local exigia. Na Europa estas habitações são conhecidas como Sod Houses ou casas de turfas (Figura 1). Já nas Américas a expressão utilizada para designar estas edificações é Casa Subterrânea. Figura 1. Exemplo de Sod House ou casa coberta com turfa

Fonte: https://goo.gl/nPyqge


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IDADE ANTIGA

A Idade Antiga é o período da história do Ocidente compreendido entre o desenvolvimento da escrita e a queda do Império Romano. O sistema de escrita mais antigo que se conhece foi desenvolvido na Mesopotâmia há aproximadamente 5.000 anos atrás. A Mesopotâmia é uma região localizada onde hoje se situam países como o Irã, Iraque e Kuwait. Esta área apresenta dois rios (Tigre e Eufrates) que possuíam regimes de cheias controláveis que fertilizavam as terras no entorno, permitindo a prática agrícola intensiva. Por esta razão, surgiram diferentes cidades-estados baseadas na produção agrícola e no comércio, tais como Babilônia, Assíria, Suméria. Estas atividades econômicas levaram ao desenvolvimento da escrita e a complexificação social, ou seja, ao surgimento de diferentes camadas sociais. Nestas sociedades existia uma profunda divisão entre as camadas dominantes, empenhadas no controle e organização da economia através da religião, e camadas dominadas responsáveis pelas atividades braçais (LÉVÊQUE, 1990). Nas cidades-estados da Mesopotâmia existiam estruturas piramidais chamadas zigurates que possuíam diversas funções tais como realização de cerimônias, observatórios astronômicos voltados para a previsão das cheias e definição de épocas de plantio e colheita e exercício do poder das elites. Existem relatos que destacam a utilização de coberturas vegetais nos diferentes terraços formados pelos degraus


25 das pirâmides escalonadas. Nestes espaços eram plantadas árvores e arbustos diversos. Um destes telhados verdes teria sido denominado Jardins Suspensos da Babilônia e foi considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. Apesar de não existirem provas concretas de sua existência, estas coberturas verdes compõem imagens presentes no imaginário das sociedades ocidentais (Figura 2). Figura 2. Reconstrução dos Jardins Suspensos da Babilônia

Fonte: MONASTRA et.al. (2012)

Relatos de viajantes gregos descrevem um outro telhado verde existente na cidade de Nínive pertencente a Assíria. O viajante Diodoro Siculo relata que: “O telhado acima tinha uma camada de juncos fixados com grande quantidade de betume, sobre duas faixas de tijolos cozidos ligados por cimento e uma terceira camada de chumbo a fim de que a umidade do solo não pudesse penetrar. Acima de tudo isso a terra havia sido empilhada até uma profundidade suficiente para as raízes das


26 árvores e o chão foi densamente coberto com árvores de toda espécie que por seu tamanho ou por outro encanto pudesse dar prazer a quem as visse. E as galerias projetavam-se para além das outras de forma que todas recebiam luz. Havia uma galeria que continha aberturas que conduziam a superfície para o abastecimento dos jardins com água do rio, embora de fora ninguém pudesse ver isto sendo feito” (SCOTT, 2014). Figura 3. Reconstrução dos telhados verdes mesopotâmicos

Fonte: MONASTRA et.al. (2012)

Séculos depois do grande desenvolvimento econômico e arquitetônico

alcançado

pelas

cidades-estados

mesopotâmicas,

diversas regiões do mundo ainda apresentavam sociedades simples que se organizavam por ofícios sem marcadas divisões de camadas sociais. Dentre estas sociedades é possível destacar aquelas que viviam na região que hoje pertence a Grã-Bretanha. Há 3.700 anos atrás,


27 diversos grupos construíam casas com telhados de turfa sobre estruturas de pedra e madeira (Figura 4). Estas casas estariam relacionadas às mesmas sociedades que construíram os incríveis monumentos de Stonehendge (CASTLEDEN, 2002). Nestes locais, no norte da Europa, o clima frio estimulava a construção de edificações cobertas com camadas de turfa que funcionavam como isolantes térmicos. Figura 4. Casas com telhados verdes no norte da Europa

FONTE: CASTLEDEN (2002)

Ainda na Idade Antiga, há 2.500 anos no sul da Europa, diversos grupos humanos que viviam as margens do Mar Mediterrâneo também cultivavam plantas nos telhados das casas, porém com objetivo distinto. Estes grupos de agricultores e pescadores possuíam o costume de utilizar os telhados como jardins. Nestes jardins, uma planta especial se destacava: a chamada Sempre-viva dos Telhados ou Barba de Júpiter (Sempervivum tectorum) (CARVALHO et.al., 2001). Nas tradições destas populações mediterrâneas, esta planta seria capaz de proteger as casas


28 contra raios e assim evitar incêndios. Tal crença fazia com que seu cultivo nas coberturas de edificações fosse frequente. Este costume foi descrito pelo viajante grego chamado Teofrasto. Com as invasões romanas este costume se espalhou por toda a extensão do Império. O Império Romano também apresentou o uso de telhados verdes. Essencialmente urbanos, este império foi caracterizado pela colonização de toda a faixa de entorno do Mar Mediterrâneo. Suas ricas colônias eram urbanisticamente bem organizadas e governadas por famílias aristocráticas. Os aristocratas romanos viviam em mansões nas quais era uma prática comum cultivar jardins intensivos nos telhados (Figura 5). Um testemunho disto foi localizado nas escavações arqueológicas da cidade de Pompéia. Esta cidade estava localizada na península Itálica as margens do vulcão Vesúvio. Depois de uma grande erupção vulcânica, a cidade foi soterrada pela lava o que deixou testemunhos do modo de vida de sua população. A escavação das mansões de Pompéia demonstrou a aplicação de telhados verdes nestas

edificações

aproximadamente

2.000

anos

(ROSTOVZEFF, 1998; VERNANT, 1992). Figura 5. Mansão romana com jardim cultivado na cobertura

Fonte: http://www.le.ac.uk/hi/polytyques/capitulare/trans.html

atrás


29 O uso de telhados verdes no Império Romano também pode ser observado na cobertura de edificações de uso público. Um exemplo desta aplicação é o Mausoléu do Imperador Adriano localizado em Roma, no qual foram plantadas árvores na cobertura (Figura 6). Esta edificação ainda pode ser observada nos dias de hoje, porém não existem mais plantas no telhado (ROSTOVZEFF, 1998) Figura 6. Reconstrução do telhado verde do Mausoléu do Imperador Adriano

Fonte: httpwww.thehistoryhub.comcastel-santangelo-rome-facts-pictures.htm

Ao mesmo tempo em que estes tipos de telhados verdes estavam sendo construídos nas fronteiras do Império Romano, outros grupos humanos que viviam além destas aperfeiçoavam suas moradias e continuavam utilizando as coberturas de turfa, especialmente nas regiões frias da Europa e da América do Norte. O norte do continente americano é povoado há milênios por populações indígenas que são conhecidas como Esquimós. Estes


30 indígenas na verdade são compostos por diferentes grupos que falam idiomas distintos, mas que exploram o mesmo tipo de ambiente: as zonas geladas próximas ao Círculo Polar Ártico. Nestes locais a necessidade de isolamento térmico nas moradias é evidente. Conhecemos através da literatura e da televisão os iglus, edificações de gelo utilizadas por estes grupos humanos durante suas incursões de caça. Mas, são menos conhecidas suas habitações constituídas por paredes de pedras e ossos de baleia e coberturas verdes (GUBSER, 1965). Figura 7. Habitações Esquimós com cobertura verde e ossos de baleia

Fonte: GIBBON & AMES (2011)

Já no norte da Europa, o clima frio também estimulou outros grupos humanos a manter e aperfeiçoar as construções cobertas com vegetação. Os Vikings, conhecidos por suas explorações marítimas, construíam suas edificações nas vilas localizadas no Mar do Norte,


31 também próximo ao Círculo Polar Ártico, onde hoje se situam países como Escócia, Irlanda, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Noruega e Islândia. A necessidade de isolamento térmico para manter as moradias aquecidas era suprida pelos telhados verdes cobertos com turfa e vegetação rasteira. As casas Vikings eram construídas de madeira e pedra. Eram chamadas de long houses ou casas compridas. Sobre a estrutura dos telhados era aplicada uma resina natural para evitar infiltrações e depois eram dispostas placas de turfa. As casas eram grandes e podiam receber até 90 pessoas (TOWNEND, 2002). A Figura 8 apresenta a reconstrução de uma destas casas na Islândia que provavelmente foi destruída pela erupção do vulcão Hekla há 1.000 anos atrás. Figura 8. Reconstrução de uma casa Viking no norte da Europa

Fonte: https://goo.gl/wRuDhs


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IDADE MÉDIA

Aproximadamente há 1.500 anos, o Império Romano entrou em colapso. As imensas regiões da Europa e norte da África até então controladas pelos romanos foram abandonadas e a população essencialmente urbana esvaziou as cidades e fugiu para o interior visando se proteger das hordas de invasores que saqueavam as antigas colônias (ROSTOVZEFF, 1998). Estas profundas transformações sociais, políticas e econômicas demarcam o final da Idade Antiga e início da Idade Média europeia. Desde as invasões romanas, diversos costumes se espalharam por diferentes regiões controladas pelo Império. Já na Idade Média durante o reinado de um dos poucos reis medievais chamado Carlos Magno, o costume de plantar a Sempre-viva dos Telhados tornou-se uma norma, obrigando seus súditos a cultivar a planta na cobertura de suas habitações. Também o costume romano de cultivar jardins nas mansões perdurou durante a Idade Média. Em Gênova, uma cidadeestado localizada na península Itálica, os burgueses enriquecidos cultivavam esplendorosos jardins nos terraços de suas villas (GORSE, 1983; MONASTRA et.al., 2012). Durante o processo de ruralização da Europa no período medieval, surgiram diferentes ordens monásticas relacionadas a Igreja Católica Apostólica Romana nas áreas anteriormente controladas pelo Império Romano. Nestes locais, os monges construíram mosteiros. Devido ao isolamento provocado pela insegurança generalizada no


33 continente europeu, estes mosteiros produziam praticamente tudo que necessitavam. Ainda devido a insegurança, estas propriedades eram muradas e a produção de alimentos acontecia intra-muros. Para melhor aproveitamento do espaço, os monges cultivavam a terra e também os terraços e demais coberturas dos mosteiros dando origem a um tipo específico de telhado verde intensivo voltado para produção de alimentos (ROSTOVZEFF, 1998). O mais antigo telhado verde ainda existente também foi construído durante a Idade Média. Esta cobertura foi estabelecida sobre as torres da cidade murada de Luca, na Itália (AHMED & ALIBABA, 2016; MONASTRA et.al., 2012). As torres Guinigi ainda podem ser visitadas até os dias atuais (Figura 9). Figura 9. Torre medieval Guinigi em Luca, Itália

Fonte: https://en.wikipedia.org/ wiki/Guinigi_Tower


34 Durante toda a Idade Média, as casas cobertas com turfas continuaram a ser construídas nas regiões frias do norte da Europa, principalmente pela população com poucos recursos econômicos. Uma exceção a isto ocorreu na Islândia medieval. Neste local, as casas de fazenda (farmsteads) se desenvolveram a partir das casas compridas Vikings e, hoje, são consideradas patrimônio mundial pela UNESCO (seção da ONU responsável pela cultura e educação). De acordo com esta instituição, a técnica de construção das casas de turfa na Islândia é única e diferenciada das demais há mais de 1.000 anos. Estas casas eram construídas e utilizadas por todas as camadas sociais e os telhados verdes eram aplicados em todos os tipos de edificações. A região da Islândia conhecida como Stong apresenta diversos exemplares destas edificações medievais reconstruídos em museus a céu aberto. A Figura 10 mostra uma pequena capela coberta com turfa que foi descoberta em uma escavação arqueológica no vale Thjorsardalur. A cobertura emprega os chamados snidda que são blocos de turfa em forma de diamante, colocados entre as rochas pelo lado externo.


35 Figura 10. Capela medieval coberta com turfa

Fonte: https://goo.gl/nPyqge

IDADE MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Há aproximadamente 500 anos, a expansão dos árabes sobre Constantinopla, na atual Turquia, desencadeou uma série de eventos que promoveram o final da Idade Média e o início da Idade Moderna europeia. Estes eventos promoveram a conquista dos diversos continentes e a expansão da economia da Europa a níveis nunca antes atingidos, bem como, profundas modificações políticas e sociais em todos os locais diretamente envolvidos. Há 200 anos, um conjunto de revoluções modificou novamente a economia, a sociedade e a política do Ocidente: as revoluções científica, francesa e industrial. Após estas revoluções teve início a Idade Contemporânea. O advento da indústria e a disseminação de novos materiais e técnicas construtivas alteraram as estratégias para


36 cobertura das edificações e levaram a forte redução dos telhados verdes. Apesar desta redução, esta estratégia ainda persistiu. No norte do continente europeu, notadamente na Islândia, as casas de turfa continuaram sendo construídas e habitadas. A Figura 11 apresenta a fazenda Glaumbaer cujas edificações foram construídas entre os anos 1700 e 1800, ou seja, na transição entre as Idades Moderna e Contemporânea. A configuração das estruturas apresenta uma série de treze pequenas casas conectadas por uma passagem central. Estas edificações eram utilizadas como áreas comuns para dormir e comer, uma cozinha, uma despensa e uma oficina de ferreiro para produção de ferramentas. A fazenda foi habitada até 1947 e atualmente recebe turistas que visitam o museu a céu aberto chamado Skagafjorour Folk Museum. As construções foram feitas com madeira, pedra e turfa, inclusive nas paredes. Figura 11. Conjunto de edificações de madeira, rocha e turfa construídos na transição entre Idade Moderna e Contemporânea

Fonte: https://goo.gl/wRuDhs


37 Outra fazenda existente na Islândia é a Bustarfell localizada no vale Hofsardalur no nordeste do país (Figura 12). A propriedade pertence a mesma família há 500 anos. São 17 casas construídas com rochas, madeira e turfa nos telhados e paredes. Na década de 1960 as edificações foram reformadas e alguns benefícios contemporâneos foram acrescentados como eletricidade, água corrente e alguns consertos com cimento. Esta fazenda faz parte da coleção do Museu Nacional de Edificações Históricas desde 1943. Figura 12. Conjunto de edificações de rocha, madeira e turfa na Islândia

Fonte: https://goo.gl/N4JUaP

Ainda na transição entre Idade Moderna e Contemporânea, casas cobertas com telhados verdes também foram utilizadas durante a colonização do interior da América do Norte. Nestes locais o clima (frio em alguns locais e desértico em outros) levou os colonizadores a desenvolverem estratégias visando melhorar o conforto térmico das


38 habitações através da utilização de coberturas verdes (BARNS, 1970). É possível que a técnica tenha sido absorvida a partir da observação dos grupos indígenas locais. Este tipo de edificação era chamado de Earth Lodges (Figura 13). Figura 13. Edificações com coberturas verdes utilizados na colonização da América do Norte

Fonte: http://www.wikiwand .com/en/Ocmulgee_ National_Monument

Apesar da existência dos exemplos acima mencionados, a utilização de telhados verdes foi fortemente reduzida durante a Idade Contemporânea. Em 1920, Charles-Edouard Jeanneret-Gris conhecido como Le Corbusier (Figura 14), famoso arquiteto francês que promoveu profundas modificações na Arquitetura Contemporânea, propondo, entre outras coisas, a utilização de terraços jardim visando reduzir o impacto das edificações sobre o meio ambiente e promover melhor qualidade de vida para os usuários a partir da interação com áreas verdes (CORBUSIER, 1981).


39 Figura 14. Le Corbusier, arquiteto que anunciou o uso de terraços jardins contemporâneos

Fonte: http://arquiteturasustentavel.org/o-telhado-verde-de-le-corbusier-2

Uma das primeiras edificações contemporâneas que apresenta telhados verdes neste contexto é a Vila Savoye, projetada por este arquiteto (Figura 15). O terraço jardim projetado para esta edificação serviu de influência para diversos outros arquitetos e seus projetos. Figura 15. Terraço jardim da Vila Savoye de Le Corbusier

Fonte: http://arquiteturasustentavel.org/o-telhado-verde-de-le-corbusier-2


40 No Brasil, uma das mais antigas edificações que emprega os telhados verdes no contexto contemporâneo é o Palácio Capanema (Figura 16), no Rio de Janeiro, projetado por Lúcio Costa, influenciado por Le Corbusier. Figura 16. Terraço Jardim do Palácio Capanema, Rio de Janeiro

Fonte: https://goo.gl/uD45DS

A partir da década de 1960, os impactos ambientais negativos promovidos pela industrialização tornaram-se visíveis em muitas regiões e países. Um destes locais foi a Alemanha. Este país possui poucos recursos naturais (comparado com outras regiões do planeta), alta densidade populacional e foi fortemente afetado pelas duas guerras mundiais do século XX. Este conjunto de fatores levaram os governos alemães a desenvolverem e aperfeiçoarem políticas “verdes”


41 tanto no que se refere a recuperação ambiental, quanto a exploração dos recursos naturais, como a melhoria da qualidade dos espaços urbanos. Em função deste desenvolvimento das políticas públicas nos últimos 50 anos, a Alemanha tornou-se um dos países com mais telhados verdes na Europa (Figura 17). As pesquisas desenvolvidas neste país assinalam que, conforme o uso deste tipo de cobertura se expande nas cidades, podem surgir diversos benefícios relacionados com economia de energia para climatização, redução do escoamento superficial da água da chuva, melhoria da qualidade do ar e aumento do conforto estético (BUEHLER et. al., 2011). Figura 17. Telhados verdes em áreas urbanas da Alemanha

Fonte: https://goo.gl/UwuQNY


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os telhados verdes possuem uma longa história junto as aglomerações humanas. Empregados em diferentes continentes, em diversos contextos sociais, políticos e econômicos apresentam uma história rica e variada. Os telhados verdes já tiveram relação direta com o bem-estar e mesmo a sobrevivência das sociedades humanas. Apesar de terem perdido importância em muitos lugares devido a facilidade de acesso a materiais e técnicas construtivas industriais, nunca foram totalmente abandonados. Na emergência do movimento ecologista, a técnica de cobrir as edificações com plantas renasceu. Um capítulo desta história, porém, ainda precisa ser pesquisado e relatado: a História dos Telhados Verdes no Brasil. O clima quente de boa parte do país, bem como, a diversidade de povos que habitaram e ainda habitam o território brasileiro apontam para a possibilidade de que esta estratégia construtiva também tenha sido utilizada em nossas terras ao longo da história. No futuro próximo seria interessante que os estudos históricos e arquitetônicos preencham esta lacuna que pode somar para o conhecimento e valorização do patrimônio cultural brasileiro.

REFERÊNCIAS

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ESTADO DA ARTE DOS TELHADOS VERDES PROF. DR. NORA ALEJANDRA PATRICIA REBOLLAR

Uma pesquisa sobre um tema envolve diversas variáveis, logo, para constatar o que se está pesquisando no Brasil e no mundo acerca de telhados verdes. Melhorar o ar que se respira e diminuir o consumo de energia são apenas alguns benefícios dos telhados verdes, que começaram a ganhar espaço em diversos países como meio de cultivo e, posteriormente, alternativa para moradores que não possuem muito espaço nas grandes cidades. A partir da Revolução Industrial, com a modernização das indústrias e dos processos de produção, foi possível um maior desenvolvimento da sociedade, gerando crescimento econômico e populacional (GARRIDO NETO, 2012). No entanto, com a expansão desordenada das cidades, a falta de um planejamento urbano e o grande consumo de recursos naturais, ocorreram transformações de fauna e flora, produção excessiva de resíduos, degradação do meio ambiente e a falta de naturação nas cidades foram mudanças que impactam diretamente nos dias de hoje. Dentro deste panorama, com as inovações tecnológicas, a construção civil vem buscando novas possibilidades para seu desenvolvimento em todo país, para compensar e minimizar esses efeitos no meio ambiente (SILVA, 2011).


46 Para recuperação de toda essa interferência ambiental ocasionada pela indústria a naturação pode ser recuperada com a aplicação de vegetação sobre superfícies construídas como telhados, fachadas e vias, com o princípio de recompor a vegetação original retirada do solo pelas edificações, recuperando os benefícios das propriedades das plantas (CAETANO et al., 2010). Dessa forma, pode-se redirecionar as cidades para o desenvolvimento sustentável, obtendo assim uma maior integração entre espaço urbano x cidadão x natureza (ROLA et al., 2003). De acordo com as afirmações de Caetano os edifícios correspondem a 40 a 50% das superfícies horizontais impermeáveis do meio urbano. Como os telhados são normalmente espaços subutilizados, fica evidente o potencial que a tecnologia das coberturas

verdes

possui

para

um

desenvolvimento

urbano

sustentável. O conceito de telhado verde na arquitetura é incentivado pelos benefícios que podem ser destacados na vida dos seres vivos. No Brasil, os telhados verdes apareceram principalmente após o Movimento Modernista, em 1930. A técnica de naturação já é realidade em diversos países no mundo, principalmente na Europa, e atualmente começa a ganhar força no mercado brasileiro, à medida que a sustentabilidade é abordada de forma mais contínua no ramo da construção civil. No ano de 2008 a Comissão Europeia estabeleceu que as cidades que adotassem iniciativas sustentáveis receberiam o título de “Capital Verde Europeia” a contar do ano 2010 visando tornar o meio-ambiente mais saudável. A primeira cidade a receber esse prêmio foi Estocolmo


47 na Suécia, seguida por Hamburgo na Alemanha (2011), Vitoria-Gasteis na Espanha (2012) e Nantes na França (2013). Recentemente, Copenhague na Dinamarca movimentou-se aprovando a implementação de uma lei relacionada aos telhados verdes visando a economia de energia e a melhoria do ar. A capital dinamarquesa deseja seguir os passos de Toronto no Canadá que foi a primeira cidade no mundo adotar os telhados verdes. Toronto adotou a lei dos telhados verdes que resultou em 1,2 milhão de metros quadrados de área verde em diferentes tipos de construções e uma economia de energia de mais de 1,5 milhão de kWh por ano para os proprietários dessas edificações. Copenhague, possui uma meta de cobrir de vegetação os terraços das cidades com o objetivo de ser carbono zero até o ano de 2025. Figura 18. Telhados verdes de Copenhage.

Fonte Inhabitat


48 Em 2008 com mais força a ideia de construir telhados verdes como uma maneira de gerenciar com mais eficiência as suas águas pluviais e residuais, considerando-se que, estudos mostraram que nos próximos 100 anos em Copenhague haverá uma precipitação pluvial de 30% a mais do que atualmente. Após a divulgação dessa pesquisa a cidade e seus habitantes iniciam na busca na solução dessa questão focando assim através do desenho urbano, na sustentabilidade das construções, na biodiversidade climática e na construção de mais telhados verdes com o intuito de tornar a cidade mais sustentável. Partindo dessas iniciativas, a legislação desse ano de 2008, diz que todas as coberturas dos novos edifícios que possuam inclinação menor que 30° devem ser cobertas por vegetação. Quando essa iniciativa entrou realmente em vigor em 2010 a cidade contava com apenas 40 telhados verdes que totalizavam uma área de 200 mil metros quadrados. Com essa nova iniciativa estimou-se o aumento em 5.000 metros quadrados por ano de áreas verdes. Os telhados que estão sendo desenvolvidos hoje em Copenhague ou que já foram construídos estão localizados em edifícios comerciais, residenciais e públicos.


49 Figura 19. Telhado verde em Copenhague

Fonte http://www.ecodesenvolvimento.org

Muitas vezes as coberturas são espaços inutilizados, e sua transformação em espaços verdes permite a recuperação de um habitat que é adequado para a flora e fauna da região. A França por sua vez aprovou lei que obriga a implementação de coberturas verdes em construções de áreas comerciais de todo o país. A normativa inicial exigia que os telhados das novas construções deveriam ter a cobertura verde em 100% da área, porém a legislação foi revisada e para ser aprovada a lei teve que ser adaptada estabelecendo que os proprietários possam optar entre a ocupação total ou parcial dos telhados verdes e, além disso, possibilitar a instalação de painéis solares em vez da vegetação.


50

Um dos grandes problemas ambientais que a França tem enfrentado é o alto nível de poluição atmosférica, em que, para amenizar essa situação. Políticas públicas do país têm dado grandes incentivos como na capital Paris que implementaram o sistema de rodízio de veículos e ações sustentáveis que ganham espaço como é o caso dos telhados verdes. As coberturas vegetais de uma forma geral além de melhorarem a qualidade Geraldo ar formam um isolamento térmico e acústico, diminuindo a necessidade do uso do ar condicionado durante o verão e aquecimento para os tempos mais frios no inverno. Isso sem contar que eles são bloqueadores das partículas de poeira purificando o ar como também retêm o volume de água da chuva, reduzindo o problema de enchentes durante chuvas fortes. Os ambientalistas franceses lutaram por uma lei onde todos os prédios fossem obrigados a utilizar telhados verdes, inclusive nas residências. Porém o parlamento concluiu que a medida seria muito cara para os moradores e criaram a lei somente para as zonas comerciais e empresas onde é obrigatório o uso de painéis solares ou telhados verdes. Em cidades da Suíça os telhados verdes são obrigatórios em todos os edifícios novos, e na Cidade do México as pessoas que adotam esta iniciativa recebem 10% de desconto no imposto. A Lei Municipal 18.112/2015 na cidade de Recife no nordeste brasileiro prevê o plantio de gramas, hortaliças, arbustos e árvores de


51 pequeno porte nas lajes dos edifícios. É o primeiro estado do Brasil que possui uma lei, que obriga a qualquer novo edifício com mais de 4 pavimentos ou área superior a 400 m² que faça uso de telhado verde. Nesse contexto com essa medida também foi previsto a construção de reservatórios para a captação de água da chuva em novas edificações comerciais e residenciais que tenham mais de 500 metros quadrados de projeção e mais de 25% do terreno impermeabilizado. Esta lei tem como objetivo aumentar as áreas verdes e diminuir os efeitos do calor. Este efeito de conforto térmico já foi provado por estudos conforme será apresentado no capítulo 04 do livro. Figura 20. Telhados Verdes em Recife Brasil

Fonte http://www.hypeness.com.br


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CIDADE DO MÉXICO AS PESSOAS QUE ADOTAM ESTA INICIATIVA RECEBEM 10% DE DESCONTO NO IMPOSTO.

A fama da cidade do México durante séculos além da incrível paisagem do Zócalo, a grande praça central, foi bem menos atraente, e marcou durante décadas sua enorme poluição do ar, porém hoje podese dizer que isso é coisa do passado graças a iniciativas como a de um projeto. Tal projeto destina-se a um incentivo à disseminação de vegetação pelos telhados da cidade, que além de produzirem oxigênio também servem como filtro para eliminar dióxido de carbono e partículas de metal pesado do ar. Além disso, como foi dito anteriormente, os telhados verdes regulam a temperatura ambiente do entorno e dos edifícios e absorvem água da chuva, evitando alagamentos. A cidade do México possui quase 21 milhões de habitantes, não dispõe de muitas áreas livres para plantar vegetação, e isso levou a opção pelos telhados. Somente em 2014, as autoridades ambientais da prefeitura da capital investiram US$ 1,3 milhão para implantar

telhados

verdes

em

hospitais,

escolas

e

prédios

governamentais, num total de 21.949 metros quadrados de vegetação. Além dos benefícios já citados, especificamente os telhados verdes trazem resultados adicionais na cidade do México. Nas escolas, ensinam para as crianças a importância do meio ambiente e, nos hospitais, tem acelerado a recuperação de pacientes, por oferecerem melhores condições ambientais.


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Figura 21. A Prefeitura investiu US$ 1,3 milhão para implantar telhados verdes em hospitais em 2014

Fonte: Divulgação/Prefeitura da Cidade do México

MADRID CAPITAL ESPANHOLA LANÇA PROJETO MADRID + NATURAL

A medida em que as cidades enfrentam o aumento da população e a escassez de espaço, Madrid + Natural destaca a importância de promover o desenvolvimento de uma infraestrutura urbana verde para proteger os edifícios de mudanças de temperaturas e climas extremos. Este relatório Madrid +Natural oferece várias soluções que tomam a natureza entre elas os telhados verdes como fonte para regular o entorno urbano de Madri e responder alguns problemas como a


54 contaminação, o aumento das chuvas, as temperaturas elevadas e a progressiva perda da biodiversidade local. Para reduzir a quantidade de carbono da cidade, o documento também sugere a importância de tornar as infraestruturas existentes mais ecológicas, gerando assim, habitats mais naturais para a fauna e também para a ocupação humana. Figura 22. Telhados verdes Madrid

Fonte ecotelhado.com

SUIÇA INAUGURA 100 ANOS DE TELHADO VERDE

Na Suíça, mais especificamente em Zurique, o telhado verde sobre o edifício de unidade de tratamento e filtragem de água (Seewasserwerk Moos) em Wollishofen, comemorou 100 anos em 2014. Construída em 1814, mantém a impermeabilidade da membrana


55 intacta mesmo após 100 anos. Os 36.000 m² de lajes possui diversa flora, incluindo uma comunidade de espécies raras de orquídeas (Bioscience 2007). Um telhado verde estende a vida útil da membrana impermeabilizante em mais de 20 anos (USEPA 2000) conseguindo desenvolver sobre a laje uma barreira física sobre a camada de impermeabilização protegendo-a das diferenças de temperatura e da incidência de raios. Isso significa que comparado ao padrão de durabilidade de lajes com manta asfáltica que é de mais ou menos 10 anos para surgir a necessidade de refazer todo o sistema de impermeabilização e lajes com cobertura de argila expandida que duram um pouco mais em torno de 15 anos para reforma, um telhado verde desde que seja bem feito pode reduzir os problemas com infiltração e impermeabilização pelo menos por mais de uma geração. Figura 23. Seewasserwerk Moos em Wollishofen

Fonte BioScience 2007.


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TELHADOS VERDES COMO FORMA DE RECUPERAÇÃO DE PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAIS

No caso dos hospitais, outras experiências internacionais corroboram a importância do verde. O Children’s Hospital de Boston, por exemplo, constatou que seus pequenos pacientes até recuperavam peso após passar algum tempo distraindo-se em seu belo jardim, repleto de pássaros e esquilos. Uma pesquisa da Universidade de Uppsala, da Suécia, com 160 pacientes de cirurgias cardíacas, também demonstrou que aqueles expostos a paisagens naturais tinham recuperação mais rápida, graças aos benefícios psicológicos de um ambiente agradável. As administrações de alguns hospitais além da adoção dos telhados verdes como fins terapêuticos também perceberam que eles trazem vantagens econômicas. Assim ocorreu um caso em Porto Alegre no Hospital Parque Belém, que está entre as instituições hospitalares pioneiras na instalação de um telhado verde e conseguiram uma economia de 30% em seu uso de ar condicionado mensal em função do aumento do conforto térmico após a instalação do mesmo.


57 Figura 24. Instituição Hospital Parque Belém. Figura entre as pioneiras na instalação da vegetação

Fonte google acadêmico imagens.

Outro pronto positivo, segundo a instituição, é a maior harmonização com a paisagem do entorno, já que o hospital está localizado em meio a uma grande área verde de Porto Alegre. Os resultados de pesquisas indicam que a vegetação se apresenta como uma excelente ferramenta para a melhoria na recuperação de pacientes e o aumento do conforto humano em hospitais, evidenciando os benefícios da interação da natureza com a sociedade. Em virtude disso essa técnica tem se disseminado pelo Brasil, como fica visível em casos da cidade de São Paulo, em que os hospitais Albert Einstein e Samaritano também adotaram essa proposta.


58 O telhado verde também pode ser utilizado como jardim terapêutico, como área projetada para proporcionar bem-estar e contribuir para a recuperação da saúde de um determinado público, como crianças ou adultos com doenças crônicas, por exemplo. Contudo, esses jardins não beneficiam apenas os pacientes por acelerar a recuperação, mas também os funcionários, por criarem a oportunidade de trabalharem em locais mais agradáveis e com menores níveis de estresse. As paisagens naturais eram reconhecidas como terapêuticas há dois mil anos pelos chineses taoistas (DOBBERT, 2010). Na Europa, os primeiros hospitais com jardins terapêuticos ocorreram na Idade Média, com enfermarias em comunidades monásticas, nas quais plantas medicinais e orações constituíam o foco de cura (MARCUS & BARNES, 1999). O papel da natureza como restauradora do corpo e da mente foi explorado e estimulado. O cultivo de plantas e a implantação de áreas ajardinadas foram incorporados em projetos de hospitais, com o intuito de proporcionar benefícios terapêuticos (MIQUELIN, 1992 apud DOBBERT, 2010). Entretanto, nessa época, em razão do avanço técnico-científico, o foco passou a ser a funcionalidade do ambiente, despendendo-se pouca atenção às necessidades emocionais e psicológicas dos pacientes, visitantes e funcionários do corpo clínico (ULRICH, 1984). Somente a partir da década de 90 passou-se a valorizar as necessidades emocionais dos pacientes, com ênfase na redução do estresse e no aumento do bem-estar humano, com base em estudos científicos sobre


59 os efeitos restauradores promovidos pelo contato com a natureza (ULRICH, 1999 apud DOBBERT, 2010). Jardins compostos por ervas silvestres podem proporcionar a difusão de aromas agradáveis pelo ar, funcionando como incensos naturais; têm contribuição estética e influenciam positivamente o bemestar e saúde das pessoas próximas (MINKE, 2004). Já dizia Abbud (2010) que um bom jardim deve proporcionar um envolvimento onde os 5 sentidos do ser humano são acionados. Quanto mais um jardim conseguir aguçar o tato, visão, audição, paladar e o olfato mais ele cumpre seu papel. A visão de uma área verde também pode ter benefícios para a saúde humana. Na pesquisa de Ulrich (1984), os resultados demonstraram que a aceleração no restabelecimento póscirúrgico, cura de infecções e outras patologias estavam associadas ao contato com a natureza. Foram analisados um grupo de pacientes que foram submetidos a cirurgias e que apresentavam o mesmo quadro clínico após a submissão, aqueles que permaneceram em quartos que possibilitavam a visão da natureza através de uma janela do hospital, em geral, tiveram menor tempo de internação pós-operatório, receberam menos comentários negativos na avaliação das enfermeiras e necessitaram de menor quantidade de analgésicos, comparados com os pacientes com a janela voltada para uma parede de tijolos. No Brasil, o tema ainda é pouco difundido, mas a proposta de construção de jardins terapêuticos começa a interessar os principais centros de saúde.


60

OS BENEFÍCIOS QUE OS TELHADOS VERDES PODEM TRAZER PARA AS CIDADES

Não há dúvidas de que a cobertura verde possui uma gama enorme de substanciais vantagens em relação às coberturas tradicionais. Se a capacidade de receber carga é suficiente e se a construção foi planejada para o recebimento de substrato para a aplicação de um telhado verde que poderá também incluir dependendo o seu tamanho uma área para recreação, eles são uma importante parte de provisão de áreas recreacionais na vizinhança onde existem poucos espaços de solo verde. No que diz respeito ao alimento, as coberturas oferecem uma oportunidade de plantio alimentar saudável, particularmente em áreas de alta densidade urbana onde em espaços das lajes podem ser produtivas com os telhados verdes. Em alguns países (Haiti, Colômbia, Thailândia, Rússia) topos de coberturas e sacadas têm sido usadas para produzir uma linha de comercializáveis produtos de frutas e vegetais. (GARNETT 1997). Certamente a quantidade de peso na cobertura tem que ser considerada. Entretanto, o uso de coberturas verdes leves e técnicas hidropônicas terão um potencial de uso. Um dos melhores exemplos disso é o Fairmount Hotel em Vancouver- Canadá, num jardim de 195m² e espessura de solo de 45 cm, o jardim produz todas


61 ervas usadas no hotel e economiza de 25.000 a 30.000 dólares Canadenses. Quanto aos valores estéticos das coberturas verdes a vista da maioria das coberturas urbanas pode ser bem mais agradável. Esses locais têm um potencial para se transformar gramados, jardins ou horticulturas e onde for possível o acesso e feito irrigação nas épocas de seca, pode-se ter uma grande variedade de espécies de plantas. Mesmo onde coberturas são inacessíveis, mas claramente visíveis, plantações atrativas podem ser benéficas. A reação inicial das pessoas em relação à cobertura verde, tanto de leigos como daqueles envolvidos em construções, é a de que o telhado segura a água ou se irá aumentar a probabilidade de penetração dessa água, gerando goteiras e umidade dentro da edificação. Isso não se confirma e, na verdade, se um método apropriado for usado na construção, as coberturas verdes poderão durar mais do que as convencionais, com óbvio custo. Quanto ao isolamento e eficiência energética é uma das melhores contribuições da cobertura vegetal e o isolamento e controle do escoamento da água de chuva. Estas áreas foram o início das pesquisas desse tipo de cobertura vegetal, conduzidas na Alemanha assim como os benefícios ambientais. Pode-se salientar também o efeito de isolamento térmico da cobertura vegetal, reduzindo o aquecimento,

reduz

o

uso

de

consequentemente o gasto energético

condicionadores

de

ar

e


62 A biodiversidade e valor da fauna vem aumentando cada vez mais através do uso de coberturas verdes deve-se ao fato das espécies de plantas usadas fazerem parte dos tipos de plantas nativas da região. Eles acabam sendo o habitat para uma variedade de espécies rurais ou urbanas que muitas vezes já estão em risco ou já estão em extinção Telhados verdes extensivos, os quais não têm tráfego e, portanto, isolados das pessoas, podem ser potencialmente um bom habitat para pássaros, plantas e insetos. Plantas e gramas nativas podem ser trazidas em sementes por pássaros e insetos de cada região e proliferam de maneira natural, acompanhando as estações do ano, mudando de cores, de insetos, nascendo plantas espontâneas, transformando-se assim em um meio natural da biodiversidade. A água da chuva que cai sobre cidades cobertas por superfícies construídas com concreto, asfalto e telhas, não pode ser absorvida pelo solo, e correrá através de sistemas de drenagem para os rios. Como resultado, por volta de 75% da água de chuva nos centros das cidades é perdida diretamente para as redes pluviais, comparado com 5% nas áreas de florestas. Consequentemente em áreas construídas, onde a cobertura do solo é impermeável, temos grande desperdício de águas e possibilidade de enchentes por resíduos de lixo que a água vem trazendo ao ir passando por ruas até conseguir um lugar para escoar. Partículas no ar, quando o assunto é motor de veículo, e a diesel, tem sido ligado ao aumento de doenças respiratórias e dificuldades de respirar. Metais pesados, novamente em veículos e emissões de fábricas, são tóxicos em relativamente baixa concentração. Ozônio, o


63 principal componente agravante da névoa de poluição. Nestes casos é apresentado mais uma vantagem do telhado verde, ao passo que é comprovado que vegetação em áreas urbanas pode filtrar partículas de gás carbônico passando pelas plantas, nas folhas e superfícies, auxiliando na despoluição das cidades. Os efeitos benéficos das coberturas verdes e outros usos de vegetação nas edificações podem melhorar todo o ambiente de uma cidade. O aumento de edificações e áreas pavimentadas nas cidades estão na frente na formação do específico clima urbano. O efeito dos telhados verdes em espaços urbanos em geral tem influenciado no clima urbano. A principal função da vegetação urbana nesse contexto é o de criar microclimas favoráveis em menor escala. No setor público, vontade política e leis ambientais mais rigorosas

ou

compensatórias

mostrarão

a

velocidade

de

desenvolvimento e aplicação dos novos usos para coberturas. Como se trata de estudo novo, apesar da história mostrar que telhados verdes já se usavam há milênios, acredita-se que eles vão encontrar seu espaço de acordo com cada região e suas peculiaridades. Nos países onde a necessidade já é maior devido a graves problemas de poluição e a falta de áreas verdes e recursos naturais, o desenvolvimento de novas soluções acontecem sempre mais rapidamente. Já no Brasil e principalmente na região sul por exemplo, onde a natureza é farta não se sente ainda tão de perto os efeitos da poluição e aquecimento global, e em geral, custos extras nas obras não


64 são bem-vindos. O trabalho de mudança de mentalidade e implantação das coberturas ecológicas será muito mais difícil de implantar. À medida que for entendido que um acréscimo de custo em uma obra reverterá mais tarde em economia de energia na necessidade de prevenir enchentes diminuindo a saturação das redes pluviais públicas, bem como a diminuição de poluentes nos rios, as coberturas verdes terão seu uso implantado com mais assiduidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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65 MARCUS, C.C.; BARNES, M. Gardens in healthcare facilities: uses, therapeutic benefits and design recommendations. Martinez: The Center for Health Design, 1999. MINKE, G. Techos Verdes: Planificación, ejecución,consejos prácticos. Montevideo: Editorial Fin de Siglo, 2004. ROLA, S.M.; MACHADO, L.F.C.; BARROSO-KRAUSE, C.M.L.; ROSA, L.P. Naturação, água e o futuro das cidades no contexto das mudanças ambientais globais. In: CBA-2003 SILVA, N.C. Telhado verde: sistema construtivo de maior eficiência e menor impacto ambiental. 2011. 60f. Monografia (Especialização em Construção Civil) – Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. ULRICH, R.S. View through a window may influence recovery from surgery. Science, Vol. 224, p. 420-421, 1984. ULRICH, R.S. How design impacts wellness. Healthcare Forum Journal, Texas, v.20, p. 20-25, 1992.


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COMO FAZER UM TELHADO VERDE ENG. AGRÔNOMO MSC. VICTOR BARBOSA DO CARMO

INTRODUÇÃO

Após a revolução industrial e o avanço da tecnologia houve grande êxodo da população rural atraída pelo desenvolvimento e as facilidades das áreas urbanas. Com isto as cidades cresceram rapidamente sem a devida infraestrutura necessária. Os aglomerados urbanos passaram a ser locais desconectados com a natureza, com grandes áreas construídas e muitas fontes de poluição. A impermeabilização do solo urbano aumenta o escoamento superficial das águas pluviais. A falta de vegetação não permite que a poluição seja dissipada pela natureza. As áreas verdes funcionam como zonas tampão, onde os elementos poluidores são absorvidos pelas plantas e pequenos animais, reciclados dentro dos ecossistemas locais e disponibilizados em forma de nutrientes para o desenvolvimento de toda a biosfera. Desta

maneira,

as

áreas

verdes

desempenham

papel

fundamental para se criar condições de vida mais favoráveis aos habitantes dos centros urbanos. No entanto, devido ao grande adensamento das construções sobram poucos espaços livres para a implantação de parques ou praças verdes. Uma alternativa que vem ganhando cada vez mais atenção para superar este problema é a


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implantação de jardins sobre as edificações, revestindo telhados ou paredes (Figura 25Figura 26). Neste capítulo veremos as técnicas de implantação dos telhados verdes e as plantas mais indicadas para compor cada projeto. O uso dos telhados verdes é uma estratégia construtiva para a implantação de um jardim suspenso com o objetivo principal de proporcionar isolamento térmico para a edificação, mas que podem também ser utilizados para produção de vegetais, captação de água e embelezamento. Estes tipos de jardins podem ser implantados tanto em lajes de concreto, sobre estruturas de madeira e outros, desde que respeitadas as técnicas para isolamento da umidade, drenagem da água, utilização das espécies adequadas e sistemas adequados de fixação das raízes. Figura 25. Jardim para passeio sobre prédio.

Figura 26. Jardim para produção de alimento e ervas.

Fonte:

Fonte:

http://www.capitalteresina.com.br

http://www.thadecorando.com.br


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As técnicas de construção de um telhado verde seguem o mesmo princípio, independente da base onde o jardim será implantado (laje de concreto ou estrutura de madeira). A maior diferença na implantação depende da inclinação desta estrutura. Telhados com pouca inclinação (até 10%) permitem que as pessoas possam caminhar facilmente sobre o jardim, sendo possível a coleta de produtos vegetais e facilitando sua manutenção. Em telhados acima de 10% de inclinação já se torna difícil o caminhamento não sendo mais interessante o plantio de produtos de colheita e manutenção constante. Telhados acima de 35% de inclinação são muito perigosos de trabalhar, devido ao risco de escorregamento e queda. Inclusive as plantas podem cair durante fortes chuvas. Nestes casos, é necessário o uso de telas de arame ou cintas de plástico para a melhor fixação das raízes. A inclinação (i) de um telhado pode ser representada em ângulo ou em porcentagem. A representação em porcentagem refere-se à quanto do comprimento do telhado foi transferido para a elevação. Portanto, um telhado de 45 graus representa 100% de inclinação, pois a cada metro horizontalmente ele se eleva também em 1 metro. Para realizar este cálculo em um telhado pronto deve-se medir o comprimento horizontal da área coberta (c) e a distância vertical entre a parte mais baixa e a mais alta do telhado (h). Depois divide-se a distância vertical (h) pelo comprimento (c) e multiplica-se por 100 (Equação 1). Equação 1. Cálculo de inclinação de telhados já existentes.

i = (h/c) * 100


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Para projetar um telhado com a inclinação desejada é ainda mais simples, deve-se medir o comprimento horizontal da área coberta (c), multiplicar pela porcentagem desejada para o telhado e dividir por 100 (Equação 2). Equação 2. Definição da inclinação de telhados

h = (c* x%)/100

É importante lembrar que não se deve instalar um telhado verde sobre uma estrutura perfeitamente plana, pois o acúmulo de água pode danificar a estrutura e levá-la ao colapso. Se você pretende instalar o telhado verde em uma laje já construída e sem inclinação é preciso fazer uma nova camada de concreto para dar inclinação à estrutura. A inclinação mínima deve ser de 1,5 %, ou seja, 1,5 cm de diferença de nível a cada metro de laje. Após a definição do tipo de estrutura, da inclinação e do objetivo da cobertura verde é hora de preparar as camadas para a implantação da vegetação. Um telhado verde é constituído por cinco camadas: 1) impermeabilizante, 2) drenante, 3) filtrante, 4) solo e 5) vegetação (Figura 27 e 28). A seguir vamos explicar a função de cada uma delas e recomendar alguns materiais para ser utilizados. Porém, cada projeto tem suas características próprias e recursos financeiros variados. Devemos identificar os materiais disponíveis na região e usar a criatividade para propor novas alternativas, formulando o projeto de


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acordo com a necessidade do cliente, mas sem esquecermos dos princípios funcionais de cada camada. Figura 27. Perfil esquemático das camadas de um telhado (laje, lona preta de alta tração, argila expandida, manta permeável, substrato e plantas)

Fonte: http://www.ecoeficientes.com.br

Figura 28. Perfil esquemático de um telhado verde utilizando telha ondulada de plástico camada extra de impermeabilização.

Fonte: http://www.br.pinterest.com


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CAMADA IMPERMEABILIZANTE

A camada impermeabilizante tem a função de impedir que a umidade do solo infiltre na edificação. Está é a camada mais importante de todo o projeto, pois se não for bem executada pode comprometer a vida útil da edificação. Em lajes de concreto deve-se aplicar selador acrílico ou tinta impermeabilizante conforme as instruções do fabricante. Em telhado de madeira deve-se aplicar selador para madeira. Outra opção para a impermeabilização é a utilização de mantas asfálticas, que podem ser aplicadas tanto no concreto como na madeira. Estas são mais resistentes do que os seladores líquidos, porém mais caras e requerem mão de obra especializada para a aplicação. São vendidas em rolos de 1 metro de largura e necessitam de maçarico para sua instalação. Opções mais simples também podem ser utilizadas, com duas ou três camadas de lona plástica de boa qualidade. Independente do material, esta camada deve também ser elevada até 40 cm em todas as bordas do telhado onde haja parede, de tal forma que mesmo em dias de chuva forte a água não passe para baixo da camada impermeabilizante.

CAMADA DRENANTE

A camada drenante tem a função de drenar o excesso de água que o solo não conseguiu reter. Consiste em uma camada de 5 a 8 cm de espessura, formada de um material grosseiro por onde a água possa


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fluir facilmente. Diversos materiais podem ser utilizados para esta função, como: brita, seixo rolado, argila expandida e materiais sintéticos. O uso de brita e seixo rolado é mais indicado para lajes de concreto devido ao peso do material, em telhados de madeira a estrutura pode arquear em alguns pontos e formar poças de água. A brita também pode danificar as lonas plásticas por apresentar arestas pontiagudas. O material mais indicado é a argila expandida em bolinhas, vendidas em qualquer floricultura. Este material é barato, bem mais leve que as rochas e ainda tem a vantagem de absorver água, mantendo o solo úmido por mais tempo. Outra opção pouco utilizada é o uso de tampas de garrafa PET, elas são ainda mais leves que as bolinhas de argila e também retêm água na sua concavidade.

CAMADA FILTRANTE

A camada filtrante tem o objetivo de filtrar a água que percola pelo perfil do solo, e impedir que este seja levado para a camada inferior. Deve ser ter também muita atenção ao implantar esta camada, pois se ela romper o solo será carreado, as plantas vão morrer e o excesso de água não será drenado. Os materiais mais utilizados nesta camada são as mantas Geotêxtil, mais conhecidas como manta Bidim. Porém, Bidim é apenas a marca de um dos maiores fabricantes no Brasil. Existem muitos tipos de mantas Geotêxteis, em geral são tecidos não tramados (TNT) de material sintético reutilizado de garrafas PET.


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As mais finas são pouco resistentes e devem ser utilizadas em consórcio sobrepondo-a com outros materiais, como telas de nylon (tipo mosquiteiro) ou sombrite (utilizadas em viveiros de mudas). As mantas Geotêxtil mais espessas podem ser utilizadas diretamente sobre a camada drenante com boa segurança. É interessante utilizar um TNT fino sobre a manta Geotêxtil para limitar o crescimento das raízes das plantas e evitar que penetrem e rompam a manta Geotêxtil principal.

CAMADA DE SOLO

A camada de solo tem o objetivo de fixar as raízes das plantas e fornecer nutrientes para seu desenvolvimento. O tipo de solo recomendado para uso nos telhados verdes deve apresentar boa quantidade de matéria orgânica, baixa porcentagem de argila, ser leve e pouco susceptível a compactação. O mais adequado é utilizar o substrato pronto para a produção de mudas de hortaliças, com nome comercial de Plantimax, que tem em sua composição a vermiculita. Alternativa mais barata é preparar o próprio substrato, utilizando 60% de material orgânico como esterco de gado ou de aves previamente curtido por pelo menos 6 meses, composto proveniente de resíduos domiciliar orgânico, húmus de minhoca, turfa ou terra preta. Não se deve utilizar terra com alto percentual de argila (vermelha ou cinza), pois ela torna o solo mais pesado e com o passar do tempo vais se acumulando sobre a camada drenante até formar uma laje onde a água tem grande dificuldade de penetrar. Durante


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períodos de estiagem se tornam como um tijolo, difícil de ser reidratado. Ao material orgânico deve ser acrescido 20% de areia média e 20 % cinza de casca de arroz ou carvão triturado. Esta mistura vai favorecer a formação de pequenos aglomerados, que dão estrutura ao solo para permitir a oxigenação e infiltração da água. A camada de solo deve ter entre 10 e 15 cm de espessura, espalhados uniformemente sobre a camada filtrante. É importante que o solo ocupe todos os espaços disponíveis para esta camada, deve-se ajeitar bem o substrato desde a camada inferior até a superfície. Primeiro empurrando com a ponta dos dedos maior volume de solo, de modo a não deixar espaços vazios, e posteriormente apertando com a palma da mão para compactar o material. Se o telhado que vai receber a camada de solo tiver 30 % de declividade ou mais é necessário que seja instalada uma estrutura complementar onde as raízes das plantas possam se fixar e reter melhor o substrato. Isto, para impedir que ocorra um processo de erosão do jardim, onde o solo é carregado pelo escorrimento superficial durante chuvas fortes e se formem ravinas. Podem ser utilizadas telas de arame galvanizado ou de plástico, instaladas no interior do substrato. Deve-se colocar a metade do substrato, esticar a tela sobre todo o telhado e depois colocar o restante do substrato. A tela precisa ser ancorada na estrutura principal do telhado para que em dias de tempestades não venham a escorregam ou que algumas plantas tombem.


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Outra estratégia é colocar tirar plásticas rebitadas uma na outra de moda a formar uma estrutura com células, tipo de colmeias, onde as plantas serão inseridas. Para telhados acima de 100% de inclinação uma boa opção é a instalação de módulos de plástico que são aparafusados nas ripas de madeira ou se encaixam nos perfis de aço (Figura 29 e 30).

Figura 29. Instalação de módulos em telhado com alta inclinação.

Fonte: https://www.materia.nl


76 Figura 30. Módulo plástico pronto para ser instalado.

Fonte: https://www.materia.nl

CAMADA DE PLANTAS

Escolher as plantas que irão compor o telhado verde não é muito simples porque existem muitas opções. Independente de espécie escolhida, ela deve ter porte baixo, crescimento limitado e sistema radicular superficial. O primeiro ponto a se pensar é qual o objetivo do jardim. Se estiver em local de fácil acesso é possível utilizar plantas comestíveis ou ervas medicinais. Se o jardim estiver em local de difícil acesso é melhor utilizar plantas perenes e que necessitem de pouca manutenção. Outra questão a ser avaliada é qual será o ponto de vista de onde o jardim poderá ser observado. O arranjo das plantas deve


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respeitar um princípio de ordem, seguindo um ritmo hierárquico de cor e textura ou formando um desenho qualquer. As plantas devem ser implantadas no telhado a partir de mudas previamente enraizadas. O melhor é esperar uma semana de tempo fresco, com pouco sol e chuva fraca. As mudas são plantadas em covas espaçadas de 30 a 40 cm entre elas, podendo variar de acordo com o porte da planta adulta ou a disponibilidade de exemplares. Ao fechar a cova, a terra deve ser ajeita e comprimida com a palma da mão para não ressecar no primeiro dia de sol. Os primeiros cinco dias após o plantio são cruciais, se não chover neste período as mudas precisam ser irrigadas diariamente. Ao redor das mudas é interessante que se cubra o solo com palha seca ou com lascas de casca de pinheiro, vendida em sacos nas floriculturas. Esta cobertura servirá como proteção do solo contra o sol e a chuva até que as plantas cubram todo o telhado. Independente do clima da região onde o projeto será implantado, sempre haverá períodos de estiagem. Por isso é sempre interessante procurar plantas que crescem a pleno sol e sejam tolerantes a seca. Algumas famílias de plantas, como as cactáceas e agaváceas, abrem os estômatos para captar o CO2 durante a noite e assim não perdem água por evapotranspiração durante o sol forte. São classificadas como CAM (Metabolismo Ácido das Crassuláceas). Esse tipo de planta cresce principalmente nos costões de pedra, nas restingas e nos desertos (Figura 31 e 32).


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Figura 31. Família das Cactáceas.

Figura 32.Família das Agaváceas

Fonte: http://www.drjardim.com.br

Fonte: https://goo.gl/J1CMHd

O telhado verde por ser composto por um arranjo de muitas espécies ou por uma única. O plantio de espécies diferentes requer maior planejamento para definir a posição de cada indivíduo no telhado. O uso de plantas com tonalidades de folhas e flores contrastantes e formas variadas, permite a formação de desenhos que se destacam na paisagem. Em estabelecimentos comerciais é possível desenhar a logomarca da empresa ou formar palavras (Figura 33 e 34).


79 Figura 33. Composição de plantas formando desenhos.

Fonte: http://www.portobello.com.br Figura 34. Composição de plantas formando desenhos.

Fonte: http://www.ecoeficientes.com.br

Se a intenção do projetista for uma distribuição aleatória e mais parecida com um ambiente natural, deve-se alternar as plantas de


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acordo com o porte delas. As Agaváceas de porte médio, por exemplo, podem não cobrir bem o solo, então, se deve plantar espécies rasteiras ao seu redor para garantir maior densidade ao jardim, como Dinheiro em Penca ou Lambari Vermelho. Os telhados formados por uma única espécie são mais fáceis de implantar e tendem a cobrir o solo mais rapidamente (Figura 35 e 36). Nestes casos são utilizadas espécies estoloníferas que possuem crescimento lateral vigoroso, como o Amendoim Forrageiro, Arnica ou grama Esmeralda. As mudas são plantadas bem próximas umas das outras, em torno de 10 a 20 cm entre covas. O efeito visual não é menos interessante do que um jardim bem diversificado, pois o manto verde formado é uniforme e traz elegância à edificação. O arranjo do telhado verde precisa estar integrado com o estilo da edificação e com os espaços livres ao seu redor. Figura 35. Restaurante com telhado formado por Dinheiro em Penca.

Fonte: http://www.portobello.com.br


81 Figura 36. Prédio comercial com telhado formado por grama Esmeralda.

Fonte: http://www.blogecoando.blogspot.com.br

Após a implantação de um telhado verde é necessária sua manutenção como qualquer outro jardim, além de observar se a estrutura da edificação apresenta alguma patologia. Alguns aspectos funcionais precisam ser vistoriados periodicamente, em intervalos que dependem do regime de chuvas. Durante a estação chuvosa deve-se vistoriar semanalmente as calhas de drenagem para verificar se a água não está extravasando em algum ponto, que pode indicar o entupimento em algum ponto do sistema. Também deve-se verificar se não há a formação de ravinas por entre a vegetação, se houver deve-se colocar algum material grosseiro até cobrir a diferença de nível, utilizando uma mistura de palha seca com argila expandida e cobrir com leivas de plantas estoloníferas. Em períodos de estiagem é preciso observar se as plantas estão murchando, se isto ocorrer é preciso


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irrigar o jardim diariamente até que as plantas se fortaleçam novamente. A hora do dia mais indicada para isso é no final de tarde, pois as plantas terão toda a noite para absorver a água que necessitam. Se for irrigado durante sol forte grande parte da água vai evaporar a as plantas não terão tempo de se reidratar. Devemos aproveitar os períodos secos para subir no telhado e vistoriar as plantas mais de perto. Estas vistorias servem para identificar se existem falhas no jardim que precisam de replantio ou se algumas plantas crescem demais e precisam ser podadas (Figura 37 e 38). Como em qualquer jardim, sementes são trazidas pelo vento e pelos pássaros e plantas indesejáveis começam a crescer. É muito importante que estas plantas sejam removidas o quanto antes, pois raízes pivotantes (que crescem verticalmente) podem romper a camada filtrante e danificar todo o sistema de drenagem. Ao subir no telhado podemos aproveitar para adubar o jardim, devemos usar o mesmo substrato recomendado anteriormente para esta camada porém sem a adição de areia. Uma boa fonte de nutrientes para aplicação nos telhados verdes é a cinza de madeira peneirada, ela é leve, fácil de transportar e de aplicar e complementa a adubação orgânica com minerais essenciais, principalmente o Potássio e o Fósforo.


83 Figura 37. Telhado verde sem manutenção e comprometendo toda a edificação.

Fonte: http://www.casavogue.globo.com Figura 38. Plantas crescendo sobre a estrutura de madeira necessitando de podas.

Fonte: http://www.petdecasa.blogspot.com.br


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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os telhados verdes representam uma excelente estratégia para a melhoria da qualidade ambiental nas cidades, atuando em três aspectos principais. O primeiro deles é a redução da velocidade do escoamento superficial das águas pluviais, as folhas das plantas são a barreira inicial para as gotas da chuva que precisam achar seu caminho para escorrem até a zona de raízes. Imediatamente, as plantas começam a absorver parte desta água e nutrientes. As gotas da chuva continuam seu trajeto pelo perfil do solo, sendo também absorvida pela matéria orgânica em decomposição e ocupando todos os espaços vazios dentro do solo. Somente quando todo este sistema estiver saturado o excedente de água irá atingir a camada drenante e será conduzida para as calhas, que posteriormente levará esta água ao sistema urbano de macrodrenagem. Quando a edificação possui sistema de captação de água da chuva, o sistema de raízes e a manta de retenção de solo funcionam como filtro natural. A água coletada neste tipo de telhado pode ser usada como água servida em toda a edificação, contendo menos impurezas do que em telhados convencionais onde o acúmulo de poluentes depositados pelo vento contaminam a água. O armazenamento de água no solo da cobertura e a pouca absorção de calor pelas plantas aumentam a umidade relativa do ar em torno da edificação, gerando um microclima favorável para permanência das pessoas. Este efeito é mais percebido em edificações


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de poucos andares, onde os telhados estão mais próximos das pessoas ou onde os terraços são utilizados também como áreas de lazer. Um segundo aspecto positivo acerca da atuação dos telhados verdes é a diminuição dos picos de temperatura nas horas mais quentes do dia. Os telhados tradicionais de telhas de barro, zincadas ou de fibra cimento absorvem grande parte da radiação solar e liberam esta energia em forma de calor. Ao ser instalada uma cobertura verde sobre estes telhados, as plantas absorvem parte desta radiação para realizar a fotossíntese e refletem a maior parte de volta para a atmosfera. Através da fotossíntese, as plantas também fixam o dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera para a formação dos seus tecidos, desta forma, contribuindo para diminuição do efeito estufa. A terceira atuação positiva dos telhados verdes é melhoria significativa do conforto visual proporcionado pela cobertura vegetal. Um grande fator de preocupação para a saúde das pessoas é o estresse causado pelo ambiente conturbado nas médias e grandes cidades. Além dos ruídos excessivos e da poluição do ar, a falta de paisagens agradáveis afeta o humor das pessoas de maneira pouco perceptível, mas que cumulativamente aumentam o nível de estresse. Estudos mostram que trabalhadores em escritórios com vistas para o mar ou grandes parques apresentam menor pressão arterial e batimentos cardíacos mais lentos do que em escritórios enclausurados entre prédios. Assim, os telhados verdes podem oferecer um alento para as pessoas que olham pela janela dos prédios ou passam por viadutos e pontes. A cobertura vegetal sobre as edificações cria um mosaico de áreas construídas e jardins, tornando a paisagem urbana mais


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agradável de ser apreciada do que apenas com as tonalidades do concreto. Além de todos os benefícios descritos no ambiente urbano, a implantação dos telhados verdes também proporciona grandes mudanças na própria edificação. A principal vantagem de um telhado verde é o isolamento térmico gerado pela camada de solo e vegetação. Durante os meses de inverno, quando apenas os vidros das janelas permanecem fechados, a radiação solar esquenta o interior da edificação e o ambiente se mantém aquecido por mais tempo, pois o calor retido não se dissipa no ar frio da noite. E durante os meses de verão, quando as janelas estão completamente abertas, a brisa fresca da manhã e do final de tarde que passam pela edificação retiram o calor interno gerado pelas pessoas e pela cozinha. A camada de vegetação e de solo no telhado não deixa o calor ser transmitido para a forração interna, assim o ambiente se mantém fresco mesmo em dias de sol forte. Todo este processo de melhoria da qualidade ambiental nas cidades só será influenciado pelos telhados verdes se a maioria das edificações adotarem esta técnica. Somente se houver uma grande área vegetada ocorrerá a redução significativa da carga instantânea no sistema de drenagem das águas pluviais e possivelmente diminuir as enchentes nas ruas. Assim como a diminuição dos níveis de CO₂ na atmosfera e a mudança da paisagem urbana somente será percebida se o uso dos telhados verdes passar a fazer parte dos projetos arquitetônicos e de engenharia. É necessária uma mudança de mentalidade tanto dos profissionais como dos clientes e usuários embasados na tecnologia de materiais e na necessidade de viver em um ambiente favorável para toda a sociedade.


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VANTAGENS DOS TELHADOS VERDES QUANTO A ACÚSTICA E CONFORTO TÉRMICO PROFA. GABRIELLA KURTZ OLIVEIRA MSC

Inúmeras mudanças na sociedade do mundo desenvolvido levaram à expansão e ao crescimento, as vezes desenfreado, principalmente das grandes e médias cidades brasileiras, que somado ao uso irresponsável de recursos naturais e ao aumento dos meios de transporte à combustão, tem causado diversos problemas ambientais para o meio urbano. Segundo dados retirados de Gehl (2013) a população mundial total cresceu vertiginosamente e grande parte desse crescimento dramático ocorre nas áreas urbanas. Em 1900, 10% da população mundial vivia em cidades. Em 2007, essa fatia tinha inchado para 50% e, por volta de 2050, acredita-se que 75% da população mundial viverá em áreas urbanas. Para abrigar tantos novos moradores, cresceu também o número de edifícios de apartamentos, corporativos, comerciais, subsolos para garagem, metrôs, entre outros que por sua vez acabam ocupando e impermeabilizando boa parte dos terrenos urbanos. Paralelo a isso, o tradicional tráfego de pedestre e bicicletas está diminuindo e o crescente tráfego motorizado está entupindo as cidades, causando problemas com ruído e poluição do ar que crescem a cada dia.


88 Em decorrência disso, o espaço urbano começou a apresentar problemas ambientais nas últimas décadas, como por exemplo, grande emissão de carbono no ar, a formação de ilhas de calor nas cidades e o aumento do ruído ambiental. Desta forma, é chegada o momento de dar o ponto de partida para a necessidade de criação de alternativas sustentáveis como atenuantes dessa situação. Dentre as soluções encontradas com essa finalidade, os telhados verdes recebem excepcional destaque por ser uma técnica que consegue suprir as três questões citadas, ou seja, adequação e conforto térmico, isolamento e melhora acústica, e redução da poluição do ar. Sobre esses, neste capítulo será abordado a relação de benefícios e vantagens do uso do telhado verde perante o conforto ambiental térmico e acústico, tanto externo (ambiental) quanto internos da edificação.

CONFORTO TÉRMICO

De uma forma geral, diz-se que a arquitetura deve servir ao homem e ao seu conforto e antes de iniciarmos o assunto técnico sobre telhados verdes e sua relação com o conforto térmico, é primeiro preciso saber o que de fato é “Conforto Térmico”. É indiscutível que o homem tem melhores condições de vida e saúde quando seu organismo pode funcionar sem ser submetido à fadiga ou estresse, inclusive térmico. E considerando que as principais variáveis climáticas desse conforto térmico são temperatura, umidade


89 e velocidade do ar e radiação solar incidentes, estar em conforto significa que as trocas de calor entre o corpo humano e o ambiente ocorrem sem maior esforço. Nesse caso, é possível dizer que a sensação de conforto pelo indivíduo é máxima. Porém, se as condições térmicas ambientais causam sensação de frio ou calor, é porque nosso organismo está perdendo mais ou menos calor que o necessário para a homeotermia – necessidade que o homem tem de manter a temperatura interna do organismo constante independente das condições climáticas – causando o desconforto ambiental. Portanto, o desempenho das edificações deve atender as exigências e as necessidades dos usuários, de acordo com o uso que lhe foi proposto, respeitando as condições de durabilidade, conforto e segurança, e ainda contribuir na economia de energia. Dentro desse propósito foi elaborada e hoje rege alguns ramos da construção civil, a norma de desempenho das edificações NBR 15.575 (2013), que tem como objetivo principal melhorar a qualidade e promover a garantia do atendimento às exigências dos usuários de edificações habitacionais. No que tange os elementos construtivos de uma edificação, os que estão diretamente ligados ao desempenho térmico são as paredes e a cobertura, denominados envolventes ou parte do envoltório da edificação. Assim, de acordo com Mascaró et al. (1992), o bom desempenho térmico da habitação depende dos materiais constituintes dessa envoltória e da zona climática em que a habitação está situada. O fator de localização está relacionado à variação climática existente por exemplo, no Brasil, um país com grande extensão


90 territorial e com uma diversidade muito grande de climas. Em virtude disso, foi elaborada e está presente na norma técnica NBR 15220-3 (2003) oito zoneamentos bioclimáticos brasileiros, ou seja, o Brasil foi subdividido em oito zonas bioclimáticas que foram classificadas de acordo com a homogeneidade quanto ao clima em 330 cidades brasileiras (Figura 39). Essa zona, que tem como objetivo auxiliar as decisões projetuais para que um edifício consiga obter o conforto térmico de seus habitantes, é o resultado geográfico do cruzamento de três tipos diferentes de dados: zonas de conforto térmico humano, dados

climáticos,

e

estratégias

de

projeto

e

(ELETROBRÁS/PROCEL, 2010). Figura 39. Zoneamento bioclimático brasileiro.

Fonte: NBR 15220-3 (2003)

construção


91 Nestas zonas bioclimáticas não foi computado as chamadas ilhas de calor que são resultados de um crescimento desordenado das áreas urbanas. Destas, pode-se dizer que essa nomenclatura é dada pelo incremento da temperatura, ou seja, aumento de calor concentrado, nos centros urbanos em relação às áreas de entorno. Situação a seguir avaliada em conjunto com a técnica de telhados verdes.

Telhados verdes como solução para ilhas de calor Conforme já apresentado e explicado, o comportamento climático de ilhas de calor pode ser explicado como resultantes das estruturas urbanas inchadas com volumes e materiais que armazenam calor que somada à falta de arborização no local, afeta as condições atmosféricas próximas dessas superfícies. Tal efeito é sentido no nosso dia-a-dia quando se está no centro urbano de uma cidade e é possível se deslocar para uma área rural ou simplesmente, em um espaço amplo mais arborizado, nestas situações é sensível a diferença de temperatura entre esses locais. Essa diferença climática está representada na Figura 40, retirada de Protect Program (2008) em que deixa claro que parques e áreas de vegetação tem superfícies mais frias e contribuem para temperaturas de ar mais frias também, enquanto que áreas mais densas de construção retém temperaturas mais elevadas do ar.


92 Figura 40. Variação da temperatura atmosférica e das superfícies.

Fonte: (PROTECTION; PROGRAMS, 2008a)

Ainda de acordo com Protection Program (2008) e considerando o que Bias (2003) cita, dizendo que esse fenômeno de ilhas de calor é mais verificado em ambientes urbanos em um dia de verão quente e ensolarado, onde o sol pode aquecer os telhados e pavimentos atingindo temperaturas entre 27 e 50°C mais quente que o ar. Já em ambientes rurais essas superfícies tendem a permanecer com temperatura próximas às do ar. Se tratando de períodos do dia, as ilhas de calor de superfícies urbanas são presentes dia e noite, porém são mais acentuadas durante o dia, quando o sol está brilhando. Em média, ao se tratar do período diurno, a diferença média entre as superfícies rurais e urbanas atinge um intervalo entre 10 e 15°C, já no período


93 noturno essa diferença cai para um intervalo de 5 a 10°C, variando também de acordo com a época e estação do ano. A Figura 41 apresenta os diferentes padrões de refletividade, ou de albedos – que é uma medida da quantidade de energia solar refletida pela superfície, assim, um valor baixo de albedo implica temperatura da superfície mais elevada - são altamente dependentes dos materiais empregados na construção civil. Nota-se que, dependendo do albedo, mais radiação será absorvida e mais calor será emitido pela superfície, aumentando a temperatura geral do ar e consequentemente, gerando um efeito de aumento do consumo de energia por condicionamento e ventilação artificial para resfriamento das edificações do entorno imediato. Este aumento de consumo de energia, eleva também o aumento da geração de eletricidade pelas usinas em que algumas dessas emitem gases poluentes no ar, gerando o efeito estufa e contribuindo também às mudanças climáticas. Desta forma, as ilhas de calor no verão contribuem, de certa forma, com a formação de poluição atmosférica.


94 Figura 41. Albedo de materiais urbanos.

Fonte: https://www.epa.gov/, traduzido.

O aumento da temperatura da superfície durante o dia, a redução do resfriamento noturno e a elevação da poluição atmosféricas que são fatores associados às ilhas de calor, podem afetar a saúde humana, contribuindo para o desconforto, dificuldades respiratórias, calafrios, exaustão, podendo chegar a se tornar causa de AVC (Acidente Vascular Cerebral). É com base nos diversos estudos realizados nesta área ambiental e com base na afirmação de Yu apud Shinzato (2009) em que incluir a vegetação em área urbanas é uma das principais estratégias para reduzir efeitos de ilhas de calor, uma vez que as plantas representam um importante papel de regular o clima urbano, é que a prática da inclusão de telhados verdes, também conhecidos como coberturas


95 verdes ou coberturas vivas, já existente há anos, retorna às práticas da construção civil. Esta técnica atua protegendo as superfícies do telhado das edificações, ao mesmo tempo que possibilita a existência da evapotranspiração e sombreamentos. A proteção realizada no telhado está vinculada ao fato de que as camadas do telhado verde e sua vegetação impedem que a luz solar tenha contato direto com a laje de cobertura do edifício, gerando inclusive um sombreamento de acordo com as espécies utilizadas no projeto. Para isso, pode vir a se tornar interessante a previsão de uma vegetação caduca em que no período de verão gerará sombra à cobertura, e no período de inverno, com a queda das folhas, a luz solar terá um alcance maior na base da estrutura, permitindo à edificação de receber um calor a mais nessa estação, podendo contribuir positivamente ao conforto ambiental do usuário nesse espaço urbano. Para fim de confirmação desse desempenho dos telhados verdes como forma de amenizar o calor local, alguns estudos foram realizados por diversos autores onde valores numéricos foram apresentados. Dentre estes estudos cita-se um realizado nos Estados Unidos e publicado por Protection Programs (2008b), em que avaliou e comprovou que esse sombreamento gerado pela vegetação pode reduzir a temperatura superficial de paredes e telhados em um intervalo de 11 a 25°C, quando comparados com um telhado sem sombreamento.


96 Além desse benefício, há também questões técnicas biológicas que contribuem para a redução da temperatura local, como é o caso da evapotranspiração. Essa é a união de dois fenômenos que acontecem no meio vegetal, são eles: a evaporação, que é a conversão da água de líquido para gás; e a transpiração, momento em que as plantas absorvem água pela raiz e emitem para o ambiente através das suas folhas. Juntos, a evapotranspiração resfria o ar por meio do calor do ar que induz a evaporação da água. Neste caso, porém, é importante ressaltar que esse fenômeno depende das características do local em que a edificação está inserida, ou seja, umidade do ar e incidência solar. Chicago, nos EUA, comparou as temperaturas entre o telhado convencional e o telhado verde no verão. O resultado dessa pesquisa está demonstrado na Figura 42 e seus índices chegam a variar de 33 a 48°C no telhado verde enquanto que na cobertura convencional esse valor chegou a 76°C. Quando medida a temperatura do ar na região desses telhados, sem tocá-los, a diferença encontrada foi de 4°C para menos em cima do telhado verde. Figura 42. Diferenças de temperaturas entre o telhado verde e o convencional.

Fonte: (PROTECTION; PROGRAMS, 2008b)


97

Outro benefício do telhado verde é a contribuição para a redução dos níveis de poluição atmosférica causada tanto pelos meios de geração de energia quanto por veículos, indústrias e sistemas mecânicos.

Telhados verdes para o conforto dos usuários Parte do que já foi citado sobre a influência dos telhados verdes para a melhora das ilhas de calor dos centros urbanos, se assemelha com a maneira de alcançar os níveis de conforto para os usuários dos ambientes internos das edificações que possuem esse sistema. Segundo Lopes (2007), a característica mais importante para o controle térmico dos materiais e componentes construtivos é avaliar o seu comportamento térmico, do ponto de vista da transmissão de calor. O telhado verde por sua vez é composto por diversas camadas que protegem a incidência solar direta na laje de cobertura da edificação e que, consequentemente, evita que durante as trocas térmicas existentes em quaisquer elementos e corpos, seja transmitido muito calor ao ambiente logo abaixo. Ao que se trata de conforto térmico dos ocupantes de um espaço, o maior controle que deve ocorrer é a manutenção do equilíbrio térmico entre o corpo humano e o ambiente em que está inserido. Estando esse em conformidade com o esperado, é possível


98 atingir a sensação de conforto do usuário, que é definido como uma condição da mente que expressa satisfação com o ambiente térmico. Em um estudo desenvolvido por Morais (2004) e citado por Oliveira (2016) foi verificado que dentre os raios solares incididos sobre uma cobertura verde, 27% são refletidos, 60% são absorvidos pela plantas e 13% são transmitidos para o solo que compõe o sistema. Com isso Morais (2004) demonstrou que no desempenho térmico de verão a cobertura verde reduziu em 20% o fluxo de calor devido aos materiais componentes do sistema, sobretudo as plantas por meio de características biológicas como a fotossíntese e evapotranspiração. Para Lopes (2007), o bom comportamento térmico desse sistema está relacionado, principalmente, com a capacidade de inércia térmica da camada do substrato. Nesse sentido, de acordo com os testes realizados por Lopes (2007), o calor transmitido por radiação solar é transferido gradativamente para o interior da edificação, não acompanhando de forma imediata, as variações externas da temperatura do ar, além de diminuir as oscilações de temperatura no sistema construtivo. Tal comportamento é resultado do que se chama de isolamento térmico, onde o sistema auxilia na melhora das propriedades de isolamento de um edifício, atuando na redução de temperatura no verão e aumento da temperatura no inverno, através do acréscimo de massa térmica, estabilizando as temperaturas durante todo o ano. Esse desempenho do telhado verde auxilia também na redução do consumo energético pelo edifício ou usuário.


99 Estudos realizados por Alcazar e Bass (2005) apud Uhmann (2016), demonstram que o telhado verde provê uma economia de energia de 1% a 6% para o resfriamento e 0,5% no aquecimento. Vale ressaltar que esses benefícios foram adquiridos em ambientes imediatamente abaixo das coberturas, não sendo identificado nenhum benefício nos demais pavimentos. Este comportamento da cobertura verde é comprovado por Ferraz (2012) que realizou uma pesquisa de comparação entre o comportamento térmico entre uma cobertura verde e uma com telhas cerâmicas. Neste estudo concluiu que o ambiente sob uma cobertura de telhas cerâmicas necessitou de condicionamento térmico artificial nas condições de verão para atingir a temperatura indicada pela norma técnica NBR 6401 (1980), enquanto que a cobertura verde, sob as mesmas condições, atingiu esse parâmetro sem a necessidade de condicionamento artificial. Já em condições de inverno, os dois tipos de cobertura precisaram de condicionamento artificial, porém, a potência de aquecimento foi 10 vezes menos na cobertura verde, quando verificado. De uma forma geral, a diminuição do fluxo de calor para dentro das edificações pode ser de grande interesse para a melhoria do conforto interno, através da redução de ganhos térmicos excessivos nos períodos mais quentes e isolando termicamente a perda de calor de dentro para fora nos períodos mais frios. Nesse caso diz-se que o telhado verde mantém uma oscilação menor de temperatura nos


100 ambientes internos em comparação com a oscilação de temperatura do ar, durante o dia, no meio externo da edificação.

CONFORTO ACÚSTICO

O conforto acústico é o viés dentro do estudo de conforto ambiental que está vinculado ao som e controle do mesmo. O som, propriamente dito, é causado pela variação da pressão ou da velocidade das partículas do ar de um meio fluido e é propagada em forma de energia que é transmitida pela colisão das moléculas. Todo som considerado indesejável ou desagradável ao ouvinte é denominado ruído, enquanto que o som agradável é chamado de “som”. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a poluição sonora é, depois da poluição do ar e da água, o problema ambiental que afeta o maior número de pessoas. A transformação das cidades, da mesma forma em que causou modificação nas condições climáticas dos locais, também é responsável pelo aumento da poluição sonora principalmente nos centros urbanos, seja em decorrência dos meios de transporte seja por fábricas ou qualquer outro tipo de uso das edificações. De acordo com Nunes (1999) o ruído oriundo do tráfego de veículos é comprovadamente um dos maiores poluidores ambientais e o que causa maior incômodo à população. Essa poluição sonora quando muito intensa e recorrente pode causar graves consequências à saúde da população, dentre as


101 quais pode-se citar o estresse, distúrbios do sono, cansaço, problemas de pressão alta, problemas cardíacos ou até mesmo perda auditiva. A solução encontrada na utilização do telhado verde se encaixa em uma das três abordagens fundamentais para redução da exposição ao ruído ambiental publicada pela Comissão das Comunidades Europeias em que cita que uma solução é limitar a transmissão de ruído através da colocação de barreiras entre as fontes e as pessoas afetadas. A respeito de normas técnicas, no Brasil ainda há pouca legislação sobre ruído urbano, mas dentre as existentes é importante salientar a NBR 10.151 (2000) – Avaliação do ruído em áreas habitadas visando o conforto da comunidade. Nela são determinados os horários limites dos períodos noturno e diurno e tem como objetivo fixar as condições de aceitabilidade do ruído em comunidades, expondo valores de decibéis (dB) aceitáveis de acordo com a região de análise. Além desta norma, algumas cidades possuem leis complementares que abordam questões sobre ruído urbano, ou mesmo, pode estar presente no Plano Diretor do município. Os autores Van Renterghem e Botteldooren (2008, 2009) realizaram pesquisas em que seus resultados deixam claro que a energia sonora pode ser reduzida por um telhado verde de duas formas: ou fornecendo isolamento maior do sistema do telhado ou absorvendo ondas sonoras que se propagam. Isolamento acústico se refere ao nível de impedimento gerado pelo telhado para que o ruído gerado no meio externo não seja transmitido para o ambiente interno.


102 Já a absorção é quando parte da energia acústica contida na onda sonora incidente é absorvida no interior de determinado material. A partir da absorção sonora, tem-se como referência para avaliação de um material o que se chama de Coeficiente de Absorção Sonora. Este é definido como sendo a razão da energia acústica absorvida pela energia incidente. No caso dos telhados verdes, Connelly (2011) afirma, de acordo com suas pesquisas, que esse tipo de cobertura tem coeficientes de absorção significativos. Essa afirmação parte dos resultados da medição de uma faixa de substratos desses telhados que apresentam impacto significativo sobre a absorção em função da porosidade, teor de matéria orgânica ou umidade. Para substratos com maior quantidade de matéria orgânica a absorção sonora por esse elemento é maior. Para Smhyrnova et al apud Piovesan (2013), nas amostrar vegetais testadas, o coeficiente de absorção se mostra geralmente acima de 0,5 nas frequências médias e altas, que são as bandas de frequência mais suscetíveis à percepção humana, ao passo que a audição é pouco sensível às baixas frequências, ou seja, sons graves. Esse desempenho qualifica o telhado verde como sendo muito eficaz no controle do ruído urbano. Ao que os estudos indicam, as camadas de substratos são mais responsáveis pela absorção de frequências menores enquanto que frequências na gama de 500 Hz a 1.600 Hz é absorvido pelas plantas. Dessas plantas ainda vai depender das diferenças entre folhagem, altura e massa, ou seja, densidade das


103 plantas, área da copa e estrutura da raiz afetam a porosidade e a absorção. Além do substrato e plantas já citadas, há autores que julgam importante salientar e conhecer a quantidade de água presente nos materiais porosos. Neste caso, se o substrato estiver molhado, a absorção sonora será menor. O mesmo resultado acontece se o substrato estiver compactado. Em números, à medida que o teor de umidade no substrato aumenta dentro da planta, a porcentagem de absorção sonora diminuirá em até 26% e a compactação reduzirá a absorção em 10%. Piovesan (2013) desenvolveu um estudo comparativo entre dois sistemas modulares de telhado verde, o alveolar simples e o hexagonal alterando apenas entre espessuras de substrato e tipos de plantas. Neste estudo é possível ter acesso à dados de absorção acústica para diferentes bandas de frequência dentre as tipologias de telhados estudados. Estes comportamentos são apresentados no gráfico criado por Piovesan (2013) que está apresentado na Figura 43 abaixo. Figura 43.Comparação dos coeficientes de absorção sonora para os diferentes tipos de telhados verdes analisados por Piovesan (2013)

Fonte: (PIOVESAN, 2013)


104 Dele partem conclusões de que apesar das diferenças de comportamentos entre os sistemas e suas variações, há a semelhança na ascendência do valor para o coeficiente de absorção sonora, sendo pequena absorção em baixas frequências e aumentando a partir de 200 Hz, portanto médias e altas frequências. Quanto ao aumento da espessura do substrato, ocorreu diferenças nos modelos apresentados em que no momento em que essa espessura aumentava, o coeficiente de absorção aumentava junto, principalmente para baixas frequências. Porém, segundo Connelly (2011), esse comportamento diretamente proporcional do substrato ocorre até no máximo 9 cm de espessura, depois desse limite os valores de absorção não apresentam resultados tão satisfatórios. (PIOVESAN, 2013) Com todos esses estudos realizados por diversos autores fica a comprovação técnica das vantagens e influência positiva que o telhado verde tem para o controle e diminuição do ruído urbano existente nas cidades, principalmente nos centros urbanos, resultantes muitas vezes do tráfego de veículos leves e pesados, ou às vezes da rota de aeronaves quando próximos de aeroportos. No caso de isolamento do ruído para o ambiente ligeiramente abaixo da laje de cobertura, o comportamento também se julga positivo em função de que a densidade de toda a estrutura e as camadas presente no sistema impedem que as vibrações sonoras, consequentes das ondas de som que atingem uma superfície, alcancem a laje de cobertura do ambiente que está abaixo. Confirmado por Connely e Houdson (2008) os tetos verdes têm o potencial de fornecer


105 excelente isolamento acústico devido a sua grande massa, baixa rigidez e efeito de amortecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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106 FERRAZ, I. L. O desempenho térmico de um sistema de cobertura verde em comparação ao sistema tradicional de cobertura com telha cerâmica. [s.l.] Universidade de São Paulo, 2012. GEHL, J. Cidade para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. LOPES, D. A. R. Análise do comportamento térmico de uma cobertura verde leve (CVL) e diferentes sistemas de coberturas. [s.l.] Universidade de São Paulo, 2007. MASCARÓ, J. L. et al. Incidência das variáveis projetivas e de construção no consumo energético dos edifícios. Rio Grande do Sul: [s.n.]. NUNES, F. Poluição Sonora Em Centros Urbanos: O Ruído De Tráfego Veicular. ENEGEP. Anais...1999 OLIVEIRA, P. L. DE; SOARES, R. G.; SANTOS, S. X. Desempenho térmico das edificações: estudo comparativo entre o telhado verde e outros tipos de coberturas. Revista Petra, v. 2, p. 36–55, 2016. PIOVESAN, T. R. Caracterização acústica de dois sistemas modulares de telhados verdes brasileiros. [s.l.] Universidade Federal de Santa Maria, 2013. PROTECTION, U. S. E.; PROGRAMS, A. Reducing Urban Heat Islands: Compendium of Strategies Urban Heat Island Basics. [s.l: s.n.]. PROTECTION, U. S. E.; PROGRAMS, A. Reducing Urban Heat Islands: Compendium of Strategies Green Roofs. [s.l: s.n.]. SHINZATO, P. O impacto da vegetação nos microclimas urbanos. [s.l.] Universidade de São Paulo, 2009. UHMANN, I. M. DE S. Readequação de coberturas através da técnica de telhados verdes: estudo de caso nas escolas públicas do estado do Paraná. [s.l.] Universidade Federal do Paraná, 2016.


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CONSIDERAÇÕES ESTRUTURAIS PARA O DIMENSIONAMENTO DE TELHADOS VERDES PROFA. DR. EMANUELE TELES OURIQUES DE MELLO

ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DO SISTEMA DE TELHADOS VERDES

Apesar de não exigir inovação nos estudos de concepção estrutural de telhados verdes e tratar-se de um sistema simples, ao contrário do que se imagina, a instalação de telhados verdes exige infraestrutura específica e adequada. Não consiste em simplesmente colocar a vegetação sobre a cobertura da edificação. É necessário estabelecer um meio que conecte e proteja tanto a estrutura, ou a edificação em si, quanto o sistema do telhado verde, ou seja, a estrutura viva. Um Sistema de Telhado Verde pode ser concebido nas mais variadas coberturas, de metal, de madeira, de concreto ou qualquer outro tipo de superfície desde que a mesma seja impermeabilizada. Entretanto, em quaisquer dos casos, é necessário que seja realizada uma análise estrutural para determinar se a base do telhado verde comporta o sistema. Se este não for o caso, deve-se realizar o reforço estrutural necessário para que esta base suporte o telhado verde. Devem ser consideradas as cargas permanentes (relativa ao peso próprio da estrutura e pelo peso de todos os elementos construtivos


110 fixos e instalações permanentes) e acidentais (relativa a toda aquela que pode atuar sobre a estrutura de edificações em função do seu uso pessoas, móveis, materiais diversos, veículos, entre outros). As normas vigentes estabelecem valores para os pesos específicos dos materiais de construção, dos produtos agrícolas, das cargas verticais, entre outras. A composição específica de cada sistema de telhados verdes permitirá que se calcule estas cargas e que a partir de cada sistema específico, se possa realizar a concepção estrutural da base do sistema. É necessária a adequação estrutural do elemento portante para que sirva como base do sistema construtivo do telhado verde. Se a cobertura se tratar apenas de uma laje, há a necessidade de proceder com a impermeabilização e ainda a proteção desta impermeabilização. Se for o caso de uma cobertura composta por telhas cerâmicas, as mesmas deverão ser substituídas por placas de compensado que possam servir como apoio desta base e a partir desta base realizar a impermeabilização. A partir desta impermeabilização começam a ser sobrepostas as camadas que compões a estrutura viva do telhado verde. São considerados Elementos Construtivos do Sistema de Telhado Verde: Base portante: estrutura para o qual devem ser dimensionadas as cargas atuantes no sistema, sejam estas as cargas permanentes e/ou as cargas acidentais; Camada de regularização: apresenta-se com a função de preparar a base portante para receber a camada de impermeabilização.


111 Atenua as eventuais imperfeições da estrutura, arredondando os seus vértices. Deve ser executada com o caimento mínimo de 1% para escoar as águas para as calhas e condutores, a fim de evitar gerar sobrepeso sobre a estrutura, ou ainda, deteriorar a camada de impermeabilização. Camada de impermeabilização: camada de adequação do elemento estrutural a fim de protege-lo de eventuais infiltrações que possam comprometer a edificação. Pode ser composta ainda por uma camada de proteção à impermeabilização; Camada de isolamento térmico: camada destinada a proteger a edificação da incidência solar a ser absorvida pela cobertura da edificação. É concebida a partir dos índices de incidência de energia solar na região em que se localiza a estrutura; Camada de drenagem: esta camada tem como função permitir o escoamento do excesso de água existente no solo. Pode ser constituída de argila expandida, brita ou seixos rolados; Camada filtrante: evita que a água das chuvas carreie as partículas do substrato do telhado verde. Usualmente, são utilizadas mantas geotêxtis. Camada de proteção contra raízes: o cuidado com o crescimento das raízes também é um fator importante a fim de que as mesmas não interfiram nas camadas inferiores e faça com que as mesmas não exerçam suas funções de proteção à edificação. Esta camada poderá ser eliminada em função da escolha das espécies adequadas para cada situação, aliada a escolha do substrato. Para que


112 isto aconteça, tanto as espécies utilizadas quanto o substrato de solo deverão ser determinados por um especialista; Substrato de solo: camada de terra, ou ainda, substrato orgânico que apresente bons parâmetros de drenagem e composição mineral de nutrientes que viabilize o desenvolvimento e manutenção da vegetação escolhida. Sua espessura sempre deverá ser determinada de acordo com a especificidade da vegetação a ser utilizada; Vegetação: trata-se da camada aparente dos telhados verdes. Além de sua aparência estética, deve ser considerado em sua escolha o clima regional e as atividades a serem realizadas para a sua manutenção, ou até mesmo, se esta manutenção deve ser minimizada. Todo o cálculo estrutural contemplará o peso próprio da água da chuva acumulada, além de todos estes Elementos Construtivos do Sistema de Telhado Verde. É relevante ressaltar que na literatura disponível existem variações na composição dos Elementos Construtivos dos Sistemas de Telhados Verdes, respeitando especificidades da vegetação escolhida, construtivas e regionais. Seguem alguns exemplos destas composições.


113 Figura 44. Camadas de um telhado verde.

Fonte: Cultivar biodiversidade e permacultura 2012 Figura 45. Camadas de um telhado verde.

Fonte: Arquidicas 2017


114

INDICAÇÕES QUANTO À INCLINAÇÃO A SER ADOTADA EM UM SISTEMA DE TELHADOS VERDES

Ao tratar-se de projetar e desenvolver qualquer edificação de qualquer que possa vir a ser sua cobertura, a inclinação desta cobertura é um dos aspectos mais relevantes a ser considerado. Esta inclinação é normalmente limitada pelo uso do último pavimento e pela área da cobertura propriamente dita. Na concepção de telhados verdes, esta inclinação deverá ainda determinar a escolha do tipo de vegetação a ser escolhida, bem como de seu substrato. Se consideramos coberturas sem inclinação ou coberturas planas, as mesmas apresentarão um substrato de solo de espessura fina, o que além de acumular água com muita facilidade, é prejudicial para o processo de oxigenação da vegetação. Pelas normas da ABNT, é recomendada uma inclinação mínima de 1%, inclinação esta que pode ser executada na camada de regularização, uma vez que no caso destas estruturas planas, a mesma deva ser realizada principalmente para este fim. No intuito de reduzir os custos, indica-se uma inclinação mínima de 5%, uma vez que a partir desta inclinação, dispensa-se a utilização de uma camada de drenagem. Além do custo do material desta camada e sua efetiva execução, diminui-se consideravelmente o peso próprio da estrutura, uma vez que a mesma costumeiramente é constituída de argila expandida, brita ou seixos rolados, materiais que apresentam peso específico alto.


115 Já uma inclinação de 10%, que também dispensa a camada de drenagem, aumenta de forma significativa as forças de cisalhamento do substrato de solo. Além disso, neste caso, deve-se considerar a proteção do sistema quanto à erosão e escorregamento do material. Minke (2004), aponta que inclinações de 40% ou maiores requerem cuidados especiais para impedir o deslizamento do substrato de solo. O mesmo ainda aponta que a camada de proteção contra as raízes também tem um papel importante e colabora significativamente para estes deslizamentos. O autor recomenda a instalações de pilares nas bordas dos telhados para exercerem a função de transferências das forças de cisalhamento, além de barreiras de corte e perfis nos beirais que sejam necessariamente calculados por engenheiros estruturais. Ressalta ainda que o aumento considerável da inclinação pode vir a necessitar de grades de plástico a fim de prevenir contra os deslizamentos. Ainda de acordo com as definições de Minke (2004), para fins de cobertura, são consideradas inclinações mínimas as inclinações entre 0 e 15%, pouca inclinação as inclinações entre 15 e 35%, forte inclinação as inclinações entre 35 e 84% e acima de 84%, inclinadas. É importante ressaltar que na literatura, a inclinação, seja qual for, não é retratada como impeditivo para a utilização de um Sistema de Telhados Verdes. Existem apenas recomendações que refletem na complexidade dos mesmos. Embora exista a possibilidade se construir telhados com inclinação superior a 85% é amplamente contraindicado que as


116 inclinações de telhados em geral excedam 35%, por motivos de segurança. Fatores como dificuldades na instalação conservação e manutenção,

acessibilidade

comprometida

representam

perigo

iminente. Entretanto, sempre podem ser instalados pinos e travas para cinto de segurança, bem como outros equipamentos que se façam necessários para a prevenção de acidentes de trabalho.

IMPERMEABILIZAÇÃO DA COBERTURA PARA ASSENTAMENTO DOS ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DO SISTEMA DE TELHADOS VERDES

É de conhecimento comum na comunidade científica a preocupação com a realização de uma impermeabilização de qualidade, eficiente e duradoura em todo e qualquer tipo de cobertura. De acordo com Gatto (2012), caso algum problema se apresente nesta camada, seja de execução ou de material impróprio ou defeituoso ou mesmo sinistros improváveis, todo o sistema perde a garantia e a validade de sua função principal de proteger as edificações das intempéries. A autora ainda afirma que, todavia, uma execução mal feita ou qualquer defeito existente na camada de impermeabilização se torna um grande transtorno, que compromete a vida útil da cobertura como um todo, além de ser extremamente difícil e trabalhoso fazer algum reparo, haja vista a necessidade de se retirar todas as camadas até a impermeabilização para se encontrar o problema a ser sanado e depois refazê-la, e nem sempre é simples encontrar o foco de infiltrações, mesmo sem as camadas.


117 De acordo com a citação de Kirby na obra de Ohnuma Junior (2008), a tanto a estabilidade das áreas molhadas e quanto a aderência ao substrato de solo são consequências da precisão da camada de impermeabilização nos sistemas de coberturas verdes. O objetivo é conduzir a água proveniente do sistema para os escapes previstos, protegendo a estrutura em si, garantindo desta forma a inexistência de excesso de saturação que além de gerar o encharcamento e acúmulo de água não previsto, não permita também este excesso de água nas raízes para não prejudicar a vegetação. Se atingir seus objetivos a impermeabilização passa a ser fundamental para evitar a sobrecarga da base portante. No intuito de proteger a camada de impermeabilização, considera-se fundamental a utilização de uma camada de proteção contra raízes. Esta ação garante melhora na estanqueidade do Sistema de Telhados Verdes. A função desta camada é proteger as mantas (principalmente as betuminosas) de perfurações pelo crescimento da vegetação e consequentemente de suas raízes. Caso ocorram estas perfurações, transformam-se em vulneráveis ou até mesmo ineficiente o processo da impermeabilização, comprometendo como um todo a estrutura do Sistema de Telhado Verde.

CONCEPÇÃO ESTRUTURAL DO SISTEMA DE TELHADOS VERDES

O cálculo e o dimensionamento de Telhados Verdes devem considerar todos os elementos construtivos que fazem parte de seu


118 Sistema. Quais os elementos que farão parte de cada sistema de Telhados Verdes serão determinados em função da escolha da vegetação, base portante, sua inclinação, a que objetivos este sistema se propõe e de onde se localizam em função do clima. Deve-se deixar claro que não se trata apenas de quais elementos ou de quais camadas se tratam, mas de todos os materiais que as compõem, tornando específica

a

concepção daquele

sistema. Como

fora

citado

anteriormente, é importante ressaltar que o fator de maior importância no dimensionamento do carregamento e das sobrecargas a serem considerados são as camadas de substrato de solo, em função de seus pesos específicos elevados. Deve-se ainda considerar cuidadosamente o estudo das estruturas adjacentes e subjacentes das edificações no que concerne às cargas de chuvas normais e extraordinárias e verificar potencial acúmulo de água ou transbordamentos para evitar fissuras, trincas ou falhas que possam danificar a edificação ou, até mesmo provocar seu colapso. No que diz respeito às chuvas e ao acúmulo de água, capturando-se um cenário pessimista, dimensiona-se a carga excedente proveniente de uma chuva de curta duração. Para tal, utiliza-se o índice pluviométrico máximo da região, com um tempo de recorrência de 25 anos, calcula-se a vazão (por minutos) e o peso da água sobre os sistemas considerando a inclinação e o caimento específicos. Em termos de concepções estruturais, exige-se a classificação das coberturas em tipos extensivos, intensivos e semi-intensivos, uma


119 vez que esta classificação se faz pelo peso global de cada uma delas. As coberturas extensivas são leves e finas e, geralmente, estão contempladas no dimensionamento das cargas suportadas pelas estruturas de coberturas existentes, segundo Heneine (2008). Ainda segundo a autora, para avaliação da estrutura, o sistema extensivo com substrato de 5 a 15 cm de espessura aumentará a carga em aproximadamente de 70 a 170 kg/m² e os intensivos com substrato acima de 15 cm apresentará mais peso e sérias implicações estruturais, aumentando a carga entre 290 a 970 kg/m². Seguindo uma outra abordagem, os ecotelhados modulares, que são composições de telhados verdes modulares patenteados, amplamente difundidos online. Têm o peso de 50 kg/m² e equivalem ao telhado cerâmico convencional utilizado na Região Sul do Brasil, podendo assim ser colocado em qualquer tipo de laje ou telhado, sem muitas restrições. Não menos relevantes na análise da carga a ser dimensionada, devem ser consideradas estruturas como eventuais pergolados, passarelas e elementos decorativos. Não menos importantes, não se deve desconsiderar as cargas de tráfego, seja para manutenção ou do uso efetivo da cobertura, como enfatiza em seu website a International Green Roof Association - IGRA (2017). A fim de facilitar a vasta gama de aspectos a serem considerados no Planejamento e no Dimensionamento das Estruturas de Sistemas de Telhados Verdes, a IGRA (2017) desenvolveu um checklist conforme a tabela que segue:


120 Tabela 2. Checklist para o Planejamento de Telhados Verdes – Planejamento e Construção. Parte I - Engenharia – Planejamento e Construção Infraestrutura de telhado

Infraestrutura (concreto armado, infraestrutura de madeira, chapas metálicas, entre outros.)

Impermeabilização

Reforma ou construção nova

Parapeitos de telhado, penetrações

Alturas do telhado e alturas do perímetro

de telhado e peças de construção adjacentes Inclinação do telhado

Consumo normal do sistema de telhado verde, absorção das forças de cisalhamento e erosão

Construção de telhado

Construção, isolamento térmico, capacidade de carga

Carga assumida

Área de cargas através do sistema de telhado verde acúmulo e uso do telhado

Levantamento do vento

Efeitos locais do vento, medidas de segurança

Drenagem do telhado

Dispositivos de drenagem, precipitação, saídas de telhado

Irrigação

Conexões de água, rega de irrigação

Prevenção de incêndio

Coberturas rígidas, protecção preventiva

Prevenção de Acidentes

Proteção contra quedas

Acesso ao telhado

Instalação, manutenção e manutenção

Funções Adicionais

Isolamento térmico, uso do telhado, águas pluviais e energia solar

Aprovação

Regulamentos de construção

Fonte: IGRA,2017


121 Tabela 3. Checklist para o Planejamento de Telhados Verdes – Tecnologia da Vegetação. Parte II - Tecnologia da Vegetação Condições locais

Clima, microclima, precipitação, altura do telhado, inclinação do telhado, exposição do telhado

Tipo de Telhado Verde Desejado

Telhado Verde Extensivo, Telhado Verde SemiIntensivo, Telhado Verde Intensivo

Acumulação do sistema

Camadas funcionais: barreira radicular, camada de proteção, camada de drenagem, camada de filtro, meio de cultivo, nível da planta

Seleção de plantas

Sementes, plantas e vegetação de telhados verdes extensivos e telhados verdes intensivos

Diferentes tipos de plantio

Semeadura, estacas, plantas de raiz, tapetes de vegetação pré-cultivados

Manutenção e suporte

Manutenção de instalação, manutenção de desenvolvimento, manutenção de manutenção

Retenção de água

Capacidade de retenção de água, coeficiente de escoamento de água

Custos / Subsídios

Custos, subsídios municipais

Fonte: IGRA,2017


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CONSIDERAÇÕES RELEVANTES NA CONSTRUÇÃO OU READEQUAÇÃO DAS ESTRUTURAS A SEREM UTILIZADAS NOS SISTEMAS DE TELHADOS VERDES

Muitas são as considerações a serem realizadas para o dimensionamento das cargas dos elementos estruturais dos sistemas de Telhados Verdes. Através destas considerações é inevitável que se conclua acerca da existência de inúmeras combinações para composição dos sistemas e ainda que cada projeto concebido deverá dimensionar as mais variadas cargas que quando detalhadas, transformar-se-ão em variados sistemas. Apesar de antever as diferentes possibilidades de um prédimensionamento, não é descartado o efetivo dimensionamento das cargas e das estruturas através de um estudo detalhado realizado por profissional especializado e habilitado, no intuito de assegurar a estabilidade do sistema, para que não haja imprevistos. A aparição de fissuras ou até mesmo trincas pode desta forma ser evitada. Este estudo pode prevenir até mesmo quanto ao colapso da estrutura e pode ainda garantir economia na concepção do sistema quanto à estrutura. Grande parte da literatura considera a estrutura de suporte da base portante como um limitante ou um impedimento para a substituição dos telhados convencionais por telhados verdes. Apesar disso, com o devido cuidado, a estrutura da base portante do sistema pode ser readequada e funcional, já que se trata de parte fundamental


123 para o bom funcionamento e eficiência do Sistema de Telhados Verdes e permitirá que esse quesito deixe de ser uma das desvantagens mais citadas pelos mais variados estudiosos. Neste intuito, pudemos desenvolver através destas mesmas considerações o raciocínio de que muitas variações com suporte técnico de profissionais qualificados aliado ao conhecimento dos pesos específicos dos materiais, tem elementos e subsídios suficientes para contornar e suportar estas que outrora seriam consideradas sobrecargas. Cabe uma análise de outros sistemas construtivos de coberturas utilizando telhados convencionais para que quando comparados com os Sistemas de Telhados Verdes possam desmitificar o quanto as coberturas verdes majoram a carga efetiva das edificações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT NBR 6120. Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de janeiro, 2000. ABNT NBR 9574. Execução de Impermeabilização. Rio de Janeiro, 2008. ABNT NBR 9575. Impermeabilização: Seleção e Projeto. Rio de Janeiro, 2010. GATTO, Christiane Merhy, Coberturas Verdes: A importância da estrutura e da impermeabilização utilizadas. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, UFJF - Juiz de Fora, 2012


124 HENEINE Maria Cristina Almeida de Souza. Cobertura Verde. Monografia do Curso de Especialização em Engenharia Civil, UFMG, Belo Horizonte, 2008. IGRA. International Green Roof Association. Disponível em: < http://www.igra-world.com>. Acesso em:01/04/2017. MINKE, Genot. Techos Verdes: Planificación, ejecución,consejos prácticos. Montevideo: Editorial Fin de Siglo, 2004. Disponível em: https://www.ecocosas.com. Acesso em: 01/04/2017. OHNUMA JR., Alfredo Akira. Medidas não convencionais de reservação de água e controle da poluição hídricas em lotes domiciliares. 2008. Tese de Doutorado - Escola de Engenharia de São Carlos, USP, São Carlos, 2008.


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