ARQUI #9

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Junho de 2018 edição 2/2017 nº 09

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Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo





editorial A

o se percorrer a pé o corredor ajardinado do edifício principal da Universidade de Brasília – o Minhocão – a sequência regular de pilares parece ora se abrir lentamente para desvelar vistas, ora se fechar como se fosse formar uma parede de concreto. Esse engenhoso jogo rítmico de volumes sob a luz é apenas uma das experiências que o campus da UnB nos propicia cotidianamente. Esta nona edição da revista ARQUI homenageia o campus não apenas pelas surpreendentes qualidades de sua arquitetura, mas por muito mais. Lugar privilegiado de produção de conhecimento e de cultura, o campus é também espaço de sociabilidade e de convivência com a diversidade, além de ser foco ativo de manifestações políticas. A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo tem relação íntima e de longa data com o campus: das pranchetas de arquitetos formados em nossa escola saíram projetos de vários edifícios da Universidade e, além disso, o variado acervo do campus serve de inspiração contínua e fonte de aprendizado para os alunos. Mais recentemente, a FAU-UnB tem desenvolvido outras iniciativas ligadas ao campus, tal como o miniguia e o projeto de extensão MuseUniversidade, registrado nesta revista. Entre as atividades realizadas no segundo semestre de 2017 e aqui documentadas, as atividades de extensão tiveram destaque durante a Semana Escala, quando houve oportunidade de vivenciar em oficinas os trabalhos de grupos de pesquisa e coletivos, assim

como debater resultados de experiências didáticas ou aprofundar o interesse por temas específicos. Esta revista mostra também que a comunidade da FAU teve muitas oportunidades para reflexões conjuntas em palestras e simpósios, por vezes envolvendo diálogos com membros de outras unidades. Professores e alunos apresentaram seus trabalhos na Faculdade e fora dela e também obtiveram importantes premiações em eventos científicos e culturais. Os projetos de diplomação e os ensaios teóricos selecionados para esta revista versam sobre muitas cidades, reais ou imaginárias, do Brasil ou do mundo. Mas, o universo de temas relacionados à história, às representações e aos problemas da metrópole Brasília tem particular ênfase. Como se pode ver nas páginas seguintes, os trabalhos da FAU-UnB são muito sensíveis a questões e problemas encontrados em nossa própria cidade e seu amplo contexto urbano e social. Nesse sentido, vale lembrar que, diferentemente da maioria dos campi de instituições brasileiras, a UnB não é fechada ou murada, mas dá continuidade aos espaços urbanos e insere-se na trama de Brasília. A proximidade e a interação com a vida e os conflitos da cidade trazem influxo vital para a produção acadêmica. A universidade está na cidade – e vice-versa.

A equipe editorial


sumário 10 PESQUISA 12 ensaio 14 notas sobre o papel da malha ferroviária no projeto urbanístico de brasília allyson pires moreira 15 espaço e tradição na arquitetura neocolonial no brasil ana carolina machado 16 cidade cyberpunk amanda farinati 18 prototipagem constanza ceschin manzochi

19 a dinâmica de expansão urbana de cidade ocidental dayane dos santos costa 20 “diga-me o que vestes que te direi quem és” fernanda sampaio cavalcante pedrosa 22 habitar no térreo gustavo dos santos 23 experiência grasshopper roberta carolina assunção faria 24 hugo julia huff theodoro 26 megaestruturas pedro ribs

28 NOVOS ARQUITETOS 30 diplô

52 biblioteca pública de águas claras lucas de freitas feijão

32 destaques 53 cidades 34 casa da música de ceilândia bruno arsky 36 intentional sparseness giovanni cristofaro 38 complexo para a moda em ceilândia marianna resende da silva 40 sesc limeira matheus bastos tokarnia 42 mina tarsila louzano moreira ferreira 44 habitação 45 gilmore house camilla ribeiro de abreu 46 projeto resgate maria luísa de medeiros 47 protótipo residencial replicável wendel ferreira santos

54 plano de mobilidade com foco nas motocicletas ana caroline lima silva 55 a cidade para 1 milhão de habitantes brenda oliveira 56 você está aqui luisa sabino rodrigues 57 um novo centro para vicente pires rayssa ferreira soares 58 águas claras vertical para pedestres tayra covolan figueiredo 59 requalificação urbana das quadras econômicas lúcio costa vanessa cristina cardoso 60 arquitetura e paisagem

48 espaços de aprendizagem 49 escola infantil maria montessori ana luisa de oliveira teixeira 50 reestrutura mulher bárbara alves de morais 51 arquitetura escolar esther birenbaum

61 62 63 64 65

prainha iara martins carvalho o lugar da criança jéssica oliveira barbosa olhos para o lago juliana da silva lago paranós laura tavares webber amaral o santuário fica samara ribeiro tokunaga


66 espaços de exibição, cultura e troca 67 novo espaço de trabalho camila joko 68 memorial às vítimas da ditadura giovanni dorneles munoz 69 centro cultural teatro da praça joão marcus cardoso de carvalho 70 mercadão de brasília júlia gasparini vidal 71 pequi sobre tela julia mazzutti bastian solé 72 museu do povo brasileiro paulo vitor amuy 73 cenografia

86 FAU PREMIADA 88 90 92 94 96

bid urbanlab bienal josé lutzemberger 11a bienal de arquitetura de são paulo 2a mostra courb I prêmio rosa kliass

114 GALERIA 116 #museuniversidade 119 campus darcy ribeiro 120 museuniversidade

74 outro circo arielle cristina martins dos reis 75 maya marina luise paixão de oliveira 76 tópicos especiais a vila que reinventamos caio vinicius fiuza 100 dimensões gabriela heusi rodrigues projeto integra ludmila pimenta laços luiza rego dias coelho planejamento afrorrural quilombo mesquita mariane paulino 82 instituto de saúde mental resiliência nathalia lemes 83 éksodos pedro iago aquino do nascimento 84 ubs tbs vinícius bazan delaverde 77 78 79 80 81

98 ENCONTROS 100 pé na estrada com o pé em belém 104 minicurso cities of power 105 universidade de brasília: ideia, diáspora e individuação lançamento do livro do professor jaime de almeida 106 arquiteturas do imaginário III espaço social e paisagens 107 paradigmas de brasília formas urbanas e arquitetônicas 108 simpósio arte e verdade 110 semana escala uma semana “de dentro para fora”

130 DESPEDIDA 122 christina jucá 123 frank svensson



PES QUI SA



“[... ]Quem copia não sabe nada. Por isso, aluno não tem guru. Tem que ser voraz e rebelde. Tem que negar os mestres. Tem que amá-los, ouvi-los, sugá-los e destruí-los dentro de si, para aprender a construir o caminho. ” Joaquim Guedes - Geometria Habitada (1995)

A

disciplina de Ensaio Teórico representa uma etapa importante no longo percurso de formação do Arquiteto e Urbanista. E ela inicia-se com a importante atividade de tomar decisões individuais, principalmente aquela de selecionar um tema num vasto repertório da nossa área de atuação. Uma certa rebeldia ao nosso sistema educacional pautado na formal dicotomia mestres versus alunos. Mas toda liberdade é carregada de responsabilidades. Fazendo um apanhado geral, o temário dos Ensaios pareceu aproximar-se do lema da Deutscher Werkbund: “Desde as almofadas dos sofás até o planejamento urbano” (em alemão “Vom Sofakissen zum Städtebau”). Ainda não foi nesse semestre que as almofadas se fizeram presentes, mas tivemos temas que perpassaram moda, literatura, ensino, habitação, tecnologia, mobilidade, espaço urbano etc. Um deslumbramento essas amplas possibilidades da Arquitetura. Agradeço à Comissão de Seleção, formada pelos professores Maria Claudia Candeia (Departamento de Projeto e Representação) e Carlos Luna (Departamento de Tecnologia), que teve o difícil trabalho de selecionar apenas dez entre os trinta e dois trabalhos submetidos. Todos os Ensaios possuem alta qualidade

de apresentação e escrita. Para tanto, os critérios elencados foram a originalidade dos temas por sua escolha e abordagem, bem como sua profundidade crítica. Os trabalhos que aqui se apresentam são apenas um pequeno demonstrativo das possibilidades e dos talentos individuais que despontam na nossa Universidade. Àqueles que não figuram essas páginas, convido a verem nessa seleção um estímulo para continuarem em busca do seu desenvolvimento da publicação dos seus estudos em outros meios. A finalização dessa etapa não irá esgotar sua capacidade de aprender e refletir. Todos devemos construir nossas próprias trilhas. Por fim, convido os leitores a adentarem esse portal de possibilidades que se abrirá nas próximas páginas. E aos alunos que em breve também passarão pela experiência do Ensaio, espero que essa seleção sirva de inspiração, mas que a usem seguindo os conselhos dos mestres, de modo a “[...] sugá-los e destruí-los dentro de si, para aprender a construir o caminho.” Ana Paula Gurgel Coordenadora de Ensaio Teórico


notas sobre o papel da malha ferroviária no projeto urbanístico de brasília

Allyson Pires Moreira A falta de especificidade no edital do Concurso do Plano Piloto da Nova Capital possibilitava a ocorrência de uma diversidade muito grande de propostas. Alguns concorrentes consultaram a Novacap em busca de dados mais precisos para embasar suas formulações, inclusive acerca da ferrovia. Oscar Niemeyer divulgou informações mais específicas, sendo que uma delas determinava: “uma nova estrada de ferro deverá ligar Anápolis ou Vianópolis à Nova Capital”. O transporte recebeu um papel de destaque entre os planos premiados, com soluções elaboradas e bastante inventivas. A Construtécnica apresenta uma ferrovia com mais importância para o transporte de insumos em desfavor ao de passageiros. A ferrovia cruza as vias rodoviárias 6 vezes, sem justificativa, de modo que estas ocorrências limitam-se a 20% da área desenhada no plano. A ferrovia de Vilanova Artigas é voltada para o abastecimento inicial em grande volume. As estações ferroviária e rodoviária estão equiparadas. A proposta vincula a ferrovia mais à escala regional do que à escala local. 14

As ferrovias de Mindlin/Palanti e de Rino Levi percorrem paralelamente a rodovia, formando uma barreira que separa a parte industrial do restante da cidade. Mindlin/Palanti apresentam uma significativa área de manobra com mais de 20 ramais paralelos, sem possibilidade de reversão, o que tornaria impossível sua utilização. Já Rino Levi não prevê nenhum tipo de centro de transporte. Para M. M. M. Roberto, a ferrovia assemelha-se a uma “artéria” principal dentro do traçado com pequenos ramais na linha que se entrelaçam com vias rodoviárias, complementando os sistemas. O ponto final da linha coincide com um porto fluvial, à margem do lago. Boruch Milman traz uma ferrovia que se relaciona mais intensamente com o centro industrial, acessando a cidade em 4 pontos. O destaque é para o complexo “estação rodo-ferro-aeroviária”, uma interligação de estações dos principais tipos de transportes terrestres juntamente com o aeroporto. No plano de Lucio Costa a ferrovia se divide, servindo tanto a estação ferroviária como a zona industrial, de modo que os usos não se misturam.

O desenho curvilíneo acompanha o restante do plano e parece se “encaixar” nos elementos urbanos, harmoniosamente adequados ao todo. A ferrovia está de pleno acordo com sua função: chegar, deixar, pegar e partir, da forma mais prática e eficiente possível. Como ideação de uma cidade a existir, a ferrovia de Lucio Costa é elemento essencial na concepção da nova cidade, com participação igualitária no conjunto urbanístico. A ferrovia e a rodovia têm sua exata medida, nenhuma ultrapassa a importância da outra. No projeto executivo de Brasília, em 1960, a ferrovia já não participa do desenho como um todo, agora, apenas chega na porção estritamente necessária da cidade, de fora do conjunto principal, passando a ser coadjuvante. Necessária à logística do transporte, mas sem monumentalidade, a ferrovia deixa de ser o elemento urbano da ideia inicial e passa a ser um elemento suburbano na cidade construída.

Orientador: Carlos Henrique Magalhães Banca: Ana Elisabete Medeiros e Maria Fernanda Derntl


espaço e tradição na arquitetura neocolonial no brasil uma leitura das residências neocoloniais sob a ótica da sintaxe espacial

Ana Carolina Ferreira Machado O “Tradicionalismo” ou “Colonialismo” - prenomes que a posteriori se unificaram sob a denominação de Arquitetura Neocolonial - veio à tona no primeiro quartel do século XX com o encargo de representar a arquitetura genuinamente brasileira. A intenção era contrapor-se ao estilo que se encontrava em voga: o Ecletismo; e disputar com outro que também nascia: o Modernismo. Dois de seus maiores intérpretes foram Ricardo Severo e Victor Dubugras. O primeiro, engenheiro com formação e atuação em Portugal, foi precursor do estilo e praticante de uma arquitetura luso-brasileira classicista e erudita. Francês com prévia atuação na Argentina, Dubugras, por outro lado, projetou nos diferentes estilos em evidência durante seu exercício profissional: Eclético, Moderno e Neocolonial. Um vasto referencial bibliográfico permite a classificação do Neocolonial sob a ótica da envoltória. Este trabalho propõe uma nova abordagem ao analisar o contexto histórico e a organização social a partir do aparato teórico-metodológico da Sintaxe Espacial. No caso, foram elaborados o grafo justificado e o mapa de visibilidade,

aplicados nas casas Numa de Oliveira e Baronesa de Arari, dos respectivos arquitetos, projetadas em 1916 em São Paulo. O enfoque permite que o espaço e suas práticas socioculturais intrínsecas sejam avaliados segundo seu sistema de permeabilidades e barreiras: paredes e portas funcionam como delimitadores dos vazios onde as interações ocorrem, observando-se padrões que podem ser específicos de determinada população, época ou estilo. No período, os programas residenciais da burguesia eram reflexos dos hábitos europeus, de modo que quanto mais abastada a família, mais complexo o programa espacial. A sala era subdividida em ambientes específicos, restritos a suas funções: música, jantar e visitas, como nas residências em análise. Através do grafo justificado nota-se que o setor íntimo é mais isolado, não se conecta diretamente com o setor social - ambientes de circulação se encarregam de fazer essa transição, funcionando como controladores de fluxo que isolam o sistema. Tanto o setor social quanto o de serviço se ligam a área externa, o que simboliza a segregação social: moradores e visitantes não acessavam a resi-

dência pela mesma entrada dos trabalhadores domésticos (como um adendo, observa-se que, um século depois, isso ainda acontece em algumas moradias onde se exige que empregados utilizem entradas ou elevadores de serviço). No Mapa de Visibilidade, constata-se outra característica marcante das moradas abastadas: a maior visibilidade encontra-se nas áreas onde visitas são recepcionadas, para que estas apreendessem a dimensão dos palacetes. Com o estudo, apura-se que as mudanças nos valores e hábitos sociais são as principais causas das alterações dos espaços formados pela arquitetura. Por fim, constata-se a desvalorização do período Neocolonial em face tanto da pequena quantidade de obras residenciais catalogadas, quanto da quantidade delas que já foram demolidas.

Orientadora: Ana Paula Gurgel Banca: André Costa e Orlando Vinícius Nunes 15


cidade cyberpunk arquitetura distรณpica na narrativa sci-fi

Amanda Farinati 16


Imagens fornecidas pela autora.

Durante a formação acadêmica em Arquitetura e Urbanismo, pensamos em projetos reais esboçados no âmbito de cidades tradicionais. E se a cidade que conhecemos necessitar de novos traçados? As relações sociais mudam rapidamente enquanto a cidade permanece estagnada. A realidade não mais se baseia em apenas um pensamento; ela se transfigurou na dependência de várias opiniões. A dependência de conectividade da sociedade atual não está ligada a espaços reais da cidade tradicional, e sim a ambientes virtuais. Surge na internet um novo local, o ciberespaço. Viver em um mundo virtual se tornou realidade; comunidades virtuais foram criadas, nas quais prevalecem afinidades e interesses comuns, ignorando fatores físicos como demarcações territoriais. Isto caracteriza uma nova sociedade baseada na conectividade, onde termos como colaboração e compartilhamento se tornam importantes. Ao pensarmos no mundo cibernético, de relações virtuais intercontinentais, imaginamos mundos irreais e os relacionamos imediatamente à literatura de ficção científica junto a propostas de revoluções tecnológicas. Quão longe estamos desta condição? Há

uma linha entre a ficção e a realidade? Caso exista, será de fato limitadora? Ou pode ser facilmente transposta? Ao projetarmos a arquitetura, nos baseamos no passado, reconhecendo as necessidades do presente. Construímos não só para o momento, mas para se perpetuar no futuro, mesmo incerto. A apreensão sobre o futuro é retratada nos subgêneros da ficção cientifica, mas é na ficção cyberpunk que o futuro é tratado de maneira distópica. O caminhar da sociedade culminaria em relações sociais deturpadas e ambientes degradados. A visão do cyberpunk traz um olhar sobre o ambiente urbano, com teorias de cidades em rede, desenvolvimento das tecnologias de comunicação, culminando em crescimento da pobreza, marginalidade e segregação espacial. Constrói-se um mundo possível com características da sociedade atual, amalgamando passado e presente, tecendo olhares de um futuro factível. Em um mundo onde a cidade perde a sua importância central e se torna um ambiente perigoso com construções que não valorizam a sociedade, o arquiteto parece reduzir sua utilidade, e a previsão de um mundo futuro destruído aparenta ser iminente.

Este ensaio foi inspirado no livro “Make it so: Interaction design lessons from science fiction”, cujos autores discorrem sobre diversos universos do mundo sci-fi, apontando lições que podem ser apreendidas baseadas em produtos ficcionais, transportadas para o universo real. Desenvolvida a partir de inquietações de uma futura arquiteta, a pesquisa se direciona para o campo da arquitetura na ficção, e tem como objetivo uma exploração do universo urbano cyberpunk, analisando cenários especulativos, focando principalmente no livro cyberpunk “Ready Player One”, cuja narrativa é regada por questionamentos sobre o que é realidade, apresentando uma nova concepção de cidade, de vivência única virtual, em detrimento da cidade real. A comparação entre esses universos se torna a base deste ensaio, que discorre sobre diferentes ambientes da cidade e suas implicações na sociedade, cultura e mobilidade. Examina essas variáveis na ótica dos arquitetos, e suas reflexões a respeito do que pode ser apreendido a partir desta narrativa.

Orientadora: Giselle Chalub Banca: Ricardo Trevisan e Valério Augusto Soares 17


prototipagem a experiência arquitetônica no ensino e na aprendizagem de arquitetura e urbanismo

Constanza Ceschin Manzochi A partir de uma breve revisão de literatura de pedagogia, foram definidos os conceitos de experiência, conhecimento, linguagem e educação e o interesse por analisar como formam a definição de pedagogia ativa. A experiência é o processo cíclico de ação e reflexão do homem no meio em que se insere. A partir da ação no meio, a reflexão humana gera e modifica teorias e conceitos, que se unem no que se denomina conhecimento. O conhecimento, por sua vez, é constituído e expresso por linguagens: conjuntos de códigos e símbolos usados para formular, armazenar e transmitir ideias em torno de lógicas semelhantes. Já a educação, processo natural e contínuo, é a reconstrução do conhecimento pela qual se adquire capacidade para agir sobre a realidade. Então, toda experiência é essencialmente educativa. Nesse contexto, a pedagogia ativa propõe a educação por meio da ação sobre a realidade, para que cada indivíduo construa seu conhecimento a partir da prática (ação própria) e da redireção (da teoria preexistente, de professores, pais ou da sociedade). Assim, a pedagogia ativa também 18

procura a construção da linguagem a partir da experiência para habilitar a ação sobre a realidade. Nesse sentido, se as escolas de arquitetura fornecem conteúdo teórico separado da prática projetual e relegam a prática construtiva, não estimulam a construção da linguagem arquitetônica por completo. A linguagem arquitetônica é composta pela linguagem projetual e pela linguagem construtiva, e envolve teoria e prática de modo interdependente. A arquitetura possui meios de representação que modificam a realidade e provocam reflexões sobre isso. Dentre esses meios estão o desenho, as maquetes físicas ou virtuais e os protótipos. Desses, a prototipagem é o que mais se aproxima da realidade. Do grego prôtos (primeiro) + týpos (tipo), o termo protótipo tem o sentido de “primeiro exemplar”, versão a ser testada e aperfeiçoada. Compreende-se que o protótipo arquitetônico não exclui a atividade projetual, pelo contrário, ele necessita partir de um projeto para existir. Se não partir de um projeto não cumpre sua função reflexiva e passa a ser uma reprodução de um modelo

preexistente. O protótipo, reprodução em grande escala ou em escala real, representa como seria a realidade se o projeto e a construção se encerrassem em certo momento. Assim, há uma reflexão sobre o projeto: se é funcional, seguro, durável, exequível, entre outros. O protótipo é, então, a instância máxima de estudo do processo de projetação e construção do espaço e, deste modo, é uma experiência pela qual a linguagem arquitetônica pode ser compreendida, significada, e estimulada à elaboração contínua. Por fim foram identificados os desafios e possibilidades da prototipagem no ensino de arquitetura e urbanismo e estudaram-se casos no Brasil, com as iniciativas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP; do Grupo de Pesquisa HABIS, da USP São Carlos; da Associação Escola da Cidade, em São Paulo; e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB.

Orientador: Jaime Almeida Banca: Ana Paula Gurgel e Joara Cronemberger


a dinâmica de expansão urbana da cidade ocidental

Dayane Alixandre dos Santos Costa A contínua expansão do tecido urbano para além dos limites da cidade consiste, na maioria das vezes, na ocupação de núcleos periféricos pela população em posição de vulnerabilidade social e econômica. Nesse cenário, o mercado imobiliário tem sido notável na incorporação de áreas distantes do perímetro urbano, ou como intensificador da mancha edificada, pela instalação incessante de condomínios horizontais fechados e setores habitacionais. Nesse sentido, a pesquisa aborda o processo de crescimento urbano da Cidade Ocidental, município goiano que compõe a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno – RIDE/DF, com o intuito de analisar as implicações da conjuntura urbana e seus desdobramentos na organização do território. As transformações socioespaciais de Cidade Ocidental estão intrinsecamente relacionadas à implantação de Brasília em território goiano na década de 1960, que tem impulsionado a descentralização populacional para as cidades limítrofes do Distrito Federal, devido ao baixo valor do uso do solo, à especulação fundiária – contribuindo para ocupação

desordenada do solo da região, e ao fácil deslocamento para Brasília. Esse quadro atraiu o principal agente da dinâmica de expansão urbana: o setor imobiliário, segmento que adota a produção do espaço urbano como mercadoria, corroborando a proliferação de condomínios horizontais que permeiam as áreas metropolitanas. Desse modo, em que medida a dinâmica de expansão urbana, relacionada às estratégias do mercado imobiliário, compromete a organização espacial do município? Para analisar a evolução e a configuração espacial da cidade, procurou-se explorar as relações interpartes da malha urbana, que são estabelecidas por meio de deslocamentos realizados no espaço. Para tal, o estudo foi conduzido pela Teoria da Lógica Social do Espaço ou Sintaxe Espacial, que possibilita investigar o conjunto de articulações interdependentes do sistema urbano. Conforme Medeiros (2006, p.98), desse modo é possível entender aspectos importantes do tecido urbano, tais como, eixos de expansão urbana, acessibilidade, centralidades, a definição de áreas integradas e segregadas, o encontro de concentrações e dispersões de usos do solo.

A análise do desempenho do município, resultante da leitura sintática do lugar, expôs um quadro problemático na cidade, provocado pelo surgimento de novos arranjos viários, conformando uma ocupação fragmentada, caracterizada pelas manchas descontínuas associadas a grandes vazios decorrentes de glebas, terrenos agrícolas e da consolidação de condomínios fechados. A intensificação da expansão urbana, sobretudo com o avanço de ocupações por condomínios, evidencia a carência de políticas ou ações de planejamento urbano que garantam uma adequada conectividade interpartes, considerando a descontinuidade nas malhas, a baixa acessibilidade e a fragilização da integração global do sistema urbano, aspectos que comprometem a dinâmica da estrutura espacial e a articulação intra-urbana do município.

Orientador: Valério Augusto Medeiros Banca: Giselle Chalub e Ricardo Trevisan 19


“diga-me o que vestes que te direi quem és” análise da indumentária na construção de brasília

Fernanda Sampaio Cavalcante Pedrosa Este estudo propôs analisar Brasília de um ponto de vista pouco explorado: o da indumentária utilizada por políticos, autoridades e trabalhadores em suas diferentes funções durante o período inicial da capital. Uma Brasília que se vestiu de elegantes vestidos, paletós e fraques, mas também de sandálias de couro, chapéus de palha e calças de brim. A formação da cidade de Brasília envolveu uma diversidade de culturas e de povos que se encontraram em torno dessa construção. Neste trabalho partimos de uma análise da idealização de uma cidade, inferimos a formação de novos ideais, novas maneiras comportamentais e novos desejos de consumo que se baseiam na modernização proferida no discurso oficial a partir da transferência da capital. Ademais, para nossa análise elencamos personagens que contribuíram de modo significativo para essa formação, desde “personagens-mito” como Juscelino Kubitschek e sua esposa Sarah até o candangos- homens e mulheres, buscando entender o papel desempenhado por cada um. Como fonte primária foram escolhidas fotografias de personagens que protagonizaram a construção da cidade 20

de Brasília, extraídas do livro “Arquivo Brasília”. Nosso recorte temporal privilegia a época da construção, desde fins da década de 50 até meados dos anos 60. Nesse sentido percebemos que a fotografia por vezes reforça o discurso oficial, quando observamos as composições fotográficas do presidente. Mas a fotografia também às vezes contradiz esse discurso, na medida em que retrata as mazelas sociais já presentes nessa cidade em formação. Com isso, apesar de terem sido promovidas nos meios de comunicação apenas as fotografias de cunho apológico percebemos como a gama de fotografias escolhidas pode reforçar a presença de uma hierarquia social. Segundo Giraurd (1991), o corpo é como o veículo da informação, que produz sentido e comunica algo ao receptor da mensagem. Dessa forma podemos fazer um paralelo com a indumentária que é um veículo da informação e tem a função de comunicar algo a sociedade. A indumentária analisada no período da idealização de Brasília até a sua inauguração nos fez compreender que as décadas de 50 e 60 em Brasília foram marcadas tanto pela diferença social quanto pela diferença de gêneros. Por meio da análise

de fotografias escolhidas, juntamente à bibliografia estudada, podemos entender a indumentária como parte de relações de dominação (ou iconografia), como elemento de memória da região a que pertenciam seus usuários, como identificador de profissões e ainda como a expressão do prestígio de classes mais abastadas. De início, supusemos que os ideais de modernização propagados seriam refletidos nas vestes da população, porém o que verificamos é que essa indumentária não era assim tão moderna e por vezes buscava simular padrões europeus algo anacrônico. Observamos que a indumentária nas fotografias escolhidas dá ensejo a uma crítica à história mítica acerca da capital, sendo capaz de auxiliar tanto na apreensão de classes sociais já vigentes quanto do modo precário que viviam. Por fim, compreendemos ainda como a construção de Brasília serviu de motriz ao desenvolvimento da moda no cenário nacional, e como a indústria têxtil foi impulsionada também nesse momento, ao promover a alta-costura na década de 60. Orientadora: Maria Fernanda Derntl Banca: Ana Elisabete Medeiros e Carlos Henrique Magalhães


Jesco Von Putt Kamer. Fonte Arquivo Brasília (2010), Lina Kim e Michael Wesely

F. Fadul. Fonte Arquivo Brasília (2010), Lina Kim e Michael Wesely.

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habitar no térreo

Gustavo dos Santos Souza No nível térreo, o espaço privado possui uma certa responsabilidade sobre o espaço público. A maneira com que uma edificação se apresenta pode alterar a percepção que temos do espaço público em que ela se insere. Karssenberg (A Cidade ao Nível dos Olhos) nos apresenta o conceito de esfera pública, que compreende tudo aquilo que pode ser visto no nível dos olhos. A esfera pública pode, portanto, englobar não apenas o espaço público, mas também parte da zona privada. Nesse sentido, essa parte entre a zona privada e o espaço público passa a ter algum tipo de relevância: é a partir dela que a relação público/privado se configura. Na escala do pedestre as consequências podem ser muito nocivas. Um muro alto, por exemplo pode passar a sensação de insegurança para quem passa pela rua. Já uma edificação com janelas e portas voltadas para a rua passa a sensação de estarmos sendo cuidados: os “olhos da rua”, como propõe Jane Jacobs em Morte e Vida de Grandes Cidades. Nas ruas comerciais, com lojas, cafés e vitrines chamativas, possuir uma fachada que permita ao pedestre 22

sentir-se confortável em frequentar o espaço público pode ser simples - pois são esses exemplares de arquitetura que atentam ao pedestre e ao estranho. No entanto, reconhecemos que não existe demanda suficiente para ocupar todos os pavimentos térreos de nossas cidades com a oferta de comércio e serviços. Em contrapartida, a habitação é o uso predominante em nossas cidades. Nas residências, a relação público/ privado está vinculada a dois fatores relevantes: a privacidade e a segurança. Ambas estão relacionadas à permeabilidade física e/ou visual que o pavimento térreo possui, fator determinante para o planejamento de habitações. A arquitetura, nesse sentido, não tem a responsabilidade de responder apenas às suas próprias questões promover segurança e privacidade, atender à um programa etc. - mas, também, de relacionar-se com a rua. A forma com que construímos essa relação pode gerar uma série de consequências para o espaço público. Jan Gehl, no livro Life Between Buildings, já havia dividido as soluções em duas possíveis formas: aqueles que possuem os limites definidos - quando

está claro o que é interior/exterior, público/privado; e aqueles que possuem alguma zona de transição - quando existe um espaço que não é nem completamente público, nem completamente privado que liga essas duas zonas. No entanto, essas soluções possuem uma série de desdobramentos que podem variar de acordo com os tratamentos que sua interface recebe: janelas, acessos, grades, muros, jardins, garagem etc. Cada forma se manifesta no espaço público de uma maneira diferente. Quais contribuem positivamente para o espaço público? Quais não? Propõe-se, portanto, um inventário que foi iniciado com as referências de cada capital brasileira com diversas soluções de interface, bem como uma breve análise crítica de sua relação com o espaço público. A intenção é que ele possa ser continuado, criticado e aprimorado para que sirva como base para a viabilização de habitações no térreo que favoreçam o espaço público.

Orientadora: Gabriela Tenório Banca: André Costa e Ana Paula Gurgel


experiência grasshopper metodologia para análise digital, ambiental e termo-energética do ambiente construído

Roberta Carolina Assunção Faria Diante da necessidade de renovar os hábitos da construção civil no projeto de edifícios sustentáveis, é importante que haja uma ampla conscientização dos profissionais envolvidos com esta cadeia: arquitetos, engenheiros, gestores e, sobretudo, estudantes. Essa conscientização deve ser a base para conhecer e explorar novas tecnologias ambientais já disponíveis no mercado. O ensaio teórico produzido discute o uso da tecnologia computacional como ferramenta digital voltada para estudos ambientais e termoenergéticos no ambiente construído. O estudo reflete a necessidade de renovação dos métodos construtivos no Brasil, a fim de resultarem em edificações com maior desempenho ambiental e consequentemente com menores consumos de energia. Tendo em vista a pouca aplicação de meios tecnológicos para auxiliar na construção de edifícios mais eficientes, o objetivo do trabalho propõe apresentar uma experiência com o software Grasshopper como ferramenta de avaliação de desempenho ambiental do edifício. Para isso, também foram apresentados o software Rhinoceros e os plug-ins Ladybug e Honeybee. O Grasshopper trabalha com algoritmos

desenvolvidos em python e é aonde são definidos todos os parâmetros para as análises. A vantagem presente na tecnologia algorítmica e paramétrica do Grasshopper vem da não passividade do usuário em relação ao software, já que para utilizá-lo com sucesso é necessário ter grande domínio do projeto. Para se ter estudos ambientais é necessária a utilização do Ladybug, plug-in que permite a leitura de arquivos climáticos e uma série de análises do entorno. Já o Honeybee possibilita análises de energia mais detalhadas, seja sobre questões térmicas ou luminosas do edifício. Outra característica importante dos softwares é a integração com outros programas certificados pela ASHRAE, sendo eles Radiance, Energyplus, Openstudio e Daysim. A metodologia aplicada nesse estudo reuniu a capacitação por meio de: leitura do manual, vídeo aulas sobre as análises ambientais e termoenergéticas; pesquisas de embasamento teórico e aplicação do conhecimento na elaboração de um guia para análises ambientais e termoenergética com o software Grasshopper e os plug-ins Ladybug e Honeybee. Como resultado

desse trabalho, apresenta-se a perspectiva de usuária sobre o processo de aprendizagem dos softwares em questão, observando os pontos positivos e negativos dessa experiência para aplicação dos estudos ambientais nas fases do processo de projeto de arquitetura. Como última etapa do ensaio teórico, foi desenvolvido um manual de aplicação com breve estudo de caso que pode ser desenvolvido de modo experimental. A contribuição desse trabalho abrange os novos profissionais do mercado da construção civil para que se capacitem em softwares que os auxiliem no processo projetual, resultando em arquiteturas mais eficientes energeticamente e causando menor impacto ambiental. Conclui-se que a ferramenta Grasshopper é certamente uma forma de capacitação dos estudantes e profissionais envolvidos na cadeia da construção civil, permitindo que sejam desenvolvidos estudos ambientais e termoenergéticos durante todas as etapas de projeto.

Orientador: Caio Frederico e Silva Banca: Ana Carolina Sant’ana e Carlos Eduardo Luna 23


hugo topografias imaginadas em notre-dame de paris

Imagem fornecida pela autora.

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Júlia Huff Theodoro Quando se discute o futuro do Urbanismo, parece lugar-comum na comunidade acadêmica supor que a projeção da imagem de “cidades do futuro” (e de um futuro para as cidades) faz parte de um processo especulativo que envolve cinema, fotografia, cartografia, pintura e, notavelmente, literatura. Nesse processo especulativo, criam-se estéticas e lógicas que pressupõem o funcionamento da malha urbana em um contexto socio-cultural distinto do presente – destaque, neste cenário, para o movimento Cyberpunk e para as teorias urbanas do Modernismo. Contudo, deve-se salientar que o passado da urbe também é objeto de construção especulativa. A imagem de memória das cidades é construída a partir de um acúmulo de camadas topográficas que entremeiam História, registros e histórias. Considerando esta premissa – e buscando mergulhar brevemente no universo interdisciplinar de pesquisas que envolvem Literatura e Urbanismo –, o trabalho apresenta

uma análise da obra Notre-Dame de Paris (1831), de autoria de Victor Hugo (1802-1885). A Literatura deve ser entendida como ferramenta topográfica – com efeito, o termo topografia significa, literalmente, “a escrita dos lugares”. Em Notre-Dame, esta relação dá-se de maneira muito especial; no romance (situado na capital francesa em 1482), a malha urbana de Paris do século XV é descrita detalhadamente por Victor Hugo – que, dispondo de mapas da cidade e registros oficiais do século XVI, resgatou na narrativa nomes de vias, praças, monumentos e edifícios de então. Contudo, ainda que verossímil em muitas de suas descrições, o romance apresenta uma série de falhas históricas – falhas que ainda assim contribuíram no processo de desenvolvimento da imagem da “Velha Paris” que se faz presente até hoje no imaginário da cidade. Paralelamente, a Paris de Notre-Dame é invisível – uma vez que não foi representada em meio visual –, mas legível – por ter sido redigida

em alegorias imagéticas. A leitura da cidade inventada por Hugo implica fatalmente na aproximação entre experiências urbanas pessoais do leitor; há, portanto, tantas Paris no romance quanto há leitores da obra; e “ler a cidade é escrevê-la; não reproduzi-la, mas construí-la, fazendo circular o jogo das significações”. Neste sentido, o trabalho apresenta uma releitura (reinterpretação?) do romance a partir de uma perspectiva cartográfica, mapeando os espaços e itinerários descritos na narrativa e sobrepondo-os em três momentos da cidade: 1482, 1830 e 2017. A projeção da trama em mapas de épocas distintas tem como objetivo investigar se o romance contribuiu de alguma maneira para o desenvolvimento de “lugares de memória” (ou, simplesmente, se influenciou de alguma maneira a memória dos lugares) na urbe parisiense. Orientador: Eduardo Rossetti Banca: Paulo Tavares e Pedro Paulo Palazzo 25


megaestruturas friedman, kikutake, nieuwenhuys, soleri

Pedro Ribs O conceito de megaestrutura é, atualmente, muito associado à produção de Rem Koolhaas, especialmente ao seu conceito de grandeza ou ao projeto Hyperbuilding de 1996. No entanto, o termo e as proposições desta modalidade de arquitetura remetem aos escritos e desenhos de Yona Friedman, Kiyonori Kikutake, Constant Nieuwenhuys, Paolo Soleri entre outros nomes atuantes nos anos 1960. Ao recuperar o debate sobre megaestruturas, percebe-se uma gama de detalhes não expressados pelo termo que designa projetos e arquitetos dos anos dourados. A conceituação do termo, realizada por estudiosos, procurou englobar os projetos em seus pontos chaves, entendidos como atributos possíveis de serem conferidos, podendo discutir a abrangência do rótulo. Todavia, as variações sobre a megaestruturas não impediram de visualizar um conjunto de pensamento comum a uma época. Os avanços tecnológicos impactaram a arquitetura após a Segunda Guerra Mundial. A explosão de produtos de consumo foi determinante para a proposição de arquiteturas pré-fa26

bricadas, cujas partes pudessem ser trocadas, conforme as ofertas em uma prateleira de mercado. As descobertas nas áreas da biologia mudaram a forma de entender o mundo do infinitamente pequeno, composto por minúsculas estruturas e mecanismos complexos. Do lado oposto, o universo infinitamente grande também foi desvelado, a cápsula espacial colonizou o imaginário arquitetônico. Percebe-se ainda certas preocupações específicas de cada arquiteto: Friedman demonstrou através da Ville Spatiale uma preocupação com a mobilidade, que poderia ser solucionada através dos estudos da cibernética; Kikutake se esforçou para que seus projetos alcançassem soluções reais de crescimento e desenvolvimento como um organismo; Nieuwenhuys dedicou décadas em busca de uma sociedade ideal, livre do trabalho e apta a viver ludicamente; por fim, Soleri, a frente de seu tempo, propôs uma arquitetura comprometida com questões ambientais, antes mesmo que se tornasse comum. As proposições megaestruturalistas perdem força nos anos 1970, mesmo período em que a economia

mundial desacelera. No entanto, ainda hoje, é possível afirmar que projetos com características parecidas foram desenvolvidos após os anos dourados e continuam aquecendo o debate arquitetônico acerca de questões polêmicas de nossa sociedade. As megaestruturas entraram na memória da arquitetura como projetos excêntricos, quase como ficção científica, e por este entendimento, talvez, foram esquecidas no debate acadêmico, não deixando rastros nos livros de história do século XX, em especial nas bibliotecas brasilienses. Projetos especulativos como os desenvolvidos por esses arquitetos incitam questionamentos sobre o presente e libertam a arquitetura de suas amarras técnicas, presentes em escolas de arquitetura ainda vinculadas ao funcionalismo moderno. A especulação possibilita inovações provenientes da academia para o mundo profissional, num ambiente em que a realidade limitadora não suprime o pensamento crítico. Orientadora: Elane Ribeiro Peixoto Banca: Ana Flávia Rêgo Mota e Ana Paula Gurgel


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NOVOS ARQUI TETOS




diplô A

diplomação é um momento decisivo e de intensa produção. Ela marca o fechamento do curso e de um ciclo profissional. É também o momento de toda a comunidade da FAU - UnB avaliar o que tem sido produzido pelos mais novos egressos do curso. O Trabalho Final de Graduação (TFG) é o produto da diplomação, que consiste na realização de uma proposta projetual a partir de uma temática escolhida pelo graduando. É importante salientar que não se trata de apenas um trabalho escolar, pois exige-se do aluno certo nível de excelência em design, coerência de ideias e capacidade de síntese de todo o conhecimento adquirido ao longo de sua trajetória acadêmica. Portanto, o TFG é um exercício de projeto de grande complexidade: o aluno dedica-se um ano ao estudo aprofundado do tema e à elaboração da proposta. Um ano que demanda muita leitura, coleta de dados, elaboração de diagnósticos urbanos, levantamento e estudo de casos – no Brasil e no mundo -, entrevistas, experimentação plástica e aprofundamento técnico. O domínio da expressão plástica e visual nos trabalhos de diplomação é essencial e imprescindível para estruturar e comunicar ideias. O aluno deve demostrar capacidade de compreender o desenho não apenas como representação e sim, como linguagem. Interpretá-lo como uma poderosa ferramenta de comunicação com caráter universal, capaz de atingir diversos públicos. A liberdade de escolha do tema é também uma oportunidade do aluno imprimir a sua marca pessoal e se posicionar politicamente perante o mundo e o contexto social em que vive. Todo aprendizado dentro e fora de sala de aula contribui para construir

esta visão: o diálogo entre colegas e professores, a experiência em estágios, grupos de pesquisa, viagens, atividades de extensão e interação com coletivos. Posto isso, os trabalhos contemplam e celebram experiências e vivências possíveis dentro de uma universidade pública. Fugindo da dicotomia solução-projeto, além de se pensar soluções tangíveis para os problemas do presente, o TFG é a ocasião de elaborar territórios desejáveis, de experimentar e de exercitar a utopia. Utopia, não no sentido estanque de mero devaneio, mas sim no de se permitir sonhar com os pés arraigados no real. Sob esta ótica, convidamos os leitores a apreciarem os trabalhos que foram desenvolvidos ao longo do semestre 2/2017. Esperamos que as diversas propostas apresentadas aqui possam provocar reflexões e expandir novos horizontes do pensamento. Nessa edição apresentamos 42 projetos concluídos ao final do segundo semestre de 2017, dos quais cinco recebem mais visibilidade por terem sido considerados destaques pela comissão de diplomação a partir de critérios como: relevância do tema, abordagem conceitual, soluções físico-espaciais, integração urbano-arquitetônica, inovação e desenvolvimento técnico além da qualidade de representação gráfica. Os demais trabalhos são apresentados em sete grandes temas: habitação, espaços de aprendizagem, cidades, arquitetura e paisagem, espaços de exibição, cultura e troca, cenografia e tópicos especiais.

Maria Cláudia Candeia e Giselle Chalub Martins Coordenadoras de Diplomação


destaques

casa da música de ceilândia Aluno: Bruno Simões Arsky /// Orientação: Eduardo Pierrotti Rossetti

A Casa de Música de Ceilândia é um Equipamento Sociocultural voltado ao ensino musical de populações de vulnerabilidade socioeconômica: musicalização infantil e capacitação de jovens e adultos. O terreno localiza-se no encontro da via Hélio Prates com a via de acesso aos lotes de Áreas Especiais. Está próximo a uma acesso ao Sol Nascente e vinculado ao Corredor de Atividades do Anel Viário Ceilândia-Taguatinga-Samambaia. A consolidação do cinturão cultural entre equipamentos vizinhos garante a complementação de atividades e evita concorrência de usos.

intentional sparseness Aluno: Giovanni Cristofaro /// Orientação: Eliel Américo

Intentional Sparseness é um sistema de habitação para uma pessoa e casais que trabalham nas indústrias criativas em Hackney Wick, Londres. É desenvolvido como uma reação à proliferação de moradias no mercado de Londres que oferecem principalmente apartamentos familiares, sem levar em conta diferentes necessidades produtivas e espaciais dos usuários. O projeto sugere uma maneira de pensar o interior além da concepção do quarto como o metro quadrado entre quatro paredes sobre as quais o mobiliário é organizado, e da construção da cidade como reflexo dessa escala.

complexo para a moda em ceilândia Aluna: Marianna Resende da Silva /// Orientação: Cecília Gomes de Sá

O Complexo para a Moda é um edifício destinado às diferentes áreas da cadeia de produção de moda, oferecendo espaços para ensino, criação, produção e exposição, bem como comercialização dos produtos resultantes de todo o processo criativo. Implantado na região central de Ceilândia, na Avenida Hélio Prates, o edifício procura articular e requalificar o entorno e a quadra onde será localizado. É acessível e dedicado à comunidade local, que poderá usufruí-lo para o desenvolvimento público e privado, fortalecendo a economia criativa e a identidade cultural da região. 32


sesc limeira Aluno: Matheus Bastos Tokarnia de Oliveira /// Orientação: Ivan do Valle

Interior do Estado de São Paulo, cidade de Limeira, nas colinas e ladeiras do Bairro Jardim Anhanguera, ao lado de uma grande mata de galeria e com vista para o Ribeirão Tatú. Esse foi o cenário escolhido pelo SESC para a construção de uma de suas novas unidade no Estado paulista. E foi baseado nesse contexto, considerando como eixos projetuais sua paisagem, seus usuários e a estrutura do edifício que surgiu o projeto a seguir. Seguindo o edital do concurso arquitetônico publicado pela instituição, o projeto visa criar uma solução eficiente para problemas e programas existentes.

mina Aluna: Tarsila Louzano Moreira Ferreira /// Orientação: Maribel Aliaga Fuentes

A luta incansável das questões sociais de gênero não se configura como fato recente, pelo contrário, possui uma longa jornada pela história da humanidade, apesar de se identificar, também, como contemporânea e diária. O projeto MINA advém do anseio de propor um equipamento público que agrupe as funções de programas sociais já existentes em um local único de acolhimento, garantindo condições de enfrentamento da violência e promovendo o empoderamento da mulher, bem como a sua autonomia econômica, libertando-a do ciclo de agressão.

faunb

Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 33


casa da música de ceilândia Bruno Simões Arsky 34


Imagem fornecida pelo autor.

Inicia-se o processo de criação conscientizando-se do cruzamento entre duas vias de alto valor hierárquico e com a vontade de concepção de espaços públicos abertos ao pedestre. Para receber o público de Ceilândia e Sol Nascente, foram concebidas duas grandes praças no terreno, voltadas para ambas malhas urbanas e conectadas por um passeio no interior do lote. O volume principal é erguido próximo ao limite interno do lote, gerando fechamento compositivo dos ambientes abertos. Outro volume entre as praças promove interação entre ambas. O desenho em seguida se adapta aos fluxos de pedestres e ao desejo da Escala Monumental para o bloco principal. Baseando-se em teorias estéticas de Iannis Xenakis sobre interconexão estética entre as diferentes expressões artísticas através da Matemática, a arquitetura da Casa de Música de Ceilândia possui caráter musical ao absorver relações matemáticas musicais no traçado regular da composição do espaço, utilizando escalas musicais, harmônicos naturais e o pentagrama na malha compositiva.

O programa de necessidades foi organizado em blocos independentes, conectados pela praça, corredores subterrâneos e possíveis passarelas. O Bloco Principal aglomera os ambientes do Curso Técnico da Casa de Música de Ceilândia. Nas extremidades do Bloco, foram inseridos o Auditório Orlando Leite (aberto ao grande público) e o Anfiteatro (para uso interno). Assim, aproveitou-se de forma plena a volumetria do Edifício. O Programa Infantil pretende funcionar na Sala Neusa França, Concha Acústica e, ocasionalmente, em espaços abertos. Portanto, este não necessita de um bloco próprio, podendo se utilizar de espaços disponíveis no complexo para outras atividades. O Restaurante pretende interagir com a Concha para, juntos, acolherem não apenas eventos musicais, mas possíveis eventos solenes da comunidade (como colações de escolas públicas e palestras). Assim como a volumetria nasce do casamento entre a matemática musical e os fluxos do entorno, a definição dos materiais é regida pelos mesmos fatores. A escolha da alvenaria aparente remete

à construção vernácula e às construções populares que cobrem a paisagem urbana do entorno. A familiaridade trazida pelo material promete uma apropriação do espaço mais natural pela população local. A leveza do aço, a transparência trazida pela chapa perfurada e sua cor firme contrastam com o bloco cerâmico, trazendo o contraponto necessário para tornar a obra consciente de seu tempo e de seu propósito: um marco dentro da silhueta - e vida cultural - da cidade de Ceilândia. A linguagem trazida na elevação da Casa da Música de Ceilândia é uma racionalização matemática de mais verdades musicais: a interação entre o tijolo e o aço nasce nas ranhuras ritmadas de suas peles.

Orientador: Eduardo Rossetti Banca: Cynthia Nojimoto, Giselle Chalub Martins, Ricardo Trevisan e Thiago Turchi 35


intentional sparseness creative housing in london

Giovanni Cristofaro A rua, o bloco o quarto: estes são os espaços mais comuns da nossa existência. Em todos os lugares, a qualquer momento, habitamos nestes lugares, e por isso assumimos que eles são cenários inocentes para a vida, estágios para o cotidiano. No entanto, esses espaços representam como a subjetividade humana foi domesticada e moldada em padrões sociais previsíveis. Uma vez que a vida e o trabalho são agora um e o mesmo, o trabalho não pode ser confinado dentro de “locais de trabalho” específicos. Por esta razão, o espaço doméstico - o espaço da reprodução torna-se um ponto de vista estratégico para considerar como a própria vida como bios, como dynamis - é posta em prática e explorada. Questões como a gentrificação só podem ter sentido quando vistas no processo maior da escravização da vida como fonte de valor econômico. Aqui, os espaços comuns do cotidiano se tornam uma esfera bastante insidiosa, onde a habitação ocorre em um estado de precariedade e desarraigamento permanente. Esta condição choca com o clichê ideológico da casa como um espaço reconfortante de inti36

midade e valores familiares. (Vittorio Aureli, P. 2015) O projeto examina essas três escalas - a rua, o bloco e o quarto - para construir um quadro para analisar como a economia, política e forma moldaram assuntos e hábitos. Esta será o ponto de partida para uma revolução molecular dentro e contra o espaço doméstico. Para então repensar a questão da habitação do ponto de vista do quarto em vez do apartamento, o bloco em vez do edifício, e a rua em vez do masterplan significa desafiar a dicotomia padrão de público-privado sobre a qual nossa própria ideia de morar é baseada, bem como a máquina social básica através da qual a sociedade moderna é construída: a família nuclear. Em vez disso, o projeto apresenta uma abordagem diferente da cidade, um sistema de propriedade e modo de vida diferente, na cena do quarto, que é específica para a escala menor e que convida o indivíduo a habitar o quarto de forma diferente de seu vizinho. Uma série de intervenções em larga escala, operando na escala de infraestrutura, fornecem uma nova

ordem espacial para as escalas do bloco e da rua, onde criar e não simplesmente trabalhar, é reconhecido como o organizador central da vida. O projeto contém espaços para viver e criar apropriados para a vida de trabalhadores contemporâneos. A proposta pretende expandir a rede social e econômica da classe criativa que muitas vezes é excluída do mercado habitacional e produtivo contemporâneo. Um quadro estrutural de 7x7m se estende pelo bairro, conectando os blocos a partir da estação de trem de Hackney Wick até o canal de navegação do Rio Lea, e representa infinitas possibilidades de ocupação dentro do espaço genérico da rua. Nele, diferenças como o interior e exterior, a paisagem e a cidade, a produção e o consumo, a vida e o trabalho, são unidos em uma superfície equipada e extensível em todas as direções ao longo de sua estrutura. A cidade se torna o que ela produz.

Orientador: Eliel Américo Banca: Joara Cronemberger, Ricardo Trevisan e Matheus Seco


From the River. Imagem fornecida pelo autor.

Solitary Room: Inhabited. Imagem fornecida pelo autor.

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complexo para a moda em ceilândia Marianna Resende da Silva O Complexo para a Moda é um edifício destinado às diferentes áreas da cadeia de produção de moda, possuindo um programa com salas para aulas teóricas e práticas, banco de tecidos, bibliotecas de pesquisa e moldes, um auditório conformado para receber desfiles e grandes eventos de moda, além de espaços para feira e lojas colaborativas, para exposição e comercialização do trabalho dos artistas locais. O processo para se chegar a uma ocupação generosa urbanísticamente do espaço levou em conta principalmente os fluxos existentes. Percebeu-se que a vista mais importante era de quem chegava de metrô, levando a implantação de um volume linear lateral ao terreno e fortalecendo o fluxo de pedestres. Devido aos diferentes modais que acessam a área de intervenção, objetivou-se priorizar o pedestre, a partir da criação de túneis subterrâneos em um trecho da área. O nível térreo do edifício é o nível da rua, é a continuação da cidade. Assim, o edifício é solto do chão, recebendo um espaço livre para a conformação de uma área pública coberta, que permite a configuração

de uma feira. As rampas e varandas se tornam uma continuidade do espaço público, respeitando os fluxos naturais e incentivando o uso do edifício por parte das pessoas. O edifício não transparece um uso específico, sendo adaptável a qualquer função a qual for empregado. Assim, nega o conceito de obsolescência programada ao permitir uma flexibilidade de arranjos físicos. A decisão de uma estrutura metálica aparente em todo o projeto reforça a ideia da transparência e da verdade estrutural, facilitando as diferentes configurações futuras. O edifício assume sua importância como infraestrutura por ser um elemento transformador da paisagem local, que além de oferecer abrigo, articula os fluxos existentes, configurando espaços verdadeiramente públicos que podem ser usados como a cidade preferir. O edifício deixa de ser apenas um local para abrigar um programa, e torna-se, de fato, um equipamento urbano, uma série de avarandados que servem como praças sobrepostas, públicas e de fácil acesso, com vistas, ao mesmo tempo, para dentro e fora

do edifício. Um objeto de curiosidade acessível e que desperta o interesse dos transeuntes. Não houve a pretensão de construir um ícone ou edifício modelo arquitetonicamente. Todos os princípios e valores que nortearam esse projeto foram tendo em vista a urbanidade e a melhoria de vida dos cidadãos ceilandenses. Que esse projeto seja visto enquanto um desejo de melhoria de espaços públicos e de edifícios abertos à cidade e às pessoas. Que a moda deixe de ser um artigo de luxo e símbolo de exploração de mão de obra, e comece a ser vista como um meio de expressão e produção cultural ao invés de um item de consumo. Que ela seja acessível tanto para interessados em produzir quanto em adquirir, e que um tenha o conhecimento do outro. Respeitando-se, assim, um convívio harmônico entre produção e consumo, entre pessoas e a cidade.

Orientadora: Cecília Gomes de Sá Banca: Cynthia Nokimoto, Elane Ribeiro, Giselle Chaim e Maria Eduarda Almeida 39


sesc limeira paisagem, pessoas e estrutura

Matheus Bastos Tokarnia de Oliveira Interior do Estado de São Paulo, cidade de Limeira, nas colinas e ladeiras do Bairro Jardim Anhanguera, ao lado de uma grande mata de galeria e com vista para o Ribeirão Tatú. Esse foi o cenário escolhido pelo SESC para a construção de uma de suas novas unidade no Estado. Em 2016, a Instituição publicou um edital para um concurso de arquitetura para a realização do projeto e foi esse documento que serviu como ponto de partida para o projeto. Levando em consideração as condicionantes, podemos dizer que o edifício proposto busca responder prin40

cipalmente à três elementos, que dão nome ao trabalho: paisagem, pessoas e estrutura. Paisagem diz tanto à respeito a abertura e integração com a APP do ribeirão Tatú e os vales da região quanto à relação com a cidade de limeira em um sentido mais simbólico. Essa relação é expressa nos sheds, que fazem homenagem ao histórico e presente industrial da cidade; no paisagismo, onde árvores cítricas fazem homenagem a sua tradição agrícola e, por fim, na oficina de joias, atividade de localização privilegiada

no projeto que busca honrar a posição de Limeira como pólo de produção de semi-jóias em escala latino-americana. “Pessoas” por sua vez faz referência à tentativa de se integrar com a região e sociedade onde se insere. Um ponto focal de articulação do projeto se deu na tentativa de manter a passagem que liga o ponto de ônibus na rua inferior com as residências na rua acima. O projeto se apropria disso e transforma toda essa área em espaços e praças públicas fora de seu cercamento, assim, abertas 24 horas por dia. Além disso, o projeto


Imagens fornecidas pelo autor.

tenta se elevar do nível térreo, deixando este de livre acesso para os pedestres percorrerem e conhecerem a instituição com o mínimo de barreiras, tanto físicas quanto visuais. E por fim, estrutura. A estrutura e o detalhamento foram prioridades no projeto. Sua valorização desde a concepção do projeto faz relação com a própria arquitetura moderna paulista. Aqui, o concreto aparente modernista, ainda que presente pontualmente, é colocado em segundo plano e a estrutura é reinterpretada com o uso de técnicas

contemporâneas. Ao fim temos uma mistura de texturas e materiais com a cerâmica na segunda pele da fachada, o concreto da Vierendeel, a madeira das vigas e grelhas e a própria telha ondulada nos sheds e no auditório. Assim, o projeto se organiza em 4 momentos articulados por um eixo que forma uma praça com o eixo pedonal que corta o lote. Ao lado da APP, inclinando-se para respeitar os limites de preservação temos o auditório com entrada independente para a praça. O restante do edíficio se organiza em

bloco de atividades (local de atividades mistas, administrativas, restaurante e biblioteca), bloco do ginásio (ginásio poli esportivo, praça coberta com mirante e piscina coberta e um bloco de acesso, com vestiários) e por fim, em sua extremidade, atividades descobertas, com piscina, pátio e quadra poliesportiva e uma caixa d’água em destaque, que busca criar um referencial urbano. Orientador: Ivan do Valle Banca: Cláudio de Queiroz e Eduardo Rossetti 41


Imagens fornecidas pela autora.

mina mĂłdulos itinerantes e nĂşcleo de acolhimento Ă mulher

Tarsila Louzano Moreira Ferreira 42


O projeto MINA – Módulos Itinerantes e Núcleo de Acolhimento à Mulher – canaliza os esforços na possibilidade de afirmação do indivíduo feminino, promovendo o atendimento humanizado àquelas que se encontram em situação de vulnerabilidade. A oferta de um espaço físico de acolhimento à mulher com alas multifuncionais integradas, isto é, um programa de necessidades que conecte tratamento e reinserção, é imprescindível para o coerente processo de proteção de pessoas em situação de risco. O ponto fundamental do MINA é promover a possibilidade de acompanhamento à usuária desde o pronto atendimento na ocasião da violência até a sua saída como indivíduo confiante e recuperado. Para tal, a proposta foca num ambiente capaz de garantir condições de enfrentamento da violência e promover empoderamento da mulher, bem como a sua autonomia econômica, libertando-a do ciclo de agressão. Outro fator que surge como balizador da proposta é a questão da localização do equipamento. É preciso memorar que um dos motivos da não adesão aos

programas de assistência à mulher é a dificuldade de deslocamento da usuária até o equipamento especializado. Para rebater o atual sistema de atendimento, imaginamos o MINA, que trabalha com a concepção de que o atendimento deve acontecer em duas instâncias. A primeira em equipamento móvel, possibilitando o atendimento a um maior número de mulheres e a segunda, em instalações fixas, por meio de um núcleo de acolhimento integrado aos módulos, instigando assim, o desafio arquitetônico de composição de paisagem. Os módulos itinerantes contemplam às funções de atendimento primário e realização de oficinas nas diversas regiões do Distrito Federal. A técnica de dobradura é utilizada como referência para essas estruturas devido a sua facilidade de montagem, desmontagem, transporte e armazenamento. O resultado é uma estrutura independente que se dobra como uma sanfona, variando suas dimensões de acordo com a necessidade das usuárias e com as características do sítio a ser implantado. Já para o núcleo de acolhimento

foram identificadas frentes de atuação como o aluguel social, o apoio psicossocial, o apoio jurídico, a capacitação profissional e a própria DEAM – Delegacia Especial de Atendimento à Mulher. Incorporadas no projeto, tais frentes materializam-se em um complexo arquitetônico constituído por quatro edifícios e a requalificação urbana da área implantada, ao lado da estação de metrô Ceilândia Norte. A ocupação do terreno se deu a partir das diretrizes de acomodação à topografia original, continuidade de vias pedonais e ciclovias e conexão entre os pontos de interesse. Cada edifício do complexo abriga diferentes programas arquitetônicos filtrando os usuários do equipamento em níveis de segurança, de modo a definir bem as funções de cada ambiente e de controlar os encontros entre funcionários, participantes do programa e visitantes, inclusive agressores.

Orientadora: Maribel Aliaga Banca: Augusto Esteca e Maria Cecília Gabriele 43


tema

habitação

Com o crescimento desordenado das cidades, principalmente com o advento da revolução industrial, surge o desafio de se pensar políticas públicas e soluções arquitetônicas de qualidade para suprir a crescente demanda por habitação. O tema está aliado a um vasto universo de atores que podem ou não contribuir para o sucesso de um projeto habitacional. As propostas apresentadas pelos alunos da FAU-UnB este semestre abarcam diversos contextos sociais e culturais mostrando as possibilidades contidas num tema tão complexo e de extrema atualidade. Camilla Ribeiro de Abreu Maria Luísa de Medeiros Fernandes Wendel Ferreira dos Santos

Todas as imagens foram fornecidas pelos autores dos trabalhos.

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gilmore house co-habitação para mães solo Camilla Ribeiro de Abreu O Setor de Habitações Individuais Geminadas Sul tem a predominância de residências unifamiliares, além disso é um dos setores mais bem localizados considerando transporte, área escolar e diversidade de comércio. Por esse motivo, o terreno para a co-habitação foi escolhido na SHIGS 705. A estrutura de uma residência co-habitada já é vivenciada em muitos países principalmente com habitantes que possuem pontos em comum. As clientes escolhidas foram três mulheres que são mães solo. O termo mãe solo veio para definir as clientes apenas por ser mãe e criar os seus filhos sozinha e não pelo seu estado civil. Além disso, a escolha por uma casa co-habitada veio para permitir que a mãe solo tivesse uma qualidade maior de vida sem um custo adicional e também pela possibilidade do apoio entre elas para o dia a dia delas. A casa acontece em níveis, buscando a individualização para cada família, sendo que o primeiro apartamento tem como nível semienterrado, permitindo que internamente alcançasse um pé direito confortável de 2,9 metros. As escadas, localizadas no meio do projeto, permitem que haja uma divisão marcada entre área privativa, os “apartamentos”, que são voltados para área de jardim que transmite tranquilidade. Já a área mais pública, onde há o possível convívio entre as famílias está voltada para a W3, avenida mais movimentada e comunicativa. Tudo isso para que houvesse equilíbrio projetual.

Orientadora: Maribel Aliaga Banca: Augusto Esteca, Luis Alejandro Pérez, Maria Cecilia Gabriele e Carina Folena Cardoso 45


projeto resgate acolhimento e reinserção social para população em situação de rua Maria Luísa de Medeiros Fernandes O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome define população em situação de rua como um grupo populacional heterogêneo em condições de extrema pobreza, fragilidade de vínculos e com falta de moradia convencional regular, compelindo a abrigar logradouros públicos e, ocasionalmente, abrigos. Apesar desta definição sinalizar um sério problema social, verificou-se que as principais ações em relação a essa população envolvem assistências de resultado imediato, ou seja, não propiciam reinserção social. É neste contexto que surge a solução-conceito do Projeto Resgate: uma proposta que restringe sua atuação apenas àqueles que buscam uma atuação a longo prazo. Para tal, integrou-se acolhimento, profissionalização, cultura, convivência e acompanhamento em um único edifício no Setor Hoteleiro Norte de Brasília, o Torre Palace Hotel. Em um âmbito mais projetual arquitetônico e não por isso menos social, optou-se pela intervenção em uma estrutura edificada existente e atualmente abandonada. Em sua materialidade, o Projeto Resgate busca ser exatamente aquilo que pretende oferecer: uma oportunidade de reinserção, ressignificação e resgate da dignidade. 46

Orientadora: Maria Cecília Gabriele Banca: Augusto Esteca, Carina Folena Cardoso, Luis Alejandro Pérez e Maribel Aliaga


protótipo residencial replicável Wendel Ferreira Santos A residência unifamiliar é considerada por muitos arquitetos como o tipo arquitetônico do qual todos os outros derivam e nisso reside sua importância. A proposta se trata de uma casa de 3 níveis em alvenaria estrutural aparente e lajes maciças de painel treliçado em EPS. Também é uma resposta financeiramente viável para uma família de classe média composta por quatro pessoas. A fachada frontal, oeste, se apresenta sóbria com janelas venezianas. Essa solução, aliada ao posicionamento da escada linear nessa fachada, permite ventilação natural e impede a insolação para seu interior. A garagem frontal conduz a um corredor que dá acesso (pela esquerda) à casa e que leva a uma lavanderia ao fundo. A fachada sul, de acesso, apresenta janelas que vão do chão ao teto para aproveitar a luz natural bem como pergolados para sombrear os bancos jardineiras de concreto e madeira do corredor de acesso. A grande porta de acesso leva a um térreo de sala/cozinha com um lavabo de apoio. O 1º pavimento apresenta uma sala íntima que dá acesso a uma suíte com varanda. Uma vez no 2º pavimento, um longo corredor leva aos quartos de solteiro logo a direita e ao banheiro em seu fim. Nesse corredor fica o alçapão que dá acesso a laje de cobertura. O volume de coroamento é elemento de composição da fachada e abriga duas caixas d’água e instalações hidráulicas da residência.

Orientadora: Maribel Aliaga Banca: Andrea Prado, Cláudio Queiroz, Lucas Batista e Wilber Gomez Velez 47


tema

espaços de aprendizagem O exercício do equipamento educacional como meio construído por onde permearão educadores e educandos e por onde ocorrerão práticas pedagógicas que deverão direcionar o ensino pautado na produção de conhecimentos: esses é o desafio dos projetos para edifícios educacionais desenvolvidos pelos alunos da FAU-UnB. Tratam-se de configurações espaciais elaboradas a partir do reconhecimento das diversas possibilidades de ensino e aprendizagem no século XXI, fundamentadas na troca de conhecimentos em ambientes que visam fomentar a vida social desenvolvida em diversas instituições educacionais. Ana Luísa de Oliveira Teixeira Bárbara Alves Marquez de Morais Esther Rocha Birenbaum Lucas de Freitas Feijão

Todas as imagens foram fornecidas pelos autores dos trabalhos.

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escola infantil maria montessori Ana Luísa de Oliveira Teixeira Com o uso de novas metodologias de ensino na educação infantil, percebe-se que algumas delas se utilizavam da arquitetura como auxílio para seu desenvolvimento. O Método Montessoriano, empregado principalmente com crianças cursando a pré-escola e o ensino fundamental, possui, além do apoio de materiais didáticos, o mobiliário e a arquitetura como seus aliados. Aplicando o Método Montessoriano, o projeto tem como objetivo produzir um espaço de ensino onde a criança seja estimulada a aprender e esse processo de aprendizado se torne prazeroso e divertido. Nas demais escolas espalhadas pelo mundo, os alunos vivem desde cedo um ambiente de competitividade e estresse, o que os torna adultos mais sérios e fechados. Para reverter tal situação, este novo centro de ensino foi pensado de maneira diversa, com objetivos diversos, contando com ambientes lúdicos, divertidos, e atividades onde o próprio indivíduo é o dono de sua maneira de aprender. Cada limitação é respeitada e trabalhada, de maneira que ninguém se sinta menor ou excluído por suas dificuldades. A partir dos estudos feitos sobre o Método Montessoriano e Escolas Infantis, foram estabelecidos os pontos importantes e de partida para o projeto. O primeiro fator foi a escolha da faixa etária dos alunos, e quantas turmas haveria em cada turno. Buscando atender a uma margem de idades diversificada, foi feita a montagem de turmas de crianças com idades entre quatro e dez anos, que fazem parte da Pré-escola e o Ensino Fundamental I.

Orientadora: Maria Cecília Gabriele Banca: Ana Flavia Rego Mota, Camila Sant’anna, Cecília de Sá e Erika Umakoshi 49


reestrutura mulher escola de construção civil para mulheres na estrutural Bárbara Alves Marquez de Morais A Escola Reestrutura Mulher busca promover a instrução e profissionalização da parcela feminina da Estrutural, que irá precisar de novas fontes de emprego, devido à desativação do lixão. É uma chance de ampliar a presença das mulheres no mercado da construção civil, atualmente dominado por homens, gerando esforços para diminuir as diferenças salariais entre gêneros e suprir a demanda social de empoderamento feminino, principalmente se tratando de classes com menor poder econômico. A concepção do projeto partiu dos acessos, de acordo com os fluxos já existentes e hierarquias viárias. O acesso principal se dá através de uma praça, voltada ao uso da comunidade. Biblioteca e auditório também podem ser usados pelo público geral, servindo de palco para atividades como mostras e apresentações. O programa apresenta espaços de aprendizagem, administrativos, culturais e de apoio, além de uma creche, para que a realidade dessas mulheres seja considerada e haja incentivos para sua capacitação e dedicação à entrada no mercado de trabalho. Conta também com espaços de convívio, destinados ao descanso e à criação de uma rede de contatos e fortalecimento de vínculos entre as alunas.

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Orientadora: Maria Cecília Gabriele Banca: Ana Clara Giannechini, Ana Flávia Rego Mota, Cecília Gomes de Sá e Erika Mitie Umakoshi


arquitetura escolar berçário e creche vargem bonita Esther Rocha Birenbaum O berçário e creche será implantado no Núcleo Rural Vargem Bonita – DF, em um lote triangular com 5640m² de área. O Núcleo Rural Vargem Bonita é um dos únicos núcleos rurais do Distrito Federal que ainda mantem sua característica original. A população da agrovila é composta por muitas mães de família que trabalham como empregadas domésticas e muitas vezes não tem um lugar próximo onde deixar seus filhos, tendo que se deslocar para outras Regiões Administrativas. O sistema de transporte público da região é outro problema que dificulta a vida dessas mães: apenas uma linha de ônibus alimenta o sistema, funcionando sem respeito aos poucos horários estabelecidos. A ideia de se projetar uma creche

que atenda essa comunidade surge como resposta a essa carência de serviços de educação que atendam as mães e as crianças. O terreno facilitou a correta dedução da orientação solar. Por ser um triângulo e por estar voltado para o Norte, não possui nenhuma de suas fachadas em 180º com ele. O partido arquitetônico adotou a fachada de menor incidência solar para a instalação das atividades administrativas e as demais para instalação das salas da creche, que necessitam de solário, sendo as salas em si não atingidas diretamente pelo Sol após as 9/10h. Os blocos foram dispostos sob a cobertura, de forma independente, protegendo e limitando o pátio. O pátio configura um ambiente de extrema importância para

o desenvolvimento das crianças, pois permite a realização de atividades que estimulam o desenvolvimento social, corporal e motor. Além disso, pátios são importantes espaços em comunidades como a da Vargem Bonita, por criar um espaço de convívio que permite múltiplos usos. Pensou-se também em propor a estrutura principal da cobertura em madeira laminada colada. Esse material permitiu a criação de pilares concreto-metálicos centrais, com cabeamento em aço estruturando por cima as vigas e as demais peças em madeira da cobertura, possibilitando grandes vãos livres. Orientador: Frederico Flósculo Banca: Carolina Pescatori, Ivan do Valle e Luiz Sarmento 51


biblioteca pública de águas claras Lucas de Freitas Feijão Após fazer uma pesquisa sobre a situação das bibliotecas de Brasília, surgiu a ideia de propor uma nova biblioteca no Distrito Federal. Se antes as bibliotecas eram consideradas grandes “caixas de livros”, hoje essa visão não se sustenta. Águas Claras, por estar num grande eixo de crescimento no DF e com a disponibilidade de um amplo espaço para realocar sua biblioteca, se mostrou o local ideal para trazer essa nova visão. Tirando proveito do espaço de uma praça na frente do terreno, sua implantação busca adentrar o interno no externo, levando a biblioteca para a população. Considerando o Programa Modelo para Bibliotecas Públicas, organizado pelo governo dinamarquês, e tendo como referência a Biblioteca das Docas em Melbourne, Austrália, os ambientes internos foram distribuídos em níveis considerando o acesso do público e a necessidade de silêncio para cada uma das áreas. O café externo busca criar a socialização, as salas multiuso trazem a possibilidade de aulas práticas, o auditório permite apresentações e a biblioteca oferece as mais diversas opções de ambientes de estudos e leitura para todo o público. 52

Orientadora: Raquel Naves Blumenschein Banca: Augusto Esteca, Daniel Sant’ana, Marta Romero e Patrícia Melasso


tema

cidades Todos os lugares possuem dimensões simbólicas e mantém valores específicos para seus usuários. O projeto urbano modifica o ambiente construído e as funções existentes do lugar em que intervém, podendo transformar o sentido do lugar especialmente para quem ali vive. Entretanto, espera-se que essas mudanças vão além da superfície! Os projetos apresentados pelos alunos da FAU/UnB para áreas urbanas são transformadores e são iniciativas que influenciam positivamente a economia, o meio ambiente e a comunidade que os recebe. São projetos capazes de reparar e fortalecer nossos ambientes construídos para torná-los mais habitáveis e inspiradores. Ana Carolina Lima Silva Brenda Oliveira Luisa Sabino Rodrigues Rayssa Ferreira Soares Tayra Colovan FIgueiredo Vanessa Cristine Silva Cardoso

Todas as imagens foram fornecidas pelos autores dos trabalhos.

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plano de mobilidade com foco nas motocicletas estudo do caso de alexânia Ana Caroline Lima Silva A larga utilização das motocicletas causa muitos impactos negativos, sobretudo no que tange seus custos sociais relacionados aos altos índices de emissão de poluentes e acidentes. O estudo “Nem carro, nem bicicleta, o Brasil é das motos” mostrou que as cidades entre 20 e 50 mil habitantes possuem as maiores frotas de motocicletas dentre os municípios brasileiros. Portanto, as cidades menores e menos densas estão em situação de maior fragilidade em função de seu custo social. As propostas deste projeto se dividem em estratégias de planejamento e de mitigação. As diretrizes de planejamento buscam ordenar o crescimento da cidade aliando questões de mobilidade, meio ambiente, moradia e trabalho. As diretrizes de mitigação visam minimizar os efeitos negativos da utilização das motos e priorizar o veículo não motorizado. As estratégias de mitigação são: Diminuição das faixas de rolamento para evitar o corredor virtual; Colocação de caixas de retenção nos pontos de parada; Sinalização vertical e horizontal; Evitar vias de sentido duplo (cruzamentos); Corredor exclusivo ou segregado para motocicletas nas vias de maior fluxo, para as motos dos veículos maiores e dar maior visibilidade. 54

Orientadora: Giselle Chalub Banca: Cristiane Guinâncio, Gabriela Tenório, Janaína Vieira e Patrícia Gomes


a cidade para 1 milhão de habitantes cenário e estratégias de planejamento urbano em uberlândia-mg Brenda Oliveira Em Uberlândia, a evolução urbana constituiu uma malha em forma de colcha de retalhos, a qual contribuiu fortemente para a descontinuidade viária e consequentemente, menor grau de acessibilidade topológica urbana. Essa compreensão é amparada pelo instrumento teórico, metodológico e técnico da sintaxe espacial, por meio de mapas axial e de segmentos, cuja construção baseou-se em recursos de geoprocessamento do Sistema de Informação Geográfica (SIG). Dessa caracterização, associada à demanda por expansão urbana, identificada pelo Plano Diretor de Uberlândia de até 1 milhão de habitantes, deriva mais que um produto final, mas uma metodologia, que se amparou na definição de critérios de expansão urbana, no sentido de readequação do perímetro urbano e adensamento dentro do recorte especificado, além de um conjunto de soluções projetuais para alguns dos problemas encontrados em trechos específicos de Uberlândia. Para tanto, foram utilizados mecanismos de planejamento urbano como costura urbana, reestruturação viária e de mobilidade, zoneamento, tipos edilícios e aplicação de instrumentos urbanísticos, num contexto aplicável a cidades de médio porte e também a outras cidades brasileiras.

Orientador: Valério Medeiros Banca: Gabriela Tenório, Orlando Nunes, Raquel Egídio e Vânia Loureiro 55


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dinamização da integração intermodal do setor terminal sul Luísa Sabino Rodrigues A ocupação territorial desordenada ao longo dos eixos de circulação que marcam Brasília levou à fixação de áreas residenciais distantes dos locais de trabalho. Esse tipo de formação causa um movimento pendular entre o entorno e o Plano, que gera retenções nas principais rodovias que cortam a cidade, fazendo-se necessário repensar a mobilidade de Brasília. Considerando isso, o Terminal Asa Sul foi escolhido para ser objeto desse trabalho. Ele funciona em um local isolado, é pouco acessível e não tem muitas atividades no entorno, fazendo com que poucas pessoas frequentem o local diariamente e tornando-o um equipamento subutilizado. O projeto, portanto, focou em trazer melhorias para a integração intermodal e na proposição de atividades que atraiam as pessoas e que supram suas necessidades rotineiras. Por ser uma área com lotes institucionais muito grandes, a região tem carência de áreas de comércio e serviços. Dessa forma, não só a ocupação ajudaria o terminal, como também serviria de apoio para as atividades que já estão funcionando lá. Assim, com um melhor desenho da área, é possível oferecer novas oportunidades para aquela região e para os usuários do transporte coletivo de Brasília. 56

Orientador: Benny Schvarsberg Banca: Carlos Reis, Gabriela Tenório, Giselle Chalub e Orlando Nunes


um novo centro para vicente pires Rayssa Ferreira Soares Vicente Pires recebeu seus primeiros moradores na década de 1970 e, a partir dos anos 90, a região sofreu um intenso processo de urbanização desordenada que resultou em diversas problemáticas, dentre elas a falta de espaços e equipamentos de lazer. O ordenamento dos espaços públicos é atualmente um dos aspectos vitais para a revitalização e a qualidade de vida no meio urbano. Portanto, o propósito deste trabalho é a criação de uma praça no centro urbano de Vicente Pires, para que se torne um local atrativo para a população desta e de outras regiões. A área de intervenção escolhida tem grande potencial atrativo por conta da sua boa localização, que atualmente está sendo desperdiçado pelo uso de estacionamento. Dessa forma, o projeto tem como objetivo tornar a Praça Central um ponto privilegiado da cidade assumindo sua função como elemento articulador no centro, favorecendo a conexão entre as atividades que ali ocorrem. O local deve ser uma praça de centro viva e movimentada, que atenda às necessidades de um público variado, proporcionando diversas atividades de lazer, convívio e descanso, além de ser um espaço de passagem agradável, oferecendo sombra e conforto aos seus frequentadores.

Orientadora: Gabriela Tenorio Banca: Cristiane Guinâncio, Giselle Chalub, Janaína Junqueira e Patrícia Gomes 57


águas claras vertical para pedestres Tayra Covolan Figueiredo A requalificação dos espaços para o pedestre visou sobretudo trazer continuidade e integração na cidade. Quanto aos modais, as ciclofaixas antes só presentes nas vias arteriais foram redesenhadas em uma rede de ciclovias, atravessando toda a cidade, além de novas rotas e paradas para ônibus. Para integrar a cidade na escala do pedestre, 41 vias compartilhadas foram criadas interconectando esses espaços de permanência. Para favorecer a vida da cidade, foram propostos lotes de uso misto aos lotes que permanecem ociosos, com o intuito de trazer ainda mais fachadas ativas para a escala do pedestre. Um corredor verde, lindeiro à linha do metrô foi criado. Com intuito de ser a espinha do projeto, centralidade das demais conexões da cidade. Nesse corredor, largos passeios, ciclovias e fachadas configuram um espaço agradável para o pedestre. Foram feitas 4 novas travessias cortando a linha do metrô, 3 dessas, de acesso exclusivo para pedestres. Quanto às praças em miolos de quadra, foram requalificadas como vias compartilhadas, com novos equipamentos para lazer. Nas praças comerciais e entrequadras, foram retirados os estacionamentos de seu interior. As praças do metrô se conectam com o corredor verde, fazendo uma grande área para o pedestre ao longo da cidade. Essa requalificação visou tornar a cidade acessível ao pedestre considerando a conexão entre modais, as calçadas acessíveis e reintegrando os espaços livres de permanência ao tecido urbano. 58

Orientadora: Giselle Chalub Banca: Camila Sant’anna, Cristiane Guinâncio, Gabriela Tenório e Patrícia Gomes


requalificação urbana das quadras econômicas lucio costa Vanessa Cristine Silva Cardoso As Quadras Econômicas Lucio Costa (QELC) são um projeto de habitação popular de 1987 feito por Lucio Costa, mas alguns de seus aspectos originais foram descartados ao longo dos anos. As QELC atendem à classe média da sociedade, não à baixa; suas quadras não têm intensa arborização; os equipamentos/ mobiliários não foram implantados como previsto; as pracinhas tornaram-se terrenos vazios e ociosos; os pilotis foram cercados para servirem de garagem, pois a área está fora do limite de tombamento. A proposta de requalificação urbana focou nas questões citadas e deu ao local uma nova estética em função do desenho existente, levando em conta sua marca individual e aspectos consolidados com o tempo. Baseou-se em três diretrizes principais: dinâmica urbana, integração e funcionalidade. A primeira refere-se à divulgação do projeto e sua importância no contexto de expansão de Brasília, pois foi proposto por Costa no documento Brasília Revisitada, e ao aumento da abrangência que a região pode adquirir com sua localização central. A segunda, às conexões com o entorno imediato; estruturação espacial e otimização de fluxos, já que hoje é isolada e sem rotas alternativas. A terceira, ao grande potencial/espaço para novos usos e adensamento; maior autonomia; revitalização dos espaços existentes; novas moradias, recintos de lazer, pontos focais e marcos visuais.

Orientador: Benny Schvarsberg Banca: Giselle Chalub e Mônica Gondim 59


tema

arquitetura e paisagem Os trabalhos dos alunos da FAU-UnB demonstram que projetos de arquitetura paisagística vão muito além da simples criação de áreas verdes. São projetos que buscam promover a integração entre pessoas e o ambiente natural, buscando a melhoria na qualidade de vida urbana por meio da restauração e conservação dos recursos naturais, da implantação de novos equipamentos e da qualificação dos espaços públicos. Iara Martins Carvalho Jéssica de Oliveira Barbosa Juliana da Silva Laura Tavares Webber Amaral Samara Ribeiro Tokunaga

Todas as imagens foram fornecidas pelos autores dos trabalhos.

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prainha à margem nas margens Iara Martins Carvalho Às margens do Lago Paranoá, mesmo na falta de infraestrutura adequada nos espaços públicos, é notável o interesse da população em se apropriar desses espaços. Em busca de requalificação urbana, foram lançados projetos pelo governo com objetivo de proporcionar a articulação entre a cidade e o lago, recuperando a ideia da escala bucólica. A Prainha não foi contemplada, mas é um espaço importante às margens do lago. Localizada ao lado da ponte Honestino Guimarães, é um local com forte simbolismo de religiões de matriz africana e frequentada em sua maioria por população de baixa renda, que busca lazer, mas encontra falta de infraestrutura. Portanto, a proposta do projeto é a estruturação do local e democratização do acesso ao Lago Paranoá, envolvendo os usuários. Busca a melhoria do espaço público, trazendo maior vitalidade e equipamentos urbanos, de maneira a concentrar na demanda necessária de quem utiliza, além de atrair maior quantidade de pessoas, mas evitando a gentrificação. As propostas foram feitas com base nas necessidades destacadas a partir de análises das dimensões morfológicas e entrevistas que integraram o processo participativo.

Orientadora: Liza de Andrade Banca: Caio Frederico e Silva, Luiz Eduardo Sarmento, Patrícia Gomes e Paulo Tavares 61


o lugar da criança

requalificação do parque ana lídia Jéssica de Oliveira Barbosa Atualmente, pelas inovações tecnológicas e insegurança nas cidades, as crianças vêm perdendo o contato com as brincadeiras e playgrounds de rua, se limitando cada vez mais aos videogames, computadores, e outros eletrônicos. O sentido da infância vem sendo perdido e as brincadeiras consideradas desnecessárias à vida adulta. A escolha do Parque Ana Lídia se deu pelo fato de ser o parque infantil mais icônico da cidade, presente na vida de tantos moradores. Muitos pais de hoje em dia brincaram no parquinho, e por isso, levam seus filhos para brincarem no mesmo local. Crianças estão passando por um período de descobertas e aprendizagem. Elas precisam de atenção, estímulos e espaços adequados para se expressarem e para isso é preciso quebrar pensamentos conservadores de que elas são incapazes de realizar descobertas e oferecer as ferramentas corretas para que elas mostrem do que são capazes. Após análises e entrevistas, foi proposto manter as principais lembranças do parque, trazendo o tradicionalismo e conservando o sentimento de nostalgia importante para os pais, entretanto trazendo novos brinquedos que tragam inspirações para as crianças, buscando manter o equilíbrio entre o novo e o original. 62

Orientadora: Ana Suely Zerbini Banca: Camila Sant’anna, Carolina Pescatori, Luís Pedro de Melo César e Maria da Assunção Pereira


olhos para o lago via paisagística na orla do lago paranoá Juliana da Silva O trabalho propõe uma via paisagística que conecta a orla com a cidade, dando mais visibilidade ao Lago por meio dos acessos criados, além de limitar o avanço dos lotes lindeiros. A criação dos acessos considerou pontos estratégicos, perto das paradas de ônibus e comércio. A intenção é favorecer a chegada de pessoas que residem longe do centro, e que muitas vezes não tem um espaço de lazer de qualidade onde moram. A facilidade de acesso às margens do Lago justifica a criação de alguns serviços de comércio e apoio, que consequentemente estimulariam a permanência das pessoas nestes espaços. O comércio que já existe hoje em alguns lotes residenciais também viria a ser regularizado, dando preferência aos lotes que rodeiam as áreas de lazer. A partir do desenvolvimento e consolidação da orla como espaço público, os moradores das casas que hoje dão as costas para o Lago, teriam a oportunidade de abrir as portas para um espaço de lazer equipado, valorizando um elemento com tanto potencial que é o Lago Paranoá. O trabalho se desenvolve sobre uma questão crucial: Como assegurar o uso pela comunidade em áreas onde uma extensa fachada cega causa monotonia e insegurança? A partir de mapas de análises e diagnóstico, foram produzidos mapas com propostas de novos acessos, ciclovia, pontos de aluguel de bicicleta e novas rotas de ônibus. Também é proposto que os lotes ditos “pontas de picolé” passem a ser de uso misto, possibilitando uma abertura para a área de lazer. A orla do Lago Paranoá será mais atrativa e frequentada quando se tornar um espaço visível, acessível e oferecer diferentes atividades à população.

Orientadora: Gabriela Tenório Banca: Benny Schvarsberg, Giselle Chalub e Orlando Vinícius 63


lago paranós Laura Tavares Webber Amaral À luz dos critérios da acessibilidade e da ergonomia, o alto potencial paisagístico e turístico proporcionado pela orla do Lago Paranoá será aproveitado com a implantação de um espaço gastronômico contíguo à área do Calçadão da Asa Norte. Trazer a população para próximo do corpo d’água é uma forma de preservar o espaço público, mantendo-o vivo. Foi implantado um deck acessível conectado ao Calçadão da Asa Norte, que se ramifica em três partes: duas direcionam-se ao restaurante; a terceira está no mesmo nível do deck do Calçadão existente e destina-se ao lazer da população. O restaurante possui 1513,43 m² e consiste em um conjunto de dois blocos em níveis diferentes. O bloco mais baixo, o edifício de apoio, destina-se a abrigar a parte de serviço do restaurante. Está na cota altimétrica + 1002,87 para que abaixo de sua estrutura tenha uma altura livre de 2 metros, facilitando o acesso à manutenção de tubulações que estarão abaixo da estrutura e permitindo que a continuidade e fluidez do lago continuem intactas. O bloco mais elevado – o salão de acesso ao cliente – está na cota altimétrica + 1005,84 e conecta-se com o pavimento superior do edifício de apoio. A diferença de níveis permite a visibilidade da área de cocção – vista de cima – por meio de aberturas que aproximam o cliente do processo de preparo e cocção dos pratos que chegam até sua mesa. A forma longilínea do salão possibilita a visibilidade do lago de qualquer parte do salão. Estabelece um grande emolduramento da paisagem local e a vista ampla do Lago Paranoá é garantida pela sua envoltória, que revela a necessidade de conectar-se com o exterior. 64

Orientadora: Ana Suely Zerbini Banca: Ana Paula Gurgel e Oscar Ferreira


o santuário fica

o coexistir entre cidade, cerrado e povos indígenas Samara Ribeiro Tokunaga Tendo em vista que o projeto aprovado para o Setor Noroeste de Brasília ignora a área do Santuário dos Pajés e se sobrepõe a uma área ambientalmente sensível, foi elaborada uma contraproposta paisagística para a ocupação do Setor considerando a demarcação da terra indígena e promovendo a costura entre importantes áreas ambientais do Distrito Federal: o Parque Nacional de Brasília, a ARIE Cruls e o Parque de Uso Múltiplo Burle Marx. O projeto baseia-se em sete pontos de intervenção: demarcação da área indígena; proteção dos limites do Santuário por meio de vegetação; costura das áreas ambientais através de um corredor verde denominado Corredor

Tapuya, que objetiva conectar as áreas verdes, proteger o cerrado, integrar o Santuário e conferir usos à população; realocação das projeções dos edifícios ainda não construídos que se encontram na área do Santuário ou na área do corredor Tapuya para o Setor Terminal Norte; alteração do sistema viário para receber as mudanças urbano paisagísticas e promover o limite da expansão urbana; implementação de trilhas de bicicletas para reforçar a costura entre as áreas verdes provendo uso à população de forma a evitar o desmatamento para a expansão do Setor; e a construção de um viaduto que rebaixa um trecho da EPIA para promover a livre passagem da fauna

de uma área verde para a outra. Essas intervenções possuem um caráter simbólico de protesto que, além de apresentar soluções para a situação atual do Setor, levantam a discussão da luta indígena pela terra e ressaltam a repercussão que a demarcação de uma terra indígena no Plano Piloto de Brasília teria em todo o país. O projeto suscita a necessidade de discutir e repensar a cidade, de modo flexível, onde preexistências e ambiente natural coexistam.

Orientadora: Carolina Pescatori Banca: Ana Zerbini, Camila Sant’anna e Maria Assunção 65


tema

espaços de exibição, cultura e troca Toda exibição conta uma história. O apelo é lançado aos sentidos dos visitantes: estímulo visual, que é o mais forte e mais memorável; sensações, como a audição ou o cheiro, que são imediatos e associativos, além de palavras e leitura que estimulam interpretações. O espaço físico de uma exibição, seja em um museu ou mercado, é um processo planejado e sequencial e seu enredo vai informar a quantidade de espaço necessário, o posicionamento dos objetos e a sequência na qual os visitantes se moverão em torno dos bens expostos. Trata-se de trabalho minucioso e criativo, conforme pode ser conferido nos projetos apresentados a seguir. Camila Joko Giovanni Dorneles Muñoz João Marcus Cardoso de Carvalho Julia Gasparini Vidal Júlia Mazzutti Bastian Solé Paulo Vitor Cordeiro Amuy

Todas as imagens foram fornecidas pelos autores dos trabalhos.

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novo espaço de trabalho Camila Joko Activity Based Working (ABW) é uma estratégia de ambiente de trabalho que permite que as pessoas se localizem fisicamente onde é mais adequado para concluir suas tarefas, ao invés de forçá-las a realizá-las em apenas um layout. O projeto é um complexo arquitetônico contendo um edifício corporativo com a função de serviços e um espaço cultural em Águas Claras. O objetivo é de integrar a RA e torná-la autossustentável, trazendo alguns usos escassos. Para tanto, as diretrizes de fluxo de usuários, pluralidade de sensações, flexibilidade, biofilia e gentileza urbana foram aplicadas. Dessa forma, o edifício corporativo foi projetado com 18 andares de escritórios e 3 de serviço. Cada andar possui uma estrutura física flexível para atender as diversas demandas dos usuários. À exceção do núcleo rígido, os demais espaços de trabalho, reunião, apoio e áreas verdes trazem configurações espaciais diferentes, sendo o objetivo principal, elevar o bem-estar e produtividade do usuário. Já o espaço cultural dispõe de salas multiuso, administração, café, comércio, ponto do pedal e praças de permanência. Com a intenção de atrair os moradores da região, o projeto cria locais de permanência intimistas e contemplativas, viabiliza a circulação pública pelo terreno, proporciona áreas de comércio local e incentiva a locomoção sustentável. Portanto, conduz os usuários para um complexo que promove usos diversos em diferentes períodos do dia.

Orientadora: Ana Carolina Sant’ana Banca: Cecília Gomes de Sá, Liza Andrade e Vanda Zanoni 67


memorial às vítimas da ditadura Giovanni Dorneles Munõz O projeto tem o papel de valorizar a liberdade e a democracia ao lembrar aqueles que tiveram suas vidas tomadas pela ditadura militar. Destinar um memorial às vítimas da ditadura no centro político do país é instruir sobre um período omitido e ao mesmo tempo retratar-se quanto aos erros do passado. Localizado no Setor Cultural Norte de Brasília – Esplanada dos Ministérios – o Memorial está inserido no Parque da Memória que também inclui biblioteca, café e teatro de arena. O parque é decorrente da ideia de Lucio Costa para a área e também busca criar uma atmosfera propícia para a reflexão acerca da democracia e da liberdade. O Memorial acontece no subsolo em referência ao período da ditadura, ainda obscuro, e sua entrada é voltada para uma praça coberta por marquise. O memorial se desenvolve por meio de um percurso baseado em uma narrativa espacial como forma de tornar a visita mais memorável e estimular a empatia dos visitantes. O percurso traz uma experiência provável de uma vítima da ditadura: confronto, perseguição, prisão, tortura e ausência. Cada etapa apresenta diferente espacialidade e procura causar uma sensação. A sala da ausência é a parte final do percurso e contém um espaço vazio de 21 metros de profundidade em referência aos anos de ditadura e representa a falta que as vítimas fazem. Ao longo do percurso de descida é possível ler os nomes das vítimas inscritos nas paredes. A saída leva o visitante à praça superior. 68

Orientadora: Cecília Gomes de Sá Banca: Cynthia Nojimoto e Elane Ribeiro


centro cultural teatro da praça João Marcus Cardoso de Carvalho Visando a valorizar a confluência e a convergência, o posicionamento dos volumes principais concebe espaços negativos, os quais proporcionam o surgimento de praças, conduzidas pela locação de bancos públicos e áreas sombreadas tanto pelos próprios volumes dos edifícios, quanto por árvores previstas para o local. O volume ressaltado do museu possui um generoso vão livre, pensado como uma forma de marcar o acesso principal para o centro cultural e convidar todos aqueles que transitam pela via mais movimentada da cidade. Os demais volumes apresentam-se como prismas retangulares que circundam uma grande escadaria, ligando a Avenida Comercial à praça do centro cultural e ao interior da quadra. Voltados para as áreas públicas internas do centro cultural, os acessos apontam uma ligação mais fluida entre o interior eo exterior, sem perder o controle sobre a segurança dos acessos. O Teatro e a Biblioteca Braille Norina Nowill encontram-se em volumes semi-enterrados, acessíveis pela praça do centro cultural, já a Biblioteca Machado de Assis, a Academia Taguatinguense de Letras e o Museu são acessíveis pela Av. Comercial. Por fim, o novo conjunto de edifícios sugere uma centralidade acessível à população de Taguatinga, com volumes que se articulam a fim de criar espaços públicos convidativos que se comunicam diretamente com o centro da cidade, valorizando-o ainda mais.

Orientador: José Manoel Sánchez Banca: Ivan do Valle e Ricardo Trevisan 69


mercadão de brasília Júlia Gasparini Vidal Síntese da diversidade, o mercado é um lugar de compras de todas as classes sociais, onde gente da alta sociedade mistura-se ao povo mais humilde. Produtos, cores, aromas, sabores e um fluxo intenso. É o fluxo que mantém viva sua função e isso demanda uma estratégia espacial: a facilidade de acesso à área. O terreno é margeado pelo trilho do metrô e está próximo à estação de metrô Asa Sul, além de possuir acessos de importantes vias da cidade e um futuro projeto para implantação do VLT. A proposta do Mercadão visa ao reuso da estrutura abandonada do galpão de manutenção do VLT, que atualmente onera o Estado, e visa também à transformação espacial de uma área subutilizada, construindo um equipamento urbano. O entorno é constituído por uma área verde que será o Parque das Aves. O projeto do mercado visa a integração entre essa área verde, o metrô e o VLT, respeitando e dando continuidade à linguagem visual da estrutura do galpão e ao projeto do parque. A forma toma partido dos pórticos metálicos existentes e se estende visualmente criando uma composição linear contínua para o piso, o mobiliário da praça e para a estrutura da estação de VLT. O mercado e seu entorno propiciam um ambiente informal, aberto, acessível, proporcionando mais uma opção de lazer para o Distrito Federal. 70

Orientador: Ricardo Trevisan Banca: Ivan do Valle e José Manoel Sánchez


pequi sobre tela museu de arte e centro livre de artes de goiânia Julia Mazzutti Bastian Solé Propôs-se elaborar um projeto pautado no pensamento crítico sobre a experiência do museu e do centro de artes e sobre a maneira como a memória permeia essa vivência – explorar as relações entre as MEMÓRIAS INDIVIDUAIS, as MEMÓRIAS CONSTRUÍDAS COLETIVAMENTE e o MUSEU. Ao visitar um MUSEU, cada um de nós amplia suas próprias ideias e sentimentos. No projeto para o novo edifício do MAG (Museu de Arte de Goiânia) e do CLA (Centro Livre de Artes), os espaços, as obras e as formas de mostrá-las constituem-se uma grande rede de escolhas, sentidos e histórias. Explorar e interagir é a melhor forma de compreender um espaço e a mensagem que ele deve e quer transmitir. Aqui, planos, linhas e volumes se unem criando um espaço em diversas dimensões e possibilidades de exploração. O térreo em forma de praça abre o percurso e expande o edifício em direção ao Bosque e à cidade, em todas as suas possibilidades e conexões. As linhas se materializam nos pilares e ângulos retos dos blocos; os planos vêm por meio da cobertura plana sobre a rampa, luminárias e coberturas intermediárias ao longo dos pés-direitos duplos do térreo. Por fim, os volumes materializam os blocos de atividades que são mais uma vez conectados pelas linhas e planos que formam a rampa central. Temos ainda o conceito de CIDADE MUSEU, materializado no mapeamento de uma rede de integração que une pontos históricos e culturais da cidade, marcada por estações informativas. O Pequi das memórias e afetividades vem sobre tela, como representação figurada da cultura local nas artes. As fotocolagens criam um cenário de sobreposições e novas articulações, um lugar de contingências onde contemporaneidade e história se mesclam para materializar um lugar que é mundialmente local.

Orientadora: Elane Ribeiro Peixoto Banca: Cecília Gomes de Sá, Cynthia Nojimoto e Giselle Chaim 71


mpb - museu do povo brasileiro Paulo Vítor Cordeiro Amuy Um grande espelho d’água artificial, o Lago Paranoá, e suas margens dão a Brasília a escala bucólica. O projeto desenvolvido de acordo com o projeto Orla Livre visa dar qualidade aos espaços públicos da orla do lago, assim a ideia do museu é proporcionar o aprendizado cultural, a possibilidade de entretenimento, fomentando a economia e o turismo da capital do Brasil. Inspirado na obra “O povo brasileiro” de Darcy Ribeiro o museu se divide em vários espaços que vão desde galerias tradicionais, ambientes introspectivos e ambientes lúdicos permitindo várias percepções acerca do povo brasileiro. A intenção de criar uma edificação que pudesse estabelecer um diálogo com o espelho d’água foi diretriz chave para o desenvolvimento do partido. Um grande volume linear conecta a parte mais alta do terreno até a parte baixa. Na cota superior o visitante acessa o foyer do museu e suas galerias expositivas. Enquanto na porção mais baixa este tem acesso a uma biblioteca pública, um anfiteatro de eventos e exposições, um deque e uma grande praça. O volume que se encontra parcialmente enterrado comporta as demais áreas técnicas do museu. A porção não edificada do terreno comporta um parque que preserva a escala bucólica. 72

Orientador: Ivan Manoel do Valle Banca: Carolina Pescatori, Eurípedes da Silva Neto, Frederico Flósculo e Luiz Eduardo Sarmento


tema

cenografia

Assim como a arquitetura, a cenografia é configuradora de espaços para o movimento do corpo, apropriando-se da tridimensionalidade, perspectiva, materialidade, cor, luz e sombra, características presentes em projetos arquitetônicos. Não se pode negar que existe uma relação de reciprocidade entre arquitetura e cenografia, capaz de definir novos contornos, novas tipologias de espaços e novos lugares. Arielle Cristina Martins dos Reis Marina Luise Paixão de Oliveira

Todas as imagens foram fornecidas pelos autores dos trabalhos.

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outro circo colecionador de cidades Arielle Cristina Martins dos Reis Marcovaldo é um personagem criada pelo escritor Italo Calvino. Ele vive numa cidade indeterminada, uma metrópole qualquer. Apenas mais um operário, caminha melancólico e sonhador, a procura de nuances da cidade. O Outro Circo empresta olhos pouco adequados para a vida cotidiana na cidade, mas que permitem uma visão alternativa dessa realidade. Marcovaldo é a personagem fictícia que visita o Outro Circo e representa o morador à espera de que algo extraordinário retarde a sua volta para casa. Era apenas mais um dia na cidade. Exceto por um detalhe que ninguém notou. Ninguém, salvo aqueles com olhos pouco adequados para a vida na cidade. Uma estrutura cúbica começou a ser notada na área central. A cada dia, o cubo se multiplicava e, conforme as arestas se prolongavam, a estrutura se parecia mais com um andaime. Ela se expandiu até as pessoas começarem a se reunir para observá-la e se perguntarem o que deveriam fazer com aquele elemento estranho. De fato, algo parecia estar acontecendo na cidade. Quando o circo é abordado de forma conotativa, ele leva a uma oportunidade de capturar novas atmosferas. O circo tradicional possui uma cultura própria. Ela narra a história de diversas civilizações, que emprestaram seus conhecimentos e costumes ao que hoje chamamos de circo. A narrativa do Outro Circo é construída sob a ótica de um público que vive uma contemporaneidade fluida e dinâmica. Oferecendo um momento de fuga da realidade, um caminho alternativo, o Outro Circo é injetado na cidade e tenciona criar e provocar ambientes de interatividade, convidando o público a contar as suas próprias histórias. Essa memória é absorvida e levada para as mais diferentes cidades. 74

Orientador: Ricardo Trevisan Banca: Eliel Américo e Joara Cronemberger


maya uma criação cênica Marina Luise Paixão de Oliveira Maya, segundo Lapa [2009], “é a ilusão do mundo físico; a irrealidade dos fenômenos; a miragem ou “alucinação” do mundo da manifestação.” Acreditar que a ilusão é real é uma das características do homem aprisionado em Maya. Assim nasceu MAYA, o espetáculo de dança em que o conceito principal é o de ilusão, contado sob a narrativa dos mitos: o ego em Narciso [ato 1], a consciência no Véu de Ísis [ato 2] e o despertar na Alegoria da Caverna [ato 3]. Nesta diplomação, desenvolveu-se cenografia e direção de arte sob uma trilha sonora cuidadosamente selecionada, com grandes nomes da sonoplastia como Hans Zimmer e Loreena Mcknitt. Este espetáculo foi planejado para estrear na Sala Villa Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro, localizado em Brasília DF, por possuir palco típico italiano em sua Caixa Cênica, também conhecida por “caixa mágica” ou “caixa da ilusão”. Mas, antes de assistir ao espetáculo, é necessário compreender sobre esse espaço de intervenção temporária da arte: o teatro. Ao compreendê-lo, poderá entrar nesta caixa de inúmeras mirações para, então, sentir o MAYA.

Orientadoras: Ana Zerbini e Sônia Paiva Banca: Ana Paula Gurgel, Oscar Ferreira, Erica Umakoshi e Gabriela Bílá 75


tema

tópicos especiais Os projetos relacionados aos tópicos especiais desse semestre trazem temas pouco comuns relacionados com a atenção a grupos sociais mais vulneráveis. As pessoas podem ser vulneráveis de diversas maneiras: fisicamente, cognitivamente, emocionalmente e socialmente. Essa variedade de vulnerabilidades e a probabilidade de sua ocorrência trazem desafios reais para projetos de arquitetura e urbanismo na atualidade. Caio Vinícius Sales Fiuza Gabriela Heusi Rodrigues Ludmila Pimenta de Freitas Cardoso Luiza Dias Coelho Mariane Paulino Nathalia Lemes Jorge Pedro Iago Aquino do Nascimento Vinicius Bazan

Todas as imagens foram fornecidas pelos autores dos trabalhos.

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a vila que reinventamos Caio Vinícius Sales Fiuza Este projeto se desenvolveu através de processos participativos, buscando entender as demandas reais existentes na comunidade e estabelecer diretrizes urbanísticas para a ocupação junto aos moradores. A investigação do histórico e da situação atual da Vila Cultural da 813 Sul, aliada à mobilização comunitária visou a uma aproximação entre academia e sociedade, com foco na construção de um trabalho que possa auxiliar nos processos de resistência e consolidação deste assentamento. A Vila Que Reinventamos foi um trabalho construído junto aos moradores da Vila Cultural, assentamento irregular localizado dentro do Plano Piloto, na 813 Sul. A primeira etapa consistiu num diagnóstico da área através da análise das dimensões da sustentabilidade, desenvolvida pela professora Liza Andrade e aplicada pelo PEAC Periférico - trabalhos emergentes. Depois disso, o foco se voltou para o processo participativo e desenvolvimento do projeto. Uma das ferramentas utilizadas foi o Jogo Oásis, processo lúdico que se desenrola ao longo de sete passos e culmina em um mutirão comunitário. Através de uma maquete comunitária, chegamos a um acordo das áreas e das intervenções a serem realizadas no dia do mutirão, que aconteceu em dois dias e requalificou duas praças na comunidade. Após o mão na massa se desenrolaram outras ações e encontros, que culminaram na elaboração de um plano de bairro, com diretrizes urbanísticas definidas pelos próprios moradores através das dinâmicas do Jogo dos Padrões. O engajamento e a apropriação por parte dos habitantes da vila superaram as expectativas e o projeto foi premiado com o 2º lugar na Mostra de projetos do 2º Encontro de Urbanismo Colaborativo.

Orientadora: Liza Andrade Banca: Patrícia Gomes, Éderson Teixeira, Natália Lemos e Luiz Sarmento 77


100 dimensões espaço sustentável Gabriela Heusi Rodrigues O centro sustentável ‘100 dimensão’ é um complexo de aprendizagem ecológica, e um projeto de intervenção na área de três galpões já existentes da Cooperativa de reciclagem 100 dimensão, localizada no Riacho Fundo ll. A ideia do projeto surgiu a partir da necessidade de cooperados que buscavam ressignificar seus ofícios, modo de vida e valorizar os aprendizados que obtiveram no decorrer dos anos com o trabalho de reciclagem. Esse complexo conta com novos espaços voltados à conscientização sustentável de crianças de escolas públicas e privadas do Distrito Federal, bem como produção de conteúdo online relacionado à reciclagem e sustentabilidade para todas as idades. O centro sustentável seguiu o pensamento de que nada se perde e tudo se transforma. O projeto buscou reintegrar e reutilizar o máximo de materiais e estruturas já existentes no sítio, criando um ambiente em que a filosofia de transformação esteja evidente em todos os cantos. No projeto, buscou-se trabalhar a materialidade nos três galpões de forma a criar identidades próprias, diferenciando-as e facilitando ao transeunte se localizar no espaço. 78

Orientadora: Liza Andrade Banca: Ana Carolina Sant’ana e Cecília Gomes de Sá


projeto integra a nova penitenciária feminina do distrito federal Ludmila Pimenta Para a proposta arquitetônica, o programa de necessidades desenvolvido foi subdividido em três blocos principais, de acordo com suas funcionalidades. A ideia de desmembrar as funções nos três blocos vem do anseio de se aliar a necessidade de controle das internas à vontade de conceder às mulheres um espaço aberto e passível de ocupações variáveis. O cinturão de árvores de médio e grande porte em volta de todo o terreno busca mesclar a nova construção à paisagem existente, para que o impacto visual do presídio não seja tão grande na região. Além dos blocos, a implantação também enfoca na praça de convivência do projeto, localizada na parte central do terreno. Trazer um elemento único que funciona como cobertura e como passarela é a tentativa de integrar os níveis do projeto, que se acomodam à topografia existente. A forma circular atribuída a ele confere um ponto de força e foco no complexo, valorizando a vivência, descanso e interação entre as mulheres que ali residem. Afim de salientar esse ponto focal, decidiu-se colocar uma única árvore no canteiro central: uma paineira. Essa árvore de grande porte, além de ser relacionada às mulheres – pela referência da “barriguda” às grávidas – é de fácil manutenção por não produzir frutos, e tem grande valor estético na época de florescimento.

Orientador: Augusto Esteca Banca: Carina Folena, Luis Alejandro Pérez, Maria Cecilia Gabriele e Maribel Aliaga Fuentes 79


laços centro socioeducativo Luiza Rego Dias Coelho Partindo da premissa que a privação de liberdade não deve assumir um caráter punitivo, e sim ser um instrumento para aplicação das medidas socioeducativas, e que a responsabilidade sob a menor é compartilhada entre Estado, Família e Sociedade, “Laços: Centro Socioeducativo” tem como diretriz principal o desenvolvimento de vínculos, entre as menores, os funcionários e os visitantes. O primeiro passo para isso foi a escolha do terreno em Samambaia, próximo a estação de metrô e pontos de ônibus, sendo de fácil acesso para a comunidade e familiares das menores, visando combater o abandono e a marginalização de adolescentes. Ponto central no desenvolvimento arquitetônico, o Alojamento focou na criação de espaços onde as infratoras pudessem se sentir acolhidas e pertencentes ao espaço, sem o mesmo punir, isolar ou excluir. As demais atividades foram distribuídas em blocos ao longo do eixo orgânico criado pela disposição dos alojamentos, tendo por centralidade o bloco de visitas, enfatizando mais uma vez a importância do contato entre mundo interno e externo. Por fim, a circulação dentro do centro é marcada por uma marquise que perpassa as edificações como uma fita, intensificado a noção de unidade entre os blocos e importância de cada um deles no comprimento das medidas socioeducativas, eliminando a necessidade de fechamentos tradicionais, quebrando com as similaridades de prisão e traduzindo em espacialidade a socioeducação. 80

Orientadora: Maribel Aliaga Fuentes Banca: Caroline Pescatori, Frederico Flósculo e Lucas de Abreu


planejamento afrorrural quilombo mesquita escalas para a preservação territorial e identitária Mariane Paulino As Comunidades Remanescentes de Quilombo sofrem as consequências socioculturais de um processo de invisibilidade secular no que tange a preservação da sua memória, identidade e território, onde o contexto histórico e socioeconômico corrobora com uma realidade que estigmatiza e marginaliza esta população. O Quilombo Mesquita, localizado em sua maior parte no município da Cidade Ocidental, obteve sua certificação como território remanes-

cente quilombola em 2006, contudo o processo de titulação não concluído contribui para a fragmentação e ocupação por não-quilombolas deste sítio histórico. E observado o contexto das comunidades afrorrurais, onde relação com o território consolida as relações, tradições e o modo de vida, este trabalho tem com objetivo pensar o território delimitado pelo INCRA em um trabalho conjunto com a comunidade através de processo participativo. Realizado dentro do grupo de

pesquisa Periféricos, envolvendo os membros da comunidade como atores deste processo, temos como resultado um planejamento do território – em duas escalas – pensando na reintegração deste pela população quilombola, visando a preservação da memória e patrimônios culturais deste povo. Orientadora: Liza Andrade Banca: Caio Frederico e Silva, Luiz Sarmento, Patrícia Gomes e Paulo Moraes 81


instituto de saúde mental resiliência Nathalia Lemes Diante da demanda e da ausência de espaços adequados destinados à promoção de saúde mental, propõe-se a criação de um Instituto de Saúde Mental que seja um local para a convivência humana, com o intuito de resgatar os potenciais de seus usuários através da socialização, expressão criativa, vivências lúdicas e atendimento ambulatorial. Surgiu com o objetivo de proporcionar à população um facilitador ao desenvolvimento pessoal, emocional e social. A escolha do terreno, com vista para o Lago Paranoá e cercado por uma área verde e preservada – o Parque das Garças – foi automática devido à premissa conceitual do projeto: a humanização! O partido foi pensado afim de promover um correto entendimento da forma aliada à função através de conceitos que se unem às condicionantes 82

ambientais e ao entorno. O conjunto expressa simplicidade a partir de formas mínimas, unidas por planos integrados através de uma área de passagem que exerce a função de praça de interligação das lâminas que abrigam o programa de necessidades, como sendo um caminho à tranquilidade da orla do lago. A permeabilidade refere-se ao deixar passar, e se apresenta tanto na forma como na escolha dos materiais. É a fluidez física e visual, obtida a partir da utilização de vidro e aço em suas fachadas. Como o instituto tem a arteterapia como seu eixo central, tanto na proposta assistencial como em sua simbologia, isso se aplica diretamente no partido através da linguagem obtida nas composições das fachadas. O programa do instituto tem como proposta assistencial um complexo

que abriga o atendimento ambulatorial com base na conceituação de day clinic, ensino e pesquisa com áreas de aplicação de neurologia, psiquiatria e psicologia, bem como diagnóstico e terapia, tendo como seu “coração” a ala terapêutica que abrange terapias integrativas e ocupacionais. Além de toda a estrutura assistencial, a edificação proporciona um espaço público de qualidade, com áreas para atividades lúdicas, estimulando à aproximação dos brasilienses com a saúde através do espaço construído.

Orientadora: Raquel Naves Blumeschein Banca: Ana Zerbini, Augusto Esteca, Cláudia Garcia, Maria Cecília Gabriele e Marcelo Aquino


éksodos rede de reintegração social especializada para pessoas em situação de rua Pedro Iago Aquino do Nascimento A proposta se fundamentou nos diversos aspectos relativos ao fenômeno situação de rua, buscando em sua primeira parte resgatar aspectos significantes para sua conceituação e para melhor definir o objeto de estudo, desde valores histórico-sociais às singularidades presentes nesse complexo grupo populacional. Além de entender as condições necessárias para que as estruturas de assistência - entendida aqui como edifício e programa arquitetônico - ao indivíduo possam viabilizar sua inclusão e/ou seu regresso à sociedade com autonomia, organizando espaços que permitam a sociabilidade e o encontro de modo a (re)criar os laços fundamentais para sua recuperação. O objeto de estudo se situa ao longo da Avenida W3, que cruza toda a região do Plano Piloto, de norte a sul, conectando os lados leste e oeste entre superquadras, comércios e instituições. Para a intervenção, os edifícios propostos buscam situações que não só respondam às demandas do usuário fim, mas também gerem um impacto local, procurando sempre a recuperação e uso do espaço inserido. São expostas diretrizes para uma correta adequação da proposta, bem como da implantação e dos terrenos escolhidos para proposta.

Orientador: Augusto Esteca Banca: Carina Folena, Luis Alejandro Pérez, Maria Cecília Gabriele e Maribel Aliaga Fuentes 83


ubs tbs unidade básica de saúde da vila telebrasília Vinícius Bazan Delaverde O prédio proposto surgiu da justificativa de descentralização dos investimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), sistema de saúde público brasileiro. O programa “Estratégia Saúde da Família” foi criado direcionando recursos à Saúde Básica; de prevenção e acompanhamento próximo a comunidade. A Vila Telebrasília, antigo acampamento ilegal no Distrito Federal, apresenta realidade urbana social muito diferente da massa urbana em que se aproxima, justificando a concepção de um novo edifício de saúde pública voltada a realidade frágil singular da comunidade quanto cuidados e objetivos. Além dos objetivos de saúde pública, a preocupação com o impacto produzido pela construção civil, em especial prédios públicos, também fez parte do desenvolvimento do prédio. A intenção no desenvolvimento de um edifício sustentável e com baixo consumo energético, ou até mesmo de consumo zero (NZEB), foi intenção projetual importante. Soluções bioclimáticas e escolhas advindas de simulações computacionais térmicas energéticas embasaram técnicas, materiais e soluções efetivas para o sítio e programa de necessidades escolhidos. 84

Orientador: Caio Frederico e Silva Banca: Gustavo Sales, Maribel Aliaga, Thiago Goes e Vânia Loureiro


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FAU PREMI ADA



Imagens fornecidas pela autoras.

bid urbanlab retoma ribeira, grupo finalista do 1º concurso bid urbanlab brasil Equipe /// Débora Quinderé, Erika Saman, Jéssica Borges, Isabela Bandeira e Lorena Dias Orientadora /// Ana Paula Gurgel O concurso BID UrbanLab convocou professores, estudantes e jovens profissionais a pensar soluções para o bairro da Ribeira, área histórica de Natal - RN. Duas equipes da UnB foram classificadas, entre outras vinte, para a segunda fase do concurso: o projeto “Potengi - conectar para movimentar” orientado pela professora Gabriela Tenório e o projeto “Retoma Ribeira” orientado pela professora Ana Paula Gurgel, ambas sob a supervisão da coordenadora de graduação Maribel Aliaga. Composta pelas alunas da FAU-Unb Débora Quinderé, Isabela Bandeira e Lorena Dias, pela engenheira florestal Jéssica Borges e pela arquiteta e urbanista Erika Saman, a equipe Retoma Ribeira foi uma das finalistas e se apresentou na cerimônia de premiação que ocorreu em 28 de novembro de 2017 na sede do BID, em Washington, D.C. (EUA). O projeto foi premiado em terceiro lugar e propôs a tomada do bairro pela e para a comunidade, ofertando novas possibilidades de investimento social, econômico e turístico. Buscou criar áreas verdes, preservando fachadas patrimoniais e utilizando o espaço interno dos lotes para a criação de praças, possibilitando 88


apropriação efetiva. Aliado à questões de mobilidade, priorizou o transporte público e o pedestre, reconectando o bairro ao município e retomando a rua como espaço público de excelência. Avaliou a questão da drenagem, propondo infraestrutura urbana verde adequada ao clima, focado na prevenção e mitigação de fatores humanos. Aumentou o adensamento populacional e construtivo, trazendo maior vitalidade sem que as características volumétricas e boêmias do bairro se perdessem. Propôs também a construção de um píer que unisse a tradicional cultura de pesca e venda de camarão à vocação para comércio e turismo. Por acreditar que cidades transformam pessoas, mas pessoas também transformam cidades. E o fio condutor do projeto foi o planejamento, aplicando instrumentos do Estatuto da Cidade para viabilizar a aplicabilidade, financiamento e execução do projeto. É preciso ressaltar a competência, coragem e ousadia dessas alunas, mulheres e arquitetas, em sua capacidade de se impor ao pensar e discutir que outra cidade, socialmente justa e ambientalmente responsável, é possível.

Texto do grupo Retoma Ribeira Para mais informações sobre o resultado do concurso, acessar o site: http://convocatorias.iadb.org/pt/ urbanlab-brasil/inicio-urbanlab-brasil 89


bienal josé lutzemberger 1º lugar no concurso de projeto “comunidade solidária, uma abordagem sistêmica”

Equipe /// Camila Maia Dias, Guilherme da Silva Santos, Gustavina Alves da Silva, Andreia Damiana, Acácio Machado Alves, Dilermando Luiz Aguilar Orientadoras /// Liza Andrade e Natália da Silva Lemos A “comunidade solidária” do assentamento rural Pequeno William é fruto da luta pela Reforma Agrária e da luta pela sobrevivência que teve início em 2004 com a ocupação de terras da antiga Toca da Raposa, no Distrito Federal. Ainda no mesmo ano as famílias foram despejadas e um dos filhos dos assentados, William, de 4 anos, faleceu intoxicado por ingestão de água contaminada por agrotóxicos, o que deu o nome ao novo assentamento na Fazenda Sálvia, a 10 km de distância de Planaltina no Distrito Federal, na APA do Rio São Bartolomeu numa área de Cerrado quase intocado. Devido à fragilidade ambiental do território, as famílias desenvolvem atividades de cunho agroecológico, como o cultivo de hortaliças orgânicas, galinhas e ovos orgânicos, plantio em sistema agroflorestal e artesanato de fibra de bananeira. Porém, sem a liberação do licenciamento ambiental, muitas famílias se encon90

tram impossibilitadas de produzir e de perfurar poços para captação de água. O conceito de comunidade solidária está relacionado à corresponsabilidade na gestão de recursos e à criação de espaços relacionais que vinculem as pessoas ao seu território, a promoção da aprendizagem social e ao desenvolvimento da autonomia dos indivíduos bem como a diversidade social e econômica. Resultou-se em 5 espaços de uso comunitário, que devem abrigar desde atividades de produção coletiva até atividades de formação e convivência, tendo como fundamentos as dimensões da sustentabilidade (política, ambiental, social, econômica e cultural), das demandas da realidade concreta, dos conflitos fundiários e socioambientais, da identidade local, de saberes existentes. A partir dos princípios da comunidade solidária que envolvem as “pétalas” do Living Community Challenge (lugar, água, energia, materiais, saúde e felicidade, equidade

e estética) foram gerados códigos no formato de padrões espaciais e de acontecimentos (modos de vida), baseados em Alexander et al (1977) e na Permacultura de Bill Mollison e David Holmgren para aplicação do Jogo dos padrões” no formato de cartas de baralhos, os quais foram inseridos na imagem aérea do local pela comunidade na dinâmica do café mundial. Em seguida apresentou-se um repertório fotográfico como soluções e desenhos à mão livre e; por fim, expôs-se as propostas alternativas e estudo preliminar com as escolhas dos camponeses.

Texto de Liza Andrade Para mais informações sobre o resultado do concurso, acessar o site: http://www.unisinos.br/eventos/encontrolatino-americano-e-europeu-sobreedificacoes-e-comunidades-exelecs


Imagens fornecidas pela equipe.

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11ª bienal de arquitetura de são paulo “caderno casas e ocupação mercado sul vive” selecionado para a bienal de 2017

Equipe /// Átila Rezende, Carmen Jimenez, Carolina Tavares, Débora Quinderé, Gabriel Oliveira, Gabriel Perucchi, Igor Araújo, Lara Bossaerts, Máwere Portela, Raíssa Gramacho, Sacha Quintino, Thalyta Fernandes e Victor Rocha Orientadora /// Liza Andrade Colaboradores /// Carlos Luna, Oscar Ferreira, Patrícia Gomes,Vanda Zanoni 92


Entrega do caderno ao coletivo do Mercado Sul. Foto de Samuel Prates.

O Caderno selecionado para a 11a Bienal de Arquitetura de São Paulo de 2017, desenvolvido na disciplina de PEMAU ao longo de 3 semestres, apresenta o processo de projeto desenvolvido pelo Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo / Centro de Ação Social em Arquitetura e Urbanismo Sustentável EMAU/ CASAS da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB junto ao coletivo Mercado Sul Vive, com objetivo de demonstrar possíveis cenários futuros do espaço do antigo Mercado Sul de Taguatinga bem como expor novas abordagens dos processos participativos utilizados. O movimento cumpre um papel de resistência social, cultural e política no Mercado Sul, realizando encontros de artistas, músicos, mulheres do campo e da cidade, movimentos sociais, grupos de saberes populares, acadêmicos, entre outros. Pretende-se chamar a atenção sobre a prática autônoma de ocupações urbanas no Brasil e discutir o papel do arquiteto consciente de seu compromisso político-cidadão atuando não só como “designer de lugares”, mas também no processo de mediação pelo direito à cidade e à moradia. Procurou-se conciliar estudos sobre a situação política-fundiária com o processo de projeto até o momento. Esse processo se deu procurando reconhecer o interesse dos diversos grupos e promover o compartilhamento de soluções e trocas de pontos de vista para chegar a tomada de decisões. Dessa forma, geraram-se diretrizes com soluções emergentes na forma de padrões espaciais (parâmetros) baseados em Alexander et (1977) e Andrade (2014) e nas dimensões da sustentabilidade, social, cultural, ambiental e econômica, que podem contribuir para a ressignificação do espaço e melhoria da qualidade de vida. Os fundamentos se baseiam em metodologia desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa “Periférico, trabalhos emergentes” da FAU-UnB. Além do Caderno foi entregue um Relatório Técnico à comunidade e também encaminhado à Promotoria do Ministério Público do Distrito Federal para fortalecer a resistência biopotente da Ocupação Mercado Sul Vive.

Texto de Liza Andrade 93


2ª mostra courb projeto “a vila que reinventamos” ganha o segundo lugar na mostra do encontro de urbanismo colaborativo

Autor /// Caio Vinícius Sales Fiuza Orientadora /// Liza Andrade

Foto de Thiago Abreu.

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Foto da equipe A Vila que Reinventamos.

Em segundo lugar na 2ª Mostra COURB, ficou o proposta A Vila que Reinventamos, concebido pelo arq. Caio Vinícius Sales Fiuza em seu trabalho de conclusão de curso em arquitetura e urbanismo, orientado pela Prof.ª Liza Andrade. O projeto, que faz parte do PEAC – Projeto de Extensão de Ação Contínua – “PERIFÉRICO, Trabalhos Emergentes”, da FAU/UnB, visou fortalecer a rede de moradores da Vila Cultural, assentamento irregular e uma das únicas áreas do Plano Piloto onde permanece e resiste o urbanismo emergente. A primeira etapa do trabalho consistiu num diagnóstico da área e a segunda focou no processo participativo facilitado por uma metodologia lúdica (Jogo Oásis). Com isso, chegou-se a um acordo sobre a escolha das áreas de intervenção e, após as ações, foi elaborado um microplanejamento urbano da ocupação, com diretrizes definidas pelos próprios moradores. O primeiro contato com os moradores aconteceu através da página do Facebook da Vila Cultural, seguido de conversas com eles na primeira fase do trabalho. Em seguida, mais pessoas se envolveram na segunda fase, participando ativamente do Jogo Oásis e mobilizando ainda mais moradores. Esta etapa também contou com a contribuição de atores da UnB, um coletivo de intervenções urbanas e uma psicóloga que já tinha experiência com a metodologia. Em dois dias de mutirão, 100 pessoas foram mobilizadas. Em um ano de trabalho, os materiais utilizados foram doados ou frutos do reuso, sendo gasto apenas R$150,00 para impressão de materiais. O projeto visou, portanto, despertar o potencial transformador da comunidade, fortalecendo as redes de moradores da comunidade, através de uma ação realizada por eles mesmos. Após a primeira mobilização, os moradores se organizaram novamente para outros mutirões. O primeiro deles foi para realizar a inclusão de uma biblioteca comunitária na nova praça construída coletivamente que, em seguida, abrigou vários eventos comunitários. O segundo, teve como objetivo a pintura de mais muros da ocupação, com artes de grafiteiras de todo os DF.

Texto extraído de www.courb.org/pt Publicado em 27/10/2017 95


I prêmio rosa kliass a terceira margem, projeto vencedor da região 1 (norte e centro-oeste)

Imagens fornecidas pela autora.

Autora /// Thaís Lacerda Orientadora /// Elane Ribeiro Peixoto A Terceira Margem é um projeto de intervenção na Orla Norte do Lago Paranoá em Brasília, um dos principais elementos estruturadores da imagem urbana da Capital Federal. Seu destino, além de amenizar a secura do Planalto Central, deveria ter sido o de oferecer espaços públicos e de lazer aos habitantes da cidade. Todavia, esse nobre propósito não chegou a se realizar. Com o desenvolvimento de Brasília, a orla do Paranoá foi indevidamente apropriada pelos moradores dos bairros Lago Norte e Sul, limitando o seu acesso e impedindo seu usufruto pela população brasiliense. Em 2015, o Governo do Distrito Federal (GDF) resolveu pela desobstrução das margens do Lago, tendo em vista restituir-lhe a condição de espaço público. No rastro das ações do GDF, o projeto de diplomação de Thais Lacerda considera uma das áreas mais problemáticas do lago, sua Orla Norte, que se caracteriza por uma desarticulação com as áreas de parque, situadas na península norte. Orla Norte e península se conectam pela ponte do Bragueto, cujo fluxo de veículos é intenso, agravando a situação de pedestres e ciclistas que não contam com faixas exclusivas. A partir do estudo pormenorizado, pode-se conhecer os vários usos atribuídos às margens da Orla Norte: hortas comunitárias, pomares, raros pontos de acesso 96


à água, entre outros. Atenção especial foi dedicada à conformação da paisagem local, com a presença de nascentes, áreas alagadiças e vegetação característica do cerrado goiano. O trabalho de diplomação problematizou a intervenção em três diferentes escalas: a metropolitana, a do Plano Piloto e a do local. Na escala metropolitana propôs-se a reconfiguração da Ponte do Bragueto, ligação do Plano Piloto às cidades-satélites localizadas ao norte, implicando seu alargamento e construção de novas faixas para pedestres e ciclistas. A concepção da ponte é um elemento de valorização da paisagem, com seu desenho delicado, ela possibilita a apreciação de vistas privilegiadas e opera na escala do Plano Piloto e local, pois articula as duas margens do lago, permitindo ao público usufruir de instalações a ele destinado. Ainda na escala local, foram propostos restaurante, piscinas e vestiários. Bacias de contenção foram previstas com o propósito de impedir o assoreamento do terreno. Os diversos níveis de respostas apresentadas pelo trabalho de diplomação “A Terceira Margem” traduzem a complexidade da concepção de paisagem proposta por sua autora: do desenho de simples deques ao de ponte, o mesmo cuidado e critério respaldam as soluções apresentadas.

Texto de Thaís Lacerda e Elane Ribeiro 97


EN CON TROS



pé na estrada com o pé em belém

Foto de Camila Garrido.


Foto de Júlia dos Anjos.

O Projeto Pé na Estrada completa sua passagem por todas as regiões brasileiras, presenteando sua 5ª edição com a escolha da cidade de Belém do Pará. Uma cidade dos mercados, do art nouveau, das palafitas, do carimbó, do brega, do açaí, do jambu, do tacacá, dos rios, e também, do verde, que mapeia o que ainda temos de nossas florestas. Belém nos mostrou a pluralidade que encontramos no Norte, uma pluralidade representada por pessoas que acolheram a nossa viagem e embarcaram conosco nessa aventura. De forte fervor cultural, sabores marcantes e experiências únicas, temos uma cidade na qual nos banhamos, nos debruçamos, e, verdadeiramente, pela qual nos encantamos. Em cinco dias de roteiro integrado contamos com a participação dos professores Ana Paula Gurgel, Elane Peixoto e Ricardo Trevisan da FAU - UnB, da professora Camila Sant’Anna da FAU - UFG e do arquiteto colaborador Felipe Musse. Na companhia de 36 estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília a, então formada, Equipe de Viagem partiu em busca de compreender e sentir o que é esta cidade.


arqui #9

Foto de Júlia dos Anjos.

Dentre museus, parques, igrejas, mercados, banhos de rio e debates ao ar livre, o grupo também trabalhou na produção de três “Momentos Pé na Estrada” que são oportunidades de desenvolvimento de trabalhos durante a viagem que posteriormente compõe uma exposição aberta à comunidade acadêmica. Estes “Momentos” permitem mostrar o olhar e a apreensão dos estudantes em relação à cidade visitada e suas particularidades. A viagem contou com uma semana de aulas preparatórias abertas a toda a comunidade acadêmica e trouxe um repertório inicial que foi aprimorado do dia 15 a 20 de agosto de 2017, período de estadia em Belém. Em âmbitos educacionais restritos, ou seja, na sala de aula, foram discutidas temáticas como a da Deriva Urbana e da proposta rodoviarista de JK, dentre outras levantadas pelos colaboradores da viagem, instigando, assim, o início de uma análise e discussão naqueles que seriam os âmbitos educacionais mais amplos, ou seja, na rua. É importante pontuar também, a celebradíssima arquiteta e paisagista Rosa Kliass que, com variadas obras na cidade, foi largamente citada durante a viagem. Nada mais verdadeiro como o beiral da casa, a casa da rua, a rua do bairro, o bairro da gleba, a gleba da cidade. Belém, Belém do povo, Belém ao vivo e a cores. Da própria e distinta vivência do núcleo urbano se desmistificaram ideários, se produziram conceitos e se sentiu o calor, o aperto, o desconforto, a precariedade, a solidariedade, a alegria, o cansaço e um pouco do que pode ser o dia a dia do belenense. Desde a leitura esfera expográfica dos museus, até o sabor do verdadeiro açaí do Pará foram discutidos e experenciados na viagem. A proposta de conhecer, desfrutar e aprender com a cidade viva sempre foi uma intenção que o Projeto Pé na Estrada buscou levar aos estudantes e acreditamos que nesta edição não tenha sido diferente. Por fim fica a saudade e o desejo de retorno. Do pôr-do-sol nas Docas, presentados pelo paisagismo de Kliass, já se sentia a saudade de uma viagem ainda por terminar. Fez-se da emoção, memória, pois nada será Belém, como Belém foi para nós. Participaram como integrantes da equipe organizadora da viagem os estudantes: Amanda Vital, Ana Luísa Pedreira, Brenda Oliveira, Caio Nascimento, Camila Garrido, Camilla Abreu, Flávia Meireles, Giulia Gheno, Isabella Rodrigues, Júlia dos Anjos, Nayane Machado, Rayan de Sant’Anna e Sarah Almeida. 102

2/2017


Foto de Júlia dos Anjos.

Foto de Júlia dos Anjos.

Foto de Luísa Rodrigues.

Texto por Júlia dos Anjos e Nayane Machado (integrantes Pé na Estrada) Site: penaestradafaunb.wixsite.com/ penaestrada Facebook: facebook.com/penaestrada.fau Instagram: @penaestrada.fau E-mail: penaestrada.faunb@gmail.com 103


minicurso cities of power

Foto de Vinicius Januzzi.

O Minicurso Cities of Power, ministrado pelo professor-emérito de Cambridge, Göran Therborn, ocorreu entre os dias 20 e 22 de novembro de 2017, na Universidade de Brasília. Com mais de 250 inscritos, o evento contou, ao longo de seus três dias, com mais de 100 participantes. O evento foi uma iniciativa intersdisciplinar, promovida pelo Departamento de Antropologia, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e pelo Instituto de Ciência Política. A proposta do minicurso foi abordar as múltiplas relações entre cidades, capitalismo e poder, sob diversos pontos de vista, mas espe104

cificamente a partir do viés marxista. A principal referência teórica para o debate realizado foi a mais recente obra do prof. Therborn, Cities of Power, lançada neste ano. Os dois primeiros dias foram distribuídos em momentos de exposição oral por parte do professor, com posterior discussão dos pontos de interesse coletivo. No dia 21 (segunda-feira), o tema foi a trajetória intelectual de Göran Therborn e seus principais aportes para o estudo marxista das cidades. No dia seguinte (terça-feira), o debate foi centrado em sua obra recém-lançada e em questões atualmente relevantes na relação entre poder, representação e cidades.

Ainda que de caráter eminentemente expositivo, o evento ainda contou com um dia de atividades (quarta-feira, 22 de novembro) voltadas somente para a interação entre o público e o professor Therborn. Com essa iniciativa, os participantes puderam aprofundar-se ainda mais na visão teórica e política do ilustre palestrante. O prof. Therborn segue agora para São Paulo, Rio de Janeiro e México, onde continua a expor sua perspectiva acadêmica e seu legado teórico. Texto de Vinicius Januzzi Organização do evento: Antonadia Borges, Maria Fernanda Derntl, Pablo Holmes e Vinicius Januzzi


universidade de brasília: ideia, diáspora e individuação lançamento do livro do professor Jaime de Almeida

Como explicar a UnB hoje? Há muitas respostas para essa pergunta, mas esta obra trabalha duas explicações: uma reflexiva (ensaio) e outra testemunhal (memória). O ensaio leva em conta a história geral da instituição em três tempos. O primeiro é o da ideia, o tempo de entusiasmo e paixão coletiva, com a inauguração do campus guiada por uma utopia. O segundo é o da diáspora, caracterizado pelo pedido de demissão em protesto da maioria de seus professores em 1965. O terceiro momento é o da individuação das unidades acadêmicas, tempo de apartação acadêmico-espacial e do ressurgimento do pragmatismo, quando os agentes que lutaram pela reconstrução do sentido da universidade acabaram se perdendo no emaranhado de suas convicções e disputas. A memória é evocada a partir dos depoimentos de ex-professores e ex-estudantes do curso-tronco de Arquitetura e Urbanismo em 1962, do Instituto Central de Artes e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de 1963 a 1965 e da FAU de 1968 até 1977. Essas narrativas revelam sofrimento e perplexidade diante de algo perdido: a questão da utopia. Sem essa questão em jogo, como promover a aproximação das disciplinas entre si (conhecimento) e manter o impulso de Darcy Ribeiro e daqueles que participaram dessa empreitada na década de 1960?

Capa do livro de Jaime de Almeida, fornecida pelo autor.

Texto de Jaime de Almeida 105


arquiteturas do imaginário III espaço social e paisagens

Os Seminários Arquiteturas do Imaginário visaram estabelecer discussões da atualidade da relação do espaço com o imaginário e espaço desde 2012 entre a Faculdade de Comunicação (FAC) e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília sob a coordenação dos professores Gustavo Castro e Luciana Sabóia. Ao longo dos anos, estes seminários acabaram por envolver pesquisadores e professores da área da Comunicação, Arquitetura, Urbanismo, Sociologia, Artes Visuais, Filosofia e Design. Na sua terceira edição realizada nos dias 07 e 08 de dezembro de 2017, o seminário buscou abordar os temas espaço social e paisagens através da possibilidade para uma filosofia da coexistência, na qual imagem, narrativa e espaço se aproximam e dialogam. A abertura contou com a apresentação do Prof. Dr. Flávio Kothe com o título Imaginação e Conhecimento: a imaginação na primeira edição da Crítica da Razão Pura. Nela o professor apresenta as especificidades históricas que 106

marcaram partes do livro que foram suprimidas entre a primeira e segunda edição e a partir daí teceu reflexões da importância desta edição na reflexão acerca da imaginação, do sentido e percepção nas ciências e a diferença que se colocara com relação ao pensamento racional. A partir daí o seminário estruturou-se em torno de mesas temáticas que buscaram fortalecer pontes conceituais e de possíveis diálogos temáticos e interpretativos. A primeira mesa com o título Paisagens: conceitos e experiências transculturais, foi composta por Sofia Cavalcanti Zanforlin (UCB) e Cecília Gomes de Sá (FAU), buscaram apresentar conceitos de paisagem a partir de diferentes referentes. O primeiro trabalho teve o chão através da topografia como referente na conformação da paisagem; e o segundo, foi o método etnográfico aplicado no estudo de pertencimento de grupos sociais a partir do conceito de etnopaisagem. Neste caminho se desenvolveram as mesas seguintes: Estética, espaço e

imaginário; Paisagens interdisciplinares: realidade especulativa e gênero na arquitetura; e Ocupar, habitar e resistir: cinema e espaço social. Nelas a ideia de paisagem e imaginário foi debatido em torno do cinema com André Costa, Liz Sandoval e Tânia Montoro. As professoras Fabíola Calazans e Denise Moraes trouxeram imagens captada por elas da ocupação estudantil ocorrida na UnB no ano anterior. Momento de muita intensidade e transformação para os estudantes que fizeram parte do movimento. Assim, concluiu-se o seminário junto com as atividades letivas do ano universitário. Trazendo a tona assuntos e percepções que fortalecem a conexão entre a vivência no espaço como conformadora da noção de paisagem e transformadora do imaginário. Momentos de reconfigurações espaciais-afetivas.

Texto de Tadeu Melo Organização do evento: Gustavo Castro e Luciana Saboia


paradigmas de brasília formas urbanas e arquitetônicas

Harvey W. Corbett, Future circulation and the skyscrapers of New York, 1913. Fonte: Joan Dethier e Alain Guiheux (orgs.), La ville, art et architecture en Europe, 1994, p. 191.

Proferidas no segundo semestre de 2017, essas cinco palestras propuseram uma revisão do ideário sobre a cidade que se tornara moeda corrente na década de 1950. Difundido no ensino e nas publicações especializadas, esse ideário servia como verdadeira caixa de ferramentas para o urbanista, empregado universalmente no desenho de bairros e cidades. Ou, nos termos de Thomas Kuhn em A Estrutura das Revoluções Científicas (1962), constituía o paradigma vigente no campo da urbanística naquele momento. Para a escolha do Plano Piloto da nova Capital Federal, realizou-se um concurso cujo resultado foi divulgado em 1957. Um rápido exame das propostas apresentadas – inclusive aquela vencedora, de Lucio Costa – permite constatar

a quase absoluta filiação ao urbanismo funcionalista conforme Le Corbusier desenvolveu em proposições como a Ville Radieuse (1935) e apresentou na Carta de Atenas (1943). Mas havia também referências a outras realizações significativas do urbanismo do século vinte, como o plano para Canberra (1911), de Walter B. Griffin; as obras de reconstrução no pós-guerra, como Le Havre (1945), de Auguste Perret; as new towns inglesas; os planos de desenvolvimento urbano americanos etc. Mas o consenso que então imperava não perduraria indefinidamente. Nos últimos anos daquela década, tal paradigma começa a perder legitimidade e se torna objeto de acerbo escrutínio crítico. Considere-se alguns textos hoje clássicos – e, desafortunadamente para

nossas cidades, um tanto esquecidos –, como L’urbanistica e l’avvenire della città negli stati europei (1959), de Giuseppe Samonà; The image of the city (1960), de Kevin Lynch; Townscape, (1961), de Gordon Cullen; The death and life of great American cities (1961), de Jane Jacobs; Notes on the synthesis of form (1964), de Christopher Alexander. Retornando aos termos de Kuhn, a prevalência de um paradigma – situação característica do que definiu como “ciência normal” – estava sendo colocada em questão, deslanchando uma paulatina “revolução científica”.

Texto de Sylvia Ficher Organização do evento: Eduardo Rossetti 107


simpósio arte e verdade

O primeiro simpósio organizado pelo NEHS, Núcleo de Estética, Hermenêutica e Semiótica da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília, em 2015, foi sobre Poder e Manipulação; o segundo, em outubro de 2016, foi sobre Arte e Metafísica; o terceiro, em outubro de 2017, foi em torno do tema Arte e Verdade. Tais escolhas não são ocasionais, e sim determinadas por preocupações que afloraram em aulas, seminários, debates e embates. Há como que uma progressão na direção de um centro, que sempre de novo escapa. Assim vai se cercando o problema. Tolstói, no ensaio “O que é arte?”, chamou a atenção para a pequena diferença” que caracteriza a arte maior e que faz nela toda a diferença. Isso não aparece quando se acha que se pode reduzir a qualidade artística a quantidades, pois no matemático se equipara o semelhante, menosprezando diferenças. Verdade não é apenas correção conforme parâmetros e sim um complexo jogo de desencobrimentos e encobrimentos, no qual o descobrir é um modo de encobrir, que ocorrem na relação do sujeito com o objeto. O que em Aristóteles era uma dezena de categorias lógicas, na Gramática de Port-Royal foi reduzida a sete e 108

em Kant a quatro. Estamos num mundo, porém, em que se tende a reduzir tudo ao quantitativo. Tanto se precisa ultrapassar essa redução quanto examinar na arte uma lógica que não é a do 1 = 1, do princípio da não contradição. A tese de que o número seja o segredo do mundo já existia com os pitagóricos. Aristóteles observou, porém, que o número sempre é o número de alguma coisa, ele não gera a coisa, mas ele é gerado pelas coisas. Finitizar o infinito não resolve a infinitude. Pascal, um dos inventores da máquina de calcular e da roleta, apontou contradições na lógica matemática, contrapondo-se a seu mestre Descartes, que tomara a matemática e a geometria como modelo para as “ideias claras e distintas”, o que acabou constituindo o paradigma da modernidade, mas se embasava na tradição metafísica. Pascal observou, portanto, que a distância de zero a infinito é uma distância, portanto 1 = ∞. Nietzsche dizia que quando se soma um homem e uma mulher o resultado costuma ser quatro ou cinco. A diferença entre correção paradigmática e verdade vem sendo ignorada em detrimento desta. O medo diante da teoria se esconde sob teorizações aparentes:

teme-se que ela vá longe demais, pergunte o que não está de acordo com crenças e pressupostos do perguntado, sugira respostas que não se gostaria de ver propagadas. Mas quem é o sujeito desse “não se permite”? A mentalidade tecnicista, o beneficiário do status quo, aquele que tem crenças que não se sustentam, etc. Há muitos “sujeitos”, que não querem ver aquilo a que estão sujeitados e, por isso, querem impor isso a outros. Há medo diante da teorização que coloque perguntas que complicam as explicações habituais, mas também há medo na teoria: ela própria teme ir longe demais, ao perguntar o que não gostaria, tendo de negar e superar a si mesma, renegar convicções, reconhecer inconsistências, lacunas e erros. Ela tem medo de avançar: tentar apreender ao máximo em conceitos o que quer se negar à apreensão conceitual. Recua diante de si. É como se a negação da teoria tivesse razão porque esta nunca consegue ir tão longe quanto deveria. A teoria da arte se propõe uma tarefa limítrofe: expor por conceitos o que vai além do conceito. Conceituar a arte esbarra numa contradição antagônica, já que ela


própria transcende o conceitual. A grande arte se preserva porque o que ela sugere não pode ser dito melhor de outro modo. A teoria da arte, ao tentar apreender o que foge à apreensão, tende a mumificar seu objeto em conceitos, quando deveria redescobrir sua vitalidade. A obra com grandeza de arte há de se defender desse ataque para preservar sua diferença: ela vai sempre murmurar “tu não me tens por inteira”. Teoria e obra de arte não são aliadas naturais: são antes rivais, inimigas potenciais. É preciso desenvolver uma teoria que seja aliada à arte, ao preço de reconhecer seus limites enquanto busca transcendê-los. Querer que a crítica da arte seja feita por um algoritmo ou por outra obra de arte é, por um lado, ignorar algo inerente ao impulso diferencial da obra inovadora, e, por outro, atribuir a ela uma função que não é sua. A obra que quer ser um manifesto tende a morrer com ele. A qualidade da obra não é proporcional à sua metalinguagem ou à sua correspondência a uma fórmula prévia. Martin Heidegger, no início de suas preleções de 1941-42, colocou a questão: “A poesia inclui a riqueza da significação, exige do pensamento a

mais alta lei e o maior rigor. O pensar de um conceito matemático ou físico está preso à unilateralidade do exato: um pensar carente, que encontra na carência do quantitativo o seu refúgio. O cuidado daquele pensamento que entra na palavra poética não se satisfaz com definições, mas também não se pode perder no indeterminado do opinar ocasional e mais ou menos. Só se capta a palavra poética com algo diferente do entendimento habitual de ditos e frases.” (Heidegger, 1992) Arte é produto do exercício da liberdade. A máquina de calcular não tem liberdade: ela sempre tem de apresentar os mesmos resultados. Não se ter previsto um fator presente em um fenômeno não o torna livre. Como a arte não é apenas coisa a ser consumida, ela é mais que mercadoria, inclusive onde impera o mercado. Esse “a mais” é uma irredutível diferença ontológica. A arte é um convite à imaginação, portanto à liberdade interior. Ela é formadora da cidadania. Ciência, arte e filosofia que não busquem a verdade não merecem o nome. A verdade exige do sujeito uma liberdade interior, uma abertura para os fenômenos e seus significados, mas

também uma liberdade que permita ao objeto se mostrar em sua inteireza, algo que não se dá se ele for enquadrado nos parâmetros a priori de uma receita. O que reúne as três é elas todas serem linguagem, não como instrumento externo de comunicação, mas como condição do pensar e do caracterizar, da relação do homem com o mundo. Essa trindade “arte, ciência e filosofia” tem na liberdade seu fundamento. Ela não lhes é concedida: precisa ser conquistada. Sem o império da necessidade, não passaria de palavra vazia. Liberdade é superação da necessidade, não apenas seu reconhecimento. Onipotência é um termo autocontraditório: quem pode tudo não tem noção do poder que tem. A liberdade do homem só aparece com a morte do onipotente e onisciente. A liberdade se gera na finitude. Aqui se faz, em condições precárias, um exercício de pensamento livre. Fica o seu testemunho.

Texto de Flávio René Kothe Organização do evento: NEHS - Núcleo de Estética, Hermenêutica e Semiótica 109


semana escala uma semana “de dentro para fora”

Caio Frederico e Silva A ESCALA: Semana de Arquitetura e Urbanismo é a proposta da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo para a Semana de Extensão da Universidade de Brasília. A ESCALA 2017 trouxe uma proposta de reafirmar a Extensão em todos os seus âmbitos, fomentando sobretudo as atividades desenvolvidas de dentro da faculdade, expondo-as, com a grande temática “DE DENTRO PRA FORA”. Nesta edição, a Escala contou com cerca de 30 professores, e mais de 70 atividades dentre palestras, workshop, oficinas, vivências e rodas de conversa, além de abrigar o Colóquio de Estética e Semiótica. Ao todo, foram oferecidas 1.200 vagas gratuitas para a participação de todas as atividades. Tivemos minicurso de aquarela e minicurso sobre parametrização de mobiliários no Revit. Tivemos oficina de design estratégico com o objetivo de demonstrar e instigar nos estudantes a importância de se utilizar da visão holística do arquiteto e urbanista e de sua habilidade técnica para compilar informações. Os arquitetos Thiago Goes e Vinicius Bazan ofereceram cursos na área de simulação energética utilizando diferentes softwares: DesignBuilder e Euclid, respectivamente. Ambos utilizam o algoritmo de cálculo do Energy Plus, um dos simuladores mais utilizados em todo o mundo na área de Simulação Termo-energética. O Grupo de Extensão Museu Universidade organizou uma série de visitas técnicas pelo Campus, e contou com as presenças ilustres dos arquitetos autores dos projetos arquitetônicos. Os professores Aleixo, Ivan e Zimbres acompanharam os aluno no Instituto de Química, Instituto de Biologia e Reitoria, respectivamente. A profa Joára Cronemberger nos brindou com uma palestra introdutória sobre a utilização de sistemas solares ativos na envoltória dos edifícios. Disseminação da tecnologia de geração de energia na pele das edificações com base em energias renováveis. A professora Gabriela Tenorio apresentou curso com a temática da produção de um espaço público de qualidade, desejável na cidade contemporânea, extrapola os atributos locais (desenho de piso, mobiliário, arte urbana, vegetação) e se ancora nas fachadas (especialmente nas fachadas térreas) desses espaços, que são os limites dos edifícios que os configuram. A atividade busca trazer questões relacionadas a esse tema para contribuir para a ampliação dessa consciência e, com sorte, aprimorar a prática arquitetônica. O professor Ricardo Trevisan acompanhou alunos de graduação e pós-Graduação em seu tradicional passeio acadêmico intitulado “Casas na Real”. A proposta foi de visitação aos diferentes modos de habitar a metrópole: Superquadra, Ceilândia e Águas Claras (Percurso a pé e metrô). O Grupo Periférico, coordenado pela professora Liza Andrade, participou 110


da Semana Escala articulando coletivos existentes e envolvendo as comunidades no processo de elaboração de projetos emergentes. Nesta palestra, objetivo foi demonstrar os trabalhos que estão sendo desenvolvidos para comunidades quilombolas e ribeirinhos, considerando a relevância de sua arquitetura informal e patrimônio cultural como forma de resistência à modernidade tecnológica e à invisibilidade da comunidade nos processos de planejamento e projetos de arquitetura e urbanismo. A profa Vânia Loureiro ofereceu curso de introdução à análise de sistemas urbanos em Sistemas de Informação Geográfica, a partir do software Qgis e por meio de técnicas da Sintaxe Espacial, favorecendo ferramentas gratuitas e dados livres para o estudo da configuração espacial e dos sistemas urbanos em geral. Com abordagem mais prática, o professor Marcio Buson ofereceu oficina de Superadobe sediada no novo Canteiro Experimental da FAU. A oficina prática em formato de minicurso durou três manhãs. Foram trabalhados conteúdos relacionados à técnica da arquitetura de terra conhecida por superadobe ou solo ensacado. Também tivemos o Jardim das Suculentas como atividade com o objetivo de ensinar o plantio, manutenção e arranjo de um jardim de suculentas a partir de uma aula teórica sobre essa família seguida de uma oficina para a confecção de vasos de cimento. Além de trazer conhecimento sobre essas plantas em um âmbito paisagístico, ensinaria sobre a confecção de uma peça de decoração barata e moderna. A ideia é ter um produto final criativo para exposição. Tivemos atividades realizadas pelo Pé na Estrada fortemente vinculadas às pesquisas com o título: O Pós dos Arquitetos Recém-formados. O intuito da atividade proposta é trazer pontos de vista variados de arquitetos e urbanistas recém formados da FAU-UnB, atuantes em diferentes área do mercado, para discutir o que acontece/aconteceu após sua diplomação. A atividade compõe um momento, também, de esclarecimento, para os estudantes, acerca do tema “Mestrados e Aplicações”. Tivemos a presença do grupo Bambuco, formado por alunas da FAU interessadas em difundir o uso do bambu na arquitetura. Nesta semana universitária, o grupo juntou-se ao projeto Jardim da Louise para conceber espaços de sombra, estar e vivência integrados ao projeto paisagístico em homenagem à aluna da biologia Louise Ribeiro, numa luta contra o feminicídio. Com essa pequena amostra das mais de 70 atividades ocorridas na Semana Escala, registramos a força da Extensão na FAU, e também o potencial de ampliação da atuação da extensão universitária numa abordagem inclusiva e plural. 111


JARDIM DAS SUCULENTAS

Foto por Isabelle Nogueira.

Com o objetivo de desenvolver habilidades que abrangem práticas do paisagismo e da decoração de interiores, o Minicurso “Jardim de Suculentas” trouxe à faculdade técnicas de plantio, manuseio e manutenção dessa espécie. Os alunos aprenderam a confeccionar também recipientes em concreto a partir de materiais reciclados que, em harmonia com as suculentas, criam elementos de decoração para ambientes em diversos tipos de escalas. Foi dada a possibilidade de comercialização do conjunto, visto que o produto final do curso tem tido muita procura em floriculturas e lojas de artigos ornamentais. Sendo assim, reforçar o espírito do “faça você mesmo” e conscientizar a possibilidade de criação a partir da reciclagem foram as premissas principais da oficina, bem como o cuidado e charme que plantas tão pequenas precisam e conseguem trazer aonde quer que sejam meticulosamente arranjadas. Texto de Isabelle Nogueira

OFICINA DE SUPER ADOBE O enfoque da oficina foi a prática experimental. Tendo em vista que a prática arquitetônica se manifesta em três dimensões e se materializa numa construção, os trabalhos desenvolvidos se concentraram em estudos e análises dos detalhes construtivos relacionados à técnica construtiva da arquitetura de terra conhecida por Solo Ensacado ou Superadobe, da especificação dos materiais conforme os componentes e elementos são produzidos e instalados numa obra. Os alunos puderam perceber na prática como ocorre a materialização de uma edificação de Solo Ensacado e, por sua vez, relacionar essa prática ao projeto arquitetônico. Foto por Márcio Buson.

Texto de Márcio Buson

OFICINA BAMBUCO NO JARDIM LOUISE

Foto por Grupo Bambuco.

A ideia da Oficina ministrada pelo coletivo Bambuco veio da necessidade de espaço para a contribuição, por parte de alunos e voluntários, na construção de um projeto participativo, o Jardim Louise Ribeiro. Para a Estrutura de Bambu, a ideia foi propôr um espaço de acolhimento que promova o bem-estar e a permanência das pessoas no Jardim Naturalistas do Cerrado, também idealizado neste projeto. Foi priorizada a utilização do bambu como material estrutural natural e técnicas de bioconstrução para a promoção de um projeto sustentável. A Oficina teve duração de quatro dias: no primeiro, foi apresentado o projeto da escultura a ser construída e algumas aplicações do material aos participantes. O grupo seguiu em mutirão até o IB onde foram separadas duas frentes de trabalho: preparação do material e marcação do gabarito. Com o passar dos dias, os oficiantes estavam cada vez mais familiarizados com o conceito do projeto e as técnicas de utilização e amarração do bambu. A última etapa da escultura e de fechamento da cobertura é a mais trabalhosa, mas também a que mais evidencia a potencialidade e estética do material. A ajuda e a presença dos alunos foram tão expressivas que concluímos o projeto um dia antes do previsto em cronograma. A essência dessa oficina foi muito além do bambu e suas técnicas. Foi uma oportunidade para aliar um material novo, de grande aceitação no universo da FAU, a um projeto in memorian da aluna Louise Ribeiro, vítima de feminicídio no campus da Universidade. Texto do Grupo Bambuco

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PÉ NA ESTRADA

Foto por Nayane Machado.

O Projeto Pé na Estrada participou da Semana ESCALA: Semana de Arquitetura e Urbanismo, em sua 6ª edição, com duas propostas de atividades. Dentro do âmbito da Semana de Extensão da FAU-UnB, com o tema “De Dentro para Fora”, e sob a regência da vertente “Pé com Pé”, foram construídas duas sessões de palestras, ambas seguidas de grande debate. O intuito do Pé com Pé é criar uma rede de troca de conhecimentos e ideias com outras instituições, empresas, escritórios e profissionais. A primeira atividade “Áreas de atuação – o pós dos recém-formados” consistiu na realização de uma mostra profissional de recém-formados arquitetos e urbanistas da FAU-UnB, seguida de um debate acerca da saída para o mercado profissional. Este debate abarcou assuntos como as dificuldades e possibilidades encontradas após a formação universitária e a adaptação à vida profissional e às demandas do mundo real. Nesta atividade participaram o escritório Uni Artes, o Atelier Móvel - Arquitetura Itinerante e a arquiteta, urbanista e designer Rafaela Gravia, abrangendo, assim, diversas áreas de atuação. A segunda atividade “Com o Pé lá fora: Intercâmbios” foi uma apresentação integrada de diversas possibilidades de programas no exterior, como cursos, estágios, intercâmbios e workshops, com a possibilidade ou não de bolsas, seguido de uma grande conversa ao final das exposições, que iluminou questões acerca da evolução acadêmica e de orientações mais gerais do curso. Participaram desta segunda atividade a professora e vice-diretora Luciana Sabóia, em nomes dos novos acordos da FAU-UnB, as estudantes Camila Garrido, Lorena Borges e a arquiteta e urbanista Marina Rebelo, representando a experiência do Winter Course da Universidade de Groningen, a estudante Caroline Nogueira, representando a experiência da dupla diplomação em Turim, Felipe Hanna, representando a experiencia do INT na Universidade do Porto, Júlia dos Anjos, representando a experiência do Porto Academy, e Matheus Tokarnia e Thais Lacerda, representando a experiência de estágio no escritório Renzo Piano em Gênova e Paris, respectivamente. Texto de Júlia dos Anjos e Nayane Machado

CASAS Durante a Semana de Extensão Universitária da FAU, o Escritório Modelo contribuiu com vivências e palestras que mostraram um pouco da realidade do EMAU e das demandas que estão em vigor no escritório atualmente. Caio Fiuza, arquiteto graduado na FAU-UnB, coordenou a oficina do “Jogo Oásis”, que mostra um método de mobilização comunitária para a realização de um sonho coletivo, como uma dinâmica para resolver problemáticas reais, baseado nos problemas urbanos de uma comunidade fictícia, formada pelos participantes do jogo. Também tivemos a “Oficina de mobilização comunitária” na Ocupação Cultural Mercado Sul, no centro de Taguatinga, na luta pelo direito à cidade e à cultura popular. Além da vivência dentro da ocupação, os visitantes puderam compreender os conhecimentos locais em compostagem, reciclagem e outras práticas sustentáveis, somados aos seus métodos de mobilização e engajamento comunitário. E como convidada para a palestra “Microurbanismo e a nova tática urbana”, tivemos a Profª. Dra. Marcela Brandão, arquiteta e urbanista formada pela FAMIH (MG), que tratou de como o Microurbanismo se encontra no urbanismo atual, discutindo o surgimento, as demandas e as práticas que estão sendo exploradas no espaço urbano. As atividade oferecidas tiveram o objetivo de aumentar o campo de alcance dos arquitetos em formação, criando uma possibilidade de compartilhar diferentes visões de como contribuímos com nossa profissão para a sociedade. Texto de Raquel Freire 113


GA LE RIA



#museuniversidade imagens do concurso promovido pelo projeto MuseUniversidade

Foto por Ă lvaro Azevedo.

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Foto por Juliana Albuquerque.

Foto por Julia Lopes.

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O

campus da Universidade de Brasília – UnB já estava sugerido no desenho de Lucio Costa no item número 15 do Relatório do Plano Piloto, sob a denominação de “Cidade Universitária”. Em que pese a pouca definição gráfica da localização da universidade no desenho inaugural, é notável constatar que no transcurso do projeto urbano da cidade a UnB tenha se entrosado tão bem ao arcabouço viário e espacial do Plano Piloto. O núcleo histórico de ocupação do campus define um conjunto de novas experiencias construtivas no complexo projeto de consolidação de Brasília como capital. Superados os desafios técnicos, construtivos, bem como um cronograma político hercúleo para a inauguração da cidade, outra etapa se iniciou. Para tanto, foram consideradas as questões de otimização do canteiro, as tecnologias de pré-fabricação, bem como a larga escala das demandas de espaços e edifícios. O campus da UnB se configura como uma experiência singular nesta etapa histórica da construção da cidade, com a participação de Lelé e Niemeyer, Sergio Rodrigues, Alcides da Rocha Miranda, Glauco Campello, bem como dos membros do corpo técnico da universidade. O projeto do CEPLAN, a OCA, a Faculdade de Educação, o protótipo habitacional para estudantes, os blocos dos Serviços Gerais, os blocos da Colina, o Instituto de Teologia, o ambulatório e o Instituto de Teologia e o Instituto Central de Ciências – ICC configuram um conjunto de experiências de espaço e tecnologia muito potente na história da arquitetura pós-60. O CEPLAN se constitui como núcleo de projeto e construção daquele que seria o campus Darcy Ribeiro. Trata-se de uma instância voltada para o planejamento da UnB, como uma tomada de posse de sua missão institucional. Para otimizar este canteiro, o uso de pré-moldados em concreto em larga escala é adequado ao conjunto de edifícios que possibilitam o funcionamento efetivo da UnB. Todas estas obras também redefinem a linguagem da arquitetura do campus, marcando a inserção da Universidade na paisagem urbana da cidade. Entretanto, a obra de arquitetura mais reconhecida é o Instituto Central de Ciências – ICC, popularmente conhecido como “Minhocão”. Trata-se do edifício mais representativo da UnB, correspondendo a própria organização funcional da Universidade desde sua concepção inaugural. O processo de construção contém contribuições pioneiras de tecnologia da construção, condizentes com a estrutura arrojada de construir uma Universidade e consolidar a nova Capital. O ICC caracteriza-se por ser uma megaestrutura de concreto protendido, com mais de 700m de comprimento, que integra diversas faculdades e abre-se para jardins e para a paisagem do campus. O ICC articula espaços públicos e os principais edifícios da UnB —Reitoria, BCE, RU— consagrando sua centralidade como ponto de promoção de convivência e participação da comunidade acadêmica da vida e do cotidiano universitário. É justamente este conjunto de arquiteturas que faz do campus Darcy Ribeiro um lugar de enorme potencial de interesses difusos pela arquitetura de Brasília e deve continuadamente ser objeto de estudos, pesquisas, demandando ações de documentação e conservação, por seu pioneirismo revolucionário.

Texto de Eduardo Rossetti


museu universidade


Em 2015 a Universidade de Brasília foi contemplada com o projeto Mais Cultura do Ministério da Cultura cuja finalidade foi fomentar ações culturais no Campus Universitário. Cientes de que nosso Campus Darcy Ribeiro guarda um estimado patrimônio arquitetônico, propusemos um mapa com roteiro de visitação para o Campus, destacando suas obras mais emblemáticas. Criamos o MUSEUniversidade, projeto de extensão que envolveu alunos e arquitetos professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB. O projeto foi coordenado pelo Professor Caio Silva e contou com o trabalho dedicado de quatro estudantes do curso de arquitetura: Igor Dias, Sacha Quintino, Carmen Jimenez e Sarah Almeida, bolsistas de extensão. O trabalho produzido fortalece a ideia da universidade como espaço que abriga um patrimônio histórico arquitetônico importante e com valor cultural significativo não só para os alunos, mas também para a cidade de Brasília. O projeto também traz consigo a tentativa de incentivar a apropriação do espaço universitário pela comunidade como forma de lazer, cultura e turismo.

Texto de Caio Frederico e Silva


despedida

Christina Jucá

Pernambucana, arquiteta, professora, fotógrafa, poetisa, amiga e mil outras qualidades que aqueles que a conheceram poderiam definir. Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco 1963, aluna de Evaldo Bezerra Coutinho e Eudoro de Souza, cujos ensinamentos foram de igualável importância em sua trajetória profissional, graças aos conceitos e valores transmitidos. Ingressou na UnB em 1973 e por trinta e cinco anos ministrou as disciplinas de teoria e história, além das aulas em ateliê e as orientações dos projetos finais na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Uma pessoa de pura sensibilidade, entusiasmo, calor, emoção e vida e de discurso intrépido e apaixonado quando se tratava de arquitetura. Suas aulas eram verdadeiras declarações do reconhecimento artístico das obras que marcaram a história da arte, sempre com o foco na relação entre cultura, arte e arquitetura. Sem nenhuma dúvida, a paixão é a palavra que mais lhe descreve. Sim, uma paixão desenfreada pela arte e arquitetura e ninguém conseguia lhe interromper em seus inúmeros discursos quando se deparava com a beleza de uma obra. Com a Christina aprendemos muito sobre o que são o equilíbrio, a proporção, o ritmo e a harmonia na arquitetura, ou seja, sobre beleza e arte, além do sentido de tudo isso para vida. Graças as suas aulas, me encantei por Artigas e por todos os arquitetos cujas obras foram por ela apaixonadamente descritas em sala de aula. Gratidão eterna Christina, sentimos muitas saudades. Seu legado é enorme. Descanse em paz.

Cláudia Garcia 122


Frank Svensson

Devo muito ao Frank, pessoal e profissionalmente. Pessoalmente, pelo exemplo radical de integridade afetiva, ideológica e política sem concessões. Profissionalmente, o conheci ainda nos bancos da Faculdade de Arquitetura, no Recife, nas palestras que fez sobre seu belo trabalho no Projeto Bebedouro, em Petrolina. Foi por sua indicação que entrei para a COHEBE, minha primeira experiência profissional, e que também vim para Brasília, por indicação que ele fez a Miguel Pereira. Dos ensinamentos, me apropriei de uma grande descoberta sua, advinda da arquitetura popular praieira nordestina - a estrutura do telhado em pinhão: uma pirâmide de base quadrada, sem apoio central, que utilizou em Bebedouro, e que depois Alete Ramos utilizaria em Nova Iorque, no MA. A estrutura está em nossa casa do Ceará, sem apoio central e sem as peças que formam um tesoura tradicional. A casa também se inspira em outros aspectos de sua arquitetura: vocabulário formal enxutíssimo, grandes sombras, cobogós, ventilação farta, transparências. Infelizmente, ele não chegou a conhecê-la. Ao adentrá-la, os amigos (leigos ou nem tanto...) se espantam com o telhado: “como fica em pé?” Frank fica em nossa memória pela generosidade com que partilhou seu saber e seus afetos. A história de nossa Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de Brasília, muito deve a ele.

Frederico de Holanda 123


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Arqui / José Manoel Morales Sánchez, editor; Maria Fernanda Derntl, editora executiva, - n. 9 (dezembro 2018)- Brasília: Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2014128 p. ; 30 cm. Periodicidade semestral Descrição baseada em: n. 9 (dezembro 2018) ISS N2358-5900 1. Arquitetura. 2.Urbanismo. I. Morales Sánchez, José Manoel (ed.). II Derntl, Maria Fernanda (ed.). CDU 72


Universidade de Brasília Reitora: Márcia Abrahão Moura Vice-reitor: Enrique Huelva Decano de extensão: Olgamir Amancia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB Diretor: José Manoel Morales Sánchez Vice-diretora: Luciana Saboia Fonseca Cruz Coordenador de pós-graduação: Marcos Thadeu Queiroz Magalhães ARQUI é uma publicação semestral da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UnB EDITOR – José Manoel Morales Sánchez EDITORA EXECUTIVA – Maria Fernanda Derntl CONSELHO EDITORIAL – Andrey Rosenthal Schlee, Benny Schvarsberg, Cláudio José Pinheiro Villar Queiroz, Elane Ribeiro Peixoto e Luiz Alberto Gouvêa EQUIPE EDITORIAL DA REVISTA – Ana Paula Gurgel (Coordenação de Ensaio Teórico), Caio Frederico e Silva (Coordenação de Extensão), Maria Claudia Candeia (Coordenação de Diplomação), Giselle Chalub Martins (Coordenação de Diplomação), Giovana Canellas (Estagiária), Marcos Cambuí (Estagiário), José Manoel Morales Sánchez e Maria Fernanda Derntl. COORDENAÇÃO EDITORIAL – José Manoel Morales Sánchez e Maria Fernanda Derntl COMISSÃO DE DIPLOMAÇÃO – Ana Paula Gurgel, Carlos Luna e Maria Claudia Candeia COMISSÃO DE ENSAIO TEÓRICO – Ana Paula Gurgel, Carlos Luna e Maria Claudia Candeia PROJETO GRÁFICO – Gabriela Bílá (Novo Estúdio Brasília) e Luiz Eduardo Sarmento IMAGENS DA CAPA E SEÇÕES – Fotos por Bruno Castro, Gabriel Lyon, Igor Dias e Júlia dos Anjos com intervenções gráficas de Giovana Canellas e Marcos Cambuí IMPRESSÃO – Gráfica Coronário

© Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB Universidade de Brasília, Instituto Central de Ciências – ICC Norte, Gleba A, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília DF, Brasil 70904-970 tel. (+55) 61.3107.6630 fax. (+55) 61.3107.7723 http://www.fau.unb.br/ n° 09 2/2017 As opiniões expressas nos artigos desta revista são de responsabilidade exclusiva dos autores. www.facebook.com/arquirevistadafauunb revistadafauunb@gmail.com


versĂŁo digital: www.fau.unb.br revistadafauunb@gmail.com.br www.facebook.com/arquirevistadafauunb



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