ARQUI #11

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n°11 | 2/2018

faunb



n°11 | 2/2018

faunb

Universidade de BrasĂ­lia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo



editorial A

11ª Edição da Arqui chega um pouco depois. Mas já estão no forno as próximas edições e buscaremos adiantar o passo para que, em breve, a revista da produção dos alunos e professores da FAUUnB volte a ser publicada ao término de cada semestre letivo. Aproveitamos para agradecer à Professora Maria Fernanda Derntl por sua valiosa condução. Com muito entusiasmo e dedicação assinou a editoração dos últimos 09 números da nossa revista e sugeriu o tema desta edição: Doorway to Brasília, de Aloisio Magalhães e Eugene Feldman. Trata-se de um trabalho de exploração de imagens de Brasília à partir de experimentações com gravações em placas de off-set, que deu visibilidade internacional à construção da cidade que nascia no Planalto Central. A experiência era marcada pelo trabalho duro dos candangos, que se empenhavam em colocar de pé as formas poéticas da cidade nascente entre entusiasmos e críticas, entre sonhos e a dura realidade dos canteiros de obras. Os temas de Ensaio estão bem diversificados. Abordam di ferentes escalas do habitar e do processo de projeto, assim como os trabalhos de Diplô que contemplam uma extensa gama de temas de criativas soluções arquitetônicas. Trazemos também as premiações e registramos o que a FAUUnB realizou, por onde andou com o Pé e como se destacou no segundo semestre de 2018. Esperamos que apreciem cada página. A equipe editorial


sumário 8 PESQUISA 10 ensaio 12 do abandonado ao lar alexandra bandeira vinagre 13 arquiteturas feministas ana carolina medeiros 14 relações entremuros ana cecília ferraz 16 apartamentos modernistas adaptados para os dias de hoje andré igreja camargo 17 biofilia e paisagismo anna clara lopes 18 fotografia como ferramenta de projeto bárbara souza 20 arquitetura escolar e métodos pedagógicos alternativos bruna oliveira pessoa 21 o traço sensível dante akira uwai 22 contos do palha elisa bermudez zaidan 23 do barril à caixa evellyn de souza almeida 24 conectografias isabela ferrari 26 a tridimensionalidade real e vitrual no ensino da arquitetura e urbanismo isabella farias goulart 27 o desenho urbano e a qualidade urbana e socioespacial isadora gobbo

28 escola para todos? kamila venancio moreira 29 o uso da impressão 3D para o axílio do projeto arquitetônico leonardo figueiredo gois 30 um olhar sobre os abrigos para pessoas em situação de rua no DF letícia drummond 31 taipa de pilão e sua aplicação na arquitetura contemporânea do brasil luiza karen maia 32 design de mobiliário e brasília milena panhol 33 habitação de interesse social no distrito federal nathalia xavier de oliveira 34 utopias possíveis rodrigo trindade 35 análise da implantação do sistema bus rapid transit (BRT) no contexto de uberaba vinicius ciabotti candido 36 o uso da madeira na arquitetura japonesa vinicius faustino manzochi

38 NOVOS ARQUITETOS 40 diplô 42 destaques 44 travessias - corpo expandido da cidade fernando longhi pereira 46 estação intermodal honestino guimarães gabriel akio arake 48 requalificar samambaia herivelton bispo magalhães 50 rodoferroviária - estação central de brt jeferson santos 52 thermae juliana alves dullius

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urbeet amanda vital babosa party lights ana clara daher homo liber ana paula ribeiro faculdade de gastronomia da unb arthur fontana maciel vila entre gerações beatriz dos santos rabetti centro cultural de arte contemporânea carla conceição barreto inferno carolina mignon de oliveira edifício zanine constanza ceschin centro


64 de apoio ao refugiado em manaus érika ferreira felix 65 quando o parque é da cidade fernanda cunha pereira 66 atelier itinerante fernanda sampaio cavalcante pedrosa 67 centro interativo de ciência e tecnologia fernando lusa 68 arquitetura escolar gabriela ferrari villarino 69 complexo das rodas júlia costa de almeida abreu 70 parque de exposições agropecuárias kamila karen fernandes gomes 71 morar coletivo karinne buson pfeilsticker 72 praça do estudante da cei kariny nery de moraes 73 espaço cultural árabe katia alsaoub uma avenida na rodoviária késia balduino da silva

84 FAU PREMIADA 86 88 90 92

monumento à memória feminina concurso de cobogós “a realidade foi maior que o sonho” destaque em pesquisa

74 centro comunitário de taguatinga luana de jesus nascimento 75 waldorf na vila luísa barbosa rodrigues 76 penitenciária de segurança máxima marcos vinícius cuquejo sodré 77 espaços públicos no sol nascente mayara alves barbosa neres 78 a mesma cidade, novos modos de habitar melissa caetano melo 79 céu na terra raíssa mesquita ganzelevitch 80 hipnacoteca maravalhas raul brochado maravalhas 81 centro integrado de reciclagem de vidro 82 nzeb roberta carolina assunção faria 83 hostel w3 de espaços integrados para socialização vanessa ferreira machado

94 ENCONTROS 96 99 100 106

entre cristas de morro e fundos de rios pé no design semana escala 2018 I fórum do núcleo DF para construção do projeto br cidades

102 HOMENAGEM 104 aloísio magalhães

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PES QUI SA 9



ensaio C

erta feita, Renzo Piano foi entrevistado pela BBC de Londres . Quando indagado sobre a dualidade entre teoria e prática na arquitetura ele respondeu que: “A arquitetura não é apenas fazer bons edifícios e sólidos, é também contar histórias de alguma maneira. ” Novamente me debruçando sobre a produção da disciplina de Ensaio Teórico, observo com felicidade como nossos alunos estão contando histórias. Eles construíram nesse semestre narrativas acerca de variados temas, trazendo à tona discussões urgentes (e, por vezes, insurgentes). Alguns ensaios selecionados refletem sobre o fazer projetual em várias escalas e funcionalidades. Há também aqueles que discutem sobre a materialidade da arquitetura, debatendo, por exemplo, o uso da taipa e da madeira nas construções. Outra recorrência temática foi a habitação, abrangendo desde a moradia de rua e Habitação de interesse social à adaptação de apartamentos no Plano Piloto. Também construíram o diálogo com a fotografia, realidade virtual, moda e outros campos afins ao nosso. Convido nossos leitores a descobrirem essas e outras histórias contadas no semestre 2018.2, para juntos repensarmos a arquitetura em suas múltiplas possibilidades.

Ana Paula Gurgel Coordenadora de Ensaio Teórico


do abandonado ao lar a trajetória do afeto na ocupação

Alexandra Bandeira Vinagre Procurando questionar se a lógica entre expressão de individualidade e relação de pertencimento estudada dentro da academia funcionaria da mesma forma quando aplicada a comunidades cuja a moradia em si é um direito que lhes falta, o ensaio teve como finalidade traçar os aspectos físicos e imagéticos que transformam uma ocupação de movimento social em um espaço que gere a sensação de pertencimento por seus habitantes. Para isso, tomou-se como objeto de estudo o filme “Era o Hotel Cambridge” (2017, Eliane Caffé), elencando, para fins de análise, três elementos protagonistas: o movimento social, a comunidade e o edifício e ramificou-se o termo casa em duas principais vertentes: a casa como abrigo, entendida pelo termo moradia; e a casa como extensão do ser e de suas relações pessoais, denominada como lar .Em seguida, a partir de um levantamento contextual da ocupação urbana no país, viu-se que a casa como abrigo não é um direito amplamente fornecido para a população. Entendeu-se então que por causa da mudanças político-sociais presentes nesse processo a distribuição 12

do espaço urbano se construiu de forma a excluir a população de baixa renda dos centros comerciais, políticos e econômicos, causando uma desassociação desses indivíduos com a cidade e com sua própria característica de cidadãos. Então, percebeu-se que o movimento social de luta por moradia , representa o auxílio inicial de mostrar ao indivíduo seu papel de cidadão para assim poder lutar para garantir sua moradia e que a comunidade representada, simbolizando o indivíduo periférico, por suas vivências de resiliência, já carrega o que entendemos como lar em si. Assim, quando o movimento, por suas regras de participação, força o envolvimento com as questões políticas da cidade e incita o indivíduo a ocupar os espaços públicos e entender seus direitos, ele faz com que, ao efetivamente adquiri-la, ocorra uma junção imediata das concepções de moradia e lar e se estendam as relações familiares aos corredores e demais habitantes como forma de projetar essa conquista no espaço físico. Isso, em junção à organização espacial das famílias como a de uma

habitação em grande escala, faz com que o edifício seja percebido como uma única casa. E, ao implantar dentro dele uma estrutura social que permite o exercício de atividades comerciais e estabelece micro organizações internas de autogestão, incentiva-se a sensação de comunidade, colocando o edifício como limítrofe de uma cidade-cápsula dentro da malha urbana. Assim, fornecendo aos indivíduos a oportunidade de, mesmo num local deteriorado, poderem estabelecer suas casas e as relações sociais que a englobam, abre-se espaço para criação de vínculos além do núcleo familiar e portanto, a produção de novas lembranças. Dessa forma, conclui-se que a afetividade é uma conexão passível de ser projetada em qualquer espaço físico e pode ser potencialmente fortalecida quando o habitante adquire caráter modificativo sobre ele.

Orientadora: Ana Flávia Rêgo Mota Banca: Natália da Silva Lemos, Renan do Nascimento Balzan


arquiteturas feministas

Imagens fornecidas pela autora

Ana Carolina Medeiros Dutra A trajetória profissional de mulheres enquanto arquitetas e urbanistas é relativamente recente. O acesso delas à graduação acontece entre o fim do século XIX e meados do século XX. O ingresso era dificultado pelas instituições de ensino, que ainda associavam a figura feminina ao trabalho doméstico, e o mercado de trabalho era ainda mais hostil para com as mulheres. O Pritzker, considerado o maior prêmio em arquitetura, foi atribuído a uma arquiteta apenas em 2004, com Zaha Hadid, única mulher que ganhou desacompanhada de um homem. Em toda a história do prêmio, que já tem 40 anos, apenas três arquitetas foram homenageadas. Compreendendo a desigualdade de gênero que permeia a profissão, foi feita uma busca por produções feministas na arquitetura, a fim de elucidar as abordagens teóricas e as práticas projetuais embasadas no feminismo e traduzidas no espaço construído. Como exemplos práticos de arquiteturas feministas, foram exploradas as obras de três arquitetas. Franziska Ullmann, arquiteta austríaca, foi responsável pelo projeto do Conjunto Habitacional Margarette Schutte Lihotzky, resultado de um concurso público. Os objetivos

do concurso eram dois: solucionar a ausência de profissionais mulheres no planejamento urbano e habitacional e alinhar a arquitetura local às demandas da mulher contemporânea. O plano urbano desenvolvido por ela mudou o uso do bairro de residencial para misto - a mulher contemporânea não vive para o lar exclusivamente, e deveria ter acesso a escolas, comércios e creches perto de sua moradia. Também elaborou diversas plantas arquitetônicas para apartamentos ao compreender as diferentes conformações familiares modernas que lá habitariam. Susana Torre, arquiteta argentina, elaborou o Fire Station Five, um posto de bombeiros pensado para as mulheres que desempenham a profissão. A prefeita de Columbus percebeu que as mulheres que entravam para o Corpo de Bombeiros dificilmente ficavam por muito tempo no ofício. Compreendendo a profissão tipicamente masculina, Susana elaborou espaços de convívio não convencionais em que as trabalhadoras e os trabalhadores não ficassem segregados em função dos gêneros, como é o caso da maioria dos postos de bombeiros, em que os espaços de convívio são vestiários e dormitórios.

Lori Brown, professora e arquiteta americana, é uma das cofundadoras do coletivo ArchiteXX, que tem a missão de buscar a equidade de gênero através do acadêmico e o prático, aumentando a visibilidade de arquitetas na profissão. Foi responsável pela ação Private Choices Public Spaces, uma chamada de soluções projetuais para a cerca da última clínica de aborto no Mississipi, a Jackson Women’s Health Organization, já que o espaço era palco de inúmeros assédios às mulheres que entravam na clínica. Projetos feministas são aqueles que percebem a relação dos diferentes corpos com o espaço construído e se tornam acessíveis e possíveis a todos. A arquitetura pautada no feminismo é a arquitetura humana, a arquitetura necessária. Orientadora: Maribel Aliaga Fuentes Banca: Carolina Pescatori e Joara Cronemberger

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relações entremuros

o impacto das cidades fragmentadas na dinâmica da vida pública brasileira a partir dos anos 80

Ana Cecília Oliveira Ferraz O tecido urbano fragmentado – efeito observado com o fracionamento da livre circulação dentro da cidade por barreiras físicas e um modelo de ocupação extenso que gera espaços menos adensados – dissolve a relação do corpo com o espaço, gerando lacunas residuais de fluxo (e não mais de permanência), alterando a vida pública e seus cidadãos. Essa tipologia de malha tende a segregar os sujeitos e os locais de acontecimento dos eventos múltiplos do coabitar. Essas barreiras carregam pesos conceituais além de seus tijolos: a sensação de liberdade e segurança, preconceito e a necessidade de distinção de propriedade e espaço social. Assim, este trabalho debate a exclusão de parte da população do direito à cidade frente à necessidade de outras partes de cercamento para segurança, tomando-se como objeto de estudo a barreira física já instalada como elemento da arquitetura, paisagem, cultura e como parte da identidade da cidade brasileira: o muro. Procura-se compreender como e em quais âmbitos da cidadania a fragmentação do tecido urbano lesa. Foram analisadas as esferas social, afetiva, subjetiva, de orientabilidade, inter-relacional e de 14

pertencimento de forma associada, entendendo de que é no espaço público que se fortalecem todos esses aspectos, em uma relação direta do indivíduo com o outro, com o espaço e com a sociedade. Para isso, o estudo dividiu-se em quatro momentos. Primeiro foi realizado um panorama histórico-social-econômico do contexto de mudança do tecido urbano: o aceleramento da urbanização, a expansão das cidades, o rodoviarismo e a violência e pobreza urbanas. Em seguida, compreendeu-se os processos de dispersão urbana e condominialização no Brasil a partir dos anos 1970, momento em que se fortalece a nova forma de organização urbana e a fragmentação do território. Também foram analisados os aspectos da organização da malha territorial que incorpora os muros, buscando conceituar um padrão nas formas e técnicas da condominialização e fortificação dos empreendimentos imobiliários. Depois de compreender as bases de formação dos muros, buscou-se estabelecer os princípios de espaços públicos de qualidade, norteado pelos impactos da segregação analisados anteriormente. Por fim, cruzando estes aspectos padrões dos modelos de homogeneidade com os

parâmetros de coletividade e morfologia de espaços públicos, compreende-se quais os resultados da fragmentação do tecido urbano na convivência democrática e heterogênea na cidade. Foi possível perceber como o urbanismo enquanto prática de expansão pautada por interesses privados produz malhas urbanas sem consciência plural, visando lucro e homogeneidade, para uma parcela restrita da população que não abarca a diversidade das necessidades urbanas da sociedade. É preciso refletir sobre os tipos de espaços que estão sendo gerados a partir dessa reprodução massiva de muros que parecem não questionar e fazer questão do seu espaço na cidade. Em que ponto os espaços públicos serão os vazios intersticiais? Orientadora: Carolina Pescatori Banca: Ana Paula Gurgel; Ana Zerbini


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apartamentos modernistas adaptados para os dias de hoje estudo de caso no Plano Piloto de Brasília/ DF dos anos 80

André Igreja Camargo Numa abordagem ampliada, a habitação é um dos temas mais pertinentes na história e análise da arquitetura sob diversas óticas. O estudo da arquitetura residencial traz consigo uma riqueza de elementos sociais e simbólicos, que geralmente passam despercebidos pela sua trivialidade cotidiana, mas que podem revelar uma série de padrões sociais e arquitetônicos. Em termos mais específicos, este artigo versa sobre os apartamentos modernistas das superquadras de Brasília e como eles foram modificados para se adaptarem aos novos modos de morar. A análise tem como foco os apartamentos pois, apesar de sofrerem reformas e muitas vezes serem completamente modificados, estas modificações parecem não afetar o caráter modernista da cidade, visto que são realizadas apenas no interior dos edifícios, mantendo suas características externas iniciais. Os apartamentos originais, em sua maioria, foram construídos nas décadas de 1960 e 1970, quando o Modernismo ainda era tendência dominante no Brasil. Na época, correspondiam ao que se esperava da residência moderna, mas será que ainda funcionam bem hoje? Quais são as alterações mais recorrentes no 16

interior dessas residências? Elas ainda apresentam setorização semelhante à tripartição burguesa? É possível observar uma série de diferenças no que é apresentado pelas construtoras hoje, trazendo a percepção de que o morar moderno está dando lugar ao morar contemporâneo. O que torna isso mais interessante é que as mudanças não vem ocorrendo apenas nas novas edificações, mas também no interior dos apartamentos modernistas, acompanhando as evoluções sociais e trazendo a contemporaneidade para seus interiores. De acordo bom Bill Hillier e Julienne Hanson em The Social Logic of Space, “a arquitetura não só cria espaços, mas padrões de relações entre os espaços”. Fazendo relação com a análise produzida no artigo, é possível afirmar que a interação dos moradores entre si e com o espaço é diferente antes e pós reforma, em decorrência da reconfiguração espacial. Considerando os conceitos e teorias do morar moderno, morar contemporâneo e utilizando o método da Sintaxe Espacial, de Bill Hillier e Julienne Hanson, foram produzidas análises de seis casos, sendo todos apartamentos

originais das décadas de 1960/1970 que passaram por reformas para atualização e adaptação ao estilo de vida de seus moradores. As análises consistiram em: (1) estudo de plantas-baixas (de antes e depois reforma); (2) análises de controle, profundidade, integração e segregação dos cômodos, com auxílio do software Jass; (3) produção de diagramas de visibilidade dos casos (antes e depois das reformas), com auxílio do software Depth Map; e (4) panorama geral Após análise dos resultados obtidos, apesar de cada caso ter suas particularidades, foi possível verificar uma certa padronização nas reformas (integração de ambientes, criação de lavabos, a quase extinção do quarto de serviço) mas ainda contendo traços do modernismo, criando uma “mescla” de estilos possibilitada pela versatilidade da arquitetura moderna (planta livre limitada apenas pelo elemento estrutural) e da praticidade do contemporâneo, mostrando que, em Brasília, o contemporâneo ainda é muito ligado ao moderno, como uma espécie de transição. Orientadora: Ana Paula Campos Gurgel Banca: Orlando Nunes, Vânia Raquel Teles Loureiro


biofilia e paisagismo relação e significado para o usuário

Anna Clara Lopes O contato com a natureza ainda continua sendo um elo muito forte para os seres humanos. Percebe-se na prática como esse contato pode ser benéfico e fortalecer a resiliência humana frente aos desafios modernos presentes em uma sociedade cada vez mais individualista. Dentro deste contexto, se faz necessária a compreensão do conceito de biofilia, que sugere que devemos estar geneticamente predispostos a preferir certos tipos de ambientes e paisagens naturais. Os benefícios do contato com a natureza dependem de cada experiência. Apesar da nossa inclinação a nos relacionarmos com os elementos naturais, essa tendência biológica precisa ser desenvolvida e nutrida para que se torne funcional. No caso da biofilia, pode-se optar por vivenciar a natureza de uma forma mais profunda ou pode-se optar pelo enfraquecimento desses laços. Infelizmente, a sociedade moderna criou muitos obstáculos que dificultam a relação dos indivíduos com a natureza. Essa separação crescente é refletida por vários fatores como a agricultura moderna, o sistema educacional, desenvolvimento urbano, políticas públicas e até mesmo a própria arquitetura. A falta de contato com às demais espécies vivas e ambientes apáticos que não traduzem mais o sentimento de pertencimento de cada um são algumas das problemáticas encontradas

no contexto atual em que nos encontramos. A Universidade de Brasília apresenta grande potencial em relação à abordagem do paisagismo como vetor de fortalecimento da biofilia. Por meio dos extensos jardins internos do Instituto Central de Ciências – ICC, cria-se a possibilidade dos frequentadores terem maior contato com a natureza e sentirem-se mais humanos. A composição de diferentes cores, texturas e formas da vegetação, transforma a percepção do espaço e desperta diferentes sentimentos em relação à paisagem. O ensaio teórico compreende o estudo da relação entre o paisagismo no Instituto Central de Ciências Norte – UnB e os conceitos da biofilia. Por meio de análise morfológica, documentações orais e registros físicos, busca-se analisar o significado da paisagem para o usuário e sua interação com a natureza no campus. O intuito é compreender essa conexão entre a afetividade emocional dos seres humanos e as demais espécies naturais para, desta forma, identificar os padrões de projeto de paisagismo que favoreçam e contribuam para a criação de espaços mais sustentáveis. Durante o período de análise, foram identificados alguns pontos críticos nos jardins do ICC Norte, como a falta de rampas de acesso às áreas elevadas, a carência de mobiliários e a pouca variedade de texturas, cores e

formas da vegetação. Observou-se também a predominância de espécies exóticas e apenas uma pequena parcela correspondente à vegetação nativa, em que duas espécies são do cerrado. O uso de espécies nativas no projeto paisagístico gera maior afinidade dos cidadãos com a flora e fauna locais e valoriza as riquezas naturais. Outra abordagem é a elaboração de um projeto paisagístico participativo, em que as opiniões dos membros da UnB possam ser consideradas, uma vez que a expressão da identidade local é essencial para o processo projetual. O paisagismo e a arquitetura não são apenas práticas estetizantes, precisam ser espontâneos e sensíveis ao meio que se encontram. Considerando que grande parte da população mundial vive em centros urbanos, onde há uma carência de natureza, o design biofílico torna-se muito relevante para as cidades. Por meio da aproximação do projetista e da real necessidade do usuário, é possível desenvolver projetos paisagísticos que traduzam o verdadeiro significado cultural e ecológico do lugar e fortaleçam a resiliência do espaço. Orientadora: Raquel Blumenshein Banca: Cynthia Nojimoto, Neander Furtado

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fotografia como ferramenta de projeto

Bárbara Souza Silvestre da Costa A primeira abordagem significativa em que fotografia e arquitetura convergem, é o papel da fotografia para ‘documentação e memória’ da arquitetura. Ela nasce, portanto, como uma espécie de testemunho das edificações. O fascínio pela invenção deste artefacto se dá a partir do momento em que foi permitido registrar de forma muito real aquilo que antes era registrado somente através de pinturas ou desenhos e que, por isso, estavam suscetíveis a interpretações que poderiam distorcer a realidade. Outra relação importante foi no século XX. A fotografia foi o maior meio de disseminação da arquitetura moderna. Para Bergera (2014), “a arquitetura moderna não pode ser entendida sem o papel paralelo desempenhado por sua representação fotográfica”. Além disso, subjetivamente, as duas áreas se conectam de forma muito evidente pois dispõem de conceitos de composição como por exemplo “luz e sombra, arranjo de formas e etc”. E é, através da fotografia que muitos desses conceitos são evidenciados na arquitetura. Por fim, chega-se a relação principal abordada neste Ensaio, que é a fotografia como ferramenta metodológica para o arquiteto. O objetivo não é usá-la no lugar de outras ferramentas, como desenho, 18

maquetes, colagens e etc, mas agregá-la a esse conjunto, tornando-o mais rico para o uso do estudante ou arquiteto. Foram abordadas algumas maneiras de se utilizar a câmera para tais fins. A primeira delas é a fotografia de modelos reduzidos. É importante ressaltar que para que seja eficaz esse estudo, é necessário fotografar as maquetes sob o ponto de vista do observador. É preciso excluir qualquer referência externa que possa existir para que não haja uma comparação de escalas. Ao aproximar a câmera do modelo reduzido e tendo uma escala humana em maquete, é possível fazer uma análise da dimensão do futuro espaço arquitetônico, bem como suas proporções com a figura humana. Além disso, ao fotografá-las, é possível também fazer estudos de luz e sombra, pois se mostram mais eficazes do que em desenho. Outra possibilidade interessante é usar a fotografia em combinação com outro meio, como o desenho. O arquiteto Cedric Price fazia muitos croquis em cima de fotos, especialmente dos terrenos onde seriam implantados seus projetos. Dessa forma, ele conseguia estudar a relação do seu edifício com o entorno, bem como sua escala e proporção.

Na produção de imagens virtuais, a fotografia também pode ser uma importante aliada. Alguns softwares possuem as mesmas configurações de uma câmera para renderizar uma imagem. Ou seja, estão relacionados também sob essa perspectiva técnica. O escritório brasiliense MRGB tem como um ponto forte a produção de imagens hiper-realistas. O arquiteto sócio responsável por esse setor contou, em entrevista, que seu conhecimento na fotografia é um fato primordial para o bom resultado dessas imagens, pois ele só renderiza cenas em que posteriormente conseguirá fotografar pelo mesmo ângulo. A fotografia, uma vez que adquiriu notável reconhecimento mundial, sempre será peça primordial no entendimento da arquitetura. A relação simbiótica demonstra que, da mesma forma que a fotografia encontrou na arquitetura uma grande aliada devido ao seu caráter estático, a arquitetura passa a enxergar a fotografia como um meio que potencializa sua existência, bem como o processo projetual relacionado a ela. Orientadora: Maria Cláudia Candeia Banca: Luciana Jobim Navarro, Oscar Luis Ferreira


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arquitetura escolar e métodos pedagógicos alternativos

Bruna Oliveira Macedo Pessoa O espaço educativo tradicional tem se mostrado inadequado para a sua finalidade. Grades excessivas, ausência de espaço livre verde, a conformação das salas, o desconforto ambiental e a deterioração são fatores que comprometem a vivência e o aprendizado dos alunos no ambiente educacional. Práticas educacionais alternativas vêm sendo desenvolvidas desde o início do século XX. Esses métodos diferenciados são uma opção para um ensino mais humanizado e as características de seus edifícios institucionais podem trazer contribuições para a arquitetura escolar no que se refere a um espaço adaptado para as necessidades das crianças. O objeto dessa pesquisa foi a arquitetura escolar das abordagens Waldorf e Reggio Emilia, dado que o espaço físico educacional foi frequentemente abordado pelos seus criadores. O ensino Waldorf foi desenvolvido por Rudolf Steiner em 1919 na Alemanha. A base para o método está na Antroposofia, corrente filosófica desenvolvida pelo próprio Steiner. Considera o ser humano em sua totalidade física, psicoemocional, intelectual e espiritual, sendo essas indissociáveis. O método integra todas as áreas do conhecimento, 20

não só de modo teórico como também prático e emocional, tendo em vista o desenvolvimento integral do indivíduo. Dessa forma, Steiner promove a interação entre três forças básicas do trabalho: pensamento, sentimento e vontade. O desenvolvimento da abordagem Reggio Emilia é atribuído ao italiano Loris Malaguzzi. A prática pedagógica parte do pressuposto que a criança tem diversas formas de linguagem. Ou seja, dispõem de inúmeras formas de expressão para a obtenção do conhecimento e a escola deve estar preparada para propiciar uma riqueza de oportunidades para a construção do aprendizado da criança. Entende-se que a criança tem naturalmente o potencial para aprender a partir de interações sociais e com o espaço físico. Com o intuito de constatar o reflexo das práticas pedagógicas nos edifícios escolares, foi feita uma comparação entre o espaço físico Waldorf e Reggio Emília. A conformação da escola Waldorf, por exemplo, costuma ser caracterizada por um complexo de edifícios similar a uma vila, como uma comunidade. Já a escola Reggio Emilia se apresenta como um bloco

único onde o plano de necessidades é atendido em um único pavimento. A horizontalidade exprime a equidade entre todos os usuários da escola. Além disso, ambas as escolas possuem um espaço central como local de encontro. Na escola Waldorf, essa característica é marcada por um edifício central e na Reggio Emilia, por um pátio interno. Além da conformação da escola, a análise entre a arquitetura escolar das práticas pedagógicas estudadas foi feita com base em outros critérios como: relação escola e cidade, espaço externo, arquitetura como ferramenta para o aprendizado e materialização da pedagogia na arquitetura. Ao fazer tais comparações, pôde-se concluir que as práticas pedagógicas pesquisadas têm considerável influência no espaço físico de seus espaços educacionais. Orientadora: Maribel Aliaga Banca: Carolina Pescatori, Joara Cronemberger


o traço sensível

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Dante Akira Uwai Neste trabalho são propostas três lições, desenvolvidas a partir de poéticas construções de linguagens amparadas no campo do fazer - que anseiam ampliar o campo de discussão em um mundo tão fascinante quanto o do desenho. Para tanto, o projeto é organizado em três capítulos, sendo os dois primeiros uma preparação teórica para as discussões, deixando ao último a responsabilidade das reflexões. O primeiro capítulo, “O desenho lírico”, inspirado no texto O desenho para o arquiteto, de Alcides da Rocha Miranda, e na tese Os desígnios da arquitetura, de Cláudia da Conceição Garcia, versa sobre o desenho como forma de expressão do interior do próprio artista, além da importância do ensino desse tipo de representação desde a infância até a faculdade de arquitetura. Também discute-se os caminhos do desenho a partir do desenvolvimento de novas técnicas, e a possibilidade de se manter a sensibilidade como protagonista do processo. O segundo capítulo, “Arquitetura para um homem que sente”, aborda o significado da percepção e sensação e de como estes conceitos, por meio das memórias, influenciam na maneira como

uma arquitetura é entendida. Com base em autores como Juhani Pallasmaa e Peter Zumthor, busca-se compreender como a arquitetura pode ser pensada não como pura construção e mais como sensação. Faz-se ainda uma reflexão sobre como a representação, por si só, consegue resgatar sentimentos a princípio separados do sentido da visão, como o tato e o olfato. O último capítulo, “Sobre desenho e reflexões”, fragmenta, por meio de subcapítulos, as reflexões em análises sobre como o homem dá significado a seus referenciais de cor e espaço. Utilizando autores como Otto Friedrich Bollnow e Fayga Ostrower, enumera-se uma série de estratégias, aprendidas por experiência, para manipular as sensações sugeridas pelo desenho: Primeiramente, discorre-se sobre o alto e o baixo, os referenciais de duas dimensões e como o espaço de desenho influencia na percepção do ambiente. Segundo Bollnow, em O Homem e o Espaço (2008), a ligação entre o homem e o chão confere uma importância especial ao horizonte, nossa principal referência espacial. Ostrower discorre, em Universos da Arte (1991), como um espaço de desenho vertical

ou horizontal altera a percepção que temos de uma obra. Posteriormente, os subcapítulos descrevem a terceira dimensão na arte, focando em estratégias para representar e valorizar a profundidade, utilizando técnicas além da perspectiva cônica, como as propriedades espaciais das cores quentes e frias. Por fim, os subcapítulos fazem-se uma reflexão sobre a luz, sombra e cor, passando não apenas por diferenciação volumétrica como também por significados sensoriais das cores e composição. Orientadora: Neusa Cavalcante Banca: Elane Ribeiro Peixoto, Maria Cláudia Candeia

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contos do palha uma relação entre pessoas, lugares e histórias

Elisa Bermudez Zaidan Este ensaio busca compreender melhor a região do Palha pela perspectiva de seus moradores e suas relações com os espaços que ali existem. O Palha, como assim é chamado o Núcleo Rural Córrego do Palha, é uma região localizada num morro, numa área denominada Setor Habitacional Taquari (SHTQ), em Brasília, Distrito Federal. Sua ocupação começou na década de 50, junto a construção da Capital. Desde então, a região passou por mudanças e hoje talvez não seja possível a ela se referir como área rural. A fim de compreendê-la melhor em seus aspectos histórico-culturais, recorreu-se à metodologia de pesquisa por história oral, de uma forma adaptada, levando em conta depoimentos de adultos e das crianças e suas percepções sobre o lugar onde moram por meio de entrevistas e atividades. Ambas foram realizadas a partir da relação pré-estabelecida entre a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU) e a Escola, por meio do Projeto de Extensão Ninhos e possibilitaram traçar os caminhos para a construção deste trabalho. Para fins de organização, a pesquisa foi realizada em três etapas. 22

A primeira delas consistiu em esclarecer referenciais que subsidiaram o trabalho, assim como os procedimentos metodológicos e os registros que o tornam realizável. Em seguida, conhecer os aspectos geográficos, legais e históricos da comunidade. Por fim, elaborar o Contos do Palha, onde se encontram as sínteses que as fontes permitiram realizar. Nele é apresentado quem são os entrevistados, considerados atores do conto, os lugares do Palha e as percepções acerca das relações entre eles, obtidas a partir das entrevistas e atividades realizadas. Pôde-se perceber que o Palha hoje se encontra num processo de transição entre o rural e o urbano, e, portanto, num momento de serem tomados os cuidados necessários para que seu desenvolvimento se dê de forma sustentável, em todos os sentidos. Ele é um mundo entre dois mundos: um mundo entre o rural e o urbano, e um mundo entre o passado ainda presente e o futuro em construção. Conhecer o objeto de estudo comunidade é também do âmbito da arquitetura e do urbanismo. Ao projetar, o arquiteto deve considerar as necessidades de uma pessoa ou de uma comunidade, e, para esse fim, a história oral

demonstrou ser um caminho de resultados muito interessantes, aplicável em diferentes contextos. Por meio dela é possível registrar histórias antes não registradas ou pouco compreendidas, para que elas possam então contribuir para a construção e perpetuação de uma coletividade e de um maior sentimento de pertencimento das pessoas em seus lugares, de tal forma que seja possível preservá-lo. Espera-se que este trabalho possa contribuir com outras pesquisas, sendo um pontapé inicial na direção da compreensão da comunidade do Núcleo Rural Córrego do Palha. Orientadora: Elane Ribeiro Peixoto Banca: Maria Cláudia Candeia de Souza e Neusa Cavalcante


do barril à caixa

o uso do container na construção

Imagens fornecidas pela autora

Evellyn de Souza Almeida Ao analisar o campo da construção civil é inegável que este é responsável por diversos impactos ao meio ambiente, seja durante o processo de execução das edificações ou na manutenção das mesmas. É notório que, com os avanços tecnológicos, esses impactos se reduzem culminando em lançamentos de novos materiais e técnicas construtivas mais limpas, além o uso de materiais recicláveis - prática significativa para a sustentabilidade, uma vez que minimiza o impacto ambiental gerado pelo setor e reduz os custos. O uso do container marítimo na arquitetura tem se revelado como uma das técnicas construtivas mais promissoras, já que reduz os impactos ambientais, racionalizando o uso dos recursos naturais e trazendo de volta ao ciclo técnico os contêineres que não poderiam mais ser utilizados para transporte marítimo. Além disso, o uso do mesmo tem se revelado como tendência no Brasil, principalmente em projetos comerciais. Por muitos anos os contêineres foram convertidos em abrigos improvisados à margem da sociedade. Hoje, porém, uma grande quantidade de arquitetos e designers enxergam esses recipientes

como uma boa alternativa construtiva. Segundo Han Slawik, autor do livro Container Atlas: A Practical Guide to Container Architecture, apesar de não ter sido concebido inicialmente como solução para o campo da construção civil, contêineres são muito adequados quando soluções espaciais devem ser obtidas em um período limitado de tempo, tornando-se eficazes como módulos construtivos. Considerando esse cenário, é importante levantar uma indagação sobre os benefícios do retrofit de contêineres e sua aplicabilidade nas mais diversas tipologias arquitetônicas. Para isso, deve ser levado em consideração suas características, sua trajetória, morfologia, a contextualização do seu uso e legislação no Brasil, mas, principalmente, conhecer quais são suas vantagens e desvantagens. Além disso é essencial a compreensão sobre os tipos de fundação compatíveis com o sistema construtivo em questão, sobre as adaptações necessárias para conforto termoacústico, e, finalmente, sobre as possibilidades construtivas para esse sistema. No estudo sobre o retrofit do contêiner, a abordagem adotada pelo

ensaio entende que apesar de apresentar algumas desvantagens - como necessidade de intervenção termoacústica, limitação de dimensões, custo de transporte, contratação de equipamento extra, necessidade de mão de obra especializada, verificação e higienização do contêiner – as vantagens desse sistema ainda podem superar suas limitações, visto que este ainda representa custos mais baixos, rapidez, estabilidade, flexibilidade, durabilidade, facilidade de transporte, e, de certa forma, sustentabilidade. Orientadora: Maribel Aliaga Banca: Carolina Pescatori, Joara Cronemberger

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conectografias

interatividade digital entre arquitetura e emoção

Isabela Ferrari A nossa percepção de mundo consiste no processamento de estímulos diversos do meio pela nossa consciência. Nossos sentidos estão constantemente sendo bombardeados por informações externas que moldam nossa vivência a cada instante. Odores, temperatura, umidade, sons, todos são capazes de afetar a experiência humana das mais diversas formas. A visão da realidade é, no entanto, uma interpretação individual sensorial. O constante uso de aparatos tecnológicos e sua introdução em objetos do cotidiano possibilitam o aumento da capacidade de processamento digital de informação. O resultado desse conjunto de sistemas que se retroalimentam é uma realidade hiperconectada. Com os benefícios da informação integrada, os produtos industriais e os objetos de uso diário chegam a ter identidades eletrônicas e podem ser equipados com sensores que detectam mudanças físicas à sua volta, além de estarem ligados a uma enorme rede de possibilidades possível apenas com o advento da era da informação. Esse contexto gerou uma mudança de paradigma em diversos contextos da sociedade do século XXI. Nesse cenário, os limites antes estabelecidos entre o virtual e o material tem se tornado cada 24

vez mais nebulosos, podendo se afirmar que já vivemos uma realidade híbrida. Assim, o modo de concepção dos espaços arquitetônicos também sofreu alterações significantes. Somando esses aspectos ao barateamento e diminuição de sensores digitais, muitos desdobramentos espaciais podem surgir a partir desses inputs. A arquitetura não dispõe apenas de interfaces físicas materiais, mas agrega componentes digitais também. Mais adiante, a utilização de sensores digitais para captar inputs do corpo humano traz a possibilidade de reacessar de forma sistemática dados da nossa própria fisiologia humana. Dessa forma, torna-se possível notar, analisar e sentir o ambiente de uma nova forma. A proposta deste Ensaio é evidenciar abordagens arquitetônicas que desafiem a produção tradicional de arquitetura e possibilitam que as pessoas estejam constantemente construindo seus ambientes e dinamizando as sensações proporcionadas pelo espaço. Para este estudo foram escolhidos 16 Projetos para análise, um deles sendo O mobiliário interativo Empatias Mapeadas pelo arquiteto brasileiro Guto Requena, no qual sensores captam o batimento cardíaco dos ocupantes e manipula a

iluminação e sonorização do espaço. A estrutura de madeira parametrizada foi digitalmente fabricada a partir de placas de mdf cortadas por uma máquina de CNC. Os sensores instalados no assento do objeto captam os dados vitais de cada ocupante, que são processados por um software capaz de transformar as informações e enviar para microfones e luzes que seguem o ritmo dos ocupantes. A intenção é gerar uma conexão entre aqueles que ocupam a instalação, que juntos ditam a aparência do espaço a cada momento. Ele visa gerar uma reflexão acerca do senso de coletivo, capaz de moldar contextos espaciais e sociais, proporcionando uma experiência personalizada aos ocupantes. Em suma, pensar sobre sistemas interativos se relaciona com o empoderamento do ocupante em se engajar com o espaço e compreender sua responsabilidade com o meio. Mais adiante, permitir que o sistema interprete anseios que muitas vezes o próprio ocupante não consegue determinar, mas a partir da dinamização do espaço físico, gera uma experiência moldada para o indivíduo. Orientadora: Cynthia Nojimoto Banca: Joara Cronemberger, Vanda Zanoni


25 Imagens fornecidas pela autora


a tridimensionalidade real e virtual no ensino da arquitetura e urbanismo

Isabella C. de Farias Goulart As mudanças de paradigma da arquitetura contemporânea são fundamentais e inevitáveis. Hoje, o desenvolvimento de novas tecnologias, unido às novas demandas da sociedade contemporânea, desafiam a forma como aprendemos a projetar nas universidades. Nesse sentido, é importante que haja uma nova discussão acerca da inserção de novas ferramentas e técnicas na grade curricular dos cursos de arquitetura. Partindo desse pressuposto, é necessário analisar o potencial de tecnologias capazes de mudar a forma como o conteúdo é ensinada pelos professores e assimilado pelos alunos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo. Tecnologias de fabricação digital, realidade virtual e realidade aumentada abrem um leque de possibilidades projetuais jamais alcançadas anteriormente. Cabe investigar como essas tecnologias podem ser aplicadas ao curso de Arquitetura e analisar o possível impacto pedagógico delas na compreensão de conceitos, visualização de projetos e estruturas, concepção criativa e avanços tecnológicos. São diversos os casos de sucesso no mundo em que as tecnologias de fabricação digital, realidade aumentada e virtual foram adaptadas para 26

o aprendizado de arquitetura a fim de aprimora-lo e torná-lo mais didático, tais como: MARS (EUA), SMART VIDENTE (Áustria), LAPAC (Brasil USP), DIGITAL SANDBOX (EUA), ISTAR (Portugal), LFDC (Brasil – UnB), entre outros capazes de revolucionar pedagogicamente os cursos de arquitetura e urbanismo. A partir de uma série de entrevistas com diversos professores da área foi possível analisar as potencialidades e limitações dessas tecnologias além de averiguar o atual estado de arte, domínio das ferramentas e a usabilidade das mesmas do ponto de vista pedagógico. Pode-se perceber que as tecnologias citadas tem potencial de complementar a bidimensionalidade de textos, imagens, plantas e cortes, proporcionando uma maior compreensão dos projetos de arquitetura e urbanismo. No entanto, esses recursos apenas complementam as representações formais e ilustrativas da arquitetura e urbanismo, ao passo que, jamais poderão substituí-las. Portanto, tratando-se do ensino de arquitetura, o processo de concepção projetual e estrutural encontrou no mundo virtual um aliado, não só como

meio de representação, mas também como uma ferramenta geradora de formas e soluções inovadoras, com grande potencial transformador. As tecnologias citadas podem contribuir para a integração das disciplinas, favorecendo a quebra de paradigmas e possibilitando a produção de uma nova arquitetura, rompendo as barreiras da ortogonalidade. Com o auxílio deste trabalho, estudantes, professores, pesquisadores, acadêmicos, programadores e demais pessoas interessadas, podem analisar o potencial das tecnologias de fabricação digital, realidade virtual e aumentada no ensino da arquitetura. Pretende-se assim, gerar mais interesse, pesquisa e desenvolvimento das tecnologias em questão, além de fazer parte do embasamento para a inovação pedagógica das faculdades de arquitetura. Orientador: Márcio Buson Banca: Caio Frederico e Silva, Gustavo de Luna Sales


o desenho urbano e a qualidade urbana e socioespacial

Isadora Joaquina Castelina de Souza Gobbo Cidades surgem como contextos espaciais em que as percepções de qualidade de vida urbana para o ser humano se revelam fundamentais e refletem no modo de apropriação social dos espaços públicos. Este estudo procura o entendimento de falhas no desenho urbano, associado à efetiva qualidade das formas de vivenciar o espaço construído, a partir de práticas conduzidas na estruturação dos espaços. Ao perpassar pela discussão sobre níveis de adensamento populacional, busca-se esta imposição morfológica ocupacional segundo fenômenos de dispersão e compactação territorial. As cidades de Brasília e Manaus e suas respectivas realidades construídas apresentam-se destoantes segundo crescimento da malha urbana, densidade populacional e índice de desenvolvimento econômico, vertentes utilizadas para análise e escolha das cidades em questão. Essas regiões, entretanto, comumente, confrontam diversidades de sistemas urbanos que, por vezes, não são condizentes com a pretensa imagem de urbanidade e vivacidade do seu todo, sendo caracterizadas por atuais situações de segregação espacial

tão evidentes dentro de seus sistemas. Revelando-se possuidoras de modelos de malha urbana introjetadas por espaços altamente fragmentados, dispersos e supercarregados, é notável o desencadeamento do enfraquecimento da integração total em suas forma-espaço. As hierarquias espaciais marcadas pelas leituras de dispersão e compactação implicam em uma deficiência de integração que atinge a população ao gerar maiores custos sociais de deslocamento e menor acessibilidade aos equipamentos públicos gerando uma lógica de produção na cidade fundamentada no predomínio do aspecto econômico em detrimento da dimensão social. Indicando uma ampla relação entre a configuração urbana e os padrões de distribuição espacial, a primeira destituída de elementos que proporcionam qualidade de vida urbana, provoca-se impressões que afirmam que aspectos econômicos e sociais estabelecem uma ordem no espaço construído que não esboça urbanização. É o fato de que a cidade influencia no comportamento de sua população e a população influencia na organização espacial da cidade, em uma relação mútua e constante. Os conceitos de direito a cidade

e justiça social urbana são flagrantemente contrastadas nos planos urbanos dessas cidades ao apresentar condições de habitabilidade altamente destoantes entre suas partes. Entender que as cidades não deixarão de se desenvolver às custas de um adensamento populacional extremo e que isso implica na cidade formando espaços que são parte de um processo que se refaz sempre no ambiente urbano, também leva à compreensão de que as desigualdades podem ser urbanamente construídas. Cumprir com o a qualidade do espaço é encaminhar a cidade a um planejamento de ação ordenatória de fluxos migratórios ao crescer na mesma proporção que seu aumento demográfico gerando espaços mais articulados, integrados, multifuncionais que tornariam a cidade mais equilibrada e que muito ganharia em urbanidade. Orientadora: Cláudia Garcia Banca: Carlos Henrique Magalhães, Luís Pedro de Melo César

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escola para todos? desenho universal e parâmetros de acessibilidade em escolas públicas do Distrito Federal

Kamila Venancio Moreira “Para se reformar a instituição, temos de reformar as mentes, mas não se pode reformar as mentes sem uma prévia reforma das instituições.” MORIN, Edgar. As escolas públicas brasileiras ainda têm um grande caminho a percorrer para serem consideradas inclusivas a pessoas com deficiência. Um estudo realizado a partir de dados do Censo Escolar 2016, mostrou que pouco mais de um quarto das 37.593 unidades da rede pública do país tem dependências acessíveis. A exclusão social e educacional é também resultado de escolas que não foram preparadas para atender as diferenças. Mais uma vez comprova-se que para atingir a acessibilidade, a partir do Desenho Universal, é necessário vivência do espaço, com a comunidade escolar. Utilizando como exemplo duas escolas públicas de diferentes segmentos sociais, culturais e econômicos, o Ensaio Teórico avaliou a Escola Classe 18 do Gama, bem como a Escola Classe 108 Sul. Ambas atendem exclusivamente alunos do 1º ao 5º ano e atendimento a alunos com necessidades especiais. Avaliar as duas instituições, como parâmetro, revelou a distância prática entre as normas de acessibilidade e as edificações escolares. A partir de adaptações pontuais, muitas vezes emergenciais ou improvisadas, como construção de pequenas rampas e adaptação de 28

banheiros, geralmente para cumprir algum requisito para autorização de funcionamento ou suprir a demanda de um estudante em particular, as duas escolas vivenciam a dificuldade de proporcionar um local de pleno acesso. O quadro se torna ainda mais preocupante quando se constata que grande parte dessas adaptações não estão de acordo com as normas técnicas de acessibilidade, e é, justamente neste ponto que o Ensaio realizou sua análise. O trabalho refletiu criticamente sobre a realidade encontrada em ambas as escolas, reiterando o contexto no qual se inserem, a comunidade a qual atendem e a complexidade da realidade de uma educação inclusiva. Além disso, questionou a implementação do Manual criado pelo MEC nas escolas públicas, a partir dos subsídios destinados a essa manutenção dos espaços e a gestão político-pedagógica da equipe gestora de cada escola. Enquanto profissionais da arquitetura, é mister pensar sobre o nosso papel na sociedade no tocante à promoção de espaços mais democráticos, bem como a relevância do questionamento: Prever um ambiente de acordo com a NBR 9050 é,de fato, suficiente, para promover a acessibilidade? A Acessibilidade é um fator essencial no processo de inclusão educacional. O espaço e o ambiente escolar têm a capacidade de proporcionar e aproximar

a comunicação e a convivência entre as pessoas. É a vivência com estudantes e colaboradores com deficiência que possibilita às escolas se adaptarem para eliminar essas barreiras arquitetônicas, atitudinais, comunicacionais ou outras, garantindo a constante busca por uma educação inclusiva e de qualidade para todos. Orientador: Oscar Luis Ferreira Banca: Luciana Jobim Navarro, Maria Cláudia Candeia


o uso da impressão 3D para o auxílio do projeto arquitetônico Leonardo Figueiredo Gois Andrade A impressão 3D - também conhecida como prototipagem rápida - foi citada no Financial Times e por outras fontes como sendo potencialmente maior que a Internet ou como sendo a Terceira revolução industrial. Ainda que alguns acreditem que isso seja verdade, muitos outros insistem que isso é parte do hype extraordinário que existe em torno desta área tecnológica, ainda muito recente. O que realmente é essa impressão 3D que alguns reivindicam, colocará um fim na fabricação tradicional como a conhecemos, revolucionará o design e imporá implicações geopolíticas, econômicas, sociais, demográficas, ambientais e de segurança às nossas vidas cotidianas? O ensaio procurou dar uma visão geral sobre a tecnologia, tendo como objetivo fornecer ao público da arquitetura um conhecimento confiável sobre a impressão 3D, em termos do que ela é (tecnologias, processos e materiais), seu histórico de desenvolvimento, áreas de aplicação e benefícios. Além de introduzir o que ela significa para o público especializado de Arquitetura e Construção para hoje, e no futuro próximo, em termos de ganhos de aplicações, suas vantagens e desvantagens, é uma breve introdução de por onde começar. O termo impressão 3D abrange uma série de processos e tecnologias que oferecem um espectro completo de recursos para a produção de peças e

produtos em diferentes materiais. Essencialmente, o que todos os processos e tecnologias têm em comum é a maneira pela qual a produção é realizada, através de camada por camada em um processo aditivo o que contrasta de qualquer outra técnica de fabricação tradicional já existente, baseadas sobretudo nas técnicas tradicionais envolvendo métodos subtrativos ou processos de moldagem/ fundição. Neste sentido a Impressão 3D trouxe duas inovações fundamentais: a manipulação de objetos em seu formato digital e a fabricação de novas formas por adição de material. O uso de impressão 3D para construção e arquitetura hoje, é uma área em rápido desenvolvimento. A manufatura aditiva é usada não apenas nos estágios de projeto de construção, mas também para trazer estruturas em escala real para a realidade. A indústria da arquitetura é altamente competitiva, o que leva os escritórios de arquitetura a buscar desempenho e inovação, o que resulta no uso da alta tecnologia para aprimorar a prática. Hoje, os arquitetos usam a impressão 3D principalmente como uma ferramenta para modelos conceituais e modelos de demonstração para motivar clientes e investidores potenciais. Visto que se trata de boa ferramenta para comunicar ideias - dando profundidade, dimensão e textura a um projeto, este uso é porem ainda uma parcela dos reais

potenciais da tecnologia para a área da arquitetura e construção em geral. Podemos dizer assim que a grande parte do potencial para a área ainda está para acontecer. A tecnologia da impressão 3D já é uma realidade e demonstra pelo rol de áreas com que se compatibiliza que veio para ficar. Juntando-se assim com as outras promissoras tecnologias deste início de século, como a Internet, a Realidade Virtual, Robótica, Inteligência Artificial e etc. Dada a profundidade irreversível das mudanças que já acontecem e que vão se intensificar na próxima década, Cabe aos profissionais da arquitetura se incorporarem ao debate e se apropriarem do conhecimento da(s) tecnologia(s) e de suas possibilidades, para que possam previamente se adaptar as mudanças, se reciclar e tirar o máximo de proveito delas, em posição de vanguarda, antes que a mesma se especialize, e se torne restrita. Apropriar-se destas novas tecnologias, só tem a acrescentar ao profissional da arquitetura, tornando-o mais versátil e adaptado as demandas que existem hoje, ou que ainda estão por surgir. Orientador: Neander Furtado Silva Banca: Cynthia Nojimoto, Raquel Naves Blumenschein

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um olhar sobre os abrigos para pessoas em situação de rua no DF

Letícia Drummond de Oliveira Magalhães

Não sendo um problema exclusivo de países de terceiro mundo, é alarmante o número de pessoas em situação de rua em países ricos como Estados Unidos e alguns países da Europa. No Brasil, segundo o IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, em 2016, já havia 101.854 pessoas em situação de rua no país. No DF, estimou-se que essa população seria de 2,5 mil pessoas, podendo ser ainda maior devido à crise econômica e às altas taxas de desemprego que o país enfrenta atualmente. Frente a esse cenário, a Política Nacional para a População em Situação de Rua visa “orientar a construção e execução de políticas públicas voltadas a este segmento da sociedade, historicamente à margem das prioridades dos poderes públicos”. Aborda, então, a questão dos serviços de acolhimento temporários, abrigos, estabelecendo padrões e responsabilidades de cada entidade e órgão do governo. Apesar disso, a maioria das estruturas dos abrigos institucionais estão em descompasso com vários objetivos e diretrizes das políticas públicas. Muitos apresentam condições precárias de conforto, salubridade, segurança e humanização. Diversos projetos não levam em conta a humanização da arquitetura e o impacto que ela tem na autoestima dos usuários, visando apenas o baixo custo de 30

construção, realizando, dessa maneira, edifícios completamente impessoais, frios, e precários, o que pode impactar negativamente na recuperação dos usuários e fere o objetivo de o abrigo ser um local que remete à imagem de lar. Além disso, várias instituições não possuem espaços físicos destinado à demanda de profissionalização e promoção de aptidões. A partir de visitas técnicas foram levantados os principais pontos positivos e negativos de três instituições do DF, as quais se encontram a mais de 17 km da Rodoviária do Plano Piloto, local de maior concentração da população em situação de rua do distrito. A Unidade de Acolhimento para Adultos e Famílias – UNAF (1) é uma instituição governamental, localizada no Areal, fundada em 1990 e acolhe homens adultos, idosos e famílias. Dentre os aspectos negativos observados por lá temos: entrada da unidade intimidadora cercada com arame farpado; ambientes frios, monótonos e impessoais; integração deficitária entre banheiros e dormitórios; refeitório muito distante dos quartos e sem nenhum tipo de proteção durante boa parte do percurso; refeitório extremamente escuro; mobiliário de lazer e facilidades, como bebedouro, insuficientes para o contingente de 158 internos; área verde pouco aproveitada;

acessibilidade deficitária. Quanto aos aspectos positivos: apresenta biblioteca com boa iluminação natural e janelas dispostas de maneira a permitir ventilação cruzada; exposição de trabalhos artísticos realizados pelos abrigados nas paredes da biblioteca; uso de cores nas fachadas dos edifícios, evitando monotonia do branco e cinza; muita disponibilidade de área verde, apesar de subaproveitada. Diante dessa pesquisa e da situação de crescente aumento dessa população em condição de rua, é extremamente importante que se repense o modo de construção desses abrigos, uma vez que a arquitetura influencia diretamente na autoestima do ser, podendo contribuir ou desmotivar seu desenvolvimento. Sendo assim, a arquitetura tem grande participação no êxito dessas instituições, o que deveria provocar maior atenção e investimento, nesse quesito, por parte do governo. Orientadora: Cláudia da Conceição Garcia Banca: Carlos Henrique Magalhães, Luís Pedro de Melo e Cláudia da Conceição Garcia


taipa de pilão e sua aplicação na arquitetura contemporânea do brasil

Luiza Karan Maia

A terra foi um dos primeiros materiais utilizados pelo homem na construção civil. Atualmente os materiais predominantes são o ferro e o concreto. Contudo, não são renováveis e as etapas do seu ciclo de vida consomem muita energia e causam impactos negativos no meio ambiente. Construindo desta forma estamos esgotando nossos recursos naturais quando poderíamos estar utilizando um material que não gera resíduos em nenhuma fase do seu ciclo de vida, a Terra. A taipa de pilão é uma das técnicas com terra que mais tem se popularizado na arquitetura contemporânea. Ela consiste em camadas de uma mistura úmida de terra, água e areia que são comprimidas uma após a outra dentro de uma forma de madeira até que atinjam a altura desejada. As principais vantagens da construção com taipa são a regulação térmica e acústica, a resistência a compressão, ser à prova de fogo, sua durabilidade, a sustentabilidade, e as possibilidades de acabamento, as camadas da taipa são capazes de criar paredes únicas para cada projeto. De acordo com Daniel Mantovani (TERRA COMPACTA), construtor de taipa há 10 anos, a falta de conhecimento das pessoas é um dos principais motivos para o pouco uso da taipa de pilão, junto com os preconceitos que

as fazem associar taipa à construção rural. Para ele, os principais aliados são as causas ambientais, divulgação através da internet e o incentivo de arquitetos e designers que ajudam a vender o produto. No Brasil, atualmente existem alguns escritórios com projetos com esta técnica. Neles é possível notar características do movimento modernista e pós-modernista, isto facilita a comparação entre concreto e taipa e evidencia a possibilidade do emprego da taipa em projetos de arquitetura contemporânea. Se tornou característico a utilização de diferentes tipos de terra para tornar mais visível as camadas que compõem as paredes. Esta variação possibilita a personalização de acordo com o projeto e se tornou um atrativo para pessoas interessadas em novos designs. Em sua maioria, os projetos pertencem a arquitetos que não focam em taipa, mas projetam com outras técnicas com terra. Há também escritórios com um único projeto em taipa, mas que costumam projetar com técnicas usuais. As arquitetas que mais se destacam são Ana Veraldo, cujos projetos são majoritariamente feitos de taipa de pilão, e o escritório FATO Arquitetura. O histórico da taipa de pilão é vasto e possui exemplos que possam

assegurar seu bom desempenho. É uma técnica capaz de assumir o primeiro plano na indústria da construção civil, troca necessária para que haja uma mudança no cenário ambiental que se vive hoje. Sua matéria prima é gentil com o meio ambiente e não implica em perdas na qualidade construtiva. Para normalizar essa técnica será necessário estar mais presente em obras de alto nível, mas para isso é preciso investimento e interesse de entusiastas. Orientador: Oscar Luís Ferreira Banca: Luciana Jobim Navarro, Maria Cláudia Candeia

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design de mobiliário e brasília Imagens fornecidas pela autora

Milena Panhol Borges

O mobiliário possui uma relação intrínseca com a arquitetura porque é um elemento que garante unidade no espaço arquitetônico ao poder se associar à estética arquitetônica do local, imprimindo identidade ao projeto e permitindo uma vivência adequada e funcional no interior dos edifícios. Essa relação está presente desde o início da criação do design de mobiliário, que acompanhou o surgimento das grandes escolas de arquitetura internacionais, a exemplo da Bauhaus. Em Brasília, a proximidade entre o design de mobiliário e a arquitetura é bastante evidenciada por se tratar de uma cidade que, desde sua concepção até os dias atuais, une a arquitetura, a cultura e a arte, nos termos proposto pelo urbanista Lúcio Costa no documento intitulado “Relatório do Plano Piloto”. Ao longo dos anos, Brasília recebeu diversas mostras e eventos nacionais e internacionais que reforçam o caráter da cidade como promotora de cultura, arte e design. Nesse contexto da cidade de Brasília como polo de design, arte, arquitetura e cultura foram selecionados alguns profissionais, escritórios e oficinas que trabalham na produção de design de mobiliário autoral e que são influência no mercado de design brasiliense, nacional e internacional. Os 32

profissionais e escritórios selecionados foram: Aciole Félix, Ateliê Monolito, Danilo Vale, Dimitri Locicks, Marcelo Coelho, Rafaela Gravia, Raquel Chaves, Samuel Lamas, Studio Maré. Após a análise das peças de design de cada profissional, foi possível elencar particularidades na produção autoral de cada um deles. Apesar da individualidade de cada profissional, todos tiveram Brasília como inspiração. Relativamente à influência de Brasília na produção do design de mobiliário contemporâneo local, pode-se afirmar que os profissionais se inspiram em elementos diversos da estética local (arquitetura, arte, forma, material, elemento construtivo, paisagem natural) em diferentes gradações, resultando em especificidades nas peças analisadas. Sobre esse aspecto, existem designers e arquitetos que utilizam diretamente de elementos da arquitetura e do urbanismo da cidade de Brasília, como é o caso do designer Aciole Félix, autor do banco “Alvorada”, e Danilo Vale, autor da cadeira “Athos”, que se inspiraram, respectivamente, na estética arquitetônica do Palácio da Alvorada e nos painéis de azulejos do artística plástico Athos Bulcão. Já outros profissionais se apropriaram dos elementos estéticos locais de modo indireto. A título de exemplo,

foram citados o Ateliê Monolito, autor do criado-mudo “Quadrante”, que utiliza o concreto para a concepção da peça; o designer Dimitri Locicks, autor do rack “Carretel”, produzido com madeira local brasiliense e com características da arquitetura modernista e o arquiteto Samuel Lamas, autor da poltrona “Sonia”, cuja cor foi relacionada com a paisagem natural da cidade. Apesar de Brasília ter influenciado de maneira diferente a produção do design de mobiliário contemporâneo local, todas as peças analisadas remetem à cidade. Em razão disso, as pessoas que têm alguma vivência na capital podem desenvolver uma relação simbólico-afetiva com a peça de design. Orientadora: Cláudia Garcia Banca: Ana Flávia Rego Mota, Augusto Cristiano Prata Esteca


habitação de interesse social no distrito federal análise de projetos ao longo do percurso histórico

Nathalia Xavier de Oliveira

O objeto de estudo deste ensaio é a habitação de interesse social (HIS) no Distrito Federal (DF). O tema será abordado no percurso histórico e focalizará a concepção dos projetos urbanísticos e arquitetônicos, observando-se as transformações ocorridas, para a compreensão mais ampla do cenário atual da HIS no DF. Nos últimos anos a produção de habitação de interesse social (HIS) no Distrito Federal (DF) se caracterizou pela construção de conjuntos habitacionais de médio e grande portes localizados em áreas periféricas. Muitos desses empreendimentos foram produzidos no âmbito do programa Minha Casa Minha Vida e priorizaram o atendimento às expectativas da indústria da construção civil. Além de estarem nas margens do tecido urbano consolidado, esses conjuntos apresentam concepções urbanísticas e arquitetônicas padronizadas, que na maioria das vezes produzem espaços repetitivos que interferem na vivência e uso. Dessa forma contribuíram de maneira restrita para a solução do problema da HIS no DF. Em contrapartida a esses empreendimentos, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (CODHAB/DF) vem realizando concursos nacionais para a elaboração

de projetos escalas em diferenciadas e do Lucio Costa, passando pelos acampainseridos na malha urbana com a infra- mentos montados para a mão-de-obra estrutura adequada. Tais abordagens que atuou na construção da cidade, e são mais efetivas para a melhoria da enfim pelas ações das instituições de qualidade do habitar, uma vez que são planejamento habitacional: Sociedade concebidos buscando-se respeitar as de Habitações Econômicas de Brasília características do local ao invés de impor (SHEB) criada em 1962, substituída pela uma única solução para todos os casos. Sociedade de Habitação de Interesse Tendo em vista esse cenário da Social (SHIS) em 1964, e mais tarde produção de HIS no DF, pretende-se pelo Instituto de Desenvolvimento conhecer, no percurso histórico, formas Habitacional do Distrito Federal (IDHDF) de atendimento habitacional adotadas, que em 2007 se tornou a Companhia com foco na concepção urbanística e de Desenvolvimento Habitacional arquitetônica da produção da HIS. (CODHAB), atuante até os dias de hoje. Pretende-se identificar aspectos releA análise dos projetos contribuirá vantes que apontem as transformações para o aprofundamento do estudo históocorridas. O trabalho é composto por rico, exemplificando as ações implemenduas partes: o estudo histórico e a tadas por meio das políticas habitacioanálise dos projetos. nais e demonstrando a apropriação, na O estudo histórico abordará as prática, dos princípios orientadores. Os discussões políticas em que se desen- projetos para a análise foram escolhidos volveu a HIS no DF. Inicialmente será com o intuito de evidenciar as transforapresentado um panorama da HIS no mações na concepção arquitetônica e Brasil, que focalizará momentos rele- urbanística ao longo do tempo e são as vantes para o DF, como os Institutos Habitações Populares nas quadras 700 de Aposentadoria e Pensão (IAPs) e a sul, o Bloco JK, a Vila Nova Divinéia no criação do Banco Nacional da Habi- Nucleo Bandeirantes, os Blocos APT-02 e tação (BNH), observando-se os padrões 03, a Vila São José em Brazlândia, Itamaurbanísticos e arquitetônicos adotados racá no Gama e o Conjunto Habitacional para a produção habitacional brasileira. Sol Nascente. Na sequencia será exposto o caminho percorrido pelos órgãos de planejamento Orientadora: Cristiane Guinancio habitacional no DF, desde o processo de Banca: Maria Cecília Figueiras e adaptação para a realização do projeto Gustavo de Luna 33


utopias possíveis mobilidade urbana e veículos autônomos

Rodrigo Trindade de Sousa Macedo

M e s m o co m i n ve s t i m e n t o s massivos em transporte público, é quase impossível conceber um futuro onde o uso do transporte motorizado cesse por completo. Pensando, então, em maior produtividade e segurança em relação ao modo rodoviário, empresas de tecnologia estão desenvolvendo veículos autônomos, sendo capazes de realizar algumas ou todas as funções de um veículo normal sem necessidade de motorista. Se utilizados em larga escala, podem revolucionar nosso sistema de transporte ao deixar o trânsito mais fluido, menos dependente de estacionamentos, e mais seguros, onde o fator do erro humano seria drasticamente diminuído evitando assim uma série de mortes provenientes de descuidos, falta de atenção ou intenções criminosas. Uma das claras vantagens desse tipo de tecnologia seria a coordenação entre os carros no trânsito de forma semelhante a um cardume de peixes, fazendo com que os congestionamentos diminuam drasticamente. A necessidade de sinais de trânsito poderia ser reduzida com a adoção de rodovias inteligentes e carros conectados 34

entre si digitalmente, fazendo com que cada veículo tivesse noção dos próximos passos de seus “companheiros” de pista. A coordenação entre os veículos pode ser tamanha que equipamentos como semáforos e sinais de “PARE” podem virar artigos de museu. Um dos grandes vilões das políticas de mobilidade urbana, os estacionamentos podem estar com os dias contados. Os veículos autônomos seriam eficazes em eliminar esse problema por serem capazes de rodar a cidade ininterruptamente, se deslocando para atender mais pessoas, ou então indo a procura de um estacionamento fora do centro urbano. Com o fim da grande demanda por estacionamento teremos um espaço público valioso que poderia ser convertido em locais de circulação públicos voltados a população, mais praças e locais de lazer, espaço para residências de interesse social. Todavia, são muitas as barreiras para uma eventual adoção dessa tecnologia em escala global. Receios diversos quanto a segurança do sistema, questões legais, eventual mudança na infraestrutura, incerteza quanto a relação dos veículos com ciclistas e pedestres e a

possibilidade de aumento do desemprego são questões a serem debatidas posteriormente. Urbanistas concordam que é de extrema importância que olhemos com atenção para essa evolução tão importante. Caso isso não ocorra, poderemos estar piorando nossa qualidade de vida e segurança nas grandes cidades ao invés de ganharmos os prometidos benefícios dessa tecnologia. É preciso que esses veículos sejam muito bem desenvolvidos para que as falhas de fato não aconteçam e continuar a priorizar o pedestre e ciclista ao criar projetos de urbanismo. Os investimentos de transportes coletivos como metrô em rotas troncais seriam necessários e devem oferecer um preço menor que o veículo individual automatizado, que seria responsável pelas rotas mais “capilarizadas” dos indivíduos. Orientador: Marcos Thadeu Magalhães Banca: Maria Do Carmo De Lima Bezerra e Mônica Fiuza Gondim


análise da implantação do sistema bus rapid transit (BRT) no contexto de uberaba.

Vinicius Ciabotti Candido

A cidade de Uberaba, foi a primeira cidade no Brasil com menos de 500 mil habitantes a receber o meio de transporte BRT (Bus Rapid Transit), conhecido como localmente como VETOR (Via Especial de Transporte para Ônibus Rápido). Uberaba é uma das cidades que mais cresce no estado de Minas Gerais, cuja população aumentou em aproximadamente 15% na última década (IBGE 2010). Ao observar a mancha urbana de Uberaba, é possível notar uma aparente desconexão entre os diferentes bairros, semelhante a uma colcha de retalhos, referindo-se ao formato do tecido urbano, onde diferentes bairros são “costurados”, formando um conjunto heterogêneo e sem continuidade, no qual as unidades não possuem boas relações entre si (MEDEIROS, 2006). Essa configuração é resultante da expansão planejada localmente, sem levar em consideração o todo, e que resulta na necessidade de uma série de políticas urbanas voltadas para potencializar a integração da cidade e de seus habitantes. Portanto, é levantada a questão: se a implantação do sistema VETOR levou à uma melhora significativa na mobilidade, e se o mesmo está de acordo com

a expansão futura da cidade, prevista no Plano Diretor, pois sendo uma cidade em crescimento acelerado, é crucial para o seu bom funcionamento um entendimento adequado de sua expansão. Com base de dados sociais obtidos através do Censo Demográfico de 2010, tais como dados de densidade populacional, renda média familiar e uso do solo, e com o auxílio da Teoria da Lógica Social do Espaço, ou Sintaxe Espacial (HILLIER e HANSON, 1984), de modo a entender a lógica socioespacial da configuração urbana de Uberaba, as análises se concentraram nas variáveis de integração global (INThh), escolha angular normalizada (NACH) e integração angular normalizada (NAIN). Para as análises de sintaxe, foi elaborado um mapa axial representando o sistema viário da cidade com auxílio de imagens de satélite. A partir desses instrumentos, foi observado um desencontro entre a renda média da população e as linhas do sistema BRT implantadas, que não atende na sua totalidade as regiões de renda média mais baixa, além da falta de abrangência em futuras zonas a serem expandidas, previstas no Plano Diretor. Apesar disso, é importante ressaltar que

dois dos terminais VETOR da cidade estão localizados próximos a bairros financiados pelo projeto Minha Casa Minha Vida, o que é um ponto a ser considerado, visto que existem vários loteamentos do projeto pela cidade, representando uma parcela importante da população dependente do transporte público. Atualmente o sistema BRT em Uberaba representa uma melhora na mobilidade em geral, condição satisfatória, mas não ideal. A crítica em questão é que o sistema poderia ter dado mais importância à expansão prevista pelo Plano Diretor da cidade, e ter abrangido outras áreas de baixa renda, o que garantiria às novas linhas maior relevância ao passar dos anos. Orientadora: Maria Fernanda Derntl Banca: Ana Elisabete Medeiros e Carlos Henrique Magalhães

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o uso da madeira na arquitetura japonesa Vinícius Faustino de Oliveira Santos A madeira é um dos materiais mais versáteis utilizados na arquitetura. A variedade de texturas e tonalidades, possibilita aos arquitetos uma infinidade de escolhas e combinações que garantem beleza e identidade à obra. E umas das culturas que possui profunda intimidade com esse material, é a cultura japonesa. Segundo Fujii (2011), o Japão é um dos países em que mais se emprega madeira na arquitetura, possuindo as mais antigas construções no mundo. Essa estreita relação entre homem e natureza é o principal meio pelo qual a cultura japonesa se fundamenta, sendo um dos pilares mais importantes em que se apóia a compreensão de sua arte e arquitetura. A íntima relação que os japoneses possuem com a madeira transcende o campo da materialidade e atinge os âmbitos da espiritualidade e das tradições culturais. Como exemplo, o Xintoísmo, considerada religião oficial do Japão que influenciou consideravelmente os preceitos éticos e socioculturais dos japoneses, constitui-se de um conjunto de crenças de caráter “animista”, em que seres inanimados, tais como pedras e árvores, possuem 36

uma essência espiritual. Por essa razão, no Japão muitas árvores antigas de grande porte, shinboku (神木), são veneradas como locais sagrados. Essa reverência à natureza também é presente em eventos festivos, como o hanami matsuri (花見祭り), em que japoneses se reúnem para contemplar a floração das cerejeiras, sakura (桜), que ocorrem uma vez a cada ano. Além das influências nas cerimônias e crenças, a natureza também foi apropriada como um meio de inspiração e embelezamento artístico. As manifestações artísticas se concentravam em observá-la e tentar captar a essência natural que dela provinha. A poesia japonesa, haiku (俳句), e a pintura ukiyo-e (浮世絵) são claros exemplos disso, onde artistas se inspiravam nos gestos mais singelos da natureza, para compor suas obras. Essa tentativa de aproximação também é vista na arquitetura. A busca por uma relação harmônica entre homem e natureza é a principal característica na arquitetura tradicional japonesa, preterindo por estruturas leves de madeira, de tons naturais, que exprimam serenidade e

simplicidade. Como exemplo, o uso de divisórias de madeira, shouji (障子), enseja a flexibilização do espaço e a sobreposição das funções; e quando recolhidas, cria grandes aberturas convidativas ao paisagismo externo, além e prover os ambientes internos de ventilação e iluminação natural. Esse diálogo entre o natural e o construído, vem despertando o interesse de expoentes na arquitetura contemporânea, como Shigeru Ban, no qual, vem destacando temas relacionados à sustentabilidade e ao equilíbrio entre homem e natureza. Assim como os japoneses buscam nas suas tradições formas inspiradoras de usar a madeira, os brasileiros também podem buscar aspirações na arquitetura indígena, dotada de uma brasilidade autêntica, que se apropria da madeira como identidade, e igualmente possui bons repertórios que podem servir de inspiração para novas linguagens arquitetônicas.

Orientadora: Cynthia Nojimoto Banca: Neander Furtado e Raquel Naves


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NOVOS ARQUI TETOS 39



diplô


destaques travessias – corpo expandido da cidade Aluno: Fernando Longhi Pereira da Silva / Orientação: Raquel Naves Blumenschein

Travessias desce sobre a cidade como um corpo arquitetônico crítico que questiona as práticas urbano-arquitetônicas atuais e as engrenagens que movem o espaço da pós-metrópole, a cidade do futuro informacional. Como criar complexidade e densidade na malha urbana (uma forma de democratizar o espaço público) num gesto arquitetônico que não se encerra na imagem ou no objeto, mas sim, num sistema de relações, ou travessias, que extrapolam caminhos, formam novos espaços catalizadores de atividades comerciais, de serviços, de habitações. Em última instância, geram novos tipos de sociedade.

estação intermodal honestino guimarães Aluno: Gabriel Akio Ponte Arake / Orientação: Luciana Saboia

O projeto surgiu com a intenção de se repensar a mobilidade em Brasília no sentido leste-oeste. A proposta é de reconectar a cidade com um sistema de transporte mais ágil e com variabilidade de modais, integrando as linhas de metrô e ônibus existentes com uma linha de VLT perimetral ao Plano Piloto, novas ciclovias e o sistema de transporte lacustre. O sistema de transporte lacustre transpõe a maior barreira no sentido leste-oeste da cidade: o Lago Paranoá. Como estudo de caso, foi proposta uma estação intermodal de transporte lacustre que conecta a orla do lago à cidade.

requalificar samambaia Aluno: Herivelton Bispo L. Magalhães / Orientação: Gabriela Tenorio e Giselle Chalub

Vivemos uma crise do déficit habitacional, onde as cidades não podem mais continuar crescendo de forma espraiada, tendo que se reinventar para que seus centros urbanos se tornem mais compactos, com um maior número de atividade relacionadas, diminuindo distâncias entre o morar, lazer e trabalho. Samambaia é uma cidade que alcançou seu limite de expansão da malha urbana, mas que possui o potencial de requalificar seu centro, dando possibilidade de novas moradias, atividades e qualidade de vida.

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rodoferroviária - estação central brt Aluno: Jeferson Santos / Orientação: Cláudia Garcia

Ao unir aspectos urbanísticos e expressivo-simbólicos patrimoniais, o projeto busca melhorar a mobilidade urbana do Distrito Federal e a preservação da Rodoferroviária. Uma nova rede de transporte culmina em um terminal central, na Rodoferroviária, integrado à via EPIA, ocupando o edifício projetado por Oscar Niemeyer, hoje abrigando órgãos públicos, a serem transferidos ao Shopping Popular de Brasília. Essas mudanças agregam pessoas do dia-a-dia, potenciais comercial, educacional e cultural, em um contexto repleto de valores patrimoniais do Eixo Monumental e do Conjunto Urbanístico de Brasília.

thermae Aluna: Juliana Alves Dullius / Orientação: Eliel Américo

Thermae surge como uma reinterpretação do banho romano clássico para a contemporaneidade. O complexo de banhos se propõe a apresentar um espaço comunitário alternativo, visto que sua simples intenção como instituição de saúde e limpeza fora realocada para o banho privado em nosso tempo, o projeto retoma uma dimensão sensorial em uma arquitetura de reflexão e quietude. Dessa forma Thermae se mostra um convite à promoção de novas relações de lazer ligadas à natureza, ao monumental e aos novos e antigos rituais realizados nos processos de limpeza e relaxamento.

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Universidade de Brasília Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

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travessias – corpo expandido da cidade Fernando Longhi Pereira da Silva O fato de caminhar forma paisagens e nos fomenta a faculdade de ver e sentir a cidade ao percorrer a imobilidade material de objetos e acidentes naturais dos espaços urbanos. Esse hábito permite observar a confluência de linhas, as fugantes, os cantos do território que nos levam aos nossos objetivos fisicamente ou no pensar em devaneio. É uma experiência sensível e afetiva com os lugares. O traçado e a organização do solo, antes de constituírem apenas um momento de passagem ou travessia de aglomerações, formam novos espaços onde se alojam atividades comerciais e de serviços, as habitações e, em última instância, geram novos tipos de sociedade. Travessias desce sobre a cidade como um corpo arquitetônico crítico que questiona as práticas urbano-arquitetônicas atuais e as engrenagens que movem o espaço da pós-metrópole, a cidade do futuro informacional. O Corpo materializa-se no Bairro da Liberdade, em São Paulo, enclave de efervescências culturais e intensa dinâmica urbana – um livro aberto para descoberta de histórias e mudanças viscerais que contribuíram na construção de uma rica complexidade identitária. Seja em Lagos, Tóquio ou Berlim, Travessias guarda a mesma materialidade geradora: grandes prismas suspensos que ocupam a cidade, seu terreno formado por uma topografia de aço e concreto. O projeto desenvolve-se em rede como um tentáculo, um amplexo intimista na malha urbana em resposta à dinâmica metropolitana e à maneira com que arquiteturas tocam o espaço público. Seu padrão sóbrio, ortogonal e modulável aumenta o impacto em uma paisagem propositalmente surpreendente e delirante – pontos nodais nascem de áreas subutilizadas

e degradadas, expandindo eixos que balizam locais potenciais e atalhos que encurtam distâncias. A elasticidade de seus tentáculos interage com o tecido da cidade ora de maneira agressiva, perfurando e se sobrepondo, ora integrando-se a vias, alongando terraços e criando ruas verticais. O que dita sua relação com as arquiteturas é a maneira com que estas se relacionam com o espaço público – um condomínio que se fecha para si teria andares abraçados por áreas públicas, enquanto um edifício que se abre para a cidade teria seus acessos otimizados por novos níveis de conexão. O vocabulário de vigas, lajes e pilares recombinantes modelam uma megaestrutura que tem sua pluralidade resguardada pela maneira com que seus usuários se apropriam do espaço. Novas formas surgem e desaparecem, cambiam ao longo do tempo e não se cristalizam na imobilidade estéril que leva à obsolescência de lugares. Uma estrutura virgem e vazia à espera de histórias, apagadas e reescritas; um percurso de travessias constantes de memórias. O olhar crítico sobre Travessias permite-nos questionar e levantar hipóteses sobre fenômenos colaterais na redescoberta de espaços urbanos antes proibidos e desconsiderados. O que acontece quando multiplicamos os térreos da cidade e criamos novos caminhos multivetoriais e entremeios no ambiente construído? Orientadora: Raquel N. Blumenschein Banca: Elane Ribeiro Peixoto, Giselle Chalub Martins, Cláudia da Conceição Garcia e Neusa Cavalcante

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estação intermodal honestino guimarães Gabriel Akio Ponte Arake Desde a proposta inicial vencedora do concurso de Brasília, houveram diversas modificações do projeto original de Lucio Costa. Duas dessas modificações são cruciais para se entender o estado atual da cidade e a necessidade de se melhorar as conexões no sentido leste-oeste. A primeira modificação foi a adição de duas “camadas” ao Plano Piloto, as quadras 500/700 da W3 e as 600 da L2. Originalmente, o Plano Piloto foi pensado para ter somente as quadras 200, 100 e 300. Dessa forma, a cidade com caráter linear teria o percurso peatonal facilitado no sentido leste-oeste e o percurso norte-sul seria realizado pela via expressa que cruza a cidade: o eixão. Portanto, com a adição dessas quadras, a cidade se alargou no sentido leste-oeste, dificultando o percurso à pé. A segunda foi a implantação do Plano Piloto mais próximo ao Lago Paranoá, divergindo da intenção de Costa. O lago que serviria como um limite à cidade, acabou se tornando uma barreira para as áreas a leste do Plano Piloto. Lucio Costa no relatório Brasília Revisitada, nos anos 1980, indica uma enorme área a leste do lago a ser ocupada densamente por edifício de quatro pavimentos. Atualmente essas áreas tem sido ocupadas irregularmente por condomínios de luxo de baixa densidade. Isso ocorre também pela dificuldade de acesso à essas áreas pelo transporte público atual. A barreira que o lago proporcionou na história da cidade pode ser confirmada ao notar onde se deram (e se dão) as expansões até hoje, predominante no sentido sudoeste (Vicente Pires, Ceilândia, Samambaia, Recanto das Emas, Taguatinga, etc. Seguindo a principal via expressa da cidade, o Eixão. Frente à realidade atual da cidade 46

são propostas diretrizes para implantação de novos tipos de modais para a integração do transporte urbano. As linhas de metrô e ônibus pouco conectadas são reconectadas pelo VLT e transporte lacustre propostos. O VLT perimetral no Plano Piloto descentraliza a rodoviária central em estações intermodais perimetrais e o sistema de transporte no lago conecta as áreas a leste do lago com o Plano Piloto e a orla do Lago Paranoá. O VLT perimetral proposto foi baseado em estudos existentes do GDF sobre a implantação do VLT em Brasília. O sistema de transporte lacustre foi proposto seguindo o edital do concurso Orla Livre realizado em 2018 pelo GDF. A curto prazo, o Paranoá, Itapoã, São Sebastião e condomínios e regiões próximos à orla do lago possuirão acesso facilitado ao centro da cidade. Como estudo de caso, foi projetada uma estação lacustre intermodal que conecta a orla do Lago Paranoá com a principal do Lago Sul. A conexão da estação não fornece um percurso único, mas uma miríade de possibilidades de percurso de transporte no lago conectadas às vias de ônibus e VLT. A estação por estar localizada próxima à ponte monumental de Oscar Niemeyer (atualmente chamada de Costa e Silva), possui uma cobertura leve em madeira e aço que pousa na paisagem, fornecendo visuais amplas para o lago e dialogando com a ponte de Niemeyer. O volume contendo o programa de necessidades é encaixado na topografia do terreno, fornecendo uma leitura interessante na paisagem da orla do Lago Paranoá.

Orientador: Eliel Américo Banca: Joara Cronemberger, Ricardo Trevisan e Matheus Seco


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requalificar samambaia

Herivelton Bispo L. Magalhães Samambaia, localizada na parte sudeste do Distrito Federal, se desenvolveu com o avanço de ocupações unifamiliares e comércio local, que caracterizou sua malha urbana com um desenho fragmentado e espraiado, e ocasionou a formação de grandes áreas de vazios urbanos e lotes ociosos. Sendo uma região central de conexão entre bairros adjacentes, Samambaia apresenta um potencial de crescimento que pode gerar novos núcleos de atividades e empregos, moradias e lazer. O projeto consiste na requalificação do centro urbano a partir da criação de novas conexões e novas volumetrias, visando sempre o conforto do pedestre e a qualidade das áreas públicas, defendendo a ideia de se manter a malha existente, o máximo possível, atuando somente nas áreas vazias e públicas. Essa escolha é importante pois permite que o projeto possa ser aplicado com mais velocidade, por se tratar de áreas públicas, visando o desenvolvimento gradativo da demanda por comércio e serviço, ainda assim incentivando a criação de novas moradias, reforçando o papel social da cidade,

com objetivo de suprir um déficit habitacional e a oportunidade de uma família poder estruturar toda a sua rotina e vida dentro da cidade. Os pontos e intervenções do projeto giram em torno de 4 tópicos: Construção da via Transbrasília, Impedimento da expansão do metrô, manter o existente e priorizar o pedestre. A via transbrasília consiste na criação de uma conexão entre centros urbanos, desde Samambaia até a Asa Sul, a partir do aterramento das linhas de transmissão de alta tensão. O uso das diretrizes e parâmetros estabelecidos em seu documento (DIUR 03/2018), para a proposta do novo loteamento e novas tipologias na região do centro urbano e para as demais áreas, tem o intuito de promover uma linguagem e uma identidade para a cidade. Hoje o metrô supri cerca de 8% da população de Samambaia como o meio principal para ir ao trabalho. A expansão de uma linha que é subutilizada até uma área de baixa densidade, sabendo do potencial de conexão que a construção da Transbrasília e uma melhoria no sistema de integração e mobilidade do transporte público pode oferecer, é

mais eficaz que se use esse investimento para a melhoria das conexões da malha urbana já existente. O objetivo de se manter o existente é construir as conexões e novas volumetrias considerando ao máximo a malha urbana existente. Mesmo nas grandes áreas residenciais unifamiliares é pensado na requalificação somente da área pública, principalmente pelo fato da criação de micronúcleos de comunidade que cada quadra desenvolve. A criação de áreas livres públicas acessíveis e seguras para o pedestre é pensada com estratégias como: dimensionamento correto das calçadas, criação de vias compartilhadas em áreas de menor fluxo de veículos, determinação de fachadas ativas em novas edificações e a possibilidade de readequação das edificações existentes e a criação de vias peatonais para melhorar a rede de mobilidade do pedestre e diminuir o tamanho das distâncias. Orientadora: Gabriela Tenorio e Giselle Chalub Banca:Maria Cláudia Candeia, Mônica Fiuza Gondim, Valério Augusto S. de Medeiros, Hiatiane Cunha de Lacerda 49


rodoferoviária estação central brt Intervenção sobre preexistência aliada à mobilidade urbana Jeferson Santos Quatro frentes compõem o projeto: rede de transportes do Distrito Federal; intervenção urbanística no contexto da Rodoferroviária, intervenções arquitetônicas na Estação Ferroviária de Brasília como terminal, e Shopping Popular de Brasília com nova ocupação de órgãos públicos atualmente na estação. A Rede de Transportes do Distrito Federal consiste na criação de linhas de BRT, transporte de massa de baixo custo relativo, que atendam todas as regiões administrativas, principalmente trajetos para o Plano Piloto. Ela se aproveita de estudos de expansão previstas, porém com adaptações e adições: 1. Expansão Metrô: Asa Norte e Samambaia; 2. VLT-Eixo Monumental, Aeroporto e W3: modal BRT; 3. BRT-Novas linhas entre Plano Piloto e Regiões Administrativas pelas principais rodovias, integração com Metrô, bicicletas compartilhadas, e linhas circulares. A rede propõe 67 estações de metrô integradas com 413 estações de BRT, distribuídas por 428,4 km de vias adequadas a esse modal. 50

A requalificação urbana adequa a região da Rodoferroviária às demais intervenções. Indicou-se a demolição do viaduto de acesso do Eixo Monumental à via EPIA sentido sul. Em seu lugar, mantendo o fluxo já consolidado, é indicada uma via rebaixada, o que melhora a paisagem de fechamento do Eixo Monumental. Foram pensadas também alças de acesso, também rebaixadas, para os veículos de BRT. Concebida seguindo os fluxos existentes entre o Cruzeiro e a estação, os pedestres ganham uma passagem rebaixada ampla e segura. A praça foi projetada partindo dos fluxos de pedestres predominantes, proporcionando um ambiente não engessado, de áreas mais e menos arborizadas e elementos em cobre patinado. A intervenção na Estação Ferroviária de Brasília visa o uso como Terminal Rodoferroviária da rede de transporte, dando ao edifício uso cotidiano intenso, auxiliando na preservação patrimonial e também retomando o caráter transporte. O subsolo é ampliado, com a criação de pátios entre o terminal e a plataforma, dando mais salubridade aos ambientes. Procurou-se manter, mesmo em parte,

vegetação nesses novos espaços. O térreo chama quem chega ao edifício de BRT ou pela praça, com os painéis de azulejos de Athos Bulcão destacados, novos forros de madeira e áreas de estar. O pavimento superior apresenta usos lúdicos, como reativação do restaurante, criação de área de estudos, sala/auditório multiuso e Museu do Transporte de Brasília. A intervenção no Shopping Popular complementa o Terminal e se aproveita de um edifício polêmico em estética e importância no sítio, construído com recursos públicos. Esteticamente, ela busca amenizar o caráter destoante do contexto. Foram prensados brises em cobre patinado. O material, que mantém seu caráter natural de forma refinada, apesar de também chamar atenção, conversa com a praça, já tendo sido utilizado, e não tão agressivo como o policarbonato azul. O interior possui 4 blocos de salas entre áreas abertas, com luz natural e jardins, promovendo melhor estética e salubridade. Orientadora: Cláudia Garcia Banca: Ana Elisabete Medeiros, Monica Fiuza Gondim


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thermae Juliana Alves Dullius

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Termas é um termo que se refere aos locais de banhos públicos utilizados pelos romanos na Idade Clássica. A construção das termas clássicas foi ocasionada devido o desenvolvimento dos aquedutos em várias das cidades antes partes do Império Romano. O ato de se banhar diariamente é citável dentro do contexto clássico como derivado de cultos a divindades mitológicas como Hígia (Deusa da Saudade, da Limpeza e da Sanidade) e Panaceia (Deusa da Cura), ambas ditas filhas de Esculápio (Deus da Medicina). Contudo, com o crescimento do Cristianismo no Império Romano a associação entre os Banhos Públicos e o paganismo em sua origem ocasionaram proibições e seu declínio. Todavia algumas terapias relacionadas a prática da sauna conseguiram se restabelecer no Renascimento ao Norte da Europa e se mantiveram ao longo do tempo em Regiões da Ásia. Entretanto, somente na contemporaneidade o reassumir da água como um espaço de lazer é visto entre vários arquitetos. Os banhos públicos eram considerados comuns e cotidianos, hábitos praticados pelas mais diversas classes

sociais e a partir de tal conceituação se iniciou e se estabeleceu esse projeto. O ritual de banhos tradicional foi identificado e revisto: a sequência iniciada no apodyterium (uma câmara para se despir/trocar), em seguida o frigidarium (camâra de água fria), para o tepidarium (câmara morna) e logo o caldarium (banho quente). Após tais processos se realizava o retorno ao tepidarium para massagem (óleos/mirra/ raspagem). E o relaxamento nas salas secas (laconium) para finalização da sudorese. E enfim o retorno ao frigidarium para o fechamento dos poros e saída. Thermae, o complexo de banhos desenvolvido situa-se em uma pedreira de mármore desativada na província de Massa-Carrara na Itália. Tal local é escolhido com a intenção de reinterpretação de seu passado. O projeto foi composto por meio de formas ortogonais e foi implantado de modo a explorar a geografia acidentada do local e, assim, oferecer aos visitantes e banhistas visuais privilegiadas e momentos de contemplação. A arquitetura apresentada em Thermae visa trazer a essência dos

rituais clássicos de banhos romanos para o contemporâneo e ao mesmo tempo, integrar-se a natureza que o circunda. Para tanto, definiu-se os pontos em que se minava água da pedreira como local para implantação das piscinas e a partir desses pontos estabeleceu-se a centralidade da forma. A conexão entre as piscinas se concebeu um circuito ritualístico e conexão entre as piscinas. O desígnio do projeto não é somente o reinterpretar da água, mas sim incitar a regeneração do local apropriado em um ambiente comunitário. Assim sendo a concepção desse balneário público oferece uma opção para a higienização e hidroterapia, mas também se manifesta em um projeto utópico que dialoga com o sublime e a intimide humana.

Orientador: Eliel Américo Banca: Ivan do Vale, Neusa Cavalcante 53


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urbeet - espaço gastronômico

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Amanda Vital Barbosa A proposta busca incluir dentro da cidade, um local de lazer, compras, estudo e trabalho além de um respiro no meio urbano. Com fachadas que permitem permeabilidade visual, integrando a edificação com a natureza do entorno, o projeto busca trazer um atrativo para a Ponte JK e entorno. Formado por quatro pavimentos, o espaço gastronômico Urbeet, apresenta a forma de dois prismas retangulares ortogonais e as aberturas e soluções foram utilizadas visando a diminuição de insolação e garantindo conforto térmico e luminoso ao edifício. Além do uso de soluções para garantir a inserção de uma fazenda urbana na edificação. As fachadas utilizam soluções formadas por telas metálicas perfuradas e vedadas por esquadrias de vidros que funcionam como janelas e portas que permitem a entrada de ventilação e iluminação, mas preservando a visualização do seu interior. O edifício é aberto, sem muros ou fechamentos, e permite uma comunicação entre as pessoas, o entorno, e os espaços do Urbeet. Para definição dos espaços, baseando-se na metodologia do Design de Serviços e ferramentas, criou-se o mapa de Jornada dos Usuários. A partir do comportamento de consumo, e entendendo isso, pode-se determinar quais seriam os espaços existentes no complexo, e onde eles estariam, considerando um percurso ideal do cliente.

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Orientadora: Ana Carolina Lima Banca: Ana Paula Gurgel, Pedro Paulo Palazzo, Reinaldo Guedes, Renata Dutra Barreto


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party lights intervenção no centro de Brasília Ana Clara Daher O trabalho proposto tem como intuito proporcionar o uso noturno da plataforma rodoviária, através de instalações luminosas distribuídas ao longo do espaço. A luz como modificadora do espaço marca a dimensão expressivo-simbólica através da criação de um espaço não só de contemplação mas também de permanência, diferente da memória dos usuários diários da Plataforma Rodoviária. A instalação tem como uma de suas diretrizes criar uma escala intermediária na cidade através da criação de espaços de contemplação e permanência ao se propor uma arquitetura que não cria barreiras físicas, mas modifica a percepção pré existente de tal lugar. A intervenção luminosa na rodoviária divide-se em quatro áreas diferentes: a plataforma inferior da rodoviária, o buraco do tatu, as praças localizadas em frente ao Conjunto Nacional e CONIC e, por último, a área localizada entre os dois prédios. Através dessa intervenção artístico-arquitetônica pretende-se resgatar as idéias propostas no plano de Lúcio Costa no qual se tem a o centro da cidade como responsável por abrigar a diversão e a cultura. Utilizando-se do caráter imaterial da luz foi-se criada uma intervenção sem barreiras físicas, de modo a agregar às narrativas e configurações pré-existentes nossas experiências noturnas.

Orientador: André Costa Banca: Ariane Magda Borges, Carlos Henrique de Lima, Eliel Americo e Neusa Cavalcante 57


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homo liber – pavilhão serpentine Ana Paula Ribeiro de Santana Silva A Galeria Serpentine no Hyde Park de Londres possui uma tradição de quase 20 anos de exposições anuais de Pavilhões. O ambiente é propício à inovação, tanto formal quanto conceitual. O Homo Liber é literalmente o homem livre. É um reflexo da cultura dos nossos dias, cuja luta pela liberdade é a maior de todas as guerras. Os anseios pela liberdade de se expressar são latentes e, graças ao que o Homo Sapiens já viveu, são cada vez mais palpáveis. Implantado a 1,30m acima do nível do solo, a passarela parece flutuar no Hyde Park, em Londres. Barras de aço contraventadas oferecem sustentação para as placas metálicas da cobertura, que formam uma casca leve e fina. O percurso por uma passarela é linear. Ou seja, existe um começo e um fim. Em cada bloco do pavilhão é contada uma parte da história da humanidade. A peregrinação é, portanto, pela história da sociedade. O indivíduo vivencia em poucos minutos o que o ser humano vivenciou em milênios. A forma e o conceito, nesse caso, possuem a mesma relevância. Não há hierarquia, e sim, complementação. Por isso, o termo Homo Liber é tanto ao pavilhão quanto à exposição. Orientador: Eliel Américo Banca: Cristiane Guinâncio, Ivan do Valle, Neusa Cavalcante

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faculdade de gastronomia da unb Arthur Fortuna Alves Maciel A proposta da Faculdade de Gastronomia de UnB é de ser um instituto voltado para o ensino das artes culinárias, inserindo o aluno em um espaço funcionalmente adequado e com características ímpares. A Faculdade também traz para a capital a Escola Gastromotiva, funcionando como uma filial da mesma, garantindo um maior contato dos universitários com a proposta. O programa de necessidades reservou espaços destinados à graduação, pós-graduação, administração, sede da Gastromotiva, salas teóricas, cozinhas didáticas, auditórios, salas de professores, biblioteca, centro acadêmico, restaurante, hortas e uma praça linear de convivência. O sistema estrutural baseia-se em concreto armado pré-moldado, aliado a certos elementos metálicos, como os pergolados entre os blocos. Norteado pelos princípios da permeabilidade, transparência, contemporaneidade e sustentabilidade, o partido resulta em um edifício permeável que se conecta com o entorno e atrai seus visitantes, contando com muitos ambientes que podem ser vistos do lado de fora, além de possibilitar maior captação de luz natural. Além disso, foi feita uma releitura do programa clássico comumente adotado em escolas de culinária, fazendo uso de materiais, cores e estratégias de projeto contemporâneos. Paralelamente, o projeto visou a criação de um ambiente sustentável, fazendo uso de iluminação e ventilação naturais, materiais com boas propriedades térmicas, instalação de placas fotovoltaicas na cobertura e captação de águas pluviais para reutilização nas hortas e jardins, além de contar com espaço central de convivência bastante arborizado que promove a manutenção de um microclima agradável.

Orientadora: Raquel Naves Blumenschein Banca: Augusto Esteca, Érica Mitie, Sérgio Rizo 59


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vila entre gerações Beatriz dos Santos Rabetti

A Vila entre Gerações fica localizada na Asa Norte de Brasília, perto de universidades e faculdades para os jovens e um local de fácil acesso para os idosos. Além disso, próximo ao lote está o Parque Olhos D’Água, onde buscouse uma integração entre a vila e o parque. O espaço também busca promover a identidade local; incluir a vizinhança no interior do projeto; facilitar a orientabilidade e identificabilidade do usuário; proporcionar espaços fluídos e integrados; oferecer espaços humanizados e que respeitem a individualidade de cada jovem e de cada idoso, além de se preocupar com questões bioclimáticas. O edifício é predominantemente térreo e conta com dormitórios, espaços de lazer, serviços, administração e espaços de atendimento médico. O fluxo foi pensado de forma que os dormitórios tenham mais privacidade e os espaços de lazer e atendimento médico tenham acesso facilitado. A vila possui diversos pátios, dentre eles, há um principal, no interior do edifício que traz uma cobertura tensionada e um percurso colorido conforme programação visual do edifício, facilitando a orientabilidade e indentificabilidade. Orientadora:Ana Carolina Lima Banca: : Ana Paula Gurgel, Pedro Paulo Palazzo, Reinaldo Guedes e João Augusto. 60


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centro cultural de arte contemporânea Carla Conceição Barreto

O Centro Cultural de Arte Contemporânea surge com a intenção de compor a paisagem urbana local, num edifício aberto com diálogo físico e direto com o parque Olhos D’água, criando um fluxo de visitação para o espaço e uma área de observação da paisagem. Esta composição do espaço se insere no debate sobre a funcionalidade e a presença de determinadas edificações que promovam cruzamento de vetores urbanos favoráveis para a comunidade local e para a cidade. Nesse sentido, há a problemática que permeia o projeto que é a concepção da superquadra, como unidade vizinhança que deve oferecer seus equipamentos urbanos para a comunidade. Na intenção de atender as demandas de uso do espaço público, ocupação de áreas com destino a equipamentos urbanos e dar prioridade a população local, propõe-se a implantação do Centro Cultural próximo ao Parque Olhos D’água, na entrequadra 214/215 Norte. A fronteira entre arte e arquitetura se configura como um espaço discursivo que pode ser estreitado ou alargado por ambos os lados. Essas possibilidades ocorrem, no que tange os conceitos das linguagens, em experiências estéticas, visuais, corpóreas e no âmbito dos significados. Portanto, uma obra de arquitetura pode, em seu estado mais simples, conotar os sentidos da obra de arte, bem como a obra de arte pode em sua forma mais construtiva relacionar-se com arquitetura. Nesse sentido, e no âmbito da contemporaneidade, que há uma fusão entre elas.

Orientador: Carlos Henrique de Lima Banca: Eliel Américo, Neusa Cavalcante

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inferno Carolina Mignon de Oliveira Obra prima de Dante Alighieri (Florença, 1265 - Ravenna 1321), a Divina Comédia é um poema que narra uma viagem às três instâncias do além cristão: Inferno, Purgatório e Paraíso. Dante é o personagem principal e o narrador do poema, e conta com o auxílio de dois guias para a completude de sua jornada. Virgílio, poeta romano autor da Eneida, guia Dante pelo Inferno e pelo Purgatório, enquanto Beatriz, musa e amor platônico de infância do autor, guia Dante pelo Paraíso. O Inferno de Dante organiza-se em um cone escalonado de acordo com o pecado e seus pecadores, cada categoria separada em seu respectivo círculo (nível). Quanto mais profundo o nível, pior o pecado e sua punição e mais próximo de Lúcifer, que reside no último círculo. Foram selecionadas para o projeto as áreas de maior interesse arquitetônico na narrativa: o Vestíbulo (acesso), o Limbo (primeiro círculo), a Cidade de Dite (sexto círculo) e o Malebolge (oitavo círculo). Devido à particularidade de cada círculo no que diz respeito aos seus habitantes e as punições as quais estão submetidos, cada um dos níveis recebeu uma solução projetual distinta, que envolveu também a criação de figurinos e da topografia geral.

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Orientador: Pedro Paulo Palazzo Banca: Ana Zerbini, Eduardo Rossetti, Felipe Marcelino, Luciana Jobim, Natália Lemos e Sérgio Rizo


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edifício zanine Constanza Ceschin Manzochi Devido a demandas governamentais, instituições são criadas, modificadas ou extintas e, assim, instalações ficam sem uso. Edifícios abandonados diminuem a qualidade do espaço urbano, pois a dinâmica entre edificações públicas e seu entorno imediato interferem no bem-estar das cidades. Em razão disso, o intuito foi criar uma arquitetura integrada à cidade, para estimular o uso contínuo da área urbana, mesmo com a desocupação do edifício pela instituição pública. A nova sede da Empresa Brasil de Comunicação foi projetada para um terreno da empresa localizado no Setor de Rádio e Televisão Sul, em Brasília, e inclui ainda uso comercial, cultural e de lazer, além de proposta de pós-ocupação com habitações. Para facilitar a alteração de leiaute e de instalações foi feito o pré-lançamento estrutural, no qual utilizou-se tecnologias de madeira engenheirada, com a Madeira Laminada Colada e Madeira Laminada Colada Cruzada, aliadas a concreto e aço. A edificação homenageia José Zanine Caldas, e abriga uma galeria que teria como acervo permanente os trabalhos desse personagem ímpar da arquitetura brasileira e do trabalho em madeira, cujo centenário de nascimento foi celebrado em Abril de 2019.

Orientador: Ivan Manoel Rezende do Valle Banca: Cláudia da Conceição Garcia, Maribel del Carmen Aliaga Fuentes, Oscar Luís Ferreira, Giselle Marie Cormier Chaim. 63


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centro de apoio ao refugiado em manaus

Érika Ferreira Felix

Inserido no contexto da crise migratória, o projeto é um Centro de Apoio para Refugiados, uma instituição modelo para pessoas em situação de refúgio onde possam, em seu primeiro contato com a cidade para onde se deslocaram, ter um local que as recepcione e oriente em suas primeiras decisões e que mostrem as novas perspectivas no novo país, facilitando o acesso a setores ligados a burocracias, apoio psicológico, ensino, incentivo a inclusão no mercado de trabalho e alojamento temporário. A instituição será implantada na Região Norte do Brasil, no município de Manaus, capital do Amazonas. Manaus sendo uma capital que está recebendo cada vez mais deslocados pela proximidade com outras fronteiras, como por exemplo a Venezuela, carece de um centro modelo para apoiar e controlar de forma favorável esses fluxos migratórios decorrentes de crises econômicas e instabilidades políticas. Com um terreno em fita, nasce o desafio de ocupação de forma que crie uma nova passagem no quarteirão que amenize a sensação do lote extenso de 145 metros e o clima quente e úmido. O desenho foi desenvolvido de forma que comunique com o entorno, agregando a noção de integração e acolhimento do refugiado.

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Orientador: Carlos Henrique Magalhães Banca: Ariane Borges, Eliel Américo, Neusa Cavalcante


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quando o parque é da cidade novas relações entre o Parque da Cidade e seu entorno Fernanda Cunha Pereira

Objeto deste trabalho, o Parque da Cidade é considerado o 2º maior parque urbano do mundo. Seu caso se torna peculiar se observado seu atual caráter de subutilização frente ao seu potencial, considerando sua extensão, localização privilegiada e seu atributo de relevância como equipamento de lazer, saúde e qualidade de vida do brasiliense. O diagnóstico, embasado nas deficiências e potencialidades do Parque, considerou a evolução urbana e distribuição do solo em seu arredor, que acabou por literalmente dar as costas a este espaço público, criando vazios e barreiras que culminam até hoje na dificuldade de acesso ao Parque por quaisquer outros meios senão os automobilísticos. Nesse sentido, o projeto busca aprimorar as relações do Parque com o seu entorno e propõe a reestruturação do sistema viário, priorizando pedestres e ciclistas, a promoção da legibilidade dos percursos e de identidade às vias de acesso a ele, o incentivo a fachadas ativas e nova proposta de usos, atividades e paisagismo nas áreas ociosas de seu perímetro. Por se tratar de uma área muito grande, a proposta se divide em 5 interfaces do parque é apresentada em ações estruturantes, de forma a primeiro criar a infraestrutura que possibilite a chegada ao parque e em seguida a criação dos novos usos que permitam a permanência e a utilização do parque de forma espontânea e cotidiana.

Orientadora: Gabriela Tenorio Banca: Claudia Garcia, Cristiane Guinancio, Paulo Tavares

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atelier itinerante

intervenções efêmeras de moda no DF

Fernanda Sampaio Cavalcante Pedrosa O Atelier Itinerante procura resgatar o sentido de comunidade e identidade por meio do incentivo à moda no Distrito Federal. Pensado como uma instalação arquitetônica em que aconteceriam oficinas de corte e costura, eventos de moda e com capacidade para atender a 159 alunos por turno. Com a estratégia de atender o maior número de pessoas de diferentes localidades chegou-se a conclusão da necessidade da itinerância do projeto. A itinerância se concretiza por meio da utilização de estruturas de andaime. Assim, o projeto nasce na sua multiplicidade como uma trama de base para que os volumes coloridos provenientes das salas saltem, num jogo de ilusão de ótica. O seu exterior fechado, colorido provoca àqueles que transitam nas suas proximidades num intuito de instigá-los a adentrar e descobrir o seu espaço interior. A utilização de materiais reutilizáveis, lançando mão da simplicidade, nega os conceitos de obsolescência, indo na contramão do consumismo semeado pelo universo da moda, e ainda transparecem assim, o objetivo do edifício. O edifício mesmo que de caráter efêmero se propõe a ser um marco na sua passagem, seja pelo seu impacto visual ou pelas transformações que as suas temporadas propõem. 66

Orientadora: Carolina Pescatori Banca: Benny Schvarsberg, Luciana Saboia, Giselle Chalub e Patrícia Gomes


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centro interativo de ciência e tecnologia Eduardo Barbosa Lusa O Centro Interativo de Ciência e Tecnologia trata-se de um local novo, que desperta o interesse de crianças e adolescentes para o conhecimento científico, assim como o conhecimento prático, que através da interação de aparelhos e experiências, traz uma maior diversidade para a educação no Distrito Federal. Implantado no Parque da Cidade Sarah Kubitschek e voltado para o Eixo Monumental, o edifício possui um fácil acesso a todos e está próximo as principais atividades sociais da cidade. A localização cria um novo ponto de interesse para a principal entrada do parque e para uma área subutilizada e nobre de Brasília. O Centro conta com salas de exposições, biblioteca, auditório, café e uma praça central ao ar livre. A sua forma circular remete ao átomo, unidade básica da matéria, e tão amplamente estudada pelas ciências. Assim, o projeto abraça todas as formas de conhecimento e de tecnologias, assim como todos os seus visitantes. Orientador: Ivan Manoel do Valle Banca: Eliel Américo Santana da Silva e Neusa Cavalcante 67


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arquitetura escolar sistemas modulares para escolas

Gabriela Ferrari Villarino O sistema construtivo tem como partido a grade modular e o triângulo, criando um código singular de fácil reprodução. A grade desenvolvida é de 90x90cm, o mínimo para uma porta acessível, e a peça modular é um triângulo com base e altura de 180cm, sendo peças de fácil transporte. A Escola Classe Sol Nascente utiliza esse módulo em sua estrutura. Localizada no trecho 2 do SHSN a escola cria não só o espaço formal escolar no bairro, mas também espaços de praça, cultura e lazer para os moradores da região. A construção se divide em três etapas: as fundações pré moldadas, a superestrutura modular e o fechamento por alvenaria. O programa de necessidades inclui, além dos espaços escolares formais, uma biblioteca e um auditório de pequeno porte e ainda quadra esportiva descoberta, áreas verdes abertas e, por não ter muros, integra-se ao bairro ao estabelecer um ponto visual e de clara identidade, sendo caracterizado como um marco topoceptivo na paisagem do Sol Nascente. A escola se desenvolve um partido linear, sendo complementada pelo volume do restaurante que cria um fechamento ao lote.

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Orientador: Carlos Henrique Magalhães Banca: Cláudia Garcia, Eliel Américo, Raquel Blumenschein


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complexo das rodas

Júlia Costa de Almeida Abreu O esporte é uma atividade que emociona os brasileiros e impulsiona o nome do Brasil no cenário mundial. As crianças se interessam por esportes desde cedo, evidenciando, assim, a grande contribuição dos mesmos na área social. Porém, há muitos anos, os atletas reclamam de falta de incentivo e patrocínios. O projeto vem então com o intuito de disseminar a patinação artística, o Hóquei e o skate pela cidade. Desta forma, pretende-se criar novas oportunidades para os praticantes desses esportes. Por isso a ideia de juntar a prática do skate, um esporte de cunho mais popular, com os esportes mais de elite, como a patinação e o hóquei. Com isso em mente, a proposta do projeto é levar um complexo desse porte para mais próximo dos jovens de todas as classes sociais. Optando por uma localização privilegiada na Asa Norte de fácil acesso, próxima a UNB, ao Parque Olhos D´água, às instituições na L2 Norte e a comercial local. É um local que os jovens costumam frequentar, o que contribui para uma maior quantidade de usuários do edifício. Além desse propósito, pretende-se criar um lugar de convivência para a população local, com a inserção de uma praça combinada com a pista de skate, e um comércio com restaurantes para uso coletivo.

Orientadora: Cláudia Garcia Banca: Oscar Ferreira, Caio Frederico e Silva, Gabriela Tenório e Amanda Cazé

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parque de exposições agropecuárias Kamila Karen Fernandes Gomes Um Parque de Exposições Agropecuárias constitui um equipamento urbano multifuncional destinado à realização de eventos voltados ao agronegócio e também eventos de caráter cultural, social, educacional e institucional. O espaço deve apoiar o desenvolvimento de ações voltadas para a agropecuária, estimulando participação local, regional e nacional, como também intercâmbio com a comunidade, sociedade civil, órgãos públicos e entidades privadas nos processos de incentivo aos negócios destinados à agricultura e pecuária. Geralmente os Parques são lugares onde a cidade encontra seu limite, a zona rural, nas diversas escalas e dimensões arquitetônicas. Dessa forma, o trabalho busca explorar a localização do sítio destinado ao Parque, e procura integrar cidade e universidade por meio do uso populacional como entretenimento e do uso acadêmico com o desenvolvimento de pesquisas agropecuárias e de gestão ambiental. Além disso, visa valorizar a cultura e a principal fonte de economia local, o agronegócio, e representa mais um possível ponto turístico para a região, contribuindo assim, para o desenvolvimento econômico local.

Orientadora: Raquel Blumenschein Banca: Augusto Esteca, Érica Mitie Umakoshi e Sérgio Rizo Dutra 70


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morar coletivo

unidades habitacionais de interesse social

Karinne Buson Pfeilsticker de Oliveira A moradia é uma neces¬sidade humana básica. Dessa maneira, é de extrema importância para o desenvolvimento social e para a dignificação humana que as pessoas tenham acesso à moradia adequada. O tema busca trazer reflexões sobre a produção de moradias sociais. Acredita-se que devam ser levadas em consideração as necessidades básicas das famílias para as quais se pretende projetar, ofertando espaços confortáveis e agradáveis. O projeto não se restringe ao planejamento de espaços demasiadamente escassos e ao corte excessivo do custo com os materiais, por não acreditar que essa deva ser a resposta para uma moradia digna. É necessária a produção de habitações de qualidade e, que atendam às demandas das diferentes famílias e possíveis trans¬formações destas ao longo do tempo. Atualmente há uma elevada demanda de habitações para suprir o déficit habitacional do Distrito Federal. O projeto propõe um conjunto habitacional de uso misto para a cidade de Santa Maria- DF. No térreo localiza-se o comércio e os serviços, e nos pavimentos superiores estão as unidades habitacionais. Para atender às diversas necessidades familiares foram projetadas duas tipologias de unida¬des habitacionais. Foi dada grande importância para a adequada inserção na malha urbana, além do confortável dimensionamento das unidades e um apropriado diálogo com o contexto socioespacial no qual o empreendimento está inserido. As unidades possuem ventilação cruzada, conforto térmico e apartamentos vazados, soluções sustentáveis que ampliam a qualidade de vida dos moradores.

Orientadora: Maria Cecília Gabriele Banca: Ana Flávia Rego Mota, Cláudia Garcia, Dandara Ramos e Renan Balzani 71


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praça do estudante da cei rolezinho central

Kariny Nery de Moraes

Com o objetivo de valorizar e reafirmar o espaço público na área central da Ceilândia-DF, a Praça do Trabalhador, buscou-se analisar, por processo participativo, as potencialidades locais e a diversidade cultural e social para auxílio das diretrizes finais da proposta. Nesse sentido, não se estabelece uma relação direta entre o movimento Rolezinho, iniciado em São Paulo, mas busca-se entender a geração de jovens que se encontram em situação de desfavorecimento social, cultural e espacial. Considera-se, portanto, o” rolezinho” como uma apropriação do espaço público concedido ao cidadão por direito. O processo participativo se deu por meio da aplicação de questionário, realização de mapa mental, produção de eventos (o piquenique e o samba da Cei), mapeamento dos padrões, oficina de horta urbana, oficina de fotografia sob a ótica negra, painel interativo, pintura de praça e mobiliário de pallet. O processo teve a participação de um público flutuante entre 350 a 400 pessoas que resultou em dois mapas de propostas comunitárias, os quais posteriormente, foram complementados pela análise técnica das dimensões morfológicas e pelos padrões de projeto. A proposta não se posiciona como um projeto ideal, mas sim como o início de um processo que engloba os verdadeiros usuários do espaço: a comunidade. 72

Orientadora: Liza Maria de Souza Andrade Banca: Caio Frederico e Silva, Luiz Eduardo Sarmento, Maribel Aliaga e Vânia Raquel Teles Loureiro


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espaço cultural árabe

Katia Alsaoub

O Conceito do Projeto é que o espaço possa representar o conceito de cultura, expressando todos os elementos nela contidos. Primeiro é o Idioma que é o elemento mais importante, o árabe é uma língua rica e antiga, também conhecida como a língua de “Dād”, letra e fonema que somente o idioma árabe possui, por isso é assim chamado. O centro do Espaço Cultural foi arquitetado no formato desta letra. A Civilização/História Apresenta-se como um corredor cultural, chamando a atenção de quem passa na da Via L3 para Via L2. Consiste em painéis que mostram a história dos países árabes e conecta o suque – mercado árabe à exposição. E a Arte que dá um caráter especial a cada cultura é representada por um teatro de Arena localizado no ponto da letra “Dad”, adaptado na forma antiga da escrita do ponto em árabe (cetros). O elemento de tradições da cultura estão presentes no Suque. A Gastronomia O espaço possui um restaurante, pois a culinária também está representada no conceito de cultura. Por fim, não há dúvida de que a Arquitetura reflete a cultura e o pensamento das pessoas e sua influência. A fim de alcançar este ponto no projeto, o pátio foi colocado entre os dois blocos, o Muxarabi e outros elementos.

Orientadora: Maribel Aliaga Fuentes Banca: Claudia Garcia, Ivan Do Valle e Oscar Ferreira 73


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uma avenida na rodovia projeto de requalificação viária da br-040 em valparaíso de goiás

Késia Balduino da Silva Valparaíso surgiu no contexto das cidades formadas pela migração de trabalhadores para a construção de Brasília. É na capital que significativa parte da população de Valparaíso trabalha, estuda e se diverte. As relações institucionais se efetivam no Goiás e o cotidiano se materializa no DF. A maior parte da comunicação intermunicipal ocorre por meio da BR-040. O município ainda possui significativa ocupação da zona lindeira, o que acarreta na presença intensa de pedestres, ciclistas, e veículos locais, fazendo com que a rodovia assuma características operacionais não previstas. Assim, o respectivo estudo trata da problemática das rodovias urbanas – tema recorrente no Brasil. O trabalho partiu de quatro referenciais teóricos: mobilidade urbana, sistemas de espaços livres públicos, reabilitação e requalificação urbana. A partir da análise, diagnóstico e prognóstico, se estabeleceu diretrizes: criação de via de contorno para a rodovia; criação de corredores para conexão da malha viária; implantação do BRT – projeto previsto pelo governo de Goiás que visa conectar o terminal de Santa Maria (DF) com Luziânia (GO); redimensionamento das caixas viárias; ciclovias; espaços livres públicos; arborização e paisagismo; e preservação da Passarela Amarela – marco local. Portanto, o projeto visou corrigir os aspectos negativos, evidenciar as potencialidades e melhorar a qualidade do espaço público. 74

Orientadora: Gabriela Tenório Banca: Maria Claudia Candeia, Mônica Fiuza Gondim e Valério Augusto Soares de Medeiros


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centro comunitário de taguatinga espaço de arte, cultura e lazer

Luana de Jesus Nascimento Com o intuito de disponibilizar para a população um espaço que, de forma simples e competente, permita o exercício de seus direitos de cidadania, o novo Centro Comunitário de Taguatinga buscou através do seu amplo programa de necessidades atender a todos os grupos, de diversas faixas etárias e classes sociais, e desenvolver serviços e atividades que gerem a inclusão social, através de áreas esportivas, aquáticas, lúdicas, entre outras. A localização em Taguatinga, próximo à estação de metrô, se deu devido a necessidade de atender as regiões que circundam esse centro como a própria região, Ceilândia, Samambaia e Aguas Claras (tendo em vista que essas quatro regiões representam 43% de toda a população do Distrito Federal). O partido arquitetônico surgiu a partir do conceito de fusão, buscando remeter a conexão entre os usuários e o próprio edifício, desencadeando o sentimento de pertencimento do espaço. Por meio do concreto e do aço, os três blocos bem distintos buscam se conectar através de rampas e passarelas, onde estes elementos metálicos penetram os blocos, criando a sensação de integração de todo o partido.

Orientador: Eliel Américo Santana da Silva Banca: André Gonçalves da Costa, Carlos Henrique Magalhães de Lima, Neusa Cavalcante 75


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waldorf na vila

Luísa Barbosa Rodrigues Tendo em vista a localização das escolas construídas no Distrito Federal, optou-se para a consolidação deste projeto, de arquitetura escolar, um terreno vazio da Vila Planalto, bairro de Brasília que não possui instituições de ensino público. A escola Waldorf na Vila, baseada na busca da essência do ser humano por meio da criatividade e das artes, procurou materializar a filosofia das escolas Waldorf, de Rudolf Steiner, por meio de um partido fluído, com volumes conectados e permeáveis possibilitando uma percepção diversificada dos espaços. O projeto contempla o currículo Waldorf com salas diferenciadas e espaços amplos para aprendizagem e atividades diversas para os alunos e famílias. Dois blocos, o bloco de esportes e o do refeitório, são abertos também à população da Vila Planalto. Os dois blocos de salas de aula são conectados por rampas e cobertos por uma grelha metálica translúcida, trazendo para o centro da escola um espaço de convívio, encontro e brincadeira com iluminação natural. Utiliza-se como sistema construtivo a Madeira Laminada colada e o CLT, se aproximando da natureza e de espaços aconchegantes.

Orientadora: Maria Cecília Gabriele Banca: Carlos Henrique Magalhães de Lima, Cláudia Garcia, André Velloso 76


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penitenciária de segurança máxima Marcus Vinícius Cuquejo Sodré Projetada pelo arquiteto e urbanista Lucio Costa e considerada a maior área tombada do mundo, Brasília foi premiada como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1987, cuja forma pode ser considerada a característica mais visualmente peculiar do projeto, composta por seus elementos protagonistas do traçado: o eixo monumental e o eixo rodoviário. Contudo, a cidade se desenvolve além do projeto urbanístico. Considerando a desigualdade existente no histórico de Brasília somado ao aumento contínuo de criminalidade, ao descaso da sociedade e aos investimentos insuficientes afim de suprir minimamente a demanda, vemos a supersaturação de estabelecimento penais como reflexo desses lamentáveis fatos. Diante dessa inspiração, surge a primeira ideia de nome para uma nova Penitenciária de Segurança Máxima Masculina de Brasília: Eixo Penal. Embora seja um nome de inspiração mais inteligível e tomando também como inspiração a origem do próprio nome do complexo penitenciário (Papuda), decide-se deriva-lo, passando da sua aparência mais “formal” para um nome de figura mais simples: Eixaço. Não somente suas geometrias podem ser associadas aos eixos, como também suas funções. A vivência (como pessoa presa) nesta arquitetura, consequente de um processo penal, é apresentada como possíveis diferentes eixos funcionais: eixo de punição, de reflexão, de arrependimento, de ressocialização e de vigilância.

Orientadora: Augusto Cristiano Prates Banca: Ivana Almeida de Figueiredo Jalowitzki, Raquel Naves Blumenschein, Sérgio Rizo Dutra 77


espaços públicos no sol nascente

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construindo urbanidade Mayara Alves Barbosa Neres

O Sol Nascente, localizado às margens da cidade satélite Ceilândia,-caracterizada como a mais populosa do DF-,se formou a partir de fracionamentos irregulares a partir da década de 90 e itensificada a partir de 2000, com suporte de grileiros e ocupações.O setor evidenciou um crescimento acelerado da mancha urbana, e com a expansão, também se apresentaram carências diante da falta de infraestrutura, que não acompanharam a itensificação urbana no Sol Nascente. Dez anos depois de sua criação legal, no setor ainda é ausente a coleta de lixo domiciliar, baixa infraestrutura urbana e carências de equipamentos públicos. O trabalho se caracteriza como uma pesquisa exploratória, que compreende o diagnóstico urbano, com base nos estudos de morfologia de desenho urbano¹ e padrões de desenho urbano². A partir do estudo de impacto ambiental, socioeconômico, funcional, topológico, análise sintática e a participação comunitária no desenvolvimento do projeto. A problemática explorada neste estudo é a de como transformar a cidade com intervenções de baixo para cima a partir do entendimento da dinâmica socioespacial local, sua vida urbana. Buscam-se soluções de baixo custo para um espaço público que carece, entre muitas coisas, de lugares de sociabilização que vençam a insegurança e a dureza do espaço da rua. Espera-se que possam ser, em parte, gerenciados pelas próprias entidades comunitárias, quando mais simples ou,se mais complexas e globais, que sejam diretrizes projetuais a partir da demanda popular para as instâncias públicas, que estes possam reivindicar. Com o propósito de promover alguem instrumento facilitador da compreensão de principais problemáticas e soluções, ao fim do estudo foram produzidas cartilhas gráficas e didáticas com as possíveis soluções de acordo com a demanda de problemas levantadas nas etapas do diagnóstico em diferentes escalas, cujo foram direcionados os atores competentes para tais possíveis intervenções. 78

Orientadora: Vânia Loureiro Banca: Maribel Aliaga Fuentes, Paulo Tavares, Orlando Vinícius Rangel


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a mesma cidade, novos modos de habitar Melissa Caetano Melo Intervenções urbanísticas e arquitetônicas que podem ser aplicadas ao longo da Via W3 Sul. Como exemplo, foi escolhido o Bloco C da quadra SCRS 507 e suas imediações. Essas intervenções têm como objetivo aproveitar o potencial habitacional identificado na via, através da inclusão de habitações economicamente acessíveis. Essas habitações correspondem às novas dinâmicas da vida urbana, abrigam várias faixas de renda, tipologias familiares e usos, afim de tornar o local democrático e diverso. Afim de possibilitar que populações de baixa renda usufruam dos benefícios de habitar o centro, decidiu-se intervir no Plano Piloto, em Brasília. O local escolhido foi a via W3 Sul, por sua simbologia na memória da cidade, sua potencialidade e pelo lamentável estado de abandono em que ela se encontra hoje. O projeto consiste em diretrizes facilmente aplicáveis ao longo da Via. Como exemplo, interviu-se no Bloco C da quadra SCRS 507 e em suas imediações. Essas diretrizes têm como objetivo aproveitar o potencial habitacional identificado na local, através da inclusão de habitações economicamente acessíveis. Essas habitações correspondem às novas dinâmicas da vida urbana, abrigam várias faixas de renda, tipologias familiares e usos, afim de tornar o local democrático e diverso. Além de uma nova proposta para a seção viária da W3 Sul, com a inclusão de uma linha de VLT e ciclovias propõe-se também um edifício de cinco pavimentos voltado para a w2 e uma intervenção na parcela frontal dos lotes do Bloco “C”, onde toda a estrutura existente do edifício foi mantida, dois pavimentos em estrutura metálica acrescentados e os demais elementos do edifício foram demolidos, dando lugar à novos usos.

Orientadora:Ana Flávia Rêgo Mota Banca: Claudia da Conceição Garcia, Maria Cecilia Filgueiras, Renan Balzani 79


céu na terra

diagrama metodológico do trabalho Imagens fornecidas pela autora

construindo cenários sustentáveis no assentamento oziel alves III Raíssa Mesquita Ganzelevitch Gramacho

Sendo um trabalho com caráter de extensão, articulações foram necessárias para a construção de uma rede de apoio. Assim, comecei participando de mutirões de manejo e plantio do assentamento Oziel Alves III, para então realizar as atividades participativas do trabalho, discutindo questões ambientais, econômicas, territoriais, sociais e culturais. O assentamento, conquistado pelos seus moradores junto ao MST, encontra-se no extremo Nordeste do DF, em Planaltina. Compõe um território de 2187 hectares (maior assentamento da reforma agrária no DF), em que mais de 180 famílias se distribuem em 168 chácaras dispostas sobre o território em formato de Agrovilas. Dentre os fatores ambientais, destaco os avanços agroecológicos promovidos pelos assentados e seus parceiros como forma de recuperar as áreas degradadas pelo pasto, fator extremamente importante diante da condição de todo o território do assentamento como recarga de manancial do rio Pipiripau. Dentre os fatores territoriais, apesar de inúmeros, destaco a necessidade de se ter uma ação mais horizontal, compartilhando ferramentas e técnicas para o maior empoderamento socioeconômico dos assentados, e valorizando seus saberes tradicionais.

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Orientadora: Liza de Andrade e Osmar Coelho Banca:Benny Schvarsberg, Camila Maia, Carolina Alzate, Cristiane Barreto, Liza de Andrade, e Vânia Teles


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hipnacoteca maravalhas um museu rural no urubu

Raul Brochado Maravalhas

O nascedouro da produção imagética de Nelson Maravalhas Jr. é um lugar limiar, na transição do sono com a vigília. Nesse estágio, chamado hipnagógico, quando se vai em direção ao sono, ou hipnopômpico, quando se afasta dele, pululam em algumas pessoas imagens ou sons enigmáticos. Seja “decalcando” essas imagens, seja reproduzindo sua lógica na pintura, está ali a fonte criativa do artista. A “Hipnacoteca”, neologismo formado pela junção de dois vocábulos gregos, hypnos (“sono”) e theke (“baú”), é um local para guardar, conservar e divulgar a obra do artista, que teve na pintura seu meio preferido de expressão plástica. Não por acaso, a Hipnacoteca é, em grande medida, uma pinacoteca. Um museu localizado na chácara onde o artista viveu e produziu nas últimas duas décadas, um museu rural, portanto. Para além disso, entende-se que o equipamento cultural em questão deva funcionar com atividades pedagógicas e culturais, visando um público diverso, que abarque estudantes de escolas públicas, habitantes da região, universitários e artistas do país. O programa incorpora, para além dos espaços expositivos e de apoio para seu funcionamento, outras atividades, como biblioteca e auditório/ cinema ao ar livre. Já a forma arquitetônica busca um diálogo teórico com a obra do artista e um vínculo prático com o terreno, tão presente na sua produção.

Orientador: Carlos Henrique de Lima Banca: Cláudia Garcia, Eliel Américo, Lia Tostes e Neusa Cavalcante 81


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centro integrado de reciclagem de vidro nzeb Roberta Carolina Assunção Faria

Diante da dinâmica mundial de grande produção de bens de consumo, o descarte de lixo vem sendo cada vez maior e feito de forma inadequada, gerando impactos negativos ao meio ambiente. Muitos países já discutem e praticam novos modelos de descarte e tratamento do lixo, como Japão, Austrália, Alemanha, entre outros, e de modo muito incipiente no Brasil. Neste sentido, está sendo proposto um projeto de um Centro Integrado de Reciclagem de Vidro – NZEB para o Distrito Federal com proposta construtiva modulada do Projeto Arquitetônico. O projeto do Centro tem como intuito contribuir de modo inovador com a gestão do lixo em grandes cidades, trazendo novos modelos de locais de tratamento do lixo, produção industrial e produção de energia descentralizada. A implantação do projeto contribui diretamente para qualidade ambiental do DF com a redução do descarte incorreto do vidro, que atualmente é considerado rejeito, mas é um material 100% reciclável. Orientador: Ivan Manoel do Valle Banca: Cláudia da Conceição Garcia, Cristiane Guinancio e Oscar Luís Ferreira 82


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hostel w3 e espaços integrados para socialização Vanessa Ferreira Machado de Figueiredo

A implantação de um hostel em uma avenida de grande movimento como a W3 Sul convida à criação de espaços voltados para a cidade. Assim, espaços públicos e de comércio, como praças, restaurantes, bares, cafés e boates, abertos não apenas aos hóspedes mas também à comunidade local, fazem com que ocorra essa integração do hostel com a cidade. A praça assume uma posição central no projeto distribuindo o acesso aos diferentes ambientes. No térreo, o pilotis garante a permeabilidade e livre circulação dos transeuntes, de forma que o edifício não se torne uma barreira visual e física aos pedestres. Além disso, o projeto tira vantagem do desnível natural do terreno criando uma segunda praça mais intimista na parte posterior do terreno. A conexão entre ambas as praças é realizada a partir de uma escada rampa, sendo este acesso reforçado pelo eixo criado pelo espelho-d’água. O edifício possui um formato em L e é composto por dois grandes volumes interligados por uma passarela metálica. Cada volume abriga uma função diferente, sendo um para áreas de lazer e outro para hospedagem. Isto permite que estes dois ambientes estejam próximo, porém, preservando a privacidade dos hóspedes.

Orientadora: Cláudia Garcia Banca: Ivan Manoel Rezende do Valle; Maribel Del Carmen Aliaga Fuentes; Oscar Luis Ferreira 83


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FAU PREMI ADA

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monumento à memória feminina projeto vencedor do 28º concurso do portal projetar.org Participante: Dante Akira Uwai

“[...] Infelizmente, a grande maioria dos participantes parecem ter esquecido tudo. Foram propostos edifícios muito grandes e muito complicados, eliminando os acessos, ocupando todo o terreno, como se a relação entre volumes e espaços abertos não fosse fundamental. [...]” Oscar Niemeyer - Ata do concurso Shinkenchiku, 1999. A concepção do projeto se dá, em primeiro momento, pela construção da paisagem. A escala do eixo monumental incita a locação de qualquer intervenção de forma quieta, porém austera. O vazio urbano faz-se necessário para a manutenção da individualidade de cada edifício pré-existente, assim como sua 86

iconicidade. Além disso, é necessário o cuidado com o interior do edifício e a capacidade de apropriação do usuário das diferentes espacialidades e suas transições. O entorno imediato é formado por três vias, sendo uma delas, a N2, possível de criar entrada de carga e descarga e alimentação do edifício galeria. Os eixos de fluxo foram pensados para valorizar a parada de ônibus existente na via L2, além do caminho já utilizado atualmente pelos pedestres no sentido longitudinal do terreno. Por meio do jogo de plataformas e rampas, norteadas pelos eixos de fluxo, cria-se uma articulação de escalas, criando-se uma transição da escala

monumental, demarcada pela praça principal, com a escala gregária, que surge através da relação da galeria com o auditório. O edifício galeria, que também abriga toda a parte administrativa, faz o papel conceitual de pórtico, marcando a entrada para o projeto e direcionando o fluxo para a praça do auditório. A galeria possui o espaço coberto, para exposições fechadas, além de um espaço aberto, para exposições de maior dimensão. As exposições visam acolher, em um espaço flexível, as diferentes formas de manifestação da memória feminina. O auditório tem a entrada principal voltada para a N2 e recebe o apoio de carga e descarga, além de um esta-


cionamento. Além disso, o palco pode abrir para a praça do auditório no caso de eventos de maior porte como shows. A praça principal é pensada para ser utilizada em eventos públicos. O teatro arena, além de servir para exposição de manifestos, marca, com sua forma, dois gestos. O primeiro gesto é o do espaço de encontro, criado como local de concentração de pessoas. O segundo gesto é o do caminho, que atravessa o monumento num ato simbólico de inspiração. O monumento não representa a opressão, não representa o poder nem qualquer ato de ostentação. As duas fitas que se unem tornam-se mais fortes, conseguindo, portanto, subir mais alto.

Desta forma, buscou-se por uma arquitetura coerente com o entorno e que fizesse referência ao tema por meio de seus usos, e não simplesmente por suas soluções de forma. É importante destacar que o maiores espaços, a galeria e a arena, não estavam previstos no edital, sendo uma decisão de projeto para abarcar um tema que vai além da memória.

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concurso de cobogós

projeto vencedor do segundo concurso de cobogós ofertado pelo IESB

Equipe: Deyse Chagas Mendes e Letícia Pacheco Reis de Souza Buscando um guia para o desenvolvimento do projeto, escolhemos a referência mais incrível e sábia que possuímos: A NATUREZA. Os seus princípios fundamentais poderiam facilitar na composição da peça e constituir a forma e o conceito: a Sequência Fibonacci, que aliada à Razão Áurea, dita o equilíbrio na forma de inúmeros seres da natureza e se desenvolve através de uma lógica geométrica; e a geometria do Sol, pela forma radial e pela relação intrínseca com os efeitos na propagação da sombra. Sendo assim, o projeto do cobogó foi pensando, primeiramente, como três peças diagonais dentro de um quadrado 25x25cm, que seriam rotacionadas e encaixadas. Assim, estudou-se pontos medianos até encontrar 3 pontos principais, que unidos, constituíram um arco. Desta forma, rotacionou-se os 3 elementos e obteve-se a forma final: uma peça com 3 camadas, rotacionadas, 88

constituindo o cobogó (vide imagem storyboard). A forma radial e sequencial encontrada possibilita dinâmicas com a sombra e inúmeras combinações diferenciadas a partir de uma única peça. Encontrou-se 20 composições diferentes, através da diversidade de modulações, propiciando formas variadas e, assim, tornando-o plural e dinâmico. Além de garantir a iluminação e ventilação natural, pensamos em uma peça que se tornasse um elemento versátil e lúdico através de suas combinações, trazendo textura para a superfície e o dinâmico efeito de luz e sombra que transforma todo o ambiente.


Imagens fornecidas pela equipe.

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“a realidade foi maior que o sonho” menção honrosa no 4° concurso de design do portal projetar.org com o tema “desigualdades e as cidades”

Equipe: Letícia Pacheco e Rodrigo Hanna O céu - De tão marcante em Brasília, já foi até cogitado como um possível Patrimônio Natural pelo IPHAN. O céu é para todos. Portanto, na composição, o céu representa a igualdade. A bolha - Representa a distância que separa; o cinturão verde que separa o Plano Piloto das Regiões Administrativas periféricas; a questão financeira, a falta de acesso à cultura e nosso sistema de transporte público ineficiente. A frase - Adaptação do que disse Lúcio Costa quando revisitou Brasília, 27 anos após a inauguração da cidade. Aqui questionamos a concepção do projeto, as expectativas do que a cidade deveria ser e aquilo no qual ela se transformou. Os prédios - Representa a verticalização de Águas Claras e o adensamento da malha urbana que incentiva o surgimento de cidades-dormitório. Essa paisagem urbana possui uma mensagem muito clara. E surge uma questão: a verticalização é necessária para todos ou favorece uma pequena parcela da população, além do mercado imobiliário? O vermelho - Remete à terra vermelha do cerrado, bioma que abriga o Planalto Central e todo o Distrito Federal “A justiça” - Escultura de Alfredo Ceschiatti, situada em frente ao 90

Supremo Tribunal Federal, ironiza a justiça brasileira, dialogando com a realidade brasileira atual. ‘Não vemos a injustiça’. A balança dos Três Poderes - Sua posição na composição faz referência à distância da população ao centro administrativo do país. Há um distanciamento entre o povo e o poder. Setor Habitacional Sol Nascente - A segunda maior ocupação irregular da América Latina, o Sol Nascente, na composição situado aos pés da justiça, representa a posição das classes sociais menos favorecidas dentro dos centros urbanos.


Imagens fornecidas pelos autores

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destaque em pesquisa premiação como melhor trabalho de PIBIC de 2018 na área de Artes e Humanidades

Autor: Gabriel Dutra Ponte Nóbrega Orientadora: Liza Maria Souza de Andrade Co-orientadora: Natália da Silva Lemos Este trabalho obteve o Prêmio Destaque, melhor trabalho de PIBIC de 2018 na Área de Artes e Humanidades do 24° Congresso de Iniciação Científica da UnB e do 15° Congresso de Iniciação Científica do DF. A pesquisa apresenta pedagogias da água para conscientização da importância do ciclo da água urbano que contribuem na construção do “Manual pedagógico do ciclo da água urbano com padrões de infraestrutura ecológica para promover o engajamento social frente à escassez hídrica” inserido no projeto Brasília Sensível à Água. Como fundamentos, adota alguns projetos pedagógicos existentes, relacionados com a promoção de cidades sensíveis à água e os produtos de pesquisas anteriores do projeto Brasília Sensível à Água, que abordaram padrões espaciais e técnicas de infraestrutura ecológica (ProIC 2014/2015, ProIC 2015/2016 e ProIC 2016/2017), atentos às novas formas de ocupações urbanas ou reabilitação de áreas integradas ao restabe92

lecimento do ciclo da água urbano. Os estudos focam o livro “Água como matriz ecopedagógica: um projeto a muitas mãos” de Catalão e Socorro (2006), a página no Facebook chamada “Água, sua linda”, administrada pela Aliança pela Água, o programa australiano Cidades Sensíveis à Água e o evento ocorrido dentro do FAMA organizado pelo grupo de pesquisa Água e Ambiente Construído - FAU/UnB.


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EN CON TROS



entre cristas de morro e fundos de rio pĂŠ em sampa

Imagens fornecidas pela equipe

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Presente nas Diretrizes Curriculares Nacionais, a realização de viagens acadêmicas é de extrema relevância para a formação do arquiteto e urbanista. E como já disse Lucio Costa “arquitetura é coisa para ser vivida”. Na FAU-UnB a atividade complementar Pé na Estrada vem desde 2014 desenvolvendo viagens anuais focadas em proporcionar aos estudantes de graduação vivências em várias cidades brasileiras. Sempre com o olhar atento, os discentes tem a oportunidade de entrar em contato com passeios e palestras que os instiguem a produzir uma série de trabalhos, denominados “Momentos” os quais são expostos posteriormente como forma de trazer os registros de vivência a esta Faculdade e à comunidade geral. Durante os dias 19 a 24 de agosto de 2018, um grupo de 40 estudantes imergiu na cidade de São Paulo, essa grande metrópole com 500 anos de ocupação. A terra descrita pelos alunos “com cheiro de asfalto molhado” foi vivenciada sob um certo recorte temporal focado entre objetos que permeiam o século XX até a contemporaneidade, na ótica das três escalas de análise: arquitetônica, paisagística e urbanística. O grupo de alunos foi acompanhado pela Prof. Ana Paula Gurgel, Prof. Gabriela Tenório, Prof. Cynthia Nojimoto (FAU-UnB) e pela Prof. Camila Sant’Anna (UFG). Destaca-se ainda a presença dos arquitetos Fábio Queiroz e Suzete Bomfim Feitosa (arquiteta no Museu Lasar Segall) durante os percursos. Além de diversos passeios urbanos, como na Avenida Paulista, Liberdade e Memorial da América Latina, o roteiro abarcou exemplares arquitetônicos marcantes da Escola Paulista de Artigas, a exemplo do prédio FAU USP, local onde os alunos puderam vivenciar intercâmbios entre escolas de arquitetura guiados pelo prof. Antonio Carlos Barossi. Este foi um momento que gerou nos discentes discussões sobre infraestrutura e espaços de convivência presentes na FAU UnB e na FAU USP, bem como de âmbito político-pedagógico. Na arquitetura de Lina Bo Bardi, visitaram-se exemplares como referência de boa arquitetura tanto na interferência no existente presente no surpreendente Teatro Oficina em que, dentre outros recursos cênicos, a pele de vidro que mostra a cidade e como ela serve como pano de fundo e cenário permanente e mutável para as peças encenadas. E na força do SESC Pompeia, pôde-se constatar a intervenção cirúrgica de Lina na fábrica de tambores existente e como esse edifício trouxe requalificação da vida urbana deste bairro. Nos exemplares residenciais, tivemos a oportunidade de visitar a Casa Modernista de Gregori Warchavchik, onde nota-se o uso de elementos que reforcem a forte ilusão de ótica ao se fazer ver a dita primeira casa modernista brasileira. Nas casas de Lina, o grupo pôde presenciar dois momentos de etapas projetuais: a Casa de Vidro, no modo de privilegiar a composição da paisagem e a Casa Valéria Cirell, na abordagem artesanal da composição do revestimento fachadil. Destaca-se a experiência única realizada na Casa Tomie Ohtake, em que fomos recebidos pelo próprio arquiteto da obra, Ruy Ohtake, experiência descrita por um dos estudantes como “de grande riqueza de apreensão visual pelo desenho”.

Equipe organizadora da viagem: Ana Luísa Pedreira Caio César Nascimento Iara Lemos Jaqueline Sales Júlia dos Anjos Júlia Lopes Júlia Costa Juliana Albuquerque Maria Clara Marcolino Maria Emília Monteiro Maria Isabela Alves Nayane Machado Vivianne Fontoura

Texto por Ana Paula Gurgel, Juliana Albuquerque e Nayane Machado 97


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Foto de Amanda Marques


pé no design Durante a Semana Escala, a atividade complementar Pé na Estrada proporcionou duas atividades. A primeira denominada "Pé fora do Plano: Museu Vivo da Memória Candanga" ocorrida no dia 25 de setembro de 2018. Os alunos puderam contar com uma vivência imersa nesse espaço museográfico cheio de história como ponto relevante para a constituição da memória de Brasília. O grupo partiu da plataforma rodoviária e foi em direção ao Museu, lá foi acompanhado por Ronaldo Medeiros funcionário do Museu e grande arcabouço de memórias. A segunda atividade foi denominada "Com o Pé no Design com o designer Rafael Lemos" ocorrida no dia 27 de setembro de 2018. Participaram como facilitadores da atividade o designer gráfico Rafael Lemos, autor da identidade visual do Pé na Estrada, e o designer Vitor Marques. O objetivo da proposta foi aproximar de uma maneira bem prática os alunos do processo de design gráfico, manual de marca e identidade visual.

Fotos de Ana Luísa Pedreira

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semana escala 2018 semana fora de escala da FAU UnB

A Semana Universitária 2018, realizada pelo Decanato de Extensão da Universidade de Brasília, ocorreu entre os dias 24 e 28 de setembro sob o tema “somar ideias, integrar vidas” reunindo propostas de atividades de diversas unidades e campus da UnB. Tendo como objetivo principal, integrar a comunidade acadêmica, mas não só, e ampliar conhecimentos, acolhendo iniciativas e projetos desenvolvidos pelos mais diversos agentes transformadores. A tradicional Semana Escala, como é nomeada na FAU, foi realizada após o período de greve e ocupação contra os cortes orçamentários que afetaram áreas fundamentais, como a assistência estudantil e os serviços terceirizados na UnB. O grupo da comissão organizadora da Semana daquele ano foi justamente formado pelos alunos que tiveram algum contato com esse processo de questionamento emergente dentro da nossa Universidade. O tema da semana universitária 100

da FAU não podia ser diferente senão algo que provocasse alguma reflexão acerca daquele momento. Quando nos questionamos sobre identidade, representatividade e espaços de decisão foi preciso romper, de alguma forma, com o que vinha sendo apresentado até então. Esse movimento também se repetiu na nossa linguagem visual que modificou as proporções da logo. Além das colagens feitas onde procuramos mostrar as contradições e aquilo que não costuma ser lembrado quando pensamos em Brasília ou arquitetura moderna. Semana ‘’Fora da Escala’’ pode ser interpretada de diversas formas. É um jogo de palavras para fora dos padrões, fora da escala centrista que olha sempre para o Plano Piloto e pouco para as satélites e entorno, fora da escala de trabalhos individuais mas que sejam voltados a algo coletivo, fora da escala da própria Faculdade de arquitetura da UnB para que pudéssemos trocar com outros departamentos e faculdades e, principalmente, com saberes populares

pois preferimos celebrar a diversidade. Assim, a FAU ofertou uma programação de 61 atividades (10% das atividades propostas de todas as unidades da UnB), oferecidas por professores e estudantes em conjunto com membros da sociedade com uma grande variedade de temas tais como: Apropriação de espaços públicos, mobilidade, acessibilidade, paisagismo, compostagem, agrofloresta, direito à cidade, habitação social, regularização fundiária, pedagogia urbana, metodologia de processo de projeto participativo, questão de gênero, questão étnico-racial, cinema, desenhos e aquarelas, plano político pedagógico da FAU, entre outros.

Texto por Carolina Tavares e Lorrany Arcanjo Coordenadoras de extensão: Liza Maria Souza de Andrade e Vânia Raquel Teles Loureiro


I fórum do núcleo DF para construção do projeto br cidades

O *Projeto Brasil Cidades* (Br Cidades) tem como objetivo construir coletivamente cidades mais justas, mais solidárias, economicamente dinâmicas e ambientalmente sustentáveis, reunindo estudiosos, profissionais, movimentos populares, da juventude, da população negra, das lutas de gênero, dos coletivos LGBT’s, todas e todos em torno da Agenda Urbana. A Coordenação Nacional do Br Cidades é composta por Ermínia Maricato, Margareth Uemura, Lizete Rubano, Paulo Colosso, Carina Serra, Karina Leitão, Sergio Alli e João Sette Whitaker. Alguns núcleos do projeto já se formaram, ou estão em processo de formação no território brasileiro como Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Santa Catarina, Salvador, Fortaleza. O I Fórum do Núcleo DF para construção do Projeto Br Cidades teve como objetivo apresentar os membros do grupo que está se formando no âmbito do território do Distrito Federal e apresentar trabalhos que a Coorde-

nação Nacional vem desenvolvendo. O encontro ocorreu na Semana Universitária da Universidade de Brasília, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, na tradicional “Semana Escala” cujo tema este ano é “Fora da Escala”. Na visão dos estudantes, diante da conjuntura do país é importante abrir novas perspectivas, para além do projeto de arquitetura e urbanismo e do ambiente acadêmico, para “fora da escala”, e descobrir as cidades e o território do DF através dos olhos da sociedade, dos atores que produzem e vivenciam o espaço da cidade diariamente. O evento reuniu movimentos estudantis, movimentos populares, sindicatos, entidades profissionais e técnicos de governos local e federal. Neste contexto, a Semana Universitária promovida pelo Decanato de Extensão da UnB com o tema “Somar Idéias e Integrar Vidas” foi uma boa oportunidade para trocas de saberes e para fortalecer o compromisso social dos estudantes, futuros arquitetos urbanistas da FAU.

Os palestrantes principais foram dois membros da coordenação nacional de São Paulo para apresentação do Projeto Brasil Cidades: João Whitaker, professor da USP e ex-secretário de Habitação no governo Haddad e Paulo Colosso do Levante Popular da Juventude.

Texto por Liza de Andrade 101


HO MENA GEM



Esta edição da ARQUI faz uma homenagem ao pintor, designer, gravador, cenógrafo, figurinista e advogado Aloisio Magalhães, cuja genialidade homenageou Brasília em um de seus mais emblemáticos trabalhos: Doorway to Brasília. “Poucas pessoas no Brasil poderiam se gabar da versatilidade que teve Aloisio Magalhães em sua curta vida. É difícil, por isso, isolar sua atividade no campo do desenho industrial das que exerceu em outros campos. Foi um artista gráfico de excelente nível, foi pintor, desenhista e, surpreendentemente, político na conquista de meios para a realização de seus projetos culturais. José E. Mindlin

Aloisio Magalhães

Aloisio Magalhães (Recife, Brasil 1927 - Pádua, Itália 1982)

O advogado recifense Aloisio Magalhães começou a se interessar pelas artes ainda na faculdade, quando, no final da década de 1940, participou da cenografia e do figurino do Teatro do Estudante de Pernambuco, além de ser também o responsável pelo Teatro de Bonecos. Entre 1951 e 1953 foi estudar museologia na Escola do Museu do Louvre, em Paris, com bolsa do governo francês. Neste período passou a frequentar o Ateliê 17, um laboratório experimental de técnicas de impressão de cores diferentes simultaneamente, uma técnica de gravura que possibili-


tava o uso de várias cores em uma mesma chapa. Foi neste ambiente inovador que teve como professor o gravador e poeta Stanley William Hayter. Aí aprendeu sobre as tiragens limitadas dos Livros de Artistas. Na volta para o Brasil fez alguns experimentos com pintura e pesquisas em artes gráficas. Uniu-se, então, a um grupo de intelectuais que criou uma editora experimental e artesanal intitulada Gráfico Amador. As tiragens da editora eram bem pequenas e a impressão primava por resultados plásticos esteticamente qualificados. Faziam parte do grupo Gastão de Holanda, José Laurenio de Melo, Orlando da Costa Ferreira, Ariano Suassuna e João Cabral de Melo Neto. Tais publicações tornaram-se um marco do design editorial brasileiro. Em 1956 estudou artes gráficas e produção visual nos EUA, com bolsa do governo americano. Trabalhou na The Falcon Express, com Eugene Feldman. Neste período publicou os livros Doorway to Portuguese e Doorway to Brasília. Ensinou ainda como Professor Visitante, por três meses, a convite de Feldman, no Philadelphia Museum College of Art. Ao voltar para o Brasil, especificamente para o Rio de Janeiro, em 1960, fundou um dos escritórios pioneiros em comunicação visual no país, o Magalhães + Noronha + Pontual, ou MNP. Mas seu escritório de maior sucesso foi o PVDI,

Programação Visual e Desenho Industrial, onde desenvolveu inúmeros projetos para empresas e órgãos públicos. A preservação da memória nacional, que nele constituía quase uma ideia fixa, se fez através da Fundação Pró-Memória e da Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Com seu incrível dinamismo, fez surgir, repentinamente, na Secretaria de Cultura do Ministério da Educação e Cultura, uma atividade que parecia impossível antes de ele assumir as responsabilidades que lhe foram atribuídas. Obteve recursos, cuidou pessoalmente de conciliar tendências e interesses divergentes, e estruturou um esquema que funcionou” (...) José E. Mindlin Foi professor de um curso de tipografia, juntamente com Alexandre Wollner, no MAM-RJ e foi convidado para, juntamente com outros designers, em 1963, fundar a Escola Superior de Desenho Industrial, ESDI. É de sua autoria o símbolo do 4º Centenário do Rio de Janeiro, que obteve grande repercussão. Depois vieram muitos outros de notável qualidade, com destaque para o símbolo da Fundação Bienal de São Paulo e os desenhos de notas e moedas brasileiras.


Agora, em Doorway to Brasília, tínhamos um livro completamente livre. (…). Vamos usar esse evento, dissemos, o fato de uma nova capital estar sendo construída, para vermos o que podemos tirar de lá e utilizar na tecnologia de impressão Aloisio Magalhães, 1977 Esta fala de Magalhães é sobre o processo de criação do livro em parceria com o também designer Eugene Feldman. As imagens fotográficas originais foram manipuladas graficamente. A intenção era evidenciar tanto o registro da construção da capital como o processo inovador de representação gráfica, possibilitando a percepção de novas e inusitadas formas. Para Tschiptschin, a partir de Doorway to Brasília, o trabalho de Aloisio passa a ser uma síntese entre elementos do pensamento racional e de expressividade individual, num diálogo equilibrado e respeitoso. O livro é fruto da viagem dos dois autores, Aloisio e Feldman, ao canteiro de obras de Brasília. Daí também derivou o filme “Brasília segundo Feldman”, de Vladimir de Carvalho. Em Doorway to Brasília, a sequência de textos e imagens que mostra a transformação do território ermo do centro-oeste brasileiro em paisagem urbana, pode ser lida, de acordo com os conceitos desenvolvidos por Mammi, como uma narrativa épica, dividida em três temas: natureza, trabalho e monumento. (Tschiptschin, 2018, p. 89)

Doorway to Brasília

No olhar de Tschiptschin, a natureza foi retratada em tons de preto e cinza, com o uso de ampliações de determinados elementos, visando à abstração, por meio do emprego


de planos alongados e alto contraste de cores, com o objetivo de explorar temas relacionados à amplidão da paisagem e ao território antes intocado. O vermelho-terra é usado para ressaltar o contraste entre a escala humana e a grandiosidade do entorno. Nos monumentos são destacados os contornos, tendo o céu como pano de fundo, acentuando o contraste entre o limite e o ilimitado. Na impressão do livro quadrado, 28cm x 28cm, algumas páginas desdobravam-se para formar uma imagem estendida, que enfatizava o marcante horizonte da cidade, definido pela arquitetura que se sobressaía diante da grandiosa paisagem. As imagens fotográficas foram trabalhadas por meio da manipulação dos tempos de exposição e foco, com a ampliação de detalhes e a impressão em camadas de cores sobrepostas. As chapas matrizes, que originalmente se destinavam a cores distintas, foram trabalhadas de forma livre, como suporte de sua expressividade artística. Com isso imprimiu à captação das lentes, sua impressão do local, do trabalho e da cidade que nascia. No final de sua vida foi nomeado para relevantes cargos: Diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, em 1979; Presidente da Fundação Nacional Pró-Memória, em 1980; e Secretário da Cultura do Ministério da Educação e Cultura, em 1981. Na década de 1980, iniciou uma campanha pela preservação do patrimônio histórico brasileiro, com propostas para Ouro Preto e para as ruínas de São Miguel das Missões. Faleceu em 1982. Maria Cecília Filgueiras L. Gabriele e Maria Fernanda Derntl

Para saber mais um pouco sobre Aloisio Magalhães: https://www.youtube.com/watch?v=XaTgE7OCZCA https://www.escritoriodearte.com/artista/aloisio-magalhaes https://blog.bbm.usp.br/2018/o-grafico-amador/ https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/aloisio-magalhaes/ na-filadelfia/?content_link=7 Texto nos 15 anos da ESDi O que o design pode fazer pelo país, 1977. https://aloisiomagalhaesbr.wordpress.com/historia-da-fotografia/doorway-to-brasilia/ Felisette, M. C. (2012). A linguagem gráfica de Aloisio Magalhães e o projeto editorial no Brasil (os anos 50 e 60). São Paulo. Fonte: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/ tde-28022013-101939/publico/2012_MarcosCorreaDeMelloFelisette_VCorr.pdf Tschiptschin, I. (2018). Retratos de Brasília. Os horizontes dos significados: de Doorway to Brasília a A idade da Terra. Dissertação de mestrado apresentado à Universidade de São Paulo. Orientador: Prof. Dr. Luis Antônio Jorge. Acesso em 2020, disponível em https:// www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16136/tde-17012019-171405/ publico/MEilanatschiptschin.pdf MINDLIN, José. Aloisio Magalhães: um “designer” polivalente. In: ALOISIO Magalhães e o desenho industrial no Brasil. São Paulo: FIESP/CIESP, 1983.



Universidade de Brasília Reitora: Márcia Abrahão Moura Vice-reitor: Enrique Huelva Decano de extensão: Olgamir Amancia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB Diretor: José Manoel Morales Sánchez (2011-2019) Marcos Thadeu Queiroz Magalhães Vice-diretora: Luciana Saboia Fonseca Cruz (2011-2019) Cláudia da Conceição Garcia ARQUI é uma publicação semestral da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – UnB Editor: José Manoel Morales Sánchez (2011-2019) Marcos Thadeu Queiroz Magalhães EQUIPE EDITORIAL Coordenação Editorial: Maria Cecília Filgueiras Lima Gabriele Coordenação de Ensaio Teórico: Ana Elisabete de Almeida Medeiros Coordenação de Extensão: Carlos Luna Coordenação de Diplomação: Cynthia Nojimoto e Paulo Roberto Carvalho Tavares Estagiários: Marcos Cambuí, Amora de Andrade e Leonardo Nóbrega Comissão de Diplomação: Cynthia Nojimoto, Neuza Cavalcante e Maria Claudia Candeia Comissão de Ensaio Teórico: Ana Paula Gurgel, Carlos Luna e Maria Claudia Candeia Diagramação: Leonardo Nóbrega e Marcos Cambuí Projeto Gráfico: Gabriela Bílá (Novo Estúdio Brasília) e Luiz Eduardo Sarmento Revisão Ortográfica: Amora Andrade Imagens da Capa e Seções: Livro “Doorway to Brasilia”, Aloisio Magalhães e Eugene Feldman Versão Digital: https://issuu.com/fau.unb/docs/arqui11 Impressão: Gráfica Coronário

© Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UnB Universidade de Brasília, Instituto Central de Ciências – ICC Norte, Gleba A, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília DF, Brasil 70904-970 tel. (+55) 61.3107.6630 fax. (+55) 61.3107.7723 http://www.fau.unb.br/ n° 11 2/2018 As opiniões expressas nos artigos desta revista são de responsabilidade exclusiva dos autores. www.facebook.com/arquirevistadafauunb revistadafauunb@gmail.com instagram: @revistaarqui


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