FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS
ABRE ASPAS UNICAMP LIMEIRA
Nº 21 agosto/setembro 2019
POR QUE UM PAÍS EM CRISE DEVE INVESTIR EM CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS? Espaço Opinião
Amazônia: simbiose água e floresta (parte I)
Universidade pública Nosso cotidiano em imagens
Graduação e Pós Engenharia de Produção: graduandos e mestrando conquistam prêmios
Universidade Estadual de Campinas Reitor Prof. Dr. Marcelo Knobel Coordenadora Geral da Universidade Profa. Dra. Teresa Dib Zambon Atvars
Diretor Associado FCA Unicamp Prof. Dr. Márcio Alberto Torsoni
Diretor FCA Unicamp Prof. Dr. Álvaro de Oliveira D'Antona
Assistente Técnico da Unidade FCA Unicamp Flávio Batista Ferreira
FACULDADE DE CIร NCIAS APLICADAS
ABRE ASPAS UNICAMP LIMEIRA
Nยบ 21 ยง agosto/setembro 2019
EDITORIAL O Abre Aspas é uma publicação da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, que tem o objetivo de divulgar diferentes ações realizadas por professores, alunos e funcionários e que contemplam o protagonismo e o engajamento estudantil, as relações da Faculdade com a sociedade, o fomento da interdisciplinaridade na instituição, divulgações de pesquisas e da graduação. Chegamos à vigésima primeira edição, sendo que anualmente são produzidos quatro números, nos bimestres de março/abril, maio/ junho; agosto/setembro e outubro/novembro. A publicação é um dos produtos da Área de Comunicação e conta com a colaboração de todos na sugestão de pautas que possam ser desenvolvidas em suas matérias. Para fazer sugestões de pauta, converse com os representantes da Graduação, Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Biblioteca no Conselho Acadêmico e envie um email para cristiane.kampf@fca.unicamp.br
Cristiane Kämpf Assessoria de Imprensa – FCA Unicamp
Foto da capa Aluna desenvolve pesquisa no Laboratório de Distúrbios do Metabolismo - LabDime
Expediente A revista eletrônica FCA Abre Aspas é uma publicação bimestral da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, em Limeira. Nº 21 – Agosto/Setembro 2019 Elaboração, produção e edição Cristiane Kämpf – MTB 43.669 Assessoria de Comunicação e Imprensa, FCA Unicamp Projeto gráfico Maurício Marcelo | Tikinet Diagramação Robson Santos | Tikinet
Foto: “Flores
pelo campus, em foto do
Prof. Álvaro
de
e
Oliveira D’Antona”
Já assistiu o vídeo institucional da Faculdade, com a participação de docentes, alunos e funcionários? Não perca! Está bastante interessante e já foi assistido mais de 13.000 vezes até o momento. Clique na imagem e confira!
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ÍNDICE
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SOS CIÊNCIA BRASILEIRA
“POR QUE UM PAÍS EM CRISE DEVE INVESTIR EM CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS? ”
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UNIVERSIDADE PÚBLICA
NOSSO COTIDIANO EM IMAGENS
ESPAÇO OPINIÃO
AMAZÔNIA: SIMBIOSE ÁGUA E FLORESTA (PARTE I)
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GRADUAÇÃO E PÓS
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO: GRADUANDOS E MESTRANDO CONQUISTAM PRÊMIOS
VOCÊ SABIA?
FATOS E NÚMEROS QUE PRECISAMOS SABER – OU RELEMBRAR – SOBRE A FACULDADE E A PRÓPRIA UNICAMP
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SOS
“Por que um país em crise
A
pergunta acima foi respondida por uma engenheira de alimentos, um físico, dois economistas e um aluno de administração pública – todos são unanimes: é justamente em épocas de crise econômica, política e social que um país deve aumentar os investimentos em ciência e educação. É somente através do desenvolvimento científico consistentemente apoiado pelo Estado e de um excelente nível de
CIÊNCIA BRASILEIRA
e deve investir em conhecimentos científicos? ”
Alunos de escola pública de Limeira visitam o Cine Vagalume. "Por que o cinema é potente? Porque ele não entra nesta armadilha de fomentar a oposição entre as diferentes áreas do conhecimento. O cinema é ciência e é arte." (Prof. Márcio Barreto)
educação pública que um país tem chances de sair do buraco. A afirmação parece óbvia, mas no Brasil ainda é desacreditada, seja por desinformação ou pura má-fé. Veja o que a Profa. Adriana Bin, os Professores André Sica, Márcio Barreto e Paulo Van Noije e o aluno Caio Silveira Schweller têm a dizer sobre o assunto:
CAPA
Adriana Bin é coordenadora associada do Laboratório de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Lab-GEOPI) e atua em projetos de pesquisa e extensão nas áreas de planejamento e gestão, avaliação e prospecção em ciência, tecnologia e inovação. André Sica tem experiência na área de pesquisa em Política Científica e Tecnológica com financiamento pelo Economic and Social Research Council e pela European Commission. Atua principalmente nos seguintes temas: avaliação, inovação, ciência, indicadores e impactos.
Veja o caso do desenvolvimento do etanol brasileiro, por exemplo. Os investimentos começaram na década de 70, quando houve a crise internacional do petróleo e o preço da gasolina subiu muito. O governo brasileiro da época criou o programa Pró-Álcool e resolveu investir pesadamente no desenvolvimento do etanol como biocombustível de extrema utilidade. Hoje podemos parar no posto de combustível e encher o tanque, sendo que o preço do álcool é sempre menor que o da gasolina – mas esquecemos que isso só é possível porque houve investimento estatal pesado em ciência e tecnologia. Se o governo não prioriza o desenvolvimento científico e tecnológico, especialmente em épocas de crise econômica e social, acaba criando uma lacuna de competências no país e impedindo que o Brasil dialogue com quem está na fronteira do conhecimento, ficando incapaz de
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pensar em respostas ou soluções para os problemas nacionais. Sem pessoal altamente qualificado, o país não faz e não participa de projetos científicos de fronteira, não cria novos produtos ou serviços e torna-se incapaz de colocar novidades transformadoras no mercado – ou seja, fica eternamente atrás.
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Um país que deixa de investir no desenvolvimento científico e tecnológico perde o bonde da história
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Adriana - Um país que deixa de investir no desenvolvimento científico perde o bonde da história. O investimento em políticas públicas na área de ciência, tecnologia e inovação é de longo prazo e os resultados não surgem de um dia para o outro.
André - Quando corta-se recursos das universidades de pesquisa, as quais compõem uma infraestrutura já consolidada no país, fica impossível conversar com países que estão na fronteira do conhecimento científico.
CAPA Alunos e professores em diferentes laboratรณrios da Faculdade
Alunos e professores em diferentes laboratรณrios da Faculdade
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CAPA Conhecimento tem um aspecto cumulativo: para entendermos hoje como a inteligência artificial funciona, foi preciso começar a investir nesta área a trinta anos atrás. Então, para podermos acompanhar as próximas revoluções tecnológicas, temos que investir hoje.
o desenvolvimento do país no longo prazo. É um investimento maciço e só funciona desta forma. A mera participação do país nas redes científicas internacionais já exige investimento – e ainda mais se quisermos influenciá-las de alguma forma. Temos atores importantes no país, como a Fiocruz, por exemplo, que durante a crise de microcefalia em 2016 tinha uma equipe preparada para estudar o problema e foi capaz de dar uma resposta super rápida. Foi um grande destaque científico mundial.
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Conhecimento tem um aspecto cumulativo: para entendermos hoje como a inteligência artificial funciona, foi preciso começar a investir nesta área a trinta anos atrás
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Caso contrário, não teremos futuro. É de vital importância o aporte de recursos estatais para que a pós-graduação e os laboratórios brasileiros continuem funcionando – o impulso de recursos privados também é importante, mas não é suficiente. Países que hoje são considerados nações com bons índices de desenvolvimento, são países que investem muito em ciência, tecnologia e inovação. A Coreia do Sul, por exemplo, deu um salto que foi muitíssimo baseado em investimentos nessa área e, mais recentemente, em maio deste ano, o governo da Alemanha anunciou um investimento de 160 bilhões de Euros para universidades e pesquisa científica. Na ocasião, as autoridades alemãs declararam que estavam, desta forma, garantindo
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Adriana – O que são as políticas de ciência, tecnologia e inovação? São programas, ações e projetos que vão enfatizar justamente elementos de desenvolvimento científico, tecnológico e de geração de inovação no país. São as universidades, institutos de pesquisa, empreendedorismos de base tecnológica, empresas privadas....então, não estamos falando somente de políticas cujo beneficiário é o setor público. Entretanto, as inovações que ocorrem nas empresas dependem de todo um sistema de inovação, que é um conjunto de atores que se relacionam para promover o desenvolvimento tecnológico no país, difundi-lo e apropriá-lo. O investimento em P&D nas empresas no Brasil ainda é algo que deixa a desejar. A pesquisa pública tem um papel muito importante na geração de inovações dentro de um país – não somente com relação ao Brasil.
CAPA #tbt 15 de maio/2019. Protestos de alunos, professores e funcionários contra os cortes orçamentários na educação e ciência brasileiras
André – Ela dá oexemplo dos dispositivos eletrônicos da Apple, que são muito baseados em investimento público das agências de investimento norte americanas, da área de defesa, da área de energia....o Estado americano foi investidor e articulador disso tudo. Aqui no Brasil temos, por exemplo, o etanol combustível. Boa parte das variedades de cana-de-açúcar cultivadas no Brasil foram desenvolvidas pelas universidades públicas brasileiras. Mas a população, no geral, não conhece essa realidade.
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A pesquisa pública tem um papel muito importante na geração de inovações dentro de um país – não somente com relação ao Brasil.
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Veja o livro da Mariana Mazzucato, “O Estado Empreendedor”. Ela discute essa questão analisando o que ocorre nos EUA, China, Brasil e tenta mapear a origem da pesquisa que deu base para grandes inovações tecnológicas nestes países, mostrando que os investimentos principais vieram do estado.
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CAPA pelo menos por um bom tempo. E o ethos das ciências humanas? O questionamento, a dúvida, a incerteza. Tradicionalmente, portanto, já há entre elas uma comunicação difícil.
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As ciências, de um modo geral, estão sofrendo uma retaliação. As ciências humanas também – e elas estão sendo desvalorizadas em oposição às ciências duras. Enquanto em relação às ciências duras há discussões sobre o montante a ser investido, em relação às ciências humanas questiona-se a ‘utilidade’ de sua existência. Isso me parece até uma estratégia para colocar um campo do conhecimento contra o outro, numa espécie de briga por recursos e por espaços. É a estratégia de dividir para conquistar. Então, é justamente este o momento de fazer com que as ciências exatas e biológicas percebam o que são as ciências humanas e, por incrível que pareça, também o oposto – que as humanidades entendam o que são as exatas e biológicas. Quando figuras políticas importantes colocam as ciências humanas em detrimento em relação das exatas e biológicas, eles estão propositalmente afastando uma da outra. As ciências humanas questionam as certezas, especialmente a filosofia. Elas questionam o que é tido como verdade. As ciências duras, por sua vez, operam em outra chave: a da verdade, da certeza, da imutabilidade, do paradigma. Para mudar um paradigma é necessária uma revolução científica. Qual é o ethos das ciências duras? Aquilo que é verdade, que é certo e imutável,
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Márcio Barreto tem experiência na área de Física, Cinema e Filosofia da Ciência, com ênfase em interdisciplinaridade na educação, atuando principalmente nos seguintes temas: filosofia da ciência, sociologia da tecnologia, cinema e percepção pública da ciência. Ele está organizando um livro de Ciências Humanas para alunos de graduação de outras áreas. A ideia é que estas outras áreas entendam o que são as ciências humanas. Vários autores são professores da Faculdade.
Quando figuras políticas importantes colocam as ciências humanas em detrimento em relação das exatas e biológicas, eles estão propositalmente afastando uma da outra
É falsa a ideia de que o cientista das exatas e biológicas é conservador e o das ciências humanas é progressista. É mera rotulação e deve ser fortemente contestada. Quando alguém propõe a eliminação das ciências humanas é porque, na verdade, deseja a eliminação da dúvida, da contestação, da crítica. E por que este discurso, muitas vezes, encontra ecos? Por falta de compreensão entre elas, originada e reforçada por séculos de pensamento disciplinar – que funcionou por muito tempo, mas acabou isolando os conhecimentos em suas zonas de conforto. Entretanto, as grandes questões contemporâneas – mudanças climáticas, migrações em massa, volta de doenças que já haviam sido extintas, super bactérias, fake news, etc... – revelaram-se extremamente complexas e o pensamento disciplinar não dá conta de analisá-las nem muito menos compreendê-las. Antes disso era possível ficar na zona de conforto enquanto essa complexidade não tinha vindo à tona. Agora, as diferentes áreas precisam interagir, conversar, uma precisa entender o que a outra faz. E tem muita gente que já percebeu que a zona de conforto é anacrônica. Outros ainda precisam perceber.... Certa vez, um colega físico me perguntou: “Por que vocês sociólogos não nos dão uma fórmula
CAPA #tbt Segundo encontro dos Programas de Pós-Graduação da FCA Unicamp, em dez/2018
Mas veja o que acontece quando a ciência avança de modo disciplinar: atualmente é o desenvolvimento tecnológico que dita o ritmo e as necessidades sociais. Nós não pensamos mais de queremos ou não uma nova tecnologia...ela simplesmente se impõe. As novas tecnologias não são pensadas para a sociedade – é a sociedade
que deve se adaptar às novas tecnologias... Elas não vem para suprir uma necessidade social, pelo contrário: as tecnologias criam novas demandas. Então, como criar uma fórmula para explicar a sociedade, se o que a está regendo é uma aliança entre tecnociência e capital?
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Nós não pensamos mais de queremos ou não uma nova tecnologia...ela simplesmente se impõe. As novas tecnologias não são pensadas para a sociedade – é a sociedade que deve se adaptar às novas tecnologias...
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para resolver os problemas da sociedade...? ” Ou seja, ele pensava que o cientista social é aquele que estuda a sociedade e que, portanto, deveria chegar com uma fórmula para acabar com a pobreza, por exemplo, assim como os físicos fazem com certos aspectos da natureza...Ele queria que o cientista social trouxesse uma solução rápida, confortável, que coubesse em uma fórmula. E o que o cientista social faz é trazer à luz toda a complexidade envolvida nas questões analisadas – acabar com a pobreza, por exemplo, envolve questões políticas, econômicas e sociais. O número de variáveis é virtualmente infinito...e são questões que vão muito além de uma fórmula. Portanto, vê-se que há uma incompreensão muito grande sobre o que são as ciências humanas....é por isso que, hoje em dia, temos até mesmo governantes dizendo que elas não servem pra nada.
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CAPA
Fechar os olhos para a complexidade do mundo não funciona mais. Tratorar o que você não conhece é fascista, ignorante. Quando se queima a floresta, não é só as árvores e os bichos que estão sendo destruídos....estamos destruindo o que os Ianomamis chamam de Espíritos da Floresta....que é algo que a gente não reconhece, não sabe o que é. Do ponto de vista da ciência que a gente conhece, espíritos não existem, mas do ponto de vista da ciência xamânica, eles estão lá e estão regendo uma série de coisas. “Ah, mas isso é uma grande bobagem!”, podem dizer alguns....experimente ficar dentro de uma floresta mais de uma hora... você começa a perceber que o que existe ali foge à sua compreensão. É como olhar o céu noturno estrelado em um lugar totalmente escuro, numa noite sem lua. Você começa a perceber que nós não somos homo sapiens...o homem que sabe. Nós somos muito mais o ‘homo espiritualis’....temos outras dimensões que fogem a nossa compreensão. Tudo bem a ciência lidar somente com alguns recortes, mas daí a jogar fora o que não conhecemos, é ignorância. A fundamental importância das ciências humanas é para a ciência em geral. É um erro defender as ciências humanas em oposição às duras. O que devemos fazer é mostrar a importância
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das ciências humanas para as ciências naturais. Não podemos reduzir a discussão a uma simples oposição entre as áreas. As ciências humanas são fundamentais para salvar as ciências duras de uma apropriação fascista. A apropriação das ciências duras por uma ideologia fascista pode ser evitada através das ciências humanas. Por que o cinema é potente? Porque ele não entra nesta armadilha de fomentar a oposição entre as diferentes áreas do conhecimento. O cinema é ciência e é arte. Ele nasce da ciência, de um experimento de médicos fisiologistas. O cinema precisa de um projetor, de uma tela...e a arte está lá dentro. E através da arte é possível provocar esta dissolução de fronteiras entre os conhecimentos sem cair na armadilha do conflito.... O conflito só interessa às ideologias fascistas – não interessa, de forma nenhuma aos cientistas em geral.
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As ciências humanas são fundamentais para salvar as ciências duras de uma apropriação fascista. A apropriação das ciências duras por uma ideologia fascista pode ser evitada através das ciências humanas
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Portanto, é preciso muito investimento para que haja uma integração entre ciências duras e ciências humanas, para que assim as pesquisas interdisciplinares possam ocorrer. E fazer interdisciplinaridade, ou seja, dissolver as fronteiras entre as áreas, não é barato e não é fácil. E é por isso que existe um fosso enorme entre as disciplinas. Mas jogar as ciências humanas no lixo não é solução pra nada, pelo contrário – é preciso promover o diálogo entre as áreas.
CAPA
Paulo Van Noije tem experiência na área de Economia, com ênfase em Balanço de Pagamentos; Finanças Internacionais; Economia Internacional, Macroeconomia e Economia Brasileira. Organizador da I e da II Feira do Livro da FCA.
A justificativa para se investir em CT&I mesmo com o cenário de crise no Brasil é simples e comprovada pela história: em um mundo globalizado e orientado pela dinâmica centro-periferia, não há (e nem houve) desenvolvimento sem investimentos públicos em setores de alta tecnologia e sem políticas ativas e de estímulo e proteção à indústria. Como a finalidade do Estado não é o lucro, mas sim o interesse coletivo e o atendimento à sociedade, liderar uma política anticíclica que, por meio do apoio governamental direto a projetos de CT&I aumente temporariamente o déficit público, pode (se levada a cabo com seriedade, com planejamento e com coordenação) ser algo positivo, pois estará estimulando a economia no longo prazo e posicionando ativamente o país na cadeia global de valor e na Divisão Internacional do Trabalho, além de evitar que o país fique sempre dependente das tecnologias desenvolvidas por outros países. O catching-up para atividades de maior valor agregado e com retornos crescentes envolve, também, a atenção às questões histórica (enfrentar o atraso brasileiro na política industrial e a tendência de apoio indireto via exageradas desonerações que apenas substituem investimentos privados em Pesquisa e Desenvolvimento, e não os alavancam), ambiental (vide pesados investimentos recentes da
Caio Silveira Schweller é aluno do curso de Administração Pública.
China em “tecnologias verdes”), educacional (e.g. incertezas acerca das profissões do futuro e dos rumos da tecnologia) e social (desafio de conciliar escala global com a local e de prever as relações homem-máquina). Políticas auxiliares – como definir um processo econômico-material sustentável, regenerativo e absortivo em termos ecológicos; discutir a implementação de programação e de robótica como disciplinas obrigatórias na grade curricular do sistema público de ensino; e fomentar a reaplicação de experiências criativas e inclusivas da chamada Tecnologia Social – são, portanto, prementes para uma atuação pública corretiva, preditiva, objetiva e eficiente, sem exageros e sem salvacionismos em relação à Ciência, à Tecnologia e à Inovação.
catching-up = alcançar; país atrasado se aproximar dos mais desenvolvidos política anti-cíclica = Ciclos econômicos são flutuações da atividade econômica caracterizadas pela alternância de períodos de ascensão e períodos de crise. A política anti-cíclica estimula a economia nas crises e desestimula nos períodos de ascensão.
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UNIVERSIDADE PÚBLICA 1, 2 e 3 – 51ª Reunião da Sociedade Brasileira de Pesquisa Operacional. O evento congregou pesquisadores de todo o Brasil e foi organizado por docentes da Faculdade.
NOSSO COTIDIANO EM IMAGENS 4, 5 e 6 – Apresentação pública dos trabalhos de conclusão de curso da graduação em Nutrição.
UNIVERSIDADE PÚBLICA
Prof. Eduardo Marandola acompanha evento do Nomear – Grupo de Pesquisa em Fenomenologia e Geografia. “La tierra es de quem la trabaja”
Projeto ‘BiotecAção: destinação sustentável para livros’, sob responsabilidade do Prof. Augusto Luchessi e realizado em parceria com a Câmara Municipal de Limeira, arrecada 1.500 livros para serem destinados a escolas públicas da cidade.
Funcionários da Faculdade que apresentaram projetos no SIMTEC 2019 - Simpósio de Profissionais da Unicamp. Da esq. para dir: Lucas Z. Sanches (RH), Felipe R. Serpeloni (TIC), Henry A. Godoy (TIC), Mariella C. Bertiz (RH), André F. Freitas (Diretoria de Ensino); Adilson Correr (Laboratórios); Enzo G. Beato (Diretoria Administrativa); e Ana Paula R. Lavoura (RH). Os projetos promoveram melhorias em processos, produtos e no ambiente de trabalho na Faculdade. Parabéns a todos!
Vista do campus: o Morro Azul, no cair da tarde.
NOSSO COTIDIANO EM IMAGENS
Grupo discute relações entre música e geografia no Laboratório de Geografia dos Riscos e Resiliência. Alessandro Dozena, geógrafo, músico e Professor da UFRN, ministrou a palestra “Sons como Linguagem Espacial”.
UNIVERSIDADE PÚBLICA
II Feira do Livro da FCA. O evento foi organizado pelo Prof. Paulo Van Noije, do curso de Administração Pública, pela Biblioteca Daniel Hogan e pela organização estudantil Trote da Cidadania.
NOSSO COTIDIANO EM IMAGENS
Doação de sangue, organizada pelo Trote da Cidadania em parceria com o Hemocentro de Campinas.
UNIVERSIDADE PÚBLICA
Funcionária Thaís Polyrodro e bolsista Eloise organizam mural de fotos sobre a história dos 10 anos da Faculdade.
Alunos de Engenharia de Manufatura recebem estudantes do Cotil (Colégio Técnico de Limeira) para conversar sobre as possibilidades da graduação na FCA.
NOSSO COTIDIANO EM IMAGENS
Trabalho de alunos e professores nos laboratórios de ensino e pesquisa.
UNIVERSIDADE PÚBLICA
II Simpósio dos Municípios da Bacia do Rio Corumbataí, organizado na Faculdade pela Profa. Luciana Cordeiro Fernandes, especialista em Direito Ambiental. Fóssil encontrado na região e produtos desenvolvidos pela população.
Estudantes da Escola Trajano Camargo apresentam projetos na Faculdade, durante a Semana do Meio Ambiente.
Prof. Marcos Barbieri, especialista na indústria aeronáutica, concede entrevista sobre a entrega da Embraer à Boeing ao Programa Pense Bem, do ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes.
Professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo.
Implementação da horta comunitária da Faculdade, uma iniciativa elaborada e desenvolvida pela Profa. Julicristie Camargo Oliveira, docente do curso de Nutrição. Docentes, alunos e professores participaram voluntariamente do preparo do solo e plantação das mudas.
Prof. Luciano Mercadante, do curso de Ciências do Esporte, foi agraciado com o Prêmio Zeferino Vaz por sua dedicação à extensão universitária. A honraria é concedida pela Unicamp para docentes.
NOSSO COTIDIANO EM IMAGENS
Incentivados pelo Prof. Augusto Luchessi, alunos de Nutrição e Ciências do Esporte trazem garrafas pet para o campus e colaboram com a rega das mudas de árvores.
ESPAÇO OPINIÃO
ESPAÇO OPINIÃO Conheça pensamentos, críticas e opiniões de diversas Professoras e Professores da Faculdade sobre assuntos contemporâneos e temas relativos às suas áreas de atuação e pesquisas científicas. O ‘Espaço Opinião’ traz textos assinados e produzidos pelos docentes especialmente para a Revista Abre Aspas. O objetivo é divulgar quem são e o que pensam os docentes da FCA. As opiniões expressas nesta coluna não refletem posicionamentos institucionais da Faculdade ou da Unicamp e são de inteira responsabilidade de seus autores. 28
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ESPAÇO OPINIÃO
AMAZÔNIA: SIMBIOSE ÁGUA E FLORESTA (PARTE I) Profª. Dra. Luciana Cordeiro de Souza Fernandes*
A Profa. Luciana Cordeiro Fernandes é especialista em Direito Ambiental e lidera o grupo de pesquisa Aquageo Ambiente Legal, na Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp. Ela desenvolve pesquisas no seguintes temas: recursos hídricos, águas subterrâneas, ordenação do solo, geoparque, sustentabilidade, Direito e educação ambiental. A docente é também autora do livro infantil ‘Clara e as Águas Invisíveis’.
É
interessante parar para pensar que a Amazônia é hoje principal manchete em todos os meios de comunicação do mundo, e que os brasileiros agora passaram a ver este território como algo importante, mas o que realmente estamos fazendo para proteger seus recursos naturais? Ainda vivemos a fantasia de uma floresta inabitada cheia de feras e índios, ora, isto é fantasia da indústria cinematográfica, o brasileiro sequer conhece seu país e a importância de cada bioma. Os incêndios que agora geram comoção e repercussão internacional são recorrentes em todo país, e ocorrem anualmente em razão das condições climáticas, em maior ou menor intensidade; e, notadamente neste ano, seria um fenômeno natural se fossem suas proporções, que indicam ação humana e criminosa, a destruir de forma avassaladora nossa floresta. Sim, nossa floresta, pois os bens ambientais presentes no território brasileiro são do povo brasileiro, tido pelo Direito como bem difuso, que pertence a todos e a ninguém em particular
(art. 225, CF/88), cabendo a cada brasileiro proteger estes bens, e neste caso, a função ambiental desta floresta em pé deve ser o que mais importa. Dentre suas funções ambientais, podemos destacar que seu papel como caixa d’água, principalmente para as regiões centro oeste, sudeste e sul do país, sem esta floresta em pé não teremos mais água. A evapotranspiração da floresta gera massas densas de água em estado gasoso, formando nuvens que pela ação dos ventos deslocam-se como verdadeiros rios voadores, trazendo chuva para estas regiões do Brasil. Na dinâmica do planeta, água e floresta possuem uma simbiose, não se sabe se há floresta porque há água, ou se há água porque há floresta. O certo é que sem floresta não há água, e isto vale para todo o mundo. E, se em São Paulo, recentemente, sofremos com o colapso da água, decerto teremos escassez sem estas árvores que foram queimadas e cortadas. O que iremos fazer?
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GRADUAÇÃO E PÓS Engenharia de Produção: graduandos e mestrando conquistam prêmios
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rês alunos da graduação em Engenharia de Produção e um aluno do Programa de Mestrado em Engenharia de Produção e Manufatura receberam premiações relevantes no mês de setembro, evidenciando a qualidade da formação que estão recebendo durante seus cursos. Gabriel Dávila, Guilherme Correa e Viniccio Bastos são alunos do 4º ano da graduação e participaram de um desafio proposto pela empresa Unisoma, que atua há 35 anos no mercado com Pesquisa Operacional (PO) e Business Analytics. Eles resolveram um problema de organização de horários e uso de salas por pacientes e médicos da Casa da Criança Paralítica de Campinas criando um aplicativo que pode ser gerenciado pelos próprios funcionários da instituição. O grupo levou o primeiro prêmio, mesmo concorrendo com pós-graduandos de outras instituições. “O desafio Unisoma foi algo único na minha graduação. Primeira vez que tive contato com um problema de escala real. Tivemos que aprender diversas coisas desde de como se organizar em grupo para um projeto desse porte até novas linguagens de programação. Além de todo esse aprendizado, o desafio foi gratificante , visto que, será aplicado em um ONG que realiza um trabalho fantástico. Portanto, valeu muito a pena”, afirma Guilherme. Já Gabriel acredita que participar do desafio foi uma das melhores decisões de sua graduação: “ao longo dos dois meses de projeto, fomos intensamente desafiados a aprender no mais amplo sentido. Tivemos de aprender não só conteúdo e técnica, mas também a realidade de um projeto aplicado de pesquisa operacional: idealizar, testar, falhar, aprender com os erros para, enfim, ter sucesso. Sem dúvidas foi uma experiência
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que reafirmou nosso potencial de impacto como estudantes, ao ajudar uma instituição real, que enfrenta problemas reais”. Para Vinnicio, a experiência foi bastante complexa, já que o grupo desconhecia grande parte das linguagens e ferramentas que precisaram utilizar para resolver o problema. “Tivemos que aprender muito rápido. Foi tudo muito corrido, mas no final valeu muito a pena, chegamos numa solução bem interessante e aprendemos muito no processo”.
Empresa, Sociedade e Universidade: relação frutífera para todos Para a Profa. Priscila Rampazzo, do curso de Engenharia de Produção, parcerias como a que possibilitou esse desafio – entre a Unicamp, a empresa Unisoma e a Organização NãoGovernamental Casa da Criança Paralítica – pode trazer ganhos importantes para a sociedade. “Acho extremamente importante iniciativas assim. Primeiro, porque é uma grande oportunidade para darmos mais um tipo de retorno à sociedade. A Unisoma escolheu muito bem a instituição do desafio, a Casa da Criança Paralítica. Segundo, estamos dando um feedback bastante positivo para uma empresa reconhecida na área de PO e Business Analytics em relação à formação dos nossos alunos. E para nossos alunos fica a motivação por terem desenvolvido um trabalho importante, uma aplicação real do que eles aprendem aqui. Com certeza foi um belo início – eles podem ir muito mais longe!”. A docente destaca que o mérito pelo prêmio é todo dos alunos, já que ela nem mesmo chegou a ver o projeto e somente participou incentivando e tirando dúvidas pontuais.
De uma disciplina do mestrado, nasce uma startup Diogo Palma e Lucas S. Pereira, alunos do Mestrado em Engenharia de Produção e Manufatura, cursaram juntos a disciplina “Métodos de Apoio à Decisão Multicritério”, ministrada pelos Professores Leonardo Tomazeli e Cristiano Torezzan e, a partir dela, criaram uma plataforma para automatizar e apoiar a elaboração de laudos de avaliação de imóveis urbanos. Agora, estão colocando o produto no mercado, através da startup Konstit, que atuará com engenharia de sistemas. “Quando finalizamos a disciplina, resolvemos desenvolver um produto completo, com foco no usuário final e que não apenas automatizaria os cálculos, mas padronizaria e digitalizaria todo o processo de elaboração de um laudo. Durante 2018 e de forma paralela ao meu trabalho de mestrado, desenvolvi com o Lucas essa plataforma”, conta.
Ele explica que a avaliação de imóveis urbanos é demandada, especialmente, por instituições financeiras, em operações que utilizam imóveis como garantia de crédito. “Resumidamente, o objetivo da nossa plataforma é auferir o valor de um imóvel, considerando critérios como área, localização, padrão de acabamento, estado de conservação, entre outros. Realizamos toda a implementação da plataforma atendendo os requisitos da norma técnica (NBR 14653-2) e do Banco Central”. A plataforma foi premiada como melhor produto tecnológico durante o Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação em Engenharia de Produção de 2019 e a dissertação de Diogo, também apresentada durante o evento, recebeu menção honrosa de melhor trabalho da sessão ‘Manufatura Avançada”. Na ocasião, eles competiram com trabalhos desenvolvidos por alunos de mestrado e doutorado das mais renomadas universidades em engenharia de produção do país.
Engenharia de Produção: concepção, melhoria e implementação de sistemas A engenharia de produção é um ramo da engenharia que forma profissionais para as demandas tecnológicas e de gestão de recursos em diferentes segmentos industriais. É uma área do conhecimento que lida com recursos tecnológicos, financeiros e humanos para projetar e aperfeiçoar o desempenho de sistemas produtivos complexos. Na Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp (FCA), a formação do Engenheiro de Produção é alicerçada em uma sólida base de conhecimentos de engenharia e ciências exatas, com o objetivo de capacitar o profissional para entender a raiz dos problemas produtivos e identificar as tecnologias necessárias para resolvê-los. A engenharia de produção diferencia-se das engenharias tradicionais pela abrangência a partir da qual lida com a formulação e solução de problemas técnicos, científicos e gerenciais.
“Gabriel Dávila, Guilherme Correa e Viniccio Bastos. O grupo de alunos do curso de Engenharia de Produção venceu o desafio Unisoma 2019, através da criação de um aplicativo para a Casa da Criança Paralítica de Campinas”
“O mestrando Diogo Palma, premiado durante o Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação em Engenharia de Produção 2019. Ele criou a startup Konsit, juntamente com seu colega Lucas S. Pereira”
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V ocê S a bi a?
Fatos que ainda não sabemos – ou precisamos relembrar – sobre o funcionamento da Faculdade e da própria Unicamp.
Números da graduação no 1º semestre 2019 Dois mil quinhentos e oitenta e sete (2587) alunos foram matriculados em seis cursos de graduação: 297 em Ciências do Esporte; 312 em Nutrição; 985 em Administração; 296 em Administração Pública; 347 em Engenharia de Manufatura; e 350 em Engenharia de Produção. Além disso, a Faculdade oferece um número considerável de disciplinas por semestre (178 disciplinas oferecidas no 1ºS2019), ministradas em 399 turmas!
Pós-graduação atingiu número de 200 defesas em dezembro de 2018 Os quatro programas de pós-graduação da Faculdade atingiram juntos 200 defesas de mestrado e doutorado realizadas até dezembro de 2019.
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FCA oferece 15% das vagas de Graduação da Unicamp! No vestibular 2018, a Unicamp - Universidade Estadual de Campinas ofereceu 3340 (três mil trezentos e quarenta) vagas para diferentes cursos de graduação. 480 (quatrocentas e oitenta) delas são relativas aos 06 (seis) cursos de graduação oferecidos por nós, ou seja, a Faculdade de Ciências Aplicadas oferece 14,37% do total de vagas de graduação da Unicamp.
Abandonar animais (seja no campus ou fora dele) é crime!
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A Resolução GR - 042/2005 regulamenta a circulação de animais domésticos nos campi da Unicamp e estabelece que “é proibido o abandono de animais nos campi; é proibido submeter os animais a maus-tratos e crueldade; e é proibido o adestramento de animais nas dependências da Unicamp” e pode ser consultada integralmente neste link.
ABRE ASPAS | Nº 21 § agosto/setembro 2019
NA PRÓXIMA EDIÇÃO... PESQUISA INVESTIGA PATRIMONIALIZAÇÃO DO QUEIJO MINAS ARTESANAL
Jaime Francelino Prado Júnior, médico veterinário e mestre em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas pela Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp.
Imagem 1: Banca de madeira (foto: arquivo do pesquisador)
A 22ª edição da Revista FCA Abre Aspas trará com destaque a pesquisa de Jaime Francelino Prado Junior, bacharel em Medicina Veterinária e mestre pela Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp. Ele desenvolveu a pesquisa Nos Trilhos do “Tremruá”: o Queijo Minas Artesanal como patrimônio vivencial na região do Serro-MG no Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, sob orientação da Profa. Julicristie Machado de Oliveira. O pesquisador fez seu trabalho de campo na região do Serro (MG), município que possui rico patrimônio histórico-cultural e onde residem inúmeros produtores artesanais do famoso Queijo do Serro, com os quais conviveu aproximadamente um mês.
Imagem 2: banca de ardósia, utilizada atualmente (foto: arquivo do pesquisador)
“Meu trabalho teve como objetivo debater a patrimonialização do Queijo Minas Artesanal como potencial instrumento de proteção e salvaguarda, mas também como discurso contraditório e frágil diante do que se apresenta na contemporaneidade. Segui uma metodologia qualitativa, empregando as ferramentas da observação participante e da entrevista informal, executadas sob uma perspectiva de inspiração fenomenológica, buscando a experiência social do lugar. Como principal resultado, constatei a existência de um deslocamento de sentidos entre o discurso de patrimonialização dos modos de fazer queijo e a maneira como os produtores lidam com suas referências culturais na região. De fato, a paisagem cultural na região do Serro parece ser muito mais complexa que a abordagem dos documentos oficias do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) demonstram, e o que proponho é uma nova abordagem sobre ‘patrimonialização’, pautada nos conceitos de patrimônio vivencial”. Não perca!
Imagem 3: Maturação dos Queijos do Serro. (foto: arquivo do pesquisador) Passado e presente na produção do Queijo do Serro: banca de madeira (imagem 1) de mais de 200 anos, utilizada por diferentes gerações da família do produtor e atualmente proibida pelo IMA – Instituto Mineiro de Agropecuária. Jaime explica que a madeira favorece o crescimento de micro-organismos específicos que atuam na produção do gosto e aroma do queijo, mas que hoje não são encontrados no produto.