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Abril movimentado


Com excesso de chuvas na Semana Santa e aumento brusco na demanda, preço do etanol sobe quase 19% em uma semana nas usinas. Analistas e produtores, no entanto, garantem que se trata apenas de um movimento pontual

n Por Morgana Campos
Se nenhum acontecimento muito grave ocorreu no final de abril (após, portanto, o fechamento desta edição), o percentual de anidro na gasolina será reestabelecido de 20% para 25% agora em maio, três meses após o governo ter decidido mexer na mistura como forma de evitar uma disparada ainda maior nos preços dos combustíveis e afastar, definitivamente, o risco de desabastecimento de etanol, que já despontava pontualmente.

A medida, aliada ao início da safra no Centro-Sul, e a decisão dos consumidores de migrarem para a gasolina ajudaram a reequilibrar os preços do etanol. Abril, no entanto, serviu para lembrar a todos que, apesar da aparente tranquilidade do setor em meio à safra, os velhos problemas continuam a assombrar e assustar, em especial a forte oscilação de preços. Na segunda semana de abril, o litro do hidratado em São
Paulo (sem frete ou impostos) subiu quase 19% e o do anidro, 5,6%, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). E novas notícias, embora isoladas, de atrasos nos pedidos de etanol ou não cumprimento dos volumes solicitados pelos postos voltaram às páginas dos jornais.
Para analistas, usineiros e distribuidoras, o “soluço” de abril foi um fato isolado, que refletiu o aumento repentino na demanda e o excesso de chuva na Semana Santa. Nada que atrapalhesse os planos de restabelecimento do percentual de etanol na gasolina, embora tenha jogado a pá de cal definitiva sobre o pleito dos produtores de antecipar a elevação do percentual. De fato, já na semana seguinte os preços voltaram a recuar, embora a um ritmo mais lento, com o litro do hidratado declinando quase 9% e o do anidro, 0,7%, de acordo com os dados do Cepea. “Foi um repique pontual. Para o ano, esperamos um patamar mais baixo de preços, embora um pouco acima da média registrada em 2009, pois temos de um lado a frota crescendo (maior demanda), mas também a previsão de incremento na produção”, explica Bruno Bosz, analista da AgraFNP.
Ele lembra ainda que o mercado externo não deve se mostrar muito atrativo para o etanol brasileiro neste ano, já que o preço do milho encontra-se baixo nos Estados Unidos, o que deve deixar o etanol norteamericano bastante competitivo e estimular a produção do biocombustível. A expectativa da própria Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar) é de que as vendas de etanol no mercado externo diminuam 35% neste ano.
Efeito manada
O vice-presidente executivo do Sindicom, Alísio Vaz, lembra que a opção do carro flex dá ao consumidor a possibilidade de mudar rapidamente de um combustível para outro, reagindo quase instantaneamente às mudanças de preços. Ele explica que a baixa demanda em janeiro e fevereiro permitiu que as distribuidoras estocassem produto, aproveitando para comprar daqueles produtores que ainda tinham etanol, mas os inventários não foram suficientes para dar conta da forte retomada no consumo. “A demanda não retorna aos poucos, vem como uma onda, quando o consumidor percebe que o etanol está mais vantajoso. A rapidez com que o consumidor muda sua opção é algo desafiador para todos que trabalham no mercado de combustíveis”, destaca. O diretor-técnico da Unica, Antônio de Pádua Rodrigues, confirma o forte crescimento da demanda, especialmente em São Paulo. Segundo ele, as entregas de etanol nas usinas cresceram mais de 30% na segunda quinzena de março, embora no fechado do mês as vendas de etanol tenham sido quase 14% inferiores ao registrado em março de 2009. “As distribuidoras estavam estocadas e na hora que repassaram os preços mais competitivos, a demanda voltou”, explicou. De acordo com Pádua, com as chuvas da Semana Santa, muitas usinas não produziram e o que se viu foram muitos caminhões parados, à espera de um produto que havia sido comprado, mas que não pôde ser produzido. “Havia produto, mas não necessariamente naquela usina em que determinada companhia havia comprado. Algumas apostas erradas foram feitas”, destacou.
Segundo o diretor-técnico, com o fim do período mais chuvoso, a produção já voltou à normalidade.