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Sustentabilidade energética
Os segmentos automotivo e de combustíveis vivem atualmente um momento de transformação. Novas tecnologias estão em desenvolvimento, com o objetivo de elevar o rendimento dos combustíveis, reduzir as emissões de gases tóxicos e permitir maior economia dos recursos energéticos
Tecnologia pretende reduzir de forma significativa as emissões veiculares
n Por Rosemeire Guidoni
No último século, o mundo passou por profundas transformações. A população multiplicou-se, passando de 1,5 bilhão de pessoas para seis bilhões, a atividade econômica aumentou cerca de dez vezes entre 1.950 e 2.000, e os recursos naturais estão cada vez mais escassos. Aproximadamente 40% das reservas conhecidas de petróleo no mundo já foram exauridas.
“Isso tudo gera uma necessidade com a qual temos de lidar o quanto antes”, alertou Haroldo Mattos de Lemos, presidente do Instituto Brasil PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), durante o 7º Fórum de Debates sobre Qualidade e Uso de Combustíveis, promovido pelo IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) em São Paulo, no dia 25 de março. “Existem alguns problemas que não podem mais ser adiados, como o aquecimento global, a escassez de água e o esgotamento do petróleo. É necessário desenvolver outras formas de energia, de forma sustentável”, destacou.
De acordo com Lemos, o conceito de desenvolvimento sustentável é bastante amplo: deve atender às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. O PNUMA, segundo ele, definiu três desafios para o desenvolvimento sustentável: garantir a disponibilidade de recursos naturais (renováveis e não renováveis), não jogar na biosfera mais resíduos do que se pode absorver e reduzir a pobreza no mundo. “A questão da redução da pobreza é essencial para conter o crescimento populacional e também para melhorar a educação, o que traria efeitos diretos nos dois outros desafios. Em relação aos recursos naturais, a principal meta é garantir o desenvolvimento de alternativas ao petróleo, antes que ele fique escasso, além de respeitar o tempo de renovação de alguns recursos, como as plantações e criações”, explicou.
O desenvolvimento de alternativas ao petróleo, aliado às novas tecnologias para redução do consumo de combustíveis e minimização das emissões, foi o tema central dos debates durante o evento promovido pelo IBP. O consultor Maurício Taam apresentou um estudo sobre a matriz energética nacional, elaborado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), que mostra que deverá haver um aumento da ordem de 4,5% ao ano na demanda por energia até 2017. O levantamento projeta uma pequena redução no uso de derivados de petróleo, dos atuais 40,5% para 36,5%. As fontes renováveis, por sua vez, crescem de 22,8% para 24,6%.
Em 2017, aponta o estudo, o óleo diesel ainda será o combustível mais utilizado dentre os derivados de petróleo, com uma participação de 19,5%, e a gasolina com apenas 3,9%.
Como o diesel deve continuar com grande participação ainda no mercado, uma das principais preocupações é reduzir seu potencial de emissões, e ao mesmo tempo criar alternativas que permitam economizar o produto. Para tanto, além do biodiesel adicionado ao combustível, a Petrobras hoje está trabalhando na produção do diesel com menor teor de enxofre, que deve entrar no mercado de forma gradativa.
Hoje, 73% do investimento da Petrobras em refino visa atender à necessidade de expansão da capacidade produtiva. O Cenpes inclusive desenvolve um trabalho de recuperação avançada de petróleo, que, segundo a
2017, aponta o estudo, o óleo diesel ainda será o combustível mais utilizado dentre os derivados de petróleo, com uma participação de 19,5%, e a gasolina com apenas 3,9%
O Laboratório de Emissões Veiculares do Lactec é referência tecnológica para toda a América Latina em testes automotivos de emissão de poluentes e projetos de pesquisa tecnológica palestrante Priscila Moczydlowe, engloba várias ações que visam aumentar o fator de recuperação final de um reservatório. “Pode incluir uma otimização de malha, perfuração de novos poços ou até mesmo uma sísmica para melhor caracterizar o reservatório”, destacou. O objetivo é promover o melhor aproveitamento das reservas, evitando o declínio de produção dos campos de exploração. “Hoje, o petróleo ainda é a principal fonte de energia mundial, mas está em declínio. Por isso, tais tecnologias são essenciais para suprir a demanda crescente”, completou.
Os biocombustíveis
Diante da perspectiva de escassez de petróleo que, conforme estudos apresentados pela pesquisadora do Cenpes, deve acontecer após 2040/2050, os biocombustíveis têm papel cada vez mais importante para o desenvolvimento sustentável. E, segundo Luiz Augusto Horta Nogueira, da Universidade Federal de Itajubá (MG), existe ainda um grande campo para o desenvolvimento dos biocombustíveis. “A bioenergia, produzida a partir da cana-de-açúcar e da lenha, representa 28% da oferta interna de energia no Brasil, devendo se expandir nos próximos anos. Considerando os biocombustíveis líquidos, o bagaço, pontas e folhas da cana e a lenha, a oferta total de bioenergia no Brasil supera 1,8 milhão de barris de petróleo equivalente por dia, o nível atual da produção nacional de petróleo, mas com uma vantagem: a relação reservas/produção é infinita”, afirmou. Para Nogueira, os biocombustíveis modernos já representam cerca de 2% do consumo de energia no setor de transporte, com boas perspectivas de expansão. Permitem diversificar a oferta, dinamizar as atividades agrícolas e melhorar o meio ambiente.
No entanto, o país ainda tem um longo caminho a percorrer rumo à produção sustentável destes biocombustíveis. Além da evolução das questões trabalhistas ligadas ao setor agrícola, é necessário investir no zoneamento para as plantações e ainda desenvolver novas técnicas que permitam melhorar a produtividade destes combustíveis. “Diversas tecnologias estão em estudo, como o aproveitamento da celulose. Porém, os processos ainda são caros e de baixo rendimento”, disse Nogueira.
Desafio logístico
Segundo Fábio Marcondes, diretor do Sindicom, os novos combustíveis ainda representam um grande desafio logístico para o mercado. Além da distância dos centros produtores aos centros consumidores, e da má conservação das estradas brasileiras, outros aspectos ainda devem ser levados em consideração para a distribuição nacional dos produtos. É o caso do diesel com menor teor de enxofre, que começou a ser distribuído no país de forma gradativa (por enquanto o S50,com 50 partes de enxofre por milhão, e até 2013 o S10, com 10 ppm de enxofre. A partir de 2014, será distribuído o diesel off Road). “Como a introdução do produto vem sendo gradativa, as distribuidoras precisam viabilizar políticas de abastecimento conforme a necessidade de atendimento a determinadas regiões. E algumas questões ainda estão em análise, como a necessidade de os postos que fazem transporte próprio (retiram produto nas bases) terem um segundo caminhão, apenas para o produto com menos enxofre, como forma de evitar contaminação”, explicou. Os caminhões que utilizarão o S10 devem ter ainda um tanque adicional, para acondicionar o Arla-32 (Agente Redutor Líquido Automotivo), produto que também será obrigatório.
Controle de qualidade
Rosângela Moreira de Araujo, superintendente de Biocombustíveis e de Qualidade de Produtos da ANP, destacou que o Brasil dispõe de inúmeras alternativas para aumentar o seu suprimento energético a partir de fontes próprias, contando com diversidade e disponibilidade de recursos naturais, que podem ser utilizados como combustíveis ou para produção de energia elétrica. “De
Diesel menos poluente já está sendo utilizado por boa parte da frota brasileira acordo com as projeções do Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030), a diversificação das fontes de energia no Brasil deve aumentar até 2030”, disse.

Rosângela explicou que o combate aos impactos ambientais negativos tem sido uma das principais preocupações das políticas públicas para o uso de fontes renováveis de energia, especialmente no que diz respeito à redução da emissão de gases do efeito estufa. Por isso, ela defende uma legislação específica para os biocombustíveis, com perspectivas de longo prazo. Ela citou, durante sua apresentação, diversas iniciativas brasileiras para garantir a produção sustentável dos biocombustíveis, como o zoneamento agrícola, a certificação dos produtos pelo Inmetro e o compromisso nacional para aperfeiçoar as condições de trabalho na cadeia produtiva de cana-de-açúcar. Aliado a isso, a política de qualidade de produtos da ANP contribui para estimular o desenvolvimento destes combustíveis renováveis e conferir credibilidade à qualidade dos produtos consumidos no Brasil.
Rosângela citou ainda a importância do trabalho dos laboratórios de análise de produtos conveniados à ANP. “A Agência considera que devem ser incentivadas pesquisas de novos combustíveis, especialmente aqueles produzidos a partir de fontes renováveis. Entretanto, a introdução de novos produtos no mercado deve ser precedida de testes controlados que fundamentem futuras especificações para sua comercialização”, observou.
Desenvolvimento da indústria automotiva
Para acompanhar todo o desenvolvimento dos combustíveis, a indústria automotiva também passa por um processo de reformulação. Segundo Henry Joseph Jr., presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotivos), a principal tendência da indústria é o desenvolvimento de motores que permitam maior economia de combustíveis. Para tanto, os fabricantes investem em novos materiais e design que permitam veículos mais leves, além de melhorias aerodinâmicas. A redução do consumo de energia elétrica dos acessórios é também objeto de estudos e novos projetos. O controle de emissões vem ganhando importância crescente, incluindo a redução dos gases do efeito estufa.
As novas tecnologias de motores estão mudando também as demandas de performance dos aditivos. Aliás, o aumento no uso de biocombustíveis amplia a demanda por aditivos de alta performance, cujo desenvolvimento e produção é hoje uma das principais preocupações da Abrafa (Associação Brasileira dos Fabricantes de Aditivos), destacou Airton Flores de Souza Britto, representante da entidade. “O mercado de aditivos tem de acompanhar a evolução dos combustíveis e dos motores”, disse o executivo. n
A indústria procura desenvolver novos motores, que permitam melhor desempenho, maior economia de combustível e menor emissão de poluentes
