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TNP e Fenômeno
A frente fria vinda do Sul do continente causa severos estragos no Rio de Janeiro. Ocasiona chuvas torrenciais que demolem os antigos lixões que foram urbanizados e denunciam outras mazelas das administrações públicas imprevidentes. Tragédias humanas dos afetados são exibidas com volúpia pelos astros da mídia televisiva. Os diários shows de terror exibem autoridades em explicações e manifestações incongruentes, que beiram o ridículo. Promessas de providências que deveriam ter sido tomadas décadas atrás. É bem possível que alguns destes artistas do noticiário se reelejam para os cargos que ocupam, ou venham a ser elevados ao parlamento. Como efeito colateral, certamente, nas próximas eleições assistir-se-á à sagração como deputados e senadores de alguns dos repórteres e apresentadores. Conforme diz o Doutor: essa é a Tragédia Nacional Permanente. TNP, para seguir-se o modismo das siglas. Na Polônia cai o avião presidencial causando a morte de um número apreciável de componentes do governo e do regime.
- Puxa vida. É como se no Brasil morressem Lula, Dilma, Mantega, José Dirceu, José Sarney e Michell Temer, entre outros. Ninguém prestou atenção na intenção do comentário. Se preocupada ou esperançosa. Mas deve-se voltar ao assunto principal. Em Porto Alegre, a consequência da frente é um sábado frio de muito sol. Extremamente propício ao tênis e outras atividades atléticas apropriadas ao DNA da turma. DNA, no caso, é Data de Nascimento Antiga.
- Xiii. Manda o ecônomo encher a geladeira de cerveja. O Alemão deu as caras.
O comentário se refere à chegada de um companheiro de volumosa silhueta que passara algum tempo sem aparecer. Ele saúda a todos e até participa de um set de duplas. Após a prática esportiva, os habituês do clube sentam-se para os comentários de pós-jogo. Cervejas, pastéis e acepipes se apresentam. O alemão não aceita cerveja.
- Larguei a cerveja. Estou fazendo uma dieta rigorosa com o médico. Por isso estou conseguindo voltar a jogar tênis. Estou em renascimento. Um astro famoso que retorna quando todos já o davam como aposentado. No outro clube já me chamam de “Fenômeno”, como o Ronaldo Nazário.
Ao garçom, o Fenômeno encomenda uma garrafa de vodka, uma jarra de suco de laranja- sem açúcar- acentua e um balde com gelo. Começa a misturar os ingredientes e divagar sob seu assunto preferido. Dietas.
- Pela manhã estou comendo apenas uma banana, uma colher de flocos de aveia e uma fatia de pão integral com requeijão magro. Acompanho com uma xícara de café descafeínado. Ao meio-dia, preparo um pequeno bife de filé mignon orgânico (de gado criado livre e não confinado para engorda). Este bife, tempero com sal, pimenta do reino moída na hora - não aquela já vendida em pó - alho amachucado, uma pitadinha de noz moscada...
A lista dos temperos e o tempo do Fenômeno em descrevê-los são por demais extensos e seguem pelas demais refeições frugais do dia. Melhor contornar.
Após algumas horas de vodka com laranja e digressão, a garrafa e a jarra estão vazias e os sacos dos demais companheiros devidamente cheios. O alemão passa a servir-se de cerveja – um pouquinho não fará mal.
Tio Marciano aprecia a figura do Fenômeno espalhada por duas cadeiras e pergunta:
- Alemão, quanto peso já perdeste nestes dois meses de dieta?
Antes que o Fenômeno responda, o Doutor com ar inocente e avaliador sugere:
- Uns duzentos gramas.