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Nova geração de combustíveis líquidos desperta o interesse de empresas em todo o mundo, que apostam em opções além do biodiesel e do etanol. Biobutanol e diesel a partir de açúcares estão entre os mais promissores
n Por Rodrigo Squizato
As principais projeções internacionais para a oferta de combustíveis apontam para uma importância crescente de uma categoria chamada de “líquidos nãoconvencionais”. Dependendo do autor, varia o que se encaixa dentro desta denominação e da futura importância desses combustíveis para a matriz energética mundial de transportes.
Um relatório recente, elaborado pela consultoria PFC para o Fórum Internacional de Energia – evento que reúne ministros de energia dos principais produtores e consumidores de energia do mundo –, mostra que a parcela desses novos combustíveis será crescente até 2030. No relatório da PFC, esta categoria é denominada de “Biocombustíveis e outros líquidos”. Segundo a consultoria, em 2030 a oferta desses líquidos deve ser equivalente a cerca de 6 milhões de barris por dia. A Agência Internacional de Energia e a Organização dos Países Produtores de Petróleo têm projeções para esta categoria, respectivamente, de um milhão e dois milhões de barris inferiores à da PFC. Mas, em todos os casos, a oferta será crescente.
A denominação da categoria é genérica porque os especialistas concordam que – além do etanol e do biodiesel – devem chegar ao mercado novos combustíveis nos próximos anos.
Muitos deles já existem em laboratórios e alguns começam a enfrentar a fase de testes. Em 15 de abril, por exemplo, a norte-americana Amyris e o grupo sucroalcooleiro São Martinho confirmaram o acordo para construir uma unidade de produção de químicos e biocombustíveis na usina Boa Vista.
Os que lideram a corrida entre os novos combustíveis são o etanol de lignocelulose, o diesel feito a partir de açúcares e o biobutanol.
A cana é a melhor matéria-prima para os novos combustíveis renováveis devido à elevada produtividade e grande quantidade de açúcares que fornece
Amyris
Para produzir esses combustíveis, diversas empresas ao redor do mundo estão desenvolvendo novas tecnologias na área química, na biotecnologia ou nas duas em conjunto.
Esses combustíveis são o que se denominava genericamente há poucos anos de biocombustíveis de segunda geração.
No caso dos três citados, o principal ponto em comum é a melhor eficiência no uso dos recursos naturais, o que, na hora de vender o produto ou processo, transforma-se no quase onipresente argumento da sustentabilidade.
O etanol de lignocelulose, que ficou mais conhecido po- pularmente como etanol celulósico, tem a vantagem de ser feito a partir de qualquer matéria-prima vegetal, como a palha da cana, ou do milho ou qualquer outro resíduo agrícola. Seus defensores afirmam que, dessa forma, ele não compete com os alimentos. Na disputa pelo primeiro lugar da produção do etanol celulósico estão empresas como Novozymes, Iogen, Koskata, entre outras.
Parte da tecnologia para produção de etanol de lignocelulose também pode ser usada para a obtenção do biodiesel e do biobutanol. Isto é possível porque esses combustíveis são feitos a partir de açúcares, como o etanol. O açúcar está presente na parede celular do material vegetal na forma de hemicelulose, que, por sua vez, é composta por açúcares com cinco ou seis átomos de carborno, denominados, respectivamente pentose e hexose. Quando essas longas estruturas químicas são adequadamente decompostas, é possível recuperar os açúcares e fermentá-los, gerando os combustíveis. Esta é uma das razões pela qual o atual Secretário de Energia dos Estados Unidos e prêmio Nobel de Física, Steven Chu, cunhou o termo da “economia da glucose”.
O biodiesel feito a partir de açúcares da Amyris, por exemplo, usa leveduras – que são os microorganismos responsáveis por produzir o etanol que usamos atualmente – geneticamente modificadas. Ao metabolizar o açúcar, em um processo bastante similar ao que ocorre com o etanol, as leveduras expelem farneseno.
Embora pouco conhecido, pode-se dizer que o farneseno tem estrutura molecular similar ao diesel com 15 átomos de carbono e 24 de hidrogênio (C 15H 24). Não se pode dizer que é idêntico ao diesel porque este não tem uma estrutura molecular única. A composição do diesel varia do C 10H 20 ao C 15H 28 Algumas obras referem-se à fórmula mais comum do diesel como sendo C 12H 23
Do ponto de vista do regulador, contudo, o diesel não segue uma fórmula molecular e sim uma especificação balizada por uma série de parâmetros como densidade, viscosidade, cor, ponto de névoa, teor de enxofre, entre outros. Logo, o diesel feito da cana – ou a partir de outras fontes sintéticas como o gás natural – precisa se enquadrar no padrão da ANP. Vale notar que a especificação do biodiesel (B100) no Brasil é: “combustível composto de alquil ésteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos vegetais ou de gorduras animais”. Ou seja, teoricamente, o diesel feito de açúcares não se enquadra nesta categoria, embora também seja de origem renovável e vegetal.
A Amyris espera colocar seu produto no mercado em 2012, mas já obteve aprovação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para usar o microorganismo transgênico.
Já o biobutanol é uma aposta de duas gigantes. A BP e a DuPont se uniram e anunciaram no ano passado a formação da Butamax Advanced Biofuels. O objetivo da empresa é desenvolver a molécula do biobutanol.
Segundo a Butamax, o biobutanol apresenta algumas vantagens sobre o etanol. As principais alegadas pela empresa são: maior conteúdo energético e possibilidade de misturas à gasolina em concentração maior do que a do etanol, sem necessidade de alteração dos motores.
A Butamax afirma que nos Estados Unidos, por exemplo, a regulamentação permite uma mistura de até 16% de butanol à gasolina, enquanto a concentração de etanol não pode passar de 10%. Embora em alguns estados norte-americanos seja vendido o E85, formado por 85% de etanol anidro e 15% de gasolina. Porém, neste caso, o combustível é destinado ao uso em carros flex
Em março de 2010, o CEO da Butamax, Tim Potter, anunciou a construção de uma laboratório de biotencologia na região de Campinas. Potter também afirmou que o Brasil deve ser uma base de exportação do produto, porque a cana-de-açúcar é a matéria-prima mais competitiva do mundo. A atual meta da empresa é exportar 7,5 bilhões de litros de biobutanol em 2020. Em relação ao início da produção, a empresa deve inaugurar uma unidade piloto que deve começar a funcionar em 2011 em Hull, no Reino Unido. n
Feito de farneseno, o diesel da Amyris é similar ao diesel tradicional ao nível molecular
Entre 1996 e 2002, o grupo Décio se responsabilizou informalmente pela manutenção de 350 quilômetros da BR-153