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No meio do caminho tinha um desvio
Chuvas, obras e problemas estruturais deixam postos de rodovias ilhados, sobrando para os empresários arcarem com redução de vendas, perda de clientes e problemas na entrega de mercadorias
n Por Rodrigo Squizato
Em algumas rodovias do Brasil, é possível ler uma placa de advertência que traz a seguinte orientação: “Acredite na sinalização”. O mesmo não se pode dizer do sistema de monitoramento das estradas mantido pelo Ministério dos Transportes.
Na divisa entre Minas Gerais e Goiás, a ponte sobre o rio Paranaíba, na BR-153, está passando por obras de manutenção, com trânsito em apenas uma pista. Porém, pelo site do Ministério, o trecho está classificado como normal. Curioso notar que, apesar da classificação, o próprio Ministério aponta que a ponte está em obras. Assim como outros dois trechos que somam 48 quilômetros, dentro do trecho de cerca de 150 quilômetros classificado como normal. É normal?
Não, não é. Também não é normal a redução do movimento nos postos que são afetados por obras, quedas de barreiras, solapamentos de pistas e interdições de pontes, seja por falta de manutenção ou acidentes, ou por causas naturais, como enchentes e fortes tempestades.
É o caso do grupo Décio, que tem vários postos na região. Para tentar amenizar o problema a empresa colocou um comunicado em sua página na Internet, avisando aos clientes do transtorno e lembrando-os de que o grupo tem outras revendas nas rotas alternativas. Mas os problemas não são exclusivos das estradas do interior do Brasil. Na saída da maior metrópole do país, São Paulo, não uma, mas duas das principais vias de acesso enfrentam dificuldades estruturais. Nos dois casos, revendas localizadas próximas ao problema sentem a queda no movimento.
O solapamento da pista da via Dutra, no sentido São Paulo-Rio de Janeiro, levou ao fechamento da pista e desvio do trânsito para pista de mão dupla no sentido Rio de Janeiro-São Paulo.
Postos e distribuidoras que atuam na região sentiram uma queda de cerca de 10% no movimento. Na opinião do diretor de postos de rodovia da Fecombustíveis e proprietário do Posto Presidente II, que foi afetado pelo problema, Ricardo Hashimoto, a redução deve-se ao desvio de rota feito por transportadoras e motoristas.
Naquela altura da estrada, os motoristas podem optar pela rodovia Ayrton Senna, economizando o tempo que seria perdido, caso ficassem no tráfego gerado pelo afunilamento do trânsito.
Perto dali, na rodovia Fernão Dias – principal ligação entre São Paulo e Minas Gerais – problemas estruturais em um viaduto na região de Mairiporã fizeram com que o trânsito fosse interditado na pista que vai para Belo Horizonte. O tráfego de automóveis leves foi desviado por estradas vicinais de terra, que são proibidas aos caminhões, ônibus e carretas.
Esses veículos devem optar por longos desvios, usando as rodovias Anhanguera e Presidente Dutra, para posteriormente pegarem a Dom Pedro e assim conseguirem retornar à Fernão Dias, já na altura de Atibaia. Faixas foram colocadas para orientar o motorista a evitar
BURACO NO FATURAMENTO Estradas com problemas de conservação, nº de km marcados como regular ou pior*
Comunicado do posto Beira-Rio que alerta sobre o problema aos clientes, enquanto a página do Ministério dos Transportes informa que a situação do trecho é normal o trecho. Aos postos da região, sobraram apenas o comércio local e os prejuízos, é claro. dos para outros postos da rede. “Mesmo com todo o sofrimento, nós ainda conseguimos absorver em parte o problema, porque temos outros postos, mas há vizinhos nossos que só têm um posto”, lembra o gerente do Pé de Boi.

Ele explica que a cerca de seis quilômetros do posto, depois de um retorno, tem uma revenda que inaugurou há pouco mais de dois meses. O posto já fechou.
Fonte: Ministério dos Transportes
*O ministério classifica os trechos como normal, regular, ruim, precário, interditado e em obras.
Obs: Trechos em obras foram incluídos nos cálculos. Ficaram de fora os trechos classificados como sem informação.

** As estradas federais de São Paulo estão sob concessão e assim não há informações do Ministério a respeito das mesmas. Em Tocatins, há muitos trechos sem informação.
Segundo o gerente do Posto Fernão Dias, conhecido como posto Pé de Boi, Carlos Pais Tavares dos Reis, desde que ocorreu o problema com o viaduto no começo de março, eles não receberam qualquer comunicado da concessionária que administra a rodovia. “As informações que temos vieram pela imprensa e são de que vai ficar interditado cerca de quatro meses”, afirma. Reis diz que circulam notícias informais na região de que a concessionária estaria projetando um desvio. A concessionária da rodovia, a OHL, diz que o prazo de interdição deve ser de seis meses, mas não confirma qualquer obra de desvio emergencial.
Segundo Reis, o posto, com bandeira Shell, teve uma queda de 40% nas vendas. “Mas não perdemos vendas só de diesel. Foi geral: óleo, acessórios e outros combustíveis também”, explica Reis.
Para compensar o prejuízo, alguns funcionários precisaram ser demitidos e outros foram remaneja-
No caso do posto Décio Beira-Rio, afetado pela interdição parcial da ponte na BR-153, não é a primeira vez que as condições da rodovia prejudicam o movimento.Entre 1996 e 2002, o grupo se responsabilizou informalmente pela manutenção de 350 quilômetros da BR-153.
Em alguns casos mais raros, os prejuízos ocorrem de outra forma. Quando fortes chuvas atingiram o Estado de Santa Catarina, no final de 2008, o transporte de gás foi interrompido devido aos danos causados pelas tempestades. Na rede de postos A. Nunes, o prejuízo foi imediato, com a suspensão das vendas de GNV (Gás Natural Veicular). Na época o diretor da rede, Marcelo Teixeira relatou à Combustíveis & Conveniência que apenas 20% dos usuários de GNV passaram a consumir outros combustíveis.
Porém, na conta do prejuízo não se deve considerar apenas o consumidor que é perdido pelo desvio de rota, mas também outros prejudicados pelos problemas na estradas, como empresas que não conseguem entregar seus produtos e, assim, deixam de abastecer nos postos. n