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Tumulto no etanol

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TNP e Fenômeno

TNP e Fenômeno

A safra de cana mal começou e estamos assistindo a um cenário inusitado, com o aumento de preços provocado pelas chuvas e pela pouca oferta de produto. Consumidores irados com o aumento nas bombas, a imprensa tentando imputar a responsabilidade ao varejista, enquanto produtores de cana-de-açúcar acusam as usinas de cartel.

As chuvas que caíram nas últimas semanas fizeram com que o etanol chegasse a custar R$ 0,9039 por litro, ou seja, 18,72% a mais que o valor verificado na semana anterior, de acordo com pesquisa do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP), enquanto o anidro mostrou evolução de 5,67%, causando impacto também para a gasolina.

Não devemos esquecer que no próximo dia 1º de maio voltaremos a ter a mistura de 25% de etanol anidro à gasolina, ou seja, passaremos dos 20% para 25% e, se o anidro estiver mais caro, irá refletir nos preços das bombas.

Mas o fato que mais surpreendeu foram as acusações de produtores de cana-de-açúcar, que inclusive tiveram que recorrer à justiça devido a imposições da indústria de exclusividade e de preços. O fato ocorreu na região de Jaú e Araçatuba, onde nove produtores de cana-de-açúcar chegaram a recorrer à justiça para terem seus direitos preservados. Eles afirmam que as Usinas adotam práticas irregulares na compra de cana-de-açúcar, quando exigem exclusividade de fornecimento e principalmente no preço pago pela matéria-prima com o objetivo de eliminar os produtores independentes e obter maior controle sobre o setor.

Estas práticas, afirmam, consiste na divisão geográfica da plantação da cana e, o produtor que vender cana para uma usina está impedido de vender para outra.

Afirmam também que os usineiros adotam uma fórmula para pagar menos pelo preço da matéria-prima e que esse preço é calculado desde 1998 de acordo com o volume de açúcar da cana, o chamado ATR (Açúcar Total Recuperável).

Na região de Araçatuba os plantadores de cana-de-açúcar recorreram à justiça para terem a liberdade da venda da cana, onde obtiveram sucesso em decisão judicial que beneficiou 11 produtores daquela região.

Enquanto não haver uma Agência Reguladora e o etanol ainda for considerado um alimento, sem que a própria ANP não tenha jurisdição na produção, estaremos à mercê dos que podem mais.

A indústria se defende dizendo que é um absurdo estas denúncias e que as usinas precisam da matéria-prima e buscam através dos produtores firmarem contratos com os fornecedores, estabelecendo regras de mercado.

A verdade é que com a evolução do carro flex e com o preço competitivo do etanol, este mercado que já é maior que o da gasolina toma dimensões gigantescas e 26 bilhões de litros é um mercado de causar inveja. Não é à toa que, principalmente, no ano passado existiram tantas fusões e dezenas de grupos empresariais brasileiros e estrangeiros investindo pesadamente no setor.

Há que se construir um modelo que atenda este mercado gigante, contemplando produtores, indústria, distribuição e varejo. É preciso que haja menos política e se olhem estes conflitos como uma expectativa de um grande mercado, onde o seu maior beneficiário seja o consumidor.

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