GNARUS - 63
Artigo
O PROCESSO DE FORMAÇÃO DO CÂNONE NEOTESTAMENTÁRIO (SÉCULO I AO IV D.C.) Por Flávio Henrique Santos de Souza
RESUMO: O propósito desta pesquisa será evidenciar as relações de poder que se encontram por trás dos escritos da Bíblia, isto é, o objetivo será investigar o processo que culminou com a criação do chamado Novo Testamento. Historicamente, nos primeiros séculos das comunidades cristãs, não havia nenhuma referência de leitura obrigatória e universal de apenas 27 livros tidos como sagrados entre os fiéis em seus cultos. Isso ocorreu apenas na segunda metade do século IV. Assim, convém levantar as seguintes indagações: quais teriam sido os critérios gerais para a inclusão dos livros no que, doravante, se chamaria Novo Testamento? Como foi definido que as comunidades cristãs da Antiguidade deveriam ler/ouvir apenas esses 27 livros como “regra de fé”? E, será que todos os grupos cristãos do mundo antigo aceitaram essa compilação de livros? Palavras Chaves: Bíblia, Novo Testamento, Cânone, Acanônico, Cristianismos
Introdução
O
tema deste artigo, num campo geral, é sobre a Bíblia, num campo específico, é relativo ao chamado Novo Testamento.1 A Bíblia é uma
“[...] O termo ‘testamento’ tanto no hebraico como no grego significa ‘acordo’, ‘tratado’ ou ‘aliança’ [...]” (SANTOS, 2006, p. 68-69). Os cristãos que “editaram” a Bíblia cunharam essa divisão entre Antigo e Novo Testamento como se ambos fizessem parte de um processo linear e monolítico pertencentes ao mesmo contexto da fé cristã. De modo que, segundo estes, a primeira “aliança” Deus fez por intermédio de Moisés e a segunda “aliança” foi feita pelo ministério de Jesus. Ambas as partes foram unidas fazendo com que os autores da Bíblia tivessem o mesmo propósito e mensagem nos seus respectivos livros, mas isso faz parte de uma construção teológica. Pois cada autor bíblico 1
das obras literárias mais importantes do mundo que, por sua vez, de certa forma, é uma das mais incompreendidas. Com isso não se quer dizer que apenas os especialistas podem compreendê-la, mas é preciso fazer um grande esforço intelectual para buscar compreender o intuito de cada autor bíblico quando se tem em vista o comprometimento acadêmico na pesquisa e o não comprometimento desta com visões confessionais da Bíblia. Como sublinha o biólogo britânico Richard Dawkins: tem sua própria voz em sua própria conjuntura. Às vezes alguns temas se parecem, porém, cada qual teve seu desígnio subjetivo ao escrever. Bíblia Sagrada. Edição Pastoral-Catequética. São Paulo: Ave-Maria, 2009, p. 8.
Gnarus Revista de História - VOLUME X - Nº 10 - SETEMBRO - 2019