GNARUS - 106
Artigo
A PADRONIZAÇÃO E REGRAMENTO DE NORMAS E CONDUTAS ATRAVÉS DO MANUAL DO SERVIÇO SAGRADO Por Marcos Vinícius da Silva Ramos
RESUMO: Este breve artigo analisa algumas informações contidas no Manual do Serviço Sagrado – guia destinado aos obreiros da Igreja Universal do Reino de Deus. Essa obra estabelece as normas e as práticas consideradas como ideais para um obreiro dessa instituição. Além disso, este documento traz informações sobre as concepções teológicas empregadas por esta Igreja e sustenta que, subjacente a um ideal de vida ascética, existe um regramento de normas e condutas, interferindo em questões como indumentária, maquiagem, corte de cabelo e unhas, enfim, em assuntos que, a priori, não parecem tão sujeitos à vida espiritual, mas que, na lógica iurdiana fazem todo sentido, pois o obreiro não é um indivíduo, mas a personificação tanto da Igreja quanto da obra de Deus. O obreiro iurdiano é, grosso modo, reflexo do perfil ideal tanto do homem quanto da mulher de Deus. Palavras Chaves: neopentecostalismo; teologia; obreiro.
Introdução
S
endo uma igreja oriunda de um dos ramos do protestantismo, a Igreja Universal do Reino de Deus1 afasta-se do protestantismo histórico no quesito estritamente teológico. Há, predominantemente, nas igrejas reformadas históricas, uma clara delimitação das questões confessionais e doutrinárias, além de uma tradição de produção intelectual que busca legitimar suas posições; já na Universal, esta Ora será usado o nome completo da Igreja, ora será usada a sigla IURD, para se referir às práticas institucionais e/ou de seus membros, o termo iurdiano(a) também será utilizado. 1
linha é tênue e apresenta uma tendência de se transformar constantemente devido aos seus inúmeros processos de reelaborações e ressignificações. Enquanto o protestantismo histórico, numericamente, estagna-se, a Igreja Universal do Reino de Deus não para de crescer. Desde sua fundação, o boom foi uma questão de tempo. Clara Mafra traz-nos o dado de que, em 1994, entre os evangélicos do estado do Rio de Janeiro, a IURD era a terceira maior denominação evangélica (MAFRA, 2001, p. 69). O historiador Wander de Lara Proença também aponta para a crescente iurdiana em um curto espaço cronológico.
Gnarus Revista de História - VOLUME X - Nº 10 - SETEMBRO - 2019