A BAILARINA MERCEDES BAPTISTA

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Artigo

A BAILARINA MERCEDES BAPTISTA: UMA NARRATIVA HISTÓRICA QUE POSSIBILITA A COMPREENSÃO E A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA DIMENSÃO DA DANÇA NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA Por João Paulo Carneiro e Juvenal Alvaro Santos Filho RESUMO: o presente texto busca na figura da bailarina Mercedes Baptista discutir e problematizar a importância da construção identitária através da dança e também dimensionar a relevância da narrativa da mulher negra como protagonista diante da construção discursiva de silenciamento e negação do processo histórico. Palavras Chaves: Performance; Relações Étnico-Raciais; Dança; Corpo; Identidade

Introdução

instrumentalidades de resistência para o processo da identidade afrobrasileira, especialmente na

T

luta antirracista. orna-se de vital relevância apontar que este texto percorre e dialoga através dos seguintes conceitos: raça e racismo, perfomance, identidade

negra e corpo negro. Portanto, tais conceitos darse-ão imbricados no processo de construção da cultura afrobrasileira como esteio da população

Mercedes sistematizou técnicas de dança seguida por muitos dos grupos artísticos e profissionais da dança e do teatro negro. Sua saga como professora negra foi maior do que como bailarina do balé no Rio de Janeiro, onde sofrera inúmeros preconceitos.

negra diante da reafirmação de suas tradições

Podemos dizer que em Mercedes, a raça

familiares, seus símbolos, seus valores sociais,

negra (conceito que explicitaremos no próximo

sobretudo de uma construção identitária advinda

tópico) falou mais forte, pois, ela encontrou ali

da diáspora.

a sua identidade onde focara seu desempenho

No processo histórico, a dança, a música, a

religião,

o

teatro,

enfim,

possuem

as

e vida profissional à produção e divulgação da cultura negra, encontrou a si mesma e tornou-se a “bailarina dos pés no chão”.

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Raça e racismo

O que é ser negro? Hall (2014) que compreende

Raça aqui não é tratada como o conceito ultrapassado e vencido no sentido biológico. Mas, como conceito sociológico e político. De acordo com Guimarães (2003), no viés sociológico, raça, “são discursos sobre as origens de um grupo, que usa termos que remetem à transmissão de traços fisionômicos, qualidades morais, intelectuais, psicológicos etc.” (p.96). Ainda aponta que “cientificamente, uma construção social e deve ser estudada por um ramo próprio da sociologia ou das ciências sociais” (Ibid. p.96). Raça é compreendida como uma categoria analítica1, ou seja, categoria de análise abraçada na discussão deste texto.

a identidade como “deslizante e flutuante”, ou seja, de maneira não essencialista, apresenta o seguinte resumo: “[...] de acordo com alguns teóricos, o ‘sujeito’ do Iluminismo, visto como tendo uma identidade fixa e estável, foi descentrado, resultando nas identidades abertas, contraditórias,

inacabadas,

fragmentadas,

do sujeito pós-moderno” (HALL, 2014 p.28). O culturalista ainda afirma que “[...] são pensamentos que me impulsionaram a falar [...] do fim da inocência do sujeito negro ou do fim da noção ingênua de um sujeito negro essencial” (HALL, 2013 p.386). Para exemplificar as cadeias de significantes do significado de ser negro, o autor narra experiências de sua juventude na Jamaica,

De modo que para Munanga (2012), Hall (2013), Guimarães (2012) o conceito de raça é uma garantia política para combater o racismo. Racismo como discurso através de uma particularidade razoável. Hall (2013) ainda explica que a “etnicidade gera um discurso em que a diferença se funda sob características culturais e religiosas”. Tanto os que são marcados no corpo como os que apresentam diferenças culturais e religiosas, são também caracterizados em termos físicos, embora talvez não tão visível quanto os negros, o referente biológico nunca opera isoladamente, porém nunca está ausente, ocorrendo de forma mais indireta nos discursos de etnia. “Portanto, o racismo biológico e a discriminação cultural não constituem dois sistemas distintos, mas dois registros do racismo” (Hall, 2013 p.78).

onde mesmo tendo a pele escura como sua classe de pertença figurava nas camadas médias da sociedade jamaicana e não era identificado como negro. Fato que tivera outra representação quando partira para estudar na Inglaterra. Sendo assim, a questão da identidade negra discutida neste artigo não contempla uma visão essencializada do sujeito, muito pelo contrário, adotamos segundo Canclini (2013), um sujeito híbrido. “Entendo por hibridação processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para formar novas estruturas, objetos e práticas” (Ibid. p.XIX). Estruturas ou práticas discretas denominadas pelo autor, não são puras, isto é, já sofreram mudanças no processo de hibridações. Assim, a construção identitária pela dança afrobrasileira neste texto possuem “elementos culturais distintos que se atenuam

Identidade: por uma perspectiva da diversidade e

formam um terceiro elemento que carrega parte

da multiplicidade

dos elementos anteriores” (CARNEIRO, 2017

1 “(...) categoria analítica indispensável: a única que revela as discriminações e desigualdades que a noção brasileira de ‘cor’ enseja são efetivamente raciais e não apenas de classe” (GUIMARÃES, 2012, p.50).

p.99). Portanto, segundo Carneiro (2017) “para esses processos múltiplos, diversos, plurais, nas dimensões culturais é que devemos observar no

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GNARUS - 8 âmbito do processo de reconstrução identitário

identitárias pelos meios e canais mais diversos

aqui apresentada” (Ibid. p.99).

artisticamente, principalmente, afrobrasileiro. Sendo assim, para encerramos este tópico tornase necessário evidenciar que, nossa pesquisa realiza uma revisão da literatura que aborda a

Perfomance: corpo em movimento

biografia da bailarina articulando e dialogando

Para a execução de uma aula, uma dança, uma peça teatral, uma partida de jogo de futebol, exige-se ensaios, treinos, testes, preparações (SCHECHNER, 2003). Esses estudos, ensaios, preparações, são duplamente exercidos pela redundância das ações cotidianas (Ibid. p.27). Essas repetições de nossas práticas apontam o quanto somos envolvidos por ações ritualísticas, tanto no espaço quanto no corpo em movimento. Schechner

(2003)

aponta

características

importantíssimas para a perfomance .2

com o nosso referencial teórico apresentado. A dança no contexto é uma metodologia desenvolvida por Marques (2018) e sinteticamente, são as redes de relação entre a arte, o ensino e a sociedade, ou seja, a inter-relação no tripé: arteensino-sociedade. Essa proposta de acordo com a autora possibilita os sentidos transformadores. Diante de uma sociedade que persiste em reproduzir discursos racistas, negando outras narrativas e sujeitos, os sentidos transformadores por meio da dança afrobrasileira protagonizada

Na vida diária, nas artes, nos esportes e outros

por Mercedes Baptista é emancipadora. A dança

entretenimentos populares, nos negócios, nas

implica diálogo com o mundo (MARQUES, 2018),

tecnologias, no sexo, nos rituais (sagrados

a protagonista que se refere este texto trava

e seculares), na brincadeira. Tais categorias

diálogos com o mundo, entretanto, com uma visão

apontadas pelo o autor demonstram o vasto

de mundo esquecida, negada, invisibilizada. Sendo

e complexo campo de pesquisa no estudo da

assim, traz o resgate da cultura afrobrasileira,

performance, especificamente para a discussão

das religiões de matrizes africanas, construindo

aqui tratada, focamos no campo da arte. O corpo

outras narrativas, outras identidades. “A filosofia

em movimento, sobretudo através da música,

afroperspectivista define o pensamento como

da dança, em cena, traz inúmeras abordagens,

movimento de ideias corporificadas, porque só

construções e reconstruções diante das questões

é possível pensar através do corpo. Este, por sua

da vida. Possibilitando assim, reconstruções

vez, usa drible e coreografias como elementos que

3

2 Performances afirmam identidades, curvam o tempo, remodelam e adornam corpos, contam histórias. Performances artísticas, rituais ou cotidianas – são todas feitas de comportamentos duplamente exercidos, comportamentos restaurados, ações performadas que as pessoas treinam para desempenhar, que têm que repetir e ensaiar. (SCHECHNER, 2003, p. 27) 3 Na questão das artes, torna-se um universo dentro de outro, pois da mesma maneira em que a vida diária pode englobar todos os tipos de performance, o campo artístico se torna igualmente potente pela capacidade de mover as coisas de lugar. A arte possibilita abordagens das mais diversas questões da vida, seja através de uma imagem, da música ou do corpo em cena. Ela sintetiza e reflete pensamentos e práticas de um contexto, com as quais os envolvidos na performance, se dispõem ao preparo para que se construa e apresente ao público ou envolvidos no entorno (SILVA, 2017, p.66).

produzem conceitos e argumentam” (NOGUERA, 2014, p. 174). Na perspectiva apontada pelo filósofo, a cultura africana se comunica, conceitua, argumenta, pensa, cria, produz através do corpo. Corpo que necessita se fazer presente nos mais diversos espaços, devido às privações sofridas no processo histórico, sobretudo no sentido psicológico. O psiquiatra Frantz Fanon (1925-1961) desenvolveu uma teoria através de pesquisas com um corpo de pacientes que lhe permitira

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GNARUS - 9 denominar de complexo de inferioridade, ou seja,

p. 72). Essa cosmovisão cíclica e eterna que se

um complexo que flagelava o negro. complexo

renova é representada em muitas danças de roda

referido pelo psiquiatra e filósofo consistia no

de cultura afro-brasileira. Movimentos e danças

desejo inconsciente do negro de ser branco e

circulares que simbolicamente representam o

aponta como origem dos conflitos as estruturas

sagrado, a conexão com a ancestralidade e a

sociais. Para Fanon (2008) tais processos

renovação do processo da vida.5 O pesquisador

iniciam na infância. No contexto brasileiro

aponta que é impossível a existência de uma

podemos compreender como um processo de

performance negra africana sem o poderoso trio,

branqueamento, muito além do processo histórico

ou seja, cantar-dançar-batucar. Essa perspectiva

e político realizado no início do século XX. Mas um

de Ligiéro (2011) destaca a interligação da dança,

processo de interiorização dos aspectos negativos

do canto e do batuque, dimensão que atravessa

para a população negra e aspectos positivos para

as obra de Mercedes Baptista.

4

a população branca, gerando assim um problema de baixa autoimagem.

O corpo em movimento e a performance da dança afrobrasileira constituem na obra da

Diante de referencial como Mercedes Baptista,

protagonista aqui tratado, representa a resistência,

na academia, no teatro, no cinema, no palco,

a construção identitária, a contraposição na trilha

na sala de aula, enfim, nos diversos espaços

da desigualdade racial, da representatividade

ocorre um resgate dos aspectos positivos

do corpo negro nos diversos espaços públicos e

para a autoestima da população negra, na

privados, dentro e fora do país, protagonizando

construção identitária, no autoconhecimento do

criações e produções artísticas, culturais, políticas,

corpo, da ancestralidade, da historicidade e do

sociais e emancipatórias.

protagonismo, especialmente na dimensão de um corpo negro e feminino.

A música e a dança afrobrasileira se desenvolveram

num

espaço

coletivo

em

O corpo e as forças da natureza estão

comunhão com inúmeras culturas de africanos

integrados e com o sopro divino se comunicam.

vindos de diferentes locais das áfricas e seu

Petit (2015) destaca que a dança se constitui

processo se deu na co-relação étnica social dentro

como um canal de comunicação no mergulho

de um sistema de mandantes e mandados. De certa

com a ancestralidade afro-diaspórica. “Dançar, na

forma agrega ramos, focos de resistência cultural,

perspectiva afroancestral aqui tratada, remete a

ou seja, as manifestações das performances

uma visão circular do mundo, na qual início e fim

afrobrasileiras.

se encontram em eterna renovação” (PETIT, 2015, 4 “Se ele se encontra a tal ponto submerso pelo desejo de ser branco, é que vive em uma sociedade que torna possível seu complexo de inferioridade, em uma sociedade cuja consistência depende da manutenção desse complexo, em uma sociedade que afirma a superioridade de uma raça; é na medida exata em que esta sociedade lhe causa dificuldades que ele é colocado em uma situação neurótica. Surge, então, a necessidade de uma ação conjunta sobre o indivíduo e sobre o grupo. Enquanto psicanalista, devo ajudar meu cliente a conscientizar seu inconsciente, a não mais tentar um embranquecimento alucinatório, mas sim a agir no sentido de uma mudança das estruturas sociais” (FANON, 2008 p.95).

5 “Ao considerar a junção das artes corporais às musicais e, sobretudo, acrescido do uso do canto como algo simultâneo e percebido como uma unidade dentro da performance africana, Fu-Kiau destaca, um dispositivo que, sem dúvida, continua sendo característico das performances da diáspora africana nas Américas – não é possível existir performance negra africana sem este poderoso trio, e o mesmo é aplicável às performances afro-brasileiras” (LIGIÉRO, 2011, p. 108- 109).

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GNARUS - 10 sua referência nos rituais religiosos, passa a ter conexão e embasamento coreográfico no sentido de tornar um estilo cênico, uma dança de palco, um espetáculo, objeto de apreciação estética. Foge de nossa intenção uma profunda pesquisa biográfica, no entanto, tencionamos uma breve abordagem.

Precedentes históricos Estudou na Escola Municipal Homem de Mello na Tijuca (RJ), trabalhou numa bilheteria de cinema e exercera diversas profissões. Com o trabalho no cinema nascera o sonho de se tornar artista, a construção de seu sonho se deu por meio da dança. Considerada a maior precursora do Balé e Cena de “Balé de pé no chão” (2005), documentário de Lilian Solá Santiago e Marianna Monteiro

da dança Afrobrasileira, Mercedes Ignácia da Silva Krieger, nasceu em 1921 em Campos dos Goytacazes (Região Norte Fluminense, RJ). Oriunda de uma família pobre que sobrevivia do trabalho de costura de Maria Ignácia da Silva

A trajetória da bailarina Mercedes Baptista (1921-

(mãe). O sobrenome Baptista herdara do pai,

2014)

João Baptista Ribeiro.

A dança afrobrasileira no Rio de Janeiro ganha

Em 1945 freqüentou a Escola de Dança da

um capítulo marcante com a atuação da ex-bailarina

bailarina Eros Volússia, mais tarde entra na Escola

do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Mercedes

de Ballet do Teatro Municipal do RJ. Em 1948 foi

Baptista, nos anos de 1940 e 1950. Mercedes

aprovada no concurso para se tornar a primeira

Baptista teve por base de sistematização de sua

bailarina negra do Teatro Municipal, entretanto, a

técnica os movimentos religiosos vivenciados no

força do racismo a impedia de ser selecionada em

Candomblé de Joãozinho da Goméia e no Teatro

várias apresentações. Mesmo diante das barreiras

Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento

impostas pela influência do racismo, Mercedes

, no qual teve os primeiros contatos com as

Baptista se tornou proeminente e conhecida no

criações com temas voltados à cultura negra.

Rio de Janeiro.

Com Mercedes, a dança afrobrasileira se

A bailarina não só trouxe contribuições práticas

reorganiza, ocupando grandes teatros e espaços

para a cultura afrobrasileira na construção

culturais, com técnicas de dança moderna já com

identitária, mas em ações militantes no viés

uma interpretação própria. A dança, mesmo tendo

político ao lado de outros artistas importantes no

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GNARUS - 11 processo de luta e resistência . Mercedes Baptista

é notória em diversos prêmios e reconhecimentos

vai tecendo e construindo sua carreira e almeja

de espaços e entidades públicas na cidade do

performances ainda maiores, ou seja, sua visão

Rio de Janeiro . Sendo assim, é inquestionável as

extrapola o universo individual como mulher,

constribuições na dimensão da arte, da pesquisa,

bailarina, negra, mas sua visão de mundo na esfera

do ensino, de Mercedes Baptista.

política, sociológica, histórica, permite vislumbrar a luta antirracista através das manifestações artísticas performáticas e, sobretudo, através de sue capital cultural . A dançarina assim tecia sua postura na militância negra e fortalecia seu campo teórico com o auxílio de diversos especialistas oriundos das áreas da dança, da religião, da antropologia, enfim, uma teia multidisciplinar na construção de seu próprio grupo. Em 1953, fundou o grupo Ballet

Considerações Finais Neste texto buscamos na figura de uma mulher negra, a bailarina Mercedes Baptista, traçar diálogos e problematizações como possibilidade antirracista através da narrativa referenciando a relevãncia da artista para a população de negros, sobretudo no contexto afrobrasileiro.

Folclórico Mercedes Baptista, ficara conhecida

Dialogamos com o conceito de raça e racismo

por seus alunos como uma professora exigente

não de maneira biológica, mas política e sociológica

e generosa. Aos alunos mais humildes permitia

(GUIMARÃES, 2009; HALL, 2014; MUNANGA,

a gratuidade das mensalidades. Suas atuações e

2012). A questão identitária como construção

articulações logo permearam o universo do samba

fluida, não fixa, não rígida, não essencializada de

e de um dos espetáculos de renome internacional,

acordo com (HALL, 2014; CANCLINI, 2013). No que

isto é, o carnaval . Como destacado em nota, sua

tange o aspecto da performance (SCHECHNER,

apresentação revolucionou a coreografia das alas

2003).

na Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro e do carnaval carioca. O grupo de Mercedes se apresentara em diversos países da Europa e das Américas. Porém, diante de tantos compromissos, a bailarina, militante e professora, inclina-se para a sua carreira como educadora nos anos de 1970. Foi professora do Teatro Municipal, ministrando a disciplina: “Dança AfroBrasileira”. Nos EUA, ministrou cursos no Connecticut College, no Harlem Dance Theather e no Clark Center de Nova York. Em 1982, a professora se aposentou do Teatro Municipal e a dimensão de sua arte fora reconhecida em diversas manifestações.

e

sua

gama

de

ocupando grandes teatros e espaços culturais, com técnicas de dança moderna e dança afro já com uma interpretação própria. A dança, mesmo tendo sua referência nos rituais religiosos, passa a ter conexão e embasamento coreográfico no sentido de tornar um estilo cênico, uma dança de palco, um espetáculo, objeto de apreciação estética. Como professora pôde promover a construção identitária de gerações de bailarinos. Valorização e criação de movimentos oriundos do gestual dos Orixás, ou seja, as inter-relações com as religiões de matrizes africanas, sobretudo

Sua trajetória e seu legado para o universo artístico

Com Mercedes, a dança negra se reorganiza,

representações,

especificamente no âmbito da dança afrobrasileira

o Candomblé. A dança, o movimento, o corpo, a identidade, interfaces de uma visão de mundo em que a ancestralidade é reafirmada.

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GNARUS - 12 O Brasil vive o desafio de ainda superar valores escravocratas, calcados na desigualdade estamos à volta de superação de obstáculos, encontramos resíduos da escravatura diante de uma sociedade discriminatória, da qual as expressões artísticas e culturais negras e populares quase sempre assumem um papel de resistência e afirmação cultural. Neste artigo concluímos que o racismo está imbricado reproduzindo múltiplas consequências tais como: nas desigualdades sociais, econômicas, culturais, religiosas, psicológicas e políticas. A

cultura

expressa

na

dança,

música,

teatro, pintura, literatura, assume seu papel denunciador, transpondo todo tipo de dificuldade na religião, na profissão e no dia a dia. Em tempos contemporâneos é uma estratégia de exercício de cidadania. O movimento é cíclico, “os pés no chão e o batuque não pode parar” – saravá!

João Paulo Carneiro é Doutorando em História Social pela UERJ e Juvenal Alves Santos Filho é Especialista em Cultura Afro-Brasileira e Indígena pela Universidade Católica de Petrópolis.

Bibliografia CANCLINI, N. G. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Edusp, 2013. CARNEIRO, J. P. Ensino de História: Possibilidades e desafios na perspectiva das relações étnicoraciais no caderno de avaliação do Saerjinho. Rio de Janeiro, 2017. 155 f. Dissertação (Mestrado) apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais do Centro Federal de Educação Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ. FANON, F. Pele negra Máscaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

_____. Classes, raças, e democracia. São Paulo: Editora 34, 2012. HALL, Stuart. A identidade cultural na pósmodernidade. Rio de Janeiro: Lamparina, 2014. _____. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013. LIGIÉRO, Zeca Dandara. Corpo a corpo: estudo das performances brasileiras. Rio de Janeiro: Garamond, 2011. MARQUES, Isabel A. Corpo, dança e educação contemporânea. Disponível em: https:// periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ proposic/article/view/8644138/11576. Acesso 10 de março de 2018. MUNANGA, K. Negritude: usos e sentidos. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. MUSEU AFROBRASILEIRO. Disponível em: http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/ hist%C3%B3ria-e-mem%C3%B3ria/historia-ememoria/2014/07/17/mercedes-baptista. Acesso 27 de abril de 2020. NOGUERA, Renato. O ensino de filosofia e a Lei 10.639/03. Rio de Janeiro: CEAP, 2014. PETIT, Sandra Haydee. Pretagogia: Pertecimento, Corpo-Dança Afroancestral e Tradição oral Africana na Formação de Professoras e Professores. Fortaleza: EDUECE, 2005. SILVA, Tulani Pereira da. “Arreda homem que aí vem mulher...”: dimensões do corpo na performance da Pombagira. Rio de Janeiro, 2017, 173f + anexos. Dissertação (Mestrado) apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais do Centro Federal de Educação Celso Suckow da Fonseca, CEFET/RJ. SCHECHNER, Richard. O que é performance? In: O Percevejo: revista de teatro, crítica e estética. Rio de Janeiro, ano 11, n. 12, 2003. P. 25-50. _____. Organização de Zeca Ligiéro. Performance e antropologia de Richard Schechner. Rio de Janeiro: Mauad X, 2012.

GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Como trabalhar com raça em sociologia. Educação e Pesquisa, São Paulo, V. 29, N.1, p.93-107, jan./jun. 2003.

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