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Monografia

OPOSIÇÃO NO DISTRITO FEDERAL EM TEMPOS DE GUERRA – 19321 Por Felipe Castanho Ribeiro RESUMO Este trabalho visa identificar setores de oposição na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, na guerra civil brasileira de 1932 entre o estado de São Paulo e o governo provisório de Getúlio Vargas. Esta investigação leva em consideração que o conflito de 1932 se insere num contexto maior do que o da sua duração, de modo que este se insira numa conjuntura política específica do Brasil na década de 1930, sobretudo entre os anos de 1930-1937na qual encontramos diferentes grupos disputando o poder político do país. Para atingir este objetivo concentramos os nossos estudos e pesquisa em indivíduos que realizaram este movimento de oposição, assim como também estudamos o jornal Diário Carioca periódico tradicional do Distrito Federal que publicava diariamente nesta cidade. Palavras-chaves: Governo Provisório, oposição, Distrito Federal, Diário Carioca.

1

Trabalho originalmente elaborado como trabalho de Conclusão de curso apresentado como requisito para aprovação no curso de pós-graduação em História do Brasil da Universidade Estácio de Sá, sob orientação da Professora Ms. Teresa Vitória Fernandes Alves.


G N A R U S | 210 Introdução

P

governo provisório e que questionava a sua legitimidade.3

odemos dizer que a história política do

Ao escolher este tema e a maneira como o

Brasil na década de 1930 foi agitada e

abordamos procuramos demonstrar que a guerra

extremamente complexa, só para citar

civil de 1932 se insere em um contexto maior que

podemos lembrar que logo de início já tivemos a

os seus 85 dias de duração, na verdade este

Revolução de 1930 que estabeleceria um governo

conflito reflete um longo período de tensões

provisório comandado por Getúlio Vargas, mais a

políticas na década de 1930, mais precisamente

frente, em 1932, teríamos uma guerra civil

entre os anos de 1930 e 1937 em que o Brasil

protagonizada pelo levante armado do estado de

poderia ter seguido caminhos diferentes do que

São Paulo contra o governo federal e para

aquele que desembocaria no golpe do Estado

completar a sucessão de grandes acontecimentos

Novo, seguimos assim a linha de raciocínio da

políticos teríamos o advento de um golpe que

historiadora Dulce Pandolfi que afirma que a

implantaria uma ditadura através do Estado Novo,

década de 1930 até certo ponto foi caracterizada

em 1937. A complexidade do período, assim como

pelas suas incertezas.4

a sucessão desses acontecimentos históricos

O arcabouço teórico deste trabalho se insere em

suscitaram ao longo dos anos o olhar atento dos

dois campos específicos, História Social e Política.

historiadores, de modo que hoje encontramos

Social porque procuramos observar um grupo

várias explicações para esses eventos.

específico da sociedade e como este reagiu num

Não obstante o presente trabalho visa analisar a

dado momento de conflito desta sociedade, tendo

guerra civil brasileira de 1932, que teve seu início

em vistas que os objetos da História Social

em 09 de julho de 1932 e se encerrou em 02 de

“coincidem com subconjuntos da sociedade

outubro do mesmo ano. Contudo não faz parte do

(grupos e classes sociais, categorias de excluídos,

objetivo central deste trabalho entender os

células familiares)”5. No caso deste trabalho

motivos

movimento

procuramos estabelecer um diálogo entre a

sedicioso, ou analisar as minúcias do conflito, até

História Social e a Política, de modo que a leitura

porque já existem excelentes pesquisas que

do social se relaciona com o mundo político e vice

procuram responder a estas questões2, a nossa

versa.

que

desencadearam

o

proposta é um pouco diferente. Na verdade, neste trabalho procuramos descobrir através de fontes específicas como a sociedade carioca, ou seja, do Distrito Federal, se comportou diante de um conflito que de certa forma representava uma insatisfação de setores da sociedade com o

3

Iremos abordar mais adiante esta questão da legitimação, contudo, pode se consultar também na dissertação de mestrado de LOPES, Raimundo Helio. Os batalhões

provisórios: legitimação, mobilização e alistamento para uma guerra nacional (Ceará 1932). UFC, 2009. 4 2

Bons trabalhos que procuram responder a estas questões de formas diferenciadas são: CAPELATO, Maria Helena. O movimento de 1932 a causa paulista. São Paulo: Brasiliense, 1981 e HILTON, Stanley E. A Guerra civil brasileira: História da Revolução Constitucionalista de 1932. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

Ver: PANDOLFI, Dulce. “Os anos 1930: as incertezas do regime”. In FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O Brasil Republicano II – O tempo do nacional-

estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro II. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 5 BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011, p. 112.


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indivíduo, não visa mais a excepcionalidade das grandes figuras políticas que outrora os historiadores positivistas acreditavam ser os grandes e únicos condutores da História.7

No caso da História Política não a abordamos da maneira tradicional inventada pelos gregos ou a positivista que surge mais ou menos em 1870, em

que

havia

uma

Tendo

valorização da narração de grandes eventos ou do estudo

do

poder em

figura

do

primeiros

positivista por enxergar

CARDOSO, Ciro Flamarion, VAINFAS, Ronaldo (orgs.).

primeiro

procuramos as

anos

do

eclosão do conflito em

de grandes personagens,

Domínios da História: Ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997, pp. 61-85.

no

três

governo provisório até a

não só o poder estatal ou

6

em

ser oposição durante os

distinto da tradicional ou

Assim, enquanto a História Política do século XIX mostrava uma preocupação praticamente exclusiva com a política dos grandes Estados (conduzida ou interferida pelos “grandes homens”), já a Nova História Política que começa a se consolidar a partir dos anos 1980 passa a se interessar também pelo “poder” nas suas outras modalidades (que incluem também os micropoderes presentes na vida cotidiana, o uso político dos sistemas de representações, e assim por diante). Para além disto, a Nova História Política passou a abrir um espaço correspondente para uma “História vista de Baixo”, ora preocupada com as grandes massas anônimas, ora preocupada com o “indivíduo comum” e que por isto mesmo pode se mostrar como o portador de indícios que dizem respeito ao social mais amplo. Assim, mesmo quando a Nova História Política toma para seu objeto um

texto

o

características do que era

que possuí tratamento

históricos:

dividimos

os

presente

desvendar

a Nova História Política

cotidiana e se relaciona com outros campos

trabalho,

capítulo

Trabalhamos então, com

mas considera também os micro poderes na vida

do

capítulos;

Estado6.

vista

objetivos nosso

grandes homens ou na

em

1932,

dessa

forma

poderíamos identificar e entender melhor a oposição existente no Distrito Federal, ao mesmo tempo o primeiro capítulo procura contextualizar o período histórico dando ênfase para a tensão social e política do período. Elaboramos este capítulo dialogando com as bibliografias que se ajustavam a nossa teoria.8 Já no segundo capítulo realizamos a análise do jornal Diário Carioca, um dos principais periódicos em circulação no Distrito Federal e que exercia oposição ao governo provisório sendo inclusive empastelado ainda em fevereiro do ano de 1932. Analisamos assim, as edições do jornal durante os BARROS, op.cit. p. 107. Evocamos aqui o termo “teoria” com o significado a ele atribuído por José D’Assunção Barros em que “a teoria relaciona-se a um ‘modo de pensar’ (ou de ver)” in: Teoria e 7 8

Metodologia – Algumas distinções fundamentais entre as duas dimensões, no âmbito das Ciências Sociais e Humanas.

In: REVISTA ELETRÔNICA DE EDUCAÇÃO. São Carlos (SP): Universidade Federal de São Carlos, Programa de PósGraduação em Educação, 2007. Semestral. ISSN 1982-7199. Disponível em: http://www.reveduc.ufscar.br. Acesso 31/07/2014.


G N A R U S | 212 85 dias de duração do conflito com a finalidade de

No terceiro e último capítulo nos dedicamos a

identificarmos o posicionamento político deste

pesquisar personagens históricos específicos que

periódico através do seu discurso. O fato de

participaram direta ou indiretamente do conflito

termos escolhido um jornal como fonte não foi a

só que apoiando a causa paulista, diante das

esmo, o jornal enquanto fonte histórica é

especificidades de cada grupo dividimos a nossa

“portador de interesses e projetos de classes ou

análise em civis e militares. Nosso intento ao

frações de classe numa conjuntura dada”,9 para

estudar estes personagens foi de que pudéssemos

além deste fator os jornais de início do século XX

não só identificar quem eram os oposicionistas,

apesar de já possuírem características profissionais

mas também de que havia membros na sociedade

não perderam o seu caráter opinativo e de

que acabavam legitimando o discurso do Diário

intervenção na vida pública.10 Portanto analisar o

Carioca, mesmo que de fato não lessem o

discurso emitido pelo Diário Carioca significa

periódico.

compreender o posicionamento não só do próprio jornal como de uma parcela da sociedade. Na metodologia utilizada para análise do jornal

CAPÍTULO I

tivemos o cuidado de não procurar arrumar o discurso do jornal de forma homogênea, tendo em

Caminhando para uma oposição 1930-1932

vista que oscilações são comuns, podendo ser

A consciência para cujo tribunal inflexível apello neste instante, não me accusa de, como Chefe do Governo, haver deixado de cumprir estrictamente o dever que me foi imposto pela revolução. Mantendo-me inabalavel na defesa dos seus ideaes e arrostando, para realizar os compromissos assumidos, a animosidade e a oposição daquelles que, na ansia de conquistar predomínio e posições, se collocaram, aos poucos, à margem da situação, incapazes de condicionar suas paixões aos magnos interesses da nacionalidade.12 (grifo nosso)

vários os fatores que alteram o discurso desde a um momento diferenciado em que o jornalista ou editor possa estar passando até a própria inclusão do jornal sobre uma censura prévia, em outras palavras:

Mesmo esse tipo de jornal, porém, não é monolítico, deixando entrever ou passar falas diferenciadas de uma orientação central. Alguns jornalistas dizem ver sua profissão como “uma tarefa apressada”; obviamente não se procura nessa a racionalidade do trabalho acadêmico... Assim, ao se trabalhar com os jornais, é sempre preciso ter-se cuidado para não ficar tentado a arrumar tudo direitinho numa direção só.11

Na declaração acima destinada à nação, realizada logo após o início da guerra civil de 193213, Getúlio Vargas na condição de chefe do Governo Provisório, afirma estar defendendo os ideais da revolução de outubro de 1930, ao mesmo tempo em que os revoltosos são elementos que

M. do Pilar de A. Vieira et al. Imprensa como fonte para a pesquisa histórica. Revista PUCSP, consultado em < 9

http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/viewFile/124 95/9064>. Acesso em 29/07/2014. 10 LUCA, Tânia Regina. A história dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. 11 BORGES, Vavy Pacheco. Tenentismo e Revolução Brasileira. São Paulo: Editora Brasiliense, 1992, p. 22.

12

Nota oficial do Chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas, publicada no jornal Diário Carioca, RJ, em 12 de julho de 1932, p. 4. 13 Existem várias nomenclaturas para o conflito entre São Paulo e o governo provisório, que ocorreu do dia 09 de julho à 02 de outubro de 1932, possuindo suas variações conforme a corrente historiográfica, contudo o presente trabalho não pretende enveredar por este caminho e por isso iremos nos referimos ao conflito simplesmente como guerra civil.


G N A R U S | 213

(...) sendo mensurada em 85 dias, iniciouse em 9 de julho e terminou em 2 de outubro do mesmo ano, ela teve complexas ligações com outros eventos mais longos, como a chamada “Revolução de 1930”, sua política administrativa, as diversas interventorias estaduais, os projetos de República e constituições que se confrontavam (...)16

não conseguiram acessar posições de poder no governo e acabaram se colocando a margem da situação já que eram incapazes de por as suas paixões abaixo dos interesses do país. Se analisarmos o contexto político do período que vai da Revolução de 1930 até a guerra em 1932 perceberemos que a nota oficial de fato traduz uma parcela da realidade, na qual a

Ao afirmar que a guerra de 1932 pertence a um

ascensão ao poder de um determinado grupo

contexto maior somos obrigados a conhecer o

acaba alijando deste, grupos políticos que

período anterior que desencadearia o conflito.

escreveram a história da primeira república no

Assim seremos capazes de entender as diversas

Brasil e consequentemente definiram os rumos da

oposições, em São Paulo e no Rio de Janeiro, que é

política nacional.

o principal objetivo desse trabalho, ao Governo

A guerra de 1932 seria gerada, então, pela

Provisório no momento do conflito. Para tanto

tensão e disputa pelo poder político destes grupos

devemos analisar o quadro político, social e

e também devido à política nacional adotada pelo

econômico do país no mínimo a partir do ano de

novo governo, que era baseada nos ideais da

1930, quando estas tensões serão potencializadas

revolução, em outras palavras:

devido à revolução de outubro.

(...) a Guerra de 1932 está intimamente relacionada com a política nacional adotada pelo novo governo, que chegou ao poder depois da campanha presidencial de 1930, mesmo tendo perdido as eleições. O maior movimento questionador do Governo Provisório, com armas nas mãos, estendeuse por todo o país, atraindo seus aliados ou congregando seus opositores, em um contexto de profunda instabilidade.14

1.1 A Revolução de 1930 e os partidos de oposição

Está victoriosa a revolução. Está victorioso o ideal democratico dos sonhadores de 1889. Não foi um movimento isolado de quarteis. Foi um movimento excepcional unico na historia dos povos latinoamericanos - iniciado ao mesmo tempo pelo norte e pelo sul, irmanados na gloria de salvar o Brasil das mãos dos cabotinos e dos aventureiros, dos ladrões e dos fraudadores da verdade eleitoral.17

Podemos assim afirmar que o conflito de 1932 se insere num contexto maior que o do seu ano de acontecimento, maior que o estado de São Paulo e com certeza maior que a questão da luta pela reconstitucionalização do país15 e mesmo a guerra de 1932:

A revolução de 1930 já suscitou e promoveu inúmeros debates historiográficos sobre sua natureza. As versões tradicionais correspondem ao período em que os historiadores brasileiros estiveram sobre influência da história marxista e que tendia a dualizar os diversos processos

14

LOPES, Raimundo Helio. Os batalhões provisórios:

legitimação, mobilização e alistamento para uma guerra nacional (Ceará 1932). Dissertação de mestrado. UFC, 2009,

p. 15. 15A guerra de 1932 também é conhecida pela terminologia de Revolução Constitucionalista de 32, pois durante muito tempo a reconstitucionalização do país foi o motivo principal apontado pela historiografia como causa do conflito.

históricos, basicamente como uma luta de classes. Desta forma a Revolução de 1930 teria sido nas 16 17

LOPES, Raimundo Helio. Op. cit., p.17. Diário Carioca, RJ, 24/10/1930, p 1.


G N A R U S | 214 duas

explicações

mais

correntes

desta

produção agrícola. O café, principal produto de

historiografia dualista a ascensão da burguesia

exportação do país e principal fonte de riqueza do

industrial ao poder e, ou, a revolução da classe

estado

São

Paulo,

também

sentiria

as

média, mas sempre em oposição à outra classe

consequências da crise de

social, no primeiro caso burguesia versus elite

fundamental para desmentirmos a crença de que

latifundiária

a

1930 representou a ascensão da burguesia

polarização se daria entre classe média e as da

industrial ao poder, tendo em vista a crise

nação. Tal afirmação possuí embasamento no

econômica que atingiu ambos os setores ao

trabalho do historiador Boris Fausto, que ao

mesmo tempo.

enquanto

que

no

segundo

analisar a Revolução de 1930 partiu de:

[...] duas linhas principais que se cristalizaram na historiografia brasileira, procurando apreender seu sentido mais profundo: uma sintetiza o episódio revolucionário em termos de ascensão ao poder da burguesia industrial; outra o define como revolução das classes médias. De certo modo, as duas versões se relacionam com o modelo que procuro criticar. A primeira integra todos os seus elementos e com ele se identifica; a segunda implica a associação classes/tenentismo e, ao menos em certas formulações, refere-se ambiguamente ao que é subjacente ao modelo, isto é, a tese dualista.18 Contudo tal visão teleológica passa a sofrer revisões de modo que uma maior problematização dessa Revolução ocorre, levando agora em consideração a complexidade deste processo. Em

econômico, pois ela estava diretamente ligada à crise do sistema capitalista de 1929 e a política financeira adotada por Washington Luís19, que atingiria a indústria nacional e os setores de

Este fato é

Boris Fausto nos lembra, ainda, que se realmente havia uma indústria forte no Brasil esta era subordinada

aos

interesses

agrários

e

principalmente seu desenvolvimento maior era no estado de São Paulo.21 E, se o principal centro industrial do país se encontrava no estado paulista não seria de estranhar que estes apoiassem a candidatura de Júlio Prestes nas eleições de 1930, como de fato aconteceu. O mais importante para nos é notarmos que quando estoura a guerra em 1932 os industriais paulistas iriam aderir ao movimento sedicioso de modo que logo “após a eclosão da revolta, o órgão de classe dos industriais [FIESP] e a Associação Comercial, em manifesto conjunto, assinado em nome das classes conservadoras,

deram

sua

adesão

ao

movimento”.22 As constatações anteriores sobre o setor

relação à Revolução de 1930 a primeira observação que devemos realizar é de cunho

1929.20

industrial

também

são

relevantes

para

compreendermos o papel do Partido Democrático (PD) de São Paulo, que no primeiro momento apoiaria a Aliança Liberal (AL). Este fora fundado em 1926 em decorrência de disputas por cargos no Instituto do Café, dentro do estado de São Paulo.

Boris. A revolução de 1930: História e historiografia. São Paulo: Companhia das letras, 1997, pp. 0718FAUSTO,

10. 19 Washington Luís nasceu em Macaé no Rio de Janeiro no ano de 1869 e se elegeu presidente pelo Partido Republicano Paulista em 1926. Para mais consulte: Verbete: Washington Luís. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro CPDOC, doravante citado como DHBB/CPDOC. Acessado em 06 de março de 2014, <http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx >.

Era no início oposição do tradicional Partido Republicano Paulista (PRP) por abrigar os descontentes com a política adotada pelo partido perrepista. Após a vitória da Revolução o PD se FAUSTO, Boris. Op.cit. pp. 35 e 36. FAUSTO, Boris. Op.cit. pp. 37 e 38. 22 FAUSTO, Boris. Op.cit. p.48. 20 21


G N A R U S | 215 tornaria,

juntamente

com

a

Legião

frustrados, pois acreditava que Getúlio fosse

Revolucionária23, um dos principais partidos de

nomear Francisco Antônio de Almeida Morato26,

São Paulo.

presidente do partido, para a chefia do estado

O PD já foi relacionado pela historiografia à

paulista. Mas, ao encontrar com Getúlio no famoso

classe dos industriais e a classe média, quando a

Trem da Vitória27 este comunica a Morato que

revolução sai vitoriosa seriam estas classes que

quem assumiria a interventoria seria João Alberto

estariam assumindo o poder junto com o partido.

Lins de Barros.28 No caso da chefia do Estado em

Entretanto o Partido Democrático não estava

nenhum momento entre os anos de 1930 e 1932 o

vinculado a este setor mais dinâmico da sociedade

PD conseguiu pôr um membro seu na intervenção

e sim a setores agrícolas, e, pelo contrário os

do estado paulista.29

industriais possuíam maior conexão com o PRP.24A

No primeiro momento esse partido vai apoiar o

sua trajetória política no período que vai da

Governo Provisório, mesmo sem conseguir a

Revolução de 1930 a guerra civil em 1932 é um

posição de interventor. Mas, conforme o tempo

tanto conturbada, com a vitória da revolução o

passa seus membros encontram dificuldades para

partido ambicionava uma maior participação

por em prática seus planos de ascender ao poder

política, mas no momento da Revolução de 1930 o

em São Paulo a relação com o governo federal vai

PD não se articulou como os outros órgãos

se desgastando a ponto de, em janeiro de 1932,

revolucionários, pois:

realizar um manifesto que rompe com o governo federal.30 O Partido Democrático entraria na

A posição inicial de ambiguidade do PD em relação à sucessão se prolonga em relação ao movimento armado. A participação de seus membros na organização da luta é praticamente nula. Alguns poucos democráticos estabelecem contatos para a luta armada; alguns jornalistas do Diário Nacional são presos por suas posições, outros se envolvem na luta final pela vitória do movimento na cidade de São Paulo [...] Essa participação é tão reduzida que os articuladores do movimento jamais a esquecem ou desculpam. Posteriormente na luta pelo “espólio da revolução”, não perdem a oportunidade para lembrar ao PD sua ausência.25 Logo no início do Governo Provisório instalado após a revolução o PD já vê os seus planos 23A

Legião Revolucionária era um grupo político liderado por Miguel Costa, revolucionário ligado ao movimento tenentista e a revolução de 1930, posteriormente a LR se tornaria um partido o PPP, Partido Popular Paulista, possuía como princípio a defesa dos ideais da revolução. Para mais consulte: BORGES, Vavy Pacheco. Tenentismo e Revolução Brasileira. São Paulo: Editora Brasiliense, 1992. 24 FAUSTO, Boris. Op. cit. pp. 49-56. 25 BORGES, Vavy Pacheco. Op. cit. pp. 29 e 30.

guerra de 1932 como mais um opositor do Governo Provisório, não obstante ele não estaria sozinho neste caminho, havia ainda as forças tradicionais que tinham dominado o cenário político da Primeira República. Não podemos falar de oposições ao Governo Provisório sem citar brevemente o PRP, partido que dominou o cenário político na primeira república, e que apesar de ter ganhado as eleições em 1930 com Júlio Prestes, saiu derrotado pela revolução. A atuação do partido de 1930 a 1932 foi de fato discreta, até mesmo no próprio estado 26

Nome que havia sido inclusive escolhido pela junta militar, apenas esperava-se a confirmação de Getúlio Vargas. BORGES, Vavy Pacheco. Op. cit. P. 34. 27 O Trem da Vitória foi o nome dado ao trem que levava Getúlio Vargas para assumir o poder no Rio de Janeiro. Idem. 28 O pernambucano João Alberto era revolucionário e ligado ao movimento tenentista, também esteve presente nas revoltas de 1922 e em 1924 como chefe de destacamento da coluna. BORGES, Vavy Pacheco. Op. cit. P. 34. 29 Os interventores no período de 1930 a 1932 em São Paulo foram respectivamente: João Alberto Lins de Barros; Laudo Ferreira de Camargo; Manuel Rabelo e Pedro Manuel de Toledo. 30 BORGES, Vavy Pacheco. Op. cit., p. 47.


G N A R U S | 216 de São Paulo a disputa pelo poder se dá

foram os motivos que levaram dois dos principais

principalmente

Legião

partido de São Paulo a vencerem as suas

Revolucionária, deixando o PRP de lado, a

diferenças e se unirem contra o governo federal?

historiadora Vavy Pacheco Borges define assim a

Que motivos fizeram com que o PD, partido que

atuação do partido após 1930:

entra em 1930 como aliado do governo

entre

o

PD

e

a

revolucionário, dois anos mais tarde a romper com

Após outubro de 30, a perda do predomínio político do PRP é indubitável; afastado do poder pela destituição de cargos executivos e pela extinção dos legislativos, oficialmente permanece num limbo político, mas continua lutando através da ação de seus membros.31

este mesmo governo? São questões que devemos responder para que possamos compreender os diferentes e complexos posicionamentos políticos durante o conflito. Como antecipamos a tese que aponta como causa da revolta paulista a luta pela constituição,

A historiadora destaca ainda que alguns membros

do partido de menor expressão

conseguiam cargos administrativos, sendo este fato constantemente denunciado pela imprensa. No entanto, devemos lembrar que apesar do PRP atuar discretamente durante este período o

prometida pelo governo revolucionário, não se sustenta mais. A guerra paulista inicia-se em 9 de julho de 1932, mesmo após Getúlio Vargas ter assinado em 24 de fevereiro a nova lei eleitoral que era o primeiro passo para a constituição, o que já era notório para os contemporâneos, pois:

mesmo ainda possuía forças, pois como vimos anteriormente, o setor industrial de São Paulo era

A sua promulgação abre as portas da estrada segura e larga, por onde os garimpeiros da redempção brasileira marcharão confiantes, a alcançar o objectivo final da obra revolucionaria, isto é, a rentegração do Brasil na posse de mesmo, com a garantia integral das suas liberdades e dos seus direitos, assegurados pelos dispositivos de uma Constituição moldada nos aspectos mais completos do espiríto e dos sentimentos da nossa raça.34 (grifo nosso)

vinculado a este partido além da tradicional elite cafeeira. Em 1932 o PRP vai unir forças com o PD, formando a Frente Única Paulista32 que acabaria sendo o centro político de São Paulo na guerra civil de 1932.

1.2 As insatisfações do Estado de São Paulo

São Paulo é a locomotiva que puxa os vagões velhos e atrasados da federação.33 Em 1932 PRP e PD se unem através da Frente

Posteriormente no dia 14 de maio o presidente da República leria para a nação o decreto nº 21.402 que fixava que:

Fica o dia três de maio de 1933 para a realização das eleições à Assembléia Constituinte e cria uma comissão para elaborar e anteprojeto da Constituição. O Chefe do governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil: Considerando que, com a constituição dos Tribunais Eleitorais, terá inicio a fase de alistamento dos cidadãos para a escolha dos

Única Paulista e após romperem com o governo federal levam o país à guerra civil. Mas, quais 31

Idem, p.29. Aliança política entre o Partido Democrático (PD) de São Paulo e o Partido Republicano Paulista (PRP), formada em 16 de fevereiro de 1932 para se opor à influência tenentista em São Paulo e ao Governo Provisório da República, chefiado desde 1930 por Getúlio Vargas. Verbete FUP In: DHBB/CPDOC, acessado em 26/07/2014. 33 ANDRADE, Oswald de. “Marco Zero”, apud CAPELATO, Maria Helena. O movimento de 1932 a causa paulista. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 50. 32

34

Diário Carioca, RJ, 24/02/1932 p. 01.


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seus representantes na Assembléia Constituinte; Considerando que, nesses termos, convem seja prefixado um prazo dentro no qual se habilitem a exercer o direito de voto; Considerando a utilidade de abrir desde logo, como trabalho preparatória as deliberações da Assembléia Constituinte, um largo debate nacional em torno às questões fundamentais da organizações políticas do país, DECRETA: Art. 1º É criada, sob a presidência do Ministro da Justiça e Negócios Interiores, uma comissão incumbida de elaborar o anteprojeto da Constituição. Art. 2º A comissão será composta de tantos membros quantos forem necessários a elaboração do referido ante-projeto e por forma a serem nela representadas as correntes organizadas de opinião e de classe, a juizo do Chefe do Governo. Art. 3º As eleições à Assembléia Constituinte se realizarão no dia 3 de maio de 1933, observados o decreto n.21.076 de 24 de fevereiro de 1932 e os que, em complemento dele, foram ou vierem a ser expedidos pelo Governo. Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário. Rio de Janeiro, em 14 de maio de 1932, 111º da Independência e 44º a República.35

Paulo, pelo Brasil, nacionalidade.36

governo para o retorno do país à legalidade, isto ocorria porque na verdade era através do ideal da luta pela constituição que os paulistas mascaravam as suas verdadeiras insatisfações, ao mesmo tempo

causa

da

Os próprios diretores do PD possuíam a opinião de que se o governo do Estado de São Paulo fosse entregue a eles a Constituição poderia ser protelada. Assim, o principal incômodo dos paulistas com relação ao governo federal era o cerceamento da sua autonomia. Não afirmamos com isto, que de fato não havia interesse por parte de São Paulo na promulgação da Constituição, até porque a sua publicação poderia resolver os seus problemas,

dependendo

do

seu

caráter

obviamente, mas concordamos com o historiador Stanley Hilton que pondera:

(...) se Getúlio Vargas, em novembro de 1930, tivesse entregue a direção do Estado a um proeminente civil paulista ligado à causa revolucionária, tal como um prócer do Partido Democrático, o país não teria estado à beira de uma guerra fratricida em julho de 1932.37 De certa forma a insatisfação do Partido

É interessante notar que os articuladores do movimento procuravam ocultar os esforços do

pela

Democrático com o Governo Federal se iniciaria ainda em 1930, quando Vargas contrariando a decisão da junta militar que optava por João Alberto a interventoria do Estado, apesar da Revolução ter encontrado no PRP o seu principal inimigo devido à escolha de um interventor

que:

estrangeiro38 não foi uma retaliação contra São

Em torno do tema da Constituinte, conseguiu-se grande mobilização não apenas em São Paulo, mas também em outros Estados, onde setores descontentes com a política do Governo Provisório acabaram apoiando a “causa de São Paulo”. [...] Afinal, a defesa da Constituição permitia à classe dominante paulista falar por São

Paulo, é verdade que o PD como aliado dos revolucionários seria o representante natural do movimento para a direção do estado, contudo o problema se encontrava na maneira como os democráticos

37

Decreto nº 21.402 consultado no <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/19301939/decreto-21402-14-maio-1932-518100publicacaooriginal-1-pe.html> em 25/07/2014.

site

a

sua

participação

na

CAPELATO, Maria Helena. Op. cit., pp. 48 e 49. HILTON, Stanley E. A Guerra civil brasileira: História da Revolução Constitucionalista de 1932. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 21. 38 Estrangeiro pela escolha do interventor não ter recaído sobre um político oriundo do Estado de São Paulo. 36

35

viam


G N A R U S | 218 Revolução e a maneira como os revolucionários

sucesso e terminou com a prisão de mais de 200

viam a participação daqueles.

revoltosos.42

Na visão deste últimos os democratas agiram

Para além do agravante dos paulistas não

com certa passividade tanto nas eleições, quanto

conseguirem governar a si mesmos, há uma

na conspiração que derrubou Washington Luís, de

mudança

forma que o mineiro:

adotada pelo Governo Central, como é sabido a

fundamental

Constituição

[...] Virgílio de Melo e Franco, um dos principais elementos de ligação entre os conspiradores do centro-sul e os gaúchos em 1930, as prevenções dos revolucionários decorriam da convicção de que o Partido Democrático agira com excessiva passividade na época das eleições de 1930 e que, posteriormente, durante a conspiração contra o governo de Washington Luís, a ação do democráticos ficara, alegava-se, no terreno das palavras.39

de

1889

na

política

possuí

um

nacional caráter

descentralizador, mas desde a posse do governo revolucionário a União dá início a um processo de fortalecimento do poder central, que afetaria diretamente as receitas:

O Governo Provisório retira de do estado de São Paulo as receitas de exportação e o controle direto da política cafeeira, além de, entre outras medidas, a isenção de frete do açúcar paulista em estradas do estado. É imposta uma “taxa de 2% ouro” sobre o porto de Santos, são instituídos novos impostos sobre o café, sobre a propriedade territorial, sobre sua transmissão... .43

Não obstante os paulistas de uma forma geral não gostaram da decisão, os democratas não conseguiram o poder enquanto que para o restante dos paulistas o estado era agora

Diante de tais medidas os paulistas alegavam que

governado por um político estrangeiro e militar. Mesmo não alcançando o poder no primeiro momento o PD declararia o seu apoio ao Governo Provisório

e

aceitaria

João

Alberto

estavam sendo prejudicados pela política adotada pelo Governo Provisório. Apesar das ações tomadas pela federação,

como

interventor, entretanto o ressentimento dos democratas e algumas das medidas adotadas por João Alberto voltaria a abalar o cenário político do Estado em 1931. Entre as medidas se encontravam a legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no Estado e em decorrência de manifesto lançado no dia 7 de abril onde o interventor ordena o fechamento da sede do partido assim

sobretudo as ligadas à economia, os paulistas não possuíam tantas razões para reclamar, o governo sabia que São Paulo era o estado mais importante para a economia do país, tanto que não faltaram esforços para recuperar a economia cafeeira, prova disso foi à compra de todo o estoque de café retido pelo Governo e que posteriormente seria queimado para preservar o valor do produto.44 A política econômica adotada pelo Governo

como a prisão do então chefe de polícia Vicente Rao.40 Em resposta os democratas, com o apoio do general Isidoro Dias Lopes41, organizam uma tentativa de golpe em 28 de abril, que não obteve

visando à recuperação da economia cafeeira e a ciência dos paulistas deste fato, reforçam a tese de que a principal

insatisfação

destes estava

relacionada ao cerceamento da autonomia do HILTON, Stanley E. Op.cit, p. 23. 40 CAPELATO, Maria Helena. Op. cit., pp. 14 e15. 41 Isidoro Dias Lopes nasceu no Rio Grande do Sul em 1865 e era chefe da 2ª Região Militar, posteriormente participaria da Revolução de 1932 pelo lado dos paulistas. Mais em verbete: Isidoro Dias Lopes. DHBB/CPDOC. Acessado em 20/06/2014. 39

estado. Dos quatro interventores que passaram por 42

Idem. p. 14-15. BORGES, Vavy Pacheco. Op. cit., p.185. 44 CAPELATO, Maria Helena. Op. cit., pp. 21-22. 43


G N A R U S | 219 São Paulo entre 1930 e 1932 apenas dois eram

Este possuía uma longa carreira política já havia

paulistas e civis, para completar não possuíam

ocupado o cargo de ministro da agricultura entre

muita expressão no cenário político. Os outros dois

1910 e 1913, além de ter sido embaixador do

interventores eram oriundos de outros estados e

Brasil na Itália e Argentina, devido a desavenças

militares, o que era encarado como ocupação.

com o presidente Arthur Bernardes, foi demovido

Após a interventoria de João Alberto que se

do cargo de embaixador na Argentina em 1926 e

exonerou do cargo em 24 de julho de 1932 devido

aos 66 anos se afastou da vida pública. A escolha

a pressões políticas por estar vinculado ao

do nome de Toledo para o posto de interventor foi

movimento

tenentista45

quem assume é o juiz

claramente estratégica, devido ao afastamento da

Laudo Ferreira de Camargo.46 Pressionado pela

vida pública Vargas acreditava estar escolhendo

Legião Revolucionária de Miguel Costa e pelo

um nome neutro na disputa pelo poder no estado,

grupo tenentista encabeçado por João Alberto,

e que agradaria tanto a FUP quanto o movimento

Laudo Camargo se demitiria do cargo de

tenentista.

interventor em 13 de novembro de 1931.

Apesar de Pedro de Toledo não desagradar às

Neste mesmo dia o então coronel Manuel

elites paulistas não era exatamente o que

Rabelo47 assume a interventoria do estado apoiado

desejavam. A relação destas com o Governo

pelos mesmos culpados pela queda de Laudo de

Federal já estava extremamente desgastada de

Camargo, Miguel Costa e João Alberto. Mais uma

modo que a tensão gerada pelos acontecimentos

vez São Paulo estava em mãos de um chefe

anteriores fez estourar a guerra civil brasileira em

político de fora. Novamente os partidos de

9 de julho de 1932. Após a deflagração do

oposição pressionariam o Governo Provisório para

movimento

que entregasse São Paulo aos paulistas.

manifestaria seu desejo de renúncia, a opção pelo

Em 13 de janeiro de 1932 o PD lançava manifesto rompendo com o Governo Federal e a pressão

sedicioso

Pedro

de

Toledo

movimento armado não era aconselhada pelo interventor, contudo:

aumentaria quando o Partido Democrático se uniria ao tradicional PRP, na Frente Única Paulista (FUP) ou Frente Única de São Paulo (FUSP). A tensão política gerada pelos paulistas surtiu efeito, pois em 03 de março Getúlio Vargas exonerava o coronel Manuel Rabelo e nomeava o paulista civil Pedro Manuel de Toledo48 para o cargo de interventor.

45

Iremos abordar o movimento tenentista no presente trabalho mais adiante. 46 Laudo Camargo era paulista e nasceu em 1881 na cidade de Amparo. In: DHBB/CPDOC, acessado em 20/06/2014. 47 Manuel Rabelo havia nascido na cidade de Barra Mansa no Rio de Janeiro, e militar ligado ao movimento tenentista que não era tão popular entre os paulistas. In: verbete: Manuel Rabelo. DHBB/CPDOC. Acesso 26/06/2014. 48 Nasceu na cidade de São Paulo em 29 de junho de 1860, seu avô o coronel Joaquim Floriano de Toledo, havia sido

(...) a insistência dos líderes revolucionários levou-o a aceitar o cargo de governador do estado e chefe civil do movimento, sendo ele aclamado em seguida diante de grande concentração popular, descrita por Menotti del Picchia: “A multidão tomou-se de delírios pânicos que tornaram suas aclamações o reboar de um furacão desencadeado. As mãos acenavam; flabelavam-se os lenços; agitavam-se os chapéus. Comparecendo a uma das janelas do palácio cercado pelo general Isidoro Dias Lopes, coronel Salgado, dr. Francisco Morato, Pádua Sales e outros chefes militares e civis da revolução, foi o dr. Pedro de Toledo proclamado governador de São Paulo.” Pouco depois, Toledo enviou telegrama a Vargas, afirmando: “Esgotados secretário particular de dom Pedro I. In: verbete: Manuel Rabelo. DHBB/CPDOC. Acesso 26/06/2014.


G N A R U S | 220

todos os meios que a meu alcance estiveram para evitar o movimento que acaba de se verificar na guarnição dessa região, ao qual aderiu o povo paulista, não me foi possível caminhar ao revés dos sentimentos do meu estado.”49

1.3 A oposição ao tenentismo

A finalidade real do Club 3 de Outubro era sustentar pela violencia, um regime de poderes discricionarios, que o sr. Getulio Vargas, evidentemente, planejou prolongar no paiz.52

A adesão de Pedro de Toledo ao movimento sedicioso, obviamente, não agradaria a Vargas.

O

movimento

tenentista

enxergava

a

Nos escritos do seu diário que correspondem aos

necessidade de uma regeneração no país, isto

dias 12 e 13 de julho o chefe do Governo

porque a política nacional da Primeira República

escreveria “Em São Paulo, traição de Vasconcelos,

havia sido prejudicial para o Brasil. Para o

de todo o governo paulista, inclusive a velha

tenentismo a inspiração da constituição de 1891

múmia

gerava uma descentralização republicana, por se

que

exumei

interventor Pedro de

do

esquecimento,

o

Toledo.”50

basear em um liberalismo excessivo, que podia até

No caso de São Paulo ficou claro todas as

ser compatível com outros países, mas não possuía

dificuldades que Getúlio teve para administrar o

semelhança com o Brasil devido à especificidade

estado, basicamente a diminuição da tensão na

na sua formação. Para a solução fazia-se

região perpassaria pelo atendimento dos anseios

necessário à centralização do poder e a

do PD, mas a situação não era tão simples. Assim,

uniformização

no início do Governo Provisório Vargas possuía o

obviamente que tais ocorreriam através do

seu poder político mais limitado e, por isso,

Exército. Se havia uma crítica por parte dos

precisava de apoio neste sentido51. Logo, tinha que

tenentes com relação à excessiva autonomia que

responder por um dos principais aliados da sua

os Estados possuíam, consequentemente criticava

plataforma política nacional, o grupo dos

se o poder oligárquico, principal responsável pela

tenentes. De certa forma a instabilidade na

descentralização do poder, e mais, uma vez

política paulista neste período de 1930 a 1932 é

identificado pelo:

das

instituições

do

estado,

causada pela disputa do poder pelo PD com os tenentes que atuavam politicamente no estado,

(...) domínio das oligarquias com a predominância do Poder Executivo, que intervém na composição do Legislativo, fere a autonomia estadual, viola as liberdades individuais, com a contínua decretação de estados de sítio. Por isso, buscar a maior centralização não significa para os “tenentes” reforçar as atribuições do Executivo, mas, pelo contrário, acentua-se a necessidade de restaurar o equilíbrio entre os três poderes, admitido-se a hipótese de uma predominância do judiciário.53

principalmente João Alberto e Miguel Costa. Na verdade o movimento tenentista, que se iniciara no início da década de 1920 e em 1930 com a vitória da Revolução encontra o seu auge na participação ativa no Governo Provisório, esse foi o motivo do descontentamento de inúmeros setores da sociedade brasileira com o governo, inclusive no Rio de Janeiro. 49

Pedro Manuel de Toledo. DHBB/CPDOC. Acesso 27/06/2014 50 PEIXOTO, Celina Vargas do Amaral, Getúlio Vargas: Diário, Volume I (1930-1936). Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1995, p. 116. 51 HILTON, Stanley E. Op. cit., pp. 32-33.

Torre de Babel In: Diário Carioca, RJ, 24/02/1932, p. 1. O Club 3 de outubro representava os ideais do tenentismo, participavam tanto civis como militares ligados aos seus ideais. 53 FAUSTO, Boris. Op. cit, .pp. 86-88. 52A


G N A R U S | 221

Mato Grosso para onde fora banido seis meses após a Revolução de 1930, acompanhava com crescente desgosto e apreensão a onda de indisciplina que parecia estar erodindo os fundamentos da organização militar nacional.57

Dessa forma o tenentismo via nas oligarquias o principal obstáculo para o que acreditava ser o melhor para o país. O resultado seria os inúmeros embates entre grupos oligárquicos e os tenentes. Através dessa análise, podemos, ainda, concluir que o surgimento do tenentismo e o processo

A Frente Única Paulista (FUP) ciente da antipatia

político de São Paulo geram o atrito que

do general pelo tenentismo, e pelo governo, o

desembocou no movimento de 1932.54

convidaria para o levante em 24 de abril e no dia 1

Cabe ressaltar que a oposição ao governo provisório gerada pela presença dos tenentes no

de maio ofereceria o comando das tropas paulistas ao general Klinger.

governo, não significava que a política pós 1930

É digno de nota que alguns dos militares que

atendia aos interesses destes, pelo contrário, na

estavam na base do governo observavam com

prática

o

governo

cautela o movimento

atenderia

os

tenentista, é o caso,

interesses

de

por exemplo, do Gal.

oligarquias ligadas a

Pedro Aurélio de Góis

outros

Monteiro58 que em

Estados,

ou

seja, com a Revolução

carta

ao

general

teria ocorrido uma

Klinger afirmava que

troca no poder.55

algumas

guarnições

Não obstante, o que

estavam em franca

devemos considerar é

balburdia e no dia a

que

movimento

dia avolumava-se a

tenentista acentuaria

desorganização e a

uma

indisciplina.59 Apesar

o

oposição

ao

governo que além de estar excluída do poder não

de parecer contraditório a fundação do Clube 3 de

concordava com os novos rumos da política

Outubro por Góis Monteiro, a sua criação possuía

nacional do governo provisório.

o objetivo de fazer com que os tenentes não

Entretanto os críticos do tenentismo não se restringiam somente a setores civis da sociedade, dentro

do

próprio

exército

havia

levassem para os quartéis questões políticas, restringindo as ao clube.60

pessoas

A presença do general Leite de Castro61 no

descontentes com os tenentes. Este seria o motivo

ministério da guerra que era ligado ao movimento

de principal insatisfação do Gal. Bertoldo Klinger56

tenentista por pouco não fez com que o

com o governo e de seu posto em: HILTON, Stanley E. Op. cit., pp. 54 e 55. Pedro Aurélio de Góis Monteiro nasceu em São Luís do Quitunde (AL) no dia 12 de dezembro de 1889, e fazia parte da base do governo de Vargas. Góis Monteiro. In: DHBB/CPDOC. Acessado 30/06/2014. 59 HILTON, Stanley E. Op. cit., pp. 54 e 55. 60 Idem, p. 55.. 61 O general José Fernandes Leite de Castro ocupou o posto de ministro de 3 de novembro de 1930 a 29 de junho de 1932. In: DHBB/CPDOC. Acessado 30/06/2014. 57 58

BORGES, Vavy Pacheco. Op. cit., p. 168. CAPELATO, Maria Helena. Op. cit., pp. 51-52. 56 O General Bertoldo Klinger seria o comandante das tropas paulista na guerra de 1932. In: Verbete: Bertoldo Klinger. DHBB/CPDOC. Acessado 30/06/2014. 54 55


G N A R U S | 222 interventor do Rio Grande do Sul, Flores da

CAPÍTULO II

Cunha62, não acompanhasse o posicionamento da Frente Única Gaúcha e aderisse ao movimento de

OPOSIÇÃO NO DISTRITO FEDERAL: O JORNAL

revolta do Estado de São Paulo – diga-se de

DIÁRIO CARIOCA

passagem, que o apoio do Rio Grande do Sul era considerado vital tanto para os paulistas quanto

Segundo

o

Dicionário

Histórico-Biográfico

para o Governo Federal. Somente após a

Brasileiro, José Eduardo de Macedo Soares teria

exoneração do ministro de guerra Leite de Castro

fundado o jornal Diário Carioca em 17 de julho de

e da insistência de Getúlio Vargas para que

1928 com a tarefa principal de fazer oposição ao

continuasse a frente da interventoria e garantisse a

governo do presidente Washington Luís. Ao todo o

ordem é que Flores da Cunha tomou uma decisão

jornal teve quatro proprietários e durante a gestão

e em 10 de julho afirmava que manteria a todo

de Horário de Carvalho Júnior64 o jornal chegou a

custo à ordem no Estado, e no dia seguinte

ter uma sede própria que ficava localizada na

declarava ao Rio Grande a nação através do jornal

Praça Onze no Rio de Janeiro.

A Federação que:

Durante sua existência esse periódico teve como foco principal a vida política do país. Seu estilo

Cumpre-me declarar ao Rio Grande e à nação que me conservarei fiel aos deveres de delegado do Governo Provisório… Ninguém me fará a injuria de suppôr que eu pudesse usar de minha autoridade para atraiçoar a quem m’a conferiu fiado na integridade do meu caracter e na capacidade da minha acção patriotica.63 Apesar de ser necessário neste primeiro momento para a sustentação política do governo, percebe-se que o movimento tenentista enquanto parte integrante do governo provisório gerava insatisfação

e,

sobretudo,

a

oposição

de

específicos setores da sociedade. O jornal Diário

Carioca, nosso objeto de estudo, representava um

moderno e inovador marcaram seus textos jornalísticos, ao introduzir novos padrões formais, que eram oriundos da Semana da Arte Moderna (1922).65 O Diário Carioca aos poucos foi eliminando, da sua linguagem, o excesso de adjetivos em sues textos e passou a utilizar preposições mais próximas da linguagem falada, contrariando a prática de boa parte dos periódicos da época. Isto ocorria porque era muito comum, naquele momento, a profissão de jornalista ser exercida

por

modificações

bacharéis realizadas

de pelo

direito66. jornal

As

foram

significativas já que houve:

destes setores de oposição não só ao tenentismo como ao próprio governo provisório. O jornal Diário Carioca iniciou as suas atividades no dia 17 de julho de 1928 e a sua última edição data de 31 de dezembro de 1965. Teve como fundador Macedo Soares. Seu segundo proprietário foi Horário de Carvalho Júnior e posteriormente seus proprietários serão Arnon de Melo e Dantom Jobim. LAGE, Nilson; FARIA, Tales e RODRIGUES, Sergio. Diário Carioca: o primeiro degrau para a modernidade. Estudos em Jornalismo e Mídia, Universidade Federal de Santa Catarina, Vol. I Nº 1 - 1º Semestre de 2004. Consultado em 11 de maio de 2014 <https://periodicos.ufsc.br/index.php/jornalismo/article/view /2195/3931>. 65 Idem, p. 132. 66 Idem, p.139. 64

62

José Antônio Flores da Cunha nascido no Rio Grande do Sul no dia 5 de março de 1880 possuía uma longa carreira política até ocupar o cargo de interventor do seu Estado, tendo sido eleito três vezes deputado federal e uma vez para senador, até se tornar revolucionário em 1930 e ulteriormente interventor do RS. In: DHBB/CPDOC. Acessado 30/06/2014. 63 Ao Rio Grande do Sul e ao Brasil, In: A Federação, RS, 11/07/1932, p. 1.


G N A R U S | 223

[...] a supressão paulatina mas constante, das formas arcaicas de tratamento e referência (‘doutor’, ‘eminente jurista’, sua excelência’) e do jargão jurídico dominante em uma profissão até então exercida frequentemente por bacharéis em Direito, quando não contagiada pela vulgata de rábula de policiais e bandidos.67

do levante dos 18 do forte.69 Não obstante na sua primeira edição o jornal apregoava que:

Este jornal é antes de tudo, um instrumento absolutamente livre nas mãos de seu director: não tem ligações partidárias nem politicas, não representa nenhuma [...] de interesses commerciaes ou financeiros que pudessem de qualquer forma limitar a perfeita independencia de sua acção jornalistica. O seu objetivo é servir o país traduzindo [...] os seus sentimentos, esclarecendo e interpretando as correntes de opiniões, assumindo com honestidade e firmesa a parcella de responsabilidades que por ventura lhe caiba nas lutas da política nacional.70

Foi no Diário que:

[...] se eliminou o uso absurdo da palavra ‘indivíduo’ como sinônimo de criminoso e ‘indigitado (que quer dizer ‘apontado’) para mencionar exclusivamente o reú em um processo; trocou-se ‘homicídio’ por ‘assassinato’, latrocínio por ‘roubo’, ‘humilde’ por pobre (já que a humildade é subjetiva e a pobreza objetiva), ‘homem de cor’ por ‘negro’. As pessoas passaram a morar ‘na rua x’ e não ‘à rua x’; as esposas tornaram-se ‘mulheres, os advogados deixaram de ser ‘causídicos’, os médicos ‘facultativos’, os vereadores ‘edis’, os prefeitos ‘alcaides’, as prostitutas ‘damas da noite’, as casas de dois andares ‘mansões, os automóveis quando passam depressa ‘bólidos’ etc.68 Em 1950, o Diário foi o primeiro jornal a introduzir o sistema de lead americano - onde a chamada principal da notícia já deveria conter as informações de forma sucinta para que o leitor

O

foram

realizadas

por

leitor

que

era

representava interesses comerciais ou financeiros. Em segundo lugar procurava informar ao leitor sobre os seus objetivos de servir o país, traduzir e interpretar os seus sentimentos sobre as correntes de opiniões e, por fim, assumia com firmeza a sua parcela de responsabilidade. Na mesma edição o

Diário Carioca afirmava ainda que: Um jornal não é um partido que aspirando o governo da Republica deva publicar um programma de acção política: somos, pelo contrario, o orgão da Nação que observa, julga, applaude ou condemna os que pretendem dirigir os seus destinos. 71

consagrados como Humberto Campos, Virgílio de Melo Franco, Evaristo de Morais, Maurício de Lacerda, Marcial Dias Pequeno, Paulo Mota Lima e mais a frente durante um curto tempo o Diário Com relação ao seu posicionamento crítico

ao

possuía ligações partidárias e muito menos

redatores

contou com Carlos Lacerda para chefe de redação.

informava

absolutamente livre de influências, pois não

ficasse ciente do que se tratava. Boa parte dessas inovações

jornal

Enquanto jornal de oposição o Diário Carioca apoiaria a revolução de 1930. Dias antes da revolução ocorreu um encontro de líderes da

contra o governo de Washington Luís o jornal também criticava a estrutura política como um todo, de modo que a data prevista para o lançamento do jornal era 05 de julho de 1926, pois havia o intuito de comemorar o sexto aniversário 67 68

Idem, p. 139. Idem. p. 139.

Verbete Diário Carioca In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro CPDOC, doravante citado como DHBB/CPDOC. 69

Consultado em 01 de maio de 2014, <http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx >. 70 Ver: “Diario Carioca”, In: Diário Carioca, RJ, 17/07/1928, p. 3. 71 Ver: “Diario Carioca”, In: Diário Carioca, RJ, 17/07/1928, p. 3.


G N A R U S | 224 Aliança Liberal na sede do jornal, e entre eles se

oposição ao governo do presidente Hermes da

encontrava o próprio Getúlio Vargas. Nas páginas

Fonseca75. O periódico possuía moldes modernos e

do periódico a revolução seria o caminho a ser

foi o primeiro jornal do Distrito Federal a utilizar

adotado para solucionar os problemas do

país72

e

ilustrações.

no dia 24 de outubro de 1930, após a vitória da

Devido a sua projeção em 1915, Macedo Soares

revolução, na sua primeira página o jornal escrevia

é eleito deputado federal pelo estado do Rio de

“A Redempção Brasileira — victoriosa em todo o

Janeiro na legenda do Partido Republicano

paíz a Cruzada Santa da Liberdade Nacional”.73

Fluminense (PRF), cumpre o seu mandato até o

Entretanto em dezembro do mesmo ano o Diário

final em 1917 e é reeleito mais duas vezes nos anos

Carioca passaria a se posicionar como oposição do

de 1918 e 1921 respectivamente. No dia 04 de

governo provisório.

julho de 1920 participaria indiretamente do

Esta mudança no posicionamento político do

primeiro levante tenentista, aonde ocupou a

jornal se relaciona diretamente com o seu

Companhia Telefônica de Niterói, afim de, evitar a

fundador José Eduardo de Macedo Soares, isto

comunicação com o Rio durante o movimento, que

porque o periódico adotou o seu discurso político.

eclodiria no dia seguinte em Copacabana. Já em

Mesmo nos momentos em que não estava à frente

1921, Macedo Soares participaria da campanha de

do jornal e “embora não tenha sempre dirigido o

Nilo Peçanha a presidência da República num

Diário Carioca, Macedo Soares desempenhou

movimento que ficou conhecido como a Reação

durante todo o tempo o papel de eminência parda

Republicana.76

do jornal, dando seu tom político e definindo suas diretrizes.”74

Sua atuação na política rendeu dois atentados contra a sua vida. O primeiro foi realizado pelo gaúcho Flores da Cunha, que errou o alvo, e o

2.1 A trajetória do criador do jornal Diário Carioca José Eduardo de Macedo nasceu em 04 de

segundo foi em fevereiro de 1932 quando o Diário

Carioca foi empastelado por grupos tenentistas. Macedo Soares no início apoiou a Revolução de

setembro de 1882 na cidade de São Gonçalo no Rio de Janeiro era oriundo de uma proeminente família do norte fluminense de modo que muitos dos seus parentes possuíam ligação com a política. Macedo Soares matriculou-se na Escola Naval tornando-se aspirante a guarda-marinha em março de 1898, em 1908 foi promovido à primeiro-tenente e em 1912 deixou a marinha quando passou a se dedicar as atividades jornalísticas. No mesmo ano em que deixou a marinha fundou o jornal O Imparcial que fazia Verbete Diário Carioca in DHBB/CPDOC. Acesso 10/07/2014. 73In: Diário Carioca, RJ, 24/10/1930, p. 1. 74 Verbete José Eduardo de Macedo Soares in DHBB/CPDOC. Acesso 10/07/2014. 72

1930. Contudo, em dezembro retiraria o seu apoio, acusando o Governo Provisório de Getúlio Vargas de

“(..)

desenvolver

uma

administração

incompetente e uma política mesquinha”.77 O principal motivo para a mudança na posição política de Macedo Soares era por conta da sua antipatia pelo movimento tenentista, por mais de uma vez o Diário Carioca criticou os tenentes e foi 75

Hermes Rodrigues da Fonseca nasceu em 12 de maio de 1855 e entre 1910 e 1914 foi presidente do Brasil. in DHBB/CPDOC. Acesso 10/07/2014. 76A Reação Republicana foi uma campanha realizada pelo Partido Republicano Fluminense que lançava a candidatura de Nilo Peçanha contra o candidato da situação Artur Bernardes. Verbete Partido Republicano Fluminense (PRF) in: DHBB/CPDOC Acesso em 02/07/2014. 77 Verbete José Eduardo de Macedo Soares in DHBB/CPDOC. Acesso em 02/07/2014.


G N A R U S | 225 justamente devido a uma matéria de conteúdo

deparou, logo na primeira página, com a seguinte

crítico aos tenentes, que afirmava que a: “(...)

matéria:

finalidade real do Club 3 de Outubro era sustentar pela

violencia,

discricionarios,

um que

regime o

sr.

de

Getulio

O movimento revolucionario que explodiu ante-hontem no Estado de São Paulo vem interessando vivamente a população carioca. Máo grado os boletins e communicados officiaes, visando tranquilizar os espiritos, a inquietação é geral. E não só a população carioca, mas a Nação inteira acompanha, emocionada, a marcha dos acontecimentos, ansiando pela prompia terminação da luta, por forma a poderem todos os brasileiros, unidos num só pensamento, verem realizado o seu grande sonho de liberdade, á sombra de leis sabias e bem inspiradas, emanando de um codigo politico que seja bem a expressão dos sentimentos e da vontade do paiz. E tudo indica que não está muito longe essa grande hora.81

poderes Vargas,

evidentemente, planejou prolongar no paiz”78. O periódico foi empastelado em 25 de fevereiro de 1932. Contudo, no dia anterior, Macedo Soares participou da “(...) da fundação do Clube 24 de Fevereiro, criado em 16 de fevereiro de 1932 para defender a reconstitucionalização do país e se opor ao Clube 3 de Outubro (...)”79. Por ter sido fundador e proprietário do Diário

Carioca, o jornal acabaria refletindo os seus pensamentos e posicionamentos acerca da política nacional, mesmo quando este estava afastado do periódico, ao mesmo tempo. Ao analisarmos o

Percebemos, logo neste primeiro momento, o

periódico entendemos o sentimento de uma

posicionamento pró revolução do jornal, pois não

parcela da sociedade, que é de oposição,

justamente num momento crucial para o Governo

acontecimentos, mas a nação inteira acompanhava

Provisório

emocionada os acontecimentos e ansiava pelo seu

em

que

este

procurava

a

sua

legitimação no poder.

a

população

carioca

acompanhava

os

fim, já que iria trazer um governo com leis sábias e inspiradas, e principalmente que representasse os

2.2 O Diário Carioca em tempos de guerra A primeira notícia do movimento revolucionário de São Paulo no Diário Carioca, data do dia 12 de

sentimentos e vontades do país. Em outras palavras o jornal demonstrava claramente a sua insatisfação com o governo atual.

julho de 1932. Mas, como sabemos o movimento

Ainda na primeira página o periódico estamparia

irrompeu no dia 09 de julho – este delay ocorreu

as fotos dos principais personagens políticos e

por conta do tempo que as informações

militares da revolução paulista general Bertholdo

demoravam a chegar, e, também, pelo fato de no

Klinger, Pedro de Toledo e o general Isidoro Dias

dia 11 de julho não ter havido edição do jornal por

Lopes82. Além das imagens dos revolucionários o

se tratar de uma segunda-feira80. Ao pegar o

Diário Carioca colocou as fotos de Arthur

Diário Carioca de 12 de julho de 1932, o leitor se

Bernardes e Mario Brant83 que não participaram

Ver: S. Paulo em armas contra a Ditadura, In: Diário Carioca, RJ, 12/07/1932, p. 1. 82 Isidoro Dias Lopes era comandante da 2ª RM até ser substituído pelo general Góis Monteiro, era cotado para ser o comandante das tropas revolucionárias, contudo por questões políticas a escolha recaiu sobre Bertholdo Klinger. Verbete Isidoro Dias Lopes in: DHBB/CPDOC Acesso em 02/07/2014. 83 O político mineiro Arthur Bernardes fora presidente do Brasil entre 1922-1926, já o também mineiro Mario Brant 81

Ver: “A torre de Babel”, In: Diário Carioca, RJ, 24/02/1932, p. 1. 79 Verbete José Eduardo de Macedo Soares, Op. cit. Acesso em 02/07/2014. 80 Apesar de haver jornais na época que circulavam sem interrupção, boa parte dos periódicos da época não circulava na segunda-feira, já que no domingo era concedido folga para os funcionários. 78


G N A R U S | 226 diretamente

do

movimento,

mas

eram

A nosso ver há uma mínima intenção do jornal

oposicionistas do governo provisório atuando pelo

em depositar a culpa no governo provisório,

estado de Minas Gerais.

deixando a entender que o estado paulista não

Apesar de não podermos afirmar com precisão o

teve alternativa frente as decisões do governo

porquê de o jornal ter posto as fotos destes

federal, pois os paulistas haviam realizados

últimos, conjecturamos que possuía a intenção de

constantes apelos com o intuito de solucionar os

demonstrar

de

problemas. Entretanto, o jornal se cala quanto às

insatisfação geral contra o governo e por isso as

medidas tomadas pelo governo para tentar

imagens de dois políticos proeminentes no cenário

diminuir a insatisfação no estado86.

que

havia

um

sentimento

regional e nacional no caso de Arthur Bernardes.

No tangente as declarações envolvendo o

O Diário Carioca lembraria que há muito tempo

governo federal, observamos que o periódico

se falava na possibilidade de um levante por parte

praticamente se abstém, restringindo-se a publicar

de São Paulo e que inclusive os elementos

as notas oficiais emitidas pelo governo central e

sediciosos do estado vinham tentando resolver as

pelo líder da nação Getúlio Vargas. Com relação a

diversas questões com o governo:

estas notas identificamos neste primeiro momento dois objetivos centrais, no primeiro deles o

Desde muito tempo se vinha falando na possibilidade de um levante por parte de vários elementos políticos do Estado, bem como alguns militares. Nesse sentido, os elementos revolucionarios de S.Paulo vinham dirigindo constantes apellos ao Governo Provisório, para que fossem tomadas providencias que appareciam tanto mais urgentes, quanto mais decorria o tempo. 84

governo provisório procurava descredenciar as razões postas pelos paulistas para o levante militar, no segundo objetivo notamos que o governo procura passar tranquilidade para o restante dos estados, para que assim garantisse o apoio destes. No trecho em que o governo se dirige a nação o primeiro objetivo fica bem claro ao afirmar que:

Prosseguia afirmando que:

Se ao movimento sedicioso agora ateado no grande Estado, se pretende emprestar, como querem fazer crer seus promotores, o objetivo de levar a nação á normalidade institucional, nada ha que o justifique. Os propositos do Governo Provisório a respeito já não mais podem ser postos em duvida, sem má fé e declarado intento de illudir a opinião publica. Os actos mais do que as palavras estão a documentai-os com meridiana evidência: foi promulgada a lei eleitoral: marcou-se a data em que se devem effectuar as eleições: escolheram-se os juizes dos tribunnaes eleitoraes: nomearam-se os funccionarios que compõem as respectivas secretarias:

Apesar do ambiente de tranquilidade que era obsevado em todas as espheras da vida paulista, notava-se uma grande prepação secreta, disfarçada com as organizações de batalhões patrioticos destinados a defender a autonomia de S. Paulo, no caso de tentativa do Governo Revolucionario no sentido de modificar a organização do Governo Paulista.85

havia sido até o momento da guerra de 1932, deputado federal e presidente do Banco do Brasil. Ver respectivamente os verbetes Arthur Bernardes e Mario Brant in DHBB/CPDOC. Acesso em 27 /07/2014. 84

Ver: “S. Paulo em armas contra a Ditadura”, In: Diário

Carioca, RJ, 12/07/1932, p. 1. 85

Ver: “S. Paulo em armas contra a Ditadura”, In: Diário

Carioca, RJ, 12/07/1932, p. 1.

86

Fora adotado como estratagema político, por parte da imprensa pró revolução e constituição, a ocultação das medidas tomadas pelo governo revolucionário que visavam a resolução de diversos problemas, principalmente no que diz respeito aos paulista. CAPELATO, Maria Helena. O movimento de 1932 a causa paulista. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 48.


G N A R U S | 227

abriram-se os creditos necessarios e acaba de ser designada a commisão incumbida de elaborar o projeto de Constituição.87

O governo provisório fazia questão de mostrar que com base no “civismo brasileiro” surgia

O governo federal afirmava que já havia tomado

solidariedade de diversos locais do país e

todas as providências para que o país voltasse à

demonstrava que já havia numerosos contingentes

normalidade constitucional, inclusive lembrando o

prontos para marchar contra os rebeldes.

fato de que já havia data para as eleições e a

Diante das declarações fornecidas pelo governo

comissão para a constituição já estava designada.

pudemos inferir que neste primeiro momento o

Mais a frente Getúlio Vargas lembraria que não

governo procurava em primeiro lugar deslegitimar

existiam motivos para o levante já que o governo

as ações de São Paulo, assim como demonstrar o

instituído pela revolução:

apoio maciço que o governo revolucionário possuía entre os estados.

(...) demonstrou sempre de modo innequivoco, todo interesse pelos seus destinos, amparando-o, quer na obra de reconstrucção de sua economia, com a solução de gravissíma crise do café, quer satisfazendo suas justas aspirações de ordem política, com a entrega do governo estadual aos proprios paulista.88 Com

este

pronunciamento

o

presidente

procurava demonstrar que desde a ascensão do governo revolucionário em 1930, procurava zelar

Basicamente no início do conflito o Diário

Carioca se restringia a narração dos fatos e as providências tomadas pelo governo provisório como a criação de cargos e corpos para a polícia mineira90, a abertura de crédito para o governo91 e a subordinação da Central do Brasil a pasta de Guerra92. Notícias desta natureza continuavam como “chefe do governo, em visita ás tropas, no campo das operações”93, encontros políticos. O jornal acompanhava de perto a situação

pelo destino de São Paulo, “reconstruindo” a economia cafeeira após crise e satisfazendo as aspirações políticas do estado ao entregar a interventoria aos próprios paulistas. Num segundo momento as declarações oficiais

política dos estados aonde havia políticos de destaque contrários ao regime e que poderiam vir a apoiar a causa paulista, notoriamente Minas Gerais e Rio Grande do Sul. No caso do Rio Grande o Diário Carioca não

procuravam passar o sentimento de união do país contra o movimento sedicioso:

deixaria passar a oportunidade de publicar o manifesto de oposição ao governo provisório da

Honrando a clarividencia do civismo brasileiro de todos os pontos do paiz, desde o Rio Grande do Sul até ao Amazonas o Governo esta recebendo as mais vivas e inequivocas demonstrações de solidariedade. Ja se aprestam, a esta hora, numerosos contingentes para marchar contra os rebeldes.89

Frente Única do Rio Grande do Sul que foi publicado no dia 21 de julho, no qual afirmavam a sua solidariedade com a causa paulista já que a “identidade dos propositos que anima S. Paulo e Rio Grande na sua resistencia aos erros da ditadura

90

Ver: “S. Paulo em armas contra a Ditadura”, In: Diário Carioca, RJ, 12/07/1932, p. 1. 88 Ver: “S. Paulo em armas contra a Ditadura”, In: Diário Carioca, RJ, 12/07/1932, p. 1. 89 Ver: “S. Paulo em armas contra a Ditadura”, In: Diário Carioca, RJ, 12/07/1932, p. 1. 87

Ver: “S. Paulo em armas contra a ditadura”, In: Diário

Carioca, RJ, 13/07/1932, p. 1.

Ver: “O movimento em São Paulo”, In: Diário Carioca, RJ,14/07/1932, p. 1. 92 Ver: “A Central do Brasil vae ficar subordinada à pasta da Guerra”, In: Diário Carioca, RJ, 20/07/1932, p. 1. 93 In: Diário Carioca, RJ, 19/07/1932, p. 1. 91


G N A R U S | 228 e ao seu animo deliberado de pôr entraves a volta

matéria sobre a riqueza do solo e o babassú, no dia

do paiz à ordem legal foi a causa inicial dessa

28 de julho nova matéria sobre bananas e no dia

solidariedade”94 (grifo nosso).

30 do mesmo mês a primeira página do Diário

Nas edições do jornal nos dias 22 e 23 fora

Carioca trazia uma propaganda cinematográfica

enfatizado os meetings políticos que estavam

sugestiva sobre o filme Chamado Accusador97 em

ocorrendo entre os próceres da política de Minas

que o seguinte diálogo era exposto, abaixo da

Gerais e que acabariam decidindo sobre a

propaganda se seguia uma matéria sobre laranjas:

participação política do estado mineiro na guerra

No seu odio ao homem que fizera morrer seu pae, ella se fez telephonista para lhe descobrir os segredos. Mas poderia falar? PROHIBIDA DE FALLAR”98. (grifo nosso)

civil.95 Entretanto a partir do dia 24/07/1932 o Diário

Carioca praticamente se cala sobre o conflito, fato este que estranhamos, pois no dia anterior o jornal

Com a exceção do período inicial e os dias finais

praticamente preenchera a sua primeira página

do conflito, em que as notícias sobre o movimento

com notícias vinculadas a situação política do

armado eram intensas, o Diário Carioca muito

estado de Minas Gerais e com a notícia do

pouco se pronunciou ou noticiou o conflito

encontro do ex ministro da justiça Maurício

armado que ocorria em São Paulo. Ao contrário,

Cardoso com Getúlio Vargas e no dia seguinte o

podemos dizer que as matérias sobre a questão do

jornal se limitasse a comentar reuniões que haviam

Chaco99 e a ascensão do partido nazista na

ocorrido no palácio do Catete e a uma extensa

Alemanha se fizeram mais presente no periódico

matéria na sua capa sobre “As bananas nas

que a guerra civil em andamento. Acreditamos que

colônias francezas”:

o jornal se encontrava sobre censura prévia e não

A administração da Africa Occidental Franceza emprega constantes esforços no intuito de abastecer de frutas tropicaes os mercados europeus, notadamente a banana. Ha cerca de trinta anos, essa fruta era considerada na França, como de luxo; hoje tornou-se de consumo corrente.”96.

seria coincidência que dias antes o jornal havia noticiado à criação de um órgão de censura no distrito federal de modo que:

O chefe do Governo Provisório da Republica dos Estados Unidos do Brasil, considerando que o levante militar, de que foi theatro, ultimamente, a capital do Estado de S. Paulo, tem preoccupado, como era natural, a attenção da policia no Districto Federal, que como lhe cumpre, tem agido no caso com o maximo interesse, resolve criar naquella repartição, o Departamento de Censura e Publicidade.100

Como se não bastasse outras edições do jornal estampariam na sua capa matérias relacionadas a frutas e ao seu comércio, no dia 27 de julho

Ver: “Ao Rio Grande do Sul e á Nação”, In: Diário Carioca 21 de julho de 1932, p.1. 95 O estado de Minas Gerais por pouco não aderiu ao movimento armado contra o governo provisório, havia a corrente política que defendia a adoção do estado a revolução, corrente liderada por Arthur Bernardes, havia os que queriam que Minas Gerais apenas se defendesse, como era a opinião de Venceslau Brás, mas no final o estado aderiu ao conflito do lado de Getúlio Vargas representado no estado pelo interventor Olegário Maciel. Ver respectivamente os verbetes Arthur Bernardes, Mario Brant e Venceslau Brás in DHBB/CPDOC. Acesso em 27 /07/2014. 96 Ver: “As bananas nas colônias francezas”, In: Diário Carioca, RJ, 24/07/1932, p. 1. 94

97

Filme do ano de 1931, dirigido por Stuart Walker. Diário Carioca, dias 27, 28 e 30 de julho de 1932. 99 Conflito militar em torno da posse da região do Chaco, rica em petróleo, que envolveu a Bolívia e o Paraguai entre 1928 e 1935. Depois de longa e infrutífera tentativa de mediação diplomática, na qual o Brasil teve parte ativa, a guerra foi decidida nos campos de batalha, terminando em junho de 1935 com a vitória paraguaia. In. DHBB/CPDOC Acesso em 10/07/2014. 100 Decreto do chefe do Governo Provisório publicado no Diário Carioca, 14 de julho de 1932, p. 1. 98


G N A R U S | 229 No que diz respeito a este período sabemos que outros jornais sofreram intervenções e inclusive prisões foram realizadas, de maneira que não era incomum

encontrarmos

deste estava em jogo101. O que pudemos inferir durante este curto

que

período de tempo é que o periódico mantinha o

demonstravam algum tipo de censura por parte do

seu posicionamento de oposição. Isto fica claro na

governo, como o despacho noticiado no dia 30 de

sua primeira edição após o inicio da revolta. Por

agosto pelo Diário Carioca oriundo da Associação

motivos obscuros ao presente momento em que

Brasileira de Imprensa (ABI) que reivindicava a

realizamos esta pesquisa o jornal se cala durante

soltura de um jornalista maranhense que fora

uma boa parte do conflito, diante deste fato sem

preso contra a liberdade de imprensa, logo não

podermos confirmar, apenas podemos conjecturar

seria de espantar que o jornal que havia sofrido um

que o periódico se encontrava sobre censura

empastelamento em fevereiro do mesmo ano, pelo

prévia, a possibilidade existia não se tratando de

grupo tenentista, e que possuía posicionamento

nada paradoxal, já que o governo, como vimos,

político

havia

claramente

notícias

para o governo em questão, em que a legitimação

contrário

ao

governo

criado

para

o

Distrito

Federal

o

provisório estivesse sobre censura prévia, ainda

Departamento de Censura e Publicidade em 14 de

mais se levarmos em consideração que o governo

julho de 1932.

federal estava sendo questionado e precisava mais do que nunca de legitimidade.

E apesar do Diário Carioca ter se calado sobre o conflito, este continuava a criticar o governo,

A guerra civil somente voltaria a ter destaque no

mesmo que de forma sutil como na matéria do dia

jornal no dia 30 de setembro, ou seja, faltando

12 de agosto de 1932 intitulada “Dhesumanidade!

apenas três dias para o término do conflito. Nessa

Um pobre operario despejado, com sua familia, no

edição a matéria de destaque foi com relação ao

morro Babylonia, pela força militar”102. Na matéria

conflito noticiava o telegrama enviado pelo

o jornal explicava que esteve em sua redação:

[...] o operario Accacio dos Santos que residia no morro da Baylonia, á casa n. 23, de propriedade do sr. Eduardo Duvivier, desde 1925. O referido, que tem oito filhos, sendo o mais moço de seis mezes e o mais velho de oito annos, veiu relatar-nos uma violencia de que acaba de ser victima,pedidno para o caso uma providencia do ministro da Guerra. A queixa do operario Acccio dos Santos é a seguinte: como dissemos acima residia elle, com os seus, desde 1925, na casa referida. Sempre pagou, pontualmente, os modestos alugueis, do predio, ao dr. Duvivier, nunca havendo questões entre elle e o senhorio. Acontece que o morro da Babylonia foi occupado pelos militares e, sem uma razão que lhes assegure essa attitude, querem elles que os moradores lhes paguem os

general Bertholdo Klinger, que continha a proposta de armistício. No primeiro dia de outubro era apontado o fato dos emissários enviados pelo general Klinger não terem assinado a proposta de paz do governo provisório, e nos dias 02 e 04 de outubro era noticiado o encaminhamento do fim do conflito.

2.3 O Diário Carioca em 85 dias Ao longo deste capítulo nos propomos a analisar o jornal Diário Carioca durante os 85 dias de conflito entre os revoltosos de São Paulo e o governo provisório, no intuito de observamos como o jornal se pronunciou num momento chave

101

Para a questão da necessidade de legitimação do governo provisório vide a já citada obra de LOPES, Raimundo Helio, sobretudo o primeiro capítulo, Op Cit, 102 Ver: “DESHUMANIDADE!”, In: Diário Carioca, RJ, 14/08/1932, p. 3.


G N A R U S | 230

alugueres das suas residencias, em vez de fazei-os aos respectivos proprietarios. Os militares que haviam ocupado o morro

diversos motivos, razão pela qual no próximo capítulo pretendemos nos debruçar sobre alguns membros expoentes desta sociedade.

Babylonia, segundo o jornal sem justificativa, estavam cobrando dos seus moradores que os CAPÍTULO 3

aluguéis fossem pagos a eles ao invés do reais proprietários, contudo como o operário Accacio dos Santos não concordou com essa jurisprudência militar se recusou a pagar o seu aluguel, e diante da sua recusa o operário foi despejado com a sua família. Ainda na matéria o periódico afirmava que:

Numa época como essa, de atribulações, de difficuldades, de incertezas, quando o governo decreta a moratoria para o comercio e elastece o praso para vencimentos de titulos estrangeiros, não se póde justificar o quadro descripto acima, desse despejo cruel de um pobre pae de familia com filhinhos de tenra edade.103

OPOSIÇÃO NO DISTRITO FEDERAL: A SOCIEDADE Se pudéssemos destacar o grupo social da capital que se encontrava mais descontente com o governo provisório de Getúlio Vargas em 1932, certamente apontaríamos para os militares. Entretanto, civis como o José Eduardo de Macedo Soares fundador do jornal Diário Carioca, era um nome que representava a sociedade civil no que se refere ao descontentamento frente ao governo provisório. Neste capítulo iremos nos debruçar sobre algumas dessas personagens - militares e

Por fim o periódico cobrava uma medida enérgica do ministro da Guerra para a resolução

civis -, que se manifestaram em grupo ou individualmente.

do caso. No dia 30 de agosto do mesmo ano o Diário

3.1 Os militares

tornaria a criticar o governo desta vez na maneira

Os militares do Distrito Federal (Rio de Janeiro)

em que o governo ampara os seus jornalistas,

que aderiram ou simpatizavam com a causa

realizando inclusive, uma interessante comparação

paulista, possuíam motivos variados, dentre eles

com o governo argentino em que “Naquelle paiz,

destacamos um motivo em especial: a aversão de

como no Brasil, a situação pessoal e profissional

alguns militares pelo movimento tenentista. Este

jornalista é deploravel. Mas a compreensão dessa

era visto como o elo comum entre eles, porque

realidade, na Argentina, já é fruto sazonado.”104

consideravam que havia uma “(...) desmoralização

Percebemos que o Diário Carioca era por si só

do Exército, oriunda da confusão governamental e

um órgão publicitário que representava uma

da indisciplina tenentista reinante nos quartéis.”

oposição ao governo provisório, contudo como

105

jornal, devemos tomar nota de que este

do Rio de Janeiro teriam se iniciado após a

representava uma camada da sociedade carioca

indisposição do interventor tenentista João

que se encontrava insatisfeita com o governo por

Alberto com os paulistas.

Ver: “DESHUMANIDADE!”, In: Diário Carioca, RJ, 14/08/1932, p. 3. 104 Ver: “O jornalista, a sociedade, o governo”, In: Diário Carioca, RJ, 30/08/1932, p. 2.

A articulação dos militares de São Paulo com os

103

HILTON, Stanley E. A Guerra civil brasileira: História da Revolução Constitucionalista de 1932. Rio de Janeiro: Nova 105

Fronteira, 1982, pp. 42-43.


G N A R U S | 231 Se pudéssemos apontar um líder da articulação

julho de 1930, a sua lealdade ao governo

realizada no Rio de Janeiro visando a deposição do

Washington Luís. Tal recusa ocasionaria na sua

governo provisório, sem dúvidas escolheríamos o

prisão durante a revolução de 03 de outubro de

coronel Euclides de Oliveira

Figueiredo106,

nascido

1930.109

na cidade carioca no ano de 1883, teve como

Contudo a definição da participação do Coronel

exemplo seu pai que também era militar, João

Euclides Figueiredo viria em 1931, a partir da visita

Batista de Oliveira Figueiredo107. No caso do

do seu irmão Leopoldo de Oliveira Figueiredo que

Coronel

seu

residia em Santos e era ligado ao Partido

descontentamento estava tanto no movimento

Democrático (PD). Este lhe informaria a delicada

tenentista quanto no fato de considerar o atual

situação de São Paulo, e após este encontro

governo ilegal.

Euclides Figueiredo passaria articular, tanto com

Euclides

Figueiredo

o

Em 1930, após a Aliança Liberal ter perdido as eleições

para

Júlio

Prestes

uma

Janeiro quanto com os paulistas. Na noite do dia

intensificação na articulação que culminaria no

08 de julho, um dia antes do levante, Euclides

golpe revolucionário de outubro de 1930 e para o

Figueiredo viajou de carro para São Paulo e no dia

primeiro momento os conspiradores haviam

10 de julho em carta conjunta com o general

escolhido o nome de Luís Carlos Prestes108 para

Isidoro Dias Lopes, assumia a responsabilidade

assumir o comando militar do golpe, contudo este

pelas forças revolucionárias empenhadas na

recusaria a proposta. Diante da sua recusa os

constitucionalização do país.

conspiradores ofereceram

o

houve

os setores descontentes da cidade do Rio de

comando

para

Durante o conflito Euclides Figueiredo assumiu

Euclides Figueiredo que a época comandava a 2ª

importante posição estratégica. Lhe foi delegado o

Divisão de Cavalaria sediada em Alegrete no Rio

comando da 2ª Divisão de Infantaria em

Grande do Sul. Contudo, ele também recusaria a

Operações (2ª DIO), que ficou encarregada de

proposta e afirmou em carta datada do dia 21

consolidar as posições no Vale do Paraíba. O objetivo era que esta frente avançasse sobre o

106

Filho Caçula, Euclides Figueiredo ficou órfão do pai ao seis anos de idade quando passou a ser criado pela irmã, entraria para o Colégio Militar em 1893, profissão que iria seguir até alcançar o posto de general de divisão. Participou da elaboração da constituição de 1946 e foi deputado federal entre 1946 e 1951. Faleceu em Campinas no dia 20 de dezembro de 1963. In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro CPDOC, doravante citado como DHBB/CPDOC. Consultado em <http://www.fgv.br/cpdoc/busca/Busca/BuscaConsultar.aspx >. Acesso em 04/08/2014. 107 João Batista de Oliveira Figueiredo fora funcionário do Tesouro Nacional, participou da Guerra do Paraguai, quando ajudou a organizar o primeiro serviço de intendência do Exército brasileiro. In: DHBB/CPDOC. Acesso em 04/08/2014. 108 Luís Carlos Prestes nasceu em Porto Alegre no dia 3 de janeiro de 1898, filho de Antônio Pereira Prestes, oficial do Exército da arma de engenharia, e de Leocádia Felizardo Prestes, professora primária. Ingressou no Colégio Militar no ano de 1909 aonde daria início a sua carreira militar. Participou da Revolta Paulista de 1924, da Coluna Prestes entre 1925 e 1927, da Intentona Comunista em 1935. Ingressa na vida política participando da elaboração da constituição em 1946, exercendo o cargo de senado nos anos 1946-1948. Veio a falecer no dia 07 de março de 1990. Verbete: Luis Carlos Prestes. In: DHBB/CPDOC. Acesso em 04/08/2014.

Distrito Federal e derrubasse o governo provisório, o que demonstra a importância de Figueiredo para o movimento. Após instalar o quartel-general da sua unidade em Lorena Euclides Figueiredo aguardaria pelos reforços vindos do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais. Contudo, o apoio destes estados nunca aconteceu, tendo que combater sozinho as frentes federalistas dos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.110 Diante do armistício entre as forças paulista e federal, Euclides Figueiredo tentaria fugir de São Paulo através de um barco de pesca em direção ao 109

Verbete: Euclides de Oliveira Figueiredo. DHBB/CPDOC. Acesso em 04/08/2014. 110 Verbete: Euclides de Oliveira Figueiredo, op. cit.

In:


G N A R U S | 232 Rio Grande do Sul, aonde esperava encontrar

colaborador do coronel Euclides Figueiredo

forças constitucionalistas em luta. Mas, o mau

ajudando este “na organização dos planos para o

tempo fez com que o navio aportasse em Santa

levante armado112.

Catarina o que levou a sua prisão. Posteriormente,

Antes da partida do coronel Figueiredo houvera

ele seria mandado em exílio para Lisboa (Portugal)

uma reunião no 08 de julho de 1932 entre os

ainda em novembro de 1932, aonde continuou

militares conspiradores do Rio de Janeiro, nesta

juntamente com outros 34 oficiais o planejamento

reunião ficara decidido que Figueiredo partiria de

de um novo movimento.

carro para São Paulo naquele mesmo dia enquanto

No Rio de Janeiro um dos colaboradores do

que Resende seguiria de trem, contudo Resende

coronel Euclides Figueiredo era o coronel

somente partiria no dia seguinte porque ficou

Palimércio de Resende, apesar de não ter nascido

encarregado de avisar aos outros conspiradores de

no Rio de Janeiro quando da eclosão da revolta

que o movimento teria início.

paulista este se encontrava de serviço no Distrito

Com a chegada de Resende em São Paulo este

Federal. Resende nascera no Rio Grande do Sul no

assumiu a chefia do estado-maior do quartel-

dia 13 de dezembro de 1880, ingressou na carreira

general revolucionário que era comandado pelo

em 1896 e em 1897 “matriculou-se na Escola de

coronel Euclides Figueiredo. Em praticamente

Tática e de Tiro de Rio Pardo, transferindo-se

quase todo o conflito Palimércio ficaria do lado de

depois para a Escola Militar da Praia Vermelha, no

Figueiredo, ora lutando e ora o apoiando em suas

Rio de Janeiro, então Distrito Federal, onde fez os

decisões, como no episódio em que o general

cursos de engenharia militar e de ciências físicas e

Klinger dá início às negociações com o governo

matemáticas.”111 Em 1901 Resende era aspirante-

provisório que levariam a assinatura do armistício

a-alferes sendo promovido a segundo-tenente em

e o coronel Figueiredo se opõe, Resende ainda

1907, a primeiro-tenente em 1911 e a capitão em

fazia parte do seu estado-maior.

1917. Consegue atingir o posto de major em 1923,

Com a derrota do movimento Palimércio

de tenente-coronel em 1926 e finalmente

também se exilaria no exterior ainda no ano de

chegando a coronel em 1928.

1932, só retornando ao país em 1934 após a

Na ocasião da Revolução de 1930, Resende

concessão da anistia pelo governo, Resende

servia na 2ª Região Militar do estado de São Paulo

participaria ainda de mais uma conspiração

e chegou a lutar contra os revolucionários no norte

visando derrubar o governo em 1935, entretanto

do Paraná, até a vitória do movimento. Seu

este golpe nunca aconteceu.113

posicionamento na Revolução de 1930, de não

Outro

colaborador

do

coronel

Euclides

aderir a esta, já dava indícios de que o governo

Figueiredo no Distrito Federal era o coronel Basílio

provisório não teria o seu apoio, e a sua posição na

Taborda, nasceu no Paraná no dia 20 de maio de

guerra civil de 1932 demonstra isso.

1877 e era filho de Manuel Paulino da Silva.

Em 1932 Palimércio Resende já se encontrava na

Taborda ingressou na carreira militar em 1894

cidade do Rio de Janeiro, e as vésperas da eclosão

atingindo o oficialato em 1909, chegaria ao Rio de

do movimento, Resende se tornaria um estreito 112 111

Verbete: Palimércio de Resende. In: DHBB/CPDOC. Acesso em 04/08/2014.

Verbete: Palimércio de Resende. In: DHBB/CPDOC. Acesso em 04/08/2014. 113 Verbete: Palimércio de Resende. In: DHBB/CPDOC. Acesso em 04/08/2014.


G N A R U S | 233 Janeiro em janeiro de 1923 no posto de instrutor

onde participou do mesmo grupo do coronel

de

Euclides Figueiredo que tentava reorganizar o

armas

da

artilharia

da

Escola

de

Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO), sendo

movimento armado contra Getúlio Vargas.116

promovido a major em abril do mesmo ano. No ano de 1924 após o rebento da segunda revolta

3.2 Os civis

tenentista de 05 de julho, Basílio Taborda

Havia no Rio de Janeira setores civis que estavam

apresentaria se no dia “13 de julho ao quartel-

descontentes com a situação política do país e

general da Divisão de Artilharia, por ter passado a

passaram a apoiar a causa constitucionalista,

servir como auxiliar de artilharia divisionária. No

através

dia 22 do mesmo mês foi nomeado chefe do

conspirando contra o governo. Foi o caso do

estado-maior da Brigada Coronel João Gomes, da

fundador do Diário Carioca José Eduardo de

Divisão de Operações de São Paulo, destinada a

Macedo

reprimir os revoltosos.”114

governo117.

No ano de 1931, Basílio Taborda é promovido ao

de

manifestações

Soares,

um

ou

até

grande

mesmo

opositor

do

Outro opositor foi o famoso jornalista e dono dos

posto de coronel e passa a exercer a função de

Diários

adido do Estado Maior do Exército (EME), posto

Chateaubriand

que lhe ajudaria na tarefa de recrutar adeptos para

encontrava-se conspirando contra o governo.

o movimento em constitucionalista de São Paulo.

Interessante notar a semelhança no caso de

Assim que eclodiu a guerra em julho Taborda

Chateaubriand com o de Macedo Soares, isto

viajou para São Paulo para se juntar aos paulistas

porque o primeiro havia apoiado a revolução de

em decorrência deste ato foi considerado um

1930 (como Macedo Soares) e, posteriormente se

desertor

desvinculou da base do governo provisório

e

posteriormente

reformado

administrativamente. No planejamento inicial o

Associados,

Francisco

Bandeira

de

de

Melo118,

Assis que

passando para o lado da oposição.

cel. Taborda deveria ficar no Rio de Janeiro e

O apoio de Chateaubriand iniciara antes mesmo

encabeçar o movimento constitucionalista no

da formação da Aliança Liberal (AL), pois este se

Distrito Federal, em reunião com o coronel

encontrava vinculado à política do estado de

Euclides Figueiredo, antes de este partir para São

Minas Gerais, que estava descontente pela escolha

Paulo, chegou a afirmar que em 48 horas a Vila

da candidatura presidencial de Júlio Prestes para

Militar responderia ao brado libertador de São

as eleições de 1930.119 Com a vitória de Júlio

Paulo,115 o que não ocorreu devido ao prévio

Prestes para a presidência, Chateaubriand seria um

estado de alerta do governo provisório que

dos membros da AL que apoiariam a ideia de

neutralizou o movimento armado no Rio de

atingir o poder pela revolução:

Janeiro. Já no final da guerra civil o coronel Basílio Taborda chegou a assumir o cargo de chefia da polícia de São Paulo. Com a derrota do movimento se exilou na cidade Argentina de Buenos Aires de 114

Verbete: Basílio Taborda. In: DHBB/CPDOC. Acesso em 04/08/2014. 115 HILTON, op. cit. p. 76.

116

Verbete: Basílio Taborda. In: DHBB/CPDOC. Acesso em 04/08/2014. 117 Para entender melhor a posição de Macedo Soares ver as páginas 28 e 29 deste trabalho. 118 Nascido no dia 05 de outubro de 1892 era filho de Francisco Chateaubriand Bandeira de Melo e de Carmem Gondim Bandeira de Melo. Bacharelou-se em 1913 e começou a trabalhar com jornalismo para sustentar seus estudos. In Verbete: Assis Chateaubriand, DHBB/CPDOC. 119 Os mineiros apoiavam e esperavam lançar a candidatura de Washington Luís.


G N A R U S | 234

Essa orientação foi reforçada quando do assassinato de João Pessoa, em julho de 1930, ocasião em que os órgãos dos Diários Associados acusaram formalmente o governo federal de responsável pelo crime. Dentro dessa perspectiva, Chateaubriand participou das articulações preparatórias da revolução e no momento da eclosão do movimento incorporou-se às fileiras revolucionárias, deixando o Distrito Federal com destino a Porto Alegre de avião, no dia 3 de outubro de 1930. Seu avião chegou a ser detido pelas forças legalistas em Florianópolis, mas ele escapou graças ao auxílio de Nereu Ramos e conseguiu alcançar o Rio Grande do Sul, juntando-se às tropas revolucionárias em sua marcha para São Paulo.120

de

Macedo

Soares

Chateaubriand conseguiria inúmeros favores do governo

provisório,

inclusive

“vultosos

empréstimos à cadeia dos Diários Associados, através

da

Caixa

Econômica

Federal.”121

Entretanto, ele demonstraria muita preocupação com a demora do governo provisório em iniciar a elaboração da nova constituição do país. Passou a conspirar contra o governo apoiando o levante de São Paulo. Em decorrência das suas atividades sofreria o confisco da sede e da maquinaria de O

Jornal, periódico que encabeçava a cadeia dos Diários Associados e recebendo ao mesmo tempo uma ordem de deportação. Mas antes de ser deportado Chateaubriand fugiu de barco que acabou o levando para o exterior e posteriormente este o levaria para o exterior e se refugiaria no interior do país só retornando para a vida pública na Assembleia Nacional Constituinte em 1933. Podemos inferir que tanto no caso de Assis

discordar

governo.122 Outro civil que participou ativamente no movimento contra o governo provisório foi o exdiretor do Departamento de Saúde Pública do Rio de Janeiro e professor da Faculdade de Medicina doutor Manuel José Ferreira.123 O Dr. Ferreira não chegou a entrar em combate direto, contudo possuiu importante papel na luta clandestina do movimento, já que hospedava em sua casa oficiais que aderiam a causa paulista. Sua residência chegou

a

ser

chamada A

estadia

de

centro dos

constitucionalistas era temporária, porque Ferreira também elaborara o esquema de transporte dos oficiais para São Paulo: a princípio partiriam de avião de um sítio no Recreio dos Bandeirantes, também de propriedade de Manuel Ferreira. Contudo, esta opção foi logo abandonada pois na primeira tentativa houve um acidente onde morreram o piloto e os tripulantes. No final o transporte dos oficiais acontecia pelo mar, graças à amizade do médico com pescadores da região. Foi no primeiro grupo de oficiais que Ferreira ajudou no transporte que se encontra o coronel Basílio Taborda, e no “(...) total, Ferreira arranjou a fuga de mais de vinte oficiais e dois civis.” 125 Após concluir sua tarefa de ajudar no transporte dos oficiais para São Paulo Manuel Ferreira receberia uma nova missão, de vital importância para o movimento paulista. No início do mês de agosto ele fora contatado pelo general Klinger, que requisitara sua partida imediata para Nova

motivo que os levou a realizar oposição contra o governo provisório fora a demora deste no 122

Para mais vide páginas 18 e 19 do presente trabalho. HILTON, op. cit. p. 273. 124 Ibidem, p. 274. 125 Idem. 123

120 121

In Verbete: Assis Chateaubriand, DHBB/CPDOC. Verbete: Assis Chateaubriand, DHBB/CPDOC.

de

oficiais

Chateaubriand quanto no de Macedo Soares o

processo de reconstitucionalização do país, apesar

da

proximidade do movimento tenentista com o

conspiração124. Após a revolução se tornar vitoriosa Assis

também


G N A R U S | 235 York, nos Estados Unidos, com o objetivo de comprar material bélico para a causa paulista.126 No final a viagem de Manuel Ferreira para os Estados Unidos, terminou por ser

improdutiva127,

Para que pudéssemos responder se havia ou não uma oposição ao governo provisório no Distrito Federal durante a guerra civil de 1932. Antes de mais

nada,

precisávamos

identificar

as

mesmo com a estadia deste no país até o final do

insatisfações que levavam a tal posicionamento

conflito.

político no contexto histórico do período, diante

Ao término deste capítulo podemos inferir que o

da complexidade do momento político que o país

apoio direto ou indireto de alguns civis e militares

se encontrava na época. Assim, procuramos

do Rio de Janeiro, nos demonstra que havia

elencar as principais insatisfações de grupos

significáveis setores da sociedade civil se opondo

específicos da sociedade brasileira como um todo,

ao governo federal e apoiando a causa paulistana

pudemos observar então que, havia descontentes

ou no mínimo de que havia um descontentamento,

com a política de centralização realizada pelo

e ou desaprovação, da política realizada pelo

governo provisório, o que acabava diminuindo a

governo provisório. Outra possibilidade também e

autonomia

pudessem fazer parte de setores privilegiados da

desdobramento desta primeira insatisfação era o

primeira República e que acabaram perdendo as

fato de que a ascensão de Getúlio Vargas ao

suas benesses com advento da Revolução de 1930.

comando do governo provisório acabava alijando

dos

tradicionais

poderes

locais,

do poder político grupos que haviam dominado o CONCLUSÃO

cenário da primeira república. A questão da reconstitucionalização do país com

Acreditamos que um bom trabalho acadêmico, assim como em outras atividades do cotidiano, pode ser considerado satisfatório quando atinge os objetivos a que se propôs no primeiro momento, no nosso caso num determinado projeto. Diante de tal posição para concluirmos retomaremos as duas perguntas iniciais que nortearam este trabalho.

o passar do tempo de fato gerava um desconforto na sociedade, de modo que havia setores oposicionistas por conta disso, apesar de como vimos no primeiro capítulo deste trabalho que a ausência de uma constituição não era o principal motivo do levante militar em São Paulo e sim a perda

de

autonomia.

Todavia

a

reconstitucionalização do país era vital para alguns indivíduos

desta

sociedade

como

Assis

Chateaubriand e o fundador do Diário Carioca, 126

Para que os conspiradores se comunicassem com São Paulo fora montada no Rio de Janeiro na região de Jacarepaguá uma estação de rádio clandestina, que mais a frente seria descoberta pela polícia do estado. HILTON, Stanley E. A

Guerra civil brasileira: História da Revolução Constitucionalista de 1932. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, pp. 274-291. 127 Primeiramente Ferreira teria dificuldades em negociar devido a falta de dinheiro e posteriormente até conseguiu comprar armas e munições que seriam transportado via um navio, que também teve que ser adquirido, contudo a negociação demorara demais o que impediu que o carregamento chegasse a tempo, na verdade o navio zarparia de Nova York somente em dezembro de 1932 sendo que guiado por tripulantes do governo federal . HILTON, Stanley E. Op.cit, pp. 290-292.

José Eduardo de Macedo Soares. Entretanto um dos principais motivos de grande descontentamento tanto de grupos da sociedade civil quanto militar, era o movimento tenentista e a presença constante destes no governo provisório até então. Pudemos notar então que no caso específico do Distrito Federal, fica claro que o antitenentismo era fator preponderante, ao menos nos casos estudados por nós, tendo em vista que o


G N A R U S | 236

Diário Carioca havia sido empastelado em

Bibliografia

fevereiro de 1932 por ter criticado o Club 03 de

Arnon de Melo e Dantom Jobim. LAGE, Nilson; FARIA, Tales e RODRIGUES, Sergio. Diário

Outubro e também tendo em vista que houve um número significativo de militares do Distrito Federal que aderiram a causa paulista por desaprovarem o movimento entre outras o movimento tenentista. Depois de termos identificado às insatisfações da oposição pudemos encontrá-las no

Distrito

Federal tanto no periódico Diário Carioca, estudado por nós, quanto em determinado indivíduos desta sociedade. O que nos respondeu que sim havia uma oposição no Rio de Janeiro ao estado provisório e, também, inúmeros motivos que levaram a uma posição de oposição. No que diz respeito às formas de manifestação da oposição no período da guerra entre a união e São Paulo, podemos dizer que foram variadas, iam desde a participação direta no levante como fizeram os coronéis Basílio Taborda e Euclides Figueiredo, ajudando a transportar os militares sediciosos até o estado de São Paulo como foi o caso do Dr. Manuel José Ferreira ou até a publicação de matérias que punham a culpa do levante armado no governo provisório ou que criticavam indiretamente o governo e que em decorrência disso provavelmente teria sofrido uma censura prévia. Para além das questões acima terminamos este trabalho com outra constatação que consiste na necessidade de legitimação do governo provisório, e que o conflito de 1932 quando analisado de uma perspectiva do Distrito Federal nos demonstra que haviam outras possibilidades de governo que não aquela representada por Getúlio Vargas no poder. Felipe Castanho Ribeiro é Licenciado em História pelas Faculdades Integradas Simonsen e especialista em História do Brasil pela Universidade Estácio de Sá.

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