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Artigo
HERNAN CORTEZ: A CONQUISTA DO MÉXICO E A ADMINSITRAÇÃO ESPANHOLA Por Eron Santos Pereira
H
ernan Cortez nasceu em Medellín (atual
pais. Porém ele fracassou em seus estudos e dois
Badajoz), em 1485 e morre em Castilleja
anos depois abandonou a Universidade e se
de La Cuesta (Sevilha) em 1547. A história
dedicou ao que ele realmente se sentia mais à
o descreve com muitos adjetivos como um bom estrategista,
manipulador,
enganador,
vontade em fazer: a carreira militar.
herói,
piedoso, etc. Nunca saberemos ao certo como era,
A primeira vez que se tem notícia de que Cortez
de fato, o seu caráter. Com tudo, o que temos
esteve na América foi em 1504, em uma expedição
notícia é que aos 14 anos de idade foi enviado para
liderada por Alonso de Quintero. Mas Cortez
a Universidade de Salamanca, na Espanha por seus
poderia ter estado em solo americano muito antes se não fosse um acidente onde ficou acamado por certo período e consequentemente impedido de viajar. No ano de 1511 conheceu Diego Velásquez na campanha de conquista da ilha de cuba. Mas na expedição que surgira quando Cortez partiu para a península de Yucatán, surgiu a rixa entre os dois que receberá uma atenção especial nesse artigo, pois Diego
julgava
seus
feitos
na
localidade
insuficientes para a coroa espanhola. No dia 10 de fevereiro de 1519 Cortez parte de Cuba rumando ao continente e a partir desse momento começa o processo de conquista do México. Após esse longo período e até ao longo dele temos alguns aspectos que foram analisados a partir das fontes e das bibliografias e puderam-se Hernan Cortez
chegar algumas hipóteses. Entretanto o objetivo principal desse periódico é levar-nos a alguns
G N A R U S | 58 questionamentos a este período inicial de dominação hispânica no México.
E o primeiro personagem desse jogo político e sem dúvidas, o principal alvo de críticas de Cortez
O relato de Hernan Cortez tem um aspecto
era Diego Velásquez, governador de Cuba. Em seu
peculiar, aparentando o melhor possível, como se o
relato, parece que ele tem uma incrível mania de
ocorrido na América tivesse se dado de um modo
perseguição. Ele deixa claro que Velásquez sempre
pacífico e ordeiro, que a violência foi pouco
atrapalhava os seus planos e sempre que podia
utilizada, os nativos facilmente se rendiam a ele e
manchava a sua imagem com acusações, que
que os povos que estavam sendo dominados
segundo o relator, eram infundadas e que poderia
pareciam estar felizes por estarem debaixo da
ter feito mais se não houvesse intromissão. Além
égide hispânica. A forma com que Cortez expressa
disso, ele mesmo tentava difamá-lo, como
os mecanismos da conquista nas cartas está muito
podemos ver na primeira carta, quando os
atém aquém da realidade. Enfim, ele descreve um
colonizadores descobrem ouro na costa mexicana:
mundo perfeito, um relato surreal o que de fato,
“Ao saber disto, Diego Velásquez, movido mais pela cobiça do que pelo zelo, despachou seu procurador à rainha Espanhola com um relato aos padres de São Jerônimo, que ali residiam como um relato aos padres destas Índias, para que fosse às ricas terras pouco conhecidas.” 2
não foi. Ele encobre muita coisa, omitindo algumas verdades ou torcendo outras, sempre preocupado em passar ao remetente desta carta, a saber, o
Percebe-se que neste fragmento a tentativa de
monarca espanhol, uma imagem boa de si e de sua administração. O que será feito aqui é uma ótica política da fonte e auxiliado por uma pequena
incriminar o outro, afirmando que Velásquez agia por cobiça, interesse próprio na tentativa de retirar
bibliografia, alguns pontos que chamaram a
os olhares desconfiados dos reis ibéricos de si. Na
atenção do autor serão discorridos aqui.
verdade, o que ocorre é o fato de Cortez sempre se
Pela
observação,
podemos
ver
algumas
características da administração espanhola no início de tudo, das divisões internas e dos interesses que permeavam esse processo.
colocar como a grande vítima dos opositores que travavam o seu método de gestão da colônia. Mas grande questão era a razão de tamanha implicância. Temos algumas hipóteses e uma delas era que o México, até aquele momento, era
Tensões na américa espanhola
subordinado a Cuba. Ao sugerir mais autonomia ao rei da Espanha, a saber, Carlos I (V da Alemanha).
Cortez sempre tentava mostrar ao rei da Espanha que ele era o mais capacitado para cuidar dos seus domínios na Nova Espanha. Veja o que ele diz:
Seria muito conveniente para Cortez e isso não foi apenas
CORTEZ pag. 154
particularidade
dele.
Segundo
Schwartz e Lockart o processo de expansão “Era mais ou menos assim: um personagem ou personagens antigos e importantes de uma determinada área propunham a aquisição de um território próximo já conhecido, mas ainda não ocupado, e o governador local aprovava a iniciativa, até ajudando a organizá-la, na esperança de que a nova aquisição se tornasse parte de sua própria jurisdição. Mas assim que o líder da expedição fosse bem-sucedido, ele
“(...) Estando eu na província de Panuco, correu o boato de que eu voltaria para Castela, o que causou grande alvoroço. E a província de Tututepeque voltou a se rebelar (...). Tive que ir para lá a fim de dominar a situação.” 1
1
uma
2
Idem, pag. 16
G N A R U S | 59 escreveria à coroa pedindo uma governadoria separada, que em geral era concedida. (Muitas vezes era esta a primeira vez que a coroa ouvia falar do líder e da nova região). Deste modo Porto Rico e Cuba tornaram-se independentes de Santo Domingo, depois o México ficou independente de Cuba, e assim por diante (...)” . 3
Olhando por este ângulo, podemos partir do
era a aventura, e sim a pobreza e a rivalidade”.4 Se de um lado temos uma grande leva de imigrantes espanhóis tentando uma vida menos sofrida na América, de outro temos elementos da baixa nobreza que vêm para o Novo Mundo, sedentos por riqueza, glória e fama.
pressuposto que Velásquez teria arrecadado
A luta que havia nas colônias e dos funcionários
financiamento para Cortez a fim de que este desse
reais foi citada anteriormente era ao mesmo
desenvolvimento a fase continental da Conquista. E
tempo, benéfica e prejudicial à Coroa.
partir daí, pode trabalhar na hipótese de que
benefícios eram que a partir daí, e desde o início da
Cortez queria ganhar status político e social. E por
dominação, a Espanha translada seu modelo
quê? Uma vez estando subordinado a outro
administrativo diretamente para as Américas,
governador ele não teria tanta autonomia para
desde as áreas locais como os cabildos até as mais
governar. E ao possuir esta independência na
altas esferas como o Conselho das Índias e Casa de
gestão do local conquistado, ele ganharia mais
Contratação. Gruzinski afirma que
notoriedade
e
prestígio
diante
de
“Essa extensão irresistível foi acompanhada de uma política de uniformização da língua e da lei. (...) O castelhano foi o instrumento da administração, a língua dos vencedores, dos mestiços, negros e mulatos, e também das elites indígenas.” 5
seus
subordinados, da sociedade e da própria Coroa. Ao que parece, o poder metropolitano incentivava, ainda que de forma indireta, essa rivalidade entre
Para percebermos essa relação direta de
os próprios funcionários da sua administração. A busca por essa ascendência social tinha motivo. Para Ruggiero Romano, Cortez era um elemento da
dominação, basta olhar um fragmento da primeira carta de Cortez ao rei da Espanha:
baixa nobreza, título herdado por seu pai. Segundo
“No dia seguinte, entramos em nosso cabildo e mandamos pedir ao capitão Hernán Cortez, em nome de vossas altezas, que nos mostrasse os poderes e instruções que havia recebido de Diego Velásquez. Verificamos então que seus poderes já haviam expirado não podendo dali em diante aplicar a sua justiça .“ 6
os relatos que o autor recolheu em sua pesquisa, apesar do título de nobreza que ele tinha, era alguém
empobrecido,
sem
grande
representatividade na Corte. Os hidalgos estavam abaixo na hierarquia nobiliárquica dos Grandes Nobres, como romano diz em seu livro. Logo se justifica a busca de Cortez pelo enobrecimento de seu nome. E a exemplo dele, muitas pessoas deixaram a Espanha em busca do “El Dorado” na América, de uma mudança de vida, de ascensão que
Primeiramente percebemos que antes mesmo da consolidação do domínio espanhol já existia um
cabildo ali. A instauração de mecanismos administrativos era simultânea aos processos de conquista. Romano fala que “A América (...) não esperou os administradores seguros de seu poder para começar a se organizar; os próprios conquistadores começaram, e muito cedo, a constituir os quadros da vida administrativa. As cidades são “fundadas” por ata pública. Registra-se o nascimento do
na metrópole, a possibilidade disso ocorrer era praticamente nula. Não é à toa que Schwartz e Lockhart afirmam que “o motor da expansão não
3 4
SCHWARTZ e LOCKART, pag. 105, ano 2002 SCHWARTZ e LOCKHART, p. 103
Os
5 6
GRUZINSKI, pág. 95 CORTEZ, pag. 28,29
G N A R U S | 60 novo núcleo urbano; imediatamente convoca-se o cabildo (assembleia pública), cujas sessões são solenemente relatadas em um registro.” 7
mesmo tempo em que se colocavam os ideais espanhóis para unificar os povos nativos. As “Leis das Índias”, aplicadas em todo o Império
Pra ratificar essa afirmação, podemos observar que ao longo das cartas, Cortez afirma ter retirado
americano, reforçava, o que podemos chamar de uniformização da diversidade.
o quinto real, ou seja, os impostos. Isso prova mais
Outro ponto importante é que, ao olharmos para
um elemento de dominação utilizado pelos
a fonte primária, percebemos o processo de ruptura
grandes impérios para assegurar os seus domínios,
com o governo de Cuba e a necessidade gerada de
demonstrando assim que a égide espanhola sobre a
uma administração própria. Logo, os mecanismos
América veio para ficar.
utilizados na conquista deram a vantagem da
A compreensão que temos é uma reafirmação do próprio poder espanhol, uma vez que a união dos
imposição cultural e ideológica dos aparelhos estatais desde o princípio.
reinos ibéricos onde hoje, se localiza a Espanha,
Mas passemos as desvantagens do poder real, é
havia se realizado recentemente até então, ao
que a fiscalização da administração não era tão
Império Asteca - Império Pré-Colombiano 1325 – 1521
7
ROMANO, pag. 36
G N A R U S | 61 eficaz como parece. Talvez por conveniência do
ajudar, também podem atrapalhar. Seria, então,
próprio poder real naquele momento ou por
uma espada de dois gumes. E algo que nos chama
dificuldade de comunicação. Romano dirá que
atenção nos relatos e partindo da fala anterior de
“Na verdade, o “império” é um grande arquipélago cujas diferentes ilhas estão mal ligadas entre si, muito isoladas umas das outras. E como se isso não bastasse cada “ilha” desse arquipélago é animada por forças centrífugas difíceis de controlar (...). As “províncias” afastadas do centro do império têm, pois, naturalmente, tendência a constituir entidades autônomas, sobre as quais o poder central não pode se exercer devidamente (...).”8
Romano, é o simples fato de que na América havia forças centrífugas. Maquiavel afirma que um bom administrador
deveria
conter
essas
forças
centrífugas, que uma vez fora de controle poderiam facilmente desintegrar a ordem. Cortez chamava para si essa responsabilidade. Em outras palavras, ele se autodenominava no único capaz de controlar
Voltamos, então, para a questão da divisão interna entre as tensões dos nativos e dos próprios espanhóis, os
funcionários
reais.
Primeiro
abordamos
o tanto que em uma das cartas, ele diz que apenas o
relacionamento tenso entre Cortez e Diego Velásquez, rumor de que ele seria removido da liderança que foi um exemplo entre as divergências dentro da causou um grande tumulto entre os nativos. É importante lembrar que os princípios da Europa
burocracia hispânica: “(...) um bergantim vindo de Cuba, trazendo um tal Juan Bono de Quejo, o qual era portador de umas cem cartas de dom Juan de Fonseca, bispo de Burgos. Nestas cartas, que deveriam ser distribuídas a pessoas influentes destas terras, o bispo pedia que passassem a dar obediência a Cristóbal de Tapia e não a mim. Tapia àquelas alturas estava em Cuba e havia conseguido com Diego Velásquez que fornecesse o bergantim.” .9
Mas não era só com Diego Velásquez que os problemas
administrativos
se
resumiam.
As
divergências existiam dentro do próprio grupo aliado de Cortez. Um dos casos era de um líder nativo que planejava uma emboscada para matá-lo. Em outro contexto, Cristóbal de Olid foi condenado à morte por traição. Isso significa que apesar da
renascentista delineavam as marcas culturais da Nova Espanha (México) nos mecanismos de dominação e consequentemente, o pensamento do personagem histórico. Ao longo do processo haviam interesses dos dominados dos astecas, que se aliaram a Cortez em busca da libertação do jugo asteca e sabemos bem que, na verdade, foi uma grande decepção e só os espanhóis obtiveram vantagens. Se fôssemos usar a linguagem maquiavélica, ele soube se aproveitar da
fortuna (circunstâncias), da religião dos astecas e da insatisfação dos povos dominados por aquela etnia para dominar a todos.
administração espanhola ter um objetivo comum,
Corrupção na nova Espanha
havia interesses diferentes de ambas as partes e, portanto, os europeus não eram tão unidos como se imagina. E outro ponto importante que não se pode ignorar era que Cortez não era unanimidade entre os seus próprios aliados. E novamente tocamos em um ponto importante que não pode ser ignorado: os interesses individuais, que ao mesmo tempo em que podem
8
ROMANO, pág. 35,36
Cortez não foi diferente dos inúmeros casos de crimes contra a Coroa espanhola, ou melhor, crimes de lesa-majestade. Ele, além de administrador, era
encomendero. De acordo com Helen Osório, “Cortez (...) se utilizou de sua encomienda (400 índios) para extrair ouro, construir estaleiros e
9
CORTEZ, pag. 154
G N A R U S | 62 barcos e manter soldados nas terras recém-
Ele poderia ter usado a concessão que foi por ele
descobertas. Ainda que não houvesse conexão
cedida para proveito próprio. Nada o impedia, pois
legal entre encomienda e propriedade de terra, ao
onde não havia uma fiscalização rígida até então.
menos nas zonas mais importantes do império, a
Tal precariedade dava margem para freqüentes
relação é clara”. Ao que tudo indica, Hernan Cortez
abusos de poder por parte dos conquistadores.
tinha tanto a concessão de terras como a concessão
Romano utiliza uma frase comum dessa época para
do trabalho indígena outorgadas pelo rei da
resumir os mandos e desmandos por parte dos
Espanha.
conquistadores que ocorriam aqui: Dios está em el
Como sabemos a corrupção não é exclusividade dos dias atuais. Um exemplo é que no final da 5ª
cielo, El Rey está lejos, yo mando aqui (Deus está no céu, o rei está longe e aqui mando eu).
carta, ele se defende de acusações como crime de
O que aparentemente era conveniente a
lesa-majestade, que provavelmente teria sido uma
metrópole, passou a ser um problema ao rei, pois a
espécie de sonegação de impostos à Coroa, uma
mão-de-obra começara a morrer e a metrópole
vez que ele relata que está constantemente em
precisava obter maior controle sobre a colônia,
contato com as finanças e ele mesmo faz a
além do contrabando dos minérios extraídos aqui
contabilidade do que entra e sai nos gastos reais na
começava a dar prejuízos a Coroa. O monarca
colônia:
espanhol precisava deter o monstro que ele mesmo
“Pelo que tenho sentido, mui católico príncipe, muita gente tem posto alguma neblina ou obscuridade ante os olhos de vossa majestade, chegando a acusar-me de criminae lesae majestatis (...). Outra coisa que têm me acusado é de que tenho a maior parte destas terras para mim, me servindo e aproveitando delas, de onde se tem extraído grande quantidade de ouro e prata.” 10
Não podemos afirmar com certeza se ele realmente ludibriou o monarca espanhol, mas ele tinha condições propícias para fazê-lo. Ele tenta se justificar, dizendo que ele teve prejuízos tirando dinheiro de suas finanças pessoais para pagar os
havia deixado crescer. Por esta razão, foi necessário aumentar a fiscalização. Também na carta cinco, o rei envia um juiz chamado
na
de governador e juiz, o que, segundo ele, nega para melhor servir a sua Majestade. Observe o que ele diz: “Logo que o dito Luis Ponce passou desta vida para outra, (...) o cabildo desta cidade e os procuradores de todas as vilas vizinhas me pediram por parte de vossa majestade que eu juntasse ao meu cargo de governador ode justiça, como tinha anteriormente. Embora a insistência de todos e os argumentos usados, eu me neguei a aceitar e tenho me negado até agora.” 11
da Coroa e para expandir o império. Segundo suas próprias palavras, “(...) se eu descumpri a lei alguma
CORTEZ, pág. 214
ajudar
Cortez lhe oferecem a centralização do seu cargo
feito, mesmo que fosse ilegal, era para o benefício
10
para
adoece e morre pouco depois. Os homens de
longo dos relatos, afirma que tudo o que ele tinha
que ele poderia ter mesmo cometido um ato ilícito.
Ponce
América. Porém, o que ocorre é que o magistrado
nenhum superior a ele e pelo menos duas vezes, ao
forma, ele nos dá uma margem para acreditarmos
de
administração e por que não, ser os “olhos reais” na
custos da expedição, diz que não foi ajudado por
vez foi para bem servir vossa majestade”. De certa
Luís
Mas de fato, antes da chegada deste homem metropolitano, o que podemos notar a partir da fonte o fato de Cortez já ter esse poder centralizado
11
CORTEZ, pag. 213
G N A R U S | 63 em suas mãos e Ponce vem para vigiá-lo e para exercer a justiça aqui. Segundo Cortez, ele nomeia Marcos de Aguilar, alcaide maior de Ponce para o cargo que o superior ocupava antes de falecer, mas este também rejeita o cargo. “Resolvi inclusive nomear para o cargo Marcos de Aguilar, a quem Luis Ponce tinha como alcaide maior. Este, no entanto, também se negou a aceitar o cargo, dizendo que não tem poder para tal.” 12
Com o magistrado fora do caminho, e ninguém, supostamente, queria assumir tal responsabilidade, Cortez centralizava novamente o poder em suas mãos. Entretanto não podemos ser ingênuos ao ponto de acreditar piamente no que fonte primária nos diz. Analisando o contexto da América espanhola naquele período, podemos formular a hipótese de que Aguilar não teria assumido o cargo por ser coagido a não fazê-lo, uma vez que Cortez já tinha bastantes relações políticas na Nova Espanha. A partir daí entendemos o porquê de seus apoiadores terem oferecido o cargo de juiz a ele anteriormente, e torcendo um pouco os fatos, afirma em ter oferecido o cargo a Aguilar, que como fora dito antes, não aceitou. Conclusão Ele arroga para si os atributos de ser o mais capacitado para governar a Nova Espanha. Mas é sensível nos relatos dele que sua conduta aqui na colônia não era irrepreensível diante das leis hispânicas. Basta olharmos em tudo o que vimos anteriormente. Uma vez que ele tem problemas com seus superiores e até mesmo com seus subordinados espanhóis e não-espanhóis, pode-se concluir que ele não era um político virtuoso, apesar de tentar criar a aparência de ser um.
12
Idem, pag. 214
Era de se esperar que ele tivesse atritos com os nativos, pois um estranho que chega a uma terra e se afirma o dono dela, como os colonizadores chegaram, seria lógico que houvessem lutas em defesa da mesma. Porém, o que passa despercebida pelos historiadores e vemos isso refletido nos livros didáticos e às vezes, em acadêmicos, é o fato de que os espanhóis também estavam divididos entre si. No princípio dos mecanismos da conquista e ao longo de todo o período colonial o que muito vigorou nas Américas no passado e até mesmo hoje foram os muitos interesses individuais entre os próprios funcionários da Coroa e talvez seja esse um dos principais motores da conquista. Apesar de a ênfase ter sido nos relatos de Cortez, ele foi um exemplo de vários outros casos que teve um cunho parecido. Foi conveniente para o rei que houvesse esses interesses, mas ele não contava que isso iria
G N A R U S | 64 prejudicá-lo e que seria necessário obter maior controle com o que acontecia aqui. Cortez foi um
Bibliografia
exemplo de pessoas que abandonaram a metrópole europeia em busca de fama e fortuna na América ou, pelo menos, em busca de uma vida melhor. E a história se repete em outros lugares do planeta até hoje com fluxos migratórios para a Europa, para América e etc. Seja como for, a história nos revela que os mesmos problemas de outrora se repetem até os dias atuais, mudando o contexto, a situação e o tempo, ou seja, as necessidades continuam as mesmas. Mas de maneira alguma estamos colocando o personagem como vítima ou algoz de algo ou alguém. Porém, Cortez era parte de todo um sistema político arquitetado para explorar e expropriar a América. E infelizmente, a exploração continua. O que mudou foram os dominadores. Eron Santos Pereira é graduando do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ - Campus Nova Iguaçu/RJ)
CORTEZ, Hernan. A Conquista do México. trad. Jurandir Soares dos Santos. 2ª ed. Porto Alegre. L&PM, 2007. Na íntegra (pag. 218). OSÓRIO, Helen. Estruturas socioeconômicas coloniais In: WASSERMAN, Cláudia (coord.). História da América Latina: Cinco Séculos. Porto Alegre: Ed. da Universidade, UFRGS, 1996. ROMANO, Ruggiero. Os Fatos. In: Os mecanismos da conquista colonial. São Paulo: Perspectiva, 1973. (p. 11-66) GRUZINSKI, Serge. Ocidentalização. In: O pensamento mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. (p. 93-110) SCHTWARTZ, Stuart B. & LOCKHART, James. Das ilhas ao continente: a fase caribenha e as conquistas posteriores. In: A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. (p. 85112) TODOROV, Tzvetan. Conquistar. In: A Conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1988. (p. 49-120) ATLAS DA HISTÓRIA UNIVERSAL (Times Books Ltds., Sociedad Comercial y Editorial Santiago Limitada) Rio de Janeiro. O Globo Ltda. 1995 (p. 178 - 179)