9-Gnarus9-Artigo-AXUM E ROMA UMA INTERAÇÃO HISTÓRICA DE DUAS POTÊNCIAS2

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Artigo

AXUM E ROMA: UMA INTERAÇÃO HISTÓRICA DE DUAS POTÊNCIAS Por Jorge Luiz da Silva Alves

RESUMO: O ano de 330 representara um marco para duas civilizações da Baixa Antiguidade. Embora já fossem conhecidas de intensas transações comerciais através dos séculos em que forjaram suas fronteiras e culturas, Axum e Roma tiveram uma interseção significativa no início do século IV, patrocinados por um agente comum – o Cristianismo. A partir de então, interações significativas pavimentaram um caminho de comuns interesses, como pretende mostrar este recorte. Palavras-chave: Cristianismo, comércio, moeda.

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G N A R U S | 37 de sua gente, em Axum fora a destreza paulatina no

A convergência política

O

reino africano de Aksum (Axum) tornarase bastante presente na historiografia clássica a contar do século II, embora a cidade do mesmo nome tenha sido pretensamente fundada em 100. Nos

périplos sobre o Mar Eritreu1, muitas são as referências ao porto de Adúlis, fervilhante

forjar e utilizar elementos de ferro – além da habilidosa domesticação de elefantes para a guerra – que conduziram os axumitas no início da Era Cristã a sobrepujar seus inimigos em África e também os himiaritas, estes na península arábica, onde Axum manteve-os tributários por séculos, até os tempos de Maomé3.

entreposto comercial que ligava a costa da Eritréia

Ao longo da Antiguidade, a Roma dos tempos

ao sul da Arábia e, dali, para a Pérsia e Índia; como

acerados de César e Pompeu cedo percebera a

Axum

num

necessidade em estacionar no Ocidente ainda

posicionamento em um dos braços do Nilo que era

bravio das populações celtas e germânicas;

ficava

mais

para

célebre

em

caravanas

generosas

marfim,

ouro,

o

interior,

receber de

armas

como

também

e

civilizando o oés-noroeste

escravos, o trajeto entre

europeu com sua inventiva,

Adúlis e Axum era uma

Roma

autêntica rota da fortuna,

perpetuação de um legado

que os axumitas souberam

que absorvera inclusive os

muito bem gerenciar a seu

invasores de um império

favor. Aparentemente, sua

sempre

preponderância no local hoje

chamas

chamado

enquanto

de

prata

expandindo não só suas

Etiópia

garantira

a

ardendo de

em

revolta.

Axum

E

ainda

assemelhara-se ao crescimento da lendária Roma,

patinava em campanhas contra o império nilótico

ambas foram núcleos urbanos claudicantes e

de Meroé em meados do século III, aconteciam as

insistentemente invadidos até que se forjaram em

insurreições em Palmira, que tanto desgastaram o

destacadas cidades-estado, graças aos elementos

monolítico mundo das Legiões.

diferenciais construtores de suas sociedades.

Porém, o reino africano firmava posição de

Se em Roma, os acertos e razias entre

destaque ao longo do tempo; e, de tal forma

representantes dos patrícios e plebeus -De Bello

destacara-se como potência do leste continental,

Civili 2- forjara na cidade-estado, ao longo dos

que mesmo na Roma em lenta transformação do

séculos antes de Cristo, a expansão e belicosidade

urbanismo clássico para a ruralização militarizada

Periplus Maris Erythraei (Périplo do Mar Vermelho): datado entre o século I e III, é um manuscrito que relata em uma seqüência, os portos e os pontos geográficos costeiros, com as distâncias aproximadas entre eles, que o capitão de uma embarcação poderia esperar encontrar ao navegar em volta de um mar ou ao longo das costas de um país.

2

1

CESAR, Caio Julio. A Guerra Civil. Séc. I a. C. KOBISHANOV, Y.M. Axum do séc. I ao séc. IV: economia, política e cultura, p. 403-404. in História Geral da África II, África Antiga, UNESCO, 2010. 3

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G N A R U S | 38 observava-se semelhança

uma com

delicada Axum:

um

padrão

de

cunhagem

a

semelhante ao de Bizâncio, no peso,

importância dos parentes e mais

modelo e forma. Mas, se os axumitas

chegados ao imperador (Negus) nos

buscaram

exércitos etíopes era tamanha, que

numismática romano-bizantina para

isso refletia nas milícias e pequenas

evocar a sua soberania, estes não

unidades aldeãs de combate, onde

descuidavam das observações sobre

seus líderes eram alcunhados de

a variedade nas tonelagens que

“reis de exércitos”4.

flutuavam nos portos no Mar

a

padronização

da

Vermelho; todo tipo e tamanho de mercadorias

axumitas intensificaram o intercâmbio com suas

variavam

em

espécie (animal, vegetal ou mineral),

A convergência econômica A partir de meados do século III, mercadores

que

gerando moedas cada vez mais sonantes aos bolsos dos mercadores. 6

velas demandando o Mar Vermelho e, investindo o

Em 330, um fato contribuíra para a interseção

Índico, alcançavam o Reino da Taprobana (Ceilão,

entre as nações. Em Roma, o imperador

atual Sri Lanka) e até mais longe, na China; as

Constantino, o Grande, oportunamente batizado

intermináveis contendas entre Roma e a Pártia

no cristianismo, consagrava a nova sede de um

(Pérsia) terminavam por prejudicar o comércio

império que já agonizava pelo neoplásico

destas potências na península arábica, abrindo um

gigantismo: Constantinopla, “uma fortaleza rica e

veio de concorrência para os axumitas, já bem

sagrada, glória dos gregos e rica em renome e na

instalados no Iêmen e nas cercanias do que seria a

realidade”, nascera para ser uma réplica da Roma

futura Medina.

Eterna, com seus 14 distritos e sete colinas; hipódromos, palácios, estátuas monumentais, o Mármara e o Bósforo como águas seguras e revoltas, seria uma espécie de posto avançado da Cristandade por 1123 anos7. O império dividir-seia; o Ocidente buscaria o feudalismo enquanto o Oriente, renomeado de Bizâncio (herança da antiga

A vigorosa ascensão axumita fora de tal ordem

colônia grega do local) manteria a penoso soldo um

que o Negus Endybis, ao cunhar suas próprias

aspecto de nação amarrada sob uma língua (grega),

moedas, fixara um pioneirismo: o primeiro Estado

uma religião ferozmente defendida pelo seu povo

da África tropical ao fazê-lo5. Seguindo, inclusive,

(cristianismo greco-ortodoxo) e uma habilidade

4

KOBISHANOV, Y.M. p.404 Ibidem, 405. 6 COSMAS, Periplus Maris Erythaei. 3-6; WINSTEDT, E.O. 1909. pp 69, 320, 322, 324, 325; DINDORF, L.A. 1870. P.474. in História Geral da África II, África Antiga, UNESCO, 2010. 5

SHERRARD, Philip. Great Ages of Man: Byzantium: A History of the World's Cultures. Time Life Books, 1966) 7

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G N A R U S | 39 diplomática e comercial que, muito mais que seus

com o helenismo egípcio que ainda proliferava

combalidos exércitos e marinhas, apresentara

mesmo na Alexandria romano-oriental entre os

resultados surpreendentes na longevidade da

séculos II e III9. Soberano do fim do século I,

cultura bizantina.

Zoscales sabia ler e escrever em grego; e enquanto contribuía para eliminar a pirataria no mar Vermelho, entre uma e outra escaramuça, realizava os rituais de praxe para adoração à Mahrem, que

A Convergência Religiosa (Pré 330) É fato: nações que adotaram o monoteísmo

consistia no sacrifício de animais10. Possivelmente,

passaram por etapas politeístas em passados

entre

os

mercadores

que

remotos, explicando o porquê (por exemplo) de

transitavam em Adúlis neste período, haveria uma

muitas

originalmente,

generosa parcela de judeus; cria-se terem vindo do

comemorações pagãs. Axum não escapou deste

sul da Arábia, convertendo as populações a partir

quase ‘consenso histórico’.

da interiorização desses grupos ao longo dos anos.

datas

cristãs

serem,

Tamanha fora a influência judaica na região, que tradições envolvendo a digressão de um grupo mosaico durante o Êxodo, Nilo acima, e a influência do rei Salomão nos inícios nacionais marcaram fortemente

a

religiosidade

de

Axum.11

O

intercâmbio destes no aquecimento à economia fora feito com moedas que já possuíam um respeitável grau de aceitação nos dois lados do Mar Vermelho, uma vez que Axum já vinha sendo A

complexidade

do

paganismo

axumita

assemelhava-se ao politeísmo da Arábia do Sul: adoração a Astar (uma encarnação do planeta Vênus, muito popular no período pré-axumita8), Beher e Meder, divindades ligadas à terra. Símbolos do sol e da lua são encontradas nas estelas de Axum

considerada como uma das quatro grandes potências do mundo, ao lado de Roma, Pérsia e China12 . Mesmo moedas romanas e até indianas e sabeanas do século II (de Sabá, sudoeste árabe, vide a história bíblica do Rei Salomão) foram encontradas em futuras escavações13 .

e em moedas dos reis axumitas pré-cristã. Inscrições bilíngües em geêz (idioma etíope) e

A partir da ascensão ao trono do Negus Ezana

grego fazem menção à divindade Mahrem, muito

(325/330 – 360), o poder de Axum poder-se-ia, de

próxima do deus da guerra helênico Ares,

fato, dizer que alcançou patamares de potência

atestando a ligação constante do Axum pré-cristão

transcontinental; soberano de trechos de território

8

DREWES, A.J. Inscrições da Antiga Etiópia, 1962; KOBISHANOV, Y.M. Axum do séc. I ao séc. IV: economia, política e cultura, p. 417. in História Geral da África II, África Antiga, UNESCO, 2010. 9 DAE (Deustch Aksum Expedition, Berlin), n.4: 6, 29. in História Geral da África II, África Antiga, p.418: UNESCO, 2010.

10Ibidem,

419. ULLENDORFF, E. Ethiopia and the Bible. London: British Academy/Oxford University Press, 1968, p.15-23. 12 SÉRGIO, A. Em Torno da História Trágico-Marítima, Ensaios, tomo VIII. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1974, p. 90-91 13 Ibidem, p. 194. 11

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G N A R U S | 40 entre o Nilo e a Eritréia e a área de

Tradicionalmente citados como

Sabá e Himyiar, esse poderoso

os conversores da família real

monarca

axumita, os irmãos Edésio

fora

um

marco

na

e

transição do paganismo para o

Frumêncio devem ter encontrado

cristianismo, uma transição tal a de

essa

seu

cristãos no país, facilitando seu

contemporâneo

romano-

razoável

quantidade

bizantino Constantino: demorada,

piedoso

estudada

a

percepção de Ezana quanto à

aceitação de parte de suas elites

oportunidade em estabelecer um

urbanas e lideranças rurais. Tanto

vínculo de confiança com Bizâncio

quanto Constantino, Ezana ainda

teria surgido ao saber do contato

permitia práticas politeístas em seu

dos irmãos com o patriarca de

reinado, mesmo após o episódio

Alexandria,

que, segundo muitas fontes, fora

duro, defensor do trinitarismo

de

acordo

com

capital para a assimilação por completo do credo cristão em terras da Etiópia antiga.

Frumêncio, bispo de Axum, considerado o introdutor do cristianismo no país.

trabalho.

A

de

Atanásio15;

provável

homem

niceno contra o arianismo vigente naquele lado oriental romano. Ora, afinal, desde o norte da Abissínia16, e

o aumento de importância tanto das rotas terrestres pela África quanto das milhas náuticas por todo o A Convergência Religiosa (Pós 330) Dada a disseminação de um vago monoteísmo como já citado, e uma opaca percepção helenística nas classes nobres e em alguns meios urbanos, o avanço do cristianismo na Etiópia progredira sem tanta oposição; afinal, já existiam, além de judeus, muitos gregos e egípcios espalhados por todo o império. O que deve ter facilitado (como na hagiografia dos evangelizadores) a criação de episódios de famosas conversões, como a do

Índico, a profusão de marujos, mercadores e uma miríade de outros profissionais que trouxeram em seu bojo, uma vasta gama de credos e manifestações religiosas de várias partes do mundo, deve ter feito com que, não só o monarca, mas muitas pessoas ligadas às dinâmicas políticas que fermentavam por ali à época, percebessem, no credo cristão, uma importante ferramenta para a interação nos diversos assuntos de ambas as sociedades, muito mais do que as demais.

próprio Ezana e sua família – o que não faria tanto

De qualquer forma, reza a tradição que

sentido, caso o país fosse inteiramente politeísta,

Frumêncio e Edésio, após ganhar a confiança do

sem quaisquer ligações com o universo cristão14.

monarca axumita, foram nomeados para serviços no palácio, após terem sobrevivido a ataques

SILVA, A.C. A Enxada e a Lança: A África Antes dos Portugueses: Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2011.,p. 198. 14 15

foi o vigésimo arcebispo de Alexandria, passou 45 anos como tal, sendo dezessete anos exilado em cinco ocasiões, e por quatro imperadores romanos diferentes.

16

O outro nome para Etiópia, que hoje ocupa o que era grande parte do Reino de Axum, a partir das conquistas sobre Meroé

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G N A R U S | 41 piratas na costa da Eritréia. Morto o monarca, foram alforriados; mas a rainha pedira para que continuassem por lá para ajudar na educação dos príncipes e na administração do país. Após a maioridade do herdeiro, voltaram para Roma; Edésio tornara-se presbítero em Tiro e Frumêncio fora para Alexandria e informara a Atanásio sobre as almas a serem salvas em Axum. O patriarca, então, teria consagrado Frumêncio como bispo e, por volta de 330, regressara à Axum, tendo batizado o rei e a família real17 . Com a conversão ao cristianismo, Ezana transformou a religião de Frumêncio e Edésio na fé oficial do reino. Mas a totalidade da Etiópia só seria Ezana (325/360), primeiro rei cristão de Axum.

realidade a partir do fim do século V ou início do século VI, quando um grupo de missionários sírios chegassem ao norte do país; os mais famosos seriam Abá Meta, os Justos e os Nove Santos – estes, vindos do império bizantino, promoveram a versão da Bíblia para o gueze, a língua ge’ez de Axum; além de criarem mosteiros exatamente nos mesmos sítios onde, antes, adoravam-se os invencíveis deuses etíopes do tempo de Zoscales.18

A igreja axumita, desde Frumêncio, encontrava-se sob os auspícios do patriarcado de Alexandria. Desde 313, Constantino promulgou em Milão o cristianismo como a religião oficial de toda Roma, então unificada, pondo um fim às perseguições por meio de governantes pagãos. Mas os seguidos estudos dos fundamentos da fé do Cristo Nazareno suscitaram um sem número de interpretações controversas sobre a natureza do amor e das obras

Caminhos paralelos, a fé como guia Conquanto já se soubesse da dinâmica existente entre a Roma/Bizâncio e o Reino de Axum, a partir

do

recorreremos às informações religiosas (bem abrangentes no cotidiano do povo ordinário) para saber a esfera de interesses e influências entre esses dois impérios a partir de então.

17

SILVA, A.C. : 2011, p. 198.

desta

variante

do

judaísmo.

Especialmente sobre a natureza do próprio Cristo, se Deus ou Homem, definida em 325, pelo Primeiro Concílio de Nicéia.

de 330 os relatos conjugados desses dois reinos seriam mais férteis e significativos. Novamente,

fundador

No

século

V,

Nestório,

patriarca

de

Constantinopla, por ter publicamente professado a humanidade de Cristo, foi julgado em Éfeso (431) e condenado à prisão. Dióscoro (patriarca de Alexandria) e Eutíquio, novamente em Éfeso (442), proclamaram a natureza única e dua de Jesus –

18

Ibidem, 201-202.

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monofisismo -, promovendo outro acalorado e

dos

violento debate com Flaviano de Constantinopla,

consagrados por eles, consolidando o cristianismo

saído vencedores; mas em Calcedônia (451), veio o

introduzido por Frumêncio no século IV, também

troco, com o papa Leão I em Roma decidindo sobre

com o apoio de monarcas como Caleb e Gebre

a natureza dupla-distinta de Cristo. Dióscoro fora

Meskel. Templos de deuses pré-axumitas viravam,

banido. Eis que uma perseguição aos monofisistas

invariavelmente e sem muita oposição, igrejas

acontece por todo o Império Romano do Oriente,

cristãs. E, num exercício de notável imaginação,

fazendo-os fugir para o Egito e a Arábia.19

ficamos aqui (pela escassez das fontes) burilando o

Relatos do Tarike Neguest20dão conta de que, por volta

deste

período,

chegaram

de

Roma

(Constantinopla) os Nove Santos. Consolidaram as leis monásticas, sendo mais provável de terem feito isto no reinado de All’Ameda (460-470 ou 487497). Seriam eles, Aregawi, Pentelion, Guerima e

Aftse; Y’mata e Gouba; Alef e Tsgima; Likanos.

21

altiplanos

etíopes,

foram

fundados

cinzel da curiosidade, quanto ao idioma utilizado para a evangelização entre as camadas mais pobres, pois as pessoas das camadas superiores da sociedade, e alguns ligados à corte, compreendiam e falavam o grego-koiné, o sírio e o árabe. Provavelmente, com o auxílio de intérpretes, notadamente, destas classes de destaque. 22

Conventos e igrejas, muitas talhadas na rocha dura

MEKOURIA,T.T. Axum Cristão. In História Geral da África II: UNESCO, 2010, pp. 434-436. 20 BEY, Emin. A História dos Reis: manuscrito guardado na Bibliotéque Nationale, Paris. 19

e

21 22

MEKOURIA, T.T. pp 436. ibidem, p.436.

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G N A R U S | 43 Muitas das informações sobre os destinos paralelos da cultura axumita e bizantina só foram possíveis graças à farta disseminação do grego como língua franca não só em Axum mas por todo Oriente Próximo de então. As relações políticas, culturais e econômicas com Bizâncio foram possíveis graças a essa interação lingüística entre esses dois povos. Com o avançar dos séculos VI e VIII, o grego e o sabeano (Sabá) foram substituídos em definitivo pelo geês em todos os círculos sociais – inclusive o militar. Mas o grego-koiné continuava nas ocupações religiosas do país, principalmente para definir aqueles vernáculos intraduzíveis no

Bibliografia: MOKHTAR, Gamal (Ed.).História Geral da África II, África Antiga, UNESCO, 2010. BEY, Emin. A História dos Reis: manuscrito guardado na Bibliotéque Nationale, Paris. SILVA, Antonio Costa da. A Enxada e a Lança: A África Antes dos Portugueses: Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2011. SÉRGIO, Antonio. Em Torno da História TrágicoMarítima, Ensaios, tomo VIII. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1974. ULLENDORFF, Edward. Ethiopia and the Bible. London: British Academy/Oxford University Press, 1968. SHERRARD, Philip. Great Ages of Man: Byzantium: A History of the World's Cultures. Time Life Books, 1966.

geês e que tinham no grego a confiabilidade universal para sua divulgação. De certa forma, o casamento do idioma grego com passagens da Bíblia foram decisivos para que a identidade do axumita cristão solidificasse e perpetuasse no que seria a futura Etiópia. Os etíopes religiosos veneram os Salmos e consideram o Rei Davi a mais importante das personagens da Bíblia. Nas mais diversas ocasiões, a leitura dos Salmos acrescenta um ingrediente de importante inspiração e motivação cotidiana na sociedade. A Bíblia passaria a ser a base de todo conhecimento; um erudito etíope não basta ser um profundo conhecedor da ciência ou filosofia greco-romana, mas, antes de tudo, mas das obras do patriarca Cirilo de Constantinopla, São João Crisóstomo e de outros fundadores da igreja.23 Jorge Luiz da Silva Alves é Licenciado desde 2015 em História pela Universidade Cândido Mendes – Campus Santa Cruz.

23

MEKOURIA, T.T. p.p. 446.

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