G N A R U S | 36
Artigo
AXUM E ROMA: UMA INTERAÇÃO HISTÓRICA DE DUAS POTÊNCIAS Por Jorge Luiz da Silva Alves
RESUMO: O ano de 330 representara um marco para duas civilizações da Baixa Antiguidade. Embora já fossem conhecidas de intensas transações comerciais através dos séculos em que forjaram suas fronteiras e culturas, Axum e Roma tiveram uma interseção significativa no início do século IV, patrocinados por um agente comum – o Cristianismo. A partir de então, interações significativas pavimentaram um caminho de comuns interesses, como pretende mostrar este recorte. Palavras-chave: Cristianismo, comércio, moeda.
Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018
G N A R U S | 37 de sua gente, em Axum fora a destreza paulatina no
A convergência política
O
reino africano de Aksum (Axum) tornarase bastante presente na historiografia clássica a contar do século II, embora a cidade do mesmo nome tenha sido pretensamente fundada em 100. Nos
périplos sobre o Mar Eritreu1, muitas são as referências ao porto de Adúlis, fervilhante
forjar e utilizar elementos de ferro – além da habilidosa domesticação de elefantes para a guerra – que conduziram os axumitas no início da Era Cristã a sobrepujar seus inimigos em África e também os himiaritas, estes na península arábica, onde Axum manteve-os tributários por séculos, até os tempos de Maomé3.
entreposto comercial que ligava a costa da Eritréia
Ao longo da Antiguidade, a Roma dos tempos
ao sul da Arábia e, dali, para a Pérsia e Índia; como
acerados de César e Pompeu cedo percebera a
Axum
num
necessidade em estacionar no Ocidente ainda
posicionamento em um dos braços do Nilo que era
bravio das populações celtas e germânicas;
ficava
mais
para
célebre
em
caravanas
generosas
marfim,
ouro,
o
interior,
receber de
armas
como
também
e
civilizando o oés-noroeste
escravos, o trajeto entre
europeu com sua inventiva,
Adúlis e Axum era uma
Roma
autêntica rota da fortuna,
perpetuação de um legado
que os axumitas souberam
que absorvera inclusive os
muito bem gerenciar a seu
invasores de um império
favor. Aparentemente, sua
sempre
preponderância no local hoje
chamas
chamado
enquanto
de
prata
expandindo não só suas
Etiópia
garantira
a
ardendo de
em
revolta.
Axum
E
ainda
assemelhara-se ao crescimento da lendária Roma,
patinava em campanhas contra o império nilótico
ambas foram núcleos urbanos claudicantes e
de Meroé em meados do século III, aconteciam as
insistentemente invadidos até que se forjaram em
insurreições em Palmira, que tanto desgastaram o
destacadas cidades-estado, graças aos elementos
monolítico mundo das Legiões.
diferenciais construtores de suas sociedades.
Porém, o reino africano firmava posição de
Se em Roma, os acertos e razias entre
destaque ao longo do tempo; e, de tal forma
representantes dos patrícios e plebeus -De Bello
destacara-se como potência do leste continental,
Civili 2- forjara na cidade-estado, ao longo dos
que mesmo na Roma em lenta transformação do
séculos antes de Cristo, a expansão e belicosidade
urbanismo clássico para a ruralização militarizada
Periplus Maris Erythraei (Périplo do Mar Vermelho): datado entre o século I e III, é um manuscrito que relata em uma seqüência, os portos e os pontos geográficos costeiros, com as distâncias aproximadas entre eles, que o capitão de uma embarcação poderia esperar encontrar ao navegar em volta de um mar ou ao longo das costas de um país.
2
1
CESAR, Caio Julio. A Guerra Civil. Séc. I a. C. KOBISHANOV, Y.M. Axum do séc. I ao séc. IV: economia, política e cultura, p. 403-404. in História Geral da África II, África Antiga, UNESCO, 2010. 3
Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018
G N A R U S | 38 observava-se semelhança
uma com
delicada Axum:
um
padrão
de
cunhagem
a
semelhante ao de Bizâncio, no peso,
importância dos parentes e mais
modelo e forma. Mas, se os axumitas
chegados ao imperador (Negus) nos
buscaram
exércitos etíopes era tamanha, que
numismática romano-bizantina para
isso refletia nas milícias e pequenas
evocar a sua soberania, estes não
unidades aldeãs de combate, onde
descuidavam das observações sobre
seus líderes eram alcunhados de
a variedade nas tonelagens que
“reis de exércitos”4.
flutuavam nos portos no Mar
a
padronização
da
Vermelho; todo tipo e tamanho de mercadorias
axumitas intensificaram o intercâmbio com suas
variavam
em
espécie (animal, vegetal ou mineral),
A convergência econômica A partir de meados do século III, mercadores
que
gerando moedas cada vez mais sonantes aos bolsos dos mercadores. 6
velas demandando o Mar Vermelho e, investindo o
Em 330, um fato contribuíra para a interseção
Índico, alcançavam o Reino da Taprobana (Ceilão,
entre as nações. Em Roma, o imperador
atual Sri Lanka) e até mais longe, na China; as
Constantino, o Grande, oportunamente batizado
intermináveis contendas entre Roma e a Pártia
no cristianismo, consagrava a nova sede de um
(Pérsia) terminavam por prejudicar o comércio
império que já agonizava pelo neoplásico
destas potências na península arábica, abrindo um
gigantismo: Constantinopla, “uma fortaleza rica e
veio de concorrência para os axumitas, já bem
sagrada, glória dos gregos e rica em renome e na
instalados no Iêmen e nas cercanias do que seria a
realidade”, nascera para ser uma réplica da Roma
futura Medina.
Eterna, com seus 14 distritos e sete colinas; hipódromos, palácios, estátuas monumentais, o Mármara e o Bósforo como águas seguras e revoltas, seria uma espécie de posto avançado da Cristandade por 1123 anos7. O império dividir-seia; o Ocidente buscaria o feudalismo enquanto o Oriente, renomeado de Bizâncio (herança da antiga
A vigorosa ascensão axumita fora de tal ordem
colônia grega do local) manteria a penoso soldo um
que o Negus Endybis, ao cunhar suas próprias
aspecto de nação amarrada sob uma língua (grega),
moedas, fixara um pioneirismo: o primeiro Estado
uma religião ferozmente defendida pelo seu povo
da África tropical ao fazê-lo5. Seguindo, inclusive,
(cristianismo greco-ortodoxo) e uma habilidade
4
KOBISHANOV, Y.M. p.404 Ibidem, 405. 6 COSMAS, Periplus Maris Erythaei. 3-6; WINSTEDT, E.O. 1909. pp 69, 320, 322, 324, 325; DINDORF, L.A. 1870. P.474. in História Geral da África II, África Antiga, UNESCO, 2010. 5
SHERRARD, Philip. Great Ages of Man: Byzantium: A History of the World's Cultures. Time Life Books, 1966) 7
Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018
G N A R U S | 39 diplomática e comercial que, muito mais que seus
com o helenismo egípcio que ainda proliferava
combalidos exércitos e marinhas, apresentara
mesmo na Alexandria romano-oriental entre os
resultados surpreendentes na longevidade da
séculos II e III9. Soberano do fim do século I,
cultura bizantina.
Zoscales sabia ler e escrever em grego; e enquanto contribuía para eliminar a pirataria no mar Vermelho, entre uma e outra escaramuça, realizava os rituais de praxe para adoração à Mahrem, que
A Convergência Religiosa (Pré 330) É fato: nações que adotaram o monoteísmo
consistia no sacrifício de animais10. Possivelmente,
passaram por etapas politeístas em passados
entre
os
mercadores
que
remotos, explicando o porquê (por exemplo) de
transitavam em Adúlis neste período, haveria uma
muitas
originalmente,
generosa parcela de judeus; cria-se terem vindo do
comemorações pagãs. Axum não escapou deste
sul da Arábia, convertendo as populações a partir
quase ‘consenso histórico’.
da interiorização desses grupos ao longo dos anos.
datas
cristãs
serem,
Tamanha fora a influência judaica na região, que tradições envolvendo a digressão de um grupo mosaico durante o Êxodo, Nilo acima, e a influência do rei Salomão nos inícios nacionais marcaram fortemente
a
religiosidade
de
Axum.11
O
intercâmbio destes no aquecimento à economia fora feito com moedas que já possuíam um respeitável grau de aceitação nos dois lados do Mar Vermelho, uma vez que Axum já vinha sendo A
complexidade
do
paganismo
axumita
assemelhava-se ao politeísmo da Arábia do Sul: adoração a Astar (uma encarnação do planeta Vênus, muito popular no período pré-axumita8), Beher e Meder, divindades ligadas à terra. Símbolos do sol e da lua são encontradas nas estelas de Axum
considerada como uma das quatro grandes potências do mundo, ao lado de Roma, Pérsia e China12 . Mesmo moedas romanas e até indianas e sabeanas do século II (de Sabá, sudoeste árabe, vide a história bíblica do Rei Salomão) foram encontradas em futuras escavações13 .
e em moedas dos reis axumitas pré-cristã. Inscrições bilíngües em geêz (idioma etíope) e
A partir da ascensão ao trono do Negus Ezana
grego fazem menção à divindade Mahrem, muito
(325/330 – 360), o poder de Axum poder-se-ia, de
próxima do deus da guerra helênico Ares,
fato, dizer que alcançou patamares de potência
atestando a ligação constante do Axum pré-cristão
transcontinental; soberano de trechos de território
8
DREWES, A.J. Inscrições da Antiga Etiópia, 1962; KOBISHANOV, Y.M. Axum do séc. I ao séc. IV: economia, política e cultura, p. 417. in História Geral da África II, África Antiga, UNESCO, 2010. 9 DAE (Deustch Aksum Expedition, Berlin), n.4: 6, 29. in História Geral da África II, África Antiga, p.418: UNESCO, 2010.
10Ibidem,
419. ULLENDORFF, E. Ethiopia and the Bible. London: British Academy/Oxford University Press, 1968, p.15-23. 12 SÉRGIO, A. Em Torno da História Trágico-Marítima, Ensaios, tomo VIII. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1974, p. 90-91 13 Ibidem, p. 194. 11
Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018
G N A R U S | 40 entre o Nilo e a Eritréia e a área de
Tradicionalmente citados como
Sabá e Himyiar, esse poderoso
os conversores da família real
monarca
axumita, os irmãos Edésio
fora
um
marco
na
e
transição do paganismo para o
Frumêncio devem ter encontrado
cristianismo, uma transição tal a de
essa
seu
cristãos no país, facilitando seu
contemporâneo
romano-
razoável
quantidade
bizantino Constantino: demorada,
piedoso
estudada
a
percepção de Ezana quanto à
aceitação de parte de suas elites
oportunidade em estabelecer um
urbanas e lideranças rurais. Tanto
vínculo de confiança com Bizâncio
quanto Constantino, Ezana ainda
teria surgido ao saber do contato
permitia práticas politeístas em seu
dos irmãos com o patriarca de
reinado, mesmo após o episódio
Alexandria,
que, segundo muitas fontes, fora
duro, defensor do trinitarismo
de
acordo
com
capital para a assimilação por completo do credo cristão em terras da Etiópia antiga.
Frumêncio, bispo de Axum, considerado o introdutor do cristianismo no país.
trabalho.
A
de
Atanásio15;
provável
homem
niceno contra o arianismo vigente naquele lado oriental romano. Ora, afinal, desde o norte da Abissínia16, e
o aumento de importância tanto das rotas terrestres pela África quanto das milhas náuticas por todo o A Convergência Religiosa (Pós 330) Dada a disseminação de um vago monoteísmo como já citado, e uma opaca percepção helenística nas classes nobres e em alguns meios urbanos, o avanço do cristianismo na Etiópia progredira sem tanta oposição; afinal, já existiam, além de judeus, muitos gregos e egípcios espalhados por todo o império. O que deve ter facilitado (como na hagiografia dos evangelizadores) a criação de episódios de famosas conversões, como a do
Índico, a profusão de marujos, mercadores e uma miríade de outros profissionais que trouxeram em seu bojo, uma vasta gama de credos e manifestações religiosas de várias partes do mundo, deve ter feito com que, não só o monarca, mas muitas pessoas ligadas às dinâmicas políticas que fermentavam por ali à época, percebessem, no credo cristão, uma importante ferramenta para a interação nos diversos assuntos de ambas as sociedades, muito mais do que as demais.
próprio Ezana e sua família – o que não faria tanto
De qualquer forma, reza a tradição que
sentido, caso o país fosse inteiramente politeísta,
Frumêncio e Edésio, após ganhar a confiança do
sem quaisquer ligações com o universo cristão14.
monarca axumita, foram nomeados para serviços no palácio, após terem sobrevivido a ataques
SILVA, A.C. A Enxada e a Lança: A África Antes dos Portugueses: Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2011.,p. 198. 14 15
foi o vigésimo arcebispo de Alexandria, passou 45 anos como tal, sendo dezessete anos exilado em cinco ocasiões, e por quatro imperadores romanos diferentes.
16
O outro nome para Etiópia, que hoje ocupa o que era grande parte do Reino de Axum, a partir das conquistas sobre Meroé
Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018
G N A R U S | 41 piratas na costa da Eritréia. Morto o monarca, foram alforriados; mas a rainha pedira para que continuassem por lá para ajudar na educação dos príncipes e na administração do país. Após a maioridade do herdeiro, voltaram para Roma; Edésio tornara-se presbítero em Tiro e Frumêncio fora para Alexandria e informara a Atanásio sobre as almas a serem salvas em Axum. O patriarca, então, teria consagrado Frumêncio como bispo e, por volta de 330, regressara à Axum, tendo batizado o rei e a família real17 . Com a conversão ao cristianismo, Ezana transformou a religião de Frumêncio e Edésio na fé oficial do reino. Mas a totalidade da Etiópia só seria Ezana (325/360), primeiro rei cristão de Axum.
realidade a partir do fim do século V ou início do século VI, quando um grupo de missionários sírios chegassem ao norte do país; os mais famosos seriam Abá Meta, os Justos e os Nove Santos – estes, vindos do império bizantino, promoveram a versão da Bíblia para o gueze, a língua ge’ez de Axum; além de criarem mosteiros exatamente nos mesmos sítios onde, antes, adoravam-se os invencíveis deuses etíopes do tempo de Zoscales.18
A igreja axumita, desde Frumêncio, encontrava-se sob os auspícios do patriarcado de Alexandria. Desde 313, Constantino promulgou em Milão o cristianismo como a religião oficial de toda Roma, então unificada, pondo um fim às perseguições por meio de governantes pagãos. Mas os seguidos estudos dos fundamentos da fé do Cristo Nazareno suscitaram um sem número de interpretações controversas sobre a natureza do amor e das obras
Caminhos paralelos, a fé como guia Conquanto já se soubesse da dinâmica existente entre a Roma/Bizâncio e o Reino de Axum, a partir
do
recorreremos às informações religiosas (bem abrangentes no cotidiano do povo ordinário) para saber a esfera de interesses e influências entre esses dois impérios a partir de então.
17
SILVA, A.C. : 2011, p. 198.
desta
variante
do
judaísmo.
Especialmente sobre a natureza do próprio Cristo, se Deus ou Homem, definida em 325, pelo Primeiro Concílio de Nicéia.
de 330 os relatos conjugados desses dois reinos seriam mais férteis e significativos. Novamente,
fundador
No
século
V,
Nestório,
patriarca
de
Constantinopla, por ter publicamente professado a humanidade de Cristo, foi julgado em Éfeso (431) e condenado à prisão. Dióscoro (patriarca de Alexandria) e Eutíquio, novamente em Éfeso (442), proclamaram a natureza única e dua de Jesus –
18
Ibidem, 201-202.
Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018
G N A R U S | 42
monofisismo -, promovendo outro acalorado e
dos
violento debate com Flaviano de Constantinopla,
consagrados por eles, consolidando o cristianismo
saído vencedores; mas em Calcedônia (451), veio o
introduzido por Frumêncio no século IV, também
troco, com o papa Leão I em Roma decidindo sobre
com o apoio de monarcas como Caleb e Gebre
a natureza dupla-distinta de Cristo. Dióscoro fora
Meskel. Templos de deuses pré-axumitas viravam,
banido. Eis que uma perseguição aos monofisistas
invariavelmente e sem muita oposição, igrejas
acontece por todo o Império Romano do Oriente,
cristãs. E, num exercício de notável imaginação,
fazendo-os fugir para o Egito e a Arábia.19
ficamos aqui (pela escassez das fontes) burilando o
Relatos do Tarike Neguest20dão conta de que, por volta
deste
período,
chegaram
de
Roma
(Constantinopla) os Nove Santos. Consolidaram as leis monásticas, sendo mais provável de terem feito isto no reinado de All’Ameda (460-470 ou 487497). Seriam eles, Aregawi, Pentelion, Guerima e
Aftse; Y’mata e Gouba; Alef e Tsgima; Likanos.
21
altiplanos
etíopes,
foram
fundados
cinzel da curiosidade, quanto ao idioma utilizado para a evangelização entre as camadas mais pobres, pois as pessoas das camadas superiores da sociedade, e alguns ligados à corte, compreendiam e falavam o grego-koiné, o sírio e o árabe. Provavelmente, com o auxílio de intérpretes, notadamente, destas classes de destaque. 22
Conventos e igrejas, muitas talhadas na rocha dura
MEKOURIA,T.T. Axum Cristão. In História Geral da África II: UNESCO, 2010, pp. 434-436. 20 BEY, Emin. A História dos Reis: manuscrito guardado na Bibliotéque Nationale, Paris. 19
e
21 22
MEKOURIA, T.T. pp 436. ibidem, p.436.
Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018
G N A R U S | 43 Muitas das informações sobre os destinos paralelos da cultura axumita e bizantina só foram possíveis graças à farta disseminação do grego como língua franca não só em Axum mas por todo Oriente Próximo de então. As relações políticas, culturais e econômicas com Bizâncio foram possíveis graças a essa interação lingüística entre esses dois povos. Com o avançar dos séculos VI e VIII, o grego e o sabeano (Sabá) foram substituídos em definitivo pelo geês em todos os círculos sociais – inclusive o militar. Mas o grego-koiné continuava nas ocupações religiosas do país, principalmente para definir aqueles vernáculos intraduzíveis no
Bibliografia: MOKHTAR, Gamal (Ed.).História Geral da África II, África Antiga, UNESCO, 2010. BEY, Emin. A História dos Reis: manuscrito guardado na Bibliotéque Nationale, Paris. SILVA, Antonio Costa da. A Enxada e a Lança: A África Antes dos Portugueses: Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2011. SÉRGIO, Antonio. Em Torno da História TrágicoMarítima, Ensaios, tomo VIII. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1974. ULLENDORFF, Edward. Ethiopia and the Bible. London: British Academy/Oxford University Press, 1968. SHERRARD, Philip. Great Ages of Man: Byzantium: A History of the World's Cultures. Time Life Books, 1966.
geês e que tinham no grego a confiabilidade universal para sua divulgação. De certa forma, o casamento do idioma grego com passagens da Bíblia foram decisivos para que a identidade do axumita cristão solidificasse e perpetuasse no que seria a futura Etiópia. Os etíopes religiosos veneram os Salmos e consideram o Rei Davi a mais importante das personagens da Bíblia. Nas mais diversas ocasiões, a leitura dos Salmos acrescenta um ingrediente de importante inspiração e motivação cotidiana na sociedade. A Bíblia passaria a ser a base de todo conhecimento; um erudito etíope não basta ser um profundo conhecedor da ciência ou filosofia greco-romana, mas, antes de tudo, mas das obras do patriarca Cirilo de Constantinopla, São João Crisóstomo e de outros fundadores da igreja.23 Jorge Luiz da Silva Alves é Licenciado desde 2015 em História pela Universidade Cândido Mendes – Campus Santa Cruz.
23
MEKOURIA, T.T. p.p. 446.
Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018