FB | Revista On Três Rios #03

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Índice Opinião A mulher é mais exigente (1 página) Os trirrienses e a malandragem de um papagaio (1 página) Time’s Você como nunca se viu! (1 página) Economia Seguindo trilhos: setor metroferroviário retoma o caminho do desenvolvimento em Três Rios (5 páginas) Comércio no camelô (NÃO ESTÁ PRONTA) Emprego Oportunidades: saiba quais são as principais exigências das empresas ao recrutar um candidato (6 páginas) Cotidiano Código de Posturas: os mitos e verdades estabelecidos pelo documento (1 página) Operação duas rodas: o panorama da atual situação dos mototaxistas trirrienses (2 páginas) A cara do abandono: as condições dos cães de rua e o carinho de quem ama animais (3 páginas) Viaduto da discórdia: ligação viária levanta polêmica entre sociedade e poder público em Três Rios (2 + ½ páginas) Eu sei fazer De Paraíba do Sul para o mundo: o incansável trabalho do escritor Helder Caldeira (3 páginas) Comportamento O homem de um século: a história e o vigor de um dos homens mais velhos de Três Rios (3 páginas) Tecnologia Cemitério Online: comunidade investiga rastros virtuais após a morte (3 + ½ páginas) Capa Claudia Leitte Estrela da música baiana fala sobre seus anseios, a vida depois do parto e as expectativas para o show em Três Rios (6 páginas) Esporte Na corda bamba: jovens trirrienses entram na onda do slackline (2 páginas) Acrobacia área: a arte circense que supera limites e trabalha a conscientização corporal (4 páginas) Saúde Crack: a droga que se transformou em um dos maiores problemas do país (5 páginas) Hipotireoidismo: conheça a doença que tem afetado cada vez mais pessoas (2 páginas) Papo de colecionador A água que passarinho não bebe: trirriense coleciona mais de 3.000 garrafas de cachaça (3 páginas) Mundo Como os descendentes de japoneses encararam a tragédia naquele país (4 páginas) Aconteceu Bom das Bocas: a escola campeã do carnaval trirriense (1 + ½ página) Desenvolvimento à vista: anúncio de novos investimentos movimentam Três Rios (1 + ½ página) Caer à fantasia atrai mais de 3.000 foliões (2 páginas) Tamboatá Fantasy realiza as fantasias de seu público (2 páginas) Guia


Gastronomia | Viagem | Livros


Editorial Já imaginou quantos acontecimentos são registrados em 100 anos? Agora pense como seria viver durante um século. Com tanta violência, intolerância e desrespeito ao próximo parece impossível chegar a essa idade, ainda mais repleto de disposição e com uma mente lúcida e cheia de lembranças. Pois isso não é impossível, tanto que Felício Giovaninni mostra com orgulho o documento que prova sua data de nascimento: 7 de março de 1911. Boas histórias é o que não faltam a esse centenário, que faz questão de cuidar diariamente (e sozinho) de sua horta. Quando se fala em viver intensamente e esbanjar a energia, também podemos pensar em uma pessoa que, aos 30 anos, concilia a vida de casada, de mãe, de profissional, a fama, os shows e uma legião de fãs: a cantora Claudia Leitte. No ano em que comemora dez anos de uma sólida carreira, ela está confirmadíssima para ser uma das atrações da noite de abertura do Rock in Rio. Antes disso, porém, passa por Três Rios, a última cidade fluminense a vê-la brilhar nos shows que antecedem o festival. Mãe coruja, ela conta o que mudou depois do nascimento de Davi, sua relação com a família, amigos, admiradores e revela o que sente quando ouve seu nome ecoar em meio ao coro de milhões de vozes. Dentre tudo isso, surge um assunto que assusta, destrói e até mata: o crack. A droga que mais se alastra no país não escolhe gênero, classe ou raça e preocupa pais, profissionais da saúde e autoridades, causando uma dependência tamanha pelo seu efeito rápido e de curta duração. Mas afinal, o crack é um problema de saúde pública ou uma questão social? Descubra você mesmo nesta edição da Revista On. Paula Araújo Editota-chefe

Direção e Produção Geral Felipe Vasconcellos felipe@revistaon.com.br Produção Diego Paiva diego@revistaon.com.br Edição Geral e Redação Paula Araújo paula@revistaon.com.br Jornalismo Paula Araújo Felipe Curdi Rafael Moraes Criação Felipe Vasconcellos Robson Silva Felipe Barroso Tecnologia Vagner Lima Comercial Diego Paiva comercial@revistaon.com.br (24) 8843-7944 Fotos Richard Play Rogério Cerqueira Capa Fiobranco Design (fiobranco.com)

TIRAGEM ? DISTRIBUIÇÃO ? SUGESTÃO DE PAUTA ? Errata n unknown printer took a galley of type and scrambled it to make a type specimen book. It has survived not only five centuries, but also the leap into electronic typesetting, remaining essentially unchanged. It was popularised in the 1960s with the release of Letraset sheets containing Lorem Ipsum passages, and more recently with desktop publishing software like Aldus PageMaker including versions of Lorem Ipsum.

Produção Gráfica Wal Print Se for o caso, reclame. Nosso objetivo é a excelência. (24) 2252-8524 | reclame@revistaon.com.br



OPNIÃO

“A mulher é mais exigente”

POR ROBERTO WAGNER LIMA NOGUEIRA

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erta feita comentei com minha esposa sobre os exageros femininos e ela me respondeu: “A mulher é mais exigente...”. Esta frase me impactou e fui meditar sobre suas palavras. Percebi que nós, homens, platonicamente sonhamos; elas, mulheres, aristotelicamente realizam. Por ter perdido meu pai cedo e ter três irmãos, sempre exigimos muito de nossa mãe e de nossas tias, irmãs de minha mãe. No entanto, só comecei entender efetivamente o que é a mulher (será que entendi?) quando comecei a namorar firme. Na minha primeira viagem com Nasta, quando ela arrumou minha bolsa, item por item, tudo separadinho, eu fiquei encantado com o cuidado feminino. E vivi assim o ditado na carne: “A mulher é mais exigente...”. Lembro até hoje aquele bando voltando da praia, todos molhados e ávidos por um banho de água doce, lá estava Nasta a ceder o seu lugar para eu tomar banho, e qual não era minha surpresa quando via já no banheiro a roupa que eu iria usar e um par de chinelos, tudo arrumadinho. Pensava comigo “nós homens brigando para quem vai entrar primeiro no chuveiro e a minha namorada cedendo seu lugar para mim”. Lembrei-me de Maria, mãe de Nosso Senhor, que na Bíblia está sempre atenta e “conservando e meditando no seu coração as palavras de Jesus” (LC 2,19). Aliás, Maria, com seu zelo e cuidado, foi quem provocou Nosso Senhor Jesus Cristo a fazer o seu primeiro milagre – na fes-

ta em Caná – ao notar de forma perspicaz que o vinho das bodas do noivado havia acabado. “A mulher é mais exigente...”. Assim aprendi com a mulher que esperar também é possível, que ceder não é perder, que ceder muitas das vezes é conquistar. Quis Deus tivesse duas filhas: Isadora e Sarah. Eis eu aí cada vez mais mergulhado no mundo feminino. Beijos para lá e para cá, te amo centenas de vezes ao dia, abraços de 15 em 15 minutos, e muita paciência para esperá-las se arrumarem para sair. “A mulher é mais exigente...”. Arthur Dapieve, que também tem duas filhas, escreveu em “O Globo” (“De gatas e mulheres – Por que as fêmeas hesitam tanto?” – Segundo Caderno, 16/03/2007, p. 6), sobre a hesitação crônica das mulheres. Segundo a ótica dele, as mulheres são criteriosas nas escolhas, porque cabe a elas a perpetuação da espécie. Logo, elas só devem ceder ao homem “mais apto”, “mais forte” para que assim possa ser gerada uma prole mais sadia. A mulher busca qualidade. Exageros à parte o fato é que a mulher é mais exigente. Já o cérebro masculino está programado para espalhar a sua semente o máximo possível. Será verdade o que diz Dapieve? O indiscutível é que: “a mulher é mais exigente...”. Deus tem sempre razão, somos feitos um para o outro. Certa feita perguntaram à mãe de Chico Buarque se seu pai, o eminente sociólogo, Sérgio Buarque de Holanda, seria o que foi se não fosse casado

com ela. Então dona Amélia respondeu: “Tenho certeza de que Sérgio faria o mesmo trabalho sem mim. Teria casado com outra mulher que daria para ele uma casa do mesmo jeito”. Além de mais exigentes do que nós, mais cuidadosas e mais zelosas, as mulheres também são mais modestas! Tudo dominam, pouco demonstram. É o mando silencioso das mulheres de nossas vidas. Há exceção, mulher menos exigente, mas é exceção. Por Roberto Wagner Olho 1: “Ceder não é perder, ceder muitas das vezes é conquistar” Olho2: “Deus tem sempre razão, somos feitos um para o outro”

Roberto Wagner Lima Nogueira é procurador do município de Areal, mestre em Direito Tributário - UCAM-Rio -, professor de Direito Tributário da UCP – Petrópolis – e colunista do Três Rios Online. 10

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Os trirrienses e a malandragem de um papagaio São as pequenas atitudes que moldam a identidade de um povo

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m meados dos anos 40 o cineasta americano Walt Disney buscava inspiração para elaborar um personagem de desenho animado que mostrasse ao mundo o perfil típico do povo brasileiro. O resultado foi o papagaio Zé Carioca, um personagem alegre, porém malandro, com aversão ao trabalho e que está sempre à procura de novas artimanhas para se dar bem. Anos depois, a malandragem e o tão propagado “jeitinho brasileiro” ganharam seu enunciado definitivo graças ao jogador Gérson, meio-campista da seleção de 70. Em um comercial de cigarros veiculado na TV em 1976, com um sorriso malicioso no rosto, ele disse a infame frase que se tornou o bordão definitivo da generalizada falta de ética neste país: “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”. Nascia aí a “Lei de Gérson”, segundo a qual o brasileiro sempre optará pelo caminho que lhe garanta maior benefício próprio, sem se importar com questões éticas ou morais. Infelizmente este ingrato perfil nacional muitas vezes se fez presente em Três Rios. Quem não se lembra dos furtos coletivos ao mercado Cobal (um pequeno grupo iniciava o saque e logo era seguido por quase toda a população circunvizinha), dos constantes saques a caminhões tombados no entorno da cidade (se um caminhão tomba, uma multidão aparece para “catar” os produtos), das invasões de casas e prédios populares construídos em diversos bairros do município... Embora muitos trirrienses se esforcem para mudar este quadro, não faltam exemplos que refletem em nossa cidade aquele infeliz estereótipo tupiniquim: muitos cri-

ticam a falta de lixeiras, mas outros tantos jogam lixo no chão mesmo estando próximos a um imenso latão; muitos reclamam do trânsito, mas parece que nossos pedestres ainda não aprenderam a atravessar apenas na faixa e somente quando o sinal estiver verde; muitos se dizem desvalorizados por seus patrões, mas não mencionam que trabalhadores sadios lotam nossos postos de saúde em busca de atestados que justifiquem suas faltas. Comportamentos semelhantes são observados em todo país: Em estradas congestionadas, motoristas “espertalhões” trafegam pelo acostamento; pessoas recebem troco em valor superior e se sentem astutas por não devolverem o excesso; celulares são perdidos e quem os encontra muitas vezes se nega a restituí-los ou exige algum pagamento para isso; em qualquer fila de banco ou repartição pública, há sempre quem consiga dar um “jeitinho” de furá-las; pessoas consomem uma infinidade de produtos falsificados sem qualquer peso na consciência, o mesmo vale para o “gato net” e para o rateio ilegal de TV a cabo. No ambiente de trabalho há vários traços desse lamentável perfil nacional: funcionários costumam se orgulhar por dominarem a arte de “morcegar” no serviço, trabalhando apenas quando estão sob os olhar atento de algum supervisor (isso quando não se escondem no banheiro); usam o telefone e impressora do trabalho para fins particulares; furtam objetos (no serviço público isso ainda é pior, pois criou-se a cultura de que “se isto é público, então também é meu e não fará falta a ninguém”); recrutam clientes de seus patrões para se tornem seus clientes par-

ticulares, fazendo o mesmo serviço “por fora” por um preço inferior. Frases como “perdeu!” e “você sabe com quem está falando?” são expoentes típicos dessa proliferada ausência de hombridade. Em qualquer roda de conversa há sempre alguém que se vanglorie por ter burlado regras ou ludibriado pessoas para se dar bem em determinada situação. Infelizmente, o que nos incomoda não é a corrupção em si, mas sim a corrupção alheia, aquela que não nos traz algum benefício. As pessoas costumam proferir ferozes críticas contra a falta de ética dos políticos, mas parecem esquecer que a imoralidade dos representantes apenas reflete o padrão de comportamento praticado por boa parte de seus eleitores. Sentimos facilidade em apontar o erro das autoridades, no entanto não paramos para refletir no cotidiano marcado por nossas pequenas corrupções individuais, uma realidade na qual a Lei de Gerson muitas vezes parece prevalecer sobre a própria Constituição Federal. Para transformarmos este país não precisamos pegar em armas, sair às ruas e promover uma revolução. Cada um precisa apenas fazer a sua parte corrigindo as pequenas atitudes que, somadas, são responsáveis por uma grande bola de neve de imoralidade e corrupção. Nós brasileiros (e trirrienses) temos a oportunidade de mudar para um lugar melhor: uma terra generosa, com solo fértil, água em abundância e recursos naturais invejáveis. Para fazermos esta mudança só precisamos de duas coisas: trabalho e honestidade. O país (e a cidade) nós já temos.

Oneir Vitor Guedes formou-se em direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora e, atualmente, atua como advogado e consultor jurídico nas áreas cível e criminal, além de ser colunista do Três Rios Online. revistaon.com.br

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TIMES

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FOTO ILUSTRATIVA

ECONOMIA

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Seguindo

trilhos POR PAULA ARAÚJO

Após anos de estagnação, setor metroferroviário renasce no Brasil e reflete em Três Rios

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urante décadas, Três Rios respirou desenvolvimento seguindo o caminho das linhas férreas. A cidade praticamente nasceu e cresceu a partir do entrocamento ferroviário, principalmente após a instalação da Companhia Industrial Santa Matilde. Com as privatizações das empresas atuantes no segmento e a paralisação da Santa Matilde na década de 1980, a atividade foi extinta do município, a não ser pela continuação da passagem dos trens. revistaon.com.br

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ECONOMIA

No ano de 2004, o Decreto Estadual 36.279 estabeleceu a criação do programa Rioferroviário, instituindo tratamento tributário para o setor, cujo objetivo foi desenvolver, recuperar, expandir e modernizar a indústria ferroviária do Estado do Rio de Janeiro. Como tal área é tida como uma das vocações do município, Três Rios viu nesta medida a chance de reconquistar seu espaço. Para isto, incentivos fiscais foram criados como forma de atrair novas empresas e tornar o ramo competitivo.

Atualmente, a Pifer fornece painéis de revestimentos, bancos e máscaras frontais dos carros a clientes como Alstom, CAF, Siemens, Bombardier, além do consórcio MTTrens, que engloba outras empresas

O transporte que melhor se adéqua às necessidades contemporâneas é o ferroviário”,

ção ferroviária da região, que dispõe de mão de obra experiente nos processos de fabricação e serviço. “A opção por Três Rios foi feita em função, primeiramente, de sua localização estratégica, próxima a grandes clientes como CSN, MRS e FCA, e da existência de acesso ferroviário à área por linhas nas duas bitolas, métrica e larga. O espaço ocupado pela EIF possui facilidades importantes para a atividade ferroviária, como recursos de movimentação, pé direito alto, valas, etc.”, afirmou Gemma.

Otávio Henrique Ilha Campos,

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Prestes a completar dez anos de atuação, a Pifer – Projetos de Interiores Ferroviários – pode ser considerada uma das sobreviventes no que diz respeito ao segmento metroferroviário e, desde 2008, vem se destacando consideravelmente na área. “Nosso mercado foi sempre pequeno e oscilante, de ruim para péssimo e vice-versa. De 2008 para cá vem crescendo fortemente, com notoriedade para o ano 2010, em que fomos eleitos a 35ª empresa que mais cresceu no Brasil no período de 2007 a 2009 pela revista “Exame PME”, do mês de agosto do ano passado”, conta Otávio Cotta, diretor de planejamento, compras e produção da empresa. Para o fundador da Pifer, Otávio Henrique Ilha Campos, este reconhecimento é reflexo da retomada do ramo em Três Rios. “Em São Paulo foi criado e está em andamento um plano de expansão do transporte ferroviário, que gerou forte demanda no setor. Estamos ansiosos para a expansão que vai ocorrer no Rio de Janeiro e em outros estados”, disse.

do município, como a T’Trans, MPE e Temoinsa. Somando os funcionários da Pifer e das firmas prestadoras de serviço, a companhia é responsável por empregar cerca de 200 funcionários, número que tende a crescer. “No futuro, este número deve aumentar com a demanda de encomendas de outros tipos de produtos para outros tipos de carros, como bondes e trens de alta velocidade”, completa Otávio Cotta. Outra empresa de destaque na cidade é a EIF Locomotivas, que há nove anos, dois deles em Três Rios, promove comer-

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cialização, reforma de vagões, manutenção, serviços e fornecimento de peças para locomotivas, em uma área de 4.000 m². Segundo o diretor da empresa, João Gemma, a opção por se instalar em território trirriense contribuiu para a tradi-

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Em março, a EIF, que possui 70 empregados, entregou duas locomotivas novas modelo EIF 1.000 para a CSN, as primeiras fabricadas na unidade de Três Rios. Em fevereiro, foi feita a entrega de uma locomotiva 800 HP totalmente reformada pra a CTS, sendo que a segunda será entregue em julho. Até o final de maio, outras três locomotivas recuperadas, com potência de 1.200 HP, serão apresentadas à FCA. A diretoria ainda adiantou que novos contratos estão em andamento e serão cumpridos ao longo do segundo semestre deste ano. Em 2010, os serviços aumentaram três vezes em relação a 2009. No mês de fevereiro, a T´Trans venceu processo licitatório no valor de R$ 2,8 milhões para a fabricação de dois aeromóveis, que farão a integração do sistema Trensurb ao Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre (RS). Os veículos utilizam propulsão pneumática, uma solução econômica e que não prejudica o meio ambiente. Eles terão capacidade para 150 e 300 passageiros.


REPRODUÇÃO

Para melhor atender a essa crescente demanda, a T’Trans ampliou suas instalações e montou uma fábrica de fibra de vidro para produção do interior dos carros. Dentre os projetos futuros da empresa, está a participação na licitação para fabricação de 60 novos trens para o Rio de Janeiro. Os empresários ouvidos pela Revista On apostam no futuro do ramo. “O transporte que melhor se adéqua às necessidades contemporâneas é o ferroviário, não polui, é seguro e não afeta o trânsito de carros e caminhões. Projetos novos poderão surgir com a Copa do Mundo e com as Olimpíadas”, acredita o fundador da

Modelo do aeromóvel que será fabricado pela T´Trans

Pifer. Já para João Gemma, o transporte de passageiros precisa de mais investimentos com os dois eventos mundiais, mas também é otimista quanto ao crescente desenvolvimento do setor. “Penso que o Brasil está desenvolvendo sua vocação histórica de provedor global de commodities, principalmente minerais e agrícolas. Aprendeu que, para ser um fornecedor global desses produtos de forma competitiva, deveria reduzir os custos e perdas com transportes e movimentação portuária. A decisão de realizar as concessões das ferrovias, levando-as a gestões mais profissionais, focadas em resultados e eficiência, foi extremamente acertada”, opinou.

“Penso que o Brasil está desenvolvendo

sua vocação histórica de provedor global de commodities”, João Gemma, diretor da EIF

O secretário municipal de Indústria e Comércio, Julio Cezar Rezende de Freitas, acredita que a redução do ICMS (Imposto dobre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços) favoreceu o desempenho do segmento. “Este foi um fator muito importante para que as empresas viessem para Três Rios, sem esse incentivo, o setor não teria crescido e não estaria consolidado como está hoje”, declarou. revistaon.com.br

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ECONOMIA

Confira os números apontados pela Associação Brasileira da Indústria Ferroviária - Abifer - para a produção de vagões, locomotivas e carros de passageiros entre os anos de 1971 e 2010.

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Ano

Carros de passageiros

Vagões

Locomotivas

2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 1994 1993 1992 1991 1990 1989 1988 1987 1986 1985 1984 1983 1982 1981 1980 1979 1978 1977 1976 1975 1974 1973 1972 1971

430 438 447 283 113 179 45 79 218 79 62 98 46 0 12 20 45 147 162 97 12 4 32 58 120 154 141 202 213 274 259 337 164 131 95 100 78 4 2 26

3.261 1.022 5.118 1.327 3.668 7.597 4.740 2.399 294 748 1.283 1.297 869 119 26 386 70 184 200 6 186 216 521 355 1.646 1.869 799 1.411 1.843 1.086 1.710 2.549 3.455 2.908 4.479 5.025 3.576 3.406 1.496 1.935

68 22 29 30 14 6 0 0 5 4 1 7 9 2 1 14 6 4 13 27 28 15 5 14 47 28 28 24 95 56 59 47 42 110 106 107 77 56 36 60

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Movimentação ferroviária de cargas cresceu 19% no Brasil Um balanço divulgado em fevereiro pela ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários), órgão filiado à CNT (Confederação Nacional dos Transportes), mostrou que o transporte de cargas por meio das ferrovias movimentou mais 141 milhões de toneladas em 2010. O número ultrapassa o recorde alcançado em 1996, quando houve a desestatização do setor, e é 19,1% superior a 2009. Para 2011, a meta é superar 530 milhões de toneladas. Os investimentos das empresas também apresentaram alta, crescendo 19,45% em relação ao ano passado. Em treze anos (entre 1997 e 2010) os recursos aplicados nas ferrovias totalizaram R$ 24 bilhões, sendo cerca de 80% destinados à infraestrutura, 15% a equipamentos e 5% à sinalização.

Frota é modernizada Em 2010, 3.130 locomotivas e 99.531 vagões estiveram em atividade na malha ferroviária brasileira. No ano de 1997, eram 1.154 locomotivas e 43.816 vagões. Até 2020, a estimativa da ANTF é chegar a duas mil locomotivas, 40 mil vagões e 1,5 milhão de toneladas de trilhos. De 42 anos, em 1990, a idade média da frota passou para 25 no ano passado. De acordo com a CNT, a vida útil de cada vagão varia entre 30 e 35 anos. Para 2020, espera-se que eles tenham uma média de vida de 18 anos. A concessionária MRS Logística, que opera a malha de 1.650 quilômetros, pretende duplicar os investimentos em relação aos R$ 707 milhões aplicados em 2010. Apenas em locomotivas, a empresa vai designar mais de R$ 400 milhões, incorporando, ainda, 90 máquinas. A MRS fechou o ano anterior com quase 4.600 funcionários. A previsão é de que até o final de 2011 o quadro alcance 5.685 empregados. Tais fatores estão diretamente relacionados à modernização da frota e contribuem de forma considerável para que empresas como as instaladas em Três Rios aumentem a demanda de serviços e, consequentemente, de oferta de emprego.


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COMÉRCIO

Orgulho de ser camelô POR FELIPE CURDI

Uma opção de vida ou uma saída para o desemprego? Nesta matéria da Revista On você vai conhecer os personagens e as histórias do comércio informal no camelódromo em Três Rios. Com pontos de venda que atraem consumidores de todas as classes sociais, os camelôs buscam seu espaço no município e se orgulham da profissão.

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amelô, do francês camelot, que significa “vendedor de artigos de pouco valor”. Com a falta de oportunidade no mercado formal, essas pessoas escolheram como alternativa montar uma barraca e vender diferentes artigos nas ruas da cidade, evitando, assim, a alta carga de impostos que uma empresa legalizada produz. Mas engana-se quem pensa que esse seja um motivo de vergonha. As histórias de vida variam bastante, mas todos possuem um ponto em comum: o orgulho de ser camelô. Em um primeiro momento, quem não tem o hábito de frequentar esse tipo de comércio popular estranha a diferença: pouco espaço e conforto, com diferentes produtos dispostos no mesmo local, sem ar condicionado, máquina cartão de crédito e outras comodidades presentes em grandes lojas. Em contrapartida, eles possuem o poder de negociação e fazem seu próprio preço, de acordo com a pechincha do cliente. Com rendas que variam de R$ 800 a R$ 1.600, esses profissionais buscam independência e a possibilidade de cumprir o seu próprio horário de trabalho. Na bagagem ou sacolas, eles trazem, além dos produtos, muita história para contar. Selma Berlindo dos Santos, 54, trabalha há 22 anos como camelô e veio de Petrópolis em busca de melhorias. “Eu me mudei para Três Rios buscando oportunidades e, no primeiro momento, tentei outras coisas. Eu nunca tinha pensado em trabalhar como camelô, comecei por intermédio de um amigo. No início eu tinha medo por causa da fiscalização, mas com 20

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Berlindo dos Santos, 34, também tem um box no camelódromo. “Comecei a trabalhar com meu pai aos 17 anos. Depois que ele saiu, eu continuei”, comentou o vendedor. Ele também concorda que o local prejudicou as vendas, mas pondera: “Quem trabalha como camelô ganha sua freguesia desde pequeno. Vi muitos clientes crescerem. Tenho uma clientela cultivada com tempo de trabalho e por isso vendo bem. Eu gosto de ser camelô e gosto de vender. Em qualquer lugar que me colocarem está ótimo”. A família trabalha unida. As compras são feitas pela mãe e pela irmã. “Como vendo bonés, óculos, cintos, carteiras, etc., peço a ajuda delas, pois as mulheres têm um gosto melhor.” Selma Berlindo,que atua no ramo há 22 anos, mostra seus produtos - Foto On

o tempo eu me adaptei e estou aqui até hoje”, afirmou. Na prática, segundo Selma, o trabalho é o mesmo de um empresário comum. “Eu analiso o que os fregueses estão pedindo, compro e coloco na barraca. Os produtos que dão mais retorno nós compramos mais”, explicou. Questionada sobre as vendas, ela nem esperou o término da pergunta. “Já foram melhores. Esse local não ajuda. Nós ficamos fechados aqui dentro e as pessoas acham que não podem entrar. O camelô aqui em Três Rios caiu muito. Antigamente eu conseguia guardar um dinheiro. Hoje em dia eu trabalho para sobreviver”. Se filho de peixe, peixinho é, o ditado se aplica também aos camelôs. Aline Berlindo dos Santos, 30, trabalha com a mãe desde a adolescência. Seu irmão, Alonso

“Eu gosto de ser camelô e gosto de vender”,

Alonso Berlindo dos Santos, 34 Criatividade e novos horizontes Dentre todos os boxes, um deles se diferencia por oferecer um serviço e não produtos, como os demais. O espírito empreendedor e a percepção do aumento da concorrência fizeram Marli Braga de Souza, 67, mudar de ramo, oferecendo o serviço de costura. Ela iniciou vendendo roupas e bijuterias. Após um acidente vascular cerebral, que a deixou afastada por um tempo, Marli fez uma pesquisa sobre as atividades em falta no comércio


Com objetivo de fugir da concorrência, Marli Braga de Souza oferece o serviço de reforma de roupas - Foto On

e optou em oferecer seus serviços de corte e costura. “Durante uma viagem a São Paulo, eu vi uma moça sentada na calçada pregando botão e zíper. Conversei com ela, que afirmou ter um bom movimento. Como eu já tinha esse box, resolvi tentar o mesmo serviço. Graças a Deus virou um sucesso”, comemorou, enfatizando que o boca a boca foi a melhor forma de divulgar seu negócio. “Recebo roupas de várias lojas e boutiques da cidade, que conhecem o meu trabalho.” Marli é ex-presidente da Associação dos Camelôs e também comentou sobre o atual local do camelódromo. “No período em que fui presidente, consegui muitas melhorias por meio da prefeitura, da secretaria de Obras e do Saaetri. Não tenho do que reclamar.” Ela completa ainda que, em comparação com outras cidades,

o município sai na frente na área destinada a esse tipo de comércio. “Se você perguntar se temos problemas, eu respondo com sinceridade que temos. Porém, estamos no Centro da cidade, pagamos pouco pelo espaço, temos água e temos luz. A única sugestão que tenho é que eles [poder público] coloquem portas e paredes para que possamos guardar nossas coisas”, argumentou. A maioria dos camelôs que atua no local não tem alvará de licença para trabalhar. Mas essa não é uma regra. Uma das vendedoras legalizadas é Márcia Cristina, 35. Ela possui uma confecção com CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) e vende no camelódromo as roupas que ela própria produz. “Tenho muito orgulho do meu trabalho. Tirei todo meu sustento daqui. Comprei minha casa e todas as minhas coisas, então não posso reclamar”, disse Cristina.

Classe reivindica melhorias Durante o período de apuração da matéria, diversos camelôs relataram problemas. O maior deles, segundo os entrevistados por nossa equipe, é a falta de fiscalização. “Quando o camelódromo foi inaugurado, todo mundo foi cadastrado. Hoje em dia muita gente não é cadastra-

“O camelô aqui em Três Rios caiu muito. Hoje em dia eu trabalho para sobreviver”, Selma Berlindo dos Santos, 54

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COMÉRCIO

da. As pessoas fazem o que querem aqui, muitas vendem e alugam os boxes. Para melhorar, deveria ser feito um recadastramento e organizar o camelô novamente”, enfatizou Selma Berlindo. A informação foi confirmada por outro comerciante. “Alguns não estão trabalhando e possuem dois boxes, por exemplo. Outras não são da cidade e também possuem o espa-

Relógios, óculos e bonés estão entre os produtos mais procurados dos camelôs - Foto On

Empreendedorismo - Márcia Cristina vende no camelódromo as roupas que produz em sua confecção - Foto On

fonte ouvida pela Revista On, os camelôs decidiram parar de pagar o aluguel mensal de R$ 75 ao órgão municipal, destinado à conservação do local. “Eles simplesmente deixaram de pagar e não contribuem em nada com a manutenção do lugar, deixando sujeira, modificando a estrutura e fazendo um comércio ilegal com os boxes por meio da compra e venda.”

“Compro no camelô há 20 anos e nunca tive problema”, Antônio Justino Alves, 42. ço. Eu, que sou daqui, não consigo. Por esse motivo, para eu poder trabalhar, sou obrigado a pagar um aluguel de R$ 100 e que aumenta para R$ 150 no final do ano”, reclamou um camelô que não quis se identificar. Outro problema relatado é o forte calor do ambiente, bem como o alagamento em épocas de chuva, a falta de guardas municipais e de serviços públicos, como limpeza e manutenção. Procurada para se posicionar sobre o assunto, a Prefeitura de Três Rios não respondeu ao contato até o fechamento desta edição. Segundo uma

Em contato com as secretarias de Ordem Pública e Serviços Públicos, funcionários informaram que há patrulhamento normal da Guarda Municipal, além da limpeza do espaço. O impasse, porém, não atrapalha o consumidor. “Compro no camelô há 20 anos e nunca tive problema. Compro roupas, eletrônicos e assessórios de informática com preços muito mais baixos e com a mesma qualidade. Eu estou muito satisfeito e enquanto existir o camelódromo vou comprar aqui”, finalizou o segurança patrimonial Antônio Justino Alves, 42.

“Tenho muito orgulho do meu trabalho. Tirei todo meu sustento daqui.”, Márcia Cristina, 35

Infográfico Veja o comparativo da média de preços entre os principais produtos do camelódromo com os preços praticados no comércio formal de Três Rios. PRODUTO PREÇO CAMELÓDROMO COMÉRCIO TRÊS RIOS Pen Drive 2GB R$ 20 R$ 29,90 Pen Drive 4GB R$ 38 R$ 49,90 Boné R$ 15 R$ 30,90 Cartão de Memória 2GB R$ 25 R$ 40 Relógio R$ 25 R$ 219 Óculos de sol R$ 15 R$ 299 Capa de celular R$ 10 R$ 19,90 Controle remoto R$ 15 R$ 59,90 Cinto R$ 10 R$ 49,90 Bolsa R$ 40 R$ 240 22

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EMPREGO

Três Rios: a cidade das oportunidades POR FELIPE CURDI

Crescimento, desenvolvimento e progresso já são realidades em Três Rios. Após um longo período de crise, iniciado na década de 80 com o fechamento de grandes empresas, a cidade vive atualmente um aquecimento no mercado de trabalho em virtude da chegada de grandes empresas como a Nestlé e Neobus, atraídas por incentivos fiscais. Profissionais da área de recursos humanos expõem à Revista On o que as empresas do município esperam de um candidato a emprego, as áreas mais procuradas e dão dicas para a elaboração do currículo.

T

rês Rios está crescendo. A cidade, que na década de 80 vivia seu auge devido à sua posição privilegiada, por meio do entroncamento rodoviário e ferroviário, teve grandes empresas como a Companhia Industrial Santa Matilde, Sola Indústrias Alimentícias, Moinho Três Rios, AD Líder Embalagens, entre outras. Após uma crise econômica em meados desta década, que resultou no fechamento destas empresas, a cidade sobreviveu exclusivamente do comércio por um longo período. Nos últimos seis anos, incentivada por uma convidativa legislação fiscal, tornou-se um dos principais polos de atração de empresas do Estado do Rio de Janeiro. Mas, diante de tanto progresso, uma questão preocupa os que buscam uma chance no mercado de trabalho: o que as empresas de Três Rios exigem de um candidato a emprego? Antes de responder à pergunta anterior, é preciso entender o crescimento e o desenvolvimento vivido pelo município nos últimos tempos. A Lei Rosinha, promulgada em 2005 pela então governadora Rosinha Matheus, reduziu de 19% para apenas 2%, por até 25 anos, a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para as empresas que se instalarem nos municípios beneficiados, entre eles Três Rios. Em janeiro de 2010, o governador do Rio, Sérgio Cabral, sancionou a lei 5.636, que prevê incentivo a projetos industriais de 39 municípios do Estado. Na prática, a aprovação altera a Lei Rosinha, incluindo mais cida24

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des como Comendador Levy Gasparian e Areal. Além disso, no texto há uma cláusula para a concessão do incentivo, que obriga os municípios a deixarem a lista após a triplicação dos repasses do ICMS do valor agregado. Porém, mesmo com várias localidades beneficiadas, Três Rios apresenta um crescimento maior. De acordo com dados da Jucerja (Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro), no último ano foram abertos na cidade 471 novos negócios, entre indústrias, serviços e comércio. Deste total, 78 representam o segmento industrial, gerando mais de 6.000 empregos diretos. De acordo com o secretário de Indústria e Comércio, Júlio Cezar Rezende de Freitas, os empresários encontram em solo trirriense uma cidade que possui as qualidades necessárias para o desenvolvimento de uma empresa. “Três Rios sai na frente pela característica da cidade, como sua localização, a distância entre o município e grandes centros e a infraestrutura que oferece na questão da educação e saúde, com um comércio forte e moradia. Então, todo esse conjunto de fatores fazem com que as empresas realmente se sintam seguras para se instalar aqui e trazer uma unidade, gerando receita e empregos”, explicou.

Comprometimento e capacidade de adaptação são as qualidades mais exigidas

Mesmo com o avanço da educação na cidade por meio da chegada das universidades, algumas empresas ainda encontram dificuldade no recrutamento de candidatos. De acordo com a psicóloga organizacional e coaching Luciana Fonseca, que trabalha há 22 anos com processos seletivos, as empresas procuram os serviços de recursos humanos com o objetivo de encontrar profissionais qualificados e que queiram realmente trabalho e não um emprego. “Sempre tenho vagas em aberto, apesar de os níveis de desemprego serem muito altos em todo o país”. Ainda segundo Luciana, a tarefa de conquistar pessoas potencialmente qualificadas para fazer parte de uma organização não é muito simples. “É preciso conhecer as pessoas. E mais, é preciso conhecer a organização”. A psicóloga também enfatiza que todas as companhias estão buscando pessoas comprometidas com o trabalho ao qual se candidatam. “As empresas procuram pessoas que sabem o que querem, que têm um objetivo na vida e que se dedicam para alcançá-lo”, enfatiza Luciana, completando que é necessário ter jogo de cintura e, principalmente, capacidade para trabalhar em equipe. “É preciso disposição e empenho para fazer o melhor, humildade para aprender, flexibilidade para ouvir e aceitar pontos de vistas de outras pessoas, assim como para se relacionar e trocar ideias com o grupo”, completou. Uma das corporações que mais geram


empregos na cidade possui um processo seletivo que compreende avaliação psicológica (entrevistas, testes psicológicos, jogos e/ou dinâmicas de grupo), entrevista técnica ou teste prático e avaliação médica. Regina Cantarino, psicóloga do trabalho da companhia, expõe as qualidades que o candidato a um cargo deve ter. “De maneira geral, observam-se a motivação, o interesse, o comprometimento e a identificação do mesmo em relação ao cargo proposto. Dados objetivos também são considerados: escolaridade, estabilidade profissional, experiência, etc., conforme o que é exigido ou não para o desempenho da função”, disse Regina. Em todas as empresas do grupo em questão, nas vagas para os cargos de nível operacional, a escolaridade mínima é o ensino fundamental. Já para os cargos administrativos, é exigido ensino médio completo ou superior em curso. Com o propósito de auxiliar no recrutamento e seleção das micro e pequenas empresas de Três Rios, no ano de 2000 foi criada a Coordenadoria de Emprego. O funcionamento é simples: o candidato cadastra gratuitamente seu currículo pelo site da prefeitura, no endereço www.tresrios.rj.gov.br, incluindo dados pessoais, escolaridade, cursos, experiência profissional, entre outros. “A vantagem de cadastrar o currículo no site é que o candidato cria uma senha e

pode modificá-lo a qualquer momento e conferir as vagas disponíveis”, afirmou Nilce Vaz, coordenadora do projeto. O currículo é automaticamente recebido por um programa capaz de filtrar os candidatos de acordo com a necessidade de cada empresa, que procura a coordenadoria com o perfil desejado. Nilce afirma que o principal problema apontado pelas corporações na cidade é encontrar profissionais qualificados, principalmente em virtude da demanda, que está muito maior. São muitas vagas e poucas pessoas que possuem os pré-requisitos para ocupá-las, principalmente com qualificação técnica. “As áreas mais pedidas pelas empresas são: técnico em manutenção, cozinheiro, leitura e interpretação de desenhos, vendas, estoquista, supervisor de produção, auxiliar de produção, encarregado de produção, pedreiro, montador, carpinteiro, marceneiro, mecânico de manutenção, telemarketing, secretariado e atendimento ao cliente. Essas vagas são as mais urgentes”, informou a coordenadora. Durante a entrevista, que durou cerca de uma hora, dez pessoas procuraram o setor, a maioria interessada em deixar currículo para a Nestlé. Procurada pela Revista On para explicar como será feito o processo de recrutamento e seleção, a multinacional não respondeu o contato até o fechamento desta matéria.

A dificuldade das empresas em encontrar candidatos tem uma explicação: a alta rotatividade das vagas. O profissional, ao ser demitido, logo é chamado para outro emprego. De 30 currículos consultados pela Revista On, 22 pessoas afirmaram que conseguiram outra oportunidade antes do término do seguro desemprego. “Cadastrei meu currículo no site da prefeitura e em menos de uma semana fui chamado para duas entrevistas”, comemorou o pedreiro Pedro Paulo Silva, 30. O servente Lúcio Oliveira, que trabalhou temporariamente em uma obra, afirma que a área está em alta. “Trabalhei como temporário em uma obra da cidade e logo em seguida fui chamado por outra construtora”, afirmou. Desde a informatização do sistema, feita em 2010, a Coordenadoria de Emprego já recebeu 9.000 currículos e preencheu mais de 4.000 vagas. Dicas para um bom currículo Uma das principais dúvidas de um candidato a emprego é como preparar um currículo corretamente. Segundo profissionais da área, os maiores pecados são excesso de informação, erros de português e formatação incorreta. “Se o currículo não tem as informações básicas necessárias para decidir sobre a adequação do candidato à vaga, ele poderá ser descartado pelo responsável pelo recrutamento e

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nem sequer ser chamado para participar do processo seletivo”, ressalta Luciana Fonseca. Veja a seguir as principais dicas de como preparar um bom currículo.

Dados pessoais Os dados pessoais que devem ser colocados são nome, endereço com CEP, telefone e e-mail. O estado civil é optativo. Alguns profissionais afirmam que a idade deve sempre ser colocada, pois se uma empresa já decidiu que não quer contratar alguém acima ou abaixo de uma determinada idade e se o candidato não se encaixa nesse perfil, é melhor que ele nem seja chamado. Documentos como CPF, RG e título de eleitor não são necessários. Eles serão pedidos em outras etapas. Os números de contato (fixo e celular) e endereço de e-mail são muito importantes para que o recrutador consiga convidar o candidato para uma entrevista. “Esse é um dos problemas que mais enfrentamos. Muitos currículos são preenchidos com números incorretos. Além disso, as pessoas trocam de número e não atualizam o currículo, impossibilitando o contato”, enfatiza Nilce Vaz.

Objetivo Nesse campo, o candidato deve informar o cargo que deseja ocupar ou área de interesse. Luciana afirma que é importan-

te “fixar um objetivo na vida e dedicar-se a conquistá-lo, procurando ser melhor a cada dia, tanto em nível pessoal quanto profissional, aperfeiçoando o relacionamento com as pessoas, atualizando os conhecimentos técnicos por meio de leitura e cursos e procurando fazer a diferença nos ambientes pelos quais passar”.

Formação O candidato deve mencionar os cursos de nível superior, de pós-graduação e especializações que fez, na ordem do último para o primeiro, com o nome da instituição de ensino e os anos de início e término de cada um.

Experiência profissional A experiência profissional deve ser um resumo, em poucas linhas, da carreira do candidato, em que ele deve listar as empresas da mais recente para a mais antiga, as datas de entrada e de saída e as funções que ele desempenhou, focando sempre nos resultados alcançados. “São imprescindíveis as informações sobre as empresas onde trabalhou, a que atividades efetivamente se dedicou (e não somente o nome do cargo), data de entrada e de saída, e ainda, se for possível, o que agregou à organização em termos de resultados conquistados, mudanças promovidas, etc.”, enfatiza a psicóloga organizacional.

Estágios

Outra dica para que os que buscam o primeiro emprego é listar todos os estágios feitos durante a faculdade. O conhecimento adquirido no período do curso, aliado à prática do estágio, são muito importantes na disputa por uma vaga. Para o bancário formado em administração de empresas Carlos Monnerat, os três estágios feitos por ele foram fundamentais na carreira. “Foi com essa experiência que ganhei responsabilidade, habilidades para trabalhar em equipe e não apenas em grupo, visão ampla de como funciona o mercado na prática e como se preparar para uma entrevista de emprego, que, hoje, é um fator decisivo para a conquista de uma vaga”, explicou. Com a segurança adquirida, ele participou de seleções e conquistou o primeiro emprego em uma instituição financeira. “Devido à bagagem acumulada durante meus estágios, fui capaz de passar por uma complexa seleção e conquistei, em junho de 2009, uma vaga em um banco da cidade”.

Idiomas O candidato deve ser sincero, pois toda informação presente no currículo poderá ser conferida. É importante colocar o nível que realmente possui de cada idioma mencionado. Luciana alerta: “Observo que, às vezes, os candidatos ficam preocupados em passar uma imagem diferente do que realmente são e acabam se enrolando ao responder às perguntas ou entrando em contradição. Quando isso acontece, o entrevistador pode decidir não “perder tempo” com ele e acabar descartando-o”.

Sugestão de Olho 1: “As empresas procuram pessoas que sabem o que querem, que têm um objetivo na vida e que se dedicam para alcançá-lo”, Luciana Fonseca, psicóloga organizacional e coaching Sugestão de Olho 2: “De maneira geral, observam-se a motivação, o interesse, o comprometimento e a identificação em relação ao cargo proposto”, Regina Cantarino, psicóloga do trabalho Sugestão de Olho 3: “A vantagem de cadastrar o currículo no site é que o candidato cria uma senha e pode modificá-lo a qualquer momento e conferir as vagas disponíveis”, Nilce Vaz, coordenadora de emprego revistaon.com.br

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Salário Não é necessário mencionar as pretensões salariais. Este é um assunto que deve ser tratado durante a entrevista ou nas etapas posteriores do processo seletivo.

Revisão É importante pedir para alguém revisar o currículo, evitando, assim, os erros de português e digitação. Esses tipos de erros no currículo podem passar uma impressão equivocada sobre o candidato. A dica principal, unanimidade entre todos os profissionais ouvidos pela Revista On, é que, em um mercado tão competitivo, a qualificação é essencial. “Isso é um alerta para as pessoas que ainda não começaram a se preparar, que comecem a se qualificar”, aconselha Nilce Vaz. Segundo ela, a preferência dos empresários é aproveitar a mão de obra da cidade. “Vale ressaltar que os empresários querem preencher suas vagas com a população local, mas se ele está com sua empresa funcionando e não consegue o funcionário com a qualificação que ele deseja aqui na cidade, acabamos perdendo a vaga para pessoas de outros lugares”. Luciana Fonseca finaliza com um conselho simples, mas que, segundo ela, é fundamental. “As pessoas devem escolher um trabalho que realmente gostem muito de fazer, pois somente assim conseguirão desempenhá-lo bem e crescer na carreira e/ou na empresa”.

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COTIDIANO

Pode ou não pode

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Conheça alguns mitos e verdades sobre o Código de Posturas de Três Rios POR PAULA ARAÚJO

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riado a partir da Lei nº. 1.490, de 23 de dezembro de 1983, e atualizado em 27 de setembro de 2007, o Código de Posturas de Três Rios é um documento que contém medidas de polícia administrativa no que diz respeito à higiene, à ordem pública e ao funcionamento dos estabelecimentos comerciais e industriais. O objetivo é estabelecer as relações necessárias entre o poder público local e a população. Para conviver em uma sociedade civilizada, além dos direitos, também é preciso cumprir alguns deveres. Por isso, a Revista On desvenda alguns mitos sobre o Código de Posturas e aponta o que precisa ser cumprido.

Mito 1: Limpeza de ruas Segundo o Artigo 22, do Capítulo II, Título II, a prefeitura ou concessão é responsável pela manutenção da limpeza pública, mas a lavagem ou a varredura da área de passeio em frente às residências devem ser feitas pelos moradores, que, inclusive, não podem despejar qualquer detrito sólido em ralos de locais públicos.

Mito 2: Horário de obras e serviços Quem nunca se sentiu incomodado com barulho de obra? Pois o Código aponta no Título III, Capítulo I, Artigo

55 que qualquer trabalho ou serviço que produza ruído é proibido antes das 7h e após as 20h. A regra vale para perímetros urbanos, suburbanos e vilas, com exceção das fábricas, cuja produção poderá ser prejudicada.

Mito 3: Vendas feitas por ambulantes Artigos variados são comumente comercializados por ambulantes. Mas até o tradicional pipoqueiro da praça precisa de um alvará para exercer a função. Nos últimos quatro meses de 2010, a secretaria de Ordem Pública (SEOP) apreendeu mais de 5.000 itens vendidos irregularmente por ambulantes em Três Rios. Caso o proprietário não apresente nota fiscal nem pague a multa (medida em unidades fis-

“Código estabelece normas de relação entre a sociedade” cais que valem R$ 57,20 cada), o produto é doado a entidades filantrópicas.

Mito 4: Apreensão de animais

O Código diz no Título III, Capítulo IV, Artigo 78 que “é proibida a permanência de animais em vias públicas”. Cabe à SEOP o recolhimento desses animais, que são levados para um depósito municipal. Se o proprietário não se manifestar para recuperá-lo, o animal é doado a uma instituição e não pode ser sacrificado. No caso dos cães, o secretário de Ordem Pública, Alexandre Mansur, explicou à nossa reportagem que existe uma unidade adaptada para a retirada dos mesmos, porém, o canil municipal só será inaugurado no segundo semestre de 2011.

Mito 5: Cartazes, faixas e publicidade A utilização do espaço público para a exploração da publicidade depende de licença municipal. Estão inclusos a colocação de folhetos, cartazes e faixas em muros e postes, bem como a pintura de ruas, estando o infrator sujeito ao pagamento de multas. Para colaborar com uma boa convivência e manter a cidade em ordem, a população pode denunciar as infrações e sugerir medidas, sem precisar se identificar, pelos telefones da secretaria de Ordem Pública (24) 2255-6640 e 2252-9868. A Central de Comando e Controle também recebe ligações do tipo, o número é (24) 2255-1091. revistaon.com.br

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COTIDIANO

Operação

duas rodas POR PAULA ARAÚJO

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egulamentada desde janeiro de 2010 pela Lei Municipal nº. 3.351, as profissões de mototaxista, motoboy e moto-frete ainda são cercadas de polêmicas em Três Rios, principalmente no que se refere ao transporte de passageiros. De um lado, a classe reivindica as obrigatoriedades e uma fiscalização mais firme. De outro, o poder público se defende, afirmando que todas as medidas estão sendo cumpridas. A lei municipal é baseada na lei federal, que regulariza as atividades citadas desde julho de 2009. Segundo o documento, para exercer a função é necessário, dentre outras exigências, possuir habilitação na categoria há pelo menos dois anos, ter idade mínina de 21 anos, comprovar residência fixa no município e concluir uma série de cursos que tornam o profissional apto a trabalhar, inclusive o de primeiros socorros. Em Três Rios, os mototaxistas legalizados são identificados por trafegarem em veículo azul e numerado, usarem capacete da mesma cor, e com o respectivo número, e colete dotado de dispositivos retrorrefletivos com o Alvará de Licença à mostra. No total, são 300 os motociclistas que circulam regularmente na cidade, mas na prática esse número é ainda maior quando misturados aos clandestinos. Para o secretário municipal de Ordem Pública, Alexandre Mansur, a quantidade de mototáxis irregulares é reflexo da expansão econômica da cidade. “Muitas pessoas vêm para Três Rios atraídas pelas oportunidades de emprego”, diz. Ele garante que a fiscalização, feita em parceria 34

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PREFEITURA DE TRÊS RIOS

Saiba como está a atividade dos mototaxistas pouco mais de um ano após a legalização da profissão em Três Rios

Fiscalização tenta coibir exercício irregular da profissão - Prefeitura de Três Rios

com as polícias Civil e Militar, é realizada diariamente. “Temos um fiscal diário nas ruas, em horários distintos, para coibir a ação de clandestinos”, completa. No entanto, para quem vive da profissão o sistema não é suficiente. “Os que estão em situação irregular atrapalham o nosso serviço, eles trabalham fora do horário e cercam os passageiros. O número de motos azuis sem número e de pesso-

as atuando com menos de dois anos de carteira ainda é grande”, relata Ronaldo Moreira Ramos, 47, um dos primeiros a se legalizar. Mansur se justifica dizendo que não há como impedir que os veículos sejam pintados de azul, mas que há como combater a ilegalidade. Sobre o tempo de habilitação, o secretário afirma que existe uma categoria denominada training, que


permite a circulação com um documento provisório.

formalizar, enquanto outros motociclistas trabalham junto com ela de maneira ilegal. “Está uma bagunça! Tem mototaxista clandestino trabalhando junto com quem está regularizado. Precisei mudar de ponto e reconquistar a minha clientela. Cumpri todas as regras, peguei dinheiro emprestado e nada se resolve!”, explana ela. Um dos pioneiros na atividade em Três Rios, Roginaldo Alexendrino, o Índio, de 40 anos, está na profissão há quase 10. Ele reclama que os clandestinos zombam de quem se formalizou. “Enquanto eu dependo da profissão para viver, tem gente que trabalha sem carta e ainda debocha dos outros. Antes, os clandestinos não circulavam, mas como viram que a fiscalização é frouxa, rodam normalmente”, aponta. As autoridades responsáveis por coibir o exercício ilegal afirmam que é impraticável extinguir o problema, mas que é

“Está uma bagunça! Tem mototaxista clandestino trabalhando junto com quem está regularizado”, Natália da Silva, mototaxista

Segundo a delegada titular da 108ª Delegacia de Polícia (Três Rios), Dra. Claudia Abbud, além da fiscalização específica dos mototaxistas, motoboys e moto-fretes, a Polícia Civil também realiza uma operação denominada Duas Rodas, feita em todo o Estado do Rio, cujo objetivo é inspecionar os motociclistas de um modo geral e em todos os níveis. A ação ocorre semanalmente, em dias e horários alternados e não divulgados, com o auxílio da Polícia Militar e da Guarda Municipal. De acordo com a delegada, cada operação verifica mais de 200 motos por vez. No dia 17 março, foram paradas 236 motocicletas, já no dia 25 do mesmo mês, foram 316. “Além da fiscalização da profissão, também verificamos a parte criminal, principalmente se o veículo é roubado ou furtado, se o chassi foi adulterado e até mesmo se o condutor está levando drogas para algum cliente”, esclarece a delegada, afirmando que já prendeu um motociclista em flagrante transportando drogas para um usuário. Outra questão levantada pela classe é o gasto aplicado para se regulamentar. Uma das poucas mulheres que atuam na área, Natália Pinto Bernardo da Silva, 24, conta que precisou fazer um empréstimo para se

“Estamos combatendo o exercício ilegal de forma incisiva”,

PREFEITURA DE TRÊS RIOS

Claudia Abudd, delegada

possível minimizá-lo. A secretaria de Ordem Pública aponta que só nos dois primeiros meses de 2011 foram registrados mais de 60 casos de ilegalidade. A clandestinidade foi reduzida em 60%. “Estamos combatendo o exercício ilegal de forma incisiva”, garante Claudia Abudd. Para o presidente da Câmara de Vereadores trirriense, Joacir Barbaglio, o Joa, a regulamentação foi a melhor alternativa, mas ainda faltam alguns ajustes. “Sou testemunha de que a fiscalização é feita com rigor, mas a população ainda precisa se conscientizar e só usar os serviços daqueles que estão legais, pois eles foram preparados para tal atividade”, frisa. O exercício ilegal da profissão não é crime, e sim uma contravenção. O infrator é autuado no Artigo 47 da Lei de Contravenção Penal, podendo ser julgado pelo Juizado Especial Criminal e cumprir pena, que pode vir a ser alternativa.

Motos azuis e numeradas identificam as motos regulamentadas

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A cara do

abandono POR RAFAEL MORAES

Pode ser de dia, à noite, nos bares, calçadas, vielas ou avenidas das grandes cidades que lá estão eles implorando por um pouco de comida. O resto do salgado cairia muito bem para um animal que passa dias sem comer e bebe água suja. Essa é a realidade de milhares

de cães fadados a morte, que vivem nas ruas brasileiras. Retrato do abandono dos donos, entidades não governamentais e pessoas anônimas resgatam e cuidam das vidas consideradas pelo governo como um problema de saúde pública.

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A

Arca Brasil (ARCA Brasil Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal) é uma entidade sem fins lucrativos, sem vínculos partidários ou religiosos, criada em 1993 com o objetivo de promover o bem-estar e o respeito aos direitos dos animais. De acordo com a instituição, só no Brasil, existem 30 milhões de cachorros e destes, aproximadamente 10% estão nas ruas. “Só em são Paulo são 2,5 milhões de caninos”, explicou Marcos Ciampi, presidente da instituição. A revista Superinteressante divulgou em uma matéria a lista com os dez países que possuem mais cachorros no mundo. O Brasil está em segundo lugar, perdendo para os Estados Unidos. Na rua, além de sofrerem, os animais oferecem risco à saúde humana, já que algumas doenças podem ser transmitidas para seres humanos. como explica a veterinária Carmen Tinoco. “Existem doenças como a raiva, que podem ser transmitidas para outros animais e para nós também. Além disso, ela pode causar a morte. Também há risco de contaminação por ectoparasitas (carrapatos, pulgas e sarna) e endoparasitas (vermes intestinais encontrados nas fezes destes animais)”, ressaltou. “A cinomose tem batido recorde de atendimentos aos cães de rua. Ela qua-

se sempre resulta em óbito. Patologia esta que seria evitada se os cães de rua fossem vacinados anualmente”, alerta o veterinário Raphael de Oliveira sobre as principais doenças que os cachorros abandonados adquirem nas ruas. A cinomose é uma infecção viral aguda caracterizada por febre, secreções nasal e ocular, indisposição, anorexia, depressão, vômito, diarréia, desidratação, dificuldades respiratórias e sintomatologia neurológica. Muito se reclama, mas enfim! Qual seria a solução para retirar os animais das ruas? Os veterinários dão a sugestão. “Um programa de castração e vacinação em massa seria o mínimo que a prefeitura poderia fazer”, acredita Oliveira. Essa teoria também é apoiada por Carmen, que crê na “diminuição da população de cães nas ruas”. Ainda assim, ela completa dizendo que “a adoção seria uma solução para esses animais, mas não existe nenhuma instituição responsável por isso. Existem pessoas que recolhem animais doentes, tratam e continuam cuidando deles na rua ou acabam levando para casa”, finaliza. Foi isso que aconteceu com Maria Marli, Isis Barroso e Aroldo Assunção. Eles ajudam os animais com comida, medicação e auxílio veterinário. Nenhum deles faz parte de instituições, mas assumem o papel que o poder público deveria ostentar.

Moradora de Levy Gasparian, Maria Marli, empresária, tem 20 caninos em casa. “Oito são meus e 12, de ruas”. Organizada, ela anota tudo no caderno que serve como um diário. Registrado em sua agenda, 2005 foi o ano em que ela começou a se sensibilizar com a causa. “Eu comecei com uma doação de uma amiga minha que se chama Roberta. Ela me deu uma poodle e daí comecei socorrer”, relembra. Hoje ela recebe doações de pessoas que são adeptos a essa corrente, no entanto, não podem se dedicar aos animais. “Eu vivo de doação, tenho alguns sócios, mas me rende muito pouco. Alguns me dão ração e eu castro, aplico injeção. Outras pessoas me dão dinheiro e eu faço uma caixinha”, conta. Maria, orgulhosa, faz questão de revelar o trabalho feito. “Eu evitei que nascessem três mil cachorros na cidade. Na campanha, o prefeito [Cláudio Mannarino] prometeu que me ajudaria na castração”, expõe em tom de cobrança, já que a promessa não foi cumprida. Em Três Rios, Aroldo Assunção, vendedor, também ajuda os animais abandonados. Em sua casa moram 30, mas esse número praticamente dobra quando engloba os que auxilia na rua. “A primeira cachorra atravessou a rua na frente do meu apartamento e nos a pegamos para as crianças”, conta. Os outros cães foi algo

População canina: os dez países com mais cães no mundo.

EUA

61 milhões

Polônia 7,6 milhões Fraça 8,1 milhões Italia 7,6 milhões

Rússia 9,6 milhões

China 22 milhões

Japão 9,6 milhões

Tailândia 9,6 milhões

Brasil 30 milhões

África do Sul 9,1 milhões Fonte: Superinteressante

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Foto Sugestiva para o início da matéria

impensado. “De repente já estávamos com 30 cães. Foi algo meio que por acaso”, revela. Quando o assunto é preconceito, Assunção logo denuncia: “O preconceito é constante, seja na fila do banco, da padaria. Você é julgado porque as pessoas acreditam que é melhor adotar uma criança do que tratar de um bicho. É uma discriminação besta. Acho tudo o inverso”, desabafa. Para quem acha que adotar um cachorro é muito e 30 são demais, conhecer a história da médica aposentada Isis Barroso pode mudar seu pensamento. Ela cuida de 400 cães de rua. Para abrigar os animais, comprou um sítio em Paraíba do Sul e se dedica aos pets com carinho, alimentação, cuidados veterinários e atenção.

Eles são muitos, cada um com sua peculiaridade. São os mais variados e errou quem imaginou que Isis esqueceria o nome dos estimados. Só os mais novatos que “dão branco”, mas logo os novos se acomodam e a memória ajuda a fixar os detalhes individuais. As raças também são diversas, além dos SRD (Sem Raça Definida), poodles, um casal de rask siberiano, pitbull e até um bernese estão hospedados lá. Há 12 anos a médica se dedica aos animais. No seu sítio construiu vários canis. Os cães são separados por idade, estado de saúde, não castrados e outras necessidades. “Eu morava em um apartamento no Centro da cidade e só vinha para passear, mas com o aumento da população tive que mudar para cá”, diz a doutora. Aposentada há três anos, conta: “Acabei com o consultório particular. Dedico-me a eles”.

De repente já estávamos com 30 cães”, Aroldo Assunção, vendedor

A causa é pulcra, mas o custo é alto. Além do tempo empregado nos cuidados, são fraudas, remédios, cuidados veterinários além dos mais de 180 quilos de ração diário, o que ultrapassa cinco toneladas mensais. Isis não quis revelar o investimento. Ela ainda mantém quatro empregados para ajudar na manutenção do local. Quando questionada sobre o preconceito, foi taxativa. “Honestamente, não sofro preconceito. Criei sete filhos adotivos. Quando alguém questiona o porquê de esse dinheiro não ser revestido para uma creche ou instituição eu digo: ‘Acho interessante o trabalho com os seres humanos. Quantas crianças você já adotou?’”, esclarece. Para ela, a principal causa pelo excesso de animais nas ruas são os ex-donos. A médica explica que algumas pessoas adquirem o animal para servir de brinquedo ao filho, “daí a criança cresce e não

O bernese está hospedado no sítio há seis meses

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quer mais o bicho, que também já não é um filhote. Assim, o destino dele, quase sempre é a rua”, adverte. Com 400 cães será que existe um mais especial, algum mais querido? “A gente tem uma dedicação especial aos que estão doentes, paralíticos, acidentados, mais velhos, ou seja, essa dedicação é pela necessidade. Carinho tenho por todos”, revelou.

leva ao veterinário e retorna com ele para a rua. Sobre a situação do terreno, como havia informado Villa Verde, Einy disse desconhecer o processo. “Nem me pas-

mento, por exemplo, nós fazemos contato com o veterinário para que o animal seja cuidado. Temos uma área lateral na secretaria que por enquanto serve para isso”, explica. O telefone para solicitar esse transporte é 22529868. Conforme afirma Mansur, só em 2010 foram resgatados 38 animais. “Hoje temos o carro e equipamento para prender os animais, mas ainda não temos o local. Se tiver alguém que queira O canil adotar um animal, trirriense nos fazemos o transporte, mas não recolhemos”, ressalta o A lei complesecretário salientando mentar para consque, com a construtrução de um canil ção do canil, os donos municipal em Três dos cães serão multaRios anima o poder dos. “Já é cobrado público, mas divermulta. Existe uma lei ge opiniões entre para isso. O valor é cuidadores de cães. recebido em unidade A proposta inicial fiscal. No momento foi criada em 2006. só estamos fazendo Para o presidente da com animais de granCâmara de Vereado- Doutora Isis dá carinho, cuidados veterinários e remédios aos animais despresados pelos donos de porte como boi e res, Joacir Barbaglio, cavalo. Isso porque tudo o que dependeu do Poder Legislativo saram isso, fiquei sabendo depois. Esse hoje temos local para abrigar esses anifoi liberado. Falta a prefeitura decidir o loterreno já foi devolvido para o centro esmais”, justificou. cal onde será construído. “Acredito que a Para Aroldo, que cuida de cães abandemora seja a definição do local”, opinou. pírita. Pois o local é deles. O terreno é pequeno para fazer um canil. Existem outros donados, o canil pode não ser a solução. Para o secretário de Meio Ambiente, locais, mas ainda não sei como vai ser”, “É uma “faca de dois gumes”. Pode ser a Thiago Villa Verde, a situação dos anisolução ou o fim dos animais. Tem alguns mais abandonados é uma questão de saúlugares que eliminam o bicho com um de pública. De acordo com ele, o projeto mês, pois não têm verba para alimentá-lo para o canil já está pronto. “O local que Algumas pessoas para sempre. Isso foi a primeira proposta tinha sido escolhido era a antiga escola de Três Rios. Contudo, existem canis que São Francisco de Assis, na estrada que vai adquirem o animal tratam bem dos cães”, alertou o vendedor. para a torre, mas ainda não foi confirmaApesar de vários caninos circularem para servir de do. Existe uma associação que apresentou pela cidade, não há um controle de quanoutros terrenos. Independentemente disbrinquedo ao filho” tos vivem nas ruas. A proposta foi lançada so, todo estudo já foi feito e o projeto já pelo poder público, entretanto, cabe agora está pronto. Já temos o custo em torno de ressaltou. às autoridades, à sociedade e a instituiR$ 170 mil para abrigar no máximo 300 Enquanto o canil não fica pronto, o ções como a SPA se inteirarem do assunto cães”, explica. secretário de Ordem Pública, Alexandre para cobrar resultados efetivos sobre essa Essa associação citada pelo secretário é Mansur, disse que a captura dos animais causa. Assim, o descaso, que atualmente, a SPA (Sociedade Protetora dos animais). está a cargo de sua secretaria e, por enabrange todos os setores sociais, possa se A presidente Einy Fonseca disse que a quanto, eles conseguem transportar e sorestringir apenas à falta de responsabilidaprincipal dificuldade é a falta de um canil. Da forma que está, ela recolhe os animais, correr os feridos. “Se tiver um atropela- de dos donos dos animais.

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COTIDIANO

O VIADUTO DA DISCÓRDIA

POR PAULA ARAÚJO

Ligação viária entre a avenida Condessa do Rio Novo e a rua Nelson Viana, em Três Rios, levanta discussão entre população e poder público

O

rçada em R$ 14, 7 milhões, cujo repasse é proveniente do programa Somando Forças, do governo estadual, a construção de um viaduto sobre a praça Salim Chimelli, no Centro de Três Rios, vem divergindo opiniões entre governo e população. De um lado, o poder público argumenta que o projeto vai beneficiar os trirrienses de um modo geral; de outro, uma sociedade que pede para ser ouvida. De acordo com a secretaria municipal de Obras, o início dos serviços estava previsto para abril, mas, até o momento, apenas foi feito uma pesquisa de estudo do solo. Ainda segundo a secretaria, as obras têm duração de 16 meses. “Mas esperamos finalizar antes desse prazo”, destacou o secretário Manoel Vaz. 42

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O projeto, que será executado pela Dimensional Engenharia Ltda., vencedora

“Pode ser que o viaduto seja o meio mais adequado”, Mirandir Dias da Costa, engenheiro do IPR

da licitação, aponta que a estrutura, feita em concreto, terá 170 metros de extensão, 9 metros de largura e a pista por onde os veículos vão trafegar, 8,20 metros. Os acessos serão desenvolvidos pelos eixos da rua Nelson Viana e avenida Condessa do Rio Novo. Conforme o documento, “em consequ-

ência da implantação do viaduto, o sistema viário local necessitará ser adequado ao novo plano de circulação”, sistema este já anunciado pela prefeitura e que entrou em vigor no dia 13 de abril. O projeto ainda diz que “a passarela existente deverá ser demolida e as áreas no entorno deverão receber tratamento paisagístico de urbanização”. Para um dos moradores mais antigos da praça Salim Chimelli, o cirurgião bucomaxilofacial William Sarkis Moor, o viaduto será um “elefante branco” na cidade. “Essa obra não vai facilitar em nada uma mãe com uma criança de colo, por exemplo. Um bom urbanista constrói um projeto que aproveite melhor nossa topografia”, critica. A maior justificativa dada pelo gover-


no municipal para a construção da ligação viária é o fato de o hospital, a delegacia, o Corpo de Bombeiros e o batalhão da Polícia Militar ficarem localizados do outro lado da linha férrea. Com isso, as passagens de nível com longos períodos de interrupção do tráfego acabam gerando transtornos tanto para pedestres quanto para condutores. Tal lógica não convence o comerciante Anderson da Silva da Costa Xavier, dono de uma floricultura na praça Salim Chimelli, existente há 37 anos. “Até hoje os serviços de saúde e segurança nunca foram prejudicados por causa da passagem do trem e, atualmente, o próprio prefeito recomenda que a população procure a UPA [Unidade de Pronto Atendimento] em caso de emergência. Só vão para o

hospital as pessoas que são encaminhadas pela UPA”, manifestou. Outra reivindicação apontada pela população é o desconhecimento dos impactos que o viaduto vai causar. A secretaria de Obras afirma que o projeto está à disposição para quem quiser consultá-

“Ainda não deu para entender quais os benefícios que o viaduto vai trazer”, Anderson da Silva da Costa Xavier, comerciante

-lo, mas os moradores reclamam por não conseguir conversar diretamente com as

autoridades sobre o tema. “Estamos tentando falar com o prefeito Vinicius Farah, mas nunca o encontramos”, diz Moor. Xavier também afirma que ninguém foi ouvido pelo poder público. “Não houve planos, só especulação. Ainda não deu para entender quais os benefícios que o viaduto vai trazer. O comércio local corre o risco de desaparecer, pois várias lojas já saíram daqui”, explana. No ano passado, um grupo formado por membros da sociedade civil recorreu à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Três Rios, na tentativa de solucionar o problema. Na ocasião, o presidente da entidade, Sérgio de Souza, afirmou que a Ordem só pode intervir se houver alguma irregularidade ou ilegalidade comprovada no projeto. Uma das alternativas propostas revistaon.com.br

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COTIDIANO

foi a realização de uma audiência pública. “A audiência pública não é obrigatória. A decisão de fazê-la ou não é tomada pelo administrador, no caso, o prefeito”, explicou Souza na época. A Revista On entrou em contato com a Prefeitura de Três Rios para saber a posição do prefeito Vinicius Farah quanto à realização da audiência, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve resposta. Uma árvore centenária também é alvo das articulações contrárias à ligação viária. Com o viaduto, a planta precisaria ser derrubada. “Acho isso um crime”, opina Sarkis Moor. Segundo o secretário municipal de Meio Ambiente, Thiago Villa Verde, a empresa responsável pela obra não fez nenhuma solicitação para derrubar a árvore. “Ainda não recebemos nenhum comunicado de que será necessário retirar a árvore para a passagem do viaduto”, explica Villa Verde. O secretário completa ao dizer que, caso ocorra a derrubada, a Dimensional Engenharia deverá assinar um Termo de Ajustamento

de Conduta, se comprometendo a plantar outras árvores na cidade, como forma de compensação pelo dano causado ao meio ambiente. “Se fôssemos transportá-la, ela não sobreviveria”, arrematou. Para José Carlos Barros Cipriano, dono de uma auto-escola localizada após o cruzamento da linha férrea, as obras representam o momento de desenvolvimento vivido em Três Rios. “Para mim o viaduto vai ser ótimo, pois vai melhorar o trânsito local e agilizar qualquer coisa que seja preciso fazer depois da linha. Ambulâncias e viaturas da polícia vão poder transitar com mais facilidade e, pelo menos o meu negócio, acredito que não será afetado”, argumenta. As obras ainda contemplam uma área de lazer, que visa evitar a transformação do espaço em um local propício à criminalidade. Para garantir a segurança, o secretário de Ordem Pública, Alexandre Mansur, afirmou que agentes da Guarda Civil Municipal estarão de plantão durante 24 horas em uma unidade fixa, que

será instalada logo após a conclusão dos trabalhos. Outra opção que não a construção do viaduto, seria a transposição da linha férrea para além do perímetro urbano. No entanto, especialistas apontam ser esta uma solução de custo muito mais alto e que, futuramente, pode vir a se tornar outro problema. “A cidade cresce e, passado alguns anos, a linha transposta vai estar rodeada de moradias novamente”, afirma Mirandir Dias da Costa, engenheiro do Instituto de Pesquisa Rodoviária – IPR. Para ele, somente um estudo detalhado pode confirmar se a melhor alternativa é transpor a linha ou construir um viaduto. “É preciso verificar o que será melhor para a cidade, analisar o plano diretor e os impactos da obra. Essas informações devem ser passadas à população por meio de uma audiência pública para que fique bem claro o motivo da decisão. Pode ser que o viaduto seja o meio mais adequado”, finaliza o engenheiro.

“Essa obra não vai facilitar em nada uma mãe com uma criança de colo, por exemplo”, William Sarkis Moor, morador da praça Salim Chimelli

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EU SEI FAZER

mundo De Paraíba do Sul para o

POR RAFAEL MORAES

“Quando recebo e-mails de leitores dos mais longínquos rincões do país, como Carolina, no Maranhão, ou Gravataí, no Rio Grande do Sul, sempre me lembro de que meu umbigo foi enterrado no curral de uma fazenda, na zona rural de Paraíba do Sul”. Esta frase é do escritor sulparaibano Helder Caldeira. Sua maior obra foi o livro “A Primeira Presidenta”, quando faz uma análise política da trajetória pública de Dilma Rousseff.

Tive uma criação rural, morei em fazenda, vim do mato”, diz o escritor 46

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Apesar de morar na capital fluminense atualmente, Helder ainda tem raízes em Paraíba do Sul. A família materna ainda vive na cidade. “Tive uma criação rural, morei em fazenda, vim do mato [risos]”. A rotina acelerada o impede de estar presente com mais frequência na cidade natal, no entanto, quando sobra tempo, prefere a roça à cidade. “Fico mais na fazenda. Eu tive um processo de recessão muito grande, por coisas perdidas”, descreve decepcionado ao lembrar o trabalho na fundação cultural de sua cidade natal. “A relação é de amor e ódio. Eu era presidente da fundação cultural”, recorda o ex-subsecretário de Desenvolvimento Turístico Econômico e Rural do município. Na trajetória que o levou ao status atual, ao sair de Paraíba do Sul, o escritor foi professor no interior de Minas Gerais até ser convidado pelo então governador do Rio, Sérgio Cabral, para trabalhar no governo. ARQUIVO PESSOAL

Atualmente o autor está escrevendo seu primeiro livro de ficção

ARQUIVO PESSOAL

I

maginem uma cidade que abriga um autor de livros, que este seja conhecido nacionalmente. Seria ótimo, pois o nome da cidade estaria sempre agregado ao escritor. Rainha das águas, Paraíba do Sul é a cidade natal de Helder Caldeira, 32, colunista político e escritor. Autor de três livros, comemora o sucesso do terceiro lançado no Brasil. Helder nasceu em Paraíba do Sul e foi nesta cidade que ele se apaixonou pela leitura, influenciada pelos pais e avós. Caldeira conta que quando tinha 4 anos de idade, ainda não sabia ler, mas todas as noites pegava um livro e se dirigia ao quarto da avó materna, que morava com ele. Lá, buscava as ilustrações da obra e solicitava que ela [avó] fizesse a leitura em voz alta das resenhas das fotografias e contasse um pouco da história do cidadão retratado. “Foi assim que aprendi a ler e que conheci as biografias de John Kennedy, Charles de Gaulle, Franklin Roosevelt, Winston Churchill, Mao Tsé Tung, Adolf Hitler, Lenin, Josef Stalin, Leon Trotsky e do brasileiro Getúlio Vargas. Assim, me apaixonei irreversivelmente pela política”, revela. Engano imaginar que Caldeira pensava em transformar essa habilidade com as palavras em profissão. “Eu não tinha na minha cabeça que ser escritor era uma profissão. Eu fazia. Eu escrevia meus jornais. Sempre escrevi muito, mas não pensava assim. Eu queria ser diplomata ou advogado. Era meu sonho de criança”, conta ele que se formou em direito pela Universidade Católica de Petrópolis depois de terminar Arte Dramática e Cinema na UniverCidade, no Rio de Janeiro.

Com 4 anos, Helder Caldeira não sabia ler, mas gostava de ver as figuras e fotos de livros


Os livros Hoje, Caldeira tem três livros publicados: Bravatas, Gravatas e Mamatas (Edi-

tora AlphaGrafics, 257 páginas, 2010); Pareidolia Política (Editora AlphaGrafics, 315 páginas, 2011) e A Primeira Presidenta (Editora AlphaGrafics, 207 páginas, 2011). Atualmente está escrevendo uma ficção. Dentre as obras, a que mais se destaca é a terceira, escrita em seis dias, com uma dedicação de 20 horas diárias. “Ao concluir o trabalho, fiquei mais de uma semana sem conseguir chegar perto do computador e estava com as mãos e os olhos inchados.”, revelou Helder. O livro, lançado em janeiro deste ano, vendeu mais de 50 mil exemplares e será publicado em segunda edição por outra editora, ainda não revelada. A ideia surgiu logo após sua posse, quando Helder escreveu o artigo “A Presidenta e a Comandante-em-Chefe” e recebeu milhares de e-mails e mensagens de leitores de toda América Latina. “Como os leitores mostraram-se com compreensões absolutamente diferentes sobre Dilma Rousseff e com tão poucas informações sobre ela disponíveis, senti que era o momento de criar uma obra que reunisse sua trajetória pública. Ao mesmo tempo, a imprensa internacional começava a tentar explorar informações sobre Dilma, então eleita 16ª pessoa mais poderosa do mundo.”, completa. O produto também despertou atenção das editoras internacionais e até o início do segundo semestre de 2011 já estará traduzido e publicado em Portugal, Espanha, Dinamarca e na Bulgária. “Estamos fechando os trâmites burocráticos para tradução e publicação nos Estados Unidos e na Inglaterra”, afirma. Agora, Helder se dedica à finalização do seu

primeiro romance, uma ficção. O plano de fundo da história será uma monarquia europeia. Segundo o autor, o resultado do terceiro livro “foi muito além do esperado”. A repercussão ecoou em Brasília e chegou até a presidente. “A assessoria presidencial confirmou a aprovação pessoal dela. No entanto, como é sempre importante dizer, meu livro não é uma biografia. Trata-se de uma análise política da trajetória pública de Dilma e, portanto, sua produção não carecia de qualquer prévia aprovação dela ou de qualquer instituição”, disse. Os números mostraram o resultado do trabalho e o talento com as palavras, mas, ainda assim, o escritor do interior não acredita na dimensão do seu produto. Apesar da proporção de suas escritas e análises conjunturais dos personagens mais importantes do alto calão do governo federal, Helder sempre vai se lembrar da pequena Paraíba do Sul. “Tenho grande orgulho de ter nascido e crescido em Paraíba do Sul, com uma enorme qualidade de vida e de onde brotaram grandes experiências e personagens que hoje ilustram meus livros e textos. Certamente eu não poderia ter melhor raiz, mesmo que minhas palavras estejam hoje chegando à Dinamarca ou aos Estados Unidos”, finaliza.

DIVULGAÇÃO

Helder começou a escrever artigos em 2006. O aumento na demanda de textos, palestras e a dedicação aos livros o afastaram do cerne do governo. Hoje faz análises de situações comportamentais que envolvem a política. São 42 jornais que recebem e midiatizam as palavras e opiniões do escritor sulparaibano. Para dar conta do serviço, o dia do escritor começa às 5h. “Em geral, durmo muito cedo, às 22h. Teve uma época que eu comecei escrever à noite, por ser um período mais silencioso, mas não funcionou porque o corpo não adaptou. Acordo e começo a ler os jornais nacionais e internacionais. Assisto aos jornais da manhã, pois gosto de ver as diversas análises sobre o mesmo assunto”, explicou. Para escrever os artigos, são pelo menos seis horas diárias de trabalho. A única vantagem, segundo ele, é a replicação dos textos. “Não é tão difícil escrever para 42 jornais. Produzo, em média, três artigos. Alguns veículos têm texto exclusivo”, esclareceu. Com tanto trabalho é provável a dedução de um retorno financeiro imensurável, mas não é bem assim, pelo menos é o que diz Caldeira. Segundo ele, a ideia dos livros era uma atividade mais prazerosa do que financeira, mas “hoje os livros deram um retorno muito bom. Os artigos são mais por prazer e dão publicidade para fazer palestras”, completa o também expositor, que viaja todo o país disseminando suas crenças.

“O livro, lançado em janeiro deste ano, vendeu mais de 50 mil exemplares”

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COMPORTAMENTO

Felício Giovaninni, nasceu em 1911 e completou 100 anos em março de 2011 48

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O HOMEM

DE UM

SÉCULO

POR RAFAEL MORAES

Ex-trabalhador da construção civil, o mineiro por nascimento e trirriense por opção completou 100 anos em março. Com uma saúde de dar inveja, tem orgulho em contar a idade que tem, no entanto, se diz pronto para a morte.

“Cem anos já foram, agora estou caminhando para os 200”. Esta frase foi a primeira da entrevista com Felício Giovaninni, morador do bairro Santa Terezinha, em Três Rios. No dia 7 de março, ele completou um século de vida. Lúcido e com uma saúde invejável, se diz preparado para a morte, mas vive como se não tivesse atravessado um centenário de grandes crises, guerras mundiais, civis e ataques terroristas. Quando ficou sabendo da matéria na Revista On, logo lembrou: “Tenho vários sobrinhos pela cidade. Essa matéria vai ser boa para eles se lembrarem que ainda têm um tio para visitar. Eles sabem onde moro, mas não vem me ver”, reclamou. Filho do italiano Francisco Giovaninni, que fugiu do país natal em um navio para não se tornar padre, Felício nasceu em Ericeira, na cidade de Santana do Deserto, em 7 de março de 1911, mas foi registrado em Itaipava, distrito de Petrópolis. A mãe, Virginia Giovaninni, também viveu mais de um século e morreu aos 105 anos. A infância não foi muito boa. “Eu era escravo do meu irmão mais velho [Augustini Giovaninni]. O velho [como chamava o pai] morreu, e ele [irmão] ficou no lugar. Era pontapé no joelho, pescoção. O povo falava ‘um bom menino desse não apanhar desse jeito’”, lembrou sorrindo. O descendente de italiano passou parte da vida em Petrópolis. Indagado sobre a esposa, a resposta detalhada sobre o amor da sua vida também foi seguida de sorrisos nostálgicos. “Eu a conhecia desde pequeno. A mãe dela a chamava de “Felicinha” por minha causa. Isso porque nos

bailes eu só a tirava para dançar [risos]”, contou. Petrina Pereira Giovaninni morreu em 1985. Giovaninni tem dois filhos adotivos. Jorge Ferreira Castilho é torneiro mecânico, atualmente mora em Petrópolis. Antônio Roberto Soares é supervisor de uma empresa em São Paulo. De acordo com Felício, ambos foram abandonados pela família consanguínea. “O pai do Jorge era queimador de carvão. Naquela época todos usavam carvão e serragem para cozinhar e eu gastava carvão, foi daí que nos conhecemos. O pai dele morreu e a mãe, sozinha, ficou atrapalhada com um monte de filhos”, explicou. “O Beto [como chama Roberto], começou a andar com 4 anos e vivia fugindo lá pra casa”, complementou, dizendo que a mãe de Roberto saía para trabalhar e o deixava fora de casa.

Trabalho Proletário da construção civil, ajudou a construir vários prédios na Cidade Imperial. Hoje, é revoltado com o salário que ganha. Com a defasagem, os dois salários da aposentadoria chegaram ao mínimo. Dessa época de labuta, lembrou do antigo patrão, o construtor petropolitano Jorge Simão. Em contato com ele, logo se lembrou do leal funcionário. “Felício! Estou devendo uma visita a ele”, confessou. Do antigo empregado só elogios. Giovaninni aposentou-se em 25 de janeiro de 1989. Em fevereiro desse mesmo ano, mudou-se para Três Rios.

Hoje, o homem de 100 anos vive com a sobrinha de consideração. Uma relação de afeto que perdura desde a juventude dela. A cabeleireira Mirian Pinheiro, 43, contou que aos 14 anos ainda chupava bico e a casa de Felício era o local onde podia usar a chupeta, já que sua mãe não deixava. “Foi a parti daí que ele se apegou a mim, só comia quando eu estava lá (...) ele sempre morou comigo”, lembrou. Apesar da idade, engano pensar que ele parou de trabalhar. Dentro dos muros da casa da família, cuida de uma horta. “O povo fica bobo de ver a lucidez dele. Faz barba, toma banho sozinho, escova os dentes e faz o café pela manhã”, revelou a sobrinha. De acordo com Mirian, ele prometeu que, quando se aposentasse, dedicaria sua vida ao estudo do evangelho. “Já leu a Bíblia mais de uma vez. Faz várias orações ao dia e o principal objetivo de suas preces é a humanidade”, disse.

Família Hoje a família cresceu. A sobrinha que chupava bico escondido em sua casa é casada com Osmar de Freitas e tem dois filhos, Jean Pinheiro Freitas, 14, e Ângelo Pinheiro Freitas, 9. “A vida dele é meus filhos”, contou Mirian. Jean explica que o tio conta histórias muito antigas. “Algumas, ouço na escola”, comenta o adolescente que se diz amigo de Felício. Bem mais jovem que o irmão, Ângelo confessou que, com o tio, aprende a conhecer plantas e jogar baralho. revistaon.com.br

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Alimentação Aos 100 anos Felício não sofre de colesterol, diabetes ou pressão alta. Espantou-se? Além disso, toma cachaça, cerveja, vinho, sem falar no cachimbo. Mas calma! Tudo bem pouquinho. “Todo mês ele compra uma caixa de cerveja em lata, mas bebe pouco. Uma lata, por exemplo, dura o dia inteiro. A cachaça é um ‘dedo’ antes do almoço, quando bebe”, revelou a sobrinha que aposta na alimentação como fonte de saúde do tio. “A maior parte de

Da horta cultivada pelo centenário, são colhidas as verduras consumidas pela família

grupos de 60, 80 anos, ou seja, câncer e doenças cardiovasculares”. Segundo ele, esses alimentos diminuem os riscos de

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Predisposição e genética

Os decanos brasileiros Há quem diga que completar um século de vida, atualmente, não é tão incomum. “Estão enganadas”, retruca Carlos Paixão. De acordo com ele, embora essas pessoas façam parte do grupo que mais cresce (acima de 80 anos, o crescimento populacional é quatro vezes maior que todas as outras faixas etárias), ainda é exceção. Ele explica que os centenários parecem possuir características biológicas diferentes das pessoas que não chegam a essa idade; seria como um sistema imune mais preservado. Além disso, têm características psicológicas diferentes por serem mais dinâmicos, adaptando-se melhor às mudanças ao lon-

Lista com as sete pessoas mais velhas do mundo

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doenças degenerativas.

Para Paixão, existe um segredo para longevidade, no entanto, ainda não foi descoberto. “Há várias possibilidades biológicas em estudo”, completou dizendo que “quem é filho de longevos tende a viver mais”, como é o caso de Felício. O especialista ainda pondera algumas medidas para qualificar a vida do idoso. “Primeiro, garantir sua independência e autodeterminação. Segundo, um acompanhamento médico regular e adequado, e terceiro, a segurança física e mental”.

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Ter um idoso em casa exige alguns cuidados que os especialistas salientam. No entanto, Mirian mostrou quais são os seus métodos: “Não o aborrecemos e fazemos suas vontades para não contrariá-lo. Tudo que podemos, fazemos para facilitar a vida dele”. Para a sobrinha, a única lamentação são as perdas. “O triste é que ele viu a maioria das pessoas que amava partirem, como foi com a esposa, mãe e irmãos; só resta ele da família”, concluiu. Para o doutor e vice-presi- Da esq. para dir. Osmar, Ângelo, Felício, Mirian e Jean dente da Sociedade Brasileira suas refeições são verduras, além do made Geriatria e Gerontologia do Rio de carrão que não pode faltar”, finalizou. Janeiro, Carlos Paixão “a família pode O especialista também foi enfático em facilitar ou piorar a vida de um idoso. O relação aos alimentos consumidos. “A alicarinho dos amigos parece ser mais im- mentação à base de fibras vegetais (frutas, portante para o cérebro e o corpo e a afei- verduras, legumes) influencia muito mais ção da família pode garantir a segurança na diminuição das doenças que afetam os que o idoso precisa para levar sua vida”, explica.

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go de suas vidas. No Brasil, a expectativa de vida é de 78 anos para mulheres e 72 anos para homens, de acordo com Paixão. E essa é uma tendência. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou, em 2008, uma pesquisa com projeções para a população brasileira. De acordo com o documento, o número de indivíduos com mais de 80 anos vai saltar de 2.653.060 em 2010 para 9.420.483 em 2050.

A pessoa mais velha do mundo As informações são diversas. Mas, de acordo com o Guinness, a norte americana Besse Cooper, de 114 anos, é a pessoa mais velha do mundo. Ela nasceu em 26 de agosto de 1896 no Tennessee. Apesar disso, no ano passado, a Geórgia afirmou ser o lar da pessoa mais velha do mundo. Antisa Khvichava, que teria nascido em 8 de julho de 1880, comemorava seus 130 anos. A certidão de nascimento dela foi perdida em meio às muitas revoluções e guerras civis que a região enfrentou no século passado. As autoridades mostraram dois documentos da era soviética que

Felício Giovaninni nasceu em 1911 no município de Santana do Deserto, Minas Gerais

atestariam sua idade. Enquanto não se decidem, o brasileiro e trirriense Felício Giovaninni vai vivendo com a possibilidade de ultrapassar as estrangeiras. “Viver 100 anos é viver muito”, confessa. Em meio a entrevista, com as mãos em oração, surge a prece como desabafo de quem aceita, mas está cansado das rugas no rosto: “Pai, quando quiser pode me levar.”

“Viver 100 anos é viver muito”, Felício Giovaninni Pessoas que ganharam o Decano da Humanidade O título é concedido à pessoa mais idosa do mundo. Abaixo, a lista dos decanos do século XXI: Besse Cooper desde 31 de janeiro 2011 Eunice Sanborn desde 4 de novembro 2010 Eugénie Blanchard desde 2 de maio 2010 Kama Chinen desde 11 de setembro 2009 Gertrude Baines desde 2 de janeiro 2009 Maria de Jesus desde 26 de novembro 2008 Edna Parker desde 13 de agosto 2007 Yone Minagawa desde 28 de janeiro 2007 Emma Tillman desde 24 de janeiro 2007 Emiliano Mercado del Toro desde 11 de dezembro 2006 Elizabeth Bolden desde 27 de agosto 2006 María Capovilla desde 29 de maio 2004 Ramona Trinidad Iglesias-Jordan desde 13 de novembro 2003 Mitoyo Kawate desde 31 de outubro 2003 Kamato Hongo desde 18 de março 2003 Maude Farris-Luse desde 6 de junho 2001 Marie Brémont desde 2 de novembro 2000 revistaon.com.br

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TECNOLOGIA

Cemitério online

POR FELIPE CURDI

Comunidade sobre mortos na rede de relacionamentos Orkut, do Google, atrai 81 mil membros e coloca em discussão a utilização das redes sociais e os “rastros virtuais” deixados por uma pessoa após sua morte.

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s redes sociais são uma febre no Brasil e no mundo. Orkut, Facebook, Twitter, MySpace, Fotolog são apenas alguns exemplos das redes que atraem milhares de internautas. Mas o que fazer com todos os perfis dos usuários quando eles morrem? Pensando nisso, em dezembro de 2004, o então estudante de ciência da computação Guilherme Dorta criou a comunidade no Orkut “PGM – Profiles de Gente Morta”, que atualmente reúne mais de 80 mil membros. O objetivo é descobrir o motivo da morte do internauta, discutir a causa, procurar informações e notícias na imprensa que provem a veracidade da postagem e, principalmente, prestar condolências à vítima e à sua família, um verdadeiro cemitério online. Guilherme Dorta explica na comunidade o seu principal objetivo. “Aqui vemos como, de uma hora para a outra, nossa vida acaba e deixamos tudo para trás, inclusive banalidades como Orkut, Fotolog, MSN, etc., banalidades essas que, por vez, podemos chamar de rastros virtuais”, explica. Ele enfatiza também que não faz apologia à morte. “Não é permitido brin-

sunto e já fui criticado por estar na PGM. Com o perfil falso me sinto mais à vontade para comentar e discutir”, disse um dos membros. Durante um mês a Revista On acompanhou o dia a dia na comunidade. A maioria dos perfis procurados pelos membros é formada por jovens vítimas de acidentes de trânsito, assassinato e doenças como câncer. Porém, são os suicidas o alvo maior da curiosidade e “julgamento” dos membros da PGM. Em um recente caso, uma adolescente de 15 anos cometeu suicídio após o namorado de 24 romper o relacionamento, gerando mais de 100 comentários. “Jogar a vida fora por causa de um homem é não ter nada na cabeça mesmo”, postou uma usuária. Ainda no período de pesquisa, encontramos diversos perfis de pessoas de Três Rios, cujas mortes foram discutidas por diversos internautas. Em respeito aos familiares, decidimos não postar as identidades e o conteúdo. A comunidade “PGM - Profiles de Gente Morta” já encontrou cerca de 9.000 perfis, segundo dados obtidos na página www.pgmsite.com.br, criada para complementar o conteúdo da PGM.

tre cruzes, seguidas pela causa da morte. Este é o sinal de que mais uma vida se foi nos mundos virtual e real. Ao clicar no título (nome entre cruzes), é possível encontrar o link (endereço) para a página do falecido, as comunidades criadas em homenagem a ele, notícias divulgadas na imprensa sobre o caso em questão e as condolências prestadas pelos usuários, geralmente postadas como R.I.P. (Requiescat in pace, que significa descanse em paz, em latim) e D.E.P. (descanse em paz). Para João Gabriel Alexandria de Rezende, 26, membro da PGM há quatro anos, a morte é um tema que gera curiosidade. “É uma curiosidade mórbida do ser humano, existe em praticamente todos. Por isso que sempre que ocorre um acidente ou um assassinato, nós vemos multidões de pessoas em volta da cena. O que acontece aqui é praticamente o mesmo, mas acredito que até mais saudável, pois não procuramos ver o corpo, o acidente, o sangue, apenas o perfil da pessoa. É interessante e estranho ver o perfil de alguém que já se foi, porque ela permanece pra sempre viva na internet”, explicou.

“Na maioria das vezes o suicida não tem completa noção de morte, mas quer acabar com a dor que sente. Essas postagens podem ser o estímulo que faltava para que a pessoa cometa o suicídio”, Daniella Pedra, psicóloga cadeiras de má intenção, bem como falta de respeito com os mortos. Deixo claro também que sou contra qualquer tipo de violência e jamais faço apologia à morte aqui nessa comunidade”. O sucesso da PGM e o interesse pelo tema incentivaram a criação de outras comunidades interligadas como “Sou viciado na PROFILES” (1.240 membros), “Eu já chorei lendo a PROFILES” (1.815 membros), “Gente Morta Sem Profile” (2.026 membros) e “Se eu morrer me enterre na PGM” (1.975 membros). Tanto na PGM como nas outras, a maioria dos usuários usam perfis fakes (falsos). “Poucos utilizam o perfil real. Geralmente as pessoas têm certo preconceito com aqueles que se interessam por esse tipo de as-

Cruzes nos perfis, condolências e emoção Ao participar da comunidade, o internauta deve ler as regras estabelecidas por Guilherme Dorta. A conduta dos membros é vigiada por três moderadores, que ficam atentos e checam todas as postagens. Entre as regras principais estão: não postar mortes fakes (falsas). O usuário que postar é automaticamente expulso da PGM; não postar ofensas aos falecidos e seus familiares; e não divulgar fotos e vídeos com imagens chocantes. Além disso, as postagens devem seguir uma padronização. Ao entrar na PGM, o usuário encontra diversos tópicos com o nome e sobrenome de um internauta en-

Outro usuário, usando um perfil falso, afirmou que só participa em casos famosos. “Eu, particularmente, não posto. Porém, tenho interesse por alguns tipos de mortes, principalmente casos de grande repercussão na mídia. Nesses, eu gosto de debater e ver a opinião de outros membros”, respondeu em um dos tópicos.

Comportamento preocupa psicólogos Um dos fatos que mais surpreende e chama atenção são as postagens no perfil das pessoas que já morreram. Parentes e amigos continuam escrevendo no perfil, deixando mensagens emocionantes de revistaon.com.br

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despedida e outras vezes com recados como se a pessoa ainda estivesse viva, parabenizando-a no aniversário e em datas comemorativas como Natal e Ano Novo.

“Sou contra qualquer tipo de violência e jamais faço apologia à morte aqui nessa comunidade”, Guilherme Dorta, dono da PGM

Para a psicóloga Daniella Pedra, a curiosidade sobre a morte pode ser uma forma de negar o medo que se tem dela, uma tentativa de controlar o que um dia será inevitável para todos nós. “Pode parecer estranho para alguns, mas é uma forma de aceitar, de elaborar o fim do ciclo humano”, explica. Sobre o envio de mensagens ao falecido através das redes sociais, Daniella afirma que é uma forma de aceitar a perda. “Em relação às pessoas que perderam seus entes queridos, existem diversas maneiras de se vivenciar o luto, tais como celebrar uma missa ou levar flores ao cemitério. Deixar uma mensagem nos sites de relacionamento é também uma forma de vivenciar esse processo”. Outra questão bastante discutida na PGM é a publicação dos casos de suicídios. Alguns especialistas acreditam que é forma de incentivo para que outras pessoas façam o mesmo. “Os suicidas são pessoas que não estão adaptadas ao meio em que vivem. A vontade de morrer vira uma tentativa de acabar com a angústia e o com o sofrimento. Na maioria das vezes, o suicida não tem completa noção de morte, mas quer acabar com a dor que sente. Acredito que o suicídio possa ser sim incentivado, essas postagens podem ser o estímulo que faltava para que a pessoa cometa o suicídio” alerta Daniella Pedra. Para a neuropsicóloga e terapeuta familiar sistêmica Noemi Lopes, as pessoas deveriam lidar com a morte com menos 54

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tabu. “As pessoas deveriam aprender que a vida tem um ciclo. E entender a importância do membro da família que se foi, o lugar que ele ocupava na família e, principalmente, de que forma é possível suprir o vazio que ele deixou. Visitar regularmente o perfil no site de relacionamentos é uma forma de se despedir mais vezes e aos poucos tornar a dor menor”. Outro ponto lembrado por Noemi é atuação da família. Ela ressalta que a os pais devem estar atentos ao conteúdo acesso pelos filhos na internet. “Os pais sempre devem olhar o que os filhos estão vendo, seja na televisão, na internet ou em qualquer outro meio. A família que acompanha pode dialogar e esclarecer as dúvidas, evitando que o acesso a esse tipo de conteúdo possa causar algum distúrbio de comportamento”.

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TECNOLOGIA

Namorados, Guilherme Dorta e Juli Miziara são moderadores da PGM

O que fazer com as redes sociais em casos de falecimento? Para evitar problemas e possíveis processos, algumas redes sociais criaram políticas para lidar com perfis de pessoas que morreram. No caso específico do Orkut, por exemplo, o Google disponibiliza o formulário “Pedido de remoção de perfil de usuário falecido”, que pode ser preenchido por um membro da família ou amigo. Porém, para evitar fraudes, além de preencher todos os dados, o solicitante deve anexar a certidão de óbito. Para outros serviços da empresa como o Gmail, Youtube, Blogger etc., somente familiares podem fazer o pedido, que também deve ser comprovado através de documentos. A remoção pode levar até 30 dias. O Facebook, maior rede social do mundo, criou a ideia do “perfil memorial”. De acordo com informações do blog oficial http://blog.facebook.com, os amigos devem avisar o Facebook, apresentando provas de que realmente o dono do determinado perfil faleceu. Após a confirmação, o perfil é transformado em um memorial, que não exibirá mais alguns dados como status e informações de contato. Além disso, somente a rede de contatos do memorial conseguirá encontrá-lo no sistema de busca. Ainda segundo o blog, “o objetivo do perfil-memorial é tornar a página um espaço para que os amigos re-

tomem e compartilhem as lembranças vividas com o amigo que morreu”. Além do Orkut e Facebook, existem várias outras redes sociais, que nem sempre possuem políticas definidas para os casos de falecimento. Por esse motivo, a melhor opção é deixar sua senha com uma pessoa de confiança e informá-la de sua vontade. Pode parecer estranho planejar com antecedência um momento que ninguém quer enfrentar, mas ao fazer isso é possível evitar problemas e ajudar muito em momento tão delicado quanto a morte.

Visitar regularmente o perfil no site de relacionamentos é uma forma de se despedir mais vezes e aos poucos tornar a dor menor”,

Noemi Lopes, neuropsicóloga


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estrela A hora da

POR PAULA ARAÚJO

Carreira, sucesso, filho, casa, marido, shows, prêmios, viagens, campanhas publicitárias, carnaval, discos, DVD... Difícil administrar tudo isso? Não para Claudia Leitte. Chamada de Negra Alemã por ninguém menos que Carlinhos Brown, a musa, que hoje leva uma multidão de três milhões de pessoas a suas apresentações e está prestes a cantar pela última vez no Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente em Três Rios, antes de encarar o palco do Rock in Rio revela suas paixões, sonhos e conta detalhes de sua vida à Revista On.

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laudia Leitte respira música desde criança. Nascida em 10 de julho de 1980 em São Gonçalo, Rio de Janeiro, mudou-se para Salvador logo nos primeiros anos de vida. Durante 15 anos, morou no bairro da Saúde, próximo ao Pelô, de onde ouvia as batidas do Olodum. Com mais ou menos três anos de idade, aproveitou-se de um descuido de um músico em uma churrascaria na capital baiana, subiu ao palco e começou a cantar a música da personagem Emília, do Sítio do Pica-pau Amarelo. O que ninguém sabia é que aquela garotinha sapeca se tornaria, hoje, uma das cantoras mais prestigiadas e queridas do país. “A música me acompanha desde o berço. Costumo dizer que já nasci cantora. Aos três anos já brincava de cantar”, conta.

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De lá para cá, a música sempre deu as caras na vida de Claudinha, assim chamada pelos fãs. Autodidata, aprendeu a tocar violão por volta dos 12 anos, época em que integrava uma banda no condomínio onde morava. “Meus pais sempre autorizavam e assistiam à minha participação. Era divertido para mim e para eles. Aquele era o meu caminho.” Filha de professora e de administrador, Claudia Leitte guarda da infância a lembrança de união entre a família, as amizades que cultiva desde a época da escola e as brincadeiras com os colegas. “Inventava arte na rua”, diz ela, que adorava pique-esconde, mamãe da rua, polícia e ladrão e deu seu primeiro beijo aos 13 anos, na escada de incêndio do prédio em que vivia, num jogo de salada mista.

Disposta a agradar aos pais, que queriam que ela estudasse, Claudinha chegou a cursar direito, comunicação e música, mas não concluiu nenhuma das faculdades. “Certa vez, “mainha” me escreveu numa carta que dizia: “Você nasceu artista, nasceu para cantar, eu só não a queria distante dos seus princípios, da sua família. Eu tinha medo, mas ninguém pode mudar o que Deus planejou e eu confio em você”. Eu devia ter uns 18 para 19 anos nessa época”, revela. Depois de ser backing vocal do compositor baiano Nando Borges, o qual fez uma música para seu filho Davi,

Claudia passou por bandas como Violeta, Macaco Prego, Nata do Samba e Cia. do Pagode até ver seu nome explodir no Brasil à frente do Babado Novo, em 2001. Mas quando o assunto é fama e sucesso, a cantora é enfática. “Sucesso é uma coisa efêmera, mas não vamos entrar nesse assunto, se não fica um papo muito cabeça [risos]. Eu sempre prezei por tratar bem os meus fãs. Lutei muito para chegar aqui. Então, fico feliz com isso, com esse carinho do público”, afirma Claudia, que diz não ter “esse lance de ‘glamourização’”. Prova disso é a música “Famo$a”, faixa de seu último álbum, “As Máscaras”, que nada mais é que uma sátira da notoriedade. A letra surgiu depois de Claudinha ter ouvido “Billionaire”, do rapper Travie McCoy, que participa da canção. “A versão deles é mais materialista e adaptei à nossa realidade. McCoy é um super rapper americano. Foi realmente uma honra gravar com ele”, relata. Claudia também andou dividindo os microfones com outro famoso cantor, o porto-riquenho Rick Martin, com quem gravou a música “Samba”, no ano passado, surgindo daí uma grande amizade. Perguntada sobre o fato de o artista ter assumido ao mundo sua homossexualidade, a musa do axé é firme na resposta. “Não tenho o que comentar da vida particular de ninguém. Rick é meu amigo e a opção sexual dele e de qualquer amigo meu jamais vai interferir em nada.” Um dos momentos marcantes na vida de Claudia Leitte foi o anúncio de sua carreira solo, em 2008, quando reuniu os integrantes do Babado Novo, numa terça-feira de carnaval, e deu a notícia. “A despedida foi emocionante. Saí do Babado, mas o Babado está comigo. Os músicos continuaram ao meu lado e somos uma família na estrada”, diz.

“A música me acompanha desde o berço. Costumo dizer que já nasci cantora”

Logo que ganhou visibilidade, Claudinha chegou a ter a voz comparada à de Ivete Sangalo, principalmente por cantar o mesmo ritmo e carregar a energia baiana. Questionada sobre tal comparação, ela exrevistaon.com.br

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O pequeno herdeiro, que completou um ano em 20 de março, é o xodó do casal (Claudia é casada com o empresário Márcio Pedreira há quatro anos). Em toda a entrevista, a estrela do axé foi só cha-

muita gente que me ama de verdade”

Arrastar milhões de pessoas não é nenhum desafio para a nossa inspiração. Logo que se lançou em carreira solo, mais de um milhão de pessoas transformaram a praia de Copacabana em um tapete humano na gravação de seu DVD ao vivo. “Foi algo que jamais esquecerei”, afirma ela, que, ainda assim, diz não sair de um trio elétrico por nada. Hoje, seu nome é esbravejado por mais de três milhões de pessoas, as quais acompanham seus shows anualmente. “Viver me emociona, porque é uma surpresa todo dia. Gosto de saber que tem muita gente que me ama de verdade”, expõe. ES

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e verdadeiramente feliz. Acho que toda mãe quer que seu filho tenha caráter”, almeja ela, completando que o marido é um

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Cismada desde criança com o número sete, que inclusiT FO ve lhe rendeu o nome de uma das suas turnês, Sette, em 2009, Claudinha não se considera supersticiosa. “Mas rezo antes de todos os shows. Isso é uma rotina em minha vida e vem desde que subi ao palco pela primeira vez.” QU

Ser mãe de fato mudou a vida da cantora. Ela, que esbanja vigor e disposição em suas performances, alega que tudo mudou depois de dar à luz. “Meu corpo e minha mente são outros.” Claudia ganhou 11 quilos com a gestação e afirma ter tido uma gravidez saudável. “Eu vivia conversando com o Davi quando ele estava na minha barriga.” O barrigão não foi motivo para que a ela deixasse os palcos. “Apesar de eu ter trabalhado intensamente, foi um momento de muita tranquilidade. Acho que durante a gestação me tornei mais equilibrada e disciplinada. Parei de trabalhar pouco mais de um mês antes de o Davi nascer.”

“Gosto de saber que tem

a uma época que é a cara de Claudinha Leitte: o carnaval. Este ano, o tema da folia da cantora foi “Delírio Tropical”. Uma verdadeira multidão a seguiu durante os dias de festa e o resultado não poderia ter sido outro se não “delirante”. Cada detalhe da produção tem uma pitada de Claudia. “Participo de tudo, discuto tudo, dou minhas ideias, faço os ajustes. É um trabalho coletivo, mas minhas digitais estão lá e bem fortes [risos].”

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Como boa brasileira que é, Claudia adora futebol e não é à toa que foi coroada madrinha de seu time do coração, o Bahia. A torcida pelo clube nasceu ainda pequena, quando jogava futebol de botão com seu irmão. Aliás, toda sua família é tricolor. Além disso, sua melhor amiga de infância era “Bahia doente”, como ela mesma descreve. “Tenho respeito pela torcida rubro-negra [do rival Vitória], mas no meu armário só entra a camisa do Bahia! A torcida é a joia do time e faz toda a diferença. Se eu voltasse a frequentar o estádio, ia querer ficar na Bamor com a galera do sambão. Fato! Davi tem uniforme completo desde que nasceu”, conta.

mego ao falar do filho. “Sonhos sempre mudam, mas tenho um sonho para vida toda que é ver meu filho crescer saudável

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pôs: “Sinceramente eu não sei de onde tiram essas ideias. Isso tudo é invenção e nada disso entra no meu coração, nem no dela. Somos profissionais e amigas. Não tem por que ser diferente. Cada uma tem seu público, seus fãs.”

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“paizão”. Mesmo acabando com todas as especulações de que estaria grávida do segundo bebê, a cantora demonstrou desejo em ser visitada pela cegonha mais uma vez. “Quem sabe encomendo ainda este ano e apareço com um barrigão em cima do trio?”, faz mistério, confirmando ter conhecido o amor incondicional e ter se tornado uma pessoa melhor com a chegada de Davi. E por falar em trio, nos remetemos

Engana-se quem pensa que Claudia Leitte só é boa nos palcos. Ela garante “bater um bolão” na cozinha. “Adoro cozinhar, mas não gosto do depois, de lavar prato. Arrumar a cozinha é um saco! Aí, Marcio me ajuda. Às vezes estou lá fazendo a comida e ele já vai tirando um prato, lavando outro, vai guardando as coisas... Quando dá tempo, faço questão de fazer alguma comidinha para gente.”

“Tenho um sonho para vida toda que é ver meu filho crescer saudável e verdadeiramente feliz” 62

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Durante as férias que a família andou tirando pelos Estados Unidos, basicamente passeando por Los Angeles, Claudinha pôde mostrar que é uma mulher prendada. “Fui para a cozinha e mostrei meus dotes para Márcio e Davi. E eles aprovaram, viu? [risos].”

amigos, com os meninos e as meninas. Para tudo na vida deve haver moderação e responsabilidade. Sou absolutamente contra as drogas, em qualquer circunstância ou ambiente”, enfatiza ao ser questionada sobre a proibição de festas raves, muitas vezes ligadas ao consumo de entorpecentes, e a liberação das micaretas.

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Claudia Leitte coleciona diversos prêmios como melhor canTwitteira tora, melhor assumida, ela música, melhor conta que sua banda, revelação relação com os e já mostrou seu fãs é “transparenis m e e sp te e respeitosa”. “O áti r potencial em países ca, ia e C la rê nc u dia como Chile, Portugal, Twitter acentuou isso trata os f ãs co m trans pa Londres e Estados unidos, coainda mais. Descobri que mandando o Brazilian Day. “Não canto quanto mais perto do público o artista pensando em prêmios. Eles são um reco- vai, mais ele enriquece seu trabalho.” nhecimento pelo nosso trabalho, mas o maior prêmio na verdade é o carinho dos Inspiração para muitas mulheres, ela meus fãs”, diz ela, que se emociona com se mostra lisonjeada ao saber que serve o retorno que recebe. “No Rio Axé [em 4 como exemplo para outras pessoas. “Fico feliz em mostrar que qualquer um pode uma família, ser saudável, ter sucesso Se eu voltasse a frequentar ter à custa de honestidade, amor e ‘ralação’. o estádio, ia querer ficar na Para mim, essa é a única graça de ser fa-

mosa”, afirma, dizendo, ainda, nunca ter recebido uma proposta indecente. “Sempre fui respeitada”, conclui. No ano em completa dez anos de carreira e 31 de vida, Claudia ganha mais um presente: tocar na noite de abertura do Rock in Rio. Sobre a apresentação, ela faz mistério total. “Isso é surpresa, mas se preparem.” Para quem vai curtir o show da cantora em Três Rios, no dia 14 de maio, no Estádio do Entrerriense, o último em terras fluminenses antes do festival carioca, Claudinha garante: “Quero uma festa bem interativa, com muita energia. Está chegando o dia e ansiedade só cresce. Isso é bom. Vamos fazer um super show, uma festa inesquecível.” Perguntada sobre o que é mais desafiador, liderar uma banda ou seguir carreira solo, ela, que tem o sonho de dividir algum trabalho com ídolos como Djavan e Milton Nascimento, descreve: “Ainda tenho muito a aprender, estou bastante consciente de que esse é apenas o começo. Mas tenho autoconfiança e sei que é fundamental para o meu crescimento. Além disso, sinto-me apoiada por minha equipe, que é extremamente competente, e, sobretudo, por uma grande massa”, encerra.

Bamor com a galera do sambão”

Seu rosto também já esteve estampado em inúmeras campanhas publicitárias, inclusive sobre aleitamento materno, combate às drogas e à violência sexual contra crianças e adolescentes. “Se a causa tiver um apelo forte, for por uma causa justa, eu faço a campanha. Estou e estarei sempre pronta a ajudar e a participar”, responde ela sobre a questão de o artista usar sua imagem para tal tipo de trabalho. Quando o assunto são as drogas, ela se mostra contra qualquer excesso. “Quem vai a uma micareta ou a uma rave, deve ir para se divertir com a música, com os 64

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de abril], me emocionei quando o público cantou em coro “é a melhor cantora do Brasil”. Foi muito forte ouvir aquilo e de forma tão espontânea”, completa.


Ainda tenho muito a aprender, estou bastante consciente de que esse é apenas o começo

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Técnica desenvolve consciência corporal, força e flexibilidade 66

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alturas

POR PAULA ARAÚJO

Técnica circense de acrobacia aérea em tecido tem se expandido pelo país, além de ser uma nova forma de trabalhar a conscientização corporal

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ecentemente chegada ao Brasil, para praticar a atividade é ter concentra- mas vezes. “Já tive algumas queimaduras, a acrobacia aérea com tecidos ção. “Força e flexibilidade são adquiridas mas nada grave. O treinamento e a segusurgiu a partir da divulgação com o tempo. Qualquer um pode começar rança passada pela professora me fizeram de novas técnicas utilizadas a fazer acrobacia aérea. A idade mínina é ter mais coragem”, relatou. No entanto, o pelos circos, principalmente após a proi- 6 anos, porém, um sedentário, por exem- aluno que treina duas horas por dia, três bição de animais nos espetáculos e por plo, poderá ter mais dificuldade e precisa- vezes por semana, acha que falta incentimeio da globalização das apresentações, rá ter força de vontade”, explica ela que vo para a prática se tornar mais conhecicomo as realizadas pelo Cirque Du Soleil. dá aulas em um clube do município. da. “Poucas pessoas ainda se interessam”, A atividade privilegia a performance do Para o chefe do Departamento de Arte complementa. acrobata, que se amarra, se enrola e gira Corporal da Escola de Educação Física Conscientização e equilíbrio corporal, em um pano fixado a uma estrutura de al- e Desportos da Universidade Federal do segundo as fontes ouvidas pela Revista tura variável. A prática exige força física, Rio de Janeiro, Frank W. Roberto, crian- On, são essenciais para o bom desenvolagilidade, concentração, flexibilidade e ças devem praticar progressivamente, res- vimento da atividade. Quedas e queimacoordenação motora e trabalha o alonga- peitando a condição de aprendizado e o duras são os riscos mais comuns causados mento e a força dos principais músculos desenvolvimento. “Se realizada com boa pela acrobacia. A coreógrafa e professodas pernas, como o quadríceps e os is- orientação, de preferência por um pro- ra de dança do Rio de Janeiro Carolina quiotibiais, além de Furtado trabalha toda a musculatura a técnica há “Para se tornar um acrobata é preciso muita dedica- com das costas, ombros, 12 anos e conbraços e abdômen. ção, força de vontade e disponibilidade para treinar”, ta que já sofreu Em Três Rios, uma queimadura Ceci Miranda, professora o grupo Móbile é o grave. “Eu já me pioneiro na modaliqueimei feio. Fidade. Em um ano de existência, os quatro fissional formado e experiente, pode ser quei com as costas em carne viva. Estava integrantes (Ceci Miranda, Luismar Leal, uma atividade interessante, que promove- treinando de camiseta, sem malha [roupa Mirian Reis e Paula Fonseca), todos com rá o desenvolvimento de várias qualida- recomendada para o treinamento] e quanmais de quatro anos de formação, já fi- des psicomotoras, sociais e emocionais”, do fiz uma queda livre, a blusa subiu e o zeram diversas apresentações na cidade, afirma. tecido correu sobre a pele, me queimanbem como em Paraíba do Sul, Juiz de Luismar Leal, 19, é o aluno mais ve- do.” Fora (MG) e Itaipava. lho do grupo Móbile e pratica acrobacia Para evitar acidentes, um aparato de Formada em fisioterapia e bailarina com tecidos há quatro anos, fez ginástica segurança que engloba colchões e redes desde os 4 anos de idade, Ceci entrou olímpica por um ano e meio e há mais de de proteção e roupas que evitem que o em contato com a arte circense em 2002, três faz aulas de balé. “Sempre achei mui- tecido friccione na pele, causando queiquando ingressou na Escola Nacional de to bonita a acrobacia aérea em tecidos e maduras e contusões, deve ser utilizado. Circo, na capital fluminense. Estudou no quando soube que na academia onde faço “É comum os alunos se queimarem com Catsapá – Escolas de Musicais no Rio de dança tinha aula, resolvi fazer. Pretendo o tecido nas aulas, por falta de prática Janeiro - e na Escola Miraflores, em Ni- me profissionalizar”, conta ele. Segun- ou por estar usando roupa inadequada. terói, participou de oficinas na Fundição do Luismar, a acrobacia lhe trouxe mais Existem alguns truques em que o aluno Progresso com a Intrépida Trupe e, em agilidade e flexibilidade. Ele, que tinha se enrola e não consegue sair, por isso janeiro deste ano, fez um curso intensivo muito medo de executar os movimentos a aprendizagem toda é feita numa altura em São Paulo. Ela conta que o principal no início, diz que já se machucou algu- na qual professor alcance, pois garante a revistaon.com.br

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Apresentação do grupo Móbile, pioneiro da atividade em Três Rios

nadas, a postura, o ritmo e a criatividade. Isso não significa que uma pessoa que

Cada um evolui na técnica junto com os limites do próprio corpo”, Carolina Furtado, professora

nunca dançou na vida não possa praticar acrobacia área em tecidos. “Cada um evo-

Além do tecido, a acrobacia aérea utiliza outros aparelhos que também trabalham o corpo com alongamentos e aquecimentos aéreos, potencializando o espírito criativo, a força e a flexibilidade, tais como lira (espécie de bambolê) e trapézio. Lira 68

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lui na técnica junto com os limites do próprio corpo”, assegura Carolina. Interessados em aderir à modalidade, seja para conhecer uma nova técnica ou se exercitar, são capazes de aprender os truques. É o que garante Ceci Miranda. “Para se tornar um acrobata é preciso muita dedicação, força de vontade e disponibilidade para treinar vários dias da semana por várias horas, suportar as dores musculares (que são intensas), as queimaduras provocadas pelo tecido, os calos nas mãos e algumas possíveis lesões articulares ou musculares”, adverte a professora. DIVULGAÇÃO

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confiança necessária para treinar no alto”, esclarece Ceci. Carolina, Ceci e Frank têm algo em comum: ambos lidam ou já lidaram com a dança. Para eles, a desenvoltura conquistada pela arte de dançar colabora consideravelmente para se aventurar nos ares. “A dança dá uma consciência corporal muito boa e ajuda na limpeza dos movimentos. Alguns alunos de circo me procuram justamente pelo trabalho de dança”, diz Carolina. Segundo Frank, a dança também dá destreza e percepção espacial. Já Ceci acrescenta às características já mencio-

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Na corda bamba! Jovens trirrienses entram na onda do slackline O esporte que surgiu nos Estados Unidos agrada trirrienses e conquista o Brasil. Em Três Rios, um grupo de amigos praticam o slackline para relaxar e trocar ideias. Essa nova mania ajuda no desenvolvimento do equilíbrio, força muscular, ritmo e coordenação motora. POR RAFAEL MORAES

Lembra do conhecido número da corda bamba no circo? O momento tenso do picadeiro virou um esporte que agrada e atrai jovens e adultos. Os atletas se equilibram numa espécie de “fita bamba”. O esporte, slackline, tem nome estrangeiro, afinal surgiu na Califórnia, nos Estados Unidos, nos anos 80. A modalidade começou com os escaladores que queriam se exercitar no período de inverno no parque Yosemite. Ele é praticado em diversos lugares de Três Rios, mas, em todo país, é possível ver atletas se exercitando. O design Diego Barboza é considerado um dos precursores do slackline no Brasil. “Acho que fiz a minha parte em divulgar um esporte novo que todos deveriam praticar, fico muito feliz com o crescimento por todo o Brasil, acredito que muitos outros colaboraram para este crescimento”, conta. Intrigante foi a rápida aceitação do esporte pelos jovens brasileiros. Barboza acredita que o trabalho conjunto da atividade, que proporciona desafio pessoal, exercício da mente e do corpo é o responsável pela explosão do slackline. “A prática em grupos,

de forma social, facilitou o crescimento, além do fato de se poder praticar em qualquer lugar”, conclui. Em Três Rios, um grupo de amigos pratica a modalidade. Ainda iniciantes, Gabriel Ramos, 15, Lucas Ferreira, 17, Fernanda Mattos, 15, e Patrick Vasconcellos, 15, se reúnem e fazem, da avenida Alberto Lavinas (Beira-Rio) o picadeiro para a prática do slackline. Do grupo, Lucas é o mais experiente e dono da fita. No entanto, ele explica que as manobras mais complicadas exigem mais tempo de prática. No equipamento, ele investiu R$ 170. Para produzir a matéria encontramos os jovens numa manhã de sábado. Cada um contou como conheceram o esporte. Fernanda teve o primeiro contato na praia. “Vi um homem praticando e me lembro de que achei super interessante. Logo que voltei para casa, o Lucas me disse que iria comprar o equipamento necessário. Na verdade foi uma grande coincidência”, explica. Quem assiste a um praticante pode até achar fácil, mas, qualquer pessoa que se arrisca, tem o mesmo desafio: ficar em pé na

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Saiba quais são as modalidades do esporte que tem conquistado cada vez mais adeptos no Brasil. ão seis os modos de se praticar o slackline. Eles se diferenciam pelo comprimento da corda, altura do hão e a tensão da fita.

Shortline – A fita varia entre sete e 15 metros. A altura do chão também varia entre 30 e 60 centímeos. Essa é a melhor forma de aprender, sendo a mais indicada para iniciantes.

Longline - Praticado numa fita de 15 a 100 metros de comprimento, normalmente montada de um três metros do chão.

Trickline – Nessa modalidade a fita é mais curta. Mede de três a sete metros. Fica próxima ao chão extremamente esticada.

Waterline - Sobre a água; seja em rios, lagos ou piscinas. Em ilhas, recebe o nome de islandline. Essa modalidade exige cuidados específicos e não é indicado para que não sabe nadar.

Highline nas alturas, acima de cinco metros do chão, essa modalidade exige um sistema | revistaon.com.br 70 - Praticada e segurança composto por uma cadeira de escalada e por uma corda presa ao atleta e à fita. Só deve


fita. “A maior dificuldade, sem dúvida, é o equilíbrio e a concentração”, revela Fernanda. Para Patrick, além do equilíbrio, o medo foi um de seus principais obstáculos. Entretanto, todos são unânimes em observar que ficar de pé é difícil. Para os iniciantes, Diogo Barboza dá a dica para não cair da fita. “É preciso concentrar-se em um ponto à sua frente e utilizar os braços e antebraços para buscar o equilíbrio. Também é aconselhável usar roupas confortáveis para ajudar na movimentação e procurar acreditar que vai conseguir chegar ao outro lado da fita”, elucida. Diogo mantém a rede social slacklinebrasil.ning.com, em que atletas e simpatizantes podem tirar dúvidas sobre a modalidade. Além das roupas leves sugeridas por Barboza, os pés também devem ser observados. Perguntados sobre qual seria o melhor ou o jeito correto de se equilibrar, Lucas, que estava de tênis, e Gabriel, descalço, acreditam que depende mais do atleta do que do calçado. “Prefiro praticar de tênis”, disse Lucas. Já Gabriel fez referência à facilidade de equilíbrio ao estar descalço. “A forma depende de cada pessoa”, explicou.

exercícios ideais para emagrecimento são os que mobilizam grandes grupos musculares em atividades de longa duração, como caminhada, corrida, ciclismo e natação, por exemplo”, complementa.

Campeonato Em parceria com praticantes do esporte na cidade de Volta Redonda, a Coordenadoria da Juventude da cidade promoveu o primeiro campeonato de slackline do município. O evento realizado no dia 13 fevereiro, na praça Brasil, Vila Santa Cecília, reuniu praticantes e simpatizantes da modalidade. As inscrições foram feitas na hora do evento.

Manobras As principais manobras são: costas, jump, pulo do gato e surf. Na manobra costas, o praticante percorre a fita de costas, voltando ao início dela. Em jump, o atleta salta sobre a fita e completa a manobra sem cair no chão. Pulo do gato é a mais utilizada para subir na fita e iniciar a travessia. Nela, o praticante sai correndo e salta sobre a fita, já equilibrado. Por fim, na manobra surf, o atleta se equilibra com os braços estendidos. Apesar da altura e dos saltos, Diego garante que o esporte é seguro. “Não considero perigoso, porém existem modalidades que podem ter riscos para quem não possui as técnicas de montagem e segurança”, salientou.

O esporte e a saúde “Pratico mais para relaxar”, disse Lucas, o jovem trirriense adepto ao esporte. Além de relaxar, essa atividade movimenta todo o corpo, como esclarece o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora e doutor em Educação Física, Jorge Roberto Perrout. “É um exercício que exige o controle de movimentos de todo o corpo”, completa explicando que a prática do slackline desenvolve equilíbrio, força muscular, ritmo e coordenação motora. No entanto, Perrout alerta para riscos de lesões articulares e ligamentares causadas pela quedas. “Não seria uma atividade recomendada para pessoas com excesso de peso, idosas e que estejam iniciando a prática de atividade física”, adverte. Diferentemente de Diogo Barboza, que confia na capacidade aeróbica do exercício, favorecendo a perda de peso, Jorge explica que os exercícios para emagrecer são mais logos. “Os revistaon.com.br

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SAÚDE

Bad trip

uma onda perigosa

POR PAULA ARAÚJO

e camadas sociais Droga atinge todas as faixas etárias de pública e é considerada um problema de saú

O

crack é uma droga feita a partir do cloridrato de cocaína dissolvido em água e com a adição de bicarbonato de sódio. A mistura é aquecida e, depois de seca, adquire a forma de pedra, utilizada para o fumo. Segundo a Coordenação Nacional de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, o consumo do crack se disseminou oficialmente no Brasil em 1989. A droga, de custo barato e efeito rápido, se alastrou sem escolher classe social, gênero e idade. Ela surgiu como uma opção mais acessível que a cocaína, cuja difusão, a partir da década de 1960, esteve associada à falta de outras drogas, como a maconha. Na produção de crack não há processo de purificação final. Para se obter a droga, diversas substâncias altamente tóxicas, como gasolina, querosene e água de bateria são adicionadas à mistura. Sua composição apresenta quantidade imprecisa de cocaína, mas suficiente para provocar um efeito forte e intenso no usuário. Para especialistas como a psicóloga e diretora do CAPSad (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas) de Três Rios, Octávia Cristina Barros, esse efeito seria a causa da rápida e devastadora dependência do crack. “O crack é uma droga extremamente tóxica e atinge rapidamente os pulmões e 74

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o cérebro. Por provocar um efeito rápido e de curta duração, o usuário sente cada vez mais necessidade de consumi-la”, explica. Apesar da rápida difusão do uso do crack, ainda é a maconha e a cocaína as drogas predominantes em Três Rios. É o que aponta a delegada titular da 108ª Delegacia de Polícia, Cláudia Abudd. Ela afirma que, semanalmente, é feita apreensão de drogas no município. “O tráfico como um todo é um dos principais delitos que as polícias Civil e Militar procuram erradicar. Pelo menos uma vez por semana, flagramos tráfico de entorpecentes, porém o crack ainda é o menos incidente, mas, antigamente, nós não tínhamos sequer uma apreensão de pedras de crack”, diz. Até o fechamento desta matéria, cerca de dez adolescentes trirrienses se encontravam internados para tratamento em unidades de referência fora da cidade. Os dados são da secretaria municipal de Saúde. O paciente mais novo que se tem notícia em Três Rios é um menino de 11 anos. A unidade trirriense do CAPSad possui 513 cadastrados. Destes, 324 são consumidores de crack. Para as autoridades, a questão é um problema de saúde pública. “Esse é um assunto complexo, que passa pelo aspecto social, e é uma questão de saúde pública quando diz respeito ao usuário, pois ele precisa de tratamento para

se desvincular do vício”, opina a delegada. Para o secretário municipal de Saúde, Luiz Alberto Barbosa, a questão vai além. “O crack virou uma calamidade pública. O consumo da droga aumentou de uma só vez, acredito que pelo baixo custo”, disse. No último dia 25 de março, a CBDD - Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia - admitiu que a política internacional de combate aos entorpecentes fracassou, mas citou a campanha contra o tabagismo como uma iniciativa que deu certo. A Comissão encaminhou ao governo federal uma proposta de mudanças nas leis de repressão às drogas. A ideia é fazer com que o assunto seja abordado livremente em escolas e igrejas, por exemplo. Muitos fatores podem ser associados ao início do consumo de drogas, tais como o convívio social, o fato de os próprios pais se drogarem na frente dos fi-

Pintura é uma das atividades promovidas pela unidade do CAPSad em Três Rios


lhos, a influência de amigos e a falta de efeito da substância, pulou de cima de um uma estrutura familiar sólida, além de trem e caiu no trilho. A queda a fez perder informação. parte de uma das pernas. Depois de casar Ao contrário do que pensam muitos com um traficante, que atualmente está pais, drogas mais leves como o álcool e a preso, ela passou a fumar crack. Hoje, aos maconha não são, necessariamente, a por- 26 anos, ela conta como a droga destruiu ta de entrada para o uso do crack. É o que a sua vida. “Perdi a guarda dos meus quaafirma o psiquiatra e psicanalista Gerson tro filhos e a minha casa. Não tenho onde Rangel Brasil, médico do Ministério Pú- morar. Minha mãe morreu e eu só fui sablico da Saúde. “Não há uma compro- ber depois que ela já tinha sido enterrada. vação científica que associe o consumo Estou há três meses “limpa” e quero conde outras drogas ao uso do crack. O que tinuar assim para viver novamente com acontece é que um usuário de maconha, meus filhos”, revela ela que, na data da Quadro pintado por um paciente do CAPSad por exemplo, está em contato com o con- entrevista, estava grávida de sete meses. sumidor de outras drogas, portanto, ele “Tenho medo de o meu filho nascer com tes químicos e é mantida por meio de fica vulnerável a essa oferta”, acredita. algum problema”, completou. doações e dízimos pagos à Igreja SobreO especialista acrescenta, ainda, que a Para tentar se recuperar e ser nova- natural Labareda de Fogo, do bairro Candependência é um contexto do indivíduo, mente inserida na sociedade, Camile e tagalo. Ex-dependente, o pastor Márcio uma condição humana que independe das os outros pacientes participam de ofici- Francisco Monsores é quem coordena o drogas. Ele cita como exemplo a compul- nas, fazem trabalhos manuais, conversam projeto, existente há três anos. são pelo consumo ou o vício pelo jogo. sobre suas situações e são acolhidos por A clínica atende a pessoas de diversas “A dependência é uma maneira de buscar psicólogos e assistentes sociais. Os qua- localidades. Lá, os internos cuidam e traprazer. Os seres humanos têm certa incli- dros pintados por eles ficam expostos na tam de animais, como galinhas e coelhos, nação a se tornar dependentes de algo e primeira segunda-feira de cada mês no fazem escultura em barro, plantam e cultia droga é uma vam alimentos delas”, remapara subsistêntou. cia e produzem “O crack é uma droga extremamente tóxica e atinge Os prejuízos cloro, vendido decorrentes do rapidamente os pulmões e o cérebro”, para ajudar nas uso de drogas despesas. Além Octávia Cristina Barros, diretora do CAPSad Três Rios são inúmeros disso, após dois e com o crack meses, são innão é diferenseridos no merte. A perda do interesse pelos estudos e Shopping Olga Sola, no Centro Três Rios. cado de trabalho a aprendem novamente a pelo trabalho; capacidade de interação Além disso, o programa tem projetos de lidar com o dinheiro. limitada; exclusão social; perda do vín- comercialização dos objetos feitos pelos O tratamento é baseado na religião e culo familiar; problemas circulatórios, usuários, cuja renda pretende ser reverti- na cura espiritual. A família também parrespiratórios e neurológicos; falta de ape- da para a compra de materiais. ticipa ativamente por meio dos chamados tite, levando à desnutrição; falta de sono e Barbosa acredita que somente uma cultos domésticos. “O dependente adoeagitação motora estão entre os principais ação intersetorial é capaz de minimizar o ce toda a família, por isso todos devem danos. problema. “É preciso investir não só em frequentar a igreja”, explica Monsores. No livro “Crack – um desafio social” políticas públicas de saúde, pois elas sozi- Segundo ele, que já perdeu as contas de (Editora PUC-Minas), lançado no ano nhas não resolvem a questão, é necessário quantas pessoas já ajudou a se recuperar passado e organizado por Luis Flavio Sa- policiamento, educação, projetos sociais do vício, 70% dos casos que passam pelo pori e Regina Medeiros, os autores afir- e orientação”, afirmou o secretário. Aliás, projeto são solucionados. mam que “o crack gera impactos sociais essa é uma opinião partilhada por todos Técnico em eletricidade, o pastor recuem magnitude superior ao de outras dro- os profissionais ouvidos pela Revista On. sou uma proposta de emprego cujo salário gas ilícitas ou mesmo lícitas”. Isto ocor- O poder da fé era da ordem de R$ 3.000 para tratar dos re porque os usuários da droga passam a usuários. “Hoje ganho R$ 600. Para cuiapresentar alta compulsão, ficando mais dar de dependente é preciso amar. Meu “A fé move montanhas”. Este dito po- maior lucro é recuperar vidas e é assim propensos a destruir os laços familiares e pular aplica-se perfeitamente aos internos que sou feliz”, diz emocionado. sociais. Camile* é uma das pacientes do CAP- de uma clínica de reabilitação localizada Rogério* estava há 13 dias na clínica Sad. Aos 14 anos começou a cheirar cola. em um sítio no bairro Pilões, em Três quando nossa reportagem esteve no loEm uma das vezes em que estava sob o Rios. A instituição abriga 11 dependen- cal. O pedreiro e cozinheiro de 27 anos revistaon.com.br

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SAÚDE

Droga causa efeito rápido e de curta duração

começou a se drogar aos 12. Ele acredita que o consumo excessivo do álcool o levou a experimentar o crack. “Eu bebia demais, até que um dia resolvi saber qual era a “onda” do crack. Foi o fim. Passava dias fora de casa, roubava em casa e na rua e vendi a roupa do corpo para comprar drogas. Fiz coisas que jamais poderia imaginar”, diz. Mesmo com poucos dias de internação, Rogério considera que está recuperando sua identidade. “Estou aprendendo a me amar para amar os outros, principalmente minha filha de dois meses”, acrescenta ele que já passou por outras duas casas de reabilitação.

O fim do poço Rodrigo* não entrou no mundo crack, mas cheirou cocaína por oito anos e fez questão de nos relatar sua história. Depois de tentar suicídio por nove vezes e ser internado fora da cidade, ele foi levado para a clínica do pastor Márcio. O jovem disse ter encontrado nas drogas uma espécie de alívio para um problema pessoal que não aceitava. Ele tomou veneno de rato, ingeriu mais de 20 tranquilizantes de uma só vez, teve três paradas cardíacas, cortou os pulsos até poder visualizar as artérias e quase pulou de uma ponte. “Eu não tinha mais esperanças de viver. Se não fosse esse lugar, já estaria morto. Aqui cuido do meu espírito”, conta. A mãe de Rodrigo, dona Lúcia*, visitava o filho durante a entrevista. “Acho que tive certa culpa pelo o que aconteceu com ele. Eu sofri muito, não tenho pala76

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vras para explicar. Só quem é mãe pode imaginar o que eu passei”, afirmou a pensionista. Rodrigo segue tratamento e espera não ter uma recaída. “Vício é controle para o resto da vida”, finaliza.

Cura, tratamento e soluções

Não acredito que a legalização vá resolver a questão do vício”, Claudia O trabalho realizado com dependentes é muito baseado na psicanálise. No CAPSad, por exemplo, o tratamento é sustentado pela política de redução de danos, isto é, disponibilizar o máximo em termos de assistência para que o usuário retome, aos poucos, sua posição social e restabeleça sua vida sem as drogas. Para isso, os pacientes recebem refeições, têm um local para higiene pessoal, acompanhamento nutricional e de um educador físico. “A ideia é fazer do CAPS um local de passagem. Tentamos fazer com que o indivíduo se reencontre. Nem sempre é possível tirar a droga de uma só vez, mas

podemos diminuir o uso”, disse a diretora Octávia. Segundo Gerson Brasil, o conceito de cura é diferente do de tratamento, assim como o da psicanálise não é o mesmo da medicina tradicional. Ele explica que se trata de uma questão de comportamento. “Possivelmente o fantasma da dependência sempre vai assombrar o usuário. É preciso controlar os impulsos, assim como um obeso deve controlar a vontade de comer. A psicanálise ajuda a encontrar um equilíbrio, o que não significa fazer terapia pelo resto da vida”, esclarece o médico. Camile conta que ainda sente vontade de fumar, mas mantém o controle para não cair em tentação. “Não ando mais com as mesmas pessoas e quando vejo alguém usando, saio de perto”. Outra alternativa para tratar a dependência química está para sair do papel em Três Rios. Trata-se da Casa de Atendimento Transitório Infanto Juvenil, um projeto que contará com 12 leitos para abrigar casos mais críticos. O local de instalação do programa não pôde ser divulgado (ainda há um tabu e certo receio por parte da sociedade) e seu início depende da liberação dos recursos, ainda sem previsão. Como o município ainda não dispõe de leitos exclusivos para usuários de drogas, o paciente é encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde há uma equipe plantonista de profissionais do CAPSad. A dependência química e o tráfico de drogas são constantemente associados a crimes, desde pequenos furtos a homicídios. Para conseguir o produto ou dinheiro para comprá-lo, o usuário acaba cometendo alguns delitos. Contra a legalização das drogas, a delegada Cláudia Abudd é categórica ao dizer que a solução está no combate à comercialização dos entorpecentes. “Realmente o uso leva à ocorrência de outros delitos, principalmente furtos e roubos. Pessoalmente, não acredito que a legalização vá resolver a questão do vício. Acredito que deva haver maior repressão ao tráfico e direcionado especificamente para o crack”. E completa: “Somente uma sociedade unida em todas as suas esferas,


6.000. A ação foi considerada como sendo a maior apreensão de crack já ocorrida na aérea. *Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos personagens.

Livro Crack – um desfio social, de Luis Flavio Sapori e Regina Medeiros. Editora PUC-Minas, 2010.

O crack e suas formas de fumo Misturado com tabaco ou maconha - maneira parece amenizar efeitos maléficos da droga, como o sentimento de perseguição, a agitação motora e posteriormente a depressão.

RECARREGUE CENTER

partindo da base da família, da escola e da igreja, juntamente com os poderes públicos, pode promover uma ação para que possamos vislumbrar uma luz no fim do túnel e tirar os jovens das drogas”. Apesar de considerar o crack um sério problema, o secretário municipal de Saúde é otimista quanto ao panorama da droga em Três Rios para o futuro. “Minha perspectiva é de diminuição do uso, por conta das políticas públicas e das campanhas que estão sendo aplicadas, mas, reafirmo, é preciso que todos os setores estejam em função dessa melhora”, conclui. No último dia 6 de abril, uma operação conjunta entre o Serviço de Inteligência do 38º Batalhão da Polícia Militar e a Polícia Civil, prendeu em flagrante uma mulher de 54 anos por tráfico de drogas. Na casa da acusada, os policiais encontram no fundo falso de uma parede 630 gramas de crack, 85 gramas de cloridrato de cocaína, uma balança de precisão, material para preparo e venda, além de R$ 14.920 em espécie. O material apreendido foi avaliado pela polícia em cerca de R$

Cachimbos improvisados e latas de alumínio - o uso de latas favorece a aspiração de grande quantidade de fumaça pelo bocal, promovendo intoxicação pulmonar muito intensa. Os cachimbos podem ser feitos de tubos de PVC, o material, muitas vezes coletado na rua ou no lixo, apresenta possibilidades de contaminação infecciosa.

Fonte: Cebrid

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SAÚDE

Danos epidemiológicos O cenário epidemiológico do crack no Brasil, segundo o Cebrid - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas -, da Unifesp - Universidade Federal de São Paulo -, aponta:

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Stand do Ice Cola foi um dos mais visitados da feira

Ice Cola é sucesso na 23ª ExpoFood, Feira de Supermercados no Rio de Janeiro

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Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro realizou entre os dias 22 e 24 de março, no centro de convenções do Rio Centro, na cidade do Rio de Janeiro, a 23ª SUPER RIO EXPOFOOD. O evento possibilitou a empresários, executivos e profissionais de supermercados, hotéis, restaurantes, bares, padarias, confeitarias e lojas de conveniência, realizarem negócios e renovarem seus conhecimentos em umas das melhores feiras de alimentos, bebidas e equipamentos do país. Uma das estrelas da feira foi o produto lançado pelo Grupo Mil, no Rio de Janeiro, Ice Cola, refrigerante de sabor cola. O stand da empresa foi um dos mais visitados, surpreendendo a maioria dos cerca de 50 mil visitantes. “Fomos surpreendidos pelos próprios clientes e visitantes que, após a degustação do produto, voltavam para conferir e comprovar o sabor da Ice Cola. Sempre acompanhados de outros amigos e amigas, afirmavam: ‘é muito bom mesmo, uma delícia!’”, disse o gerente de marketing Josimar Salles.

Com o objetivo de se tornar vice-líder no mercado de refrigerante sabor cola no Brasil até 2013, a multinacional Amazon Flavors se associou a 28 indústrias de bebidas no país. No Rio de Janeiro, o Grupo Mil é proprietário da marca, responsável exclusivo pela industrialização e distribuição do produto, seguindo rigorosos padrões de qualidade. A associação com a Amazon é parte de um planejamento da indústria que prevê um avanço em todo o mix de produtos fabricados pela empresa, incluindo água, guaranás e outros sabores de refrigerantes. A fórmula da Ice Cola contém ingredientes de origem americana. A empresa prevê que neste ano serão produzidos mais de 250 milhões de litros de refrigerante no país. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior mercado de refrigerantes do mundo. O consumo médio anual é de 71,4 litros da bebida por pessoa. O refrigerante Ice Cola está sendo lançado no Rio de Janeiro nas embalagens pet de 250 ml, 600 ml e 2L e em lata de 350 ml, nas versões tradicional e zero açúcar. “Nossa participação foi muito gratifi-

cante. O lançamento da Ice Cola no Rio é parte de um projeto nacional que já foi implantado em 18 estados no Brasil. Pela receptividade que tivemos, entendemos que a feira foi o melhor momento para apresentação do produto. Hoje, já estamos presentes nas principais redes de supermercados do Rio e tenho certeza que após este evento vamos ampliar ainda mais. O consumidor está cada dia mais exigente, com maior poder de compra, nesta direção entendemos que o caminho é o lançamento de produtos com qualidade superior”, afirmou o superintendente das Indústrias Mil, Marco Túlio Hoffman.

Equipe do Grupo Mil, responsável pela fabricação do refrigerante revistaon.com.br

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SAÚDE

Tireoide

A glândula do mal?

É

de se esperar que um jovem tenha melhor disposição física, goste de esporte e se relacione bem. Quando esta expectativa não é atendida, algo está errado. A família deve pesquisar e encontrar a causa desta reação descomunal. Foi assim que a contadora Jacinta de Miranda descobriu que o filho, Ramir Fernandes, 18, sofria de hipotireoidismo. A glândula tireoide é importante para o funcionamento harmônico do organismo. Ela se situa na parte inferior do pescoço, apoiada na traqueia, e possui dois lobos, o esquerdo e o direito. Juntos, assumem o formato de uma borboleta de asas abertas ou de um escudo. O próprio nome deriva da palavra grega thureós, que significa escudo. Os hormônios liberados pela tireoide são responsáveis por uma série de funções orgânicas. Eles garantem que coração, cérebro e muitos outros órgãos exerçam suas funções adequadamente. O hormônio da tireoide chama-se tireoxina e é fundamental para o metabolismo, ou seja, o conjunto de reações necessárias para assegurar todos os processos bioquímicos que ocorrem no nosso corpo. A superprodução dos hormônios tireoidianos provoca no organismo um distúrbio, o hipertireoidismo, e produção abaixo da quantidade necessária, o hipotireoidismo. Atualmente parece que há uma epidemia de problemas da tireoide. Para a endocrinologista Renata Lopes, as queixas mais comuns são pele ressecada; queda de cabelo; unhas fracas; sonolência excessiva; dores articulares; constipação intestinal; intolerância ao frio, edema, principalmente em face, mãos e pés; crescimento deficiente (baixa estatura); baixo rendimento escolar e ganho de peso. “Muitas vezes o paciente possui apenas uma das queixas. E tais sintomas 80

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não são exclusivos do hipotireoidismo, ou seja, podem estar relacionados com outros problemas de saúde também. Por isso é tão importante procurar um médico para investigar melhor”, afirmou. Em adultos, a doença (se não for tratada corretamente) leva a uma significativa redução da sua performance física e mental, além de poder causar elevação dos níveis de colesterol, que aumentam as chances de algum problema cardíaco. “Além disso, o hipotireoidismo severo, sem tratamento, pode evoluir ao longo do tempo até uma situação dramática e com grande risco de vida, o chamado coma mixedematoso, que se apresenta como redução da temperatura corporal, perda de consciência e mau funcionamento do coração”, esclareceu o médico Leandro Diehl, do site “Portal Endócrino”.

“Ele comia sem parar e não queria mais fazer exercícios físicos”, Jacinta mãe Ramir

Foi observando esses sintomas que Jacinta conseguiu identificar a doença em Ramir. De acordo com a mãe, o jovem começou a engordar. “Comia sem parar e não queria fazer exercícios físicos. Levei-o em vários médicos. Consultamos o nutricionista, mas não adiantou nada. Quando chegamos à endocrinologista, foram solicitados exames e constatado que ele tinha esse problema na tireoide”, conta a Jacinta. O jovem pesava 70 quilos aos 15 anos. Luíza Santa Rosa, 16, também sofre com a doença. No teste do pezinho, foi

Luíza Santa Rosa,16, que teve a doença detectada pelo exame do pezinho, abraça a mãe Márcia Santa Rosa Arquivo Pessoal

diagnosticado o problema. “A Luíza foi uma criança de sete meses”, explicou a mãe Márcia Santa Rosa, que revelou ter ficado assustada com o resultado do exame. “Pensei que isso tinha haver com Síndrome de Down”, contou. Para a médica Renata, a família deve ajudar o paciente. “Os sintomas são diversos e por isso é muito importante os pais estarem atentos a qualquer alteração que aconteça com os filhos e os levem ao médico regularmente, para realização de exames de rotina que possam ajudar no diagnóstico”, salientou. A carência de iodo no organismo é uma das causas dessa doença. Atualmente a prevenção é realizada com a adição de iodo ao sal de cozinha. No entanto, Renata adverte que outros tipos desta enfermidade não podem ser prevenidos.


O tratamento O tratamento é feito pela reposição hormonal nos casos em que há deficiência da produção de hormônio pela glândula tireoide. A dose deve ser determinada pelo médico e é individual. Nos casos relacionados ao baixo consumo de iodo, o tratamento se dá pela adição ou aumento do componente químico na alimentação. De acordo com Márcia, a filha toma o mesmo remédio até a idade atual, além de realizar exames anuais para controlar a doença. Com o tratamento, a mãe disse que a filha não tem nenhum problema, mas tem que tomar a levotiroxina sódica (hormônio tiroidiano) diariamente. Mesmo com o diagnóstico da doença, há algumas dificuldades a serem superadas. De acordo com a especialista, esses hormônios são em comprimidos e isso gera certo transtorno em crianças. Além disso, essa medicação deve ser administrada em jejum e deve-se aguardar um período antes da refeição. “Esse tempo varia entre 40 minutos e uma hora. Nem sempre as crianças aceitam bem isso. Uma outra questão é que o tratamento geralmente é longo e muitas vezes o paciente necessitará da medicação por toda vida, o que gera um desconforto”, explica a en-

Ronaldo Nazário disse que a doença ajudou na decisão de parar de jogar Foto Site Pessoal

docrinologista. Para Ramir, a principal dificuldade foi aceitar e querer melhorar, como explica a mãe Jacinta. “Como ele está na adolescência, viu que precisava de ajuda para ficar mais bonito. Agora ele se arruma, se olha no espelho, vai à praia. Antes ia, mas não tirava a camisa. Nós fomos a um churrasco ele se interagiu, jogou bola. Hoje é um jovem saudável”, revelou a mãe.

Os famosos com hipotireoidismo Íris Stefanelli e o ex-jogador Ronaldo Nazário são alguns dos famosos que têm essa doença. De acordo com o site “EGO”, para acabar com a retenção de líquidos causada pelo hipotireoidismo que faz ganhar em média um quilo e meio no corpo por mês, a ex-BBB se submeteu a sessões de drenagem linfática. O fenômeno do futebol se aposentou este ano. Um dos motivos, segundo ele, seria o hipotireoidismo que o impediria de emagrecer e os remédios comprometeriam o exame antidoping. A “Carta Capital” publicou uma matéria no dia 14 de fevereiro sobre a afirmação de um médico de que não seria a doença a causa do excesso de peso do craque de futebol.

Iris Stefanelli também sofre com a doença - Foto Divulgação

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PAPO DE COLECIONADOR

A รกgua que passarinho nรฃo bebe

POR RAFAEL MORAES

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Trirriense coleciona e produz cachaรงa em sua propriedade. Da maioria ganhada, os exemplares carregam histรณria, sabores e lembranรงa de familiares. Hรก 30 anos, Edson comeรงou a colecionar o que antes era para seu consumo. revistaon.com.br

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O processo de decantação é artesanal

A sala do acervo é o local predileto do casal Edson e Ana Paula

novamente, por acreditar que eu deveria ter, já que a do rival [Atlético] estava lá”, relembra sorrindo. Apesar de ser apontado como um colecionador, Cheleco diz não se considerar um. Seu acervo é aberto ao público e a cachaça que produz não é comercializada. A degustação é gratuita. “Produzo para ter essa sensação de oferecer um produto bom”, revela o empresário, que usa a bebida como um atrativo para o seu negócio. Da coleção, a maioria foi doada. “Noventa por cento das garrafas foram

Com mais de 3.000 garrafas, algumas já renderam história ” doadas. Em 2010, por exemplo, várias pessoas passaram o carnaval aqui e trouxeram outros exemplares para mim. Ganhei mais de 70 garrafas”, conta. Ainda de acordo com ele, as repetidas são separadas e servem para troca com outros colecionadores. Por estar integrado com a natureza e ganhar dinheiro com ela, alguns prejuízos são inevitáveis. Este ano, a plantação de cana de açúcar para produção da cachaça foi comida pelas capivaras. “Este ano vou 84

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ter que comprar a cana”, calcula Edson, que plantou quatro alqueires de cana. Voltando à cachaça, o processo de armazenamento é simples. Depois de destilado, o líquido é colocado em tonéis, ficam por anos curtindo para, só daí, ser engarrafado e selado. Neste procedimento, são os tonéis que fornecem o sabor suave e ímpar à cachaça.

A produção O processo de produção é simples, pelo menos é o que garante Cheleco. A qualidade do produto, segundo ele, começa na moagem da cana. “Para a cachaça ficar boa, a cana tem que estar limpa e bem cuidada”, explica. Para fermentar a cana de açúcar, o fubá é adicionado à garapa. Terminando a fermentação, retira-se o álcool inicial (chamado de cabeça) e final (calda). Depois, todo o líquido passa para o destilador. A última etapa é a armazenagem em tonéis de madeiras nobres. Edson guarda suas cachaças em tonéis de carvalho (esta árvore pode viver entre 500 e 1000 anos) e amburana (a madeira desta árvore é considerada nobre e é muito usada na produção de móveis finos). “Aprendi tudo com meu avô”, revela ele ao acreditar ser necessário equilíbrio para não produzir uma aguardente forte nem fraca. Por falar do avô, Cheleco lembra que a cachaça mais velha de seu acervo, com 100 anos, foi uma feita pelo avô ainda na fazenda Bemposta, do Coronel Agostinho Médice, seu tio avô.

O maior colecionador do mundo O título do Guinness World Records pertence ao mineiro de Alfenas. Messias Soares Cavalcante, conquistou o título em 2009, quando ainda possuía 12.800 garrafas de cachaça. Atualmente com 15.057 exemplares, sua coleção se destaca por ser possível encontrar o Superman, o presidente Lula, o técnico de futebol Parreira, o compositor e cantor Adoniran Barbosa, Pelé, a ginasta Daiane dos Santos, entre muitas outras personalidades nos rótulos.

Coletados desde 1988, os exemplares vieram de 1.744 cidades distintas de 19 países diversos e de 7.054 produtores diferentes. Além do Guiness, ele também possui o certificado do RankBrasil, que reúne os recordes brasileiros. Para o processo de homologação dos recordes junto ao Guinness e ao RankBrasil foi necessária a catalogação de todas as garrafas, dentre outras condições.

Os tonéis com a produção caseira fica na mesma sala que abriga a coleção

1 - O exemplar mais antigo da coleção tem 100 anos e foi produzida pelo avô de Edson 2 - Em um universo de sabores e aromas, os nomes dos produtos forma um paladar à parte 3 - Dispensada a rivalidade dos times, Cruzeiro e Atlético ficam juntos na prateleira revistaon.com.br

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MUNDO

mund Do outro lado do

POR PRISCILA OKADA

O terremoto de maior magnitude, seguido de tsunami, já registrado no país oriental causou preocupação e angústia às famílias do Centro-Sul Fluminense. Em Três Rios, existem aproximadamente sete grupos familiares de descendência japonesa.

O

dia 11 de março de 2011 ficará marcado na história de todos os japoneses e seus descendentes em todo o mundo. Povo acostumado a enfrentar diversos abalos sísmicos, sempre se orgulhou de seu preparo tecnológico na prevenção a eventuais catástrofes. Mas, desta vez, tudo foi diferente. O mundo todo acompanhou um Japão acuado, sem previsões, entristecido. Foi possível ver o desespero das famílias aqui no Brasil à procura de informações de seus familiares naquele país. Jornais do mundo inteiro não paravam de noticiar e especular possíveis reações decorrentes da tragédia. Era difícil detectar o número de mortos e desaparecidos, pois faltava energia, linhas telefônicas ficaram bloqueadas e o acesso aos lugares atingidos era restrito. Quase dois meses depois da catástrofe, já são contabilizados aproximadamente 13 mil mortos e cerca de 15 mil pessoas desaparecidas. A maior preocupação do governo japonês é ainda tentar contornar os vazamentos constantes nas usinas nucleares atingidas pelo tsunami. Os níveis altíssimos de radiação que atingiram plantações, águas e, em pequena proporção, os moradores próximos às usinas, ainda causa transtorno ao país. Medidas já foram tomadas para que alimentos contaminados sejam descartados das vendas. Na saúde, pílulas de iodo são distribuídas entre os moradores próximos aos locais atingidos, para ajudar na descontaminação da radiação adquirida. No entanto, 88

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os especialistas afirmam que a prioridade é resfriar e conter os reatores das quatro usinas paralisadas e aumentar a área de isolamento desses pontos, assegurando a saúde da população. A ANP (Associação Nikkei de Petrópolis), em parceria com a Renmei (Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira do Estado do Rio de Janeiro), que é a sede das associações Nikkei no Rio, vem promovendo uma campanha para ajudar os desabrigados no Japão junto a outras entidades. Em todo o Estado, já existem 24 associações que tomaram a iniciativa de abrir uma conta bancária para arrecadar dinheiro e enviar à Terra do Sol Nascente. Uma das organizadoras da campanha em Petrópolis, Kathia Yamamoto, explica a opção por dinheiro na campanha. “A nossa alimentação é muito diferente da deles, até o arroz que eles comem é completamente diferente do nosso. Além disso, os alimentos não podem chegar aos locais mais atingidos no momento, pois não há transporte. É inverno agora e neva bastante. Sendo assim, preferimos arrecadar dinheiro para a reconstrução do país. Os alimentos podem ser conseguidos com os países vizinhos”, disse Kathia, que é da ANP. Foi noticiado na grande mídia que muitos brasileiros voltaram do Japão assustados com a tragédia. O Itamaraty esclareceu à Revista On que não sabe ao certo quantos brasileiros retornaram ao país. A única informação até o momento, é que o

movimento para emissão de passaportes aumentou nos Consulados Gerais do Brasil em Tóquio, Nagoya e Hamamatsu. Entretanto, segundo pesquisa informal feita pelos funcionários, a maioria das pessoas disse estar renovando o passaporte apenas por precaução. O Itamaraty, em dados mais recentes, informou que o número de contatos em busca de brasileiros desaparecidos no Japão está diminuindo. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores, desde o dia 11 de março, quando ocorreram o terremoto e tsunami, foram recebidos 3.155 e-mails e 470 telefonemas. Do número total de e-mails, 451 eram de agradecimento pelas orientações dadas pelas representações. O Ministério ressalta que, devido à dificuldade de contato por conta de o sistema de telefonia não estar funcionando nas áreas mais atingidas, ainda deve demorar a saber se há desaparecidos ou brasileiros mortos. No entanto, o Itamaraty avalia como positiva a diminuição da procura como um indicativo de que as pessoas que vivem no Japão estão conseguindo contatar diretamente seus familiares no Brasil e naquele país. Especula-se que só nas cidades de Três Rios, Areal, Levy Gasparian, Petrópolis e Juiz de Fora existam mais de 130 famílias com descendência japonesa. Foram encontradas em Três Rios famílias que viveram o drama da falta de notícias no dia da tragédia. Na manhã de 11 de março, todas elas passaram pelo mesmo sentimento de


angústia, dor e tristeza, que foram transmitidas ao vivo pelas TVs e sites do mundo inteiro. Foi o caso de Lígia Kawase, 22, moradora de Três Rios. “Tenho vários parentes lá no Japão, mas a mais próxima é minha irmã, que mora na província de Shizuoka, localizada na região central do país”, contou. Ainda de acordo com ela, às 6h do dia 11, seu pai ligou e pediu que a jovem acompanhasse pela TV o que estava acontecendo. “Ele estava apavorado. Eu também fiquei. Mas quando soube que era longe de onde minha irmã morava, fiquei aliviada”, revelou. Ainda preocupada, Lígia entrou em contato com a irmã por meio de uma rede social e pelo telefone, somente assim conseguiu se tranquilizar. “Ela nos relatou como aconteceu tudo na hora do terremoto. Disse que às 15h lá no Japão e às 3h aqui, estava trabalhando quando tudo começou a tremer durante uns dois minutos. A princípio, achou que estivesse passando mal. Logo em seguida, viu as pessoas correndo e se deu conta que era um terremoto”, contou. Há mais ou menos dois anos em Três Rios, a empresária Sayuri Haga passou pelo mesmo drama. “Tenho três irmãos e cunhados que moram no Japão, na região de Saitama, a 50 quilômetros de Tóquio. Como a minha família é do Paraná, as primeiras notícias chegaram de lá por meio de contatos feitos pela internet”, afirmou. Sayuri disse que ficou muito nervosa no dia, mas com a notícia de que todos estavam bem, conseguiu ficar tranquila. “Onde eles moram, apesar de estar perto

de Tóquio, não aconteceu nada de grave. A única coisa que fiquei sabendo é que, por alguns dias, faltou água, pão, leite e combustível na cidade”. Com medo de ficarem sem comida, os japoneses estocaram muitos produtos, fazendo com que os alimentos mal parassem nas prateleiras dos supermercados.

Camila com seus pais Celmo e Sandra e a irmã Priscila no mirante de Nagano, em 1996 - foto arquivo pessoal

A estudante Camila Okada, 22, que morou cinco anos no Japão, cujos pais residem na região de Saitama, ficou com medo de que o terremoto devastasse quase todo o país, pois já havia presenciado alguns tremores. Ela conta que na manhã do dia 11 foi acordada com o telefonema de sua irmã, que estava muito angustiada e pediu para que ligasse a TV para ver o que estava acontecendo. “O nervosismo dela me contagiou tanto, que a única coisa que me passava pela cabeça era tentar

me comunicar o mais rápido com os meus pais”, lembrou. Após algumas tentativas, conseguiu contato apenas pela internet, pois, naquele dia, seus pais estavam de folga do trabalho. “Fiquei muito aliviada em saber que estavam bem”, afirma. Camila ficou curiosa para saber as condições em que a cidade onde mora a família ficou após os tremores. “Meu pai disse que tudo que era de vidro e estava em prateleiras caiu dentro de casa, mas nada pior do que isso. E na cidade também não aconteceram danos maiores”, frisou. Depois do terremoto, a estudante não parou de pedir para que os pais voltassem para o Brasil o mais depressa possível. “Acredito que a tendência é que ocorram cada vez mais outros abalos como esse, pois o Japão está localizado numa área muito perigosa e tenho medo do que pode vir pela frente. Não quero que eles paguem para ver”, desabafou. No dia 7 de abril, um abalo de 7,1 graus de magnitude atingiu o Nordeste do Japão. O tremor provocou a morte de mais três pessoas e deixou outras 140 feridas. Quatro dias depois, exatamente um mês após a tragédia, mais um terremoto foi registrado. Com 6,6 graus de magnitude, seu epicentro ocorreu a 88 quilômetros da usina de Fukushima. Duzentas e vinte mil famílias ficaram sem luz e o bombeamento de água para resfriar os reatores da usina foi interrompido.

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MUNDO

Entenda o fenômeno A localização do arquipélago japonês, situado entre três placas tectônicas, ajuda a explicar a frequência com que o país oriental sofre abalos sísmicos e a magnitude com que isso acontece. Placas tectônicas são blocos rochosos, alguns de dimensões continentais, que dão sustentação à superfície da Terra. O arquipélago do Japão está localizado entre as placas

Eurasiana, das Filipinas e do Pacifico. Cada placa resulta de colagens de placas anteriores, formadas há milhões de anos. Por isso, sua formação é cheia de falhas. Basicamente, é a movimentação dessas falhas que provoca terremotos. Podem causar também deslizamentos de terra, tsunamis e até mudanças na rotação do planeta. O tremor de 11 de março, de magnitude 8,9, teve epicentro no Oceano Pacífico

a 130 quilômetros da península de Ojika, a uma profundidade de 24 quilômetros, considerada baixa. Foi seguido por outros 52 tremores de magnitude superior a 5 graus, que gerou um tsunami (onda gigante com potencial destrutivos de até dez metros de altura, que varreu a costa do país). O fenômeno intenso provocou a mudança do deslocamento do eixo da Terra.

RÚSSIA

CHINA

HACHINOHE SENDAI

TÓQUIO JAPÃO 90

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Oceano Pacífico LOCAL DO TREMOR Magnitude 8.9


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ACONTECEU

Bom das Bocas é campeã do carnaval 2011 Introdução:Debaixo de chuva, as seis escolas trirrienses entraram na avenida e agradaram o público. A rede hoteleira também foi campeã e obteve lucros nos seis dias de festa. Algumas empresas tiveram aumento de 15 pontos percentuais na procura por quartos, se comparado com o ano passado.

POR RAFAEL MORAES

A

escola do bairro Caixa D’água levou o título de campeã do carnaval trirriense em 2011. A disputa começou na avenida, mas na apuração, os quesitos comissão de frente e bateria deixaram Bom das Bocas e Bambas do Ritmo empatados. A Mocidade da Vila, que também seria uma forte concorrente, não se saiu muito bem, de acordo com os jurados. O público compareceu para o desfile das escolas de samba de Três Rios no domingo, dia 6 de março. De acordo com o secretário de Ordem Pública, Alexan-

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dre Mansur, 20 mil pessoas assistiram às apresentações das escolas, apesar das chuvas, que não deram trégua neste ano. A primeira escola a desfilar foi a Em Cima da Hora, seguida por Sonhos de Mixyricka, Independente do Triângulo, Bom das Bocas, Mocidade Independente da Vila Isabel e Bambas do Rítmo, campeã em 2010 depois de um regime de 15 anos. Cada escola de samba teve o tempo mínimo de 45 minutos e o máximo de 65 minutos para desfilar, isso, independentemente de sua concentração, entrada e dispersão. Natureza, magia e mitologia

foram bem exploradas pelas escolas. A agremiação do Monte Castelo abriu o carnaval trirriense. As fantasias bem coloridas realçavam o que foi proposto pelo tema “Abracadabra – Lendas e mistérios da magia”. Sonhos de Mixyricka entrou na avenida com a missão de mostrar “Três Rios – Encantos e magias do reino das águas”. A terceira escola foi a Independente do Triângulo, que trouxe o samba enredo “Um grito de esperança”. A agremiação foi uma das surpresas deste carnaval. Os quesitos que chamaram a atenção foram


os carros e as alegorias. Bom das Bocas, favorita do ano passado, surpreendeu os espectadores do evento com a qualidade e efeitos dos carros. A Mocidade Independente da Vila Isabel, sem vencer desde 2005, levou para a avenida 800 componentes e o enredo “Estão voltando as flores”. A campeã de 2010, Bambas do Ritmo, apresentou o enredo “O Bambas é festa. Três Rios de janeiro a janeiro”. A escola do Cantagalo arrastou 850 componentes e 12 destaques, mas, ainda assim, não foi o suficiente para agradar os jurados. Na apuração das notas, realizada no dia 10 de março, no clube Entrerriense, Bom das Bocas e Bambas do Ritmo se alternavam entre primeiro e o segundo lugar, até que uma nota 8 no quesito alegoria e adereços deixou a escola do Cantagalo com o vice-campeonato. Os integrantes não concordaram. “Vamos comemorar pelo trabalho apresentado. Infelizmente, segundo os jurados, não fomos convincentes a ponto de repetir a dose. Vamos ver a justificativa e trabalhar para o ano

que vem”, disse o presidente Fernando Barbosa. A campeã Bom das Bocas comemorou seu 11º título. Emocionado, o presidente Fernando Mariano disse que o carnaval se ganha é na avenida. “Ano passado, neste mesmo local, eu sabia que tínhamos perdido o carnaval. Hoje estava consciente da vitória”, desabafou.

O rebaixamento A disputa este ano não foi só pelo título, mas para não descer para o grupo de acesso. Em Cima da Hora e Mixyricka brigaram para não cair. A agremiação do Monte Castelo foi salva pelos itens negativos do grêmio do Mixyricka. A escola perdeu dois pontos. Um pela ala das baianas, que deveria ter no mínimo dez componentes, mas saiu com cinco, e outro pela bateria, que desfilou com 35 integrantes, quando o mínimo era de 50. De acordo com presidente Ciro Fernandes, a Mixyricka sofre com a falta de uma quadra. “A escola existe há 35 anos e

ainda não temos uma sede. Conseguimos o terreno, mas falta verba para construir”, salientou. Indignado, Fernandes afirmou que a escola está fora do carnaval trirriense. “O Mixyricka não desfila mais em Três Rios. Ano que vem vou curtir o carnaval na praia”, completou. Presidente do Em Cima da Hora, Gê Lourenço, apostava no terceiro lugar, mas teve que se contentar com a permanência no grupo especial. Ele acredita que a agremiação foi prejudicada pela chuva. “As outras escolas não desfilaram com chuva. Molhadas, as fantasias perdem o brilho”, argumentou.

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ACONTECEU

Desenvolvimento à vista

POR PAULA ARAÚJO

No primeiro semestre do ano, anúncio de investimentos movimenta o município

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o dia 2 de março, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, esteve em Três Rios para a inauguração oficial da Central de Comando e Controle, sistema de monitoramento que conta com a instalação de 45 câmeras de segurança em pontos estratégicos, coordenado em conjunto com a Guarda Municipal e as polícias Civil e Militar. Na ocasião, Cabral comentou sobre a construção do viaduto sobre a linha férrea na praça Salim Chimelli, no Centro, que

receberá recursos de R$ 14, 7 milhões do programa Somando Forças. “Vamos fazer um projeto elegante em Três Rios”, disse. Otimista com o desenvolvimento do interior, o governador comparou Três Rios à cidade de Campinas (SP). “Três Rios é um dos únicos municípios que conseguiu usufruir do desenvolvimento da capital. A cidade não para de crescer. É um prazer investir aqui”, finalizou.

“É um prazer investir aqui”, Sérgio Cabral, governador do Rio 94

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Um sonho milionário Cabral dor também anunciou a chegada oficial da multinacional Nestlé, cujos investimentos iniciais são de R$ 200 milhões e a geração de empregos ultrapassa o número de mil funcionários diretos e indiretos. No dia 16 de março, uma entrevista coletiva concedida à imprensa, no Palácio Guanabara, marcou a implantação da unidade no município, que será a terceira fábrica do Estado do Rio de Janeiro e a 31ª do país. O projeto será destinado à fabricação de leite,

bebidas lácteas e chás. “Com certeza essa é a maior conquista da história de Três Rios, reflexo do momento de crescimento que a cidade tem vivido”, afirmou o prefeito Vinicius Farah. O presidente da Nestlé no Brasil, Ivan Zurita, afirmou que a empresa está investindo no Rio, pois o Estado passou a ser a primeira filial em vendas, superando São Paulo, então líder histórica. “O Rio de Janeiro está crescendo numa velocidade superior à média Brasil. Este foi um dos motivos da decisão de investir nesta nova unidade”,

disse. Outra empresa já confirmada pelo chefe do executivo municipal para se instalar na cidade é a gaúcha Neobus, fabricante de veículos para transporte de passageiros. O anúncio foi feito no dia 1º de abril, em uma entrevista coletiva na sede da prefeitura. Segundo Farah, a empresa, que será instalada na BR-040, vai gerar cerca de 1.300 empregos diretos e cinco mil indiretos. “Em um primeiro momento, serão fabricados ônibus circulares e micro-ônibus”, afirmou Farah.

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Realizando fantasias POR FELIPE CURDI E RAFAEL MORAES

Festas temáticas levaram diversão e atraíram o público da região para o Tamboatá, em Itaipava, e para o CAER, em Três Rios

C

riatividade, animação e alegria. Esses foram os “ingredientes” que agitaram a 13ª edição do baile pré-carnavalesco CAER à Fantasia, organizado pelo Clube Atlético Entre-Rios. O tema em 2011 foi “A Cigana Leu o Meu Destino” e levou muito misticismo ao clube, principalmente por meio da decoração dos ambientes e fanta-

sias do público. O evento, que já faz parte do calendário cultural do município, abriu oficialmente o carnaval no dia 26 de fevereiro, atraindo 3.000 foliões de Três Rios, Areal, Levy Gasparian, Paraíba do Sul, Sapucaia, Juiz de Fora, Petrópolis, Rio de Janeiro, entre outros. O som ficou por conta da banda The Brothers, do grupo Forrogode e dos DJs

Leo Jack e Jaburu, que tocaram em três ambientes distintos. De acordo com José Roberto Padilha, diretor de esportes do clube e um dos organizadores do evento, o principal objetivo da diretoria é agradar a todos os tipos de público. “O segredo é proporcionar a todas as faixas etárias um ambiente agradável e uma música de qualidade”, afirmou.

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ACONTECEU

Já no Tamboatá Fantasy, DJs, VJ, escola de samba e a Banda Dr. Jivago, formada em Petrópolis, animaram a noite do dia 9 de abril. Na pista e no camarote, drinks e as mais variadas bebidas abasteceram os presentes. Pela primeira vez na casa, a auxiliar administrativo Paola Paschoal, 26, disse ter adorado a festa. “Foi perfeito, nunca tinha ido. A casa estava lotada”.

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Entretenimento 445 FOTOS 3.006 ACESSOS 12.300 VISUALIZAÇÕES

Natiae rest volore, solorpo reptatem et estiberumqui diaspidem eatus eum idi doluptatur si doluptatur, officim cum sequi aut que nulparum enimostibus et et vid mo doluptatur, sumquis totatur suntibus, as sintecusae nus adi dolore vel im fugiam imus molesti nimusam re, sa quate laboribero id maiorem et evelita que odis explignati nis volor as int.

321 Cliques 06.03 Carnaval Três Rios

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Informação 4.159 MATÉRIAS 3.006 ACESSOS 12.300 VISUALIZAÇÕES

Alta de 12,5% torna país o 2º mercado mundial da Nestlé Com o crescimento de 12,5% de seus negócios no país registrado em 2010, a empresa transnacional de origem suíça Nestlé já tem o Brasil como o seu segundo maior mercado em todo o mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Presente no Brasil há 90 anos e uma das marcas mais reconhecidas pelos brasileiros, a Nestlé vem crescendo junto com a economia do país nos últimos anos e obteve no ano passado um expressivo faCliente do Bramil ganha um apartamento na praia

A campanha Festa dos Sonhos, dos Supermercados Bramil, sorteou no último dia 18 de fevereiro, no Hipermercado Bramil, em Três Rios, o

Bolsonaro também acerta Passamos a semana toda saboreando as repercussões das palavras do deputado Jair Bolsonaro (RJ) no programa CQC da Bandeirantes. Evidente que seus dizeres foram polêmicos, mas quero aqui falar não das palavras dele em si, mas das entrelinhas de sua fala. No Brasil há nitidamente uma apologia desmedida à “cultura gay”, seja em revistas, em sites, novelas, propaganda, tudo gira em torno de uma apologia à “cultura gay”. Ser gay virou um orgulho, e ser um defensor

TR Folia: site feito pela Fiobranco é destaque no Twitter Foi ao ar no último sábado (19) o site oficial do TR Folia 2011, a micareta que vai acontecer em Três Rios nos dias 13 e 14 de março. A página, desenvolvida pela Fiobranco Comunicação, recebeu elogios e ganhou destaque no microblog Twitter. “Nossa gente o site novo do @ TRFolia está maravilhoso, lindo demais!”, postou @laysxaviertr. Já @medeirosgrazi,

Jogador trirriense é contratado pelo Fortaleza O atleta Gustavo Strzoda foi contratado pela equipe do Fortaleza-CE para disputa do Campeonato Brasileiro da Série C,ele é natural de Três Rios, do bairro Purys. Gustavo era titular e destaque da equipe do Pão de Açúcar, que disputa a Série A2 do Campeonato Paulista. O jogador trirriense chegou à Fortaleza essa semana e foi direto para o centro de treinamento da equipe. Ele realizou exames médicos e assinou contrato até o término da Série C do Campeonato Brasileiro. O Fortaleza se reforça para a sequência da temporada. Depois de acertar a contratação do lateral-direito Henrique, do São Bernardo, o Leão busca novos reforços no estado de Mixyricka não desfila mais em Três Rios, diz presidente A saída do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mixyricka do grupo especial foi recebida com indignação pela diretoria da escola. O presidente,

Capacitação: Senac abre 1 milhão de vagas para Copa e Olimpíadas O Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) lançou o Programa Nacional de Educação Profissional para a Copa de 2014. A instituição irá oferecer um milhão de vagas em cursos nas áreas de turismo, gastronomia, idiomas, hotelaria, comércio, saúde, segurança e informática.

Polícia prende foragido da justiça em Três Rios Marcos Vinícius de Almeida Leal, 21 anos, foi preso na tarde de ontem (22), após ser abordado pela Polícia Militar em atitude suspeita no Pátio da Estação. As informações foram passadas à PM pela Central de Comando e Controle.

Leia as matérias na íntegra em: tresriosonline.com.br/maislidas revistaon.com.br

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