#6 Direção Felipe Vasconcellos (felipe@fiobranco.com.br) Financeiro Sabrina Vasconcellos (sa@fiobranco.com.br) Juliana Brandelli (juliana@fiobranco.com.br) Edição Rafael Moraes (rafael@fiobranco.com.br) Redação Aline Rickly (aline@fiobranco.com.br) Frederico Nogueira (frederico@fiobranco.com.br) Novos negócios Petrópolis: Bárbara Caputo barbara@fiobranco.com.br (24) 8864-8524 Três Rios: Ana Carolina Travassos anacarolina@fiobranco.com.br (24) 8843-7944 Portal: Tamiris Santana tamiris.santana@fiobranco.com.br revistaon.com.br
Editorial
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o dia 07 de outubro, os eleitores vão às urnas decidir os novos representantes do legislativo e do executivo municipal. O nosso link com esse momento é o perfil de um idealista, fundador do PHS (Partido Humanista da Solidariedade), que possui uma longa caminhada na luta comunitária. Nesta matéria você vai conhecer o francês Philippe Guédon, sua trajetória, carreira e família. Lembra do Gil Brother? Lançamos o desafio na rede social, quando ele se tornou uma campanha da Revista On para atingirmos 1.500 curtidores. Como o prometido, publicamos a história desta figura. Está imperdível o conteúdo sobre a vida do humorista mais escrachado de Petrópolis. Nesta edição mostramos também a apicultura como atividade empreendedora, os cuidados, métodos, criação e os empecilhos naturais como perda de abelhas que ocorrem todos os anos gerando prejuízo aos apicultores. Para quem gosta de teatro, temos atuando nas páginas da Revista On, o ator Arthur Varella. Artista na concepção geral da palavra ele conta alguns truques da vida no palco. No papo de colecionador, uma jovem apaixonada por lápis. Para os amantes do esporte, as manobras radicais contadas por skatistas apaixonados. Ainda temos as dicas de moda básica, a carreira da escritora Christiane Michelin e muito mais! Boa leitura!
Criação Felipe Vasconcellos (felipe@fiobranco.com.br) Robson Silva (robson@fiobranco.com.br) Estagiário Neílson Júnior (neilson@fiobranco.com.br) Colaboração Fernanda Eboli (fernanda@dafilha.com.br) Fernanda Tavares (fetavares@gmail.com) Helder Caldeira (helder@heldercaldeira.com.br) Heverton da Mata (heverton@fiobranco.com.br) Leticia Knibel (leticia.knibel@fiobranco.com.br) Oneir Vitor (oneirvitor@hotmail.com) Roberto Wagner (rwnogueira@uol.com.br) Foto de capa Ezio Philot/Cia Fotográfica Distribuição Gratuita e dirigida em Petrópolis, Itaipava, Nogueira, Corrêas, Pedro do Rio e Posse. Também à venda nas bancas. Tiragem 5.000
Fiobranco Editora Rua Prefeito Walter Francklin, 13/404 | Centro | Três Rios - RJ | 25.803-010 Telefone (24) 2252-8524 Email sac@revistaon.com.br Portal www.revistaon.com.br Impressão WalPrint
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Índice 6 11
Online
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Cultura
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Empreendedorismo
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Mix
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You Fashion
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Inspiração
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Eu Sei Fazer
40
Saúde
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Cotidiano
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Papo de Colecionador
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Esporte
54
Diário de Bordo
EZIO PHILOT / CIA FOTOGRÁFICA
DIVULGAÇÃO
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RODRIGO SANTANA
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Opinião
revistaon.com.br
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OPINIÃO
Sem máscara
Deus não quer cópias de Moisés e Elias, mas pessoas que O enfrentem cara a cara sendo quem são, deixando de lado suas máscaras
Roberto Wagner rwnogueira@uol.com.br
Roberto Wagner Lima Nogueira é procurador do município de Areal, mestre em Direito Tributário - UCAM-Rio, professor de Direito Tributário da UCP – Petrópolis – e colunista da Revista On.
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á coisa de dias encontrei com Bruno numa esquina da cidade. Todavia, isto não vem ao caso, o que importa, leitor da Revista On, é a história de Bruno (Luiz Felipe Pondé, “Meu inferno mais íntimo”). Prestes a finalizar seu curso na universidade, Bruno entrou em crise existencial, qual o sentido da vida? Um amigo indicou-lhe um psiquiatra. Na primeira sessão, Bruno relatou seus dramas. Assim, se passaram muitas sessões, reclamação de um lado e silêncio do outro. Certa feita, Bruno tirou do bolso um papel e leu um conto para o psiquiatra que era mais ou menos assim: - Um jovem rabino, angustiado com o destino de sua alma, conversava com seu mestre, mais velho e mais sábio, e assim o perguntava. “O Senhor não teme que, quando morrer, será indagado por Deus do porquê de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias? Eu sempre temo esse dia”. - A minha angústia, doutor, está na resposta do mestre que foi assim: “Quando eu morrer e estiver na presença de Deus, não temo que Ele me pergunte pela razão de não ter conseguido ser um Moisés ou um Elias, temo que Ele me pergunte pela razão de eu não ter conseguido ser eu mesmo”. - o que você extrai disso que me leu? - sei lá doutor, pensei que você iria me explicar, e você me vem com mais perguntas! - Por hoje tá bom Bruno. Chegando em casa Bruno leu “Luz do mundo” de Bento XVI. Neste livro, o Papa fala sobre a sucessão de João Paulo II e as cobranças que recebeu para ser “igual” ao seu predecessor. Disse Bento XVI: “simplesmente disse a mim mesmo
que sou o que sou. Não busco ser outra pessoa. O que posso dar, dou, e o que não posso, nem sequer tento dar”. Sessão seguinte. Bruno relata ao psiquiatra que só fez pensar no conto do jovem rabino e na resposta de seu mestre. E ele indaga-o: - enfim, você chegou há alguma reflexão sobre o conto? Sim, doutor. - o conto fala do medo de não estarmos à altura da vontade de Deus, fala também do medo de não sermos morais e justos como Moisés e Elias, o que seria para nós um grande parâmetro moral. - Só isso? - O que tem a dizer da resposta do mestre (sábio ancião)? - Não sei doutor. Pois é, talvez o mestre quisesse dizer que Deus (se existe) não está preocupado se você consegue seguir parâmetros morais exteriores, Deus está preocupado se você consegue ser você mesmo, com seus talentos e defeitos. - Como assim ser eu doutor? Eu já sou eu! - Se já é você, que angústia é essa que te trouxe aqui? - Deus não quer cópias de Moisés e Elias, mas pessoas que O enfrentem cara a cara sendo quem são, deixando de lado suas máscaras. Quiçá Deus pergunte a ti se teve coragem de ser você mesmo nos piores momentos em que ser você mesmo seria aterrorizante. Aí está o cerne da “moral do conto”. Dias após, Bruno entrou numa igreja, assistiu a uma missa e rezou a Deus pela primeira vez com toda sua verdade, sem máscara. Já estava ciente de que é muito mais fácil seguir padrões exteriores do que seu “eu” e sua “alma”, seu maior desafio, e quem não sabe disso, ainda não sabe de nada. Deus cria o homem como alguém que é capaz de criar a si mesmo.
Facebook e Gil Brother nos bastidores de uma nova revolução O poder das redes sociais como fonte independente de informação
Oneir Vitor Guedes oneirvitor@hotmail.com
Oneir Vitor Guedes formou-se em direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora e, atualmente, atua como advogado e consultor jurídico nas áreas cível e criminal, além de ser colunista do portal Revista On
A
imprensa tornou-se uma espécie de quarto poder. Da mesma forma que o legislativo, o executivo e judiciário, a mídia é capaz de interferir nos rumos da sociedade na qual ela está inserida, fazendo isso através da forte influência que exerce sobre a formação da opinião pública. Infelizmente, assim como os outros três, este tem se mostrado corrupto e desvirtuado. Seja em um grande veículo de comunicação, seja em um periódico de circulação local, uma notícia pode não ser apenas uma notícia. Ela muitas vezes é o resultado de lobbies, negociatas, favorecimentos, boatos, adulterações primárias, interesses confessáveis e inconfessáveis, especulações, jabás, mutretas, acobertamentos, falsificações, calúnias e malandragens. Como elemento deste poder, a manipulação é um instrumento de controle capaz de obter a obediência incondicional de grande parte da sociedade, que sequer se dá conta de seu estado de alienação. Mas, se considerarmos que a Constituição Federal garante que “todo poder emana do povo”, parece justo e razoável que este mesmo povo tome as rédeas do quarto poder, afinal ele foi estabelecido sem qualquer forma de legitimação. Lendo os livros de história constatamos que nenhum poder pode ser tomado sem que haja uma revolução. Sendo assim, podemos dizer que a revolução começou, as redes sociais são armas e a internet é o palco desta guerra. É certo que a maioria dos vídeos postados no Youtube não passam de mera distração, contudo uma única filmagem exibida neste site é suficiente para denunciar atrocidades cometidas por autoridades em qualquer canto do planeta. No twitter, 140 caracteres bastam para revelar, ao mundo, segredos até então escondidos pelo jornalismo tradicional. Na maior rede social do mundo, o Facebook, enquanto muitas pessoas se limitam a reclamar da segunda-feira, há internautas que, com uma simples atualização de status, podem trazer a tona informações que estavam na frente de todos, mas poucos haviam se dado conta. Mostrar a realidade tal qual é na verdade e não tal como é mostrada pelo quarto poder, constitui a mais autêntica subversão.
Somente a verdade é revolucionária, ela deve ser a ferramenta mestre nesta insurreição. Assim, graças à internet, cada vez mais indivíduos escapam ao controle das consciências preconizado pelo estruturado sistema de manipulação. Sites como o de Mark Zuckerberg foram a gênese de acontecimentos recentes que entraram para história, tais como a Primavera Árabe e o “Occupy wall street”. A chamada maioria silenciosa começa a adotar uma postura ativa, trazendo luzes e cores ao cenário, até então dominado pela imprensa marrom. No Brasil, enquanto a principal rede de TV ocupava a cabeça dos telespectadores com as brigas entre as personagens Rita e Carminha, a greve nas universidades federais sequer era mencionada em seus noticiários. Diante disso, internautas de todo país se mobilizaram para atenuar esta alienação coletiva. E neste ponto entra o comediante Gil Brother, citado no título deste artigo, um dos símbolos da livre expressão nesta nova era digital, que publicou um desbocado vídeo comentando o assunto e teve milhares de visualizações em seu canal no Youtube e em sua página no Facebook. A revolução começou, e você, caro leitor, tem um papel fundamental neste processo. Não se limite a usar a rede social para curtir montagens feitas com o Mussum, comentar o desempenho do seu time ou cutucar perfis do sexo oposto. Estamos diante do mais democrático e participativo meio de difusão e debate de ideias, jamais existente em outro momento histórico e que poderá alavancar a cultura humana de uma forma jamais pensada pelos gurus, futurólogos e profetas dos tempos antigos. Use essa ferramenta inigualável como uma tribuna para suas manifestações, interaja e forme grupos com pessoas de interesses afins. Expresse-se verdadeiramente, questione representantes políticos e grandes corporações, defenda uma causa em que você acredita, por mais tola que ela possa parecer aos olhos daqueles que ainda permanecem alienados pelo sistema de manipulação global. Como disse o filósofo francês Voltaire, “posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-la”. revistaon.com.br
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OPINIÃO
Cotas demofóbicas
A proposta das cotas para alunos oriundos de escolas públicas, afrodescendentes e índios é correta, faz justiça imediata com uma parcela significativa da população brasileira que é vítima direta do achincalhe das instituições do país.
Helder Caldeira helder@heldercaldeira.com.br
Helder Caldeira é escritor, articulista político, palestrante, conferencista, colunista do portal Revista On e autor do livro “A 1ª Presidenta”, primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff e que já está entre os livros mais vendidos do país em 2011. É apresentador do quadro “iPOLÍTICA” com comentários nos telejornais da afiliada da Rede Record em Diamantino/MT.
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questão de tempo para que a política de cotas nas universidades públicas seja universalizada e tenhamos instituições federais e estaduais de ensino superior, especiais para alunos oriundos de escolas públicas, afrodescendentes e índios. Já existe, inclusive, projetos de lei tramitando no Congresso Nacional com esse objetivo, abarrotados de apensos de deputados federais e senadores. Em Mato Grosso, por exemplo, a universidade indígena já é uma realidade. E isso não será o fim do mundo, como reza a cartilha dos demofóbicos. A proposta das cotas é correta, faz justiça imediata com uma parcela significativa da população brasileira que é vítima direta do achincalhe das instituições do país e cria algumas pinguelas sobre o abismo social da má distribuição de renda e, sobretudo, de oportunidades. Corrige, inclusive, a tergiversa percepção provocada pelos discursos politiqueiros e palanquistas de surgimento e ascensão de uma “Nova Classe Média”, endinheirada e consumista. O que há é mais da metade da população de um país endividada até o pescoço, atolada no crédito fácil e nadando nos mares da inadimplência. Ainda que corretas, as cotas possuem um equívoco embrionário: deveriam ser tratadas, nos termos da legislação, como uma medida imediata, em curto prazo, tecnicamente paliativa e não um projeto de futuro para a nação. A instituição das cotas deveria conter dispositivos que obrigassem o Estado a investir pesado na educação básica e no ensino médio, de forma a torná-las dispensáveis em longo prazo. Mas o que nos resta é a velha má-
xima dos safados políticos: “Educação pra quê? Povo educado é perigoso! Melhor mesmo é mantê-los na ignorância, massa de manobra fácil!”. Imediatamente, esse debate sobre cotas mobiliza os supostos setores politicamente corretos da sociedade e um debate saudável, em questão de segundos, pode se transformar numa querela preconceituosa e racista. Nada mais insano! Demofobias partindo de todos os lados e absolutamente contraproducentes no que tange a ter projetos de Estado para a nação. “Farinha pouca? Meu pirão primeiro!”, garante outra antiquíssima máxima brasileira. O genial Elio Gaspari, jornalista e escritor ítalo-brasileiro, afirma que “a demofobia foi derrotada”. Tenho cá minhas dúvidas. Não é possível imaginar qualquer vitória num campo de batalha recheado de demagogias, com estratégias arquitetadas sob a égide de números quantitativos e qualitativos amplamente duvidosos. Depois de tanta avacalhação, como fiar-se em dados produzidos pelo Ministério da Educação ou pelo Congresso Nacional? A pasta, atualmente conduzida pelo petista Aloizio Mercadante, sequer consegue realizar as provas do Enem sem erros, corrupção e sacanagens de variadas ordens. Como crer em seus números e comemorar a morte da demofobia? Com os pés no chão e depois de acompanhar – sôfrego! – a última década de administração do PT no governo federal, lhes digo sem pestanejar: muito em breve, o Brasil tentará sanar as mazelas demofóbicas na educação com o fim das cotas e a instituição de universidades especiais para abrigar aqueles que, em tese, não têm as mesmas oportunidades. É apenas uma questão de tempo. Pouco tempo!
Qualquer um pode ser jornalista? Senado aprova PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que reestabelece a obrigatoriedade do diploma em jornalismo para o exercício da profissão. Mas como é a imprensa em um país onde essa exigência não existe? Eduardo de Oliveira eduardojorge.com@gmail.com
É coordenador do curso de jornalismo da Universidade Estácio de Sá (Campus Petrópolis). Jornalista, mestre em ciência política
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os últimos anos, o exercício do jornalismo no Brasil está associado a uma pergunta fundamental: o profissional deve ou não deve ser diplomado, obrigatoriamente, por um curso superior em jornalismo? Entre debates e decisões, no judiciário e no legislativo, a questão tem gerado polêmica. A Justiça decidiu que a graduação em qualquer curso seria suficiente para o exercício desta profissão, sob o argumento (aqui simplificado) de que “qualquer um” pode ser jornalista. Mas, há algumas semanas, o Senado aprovou uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que reestabelece a obrigatoriedade do diploma em jornalismo. Sou professor universitário. Em um curso de jornalismo. Empregado, portanto, em uma instituição de ensino superior que, obviamente, atendidas as exigências do Ministério da Educação, emite diplomas. Logo, qualquer opinião minha sobre a questão seria, antes de tudo, previsível. Motivo pelo qual não emito, aqui, propriamente, um palpite generalista sobre a questão. Parece-me oportuno, porém, observar um dos argumentos levantados na polêmica: o fato de que, em outros países, a profissão seja exercida por jornalistas que não são graduados em jornalismo. Para quem é contrário à obrigatoriedade do diploma, o exemplo mais evidente vem dos Estados Unidos, lembrando aquela bobagem de “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil”. O argumento recorrente é mais ou menos o seguinte: na terra do Tio Sam, o jornalismo é exercido por advogados, professores, escritores, atores etc. Que, após a graduação, submeteram-se a cursos de especialização. Os americanos, portanto, seriam o melhor exemplo de que “qualquer um” pode ser jornalista sem diplomar-se em jornalismo. Mas, antes de enaltecer o modelo americano,
os defensores da ideia de que “qualquer um” pode ser jornalista deveriam, tal como fazem os jornalistas, informar-se melhor. E descobrir que nas últimas duas ou três décadas (para resumir) os Estados Unidos têm assistido a vários escândalos envolvendo profissionais de imprensa. Repórteres e editores que forneceram ao público dados deturpados ou simplesmente inventados; reportagens fundamentadas em fontes que não existem; histórias fictícias; ou plágios. Desde 1980 (obrigado, Google), houve pelo menos 15 casos famosos - e incontáveis outros menos notórios. Estes plagiários e mentirosos não eram “jornalistas” iniciantes empregados em jornais obscuros. Os casos mais polêmicos envolvem repórteres e editores de veículos consagrados, como o “The New York Times”, o “USA Today” ou a rede de televisão “NBC”. Pelo menos dois destes “jornalistas” haviam sido agraciados com o Prêmio Pullitzer, o “Oscar” do jornalismo americano. O exemplo mais recente envolve ninguém menos que o festejado Fareed Zakaria, graduado em artes pela célebre Universidade de Yale. Seu currículo ostenta passagens pelas revistas “Newsweek” e “Time”, pelo “Washington Post” e pela “CNN”. Ele também era prestigiado como um conselheiro informal do próprio Barack Obama. Em agosto, Zakaria confessou plágio, somando seu nome à lista de grandes jornalistas americanos que não tinham diploma e que, agora, também não têm credibilidade. Esta é a realidade no país em que o diploma de jornalismo não é obrigatório para o exercício da profissão. Frente a exemplos como o de Zakaria e outros, podemos todos, nos EUA ou no Brasil, até concordar que «qualquer um» pode ser jornalista. Mas também aceitar que, pelo jeito, jornalismo não é mesmo uma profissão para qualquer um.
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ONLINE
Gil Brother,
o Away de Petrópolis POR LETICIA KNIBEL
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O bom humor e a simpatia, misturados com passos de dança ao som de James Brown e Bob Marley, ajudaram um lavador de carros a se tornar um humorista conhecido nacionalmente.
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olêmico, sarcástico, com humor ácido, respostas criativas e verdadeiras. Essas são apenas algumas das características do ator Jaime Gil da Costa, 56 anos, mais conhecido como Gil Brother, o Away de Petrópolis. Atualmente, quem vê o sucesso que seus vídeos fazem na internet, dificilmente acredita na dura realidade que este petropolitano viveu e em todos os momentos complicados que a vida lhe trouxe. 10
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Nascido e criado em uma família humilde, a infância de Jaime foi muito difícil. Seu pai abandonou a casa e oito filhos. Diante da situação, sua mãe foi trabalhar em uma fábrica de tecidos, o que era muito complicado na época. “Passamos muita necessidade, sofremos com frio e fome, morávamos num barraco”, explica o comediante. Para ajudar a família, Gil trabalhou na roça e plantou arroz com a avó, e realizou outros tipos de “biscates” em Petró-
polis. Assim, lavava carros, fazia shows na rua e também vendia doces. Além disso, trabalhou em construções como ajudante de pedreiro e servente. Away fez parte de um grupo que vemos diariamente nos noticiários: daqueles que sofrem com o descaso e a falta de oportunidade da sociedade, dos que vivem uma realidade difícil e acabam seguindo por caminhos muitas vezes sem volta. Felizmente, esse não foi o caso dele. “Nunca
“Eu conheço o Gil desde a década de 80, quando ele lavava carros nas ruas”, Mateus Tavares.
BOLETIM DE NOTÍCIAS Na hora da gravação não podem faltar seus bordões e palavrões em cada notícia comentada
fui mendigo e vagabundo. Já me envolvi com coisas erradas das quais me arrependo e hoje vejo que a infelicidade na vida acontece com quem não tem oportunidade. Não havia chance de melhorar e ajudar minha família e isso foi a porta para entrar no caminho errado,” conta. Depois de morar no Rio de Janeiro, Gil Brother voltou para Petrópolis e começou a realizar shows na rua, nas horas vagas, quando não estava lavando carros. “Eu não tinha rádio e usava os sons dos carros para fazer meus shows de dança”, revela. Foi dessa forma que seu talento foi descoberto. Away conta que, certa vez, enquanto lavava carros próximo a um colégio, estava com uma fita do cantor Bob Marley no bolso e duas meninas se aproximaram para “trocar uma ideia”, revela. “Daí ela pediu que eu colocasse a fita e comecei a dançar. Isso fez um sucesso, pois as meninas chamaram outras pessoas que me incentivaram a dançar todos os dias nas ruas”, lembra. A partir desse momento, Away passou a ser ainda mais conhecido em Petrópolis. Não há quem não se lembre do “cara de dreads” dançando na cidade. Esse fato foi fundamental na vida do ator para alcançar a mudança que tanto esperava e que o levaria ao sucesso. Com um jeito “escrachado”, carismático e criativo, Gil Brother chamou a atenção de um grupo de humoristas, que já o conhecia das ruas. Quando eles conse-
guiram um espaço na mídia, resolveram dar uma oportunidade ao petropolitano. “Fui para a mídia e lá me descobri um bom humorista que faz sucesso pelo tipo de humor, falando o que penso e com meu jeito único”, revela Away. Na época que foi trabalhar com esse grupo, em 2002, Gil ficou famoso por sua atuação no vídeo “Mataram meu passarinho”. Com direito a cenas de perseguição, a repercussão da história criada para a TV foi imensa, resultando em uma continuação. Outro vídeo que fez muito sucesso na época mostra o ator interpretando um professor de Direito. Tais histórias, elaboradas cheias de palavrões, gírias e humor escrachado ficaram também conhecidas pelos bordões ditos por Away, como “criado a leite com pera e ovomaltino’’, “garotinho juvenil”, “te passo uma lambida no pescoço”, entre outros. Tais expressões só contribuíram para cativar ainda mais fãs. A estudante de publicidade Ana Clara Silveira, conta que conheceu o trabalho de Gil Brother através de amigos. “Assistíamos os vídeos através do Youtube e meus amigos tinham as falas
dele decoradas. De tanto escutar, acabei decorando também! Achava bacana o trabalho dele com o grupo de humoristas e continuo gostando agora. A maneira dele de comentar assuntos do dia a dia e atualidades é engraçada demais”, confessa Ana Clara. Away explica que essas expressões surgiram da malandragem da rua, da cadeia. “Leite com pera surgiu quando eu morava com minha família e a mulher da quitanda me dava frutas passadas e eu misturava o leite com a pera para dar aos meus sobrinhos e eles engordavam. São sarados até hoje”, brinca. O ator conta que não acreditava na repercussão do seu trabalho. Quando deixou o grupo que fazia parte, em 2008, chegou a pensar que não voltaria mais a trabalhar como humorista e também não acreditava na quantidade de fãs que já possuía na época. A ausência de seu trabalho fez falta enquanto estava longe da mídia e esse foi apenas um dos motivos que levou o produtor Mateus Tavares a convidar Gil para participar de um projeto para web. Em 2011, começou a ser gravado o projeto do Canal Away. “Eu conheço o Gil desde a década de 80, quando ele lavava carros nas ruas da cidade
O HUMORISTA Gil Brother usa seu jeito polêmico e escrachado para desenvolver seu trabalho revistaon.com.br
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Aos que criticam seu trabalho, Gil enfatiza: são pessoas que pararam no tempo, preconceituosas e dançava fazendo um show que até hoje é mencionado pelas pessoas. Por diversas vezes eu o encontrava ao sair do colégio e sempre que podia batia um papo com ele, sempre alegre e muito solícito. Enfim, por saber que eu sou de Petrópolis e também conhecer a origem do nosso trabalho, apresentado através de um projeto coeso, o Gil se sentiu à vontade e resolveu aceitar a proposta”, explica Mateus. Quando indagado sobre o novo projeto, Away revela que está gostando, está muito feliz e surpreso, “perprécto”, principalmente por ser um trabalho feito para seus fãs. “Trabalho livremente e de coração aberto, ganho meu dinheiro de forma alegre.” O ator ainda explica como funciona o novo trabalho. “Quem define é o Mateus. Tudo do Canal Away sai da cabeça dele. Ele me instrui, passa as coisas e faço a atuação. Eu gosto de ser dirigido por ele, pois entende a cabeça dos nossos fãs e faz o que eles gostam”. Com relação à criação dos vídeos do site, José Ricardo Marques, diretor de produção, revela que trabalhar com Gil é uma loucura, pois nunca sabem o que esperar. “Ele não para de surpreender a gente, é divertido na maior parte do tempo, mas, diferentemente do personagem que apresen-
NEGÓCIO Gil sentado na cadeira do Yahoo!, parceiro do Canal Away 12
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EQUIPE Away gravando junto com José Ricardo, diretor de produção e Alexandre Barroso, diretor de fotografia
ta nas telas, é uma pessoa tranquila e cheia de histórias pra contar. É impressionante a transformação que acontece quando se aponta uma câmera para ele. As atuações quase sempre ficam boas já na primeira tentativa”, explica Marques. Porém, nem todo o sucesso causado por seus vídeos é capaz de conquistar o público em geral, afinal, ninguém é unanimidade. Para a professora Lilia Ferreira, esse novo tipo de humor não agrada a todos. Mesmo com vários programas que apresentam essa forma de entretenimento, Lilia é contrária a esse tipo de expressão. “Não vejo humor no modo como ele fala, pelo próprio personagem que encarna: um contestador rude, desbocado, que algumas vezes ridiculariza as pessoas desnecessariamente. Admiro sua tenacidade ao vencer as dificuldades que já enfrentou, porém não concordo com a maneira que ele se coloca para expressar suas opiniões”, opina a professora. Aos que criticam, Gil enfatiza que são pessoas que pararam no tempo, preconceituosas. Apesar das opiniões contrárias, os dados apresentados sobre o sucesso do novo projeto servem para demonstrar o quanto esse tipo de humor está crescendo e é aceito pelo público. “Foram 35 milhões de visualizações no Youtube em apenas seis meses e mais de 150 mil inscritos; 146 mil inscritos no Facebook do Canal Away. Com três meses de canal chamamos a atenção do Yahoo!, um gigante da internet. Assim surgiu nossa primeira grande parceria. Lá, apresentamos
“O futuro é hoje! É agora! O amanhã, ó, a Deus pertence”, acredita Gil Brother semanalmente o ‘Boletim Away de Notícias do Yahoo Brasil’”, relata Mateus. A produtora do Canal, Thais Pereira, explica que apesar de todo sucesso o comportamento do ator não mudou. “Por trás das câmeras ele é uma pessoa que muitos não conhecem, é um cara humilde e humano, de coração bom. Muito diferente do que estão acostumados a ver na net com sua ‘lambida’”, conta Pereira. A produtora ainda relata um fato curioso que presenciou recentemente sobre a fama de Away. “Fomos surpreendidos por uma fã em frente a um shopping no Rio, que abandonou o carro no meio da rua e veio correndo gritando para tirar uma foto com o Gil. Isso gerou um transtorno no trânsito e muita confusão”. O trabalho que o apresentador vem realizando ao longo desses anos e o sucesso quase imediato fizeram com que milhares de pessoas se tornassem fãs do artista e o novo projeto, junto à atual produtora, continua, trazendo novidades e algumas mudanças em 2012. Mas Away é bem enfático ao falar sobre o futuro: “O futuro é hoje! É agora! O amanhã, ó, a Deus pertence. Fim de papo”.
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CULTURA
RECHEIO
DE LETRAS POR LETICIA KNIBEL
FOTOS DIVULGAÇÃO MUSEU IMPERIAL
O Museu Imperial de Petrópolis possui um vasto acervo de livros, documentos e publicações que estão disponíveis ao público para pesquisa e incentivo à leitura. Agora, a residência de verão do Imperador abre as portas aos pequenos ávidos por aprendizagem através de uma biblioteca voltada exclusivamente para a educação infantil.
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CULTURA
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pesar do nome sugestivo, a Biblioteca Rocambole não remete apenas ao doce. O título é uma homenagem ao cachorro da Princesa Isabel e, entre as paredes que cercam o ambiente, existe uma mistura divertida e deliciosa que fazem parte da infância. “Nós entendemos que este nome era uma forma de remeter à família Imperial e também porque o rocambole é um doce que tem recheio e o livro é um objeto que tem ‘recheio’”, explica a historiadora e responsável pelo acervo do Museu, Claudia Maria Souza Costa. O diretor Maurício Vicente, destaca que o projeto visa estender os serviços que a casa oferece para atingir um público que antes não tinha acesso ao local. “É uma contribuição para a formação de leitores, criando o hábito de leitura e uma relação com o livro”, acredita. Claudia esclarece que existe uma parceria com o setor educativo (que trabalha com todos os outros setores do Museu) visando atender o público “espontâneo” – crianças que são sócias da biblioteca e podem pegar os livros emprestados –, escolas e creches que não possuem biblioteca particular e, também, escolas particulares. Esse público é atendido com agendamento prévio, geralmente a cada 15 dias. “Paralelo a isso, o setor educativo desenvolve projetos temáticos com obras e datas do calendário civil. Fazemos também lançamentos de livros com autores, realizando
SÓCIOS As crianças podem fazer uma carteira da biblioteca que permite o empréstimo de livros
SABOREANDO Os responsáveis pelo projeto encontraram uma maneira de tornar a leitura prazerosa para as crianças
um diálogo entre as crianças e os convidados. Tudo isso para estimular o imaginário e a vontade de aprender dos pequenos.” A biblioteca infantil abriga todo tipo de material como literatura, brinquedos e jogos educativos, DVDs e, quando há leitura de textos, a arte recreadora contratada busca elaborar oficinas voltadas para a temática apresentada. Também existe o trabalho com música. Por exemplo, quando há uma data em homenagem a um grande compositor, as crianças têm a oportunidade de ouvir a obra e saber sobre a vida do músico. “Na leitura, a imaginação, a fantasia e a criatividade se tornam componentes fundamentais para a compreensão das relações da criança com o mundo real e com as pessoas a sua volta”, destaca a pedago-
ga Marilúci Branco Ramos de Mello. Coordenadora educativa do Museu, Regina Helena de Castro Resende explica que a programação é sempre ligada às comemorações do calendário nacional e da cidade. A partir daí, a responsável pelo projeto busca as obras relacionadas ao tema escolhido e desenvolve a programação e as respectivas atividades, que varia de acordo com a faixa etária das crianças (entre dois e dez anos). “Este tipo de projeto é fundamental para difundir a literatura infantil, contando as histórias de forma prazerosa, formando leitores, ou seja, contribuindo com esse processo.” A biblioteca conta com 600 obras, entre livros e brinquedos, e já atendeu, desde maio de 2011, quando foi inaugurada,
O nome da biblioteca é uma referência à família real e ao doce que, assim como o livro, tem ‘recheio’
HORA DA HISTÓRIA Esta é uma das atividades preferidas das crianças 18
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742 alunos e professores. Além disso, possui um blog que é atualizado com informações gerais sobre o projeto. Para Marilúci, a literatura na educação infantil é o caminho para o estabelecimento das bases do processo de leitura e escrita. É muito importante para a criança nessa fase, frequentar a biblioteca, ter
APRENDIZADO SEM FIM É fundamental destacar a participação dos pais no incentivo à leitura dos filhos
contato com os livros, folheá-los, ouvir e contar histórias. “Contudo, não basta apenas oferecer um ambiente leitor, mas também contribuir para a formação do comportamento leitor da criança, que é mais do que simplesmente ler, mas interpretar, vivenciar o que se lê. Isto vai além da alfabetização e dos seus significados, é o letramento que se consolida, ao passo
em que a criança se vê e se compreende no ato de ler”, explica a pedagoga. A professora Carla de Paula Silva conta que a leitura tem sido uma prática constante na rotina escolar de seus alunos. “As crianças adoraram ir à Biblioteca e as experiências que vivemos lá colaboraram muito no processo de aprendizagem. Nossas visitas foram
marcadas pelo prazer de ouvir histórias e participar das diversas oficinas que são proporcionadas”, destaca. A leitura na biblioteca do Museu é caracterizada pela diversidade de obras e pela condução da contadora de histórias, que envolve todas as crianças de forma diferenciada. “Uma experiência marcante foi a participação da história de Vincent van Gogh, na qual elas realizaram a pintura de uma tela. Foi um dia de muitas descobertas para as crianças”, revela a professora. Silva explica que é importante ampliar o conhecimento dos educandos e necessário que as crianças, desde cedo, tenham oportunidades de construir novos conhecimentos fora da rotina escolar. Estas experiências, na opinião dela, despertam a curiosidade e a vontade de aprender. “A escola tem papel fundamental na formação de leitores e, é dela, a responsabilidade de promover estratégias e condições para que ocorra o crescimento individual do leitor. Considero a Biblioteca Rocambole uma grande aliada para a formação dos nossos”, conclui.
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EMPREENDEDORISMO
DOCE
EMPREENDIMENTO POR ALINE RICKLY
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Quem nunca pegou um resfriado e tomou mel para melhorar? Com propriedades terapêuticas, pode ser encontrado em qualquer lugar como mercado, padaria e em lojas específicas. O que poucos sabem é a respeito do processo em que é fabricado e os cuidados exigidos durante a produção.
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e acordo com o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Estado do Rio de Janeiro produziu em 2010, 351 toneladas de mel. Para entender como funciona a fabricação deste produto, é preciso ir a fundo e saber como acontece a criação das abelhas. No Brasil, a mistura de raças dos artrópodes resultou na espécie denominada “africanizada”. Elas vivem em colmeias, que reúnem de 100 a 150 mil insetos. Dentre eles, uma rainha, até 200 zangões e o restante de operárias. Quem opta pela apicultura fixa, produz em torno de 16 quilos de mel por caixa ao ano e os que preferem a migratória - quando mudam os enxames de local - conseguem cerca de 40 quilos ou mais por colmeia no mesmo período. O apicultor e zootecnista Miguel Fernando de Almeida, 54, se dedica à atividade há mais de 30 anos. Atualmente, ele tem caixas na Posse (5º distrito de Petrópolis) e em Três Rios. No total são 100 colmeias que resultam mais de 6 milhões de abelhas. Miguel tem se aperfeiçoado nos últimos anos na prática da atividade orgânica e migratória. “Nada de querosene, gasolina ou produtos tóxicos. A apicultura orgânica exige, no mínimo, três quilômetros de distância de um centro urbano, cinco quilômetros de um lixão e não é permitido o uso de óleo queimado, antibióticos, telhas de amianto, entre outros”, alerta. Os alveários ou colmeias ficam em caixas que permitem as abelhas voarem para capturarem o néctar das flores e voltarem para depositar o material – também construídos por elas a partir de cera e pólen. Nos favos, o néctar perde grande parte da sua água e se transforma em mel. Os tipos, com cores e sabores diferentes são dados, segundo o biólogo Alexandre Coletto da Silva, de acordo com a flora onde as abelhas coletam o néctar. “Os insetos procuram as flores para obter fontes de açúcares, proteínas e vitaminas e por isso colhem o pólen e o néctar”, destaca Alexandre.
O tipo de mel, cor e sabores variam de acordo com a flora onde as abelhas colhem o néctar O presidente da Faerj (Federação das Associações de Apicultores do Estado do Rio de Janeiro) Nelson Victor de Oliveira Filho explica como acontece a fabricação de alimentos dentro das caixas. “Quando os favos ficam cheios e maduros são retirados e levados para centrifugar, quando é coletado o material. Após este processo, o produto é guardado em tambores de aço inox entre três e quatro dias e depois seguem para os recipientes”, conta. Relindes Fonseca, 57, é guia de turismo, mas se dedica à apicultura por hobbie. “Há 22 anos estava no País de Gales, Reino Unido, quando surgiu a possibilidade de fazer o curso e eu me interessei. Quando voltei para o Brasil busquei me especializar na atividade aqui no país, que requer cuidados diferentes, devido ao clima”. Relindes recorda que em seu sítio no Brejal, em Petrópolis, já chegou a ter 40 colmeias, mas atualmente só possui quatro. “Aqui fazemos quatro colheitas por ano, uma a cada estação. Por caixa, retiramos cerca de 20 quilos que servem para o consumo da casa. Aqui tudo é de mel, pão, geleia, entre outros. O excedente vendo para os meus amigos”, explica.
CUIDADOS Para o manejo é indispensável que o apicultor se projeta com macacão, luvas e bota revistaon.com.br
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EMPREENDEDORISMO
Segundo a guia de turismo Relindes Fonseca, em seu sítio são feitas quatro colheitas por ano e o mel retirado serve para o consumo da casa
PRODUÇÃO As abelhas produzem os favos onde armazenam o mel
PRODUTO Além do mel, é produzido pólen que é rico em vitaminas
Sobre o processo de produção que acontece em sua propriedade, ela revela o passo a passo. “Quando o mel está pronto, retiro os quadros e os coloco na centrífuga, que extrai o produto. Depois ele passa por uma peneira e cai em um recipiente grande, a partir de então coloco um plástico na superfície e deixo decantar por dois dias. Posteriormente, ele é armazenado em recipientes de vidro ou plástico transparente”, diz. Roseli Garcia de Melo é vendedora de uma loja em Três Rios e garante comercializar muito o produto. “Tem gente que faz uso diário, consome no café da manhã e tem as pessoas que só procuram por causa dos resfriados”, comenta. Atualmente, os apicultores da região se deparam com a constante perda de suas criações. Miguel explica que boa parte dos insetos morrem por conta das pragas, formigas, ácaros e outros fatores que muitas vezes não são identificados. “Tenho registrado uma perda de 30% a 40% das colmeias por ano. Tem 28 tipos de viroses no mundo e aqui no Brasil temos algumas que não conhecemos”, relata. O apicultor começou a fazer um monitoramento das suas caixas para controlar o índice de perda. De acordo com Nelson, o Censo 2006 avaliou 22 apicultores em Petrópolis e registrou 86% de perda. Dezoito apiários em Três Rios tiveram 89% de perda. Mas ainda assim, acredita que tanto em Petrópolis quanto em Três Rios existe potencial para crescer e melhorar a quantidade
de mel e própolis coletado. Além disso, o presidente acha que um bom treinamento de manejo, incentivo para compras de caixas, cera e colmeias novas para substituir os equipamentos inadequados podem reduzir em 50% esses números e ainda aumentar a produção em mais de 20% no estado, o que significaria um adicional de mel em torno de 90 mil quilos. “A apicultura está organizada na busca de capacitação, extensão e financiamento, pois só dessa forma será possível afastar o fantasma das abelhas que já colocou a ONU – Organização das Nações Unidas e outros órgãos em alerta”, explica.
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QUANTIDADE Uma caixa pode ter até 150 mil abelhas
Miguel acrescenta que, ultimamente, a apicultura é mais usada como uma atividade secundária ou terciária. “Eu não vivo dessa cultura, sobrevivo”, diz. O apicultor vende os produtos em Petrópolis, Areal e no Rio de Janeiro. “Tenho um custo em torno de R$ 3 por quilo do mel, que é vendido a R$ 12 no varejo e já embalado. Quem compra um balde com 30 quilos paga em média R$ 8 ”, afirma. Para lidar com este tipo de criação são necessários alguns cuidados específicos referentes ao manejo. Macacão, luvas, bota e um fumigador são indispensáveis. O fumigador faz com que as abelhas fiquem com medo de um incêndio e encham o papo de mel, com isso elas ficam mansas, pois não querem arriscar a perda do produto. Já as roupas protegem o apicultor de um possível ataque. Os artrópodes produzem também pólen (a parte proteica da alimentação da
FUMIGAÇÃO O fumigador deve ser usado corretamente para não apresentar riscos para as abelhas
abelha, rico em minerais e vitaminas), propólis (usado para soldar os favos na colmeia e considerado um antibiótico natural) e a geléia real (usada para alimentar a rainha além de ser um alimento concentrado, eficaz para o crescimento, a longe-
vidade e a reprodução humana). Segundo o otorrinolaringologista Rafael Padilha, o mel e o própolis têm, comprovadamente, propriedades anti-inflamatórias, anestésicas e antissépticas, o que leva a sua utilização em larga escala pela população. Mas Rafael chama a atenção para a automedicação. “Os pacientes devem estar atentos para o fato de que no caso da persistência dos sintomas, um médico deverá sempre ser consultado, pois o uso deste alimento não substitui o uso de medicações específicas como anti-inflamatórios não hormonais e antibióticos. É importante frisar, também, que o uso de qualquer produto não regulamentado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), pode acarretar problemas como alergia”, ressalta. Meliponicultura
A meliponicultura consiste na criação racional de abelhas sem ferrão. Alexandre esclarece que tem sido registrado um aumento promissor desta ati-
vidade no país nos últimos anos. “Esse crescimento em parte é atribuído aos esforços dos centros de pesquisa universitários e também pela facilidade de lidar com essas espécies”, informa. Entre as desvantagens, Alexandre lembra que a produção de mel na apicultura é maior, por um motivo simples: a população é mais numerosa. “Um enxame forte de abelha sem ferrão possui entre 2.000 e 4.000 indivíduos (dependendo da espécie) e um enxame da abelha africanizada pode ficar entre 100 mil e 150 mil”, compara. Porém, no que diz respeito à criação e aos cuidados, a meliponicultura apresenta vantagens. “Na apicultura é necessário o uso de equipamentos especiais e na meliponicultura tudo isso é dispensável”, defende. Segundo o meliponicultor Pedro Paulo Peixoto, o gosto do mel das abelhas sem ferrão é bastante diferente. “É um produto mais ácido, mais fino e mais gostoso e por isso o preço é oito vezes mais caro, além de ser raro”.
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Agora vocĂŞ sabe onde encontrar
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Especial dia das Crianças
CARREIRA
VOCAÇÃO PARA
A LITERATURA POR JOSÉ ÂNGELO COSTA
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Uma vida inteira dedicada às palavras. E não poderia ser diferente, pois a personagem principal desta história herdou do pai o dom de escrever, além do apreço pelas letras.
A
petropolitana professora de língua inglesa, escritora e jornalista Christiane Michelin é, antes de tudo, uma admiradora de roteiros turísticos e da boa gastronomia oferecidos na Região Serrana. Nascida em 1º de outubro de 1959, é formada em letras pela Universidade Católica de Petrópolis, cursou jornalismo na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, e ainda é membro da Academia Petropolitana de Letras e da Academia Brasileira de Poesia. É responsável também por colunas sobre turismo e gastronomia nos jornais da cidade. Filha única, herdou do pai, o poeta Fernando Augusto Magno,
a vocação para a literatura. Desde cedo, acompanhou “in loco” a rotina dele, que, após perder a visão, deixou de dar aulas de química e passou a redigir reminiscências e crônicas, posteriormente transformadas em livros, cujos lançamentos ocorriam através de reuniões feitas em casa. Durante 15 anos de sua vida, ela lecionou inglês e, mais tarde, começou a se envolver com a dança. “Eu tive uma academia, um espaço de arte e cultura. Tinha um grupo de sapateado e trabalhei coreografando, dançando e montando espetáculos”, revela. Contudo, a admiração pela escrita se tornou mais evidente e o destino tratou de en-
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CARREIRA
A mãe, Albenice, diz que, desde pequena a filha já se interessava pela literatura trelaçar os caminhos, quando a carreira literária falou mais alto. Atualmente, a jornalista é conhecida pela produção de importantes e inovadoras obras, tais como “O Abecedário do Viajante”, “O Abecedário do Casal”, “O Abecedário de Pais e Filhos”, “Convite de Casamento”, “Os Sete Pecados Revisitados”, “Convergência”, “A Ordem do Caos” e o mais recente e requisitado “Guia de Gastronomia, Hospedagem e Lazer”. Segundo ela, a proposta de lançar o guia nasceu há 12 anos, quando passou a fazer pesquisas sobre os lugares para os quais iria viajar, além de obter informações quanto à história e as características desses destinos. Ao regressar, descrevia pontos que achava interessantes. Alguns amigos e pessoas conhecidas costumavam lhe pedir dicas de roteiros turísticos fora do considerado tradicional. Foi assim que pensou em juntar todas as informações coletadas e escrever um livro focando o assunto. 26
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INOVAÇÃO O guia possui capas diferentes, cada uma com um ponto turístico de Petrópolis
Segundo a jornalista, a ideia de criar o guia surgiu devido à necessidade de Petrópolis, Teresópolis e Friburgo que não possuíam um material mais detalhado e preciso sobre dicas de roteiros turísticos Família
Albenice Magno é, afinal, mãe coruja, por ter tido apenas a Christiane. Acima de tudo, é uma incentivadora da carreira escolhida pela filha. Reside com o marido, Fernando Magno, em um apartamento na Rua 16 de Março, no Centro Histórico de Petrópolis. Como não poderia ser diferente, colabora para a divulgação dos projetos da escritora. Ela é a maior prova pelo interesse da filha pelas palavras desde muito cedo o que, consequentemente, motivou seu interesse pela literatura. A mãe ainda revela um fato curioso da infância. “Ela era pequena DIVULGAÇÃO
CHRISTIANE MICHELIN A escritora associa o dom da palavra ao prazer do bem viver
“Eu via que, aqui, a gente não possuía um guia de turismo. Tínhamos folhetos de propaganda, mas não uma coisa que você pudesse confiar. Aí, comecei a escrever no jornal sobre gastronomia e os restaurantes falaram que estava dando retorno esse enfoque diferente. Então, veio a ideia: ‘por que não juntar isso num livro sobre a nossa cidade, que eu gosto e curto?’. Foi assim que surgiu”, explica. A autora se considera uma eterna apaixonada pela palavra, assim como pelos prazeres da boa mesa e do bem viver. Tudo isso a inspirou na confecção desses livros, hoje tão recomendados e lidos por petropolitanos e turistas interessados em desfrutar das melhores opções de lazer que a região venha a oferecer. O que antes era apenas uma herança, acabou virando uma parceria com o pai, resultando, por exemplo, no lançamento de “Convergências”, quando Fernando ficou responsável pela prosa e ela pela poesia. Os seus trabalhos tornaram-se uma referência para a cidade e levaram a autora à Academia Petropolitana de Letras, onde foi convidada a ser presidente, entretanto, por estar empenhada em vários projetos, teve que recusar, ocupando a vice-presidência. Michelin também abordou a responsabilidade de ser uma das representantes da entidade. “Por eu ser mais nova e o pessoal ter uma bagagem supostamente muito maior, não esperava que fosse haver um interesse na minha participação de forma tão ativa”.
FAMÍLIA Albenice e Fernando Magno sempre apoiam os projetos da filha
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e todo sábado via ele [o pai] escrevendo. Então, pegou um ‘papelzinho’ e começou a fazer historinhas dizendo que ela também estava escrevendo um livro, porque observava aquela rotina do pai. Então, fez um livrinho e todo mundo ficou encantado”, relembra. Aos dez anos, contando com o incentivo dos pais, ficou em primeiro lugar e ainda ganhou um prêmio da prefeitura em um concurso intercolegial. Fã
A supervisora de vendas Cátia Rasina é uma das melhores amigas da jornalista e a classifica como a pessoa mais interessante, engraçada e culta que já conheceu, afinal, são quase 12 anos de amizade. Para ela, falar sobre a colega é uma tarefa das mais difíceis, pois considera-se a fã número um e admiradora de todos os projetos desenvolvidos pela escritora. A aproximação entre as duas ocorreu quando Cátia precisava de aulas de inglês, pois trabalha em uma empresa multinacional onde lida com pessoas de diferentes nacionalidades. Foi logo após
ROTEIROS TURÍSTICOS Outra paixão da jornalista é viajar
RECONHECIMENTO Com Aguinaldo Silva, no coquetel de lançamento da 12ª edição do guia
o lançamento do segundo livro do “Guia de Gastronomia, Hospedagem e Lazer” que o afeto aumentou. Christiane Michelin é madrinha do filho da executiva. “Ela começou me dando uma ajuda na comunicação. É uma pessoa do bem e te coloca para frente”, destaca. Rasina
também ressalta a relevância das obras da autora para o enriquecimento da cultura local. “O guia é uma ferramenta imprescindível que disponibiliza informações sobre a cidade. Contribui para o setor cultural, infinitamente em todos os aspectos”, finaliza.
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YOUFASHION
BÁSICAS SIM,
MAS COM ESTILO!
POR ALINE RICKLY
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Nada melhor para o dia a dia que uma boa calça jeans e uma blusa regata com uma cor sóbria e que não chame a atenção. Sem exageros e com o mínimo de conforto, é o que muitas mulheres procuram para a rotina e nem por isso deixam de estar estilosas e bem arrumadas.
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“Tudo depende da escolha certa da modelagem das roupas. Um look básico pode ir a qualquer ocasião hoje em dia. Por exemplo: um vestido preto básico, curto, com uma sapatilha preta de glitter daria um ótimo visual para um casamento. Um jeans skinny com blazer azul marinho, bata branca e uma sandália nude de salto também seria uma composição agradável para um jantar de negócios”, afirma. No leque de roupas básicas, Leticia cita algumas que não podem faltar no guarda-roupa feminino. “De uma forma bem direta são aquelas peças que nunca saem de moda e combinam com tudo. Podem ser chamadas, também, de peças curingas, pois parecem ficar ali esperando aquele dia em que não há tempo para escolher entre tantas opções e sabemos que elas combinam com tudo e servem para
CONFORTÁVEL Patrícia é adepta ao jeans, blusa básica e sapatilha
BÁSICO As regatas continuam na liderança como artigos mais procurados no verão
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ara ir trabalhar ou estudar, não é preciso investir tanto no look como para uma balada ou um encontro a dois. O que não quer dizer que, por este motivo, as mulheres vão sair por aí desarrumadas, pois existem inúmeras formas de compor estilos descolados que permitam sofisticação, mesmo de forma básica. Para garantir tal informação, a designer de moda Leticia Gabrich diz que o segredo é optar por peças clássicas, prontas para usar e que o estilo básico pode ir a qualquer lugar, desde que se tenha uma atenção especial na hora de compor o look. “É necessário também ter bastante atenção no modelo, pois é ele que vai dizer se você está ou não adequada à ocasião”, adverte. Quem concorda é a também designer de moda Helena Bonato.
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LUNA RIZZO
VISUAL MODERNO Com uma legging, tênis, blusa soltinha e uma maxi bolsa, Ingrid está pronta para trabalhar
qualquer oportunidade”, destaca. Entre esses modelos chaves, a designer cita o jeans, o cardigã, a saia de cintura alta preta, o blazer, o cachecol e acrescenta: “A camisa branca simples, da mesma forma que o jeans, é 100% versátil”. Sobre as cores, Gabrich sinaliza que na atualidade não há um padrão para os tons básicos. “A moda está cada vez mais democrática, mas para não ter erro, o branco, preto, marrom, vermelho, azul e suas variações são sempre certeiras”, garante. A estudante de publicidade Ingrid Rizzo é super antenada ao mundo fashion, mas na hora de ir trabalhar ou estudar ela prefere as roupas mais confortáveis e de acordo com o seu humor. “Geralmente decido o que vestir na hora de sair, mas procuro não fugir muito do que está em alta. Gosto das cores neutras como o cinza, preto e branco”, comenta. Sobre seu estilo ela confessa: “acho que tem muito a ver com a minha personalidade e por isso adoto vários no dia a dia. Às vezes misturo dois ou três de uma vez só. Apesar desse mix, acabo cedendo ao estilo
esportivo pelo conforto e, ao moderno, por querer estar sempre por dentro das últimas tendências”. No contexto da rotina, ela afirma que não podem faltar a calça jeans, legging preta e um casaco neutro. E não é só isso, por estar sempre ligada, faz um grande investimento nos acessórios. “Para compor a roupa neutra utilizo cintos, maxi bolsas ou lenços”, ressalta. Patrícia de Sá é auxiliar administrativa e gosta muito de estar à vontade. “Para o trabalho, o melhor é o jeans, blusa básica e a sapatilha”, conta. E não é só na labuta que ela curte os estilos confortáveis. “Fora dela, a legging tem sido minha preferida”, destaca. Patrícia também é adepta a cores como branco, preto, cinza e o bege, mas para as sapatilhas ela prefere as coloridas. Gerente de uma loja tradicional em moda básica em Petrópolis, Tamiris Portugal explica que a procura pelo preto e branco é normal, assim como o jeans, mas que, curiosamente, as peças coloridas estão ganhando destaque ultimamente. “O cliente agora procura ainda mais o que está na moda”, finaliza.
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INSPIRAÇÃO
IDEALISTA INTELECTUAL POR ALINE RICKLY
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Esta é uma das melhores definições para um homem que ao longo da vida se dedicou aos seus ideais. Um político que lutou por seus objetivos, fundou inúmeros partidos, entre eles o PHS (Partido Humanista da Solidariedade), o mais importante de sua vida. Um cidadão que lutou por seus direitos e pelos da comunidade. Avô, pai, irmão e amigo que serve de exemplo para a sociedade.
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EZIO PHILOT
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INSPIRAÇÃO
E
m tempos que os ideais se perdem com facilidade, é notável e admirável encontrar figuras como a de Philippe Guédon. Um idealista, que não se vendeu por interesse, nem por dinheiro, seguiu seus objetivos desde o início, sem deixar desvirtuar o caminho que se propôs seguir na vida e na política. Para contar toda a sua trajetória seria necessário fazer como o jornalista Francisco Luiz Noel, que escreveu um livro com sua biografia assim como sua militância em diversas tentativas de montar um partido e o surgimento do PHS. Guédon nasceu na França em 23 de julho de 1932. Na época, o pai, Roger Guédon, trabalhava em uma joalheria perto da famosa igreja de La Madeleine. Em 1934, Roger foi convidado por um cliente, Gaston Roussel, para substituir o gerente de seu laboratório na Romênia. Mas, a proposta acabou não indo à diante, o que o deixou muito desapontado. Um outro convite surgiu depois, mas para o Brasil. “Naquela época era muito longe. A viagem de navio levava duas semanas e meia. Avião era uma vez por semana e demorava 25 horas”, recorda Guédon. Ao chegar ao país, como eram crianças, ele e o irmão, Michel Guédon, se acostumaram rapidamente. “Logo depois da nossa vinda, começou a Segunda Guerra Mundial, que cessou todo o apoio da França com o laboratório. Assim, Roussel pediu para que meu pai voltasse ao país. Lembro-me de ter estado lá [França] em 1947 e depois em 1950 quando tínhamos a pretensão de ficar para sempre”, relembra. Neste período, Philippe estava terminando o chamado “ensino clássico” e logo depois entrou para uma faculdade em Paris que, segundo ele, equivale ao curso de administração no Brasil. “Quando me formei, tive que ingressar no serviço militar e logo surgiram complicações no Marrocos e na Argélia”. Por fim, terminou como sargento servindo por dois anos e meio. Após a saída do serviço militar, ele voltou ao Brasil em 1957. “Comecei a trabalhar em uma indústria farmacêutica e morava em Ipanema, no Rio de Janeiro”, diz. Já em 1958 se casou com Lucia Arantes Guédon. Nesta ocasião, começaram os primeiros passos rumo à política quando assumiu a presidência da Abif (Associa32
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INFÂNCIA Em 1938, a família Guédon já residia no Brasil
ção Brasileira da Indústria Farmacêutica). “Assim, comecei a discutir assuntos com o governo”, afirma. Em 1974, o controle acionário do laboratório foi vendido, o que deixou Guédon na dúvida se voltava para a França ou ficava no Brasil. “Resolvi ficar por gosto. Papai tinha uma casa no Independência, em Petrópolis, então eu já conhecia a cidade e resolvemos nos mudar para Itaipava”. De acordo com ele, na época não tinha como viver no bairro pela distância com o centro da cidade. “Itaipava estava começando a crescer ainda, tudo tínhamos que fazer no centro de Petrópolis, então, decidimos comprar uma casa na rua Rockfeller e depois fomos para a avenida Portugal”, lembra. Mesmo mudando, foi em Itaipava que viu chance de crescimento e montou uma loja de material de construção chamada Gabinal, nome do local onde havia comprado sua primeira casa em Jacarepaguá anos antes. O irmão da Lucia, Reginaldo Areas Arantes, foi ajudá-lo e iam, rotineiramente, em uma Brasília para o trabalho. Mas, certo dia, bateram de frente com um caminhão de pedra. “Infelizmente meu cunhado faleceu, o que me deixou desmotivado em relação ao negócio. A história da loja perdeu o sentido”, explica. Curiosamente, Philippe é responsável também pela construção de um dos principais shoppings da região, o “Shopping Itaipava”. “Neste período, comecei a trabalhar com medidas comunitárias, com
MATRIMÔNIO Com seis meses de namoro Guédon e Lúcia se casaram
Em 1988, Guédon foi eleito vereador de Petrópolis no governo de Paulo Gratacós.
EXTERIOR Quando terminou a faculdade, Philippe se viu obrigado a enfrentar o serviço militar na França
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FAMÍLIA Pai de cinco meninas e dois meninos, ele tem orgulho dos seus filhos
CASAL Lucia é companheira até nos assuntos políticos
a Associação de Moradores de Itaipava e Adjacências, onde já era o presidente. Fizemos muito pela comunidade na época”, rememora dizendo que, naquele tempo, havia poucas associações na cidade. Segundo o militante, “uma vez que se engaja na vida partidária, se soubermos somar as experiências, somos ricos. Acabou que tudo desembocava no governo e fomos levados a participar efetivamente”. Na época, dirigia a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas de Petrópolis). Posteriormente, “me meti na aventura do PSC (Partido Social Cristão). Guédon viajou para Caracas, na Venezuela, para fazer um curso de organizações políticas. “Foi um aprendizado de política de alta qualidade”, garante. Depois de realizar diversos cursos pelo PSC, os correligionários do partido firmaram a disposição em lançar o baiano Vasco Neto à Presidência da República, porém o presidente do PSC na época, Victor Nósseis, resolveu apoiar o candidato Fernando Collor de Mello para o descontentamento de Guédon. “Naquele tempo, era cheio de ideais e preferi sair fora. Tive, então, a ideia de fazer meu próprio partido”, diz. Inspirado nos conceitos de Fernando Bastos de Ávila, criou, a princípio, o PSL (Partido do Solidarismo Libertador). “Mas não chegamos lá, não conseguimos fazer. Resolvemos começar outra vez e criamos o PSN (Partido do Solidarismo Nacional). Conseguimos, após uma longa caminhada, o registro definitivo concedido pelo TSE
dinheiro. Isso é só o que interessa. Ouso esperar que o PHS seja o primeiro partido a reagir e colocar para fora essa turma”, anseia. Nos dias atuais, o partido possui 141.536 filiados, de acordo com o TSE. No início, Guédon foi presidente na fase provisória e o primeiro na definitiva. “Como considero importante o repasse do cargo, acabei saindo da presidência e ocupando outros cargos. “Hoje não tenho nenhum, por motivos de saúde”, esclarece.
Philippe é o fundador do Partido Humanista da Solidariedade, inspirado nos ideais de Fernando Bastos de Ávila (Tribunal Superior Eleitoral) em 1997. Depois, por diversos fatores, o PSN virou o PHS. “Ele nasceu na Avenida Portugal no início de 2000. É pequeno, está crescendo e caminhando. Após todas as tentativas, ele assinala que criar partido é caro e não é fácil como muitos dizem. Há diversas intervenções, virou um negócio para ganhar
Carreira política
Na sua militância política, chegou a participar do Campe (Conselho de Associação de Moradores de Petrópolis) e do Fampe (Federação das Associações de Moradores
A FAMÍLIA CRESCEU Nesta foto ao lado de filhos, genros, noras e netos revistaon.com.br
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INSPIRAÇÃO
DISCURSO Ele foi vereador em 1988 e também disputou cargos para prefeito e governador
HONRA AO MÉRITO Em 2010 foi condecorado pelo Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos Humanos
de Petrópolis). “Ambas foram enfraquecidas pelo uso como ferramenta partidária. Pessoalmente, acho um grande erro, procuro me opor diante a isso”, lamentou. Em 1988 foi eleito vereador de Petrópolis no governo de Paulo Gratacós. Deste tempo, se recorda da criação do Fórum Popular e o início das discussões sobre o Plano Diretor. “Este plano é a base. Não há como uma cidade viver sem planejamento, ou melhor, há. Petrópolis vive e, por isso, está desse jeito”, lastimou. Para ele, a organização e a participação da população são essenciais. Ele ainda rememora as reuniões aos sábados, as brigas e conquistas. “De um lado o governo, do outro, a comunidade. Brigamos muito, inclusive no Ministério Público. Eu era o único da oposição na Câmara. Não concordava com o projeto que tinha que ser feito sobre o Plano Diretor. Discuti gramática, latim e ele foi bloqueado. Assim, foi decidido que seria feito um projeto principal e a Lei do Uso do Solo seria discutido”, relembra. Sobre o resultado, conclui: “A lei não saiu, mas o plano sim”. Depois disso, Guédon se candidatou a prefeito da cidade, mas não obteve êxito. Também foi candidato a vereador novamente, mas não foi eleito. Ele ainda disputou o cargo de governador com “verba zero”, enfatizou. Guédon participou de diversas secreta-
rias, como a Comdep (Companhia Municipal de Desenvolvimento de Petrópolis), CPT (Companhia Petropolitana de Trânsito), foi coordenador do Orçamento Participativo, ajudou a criar o ComCidade (Conselho Municipal da Cidade), participou da criação do Polo de Alta Tecnologia de Petrópolis, de onde saiu o Tecnopolo e o LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica). “Fizemos, também, o Condomínio Industrial Oswaldo Cruz, montamos a Câmara de Entidades Petropolitanas que conseguiu trazer o Batalhão de Polícia Militar, entre muitas conquistas”, relatou. A amiga Gilda Jorge diz que conhece Guédon desde 1986, quando participavam, juntos, da luta comunitária. “Ele é um cidadão perfeito na concepção da palavra. Não é só aquele que vive em sociedade, mas o que participa, têm direitos e deveres. Ainda hoje é presença constante nos movimentos sociais do município”, destaca ela que participou da vida política partidária com ele. “Pude acompanhar as conquistas do PHS Brasil afora”, enfatiza.
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Família
Guédon conta que, ao casar com Lucia, planejaram 12 filhos, mas tiveram apenas sete. Atualmente, ele tem sete genros e sete noras, 12 netos e a terceira bisneta a caminho.
Em 2004, Philippe passou por dois infartos e ficou entre a vida e a morte. “Envelhecer é bom, não tenho mais opções, porque não posso ter perspectivas”, conclui. Segundo a esposa, ele brinca que “está jogando a prorrogação”. Lucia acrescenta que Guédon foi um rio que passou na sua vida e ela deixou levar. Em comum, têm várias particularidades, como o fato de serem vascaínos. “Quando casamos, concordamos que cebola e gatos nunca entrariam em casa. A cebola realmente não entrou, mas os gatos entraram porque eu adoro e ele acabou se acostumando”, comenta. Sobre o marido, conta que ele está sempre disponível para resolver problemas, gosta de reunir a família, é um excelente pai. Além disso, ela afirma que ele fabrica o tempo e que desenha muito bem. “A política passou a ser o hobby, mas Philippe já fez várias histórias em quadrinhos, praticou judô [é faixa preta] e gostava muito de nadar. Agora só lê sobre política e as missões jesuíticas [uma de suas paixões]”, denuncia. A filha Silvia Guedon recorda de passagens interessantes da vida. “Quando éramos jovens, após o almoço de domingo, papai costumava nos perguntar as capitais dos países e, quando não sabíamos, ele dizia que o ensino no Brasil era fraco, que nossa cultura geral também estava ruim e tínhamos que estudar até saber tudo”, relembra. O filho Rogério elogia e garante que o pai é uma pessoa inigualável. “Amigo, generoso, grandioso, gênio, ético, reserva de moral e de conhecimento. É meu herói. Como político, um visionário e um idealista, como pouquíssimos”, argumenta. A neta, Renata Pizzi, diz que ele é muito especial. “Uma pessoa única e dotada de um imenso caráter, que sempre transmitiu valores para minha vida. Na minha infância foi um pai, sempre se mostrou presente em todos os momentos”, enaltece. Já para o irmão Michel Guédon, 82, Philippe sempre foi dedicado aos estudos e tinha muitos amigos. “Era um feito entrar para um curso superior renomado em Paris e ele conseguiu. Tinha uma cultura literária que eu estava longe de ter. Eu tenho muita admiração por ele, que teve uma vida cheia e acertou uma família muito estável”, encerra.
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EU SEI FAZER
INÚMERAS
FACES POR ALINE RICKLY
Ele é pintor, ator de teatro e televisão, diretor, figurinista, autor de enredos e cenógrafo. Ao longo da carreira participou de duas novelas e encenou mais de 40 peças. Além disso, foi vice-presidente de carnaval da escola de samba Porto da Pedra. Um verdadeiro artista no sentido literal e global da palavra.
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ascido em 1948, o petropolitano Arthur José Varella Guedes é artista desde a infância, quando a principal paixão era pelo desenho e pelas pinturas. Aos 15 anos, o interesse pelas telas aumentou e o levou a aulas com um pintor espanhol chamado Jordi Massansalvador. “Fiquei deslumbrado e ele virou uma espécie de professor”, disse. Neste período, Arthur não gostava de expor seus trabalhos e, então, dava de presente para a mãe e para as tias. Com o passar do tempo, começou a vender e o resultado foi um grande número de clientes. Apesar da qualidade do trabalho, foi aos 40 anos a primeira exposição. Mas quem acha que a vida deste artista é composta apenas de quadros está enganado, pois esta é uma pequena introdução do que vem adiante. Arthur se recorda da época da escola, quando o professor Maurício Cardoso começou a recolher alunos para criar um grupo de atores na cidade. Inicialmente chamado “Estudantes unidos” e, posteriormente, “Caleidoscópio”. “Ser ator não me passava pela cabeça, embora minha mãe contasse que, aos sete, oito anos, eu andava disfarçado em casa achando que ninguém ia me reconhecer. Mas, quando o Maurício me chamou, eu gostava mesmo era de arrumar cenário”, revelou. Porém, as surprerevistaon.com.br
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O HOMEM DO PRINCÍPIO AO FIM Nesta foto, de baixo para cima, Varella com o amigo Calau Lopes, Andréa Dutra e Lu de Oliveira
A LIÇÃO Ao lado da filha em uma das peças mais importantes da carreira de Arthur
sas começaram quando um ator faltou para a peça e o diretor escolheu o Arthur para substituí-lo. “Desde esse dia nunca mais saí do palco”, confessou. Em 1979, junto com o amigo Calau Lopes, morto em 2010, montou “O Gambiarra Companhia de Teatro”. “Muita gente se interessava por teatro aqui. Hoje a qualidade não é a mesma. Na tentativa de ganhar dinheiro o nível não fica legal”, alerta. Em cima do palco a sensação não poderia ser diferente, como explica Varella, re38
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ferindo-se ao friozinho no estômago, atribuído por ele ao glamour e aos aplausos. “O teatro é uma coisa impressionante, uma descoberta de outro universo dentro de você. É onde buscamos as características do personagem. A inveja, o humor, o ódio. Aprendemos a conhecer os labirintos do interior e as horas certas para liberar cada sentimento”, afirma ressaltando que fazer humor não é uma das tarefas mais fáceis. O ator conta que acidentes acontecem até no teatro. “Já afundei o pé em um prego em uma parte do palco e tive que continuar a peça como se nada tivesse acontecido. Isso, sem mencionar quando o colega esquece o texto e você tem que ajudá-lo a lembrar ou quando uma parte do cenário quebra”, conta. Apesar dos imprevistos, Arthur destaca que é isso que faz o teatro ser diferente. “É ali ao vivo”, completa. Ele confessa que já teve “branco” durante o espetáculo e que foi preciso improvisar. “As peças demandam uma técnica fantástica”, destaca. Varella assume que tem facilidade para decorar textos. Exemplo disso? As atuações em monólogos que duraram mais de 50 minutos. Adepto do teatro tradicional, ele não utiliza tecnologias como o ponto eletrônico durante a execução do espetáculo. A peça preferida do ator é “A lição”. “Gosto porque foi muito importante na minha carreira. Com ela ganhamos o festival estadual de teatro e fomos para Recife participar de um encontro nacional, onde as críticas analisavam as encenações. Assim, fomos considerados um dos melhores espetáculos”, diz orgulhoso. Entre outras peças interpretadas, cita: “O encontro”, “Escorialdo” e “O homem do princípio ao fim”. Durante a carreira, o ator petropolitano encenou espetáculos por diversos estados do país: Rio de Janeiro, Recife e São Paulo. O mais recente foi em Minas Gerais com a Orquestra Sinfônica de Ouro Preto. Na TV, teve a oportunidade de participar de duas novelas. “Uma rosa com amor” e “Os ossos do barão”. “Contracenar com o Paulo Gracindo foi um dos maiores aprendizados da televisão. O contato e o convívio tornaram uma experiência rica e inesquecível”, salientou.
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EU SEI FAZER
COMPANHEIRISMO Casados há 27 anos, Marilízia é fã do marido e dá forças para os projetos dele
“O teatro é uma coisa impressionante, uma descoberta de outro universo dentro de você”, Arthur Varella
Carreira carnavalesca
Em 1970, Arthur foi convidado para escrever um enredo sobre uma escola de samba em Petrópolis. No ano seguinte, pediram também que ele fizesse desenhos e figurino. Foi assim que ganhou, durante 13 anos, campeonatos de desfiles de carnaval na cidade. “Quando vi já estava mergulhado nesse universo”, contou. Em 2000, a escola de samba carioca Porto da Pedra resolveu usar Petrópolis como enredo para levar à Marquês de Sapucaí. “Pediram que eu fizesse um pré-enredo. Depois, com o apoio da prefeitura, o presidente da escola me solicitou o enredo oficial e a responsabilidade foi bem maior”, disse. No ano seguinte, o presidente o chamou para assumir a vice-presidência de carnaval. “Chegou a um ponto que eu tive que escolher entre a minha vida em Petrópolis ou a escola de samba; optei pela minha cidade natal”, afirmou. Bastidores
No dia a dia alguns detalhes se sobressaem. Um deles é que, em casa, ele possui um espaço para inspiração. É o local onde
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PERSONAGENS As máscaras eram utilizadas para definir a fisionomia do ator
PAIXÃO Os quadros fixados na parede demonstram o amor pela pintura
ficam seus figurinos, máscaras e quadros. O ator se casou pela primeira vez aos 20 anos, o que resultou no nascimento da sua única filha, Claudia Varella Guedes Montenegro. “Meu pai sempre foi envolvido com arte e, desde sempre, me lembro dele às voltas com a cultura, tanto com o teatro, quanto com a música e
a pintura”, contou. Ela chegou a contracenar com o pai na primeira montagem da peça “A lição” e diz que era muito bom estar no palco ao lado dele, embora a exigência fosse maior. A filha coruja acrescenta que até hoje o pai lhe passa muita firmeza nos posicionamentos. “Não se atém ao texto,
improvisa, é solto, como se estivesse em casa. Sinto saudades de quando contracenava com ele”, disse. A esposa, do segundo casamento, com quem Arthur está há 27 anos, também não economiza elogios. “Falar sobre o Arthur é fácil e difícil ao mesmo tempo. É um homem múltiplo, plural, está sempre com a visão mais à frente. O talento brota dos poros, a capacidade de absorver conhecimento é imensa, é um artista na maior concepção da palavra. E eu tenho o privilégio de conviver com todo esse potencial. É meu príncipe”, ressaltou Marilízia de Azevedo Varella Guedes. O amigo e maestro Ernani Aguiar considera Arthur um verdadeiro irmão. “O conheço desde 1966. É um grande artista, pintor de primeira linha. Tem capacidade para desenhar cena, montar figurino e dirigir peça. É um artista completo. O que mais admiro nele é o idealismo desinteressado e sua generosidade”, elogia. Para encerrar, o próprio Arthur se define em palavras: “Sou, em essência, um ator”.
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SAÚDE
Força de vontade e adrenalina nas academias POR FERNANDA TAVARES
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Subir e descer escadas, varrer a casa, caminhar até o supermercado. Todas essas atividades são fáceis para os que possuem menos de 50 anos. Agora, o que fazer quando a terceira idade chegar? Ficar em casa? Fazer tricô? Nada disso... a “Melhor Idade” está invadindo as academias à procura de bem-estar e disposição.
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busca pela melhoria na qualidade de vida passou a ser uma necessidade para as pessoas de uma maneira geral. Sedentários, obesos, idosos ou aqueles que só fazem exercícios físicos apenas nos fins de semana perceberam que, para combater o stress diário, prevenir a osteoporose e o desgaste muscular, só há uma saída: procurar o acompanhamento de um profissional de educação física e entrar em uma rotina diferente. Entre a casa e as atividades extras, tem que sobrar um tempinho para a academia. “Deixar o sedentarismo de lado é o primeiro passo em busca de uma velhice saudável. Estar na terceira idade não é sinônimo de incapacidade, pelo contrário, significa estar com a mente aberta para 40
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novas experiências. Acredito que para os que possuem qualquer patologia, principalmente cardíaca, a atividade física é um remédio natural, sem contraindicação. É um recurso para os que buscam o fortalecimento ósseo”, acredita Maurício Cavalcante da Silva, geriatra. Não é apenas no combate ao cansaço diário que os exercícios têm boa aceitação. Um dos pontos altos da procura pela academia são os médicos, que têm aconselhado os idosos a procurarem a musculação. O objetivo é afastar a indisposição, combater e prevenir algumas doenças e tornar mais fáceis e prazerosas atividades comuns como subir e descer escadas, fazer caminhadas, viajar e dirigir. “A atividade física, em geral, deve ser vista como um meio de se obter uma
Para combater o stress diário, prevenir a osteoporose e o desgaste muscular, só há uma saída: procurar o acompanhamento de um profissional de educação física e entrar em uma rotina diferente melhor qualidade de vida. Uma alimentação balanceada, um bom relacionamento familiar e a interação com os amigos, também fazem parte desse processo. O importante é que os exercícios melhoram
Emília Baffa, de 75 anos, sentiu melhoras na qualidade de vida depois de entrar para a academia o funcionamento dos músculos e fortalecem os ossos. Existem pesquisas que revelam que a expectativa de vida vem obtendo um acréscimo devido ao número de idosos que frequentam as academias. Ter um envelhecimento saudável, melhora a vida como um todo. Bons exemplos são a diminuição na pressão arterial, a melhoria na postura, a diminuição de gordura e do ácido úrico. Além disso, atividades corriqueiras ficam mais fáceis de serem feitas como caminhadas e serviços domésticos”, afirma o professor de educação física, Leonardo Lima e Silva. A autoestima também recebe melhoras com a musculação. “Hoje, sou muito ligada aos exercícios. Não posso ficar sem fazer, senão, voltam as dores que sinto no braço. Minha qualidade de vida deu um salto, depois que entrei na academia. Me sinto mais jovem e disposta! O ambiente é ótimo, nos anima”, confessa Emília Baffa, 75 anos. De acordo com Leonardo, a muscula-
COMPANHEIRISMO O professor Leonardo felicita a aluna Emília pelo desempenho durante os exercícios
APARELHOS Acompanhamento durante os exercícios é de extrema importância
ção tem outros benefícios para a terceira idade. “Esse tipo de atividade ajuda não apenas no equilíbrio, que é muito importante para essa faixa etária, já que é nela que ocorrem mais quedas, mas percebemos uma melhora muscular, articular e óssea. Principalmente óssea, já que é nessa fase da vida que podemos ser acometidos pela osteoporose, uma doença que
fragiliza os ossos. E, é claro que, cada vez mais, os idosos procuram ter uma vida independente, sem precisar da ajuda dos outros. Com os músculos fortalecidos e o bem-estar mental, é fácil conquistar esse benefício”, garante o educador físico. A presença da chamada “Melhor Idade” nas academias acaba com o mito de que a musculação é uma prática dos “fortões”, que buscam o corpo sarado. De acordo com a Fundação Nacional de Osteoporose (National Ostoporosis Foundation), uma pesquisa realizada em 2010, revelou que a doença do novo milênio é a osteoporose. Os dados ainda mostram que a melhor forma de prevenção da doença é a prática de atividades físicas, principalmente a musculação. A fundação afirma que alguns casos foram revertidos devido à interação com a atividade física. Por isso, é crescente o número de idosos que procuram as academias a partir da orientação médica. Para os que buscam contornar a doença, o ideal é ter acompanhamento nos exercícios localizados com cargas, geralmente chamados de exercícios resistidos. No caso específico dessas atividades, a promoção da saúde pode ser observada também nos casos de osteopenia e sarcopenia. A primeira diminui a densidade revistaon.com.br
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SAÚDE
AULA PRÁTICA A turma se exercita na água
MUSCULAÇÃO O coordenador Giuliano trabalha como personal 42
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mineral dos ossos causando fragilidade e dores, sendo considerada a percussora da osteoporose. Os médicos alertam que a osteopenia pode ser causada pela alimentação, com pouca ingestão de cálcio e baixos níveis de vitamina D. Os exercícios musculares atuam no fortalecimento da estrutura óssea. Já a sarcopenia é constatada a partir da perda significativa da massa muscular. O mal faz com que o idoso se torne mais frágil e perca a mobilidade. A doença também aumenta a incapacidade funcional e a dependência. Essa perda geralmente gera custos econômicos e sociais, já que os muitos acometidos pela sarcopenia precisam de ajuda nas atividades diárias. Mas, para entrar de cabeça no mundo das atividades físicas, é preciso atenção. Antes de praticar qualquer exercício, é necessário passar por exames físicos e uma análise criteriosa do seu clínico geral ou geriatra. “É importante um exame cardiológico e de resistência, sempre orientados pelo médico pessoal. Geralmente, o profissional analisa as condições físicas do paciente e passa para o professor de educação física, para que ele fique ciente das condições metabólicas do aluno. É claro que, na academia,
o idoso deve passar por uma avaliação. Essa etapa é necessária para que os avaliadores possam prescrever a série de atividades que podem ser feitas por aquela pessoa, como quais aparelhos ele pode utilizar e quantidade de peso que pode sustentar. Todos podem fazer musculação, desde que sejam orientados por um profissional de educação física”, alerta o coordenador do setor de musculação de uma academia petropolitana, Giuliano Braz Scaldaferri. Os exercícios podem ser feitos sem restrições. “Com os exames médicos ‘ok’ e com a ficha de exercícios da academia, o idoso pode praticar a atividade todos os dias, mas, para haver equilíbrio durante o treino, o ideal é que ele esteja sempre acompanhado por um professor”, ensina o coordenador. Para a fisioterapeuta Fernanda Rosendo, é importante que os movimentos sejam articulados. “O interessante é que o profissional que vai acompanhar o idoso nos exercícios não esqueça que as articulações não devem ser muito exigidas e os exercícios devem ser feitos em séries mais curtas. Para quem nunca fez nenhum tipo de atividade, o ideal é começar pela hidroginástica, que é um exercício de baixo impacto”, ensina. A melhora é sentida até pelas pessoas que fazem atividades mais leves. “Estou há um tempo parado e sinto falta. A musculação e a natação me ajudaram a manter uma rotina saudável e fiquei mais ativo depois de praticar essas atividades. Quando parei de fazer musculação, senti, já nos primeiros dias, o quanto é importante manter a rotina. O corpo pede isso. Espero voltar em breve”, afirma Estevão Rabelais, 66. Além da musculação, outros exercícios podem ser feitos pela terceira idade. “Nessa faixa etária, temos muitos alunos matriculados também no treinamento aeróbico, alongamento e hidroginástica. Muitos procuram a academia por indicação médica, mas outros vêm também a partir da orientação dos amigos, que sentem a melhora na qualidade de vida. Qualquer pessoa pode e deve praticar exercícios, desde que, antes, faça os exames e tenha a orientação adequada para cada prática”, conclui o professor Leonardo.
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COTIDIANO
COMÉRCIO
ILEGAL
POR RAFAEL MORAES
Você já parou para pensar quanto vale o seu voto? Essa é a pergunta que todos os eleitores deveriam fazer quando lhes ofertassem R$ 40, R$ 50, gasolina, cargo público ou qualquer outra regalia em troca do “confirma” no dia 07 de outubro. A Justiça Eleitoral possui canais para receber denúncias, mas ainda precisa da ajuda da população, que, em parte, prefere o dinheiro a denunciar os corruptos.
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A despesa com a corrupção pode ter chegado à R$ 85 milhões em 2010 no Brasil ARQUIVO PESSOAL
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país desvia entre 1,38% a 2,3% do PIB (Produto Interno Bruto) para custear os rombos causados pela corrupção. Esse efeito em cadeia começa com o eleitor que se vende nas eleições e colabora com candidatos corruptos. “Empregado por candidato, passível de forte punição legal, mas, principalmente, esperado por parcelas expressivas do eleitorado. É cultural e, assim, a revolução começa pela educação política”, define e avalia o cientista político Humberto Dantas. Mas, afinal, a que se deve esse comportamento dos brasileiros? À necessidade, falta de informação? “Não é a necessidade que faz as pessoas venderem seus votos. Isso é lenda! Tampouco um desvio de caráter ou coisas do gênero. Em minha opinião, esse tipo de ‘excrescência’ é fruto de dois fatores que, aliados, destroem princípios básicos da democracia e produzem os tétricos resultados eleitorais no Brasil: a falta de acesso à informação [e a ausência de desejo e interesse em detê-la] e a absoluta falta de educação [em amplo sentido]”, opina o articulista político Helder Caldeira, autor do livro “A primeira presidenta”. Ainda assim é preciso pensar que o comércio de votos não se restringe ao dinheiro, como explica Humberto. “Mas pense no caso de um candidato que lhe oferece uma cesta básica. Você aceitaria? Com um bom emprego, uma boa renda,
HUMBERTO DANTAS Para o cientista político, vivemos uma crise moral
morando e se alimentando, você se sentiria ofendido. Mas e se o candidato disser: ‘vote em mim. Se eu for eleito você terá um belo emprego na prefeitura’. Você aceita? Pode ser que sim. Isso é compra de voto: promessa futura em troca
de seu apoio. E isso você encontra em toda a sociedade, apesar de ser mais barato comprar quem precisa mais e tem demandas mais simples”, exemplifica o cientista político. Com todos esses fatos, como encontrar a solução? Profissionais da Justiça Eleitoral de Três Rios fazem visitas em escolas da cidade para conscientizar os jovens, futuros eleitores, que mesmo sem votar, podem influenciar os pais em casa. Para Helder Caldeira, este é mais que um começo, “é uma ação efetiva. A Justiça Eleitoral de Três Rios dá um exemplo extraordinário. Porque a escola é o ponto nevrálgico da sedimentação da sociedade”. Corroborando com essa ideia, Humberto Dantas também aposta na educação política suprapartidária. “Não gosto da balela: mas o sujeito não tem nem o que comer! Isso é fruto da má política. Mas ele não sabe nem escrever! Isso é fruto da má política. A política bem feita acerta a vida do povo e isso só acontece se tivermos o bom cidadão”, apoia a ideia ao completar que entramos em um círculo vicioso em que a educação e a ética precisam quebrar isso. “Existem bons exemplos desse movimento na sociedade, falta ganhar força”, conclui. Coibição eleitoral
“É um pouco triste saber que o resultado não virá agora ou em poucos anos.
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JUÍZA Mara Grumbach é titular da 174ª zona eleitoral, responsável por Areal e Três Rios
oferta não seja aceita’ a reclusão é de até quatro anos e pagamento de cinco a 15 dias-multa”, completa. A juíza Mara Grumbach Mendonça explica que a principal estratégia da Justiça Eleitoral para coibir a compra de votos é a fiscalização e a 174ª zona eleitoral, a qual é responsável, cuida dos municípios de Areal e Três Rios. “A nossa equipe de fiscalização acompanha, diariamente, a conduta dos candidatos a vereador e prefeito, fazendo ronda pela cidade e apurando as denúncias que chegam”, ressalta. Ela também esclarece que toda notícia de captação ilícita de apoio é autuada e são realizadas diligências para se apurarem os fatos. “Caso não se confirme a infração, após a oitiva do Ministério Público, os autos são arquivados e, em caso contrário, os autos são remetidos ao MP para a propositura da ação cabível”, completa. “Vivemos uma crise moral e esse problema é tenso demais para o desenvolvimento da democracia”, disse o cientista Humberto Dantas sobre os candidatos que aproveitam das mazelas da população e usam o poder econômico para se elegerem. Para identificar esses corruptos, o site do TSE (tse.jus.br) traz informações sobre os pretendentes aos cargos públicos, assim como o portal do TER-RJ (Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro) tem um canal [tre-rj.gov.br] para denúncias de propaganda eleitoral. Afinal, o trabalho já foi iniciado, mas a participação da população é muito importante para a manutenção da democracia, já que, quase sempre, quem não tem boas ideias e não é honesto, se elege.
A multa para quem for pego em boca de urna pode chegar à R$ 15.961,50 Mas é preciso começar a dar esses passos”, disse Helder sobre o processo de conscientização dos jovens. Triste é, mas enquanto este quadro não é revertido, a Justiça Eleitoral trabalha de forma mais enérgica para coibir os infratores, seja através de denúncias de compra de votos, como boca de urna. De acordo com o juiz da 28ª zona eleitoral Luiz Fernando Ferreira de Souza Filho, quem fizer a arregimentação de eleitor ou a propaganda de boca de urna estará sujeito à detenção que varia de seis meses a um ano, com alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo período. A multa pode chegar a R$ 15.961,50. O magistrado ainda esclarece sobre a punição dos candidatos envolvidos nestas transgressões. “Em relação a punições a candidatos, podemos afirmar que a mais importante é aplicação de multa por propaganda eleitoral irregular. A resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) 23.370/2011 tem vários dispositivos regulamentando a propaganda, tais como publicidade na internet, em outdoor, em rádios, TV e impressos, que, se violados, ensejam aplicação de multa. O artigo 299 do código eleitoral diz que ‘dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou prometer abstenção, ainda que a revistaon.com.br
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PAPO DE COLECIONADOR
NA PONTA DO LÁPIS POR JOSÉ ÂNGELO COSTA
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O lápis é, sem dúvida nenhuma, o mais universal e versátil instrumento utilizado na escrita. É um produto de longa durabilidade e geralmente compõe o chamado kit escolar, junto com a borracha, a caneta, a régua, o transferidor e o apontador. Mas o que, para muitos, é simplesmente um objeto, para outros pode representar uma paixão, um culto.
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o acompanhar as edições da Revista On Petrópolis, o leitor já teve a oportunidade de conhecer pessoas dispostas a colecionar todo o tipo de objeto, principalmente, carros antigos, motocicletas, miniaturas, objetos utilizados na época da Segunda Guerra Mundial e até rolhas de vinhos. Desta vez, a novidade fica por conta de uma coleção de lápis organizada pela petropolitana Mariana Faber, 26. Engenheira de Bioprocessos e mestre em ciências, formada pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ela reside e trabalha atualmente na capital fluminense como pesquisadora no NBPD (Núcleo de Biocombustíveis, de Petróleo e seus Derivados). Com pouco tempo disponível, devido aos seus compromissos profissionais, regressa para a casa dos pais na 46
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A irmã caçula, Julia, assegura que ela e os demais parentes estão tão envolvidos com o hobby da colecionadora que o assunto lápis já se tornou normal em casa Estrada União e Indústria, em Corrêas, apenas nos fins de semana, onde mantém preservado o seu hobby. Tudo começou ainda na infância, quando tinha entre nove e dez anos de idade, ganhava lápis nos saquinhos-surpresa das festas de aniversário em que comparecia. Então, quando passava por alguma pa-
pelaria da cidade sempre comprava um diferente e, assim, o acervo foi aumentando, segundo ela. “Minha mãe também comprava alguns quando viajava, alguns familiares e amigos traziam lápis como souvenirs de viagem e acrescentavam à coleção”. Desta forma, a engenheira, que nunca escondeu sua paixão por este tipo de material escolar, passou a agregar cada vez mais modelos resultando, atualmente, em uma coletânea de 518. Tudo devidamente conservado e guardado em uma espécie de “escritório”, que fica na casa dos pais. De acordo com Mariana, os lápis ficam expostos em latas, que são remodeladas e pintadas para melhorar a aparência e dar um toque especial à coleção. O material é separado em cada uma delas conforme o tipo, que varia entre tem ou não borracha na ponta e com ou sem enfeites.
“Não tenho uma meta. Simplesmente vou comprando os que eu acho diferentes ou interessantes. Fica bonito na estante”, comenta. A pesquisadora garante que às vezes faz a aquisição de várias peças de uma só vez ou fica meses sem acrescentar itens à coleção, entretanto, tudo pode depender das circunstâncias. Geralmente, traz lápis que lembram os lugares, tais como cidades, museus ou feiras por onde passou durante as suas viagens. “Quando entro em uma papelaria para comprar qualquer coisa que seja, não resisto e escolho alguns modelos”, frisa.
ORGANIZAÇÃO Todos os lápis são separados conforme o tipo
Pré-requisitos
Para fazer parte da coleção, os objetos precisam ser diferentes dos outros já adquiridos. Por conta disso, ela conseguiu reunir, ao longo desses anos, lápis dos mais variados padrões, desde aqueles básicos fabricados pela Faber Castell até o da montanha russa do Aerosmith. Para colocar em prática o inusitado hobby, a petropolitana contou diretamente com o incentivo e, principalmente, a colaboração dos pais e das irmãs, portanto, boa parte da coleção é presente dado pelos familiares. “Costumo ganhar lápis nos amigo-oculto da faculda-
de e quando alguém viaja. No início deste ano, minha irmã voltou da Disney com 30 lápis. As crianças adoram e sempre que vão a minha casa pedem para ver e brincar. O engraçado é quando pedem para apontar os lápis”, comenta. Colaboração familiar
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COLECIONADORA Mariana começou a se interessar por lápis ainda quando criança
COLEÇÃO Ao todo são 518 lápis, quantidade que tende a aumentar
Hoje, a confeiteira e designer de bolos Márcia Valéria de Oliveira Faber, está mais do que envolvida com a coleção de lápis de escrever da filha. Ela afirma que esta paixão da engenheira vem desde criança e, talvez, tenha surgido pelo fato de a moça sempre gostar muito de desenhar e pintar, entretanto, diz não saber se realmente isto a influenciou. “Em festinha de aniversário, voltava com aquele saquinho com lápis. Era aquela briga, pois queria todos”, recorda. Segundo ela, Mariana é muito ciumenta e, portanto, não permite a troca de lugar da coleção ou que alguém mexa nela. Desta forma, todo o cuidado é pouco, principalmente quando há crianças pequenas na casa. A estudante Julia de Oliveira Faber, é a irmã mais nova da colecionadora e, a exemplo da mãe, tem atenção redobrada para manter os objetos limpos e preser-
JÚLIA E MÁRCIA Respectivamente, irmã caçula e mãe de Mariana ajudam a cuidar da coleção
vados, além, é claro, de ajudar a aumentar a coletânea quando pode. Para a adolescente, o assunto lápis já se tornou algo mais do que natural em decorrência do envolvimento com o hobby da irmã. “É uma coisa que passa despercebida, muito normal. A gente já está acostumada e não achamos nada de mais”, garante. Questionada sobre qual dos modelos é o favorito da especialista em Bioprocessos, a jovem assegura não haver um específico, contudo, diz ser indiscutível o carinho dela por todos.
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RADICAL POR LETICIA KNIBEL
FOTOS RODRIGO SANTANA
Um dos esportes mais praticados atualmente e com grande apelo entre o público jovem, o skate ainda encontra grandes dificuldades para ter o apoio e o reconhecimento devidos.
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m esporte radical que agrega valores como amizade, respeito e cumplicidade. Esta frase talvez defina um pouco o que significa o skate, mas a prática em si vai muito além. O skatista Renan Souza de Carvalho conta que Petrópolis tem uma participação muito grande nesta atividade desde os anos 80. “O skate é o que nos motiva a viver desde o primeiro momento em que acordamos. Envolve uma cultura muito forte entre arte e amigos e, isso tudo, se torna uma grande diversão, um estilo de vida único, porque é através disto que podemos expressar quem realmente somos, juntando estilo com manobras e, acima de tudo, atitude de poder continuar onde o chão de pedra portuguesa reina abaixo de nossos pés”. Gregori Bastos Facciolla começou a praticar em 1997. “Optei pelo skate por ser o esporte individual mais coletivo que eu já tive contato. É mais do que dar manobras, é aprender coisas sobre o convívio humano em cada dia passado em cima dele,” destaca. O skatista explica que a atividade oferece possibilidades infinitas de movimentos e combinações tais como manobras de giro (flip), que escorregam (slides e grinds) e as que seguram o skate (grabs). O nível de dificuldade aumenta na medida em que combinam estas modalidades, principal-
MOVIMENTO CRESCENTE A cada dia surgem novos skatistas na cidade 52
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mente conforme o terreno que a pessoa escolhe para executar a manobra. Para Gregori, no skate não existem regras, o praticante é livre para tentar qualquer movimento e seguir qualquer estilo. Entre as modalidades destacam-se o “street” (corrimão, escadas e gaps), “vertical” (rampas e transições muito altas) e “downhill” (ladeiras íngremes e sinuosas). Já o skatista Luis Eduardo de Oliveira Carvalho Campagnoli explica que existe uma
infinidade de manobras e modalidades, mas este esporte proporciona a liberdade. Desta forma, as técnicas variam, não importando o que se faz em cima do skate, contanto que isso lhe faça sentir bem. Entretanto, destaca que os riscos são os usuais. “Pode-se quebrar tornozelos, joelhos, cotovelos, nada a mais do que jogar futebol ou mesmo caminhar pela rua.” Todo cuidado é pouco na hora de pra-
ticar este esporte. Para os praticantes, o maior equipamento de segurança é o bom senso e o maior inimigo é o excesso de confiança. “Para quem anda em rampas é fundamental levar na mochila um capacete e uma joelheira pelo menos, pois além de proteger na hora de sair de uma manobra mal executada oferece mais segurança para tentar movimentos mais complexos,” explica Bastos. Os skates voltados para a prática do “street” normalmente costumam ser mais leves, com shapes, rodas e eixos menores, facilitando manobras mais técnicas que envolvem giro. Um skate de “vertical” já é bem maior, o que oferece mais estabilidade na hora de voltar um aéreo ou segurá-lo, as rodas são maiores para proporcionar mais velocidade. Para a prática do “downhill”, usa rodas bem macias para reduzir um pouco o atrito com o asfalto. Praticado na cidade há anos, os problemas encontrados pelos precursores do esporte em Petrópolis ainda são os mesmos. Os jovens já andavam pelas ruas da cidade, porém a cultura das pistas e dos eventos relacionados à prática nunca foram muito fortes ao se tratar de iniciativas públicas. “Por isso, a galera sempre se propôs a realizar os próprios projetos para fazer o skate acontecer. Com a falta de lugares adequados, o nosso ‘playground’ é a rua,” explica Renan. O skatista Frederico
APRENDIZAGEM Para Gregori, respeito e amizade caminham juntos, tanto no skate quanto na vida
PISTA A calçada da Câmara Municipal é um dos locais preferidos dos skatistas para andar
“Optei pelo skate por ser o ‘esporte’ individual mais coletivo que eu já tive contato”, Gregori Bastos
Assis destaca que os praticantes enfrentam problemas por todo o mundo, ainda mais no Brasil, o que reflete em Petrópolis. E apesar de ser o segundo esporte mais praticado no mundo, não recebe o merecido reconhecimento. “Para comprovar, basta reparar quantas quadras e campos de futebol têm pela cidade e quantas pistas de skate,” conclui Assis. A cidade oferece, atualmente, uma única pista de skate que não possui estrutura adequada à prática. Não comporta o número de skatistas que ainda tem de disputar lugar para “andar” com pessoas que aparecem para jogar futebol. Todas as reformas e modificações feitas no local foram realizadas pelos jovens que utilizam a pista. De acordo com Frederico, a APES (Associação Petropolitana de Skate) tem representação no Conselho Municipal de Juventude, vinculado à prefeitura. Mesmo não sendo devidamente registrada, faz o que pode para melhorar a situação do skate na cidade e tem como reivindicações a melhoria do esporte, a liberação da prática em vias
MANOBRAS Luis Eduardo realizando a SS HeelFlip
públicas, reformas na pista e construção de uma skate plaza. O secretário de Esportes e Lazer, Carlos Alberto Lancetta, explica que, apesar de haver um grande movimento para que o skate se torne um esporte olímpico, não se sabe ao certo quando isto irá acontecer. “Então, prioritariamente, as secretarias e órgãos apoiam os desportos olímpicos, mas nada disso impede que, dentro de um processo social, busquemos recursos para apoiar os esportes radicais,” revela. Lancetta ainda destaca que há a necessidade de construir um local apropriado para os skatistas, mas a questão da verba para tal empreendimento é sempre um fator dificultador. A expectativa é que, futuramente, seja construída uma pista adequada no Parque Municipal para atender as necessidades e reivindicações. Para finalizar, Luis Eduardo explica que o skate não é simples como pôr uma bola em um determinado lugar, não tem objetivo final, o que vale nele é enxergar as infinitas possibilidades de formas de vivência e aproveitar a sensação de liberdade.
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VIAGEM DIÁRIO DE BORDO
Canadá Capital Ottawa Área 9.984.670 km² População 34,4 milhões Moeda Dólar canadense Fuso horário GMT -8
Quando ir
No verão quando o sol se põe às 22hs e dá para aproveitar bastante. Como chegar
Através da American Airlines. Onde ficar
Eu optei por me hospedar em uma casa de família onde fui acolhida e fiz amizades. O que fazer
Stanley Park é o meu local favorito. Dentro dele você pode conhecer o Aquário de Vancouver, além de poder alugar uma bicicleta e dar a volta pela English Bay, uma praia com uma vista linda. Em dias de céu azul, vale a pena fazer uma caminhada e subir até o topo da Grouse Mountain para tirar belíssimas fotos lá de cima. No topo, além das lojinhas, dá para ver os ursos que ficam nas jaulas, além dos alces. Durante o frio, dá para patinar no gelo. Tem também a ponte Capilano Suspension Bridge, famosa em Vancouver e que corta duas montanhas, com um rio enorme embaixo. Além disso, dá para andar nas árvores 54
Setembro | Outubro
Rafaella Ribeiro
ENCANTADA POR VANCOUVER
E
m 2008 comecei a planejar um intercâmbio para poder aprimorar meu inglês e agregar conhecimentos, tanto na minha vida pessoal quanto na profissional. Como estava cursando faculdade de administração, planejei minha viagem para depois que eu terminasse o curso. Então, fui para o Canadá em julho de 2011. Passei um mês em Vancouver. A escolha por essa cidade foi por ela ser conhecida como a melhor para se morar, além de ser qualificada em cursos de intercâmbio. A cidade é linda, começando pelo aeroporto que tem um estilo tribal com uma cachoeira no meio. Fiz o curso no LSC (Language Studies Canadá), em período integral. Aproveitava os finais dos dias e de semana para conhecer os pontos turísticos. As pessoas de British Columbia são muito hospitaleiras e educadas. O sistema público de transporte é perfeito e você pode se locomover para onde quiser com rapidez e sem tumulto. Optei por me hospedar em uma casa de família, onde fui bem acolhida e fiz amizades. Fui no verão. Lá o sol se põe às 22h, então pude aproveitar muito. Conheci o Stanley Park que é um parque gigante da cidade onde as pessoas andam de bicicleta. A praia, chamada English Bay, é muito charmosa e fica ao lado do Park, de frente para o Oceano Pacífico. O mercado público onde vendem frutas, doces e especiarias chama-se Granville Island. A boate famosa é a Caprice, sempre fica cheia de turistas. Vancouver se diferencia por sua arquitetura e urbanismo. A famosa Robson Street, em Downtown, é um dos pontos turísticos mais cobiçados por turistas e moradores de Vancouver. É ótimo para passear, a rua é o endereço certo para fazer compras. Visitei também Seatlle, nos Estados Unidos, onde existe um grande outlet das maiores marcas de roupas e acessórios, porém o tempo que fiquei lá não foi o suficiente para ver todas as lojas, pois é muito grande. Também fui ao famoso Space Neddle. Houve lugares que não consegui ir, mas que gostaria de voltar para conhecer, como Whistler, que fica próximo a Vancouver e que neva até mesmo no verão. Não posso deixar de citar o Rocky Mountains, onde os turistas gostam de acampar em meio às montanhas geladas, cercadas de neve. Foi uma viagem incrível! Tenho vontade de voltar e quem sabe um dia morar em Vancouver.
por uma construção segura que fizeram. Ainda tem Victoria, Whistler e Rocky Mountains para visitar.
Investir é chegar no lugar
onde sempre sonhamos.
Dica
Procure saber tudo sobre a cidade onde você irá ficar para não passar aperto quando chegar. Leve um kit de sobrevivência, pois é um lugar novo e você pode precisar de alguns itens de emergência. Divirta-se muito, pois é uma experiência incrível que, infelizmente, passa muito rápido.
Agora em Recife, a Hiperion da mais um passo no compromisso de atender presencialmente diversas regiões do Brasil. PETRÓPOLIS SÃO PAULO NOVA FRIBURGO RECIFE
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