Projeto especial
Av. Carneiro Leão, 135 - 9º andar cj. 902 CEP 87013-060 - Maringá (PR) telefone (44) 3028-5005 www.flammacom.com.br
Pesquisa, texto e edição Rogério Recco rogeriorecco@flammacom.com.br
Projeto gráfico e editoração Nil Leite new@studionewdesign.com.br
Colaboração André Bacarin, Elton Telles, Regina Daefiol e Dirceu Herrero Gomes
Desbravadores do comércio de Maringá
Historiadores CONSULTADOS Miguel Fernando Perez Silva João Laércio Lopes Leal Reginaldo Benedito Dias
Copyright c 2012 - todos os direitos reservados
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca Central - UEM, Maringá PR., Brasil) Recco, Rogério R295h
História do comércio de Maringá com ênfase no segmento varejista. / Rogério Recco.
-- Maringá: Ed. Regente, 2012.
226 p. : il., fotos., color.
Historiadores consultados Miguel Fernando Perez Silva, João Laércio Lopes Leal, Reginaldo
Benedito Dias, Dulce Pulzatto. ISBN. 978-85-905820-5-2
1. História do comércio - Maringá. 2. Comércio varejista - história. 3.
História de Maringá. I. Título.
CDD 21.ed. 981.62
1ª Edição - Maio de 2012
SI N DI C ATO DOS L OJISTA S E DO COMÉRCIO VAREJISTA DE
A memória do varejo
DO C O M É R C IO MARINGÁ E REGIÃO
Amauri Donadon Leal Presidente Empresa: Vidrofix (Donadon Leal e Cia Ltda)
CONSELHO FISCAL
José Rubens Abrão 1º Vice-presidente Empresa: Casa Santa Terezinha
Maringá foi uma decisão importante e
José Adilson Staub Empresa: Brastaub Com. de peças e Eletrodomésticos Ltda
responsável, levando em conta que estamos
Carlos Alberto Tavares Cardoso 2º Vice-presidente Empresa: Supermercado Cidade Canção
Arlei Luis Camilo Empresa: Supermercado Camilo (Camilo Dist. Coml. De Alimentos)
Ali Saadeddine Wardani Diretor Administrativo Empresa: Móveis Karina Ltda
Ronaldo Ramos Empresa: Paulas Artigos para Tapeçaria (Bortoli e Ramos
Antonio Batista de Moura Júnior Diretor de Finanças Empresa: Comércio de Café e Cereais Basa Ltda
Paulo Alcenio Ciochetta Empresa: Florence Cozinhas
Francisco Morales Diretor de Patrimônio Empresa: Ótica Diamante Ltda Carlos Mamoru Ajita Diretor Jurídico Empresa: Casas Ajita (Caremi Com. de Calçados Ltda Raquel Almeida Costa Diretora de Promoções Empresa: Toque & Sabor (Almeida & Costa Com. Prod. Alim. e Presente Ltda) Moacir Rodrigues Montalvão Diretor Social Empresa: Tetê Modas
CONSELHO SUPERIOR Massao Tsukada Empresa: Livraria Bom Livro
de nossa cidade.
Ao recuperá-lo como um valioso legado à posteridade, não o fazemos apenas para contemplação, mas com o intuito de contribuir
as razões pelas quais Maringá se sobressai
para a memória de Maringá, bem como de
como uma metrópole tão especial e diferenciada.
conhecer, reavivar e valorizar exemplos de superação e aprendizado que, sem dúvida,
Contudo, por mais que o teor desta obra seja o produto de intensos levantamentos
Heitor Bolela Junior Empresa: Samaza Calçados
para as gerações futuras.
orientados por historiadores e pioneiros,
Reginaldo Caleffi Navarro Empresa: Shopping CIC HM
ele é incapaz de abarcar toda a dimensão O conteúdo nos permite entender como foi possível suplantar tantos desafios em épocas
Antonio Donisete Busíquia Empresa: Redebrás José Carlos Cassimiro Miranda Empresa: Supermercado São José Luiz Antonio Domingues Empresa: Papoula
Bendito o que vem em nome do senhor
da história, o que, com certeza, demandaria vários compêndios.
tão difíceis, em que se contava apenas com a própria determinação.
Lucheo Antonio Tombini Empresa: Tombini Máquinas e Equipamentos
Antonio Roberto da Silva Diretor Área de Mercados Empresa: Supermercado Alecris (Com. de Gen. Alim. Alecris)
Amauri Donadon Leal Presidente
nos servem de estímulo e serão um norte
Roberto Burci Empresa: Supermercado Burci
Dercílio Constantino Diretor Área Comércio de Bairro Empresa: Loja Alvorada
06
realizando o resgate de um patrimônio
Ali Saadeddine Wardani Empresa: Móveis Karina
DIRETORIA DE APOIO
Juvenal da Silva Correia Filho Diretor Área de Serviços Empresa: Lazer Piscinas
Wesley Dejuli Diretor Área de Marketing Empresa: W Design
Vanderley Aparecido Scanferla Empresa: Cobra d’Agua
Adilson Emir Santos Empresa: BJ Santos
Evandro Miguel Mutti Ponchio Diretor Intersindical Empresa: Casa Anete
Preservar a história do comércio varejista de
Shiniti Ueta Empresa: Ueta Cine Foto Som
O passado, o chão vermelho onde fincamos raízes, espelha o que somos. E sabemos da
O livro segue uma trilha histórica, percorrendo resumidamente sete décadas de
importância de conhecê-lo melhor para avaliar o quanto avançamos e onde queremos chegar.
lutas e empreendedorismo, com fatos e episódios que podem comover e surpreender.
Ao possibilitar às pessoas essa janela para
Enfim, nos revela estar nos ideais, na força
o passado do varejo maringaense, o Sivamar
e no valor dos desbravadores e daqueles
reverencia a obra e a vida dos que construíram
que deram continuidade ao seu trabalho
e continuam construindo o nosso comércio.
Desbravadores do comércio de Maringá
07
Surge um pequeno comércio onde se
cidade e na zona rural. Muitos desses
sobressaem armazéns construídos de
vendedores ambulantes prosperam e
madeira, que vendem de tudo, no
originam empresas.
Maringá Velho. Em 1974, é fundado o Sivamar. Estabelecimentos comerciais mais sofisticados, de alvenaria, e também as
A informatização transforma as
primeiras lojas de departamentos, são
empresas do comércio, mas no início
abertas a partir de 1947, no
os computadores são poucos e caros.
Maringá Novo. Em tempos de inflação alta, o Ainda no final dos anos quarenta, a
comércio varejista fatura muito, sem
Vila Operária apresenta um comércio
perceber a armadilha.
variado e pequenas empresas que atuam em diversos segmentos.
Com a estabilização da economia,
Gerência de Patrimônio Histórico
muitas empresas de todos os portes
Linha do tempo
Máquinas de café se multiplicam pela
vão quebrar e marcas festejadas,
cidade, absorvendo a safra de uma
desaparecer.
vasta região. Há até mesmo companhias multinacionais, as
Há oferta abundante de mão de obra.
mesmas que irão investir também no beneficiamento de algodão.
A chegada dos shoppings impõe pesado desafio aos estabelecimentos
A localização geográfica possibilita
comerciais de rua: é preciso
que a cidade se transforme em centro
profissionalizar os serviços,
atacadista importante, capaz de
modernizar as fachadas, melhorar a
abastecer todo o norte do Paraná e
qualidade dos produtos.
Estados vizinhos. O cartão de crédito substitui o talão de O talão de cheques vai aposentando a
cheques e, em menor medida, a cédula.
caderneta. Ao lado, o primeiro hotel; embaixo, detalhes da Avenida Brasil e seu comércio incipiente na década de quarenta
Casas antigas, verdadeiras relíquias, Desde o início, o trabalho da mascateação está presente na
resistem aos tempos.
Gerência de Patrimônio Histórico
PERÍODOS
Sumário
PÁGINAS
1940-1950
14 a 47
1950-1960
48 a 131
1960-1970
132 a 147
1970-1980
148 a 167
1980-1990
168 a 179
1990-2000
180 a 187
2000-2012
187 a 223
Acervo Família Taguchi / Maringá Histórica
O Maringá Velho na década de 1940: a Avenida Brasil esquina com a então Rua Jumbo (atual Lafayette da Costa Tourinho).
Gerência de Patrimônio Histórico
1940 – 1950 - Maringá Velho - Maringá Novo - Vila Operária
Desbravadores do comércio de Maringá
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duz fumaça de causar vermelhidão nos olhos e
Vitório Balani instala a primeira serraria, Dur-
tornar facilmente visível a grande esfera cor de
val Francisco dos Santos a primeira máquina de
sangue no céu.
arroz, Mário Siqueira Jardim a primeira farmácia, Aniceto Gomes da Silva a primeira padaria,
É assim a Maringá no começo dos anos 1940,
Gerência de Patrimônio Histórico
um distrito de Londrina que depois virou distrito
Terra bruta, vestida de vermelho cido e apenas se avista uns poucos casebres de
Urizzi o primeiro posto de combustíveis.
de Apucarana e, por último, de Mandaguari. As construções são quase todas de madeira O Maringá Velho floresce com oito quadras
fornecida por serrarias locais, que aproveitam a
atravessadas por uma rua principal, onde se
abundante oferta da derrubada das matas. Muita
pode encontrar o Hotel Campestre, administrado
gente que vai chegando jamais tinha visto um
por José Inácio da Silva, que depois virou “Zé
imóvel construído assim e se admira. Os sanitários
Maringá”. Em uma pernada se acha um tanto de
ficam do lado de fora, no quintal, a água de poço
O comércio se desenvolve de forma improvisada,
estabelecimentos, cujos nomes estão ligados, ou
é recolhida com sarilho a 20 metros de profun-
no Maringá Velho. Aos poucos, vai se enchendo
até se confundem com os de seus proprietários: a
didade, os banhos se tomam dentro de casa, em
que são construídos, em sua maior parte,
Casa Maringá, de José Jorge Abrão e Benedito José
bacias ou debaixo do “tiradentes” – um balde
com madeira obtida do desmate.
Jorge; a Casa Monte Cristo, de Dario e Jayme
içado por uma corda cuja água se esvai por um
pensões, “vendas” de secos e molhados,
Bernardelli; a Casa Rodrigues e Salgueiro, de Da-
chuveiro na parte inferior.
bares. Na região à volta, a floresta perde
vid Rodrigues Ferreira e Domingos Salgueiro; a
de armazéns e estabelecimentos diversos
Há serrarias, máquinas de café, pequenos hotéis,
Um povaréu. O patrimônio nem tinha nas-
Fernando Torcano o primeiro açougue, Pedro
espaço para lavouras de café.
Casa Rabello, de David Rabello de Oliveira; a Casa
As ruas não têm pavimentação e nem calça-
São Jorge, de Nassib Haddad; a Casa Planeta, de
das. Quando chove forte, alagamentos formam
Ângelo Planas; a Casa Aliberti, de Santo e Carlos
atoleiros. Caminhar é uma aventura arriscada,
Aliberti; a Casa Moreno, de Ariovaldo Moreno; a
com inevitáveis escorregões e tombos. Se de-
Casa Hilário, de Hilário e Modesta Alves; a Casa
mora a chover, o problema é a poeira incessante,
Napoleão, de Napoleão Moreira da Silva; a Casa
ocasionada pelo vai e vem dos veículos. O pó fino
Terra bruta, vestida do vermelho que mancha
Anete, de Boanerges de Oliveira Fernandes; a
está em todos os lugares, traz aborrecimentos
as paredes, os troncos das árvores, as botas e as
Casa da Lavoura, de Braz José Jorge; a Sapataria
principalmente para as donas de casa, que não
calças esgarçadas do povo; o vermelho que serve
Scramin, de Octávio Scramin; a Casa das Noivas,
conseguem deixar roupas secando nos varais.
de rabicho, feito pluma, em forma de nuvem,
de Mário Reis Meira; o Escritório Contábil Mer-
após a passagem de cada caminhão carregado
cúrio, de Waldomiro Cordeiro da Silva; o Restau-
O núcleo urbano hoje conhecido como Maringá
de toras, jardineira ou veículo pequeno.
rante Verdadeiro, de João Verdadeiro; o Hotel
Velho foi instalado por pressão de agricultores. O
Guaíra, de Otávio Perioto; a Pensão Luzitana, de
historiador João Laércio Lopes Leal ressalta que
José Tozzo; a Pensão e Restaurante Carniel, de
vários deles haviam comprado terras, estavam des-
Antonio Carniel.
bravando a mata e morando precariamente no local.
madeira. No entanto, aquela gente toda parece brotar sabe-se lá de onde: uns sujeitos braçudos
de martelos e serrotes, trabalhadores não des-
debaixo de seus chapéus de palha, mulheres,
cansam, enquanto compradores se comprimem
crianças inquietas, bicicletas, cavalos. Ao som
nos armazéns e “vendas” sitiados por jipes, caminhões, fordecos e carroças.
O rubro intenso do fogo que se vê nas imediações, devorando a mata e descampados, pro-
Desbravadores do comércio de Maringá
17
Gerência de Patrimônio Histórico
Como não havia um patrimônio por perto para
Dona Elizabeth Thomas, esposa do diretor
adquirir sal, combustível, calçados, roupas, fer-
da Companhia, Arthur Thomas, teria sugerido a
ramentas e remédios, começaram a reivindicar a
denominação “Maringá”, a propósito da famosa
criação de uma pequena vila à empresa coloni-
canção de Joubert de Carvalho. Há quem con-
zadora, a Companhia de Terras Norte do Paraná
teste. Segundo João Laércio, a música composta
(CTNP), cujo referencial mais próximo era o es-
em 1932, dez anos antes do marco inicial do
critório de compra e venda de terras em Manda-
patrimônio, foi um imenso sucesso no rádio e,
guari.
nos anos seguintes, a empresa colonizadora fez a demarcação das terras em grande parte da
A data de 10 de novembro de 1942 marca
região, prevendo as futuras cidades e também
o início da história urbana de Maringá. Mas em
as glebas destinadas à venda de lotes rurais.
1938 começam a ser vendidas as primeiras pro-
O Ribeirão Maringá, dizem, teria recebido esse
priedades, a partir de Londrina.
nome entre 1935 e 1936...
Não era do interesse da Companhia que a cidade nascesse desse jeito, sem organização. As Casas Santo Antônio
Mas encomendou ao engenheiro Aristides Sou-
e Maringá figuram entre
za Melo, que pertencia aos seus quadros desde
os primeiros estabelecimentos
De onde vieram; e cada história...
comerciais; abaixo, a família
1941, a planta básica com oito quarteirões e
No começo, a maioria dos moradores e agri-
Aliberti, proprietária da casa
ruas. No lançamento da pedra fundamental, na
cultores é de origem paulista e mineira, mas há
data acima, dirigentes da empresa e algumas
paranaenses de diversas regiões, catarinenses e
personalidades partiram de Londrina em uma
muitos nordestinos – parte dos quais acorre para
excursão, viajando em automóveis e ônibus
o Sul para fugir da miséria e suprir a demanda
movidos a gasogênio (um combustível “quebra
por mão de obra. Um tanto já trabalhava no in-
galho”, a base de gás, o único com o qual se con-
terior de São Paulo, na construção de parte da
tava na época, pois havia escassez de gasolina,
Estrada de Ferro Sorocabana. O maior contin-
óleo diesel e querosene em decorrência da Segun-
gente de trabalhadores empregado no desmate,
da Guerra Mundial).
serviço bruto, é de nordestinos. Manejando
do mesmo nome e, ao lado, um banheiro da época
foices e machados, eles põem abaixo a floresta. As ruas ganharam nomes de córregos e ribeirões
Adaptados para suportar o mormaço e o esforço
ali próximos: Moscados, Cleópatra, Pinguim, Jumbo...
físico desmedido, convivem com toda a sorte de insetos e, não raro, adoecem. No dia a dia, estão
“Maringá, Maringá, depois que tu partiste, tudo
expostos a acidentes com animais peçonhentos
aqui ficou tão triste que garrei a maginá...”
ou a queda de pesados troncos e galhadas.
Desbravadores do comércio de Maringá
19
Gerência de Patrimônio Histórico
Derrubar um palmiteiro fino e comprido, dos inúmeros que vicejam pela mata, é tarefa perigosa: quando tombam, ricocheteiam com violência, podendo alcançar um desavisado.
Nem toda a gente vai para a derrubada. Em 1942, aos 17 anos, o pernambucano Aniceto Gomes da Silva chega para trabalhar no hotel administrado por Zé Maringá. Em depoimento a historiadores, ele disse que a cerveja servida aos hóspedes era resfriada em um buraco no assoalho, onde se depositava areia lavada. Sem energia elétrica, geladeiras não encontram serventia, impossibilitando conservar carnes de bovinos e suínos, trazidas de Londrina. Algumas funcionam sim, mas com motor movido a diesel, um luxo.
A carne disponível no hotel provém de caça e há peixes em abundância. Sair em caçadas é uma diversão rotineira para muitos, animados pela quantidade de bichos. Sob o estampido de espingardas e revólveres, matam-se catetos, antas, capivaras, macacos, aves de toda espécie. Com sorte, se acerta a testa de uma onça. As “pintadas” rendem conversas entusiasmadas, protagonizam “causos” e são temidas de verdade em propriedades rurais, onde estão sempre ao encalço de novilhas e porcos, estraçalhando cães de guarda. Não é difícil avistar cães aleijados, os “restos de onça”, sobreviventes de lutas desiguais.
Um dia, Arthur Thomas hospedou-se no hotel e ficou sabendo que Aniceto sabia fazer pães. O encorajou, então, a montar a primeira padaria, resultado de sociedade com o irmão Severino.
21
Gerência de Patrimônio Histórico
Alguns poucos estabelecimentos contavam com gerador de energia elétrica movido a óleo diesel. Era um motor muito barulhento
Praticamente todo mundo busca produtos ali-
Os primeiros fregueses do comércio nas-
mentícios de primeira necessidade, ferramentas
cente de Maringá são, em maioria, o povo que
para trabalhar a terra, tecidos, roupas e calçados.
vive na roça, em lotes próprios ou de patrões. O principal personagem na chamada empreita
Entre 1945 e 1946, o comerciante Carlos
Poucos armazéns possuem geradores de ener-
do café é o colono, trabalhador desprovido
gia elétrica: são máquinas barulhentas, abastecidas
de terra, que almeja conseguir um contrato
Domingos
com óleo diesel, que funcionam somente algumas
de trabalho com um dono de sítio. Ele se dis-
Salgueiro
horas do dia e da noite. Isto lhes permite ter
põe, geralmente, a cultivar 3 mil cafeeiros – o
Quando mudou de atividade, instalou o Foto Lux,
aparelhos de rádio, a única forma de saber o que
máximo que um homem consegue tocar sozi-
vendido depois a Kenji Ueta.
acontece no país e no mundo, pois os raros jornais
nho. Sua remuneração é calculada por pé de
e revistas chegam com semanas de atraso.
café “vezes” o total existente na propriedade
Acima, detalhe do comércio;
Eduardo Aidam abre uma casa comercial única:
ao lado,
uma locadora de bicicletas. Aidam seria, também, mais tarde, um dos primeiros fotógrafos.
Muito comum, na entrada de qualquer esta-
Rodrigues e Salgueiro. O armazém fica na parte
belecimento ou mesmo moradia, a existência do
da frente do terreno; nos fundos, a moradia.
Os rádios, colocados em local estratégico e
mês. O colono tem direito, ainda, de cultivar
“paulista” ou “chora paulista”, um suporte com
Como ainda não há agência bancária, o dinheiro
ligados em alto som, trazem notícias e músicas
e colher tudo o que for possível nas ruas da
lâmina de ferro para a indispensável limpeza dos
é guardado em cofre na própria casa ou fica dis-
em meio a estalos da estática. Às vezes, chiados
lavoura: milho, arroz, feijão, mandioca, horta,
calçados, que ficam embarreados em períodos
farçado do colchão. Quando possível, é levado
e silvos cortam informações pela metade. Mas
frutas...
chuvosos. Há quem leve sempre consigo um par
para Mandaguari, onde funcionam instituições
o povo curioso se espreme para
reserva, para não fazer feio em visitas, reuniões,
financeiras.
ficar por dentro das novidades.
Outro tipo de colono, também sem terra,
Uns, pitam palheiros fedorentos
trabalha por período determinado, geralmente
Segundo depoimento deixado por David, o
que esfumaceiam o ambiente,
seis anos, tempo em que a mata deve ser abati-
O pioneiro David Rodrigues Ferreira toma o
comércio era muito movimentado, “com espan-
outros despejam cachaça goela
da e queimada. Ele ainda deve levantar um
caminho de Maringá em 1946, casado com dona
tosa circulação de dinheiro”. Aos sábados, sitian-
abaixo. No converseiro anima-
rancho, plantar e cuidar do café até a primeira
Darcy. Em sociedade com Domingos Salgueiro,
tes, empreiteiros e peões vêm fazer compras,
do, histórias e fofocas daqueles
safra. Durante esses anos, tudo o que produzir
monta comércio de secos e molhados, a Casa
as ruas ficam repletas de carroças e animais.
confins do sertão.
nas ruas do cafezal, é seu.
almoços importantes e encontros com autoridades.
22
e dividida em 12 pagamentos, um para cada
Desbravadores do comércio de Maringá
23
roda dura e um velho burro, eles levam quase um
De Botucatu (SP), onde mantinha uma padaria
dia inteiro para cruzar a picada aberta no meio
com oito empregados, vieram os irmãos Aliberti.
da mata – do Guaiapó até o núcleo urbano – para
Na época da Segunda Guerra, quando faltou açú-
fazer compras que se restringem a açúcar, sal,
car e farinha, o comércio entra em dificuldades.
querosene para as lamparinas, roupas e remédios.
É o “empurrão” para Carlos e Santo tentarem a sorte nas novas terras do norte do Paraná. Em
Outra família que em 1946 se anima a tentar
Maringá, depois de adquirida uma data na Ave-
a sorte com o café, os Crippa se fixam com pro-
nida Brasil, ainda no Maringá Velho, eles emprei-
priedade também na Estrada Guaiapó. O pioneiro
tam um pedreiro para levantar o salão e ingres-
Jácomo Crippa disse a Antenor Sanches, autor de
sar no ramo de secos e molhados e ferragens em
“Maringá, sua história e sua gente” (2002), que eles
geral. É a Casa Aliberti, inaugurada às vésperas
elaboravam remédios caseiros a partir de raízes,
do Natal de 1945.
cascas e folhas. Quando o povo da redondeza fica Florestas eram devastadas para dar lugar a lavouras de café.
sabendo, não há remédio que chegue para todos.
Em épocas assim, armazéns aceitavam en-
Tempos depois, Jácomo entra para valer nesse
comendas de carnes frescas, como partes de
“negócio”, trazendo raízes e remédios feitos pelos
porcos e linguiças, entregues bem cedo por for-
índios e “curando muita gente de doenças”.
necedores e que ficavam penduradas em canos, à vista de todos. Como a demanda é grande, se
A modalidade de colono mais comum é o
O comércio de secos e molhados oferece não só
vende tudo com rapidez. Ninguém se importa
que faz contrato de empreita do café por quatro
alimentos, entre os quais arroz e feijão, em sacos
com a origem dos produtos e nem mesmo com
anos. Nesse caso, o dono da terra é quem derru-
que deixam à mostra a mercadoria e são coletados
as moscas...
ba o mato, “limpa” o terreno e levanta o rancho,
em conchas. Há de tudo, desde bacalhau e peixes
tendo o empreiteiro o direito de cultivar as ruas
salgados, doces e balas, a combustível, ferramentas
Entre os estabelecimentos que vendem de tudo,
do café e ficar com a safra cafeeira colhida no
e lampiões, botinas e inúmeros outros gêneros para
um dos exemplos mais marcantes é a Casa Planeta,
quarto ano. Há muitos empreiteiros que vivem
o suprimento das casas. Se deixar encomendado,
de Ângelo Planas. Ele veio em 1944 de Bauru (SP).
na propriedade, onde são parceiros dos donos.
o freguês pode adquirir até uma boa espingarda
O prédio, de alvenaria, não tem como errar: a es-
nova ou de segunda mão, revólveres e munição.
quina da Avenida Brasil com a rua Moscados (hoje
Sem muito esforço, é possível também comprar
Santa Joaquina de Vedruna), em frente a Capela
filhotes de aves: há sempre alguém oferecendo.
Santa Cruz, que fica pronto em 1946. Pelo tamanho
Mas, nos lotes rurais, o que se vê em maior quantidade, mesmo, é a própria família do proMuseu Bacia do Paraná
prietário, geralmente com muitos braços: ela cuida de tudo, sem empregados ou empreiteiros. É o caso dos Gava, que chegaram em 1946 do Estado de São Paulo para tomar posse de cinco alqueires na Estrada Zaúna. Com uma carroça de
e a variedade de itens, está entre os armazéns de Por isso é que, nas casas e mesmo nas “ven-
maior movimento.
das”, fica difícil encontrar quem não tenha gaiolas com pássaros diversos, papagaios faladores, gralhas e barulhentas arapongas.
Desbravadores do comércio de Maringá
Planas relata, em 1991, ao Jornal Cocamar: “Quando cheguei em 44, isso aqui era tudo mato.
25
Acervo Particular
Em seu livro “Maria do Ingá”, Hilário Gomes
“Ninguém dava calote”, ressalta Ademar
faz referência a Ângelo Planas e a Napoleão
Schiavoni, atual presidente da Academia de Letras
Moreira da Silva, este último proprietário da
de Maringá, referindo-se à confiança mútua que
Casa Napoleão. Ambos têm aspirações políticas.
havia entre comerciantes e fregueses. Em 1946,
Enquanto Planas participa do Partido Republi-
trazido pelos pais, ele conhece o patrimônio cujo
cano (PR), Napoleão é da União Democrática
nome remetia à música de Joubert de Carvalho.
Nacional (UDN). No início da década seguinte,
“Chegar a Maringá era uma aventura só feita pelos
quando a cidade tem eleições, os dois vão dis-
que tinham coragem de enfrentar a selva e toda
putar, além da clientela, os votos do eleitorado.
sorte de empecilhos. A estrada terminava no ‘fim da picada’, no baixadão do incipiente povoado
A Casa Planeta,
“Foi uma pena que, mais tarde, Ângelo Planas
de Ângelo Planas, foi aberta em 1945;
tivesse deixado o comércio para lidar com políti-
cereais eram manuseados
ca”, comenta o ex-cafeicultor e ex-presidente da
com conchas
Não devia ter mais do que 50 pessoas moran-
fre. Por outro lado, sitiantes compram tudo no
do na cidade e alguns sitiantes perdidos por aí.
“fio do bigode”, para pagamento na colheita. Sob
Estava bem no comecinho. Lá em Bauru a gente
a liderança de Planas, entre outros pioneiros, é
só ouvia falar de Londrina. Maringá, nem pensar.
formada em 1953 a Associação Comercial e In-
Naquela época eu já era casado e já tinha os seis
dustrial de Maringá (ACIM).
filhos. Então eu vim primeiro para ajeitar as coisas.
que se formava”, diz Ademar, evocando imagens que se perpetuaram em sua memória.
Sociedade Rural de Maringá, Joaquim Romero
Um hotel coberto de tabuinhas e feito de
Fontes. A Casa Planeta, para ele, era uma referên-
palmitos e algumas casas comerciais que se
cia na cidade e região. “Em tamanho, só per-
espalhavam ao longo da rua principal, é o que
dia para a Casa Ribeiro [aberta em 1947, no
eles encontram na chegada. “Era um fervilhar de
Maringá Novo]. Tinha de tudo.”
gente que vinha de todos os rincões do país em busca de novas oportunidades e da riqueza da terra roxa capaz de produzir café sem adubo e
Grande parte das
em abundância e também o alimento básico para
vendas era
a refeição do dia a dia”.
anotada em cadernetas;
Não aguentei ficar mais do que 20 dias longe da
Um de seus funcionários, Francisco Ferreira
minha esposa, e voltei para buscar. Foi uma luta
da Silva, vem trabalhar em 1945, aos quinze
muito grande, mas eu tinha condições econômi-
anos, na função de balconista. “A casa era muito
Cereais, sementes, roupas, ferramentas. Se-
cas. E isso facilitou bastante.” O comerciante foi
movimentada”, lembra Francisco. Ele não se es-
gundo Ademar, quase todas as casas comerciais
um dos primeiros a contar com um gerador de
quece: Planas gostava de ajudar a todos que o
vendiam de tudo. “Recordo-me com carinho
energia elétrica em seu estabelecimento. E teve
procuravam.
daqueles que atendiam aos meus pais: Ângelo
os produtores faziam o pagamento na safra
papel importante na construção da primeira
Planas, Napoleão Moreira da Silva, Davi Rabelo e
escola e da primeira capela (Santa Cruz).
Benedito José Jorge, com suas casas comerciais. Durval Francisco dos Santos com sua máquina de arroz. Otavio Perioto com sua fábrica de guara-
Ângelo Planas cultiva a confiança e a amizade
ná. Orozimbo de Assis Goulart e Mário Jardim
entre seus fregueses e, não raro, estes entregam ao comerciante a guarda de dinheiro em seu co-
26
Fecomércio
Homem agradável, de fácil relacionamento,
com suas farmácias, todos pioneiros no Maringá Velho.”
Casa Moreira A Casa Moreira, de Napoleão Moreira da Silva, um baiano de Timbó, é aberta em 1945 na Avenida Brasil. Fica próximo à Rua Jumbo, onde havia a Clínica Santa Cruz, do médico Lafayete da Costa Tourinho.
Ele, a esposa Armelinda, três filhas e um menino, vieram viver no patrimônio cercado de mato
Antes, ainda, os dois sócios se hospedam no Ho-
mara em Mandaguari (Maringá ainda era distrito
tel Guaíra, de João Tenório Cavalcanti, um emprei-
daquele município), fazia a corrida de taxi, pois
teiro que ficou conhecido por conseguir atender,
não tinha automóvel - aventura que, principal-
como poucos, a demanda dos investidores de terra.
mente em dias de chuva, parecia improvável, por
Estes confiavam a João Tenório a tarefa de derrubar
causa do lamaçal. Ia defender o povo, o agricultor
o mato em suas propriedades, serviço executado
O comerciante foi um dos
explorado. Um de seus feitos foi pleitear e con-
por um batalhão de homens que, portando foices
fundadores do Aéro Club
seguir a instalação em 1949 da primeira agência
e machados, devastam a floresta inteira em poucos
em 1948
dias. Depois, limpam tudo e, de quebra, ainda deixam lavoura formada de café.
cuja fama de prosperidade atravessa fronteiras.
ciante e o cunhado Euclides, seu sócio, tentam viver da cafeicultura.
Como a sociedade no sítio não avançou, Napoleão investe em um armazém especializado em venda de secos e molhados, ferramentas para a derrubada do sertão e muitas outras coisas para o provimento daquela gente simples.
Lauro, o filho do comerciante, mostra uma pequena fotografia do estabelecimento cujas paredes são de madeira. Na Casa Moreira, há
prateleiras repletas de mercadorias e, no balcão, dois “caixeiros” servem aos fregueses. A família está sempre por perto, acompanhando tudo e, principalmente aos sábados, dia de fazer compras para a semana, ajudando no atendimento.
O próprio João Tenório Cavalcanti é um dos fregueses contumazes, lembra Lauro. As ferramentas para a derrubada ele busca ali, principalmente a foice de marca “Collins”. A enxada “Duas Caras” tem também muita saída. O estoque é abastecido pela Casa Fuganti, de Londrina, e a Ferreira Lage, de Arapongas. As vendas são anotadas em cadernetas e, quando se junta dinheiro,
Acervo Família Moreira
É a Maringá nascente, onde, antes disso, o comer-
bancária para atender aos maringaenses, a do Banco Comercial do Paraná (Bancial)
Lauro se recorda: a produção de café e alimentos valia quase nada para o homem da roça. “Um saco vazio tinha mais valor que 60 quilos de feijão.” Ele garante ter visto muito pescador cevando rios com montes de feijão. A fartura da roça não se transformava em dinheiro. Comida, aliás, tinha em qualquer lugar. Até mesmo pertinho da Casa Moreira. Era só buscar. A mãe pedia para a empregada Rita: “Vai buscar uns palmitos pra mistura”. A mulher caminhava um quarteirão abaixo da Avenida Brasil, levando uma pequena foice e, em dois tempos, estava de volta. O palmito cozinhava ra-
ninguém se preocupa tanto onde guardar. “Não
pidinho no fogão a lenha. A carne vinha da caça e
se via tanta violência”, explica Lauro, emendan-
da cabritada criada solta, sem falar da carne seca.
do: “havia, sim, solidariedade”. Certa vez, lembra, comerciantes e moradores se juntaram para levantar uma escolinha. Todo mundo ajudou.
Um dia, dona Armelinda adoeceu e o marido a levou a São Paulo. Enquanto ela se restabelecia no hospital, Napoleão resolveu visitar um amigo no Rio
O estabelecimento,
A comunidade se uniu, também, para cons-
de Janeiro. No regresso, o avião bate na montanha,
truir a Capela Santa Cruz, no Maringá Velho, e a
quase na aterrissagem. Era 1957 e ele tinha 50 anos.
instalado em 1945, vendia
Santa Casa, na Vila Operária, entre outras obras.
secos e molhados,
Sempre participativo, Napoleão é um dos articu-
A primeira praça de comércio forte do Maringá
ladores. Em 1948, ele se desinteressa do comér-
Novo, ponto de parada de ônibus, ganharia nome
cio e se elege vereador. Para ir às sessões da Câ-
em 1962: Napoleão Moreira da Silva.
produtos diversos e ferramentas para a derrubada
Desbravadores do comércio de Maringá
29
observa que o comércio do Maringá Velho, já em seus primeiros tempos, era fervilhante, pois todos os lados das oito quadras, e não apenas a via principal, estavam tomados de casas comerciais, sem falar das mo-
é a Vila Operária, com seu comércio variado e forte”, diz João Laércio. “O Maringá Velho era um micromundo, havendo, por
nas porque este se atreveu a resgatar um
pai encaminhava, desde 1945, interessados na
a multidão de torcedores.
25 a 30 mudanças por dia”, se recorda Sanches,
gresso” (2010), Antenor Sanches relata que a es-
que se associa ao cunhado na instalação de um
tação rodoviária ficava em um boteco na Avenida
escritório de compra e venda de imóveis - alu-
Brasil esquina com a rua Jumbo (atual Lafayette
gando para isso uma sala no memorável Edifício
Costa Tourinho), ao lado do primeiro hotel e da
Langowski, o primeiro sobrado do Maringá
Clínica Santa Cruz, do dr. Tourinho. E resume: “O
Ve l h o . N e s s a é p o c a , c o m o a C o m p a n h i a
povo não tinha conforto mas, em compensação,
predomínio de
Melhoramentos não vendia mais datas urbanas,
era alegre e festivo, participava de bailes ani-
secos e molhados
pois pretendia que a cidade ficasse em um lu-
mados por sanfona, violão, cavaquinho e pan-
gar mais abaixo, na planície, as famílias se
deiro”, cita.
Leal: um comércio bem variado, com
obrigavam a viver em sítios.
Cine Primor e se espalha por algumas casas
sua sapataria, que executa um sujeito ape-
trução de uma arquibancada, acolhendo melhor
Em seu livro “Maringá, uma história de pro-
incêndio que, em 1949, devora o acanhado
Abud, tão exaltado fica com a destruição de
de Vicente Vareschini, o corretor para quem o
casados. “Era um lugar onde se via a chegada de
exemplo, diversas sapatarias”. Ele cita um
vizinhas. E conta-se que um turco, de nome
Júnior cede madeiras e carpinteiros para a cons-
compra de lotes rurais. Um ano depois, estão
radias. “Quando surgiu o Maringá Novo, o seu grande concorrente do Maringá Velho
Antenor enamora-se de Lucrécia, uma das irmãs
Ele confirma que o comércio do lugar Desde 1946, também, segundo João Laércio, um contingente de homens recrutados pela
era efervescente, “muito mais forte que o de Marialva, aberto na mesma época”.
Companhia dedicava-se no Maringá Velho ao assentamento dos dormentes no local por onde
O futebol está entre as principais diversões
passaria, anos mais tarde, a estrada de ferro. A
da comunidade e Antenor Sanches é um dos articu-
informação é que a linha fica pronta em 1949 e
ladores do primeiro time, que se apresenta aos
A citada construção da Capela Santa
começa a ser utilizada para o transporte de car-
domingos contra adversários da região. O SERM
Cruz, em 1946, foi outro fato representa-
gas. Só em 31 de março de 1954, com a chegada
(Sociedade Esportiva e Recreativa
tivo, na opinião do historiador. Insuflada
do primeiro comboio, é que iniciaria, efetiva-
Maringaense) possui um campo de
pelo ativo padre Michael Emil Clement
mente, o transporte de passageiros.
par de botinas dos escombros e o calçar na sua frente.
futebol, aberto em uma clareira na mata. Depois de empossado como
Scherer, primeiro sacerdote e proprietário
primeiro prefeito de Maringá, em
de terras em Maringá (dono da Fazenda São
O pioneiro Antenor Sanches, que esteve pela
Bonifácio), a comunidade exigiu que a Com-
primeira vez em Maringá na véspera do Natal
panhia Melhoramentos reservasse para a
de 1947, vindo de Caçador (SC), relata que o
edificação do templo religioso o terreno que
pai, Pedro, era um incentivador para que famí-
até então servia para acampamento de seus
lias daquela região viessem conhecer a terra
Edifício Langowski,
trabalhadores.
do “ouro verde”, como se dizia. Já na chegada,
comercial, foi o primeiro
1952,
Inocente
sobrado do Maringá Velho
30
Villanova
Gerência de Patrimônio Histórico
O historiador João Laércio Lopes Leal
Gerência de Patrimônio Histórico
“Um micromundo”
Garoto de 15 anos, o mineiro Izaltino Machado, atualmente com 82, veio para o Paraná em companhia de seus familiares em 1942, fixando-se na cidade de Cambé, região de Londrina.
Com paciência, ele é capaz de se recordar de Gerência de Patrimônio Histórico
Madeira valia pouco
muitas outras casas comerciais do Maringá Velho, citando especialmente a de Davi Rabelo, onde ia buscar ferramentas. Conta que o povo do sítio vinha fazer compras no comércio, amarrava os cavalos perto da rodoviária, que funcionava em um bar ao lado de uma cancha de bocha. Era o fim da linha. Dali em diante, tirando umas casinhas
Maringá ele só conheceu em 1945, depois de uma breve passagem por Jaguapitã. Aqui vivia
onde funcionava o meretrício, começava o sertão bravo.
um irmão, Francisco Machado Homem Júnior, carpinteiro da Companhia Melhoramentos, que, de imediato, o ajustou para ajudá-lo a finalizar a construção da Capela Santa Cruz, o primeiro templo religioso do povoado, que precisava ficar pronto logo “porque o povo não tinha onde rezar”. Izaltino conta que a obra estava só na estrutura básica, “faltava o acabamento fino”. Em frente, o comerciante Ângelo Planas, dono da Casa Planeta, “o maior estabelecimento do Maringá Velho, fazia
Para que o Maringá Novo ficasse pronto e pudesse ser “inaugurado” a 10 de maio de 1947, a Companhia colocou sua turma de carpinteiros para trabalhar, incluindo Izaltino. Tinham que construir a casa do gerente Alfredo Nyeffler e de alguns funcionários, entre os quais Basílio Sautchuk, Arlindo Marchezini, Elias Marques e João Cesário. Todas de madeira, claro, matéria prima abundante nas imediações.
um grande movimento para conseguir recursos e ajudar a igreja. Ao lado, um sobradinho de madeira era a primeira sede da Ótica Omega.
Izaltino lembra que Maringá contava com 22 serrarias quando ele chegou. “Os agricultores
iam derrubando a mata e colocando as toras no
nambucanas e o Cine Maringá. No Hotel Bom
carreador, para quem quisesse pegar. Era tanta
Descanso, que mais tarde virou Aliança e ficava
tora que as serrarias não davam conta de puxar”,
do outro lado da praça, a proprietária dona Su-
afirma. As espécies preferidas eram a peroba, o
zana - uma mulher rústica e destemida que vestia
marfim, o cedro e a canjarana. Segundo ele, nin-
calças e carregava um revólver -, saía todos os
guém ligava para o pau d’álho e o ipê, este último
dias para buscar água com sua carroça, levando
de madeira muito dura, que só podia ser serrada
dois grandes tambores.
jogando água em cima, para esfriar a serra, que chegava a ficar vermelha. A propósito, Izaltino se
Integrante da Associação dos Pioneiros de
recorda que um incêndio consumiu a grande
Maringá, Izaltino foi um dos trabalhadores que
serraria da Companhia no Maringá Velho. Foi
participaram da construção do Grande Hotel
em 1948.
Maringá, inaugurado em 1955. Ele casou-se com dona Ercília Oliveira Machado, a primeira auxiliar de
Izaltino participou da construção da Capela Santa Cruz em 1945; ao lado, uma grande serraria
A Casa Cearense, segundo ele, praticamente
enfermagem da cidade. Ambos tem “três casais
inaugurou o comércio do Maringá Novo. Ao lado
de filhos”, como ele diz, netos e bisnetos a perder
dela surgiriam pouco depois, entre outros, a Per-
de vista.
Arte: Edgar Osterroht
Foto Primeiro
mentos relevantes para a história da cidade,
fias pertence a Shizuma Kubota: aberta em
como a chegada do primeiro avião. A segun-
1947, se chama Foto Primeiro e fica quase
da, de 1949, foi a Foto Moderno, de Tutomo
em frente a Casa Planeta, ao lado do Carne-
Sanuki, na antiga Rua Cleópatra (Atual Rua
gie Hotel. Kubota registra alguns aconteci-
José Jorge Abrão).
O Maringá Novo Como já dito, a venda de terrenos para casas comerciais e residências no primeiro núcleo da
espaços específicos para o setor industrial. Ousados, sonham em incorporar o conceito de uma “cidade jardim” nos mesmos moldes da defendida pelo pré-urbanista inglês Ebenezer Howard
cidade, dura pouco. Ainda na primeira metade da
(1850-1928). Ele propunha uma política para a
década de 1940 – possivelmente em 1943 -,
manutenção do equilíbrio social, ameaçado pelas
diante da intensa procura e temendo que Maringá
caóticas condições de urbanização das camadas
se desenvolvesse sem um plano urbanístico
populares inglesas durante o século XIX. Plane-
adequado, a Companhia suspende por tempo
java uma cidade ideal, sadia e bela.
indeterminado as vendas de lotes urbanos, mantendo apenas o de áreas rurais.
Os engenheiros Gastão de Mesquita Filho e Cássio Vidigal, que em 1944 adquirem dos britânicos
Museu da Bacia do Paraná
A primeira casa especializada em fotogra-
A empresa tem planos mais ambiciosos para
o controle da Companhia, esboçam uma cidade
Maringá. Deseja transferir o núcleo urbano para
planejada, convidando para desenvolver o projeto
uma região mais plana, situada logo abaixo, colo-
o urbanista Jorge de Macedo Vieira, selecionado
cando em prática uma ideia inovadora. Os di-
por empregar conceitos de cidade-jardim em seus
rigentes não querem que se repitam aqui as mes-
trabalhos. Ele havia trabalhado na Cia. City, de
mas falhas cometidas em outras cidades, como
capital inglês, na concepção, entre outros, do Jar-
as ruas estreitas, que dificultam o crescimento, a
dim América em São Paulo. Assim, orientado
falta de parques para o lazer da população e de
pelas anotações dos engenheiros da empresa
Desbravadores do comércio de Maringá
35
Nos anos de 1947 e
prancheta e trata de imaginar a cidade do futuro,
1948, Maringá era
sem jamais visitar a região. Vieira conclui e apre-
chamada “cidade fantasma”. Isto decorria
senta em 1945 a versão do anteprojeto da ci-
do fato de haver um
dade aos diretores da Companhia, que aprovam
elevado número de casas vazias na sua
e levam cerca de dois anos para implementar o
parte nova, recém
desenho ao longo da gleba, inaugurando a ci-
loteada, incluindo
dade que se transformou na “menina dos olhos”
estabelecimentos comerciais. Por uma
O Posto Santo Antônio, de Alfredo Maluf; abaixo, a Avenida Brasil
de seus idealizadores em 10 de maio de 1947.
José Bonifácio
venda, a
Ademar Schiavoni lembra que em 1946
Companhia obrigava
começa a derrubada da mata para a implan-
os adquirentes de datas no perímetro urbano a
tação do Maringá Novo, a partir da Praça José
construírem dentro de
Bonifácio que até então era a Praça do Maluf,
um ano. Foi uma forma
onde Alfredo Maluf havia instalado um posto
que a empresa encontrou para
de combustível em meio à mata. Faz-se ali o
apressar o
marco inicial da ocupação da cidade planeja-
desenvolvimento da cidade. As construções
da. A faixa entre a atual Igreja Santa Cruz e o
foram surgindo, a
Posto Maluf permanece ainda por vários anos
maior parte de madeira; muitas,
com a mata em pé. É o “subidão” do Maringá
contudo, permaneciam
Velho, onde jipes, jardineiras e caminhões,
fechadas, pois seus
quando chove, só avançam com correntes en-
donos residiam em
volvidas nos pneus.
Gerência de Patrimônio Histórico
outras cidades.
36
Rodolpho Bernardi: fachada e interior da loja
a partir da Praça
cláusula inserida nos contratos de compra e
Gerência de Patrimônio Histórico
contratante, o urbanista debruça-se sobre sua
E segue: “Antonio Del Grossi levanta um
e, depois, para fabricar açúcar e álcool, transfor-
enorme cinema, inteiramente de madeira, na
mando a Usina Santa Terezinha em um dos maiores
A única ligação entre o Maringá Velho e o
Vila Operária [bairro que surge na mesma época
conglomerados industriais desse setor. Felizardo,
Maringá Novo é a dita estrada de chão cercada
do Maringá Novo]. Só mais tarde é que mudaria
também, comanda o primeiro loteamento urbano
por mata fechada em ambos os lados. Um local
para um prédio moderno na Avenida Riachuelo”.
fora dos limites e dos domínios da Companhia, com o
temido por quem precisava passar por ali, de dia
seu Jardim Ipiranga.”
ou de noite, segundo afirma o historiador João
As grandes lojas de magazines, mais comple-
Laércio Lopes Leal. “Ocorriam emboscadas, assaltos
tas, começam a chegar à cidade no fim da década
e até mesmo estupros”, garante. Curiosamente,
de quarenta e início dos anos cinquenta.
detalha João Laércio, havia ali uma mancha de terra branca a separar os bolsões de terra vermelha.
“Samuel Silveira tem a coragem de trazer para o pequeno distrito de Maringá a primeira emissora de rádio, a Cultura,” inclui ele, resumindo:
Francisco e João Gonçalves inauguram o Mundo das Máquinas para comercializar máqui-
“O que não falta são histórias de sucesso, de
nas de costura, indispensáveis às mulheres dos
empreendedores que transmitiram o seu legado
Ademar fala sobre as primeiras construções
pioneiros que produziam, elas próprias, suas
aos filhos, os quais, seguindo em frente, na mesma
no Maringá Novo: Mário Reis Meira instala o seu
vestimentas e as da família, lembra Ademar,
trilha, souberam multiplicá-lo”.
Palácio das Noivas, onde vende tecidos e, prin-
acrescentando: Heitor Bolela abastece o comér-
cipalmente, os que servem para fazer as roupas
cio com impressos de sua Gráfica Bandeirantes
Em 1947, quando da fundação do Maringá
dos nubentes. Ernesto Paiva monta a primeira
e João José de Oliveira vende material de es-
Novo, os cafezais da redondeza estão aver-
padaria – a Arco Iris – que mais tarde venderia
critório na Livraria e Papelaria Maringá. Valde-
melhados de grãos, com muitas mãos puxando
para Hilário Alves. Rodolpho Bernardi constrói
mar Buosi e suas irmãs implantam a Indústria de
a carga dos ramos bonitos de ver, para depois
uma serralheria para fabricar janelas e portas
Bebidas Virgínia e, logo depois, os irmãos Progi-
abanar, ensacar e deitar tudo nos terreiros.
e, muito rapidamente, uma loja de materiais de
anti, comandados por Fiori, instalam a Fábrica de
construção, que se torna a maior da cidade du-
Bebidas Ouro Verde. Foi nessa época que Felizardo
Nos botecos de chão encardido, o café coado,
rante bastante tempo. “Trabalhei lá por vários anos,
Meneguetti e seus irmãos iniciam a cultura da cana
ainda fumegante, produz perfume irresistível,
onde aprendi demais com o sagaz Rodolpho”, conta.
na região, primeiramente para destilar cachaça
sendo apreciado pelos que se acotovelam no bal-
Desbravadores do comércio de Maringá
37
cão. Mas exala também o cheiro da cachaça e da
rilha que os Comunistas Esqueceram” (2011). “A
Mesmo assim, Maringá não está livre da con-
e japoneses deslocados do Estado de São Paulo
fritada de porco, para atiçar o paladar.
valorização das terras atrai a agiotagem e a cor-
vivência com jagunços e pistoleiros, que se
são expressões significativas na formação de
rupção. Funcionários do governo transformam o
beneficiam da localização estratégica da cidade
Maringá, assim como italianos e espanhóis. Mas
Com a derrubada da floresta para erigir a
Departamento de Terras e Colonização em um
para residir e de onde saem para promover es-
a cidade recebeu, diretamente, imigrantes de di-
cidade, muitos tocos e toras vão ficando pelo
balcão de negócios para o enriquecimento pes-
trepolias. Vários desses homens temidos, cos-
versas etnias, com destaque para portugueses,
caminho, fazendo montes, juntando-se verdadei-
soal. Grupos passam a viver à sombra do gover-
tumeiramente vistos em bares, não são ignora-
que vieram com o objetivo de fazer a vida no co-
ras coivaras. As ruas são descalças.
no que detém o poder de mudar a geografia,
dos da população e tampouco das autoridades.
mércio, a exemplo de libaneses.
falsificando mapas e documentos. O espanto
Na década de 1950, voltaremos a eles.
Maringá nasce num clima de paz e sob a
precede o sussurro: Moisés Lupion vende terras
égide do trabalho, mas não muito longe, em
do Paraná até o quinto andar. Sob a sua respon-
Uma das diversidades marcantes da ocu-
pleno norte do Paraná, numa região adjacente
sabilidade, chefes de subdiretórios de partidos
pação do norte do Paraná, quando da sua colo-
às glebas de terra pertencentes à Companhia Melho-
recebem terras em troca de apoio político.”
nização, derivou da imigração. Segundo o livro
Fleuri Scheidt
ramentos Norte do Paraná, o cenário avança
“O Sonho se faz Acim” (2006), organizado por
Detalhe da Avenida
para um conflito armado, na luta pela terra. “No
A luta pela terra ocorre em muitas regiões do
Dirceu Herrero Gomes e Gilson Costa de Aguiar,
Brasil no trecho onde
verão de 1947, quando Moisés Lupion assume
Estado, mas não nas glebas da Companhia Melho-
é possível detectar migrantes e imigrantes das
hoje é a praça Napoleão
o governo do Paraná, a chapa está fumegando”,
ramentos, onde o desbravamento do sertão e a
mais diferentes origens. Mineiros e paulistas são
escreve Marcelo Oikawa em “Porecatu: a Guer-
atividade agrícola acontecem de forma ordeira.
a maioria, mas muitos remigrados. Portugueses
Moreira da Silva (ali funcionou a primeira Rodoviária).
ciais do Maringá Novo, fundada por dois irmãos
tar três contos de réis, a moeda da época, eles
portugueses em 1947, sobreviveu ao curso das
abrem um pequeno comércio de secos e molhados
décadas e perpetuou-se com nome Pneumar, hoje
naquele município. Em meados dos anos 1940,
uma grande organização do mercado de pneus e
Francisco e Manoel visitam o norte do Paraná e
serviços para automóveis, com atuação em vários
se deparam com vastas terras a explorar, o que
municípios.
os convence a se mudarem para a região. Após a compra de uma gleba rural em Capelinha, atual-
Casa Andó As histórias são diversas e embora a Casa Andó não tenha sobrevivido, foi um grande estabelecimento comercial na época em que surgiu e o primeiro sobrado do Maringá Novo, conforme relata o repórter Donizete de Oliveira, da Revista
A Casa Ribeiro foi erguida na esquina das
mente Nova Esperança, eles encomendam quatro
Avenidas Brasil e Herval por Francisco e Manoel
lotes urbanos em Maringá, onde iniciam o fun-
Feio Ribeiro. A história deles começa em 1929
cionamento da Casa Ribeiro, servindo as necessi-
Sem ferro para armar a estrutura da cons-
quando, ainda pequenos, acompanhados dos pais
dades da população. Uma loja completa, onde se
trução, Pedro usa pedaços de trilhos de linha férrea
e demais irmãos, cruzam o Atlântico e, em terras
acha desde comida, roupa, sapato, tecidos, ferra-
no meio das colunas de cimento. Logo a Casa
brasileiras, a família é arregimentada para traba-
gens e materiais de construção.
Andó está pronta. Um enorme comércio de
lhar em uma fazenda de café em Pirajuí (SP). Francisco Feio Ribeiro
secos e molhados, que vende desde tecidos, arreios para animais a penicos, aqueles esmaltados que ficavam embaixo da cama.
A poeira, segundo o arquiteto aposentado Shigueki, um dos 13 filhos do casal, tingia de vermelho encardido ruas e casas da principal avenida da cidade - a Brasil.
Pedro era um japonês obstinado: se punha alguma coisa na cabeça, tinha de fazer. Não desistia de seus sonhos, como o de ter uma casa de esquina em Maringá. Mas quando veio de Agudos (SP) não encontrou terreno em condições de concretizar seu sonho. Então, compra o terreno ao lado de sua casa e recua a construção vizinha, o que lhe permite ter uma esquina improvisada.
40
Uma história de confiança em Maringá, que ajuda a contar a trajetória do comércio da cidade. A Casa Ribeiro, um dos primeiros armazéns comer-
Acervo Família Ribeiro
Tereza Andó desembarca em Maringá em 1946.
Gerência de Patrimônio Histórico
Casa Ribeiro
o estabelecimento,
quase não descansam nem aos domingos. Ao jun-
no início, vendia de tudo
Tradição.
O casal de imigrantes japoneses Pedro e
atende cliente;
Para conseguir fazer uma poupança, os irmãos
Homens de visão, os dois irmãos entendem
imigrantes japoneses Toshimi e Shigueko Ishi-
que a venda de pneus é um bom negócio numa
kawa. Essa loja, com apenas uma porta no iní-
região de colonização em andamento, com es-
cio, ainda funciona no mesmo local. O casal tra-
tradas precárias que consomem demasiada-
balhou duro e conquistou clientela. Apesar de
mente os pneus dos veículos. Começa, então,
ser uma relojoaria, ali se consertava de tudo, de
a revenda desse produto.
espingarda a lampião. Foi assim, colocando objetos quebrados para funcionar e vendendo reló-
A sociedade de Francisco e Manoel se en-
gios, que a Omega firmou-se. Toshimi morreu
cerra em 1965, depois de 36 anos. Na divisão
em 2000 e, pouco tempo depois, um incêndio
do patrimônio, a parte dos pneus fica com
destruiu parte da loja. Solidários, muitos clientes
Francisco que, em 1972, funda a Pneumar.
levaram serviços para ajudar na reconstrução,
Acima, a Padaria Arco-Íris, na esquina da Avenida Brasil com a antiga Rua General Câmara (hoje Basilio Sautchuk). Embaixo, na imagem da Avenida Brasil no Maringá Velho, em 1953, o Restaurante Verdadeiro, de João Verdadeiro. Mais ao fundo, a Casa São Jorge, de Nassib
conforme lembra Kenzo Suzuki, que trabalhou Joaquim Romero Fontes, ex-cafeicultor,
Haddad. Observa-se também uma ambulância da então Casa de Saúde e Maternidade Maringá.
na casa durante 40 anos.
e habitual cliente da loja. “As aquisições de
Em 1951, Junji Massago também se insere
tecidos para os trabalhadores eram feitas na
entre os pioneiros nesse ramo e funda a sua
Casa Ribeiro, onde se encontrava ‘de prego a
relojoaria, batizando-a com o sobrenome da
pano’”. Segundo Fontes, achava-se ali um tipo
família. Pouco tempo depois, abre uma filial em
de tecido resistente e indispensável para a
Uraí, na região norte do Estado, que é adminis-
dura labuta na roça, que servia principalmente
trada pelo irmão Teruo. Ele fica naquela cidade
para calças, que se mandava fazer. “Ainda não
até 1958, quando a filial é vendida, retornando
existia jeans nessa época”, observa.
a Maringá. Dois anos mais tarde, Teruo adquire
Gerência de Patrimônio Histórico
lembra que foi amigo dos irmãos portugueses
O Bar Lisboa foi inaugurado em 1948, sendo o primeiro a ser construído no Maringá Novo. Ficava em frente a atual Praça Napoleão Moreira da Silva, esquina da Avenida Duque de Caxias com a Rua Santos Dumont. Francisco Gonçalves foi o seu proprietário
a parte de Junji e estimula o filho Osvaldo a aprender o ofício de relojoeiro. Em 1974, a
Relojoarias Omega e Massago
empresa passa a atender na Avenida Brasil, em endereço nobre, onde permanece por 30 anos, fixando-se a partir de então na Rua Joubert de
Outras duas casas que nasceram pratica-
Carvalho. A Casas Pernambucanas
mente quando da fundação de Maringá, as Re-
42
(na foto de cima)
lojoarias Omega e Massago perduram até hoje.
Osvaldo diz sentir orgulho por ter ajudado o
Na esquina da Avenida Brasil com a antiga rua
pai e o tio a construir uma marca de tradição, “o
no endereço onde
General Câmara, é instalada em 1949 a Relo-
que somente foi possível trabalhando com hones-
manteve uma segunda loja
joaria Omega, por iniciativa de outro casal de
tidade e idoneidade”.
abriu suas portas em 1947 está até hoje. Por vários anos, no Maringá Velho (ao lado).
Desbravadores do comércio de Maringá
43
A Vila Operária O ano de 1947 foi também o de nascimento
é tão gritante que, não sem motivo, a Companhia
Ainda na década de quarenta, os maringa-
constrói ali, no ano de 1953, em parceria com a
enses teriam mais duas opções de bancos. Atenta
igreja católica, a Santa Casa de Misericórdia.
ao pujante desenvolvimento dos municípios do norte do Paraná, a direção do Banco Brasileiro
da Vila Operária, previsto pelos ingleses da Companhia e incluso no plano urbanístico de Maringá. É uma região da cidade que foi reservada, inicialmente, ao proletariado, a trabalhadores que de-
de Descontos S/A instala uma unidade na Rua
Real Aerovias, a primeira a chegar
Santos Dumont que, mais tarde, é transferida em definitivo para a esquina da Avenida Getúlio Vargas com a antiga Rua Aquidaban (atual Néo
viam residir nas proximidades das fábricas. Por isso, a princípio, os lotes residenciais não têm a mesma valorização que outros bairros. Porém, esse núcleo torna-se tão dinâmico quanto o Maringá Velho, conforme observa o historiador João Laércio. Além de uma rede de estabelecimentos comerciais, ali são instaladas indústrias diversas, entre as quais tornearias, fabricantes de ladrilhos,
O historiador Miguel Fernando Perez Silva regis-
Alves Martins). E, em junho de 1949, é inaugu-
tra que já em 1947 o ramo de hotéis ganha uma
rada uma das agências mais importantes para a
associação e uma de suas primeiras iniciativas é
história inicial da cidade, a do Banco Noroeste do
reivindicar uma linha regular da Real Aerovias,
Estado de São Paulo S/A, na estratégica esquina
que havia sido fundada em 1945 pelo empresário
das Avenidas Brasil e Duque de Caxias. Embaixo,
paulista Vicente Mammana Neto. Vislumbrando
o historiador Miguel Fernando
o potencial de Maringá, a Real é a primeira com-
carroças, refrigerantes, vassouras, máquinas de
panhia aérea a incluir a cidade em seu roteiro.
café e arroz, serralherias, palmitos em conserva,
Anos mais tarde, em 1954, o setor hoteleiro con-
oficinas mecânicas e outras tantas.
tava 35 estabelecimentos de vários tamanhos.
O primeiro prefeito de Maringá, Inocente Villanova Júnior, implanta ali a sua serraria entre 1944 e 1945, passando a residir na chácara que a família
Os primeiros bancos
na Avenida Tuiuti). Na eleição municipal de 1952,
Conforme já foi mencionado, os comerci-
é eleito com o voto da classe pobre, derrotando
antes e moradores de Maringá que precisassem
Waldemar Gomes da Cunha, o Waldemar Barbu-
lidar com banco, tinham que se deslocar até
do, representante da elite.
Mandaguari. Essa dificuldade só é superada em 1948, quando a cidade passa a contar com a sua
44
Com o passar dos anos, famílias em situação
primeira agência bancária, implantada pelo Banco
miserável fazem da Vila Operária o seu reduto,
Comercial do Paraná S/A., sediado em Curitiba. A
tanto que alguns cortiços resistem até a década
instituição ocupava um imóvel na esquina da an-
de oitenta, entre os quais o da “Carolina” e “do
tiga Avenida Ipiranga, hoje Getúlio Vargas, com a
Suspensório”. Na parte de baixo da Avenida Lagu-
rua Santos Dumont, conforme cita o historiador
na, só moravam os menos favorecidos. A carência
Miguel Fernando.
Fonte: Museu Bacia do Paraná / Revista A Pioneira, de setembro e outubro de 1949 / Acervo Maringá Histórica.
mantém até hoje (ao lado da Estação Rodoviária,
Anúncios que se via no comércio durante a década de quarenta
-
Atividade comercial forte A cidade é polo importante Máquinas de café e algodão É tempo de mascates
Acervo particular
1950 – 1960
A década de 1950 foi repleta de importantes
Com matriz em Curitiba e filiais em diversas
acontecimentos para o comércio da dinâmica ci-
cidades do interior, a Hermes Macedo estava em
dade, que se estruturava, se diversificava e se forta-
acelerado processo de expansão, inclusive para
lecia rapidamente. Embora a emancipação política
outros Estados. No futuro, com mais de 130
só tivesse ocorrido em 1951, realizando-se no ano
unidades e entre os maiores grupos do Para-
seguinte a primeira eleição para o executivo e o
ná, usaria o slogan “Do Rio Grande ao Grande
legislativo, Maringá já era maior que Mandaguari –
Rio”. Bordões empregados frequentemente em
município à qual pertencia como distrito.
suas propagandas ficaram famosos e são ines-
Em vez de construções de madeira, comuns no Maringá Velho e na Vila Operária, o Maringá Novo
Por sua grande relevância comercial, a
ganhava edificações mais modernas para a época,
Praça Napoleão Moreira da Silva se transforma,
sob um impressionante ritmo de construções.
rapidamente, em uma referência, onde se pode achar quase de tudo. Até cinema e banco tem ao seu redor.
A movimentada Praça da Rodoviária, que virou Praça Napoleão Alguns símbolos dessa nova fase comercial
Com isso, o comércio evolui e faz de Maringá
O pioneiro Joaquim Romero Fontes recorda-
um centro regional, não impedindo que os velhos
se que tinha preferência, em matéria de calçados
armazéns continuem firmes, com sua clientela
e artigos de couro, por uma das lojas mais anti-
fiel e a maneira simples de atender, do agrado da
gas da cidade: a Casa Anete, que saiu do Maringá
maioria das pessoas. A caderneta resiste, mas o
Velho e foi para a antiga Rua General Câmara.
uso do talão de cheques vai ficando mais comum.
“Ali se achava selas, arreios, cordas, botinas e sapatos”, lembra Fontes, explicando que quem
da cidade são as grandes lojas de departamentos, entre as quais se destacam Prosdócimo e Hermes Macedo (HM), uma defronte da outra, na antiga
50
Gerência de Patrimônio Histórico
quecíveis, como “pneu carecou, HM trocou”.
Em seu livro “Maringá do Ingá”, Hilário Gomes cita outros estabelecimentos que faziam
fazia as compras para atender as demandas de suas fazendas era o cunhado Antonio Martos Peres, o “Tonico”.
A praça concentrava ao seu redor um grande número de estabelecimentos
à praça. Como no início dos anos 1950 a cidade ainda não contava com energia elétrica, gráficas e tipografias utilizam equipamentos movimentados por pedais. Isso mesmo: recorriam à força dos pés dos trabalhadores, a exemplo do que ocorria com as velhas máquinas de costura. O
Rua General Câmara (hoje Basílio Sautchuck),
frente para a Praça Napoleão. “Surge o Açougue
em um dos cantos da praça da rodoviária que,
Central, na esquina da Rua General Câmara com
em 1957, passou a ser denominada Napoleão
a Avenida Brasil. Já o Hotel Bom Descanso, ao
Moreira da Silva. A propósito, por muitos anos
lado da Caixa Econômica, foi um dos primeiros
esse local seria chamado pelo povo de “Praça das
no Maringá Novo e era dirigido por Flávio Cera-
Pernambucanas”, uma referência a essa loja, situa-
volo, um paulista casado com a húngara Suzana.
movimento contínuo dos pedais, recorda-se. Só
da na esquina das Avenidas Brasil e Duque de
A construção de madeira era pintada de amarelo
mais tarde, com o crescimento do negócio, é que
Caxias e há poucos metros de outro importante
opaco e, mudando os donos, ganhou outro nome:
o proprietário adquiriu um motor a diesel, para
estabelecimento do ramo, a Lojas Riachuelo.
Hotel Aliança”.
alívio dos funcionários.
A Tipografia e Papelaria Maringá, de propriedade de João José de Oliveira, estava estabelecida na Avenida Duque de Caxias, em frente
Desbravadores do comércio de Maringá
gráfico Reynaldo Costa lembra que não havia outro meio. Pouco tempo depois de 1950, ano em que chegou com a família do interior de Minas Gerais, Reynaldo foi trabalhar na Tipografia. Ele ficava o tempo todo “gerando energia” com o
51
Acervo particular
Costa, que perpetuou seu nome como idealizador do brasão e da bandeira do município, guardou na memória a imagem dos estabelecimentos que encontrou ao redor da Praça Napoleão, à época a rodoviária do Maringá Novo. A Casa Avante, de Adolfo Andreucetti, na Avenida
cos, partituras e instrumentos musicais. Quase ao lado, a Loja Cearense, especializada em secos e molhados, onde se podia achar uma variedade
Se observa, à
de produtos do Nordeste, como charques, rapa-
O fotógrafo
duras e objetos. Nas proximidades, a Relojoaria
que registrou grande parte
Boso e a Farmácia Morifarma, esta última de
esquerda, o prédio da Prosdôcimo que,
Nélson Moribe. Na esquina onde hoje funciona
ao lado da Hermes
a agência do Banco do Brasil, havia o Bar São
Macedo, era uma das mais concorridas
João, vizinho da Vidrospel, do austríaco Sil-
da cidade; ao lado,
vestre Tomal. Desse mesmo lado, avistava-se o
anúncio da geladeira à querosene, uma
Foto Maringá, dos irmãos Ueta. E, na esquina da
novidade. E, nas fotos
Avenida Brasil com a Duque de Caxias, uma das
menores, detalhe da
Gazeta do Povo
Brasil, foi uma das primeiras a comercializar dis-
da história da cidade, chegou em 1951
Santos Maru, os Ueta se fixaram em Pompéia, no interior paulista. Eles trabalharam na lavoura, com a ideia de juntar dinheiro e voltar para casa. Mas como era preciso dividir metade dos lucros com o patrão, não sobrava muita coisa e acabaram
placa do movimen-
primeiras instituições financeiras da cidade, o
ficando. Kenji seguiu na roça até a mocidade,
tado Bar Central e a
Banco Noroeste do Estado de São Paulo.
quando trocou de ofício, atuando em uma fá-
fachada da Drogaria
brica de tecidos e no comércio em São Paulo.
Gerência de Patrimônio Histórico
Morifarma
Na esquina em frente, onde hoje há uma lo-
Lá, ficou sabendo de Maringá por intermédio do
térica, ficava Ao Camiseiro, comandada por Amir
irmão Yukio, veio conhecer a cidade em agos-
Burian, de origem armênia. E, bem perto dali,
to de 1951, quando tinha 26 anos, ficou muito
uma casa de móveis de Constantin Constantin.
admirado e decidiu mudar-se com mulher e filhos pequenos. Lembra-se que quase chegan-
Kenji Ueta
do, a bordo de um avião, já sentia o cheiro do pó vermelho. O irmão Yukio já morava aqui há alguns meses, onde havia comprado um estúdio
52
A família de Kenji Ueta chegou ao Brasil em
fotográfico. Convidado, Kenji não teve dúvida em
1933, atraída pelas propagandas sobre o país.
entrar na sociedade, gesto repetido depois por
“Diziam que em três meses se enchia um saco
outro irmão, Tetsuaki. Ele conta que fez logo
de dinheiro”. Após 48 dias de viagem no navio
muitas amizades. E não se esquece de algo que
Desbravadores do comércio de Maringá
53
Em 1956, eles adquirem uma câmera
veterinários na Praça da Rodoviária. João Batista
japonês, no Cine Horizonte. A vida em Maringá,
profissional Linhof, por cerca de 20 mil
chegou menino à cidade em 1949, trazido por
no entanto, não foi fácil para o casal, que perdeu
dólares. E, quatro anos depois, uma impressora
sua família, inicia o curso primário no Grupo Es-
o filho Júlio, de apenas 7 meses, em decorrên-
Agfa Variograd, que por algum tempo foi única
colar do Maringá Novo e, em 1951, conhece o
cia de um problema que ceifava muitas vidas na
em Maringá, onde eram impressas fotografias
época: a péssima qualidade da água, causadora
em preto e branco.
de diarréias. Ele se lembra, também, do barulho
Acervo particular
gostava especialmente: as sessões de cinema
comerciante Astolfo Castanheira Sobrinho.
Astolfo precisava de alguém para distribuir
dos machados picando lenha no centro da ci-
Em 1965, é aberta a segunda loja, com o
dade. “Nos finais de tarde, famílias se dirigiam
nome de Ueta, a cargo do filho Shiniti, que comer-
Após uma forte geada no final da década de
cial, o Posto Veterinário de Maringá, que ocupa
para recolher lenha no lugar onde hoje é a Lo-
cializa material fotográfico e revela filmes. No
1950, Shimabukuru não pensa duas vezes: tro-
um pequeno espaço: uma porta única na an-
jas Americanas”, diz. “O barulho dos machados
final da década, ambos adquirem a participação
ca o lote rural por outro localizado na Avenida
tiga Rua General Câmara. Ficava bem ao lado
era o sinal que marcava, diariamente, o fim do
de Yukio e Tetsuaki.
São Paulo, esquina com a Avenida Brasil. Ali,
de O Mundo das Máquinas, dos irmãos João e
em 1960, funda a Casa Econômica, onde vende
Chiquinho Gonçalves.
expediente de trabalho.” Além de fotos de estúdio, os Ueta acompanhavam eventos sociais e políticos e faziam um autêntico fotojornalismo, perpetuando imagens que, no futuro, ajudariam a relatar a história da cidade.
panfletos sobre a abertura de sua casa comer-
Grande parte do vasto acervo de fotografias
calçados, camisas e chapéus. Alguns anos mais
tiradas durante as primeiras décadas, por Kenji
tarde, em novembro de 1966, a Casa Econômica
Depois de abrir a clínica, Astolfo convida João
Ueta, retratam cenas que incluem detalhes e mo-
se torna a Loja Genko. E, em junho de 1969, a
Batista para trabalhar com ele na parte da tarde,
mentos importantes do comércio da cidade.
empresa inaugura sua primeira filial, a Shima
cumprindo expediente logo após o horário da
Calçados.
escola. “Aceitei imediatamente e lá trabalhei por alguns anos”, lembra. É com Astolfo que, ironica-
Kenji registrou a chegada da primeira composição
A Casa Econômica, que virou Genko
férrea, em 1954
Como se pode ver, os japoneses tiveram grande importância na fase de consolidação do
Genko Shimabukuro foi sepultado no dia 31
mente, o menino dá seus primeiros passos no
de maio de 2011, aos 89 anos. O bem sucedi-
aprendizado da medicina. “Ele me ensinou o que
do empresário, que apreciava a filantropia, era
era injeção intramuscular, subcutânea e intra-
conhecido por sua retidão e raramente visto em
venosa. Aprendi a aplicar injeção em cachorros,
eventos.
gatos e cavalos, e a tratar algumas doenças. Assim, descobri minha vocação para a medicina”.
comércio de Maringá. Vamos a mais um exemplo. Originário da província de Okinawa, no Japão, Genko Shimabukuru, como fizeram muitos de seus compatriotas, trabalhou duro em lavouras
O Posto Veterinário
O paulista Astolfo tinha desembarcado em Maringá em 1950, aos 20 anos, trazendo um diploma de técnico agrícola com direciona-
de café no Estado de São Paulo. Em 1953, atraído originaram
mento para a linha veterinária. Com sua casa,
quire um sítio e para cá se muda a fim de iniciar
histórias curiosas. O médico João Batista Leo-
foi pioneiro no ramo da veterinária, prestando
o plantio do “ouro verde”. No entanto, seu futuro,
nardo relata que sua vocação para a medicina
atendimento a proprietários de animais de toda
e o de sua família, não estavam na agricultura e,
somente foi despertada porque ele trabalhou,
a região “com competência e dedicação”, ressalta
sim, no comércio.
durante algum tempo, em uma loja de produtos
João Batista.
pelas oportunidades oferecidas por Maringá, ad-
54
Casas
comerciais
pioneiras
Desbravadores do comércio de Maringá
55
Astolfo casou-se em janeiro de 1959 com Else, filha de Nelson Rocha, dono do Hotel Comercial, uma pequena construção de madeira situada em frente onde hoje é o Hotel Indaiá.
Acervo particular
Na pequena casa veterinária, João Batista e Astolfo não se cansavam de ouvir as músicas e reclames
Segundo Hilário Gomes, tantos outros pré-
ma praça. Era marcante, segundo João Batista, a divulgação do convite para o Cine Maringá: “não percam hoje o filme tal e mais um capítulo do seriado ‘A Deusa de Jobá”’. O cinema, pertencente a Odwaldo Bueno Netto, ficava onde atualmente é a Loja Riachuelo.
cidade que crescia a olhos vistos. “No Edifício
Em 12 de abril de 1953, era criada a Asso-
o 2º vice-presidente Jaime Kanebley Filho, o
Amazonas, que fica na esquina da Avenida Brasil
ciação Comercial e Industrial de Maringá (ACIM).
1º secretário Waldomiro Cordeiro da Silva, o
com a Avenida Paraná, existia a Farmácia Júnior.
A primeira reunião aconteceu no Cine Maringá,
2º secretário Edgard Amaral Camargo, o 1º te-
Em frente, onde depois foi a agência do Banes-
presidida por Ângelo Planas. Participaram
soureiro David Rabello, o 2º tesoureiro João
tado, era a concessionária Chevrolet Zacarias
da mesa: Emilio Germani, Sadi Nogueira, José
Lemes Júnior, e o bibliotecário Manoel Francis-
Veículos. Ainda na Avenida Paraná, a Casa Gaú-
Lemes Júnior e César Haddad.
co dos Santos. Para o Conselho Fiscal, Herbert
cha do saudoso e folclórico Egídio Assmann.”
ruas não eram asfaltadas”, ilustra. E, ao completar o primário, João Batista teve que mudar-se para Jacarezinho a fim de dar sequência aos estudos, uma vez que em Maringá ainda não havia o curso ginasial.
Francisco Dias Rocamora, um dos
fazendo reclames das empresas e tocando musicas
Acervo particular
pioneiros do rádio maringaense, Cruzeiro do Sul na Praça Napoleão,
Mayer, Sadi Nogueira e Antônio Barbatto; ConPara a escolha da primeira diretoria, 75 em-
selho Consultivo: Alfredo Moysés Maluf, J. Alves
Ao comentar sobre os setores mais impor-
presários compareceram ao auditório da Rádio
Veríssimo, Mercantil Fujiwara, Manoel Ribeiro,
tantes da economia local nos primeiros anos de
Cultura, em 5 de junho de 1953. Eles elegeram
Orlando Pedrazoli, Lauro Gonçalves Dias, Nassib
Maringá, o pioneiro Joaquim Romero Fontes faz
o presidente Américo Marques Dias, o 1º vice-
Haddad e Irmãos Suzuki.
referência a um que conheceu bem de perto: o
presidente Manoel Rodrigues da Silva Júnior,
de serrarias, sempre muito movimentadas, repletas de grandes toras nos pátios e destino de muitos
Os primeiros associados:
caminhões carregados que se via chegando de
“Convivíamos com a poeira e o barro, pois as
operava o Serviço de Alto-Falante
A fundação da Associação Comercial
dios de alvenaria começaram a se espalhar pela
do Chico Rocamora, com o seu Serviço de Altofalante Cruzeiro do Sul, instalado naquela mes-
56
Pelas imediações
todo lado. Onde havia uma serraria, ressalta o
- Somaco
- Silvestre Thormal
- Fábrica de Ladrilhos Paulista
pioneiro, se observava filas enormes de caminhões
- Rubens de Almeida Pupo
- Irmãos Gabriel
- Alfredo Toscano
trazendo matéria-prima. Nessas empresas é que
- Nelson Moura Marques
- Gregório Korneiczuc
- Fernando Toscano
perobas, ipês, cedros, gurucaias, jacarandás,
- J. Alves Veríssimo
- José Guilhem Gomes
- Lauro Eggers
canafístulas e outras espécies de gigantes da
- Julio Correia de Oliveira
- Banco do Estado de São Paulo
- Tisuruji Vassaka
floresta, viravam tábuas e madeiras usadas em
- M. Matsuda Organização & Cia
- Banco Sul Americano do Brasil
- Indústria Madeireira Maringá
construções em geral. “Esses materiais atendiam
- Hermes Macedo
- Auto Peças Maringá
- Antonio Eufrasino de Oliveira
cidades do norte do Paraná e também do interior
- Sociedade Agrícola Santa Luzia
- Hatsuyoshi Matsuo
- João Vargas de Oliveira
de São Paulo”, lembra Fontes.
- Elias Feres de Melo
- Sebastião Alves
- Progiante Sanches & Cia
- Drogaria Constantim
- Sociedade Telefônica
- Tomé Alebi Cury
- Izidoro Pereira Ind. Com.
- Casa Vila Real
- Pedro G. da Luz
- Metalúrgica Atlas
- Motores Ormacel
- Casa S. Paulo Tecidos
- Fiori e Rossato
- Nelson Abrão
- Massayushi Fomita
- Carlos Vieira da Silva
- Mitude Nozoki
- Francisco Rovedi
Desbravadores do comércio de Maringá
57
Odwaldo e Winifred Bueno
Netto
participantes muito ativos história
do
bem debaixo do nosso nariz”, registrou. Segundo
da. E, do interior paulista, muitos já tinham se
ela, caminhões passavam o tempo todo em frente
mudado para o sertão paranaense com o objetivo
ao bazar e levantavam uma poeira densa, sujando
de fazer a vida.
as mercadorias e as pessoas. Diante disso, decidiu
e a esposa Winifred foram
da
pessoas que comentavam de forma entusiasma-
comércio
e do desenvolvimento de Maringá. Além de produtor de café, ele montou aqui o
que só colocaria na vitrine as roupas que servis-
O movimento que ele encontrou na cidade
sem para algum membro de sua família. Assim,
nascente era grande e promissor. Com isso, ani-
quando estivessem encardidas, ela as recolheria
mou-se a comprar um salão onde instalou uma
para o próprio uso, amenizando o prejuízo. O
casa de secos e molhados na esquina da Avenida
bazar foi fechado em 1953.
Duque de Caxias com a Rua Santos Dumont (onde hoje é o Banco do Brasil). Depois de algum tempo,
Cine Maringá, o primeiro do Maringá Novo, foi representante
da
empresa
Acervo particular
Dias
Martins S/A., abriu uma empresa de táxi aéreo (a Tama – Transportes Aéreos Maringá Ltda.) e, entre várias outras
O Cine Maringá é o terceiro prédio a partir da direita, quase
ergueu um pequeno prédio na antiga Rua Gene-
za, o Paraná e o Horizonte, este último em socie-
ral Câmara, em frente à Praça Napoleão Moreira
dade com os Del Grossi.
da Silva, onde a Casa Peralta consolidou-se como o endereço preferido de um grande número de
ao lado do Bazar OK (com placa em frente); na outra página, a Casa Peralta, vizinha do Mundo das Máquinas, do Salão Elite, do Posto Veterinário e da Casa Anete
participações, foi um dos fundadores da Cocamar – Cooperativa de Cafeicultores de
Às vezes, o avião não trazia as fitas; em outras
Maringá Ltda., assinando a ficha de número
ocasiões, o caminhão atolava no caminho,
1. A esposa teve o Bazar OK, o primeiro do
frustrando os expectadores. Quando havia
gênero, quase ao lado do cinema.
filme e plateia, podia faltar energia.
O casal veio para Maringá em 1947,
Já a esposa Winifred, que era nascida na ilha de
proveniente de Catanduva (SP). Foi uma
Santa Helena (um território ultramarino britânico
longa viagem de caminhão e, além dos dois
no Atlântico Sul), falava mal o português, o que
adultos, havia seis crianças – Peter, Delia,
não a impediu de abrir um bazar. “Nós não tínha-
Bárbara, Odwaldo Jr, Renato e o bebê Waldwin.
mos dinheiro, mas tínhamos crédito”, relatou ela
O filho mais velho, Carlos, de 16 anos, tinha
no livro “Quando o amor transpõe o oceano”, edi-
ido a São Paulo para comprar, na Mesbla,
tado em 2005. O problema do português sofrível,
equipamentos destinados ao cinema que os
que dificultava a comunicação com os clientes,
pais pretendiam instalar na nova cidade.
só não foi pior que outro: os roubos. “Os homens colocavam uma cinta em cima da outra, pagavam
58
A família construiu outros três cinemas: o Pla-
No começo, não havia uma única vez em
os chapéus que estavam à venda, punham na ca-
que o filme fosse exibido sem um contratempo.
beça e simplesmente saíam sem pagar e as mu-
fregueses.
Casa Peralta Antonio, um dos filhos de José, lembra que Em 1948, José Peralta deixou para trás Presi-
as vendas de ferramentas, utensílios e de uma
dente Bernardes (SP) e veio sondar o terreno na
série de outros produtos, dava lucro devido as
famosa Maringá, um lugar do qual ouvia falar
grandes derrubadas de matas que se fazia para
várias vezes ao dia. Quando não saía propaganda
o plantio de café. Entregar as mercadorias, no
nos jornais ou no rádio, chamando a atenção de
entanto, só recorrendo a carroças, pois as estra-
investidores para as oportunidades que surgiam
das eram intransitáveis, principalmente quando
no novo eldorado do norte do Paraná, eram as
chovia. Gerência de Patrimônio Histórico
Odwaldo
lheres roubavam novelos de lã e outros objetos
Acervo Família Ribeiro Gerência de Patrimônio Histórico/Maringá Ilustrada
Maringá se consolidava como centro importante onde moradores da cidade e região podiam encontrar uma ampla linha de produtos e serviços.
60
Acervo particular
Acervo particular
Radiadores Maciel “Radiador de automóvel é como cabeça: a gente sabe que está usando quando dói ou quebra.” A frase foi extraída de uma matéria publicada em 1962 na Revista Norte do Paraná.
Zé Maciel (foto do lado) era o proprietário da empresa de radiadores que leva o seu nome e foi uma das primeiras do ramo em Maringá – aberta em 1957 - e até hoje em atividade na Avenida Colombo.
O fundador, já falecido, nasceu em Palmital (SP) e antes de mexer com radiadores se destaO comércio se fortalecia e a
cou jogando futebol em vários times pelo inte-
Nei Rúbio, um dos primeiros funcionários,
cidade deixava de lado
rior de São Paulo. Era goleiro. Aqui, ele atuou
hoje está no comando da empresa. Ele diz se re-
pelo SERM, no Maringá Velho e, mais tarde, pre-
cordar com saudades daqueles anos, apesar das
sidiu a Liga Amadora Regional de Futebol. Em
dificuldades e sacrifícios: “Era uma equipe muito
seu negócio, foi distribuidor autorizado de ra-
esforçada, que não tinha hora para descansar”,
diadores Colméia.
observa.
Casa das Noivas
Ajuda, vai
Gerência de Patrimônio Histórico
os resquícios da floresta
Mineiro de Bocaiúva, Mário dos Reis Meira
Num famoso bar, ponto de encontro de elei-
chegou a Maringá em 1945, com a idade de trinta
tores, políticos e fofoqueiros, o sanitário era imundo,
anos. A princípio, alugou uma casinha na Avenida
porque os clientes não colaboravam. Para solu-
Brasil, no Maringá Velho, onde se estabeleceu no
cionar o problema, o proprietário afixou um
ramo de tecidos e confecções. Depois, mudou-se
cartaz, pedindo a compreensão e o empenho de
para o Maringá Novo, onde abriu o Palácio das
todos: “Seje mais injiênico, não pize na bassia,
Noivas.
não entupa o vazo com jornal e dá deiscarga”. (Antonio Padilha Alonso e Osvaldo Reis).
62
Desbravadores do comércio de Maringá
63
Acervo particular
ZACARIAS
PISMEL
Com sua sede na Avenida Paraná, esquina
Em Maringá, onde manteve suas atividades entre
com a Brasil, surgia em Maringá no dia 7 de junho
1951 a 1998, a Pismel Veículos chegou a ser uma
de 1951 a Sociedade Anônima de Automóveis de
das maiores concessionárias Ford do país. Manoel
Maringá. Fundada por sete empresários paulistas,
de Araújo Pismel, um dos quatro filhos do fundador
a empresa comercializava não apenas automóveis
João Batista Gurgel Pismel, conta que o portfólio da
e caminhões da marca Chevrolet, mas também tra-
empresa incluía automóveis, caminhões, tratores, re-
tores e até mesmo rádios e refrigeradores, entre
venda de motocicletas Yamaha e Honda e a represen-
outros produtos.
tação de veículos e máquinas pesadas Engesa.
A empresa passou cinco anos com esse nome e
A história da Pismel começa em 1925, na cidade
em 1956 é transformada em “Sociedade Anônima
de Jaguariaíva (PR), quando João Batista, farmacêu-
Zacarias”, passando a ser dirigida por Ciro Frare.
tico de profissão, abre uma revenda Ford. Tempos mudados, os calhambeques ganhavam as ruas,
Em 1975, a então Zacarias Veículos muda-se
deixando as carroças e cavalos na poeira. A partir
para a avenida Tuiuti, número 445, a atual sede,
de então, quem quisesse ter um “Pé de Bode” – de-
onde ocupa uma área de 30.000 m².
nominação que popularizou esse veículo – recorria ao agente Ford local que faturava diretamente
a empresa chegou em 1958 e as instalações definitivas foram inauguradas em 1960
filhos pequenos (Ubirajara, Manoel e Brasílio) se
Participar era com os Pismel. Logo em sua che-
mudam para a nascente Londrina. Ali, a revenda
gada à cidade, eles integraram um movimento que
Ford acrescenta outros produtos à sua linha, como
se formava nos principais setores da sociedade para
o pequeno trator Fordson Major de rodas de ferro,
eleger o prefeito que sucederia Américo Dias Ferraz.
movido a querosene.
O nome, que seria vitorioso, era o de João Paulino Vieira Filho. “Ele representou o início de um novo
A família permanece na cidade até 1958, quan-
tempo para Maringá”, salienta Manoel, justificando:
do vai ser pioneira Ford em Maringá, levando agora
“precisávamos de mais seriedade para vencer os de-
mais um membro, a caçula Maria Aparecida. Antes
safios. O prefeito anterior, um homem sem cultura,
disso, vende a concessão local para a Mayrink Góes
conquistava votos ao fazer sua campanha em cima
e abre outra na Cidade Canção, a Pismel Veículos.
de uma motoniveladora, tapando buracos em ruas
Quando da solenidade de posse de Inocente
a fábrica em Detroit (EUA). De lá, as encomendas
sem asfalto. Sem desmerecer, mas era preciso al-
Villanova Júnior, o primeiro prefeito da cidade, em
Nessa época, a cidade era servida por outras con-
vinham desmontadas em caixotes até Santos (SP),
guém à altura da cidade”.
1952, a empresa cedeu suas instalações para que
cessionárias, entre as quais a Somaco, a Dama, a
seguindo de trem para São Paulo e, finalmente,
o evento pudesse ser realizado ali, uma vez que
Transparaná e a Zacarias.
também por linha férrea, a Jaguariaíva. Vencida essa
não havia até então um lugar mais espaçoso na
odisseia, João Batista colocava sua equipe para tra-
algodão atingiu em cheio o setor de revenda de
cidade.
Graduado em Ciências Econômicas e Adminis-
balhar, montando os veículos. As coisas iam bem,
trativas, Manoel Mário de Araújo Pismel, filho
carros. Preocupados e determinados a melhorar a
mas os conflitos internos no país, durante a década
do fundador, lembra que a sua família atuou
situação dos revendedores Ford-Willys no Paraná,
de trinta, levaram o exército a requisitar os “Pés de
nessa atividade durante 73 anos e, em Maringá,
17 empresários ligados à montadora americana se
Bode” que estavam prontos para entrega e, de que-
engajou-se de corpo e alma no desenvolvimento
reuniram em Maringá sob a liderança de Manoel
bra, o estoque de duas farmácias. Para complicar, a
do município. “A cidade, apesar de progressista,
Pismel. Daquela reunião nasceu um movimento so-
região sofreu esvaziamento com o fim dos pinhei-
era uma lástima: não havia asfalto, energia elé-
licitando mais diálogo entre revendedores e a mon-
rais, levando as serrarias ao declínio.
trica, escolas, faltava tudo”, recorda-se Manoel,
tadora, que se alastrou pelo país e resultou na cria-
que presidiu a então Associação Comercial e In-
ção do Conselho Nacional dos Revendedores Ford.
dustrial de Maringá (ACIM) em dois mandatos:
Manoel participou ativamente do órgão, assumin-
1960/61 e 1964/65.
do inclusive a presidência na gestão 1974/75.
Em 1936, atento às oportunidades oferecidas pelo norte do Paraná, João Batista, a mulher e três
64
Manoel Mário de Araújo Pismel;
No final dos anos sessenta, a crise do café e do
Desbravadores do comércio de Maringá
65
O maringaense também participou da criação da
reconhecimento, o qual ficou registrado no livro
pelo cansaço, obrigou-se a saciar a sede colhendo
desastrosa para o comércio. “Para o cafeicultor
Abradif – Associação Brasileira dos Distribuidores
“O Sonho se Faz ACIM”, publicado em 2006:: “Os
mel de uma colmeia avistada no lugar onde hoje
foi difícil, porque ele precisou mudar de atividade.
Ford – em 1980.
pioneiros tinham como característica principal o
é o Mercadorama, ao lado do Parque do Ingá. Se
Naquela manhã, o cafezal amanheceu cheirando
trabalho. Mas, sempre deram importância para os
avançasse mais 150 metros, encontraria minas
a queimado”, lembra. Porém, os bancos abriram as
Ubirajara, irmão de Manoel, também foi presi-
estudos, tanto que os sitiantes, mesmo os peque-
de água cristalina que atualmente
portas para os comerciantes, oferecen-
dente da ACIM, na gestão 1970/71. Falando sobre
nos, se sacrificavam para estudar os filhos. Quem
abastecem a represa do Parque. Se-
do dinheiro barato. Era uma forma
a história da cidade, ele diz que é preciso fazer um
não conseguia formar um filho se sentia mal.”
gundo ele, havia tanto cateto (espécie
de ajudar o povo e evitar uma grande
de porco do mato) que, com a carne
quebradeira. José deixou a João Vargas
desse bicho, se fazia uma linguiça es-
em 1991, poucos anos antes de a rede
pecial, muito apreciada entre os mo-
ser consumida pela crise que aniquilou
radores. Quando chovia, a barro era
com várias organizações importantes
tanto em Maringá, lembra José, que
durante aquela década. Bem antes, em
se punha correntes até mesmo
1985, ele já havia aberto um negócio
nos pneus dianteiros dos veículos. Ainda as-
próprio, em sociedade com amigos, que tentava
sim, o “subidão” do Maringá Velho era difícil de
consolidar-se: a Jacarandá Móveis, um comércio de
vencer.
produtos populares, novos e usados, como guardarroupas, mesas, cadeiras e armários. Ao lado dos só-
Lojas João Vargas de Oliveira Situada na Avenida Brasil, quase ao lado da Relojoaria Omega, a filial de Maringá das Lojas João Vargas de Oliveira - cuja sede ficava em Ponta Grossa - só vendia artigos de luxo, nacionais e importados, entre móveis, eletrodomésticos e presentes. Quem lembra é José Aldo Marques, que durante 33 anos prestou serviços àquela empresa, muitos dos quais na função de gerente. A inauguração aconteceu em 1952 e José garante se recordar do nome José Aldo (na página seguinte) vive na cidade desde
do primeiro freguês: João de Barros, que teria adquirido uma panela de pressão “Panex”.
Por outro lado, ao contrário do que muita
cios Jair Rossi e Emanuel Zanetti, a pequena empresa
Maringá praticamente desde o início da formação
gente fala, a geada de 1975, que acabou com
foi em frente e hoje são duas unidades na Avenida
do Maringá Velho, iniciada em 1942. “Onde hoje
os cafezais da região e de todo o Paraná, não foi
Brasil, ambas na Vila Operária.
é o Maringá Novo, só existia um matagal fechado”, diz. Muito antes de ser admitido para trabalhar na João Vargas, em 1956, José cita que gostava de explorar o mato, em busca de mel. Quando achava, era só cortar um pedaço de taquari “e chupar de canudinho, uma delícia”. Uma vez, garante ter recolhido 55 litros do produto numa colmeia que ficava escondida bem ao lado do Posto Maluf. Era o tempo em que se via muita cabreúva, peroba rosa, peroba branca, cedro e jatobá, recorda-se José, que, apesar de ouvir
Elias Marchi tornou-se
muitos relatos de sitiantes e moradores, afirma
a partir do início da década de cinquenta,
nunca ter topado com uma onça. Nem quando
1944; ele foi gerente da João Vargas durante 33 anos
Nascido em Franca (SP), de onde veio com a
66
família ainda em 1944, o ex-gerente conheceu
um dos alfaiates
fez uma autêntica expedição na mata e, exaurido
mais requisitados
Desbravadores do comércio de Maringá
67
O Centro Comercial que surgiu de um depósito de calçados
de calçados femininos produzidos pela Mar-
O tempo se encarregou de mostrar que o negó-
tin & Sobrinhos, a empresa comandada pelo
cio dos Martin não era lidar com café, como todo
pai Leopoldo Simon Martin, descendente de
mundo sonhava fazer nas terras férteis do norte do
alemães. Eram calçados artesanais, elaborados
Paraná. Mas Alfredo tinha acertado em cheio ao
em couro, trazidos em caixotes de madeira.
escolher a cidade para trazer a família, ainda que ouvisse queixas dos parentes, que resmungavam:
Há casas comerciais importantes que surgiCerta vez, em uma dessas idas e vindas, ele acres-
ram ao acaso. Dirigindo um caminhão, em meados do século passado, o gaúcho Alfredo Martin cumpria rotineiramente uma rotina cansativa. Deixava a esposa Natália e filhos em Santa Cruz do Sul, um dos principais redutos da colonização
Acervo particular
“vocês estão indo para o fim do mundo”.
centou Maringá ao roteiro porque precisava ir a Cianorte, onde o pai – a exemplo do que muita gente
Após três dias de jornada, Alfredo, então com
fazia naquela época - investira na compra de uma
32 anos, e Natália, 28, acompanhados de seus
propriedade rural com o propósito de cultivar café.
três primeiros filhos (Marlize, Lindolfo e Marlene)
norte do Paraná. Vinha com o objetivo de visitar lojas de al-
Acervo particular
gumas cidades e fazer a venda
da Avenida Tiradentes,
finalmente saltam do caminhão, pisando a terra
tornou-se rapidamente
Alfredo conta que abriu
vermelha da falada Maringá. Eles se acomodam
um comércio de calçados
um largo sorriso ao rever
inicialmente em uma casa próxima à linha do trem
Maringá, onde havia estado
e, aproveitando uma oportunidade, adquirem dois
em 1944. “Como cresceu a
terrenos na Avenida Tiradentes, ainda despovoa-
cidade”, exclamou. Com sua
da, que se anunciava estritamente residencial.
alemã do Rio Grande do Sul, para seguir por estradas poeirentas rumo ao
A casa, uma das primeiras
percepção aguçada, enxer-
Aí é o que o destino entra em cena. Dona Natália recorda-se que começou a vender calçados para vizinhas, a preços acessíveis, com o intuito de se livrar do estoque. Era o que faltava para começar um comércio, lembrando que a cidade,
gou que poderia estar ali o
Ali é construída uma casa de madeira, com
futuro de sua família. Em-
um pequeno depósito para abrigar os carrega-
polgado, conseguiu foto-
mentos de calçados trazidos do Rio Grande do
Alfredo e Natália em 1949;
grafias do lugar e as enviou
Sul. Alfredo mantém a rotina de atender lojistas
antes da mudança
para Natália, escrevendo no
da cidade, como também de Londrina e Nova Es-
verso de uma delas: “Esta é
com o número de pessoas que vinham bater-lhe
perança, enquanto a esposa cuida dos filhos.
à porta, interessadas nos sapatos. Daí para mon-
para Maringá, ele havia encaminhado carta à
a nossa Maringá”.
Gerência de Patrimônio Histórico
esposa com postal da cidade
naqueles tempos, carecia praticamente de tudo. Ao comentar com amigas, aquelas vizinhas se encarregaram de alardear aos quatro ventos. O resultado é que a moradora surpreendeu-se
tar o Depósito de Calçados do Sul foi um pulo, Naqueles tempos, sapatos eram um artigo de
incrementado logo depois por artigos de cama,
luxo para muita gente e, em sua peregrinação,
mesa e banho, confecções e outros produtos. Ca-
Alfredo não estava livre de percalços, principal-
bia ao marido, agora, fazer compras em grandes
mente de comerciantes maus pagadores, que
fábricas, em vários Estados, inclusive de sapatos
se aproveitavam do incipiente sistema bancário
masculinos e infantis, para abastecer o próprio
para promover calotes. Por isso, não raro, o úni-
estabelecimento, que ia de vento em popa. Nesses
co jeito era receber mercadorias de volta, não
contatos, Alfredo fez amizade com fundadores de
sem algum prejuízo, guardando-as no pequeno
organizações hoje bastante reconhecidas no país,
depósito de sua casa em Maringá.
entre elas Hering, Tigre, Karsten, Teka e Papaiz.
Desbravadores do comércio de Maringá
69
Acervo particular
aliás, que sentiu também ao conhecer a sua Natália,
(esquina das Avenidas Duque de Caxias e XV de
com a qual em menos de um ano estava casado.
Novembro), sendo que as instalações próprias só
Agora, cultivam o orgulho por sua trajetória bem-
seriam inauguradas em 1963, na Rua Joubert de
sucedida e a alegria pela convivência com os filhos,
Carvalho, ao lado da antiga Rodoviária; Banco
11 netos e dois bisnetos. “Se precisasse, faríamos
Commercial de São Paulo S/A, na Avenida Brasil;
tudo de novo”, conclui dona Natália.
Banco Sul América S/A, na Getúlio Vargas com a Santos Dumont; Banco Mineiro da Produção S/A, situado na Avenida Brasil, após a Praça Raposo
Na década de setenta,
Mais bancos
o antigo depósito daria lugar ao Centro Comercial Tiradentes; o casal Natália
No final da década de 1940, conforme men-
e Alfredo em 2011
cionado em páginas anteriores, Maringá recebeu suas três primeiras agências bancárias, respecNem tudo, entretanto, eram flores. O sucesso do
do empreendimento. Segundo Marcelo, o mercado
tivamente do Banco Comercial do Paraná S/A,
Depósito contrariou o poder público, que não queria
exigiu uma especialização e em vez de vender de
Banco Brasileiro de Descontos S/A e Banco
ver ali, na Tiradentes, casas comerciais. Assim, no
tudo, como antes, o Centro Comercial Tiradentes
Noroeste do Estado de São Paulo S/A.
início dos anos sessenta, a prefeitura cassou o alvará,
consolidou-se no ramo de presentes, enxovais,
mas a loja manteve o funcionamento por força de
produtos têxteis, tubos, conexões e metais, ilumi-
Depois, no início e durante os anos 1950,
uma liminar. Foram anos de batalha na justiça contra
nação decorativa e decoração para interiores. Sem-
muitas outras vieram para disputar a clientela
a prefeitura, lembra seu Alfredo, o que só se resolveu
pre controlado pela família, o estabelecimento que
formada principalmente por cafeicultores e
mesmo na década de setenta, durante a gestão de Sil-
completou meio século em 2007 já serviu a quatro
prósperos comerciantes. Registros apontam que,
vio Barros. Em 1976, a velha construção de madeira
gerações de maringaenses.
em 1957, Maringá contava com 17 unidades
dá lugar a um amplo prédio de alvenaria, que chegou
70
de atendimento. Entre elas, a Caixa Econômica,
Tavares, em frente a Casa Andó; Banco Mercantil de São Paulo S/A, Avenida Getúlio Vargas esquina com Banco Comércio e Indústria de São Paulo S/A.; Banco Mercantil de São Paulo S/A, na Avenida Getúlio Vargas esquina com a Avenida Brasil; e Banco Brasileiro para a América do Sul S/A.
Alguns gerentes bancários inseriram seus nomes na história da cidade, pelo grande apoio que imprimiram ao desenvolvimento comercial. Durante muito tempo o gerente do Banco Nacional de Minas Gerais foi Murilo Macedo, o segundo presidente da ACIM. Em 1979, nos primeiros anos do governo do presidente João Batista de Oliveira Figueiredo, Macedo se tornou Ministro do Trabalho e ficou marcado por ter mandado prender o
a ter mais de 50 mil itens em suas prateleiras, cuja
O casal Alfredo e Natália passa seus dias em
na Rua Santos Dumont, em frente à Praça Na-
clientela, sempre em crescimento, era atendida por
uma ampla residência muito florida, bem em frente
poleão Moreira da Silva; o Banco do Estado do
uma equipe de 110 funcionários. Entre os mais anti-
ao negócio que fundaram. Lá fora, o cenário da
Paraná S/A., na confluência das Avenidas Brasil
gos integrantes, a vendedora Hermínia Luize Barbo-
Maringá de 2012, repleto de edifícios no entorno,
e Getúlio Vargas; o Banco Brasul S/A, no cruza-
do Estado de São Paulo, Nélson Gaburo transfor-
sa, que participou diretamente de grande parte dessa
não lembra mais em nada o período de quando
mento da Getúlio Vargas com a Santos Dumont;
mou-se em uma referência, atraindo um grande
história. Aposentada, mas sem falar em parar, ela
chegaram. Mas os olhos do ex-viajante que cru-
o Banco Itaú S/A, na Duque de Caxias com a Santos
número de clientes.
segue na ativa, servindo a clientes que a conhecem
zava as estradas de terra para vender calçados
Dumont; o Banco Nacional de Minas Gerais S/A,
de longa data e fazem questão de seu atendimento.
fabricados pelo pai, ainda brilham e se inundam de
na Duque de Caxias quase esquina com a então
No Banco do Brasil, destaque especial na dé-
lágrimas quando o assunto é aquela cidadezinha
Rua Bandeirantes (atual Joubert de Carvalho); o
cada de 1960 para o gerente Mário Bulhões da
O casal teve outros dois filhos em Maringá: Már-
pujante que estava em seu caminho e o encantou
Banco do Brasil S/A., instalado em 17 de dezem-
Fonseca, considerado um incentivador do cresci-
cia e Marcelo, este último atualmente na direção
como amor à primeira vista. Amor à primeira vista,
bro de 1953 no Edifício João Tenório Cavalcanti
mento de muitas empresas.
Desbravadores do comércio de Maringá
então jovem sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.
Comandando a agência do Banco Noroeste
71
Casa Para Todos A população de Maringá, principalmente a que conheceu a cidade em suas primeiras décadas, guarda na lembrança os nomes de muitos estabelecimentos comerciais, a maioria dos quais já não existe. Um deles é a Casa Para Todos. Com sede em Cambé e filiais em Maringá e Jaguapitã, é aberta no pós-guerra por Antonio Pietrobon, do Banco do Brasil, a agência da Caixa Econômica, a inauguração do Banco Comercial de São Paulo, detalhe da antiga praça da rodoviária com o Banco Noroeste à esquerda e,
um italiano que se impressionou com a prosperidade do norte do Paraná. Para tanto, recorre a
A loja é o prédio branco à esquerda, com várias portas,
atacadistas em São Paulo, onde faz compras de
ao lado da Praça Raposo Tavares
secos e molhados, para revender em suas lojas.
por fim, o Banco Brasul
Os dois filhos mais velhos, Plácido Pietrobon e Esgualdo Pietrobon, gerenciam as lojas de
punha ordem na bagunça dentro do transporte escolar”.
Cambé e Maringá, respectivamente. A de Jaguapitã fica aos cuidados de um gerente.
Zaury inicia a revenda pioneira das Tintas
Gerência de Patrimônio Histórico
Coral – a fábrica tinha sido inaugurada há pouco Com o falecimento de Esgualdo em 1955, a
tempo –, e comercializa materiais de construção
família de Zaury Antonio Pietrobon (penúltimo
e ferragens. Nessa nova etapa, acaba encerrando
filho de Antonio) se muda para Maringá, onde
o negócio de secos e molhados. “Nos anos 1960,
assume a unidade, localizada em frente a Praça
havia um início tímido dos primeiros supermer-
Raposo Tavares, passando a residir nos fundos.
cados”, recorda-se Cláudio.
Em 1957, Cláudio Pietrobon e o irmão Carlos,
Em depoimento que registrou no site Maringá
ambos filhos de Zaury, cursam o Jardim de Infân-
Histórica, de Miguel Fernando, Cláudio cita que a
cia no Colégio Santa Cruz. Vão e voltam a bordo
Casa Para todos se mantêm firme até o início da
da “jardineira”, pela Avenida Brasil, atravessando
década de 1970, quando é fechada.
o mato que ainda separava o Maringá Novo do Maringá Velho. Cláudio se recorda que Marleuzi
Zaury repassa a representação das Tintas
Podolan Girardi, hoje professora aposentada da
Coral para seu ex-gerente Clóvis Corradini e é
UEM e esposa do médico otorrinolaringologista
criada, sob nova direção, a Casa Coral na Praça
Edson Girardi, era monitora no Colégio “e quem
Raposo Tavares.
Desbravadores do comércio de Maringá
73
Gerência de Patrimônio Histórico
Em sentido horário: a instalação
Gerência de Patrimônio Histórico
comerciante Ângelo Planas, que se tornam tradicionais. E, habitualmente, se encontram no Restaurante Lord Lovat, construído com estilo pela própria Companhia na Avenida Tiradentes, onde o divertimento fica por conta de música de qualidade e o espaço para dança. Esse estabelecimento, depois, pertenceu a Herbert Mayer (na foto com o filho).
Tinha de tudo Para comer bem, entre outros lugares, havia a Churrascaria Guarani, a Taberna Genova (esta última de Alfredo Zamponi), o Restaurante e Sorveteria do Ponto. O preferido dos “picaretas” era o Bar Colúmbia, de Américo Dias Ferraz, dono também da
A soçaite
Cafeeira Santa Luzia. Em matéria de bares, um pu-
tos, Hermann Moraes Barros, é convidado a com-
nhado: Bar São João, Bar e Confeitaria Arco Íris, Bar
parecer a um baile. Lá chegando, sob um vistoso
anima os frequentadores em sua sede movimen-
paletó de couro, surpreende-se ao ver que os médicos, todos eles, o aguardavam de “smooking”.
tada na Avenida São Paulo. Antes de a noitada começar, o piso de terra é É ali que a classe médica e seus familiares se
rapidamente molhado para evitar a poeira, o que
encontram com frequência em eventos sociais
acaba sendo inevitável ante o pisoteio. Por isso,
reservados para a elite da incipiente Maringá da
de vez em quando, com o ambiente tomado pelo
época, com os bailes iluminados por geradores a
incômodo pó fino, o baile precisa ser interrom-
diesel. Não há televisão e quase nada a fazer nos
pido para que serviçais, munidos de providenci-
finais de semana, de modo que o congraçamento
ais regadores, façam o seu trabalho. Contudo, em
inclui outras categorias profissionais, como a
noites de muito calor, a poeira se mistura ao suor e,
dos advogados. Nos primeiros tempos do Aero
na contradança, as mãos suadas dos pares deixam
clube, que depois se tornaria um clube popular, o
seus trajes ainda mais sujos.
botecos e vendas. Sorveterias não podiam faltar e Acervo JC Cecilio
Entre 1950 e 1960, o Aero Clube de Maringá
Panema, Bar e Empório Nordestino, sem falar dos
algumas deixaram saudade: a Oriente, na Rua Santos Dumont, e o Bar e Sorveteria Shima, no Maringá Velho, esta última dos irmãos Goro e Sampei Shima.
O ex-industrial Osvaldo Chiuchetta costuma empregar superlativos para ressaltar a grandeza que representou a atividade econômica da cidade em suas primeiras décadas. Mas não é sem motivo. Quem, como ele, em Maringá desde 1957 como personagem ativo do desenvolvimento do município e da região, sabe o que está falando.
Chiuchetta não deixa por menos: Maringá foi a maior “boca de sertão” - como de resto as demais regiões colonizadas pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP), sucedida em 1944 pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) - que o mundo pôs os olhos depois da corrida do ouro da Califórnia. As oportunidades oferecidas pelo lugar em desbravamento atraíam gente de praticamente todas as origens, do país e do exterior. Entre os brasileiros, a maioria paranaenses, paulistas, mineiros e catarinenses, sem esquecer nordestinos, cariocas e gaúchos, também em grande quantidade. Cruzando os mares, aportavam aqui, em maior número, portugueses, italianos, espanhóis, japoneses e famílias de origem árabe.
O sofisticado Bar Colúmbia construído por Américo
piso é de terra batida mas nem por isso os casais
74
Os superlativos de Maringá
Dias Ferraz na antiga
deixam a elegância de lado. Certa vez, estando
Com suas famílias, os médicos participam
na cidade, o diretor da Companhia Melhoramen-
também de festas juninas organizadas pelo
Avenida Ipiranga (Atual Getúlio Vargas)
Desbravadores do comércio de Maringá
75
As cidades nascentes pareciam formigueiros
Em 1957, ele instalou o seu moinho de trigo
Como consumidor, Osvaldo Chiuchetta se re-
humanos, com caminhões de mudanças chegando
que foi um dos maiores fornecedores da farinha
corda que por muitos anos fez ternos e camisas
a todo instante, assim como jardineiras repletas de
de trigo marca “Maringá” e de fubá para o co-
na Alfaiataria Aníbal e um de seus restaurantes
gente ávida por fazer a vida, passageiros de aviões
mércio de secos e molhados da cidade e região,
preferidos era a Churrascaria Guarani.
que desciam em clareiras na floresta, carros e car-
além de padarias e fábricas de macarrão e bis-
roças que varavam estradas precárias, enfim.
coitos. Até essa época, segundo o ex-industrial,
O pioneiro Ademar Schiavoni cita que no
que desativou sua empresa em 1999, o hábito
início da década de cinquenta os grandes ata-
E, como a economia ficou ancorada inicial-
alimentar da população, de São Paulo para cima,
cadistas brasileiros descobriram a importância
mente no café, um grão produzido em grande
era baseado na farinha de mandioca e no fubá;
da cidade pela localização geográfica e aqui se
quantidade e de valor respeitável na época, lembra
de São Paulo para o Sul, devido a influência da imi-
instalaram quase que ao mesmo tempo, trans-
Chiuchetta, a região detinha um poder aquisitivo
gração europeia, consumia-se mais farinha de trigo.
formando Maringá no maior centro do comércio atacadista do sul do país. Movimentavam, diaria-
tão elevado quanto a das cidades ricas do país. Maringá formou um grande parque de máquinas de beneficiamento de café e algodão,
Um respeitável polo atacadista de secos e molhados
Fachada da J. Alves
de milho. Acredita-se que a maior parte do fubá consumido no país tinha Maringá como origem.
Atacadão
Tudo isso sem falar da indústria frigorífica, igualmente relevante, e que a cidade respondia tam-
Nessa área, o espírito empreendedor de
Maringá se transforma, sem demora, em impor-
São Marcos, Afonso Fernandes André, Vila Real.
bém por parcela representativa da comercializa-
um jovem faz nascer em Maringá um dos mais
tante polo atacadista de secos e molhados, talvez o
F. Monteiro e Gonçalves Sé, a maioria de São
ção de cereais do Brasil. Numa etapa seguinte,
destacados grupos atacadistas do país. Alcides
maior depois de São Paulo, abastecendo uma região
Paulo e interior.
acrescenta o pioneiro, fortaleceu-se aqui, de
Parizoto, meninão ainda, trazia de Minas Gerais,
maneira não menos referencial, a indústria de
semanalmente, uma kombi cheia de queijos que
esmagamento de soja.
revendia para pequenos comerciantes. O negó-
que se estendia até as barrancas dos rios Piquiri,
das mais concorridas
Paraná e Paranapanema, avançando para o Mato
Várias dessas empresas foram fundadas por
Grosso e chegando a
imigrantes portugueses, que prosperaram muito
Goiás. Osvaldo Chiu-
fortemente em seus negócios. Quem percorria
chetta se recorda de
uma e outra e conversava com seus dirigentes,
algumas
percebia logo a origem, pelo sotaque
das
importantes:
76
abastecer o comércio menor da região Sul.
além de pastifícios e indústrias de transformação
Veríssimo, uma
Acervo particular
mente, centenas de caminhões carregados para
mais
cio se avoluma tanto que é necessário montar um depósito pequeno no início e logo outro muito maior. Dos queijos para outras mercadorias é um pulo.
Alcides
Negócio em alta, Parizoto precisa de gente
Parizotto (Atacadão) e
Conforme Chiuchetta, a maior parte da popu-
Comercial Catarinense,
Osvaldo Chiuchetta
de confiança e capaz de crescer com ele. Farid
lação era gente pobre, que trabalhava na derru-
construiu seu
Curi e Paulo Rubens de Lima passam a integrar
ambas com sede na ci-
bada das matas e na formação de lavouras de
moinho de trigo
dade, Dias Martins, J.
café. “Oitenta por cento do povo vivia na roça e
Veríssimo, Alô Brasil,
dependia da agricultura”, salienta.
em 1957
a pequena empresa. Não demora nada e nasce o Atacadão, empresa atacadista que está entre as maiores do Brasil.
Desbravadores do comércio de Maringá
77
Acervo particular
Acervo particular
Durante a década de 1950, a Casa Vila Real era uma das maiores empresas do segmento de secos e molhados no atacado e varejo. Com matriz em Londrina, possuía filiais em São Paulo, Arapongas e Maringá, onde foi fundada em 11 de agosto de 1953 e funcionou na Avenida Carneiro Leão, esquina com a atual Avenida Parigot de Souza. A cidade atraiu um grande número de empresas atacadistas que, mobilizando muitos caminhões, abasteciam o comércio varejista de secos e molhados e outros produtos em
Gerência de Patrimônio Histórico
todo o norte do Paraná e Estados vizinhos
A filial da Gonçalves Sé S.A., uma das mais importantes empresas atacadistas e importadoras do norte do Paraná, sediada em São Paulo e com outra filial em São José do Rio Preto, ficava na Praça José Bonifácio (também conhecida como Praça do Posto Maluf). Em Maringá, o primeiro gerente foi José da Silva Sé, que comandava 41 funcionários. Com uma frota de 8 caminhões e uma equipe de 12 vendedores viajantes, a empresa enviava seus produtos para diversos destinos. Fonte: Revista Maringá Ilustrada - Agosto de 1957 / Acervo Maringá Histórica.
78
Desbravadores do comércio de Maringá
79
Casas lusitanas A pioneira Rosa Maria, em Maringá desde 1957, se recorda de alguns estabelecimentos atacadistas – alguns dos quais também vendiam ao varejo – de propriedade de imigrantes portu-
- Outro armazém de secos e molhados, a Casa
Auto Diesel Maringá, uma oficina mecânica situa-
Dias ficava em frente à F. Monteiro, na Avenida
da na Avenida Paraná. Com seu sócio José Joaquim
Brasil. Rosa Maria conta que um dos proprie-
Fernandes da Costa, Artur foi um dos fundadores
tários, João Luís Dias, foi morto por um pivete em
do Centro Português de Maringá.
vam em um pequeno trecho, entre as imediações da Praça Sete de Setembro e a atual Praça Napoleão Moreira da Silva. Parecia até um pedacinho de Portugal.
- A Casa Portuguesa, especializada em secos e molhados, ficava na Avenida Brasil, esquina com a Praça José Bonifácio – onde hoje há uma farmácia. Era propriedade da família Alves, que residia em São Paulo e Maringá. Um dos comerciantes, Izidro Alves, foi pai do juiz de direito da comarca, Joaquim Alves.
- A Casa Marília, de Manoel Marçal, era vizinha da Rodolpho Bernardi.
- F. Monteiro, estabelecida na esquina das Avenidas Brasil e Parigot de Souza, vendia secos e molhados e ferragens de marcas nacionais e im-
- Diversas máquinas de beneficiamento de café também pertenciam a portugueses ou a seus
gueses e seus descendentes. Eles se concentra-
O empresário Fernando
sua residência, na atual Avenida Parigot de Souza, o que gerou grande comoção na cidade.
Mão de obra importada
- Dias Cristóvão: essa firma atacadista de se-
descendentes. Uma delas, a Máquina de Café
cos e molhados, cujo gerente era Luiz Aparício
Lusitana, que tinha como sócio-proprietário Ro-
Gonçalves Sé, ficava na Avenida Brasil, onde hoje
gério Martins, esposo da decoradora Cida Mar-
é o Supermercados Cidade Canção (ex-São Fran-
tins. Ficava na Avenida Carneiro Leão.
cisco).
Ferraz
português
de
(foto), nasci-
mento, que chegou a Maringá em 1957 com menos de 20 anos para trabalhar como viajante na região, prosperou e hoje é dono da Fábrica de Acolchoados Maringá, que gera mais de 1,5 mil empregos diretos, diz que era comum empre-
- Outra empresa atacadista localizada na atual
sas atacadistas de secos e molhados da cidade
- A Esteves Veríssimo, igualmente do ramo de
Avenida Parigot de Souza, onde hoje é a Loja
trazerem trabalhadores de Portugal. Eles vinham
secos e molhados, foi transferida de Apucarana
Ordine, era o Armarinho São Paulo, gerenciado
para fazer o atendimento no balcão ou viajar
para Maringá em 1960. Detalhe: ocupou as insta-
por Adelino Peixeiro Duarte. Estava bem próxima
lações que pertenciam à Casa Planeta, de Ângelo
da Casa Vila Real, também do ramo de secos e
Planas, aberta em 1945. Os donos eram Antônio
molhados – na esquina da mesma Avenida com a
Esteves e João Veríssimo.
Carneiro Leão -, gerenciada por Joaquim Farinha.
com o objetivo de efetuar pedidos junto ao comércio varejista. A maior parte de seus ganhos mensais ficava guardada na própria empresa e, anos mais tarde, muitos deles eram convidados por seus empregadores a abrir o próprio negócio em cidades prósperas da região. Passavam
- A Casa André, próxima à Praça Sete de Se-
- Rosa Maria relaciona, ainda, a Importadora
a ser comerciantes e clientes da empresa onde
tembro, era mais uma do segmento de secos e
São Marcos, firma atacadista de grande porte, lo-
trabalhavam. “Era mais ou menos o que acontece
molhados, recorda-se Rosa Maria.
calizada na Avenida Carneiro Leão (em frente ao
hoje com as franquias”, explica Fernando. O gajo
atual Centro Empresarial Europa), e a Casas Alô
adquiria suficiente “know-how” no emprego para
- A J. Alves Veríssimo, na esquina das atuais Rua Joubert de Carvalho com Basílio Sautchuk,
Brasil, na Avenida Paraná, próximo à passagem da linha férrea.
foi comandada pelo gerente Aníbal Matias, “um
portadas. “Ali se achava de bacalhau a lima KF. A
apaixonado por futebol, que foi incentivador do
lima KF era muito procurada para afiar enxadas,
Grêmio Esportivo Maringá”, ressalta a pioneira.
machados e outras ferramentas. Por ser importada, custava caro e, em razão disso, era guardada
- Outro greminte fervoroso, lembra ela, era Ar-
em cofres, para que ninguém surrupiasse”, conta.
tur da Costa Fernandes, um dos proprietários da
- Por fim, lembra que o Restaurante Império,
fazer sucesso na carreira solo, recebendo a devida orientação no início.
Fernando Ferraz lembra também que os portugueses eram os principais compradores das to-
aberto na década de sessenta na esquina das Ave-
ras que se amontoavam, em grande quantidade,
nidas Paraná esquina com Carneiro Leão, perten-
na esplanada ao lado da linha férrea. Eles adquiriam
cia a João Alegria Miranda, também de origem
essa matéria prima que seguia, em vagões, para o
lusitana.
Estado de São Paulo.
Desbravadores do comércio de Maringá
81
A casa Estrela resiste ao tempo Como se vê, os portugueses sempre tiveram participação ativa no mundo dos negócios. Alguns eram representantes de importantes organizações de empresários lusitanos de São Paulo. É o caso de Américo Marques Dias, primeiro presi-
No balcão,
dente da Associação Comercial e Empresarial de
doce de leite em
Maringá (ACIM), que veio a Maringá para dirigir
salgado, como se
a empresa comercial de atacados Dias Martins.
via desde o início
pedaços e peixe
Seus conterrâneos, como já foi dito, também estavam à frente da J. Alves Veríssimo e R. Coimbra. Outros viraram lenda, como Francisco Feio
para buscar uma garrafa de vinho ou uma panela
todo o comércio da Vila se estabelecia em edifi-
Ribeiro, Joaquim Caetano e Joaquim Moleirinho.
de ferro no alto da prateleira. Disposição ainda
cações de madeira.
Da iniciativa desses dois últimos nasceu o Frigo-
há para trabalhar e servir aos amigos que ali se
rífico Central, que chegou a ser uma das maiores
encontram praticamente todos os dias.
empresas de alimentação da América Latina.
82
Silva casou-se com dona Matilde, também portuguesa, e nunca mais saiu dali. Além de Sérgio,
A Casa Estrela é um das referências mais in-
há duas filhas. Se os clientes de hoje pudessem
A grande maioria das poderosas corpora-
teressantes e curiosas para entender a história
voltar no tempo, veriam que a casa continua
ções atacadistas já fechou as portas. Mas uma
do comércio da Vila Operária e da própria ci-
exatamente a mesma. “É tudo igual”, confirma
pequena casa, fundada no início de 1950 por
dade. Quando surgiu, possivelmente no final
Ôlmaro Luciano Siqueira, que conheceu o esta-
portugueses, ainda resiste. Difícil imaginar que
dos anos quarenta, estava do outro lado da rua.
belecimento em 1957, quando era alfaiate, fun-
alguém, em pleno 2012, entraria num estabe-
O português, que havia imigrado de Banho do
cionário de João Gualda. Siqueira, especializado
lecimento para comprar um lampião. Mas para
Centro – uma vila incrustada bem no meio de
na confecção de calças de casimira aurora, brim
o dono da Casa Estrela, João da Silva, um portu-
seu país, onde vivia de comprar ovos para re-
cáqui e albene (um tipo de tecido mole), diz que
guês de nascimento que chegou a Maringá em
vender em Lisboa -, comprou o terreno de um
é freguês mesmo desde 1982.
1954 e adquiriu a casa que pertencia a Francisco
funcionário da Fujiwara e, no começo da década
Lorga, na Avenida Riachuelo esquina com a Rua
de sessenta, levantou a construção de alvenaria.
Quem são os clientes da Casa Estrela atual-
Santos Dumont, isto ainda pode acontecer, sim.
O então prefeito João Paulino Vieira Filho, seu
mente? João da Silva diz que o movimento anda
“É para quando faltar força”, justifica com simpli-
amigo, fez questão de aparecer para assentar
meio fraco, mas ainda dá para se manter. Bom
cidade o senhor de 88 anos, que atende a clien-
a pedra fundamental. “Sempre que ele vinha à
mesmo foi nos anos cinquenta, sessenta e até se-
tela ao lado do filho Sérgio. Se o freguês pedir,
Vila Operária, aproveitava para fazer uma visita”,
tenta, quando à clientela do bairro se misturava
ele não hesita em escalar uma escada comprida
conta o comerciante. Nessa época, praticamente
o povo do sítio. O perfil do público comprador
Desbravadores do comércio de Maringá
83
pode ter mudado ao longo das décadas. Dizem
Nesse tempo todo, João da Silva diz que se
necessária energia. Como esses equipamentos
que se urbanizou e ficou mais exigente. Mas
arrepende apenas de não ter embarcado, ainda
não eram fabricados no Brasil, precisavam ser
quem entra na casa ainda encontra as mesmas
nos anos sessenta, na promissora onda dos mer-
trazidos da Europa ou comprados de segunda
coisas de antes. Além dos ditos lampiões e pane-
cadinhos, até então conhecidos como “pegue
mão. Contudo, a importação esbarrava na de-
las, há um pouco de tudo: cabos de enxada, cor-
pague”. Certamente, seria o único da avenida,
mora em função da grande procura e essas en-
das, ferramentas de uso doméstico, moringas,
um dos primeiros de Maringá. Mas sua Casa Es-
genhocas, na visão das lideranças, não passavam
chapéus de palha, facas, vasos, tachos, varas de
trela, sem mudar nada, sobreviveu não apenas
de paliativos ou “quebra galhos”: o que se queria,
pescar, peneiras de café e, acredite, artigos de
ao advento desses mercadinhos que se pulve-
na verdade, era energia elétrica de fornecimento
museu, como matracas de plantar. É um misto de
rizaram pela cidade, como aos supermercados
estável para mover motores, indústrias, comér-
armazém, secos e molhados e bar, que oferece
e às modernas lojas de conveniência. É como
cio e oferecer conforto aos moradores. Além de
também muitos itens em bebidas e alimentos –
se não fizesse sentido, para o estabeleci-
iluminar as praças e vias públicas, a exemplo do
mento, a palavra adaptação. Os tempos podem
que ocorria no vizinho Estado de São Paulo. Até
refrigerantes, cachaça, cerveja, vinho, arroz, feijão, enlatados, frios, conservas e, não duvide, peixe salgado em pequenos caixotes, que ficam expostos sobre o balcão. “Tem de tudo”, comenta Ôlmaro, o alfaiate aposentado. Não demora para
então, as cidades do norte do Paraná – cantadas
ser outros, mas na casa nostálgica de mais de 60 anos, que resiste bravamente, tudo continua como dantes, para o bem da história.
Embora em franco desenvolvimento, a cidade ainda dependia
e progresso – ficavam completamente às escuras
muito dos lampiões
após às 22 horas, horário em que as máquinas
que velhos amigos de João da Silva apareçam, uns ralhando com os outros, em tom de brincadeira: Alfredo Guerra, Amílcar Ferreira Cosme, Manoel Marçal. São frequentadores contumazes, vários dos quais também imigrantes portugueses, que ali se sentem bem.
Sempre com seu chapéu de pelica, Manoel Marçal, em Maringá desde 1951, foi também um dos precursores do comércio de secos e molhados na Avenida Brasil, com sua Casa Marília, entre o Posto Maluf e a Casa Rodolpho Bernardi, quase vizinho do irmão gêmeo Luiz, por muito tempo proprietário do Bar Santa Marta.
eram desligadas.
Falta de energia dificulta
tudo a perder de tão ‘chumbados’ que estavam da velha pinga. Às vezes, algumas lanternas até explodiam de tanto querosene”.
do “Maringá Novo”.
A Indústria de Bebidas Internacional – cujo nome, mais tarde, mudaria para Ouro Verde – foi uma das primeiras unidades industriais de
Em seu livro editado em 1997, quando do A irritação com a falta de perspectivas em
Maringá, instalando-se em um terreno na Ave-
ta plástico Edgar Werner Osterroht cita que “Velhos
relação à energia elétrica ganhava o reforço dos
nida Mauá, em 1952, um ano após a emanci-
pioneiros e fundadores lembram-se deste sofrido
donos de máquinas beneficiadoras de café, de-
pação política do município. A experiência de
e saudoso tempo. Luz, só de velas, das antigas lan-
mandadas por grandes safras. Em Maringá, no
produzir refrigerantes e engarrafar bebidas foi
ternas, dos lampiões ‘Aladim’ ou da ‘Petromax’ à
começo dos anos 50, contava-se pelo menos 50
trazida pela família Projiante de Estrela do Oeste
querosene, que ficavam pendurados nas princi-
máquinas de grande porte, que se espalhavam
(SP). Naquele ano, portanto, o pai Armando, com
pais ruas comerciais, nos botecos, nas ‘vendas’
também por outras cidades à volta, entre as
os filhos Fiori, José e Guido, passam a produzir
de secos e molhados, produzindo aquele baru-
quais Mandaguari (sobre as máquinas de café e
guaraná, soda e sodinha, além de engarrafar
lho irritante. A manutenção de ‘luz acesa’ era
também as usinas de beneficiamento de algodão,
aguardente e vinho. Guido recorda-se que eles
feita através de um técnico encarregado de bom-
falaremos mais adiante).
contavam com um pequeno gerador próprio,
cinquentenário de Maringá, o desenhista e artis-
movido a óleo diesel, para iluminar a fábrica,
bear o querosene, ou trocar a ‘camisinha’ dos Marçal: pioneiro do comércio
em verso e prosa como exemplos de crescimento
lampiões. Interessante é que, de vez em quando,
Para funcionar, recorriam a motores esta-
mas os equipamentos para tampar as garrafas
caboclos curiosos, e às vezes bêbados, botavam
cionários movidos a óleo diesel, que geravam a
tinham que ser tracionados pelo pessoal com
Desbravadores do comércio de Maringá
85
a força dos pés. Só alguns anos mais tarde, em
aqui. Foram feitas várias viagens até Curitiba
Juntava um monte”, recorda-se. Quando escure-
franca prosperidade, é que a Ouro Verde trouxe
para pressionar o governador do Estado, até que
cia, ninguém se apertava com a falta de energia
equipamentos que modernizaram a limpeza das
houve a decisão de se instalar os geradores na
elétrica: era só acender os lampiões e lampari-
garrafas – até então manual – e toda a linha de
cidade. Essa decisão foi o ponto de partida para
nas.
produção.
a futura instalação da Copel em Maringá, o que ocorreu em 1954, por iniciativa do governador
Sobre o início da energia elétrica em Maringá,
Bento Munhoz da Rocha Netto.
o livro “O Sonho se Faz Acim”, editado em 2006
Rigoldi comprou a venda nos anos 1960, de Marino Pedrange, que já a havia adquirido de Luiz Zago. No começo de 1970, ele derrubou o
Comércio rural Estabelecimentos conhecidos como vendas foram, por muito tempo, as únicas opções que os produtores e suas
famílias
tinham
pela Associação Comercial e Empresarial de
Se no início dos anos 1950 a falta de energia
barracão de madeira e levantou um prédio de
Maringá, traz um relato do pioneiro Emílio Ger-
era um problemão na cidade, o que dirá na zona
alvenaria. Deu tempo de botar um aparelho de
mani, na página 55, envolvendo o empresário
rural? Quando a Venda do Guaiapó foi instalada
televisão, um dos primeiros que apareceram por
Alfredo Maluf, dono de importante posto de
para atender agricultores da redondeza, a clien-
ali, e acompanhar aos jogos da Copa do Mundo.
combustíveis na cidade.
tela se deslocava principalmente a cavalo. Não se
Quem se lembra bem dessa história é o filho
sabe quem foram os primeiros donos, nem a data
dele, José, ainda hoje no batente. “Em dia de jogo
“Um dia, dois caminhões carregados com gera-
precisa de quando surgiu, mas o agricultor An-
do Brasil, a casa ficava lotada e a gente não ven-
dores a diesel passavam por Maringá e pararam
tonio Rigoldi, que comprou ali um pequeno sítio
cia vender.”
no Posto Maluf. O empresário questionou os mo-
de café entre 1948 e 1949, garante que a venda
toristas sobre o destino da carga e ficou sabendo
começou pouco tempo depois. E ainda conti-
Com o fim do café, a população da roça foi
tos, que ficava na Estrada Duzentos (zona norte
que elas iam para Paranavaí. Aí o Maluf retru-
nua firme, lá, ao lado da Capela Nossa Senhora
embora e o comércio enfraqueceu. Uma outra
da cidade), a qual ligava Maringá ao município
cou: “negativo, eles vão ficar é aqui mesmo!”.
Aparecida, cujas missas acontecem nas noites de
venda, em frente, fechou as portas. Segundo
de Astorga. Depois de décadas funcionando
sábado. “O povo chegava a amarrava os cavalos.
José, uma escolinha, algumas moradias em volta
em frente a Igreja São Sebastião, encerrou
Segundo Germani, que faleceu em 2010,
e até um animado campo de bocha, não exis-
atividade em 2006. O último proprietário se
Maluf não deixou que os equipamentos saíssem
tem mais. “A história vai se acabando”, lamenta
chamava José Perondi, mais conhecido como
de Maringá e iniciou uma campanha para que
o comerciante, que não se arrisca a dizer por
“Zé Vermeio”. Popular na região, ele costu-
os mesmos fossem instalados definitivamente
quanto tempo, ainda, a sua venda vai continuar
mava atrair seus fregueses divertindo-os com
resistindo.
piadas, promovendo torneios de truco e man-
para fazer suas compras. Além de comércio, essas casas eram um ponto de encontro natural, onde os moradores se reuniam para jogar truco, bocha, futebol ou simplesmente conversar.
Uma das mais famosas era a Venda Duzen-
tendo uma mesa de sinuca, que quase nunca A “venda do Guaiapó” (em foto atual) foi fundada na década de quarenta por José de Freitas.
tinha descanso. Ele adquiriu a venda de Olívio
“Todo mundo comprava lá, a gente nem ia pra cidade.
Mem. “No local eram vendidos secos e molha-
Aos domingos a maioria dos homens se encontrava
dos, variedade de doces, enlatados, fósforos,
na frente da venda pra bater papo, no local também tinha um campo de futebol”, conta Neiva Maria Rigoldi Botega, 53 anos, que cresceu ali. “Antes tinha até baile, mas mataram uma pessoa e o padre não deixou mais fazer festa”, lembra.
Desbravadores do comércio de Maringá
bebidas, arames, fogos de artifício e muitos outros produtos”, registra o jornalista Cleber França, que foi morador ali e conheceu o local em sua infância.
87
por ter sofrido incêndio, a venda “dos alemão”
quarenta, na comunidade Guerra, pelo pioneiro
ficava no cruzamento das Estradas Santo Inácio
Mário Guerra, a venda local comercializava secos
e Miosótis. Funcionou até a década de sessenta.
e molhados, ferramentas de uso agrícola e era
Ponto de parada de jardineiras, era frequentada
ponto de parada. A casa ainda existe e passou por
por moradores da redondeza. Muitas pessoas
vários donos. Está edificada no mesmo local há
também faziam ali as suas compras do mês. “Eu sempre amarrava meu cavalo nas balaustras em frente à venda. Às vezes o pessoal passava filmes
mais de sessenta anos, ao lado da igreja Nossa
Maringá Ilustrada
Por sua vez, instalada no final da década de
Gerência de Patrimônio Histórico/
Conhecida por último como Venda Queimada,
Senhora do Rosário e da Associação dos Produtores do Guerra.
Anúncio do Posto 7 de Setembro, publicado em
no lençol branco e gente ia assistir”, conta o pio-
1972. O estabelecimento, um dos primeiros da cidade, foi
neiro Joaquim Leite Oliveira, que chegou a Maringá
aberto em 1947
na década de quarenta.
Postos movimentados Em relação aos postos de combustíveis impor-
centro Esso, na Praça Rocha Pombo, e o Posto
tantes na história de Maringá, muito se fala do
Transparaná, instalado na confluência das Aveni-
Posto Maluf, reconhecidamente de grande movi-
das Brasil e Avenida São Paulo (atual Lojas Ameri-
mento, por sua localização estratégica e relevân-
canas), são outros exemplos. Mas havia também
cia histórica. Mas, observa o historiador Miguel
outros tantos, afastados da área urbana, que per-
Fernando, havia outros não menos importantes e
manecem até hoje, entre os quais o Posto Matsuda,
muito movimentados, entre os quais o Posto So-
na saída para Campo Mourão, o Posto 120, entre
maco, do outro lado da praça José Bonifácio, que
Maringá e Sarandi, e o Petrocafé, na saída para
pertenceu ao médico Michel Felippe. Em seus
Paranavaí.
primeiros anos, além de comercializar combustível e lubrificantes, o posto sediava uma revenda de
Eraldo Formagio, proprietário do Posto Veneza,
caminhões Mercedes Benz. Mais tarde, seus negó-
no Maringá Velho, ressalta que vários dos estabe-
cios ficaram concentrados exclusivamente na con-
lecimentos localizados naquele bairro têm mais de
cessão da linha de veículos Volkwagen e prestação
50 anos de existência. Embora modernizados e sem a
de serviços.
denominação original, ajudam a contar a história do comércio, entre os quais o Posto Yoshida, na Praça 7
Detalhe da Venda situada na Estrada Hiller; fundada na década
O Posto Villanova, próximo do encontro das
de Setembro, o Posto XV, na esquina da Avenida
Avenidas Mauá e Tuiuti, o Posto Trabuco, na es-
Brasil com a Rua Santa Joaquina de Vedruna, e os
quina das Avenidas Colombo e Paraná, o Servi-
Postos Ivaí e Pupim, ambos no final da Avenida Brasil.
de quarenta, é uma das últimas em atividade Desbravadores do comércio de Maringá
89
Gerência de Patrimônio Histórico
O Posto Transparaná foi transferido do
da agricultura regional, época em que os produ-
Maringá Novo em meados de 1978 para as
tores passaram a investir na mecanização.” Com
margens da PR-317, próximo ao trevo da BR-376
o trator Massey Ferguson, ressalta ele, competia
(saída para Paranavaí), onde hoje é o Shopping
apenas o Valmet, ao passo que outras marcas, entre
Catuaí. Além de posto de combustíveis, havia um
elas a Ford, “eram consideradas muito fracas”.
grande barracão onde estava instalada uma oficina de tratores e automóveis. Em separado, uma loja
Afonso destaca o espírito empreendedor de
de automóveis das marcas Willys e Chrysler ficava
Harry Prochet, o fundador da Transparaná, pio-
na Avenida Brasil em frente à atual Loja Genko.
neiro na importação dos tratores Massey Ferguson, do Canadá, numa época em que o país ainda
Posto na Praça Rocha Pombo: um dos muitos da cidade, sempre com grande movimento
O atual imobiliarista e incorporador Pedro
não contava com montadoras locais. Mas ele
Granado, diretor da Pedro Granado Imóveis, conta
detinha, também, a concessão da Willys, fabricante
que trabalhou por 26 anos na Transparaná. Foi
dos jipes que, por muito tempo, fizeram sucesso
admitido em 1958 como auxiliar de escritório,
no norte do Paraná, com suas estradas barrentas.
passou a gerente e, anos mais tarde, a gerente
Esse carrinho era reconhecido “por ser fiel igual
regional, cargo máximo para quem não era da
a um cachorro, forte como uma mula e ágil feito
família Prochet, dona da empresa, cuja sede ficava
um cabrito”. De acordo com Afonso, a empresa
em Londrina e tinha filiais em várias cidades. Pedro, que se desligou em 1984, lembra que a Transparaná de Maringá foi a maior revendedora de tratores Massey Ferguson, colheitadeiras e implementos agrícolas do Brasil.
comandada por Prochet foi líder tanto na venda de tratores quanto de jipes em Maringá. Quando a Ford absorveu a Willys, lembra, Prochet recebeu um ultimato para substituir a revenda de tratores Massey pelos Ford, mas ele recusou: “Preferiu ficar sem os jipes”.
“Os produtores rurais do município e região tinham muita afinidade com a marca Massey Ferguson”, confirma o empresário Afonso Akioshi Shiozaki, que trabalhou na Transparaná por 24 anos, de 1964 a 1989. Ele começou como frentista no posto de combustíveis e, com o passar dos anos, galgou o cargo de gerente. Segundo Afonso, Pedro Granado mantinha estreito relacionamento com produtores de toda a região, conhecia muita gente e foi um administrador firme. “A venda de tratores ganhou força com a mudança do perfil
Desbravadores do comércio de Maringá
91
Principais Setores com a Praça Raposo Tavares,
padarias;
Fujiwara e outras);
especializada em
- hospitais, clínicas e farmácias
- serrarias (um dos segmentos
ferragens) e outras tantas.
(o primeiro hospital da cidade
mais fortes, que recebiam filas
foi a Clínica Santa Cruz do
de caminhões carregados de
médico Lafayette Tourinho, no
toras todos os dias, os quais
setores que formaram a base
Maringá Velho, de 1946; o
emblemáticos para a memória
saíam transportando tábuas e
da economia do município em
segundo, no Maringá Novo, a
da cidade. Ele, que viveu
suas duas primeiras décadas,
Casa de Saúde e Maternidade
dispostas aleatoriamente:
Maringá, de José Gerardo
O historiador João Laércio Lopes Leal, gerente do patrimônio histórico do município de Maringá, enumera estabelecimentos
grande parte da vida na Vila
O historiador relaciona
Operária, relaciona, além da já citada Casa Estrela, também o Bazar A Econômica, as duas na Avenida Riachuelo, “onde se podia encontrar de tudo”. Ambas formaram clientela principalmente junto ao povo mais simples e também sitiantes. No chamado Maringá Novo, ele diz que são incontáveis as casas comerciais que se confundem com a história da cidade. Por isso, menciona algumas nem sempre lembradas, entre elas o Bar Central (onde hoje é a Lojas Riachuelo), muito frequentado
Braga e Ivaldo Borges Horta); - artigos de couro – selarias, arreios, cordas, botinas, botas e calçados em geral; - ferrarias e casas de ferragens; - fábricas de carroças; - empresas perfuradoras de poços artesianos; - secos e molhados; - armazéns com ampla variedade de produtos em geral: vestuário, chapéus, venenos, ferramentas agrícolas,
por corretores de terras; o
pneus, rações etc;
Supermercados Cravinhos, da
- hotéis, pensões e
família de Massaru Ushimura,
hospedarias;
que mais tarde formou a rede
- materiais de construção; - transportadoras de mercadorias (um setor bastante ativo e importante); - oficinas mecânicas; - postos de combustíveis;
cidade, nos anos 50; - fabricantes de alambiques de hortelã (essa cultura foi cultivada em larga escala na região de Maringá, após a aproveitando as terras com orgânica, fundamental para o seu desenvolvimento);
- lojas de departamentos (Pernambucanas, Prosdócimo,
- olarias (ao contrário do que
Hermes Macedo e outras);
muitos pensavam, a argila
- indústrias de beneficiamento de arroz e café e usinas de algodão (calcula-se que Maringá sediou mais de 70 máquinas de café e mais de uma dezena de corporações locais e multinacionais que
- bazares e armarinhos;
algodão e cereais. Entre elas:
Nélson Moribe; os bazares
- açougues;
Anderson Clayton, Esteve
- bares, restaurantes e
menos 15 grandes serrarias na
grande volume de matéria
Musamar; a Morifarma, de
(na esquina da Avenida Brasil
construção civil); havia pelo
retirada das matas,
faziam a compra de café,
Yanaka e Ok, a Casa Júpiter
madeiramento para a
obtida nas imediações de Maringá para a produção de tijolos e telhas, era de qualidade razoável); - cerâmicas (uma das mais importantes foi a de Valdemar Gomes da Cunha, o “Valdemar Barbudo”);
Irmãos, Wooley Dixon, Volkart
- pedreiras (a mais emblemática
Irmãos, Sanbra, Tamura,
delas, a de Carlos Corrêa Borges).
94
Desbravadores do comĂŠrcio de MaringĂĄ
95
A preservação da memória de Maringá deve
da “rodoviária” (ponto de parada de ônibus) e de
muito a José Carlos Cecílio, o JC Cecílio, dono de
hotéis, sua clientela era formada, segundo José
blog e colecionador de tudo o que consegue jun-
Carlos, por comerciantes, empregados do bairro
tar sobre a história de Maringá. Embora resida
e também viajantes e mascates.
Gerência de Patrimônio Histórico
Cecílio, Jorge, Abrão...
Detalhe de trecho da
em São Paulo, ele nunca se desliga da cidade, da
Avenida Brasil, no Maringá
qual é um apaixonado, revelando especial pre-
De 1962 a 1970, José Geraldino e a esposa
dileção pelo Maringá Velho, lugar onde nasceu
Lourdes Jorge Cecílio ficaram à frente do Bazar
e cresceu. Um surpreendente acervo de fotogra-
São Geraldo, que teve dois endereços, ambos na
fias, documentos e objetos, que mantém em casa,
Avenida Brasil. Comercializando roupas feitas,
mesa de “snooker” sempre muito procurada.
de Braz José Jorge. De acordo com José Carlos,
é fruto de suas prospecções e descobertas, o que
lingerie, brinquedos, armarinhos e aviamentos, a
“Saqueiros”, trabalhadores braçais, comerciantes
além de mercadorias para a gente da cidade e do
inclui até mesmo contatos no exterior. Ele pos-
casa tinha fregueses da cidade e da zona rural.
e empregados frequentavam o bar, que ficava em
campo, ali se podia achar produtos a granel, in-
sui muita coisa que não é conhecida, nem mesmo,
“As mulheres eram mais frequentes nas compras
frente ao Hotel Nossa Senhora de Fátima. Assim,
clusive óleos comestíveis. Esse estabelecimento
dos acervos oficiais.
do dia a dia e o bazar oferecia variedade de brin-
recebia também viajantes e até mesmo times de
também mantinha uma caixa postal comunitária,
quedos para os pais presentearem seus filhos no
futebol. “Era uma casa alegre e bastante agitada”,
onde toda a vizinhança vinha retirar sua corres-
Natal”, acrescenta.
recorda-se José Carlos.
pondência sem precisar descer até a sede dos
O pai José Geraldino Cecílio foi dono do Bar
Velho em que aparece a Farmácia Santa Márcia, de Nélson Abrão
São Geraldo, que funcionou entre 1955 e 1958
Correios, no Maringá Novo.
Acima, Jose Geraldino e
na Avenida Brasil, no Maringá Velho. Ali, além de
José Geraldino voltou para o comércio de bar
A Casa Maringá, de seu tio Benedito José Jorge
Lourdes Jorge Cecilio e
bebidas em geral, servia refeições, café, chás, su-
entre 1970 e 1974, abrindo o Lanches Lux Bar,
e de seu avô materno José Jorge Abrão, aberta
A Farmácia Santa Márcia, situada na Av. Brasil
cos, vitaminas, doces, lanches e fazia a venda de
na Avenida Brasil, sempre no Maringá Velho. O
em 1942, ficava na Avenida Brasil esquina com
(onde hoje é a unidade Sicredi), pertenceu a Nel-
cigarros. Como o estabelecimento ficava perto
filho lembra que a clientela encontrava ali bebi-
a antiga Rua Jumbo (hoje Lafayete Tourinho).
son Abrão, primo de José Geraldino Cecílio. Era
das alcoólicas de todos os tipos, coquetéis popu-
Segundo José Carlos, foi o primeiro e o mais
a maior farmácia na melhor esquina do Maringá
lares como caipirinha, rabo-de-galo e batidas,
tradicional armazém de secos e molhados de
Velho. Tinha uma boa equipe de funcionários e
café, chás, vitaminas, sucos, refrigerantes, re-
Maringá. Vendia ferramentas agrícolas, sacaria,
vendia produtos farmacêuticos e de higiene pes-
feições do dia ou “comercial”, pizza, lanches,
balaios, peneiras, filtros, bombas d’água, velas,
soal. Naquela mesma época, havia mais duas
salgados, “tira-gostos” como ovos cozidos,
lampiões, lamparinas, lâmpadas, pilhas, chapéus,
tradicionais farmácias concorrentes nas poucas
torresmo e salsichas, além de bombons,
selaria, ferragens para pastagem, arame farpado,
quadras do bairro: A Goulart ( também na Avenida
chicletes, barras de chocolate, doces ca-
implementos para arados com animais, cereais,
Brasil) e a Brasília (na Praça 7 de Setembro). As
seiros do tipo maria-mole, mariola, doce
sal, açúcar, farinha, enlatados, bebidas, adubos,
três revezavam-se em rodízio de plantão. Nelson
de abóbora “coração”, pudim, quindim, quei-
venenos e uma infinidade de produtos para o dia
Abrão foi vereador e faleceu no dia 7 de setembro
jadinha, beijinhos e brigadeiro, sorvetes, sem
a dia da população urbana e rural de Maringá
de 1978 ao ser atropelado por um automóvel en-
falar de cigarros. Para completar, havia uma
e arredores. Havia também a Casa da Lavoura,
quanto pedalava sua bicicleta no centro da cidade.
o Bazar São Geraldo; embaixo, moradores em frente ao Foto Primeiro, na Avenida Brasil
96
Desbravadores do comércio de Maringá
97
Em fotografias e filmes antigos de Maringá
Foi o dinheiro do café que, durante a primeira
Avenidas Mauá e Tuiuti. A Santo Antônio fun-
década de existência da cidade, irrigou o comér-
cionou normalmente por exatos 50 anos, encer-
Gerência de Patrimônio Histórico/Maringá Ilustrada
Máquinas de café e beneficiadoras de algodão
cio em geral. A cidade dependia tanto dessa lavoura que, quando ocorriam fortes geadas, o baque era inevitável.
é comum observar a presença de caminhões carregados de sacos de café. Eles vinham de uma vasta região à volta para descarregar a carga em máquinas de beneficiamento e padronização do produto. O mercado de café era o negócio que gerava a maior soma de recursos, envolvendo produtores, compradores que iam com caminhões adquirir a safra nas propriedades, dezenas de máquinas de vários tamanhos que contratavam um grande número de trabalhadores, transportadoras, enfim.
A Máquina de Café Santo Antônio, construída com madeiras de péroba em 1949, provavelmente foi a primeira. Em seu livro “Terra Crua”, Jorge Ferreira Duque Estrada relata que se tornou proprietário de uma máquina de café ao lado do Posto Villanova (de Inocente Villanova):
rando atividades em 1999. Consta que em 1965 a Companhia Melhoramentos, então gerenciada por Alfredo Werner Nyffeller, adquiriu a máquina, a qual pertencia ao advogado Affonso Campos Lima.
Diversas companhias multinacionais instalaramse em Maringá para comprar café, entre as quais a Volkart Irmãos, de capital suíço. A empresa fi-
A cidade chegou a contar 72 maquinas de café,
ao lado do Posto Villanova. Foram seus constru-
cou alguns anos nessa atividade e, em seguida,
tores os irmãos Constantino, originários da Rús-
passou a investir na compra de algodão, um
“Com Ignácio Morais Teixeira organizei uma
entre elas a São Manoel
compradora de café em coco. Adquirimos a
(acima) e a Maringá
sia”. O Posto Villanova (e também a Serraria de
(da família Suzuki), ambas
cultivo que prosperou principalmente nos solos
mesmo nome) ficava próximo do encontro das
arenosos do noroeste.
primeira máquina de beneficiar café que aqui se
na Avenida Carneiro Leão,
construiu, localizada logo na entrada da cidade, foto Tibor Jablonsky. Acervo Maringá Histórica/IBGE.
A maquina, possivelmente a
Em julho de 2011, falando ao jornalista
primeira de Maringá,
Donizete Oliveira, da Revista Tradição, o conta-
em reprodução feita
bilista Luiz Roberto Bolotta, ex-funcionário da
por Edgar Osterroht;
Luiz Bolotta. Este último vai permanecer por 35 anos como funcionário.
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná,
Bolotta disse na entrevista que ficava espanta-
também um grande
conta que presenciou esses tempos de ouro da
do com a grande procura por terrenos na cidade.
número de corretoras
cafeicultura. Após sua chegada a Maringá em
Chegava gente de todos os lados para comprar
1960, vindo de Guaranésia (MG), Bolotta foi tra-
lotes urbanos em Maringá: “A valorização era
balhar na Máquina de Café Santo Antônio, cujo
muito rápida”.
a cidade sediou
proprietário era o advogado Affonso de Campos
100
Lima. Em 1965, a Companhia, adquire a máqui-
A maioria dos que procuram o prédio da Com-
na para a empresa e seu gerente, Alfredo Werner
panhia, na esquina das Avenidas Duque de Caxias
Nyffeller, pede que ali fiquem trabalhando o
e Joubert de Carvalho, vem de São Paulo e Mi-
maquinista José Remigio Pereira, seu auxiliar
nas Gerais. Aqueles homens, que trazem dinheiro
Dante Panzeri e o responsável pelo escritório,
no embornal, são os chamados “jacus”. Segundo
Bolotta, apesar do movimento e da intensa venda
O mesmo repórter Donizete de Oliveira lo-
de terra, não havia encrenca. Nos negócios, a pa-
calizou o ex-maquinista Remigio Pereira no final
lavra valia mais do que documentos. No entanto,
de 2011. Aos 98 anos, esse mineiro de São
admite que em determinados lugares da região, o
Sebastião do Paraíso cita que chegou à cidade
clima era pesado: “Jagunços vigiavam as terras e
em 1953 e histórias e causos não lhe faltam. Era
ai de quem se metesse a entrar no local sem ser
bastante solicitado para dar assistência a máqui-
convidado, muitas vezes ficava sem orelha”. Mas
nas de café da região. Às vezes, ia até Umuarama,
bandido como hoje, não existia. Bolotta conta que
gastando sete horas de viagem. Quando ia e volta-
levava malas cheias de dinheiro do escritório da
va de teco-teco, ficava bem mais fácil. No retorno,
Companhia até o Banco do Brasil: “Aqueles tijolos
ao visualizar lá do alto um poeirão que subia do
de células ficavam espalhados em cima do balcão,
chão, ele já sabia: era Maringá. Remigio ficou 31
fervia de gente, mas ninguém botava a mão”.
anos como funcionário da Cafeeira Santo Antônio.
Lourenço Gonçalves, que trabalhou durante
O comércio ambulante
vários anos na Volkart e desde 1972 é contratado da Cocamar, explica que a colheita do algodão iniciava em março e ia até maio, com os traba-
Proliferava pela cidade, nas décadas de 1960
lhadores colocando a pluma em sacos bem socados. Eram quatro “panhas”. Quando chovia era preciso tomar um cuidado especial com a carga transportada em caminhões, pois a lona protetora, ante o peso da água, afundava e formava uma “piscina”. A umidade poderia depreciar a mercadoria. O algodão exigia muita mão de obra, no campo e na empresa. Uma turma de mulheres se ocupava exclusivamente de limpar toda a sacaria, removendo pequenos fragmentos de pluma. Os sacos, em seguida, passavam por uma
café em muitas regiões no noroeste paranaense, absorvendo grande número de trabalhadores
o novo’ em Maringá. Há 40 anos trabalha como vendedor de doces de amendoins e paçocas na Avenida Brasil, quase esquina com a Avenida
e 1970, o comércio ambulante de alimentos e de
Duque de Caxias. Segundo Lopes a idade é um
mercadorias, conforme registra o livro “Memória
dos motivos que o levam a exercer a profissão.
dos Bairros” (Vila Operária), editado em 2002 pela
‘Por causa da idade, já velho, a gente não acha
Prefeitura do Município de Maringá. Miúdos de boi
outro jeito de trabalhar, então, o jeito é esse,
estavam entre os produtos comercializados de por-
vender doces.’ A clientela de Lopes vai de crian-
ta em porta, mas eram oferecidos também: pei-
ças a adultos, desde clientes de anos a simples-
xes, frangos, manteigas, queijos, salgados, pamo-
mente pessoas que trafegam pela avenida. ‘Os
nhas e outros derivados de milho, refrescos, frutas,
clientes são diversos. Médicos que desde peque-
verduras, pães, sorvetes, geladinho, raspadinha,
nos compravam doces comigo, agora tratam da
algodão doce, biju, paçoca, amendoim e quebra-
minha saúde. Uma vez fui consultar e o médico
queixo, além de vassouras e panelas.
me perguntou se eu ainda estava no mesmo lu-
costura e consertos, o que possibilitava a sua re-
O algodão foi sucedâneo do
78, é exemplo da convivência entre o ‘velho e
gar, vendendo doces’, conta Lopes. Ao ser ques-
utilização. Nessa época, os funcionários eram di-
Em 2007, o jornal “Matéria Prima” veiculou
tionado sobre as exigências da prefeitura em
vididos entre mensalistas, horistas e trapicheiros
matéria assinada por Danielle Sgorlon e Jheine
relação ao seu trabalho (já que é um serviço
(saqueiros). Esses últimos carregavam enormes
Evelim a respeito de um vendedor de doces que
ambulante), Lopes diz ter registrado seu car-
sacos até o classificador, na plataforma da tulha,
exercia essa profissão havia 40 anos. O texto di-
rinho de doces para não haver mais proble-
para que fossem cortados com faca. De acordo
zia: “Parece difícil em uma sociedade que está
mas. ‘No começo [fiscais] implicavam comigo.
Era grande o número
em constante evolução encontrar pessoas que
Já chegaram a prender meu carrinho com to-
de carroceiros fazendo
há várias décadas têm a mesma rotina. Difícil,
dos os doces, mas sempre eu dava um jeito,
porém, não impossível. Nardo Rodrigues Lopes,
conversava com os vereadores e voltava a tra-
com o tipo do algodão, a carga seguia para tulhas específicas. Era um momento aflitivo para o agricultor, que teria definida aí a remuneração
a venda de mercadorias no portão das casas
pela sua safra.
balhar. Depois registrei o meu carrinho e não teve mais perigo.’
A propósito, da Volkart sairiam dois presi-
102
dentes da Cocamar – cooperativa de cafeicul-
A lei nº 5.855, de 2002, no artigo 1º, define
tores fundada em 1963: Constâncio Pereira Dias,
como comércio ambulante o exercido indivi-
que trabalhava como advogado, e Luiz Lourenço.
dualmente sem estabelecimento, instalação ou
Lourenço foi admitido como office-boy em 1960
localização física. Cita ainda no artigo 9º ser
e subiu na empresa; quando saiu, no final
permitido para o comércio ambulante a venda
de 1971, convidado para prestar serviços à
de amendoins e guloseimas, os mesmos que
Cocamar, ocupava a gerência.
Lopes vende.
Desbravadores do comércio de Maringá
103
as práticas da alta rotatividade e alta quantidade
O empresário Abrão Manoel, dono da Casa
Segundo Míriam, “os adultos e principal-
de mercadorias vendidas, das promoções e das
Santa Terezinha, instalada primeiramente em
mente as crianças não viam a hora de abrir suas
Em paralelo ao comércio forte e pujante, muita
liquidações. Inicialmente os mascates visitavam as
1950 no patrimônio de Floriano, com passagem
malas e apreciar as novidades. Um verdadeiro
gente costumava abarrotar malas com mercado-
cidades do interior e as fazendas de café, levando
por dez anos em Doutor Camargo e desde 1974
mercado ambulante! Esses incansáveis homens
rias adquiridas em grandes cidades para oferecer
apenas miudezas e bijuterias. Com o tempo e o au-
em Maringá, onde está estabelecida na esquina
com muita coragem encaravam o trabalho árduo
de casa em casa, tarefa árdua e exaustiva, mas
mento do capital, começaram também a oferecer
das Avenidas Brasil e Paraná, se recorda que os
a pé, de fazenda em fazenda, de sítio em sítio,
recompensadora. Eram os mascates, grande
tecidos, roupas prontas e outros artigos.
mascates eram muito comuns, principalmente, no
facilitando as compras de muitas pessoas”.
Os mascates
parte dos quais os chamados “turcos”, se bem que suas nacionalidades eram outras: sírios e libaneses, em sua maioria. Como tinham sotaque, eram nomeados “turcos da prestação”.
A mascateação introduziu inovações que hoje são traços marcantes do comércio popular, como
período do desbravamento. Ele próprio filho de um libanês que começou a vida mascateando tecidos
A escritora menciona que os irmãos Fouani
no interior de Minas Gerais, Abrão se recorda que
eram tão bem acolhidos que sitiantes os convi-
a maioria deles “era gente de bem”, que encontrava
davam para posar em suas casas e, no outro dia,
de olhos esbugalhados e boquiabertos diante de
boa acolhida e chegava a ser convidada para pernoitar
dar sequência às vendas. Muitas pessoas compravam
tantas novidades. O mundo inteiro parecia estar
na casa dos fregueses, visto que enfrentar estrada
mercadorias e pagavam com café, feijão, milho e
saindo dali daqueles volumes mágicos, que aguça-
no meio do mato, à noite, podia ser arriscado. No
até mesmo com porcos e galinhas.
vam a cobiça de mulheres, mantinham as crianças
entanto, ele lembra que nem todos eram bem
atentas e deixavam os homens preocupados com a
recebidos quando apareciam na porta de casas e
Esses dois ‘turcos’ (na verdade libaneses) vinham
gastança inevitável, mas quase sempre necessária.
em entradas de sítios. “Em alguns lugares, sitiantes
da região de Mandaguaçu. “Eram rapazes novos,
colocavam plaquetas proibindo a entrada de mascates,
solteiros, magros, queimados de sol, que nos
certamente devido ao grande número deles, o que
deixavam um grande exemplo de perseverança
atrapalhava o serviço”, conta.
e trabalho”, completa.
Os irmãos Ibrahim
Saadeddine veio
e Moisés Fouani
fazer história
Quando eles chegavam aos sítios e escancaravam as entranhas de suas malas, deixavam a todos
O professor e historiador Reginaldo Benedito Dias conta que, no final da década de 1950, muitos comunistas disfarçavam-se de mascates só para ter acesso às residências e sítios. Entre uma venda e outra, não perdiam a oportunidade de distribuir seus panfletos revolucionários.
Em seu livro “Memórias de uma Potingá” (2010),
A aldeia Manara, a 60 quilômetros de Beirute,
a professora Míriam Ramalho, de Maringá, relata
no Líbano, tinha ficado pequena demais para
que “Eles [os mascates] proporcionavam grandes
Saadeddine Ali Wardani, de 27 anos, promissor
alegrias para todos nós, quando apareciam sempre
comerciante de cereais. A insuperável perda do
na ‘Fazenda do Barbudo’. Eram os irmãos Ibrahim
pai o levou a espiar para além dos mares. Em
e Moisés Fouani, que chamávamos de ‘turcos’. Tra-
1952, deixou em sua terra a esposa Zaquia e
ziam em cada mão uma mala recheada de roupas,
dois filhos pequenos: Fátima, de três anos, e Ali,
dos deixavam seus afazeres para recepcionar o
meias, lenços, gravatas, cuecas e enxovais como
de 40 dias. O destino, Brasil, onde pretendia per-
homem, que vinha carregando malas cheias de
colchas, lenços, fronhas, toalhas, camisolas e tantas
manecer por dois anos e retornar. Foi uma longa
maravilhas e encantamentos da cidade.”
outras coisas para as mocinhas do sítio.
viagem até encontrar-se com parentes na cidade
Registro de Marc Ferrez - www.memoriaviva.com.br
Já o escritor Laurentino Gomes, que é nascido em Maringá e viveu parte da infância em uma propriedade rural no distrito de Água Boa, município de Paiçandu, lembra que a chegada de um mascate ao lugar era um evento festivo. “To-
Desbravadores do comércio de Maringá
105
de Ponta Grossa, Paraná, tudo muito diferente do
O filho Ali Wardani é quem diz: “Ao começar
Líbano. Após 90 dias ali, decidiu escutar o conselho de
sua jornada diária, ele precisava ter a certeza
um amigo que vivia na pequenina Jaguapitã, norte
de que iria vender na primeira casa a ser visi-
do Estado. Ora a poeira vermelha, ora a lama: nada
tada. Se não vendesse, não conseguiria fechar
era obstáculo para Saadeddine, nem mesmo o idio-
a mala, de tão cheia. Vendia em confiança, mas
ma. Guiado pela palavra “região progressista”, dita
tomava o cuidado de saber se aquela famí-
muitas vezes pelo amigo, que soava como música
lia vivia em casa própria ou alugada. Sendo
aos seus ouvidos, ele foi para ficar, permanecendo
própria, podia vender sem preocupação, pois
Tradição, colunista há mais de 30 anos de O
ali até 1970.
na época não havia muito calote”.
Diário e integrante da Academia de Letras de
Um desbravador “Nos idos de 30/70 do século passado, o
Ao chegar às casas, o mascate abria malas, expunha sua mercadoria e, como bom falador, anunciava as novidades:
mascate era pessoa respeitada, aguardada, sempre bem vinda pelo pessoal residente na área rural, longe das cidades”, relata o jornalista Jorge Fregadolli, proprietário da Revista
Maringá.
‘Veja este tecido vermelho, seda pura, bom para fazer vestido ou blusa. Este sutiã, última novidade em Paris, Nova York, Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro; tenho todos os tamanhos. Para costurar, trago agulhas, novelos de lã, panos para cozinha, ceroulas, samba-canção, meias, lenços e outras novidades. Para seu marido
Com sangue de mascate, o libanês não teve
Por causa da qualidade de seus produtos,
dúvida quanto ao trabalho que abraçaria em Jaguapitã
era um mascate requisitado pela sociedade,
“Para ir à cidade mais próxima, o meio de
e 18 patrimônios vizinhos. Caprichoso, apareceu di-
que sempre se apresentava sozinho, anotando
transporte dos produtores rurais, arrenda-
preço de compadre. Ve-
ante do povo simples, um dia, com duas malas estu-
as vendas em cadernetas.
tários, meeiros colonos, era o lombo de ani-
nham, venham, senhoras,
mais, jardineiras, carroças e charretes, o que,
senhoritas, vejam quanta
devido a distância, demandava muito tempo.
coisa bonita e barata têm
fadas para apresentar artigos da melhor qualidade,
tenho camisas de várias cores e tamanhos com
trazidos de São Paulo. Sim, a qualidade era o
Como o comércio das pequenas cidades
diferencial em que passou a investir para fazer clien-
nem sempre oferecia variedade, mascates es-
tela, formada rapidamente, na base do boca a boca.
tavam em todos os lugares, vendendo tudo o
Também conhecido como vendedor am-
Com apenas seis meses de Brasil, fazia-se entender e,
que se pudesse imaginar: desde zíper, agulha e
bulante, o mascate enchia malas de roupas,
ao mesmo tempo, perceber o interesse das pessoas
botões, a armarinhos em geral. O preconceito
tecidos, miudezas e percorria a região, visi-
Com isso, fazia muitas
por suas belas lingeries, seda fina, casemira, enxovais
que se tinha em relação a esses ambulantes
tava donas de casas, onde expunha sua mer-
vendas e todo mês voltava
de cama e mesa, bordados.
vinha, quase sempre, dos próprios comercian-
cadoria, realizando num dia várias visitas e
com mais novidades, per-
tes estabelecidos, que não conseguiam compe-
vendas.
corria vários bairros, era
Convencido de que o futuro estaria mesmo ali,
aqui. Podem confiar, é de
figura folclórica e inspirava plena confiança
tir em qualidade.
solicitou a vinda da família, o que só aconteceria dez
boa qualidade’.
Sua chegada às fazendas ou aos sítios,
entre seus clientes.
anos mais tarde, em 1962, após vencer a resistência
Afirma o filho Ali: “O mascate dependia de
além de aguardada, era também anunciada
dos mais velhos na terra de origem, os quais clama-
sol para trabalhar. Quando chovia por muitos
com alegria entre as vizinhas dos bairros.
Depois de esvaziar as malas, o mascate não vol-
vam pelo retorno de Saadeddine.
dias seguidos, não tinha como sair arrastando
‘Vamos lá minha filha, ver o que podemos
tava de mãos abanando. Comprava frangos, ovos e
as malas. Não nasciam pelos em suas pernas,
comprar. Vou buscar o dinheiro guardado
carne de porco (conservada em banha pura) para
de tanto que as malas raspavam”.
no colchão (geralmente de palha de milho ou
revender na cidade, pois tinha mercado certo.
Vendas, só fiado. Para deslocar-se, ele embarcava em uma jardineira quando precisava ir a lugares mais
paina), e veremos o que traz o nosso visitante.
distantes. No mais, tudo a pé, arrastando as malas
Saadedine montou loja em Jaguapitã e em
Você que está preparando o seu enxoval para
Figura querida no mundo feminino rural, o
pesadas. Era um homem magro, com seus 69 quilos,
1970 mudou-se com a família para Maringá.
o casamento, que está próximo, vamos ver as
mascate marcou época de ouro, tornando-se um
para uma carga quase sempre acima de 70 quilos.
Sobre isso falaremos adiante.
novidades que ele traz’, diziam as mulheres.
dos primeiros vendedores ambulantes que se
Desbravadores do comércio de Maringá
107
tem notícia. Mais tarde também nas vilas e arre-
As propagandas de rádio mais chamativas,
e precisando vender espaços comerciais na
índio querer precinho baixinho do amigo Kacim”,
baldes das cidades, o mascate escreveu história
pelo seu apelo popularesco, eram as da Casa
Cultura em busca da comissão de venda, que
“Taí...eu fiz tudo pra você gostar... das ofertas
e firmou conceito de profissional sem carteira
Kacim, que ficava na Avenida Brasil, próximo à
era sua remuneração, o vendedor não desistia.
Kacim”, “No Kacim, é assim”...” e muitos outros.
assinada.
esquina com a Avenida São Paulo.
Tomou como ponto de honra a indigesta missão de convencer Kacim a tornar-se anunciante.
Ganhava pelo que vendia, tendo na honestidade sua arma principal.
Sanches e Costa contam que, ainda nos anos Falando com Joaquim Dutra, superinten-
rádio de Maringá. “Não poderíamos deixar de
o jovem Assef Kassem, de 21 anos, que estava
dente da Rádio, Sanches sugeriu apresentar uma
registrar para a posteridade, a homenagem sin-
Os primeiros mascates que se tem notícia
decidido a fazer seu pé de meia por aqui. Como
proposta irrecusável para que Kacim testasse a
cera dos amigos de muitas e gloriosas jornadas, o
eram turcos, árabes, portugueses, abrasileira-
bom mascate, carregava de sol a sol duas ma-
propaganda radiofônica. A proposta foi do tipo:
espírito sempre jovem do inesquecível e incon-
dos por natureza.
las repletas de mercadorias, que totalizavam uns
“se você não dobrar o seu faturamento, não paga
fundível Kacim”, afirma Costa. “Não há como
sessenta quilos ou mais. Vendia até mesmo no
nada pela propaganda”. Mais que depressa, o
apagar no tempo suas marcantes características,
avançar da noite e não parava nem aos sábados
dono da loja topou a parada, para nunca mais
sem dúvida, um estilo único, descontraído, espor-
e domingos.
parar de anunciar. “O mais incrível de tudo é que
tivo e bem humorado, com sol ou com chuva. Seu
ele acabou fazendo escola por várias décadas
jeito sempre inovador e arrojado foi exemplo de
cães raivosos, maridos ciumentos. Hoje, a venda direta ao consumidor, em casa, foi substituída pela internet. Fica, portanto, o registro desses
Pelo seu trabalho e a constante luta, Sanches e
com suas marcantes e arrojadas peças de anún-
humildade para todos nós que o conhecemos”,
mascates, que fizeram da profissão uma escola
Costa afirmam que cultivavam grande admiração
cio. Enquanto alguns ‘arrepiavam’, sem com-
complementa Sanches.
de vendedores audazes, intrépidos, vencedores.”
pelo libanês, que falava muito mal a nossa lín-
preender o fenômeno, muitos novos anunciantes
gua. Por algum tempo, eles acabaram perdendo
já chegavam condicionando suas estreias a ‘al-
Casado com Ruchdie Said Assaf, pai de seis
de vista aquele jovem e corajoso estrangeiro.
guma coisa do tipo Kacim’, isto é, que trouxesse
filhos e avô de cinco netos, Kacim morreu em ou-
Mas no início dos anos sessenta, reencontraram
resultados imediatos”, relata Sanches.
tubro de 2008, vítima de câncer.
Casa Kacim marcou época José Sanches Filho e Sebastião Gomes da
o “turco” com uma bem sortida loja.
Costa, respectivamente empresário e publicitário em Maringá, destacam uma das personalidades mais interessantes do comércio da cidade, nas décadas de sessenta, setenta e oitenta: Kacim, dono de uma casa comercial que levava seu nome.
Mesmo com dificuldade para falar português, Sanches trabalhava na Rádio Cultura, a pionei-
Kacim captava com incrível facilidade o linguajar
ra de Maringá, onde angariava anunciantes para a
popular e suas ideias caíam na boca e no gosto
emissora. Nesse trabalho, uma de suas mais árduas
do povo, com a certeza de sucesso.
O grego dos acessórios Já falamos de japoneses, portugueses, italianos, libaneses, “turcos” em geral e comerciantes de outras nacionalidades que aqui se es-
batalhas era conseguir que o dono da Casa Kacim fizesse propaganda. “Na verdade, ele não mostrava
Sanches e Costa, que enveredaram pelo
tabeleceram. Agora é a vez de um grego, Nikolas
um mínimo de entusiasmo diante das minhas ten-
ramo publicitário, continuaram a criar memo-
Demetrios Lakka que, em 1963, aos 18 anos, de-
tativas. Alegava que o movimento era fraco, que
ráveis anúncios, tendo como tema o linguajar
sembarca no Brasil em busca de melhores pers-
não teria como pagar a propaganda”, recorda-se.
engraçado do interior brasileiro. Algo como: “A
pectivas. A situação na Grécia, como de resto a
cobra tá fumando na Casa Kacim”, “O pau tá que-
Europa, ainda sob a ressaca da Segunda Guer-
Kassem ao
108
foi um dos maiores anunciantes nas emissoras de
cinquenta, conheceram na Vila Morangueira
Vida dura, enfrentando chuva, frio, fome,
lado da
Por anos a fio, mesmo com uma só loja, Kacim
esposa
Sempre confiante no antigo ditado “água
brando na Kacim”, “Kacim baixou as calças...nas
ra, não estava fácil para quem nutria sonhos e,
Ruchdie.
mole em pedra dura, tanto bate até que fura”
bancas e prateleiras”, “Índio não querer apito...
como ele, tinha espírito empreendedor. Com for-
Desbravadores do comércio de Maringá
109
car o emprego estável na capital paulista pela
Nikolas, no entanto, não se dá por vencido.
outra, com todo tipo de acessórios e bugigangas
incerta vida de mascate em Maringá. A primeira
Mapeia as ruas e lugares de maior movimento na
para veículos. Em 1969, quando o primo precisou
providência é comprar uma grande mala; a se-
cidade e vai atrás dos fregueses. No Posto Maluf,
voltar para a Grécia, Nikolas está tão embalado em
gunda, entupi-la de acessórios e quinquilharias
sempre repleto de caminhoneiros, acerta a mão,
seu negócio que é grande o seu círculo de clientes
para jipes e caminhões que adquire de lojistas
mas é no Maringá Velho, em frente ao Restaurante
em Maringá e cidades da região. Já casado, com-
na Avenida São João. “O dinheiro só dava para ir,
Fim da Picada (à época pertencente ao amigo Nil-
pra um terreno da Companhia Melhoramentos,
tinha que vender para comer”, recorda-se.
son Mariucchi), que ele e o primo fazem sucesso. É
onde constrói a Acessórios Fim da Picada. A loja
que funciona ali, onde hoje é a Praça das Greví-
dá tão certo que, em 1985, o comerciante adquire
Em Maringá, susto e decepção. Susto porque o que eles encontram é uma cidade atrasada, com muitas ruas sem asfalto e até dificuldade com energia elétrica. “As casas e estabelecimentos de madeira davam uma sensação de pobreza”, diz. Há apenas um trecho da avenida principal calçado de paralelepípedos. Mas o movimento é grande, com mudanças e verdadeiros “paus de arara” chegando o tempo todo e se enfileirando no Maringá Velho, em direção ao sertão. A decepção fica por conta do fato de que Nikolas e o primo, instalados como mensalistas em um pequeno hotel ao lado da linha de trem, não conseguem vender nada no primeiro dia. Descobrem, em
leas, uma espécie de bolsa de cereais ao ar livre, lugar de intenso afluxo de sitiantes que vêm da roça com seus caminhões carregados de feijão, arroz e milho, atraindo inúmeros compradores. Ficam ali, também, diversas cerealistas, entre as quais Matsubara, Possato e Feijão de Ouro. “Corria muito dinheiro e o pessoal se animava a gastar”, lembra. Sem demora, os dois fazem clientela, especializando-se em capas produzidas com celulóide, as mais procuradas. É um produto importado da Ásia, que ambos buscam de atacadistas em São Paulo.
um espaço bem maior nas proximidades do Posto Matsuda, na saída para Campo Mourão, onde está até hoje. “Com o tempo, fomos nos adaptando às novidades, sempre aumentando o número de fregueses”, observa Nikolas, que representa várias marcas e já chegou a ter 35 funcionários. A equipe diminuiu um pouco, explica ele, porque parte do que vendia no passado eram produtos artesanais, como cortinas de caminhões confeccionadas sob sua encomenda, o que saiu de moda. Ao falar daquela Maringá de quando encontrou, o grego se recorda, em meio a sorrisos, de
Os dois gregos juntam dinheiro mas Nikolas,
dificuldades como o “subidão” do Maringá Velho,
em 1964, começa a pensar fixamente em ir em-
“onde nem jipe subia em dias de chuva”, e tam-
bora para a África do Sul onde, dizia-se, as possibili-
bém de que, naqueles tempos, chovia muito, “pelo
dades de riqueza eram maiores. Ele sai de Maringá
menos durante 180 dias do ano, criando imensos
mas não do país, permanecendo por mais de um
lamaçais e dificultando a vida dos mascates”.
mação em torneiro ferramenteiro, o imigrante
suas andanças de um lado para outro, que pouca
confiança na cidade.
não encontra dificuldades em achar emprego na
gente compreende a serventia de um acessório de
Acima, com foto do
fábrica de máquinas de costuras Elgin, em São
carro e caminhão. Ao abrirem a mala, diferente
Paulo, mesmo sem pronunciar uma só palavra
dos que comercializam roupas, por exemplo, eles
sempre volta”: a frase que costumava ouvir pelas
Pai de um casal de filhos, Nikolas vai passando
em português. Mas conversar é com Nikolas, um
oferecem capas para volantes e painéis, cortinas
ruas da cidade paranaense, escreve o seu futuro.
toda a sua experiência para o jovem Demétrio, com
curioso por natureza, que logo começa a entender-se
de parabrisas, parabarros e enfeites de toda sorte,
Volta, e para nunca mais sair.
quem divide a gestão da empresa. “Agora, a vida
com os brasileiros. É numa dessas conversas que
mas poucos se interessam. Assim, ao final de uma
ele ouve falar de uma certa Maringá, cidade pro-
semana frustrante, o primo se apavora e chega a
A oportunidade estava mesmo aqui. Exatamente
gressista do norte do Paraná, para onde muita
sugerir que ambos arranjem um emprego tem-
na praça onde funcionava a bolsa de cereais ao ar
gente estava indo atrás de oportunidades. Em
porário para conseguir o dinheiro que lhes
livre. Em vez de continuar arrastando uma mala, os
companhia de um primo, que havia chegado
permitam pagar as despesas e, o mais depressa
dois mascates se animam a montar uma barraca
Em Maringá desde 1956, para onde os pais
pouco tempo depois, o grego não hesita em tro-
possível, retornar a São Paulo.
de lona. Na verdade, sete barracas, uma ao lado da
o trouxeram ainda menino, o sociólogo e pro-
Nikolas: uma história surpreendente de
tempo em que mantinha tenda no Maringá Velho
110
ano no Rio de Janeiro. “Quem bebe água de Maringá,
está bem mais fácil”, finaliza.
Desbravadores do comércio de Maringá
“Tinha muito mascate”
111
fessor da Universidade Estadual de Maringá
em Santos, passou por São Paulo e, indicado por
“Não levava calote nunca.” O segredo? Confiar na
(UEM), Altair Aparecido Galvão, diz que se recorda
parentes, veio parar em Maringá, a cidade que
honestidade do povo simples do campo. Vencida
dos muitos mascates que via pelas ruas da cidade,
estava começando. Trazia só uma pequena mala
a prestação, era só passar, receber e aproveitar a
arrastando uma ou até duas grandes malas, repletas
com suas roupas e a vontade de fazer a vida.
presença para fazer mais negócios.
de mercadorias. Altair diz não se esquecer, espe-
Repetindo a experiência de seus patrícios, não
cialmente, de algo que esses vendedores ofereciam:
conhecia uma única palavra em português, dificul-
Homem de coração bom, o alegre Ali foi se
camisas das marcas “Volta ao Mundo” e “Ban-Lon”.
dade que tirou de letra. Em pouco tempo, como
cercando de muitas amizades. Mais tarde, seguin-
Certa ocasião, o garoto vaidoso dirigiu-se à porta do
quase todos os mascates faziam, lá estava ele
do outra tendência de seus compatriotas, ele ins-
cinema exibindo uma camisa que a mãe acabara de
carregando duas grandes malas para cima e para
tala em 1962, na principal avenida de Maringá,
O casal Mohamad e
comprar de um ambulante. Estava “nos trinques”,
baixo, vendendo roupas feitas, seda natural, arti-
a Casa Cairo. Mas por que Cairo e não Beirute, a
Amine com o filho Marcos.
como se diz, mas lá chegando, a decepção: muitos
gos de cama, mesa e banho. Onde se via um mas-
capital do Líbano? “O nome foi uma homenagem
dos jovens que ali se encontravam, usa-
cate, podia apostar: era libanês. As pessoas os
ao presidente Nasser [Gamal Abdel Nasser, que
chamavam de “turcos”, mas não era bem assim.
governou o Egito de 1954 a 1970], todo mundo
vam camisas idênticas, inclusive nas cores. É que, em seu péri-
gostava dele”, explica o libanês, com seu sotaque
plo, os mascates, em deter-
Como a Garcia já tinha jardineira que, a par-
arrastado. Casado com Badia Mohamed Salem,
minado momento, podiam
tir de Maringá, viajava para pequenas localidades
ele tem quatro filhos, um dos quais – Mohamad
comercializar praticamente
da região, entre as quais Ourizona e São Jorge
– está com ele na loja, que completa meio século
o mesmo tipo de roupa.
do Ivaí, Ali começou a fazer freguesia nesses lugares, enfrentando estradas cheias de lama ou
Por outro lado, como o pai era fer-
poeira. “As malas eram muito pesadas”, recor-
roviário, Altair vivenciou uma opção de comércio
da-se. Estavam entupidas de novidades trazidas
disponível apenas a essa categoria profissional e
de São Paulo. No início, o mascate não conhecia
seus familiares: a chegada, de vez em quando, do
ninguém, mas vendia fiado sem medo. E garante:
que vem de Ourizona e São Jorge do Ivaí e faz festa quando entra na loja”, diz.
o parente Ali
Morando em Marialva desde 1951, quando chegou do Líbano, Mohamad levou essa vida difícil até juntar dinheiro o bastante para abrir o próprio estabelecimento, a Casa Síria - nome que escolheu em razão de já existir lá a Casa Libanesa. Em 1962, transfere a loja para Maringá, oferecendo artigos e confecções em geral, que desde aquela época, sempre no mesmo endereço, faz sucesso junto ao público feminino.
Ali é cunhado de Mohamad Hussein Salem, outro libanês que também fez a vida como mascate
vagão da cooperativa de consumo, carregado de
Mohamad e Amine casaram-se em 1942
na região de Maringá. Mohamad confirma: a saga
produtos como tecidos, chapéus, cintas, confecções
no Líbano e ele veio na frente para conhecer o
desses vendedores ambulantes era feita, principal-
e calçados. Quando isto acontecia, o “frisson” era
país. Um ano depois, trouxe a esposa e três filhos
mente, de confiança. “As pessoas guardavam o
pequenos. Marcos, o primeiro nascido no Brasil,
geral, face aos preços acessíveis, muito embora as
dinheiro para pagar a prestação, ninguém costumava
é quem atualmente administra a Casa Síria. Os
opções de escolha fossem poucas.
passar a perna”, conta. Ele peregrinava de sítio em
dez filhos e os muitos netos são a alegria do casal.
sítio, entre Marialva, Maringá e Itambé, vendendo
O patriarca sorri quando diz que há 15 doutores
roupas que recheavam duas malas. Um sacrifício,
na família, a qual, radicada há mais de 60 anos
pois o trajeto de uma propriedade para outra era
no país, procura conservar suas tradições - de-
percorrido a pé. Quando ficava escuro, ele torcia
votada a uma sólida união entre todos os seus
para que o sitiante fosse compreensivo, acolhedor
membros, bem como à religião e ao trabalho.
e lhe oferecesse o paiol para passar a noite.
Um dos fundadores da Sociedade Beneficente
Casa Cairo e Casa Síria O libanês Ali Mohamad Abou Fares chegou ao Brasil com 17 anos, em 1955. Desembarcou
112
em 2012. “A clientela é firme, ainda tem gente
Na página ao lado,
Desbravadores do comércio de Maringá
113
Muçulmana de Maringá e um dos idealiza-
Morador em uma das casas do pátio ferro-
desse ofício, o que assegurava serviço a inúmeros
dores da mesquita da cidade, Mohamad deixa
viário, que invariavelmente ficava repleto de to-
meninos e rapazes, uma vez que com a poeira
claro que bebida alcoólica não entra em casa,
ras, Altair e outros meninos de sua faixa etária
e o barro da cidade, os sapatos nunca estavam
mas o cardápio familiar, que não dispensa o
ocupavam-se, durante parte do dia, do serviço da
limpos. “Em épocas chuvosas, os engraxates
habitual quibe assado ou cru, há muito incor-
“lavra”. Lançando mão de machados, eles descas-
não venciam.”
porou o principal prato brasileiro: o arroz
cavam a superfície dos enormes troncos com a
com feijão.
finalidade de vender as cascas em residências
Aos domingos pela manhã, retornando da
onde havia fogões econômicos - estes ainda um
missa, a visita a um local era infalível: o famoso
Na loja, um dos segredos do sucesso, segundo
privilégio de poucos. “As cascas de marfim, de
Bar Colúmbia, na atual Avenida Getúlio Vargas.
o fundador, foi nunca o negócio ter ficado em
brasas mais duradouras, eram as de maior valor.”
Esse estabelecimento, também conhecido como
mãos de empregados. A gestão familiar é visível:
Não raro, perdia-se a jornada de dias inteiros
“Bar do Américo” (em alusão a Américo Dias
além de Marcos e algumas netas no atendimento,
quando, ao cair da noite, montes de cascas eram
Ferraz, o segundo prefeito de Maringá e seu pro-
o casal Mohamad e Amine - ela com o inseparável
surrupiadas por carroceiros que ficavam à
prietário), era frequentado “por ricos”, como se
A propósito do Bar Colúmbia, Aparecido Alves
traje escuro libanês, que cobre inclusive a cabeça
espreita.
dizia. Quem não podia gastar se contentava em
Luiz, que muitos conhecem por “Cidão”, lembra
admirar, no seu interior, o grande aquário habi-
estar trabalhando como engraxate bem ali em
tado por peixes coloridos e tartarugas.
frente, no fatídico 10 de maio de 1957, uma data
-, faz questão de estar sempre por perto, acomAltair foi também engraxate na estação ferro-
panhando as vendas.
viária. Segundo ele, muitas famílias dependiam
“Uma loja comprida, com grandes vitrines, um paraíso para qualquer criança”, recorda-se.
que ficou marcada na história de Maringá. O dia Altair se recorda que o pai, sempre de terno e
que deveria terminar festivamente, com desfile e
gravata, tinha especial predileção pelas sessões
comemoração nas ruas pelo décimo aniversário
do Cine Maringá, que reprisava na segunda-feira,
da cidade, acabou em tragédia. Ao fazer um voo
Sobre Altair Galvão, vale descrever um pouco
a um preço mais camarada, o filme de domingo.
rasante sobre a Praça Raposo Tavares, um dos
mais a Maringá que ele conheceu em sua infân-
E ele, a exemplo de muitos outros meninos,
aviões da “Esquadrilha de Fumaça” – o espetácu-
cia e juventude, rica em detalhes sobre a história
se deleitava com a troca de gibis no entorno da
lo mais aguardado pelo numeroso público - acerta
do comércio local.
Banca São João, na praça Raposo Tavares, onde
um mastro e se espatifa no solo, próximo à esta-
essa prática era combatida. “Se alguma autori-
ção ferroviária, matando seus dois ocupantes.
De família humilde, aos 11 anos ele foi cobrador das Cestas de Natal Amaral, conhecidas em grande parte do Brasil: o comprador pagava um carnê com 12 prestações mensais por uma cesta, o que dava direito a concorrer a um carro. Em Maringá, o representante era Guido Basso. “Receber uma cesta bem recheada no final do ano era motivo de encantamento e símbolo de fartura para muita gente”, recorda-se.
Gerência de Patrimônio Histórico
Casas históricas
114
coisas de outro mundo” que ali se podia achar.
dade encontrasse um garoto com gibis, tomava tudo. Portanto, era preciso tomar cuidado.”
“Cidão” diz ainda lembrar-se da comoção que tomou conta das pessoas, muitas delas passando
Algumas casas comerciais são lembradas por
por dali assustadas.
Altair, entre elas a Asada e a Alvorada, de secos Toras amontoadas próximo
e molhados, a Corisco, de decorações, e a Uni-
Além desse bar, ele se lembra de algumas outras
ao fundo o prédio onde hoje
verso, especializada em presentes e brinquedos.
casas comerciais que, no seu entender, deixaram
se encontra o Mercado Municipal,
Na Corisco, a meninada tinha o costume de pedir
saudade pelo ambiente agradável e por serem
decalques e, na Universo, apenas admirar “as
bastante frequentadas por famílias. Uma delas é
a antiga estação ferroviária;
na Avenida Prudente de Moraes
Desbravadores do comércio de Maringá
115
a Sorveteria Oriental,
Quando via que a situação exigia maiores cui-
idade, porque se vestia “como gente
E o que dizer dos pães da Padaria e Confeita-
situada na Rua San-
dados, recomendava logo que se procurasse um
grande” e até chapéu usava para dis-
ria Arco-Íris? O cheiro irresistível, que exalava
tos Dumont, quase
médico. “Mais que um profissional, seu Toni-
farçar. Garante que visitava o local
dos fornos, era percebido mesmo longe, conta
esquina com Avenida
nho não perdia a chance de orientar os garotos,
não para apostar, mas com o intuito
Buzato. O estabelecimento tinha até serviço de
Duque
Caxias,
dando-lhes muitos conselhos”, relata o advogado.
de observar as pessoas. “Aprendi
entrega, nas residências, feito por um carroceiro
onde hoje é o Banco
Mas não demorava e estavam todos lá de novo,
muita coisa da vida ali”, diz. Um dia,
que saía bem cedo.
Itaú. Outra, a Doceria
em busca de ajuda.
viu um homem perder todo o seu
de
Predileta, na Rua Néo
Já o cheiro do café passado na hora ia bus-
Alves Martins, quase
A padaria de Valentim Sala, também nas ime-
meio sem rumo, mas decidiu voltar e pedir um
car quem passava em frente ao Bar Colúmbia e
na confluência com a
diações, era um dos lugares preferidos de Buzato.
crédito para jogar novamente, sendo escorraçado
a Padaria Copacabana,
Avenida Getúlio Var-
“Ali a gente podia saborear uma das melhores
pelo crupier. “Foi uma cena humilhante.”
ambas na antiga Avenida
gas.
brevidades da cidade”, lembra. Ele ia com certa
A mocidade na Vila Operária
Ipiranga, hoje Getúlio
frequência ao estabelecimento atraído pela
A Casa de Xangô, também na Vila Operária,
Vargas. “A Copacabana
guloseima “que desmanchava na boca” e tam-
reunia umbandistas e foi ali que Buzato presenciou,
reunia a fina flor da socie-
bém para se deliciar com uma Grapete, bebida
certa vez, um casamento entre pessoas descasa-
dade”, conta o advogado.
gaseificada a base de uva que fez grande sucesso
das. Naquele tempo, uma mulher “largada” não
entre os jovens de sua época. Havia até um slo-
merecia mais que o desprezo da sociedade. “Foi
gan: “Quem bebe Grapete, repete”.
uma cerimônia tão bonita e emocionante que ficou
O advogado José Buzato praticamente nasceu
para sempre em minha memória”, afirma. Em sua
em Maringá. Chegou aqui com quatro anos, no
lembrança ficariam também os quitutes servidos Na padaria de Valentim
início dos anos cinquenta, quando sua família mudou-se de Bandeirantes (PR). Grande parte da
Sala se achava a
em seguida, como a tapioca, que comia “de se
brevidade e, na cantina
esbaldar”.
exalava o aroma do
Em outras regiões da cidade, Buzato se re-
pão quente
é como assistir a um filme, dada a narrativa en-
lorada como Maringá, diz,
alguns
ganhavam
a vida refrescando a população. Era o caso de
inúmeros carrinhos de cor verde que eram vistos
espaguetti; da Arco Íris
com ele sobre a história do comércio da cidade
Numa cidade tão aca-
Arlindo Ritondin, dono da Sorveteria Polar e de
hália, o irresistivel
infância foi vivida na Vila Operária e conversar
116
dinheiro na mesa. Ficou a zero. Saiu cabisbaixo,
em todos os lugares.
corda, saudoso, da
volvente, repleta de detalhes, fatos pitorescos e
Cantina Itália, que
curiosidades.
integrava uma rede Na Rua Marcílio Dias, um tipo de “comércio”
de restaurantes de
Buzato conta que os meninos em fase de ini-
combatido pelas autoridades era demandado
comida italiana de
ciação sexual recorriam à farmácia de Antonio
por gente de todas as classes sociais: o tunguete,
propriedade de Nico-
Castilho, o seu Toninho, que ficava na Avenida
designação sutil para jogo de cartas, em que se
la Frascatti, onde era
Brasil, próximo à Igreja São José. Inexperientes,
apostavam desde pequenas quantias a verdadeiras
servido um macarrão
contraíam doenças venéreas e o único jeito era
fortunas. Amigo dos donos da casa, José Buzato con-
como não havia ou-
procurar o farmacêutico, que tentava remediar.
ta que só conseguia entrar, mesmo sendo menor de
tro igual.
Desbravadores do comércio de Maringá
117
Construído pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, o Grande Hotel Maringá foi planejado para abrigar personalidades importantes e investidores com maior poder aquisitivo. Seu traçado impressiona e fascina até os dias de hoje. O projeto foi do arquiteto paulista José
cou dois revólveres e desferiu diversos tiros em direção à bandeira paulista. A turma do “deixa disso” tratou de acalmar os ânimos e manter a situação sob controle. Interessante ressaltar que o Grande Hotel Maringá não atendia somente a seus hóspedes e residentes: era também destinado para a sociedade maringaense, que, com frequência, participava de festas em seus dois salões (Azul e Amarelo).
Augusto Bellucci. Sua construção foi anunciada em 1947, mesmo ano da fundação de Maringá, ainda como distrito de Mandaguari.
O 1º Festival de Cinema de Maringá, organizado em 1958, que teve como incentivadores
Ocupando seis mil metros quadrados, o Grande Hotel Maringá foi erigido em alvenaria, entre 1952 e 1955, com 40 unidades habita-
O Painel do café
cionais ampliáveis para 80 quartos. Seus dois
O Bar Colúmbia é um nome recorrente, citado
Embora o bar tenha deixado de existir e
por muitos pioneiros. Como já se disse, o esta-
o local servido para diversos estabelecimen-
belecimento funcionou durante anos na Avenida
tos comerciais que se sucederam ao longo
Getúlio Vargas 255 e, entre suas atrações, havia
das décadas, o Painel foi preservado. E, a
um bonito painel do café em uma de suas pare-
7 de agosto de 2009, finalmente, foi tom-
des. O oftalmologista Nelson Maimone e sua es-
bado pelo Patrimônio Histórico, Artístico e
posa Eliane são os atuais proprietários do imó-
Cultural, podendo ser visto pela freguesia
vel, em sociedade com filhos do casal Ulisses e
do “Shopping Mercadão 1,99”, de proprie-
Iris Bruder.
dade de Odair Antonio Pieroni. “Vale a pena
andares, compostos por vários blocos, foram desenhados conforme a orientação solar, ou seja, primando pela ventilação cruzada natural. Durante a inauguração, a 25 de junho de 1955, um
o
deputado
federal Renato Celidônio e o então prefeito Américo Dias Ferraz, não só hospedou os atores e atrizes do evento, além de cineastas e outros convidados,
como
também
abrigou o lançamento do festival.
fato singular ocorreu. Após o hasteamento das bandeiras do Paraná, do Brasil e de São Paulo (Estado de origem dos dirigentes da Companhia Melhoramentos), um controvertido morador de Maringá, Aníbal Goulart Maia, em protesto, sa-
Por meio do envolvimento acadêmico, a 30 de maio de 2005, o Grande Hotel Maringá, sob a razão Hotel Bandeirantes, foi tombado como patrimônio histórico do Estado do Paraná.
conhecer esta obra de arte, que faz parte da
118
O Painel, que retrata a lida com o café, é cons-
história de Maringá”, ressalta Nélson Mai-
tituído de azulejos decorados, ocupando a parede
mone. Os donos do imóvel doaram o Painel
de fundo do andar térreo. É obra do artista Valde-
para a Prefeitura, que providenciará sua re-
mar Moral, falecido na capital paulista em 1988.
moção para um local mais visível. “Existe um
Em meados de 1950, Moral projetou e fabricou to-
projeto de sua mudança para a futura Biblio-
das as peças no seu ateliê, na Rua Dionísio da Costa
teca Municipal ou outro local a ser designa-
277, Vila Mariana, São Paulo.
do”, complementa Nelson.
Desbravadores do comércio de Maringá
119
Acervo Leandro Lobão Luz
O Grande Hotel Maringá
Os apoiadores do Festival de Cinema Como já dito, entre os dias 3 e 10 de maio de 1958, Maringá sediou, no Grande Hotel, que acabara de ser construído pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, o 1º Festival de Cinema Nacional. O evento contou com o apoio de várias empresas e políticos da cidade, que tiveram seus nomes destacados como patronos de filmes, conforme relação que segue:
- “O Cantor e o Milionário”, - Patrono: Néo Martins, candidato a deputado estadual por Maringá.
- “O Pão Que o Diabo Amassou”, - Patrono: Companhia Melhoramentos Norte do Paraná.
- “Chão Bruto”, - Patrono: Agência de Au-
(que escolheu a revelação do Festival). Por sua
tomóveis Maracanã, de Mário Luiz Pires Urbinatti
vez, a empresa de materiais de construção Sobras-
– revendedor Ford, autos usados e novos, vendas
ma Ltda, ofereceu broches às atrizes, em formato
com facilidades. Avenida Aquidaban, Maringá.
miniatura do Troféu Café. O material impresso registra também um agradecimento ao então
Lúcia, do dr. Michel Felippe.
Maringá, protagonizou no mesmo ano de 1958 outro fato condenável que acabou entrando
café e cereais – Maringá, Terra Boa e São Jorge.
Elite, uma barbearia localizada na então Rua
paulista em aviões da Vasp (Viação Aérea São
General Câmara (atual Basílio Sautchuk), de
Paulo S/A). Cita, ainda, que o candidato a reeleição - “Estranho Encontro”, - Patrono: Real Aerovias
frente para a Praça Napoleão Moreira da Silva.
para a Câmara Federal por Maringá, deputado
Nacional – Transportes Aéreos Maringá, cujo agente
Sabendo que um de seus maiores desafetos, o
Newton Carneiro, cedeu as flâmulas do Festival
era Avelino Pereira Filho – Avenida Brasil, esquina
prefeito Américo Dias Ferraz, havia se dirigido
que foram entregues “aos convidados de honra,
com Avenida Paraná, telefones 1177, 1188 e 1199.
àquele estabelecimento, Maia não pensou duas
atores, atrizes, técnicos cinematográficos e pes-
vezes. Em companhia de um certo “Santão”,
soal da imprensa”. Em outra página, destaca que
que de santo não tinha nada, foi lá e, diante
os candidatos do PTB a senador e a deputado es-
de um barbeiro assustado, que nada podia
tadual, respectivamente Abilon de Souza Naves e
fazer, aplicou uma surra de guaiaca (cinto da
Samuel de Muzio, “emprestam a sua colaboração
indumentária gaúcha) na maior autoridade do
ao Festival de Maringá, numa homenagem a esta
município. Em seguida, a dupla saiu tranqui-
progressista cidade e ao valoroso cinema nacional”.
lamente em um veículo, como se nada tivesse
O melhor documentário, menciona também a
acontecido.
Além desses, o Festival contou também com o
entregue pelo Júri de Cinema de Maringá, formado pelo seu presidente, o prefeito Américo Dias
do evento. Acervo
revendedor de Mercedes Benz e Volkswagen –
Silveira (a quem coube escolher a melhor atriz),
Leandro
Praça José Bonifácio, telefone 1616.
Ivens Lagoano Pacheco (que escolheu o melhor
120
de São Paulo na inauguração do Grande Hotel
que autorizou o transporte gratuito da caravana
tra da Silva (que escolheu o melhor ator), Samuel
Lobão Luz
em protesto, desferiu tiros contra a bandeira
Santa Mônica, de Antonio Ungaro, comprador de
- “Rebelião em Vila Rica”, - Patrono: Posto Somaco,
promocional
Aníbal Goulart Maia, aquele mesmo que,
governador de São Paulo, Jânio da Silva Quadros,
Ferraz (que escolheu o melhor diretor), Heitor DuParte do material
Na barbearia, quase uma tragédia
- “O Grande Momento”, - Patrono: Máquina
apoio da Casa Júpiter que ofereceu o Troféu Café, - “Rio Zona Norte”, - Patrono: Hospital Santa
lheu os melhores coadjuvantes), Renato Celidônio (que escolheu o melhor fotógrafo) e Tertuliano
- “Cara de Fogo”, - Patrono: Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (Sinop).
argumentista), José Carlos Cal Garcia (que esco-
para o folclore da cidade. O cenário foi o Salão
publicação, receberia o Prêmio Departamento de Turismo e Divulgação do Estado do Paraná, en-
O mentor da agressão, no entanto, se deu
quanto a melhor montagem ficaria com o Prêmio
mal - e não por obra da polícia. Acontece que
Willys Owerland do Brasil. A passarela sobre a
o prefeito, um homem extremamente simples e
qual desfilaram “os maiores astros e estrelas da
popular, era querido de grande parte da popu-
nossa constelação cinematográfica e os ilustres
lação, em especial a menos favorecida. Após
convidados de honra”, foi feita com madeira cedi-
correr a notícia de que Américo havia sido alvo
da por Waldomiro Werneck & Cia, madeireira
de um atentado, uma multidão enfurecida diri-
situada na Avenida das Indústrias, telefone 1195,
giu-se à casa de Aníbal Goulart e a incendiou,
Maringá. Por fim, o evento contou com o apoio,
deixando na rua a sua família, que nada tinha
também, da Tipografia e Papelaria Maringá.
a ver com tudo aquilo.
Desbravadores do comércio de Maringá
121
O médico Lobão Luz,guardião da história
pricho e zelo, relíquias que retratam e permitem
- Cinto dourado (Relojoaria Toniolo )
- Cortes para linho (Transportadora Glória)
conhecer melhor momentos importantes da
- Jantar à dupla vencedora (Cantina Veneziana)
- “Slack” para senhora (Ao Camiseiro)
história da cidade.
- Quatro jantares (Churrascaria Avenida)
- Relógio “cuco” (Hermes Macedo)
- Lavagem completa com lubrificação
- Relógio para mesinha de quarto
Luz, que foi presidente do Aero
É, no mínimo, surpreendente e enriquecedora, para qualquer apreciador da historia, uma visita aos arquivos do médico Leandro Lobão Luz, em Maringá desde 1951. Só em
Clube de Maringá, possui uma publicação de 1955, editado por aquela entidade, com a agenda e o regulamento da 1ª “Gymkhana Automobilís-
(Servicentro Esso) - Lavagem completa com lubrificação (Posto Maluf) - Lavagem completa “gulflex” (Posto Internacional)
dia 19 de junho, em cujo conteúdo é
- Resguardo de couro para pescoço
- Vidro de perfume (Drogasil)
em 1946, e primeiro médico da Com-
importante, para este livro, mencio-
panhia Melhoramentos Norte do Para-
nar as empresas apoiadoras, que ofereceram os prêmios:
(Posto Veterinário)
Na segunda edição, já como “Ginkana”, realizada no dia 24 de junho de 1956 sob a coorde-
- Taça (Casa Principal)
Em sua casa ele guarda, com admirável ca-
- Corte de vestido (Lojas Riachuelo) - Vidro de perfume “Almant de Coty”
1ª. Ginkana Automobilística
(Drogasil) - Forma elétrica (Casa Ribeiro)
- Vidro de Água Velva (Farmácia São Luiz) - Fruteira (Casa Ribeiro)
nação da Casa da Amizade, os apoiadores foram:
- “Abat-jour” (Casa Júpiter)
Longines aos participantes da
- Disco “long playing” (A Musical)
esse profissional graduado na Bahia
nida Paraná.
saudação da Relojoaria
- Camisa para homem (Casa Renner)
- Vidro de perfume (Morifarma)
que manteve por mais de meio século na Ave-
antiguidades; ao lado, a
- Blusa de nylon (Casa Santa Efigênia)
- Corte de vestido (Loja Renascença)
ná na cidade, resolveu desativar o consultório
costuma colecionar
- Despertador (Relojoaria Ônix)
tica Cidade de Maringá”, ocorrida no
2010, beirando os 90 anos, é que
No detalhe, o médico que
(Relojoaria Toniolo)
- Fogão “Vigoleo (Comércio e Indústrias Maluf & Filhos) - Jogo de cristal para vinho (Casa Júpiter) - “Abat-jour” (Casa Prosdócimo)
- 30 litros de gasolina e 5 litros de óleo (Posto Somaco) - 20 litros de gasolina e 1 litro de óleo (Posto Transparaná) - Permanente de cinema (Cine Maringá) - Lavagem e lubrificação completa (Posto Maluf) - Lavagem e lubrificação completa (Servicentro Esso)
- Aparelho de café e um despertador (Casa Prosdócimo)
Números da cidade
- Estatueta de porcelana porta pó (Casa Prosdócimo)
Quando do 1º Festival Nacional de Cinema,
- Relógio “cuco” (Relojoaria Longines)
foi publicada e distribuída pela cidade uma re-
- Estojo de carteiras (Ao Camiseiro)
vista com informações gerais sobre o município,
- Lampião a querosene (Casa Blanc)
que completava 11 anos.
- Corte de vestido (Casas Buri) - Jogo de toalhas de renda (Loja Simon)
122
Maringá contava, então, com 111 mil habi-
- Óculos “Ray-ban” (Ótica Sul América)
tantes – dos quais a maioria, 65 mil, viviam no
- Camisa “Alberto” (Casa Viena)
campo. Eram 1.400 estabelecimentos comerciais
- Corte de camisa (O Rei do Pano)
diversos, 18 bancos, 30 olarias, 11 serrarias, 22
- Garrafa de champagne (Irmãos Fuganti)
farmácias e 3 drogarias.
Desbravadores do comércio de Maringá
123
Muitos idiomas, uma babel A vinda de um grande número de estrangeiros para Maringá, em seus primeiros anos, fez da cidade uma verdadeira babel. Japoneses e seus des-
Martins, Vila Real, Gonçalves Sé, Açougue Luso-
Em curta distância era possível, portanto, ouvir
De um lado, os idiomas estrangeiros conferi-
Brasileiro Central, Bar Lisboa, Casa Ribeiro e ou-
idiomas diferentes no comércio e nas ruas. Em menor
am a Maringá um perfil multifacetado. Apesar da
tros, remetia logo a uma casa portuguesa, com
escala percebia-se também o espanhol, o alemão, o
convivência pacífica entre as raças, o processo de
certeza. Os “patrícios” eram, também, requisi-
grego, sem esquecer o sotaque carregado dos britânicos
miscigenação transcorreu de forma lenta.
tados marceneiros, aos quais se confiavam aca-
da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP),
bamentos finos em construções.
muitos dos quais só se comunicavam em inglês.
parte da população da cidade, formada por
cendentes, por exemplo, abriram lojas, oficinas, eletrônicas e empresas em vários ramos. Quem saía às ruas se deparava com estabelecimentos comerciais cujos nomes identificavam a nacionalidade de seus proprietários: Casa Andó, Casa Asada, Retificadora Yokoyama, Fujiwara, Tamura, Taguchi, Bazar Fuji, Ikeda, Yanaka, Ueta Cine Foto, Foto Kimura, Comercial Yoshida...
Como nem todos os japoneses se adaptaram logo à língua portuguesa, algumas empresas, não raro, mantinham em suas fachadas letreiros escritos em japonês.
Os italianos, da mesma forma, souberam
Até quem ficava em casa ou no sítio tinha con-
gente humilde que tinha migrado principal-
aproveitar oportunidades, explorando restau-
tato com estrangeiros: não raro, eram visitados
mente do interior de São Paulo e de Minas
rantes, trabalhando no setor imobiliário, insta-
por “turcos da prestação”, que ofereciam suas
Gerais, interagia por meio de uma linguagem
lando hotéis e edificando obras, entre muitas
mercadorias. Eram, na verdade, sírios e libaneses
pobre, rudimentar e, não bastasse, influen-
profissões. Eram tantos “carcamanos” que a ci-
recém-chegados ao Brasil que, arrastando malas,
ciada pelo caipirismo do interior paulista.
dade chegou a sediar um Circolo Italiano, espécie
batiam de porta em porta, pronunciando palavras
Inculto e simplório, o segundo prefeito, Amé-
de representação diplomática do país. Paolo Ra-
nem sempre compreensíveis, mas se entendendo
rico Dias Ferraz, falava com quase nenhuma
faele Farris, ex-trabalhador em minas na África,
Os japoneses inseriram-se
bem com os brasileiros, as mulheres principal-
desenvoltura e mal sabia escrever. Mas, jus-
fez a vida em Maringá, onde construiu o Palace
em vários segmentos do
mente, a quem vendiam a prazo, sem garantia
tamente por isso, fazia sucesso junto ao elei-
alguma e sem medo de levar calote.
torado que com ele se identificava.
Hotel, na Avenida Brasil, no início dos anos sessenta. Por sua vez, a família Caputo comandou o conhecido Restaurante Elite, ao lado da antiga rodoviária, mesmo ramo de Alfredo Zamponi. Já
Os nipônicos estavam presentes, ainda, em feiras livres, vendendo frutas, verduras, pastéis e costumavam conversar, entre si ou com clientes conterrâneos, no idioma de origem. Era comum, também, embrulharem mercadorias em jornais que recebiam do Japão.
Bruno Lécio foi um dos primeiros investidores em imóveis na região central, Franco Galetto trabalhou de corretor, o professor Aniceto Matti fez nome como pianista e Enzo Palandri dedicou-se, por muito tempo, a supervisionar obras na cooperativa Cocamar, empresa também onde Bernardo Silvestrelli ministrou cursos para tratoris-
Quem saía de uma dessas casas japonesas e entrava, quase ao lado, num armazém de secos e molhados, poderia ter a sensação de estar pisando em território português. Hábeis comerciantes, os lusitanos dominaram o setor de armazéns atacadistas, carnes e atuavam em vários segmentos, como bares e padarias. Falar em Veríssimo, Dias
124
Além das línguas estrangeiras, grande
tas. Por fim, um descendente italiano de nome comprido – Giovanni Lorenzo Ettore José Maria Ridolfi – foi o segundo presidente da Sociedade Rural de Maringá e por muitos anos diretor da entidade.
comércio, entre os quais as feiras livres
126
Desbravadores do comĂŠrcio de MaringĂĄ
127
128 Desbravadores do comércio de Maringá
129 Anúncios desta págaina: Museu da Bacia do Paraná
Propagandas e cartazes que eram afixados em paredes e balcĂľes de farmĂĄcias, armazĂŠns e vendas durante os anos cinquenta
Acervo particular
Lojas populares de rua fazem sucesso e surgem os primeiros edifícios com salas comerciais. Lojas de departamentos ganham ainda mais espaço e Maringá tem várias concessionárias de veículos. A cafeicultura, no entanto, sofre duro golpe e a economia regional muda seu perfil, com reflexos diretos no comércio da cidade.
Os veículos Simca são uma atração no espaço
cada seguinte, o café predomina na paisagem
da Disma Ltda – Distribuidora Maringaense
agrícola regional. Até onde os olhos alcançam,
de Automóveis, sediada na Avenida Duque
só se vê cafezal.
de Caxias, 242, com filiais em Nova Esperança, Mandaguaçu, Paranavaí e Campo Mourão.
No plano urbano, Maringá se consolida como centro comercial importante para toda a região e procura estruturar-se para acompanhar o próprio crescimento. A Sanbra – Sociedade Algodoeira do NorEm 1962, quando completa 15 anos de
deste Brasileiro S/A, inaugura uma grande uni-
fundação, a cidade ganha ares de metrópole e a
dade, instalando 13 mil metros quadrados de
realização da 1ª Exposição Comercial e Industrial
construção destinada a receber e a industrializar
confirma sua pujança. Dezoito empresas expõem
caroço de algodão, com capacidade para 240
seus produtos em estandes que permanecem
toneladas a cada 24 horas. Seus armazéns po-
montados durante 15 dias na praça da Catedral.
dem acondicionar 12 mil toneladas de caroço, 12 mil fardos de línter e 1.500 toneladas de óleo
Entre os expositores está a Importadora Pin-
bruto. A energia elétrica para mover a indústria
dorama S/A., com matriz em São Paulo e filial
é produzida por dois grupos geradores e atinge
em Maringá, dentre outras cidades paranaenses.
a 1.700 HP de força. Consomem 8 mil litros de
Sua vasta linha comercial compreende desde um
óleo diesel por dia. Em 1962, a empresa previa
amplo leque de produtos de caça e pesca a tra-
implantar mais um conjunto para 1.100 HP.
tores Valmet, materiais para construções, artigos de uso industrial e agrícola, correias Goodyear e torradores de café da marca “Mesa”.
Revista Norte do Paraná
1960 – 1970
No final dos anos cinquenta e início da dé-
133
A Indústria Reunidas Maringá (antiga Caldeiraria Brasil), de Xavier, Paulucci & Cia., situada na Avenida Mauá, produzia alambiques para hortelã, tanques de gasolina, catracas, carroças, carretas,
carrocerias,
além
de serviços de soldas, tornos,
Gerência de Patrimônio Histórico
mecânica e plaina.
A cidade subia também para cima, com a construção dos primeiros edifícios – Maria Tereza, Três Marias, Herman Lundgreen e Atalaia, os três
Transporte Urbano Ubirajara “Como em todas as cidades novas, de crescimento rápido, muito sofreu a população de Maringá,
Rodoviária, também um centro comercial
O prédio representou um
até há pouco, por falta de um bom serviço de
avanço em modernidade;
transporte coletivo. Uma das primeiras grandes
no detalhe, a antiga
providências da administração João Paulino, em
estação
favor do povo, foi dotar Maringá de um dos
ùltimos comercias
melhores serviços, no gênero, em todo o norte Inaugurada a 10 de maio de 1962 pelo prefeito
(Miguel Bespalhok & Cia Ltda.), Metalúrgica
do Paraná. A organização Transporte Coletivo
João Paulino Vieira Filho, quando das comemo-
Ligúria Ltda., Vidrostintas, Serraria Paissandu
Ubirajara, que possui 19 ônibus novos, vem
rações do 15º aniversário de Maringá, a Estação
(Camponês & Cia Ltda.), Rodolpho Bernardi
servindo a população a inteiro contento, em
Rodoviária foi, também, o primeiro centro comer-
S/A., Hidro-Sondas Maringá (Poços Artesianos),
todos os pontos da cidade, desde novembro de
cial da cidade. Ali se instalaram pequenas lojas,
Cerâmica N. S. do Rosário (J. B. Perego & Cia.),
1960, mantendo linhas também para Paissan-
bares, restaurantes, banca de jornais e outros.
Com. e Ind. de Móveis Brasil, Pedreira Guaporé,
du, Água Boa, Santo Antônio, Ourizona, Doutor
A construção ficou a cargo da empresa Gerson
Vega Engenharia e Comércio S/A. (Curitiba), S/A
Camargo, Mandaguaçu, Floraí, Porto Andirá,
E. Gubert Engenharia Civil e os principais for-
Tubos Brasilit (Curitiba), Carlos Kampmann
Iguatemi, Copacabana, São Jorge do Ivaí, Itama-
necedores da obra foram: Importadora Pindo-
(Curitiba), Pirelli S/A. (Curitiba) e Materiais Bási-
rati, Guadiana e Colombo.” (Revista Norte do
rama S/A, Metalúrgica Atlas S/A, A Instaladora
cos S/A. (São Paulo).
Paraná, agosto de 1962)
Desbravadores do comércio de Maringá
135
tação, apreciada com idêntico paladar e esmero de quando iniciou suas atividades”, ressalta Eid
O Aldo foi um dos restaurantes preferidos da cidade, que ganhou
Kamel Júnior, filho do fundador, o libanês Eid,
também muitas padarias,
que chegou à cidade em 1952, após perma-
como a Herval
necer por três anos no Estado de São Paulo.
No começo dos anos sessenta, a Casa Vencedora, de Marino Etges, situada na Avenida 19 de Novembro, estava entre as preferidas dos
Quem costuma ir lá, se delicia com carneiro
agricultores que procuravam produtos diversos,
recheado, kibe cru ou assado, tabule, esfiha
maquinários e implementos para a lavoura. Ali
aberta, kafta e muito mais.
Monte Líbano
A Casa Vencedora
se podia achar, por exemplo, tratores FendtFarmer de 30, 34 e 50 HP, microtrator Superior
O imigrante Eid, pai de quatro filhos, não
Brasil, com 11,5 HP e também trilhadeiras.
fugiu à regra e fez o que era esperado de todo
Fundado em 1962, quando da inauguração
O estabelecimento era reconhecido por seu
libanês: sem demora, começou a trabalhar como
da rodoviária, o Restaurante Monte Líbano ini-
grande e sortido estoque de peças, acessórios
mascate, arrastando malas. Em alguns anos, já
ciou suas atividades como um simples bar que
e assistência técnica prestada no próprio local,
tinha o seu armarinho, mas o gosto por cozinhar
atendia ao público de passagem por Maringá,
o que facilitava o trabalho do agricultor, por
o levou para um destino diferente, sentindo que
além de frequentadores locais, interessados na
exemplo, na manutenção de sua trilhadeira.
faria sucesso e ficaria mais satisfeito ao traba-
qualidade de seus pratos. O endereço era es-
lhar com alimentação.
tratégico: o final da linha do trem e lugar de embarque para quem saía de viagem ou estava em trânsito. O restaurante permaneceu com essas características até o final de 1967. No ano seguinte, mudou de ponto na mesma rodoviária, mas tornou-se mais reservado, com bar e restau-
para entrar.
No novo local, foi montado com ar-condicionado, guardanapos de pano, talheres finos, copos de cristais e telefones que eram levados até às mesas (um grande feito para a época).
O Galeto Sulino, do gaúcho Luiz Poltronieri,
Em 1978, como os clientes aumentavam, houve
que veio de Guaporé, abriu suas portas no início dos anos sessenta,
a necessidade de ser ampliado. Mudou, então,
na Avenida XV de Novembro 840.
para a Avenida Anchieta, ao lado do Parque do
Foi uma das primeiras churrascarias
Ingá, onde atende até hoje. “Desde que foi aberto
autênticas da cidade.
permaneceu no mesmo segmento de alimen-
136
Revista Norte do Paraná
rante em que a clientela tinha que abrir a porta
Na foto, Luiz e a primeira equipe de garçons
Desbravadores do comércio de Maringá
137
É fundada a Cocamar Embora não faça parte do comércio varejista, a então Cooperativa de Cafeicultores de Maringá Ltda, a Cocamar, fundada em março de 1963, está
138
Em terceiro, vale considerar que, com o correr
A Ajita se perpetua
das décadas, a Cocamar se fortaleceu bastante como revenda no varejo de insumos básicos de
Outra marca das mais representativas para
produção (adubos, venenos e sementes), ferra-
o comércio da cidade. Em 1964, com uma loja
mentaria, produtos veterinários em geral, pneus,
horas. Ali, em 1953, um salto: o gerente passa a proprietário do estabelecimento, o primeiro do Grupo Ajita. Ainda em Paranavaí, na Rua Minas Gerais, surge a segunda loja, a Jóia Calçados.
em Paranavaí e outra em Nova Esperança, o em-
diretamente relacionada à atividade comercial da
autopeças para máquinas agrícolas, implementos,
presário Aníbal Ajita, especializado na época no
Em 2003, os 50 anos do grupo, que possui atual-
cidade. Em sua sede provisória, instalada naquele
itens de supermercado e até mesmo combustível.
ramo de calçados femininos, decide abrir uma
mente uma rede de lojas em vários municípios do
mesmo ano na rua Caramuru, onde ocupou por cur-
Em quarto lugar, sendo atualmente a maior cor-
unidade em Maringá. Foi o início, na cidade, de
Paraná, foram comemorados com muita festa.
to período de tempo um imóvel de propriedade de
poração de Maringá, a cooperativa fatura cerca
uma trajetória de grande sucesso para um homem
Joaquim Romero Fontes, a cooperativa comprava
de R$ 2 bilhões (conforme números de 2011) e,
que, em 1951, havia deixado Regente Feijó (SP)
O Grupo Ajita é pioneiro no uso do sistema
café em grande quantidade de produtores do muni-
calcula-se, injeta pelo menos R$ 500 milhões/
para tentar a vida em Londrina. Chegando na
de crediário no setor de calçados no Paraná.
cípio e região e, ao mesmo tempo,
ano na economia regional próxima, dinheiro que
então “Capital Mundial do Café”, o destino lhe
Foi também o primeiro a introduzir publicidade
revendia insumos como ferramen-
irriga e dinamiza o comércio da
acenou com um emprego na tradicional Casa
através do cartão telefônico, perpetuando seu
tas, sementes, venenos, adubos etc.
cidade polo e ao seu redor. Com
Manella, que vendia calçados. Sem experiência
nome por meio de colecionadores. Outra ino-
seus inúmeros departamentos e
no comércio, Aníbal se prontifica com o dono a
vação é a realização de shows artísticos como
A citação sobre a Cocamar é re-
as várias unidades industriais, a
trabalhar três meses de graça para aprender a
ferramenta promocional, tendo promovido even-
levante neste livro por várias razões.
cooperativa possui uma demanda
profissão. Mas já no primeiro mês ele se destaca
tos com Sandy & Júnior, Rio Negro & Solimões,
Primeiro porque uma parte dos re-
que é suprida, em parte, por mui-
como vendedor e é contratado. No ano seguinte,
Daniel e Ivete Sangalo, entre outros. Sempre com
cursos destinados para adquirir as
tas empresas locais, de diferentes
é convidado a gerenciar uma loja da Manella em
muito sucesso, essa iniciativa contribui não só
safras de café dos agricultores, iria
portes. O vice-presidente da Co-
Paranavaí, cidade promissora, mas ainda sem
para fomentar as vendas, mas também para a
parar no comércio da cidade, contribuindo para for-
camar, José Fernandes Jardim Júnior, destaca que
energia elétrica e os lampiões eram a única alter-
fidelização de clientes. A propósito, com o cartão
talecê-lo. Além de um número expressivo de empre-
a cooperativa pode ser vista como uma “empresa
nativa. Na época do Natal, Aníbal conseguiu um
Passo a Passo, o grupo possui um dos maiores
sas especializadas que forneciam bens aos produ-
mãe”, tendo sido geradora de um leque de pres-
gerador de energia junto à Transparaná e fez
programas de fidelidade do setor.
tores, estabelecimentos de todos os demais setores
tadores de serviços em diversas áreas, muitas
A empresa foi uma
da economia se beneficiavam. O segundo ponto a
das quais nasceram de pequenas demandas e
fidelizar clientes
considerar é que com o advento da cooperativa,
também de programas de terceirização. Ao longo
houve um enfraquecimento gradativo de empresas
do tempo, firmaram-se como organizações de
concorrentes, entre elas cerealistas, máquinas de
sucesso, passando a atender vários outros
A prosperidade de Maringá despertou a atenção
café e até mesmo de companhias multinacionais,
clientes e gerando muitos postos de trabalho. En-
de comerciantes de cidades vizinhas. Enquanto
que perderam espaço. Por sua característica de atuar
tre as empresas que nasceram com o incentivo
Ajita incluiu a cidade no projeto de expansão de
como reguladora de mercado, a cooperativa passou
da Cocamar estão o Haddock Buffet, a Gráfica
suas lojas, Emílio Edmundo Eidam e a esposa
a trabalhar com preços justos para o agricultor comer-
Coopergraf, a cooperativa Unicampo (prestadora de
decidem, em 1963, fechar a Casa Elite em Man-
cializar seu café, o que se repetiria posteriormente
mão de obra no setor de agrárias), a transporta-
daguari e transferir-se para cá. Primeiro, o casal
também com o algodão, a soja e demais produtos.
dora Transcocamar e inúmeras outras.
adquire um terreno bem localizado na Avenida
das primeiras a
da loja de calçados, denominada A Calçadista, a primeira a funcionar todas as noites até às 22
Elite Magazine
Desbravadores do comércio de Maringá
139
duas cadeiras, tem seguramente mais de 60 anos, segundo Pedroso. Por ali já passaram milhares e milhares de clientes e o proprietário diz com Brasil e constrói um sobrado de três pavimentos onde, no térreo, abre a Elite Magazine, uma loja de confecções, calçados masculinos e femininos. Em companhia dos três filhos (Newton, de 13 anos, Vilmar, de 10, e Milton, de 5), eles residiram em um dos apartamentos do prédio.
Com o tempo, a ampla diversificação de produtos dá lugar à especialização e a Elite Magazine se fortalece no ramo de confecções e acessórios masculinos. Diminuiu o número de itens, mas valorizou ainda mais a qualidade, ressalta Milton.
Em 2001, a área foi dividida e uma nova Da diversificação de produtos para a especialização; acima,
loja surgiu para atuar no segmento de variedades.
Emílio Edmundo Eidam
tornaram avôs, bem como de seus filhos e netos. Ele calcula, ainda hoje, ter “uns mil clientes”, en-
se ganhava de menos. “Já cheguei a fazer 54 cortes num dia, fora as barbas”, ressalta o barbeiro, explicando que não havia hora para fechar.
No passado, o corte era feito com máquina manual, que exigia mais cuidado. “Hoje, é tudo elétrico, há recursos modernos e até secador. Nada mais é difícil”, acrescenta.
Os sábados continuam sendo os dias de maior movimento e, antes, o povo do sítio chegava em grande número, às vezes famílias inteiras. De acordo com Pedroso, havia o costume de se cortar o cabelo em intervalos menores que atual-
mais comum. Agora, virou uma salada, incluindo moicano, surf e outros tipos. “A gente tem que se adaptar”, diz.
Pedroso teve vários funcionários em seu estabelecimento, que ganhavam por produtividade. “Muitos desses, dentre os primeiros, já morreram”, conta. Certa vez, um dos parceiros passou o maior aperto, depois de atender a um pistoleiro afamado. “O homem reclamou do corte e ficou bravo. Depois, mandou raspar a cabeça e foi embora”, salienta.
fatizando que no passado se trabalhava demais e
mente. Quase todo mundo pedia o corte social,
Os “causos” do barbeiro Pedroso
140
orgulho ter cortado o cabelo de moços que se
Gerência de Patrimônio Histórico
O mobiliário do estabelecimento, que inclui
Até o experiente proprietário, um dia, admite ter se O primeiro salão de barbeiro pertenceu a João Viola (de branco) e foi instalado em 1949
atrapalhado ao fazer a barba de um gaúcho valentão. O sujeito levantou-se da cadeira e, soltando fogo pelas ventas, caiu fora sem pagar.
Não raro, ele lembra, acontecia de chegar freguês com a cabeleira ensebada de suor ou
Observador atento do comportamento hu-
encardida de terra. “É que muitos viajavam em
mano, Pedroso comenta que antes a vaidade
cima de jardineiras, pegando poeira”, explica.
masculina “era inocente e pura”. Mas hoje, arre-
Mesmo assim, em alguns casos, o sujeito menos
mata: “Alguns homens fazem questão de ficar
esclarecido ou machão podia ficar ofendido se o
parecidos com mulher...”
barbeiro pedisse para lavar sua cabeça.
Em tempos idos, o Pedroso Cabeleireiros recebeu gente importante e até duplas caipiras
Pode chamar de “Batuta”
famosas que se apresentavam na região. Embora não haja vestígios, o dono garante: Tonico e Tinoco estiveram ali.
Difícil quem não o conheça. O barbeiro “Batuta” atende desde 1968 em um pequeno salão quase na esquina das avenidas Paraná e Pru-
Fregueses armados de revólveres também
dente de Moraes (a do Estádio Willie Davids). Por
Quer saber sobre o comércio do Maringá Velho
eram comuns, segundo o proprietário. Muitas
muito tempo ele foi vizinho do Bar Galo do Norte
em suas diferentes épocas? Consulte o Pedroso.
vezes, enquanto passeavam ou faziam compras
(hoje com outro nome), um dos redutos dos
Desde 1966 estabelecido com seu salão na esquina
pelo comércio, pediam que suas armas fossem
torcedores do Grêmio. Após os jogos do time, era
da Avenida Brasil com a Rua Lafayette Tourinho,
guardadas no salão. “Às vezes, juntava um arse-
obrigatório: muita gente ia até lá para comemo-
onde nos anos 40 um bar localizado exatamente ali
nal”, sorri Pedroso, ele próprio, naquele tempo,
rar as vitórias ou afogar as mágoas.
servia de “rodoviária”, o barbeiro José Carlos Pedro-
dono de dois 38 que, garante, jamais chegou a
so, um dos veteranos em sua profissão na cidade, é
usá-los. “Revólver todo mundo tinha, era que
também um homem de muitas histórias.
nem celular”, justifica.
Desbravadores do comércio de Maringá
Fácil saber por que Osvaldo Ferreira, o “Batuta”, de 73 anos, é apelidado assim. Ele chama
141
Flamma
principal delas, aponta o moço, é a própria cadei-
a contabilidade da Importadora Maringá Ltda.,
que, vendo mais futuro na profissão de caminho-
ra de barbeiro, a única ali. Foi construída há quase
que estava sendo aberta na Avenida Brasil.
neiro, resolveu desfazer-se de metade das ações
120 anos, em 1894. É a mesma desde quando começou, comprada no interior de São Paulo.
Osvaldo Cabeleireiros é o nome da casa. Mas pode chamar só de “Batuta”.
Romeu, sempre novidades
que possuía na importadora para comprar um Com seu jeito simples, alegre e calmo, sem-
Fenemê. Na boleia do caminhão, rodou o Brasil, le-
pre teve facilidade em fazer amigos. Em 1960,
vando café, cereais e madeira. Gostava de ir ao Rio
ele se casa com Ivone Haggi, filha de um libanês
de Janeiro, uma semana para ir e voltar. Arranjou
que, como tantos, venceu em terras brasileiras:
até frete para transportar o cimento que ajudou a
mal sabia falar o português mas o espírito mas-
edificar Brasília. Mas foi em Curitiba, sem esperar,
cate fez dele de um humilde vendedor de pentes
que acabou topando com o seu futuro, ao passear
a abastado fazendeiro. Ivone conta que não saiu
pela Avenida Barão do Rio Branco. Diante de vitri-
ao pai: nasceu para ser professora, cargo que exer-
nes iluminadas, pensou: “É isso”.
ceria durante 34 anos em Maringá. Começou Se há empresas que surgem ao acaso ou do espírito empreendedor de seus fundadores, há
Os barbeiros (pai e
pelo Grupo Escolar Castro Alves e foi uma das primeiras mestras do Colégio Marista.
outras que parecem ter nascido naturalmente
filho) e o freguês, seu Garcia
“Quando ele disse que ia abrir um loja, gelei”, lembra Ivone, preocupada pelo fato de que o marido entraria num ramo onde já havia estabeleci-
para fazer parte da história do comércio. Quem
Assim, à serenidade previsível de Romeu jun-
mentos estruturados e reconhecidos. Mas veio de
todo mundo de “batuta”, divertindo a clientela
conversa com o fundador da Novidades Romeu,
tou-se o “sangue quente de árabe” de Ivone, como
sua mãe, dona Maria, um comentário em forma de
com seu bom humor. Para quem chegou a
empresa do ramo de roupas radicada na Avenida
ela mesma diz. Talvez tenha sido esta mais uma
estímulo: “O sol nasce para todos”. Pura verdade.
Maringá em 1951, vindo de Penápolis (SP),
Tiradentes, entende logo porque esse homem,
razão do sucesso de ambos, casados há 52 anos.
atrás de trabalho em lavoura de café, a vida não
contabilista de profissão, que foi caminhoneiro e
podia ser melhor. Já aos 16 anos, em vez de puxar
vendedor de carros, deu tão certo no ofício que
A Novidades Romeu, aberta em 1963, resul-
na esquina da Avenida Tiradentes com a Rua
enxada na roça, ele aprendeu a cortar cabelo e a
abraçou sem ter o menor conhecimento prático.
tou das constantes viagens realizadas pelo marido
Luiz Gama, para iniciar o negócio e residir. Em
fazer barba com navalha, ensinado pela mãe. E
Nem precisava, mesmo.
O casal utiliza uma pequena casa alugada,
pouco tempo, os cômodos estão abarrotados de roupas que Romeu vai comprar em fábricas de
garante: nunca se cansou de permanecer o dia Romeu Jacob Becker, gaúcho de Erechim,
São Paulo e Santa Catarina. O carisma do pro-
onde nasceu em 1928, é descendente de
prietário atrai clientela da cidade e de municí-
O português seu Garcia, de 83 anos, é um dos
alemães. Seu avô Christiano fez história naquele
pios vizinhos. Mas desperta, também, a atenção
clientes mais antigos. Ele confia a “Batuta”, sem-
município ao construir um desvio da linha férrea
de fiscais da prefeitura, que não quer ver casas
pre nas manhãs de sábado, a tarefa de lhe fazer
que muito contribuiu para o desenvolvimento do
comerciais na Avenida Tiradentes, o que se
uma barba perfeita. “O homem é boa gente”,
lugar. Daí surgiria o distrito que ficou conhecido
resolve depois.
sorri.
por Desvio Becker. Mas o destino quis que o neto
inteirinho em pé, executando o ofício.
fosse fazer história em Maringá, cidade progressista
142
Edvaldo, o filho de 29 anos, agora segue a
do norte do Paraná onde aportou em 1953. A
profissão do pai, cujo salão guarda relíquias. A
convite do tio Pedro Emílio Asmann, assumiu
A família Becker: em primeiro lugar, a satisfação do cliente
Desbravadores do comércio de Maringá
143
Ivone, embora trabalhando quase que in-
Quinn, faz sucesso instantâneo no Brasil. Essa
tegralmente como professora, nunca deixa de
vestimenta íntima masculina, mais sofisticada,
ajudar na loja, ao lado das duas primeiras fun-
tirou o espaço da velha “samba canção”, mas não
cionárias. Segundo ela, o movimento era grande
foi capaz de aposentá-la. “Muita gente ainda a
porque se vendia mercadorias de boa qualidade
procura”, afirma o dono do estabelecimento.
Ecos do passado Em 1968, a Clínica de Olhos Santa Maria, do oftalmologista Nelson Maimone, começou a atender na Avenida Brasil 3.765, segundo andar,
com uma pequena margem de lucro. “Ganhá-
em um prédio de propriedade da Companhia
vamos no volume”, ressalta Romeu, que não se
Ivone diz que o mérito da loja é toda do mari-
Melhoramentos Norte do Paraná. José Ubaldo
cansava de pregar sustos na esposa. Uma vez,
do, mas ela sabe que sua participação foi decisiva
Assunção, já falecido, dono da Visolux, idealizou
um grande caminhão, repleto de tapetes, para na
quando, como professora do município, fez valer
um luminoso para ser colocado no telhado do
porta para descarregar a mercadoria. Até para
uma de suas prerrogativas: adquiriu, na própria
imóvel, em uma posição diagonal. Dessa maneira,
dormir eles têm que improvisar um espaço em
Tiradentes, diretamente da Companhia Melhora-
quem transitasse pela Avenida Brasil em frente à
meio a tanta coisa. Mas vale a pena.
mentos, um terreno de 590 metros quadrados
Praça Raposo Tavares, seguindo no sentido da
para pagar em muitas prestações. É ali que, em
Praça José Bonifácio, teria uma visão privilegia-
1969, a família inaugura uma estrutura própria
da do mesmo . “Foi o mais sofisticado luminoso
de atendimento.
da época”, recorda-se Nelson. Tinha cerca de 2
Camisas, calças, saia de nycron (que não precisava passar), malhas, agasalhos, ceroulas,
metros de altura por 10 de comprimento. Im-
cuecas “samba canção”, pijamas, lenços... Com o passar dos anos, a Novidades Romeu se torna
“Sempre priorizamos o bom atendimento, a
possível não percebê-lo. Era dividido em quatro
uma referência na cidade. Romeu lembra: foi sua
satisfação do cliente”, cita Romeu, salientando
partes: as laterais com o desenho de um olho em
loja que lançou a marca Hering em Maringá, a
que o lucro ficava em segundo plano. Em 1983, a
linhas concêntricas internas, que se acendiam
exemplo do que fez também com a calça Lee, à
mudança para o imóvel onde eles estão até hoje,
de modo a dar sensação de movimento; uma su-
época sinônimo de jeans. “Antes, só se conhecia
mantendo a variedade de produtos e até diversi-
perior, com a inscrição “Lentes de Contato”, em
a calça rancheira, de brim, mais rústica”, observa
ficando um pouco, ao acrescentar mel puro nas
que cada letra era iluminada separadamente, da
o empresário. De uma tacada, encomenda 500
prateleiras.
A esquina das Avenidas Brasil e
unidades junto à Renner, de Porto Alegre, que
Getúlio Vargas, onde
detinha a concessão. Depois dela, surge a calça
O casal tem duas filhas, Vanessa e Paula e,
US Top, da São Paulo Alpargatas, outro sucesso.
se depender das duas, a Novidades Romeu ainda
aparecem A Musical e a Casas Jaraguá
“O Romeu sempre teve um palpite bom para
deixar”, completa o empresário de 83 anos, com
fazer compras”, destaca a esposa, citando que ele
sua mansidão peculiar, ao lado da esposa de 77,
evitava modismos, com medo de encalhes no es-
que pede para que outras duas palavras sejam
toque. Ela se recorda de outro “hit”: a chegada
acrescentadas: “honestidade e caráter”.
ao mercado da cueca Zorba que, a propósito do filme “Zorba, o Grego”, estrelado por Anthony
Museu Bacia do Paraná / Acervo Maringá Histórica)
vai longe. “O nome é o que de melhor podemos
esquerda para a direita; uma intermediária, onde se lia “ Clínica de Olhos Santa Maria” e, por fim, a inferior, com o nome “Dr. Nelson Maimone”. À noite, seu funcionamento chamava atenção. “Por muitos anos mantive esse luminoso, mas com a manutenção cara e a necessidade constante de fazer reparos no telhado, optei pela sua retirada. Conforme relato do Assunção, foi o mais belo que ele fez”, comenta Nelson. A Visolux é atualmente dirigida pelos filhos do fundador, Roberto Willian e Robson Ubaldo Assunção.
Na época em que a clínica foi aberta, acrescenta o oftalmologista, era comum utilizar emissoras de rádio para publicidade. O Programa de “Nhô Quincas”, na Rádio Difusora, das 6 às 7 da manhã, estava entre os preferidos. De grande audiência, entremeava músicas sertanejas - a tônica daqueles tempos – com a voz rouca e pausada do apresentador, considerado uma referência pelos ouvintes. Outro comunicador, José Alves, também fez grande sucesso com seu programa
“Barrinho”, Adair, cuidava da loja, onde havia um
de forma divertida.
órgão que serviu de aprendizado para muitos es-
Paulo Jacomini, cedida por Paulo Jacomini Filho/Acervo Maringá Histórica
sertanejo, falando a linguagem do povo simples,
tudantes de música, entre eles Sílvio Barros II. No térreo do mesmo prédio onde funcionava a Clínica, recorda-se Nelson Maimone, havia a
Nelson, possuidor na época de uma sofisti-
Casas Jaraguá, uma movimentada loja de tecidos
cada rádio vitrola Telefunken, “com som estereo-
e confecções. O inusitado era como o seu gerente,
fônico”, costumava comprar discos na “Musical”,
“compadre Frederico”, atraía os clientes. “Certa
que existia no mesmo lugar desde a década de 1960.
vez ele colocou um burrico em frente ao estabelecimento, todo enfeitado, para chamar atenção. Com uso de alto-falante, o homem interpelava os transeuntes. “Era uma publicidade ‘tête-à-tête’ e
A esquina da Aveni-
que funcionava muito bem, garantindo clientela
da Duque de Caxias com a Rua Joubert
e um bom volume de vendas.”
de Carvalho
Ao lado da Casa Jaraguá, bem na esquina das
Números da cidade
Avenidas Brasil e Getúlio Vargas , ficava a Ótica Leonel, pertencente a Alécio Arruda Leonel e sua
Publicações de 1967 apresentam números
modelo para outras óticas que vieram em segui-
conservando a tradição e a clientela no prédio do Centro Comercial, do outro lado da Avenida.
A cidade dispunha de serviço de telefones automáticos com 3 mil aparelhos instalados.
O oftalmologista, que hoje integra a Acade-
A população é composta por 156,2 mil habitantes
mia de Letras de Maringá, conta que o prédio
(101 mil vivendo na área urbana e 55 mil no
onde estavam situadas a Ótica Leonel e a A Musi-
campo), dos quais 75% declarados brasileiros
O serviço de abastecimento de água potável,
cal, deu lugar ao Banco Mercantil de São Paulo,
natos, 12% japoneses, 4,6% italianos, 4,25% es-
planejado para atender a um mínimo de 200
mais tarde absorvido pelo Bradesco.
panhóis, 2% portugueses, 1% alemães e 1,15%
mil habitantes, estava sendo concluído pela
de outras nacionalidades. Repare que, no final
Companhia de Desenvolvimento de Maringá, Codemar.
Vizinha da Ótica, a loja A Musical por muitos
146
pensões, 70, e os restaurantes, 15.
que permitem dimensionar o tamanho da cidade.
da. Segundo Nelson Maimone, muitos profissionais
próprios negócios. A Ótica Leonel continua firme,
lecimentos hospitalares são 14, as farmácias e drogarias, 36, os hotéis das classes A e B, 35, as
esposa Hulda. Pelo seu pioneirismo, serviu de
que trabalharam com Leonel iniciaram os seus
As agências bancárias somam 23, os estabe-
anos foi pioneira no gênero. Discos de vinil dos
A propósito da loja de instrumentos e apara-
dos anos cinquenta, conforme citado no capí-
artistas da época, partituras e instrumentos mu-
tos musicais A Musical, o pioneiro Altair Apare-
tulo anterior, mais da metade dos 111 mil habi-
sicais, estavam entre seus produtos. Os proprie-
cido Galvão lembra que o estabelecimento pa-
tantes residiam na zona rural.
tários Aluísio Rafael Barros, o “Barrinho”, e José
trocinava um programa sertanejo do Coronel
Magalhães Barros, eram irmãos do ex-prefeito
do Rancho, que costumava dizer: “A Musical do
Sílvio Barros (gestão 1973-1976). A esposa de
compadre Barrinho!”.
Tinham nascido em Maringá, até então, segundo registros em cartório, 72,7 mil pessoas.
Há 71 médicos, 52 advogados, 41 dentistas, 29 engenheiros, 22 agrônomos e 4 veterinários.
Desbravadores do comércio de Maringá
O número de óbitos chegava a 14,2 mil e o de casamentos a 37,8 mil.
147
Acervo particular
1970 – 1980
Sivamar O Sindicato dos Lojistas do Comércio e do Comércio Varejista de Maringá e Região – SIVAMAR, foi fundado no dia 26 de junho de 1974 como Associação dos Lojistas do Comércio. O reconhecimento pelo Ministério do Trabalho
A fundação do Sivamar, a geada de 1975 impõe mudanças no comércio, o declínio do segmento atacadista, os supermercados se expandem.
ocorreu dois anos depois, exatamente no dia 25 de junho de 1976, data da emissão da Carta Sindical, documento que legitimava a atividade sindical antes da nova Constituição.
Gestão Luiz Júlio Bertin (1976-1997)
“Era difícil convencer os comerciantes a participar porque, para muitos deles, sindicato ainda era coisa de comunista ou operário, não inspirava confiança”
Até o início dos anos 1970, por falta de um sindicato que representasse a categoria, os empresários do comércio de Maringá submetiam-se às convenções coletivas de trabalho realizadas
148
Desbravadores do comércio de Maringá
149
na capital e dependiam, para quase tudo, da en-
Assim, no dia 26 de junho de 1974, com a
tão Federação do Comércio Varejista do Estado
adesão de cerca de 150 comerciantes, nasce a
do Paraná (que em 1998 se fundiu à Fecomér-
Associação dos Lojistas do Comércio - que con-
cio). Eles se viam à mercê de uma entidade sem
gregava também empresas de ferragens, mate-
muita afinidade com o interior.
riais de construção e outros segmentos. Nesse formato, conforme definia a lei, deveria per-
Nessa época, o Clube de Dirigentes Lojistas
manecer por dois anos até a obtenção da carta
(CDL) era pouco atuante, enquanto a ACIM esta-
sindical outorgada pelo Ministério do Trabalho
va focada em fortalecer a área empresarial com
- o que aconteceu a 25 de junho de 1976. O úni-
sua representatividade e aperfeiçoar o serviço de
co sindicato patronal na cidade, até então, era
proteção ao crédito. Para complicar, Maringá se
o Rural. Sua denominação inicial: Sindicato dos
sentia inferiorizada ante o maior poderio político
Lojistas do Comércio e do Comércio Varejista de
de Londrina – esta sim, com seu forte sindicato
Gêneros Alimentícios, de Maquinismos, Ferra-
varejista, influente nos assuntos da Federação.
gens e Tintas de Maringá (SINCOMM).
Lideranças das cidade e politícos em audiência com o governador Jaime Canet Júnior;
Em fins de 1973, um grupo de comerciantes
O reconhecimento do Sindicato enfrentou
do qual fazia parte Luiz Júlio Bertin, diretor da
dificuldades. “A carta sindical foi publicada no
Decorações Bertin – a primeira empresa espe-
Diário Oficial, mas por ‘birra’ do então delegado
inicial acabou sendo pequena: “Era difícil con-
Na presidência de 1976 a 1997, o em-
cializada nesse segmento na cidade - e presidente
regional do Trabalho do Paraná, general Adalber-
vencer os comerciantes a participar porque,
presário fundador sedimentou a base que
da ACIM no período
to Massa, só recebi o documento em mãos, por
para muitos deles, sindicato ainda era coisa de
consolidou o SIVAMAR. “Nesse tempo todo”,
1974/75,
movimen-
escrito, em 1988”, recorda-se Bertin. Esta ‘birra’
comunista ou operário, não inspirava confiança”.
resume, “nossa maior conquista foi garantir a
ta-se na tentativa de
do general, segundo Bertin, nasceu em função
Exclusiva para Maringá, a carta sindical impe-
tão sonhada representatividade aos comerci-
fundar uma entidade
das posturas discordantes assumidas pelo Sin-
dia, naquele momento, a inclusão de municípios
antes e também uma referência para que eles
sindical.
dicato em relação ao que o governo militar exi-
limítrofes.
pudessem orientar-se”.
A
mobili-
o presidente do Sivamar estava presente
zação dá resultado. No início
gia das entidades do gênero. “Na
cidade, na década de
do ano seguinte, já como presi-
época, as entidades sindicais e
Um escritório na Avenida Herval, 606, 1º
Desde o começo, o Sindicato procurou conscien-
sessenta; na foto Bertin
dente a ACIM, o empresário é
associações profissionais eram
andar, funcionou como a primeira sede. Ali, o
tizar os empregadores para questões básicas,
procurado por José Cardoso,
totalmente atreladas ao Estado”,
presidente montou sua equipe, inicialmente com
como obrigações trabalhistas, viabilizou cursos
diretor do Serviço Nacional do
explica Bertin.
o apoio de José Cardoso. A primeira secretária,
em todos os níveis, inclusive para contadores,
Maria Lúcia Ferreira Gomes, graduada mais
inseriu-se no calendário do comércio com cam-
Anúncio da primeira empresa do ramo na
ainda na presidência da ACIM
Comércio (Senac) em Maringá
150
e assessor do então presidente
Segundo Bertin, que foi eleito
tarde em administração de empresas e atual-
panhas periódicas, apoiou eventos e instituiu o
da Federação, João Kracik Neto.
o primeiro presidente e agora tam-
mente esposa de Bertin, ficou na função de 1976
Prêmio Comerciante do Ano. Mais que tudo isso,
Era o respaldo que precisava
bém investido na vice-presidência
a 1981, quando a transferiu para Lisley Maria
o Sindicato passou a ser o porta-voz dos comerci-
para a criação do Sindicato.
da Federação Varejista, a adesão
Messias da Silva e Marília Matos.
antes e a representá-los em suas reivindicações.
Desbravadores do comércio de Maringá
151
Com a participação do SIVAMAR, começaram a ser organizadas campanhas de envolvimento do comércio, entre as quais as de Natal. A cidade mantinha setores comerciais bastante diversificados, tanto na área varejista como na atacadista
A Catedral, principal simbolo de Maringá, ficou pronta em 1972. (foto Kenji Ueta). Ao lado, o imponente Edifício Atalaia. Nas ruas da cidade, além de veículos comuns como o fusca, vendidos pela Somaco e Dama, podiam ser vistos também o Opala e o Galaxie, novidades da Zacarias e da Pismel
150
Dessa forma, foi sendo vencida a resistência do
arrecadação da Contribuição Sindical, que na
“Eram tempos difíceis”, observa o ex-presidente,
início e o quadro associativo cresceu. Ainda em
época era bastante confusa. “Chegamos a insta-
que em 1990 graduou-se em direito pela UEM e
meados dos anos 1970, o SIVAMAR mostrou
lar mesas nas agências dos maiores bancos da
agora, aposentado da liderança sindical e da vida
força e consistência ao promover em Maringá o
cidade, de onde conferíamos cada recolhimento,
empresarial, escreve suas memórias em um com-
3º Seminário do Comércio Varejista do Paraná
guia por guia. Ali orientávamos também quando
pêndio cujos capítulos estão publicados na internet.
(Secopar), atraindo grande número de lideranças
o recolhimento não era devido ao SIVAMAR, mas
Em suas lembranças, faz especial menção às ami-
e autoridades.
a outra entidade”.
zades que cultivou no SIVAMAR. “Encontrei pessoas de grande integridade moral e profissional”, cita,
Mais tarde, a entidade utilizou sua expertise para
Ele destaca que, em seu período, o Sindicato
relacionando Marília Matos, sua secretária por mui-
apoiar a organização de outros dois sindicatos: o de
nunca enfrentou dificuldades financeiras: “Além
tos anos, Sônia Ferreira, Paulinho da contabilidade
empresas da área de construção civil, liderado por
de tudo muito controlado, adotamos um livro
e os advogados Cláudia Ruriko Ishida, Faustino
Agenor Maia, e o de farmácias, com Said Jacob.
diário para facilitar o acompanhamento da movi-
Francisco de Souza, Hélvio Bruno de Lemos, Juliane
mentação”.
Vargas, Liana Dourado de Lima Sturmer Klokner,
também, na construção da atual sede do
Lisley Maria Messias da Silva, Priscila Kutne e Paulo
Senac de Maringá. Bertin lembra que, enquanto
“Em determinada época, contávamos com Com sua atuação às vezes contundente, Ber-
ríodo integral, pois o SIVAMAR reunia diversos
tin era figura certa nas páginas dos jornais e, de
setores especializados”, comenta Bertin. A atual
vez em quando, no firme papel de líder setorial,
Ele destaca a figura de Paulo Roberto, salientan-
não economizava nos discursos. Garante que
do que “o SIVAMAR foi muito beneficiado por seus
Catarinense de Joaçaba, onde nasceu em 1934,
com todas as entidades e setores, mantinha um
serviços”, e lembra: “Liana era uma mente brilhante,
Luiz Júlio Bertin transferiu-se com a família em
relacionamento cordial e amigável, o que não
perscrutadora e dedicada, imprescindível como ad-
1947 para Londrina onde, durante anos, conviveu
o poupava de eventuais conflitos. Certo dia, ao
vogada na composição das comissões de estudo for-
com escribas e chega a ser colunista em jornais
criticar a interferência do governo em algumas
madas pelos comerciantes indicados pelas assem-
reivindicações da classe, bateu de frente com o
bleias”. Lisley Maria Messias da Silva, sua colega de
delegado regional do Trabalho do Paraná, gene-
turma na universidade, “foi a melhor amiga que tive
ral Adalberto Massa. No auge da ditadura militar,
nessa ocasião, auxiliando-me, como administradora
a retaliação seria previsível: valendo-se de sua
e conselheira financeira, nos piores e nos melhores
autoridade, o delegado mandou bloquear as con-
momentos da minha demorada presidência no SI-
tas do Sindicato, mas a justiça obrigou-o, logo
VAMAR”. A lista inclui Oséias, o primeiro funcionário
depois, a rever sua decisão. “No fim, voltamos a
especialmente contratado para ser treinado para o
ser amigos”, acrescenta. Por falar em justiça, a
desenvolvimento e manutenção da Central de Com-
tolerância era zero para quem, sem argumentos
putação do Sindicato. “Numa época em que com-
atuais Ruas Santos Dumont e Piratininga. Por mais
plausíveis, atacasse publicamente a entidade ou
putador era ainda coisa complicada, admiti-o com a
de quatro décadas a Bertin seria uma referência re-
o seu presidente. Vários desafetos foram levados
idade de 13 para 14 anos e depositei nele minhas
gional em decoração de interiores e seu dono um
às barras dos tribunais.
esperanças. Não me enganei, fui recompensado”.
líder que soube fazer história no comércio local.
bem como a sede de campo, foram conquistas de sua gestão. Em 1980, o sindicato ganhou sede própria, com a aquisição das salas da sobreloja e da metade do primeiro andar do prédio onde a entidade está localizada atualmente. Com a doação do terreno pelo município, foi construída também a sede social. Os recursos vieram Sindicato, em foto atual
presidente do Sindicato, gestionou junto ao então
uma equipe de advogados contratados em pe-
sede própria no Edifício Palácio do Comércio,
A sede do
O SIVAMAR teve participação importante,
do aumento da receita ocorrido em função de um rigoroso processo de acompanhamento da
Roberto de Souza.
prefeito João Paulino a ampliação do terreno doado. A prefeitura acabou agregando mais uma área, o que
Desbravadores do comércio de Maringá
possibilitou a construção da sede atual
como Folha de Londrina, O Combate (de Londrina) e O Diário do Noroeste de Paranavaí. “Fui um dos primeiros membros da Associação Norte Paranaense de Imprensa”, recorda-se. Em 1958, quando a família funda a Decorações Bertin, o jovem abandona a redação para tornar-se empresário. A mudança para Maringá acontece em 1967, ano em que a empresa inaugura sua unidade na confluência das
155
Muitos dos comerciantes que fizeram história no comércio de Maringá vieram de cidades vizi-
Gerência de Patrimônio Histórico
“Ao Barulho”, “Ao Vulcão” de Maringá
pensável investir em campanhas nas emissoras
José Correia Barbosa está sempre de bem com
de rádio. Para o público sertanejo, a mesma coi-
a vida. Vendedor nato, daqueles que sabem, como
sa, anunciando entre 5 e 8 da manhã e entre 17
poucos, conquistar e deixar um freguês satisfeito,
e 19 horas. Os programas preferidos e de maior
ele ainda se lembra da data exata em que chegou a
audiência eram os de Nhô Juca e João Vrenna,
Maringá, vindo de Campo Belo (MG), com direito a
na Rádio Cultura; e de Nhô Quincas, na Difusora.”
uma parada em Santo Antonio da Platina, já em terras paranaenses: 15 de setembro de 1958. Traba-
nhas. Já falamos neste livro da saga do libanês Saadeddine Wardani, um mascate que se fixou em Jaguapitã, onde em 1967 se associa ao cunhado Ahmed para abrir uma loja de sortimentos. Ahmed, igualmente mascate por cerca de cinco
sócios abriram “O Varejão”, mas o comércio nes-
que, não raro, deixava de almoçar. “Era verdade
sa época sofria um forte baque, ante um cenário
que eu passava fome, mas tinha os bolsos cheios de dinheiro”, diz, sempre sorridente, deixando claro
juntos em São Paulo, onde tinham contatos e
surgia no endereço 3.992 da movimentada Ave-
de um ano antes, que acabou com os cafezais.
que nunca gostou de enrolar freguês e, por isso,
desfrutavam de crédito.
nida Brasil uma loja de nome muito fácil de lem-
O “boom” da soja, que veio em seguida, alterou
sempre mereceu a sua confiança e amizade.
brar: “Ao Barulho de Maringá”, especializada em
inclusive a programação de vendas do comércio.
tecidos e confecções. Um enorme sucesso.
Se antes a melhor época para as vendas era o
A propósito da Pernambucanas, que foi uma
mês de setembro, devido a comercialização do
das primeiras a instalar-se no Maringá Novo, Bar-
Cansado, o pai aposentou-se em 1975, indo
café, agora esse mês era maio, quando os agri-
bosa tem uma informação que nem todos os histo-
as
lidar com um novo negócio: agricultura e criação
cultores se desfaziam da safra de soja. “A mu-
riadores sabem: aquela famosa casa chegou a ter
portas, deixando para
de bois. Então, foi a vez do filho Ali assumir o
dança foi rápida”, conta Ali. Hoje, o movimento
uma filial no Maringá Velho, no quarteirão do Hotel
trás um enorme pre-
posto, tendo o tio Ahmed como sócio. O resultado
financeiro está diluído ao longo do ano.
Fátima. Ocupava um salão com várias portas, ainda
juízo para muita gente.
é que ambos inauguravam, pouco tempo depois,
O abalo foi tão forte
“O Vulcão de Maringá”, também em ponto movi-
que, de uma hora para
mentado da Avenida Brasil, ofertando tecidos de
outra, um contingente
mescla, xadrez, brim “ranca toco” e algodão cru
de funcionários ficou
(que servia de lençol e de pano para forrar o chão
sem emprego e, além do
na colheita de café). O agricultor, que represen-
dano causado a centenas de agricultores, o tal
tava parte da clientela, fazia questão de comprar
Maringá. No final dos anos sessenta, comprou um
empresário levara também a poupança dos que
“roupa bonita”: calças de nycron, de pervinc 70
imóvel comercial no Maringá Velho e, em 1974,
lhe confiavam o suado dinheirinho.
e tropical; calça “boca de sino”, camisas Volta do
montou o Bazar Santa Terezinha, cujo nome homena-
Mundo e de poliéster.
geia a esposa e a santa da qual é devoto.
quais Maringá
preservado, onde hoje é a Casa Loanda. Ficou ali por
Barbosa: da Pernambucanas ao próprio bazar
algum tempo, até que o novo prédio ficasse pronto.
Como era de se esperar, o vendedor prospeFlamma
repentinamente
para outras cidades, entre as
Pernambucanas, onde o movimento era tão grande
de êxodo rural ocasionado pela grande geada
café e algodão fechou
forte; no final da década de
preciso estar onde o público passava” – os dois
bastante promissora: Maringá. Assim, em 1970,
duro golpe quando um grande comerciante de
sessenta, muita gente migrou
lhou na Casa Utino mas ficou conhecido, mesmo, na
anos, vendia os mesmos artigos que compravam
Naquela mesma época, Jaguapitã sofreria
Jaguapitã teve comércio
Em 1976, sempre na Avenida Brasil – “era
rou. Mas antes de abrir o próprio negócio, reforçou por uns tempos a equipe de Ao Barulho de
Com o comércio local enfraquecido, os olhos
156
de ambos se voltaram, sem perda de tempo, para
O filho Ali diz que “A propaganda era a alma
uma cidade da região que, todos sabiam, era
do negócio. Para os compradores de elite, indis-
À moda antiga, o estabelecimento continua firme na Avenida Brasil
157
Ao lado de sua mulher, que é nascida em
guês José Martins Cardoso, um homem de visão,
Maringá e com quem tem um casal de filhos, Bar-
decide dar asas ao espírito empreendedor, após
bosa está lá até hoje. No estabelecimento, vende
trabalhar algum tempo como balconista em uma
de tudo o que um bom bazar à moda antiga pode
loja de tecidos. Ele sonhava em fazer a vida no
oferecer: aviamentos, brinquedos, roupas, arma-
Brasil, mas, no início, nem é tão pretensioso ao
rinhos. E, do outro lado do balcão, animado e re-
escolher um bairro pequeno do lugar para abrir a
ceptivo como sempre, o proprietário faz questão
Casa Loanda, um comércio de artigos para cama,
de manter a sua peculiar qualidade de atendi-
mesa e banho, tecidos, confecções e armarinhos.
mento: “tenho fregueses que me acompanham
O destino fala mais alto. Ante o previsível suces-
desde 1959”, orgulha-se.
so, resultado da qualidade de suas mercadorias
“Foinha de broco”
natalinos, as Pernambucanas distribuíram folhinhas à clientela, inicialmente com calendários
Em 1966, Altair Aparecido Galvão – atual-
em forma de bloco, de folhas destacáveis a
mente professor da Universidade Estadual de
cada dia, que foram substituídos logo depois
Maringá (UEM) - foi, durante seis meses, pa-
por outros menos custosos. Pois durante muito
coteiro das Pernambucanas. Ainda jovem, ele
tempo o povo do sítio, ao ser atendido na loja,
integrou uma equipe formada por seis rapazes
continuava pedindo “foinha de broco”. Segundo
iniciantes que se revezavam nessa função e em
Altair, por mais esforço que se fizesse, era impossível
outras atribuições das quais não gostavam nem
resistir aos risos, o que deixava o gerente em
um pouco: lavar sanitários e varrer calçadas.
pânico.
e do bom atendimento, José Cardoso muda a E para quem chega pela primeira vez, não
sua loja para o centro da cidade e não para mais
faltam surpresas. Uma delas é o valente rádio
de crescer, inaugurando, mais tarde, filiais em
Phillips que, com mais de 50 anos, ainda fun-
Terra Rica, Paranavaí, Maringá, Cianorte, Campo
ciona normalmente, desde, é claro, que o dono
Mourão, Arapongas e Londrina.
o conecte primeiro à energia elétrica, “para esquentar as válvulas”, explica. Em segundos, o rádio entra em ação. Mas há também “modernidade”, segundo o brincalhão Barbosa: um suporte de celular em que o aparelho é colocado no meio de uma matilha de cães em miniatura. Assim, propositalmente, toda vez que o celular
Então na flor da idade, Altair se recorda do gerente Wilson Marangoni, a quem clamava para ser dispensado da tarefa de varrer calçadas,
Ótica Diamante. Põe tempo nisso...
temendo afugentar eventuais paqueras. “Preferia limpar as privadas, escondido, a ‘queimar o
A unidade de Maringá, aberta em 1990 pela
filme’ junto a ala feminina lá fora”, explica.
filha Vera Lúcia, no Maringá Velho, ocupa instalações que, como já dito na matéria anterior, abrigaram as Pernambucanas. Já chegou a representar um dos maiores faturamentos da rede, cuja
Trabalhar nas Pernambucanas, afinal, assegurava “status” aos funcionários, vistos como bons partidos pelas moças.
matriz é transferida em 1992 para Paranavaí.
é chamado, ouvem-se latidos. A freguesia se di-
A gerência, garante Altair, impunha algumas
verte. E Barbosa, que vive repetindo a demons-
regras para o pessoal de atendimento, visando
tração, não se aguenta de tanto rir. Com isso,
a não criar melindres com os fregueses do meio
quem vai ao bazar, sai com o astral nas alturas.
rural que, reconhecidos pela simplicidade, comu-
Para, com certeza, voltar outras vezes.
nicavam-se com um curioso palavreado que nem todos entendiam. Eles costumavam exagerar no
A Casa Loanda
158
“r”, bem ao jeito caipira, além de encurtar ou trocar palavras, o que acabava sendo motivo de
O primeiro dia de Francisco Morales na então
Nos anos cinquenta, a cidade de Loanda, no
piada e, não raro, de desconfortos. Portanto, uma
Relojoaria Diamante, situada na Avenida Brasil,
noroeste do Paraná, era mais uma das tantas que
das exigências era evitar sorrir, pois o cliente
não saiu como ele queria. Era para ser um dia
floresciam com a riqueza gerada pela economia
mais simplório, e geralmente complexado, pode-
feliz. Com apenas 14 anos, depois de aprender
do café. É ali, em 1954, que o imigrante portu-
ria se ofender. Ocorre que em alguns períodos
o ofício de relojoeiro e se considerar quase um
Desbravadores do comércio de Maringá
159
profissional, o rapazinho es-
A infância tinha sido curta para esse para-
com relógios de marcas suíças, entre elas Ome-
cionária da Prefeitura Municipal, com que tem
tava contrariado no novo em-
naense de Quatiguá, onde nasceu em 1942.
ga, Omodox, Cyma e Longines, as mais famosas
três filhos: Taís, Saulo e José Vicente, que lhes
prego. O gerente Jácomo Cassaro,
Quando a família mudou-se para Maringá, seis
da época.
deram 5 netos.
com seu jeito falastrão e gozador, havia
anos mais tarde, ele e quatro irmãos foram o
colocado-o, durante todo o dia, para limpar reló-
apoio dos pais, durante anos, na roça de cebo-
Como funcionário, Francisco viu a firma
Com tanto tempo no comércio, não tem
gios da vitrine. Ora, não era essa a obrigação de
las e batatas. De noite, mesmo cansados, todos
mudar de mãos várias vezes. Em 1958, o geren-
quem não conheça Francisco Morales, o Chico
um relojoeiro. Mas o que o deixou aborrecido
permaneciam ainda por bastante tempo pre-
te Jácomo Cassaro comprou-a de Lauro Egger
ou Chiquinho Morales para muitos. Em 1975, ele
mesmo, naquele distante 15 de janeiro de 1956,
parando réstias, à luz de lamparinas. E, sempre
e, em 1962, foi passada para os sócios Milton
e o irmão enveredaram também para a agri-
foi uma coisa que ouviu do gerente, ao final do
que possível, aprendiam as primeiras lições do
Teixeira e Valter Antonio de Oliveira. A junção
cultura, voltando às origens. Desde 1979 são
dia. Ao perguntar se a limpeza estava conforme
alfabeto com dona Genoveva, uma prestativa
do sobrenome desses fez surgir a razão Oliteix
produtores de soja e, atualmente, fornecem tam-
o esperado, Francisco recebeu uma resposta que
vizinha de sítio.
e a mudança da denominação para Ótica Leal.
bém cana-de-açúcar para uma usina da região.
Em 1970, os irmãos Edson e Ademar Oliveira
tomou como ofensa: “Está bom, mas diga: quanA perda do pai, em 1951, promoveu mudan-
se juntam a Mário Perotta para comprar a loja,
Francisco estufa o peito ao falar da Diaman-
ças na família. Em 1953, quando a mãe se ca-
mas ficam pouco tempo: um ano depois, o velho
te, cuja equipe é formada por sete funcionários.
“Não volto mais lá”, afirmou o jovenzinho irritado
sou novamente, alguns dos filhos, entre os quais
Jácomo Cassaro estava de volta para adquirir
“Só comigo, são mais de 55 anos no batente,
a uma tia cega com quem morava. “Vai voltar sim”,
Francisco e o mais novo, Celso, não se habi-
o estabelecimento e devolver o antigo nome à
sempre no mesmo lugar”.
retrucou ela, apontando-lhe o dedo, com sabedoria:
tuaram à figura do padrasto. Os dois foram parar
Relojoaria e Ótica Diamante. Em 1973, depois
em Castro (PR), para cursar o ensino primário,
de tanto entra e sai no comando, finalmente
A loja é um de seus assuntos prediletos, mas
completado mais tarde no Colégio Oswaldo Cruz,
Francisco ascende à sociedade, acompanhado
a paixão por carros antigos não fica em segun-
em Maringá. “Preparados por dona Genoveva, sem-
do irmão Celso, convidados por Cassaro. E, em
do plano. Colecionador, ele é dono de relíquias
pre tiramos boas notas”, faz questão de registrar.
1974, com a saída do amigo, os dois irmãos se
como um Ford 1929, de quatro portas; um Ford
tornam os únicos proprietários.
e um jipe 1951; um fusca 1965 e uma Mercedes
tos relógios você colocou nos bolsos?”.
“Se não voltar, vão achar que você pegou mesmo”.
Assim, meio a contragosto, ele se convenceu a aparecer no segundo dia para trabalhar. E nunca mais saiu de lá. Em 2006, ao completar meio século de casa, recordou-se do episódio que quase o fez pular no colarinho do gerente,
E foi assim, tão precoce, que ele se imiscuiu no mercado de trabalho, acostumando-se a lidar
1972. Veículos que fazem sucesso em exposições Como relojoeiro respeitado e dono de ótica,
um homem de sorriso fácil e contador de piadas,
o trocadilho é válido: Francisco enxergava longe,
do qual se tornaria um grande amigo. “Foi só
pois havia se preparado para a vida de em-
uma brincadeira de mau gosto”, minimiza.
presário. Ainda em 1968, fez curso de madureza
pela cidade.
no Colégio Gastão Vidigal, que foi terminado em
160
Mesmo tão moço, Francisco já havia traba-
Araraquara (SP). Com isso, habilitou-se a inte-
lhado, desde 1954, em outras duas relojoarias:
grar a primeira turma do curso de administração
a Boso e a Reguladora, esta última de Manoel
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Moreira de Santana. Tinha mãos hábeis na arte
Maringá, criado em 1971. O curso técnico de
de consertar relógios de pulso e de bolso. Era o
ótico, com direito a diploma, ele fez em 1975,
que gostava de fazer.
mesmo ano em que se casou com Aparecida, fun-
Desbravadores do comércio de Maringá
161
Fixaram-se no patrimônio de Floriano e, nessa
distinguido em 2009 com duas honrarias: o tí-
época, Maringá ainda pertencia ao município de
tulo de Guerreiro do Comércio, concedido pelo
Mandaguari. Foi ali que abriram um pequeno es-
SIVAMAR; e uma moção honrosa, por seus 50
tabelecimento, o qual, por sugestão de dona Rita,
anos de comércio, outorgada pela Assembleia
denominaram Casa Santa Terezinha. Abrão Ma-
Legislativa do Paraná.
noel conta que, não raro, correligionários e mesmo políticos de Mandaguari apareciam à caça de votos.
O maior legado, no entanto, afirma, foi a Nesse período de derrubada da mata, muita
mitiram aos filhos a importância de uma vida
gente circulava pela região e compradores havia
em que a honestidade está sempre em primei-
aos montes. Eles chegavam em paus de arara,
ro lugar.
jardineiras, carros, carroças e cavalos. Na loja, encontravam sapatões rústicos, malas de fibra, brim “ranca toco”, tecidos resistentes para a lida na roça, algodão cru, xadrezes e mesclas. Ali eram vendidos, também, panos e acessórios para revestir caixões funerários. Como era de costume, quando alguém morria a família chamava
Floriano, passou por Doutor Camargo e está desde 1972 na Avenida Brasil em Maringá
Dos demais irmãos, Nélson seguiu a profis-
Comercializando tecidos, confecções e produ-
são de farmacêutico e chegou a vereador em
tos para cama, mesa e banho, a Casa Santa Terezinha
Maringá; José foi trabalhar com Nélson, Mu-
inseriu-se num segmento bastante concorrido,
nir, Maria e Nazir continuaram na loja e, com o
onde predominavam grandes empresas. “Con-
tempo, seguiram caminhos próprios. Por alguns
seguimos manter o nosso espaço e crescer”,
anos, Munir teve sua loja, a Casa Nossa Senhora
ressalta Abrão, citando que além de fazer novos
Aparecida, com duas unidades em Maringá.
fregueses na cidade, o estabelecimento podia
Acompanhado da esposa Rita e de cinco
imediatamente um carpinteiro para construir
filhos, o libanês Manoel Abrão deixou Guaxupé,
um caixão, em cujo interior, sendo um defunto
no sul de Minas, em 1950, para tentar a sorte
adulto, se prendia com tachas um pano roxo,
Em 1964, a paradeira provocou a mudança da
região. “Até hoje chega gente que nos conhece
no comércio de Maringá. O antigo mascate,
chamado de galão; se fosse criança ou jovem,
Casa Santa Terezinha para o município de Dou-
de décadas, há uma forte e respeitosa ligação de
que percorria em seu Estado, de charrete, ci-
um pano branco. “A gente podia ser acordado de
tor Camargo, a 30 quilômetros de Maringá, onde
amizade”, cita o empresário. Segundo ele, o perfil
dades e campos para vender tecidos, planejava
madrugada para vender esses tecidos”, lembra.
o movimento ainda era compensador. Ali a loja,
do consumidor mudou bastante em relação aos
preservando sua tradição, permaneceu por dez
primeiros tempos. “Antes, era comum chegar
anos, até a transferência em definitivo para Maringá.
uma mulher, a líder da família, e comprar grande
abrir uma loja e aproveitar o grande movimen-
162
Abrão Manoel: a casa iniciou atividades em
herança deixada pelos pais humildes, que trans-
Casa Santa Terezinha: desde 1950
Flamma
Com tanta história, Francisco Morales foi
contar, ainda, com a grande clientela formada na
to que o impressionou nesta região do Paraná.
Quando o pai faleceu em 1957, coube a Abrão
De passagem pela Vila Operária, em casa de
Manoel, então com 18 anos, assumir a direção
parentes, eles ficaram sabendo que a cidade já
da loja. Ele se recorda que, a esta altura, já havia
Na esquina das Avenidas Brasil e Paraná, Ma-
dos os integrantes, fossem eles adultos ou crian-
tinha mais de mil casas construídas, quase to-
passado o auge do desmatamento e também o
noel Abrão, casado com dona Doracy Taques –
ças, homens ou mulheres. Ela escolhia o que os
das de madeira, uma curiosidade que lhes des-
esplendor do café. Com isso, pequenas locali-
com quem tem 5 filhos – comprou dois imóveis
outros iriam vestir e todos aceitavam.”
pertou a atenção. “Era coisa chique”, lembra
dades, caso de Floriano, entraram em decadência.
onde antigamente estavam a Sapataria Recco, de
Abrão Manoel, um dos filhos do libanês, que
No entanto, cenas de faroeste podiam acontecer
João Recco, e a Instaladora Bespalhok, especiali-
A chamada “síndrome dos 30 ou 35 anos”,
disse nunca ter visto, até então, uma casa feita
a qualquer momento na rua, “isso era comum”,
zada em materiais elétricos. Ali foi erguida a loja,
que geralmente pode decretar o fim de uma em-
com esse material.
garante.
cujo endereço continua o mesmo até hoje.
presa, não se aplica à Casa Santa Terezinha, res-
quantidade de tecidos para fazer roupa para to-
Desbravadores do comércio de Maringá
163
salta Abrão Manoel. Enquanto outras do mesmo ramo fecharam, ela seguiu em frente, agora sob a batuta de dois filhos: o economista José Rubens Abrão e o engenheiro civil Jorge Alberto Abrão.
O pioneirismo da Copiadora Tavares
Nem todo mundo tem coragem de deixar um Em 1975, Armando Tavares e o filho Renato
bom emprego para apostar num próprio negó-
As três filhas, Marta (dentista), Adriana (médica)
abrem uma empresa voltada a suprir uma lacuna
cio. Não foi o caso de José Adilson Staub: em
e Ana Carina (promotora de justiça) seguiram
em seus serviços. Até então, fotocopiadoras não
1975, quando ainda era gerente da Prosdócimo,
caminhos diferentes.
eram comuns mas, com o crescimento da cidade,
uma das lojas mais importantes de Maringá, ele
o negócio certamente iria prosperar. No início,
partiu em busca da realização de seu sonho.
Mas quem visita a loja, a qualquer hora do
a Copiadora Tavares começou a fazer, também,
Começou modesto, com pouco capital, vendendo
dia, pode encontrar lá o próprio Abrão Ma-
cópias heliográficas de plantas e de projetos ar-
uma casa e aplicando metade do valor na em-
noel. Embora já tenha transmitido seu conhe-
quitetônicos.
presa, que se chamava Eletropeças e só vendia
cimento e expertise aos filhos, ele continua
peças de reposição para chuveiros, fogões e panelas
“na retaguarda”. No seu entender, o segredo
Instalada na rua Néo Alves Martins 2.828,
de pressão. Um ano depois, já mais confiante e
do sucesso de um estabelecimento comercial
a empresa faz sucesso imediato e outros filhos
seguro, passou a prestar assistência técnica em
é, além da capacidade de fazer sucessores,
de Armando, Flávio, então com 15 anos, e Hyl-
fogões e, em 1978, se tornou autorizado da Semer,
“ter vocação para o negócio”, acrescentando a
ton, 12, vêm ajudar, o segundo como office-boy.
a marca líder no mercado de fogões na época.
isso, ainda, qualidade de atendimento, varie-
O empresário se recorda que aquela região da
Dando um passo de cada vez, mas sempre firme,
dade de produtos e preço competitivo. “Estar
cidade ainda não podia ser considerada área
Staub foi em frente: em 1981, sua empresa já era
sempre junto, acompanhando tudo, é muito
comercial, pois havia muitas casas residenciais
autorizada Brastemp – dona também da marca
importante”, salienta o empresário. No caso de
à volta. “As lojas mais próximas eram a Hermes
Cônsul – e, em 1995, o nome foi mudado para
sua família, houve a preocupação, também, de
Macedo e a Prosdócimo”, recorda-se.
Brastaub, com endereço atual na Avenida Brasil,
constituir um exemplo a ser seguido e fortalecer a base católica.
dono da Eletrônica. Ele fez história por ter sido o primeiro a colocar em funcionamento uma antena parabólica no Paraná. Isto aconteceu, segundo Elizier, por volta de 1984. “Nós trouxemos aquela coisa enorme de São Paulo, com cinco metros de diâmetro, e instalamos para demonstração na Expoingá”, relata. O público reagiu surpreso diante da “esquisitice”. De acordo com Elizier, não haveria quem não reparasse e alguns agricultores até comentaram, em tom de brincadeira, que ela podia servir, e muito bem, para abanar café. Mas nada disso: a antena foi comprada por um morador mais esclarecido de Querência do Norte que, certamente, até o povo da vizinhança se acostumar com a novidade, precisou dar muita explicação.
1.606. Sempre à frente, a Copiadora implanta, no início dos anos 1980, uma central de fax. Como
164
Staub virou a mesa
A Eletrônica Tibagi e a primeira parabólica
Em 2008, ele recebeu o título de Guerreiro
quase ninguém possuía tal aparelho na cidade,
do Comércio, outorgado pelo SIVAMAR. E, em
que custava muito caro, a única opção era usar
2010, o de Cidadão Benemérito de Maringá, en-
o da Tavares, que se consolidava em seu setor.
tregue pela Câmara de Vereadores, em reconhe-
Com a marca do pioneirismo, a empresa inova
Aberta em 1978 na Vila Operária, a Eletrôni-
cimento aos serviços prestados à comunidade.
ao fazer cópias de grandes formatos e também
ca Tibagi era o primeiro lugar em que as pes-
Ao longo de sua história, Abrão Manoel conso-
coloridas, a laser, além de plotagens, cromias
soas das imediações pensavam quando era pre-
lidou seu nome, também, como liderança empre-
e ampliações de fotos em preto e branco. Hoje,
ciso consertar radinhos de pilha e televisores
sarial em Maringá, participando de gestões da
a Tavares faz também encadernações, estam-
(daqueles com imagens em preto e branco). A TV
Associação Comercial e Empresarial de Maringá
paria e locação de fotocopiadoras, entre vários
em cores ainda estava começando a entrar no
(Acim) e outras entidades.
outros serviços.
mercado, recorda-se Elizier Monteiro da Silva, o
Desbravadores do comércio de Maringá
165
Na Avenida Guaiapó, uma das regiões de comércio forte da cidade, os moradores conhecem o endereço da Eletrônica Record, estabelecida desde 2002. É para lá que levam, para conserto, todo tipo de eletrodoméstico. A pequena sala que abriga a empresa, numa esquina, está tão cheia que os aparelhos vão ficando empilhados. A maior parte de tudo o que se vê ali são televisores de todos os
quase tudo é descartável, principalmente os equi-
Nas bancas, novidades
pamentos mais novos, “que duram menos”, diz.
No dia em que foi entrevistado, o técnico es-
“Mesmo contando na cidade com três jornais
tava mexendo numa TV de quase 35 anos e ima-
diários e dezenas de bancas de revistas e jornais,
gens ainda em preto e branco. Garantiu que ia
além de algumas livrarias, o maringaense lê pou-
ficar “tinindo”. Ele conta que só não pode cobrar
co ou quase nada”. A frase extraída da edição de
caro pelo serviço, pois a mercadoria vale pouco e
julho de 1979 da revista “Comércio e Indústria”,
o freguês, por qualquer motivo, acaba desistindo.
publicada pela ACIM, lamentava o desinteresse da população pelo hábito da leitura - o que não
Eletro Higaki
nio Carlos, que se levanta calmamente em meio àquele cenário caótico para atender ao balcão.
livros de conteúdo esquerdista. “A Ilha”, de Fernando Moraes, e “Cuba de Fidel”, de Ignácio de Loyola Brandão, estavam entre os mais procurados. Como o Brasil ainda se encontrava em pleno regime militar, o interesse – embora restrito a um número limitado de leitores - era justificado.
Valia a pena recauchutar pneus
era novidade em um país com grande parcela
tamanhos, marcas e idades. Até parece um museu, mas não é o que pensa o proprietário Anto-
O período coincidiu com a publicação de
da população formada de analfabetos. O técnico em eletricidade Kenzo Higaki e a es-
Ainda no final da década de setenta era muito comum a prática de recauchutar pneus, o que
posa Hiroko, naturais de Hiroshima, vieram em
Naquela época, segundo a reportagem, a
1930 para tentar a sorte em terras brasileiras,
Livraria Arles estava entre as únicas de Maringá
fixando-se por mais de duas décadas no interior
onde se podia achar livros sobre temas varia-
os fazia rodar por muito mais tempo, a um custo compensador. Em vez de comprar um pneu novo, que demandava pesado investimento e durava pouco numa época de estradas sem asfalto
Técnico especializado, Antonio Carlos conta
de São Paulo. A fama de Maringá, que oferecia
que começou no ramo de eletrônica em 1981,
oportunidade para quem quisesse empreender,
com uma portinha no Conjunto Hermann Mo-
fez com que eles fundassem aqui, em 1955, a
didático, ao passo que outras ofereciam exclu-
conserta todo tipo
raes Barros, passou uns tempos na Vila Mo-
Eletro Higaki, uma das mais tradicionais empre-
sivamente publicações com temática religiosa.
de eletrodoméstico
rangueira e fixou-se em definitivo na Avenida
sas do setor na cidade, situada na Avenida Brasil.
Guaiapó, onde o que não
A casa começou vendendo instalações elétricas e
Ainda nos anos setenta, uma livraria, a
nas empresas começaram a prestar serviços de
falta é serviço. E, apesar
produtos numa época em que a eletricidade ain-
Iracema, encerrou atividades depois que o pro-
vulcanização em meados dos anos cinquenta
de gastar a maior parte de
da era restrita a poucos, segundo enfatiza Iukie,
prietário Hermenegildo Gomes Castro e todos
para atender quem viajava muito pela região e,
seus dias para colocar tele-
uma das seis filhas do casal, quatro das quais es-
os seus familiares morreram em acidente auto-
quase sempre, acabava com pneus estourados e
visores em funcionamento,
tão à frente da Eletro Higaki até hoje. Ela tem a
mobilístico.
rasgados.
Carlos garante que não acha
companhia de Kiyoe, Yasue e Yoshie. Mas não
ruim quando a freguesia
era só energia elétrica que faltava naquela época:
aparece com outros tipos de
“A cidade não tinha asfalto, água encanada e es-
aparelhos nos braços, entre
Antonio Carlos
os quais DVDs, sons, moni-
só lamenta que, hoje em dia,
Santa Helena, só vendiam obras de conteúdo
e geralmente cheias de buracos, a opção mais viável era mesmo apelar para a recauchutagem.
Segundo alguns profissionais do ramo, peque-
Nas bancas, estava começando o “boom”
Em 1974, o país enfrentou
Acima, algumas das revistas que
das revistas dirigidas ao público adulto. Se
uma crise que tornou escassa,
goto”, acrescenta Iukie, que diz se recordar bem
começavam a chegar às bancas;
ainda hoje elas aguçam a curiosidade, o que
por algum tempo, a oferta de
das dificuldades.
de Pneus, uma borracharia, que
dirá em 1979, quando títulos como Playboy
pneus, o que fez surgir o in-
funcionou na Avenida Brasil
e Fiesta, entre outros, com fotografias de mu-
teresse pela ressolagem – a
lheres nuas e em poses sensuais, começaram a
um custo de 20%, na época,
aparecer?
em relação a um pneu novo.
tores de computador e até mesmo rádios antigos. Ele
dos. A Livraria e Papelaria Maringá e a Livraria
Hoje, a empresa faz consertos de aparelhos, venda de peças e oferece assistência técnica.
ao lado, o Depósito Curitibano
Desbravadores do comércio de Maringá
Maurício R. Ortega / Lúcio Zanuto
A eletrônica que até parece museu
desapareceram: Yanaka, Soesma, Lojas João Vargas
Mas o próprio Ali, com mais de 40 anos na lida,
ria o segundo presidente do SIVAMAR, se torna só-
de Oliveira, Renascença Móveis, Supermercados
segue firme. Um casal de filhos trabalha com ele na
cio dos filhos de seu tio Ahmed e abre dois negócios
Musamar e Catarinense, Casa Blanc, Açougue Cen-
Karina Móveis e, pelo jeito, a transição deve preser-
de uma vez: a Loja Karina, especializada em móveis
tral, sem falar de Prosdócimo e Hermes Macedo.
var por muito tempo ainda a saga da família. Um
e eletrodomésticos, e a outra Karina, onde são vendidos calçados, confecções e móveis em Maringá e municípios da região.
A loja de Ali Wardani está localizada em um trecho da Avenida Brasil que pode ser considerado
Flamma
No início dos anos oitenta, Ali Wardani, que se-
dos orgulhos do empresário, conforme ele mesmo Segundo Ali, nem sempre uma organização, por
diz, é o fato de ter formado e mantido uma grande
maior e mais organizada que seja, consegue resistir
clientela ao longo das décadas. “Atendemos os
a um ciclo de 40 anos, em que ocorre a transição de
avós, os filhos e agora os netos. É como se os meus
comando dos fundadores para a geração seguinte.
clientes fizessem parte da família”, sorri, ressaltan-
“As histórias são muitas”, lembra o empresário.
do que muitos da nova geração o chamam por “tio”.
Acervo Acim
histórico para o comércio. Por ali foram instalados os primeiros estabelecimentos do Maringá Novo,
Para ele, isto independe de etnia. “Nós, os
Testemunha das transformações que, com
alguns das quais se mantêm no batente até hoje.
árabes, temos diferenciais, um rótulo forte de
o passar do tempo, permearam o comércio de
Entre eles, a Relojoaria Omega, as Óticas Diamante
ligação com o comércio e também a religiosi-
Maringá, Ali Wardani ressalta que o perfil do con-
e Leonel, a Lanchonete Arco Íris. Bem perto, a Per-
dade, mas não estamos imunes a essas mesmas
sumidor tem sofrido mudanças significativas e o
nambucanas. Outros tantos, vizinhos, simplesmente
mudanças”, afirma.
próprio segmento comercial enfrentou desafios Ao lado, detalhe do
que surgiram de alterações bruscas da economia
Natal na cidade em
regional. Ele cita como exemplos as fortes geadas,
tabilização da economia e hoje é cortejada por
que causavam imediata retração das vendas, o
todos os segmentos, mas deixa claro que o co-
soube adaptar-se
fenômeno do êxodo rural entre as décadas de se-
mércio está sujeito a sazonalidades e muitos
aos novos tempos
tenta e noventa – que esvaziou pequenas cidades
imprevistos. “Quando uma autoridade diz, na
e promoveu visível empobrecimento – e os vários
imprensa, que a população precisa consumir
pacotes econômicos para combater a inflação ga-
menos para ajudar no combate à inflação, o co-
lopante nos anos oitenta e até meados da década
mércio sente isto imediatamente”, garante. Ali
seguinte, que deixavam a população desnorteada
deixa claro, portanto, que a atividade comercial,
e com menor poder de compra.
mesmo em um polo regional importante como
1981; o lojista Ali Wardani
Maringá, não tem um comportamento linear ou
170
Hoje, segundo ele, praticamente não existe
previsível. “Tem ramos que estão no momento
mais distinção entre consumidor rural e da ci-
certo e outros não”, explica. “Quando um consu-
dade: todo mundo é urbano. No entanto, o
midor da chamada classe C consegue, enfim, rea-
poder aquisitivo daqueles que vivem da riqueza
lizar o sonho de conquistar um carro novo ou a
produzida pelo campo é maior: “eles estão em
casa própria, isto pode significar que ele deixará
situação melhor”, avalia. Ele saúda a emergente
de fazer outras compras, no comércio em geral,
classe C, que passou a consumir mais com a es-
por determinado período de tempo”.
Desbravadores do comércio de Maringá
171
vada, segundo Altair Galvão, por desentendimento
implantar um sistema on line para integrar as
A cooperativa demorou bastante tempo até
entre os sucessores. No período em que a HM
suas redes de lojas. Eles tinham ido aos Estados
conseguir substituir a sua central. Para que isto
começou a enfrentar dificuldades, ele diz ter ido
Unidos e visto, maravilhados, um modelo desses
acontecesse, fez várias gestões até receber a visi-
O professor Altair Aparecido Galvão, que foi
à loja e conversado com um antigo funcionário,
em funcionamento. A primeira coisa que fizeram
ta de dois técnicos daquela Secretaria, que au-
funcionário da Hermes Macedo em Maringá, no
que conhecia por “Nézio Gaúcho”. Entristecido,
ao retornar foi pedir um projeto semelhante a
ditaram o processo com o objetivo de comprovar
ano de 1966, descreve bem o período em que
o homem lembrava que, anteriormente, quando
Noris que, pensando bem, aconselhou-os: es-
se a necessidade realmente se justificava. A au-
essa rede se impunha pela sua importância para
uma famosa fábrica de bicicletas estava prestes
perem mais um pouco, a implantação custaria
torização, enfim, foi concedida em maio de 1982.
o comércio local. Admitido naquele ano como
a falir, a HM prontificou-se a adiantar à mesma o
muito dinheiro e o resultado poderia não ser
auxiliar de escrita na oficina da loja, ele se re-
valor de uma grande compra, o que representou
o esperado. Uma das empresas decidiu, assim
corda do gerente Willians Castelaens e do próprio
a sua salvação. Pois agora, a mesma fábrica es-
mesmo, implementá-lo. Seis meses depois de in-
Hermes Macedo, presidente da empresa e depu-
tava negando crédito à HM. “Seu Nézio falava e
frutíferas tentativas, desistiu. Ocorre que o Brasil
tado federal na época. Político e popular, quando
chorava. Pouco tempo depois, a loja fechava suas
ainda não estava preparado, como se imagina-
visitava a unidade maringaense, ele fazia questão
portas”, completa.
va, para oferecer essa infraestrutura às organi-
Revista Norte do Paraná
de cumprimentar e agradecer a todos os funcionários. “Trabalhar na HM era símbolo de status”, lembra Altair, ressaltando que
zações e os problemas iam além da conta.
A informatização, uma grande mudança
O problema enfrentado pela Cocamar para avançar na informatização ilustra bem essa história.
a loja vendia de tudo: desde discos de vinil e brinquedos, a pneus, confecções, móveis
No começo dos anos oitenta, as empresas se
A cooperativa havia instalado, em janeiro de 1980,
Depois de alguns anos trabalhando com o sapa-
em geral, eletrodomésticos e motores de
preparavam para o desafio da informatização de
um computador modelo 61/60 da Cii Honeywell
teiro e músico Lázaro Borges, que lhe transmitiu os
barco. “Havia rivalidade com a Prosdóci-
seus serviços, mas ter um computador na em-
Bull. Porém, diante de rápido crescimento de sua
primeiros ensinamentos do ofício, e mais um tem-
mo, que ficava em frente, e todos os vende-
presa não era algo simples, como hoje. “Um equi-
demanda, a estrutura ficou aca-
po com Francisco Sudário, Vanderlei Guilherme da
dores ganhavam bastante dinheiro, pois o
pamento desses equivalia ao preço de um fusca”,
nhada, sendo necessário buscar no
Silva, o “Rebite”, inaugurava em 1980 a própria sa-
movimento era grande”, acrescenta.
ressalta o especialista Edson Noris, que em 1981
mercado um sistema mais moder-
pataria, na rua Joubert de Carvalho. A sugestão de
passou a trabalhar na Cetil – a qual começou a
no e dotado de maiores recursos
investir no próprio negócio partira da esposa Cleu-
Hermes Macedo: o grupo ruiu
172
“Rebite” abriu a própria sapataria
Flamma
HM, do império ao fim
logo após a
Após ser selecionado em um concurso no
trabalhar inicialmente para instituições bancárias
para atender as necessidades. A
za que, embora sem conhecer o ramo, passou a
sua morte
Banco do Brasil, Altair retornaria à HM, tempos
da cidade. Mas não era só o custo alto que dificul-
opção escolhida foi o modelo
trabalhar com o marido. “Rebite” ensinou a esposa,
depois, na condição de consumidor. “Comprei um
tava: como os empresários e comerciantes ainda
Honeywell 64 DPS-2.
com quem teve as filhas Daniele e Rafaele e o filho
blaser muito caro e paguei à vista. Todos aqueles
não conheciam quase nada sobre o assunto,
Não era fácil
ex-colegas, que conheciam a minha origem hu-
embora entendessem a sua importância para o
conseguir um
milde, ficaram tão admirados que foi anunciada
processo de modernização, não o consideravam
a minha presença, ali, ao microfone”, conta.
uma prioridade.
Eduardo. Cantor profissional, ele precisava mesmo Só que, naquela época, importar um com-
de alguém para ajudá-lo: desde 1973, viajava com
na outra foto,
putador não era uma tarefa simples: dependia
frequência para apresentar-se com Britinho e seus
o sapateiro
de apresentar uma consistente e volumosa jus-
Cometas, um dos conjuntos musicais mais requisi-
tificativa à Secretaria Especial de Informática,
tados do Paraná. E, em 1981, fundaria outro grupo
computador;
“Rebite”
A derrocada da grande rede se deu após a
Um dia Noris recebeu a visita de dirigentes da
diretamente ligada à presidência da República,
de sucesso, o Scala Company, que perdurou por
morte do presidente e não demorou muito, moti-
Casas Felipe e da Jabur Pneus, interessados em
esperando que a mesma autorizasse a aquisição.
dez anos, até o declínio dos bailes.
Desbravadores do comércio de Maringá
173
A história de “Rebite” na música começa no início de 1970, quando é um dos três primeiros colocados no mais importante concurso de
Entre a sapataria muitos anos
A primeira Feicom Cidade onde o segmento de confecções se
Fundado em 1955 por Joaquim Duarte
sobressai como um dos destaques de sua econo-
Moleirinho e Joaquim Gomes Caetano, o Frigo-
mia, Maringá promoveu em outubro de 1982 a
memorável Programa do Bolinha, na
rífico Central foi, por décadas, uma das grandes
primeira edição da Feicom – Feira da Indústria
extinta TV Excelsior de São Paulo.
empresas de Maringá. Começou como um
de Confecções e Bordados. Na época, o gerente
Mas, diante da oportunidade de fazer
pequeno açougue na esquina da Avenida Brasil
da Tecidos Norte Sul, Jeová Pinto Oliveira, disse
carreira na capital, o jovem de menos
com a então Rua General Câmara (hoje Basílio
à revista Comércio e Indústria, da ACIM, que o
de 20 anos surpreendeu ao preferir
Sautchuk). Amorim Pedrosa Moleirinho, filho de
ramo vinha sofrendo os efeitos de um mercado
retornar a Maringá para ajudar os
Joaquim Duarte Moleirinho, conta que Maringá
em que os preços da mercadoria variavam mui-
pais a cuidar dos irmãos. Aqui fundaria a própria
tinha apenas dois açougues na época e muita
to, “mas havia perspectivas de sucesso”.
banda, “Running Stars”.
fila. O pai pediu apoio a Gastão Mesquita, um dos
calouros do país, promovido pelo
e os bailes foram
Frigorífico Central fez história
comprar os equipamentos, que vieram de São
ro Borges, ainda como aprendiz, conta que as
Paulo e encheram um vagão. Da estação de trem,
pessoas costumavam usar sapatos com solado
em Maringá, o material todo foi transportado em
de pneu. Hoje, eles são emborrachados e pelo
carroças, até o local. “A concorrência não trata-
menos 90% dos calçados que chegam para con-
va muito bem os clientes e o nosso açougue foi
sertos em seu estabelecimento, são de uso femi-
fazendo um diferencial nesse sentido”, ressalta
nino. Com um detalhe: para cada dez calçados,
Amorim.
entram 15 bolsas de mulheres. Segundo “Rebite”,
174
exemplo, que o antigo imobiliarista Silvio Iwata também foi dono de uma cafeeira na cidade. Fala com conhecimento do Bar do César, situado em frente à Igreja São José, na Vila Operária, onde via artistas de cinema fazendo suas refeições. Eles acompanhavam a agenda de apresentações dos filmes dos quais participavam, no antigo Cine Horizonte, ali perto.
Ela própria, nos anos setenta, abriu uma floricultura no então recém-inaugurado Centro Comercial na Avenida Brasil, em frente à Praça Raposo Tavares. “Foi o primeiro ‘shopping’ de Maringá”, registra Dulce, referindo-se ao fato de aquele pré-
diretores da Companhia Melhoramentos, para Nos tempos em que prestava serviços a Láza-
em arquivos oficiais e acervos. Ela se recorda, por
Um passeio pelo tempo Construção do Centro Comercial na Praça Raposo Tavares
A historiadora Dulce Pulzatto pertence a uma família de agricultores que adquiriu terras em Maringá em 1938 – a data mais remota que se pode retroceder na história da cidade. O pai Waldemar Pulzatto derrubou a mata e foi cafeicultor
dio reunir lojas que atuavam em vários segmentos – uma iniciativa pioneira na cidade. Antes da sua Floricultura Rainha, só mesmo a Chácara Oda, do casal Akira e Julieta Oda, na saída para Marialva, e da Quitanda Tico-Tico, na Avenida Herval, vendiam flores. “Implantamos um serviço mais sofisticado para atender casamentos”, lembra. Para isso, se dispôs a fazer um curso de especialização em São Paulo, trazendo muitas novidades.
a importação de produtos de qualidade duvidosa
Caetano chegou a fazer um curso em Lon-
na região do Guaiapó. Com seus irmãos e sócios
da China, em especial, acaba fazendo com que
drina para aprender a manusear carne, obtida
Alcides, Osvaldo e Wilson, e também Olintho
parte desses produtos apresente problemas.
da compra de bois e porcos que eram abatidos
Schmidt, ele manteve uma cafeeira importante na
no antigo matadouro municipal. Por uns tempos,
década de cinquenta, a Socomar, situada na rua
Supermercados Fuganti, na Avenida São Paulo quase
Ele se recorda de antigas sapatarias e profis-
os dois sócios, que eram marceneiros de profis-
Caramuru, onde hoje é o Colégio Platão. Como a
esquina com a Avenida Brasil, foi o primeiro do gêne-
sionais dessa área em Maringá. Entre os quais,
são, tentaram vender o açougue para comprar a
maioria das demais máquinas de café da cidade,
ro da cidade, montado por Júlio Fuganti e sua esposa
José Marques, o “Baiano”, que se aposentou após
serraria de Inocente Villanova Júnior, o primeiro
o produto era preparado para exportação.
Nádia. Ao ser aberto, o estabelecimento impressionou
décadas na função, a Sapataria Linjardi, mantida
prefeito. Mas não tinham dinheiro. Sorte deles.
durante muitos anos no Maringá Novo, e tam-
Com o tempo, o Central, inaugurado oficialmente
Acompanhando desde criança o desenvolvi-
impecável açougue e novos padrões de atendimento.
bém a Sapataria do Olímpio, no Maringá Velho,
a 28 de abril de 1958, se impôs e se transformou
mento da cidade, Dulce é dona de uma memória
Recorda-se também de uma loja de pássaros, gaiolas
cujo titular – que emprestava o nome à casa - era
em um grande frigorífico. que chegou a abater
prodigiosa, repleta de detalhes que permitem resga-
e afins que existia ali perto, pertencente a Zezé Porto,
um deficiente físico de competência indiscutível.
em média 1,2 mil cabeças de bovinos por dia.
tar informações que não se encontraria facilmente
que comercializava aves raras trazidas de São Paulo.
À propósito de pioneirismo, ela ressalta que os
os consumidores com seus bem arrumados balcões, o
Desbravadores do comércio de Maringá
175
145 empresas de materiais de construção, o quar-
sistível sorvete de groselha da Sorveteria Oriental,
to setor com maior número de estabelecimentos.
onde hoje é a garagem do Banco Itaú, da sortida Casa
O primeiro era o de bares (592) – sem acrescentar
Prudentina, na Avenida Cerro Azul (do casal José
as 76 lanchonetes e pastelarias - seguido pelo seg-
e Olga Belay), da Móveis Cimo, na Praça Napoleão
mento de lojas de tecidos, calçados e roupas feitas
Moreira da Silva, da Caprichosa (uma outra memo-
(437), mercearias e empórios (406), e livrarias,
rável loja de móveis na Vila Operária), e da Modu-
bancas de jornais e revistas (405). Por sua vez,
laque, de Antonio Samorano Trava. Não se pode
havia 96 bazares, armarinhos e boutiques. As em-
esquecer, segundo ela, de empresas que considera
presas de eletrodomésticos, materiais e equipa-
relevantes para a história de Maringá, como a Colo-
mentos elétricos somavam 94, e as de produtos
nizadora Sinop, de Enio Pepino, instalada no térreo
agropecuários e veterinários 92. Maringá contava
do Edifício Maria Tereza, na Avenida Getúlio Vargas.
ainda com 132 açougues, casas de carnes e peixarias, 117 lojas de móveis, 109 quitantas (entre
Por fim, cita o Restaurante Brasão, na confluência
elas a Tico-Tico na Avenida Herval e frutarias e 65
da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Néo Alves Mar-
postos de combustíveis. Existiam, também, 103
tins, um local onde se comia bem e que era usado, ao
farmácias e 5 charutarias.
mesmo tempo, para que autoridades e empresários se reunissem para tomar decisões e decidir investimentos. Além dessa casa tradicional, que já não existe, Dulce Pulzatto relaciona outras três, ainda em atividade: o Restaurante Nápoli e a Panificadora Açukapê, ambas vizinhas na Rua Santos Dumont, locais
Flamma
Em seu passeio pelo tempo, Dulce fala do irre-
Avenida Center: a cidade na era do shopping
plo, o que proporciona uma facilidade maior aos
Idealizado e construído pelo Grupo Ingá Em-
pulsiona o crescimento dos shoppings é a for-
preendimentos, o Shopping Avenida Center, o
ma da distribuição de renda “e aqui nós temos
primeiro de Maringá, foi inaugurado em novem-
uma renda média muito boa, melhor do que a
bro de 1989 e apresenta um projeto arquitetônico
de Londrina. Em Maringá, muitas pessoas estão
que foi adaptado da antiga estrutura do Ceasa, que
ganhando o suficiente para viver e se divertir,
ali funcionou por muitos anos. Com isso, várias
consumir. O número de pessoas extremamente
de suas mais de 200 lojas estão voltadas para a
pobres é muito pequeno e o de extremamente
rua. Ali são gerados mais de 1.500 empregos e
ricos – que acabam não gastando aqui - também
atendidos milhares de clientes de Maringá e da
não é muito grande”.
região metropolitana. Ele acrescenta que, em Maringá, mais de Segundo o engenheiro civil Domingos Ber-
10% dos moradores são estudantes universi-
Avenida São Paulo, que foi fundado em 1962 e que
toncello, diretor do Shopping Avenida Center
tários e muitos deles vêm de fora, gastando em
por muito tempo atendeu nas imediações da antiga
Maringá, Avenida Center Dourados e Avenida
média R$ 2 mil por mês cada um. Ou seja, “So-
Estação Rodoviária.
Fashion, há quatro décadas quatro jovens uni-
mos importadores de consumo”. Por outro lado,
versitários, incluindo ele, se uniram para fazer
Barcello afirma que no Brasil todo, são poucos
alguma coisa. “Nosso maior capital era um fus-
os shoppings que podem dizer que são destina-
quinha financiado de um dos sócios”, sorri. Sobre
dos às classes A ou B. “Temos algo assim em São
o comércio, ele costuma definir: “O Paraná é um
Paulo e no Rio de Janeiro, mas de maneira geral,
oásis no Brasil e Maringá é um oásis dentro do
o shopping sempre dependeu da classe C para
Dados fornecidos pela Prefeitura Municipal
Estado”. Participando no final de 2010 do evento
poder ter um fluxo de população, um consumo
apontam que, em 1986, a cidade contava com
“Papo de Mercado”, promovido pela RPC TV, Ber-
variado e ter um próprio mix de lojas.”
Em 1986, o comércio varejista em números
176
mais seletivo do quem em Londrina, por exem-
shoppings. Na sua visão, o grande fator que im-
agradáveis e referenciais, segundo ela, para o encontro de famílias, e o Restaurante Monte Líbano, na
toncello afirmou que o consumo em Maringá é
Desbravadores do comércio de Maringá
177
na culinária brasileira. Talvez por isso
“O ponto, o lugar onde está situado, é considera-
sua frequência seja bem eclética. Pode
do algo fundamental para o sucesso de um bar.
se levar a família e as crianças sem ser
Mas nem sempre. Há algumas estranhas e im-
incomodado ou incomodar os boêmios e
ponderáveis características que fixam, atraem e
visitou três bares tradicionais de Maringá para
notívagos instalados em seus quase 100
podem tornar um lugar irresistível. O Bar do Ver-
incluir em seu livro “Pelos Bares do Paraná”, lan-
lugares. O dono do Bar do Rafa, José Ra-
melho é um exemplo clássico de um projeto que
çado naquele mesmo ano. São eles: Bar do Rafa,
fael Pacheco, abriu o negócio em 1977,
tinha tudo para dar errado. Fica nos fundos, bem
Car Wash e Bar do Vermelho. Abaixo, trechos do
depois que conseguiu dominar com per-
perto do Cemitério Municipal. Quando foi aberto,
texto que tratam desses estabelecimentos.
feição uma receita de mocotó obtida de
no início dos anos oitenta, estava longe de tudo,
uma velha cozinheira mineira.”
na periferia da cidade, num lugar de esparsos mo-
Bares Atendendo sugestões do autor deste livro, em 2004 o jornalista Norberto Stavinski, de Curitiba,
radores. Seu criador, que deu nome ao bar, Paulo
“Alguns bares, por força do que fazem de “Bares que fazem muito sucesso, po-
Pozza, o Vermelho (por causa dos cabelos ruivos),
serviços com que atraem sua distinta freguesia.
dem nascer do acaso, de um golpe de
faleceu prematuramente num acidente durante
O Bar do Rafa, que fica na Avenida Pedro Taques,
sorte? Difícil responder. Gostar de um
é um desses casos. Todo o norte do Paraná, com
bar na primeira vez e passar a frequentá-lo é
sua colonização de paulistas, mineiros e nordes-
como ir a um encontro às escuras: tudo pode dar
tinos, o conhece por ser o lugar com o melhor
errado e há algumas possibilidades de dar certo.
mocotó feito na região. Mas não é só por isso:
O certo é que criada a empatia dos primeiros cli-
seu caldo de peixe ou caldo de piranha, quando
entes, eles mesmos se encarregam de espalhar e
enxergar coisas depois de umas e outras. A quali-
ele está disponível no mercado, também ficou fa-
trazer novos adeptos. A história do Car Wash é
dade do serviço, dos petiscos, a cerveja refrigera-
moso. E há, ainda, a rabada com polenta e man-
assim. Nada, no seu início, foi muito planejado,
da em rodízio e servida bem gelada sempre dois
dioca, que leva ingredientes do mocotó, e uma
nem se iriam abrir um bar os irmãos Jorge Au-
dias depois que entra no freezer, a fraldinha com
onipresente dobradinha. Nada mais tradicional
gusto e Júlio César Nilgemberg tinham muita
shoyu, foram mantendo a fama do lugar.”
Fotos Bernardo Stavinski
melhor, se tornaram sinônimos de produtos e
uma pescaria no Rio Paraná. Tudo bem que hoje em dia já construíram um muro, que substituiu uma antiga cerca de arame farpado, e hoje o frequentador não toma seu drinquezinho olhando para os túmulos em sua frente e até imaginando
certeza. Vindos de Ponta Grossa, onde nasceram, para tentar a sorte em Maringá, optaram por comprar um pequeno estabelecimento para lavagem rápida de automóveis num dos bairros mais nobres da cidade. O nome: Car Wash. A data: 21 de janeiro de 1986. Desde então é um retumbante sucesso, começando por um modesto quiosque e não parando mais de crescer. Lavar carros durou
Delícias fazem
até 1994, ante a necessidade de ampliação do
a fama de um bar
bar. Desde 1998, o espaço ganhou também um night club.”
178
e fidelizam clientes que apreciam pratos e petiscos diferenciados
Desbravadores do comércio de Maringá
Ao estilo às vezes inflexível do presidente Luiz
Logo que assumiu, em abril de 1997, a direto-
Júlio Bertin se opôs, em abril de 1997, a diploma-
ria presidida por Massao promoveu amplas mu-
cia do empresário Massao Tsukada, dono de uma
danças na entidade. A estrutura administrativa
rede de livrarias. Participativo, com o histórico
foi totalmente reformulada, com a contratação
de ter feito um bom trabalho na presidência da
de um gerente, que passou a responder pela
Associação Comercial e Empresarial de Maringá
administração do Sindicato.
(ACIM), na gestão 1992/93, Massao venceu a
1990 – 2000 Na era dos shoppings centers, o comércio de rua ganha nova roupagem; no SIVAMAR, após duas décadas, mudança na presidência.
eleição em bate-chapa inédito e deu início a um
O Estatuto Social foi reformulado, fixando o
período de profundas transformações na enti-
mandato de cada diretoria em dois anos, com
dade. A começar pela reforma do Estatuto Social,
uma reeleição do presidente. O novo Estatuto
que definiu prazo máximo de quatro anos para a
reforçou também o caráter voluntário de todos
renovação da presidên-
os cargos de diretoria.
cia (dois anos de man-
“Por serem cargos volun-
dato com direito a uma
tários, houve a necessi-
única reeleição) e criou
dade de fixar o mandato
as bases para uma administração mais profissio-
em apenas dois anos. O momento do comércio
nalizada, que não dependeria tanto da presença
e a própria realidade das entidades sindicais na
dos diretores. “O presidente se desvinculou de
época demandavam tais mudanças”, lembra.
funções rotineiras para adotar uma agenda voltada a atender ao segmento que o elegera como seu
Segundo o ex-presidente, as reformulações
representante”, explica o empresário. “O saudável
trouxeram uma grande conquista para os asso-
rodízio na direção teve o objetivo, também, de fo-
ciados, que passaram a ter isenção da taxa de
mentar a participação de mais gente interessada
Reversão Patronal desde que estivessem com o
em contribuir para com a entidade”, diz.
pagamento das mensalidades em dia. A medida beneficia os associados até os dias de hoje. “Conse-
180
Entre as diversas ações que marcaram a sua
guimos conceder esta isenção porque ocorreu
gestão, estão as mudanças estruturais que en-
uma ampliação do quadro de associados e, con-
Gestão Massao Tsukada
volveram o Estatuto Social e a administração
sequentemente, da receita também. O Sindicato
(1997-1999)
da entidade; a abertura do comércio em um
passou a oferecer mais serviços e a diretoria tinha
sábado por mês até as 18 horas; a implantação
uma atuação muito marcante, especialmente nas
Reforma do Estatuto imprimiu grandes
da isenção da taxa de Reversão Patronal para
negociações das Convenções Coletivas”, explica.
mudanças, a começar pela renovação periódica
os associados do Sindicato e a aproximação
da gestão, que abriu espaço para o surgimento
do SIVAMAR com outras entidades sindicais e
de novas lideranças
representativas.
Desbravadores do comércio de Maringá
Outra conquista até então inédita marcou a gestão de Massao Tsukada: conforme já citado,
181
a possibilidade de abertura do comércio até as
cita, ressaltando que a reforma estatutária acabou
“Graças ao empenho de uma diretoria muito
observa que “a cidade tem um comércio organizado
18 horas de um sábado por mês. Tal feito abriu
ensejando condições que tornaram mais atraente
comprometida com o trabalho e com as mudanças,
e extremamente heterogêneo, com uma área de
caminho para outros avanços e hoje o comércio
a adesão para os empresários e comerciantes.
e de uma equipe de colaboradores competente,
serviços forte. Isto produz um cenário de equilíbrio
realizamos uma série de ações que deram uma nova
para a economia”, descreve Massao, para quem as
pode funcionar todos os sábados até às 18 hoEm sua breve passagem pelo comando do
posição ao SIVAMAR, que se fortaleceu perante a co-
crises impactam a realidade local em menor grau
bilidade de prorrogação da jornada de trabalho
SIVAMAR, Massao, que não pleiteou reeleição,
munidade e o Poder Público”, avalia Massao Tsukada.
que no comparativo com outras regiões. Um dos
para dois sábados consecutivos (os dois primei-
se recorda que “foi um tempo de muito aprendi-
ros do mês).
zado e conhecimento”. Para ele, “embora com
De acordo com o ex-presidente, os shoppings,
ônus”, participar de uma entidade assim “é sem-
com suas estruturas de lazer, alimentação, varie-
pre importante, principalmente sob o ponto de
dade de compras, estacionamentos, ambientes
vista de que é uma oportunidade de contribuir”.
climatizados e mais seguros, somados ao forta-
Empresário de sucesso, Massao chegou menino
lecimento de outros setores, como o de super-
à cidade. Quando sua família transferiu-se para
mercados, produziram efeitos que ensejaram
cá em 1952, vindo de Quintana (SP), o município
novos padrões e desafios ao comércio em geral.
tinha acabado de ser emancipado e o movimento
Textual
ras, em escala de revezamento, havendo possi-
Pelo menos uma vez
A abertura regular do comércio aos sába-
por mês, abertura do
dos e em época natalina ainda era debatida in-
comércio aos sábados
tensamente, naquela época, havendo muitas
até às 18 horas.
situados num raio de 150 quilômetros ao redor, consome habitualmente em Maringá.
intenso indicava que o lugar tinha futuro promis-
divergências com o sindicato da categoria dos
Ele próprio, pouco antes de assumir a presidência
sor. O pai, que viajava com caminhão, mudou de
Por outro lado, a maior participação do
empregados. “Com o tempo, isto foi sendo su-
do SIVAMAR, experimentava a sensação de ter inves-
profissão e em 1964 montou uma banca de jor-
SIVAMAR em eventos e demandas do município
perado”, ressaltou o ex-presidente, lembrando a
tido na implantação de um megastore no segundo
nais e revistas quase da esquina da Avenida Getúlio
fortaleceu o conjunto de entidades e potencia-
convergência natural para um consenso ante o
shopping inaugurado na cidade, o Aspen Park (hoje
Vargas com a rua Santos Dumont. Foi ali que o
lizou conquistas. A partir daí, o Sindicato passou
contínuo processo de mudanças que acabou pro-
Maringá Park), que começou a operar em 1996.
filho começou a trabalhar, aos 13 anos. E, desde
a figurar entre os principais protagonistas em
vocando sensíveis transformações no comércio.
campanhas e movimentos direcionados ao de-
Um exemplo disso, segundo ele, foi o advento de
senvolvimento econômico.
shopping centers, que introduziram novos conceitos e referenciais, inclusive o funcionamento
Os ventos da mudança alcançaram, inclu-
aos domingos.
sive, a ampla estrutura jurídica montada durante
182
motivos é que parte da população de municípios
muito jovem, conta, acalentava o sonho de ter a O pequeno comércio da periferia, segundo
sua própria livraria, de viver do comércio de livros.
segundo shopping trouxe
Massao, foi o que mais sofreu, considerando as
Na pequena banca, entre uma venda e outra, no
novas referências ao
dificuldades para competir, mas em todos os
meio de revistas e jornais, conseguia ler muito, o
segmentos, garante, comerciantes e empresários
que despertou o seu apreço pela literatura. Com o
tiveram que entender a nova realidade, reciclar
tempo, deu vazão ao espírito participativo, tornou-
conhecimentos e repaginar suas empresas.
se líder empresarial e teve rápida passagem pela
Inaugurado em 1996, o
comércio
a gestão anterior. “Optamos por trabalhar com
Com todas essas mudanças, o SIVAMAR tor-
profissionais do mercado”, justifica Massao, lem-
nou-se uma referência na cidade, o que fez nas-
brando que seis meses de seu mandato foram
cer parcerias com diversas entidades, como a
Em seu tempo, ainda, falava-se muito em de-
de uma livraria, como pensava, possui várias, além
consumidos na elaboração do novo Estatuto.
ACIM, por exemplo, que dali para frente passou
semprego e, ao contrário de hoje, havia abundância
do sofisticado megastore no shopping. Mas não se
a ser copromotora de campanhas do comércio
de mão de obra. “Os trabalhadores não estudavam
desliga de suas raízes: jamais quis se desfazer da
Massao se recorda que o Sindicato não tinha
em datas comemorativas. Também foram assi-
tanto como agora e se apresentavam mais cedo ao
modesta banca de jornais e revistas - a tradicional
mais que 150 associados participativos. “Trabalha-
nados diversos convênios com entidades como o
mercado de trabalho.” Prepará-los adequadamente
“Banca do Massao” -, com quase meio século de
mos fortemente na ampliação da representatividade”,
Sebrae, entre outras.
é, na visão do empresário, um desafio constante. Ele
existência, onde tudo começou.
política, exercendo mandato de vereador. Em vez
Desbravadores do comércio de Maringá
183
A cidade forma núcleos de comércio especializado No final da década de noventa, a organização espacial da cidade apresenta novos padrões locacionais, configurados pela concentração especial de atividades, identificados pelas ruas de comércio especializado, pelos subdistritos comerciais, pelos eixos viários de comércio e pelos “shopping centers”, conforme cita o livro “Maringá Espaço e Tempo: Ensaio de Geografia Urbana”, organizado por Dalton Áureo Moro, em seu programa de PósGraduação em Geografia – UEM (2003).
finos”, concorrendo e convivendo lado a lado. Neste local, a disponibilidade de espaço físico para exposição de produtos; a amplitude do espaço viário – facilitando as operações de carga e descarga -, a localização central, conjugada com o fato da Avenida Paraná ser via de ligação entre o centro urbano e as zonas residenciais ocupadas por classes sociais com elevado poder aquisitivo, estão entre os fatores locacionais que concorrem à explicação da localização desse comércio (Rubino e Moro, 2001).
À proporção que a produção da cidade expande-se do centro para os bairros, o comércio e os serviços vão se estendendo linearmente ao longo das vias de articulação centro-bairro, for-
No caso das ruas de comércio e serviços es-
mando os eixos de comércio e serviços, contem-
pecializados, as atividades setoriais ligadas a
plados na legislação urbana para esta finalidade.
máquinas de costuras, aviamentos e armarinhos, concentram-se no início da Rua Joubert de Car-
Em Maringá, esta forma de especialização do
valho entre as Avenidas Paraná e Duque de Caxias.
capital é possível de ser assinalada estendendo-se
Aí, as proximidades do terminal de transporte ur-
ao longo das Avenidas Mandacaru, Morangueira,
bano de passageiros, as proximidades da antiga
Pedro Taques, Tuiuti e Guaiapó, no setor norte;
estação rodoviária intermunicipal – que concor-
No setor sul, esse tipo de adensamento linear
reu para a tradição desse comércio na área; a
do comércio ganha forma ao longo do prolonga-
localização central e a disponibilidade e necessi-
mento das Avenidas Gastão Vidigal, Cerro Azul,
dade de pouco espaço físico – o que implica no
Dr. Luiz Teixeira Mendes e Carlos Correia Borges.
custo de acesso ao imóvel, certamente, foram os fatores locacionais que pesaram na localização dessas atividades (Rubino e Moro, 2001).
Da mesma forma, novos eixos de comércio e serviços estão estruturando-se ao longo das avenidas de articulação interbairros, transversais
Na Avenida Paraná, entre a Rua Néo Alves
as de padrão digitiforme, como a Avenida Nildo
em sua passagem pela presidência
Martins e a Avenida XV de Novembro, no sentido
Ribeiro da Rocha, no setor sul, Kakogawa, Dr.
do SIVAMAR: relacionamento,
bairro-centro, verifica-se a presença do comércio
Alexandre Rasgulaeff , Sofia Rasgulaef e Franklin
especializado em cozinhas planejadas e “móveis
Delano Roosevelt, no setor norte.
Momentos de Massao Tsukada,
diplomacia e mudanças estruturais
184
Desbravadores do comércio de Maringá
185
Os colaboradores com mais tempo de casa Tendo trabalhado antes em alguns estabelecimentos comerciais da ci-
Atualmente na função de auxiliar de escritório na área de cobrança, Suely
dade, Lisley Maria Messias da Silva foi admitida em 1986 para a função
Moreira Degan foi contratada em 1994 como telefonista. Ela se recorda que,
de digitadora. Ela se recorda que havia poucas máquinas no escritório e
naquela época, nada ainda era informatizado, o que demandava muito tra-
parte dos serviços era feita manualmente. Ao graduar-se em Direito pela
balho por parte de toda a equipe. “Imagine quatro mil guias de contribuição
UEM, no ano de 1991, Lisley foi convidada a assumir o Departamento Ju-
sindical para manusear”, exemplifica, lembrando que havia um grande ar-
rídico e, ao mesmo tempo, a gerência do Sindicato, respondendo pelas áreas
quivo com seis gavetões, repleto de pastas suspensas. As coisas não eram
administrativa e financeira. No início da gestão de Massao Tsukada, com
fáceis, também, para os office-boys, que precisavam rodar a cidade inteira
as alterações promovidas na estrutura da entidade, ela passou a dedicar-se
de bicicleta para o recebimento das mensalidades. Em 1995, Suely – que é
exclusivamente aos serviços jurídicos, deixando a gerência para Mário Endo, que permaneceu nesse
natural de Nova Esperança -, passou a fazer de tudo um pouco, recorda-se, cuidando também do ca-
cargo durante anos. No período de Heitor Bolela, com a saída de Mário, Lisley foi novamente convi-
dastro, cobrança e até da máquina fotocopiadora. Mãe de um casal de filhos, ela diz se lembrar bem
dada – pela sua experiência e conhecimentos - a acumular também a gerência. Hoje, além de advogada
da renovação promovida no Sindicato pelo presidente Massao Tsukada, acrescentando que todos os
e superintendente do SIVAMAR, ela é a representante da entidade na Câmara de Conciliação. “Tenho
presidentes fizeram muitas mudanças, “melhorando cada vez mais a entidade”.
muito orgulho de ter uma história aqui no SIVAMAR, e de ajudar a construir no dia a dia uma entidade forte, sempre ao lado do lojista e com importante participação na vida da comunidade”, completa.
Oséias Teófilo dos Santos, nascido em Maringá no ano de 1973, foi ad-
Já Sandra da Silva Vedovati ingressou em 1995 para trabalhar na re-
mitido na entidade em 1988, com a idade de 14 anos, para a função de of-
cepção e, algum tempo depois, já durante a gestão de Ali Wardani, foi con-
fice-boy. Ele conta que prestava serviços no Escritório de Contabilidade São
vidada a assumir a função de secretária da diretoria, em lugar da saudosa
Paulo e passava sempre pelo Sindicato onde, certo dia, a responsável pelo
Marília Matos. “Absorvi uma série de novas tarefas”, lembra Sandra, que diz
departamento de Cobrança, Sônia Ferreira – falecida há alguns anos – fez-lhe
ter aprendido bastante com os próprios desafios enfrentados pelo SIVAMAR.
um convite irrecusável. Com isso, Oséias deixou o emprego anterior, onde
Um deles, no período de Heitor Bolela Júnior, ante as muitas exigências para
ganhava meio salário mínimo, para receber um salário e dar início a uma
a implantação da certificação ISO; outra, no mandato de Adilson Emir San-
carreira das mais produtivas. Eram quatro office-boys, lembra: dois para
tos, quando da entrada do diretor financeiro Antonio Batista Moura Júnior,
serviços de cobrança e dois para a entrega de correspondências. Com o tempo, ele passou para outras
que trouxe consigo uma série de inovações. Filha de Ercides Vedovati, que por muito tempo foi fun-
funções e especializou-se em informática, hoje ele é encarregado do setor de TI e desenvolve outras
cionário da empresa Auto Vidros Maringá, Sandra lembra que começou sua vida profissional como
funções como manutenção preventiva e corretiva dos computadores, atualização de informações no
escrituraria no antigo Supermercados Catarinense, com passagem pelo Banco Noroeste e estágio na
site; auxilia na compra de materiais de informática; dá suporte aos funcionários; efetua a cópia de
Caixa Econômica Federal. Trabalhar no comércio, portanto, é com a sua família. E tem mais: as duas
segurança do sistema administrativo do Sindicato; faz a “ponte” entre os bancos e o departamento de
filhas, Carolina e Daniela, fazem parte, respectivamente, das equipes do Sicoob (um dos parceiros do
Cobrança; faz digitação de documentos, auxilia na organização de eventos e reuniões do sindicato, no
Sindicato) e das Casas Ajita.
que diz respeito aos equipamentos de multimídia e como diagramador, faz parte do conselho editorial do Jornal, participa das reuniões de pauta. Casado com Viviane, é pai de Arthur.
186
Desbravadores do comércio de Maringá
187
2000 – 2012 Gestão Ali Wardani (1999-2001)
Um período de avanços importantes – alguns das quais impensáveis, até alguns anos.
Para quem não tinha a ambição de um dia chegar à presidência do SIVAMAR, a ascensão do então diretor Ali Wardani ao comando da entidade acabou sendo rápida e se deu por obra do segundo presidente, Massao Tsukada. Ao final de seu curto mandato de dois anos, Massao aproximou-se do amigo e foi direto: “É a sua vez”. “Foi uma convocação”, sorri Ali, ao se recordar do episódio. Surpreso e ainda um pouco assustado diante do desafio, ele afirma que somente se encorajou a aceitar o cargo após certificar-se que contava com o apoio dos demais diretores.
Ali comenta que acompanhava o Sindicato
Turkinho
com atenção e defendia que o mandato de Massao, inicialmente de cinco anos, não fosse reduzido, mas isto não escapou à reforma estatu-
189
tária. “O presidente era um homem de diálogo e seu
presidida por Jefferson Nogaroli, foi viabilizada a
decolou finalmente como entidade de classe e
Agora, Maringá conta com uma feira por ano,
bom relacionamento com os setores da cidade estava
instalação da cooperativa de crédito Sicoob, cuja
sua economia foi restabelecida. “Tive mais sorte
que faz parte do calendário oficial”, observa.
fazendo nascer uma nova era para a entidade”, justifica.
sede no Paraná – onde conta atualmente com
que juízo”, afirma Ali, do alto de sua simplicidade.
unidades de atendimento em grande número de
Contudo, a popularidade e o carisma junto aos
As campanhas, aliás, cristalizaram os laços
Na função, o terceiro presidente da história
municípios - passou a ser Maringá. Ali se recorda
demais comerciantes e lojistas transformaram-
com a ACIM, entidade com a qual o Sindicato,
do SIVAMAR fez o que dele se poderia esperar:
que a ACIM assinou a ficha de número 1 e, o
no em uma liderança natural cuja atuação foi
muitas vezes, promoveu o sorteio de premiações
fortaleceu ainda mais o diálogo e a representa-
SIVAMAR, a de número 2. Naquela época, cita
decisiva para a consolidação do SIVAMAR. “As
entre consumidores. “Conquistamos credibili-
tividade, sendo que os lojistas obtiveram mais
o então presidente, o cooperativismo de crédito
campanhas no comércio se desenvolveram com
dade”, resume o ex-presidente, enfatizando que
um importante avanço, com a possibilidade
estava ainda ensaiando os seus primeiros passos
plena harmonia”, conta o ex-presidente, citando
com o Sincomar, por outro lado, se manteve um
de abrir as lojas até as 18 horas em mais um
no Brasil. “Em viagem a Belém do Pará, dirigen-
que a união e o apoio de toda a classe foram
diálogo de alto nível, com compromissos respei-
sábado, ficando instituído o horário para os dois
tes da ACIM conheceram o Sicoob e a cooperati-
cruciais para o combate, por exemplo, às feiras
tosamente cumpridos em convenção.
primeiros sábados de cada mês. Seu período
va foi trazida para Maringá, onde encontrou um
de pontas de estoque, sobre às quais não havia
foi marcado também por conquistas históricas,
terreno fértil para desenvolver-se.”
controle e que podiam acontecer praticamente
DESAFIOS – Fazendo um balanço da história
Estabilização da economia
o ano inteiro, trazendo prejuízos ao comércio.
do comércio na cidade, após o advento do
trouxe uma nova realidade
“Antes, qualquer pessoa podia vir de fora e pro-
SIVAMAR, Ali Wardani ressalta que um dos
mover um evento desses. Não havia organização.
setores importantes desse setor na cidade, o de
como a reforma da sede campestre, uma ação de grande importância, que possibilitou um incre-
O Sindicato experimentou expressivo aumen-
mento da receita da entidade com o aumento da
to do número de associados durante a sua gestão,
ao comércio varejista
procura por locações. O salão ganhou uma cozinha
shopping centers, acabou não sendo absorvido
equipada, teve todos os pisos trocados e os ba-
pelos sindicatos das categorias patronal e de em-
nheiros reformulados. Com essas benfeitorias, o
pregados, apesar do grande esforço que se fez
local passou a oferecer uma boa infra-estrutura
inicialmente e ao longo dos anos. Em razão de
para a realização de festas e eventos. Por outro
suas características diferenciadas, o comércio
lado, o novo líder trabalhou em parceria com
de shopping passou a operar com autonomia,
o Sindicato dos Empregados no Comércio de
utilizando parâmetros e referências distintas,
Maringá (Sincomar) para a implantação de uma
trilhando um caminho à parte.
Câmara de Conciliação Trabalhista, algo impenCom sua visão de empresário e ex-presidente,
tidades viviam às turras. Era o foro legal para
que continua participando ativamente da vida
a mediação prévia de conflitos trabalhistas e isto
sindical, Ali comenta que a trajetória comercial
contribuiu para a redução do número de ações
da cidade, em especial a do setor varejista, foi
na Justiça do Trabalho. O órgão surgiu entre os
assinalada ao longo das décadas por algumas
primeiros do país na área do comércio. “A Câ-
situações e cenários que vale a pena destacar.
mara foi uma conquista importante para todos
Segundo ele, a edição do Plano Real, em 1994,
e se tornou um modelo para outras categorias”,
significou um divisor de águas: “O varejista era
lembra Ali. E, em conjunto com a ACIM, à época
190
Turkinho
sável até alguns anos antes, pois ambas as en-
quem mais ganhava dinheiro com a falta de
191
controle sobre a inflação”, reconhece. Apesar
Mesmo com a concorrência dos
do período inflacionário ter sido marcado por
shopping centers, o
absorver novas tendências. Sobre as vendas
Em relação ao futuro, ele acredita que as lojas
de produtos pela internet, que concorrem com
serão obrigadas a promover ajustes para adap-
ganhos para alguns setores, Ali comenta que
comércio convencional
setores do comércio, o ex-presidente afirma
tar-se a uma redução gradativa da oferta de mão
ninguém pode sentir saudades daquele tem-
adaptou-se e evoluiu
acreditar que para alguns segmentos, o po-
de obra, como se vê em outros países.
po, “porque a inflação penalizava a população
tencial de expansão é significativo, mas em
brasileira e colocava o país em uma situação
outros isto não acontece, como os de móveis e
A exemplo de seu antecessor, Ali permane-
absurda e inaceitável”.
vestuário. “Mesmo quando é possível adquirir
ceu por apenas um mandato na presidência da
pela internet, nem todo mundo gosta de fazê-lo
entidade, sendo sucedido pelo gráfico Heitor
orientado apenas por uma fotografia”, justifica.
Bolela Júnior.
Na sua visão, o comércio não funcionava como uma engrenagem. O segmento de bens duráveis, por exemplo, faturava, enquanto o de supermercados, perdia. A indústria demorava de 30 a 40 dias para transformar e distribuir, mas a inflação acabava com os ganhos quando o produto chegava ao comércio. Ruim para o industrial, bom para o varejista, que reajustava seus preços e obtinha alta lucratividade. “Só com
e, de quebra, ainda aplicavam o restante no mercado financeiro”, recorda-se. Aquele momento,
Ivan Amorin
o reajuste, muitos conseguiam pagar suas contas
portanto, favorecia quem trabalhava no varejo. se esfacelaram após 1994. “Emergiu, com a
192
Posteriormente, com a estabilidade econômi-
economia estável, um tipo de comerciante
ca, o clima foi de “fim de festa” para grande
que passou a conviver entre a cruz e a espada,
parte das empresas do varejo, cujos adminis-
com desafios constantes, como despesas altas,
tradores, de acordo com Ali, tiveram que se
lucros pequenos e um público cada vez mais
adequar à realidade. A partir daí, segundo ele,
exigente em qualidade”, afirma. Segundo o
foi preciso ter competência e o comércio, for-
empresário, para enfrentar a forte concorrên-
çosamente, adaptou-se. “Quem não conseguiu
cia dos shopping centers, as lojas de rua têm
se adaptar, fechou as portas”, lembra, e foram
que ser tão boas quanto eles, em especial no
muitas as empresas, de todos os tamanhos e
que refere à qualidade de seus produtos. Ali
setores, que desapareceram. Ali diz que pode
diz ter a convicção de que “a rua jamais vai
ter sido uma coincidência, mas praticamente
morrer”, mas é taxativo: as empresas necessitam
todos os grupos supermercadistas da cidade
submeter-se constantemente a uma reciclagem,
A diretoria comandada por Ali deu continuidade às mudanças e ampliou o relacionamento
Desbravadores do comércio de Maringá
193
Dobra o número de associados, o comércio abre em definitivo aos sábados, a conquista da certificação ISO e o restabelecimento de relações com a Fecomércio.
mum em centros maiores. E, muito embora uma
sociados”, pontua o ex-presidente, assinalando
lei municipal permitisse ao comerciante flexibi-
que isto não apenas contribuiu para a estabili-
lizar seus horários, o sindicato da categoria dos
dade financeira do Sindicato, mas conferiu maior
empregados era radical em seu corporativismo e
dinamismo na sua atuação junto ao público-alvo,
contava inclusive, nesse posicionamento, com o
inspirando mais confiança.
apoio de integrantes do Poder Legislativo.
Por sua vez, o relacionamento com o Sinco-
Na avaliação de Heitor, a possibilidade de
mar (o sindicato da categoria dos empregados
abertura do comércio todos os sábados até às
do comércio), “seguiu de forma respeitosa e
18 horas foi uma das mais importantes ações de
Gestão Heitor Bolela Júnior
construtiva”, segundo Heitor, preservando-se o
sua diretoria em quatro anos de gestão. Para que
(2001/2005)
bom entendimento iniciado ainda na gestão de
esta antiga aspiração dos comerciantes fosse
Massao Tsukada e aprimorado no período de
concretizada, ficou estabelecido um sistema de
Ali Wardani. Com isso, foi possível costurar um
rodízio entre os funcionários das lojas (abrindo
acordo para a abertura do comércio aos sábados
dois ou quatro sábados com escala de reveza-
bem até então acessível a poucos estabelecimen-
à tarde – e de forma definitiva. O ex-presidente
mento), além do horário normal. A prorrogação
tos. A evolução era significativa.
lembra que, em relação a horários de funcio-
da jornada é facultativa, com o lojista podendo
namento, o comércio da cidade estava ainda
decidir se é interessante ou não manter sua loja aberta até às 18 horas aos sábados.
Dirigida pelo paulista Heitor Bolela em 1954, a Gráfica Bandeirante está entre as pioneiras na cidade. Nascido três anos depois, em 1957, o filho Heitor Bolela Júnior cresceu em meio às máqui-
Durante alguns anos, Heitor investiu também
na contramão desse setor no país e no mundo,
nas e pilhas de papeis e, aos 11 anos, já auxiliava
em outra atividade, o comércio de calçados, com
o que comprometia a economia local. Maringá
o pai em serviços leves. “Quando isto aconteceu,
a loja Samaza. Nessa época ele recebeu convite
já se impunha como polo regional importante e
O Sindicato também promoveu uma refor-
a empresa ainda operava com o sistema de tipos,
para participar do SIVAMAR e chegou a integrar
precisava adequar-se. As conquistas nesse âm-
mulação dos convênios nas áreas de saúde, es-
totalmente manual, em que era preciso montar
a equipe de Ali Wardani no período 1999-2001
bito avançavam passo a passo, lembrando que
critórios de advocacia, educação e de exames
os textos letra por letra”, recorda-se. Sem falar
quando, a convite do presidente, aceitou enca-
não muito tempo antes, era vedado o funciona-
ocupacionais. Em 2002, foi firmado convênio
que, com a dificuldade no fornecimento de ener-
beçar uma chapa para sucedê-lo.
mento do comércio varejista aos domingos. Essa
com o Santa Rita Saúde e a Unimed Maringá,
inflexibilidade, de acordo com Heitor, ocasionou
que oferecem planos com preços diferenciados e
gia elétrica, comum nessa época, equipamentos
194
estavam atendidas: “Dobramos o número de as-
eram movidos por um gerador abastecido com
Heitor ficou dois mandatos à frente do Sin-
problemas que levaram ao desmembramento dos
cobertura para todos os procedimentos médicos
óleo diesel e alguns outros tracionados mecani-
dicato, assumindo a missão de tornar a enti-
logistas de shopping centers, que demanda-
e hospitalares, voltado ao associado e extensivo
camente, com a força dos pés dos funcionários,
dade “ainda mais forte e participativa”. Para
vam horários diferenciados. O ex-presidente
aos dependentes.
iguais às velhas máquinas de costura. Heitor as-
tanto, realizou um intenso trabalho de relações
se recorda que, em determinada época, a cidade
sumiu o comando em 1983 e, já no ano seguinte,
públicas junto aos comerciantes da cidade para
recebeu a visita de uma comitiva japonesa e seus
Os convênios na área de saúde foram am-
a gráfica começou a trabalhar com equipamen-
divulgar as vantagens da participação, organi-
integrantes estranharam o fato de o comércio
pliados e novas especialidades incluídas, além
tos off-set, bem mais modernos. Entre 1985 e
zando um grande número de visitas, reuniões
não ser aberto aos domingos. Foi um choque en-
de dentistas, psicólogos e fonoaudiólogos. Um
1986, foi financiado o primeiro computador, um
e pequenos eventos. Ao final, suas expectativas
tre um costume local e a realidade bastante co-
guia com o nome de todos os profissionais e
Desbravadores do comércio de Maringá
195
laboratórios credenciados foi confeccionado
Por outro lado, a implementação de grandes
para orientar o associado. O Sindicato tam-
campanhas, como a de Natal, em parceria com a
bém ampliou o leque de médicos especialistas
ACIM, na época em que essa entidade era presi-
em Medicina do Trabalho conveniados para a
dida por Ariovaldo Costa Paulo, ensejaram nova
realização de exames ocupacionais, admissio-
dinâmica ao segmento comercial e, na avaliação
nais, periódicos e demissionais. A Feira Ponta
de Heitor, isto foi importante para fortalecer a
de Estoque foi outro destaque da gestão. Em
imagem do Sindicato, colocando-o em um novo
2001, graças a muito trabalho e a luta dos
patamar.
promotores – SIVAMAR e ACIM - foi sancionada a Lei 5.407/2001, que proíbe “o licenciamento e a execução de feiras com caráter de venda no varejo ou atacado, atividade classificada como comércio varejista, no município de Maringá, salvo as exceções expressamente previstas nesta lei”.
“Acreditamos que durante nossa gestão, o Sindicato obteve grandes conquistas, graças ao trabalho voluntário de toda a diretoria e à competência dos colaboradores, que não pouparam esforços para concretizar projetos que beneficiaram associados e representados”, Certificação ISO: inédita
coloca Heitor.
Fundamental, da mesma forma, foi a reaproximação entre o SIVAMAR e a Fecomércio, a entidade maior do sistema comercial no Paraná, cujas relações estavam estremecidas de longa data. Em 2008, a eleição de Darci Piana para a presidência da federação, inaugurou uma fase de entendimento que não havia na época de seu antecessor, Rubens Brustolin. “Conflitos judiciais entre as partes foram en-
no sistema sindical brasileiro
Foi durante a gestão de Heitor Bolela Júnior que o SIVAMAR recebeu a certificação internacional de qualidade ISO 9001, algo até então inédito
cerrados e voltamos a nos associar à Fecomércio”, comenta Heitor, lembrando que isto deu fim a uma situação que incomodava a ele e aos demais dirigentes. “Como poderíamos cobrar filiação dos comerciantes da cidade se o
no sistema sindical brasileiro,
seu próprio Sindicato não se relacionava com
o que conferiu maior confiabi-
a Federação?”, indaga.
lidade ao mesmo, consolidando o processo de profissionalização de sua estrutura.
196
Heitor fortaleceu a divulgação do
Heitor foi sucedido, na presidência da entidade, pelo empresário Adilson Emir Santos.
Sindicato junto a comunidade e seu período ficou marcado por importantes conquistas
Desbravadores do comércio de Maringá
197
Uma de suas principais marcas foi garantir ao SIVAMAR uma estrutura moderna e com todas as condições para bem atender ao associado. Gestão Adilson Emir Santos (2005-2007)
Quinto presidente do SIVAMAR, o diretor presi-
atualmente cerca de 50 filiais, atendendo Para-
dente da rede de lojas de móveis e eletrodomés-
ná, São Paulo e Rondônia, com equipe de mais de
ticos BJ Santos, Adilson Emir Santos, conta que
550 funcionários.
aprendeu com o pai, Benedito José Santos, tudo
Detalhe da recepção e da sala de treinamento: mais conforto e comodidade
o que sabe sobre o comércio. O pai tem história:
No SIVAMAR, entre as principais ações da dire-
em1959, ele e o cunhado Osvaldo Buzzo se
toria presidida por Adilson Emir Santos estão a
tornam sócios na Casa das Máquinas Vigore-
reforma da sede administrativa, a consolidação
lli (Sociedade Esperança de Máquinas Ltda, a
da participação da entidade no Sistema Feco-
Soesma, uma marca ainda muito lembrada em
mércio-PR, a instalação da Câmara da Mulher
Maringá). A sociedade termina no final de 1988,
Empreendedora de Maringá e a ampliação da
quando é constituída a BJ Santos, então com 5
participação do Sindicato em assuntos da comu-
lojas. Até 1995, o número de pontos de venda
nidade.
duplica, avançando também para o Mato Grosso
198
do Sul e operando com um distribuidor de ata-
No dia 5 de fevereiro de 2007 foi inaugurada
cado em vários Estados. Naquele ano, o controle
a nova sede da entidade, totalmente reformada
da empresa é transferido para os filhos Adilson
e ampliada, com novas salas de treinamento,
e Neil, que investem em um projeto de expansão,
um auditório para 80 pessoas e um amplo e es-
chegando a 22 lojas. Mesmo diante de muitos
truturado setor administrativo. A obra incluiu
desafios e uma forte concorrência, a BJ Santos,
também troca de pisos, substituição de móveis,
sob a presidência de Adilson, prospera e soma
climatização e modernização dos equipamentos.
Desbravadores do comércio de Maringá
199
A reforma foi uma das metas da diretoria: “Atin-
as vendas neste período não sejam prejudicadas.
gimos nosso objetivo com muito esforço e planejamento, garantindo ao SIVAMAR uma estrutura
“A aproximação com a Fecomércio-PR, inicia-
moderna e com todas as condições para bem aten-
da na gestão do presidente Heitor Bolela Junior,
der ao associado”, afirma.
trouxe inúmeros benefícios para o Sindicato. Além da ampliação da representatividade do SIVAMAR,
No dia 19 de dezembro de 2007 foi inaugurada
possibilitou a realização de cursos de treina-
a segunda etapa da reforma, no primeiro andar,
mento e capacitação profissional em parceria
ocasião em que também foi instalada a Câmara da
com o Sesc e o Senac”, explica Adilson.
Mulher Empreendedora de Maringá, órgão ligado à Fecomércio-PR e que funciona em outros 16 mu-
Também foram desenvolvidas diversas ações
nicípios do Estado. A consolidação da participação
que reforçaram a inserção da entidade na vida co-
do SIVAMAR no Sistema Fecomércio-PR foi outra
munitária de Maringá, seja participando de debates
marca da gestão de Adilson. Pela primeira vez, a
sobre questões que envolveram o desenvolvimento
entidade passou a ter assento na diretoria da fe-
da cidade, seja apoiando projetos e campanhas.
deração e a participar ativamente dos debates de
Estas ações resultaram em maior aproximação
assuntos relevantes para o comércio de Maringá e
com entidades como Simatec, Observatório So-
dos outros 18 municípios da base territorial. Com
cial, Conseg, OAB, Sincontábil e Sescap.
isso, as discussões em torno das convenções coletivas envolveram também outros municípios da
“Foi um privilégio ser presidente de uma en-
região. Na convenção assinada em 2007, o SIVAMAR
tidade tão importante para Maringá e poder tra-
seguiu a transferência do feriado de aniversário de
balhar ao lado de uma diretoria comprometida
Sindicato cada vez mais forte, o
Maringá para a segunda-feira quando a data cair
com a causa do comércio e de uma equipe de
SIVAMAR tornou-se uma
na semana que antecede ao Dia das Mães, para que
colaboradores competentes”, finaliza.
referência no Paraná. A iluminação de Natal (página ao lado), tem o apoio da entidade
Desbravadores do comércio de Maringá
201
O Sindicato tem coordenado as discussões no que diz respeito à busca do crescimento das lojas de dentro para fora, o que é feito por meio de uma gestão voltada à obtenção de resultados.
no Codem, o Conselho de Desenvolvimento
Amauri e outros integrantes da Câmara Técnica
Econômico de Maringá, que criou, em 2009, uma
do Codem participaram, em setembro de 2009,
Câmara Técnica que passou a ser presidida por
da Conferência da Associação Internacional das
ele. “O Codem foi o espaço ideal para discussão e
Cidades, realizada em Milwaukee, nos EUA, que
formatação do projeto, graças ao conhecimento
reuniu 600 representantes das mais diversas
técnico das pessoas envolvidas”, lembra.
partes do mundo para discutir temas ligados à gestão dos municípios, entre eles a recuperação de áreas econômicas.
Também em 2009, a iniciativa foi apresentada ao Ministério das Cidades. O projeto foi entregue Gestão Amauri Donadon Leal
por Amauri Donadon Leal ao então ministro Márcio
Durante a viagem, a comitiva maringaense
(2007-2012)
Fortes, durante evento que aconteceu em Brasília
formalizou um convite aos três maiores especialis-
para debater a criação de Áreas de Revitalização
tas dos Estados Unidos e Canadá em Áreas de
Econômica (AREs) nos municípios brasileiros.
Revitalização Econômica - John Lambeth, David
De todos os presidentes do SIVAMAR, os únicos
ciais, entre os quais janelas antirruído, vidros
nascidos em Maringá são Heitor Bolela Júnior e
para fachadas, lojas, box para banheiro, espelhos
Amauri Donadon Leal. Caçula de uma família de
de cristal e outros, atendendo a um grande núme-
oito irmãos, Amauri, aos sete anos, já ajudava no
ro de clientes, entre engenheiros, arquitetos e
orçamento de casa, vendendo pães que sobra-
profissionais da área.
Feehan, e Dennis Burns - para fazerem palestra em Maringá durante Simpósio de Administração Compartilhada de Espaços Urbanos, realizado em agosto de 2010. O evento foi promovido pela Frente Nacional de Prefeitos, em parceria com a Prefeitura de Maringá, e reuniu representantes
vam do trailer de cachorro quente mantido pelos irmãos mais velhos. Sempre bem disposto e
Em 2007, Amauri assume a presidência do
persistente, foi também engraxate. “Comprei a
SIVAMAR, entidade da qual participava desde
minha primeira bicicleta com o meu trabalho.”
1999, e começa a colocar em prática projetos
de 166 entidades empresariais e gestores de mais de 30 municípios.
Também em 2010, uma comitiva de em-
pensados e formulados a partir de sua experiência Em 1981, Amauri começou a trabalhar em
como diretor da entidade. Um deles, a revitali-
presários e lideranças maringaenses participou
uma construtora como projetista de arquitetura.
zação de espaços comerciais como forma de evi-
do 1º Encontro de Desenvolvimento de Espaços
Aprimora ali as suas técnicas, presta serviços
tar a estagnação de áreas mais antigas, fenômeno
Comerciais, realizado em Curitiba pelo Sebrae/
em outro escritório e, em 1987, ele e um sócio
comum nas cidades de grande e médio portes. A
PR, em parceria com o Sistema Fecomércio/PR.
investem em uma empresa de produtos de in-
ideia começou a tomar corpo em 2008, sendo ini-
Amauri Donadon Leal e o diretor administrativo
formática, a Digiteclas. Neste período faz o curso
cialmente discutida entre a diretoria da entidade
do Sivamar, Ali Wardani, participaram do even-
de Pedagogia na Universidade Estadual de Maringá
e mais tarde levada ao poder público e à comunidade.
to. Além dos debates e apresentações de cases, os participantes do encontro visitaram o Paço da
(UEM), graduando-se em 1990. Em 1992, aposNeste período, como representante do SI-
Liberdade Sesc Paraná – revitalizado em parceria
Vidrofix. Voltada a um nicho específico, a empre-
VAMAR, Amauri leva o projeto, inicialmente
com a Fecomércio-PR - e a Rua Riachuelo, uma
sa surpreende o mercado com produtos espe-
denominado “Centro Verde Shop”, para debate
202
O Diário
tando em seu potencial empreendedor, funda a
Desbravadores do comércio de Maringá
das mais antigas da capital paranaense.
203
com lojistas do trecho, que resultaram na for-
Isto significa dizer que o comércio regional
dora em Marialva, o Varejo Mais em Paiçandu
mação da Governança do projeto. Os integran-
tem representação nas discussões de temas im-
e também promovemos palestras de formação e
tes da Governança passaram por treinamen-
portantes para o setor não apenas em nível es-
treinamentos em diversos municípios da base”,
tos e elaboraram o Planejamento Estratégico.
tadual, mas também nacional, já que a Fecomér-
conta Amauri.
Neste período, a Prefeitura iniciou os estudos
cio é o canal de expressão do varejo estadual
técnicos para recuperação da arborização e
junto à Confederação Nacional do Comércio de
das vias públicas e a execução do projeto de
Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Além de ações nos próprios municípios, na gestão de Amauri Leal o SIVAMAR ampliou e
urbanização. Ao mesmo tempo, parceiros como
Área de Revitalização Econômica (Are) nos EUA:
A partir destas participações em eventos e de
SIVAMAR dedica especial
discussões sobre a importância da recuperação
atenção ao tema. Na outra
de áreas comerciais na cidade, foi sendo for-
página, detalhe da Rua Santos Dumont
matado o projeto de revitalização da Rua Santos Dumont, no trecho entre as avenidas São Paulo e Getúlio Vargas, uma experiência-piloto que se
o Cesumar começaram a criar os projetos ar-
Graças à sua participação, o
quitetônicos de fachadas de lojas e do visual
SIVAMAR conquistou assento no
da rua, que serão apresentados e discutidos
Conselho Regional do Senac, tendo
com os lojistas. “A iniciativa está unindo poder
como conselheiro Amauri Donadon
público e iniciativa privada para transformar
Leal. A única vez em que a entidade
a Santos Dumont numa área de comércio que
integrou o Conselho foi na década
será referência em Maringá, atraindo mais
de 1970. “Ter alguém de nossa base
consumidores, gerando mais empregos e forta-
territorial no Conselho do Senac
lecendo as empresas do comércio. Exatamente
significa participar diretamente das principais
tornou mais rápida a comunicação com os asso-
como pensávamos quando lançamos a ideia do
decisões estaduais na área de formação e treina-
ciados. “Investimos no fortalecimento de nossa
Centro Verde Shop”, reitera Amauri.
mento de mão de obra para o comércio. Partici-
política de comunicação como forma de manter
pando do Conselho, o SIVAMAR tem como levar
a transparência das ações do Sindicato e de levar
as demandas regionais, opinar e trabalhar em
informação de forma rápida e eficiente a todos
busca de soluções”, explica Amauri.
os lojistas da base territorial”, declara.
pretende estender a outras áreas de Maringá.
Representatividade Realização do Sebrae-PR e da FecomércioPR, em parceria com Prefeitura de Maringá, SIVAMAR,
Simatec,
Sincofarma,
Neste processo, a entidade também ampliou
O Jornal SIVAMAR ganhou novo projeto
e fortaleceu sua atuação junto aos municípios
gráfico, o site da entidade foi totalmente refor-
da base territorial. O SIVAMAR apoiou diversas
mulado, para ficar mais ágil e garantir maior
iniciativas e desenvolveu ações para incentivar
navegabilidade. Além disso, o SIVAMAR passou
o aumento das vendas e o desenvolvimento do
a publicar uma coluna quinzenal no jornal O
comércio destas cidades. “Apoiamos a realização
Diário, que circula em 90 municípios da região,
de promoções com a Sarandi Liquida, as feiras
e a divulgar boletins informativos três vezes
Ponta de Estoque de Sarandi e Astorga, inclu-
por semana na Rádio CBN. “Sem contar que
em qualquer um dos 17 municípios da base
sive com o fechamento de acordo com o sindi-
fortalecemos nossa relação com a imprensa lo-
territorial, está representado, por meio do SI-
cato dos trabalhadores para a realização destes
cal e regional adotando uma postura aberta e
VAMAR, dentro na Federação.
eventos. Apoiamos o projeto Cidade Empreende-
transparente com os órgãos de comunicação.
Associação
de Amauri Donadon Leal foi a ampliação e
Comercial, Codem e Micromar, o projeto lan-
consolidação da presença do Sivamar no Sis-
çado em 2011 visa aumentar a atratividade e a
tema Fecomércio-PR. Esta ação teve grande
competitividade do comércio varejista de bens e
importância tanto para o fortalecimento da
serviços do local. “O lançamento do projeto foi
entidade, como também para a representativi-
um momento convergente dos debates sobre
dade do comércio das cidades que compõem a
áreas de revitalização econômica que vínhamos
base territorial do Sindicato. Ou seja, cada lo-
realizando desde 2008”, ressalta Amauri.
jista, grande, médio ou pequeno, estabelecido
Os trabalhos foram iniciados logo após o lançamento, tendo sido realizadas diversas reuniões
204
Outra ação implementada durante a gestão
Desbravadores do comércio de Maringá
205
Com isso, o SIVAMAR tornou-se fonte para jor-
presário que precisa crédito bancário mas não
nalistas da cidade e região”, pontua Amauri.
tem como oferecer as garantias exigidas pelos bancos.
Acesso ao crédito Além de ser uma das entidades que fizeram Ampliar as vias de acesso do lojista ao crédi-
aporte financeiro para a criação da Noroeste, o
to era outra grande meta da gestão de Amauri
SIVAMAR esteve presente em momentos impor-
Donadon Leal. Em quatro anos foram implemen-
tantes da trajetória da sociedade garantidora.
tadas diversas ações neste sentido. Uma delas foi
Amauri representou a entidade no XVI Fórum
o convênio firmado com o Sicoob Metropolitano,
Ibero-Americano de Sistemas de Garantia e Fi-
que passou a oferecer ao associado SIVAMAR
nanciamento para as Micro, Pequenas e Médias
o pacote Sicoob Microfinanças, e com o Sicredi
Empresas, realizado em setembro de 2011, em
União Paraná. As duas cooperativas de crédito
San José, na Costa Rica, e que reuniu partici-
disponibilizam diversas linhas de crédito ao lo-
pantes de 20 países ibero-americanos.
jista com taxas de juros diferenciadas.
Plínio Teles, Amauri Donadon Leal, Lisley Silva e Alaércio Cardoso fazem a entrega simbólica de acervo de livros jurídicos do Sindicato à UEM, representada pelo reitor Júlio
O SIVAMAR esteve também na entrega da A criação da Noroeste Garantias, que contou
primeira carta de garantia fornecida pela socie-
com grande apoio e parceria do SIVAMAR, foi
dade garantidora. “O Sindicato apoia a Noroeste
mais um grande passo na direção de facilitar o
Garantias desde o início por entender que é um
acesso ao crédito para o comércio. A Noroeste
instrumento importante para o crescimento das
funciona como uma espécie de avalista do em-
empresas do comércio. O lojista, principalmente o pequeno, precisa ter acesso ao crédito mais barato para investir em seu negócio”, coloca Amauri.
Santiago Prates Filho (o segundo a partir da esquerda)
A conquista foi obtida na Convenção Coletiva
o prêmio Amigo do Comércio, que é entregue a
de Trabalho 2008/2009, cuja negociação durou
partir da proposição de nomes pela diretoria da
quatro meses e 15 dias, uma das mais longas da
entidade e pode contemplar lideranças empre-
história do Sindicato.
sariais e políticas, além de profissionais dos mais diversos setores, cuja atuação tenha apoiado a
Amauri atribui esta conquista a um amadurecimento do processo de negociações com o Sindicato dos Comerciários e também à necessidade
O primeiro contemplado com a distinção foi
imposta pelo próprio desenvolvimento do setor.
o presidente do Sistema Fecomércio-PR, Darci
“Maringá era uma das poucas cidades de médio
Piana. Em 2011, o prefeito Silvio Barros foi o
porte no estado em que os supermercados não
homenageado. “Entendemos que nenhuma en-
Uma grande conquista do SIVAMAR para o
abriam aos domingos. Com a medida, ficamos em
tidade consegue êxito em suas ações sem o
segmento supermercadista foi a possibilidade de
pé de igualdade e o consumidor, que é a grande
apoio e a parceria com pessoas comprometi-
abertura das lojas no primeiro domingo de cada
razão de ser da atividade comercial, foi benefi-
das. O Amigo do Comércio é um reconhecimen-
mês. Esta era uma reivindicação antiga dos em-
ciado”, enfatiza.
to às personalidades que trabalham ao lado do
Domingos
SIVAMAR no estímulo ao comércio, uma das
presários do setor e que vinha sendo colocada na mesa de negociação com o sindicato laboral há vários anos, sem um acordo.
206
atividade comercial.
Dentro da filosofia de estimular o desenvolvimento do comércio, o SIVAMAR criou, em 2010,
Desbravadores do comércio de Maringá
atividades que mais geram emprego e renda na economia”, finaliza Amauri.
207
O comércio se espalha por toda a cidade Numa cidade que se espalha vertical e hori-
dacaru. “Aquela região de Maringá já ganhou
zontalmente em alta velocidade, surgem mui-
vida própria, com um comércio muito forte”,
tas oportunidades de negócios. Em sua edição
comenta. A Avenida Mandacaru é uma impor-
de novembro/2011, a Revista ACIM publicou
tante via tanto para os moradores da região
reportagem com o título “Negócios por todos
norte de Maringá, quanto para quem chega
os lados de Maringá”, mostrando que o co-
pela BR-376 (sentido Paranavaí-Maringá) e a
mércio mostra-se cada vez mais robusto nos
PR-317 (Campo Mourão-Maringá).
bairros. Segundo a publicação, “a força dos bairros no comércio surpreende com a criação
Um dos fatores que contribuem para o
de verdadeiras ‘cidades’ paralelas à zona cen-
crescimento do consumo nos bairros de Maringá,
tral. Quem compara o desempenho do centro
na visão da empresária, é a dificuldade de
e da periferia, também encontra surpresas.
transitar com veículos na região central. Este
A empresária Elisa Andreia Sotti Gomes, da
detalhe levou Elisa a oferecer estacionamento
Atual Woman, possui uma loja no centro de
próprio na nova loja. Outro fator a favor da
Cidades, Márcio Fortes; nas demais,
Maringá e decidiu expandir os negócios para
expansão é o custo fixo da operação. “Tanto a
reconhecimento a
um bairro. Dedicada ao comércio varejista de
primeira quanto a segunda loja estão em terrenos
pioneiros (Kenji Ueta e Romeu
roupas, calçados e acessórios femininos, ela
alugados. O custo da unidade no bairro é 50%
Becker, Guerreiros do Comércio)
instalou a segunda unidade na Avenida Man-
menor”, completa.
Na foto do alto, com o ministro de
empreendedores
208
Desbravadores do comércio de Maringá
209
Em um segmento semelhante, a empresária
mas também há diferenças entre as próprias lojas
Maringá cresce e os empresários seguem
competição corrência acirrada. “A concorrência
Ana Beatriz da Silva Lima sempre apostou nos
de bairro. O diferencial de qualidade está naque-
atrás das oportunidades que surgem com a ex-
de materiais de construção é predatória. Mesmo
bairros. As duas unidades da HTinha, especiali-
les que buscam um relacionamento com o cliente,
pansão da malha urbana do município. A Avenida
com a alta demanda, se uma empresa sobe sua
zada em roupas femininas, ficam fora da região
destaca.
Alexandre Rasgulaeff foi o local escolhido para a
margem de lucro em 2% ou 3%, para de vender.”
central: uma no Jardim Alvorada e outra no Jar-
instalação da Reginato Tintas. Depois de 22 anos
dim das Palmeiras. Para a empresária, o comércio
O consultor explica que por falta de ousadia e
na Avenida Brasil, no centro da cidade, foi preciso
Alguns segmentos varejistas são talha-
de bairro exige um contato mais constante com o
visão empresarial, muitos lojistas dos bairros pas-
pesquisar um novo endereço para a entrega do
dos para bairros e crescem rapidamente. É o
cliente e resgata hábitos que os empresários cul-
sam despercebidos pelos vizinhos. “Muitas vezes
antigo ponto. O diretor comercial, Nivaldo Regi-
caso de sorveterias, como a rede de franquias
tivam há décadas. “É preciso oferecer não só um
existe o público e suas necessidades, mas ele
nato, conta que 80% das vendas da empresa não
Gelaboca. A empresa conta com 18 lojas: uma
excelente atendimento, mas também telefonar
desconhece o que determinada loja oferece”, ex-
eram efetuadas no balcão e que por isso o ponto
no centro e o restante em bairros. Também
para os clientes quando chega novidade na loja.
emplifica. “Pela praticidade de localização, o con-
não precisava ficar instalado no centro. O local
conta com franqueados em cidades da região.
São pessoas que todo mês estão aqui, a gente se
sumidor nem sempre se importa em desembolsar
foi escolhido depois de constatado que parte das
A primeira unidade na Avenida Mandacaru
conhece muito bem”, diz Ana.
um pouco mais pelo produto do que pagaria se
vendas era para clientes localizados no Jardim
nasceu em 2000. Notamos que várias pessoas
tivesse que se deslocar até a região central da ci-
Imperial e bairros adjacentes.
de regiões de Maringá vinham tomar sorvete.
Para os moradores dos bairros, o comércio
dade”, comenta.
A partir disso, começamos a identificar a ne-
instalado próximo à casa precisa ser diversifica-
A expansão da estrutura urbana tem seus
cessidade nos bairros da cidade”, conta o em-
do o suficiente para que eles se sintam dentro das
prós e contras. Quando foi fundado, no início dos
presário Thiago Luiz Ramalho, proprietário da
tendências da moda.
anos 1980, o Depósito Pedro Taques ficava em
rede de franquias e da indústria de sorvetes.
um dos extremos de Maringá. O Jardim Alvorada,
A rede começou a expandir com unidades no
A empresária destaca que a possibilidade dos
naquela época, era uma das fronteiras de maior
Jardim Alvorada e na região do antigo Aero-
estabelecimentos dos bairros poderem participar
crescimento imobiliário da cidade, bairro ideal
porto. Para Ramalho, alguns bairros de Maringá
de ações integradas da cidade, como o Maringá
para a instalação de um depósito de material
conquistaram características próprias. “O eixo
Liquida, fomenta as vendas. “Mesmo estando
de cons-trução. A região se estabilizou quanto
comercial da Avenida Mandacaru tem de tudo
afastado do centro, dá para participar de todas as
a cons-trução de novas casas e a empresa teve
e o Jardim Alvorada é uma espécie de segunda
promoções”, afirma.
que se adaptar. “Hoje, o Alvorada se tornou uma
cidade em termos de comércio”, ressalta. Para
região central em Maringá. Para atender ao bairro,
o empresário, o sucesso do negócio nos bairros
Para o consultor Erivaldo Luque Real, da Real
temos que sair do produto básico e direcionar a
exige uma ligação mais próxima com a popu-
Consultoria Empresarial, a praticidade é o grande
venda para produtos de reforma, banheiro e
lação local. “Este modelo requer um atendimento
trunfo do comércio nos bairros, que tem a vanta-
cozinha”, explica o empresário Renato Tavares.
diferenciado e um conhecimento do público.
gem de estar perto do cliente. Ele afirma que neste
Com décadas de existência, o depósito se benefi-
Normalmente, nosso franqueado mora ou se
ramo o grande diferencial de desempenho está
cia da estrutura estabelecida, o domínio da logís-
muda para o bairro onde vai atuar. Ele sabe
na maneira como o empresário se relaciona com
tica de distribuição e o conhecimento da popu-
onde está seu consumidor, cria amizade com
o consumidor. Existe uma grande diferença entre
lação do bairro. O empresário ressalta que esse
ele e faz com que a sorveteria se torne uma
as empresas dos bairros e as da região central,
conhecimento é fundamental em um ambiente de
referência no bairro”, completa.
210
Desbravadores do comércio de Maringá
211
FINAL O leitor se deparou, certamente, com relatos divertidos, curiosos e surpreendentes. Alguns, capazes de emocionar e impressionar mesmo aqueles que já conheciam as dificuldades e agruras enfrentadas pelas primeiras famílias que aqui chegaram.
d’água com chuveiro na parte inferior, içado por corda. Pelo menos a água do banho era aquecida no fogão a lenha, onde se preparava a comida! A propósito, o pó incessante desafiava donas de casa: elas não conseguiam manter limpas as roupas estendidas no varal e, muito menos, podiam deixar abertas portas e janelas.
Sem dúvida, custaria muito ao maringaense mais jovem acreditar que, naqueles tempos, o meio confiável para varar o sertão eram veículos de tração animal, vencendo a duras jornadas caminhos que, de tão barrentos, pareciam pântanos. Quem optava pelo automóvel, caminhão ou jardineira, poderia ficar encalhado, lembrando que em épocas de clima chuvoso, a prudência mandava evitar o avião. Sim, por falta de estradas, o tráfego aéreo era intenso, utilizando “aeroportos” improvisados. No caso das jardineiras, engraçado imaginar que entre os passageiros mais simples, senhores cultos e bem vestidos se vissem obrigados a ajudar no mutirão de remover o veículo, afundados até os joelhos na lama.
A decepção que acometia os desavisados também merece registro. Depois de exaustiva viagem em meio ao barro ou sufocado pela densa poeira, o que sentia o chefe de família que, acompanhado de mulher e filhos, se via naquele povoado de fim de mundo, onde não existia calçamento nas ruas, energia elétrica, água encanada e tudo o mais?
Se ao morador urbano as coisas eram difíceis, imagine para quem vivia no sítio, longe de tudo. Este, só fazia puxar enxada, cultivar café e rezar para que a geada não chegasse. Para o lavrador, a cidadezinha, ainda que sofrível, parecia um luxo. Aos sábados, dia de abastecer a despensa e passear, as ruas eram invadidas por cavalos, carroças, jipes e caminhões.
Vendia-se muito no comércio, alimentando a fama de Maringá, que, assim, ia chamando mais e mais gente. Um tempo em que a publicidade local se resumia a um único e barulhento alto-falante na praça da rodoviária.
Nas casas comerciais, portugueses, japoneses e italianos estavam entre os negociantes, sem falar dos mascates, os “turcos da prestação”, sempre com suas malas repletas de mercadorias, “fazendo qualquer negócio”.
A pioneira Winifred Ethel Netto registrou em livro: corria 1947 e vindo do interior paulista com o marido Odwaldo e vários filhos pequenos, ouviu um apelo do motorista do caminhão que os conduzia: “Voltem, voltem. Maringá nunca vai ser nada. Vocês estão enganados!”.
E o que dizer dos carroceiros? Estalando chicotes que faziam seus animais dispararem pelas ruas, eles deixavam leite cru e pão quente, bem cedo, nas portas das casas. Chamando atenção dos moradores com suas buzinas e gritos, eles ofereciam verduras, legumes, galinhas vivas, carne de porco e boi, manteiga, geleias, doces, mel,
Uma desolação avistar o destino: um amontoado de casebres cercado de mato por
frutas em conserva, lenha, vassouras e muito mais.
todos os lados. Para muitos, as construções de madeira eram novidade – com um detalhe: os sanitários ficavam do lado de fora das casas, um dos símbolos do atraso.
A cidade importou a população e os primeiros comerciantes. No início, toscas casas ladeavam-se, oferecendo uma diversidade de produtos. Se os compradores não tivessem
Em meio a tanta lama ou poeira, o povo da cidade só tinha como banhar-se em bacia – a mesma usada para lavar roupa - ou apelando para o “tiradentes” - um balde cheio
212
dinheiro, sem problema: para isso existia a caderneta. Dessa forma, financiavam a quem os procuravam, na confiança, entregando agora para receber depois.
Desbravadores do comércio de Maringá
213
Com tanto vigor e perspectivas, o núcleo populacional atraiu para o sertão muitos
Surgiram os shopping centers, modernos templos do consumo e, mesmo com todo
investidores. Sem perda de tempo, eles construíram lojas imponentes e a cidade se
o desenvolvimento, a Maringá de agora, com seus mais de 360 mil habitantes, ainda
consolidou como referência regional. O improviso, o qualquer jeito, deu lugar para o
guarda reminiscências com a cidadezinha de ruas descalças. Nunca perdeu de vista,
profissionalismo, que aposentou a caderneta.
por exemplo, a ligação com o rural – o campo continua sendo um dos motores de sua economia. E, pelas ruas, ainda se vê carroceiros e vendedores ambulantes – que
Do talão de cheques para o cartão de crédito, muita coisa aconteceu. A cidadezinha cheia de balaustres para amarrar cavalo, virou metrópole.
O comércio que antes de restringia ao Maringá Velho, desceu para a planície do Maringá Novo, se espalhou pela Vila Operária, enveredou por todas as avenidas e foi criando núcleos periféricos, verdadeiras “cidades”. Uma dessas é o Jardim Alvorada,
oferecem de sorvete e frutas a pamonha – amoladores de facas e até consertadores de panelas. Um resquício do antigamente.
A cidade é, por assim dizer, um caleidoscópio, que tem no comércio varejista o seu maior empregador. Dados do Ipardes de 2010 revelam: esse setor, composto por 5.357 estabelecimentos, proporciona mais de 30 mil postos de trabalho.
grande e com atividade comercial dinâmica.
Muitas empresas surgiram e, naturalmente, se esfacelaram. Amadorismo, ingenuidade, comodismo de seus gestores, incapacidade de competir, falta de entendimento entre os sucessores, solavancos da economia brasileira: motivo é o que não falta.
Um tempo em que quase ninguém, do lado de dentro do balcão, se preocupava com
Em quatro anos (de 2008 a 2011), o número de empresas que abriu as portas na cidade cresceu 21%, enquanto o registro de fechamento não foi além de 15%. Em 2011, a quantidade de empresas instaladas em Maringá e região superou Londrina. Segundo a Junta Comercial do Paraná (Jucepar), ao longo daquele ano, o escritório maringaense registrou a criação de 3,8 mil estabelecimentos comerciais, cerca de 200 a mais que a segunda maior metrópole do Paraná.
qualidade, controle de custos, estratégias, marketing; em que balconistas - não muito preparados para lidar com o público -, eram chamados de “caixeiros”, E muita gente confiava ao comerciante possuidor de um cofre a guarda de seu suado dinheirinho.
Na base de sustentação da economia local, os consistentes polos médico e universitário despertam a cobiça de um grande número de investidores, o que leva a cidade a um círculo virtuoso e acelerado, que gera mais empregos, consumo e enseja
Quando se fala na derrocada de empresas importantes, impossível não se lembrar de marcas emblemáticas: Hermes Macedo, Prosdócimo, Fuganti, Jabur, Transparaná,
sempre novos empreendimentos, com refino e sofisticação, descortinando para Maringá um futuro bastante promissor.
Germani e uma infinidade de pequenas lojas e organizações. Aliás, impressiona a quantidade de grandes corporações que, outrora sólidas e festejadas, ficaram pelo caminho.
Por outro lado, muitas outras souberam resistir aos tempos e mesmo enfrentando o desgaste inevitável das décadas, se mantêm firmes até hoje.
214
Desbravadores do comércio de Maringá
215
ANEXO
CÂMARA DE CONCILIAÇÃO TRABALHISTA Desde a implantação da CCT 2000/01, os trabalhadores do comércio varejista de Maringá só podem ingressar com uma reclamação perante a Justiça do Trabalho depois de passarem por uma audiência conciliatória na Câmara, em que os filiados do SIVAMAR têm 70% de redução nas custas. Os empregadores contam, ainda, com a assessoria jurídica das conciliadoras patronais.
PRINCIPAIS CONQUISTAS
PUBLICAÇÕES
• Lei n º 3041/91 – Libera o horário de funcionamento do
• Cartilha: Cuidados Elementares nas Relações Trabalhistas - um pequeno manual que traz,
comércio em Maringá – até então, inédita no Brasil.
de forma simplificada, as principais orientações da CLT, seguindo a ordem prevista na
• Lei complementar 237/98 - Amplia de 30 para 180 dias o prazo de validade de certidões negativas de débitos municipais. • Lei 5.407/2001 - Veda o licenciamento e a execução de feiras com caráter de venda
Consolidação, a complementação já foi elaborada. Esse material é mantido atualizado. • Cartilha do Procon – orientação sobre o Código de Defesa do Consumidor;
no varejo ou atacado, atividade classificada como comércio varejista no Município de Maringá,
• Guia de Negócios de Maringá em parceria com a Brasil Sul.
salvo as exceções expressamente previstas nesta lei.
• Jornal do Sivamar – mensalmente.
• Participação ativa perante a Prefeitura com o fim de coibir a realização de feiras ponta de estoque conflitantes à Lei 5407/01 e que causavam
CAMPANHAS E EVENTOS
prejuízo ao comércio varejista local. • Apoio à iluminação natalina realizada pela Prefeitura. • Na CCT 2004/2005, a possibilidade de trabalhar, por meio de revezamento,
• Maringá Liquida
com os funcionários já contratados, todos os sábados até às 18 horas.
• Feira Ponta de Estoque • Campanha de Natal
SERVIÇOS OFERECIDOS
• Empresário do Ano (Em parceria com a ACIM)
• Consultoria jurídica
PALESTRAS E CURSOS
• Assessoria junto à Câmara de Conciliação Trabalhista; • Atendimento por telefone ou pessoalmente aos filiados e aos escritórios de contabilidade; • Palestras para associados e contadores sobre dúvidas a respeito da CCT e outros temas;
O SIVAMAR oferece aos seus filiados, a custo mínimo ou zero quando possível,
• Elaboração mensal da tabela de INPC acumulado;
palestras e cursos que visam a melhoria na qualificação da mão de obra.
• Participação nas negociações da CCT e nos Termos Aditivos; • Análises de Documentos.
CÂMARA DA MULHER EMPREENDEDORA DE MARINGÁ Tem como objetivo estruturar e apresentar propostas que promovam o desenvolvimento em âmbito econômico, empresarial, social e cultural, visando a promoção de políticas voltadas aos interesses das mulheres empreendedoras e gestoras de negócios.
216
• Cafés da manhã com palestras informativas (cujos temas, basicamente, versam sobre área jurídica, administrativa, marketing, financeira, informática e RH); • Cursos de embalagens; • Cursos de vitrinismo; • Cursos (treinamentos) em técnicas de vendas e qualidade no atendimento ao cliente; • Palestras de orientação sobre a Convenção Coletiva de Trabalho; • Palestras motivacionais. • Projeto Varejo Mais (em parceria com o Sebrae)
Desbravadores do comércio de Maringá
217
CONVÊNIOS
DAS RECEITAS DO SINDICATO
Vários convênios podem ser utilizados por associados e colaboradores, com descontos
REVERSÃO PATRONAL E MENSALIDADE SOCIAL
especiais, em laboratórios de análises clínicas, clínica de raio-X e ultrassom, clínica de odontologia, além de profissionais médicos nas mais variadas
De acordo com a CLT:
especialidades e parceria com as operadoras Unimed e Santa Rita Saúde
EXAMES OCUPACIONAIS
Art. 513 – “São prerrogativas dos Sindicatos : e) Impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas”.
Convênios com médicos especialistas em Medicina do Trabalho para a realização de exames ocupacionais, admissionais, periódicos e demissionais, somente para empresas filiadas e a preço de custo,
PPP – PERFIL PROFISSIOGRÁFICO PROFISSIONAL
CCT – cláusula 59 – institui a Reversão Patronal e a Mensalidade Social. Entretanto, cabe ressalvar que a AGE, realizada em 27/05/97, decidiu que as empresas filiadas estão dispensadas do pagamento da Reversão Patronal, por pagarem a Mensalidade Social, cujo valor total é inferior ao daquela contribuição.
CONTRIBUIÇÃO SINDICAL Convênios com clínicas especializadas e com preços diferenciados para filiados.
ESCRITÓRIOS DE ADVOCACIA CONVENIADOS O SIVAMAR mantém um quadro de advogados conveniados para atender empresas filiadas
Art. 579 – “A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do Sindicato representativo da mesma categoria ou profissão, ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591”.
nas áreas cível, trabalhista, consumidor e administrativo, subsidiando parte dos honorários. O período de carência para utilização destes serviços é de 90 dias.
PARCEIROS
SALAS DE TREINAMENTO
ACIM
Com capacidade para até 54 e 35 pessoas, são equipadas com ar condicionado e recursos audiovisuais. Ideal para realização de reuniões, cursos, palestras e seminários. A empresa filiada tem direito a uma locação grátis por mês.
• EVENTOS (Campanha de Natal, Maringá Liquida, Feira Ponta de Estoque); • PROJETOS DIVERSOS; • ASSUNTOS JURÍDICOS (Âmbitos municipal, estadual e federal).
SALÃO DE EVENTOS
FECOMÉRCIO • CAMPANHA “DIA DO CONSUMIDOR”;
Espaço com capacidade para 400 pessoas, dotado de churrasqueira e amplo estacionamento.
• PROJETOS DIVERSOS;
São 7.500 m2 de área total, localizada nos fundos do Jardim América. Custo de
• ASSUNTOS JURÍDICOS.
½ salário mínimo para filiados e de 1 salário para terceiros.
218
Desbravadores do comércio de Maringá
219
PRÊMIO COMERCIANTE DO ANO*
SINCONTÁBIL • FORNECIMENTO DE DADOS CADASTRAIS DE EMPRESAS;
1980 – Yoshiaki Oshiro (Organtel)
• EVENTOS.
1981 – Francisco Mommenson (Sup. Catarinense) 1982 – Shiniti Ueta (Ueta Cine Foto Som) 1983 – Adilson Rossi (Tecidos Norte Sul)
SESC E SENAC
1984 – Antonio Samorano Trava (Modulaque)
• EVENTOS;
1985 – Mário Martinucci Filho (Móveis Martinucci) 1986 – Massao Tsukada (Livraria Bom Livro)
• CURSOS E PALESTRAS;
1987 – Pedro Bortolossi (Mercado de Calçados)
• CAMPANHA “DIA DO CONSUMIDOR”.
1988 – Carlos Ajita (Casas Ajita) 1989 – Hélio Shimabukuru (Lojas Genko)
SEBRAE
1990 – Damásio do Paraná Barão (Mercantil São José) 1991 – Dayton Gouveia (Gouveia)
• EVENTOS;
1992 – Fernando Vieira Raimundo (Expoluz)
• PROJETOS;
1993 – Jefferson Nogaroli (Sup. São Francisco)
• CURSOS E PALESTRAS.
1994 – Antonio Donizete Busiquia (Dismar) 1995 – José Rubens Abrão (Casa Santa Terezinha) 1996 – Devanir Marion (MR Malharia)
DEPARTAMENTOS
1997 – Carlos Alberto Tavares Cardoso (Sup. Cidade Canção) 1998 – Ariovaldo Costa Paulo (Arilu Distribuidora)
• SUPERINTENDÊNCIA E JURÍDICO - Lisley M. Messias da Silva (advogada e conciliadora) (1)
* Realização SIVAMAR
• COBRANÇA – Suely Moreira Degam (2)
PRÊMIO EMPRESÁRIO DO ANO**
• TI – Oséias Teófilo dos Santos (3)
1999 – Wilson Matos Silva (Cesumar)
• SECRETARIA – Sandra da Silva Vedovati (4)
2000 – Benito Finco (Color Finco) 2001 – Luiz Lourenço (Cocamar)
• RECEPÇÃO – Elaine de Fátima da Silva (5)
2002 – Franklin Vieira da Silva (O Diário)
• SERVIÇOS GERAIS - Linete T. Antonelli Carvalho (6)
2003 – Ágide Meneguette (Usina Santa Terezinha)
• EVENTOS – Gislaine Menezes (7)
2004 – Edson Recco (Recco e Recco) 2005 – Massayoshi Siraichi (Grupo ATDL)
• CONTÍNUO: Fellippe Vilie de Souza (8)
2006 – Marco Falleiro (M. A. Falleiro)
• RELAÇÕES PÚBLICAS: Lilian Regina Povh (9)
2007 – Durval Santos Filho (Unimed) 2008 – João Noma (Noma) 2009 - José Sandeski Neto (Antenas Aquário) 2010 - Wilson Tomio Yabiku Design Empreendimentos) 2011 - Reginaldo Czezacki (Sistema Prever)
** Realização ACIM, SIVAMAR, Coord. Regional da FIEP e APRAS
PRÊMIO GUERREIROS DO COMÉRCIO*** 2006 - José Luiz dos Santos 2007 - Antonio Donizete Busíquia (8)
2008 - Abrão Manoel
(3)
(4)
2009 - Francisco Morales
(1)
2010 - Abrão Manoel, Kenji Ueta, Laís Jours Rodrigues de Souza, Renato Tavares, Roberto Ramos do Prado.
(7)
(6) (5)
2011 - Marcelo Alfredo Martin, Roberto Granado Martines,
(2)
Romeu Jacob Becker e Téo Granado.
*** Realização Fecomércio
(9)
Desbravadores do comércio de Maringá
221
Agradecimentos e bibliografia
222
Abrão Manoel
Família Martin
Manoel Marçal
- ACIM, Revista – edições diversas – Acervo ACIM
Acervo bibliográfico da ACIM
Família Ribeiro
Manoel Mário Araújo Pismel
- ACIM, Revista Comércio e Indústria, edições diversas, Acervo ACIM
Acervo Divisão Patrimônio Histórico
Fernando Ferraz
Marilena Meyer
Ademar Schiavoni
Francisco Morales
Marly Aires
Adilson Emir Santos
Guido Progiante
Massao Tsukada
Afonso Akoshi Shiozaki
Heitor Bolela Júnior
Miguel Fernando Perez Silva
Alfredo Guerra
Hermínia Luíze Barbosa
Mônica Meyer
Ali S. Wardani
Iukie Higaki
Museu Bacia do Paraná
Aloysio Lima Bastos
Ivone H. Becker
Nelson Maimone
Altair Aparecido Galvão
Izaltino Machado
Nikolas Demetrius Lakka
Amauri Donadon Leal
Jheine Evelim
Ôlmaro Luciano Siqueira
Amílcar Ferreira Cosme
JC Cecílio
Oséias Teófilo dos Santos
Antenor Sanches
João Batista Leonardo
Osvaldo Chiuchetta
Antonio Peralta
João da Silva
Osvaldo Ferreira
Aparecido Alves Luiz
João Laércio Lopes Leal
Pedro Granado Martinez
- Meneguetti, K. S. Desenho Urbano e Qualidade de Vida: o caso de Maringá-PR. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UEM, Maringá, 2001.
Armando Tavares
Joaquim Leite Oliveira
Regina Daefiol
- NP, Revista – edições diversas – acervo particular
Bárbara C. Barros
Joaquim Romero Fuentes
Reginaldo Benedito Dias
- Oikawa, Marcelo “Porecatu, a guerrilha que os comunistas esqueceram”, 2010
Cláudio Pietrobon
Jorge Fregadolli
Remígio Pereira
Cleber França
José Aldo Marques
Reynaldo Costa
Daniele Sgorllon
José Carlos Pedroso
Romeu Becker
Dirceu Herrero Gomes
José Cassiano G. dos Reis Júnior
Rosa Maria
- Ramalho, Míriam “Memórias de uma potingá”, 2010
Domingos Bertoncello
José Correia Barbosa
Sandra Vedovati
- Recco, Rogério “À Sombra dos Ipês da Minha Terra” – Editora Midiograf, 2005
Donizete de Oliveira
José Fernandes Jardim Júnior
Sebastião Costa
- Recco, Rogério “Clareira Flamejante” – Editora Midiograf, 2007
Dulce Pulzatto
José Laurentino Gomes
Ulisses Maia
Edgar W. Osterroht
José Sanches Filho
Vanderlei G. da Silva “Rebite”
Edson Noris
Kenzo Suzuki
Eid Kamel Júnior
Lauro Fernandes Moreira
- Sanches, Antenor “Maringá, sua história e sua gente”, Massoni, 2002
Eliana Palma
Leandro Lobão Luz
- Sivamar, Jornal, edições diversas, Acervo Sivamar
Eraldo Formaggio
Lourenço Gonçalves
- Stavinski, Norberto “Pelos Bares do Paraná”, governo do Estado do Paraná, 2004
Família Aliberti
Lisley Maria M. Silva
Família Gava
Luiz Roberto Bolotta
- Cocamar, Jornal de Serviço – edições diversas, Acervo Cocamar - Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Colonização e Desenvolvimento do Norte do Paraná. São Paulo: Edanee. 1975 - Gomes, Hilário “Maria do Ingá”, Ideal, 1995 - Herrero, Dirceu, e Aguiar, Gilson “O Sonho se faz ACIM”, 2006 - Matéria Prima, jornal dos graduandos do curso de Jornalismo do Centro Universitário de Maringá (Cesumar), 2007
- Mendes, C. M.; Machado, J. R. O centro de Maringá e a sua verticalização. Maringá, UEM-DGE (Relatório final iniciação científica), 2000.
- Moro, Dalton Áureo, organizador, “Maringá Espaço e Tempo: Ensaio de Geografia Urbana” Programa de Pós-Graduação em Geografia – UEM/2003
- Netto, Winifred E. “Quando o amor transpõe o oceano”. Cultural, 1997 - Prefeitura Municipal de Maringá, Perfil de Maringá. Maringá, SEDU, 1996.
- Recco, Rogério “Seu Joaquim, um brasileiro de coragem” – Midiograf, 2009 - Sanches, Antenor “Maringá, uma história de progresso”, Clichetec, 1992
- Trintin, J. G. Desenvolvimento Regional: o caso paranaense. A economia em revista, n. 2, 1993.
Desbravadores do comércio de Maringá
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Nascido em Assis (SP), o jornalista Rogério Recco é integrante da Academia de Letras de Maringá e autor de diversas publicações com foco na história do desenvolvimento do Paraná: *À Sombra dos Ipês da Minha Terra – 2005 *Clareira Flamejante – o Norte do Paraná antes e depois do advento da energia elétrica – 2007 *Em Algum Lugar - Viagem pela alma de um povo – 2007 *Seu Joaquim, um brasileiro de coragem – 2009 *A Saga dos Kowalski – 2009 *O Caminho do Tempo – 2010 *Sicredi União - A Ousadia que faz acontecer – 2010 *Organizou “Cocamar – uma história em quatro décadas” (2003). *Em parceria com os jornalistas Antonio Roberto de Paula e Messias Mendes, produziu, respectivamente, “O Diário do Norte do Paraná” (2009) e “SRM – Uma parceria de sucesso com Maringá” (2012) Converse com o autor: rogeriorecco@flammacom.com.br