Sicredi Rio Paraná PR/SP 30 anos - A Conquista da Confiança

Page 1

A conquista da confianรงa


www.facebook.com/sicredirioparana

Avenida Antonio Canhete, 259 Presidente Prudente (SP) Fone: (18) 3344-0728


NOVA LONDRINA (PR) 2018


Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

R295s

RECCO, Hermínio Rogério SICREDI Rio Paraná 30 anos / Hermínio Rogério Recco. Maringá (Pr.): Editora Flamma / A. R. Publisher Editora, 2018. 150p. ; 28cm ISBN: 978-85-69908-46-3 História. 2. Cooperativismo. 3. Desenvolvimento Econômico Regional. Título CDD 334 CDD 338.9

Rogério Recco rogerio@ef.jor.br / 44 99101 1451 Editora Flamma Rua Flamengo, 544 44 3041-0970 - Maringá/PR


Nova Londrina, no extremo-noroeste do Paraná, viu surgir uma cooperativa de crédito em meio a muitas dificuldades, há 30 anos. E graças ao espírito visionário e determinado de sua gente é que os desafios foram superados ao longo dessas três décadas, consolidando uma instituição que opera em dois Estados, onde agrega 40 mil associados e contribui decisivamente para o desenvolvimento das regiões.


Conselho de Administração (2015-2019)

Conselho fiscal (2017-2019)


DIREÇÃO E GESTÃO

Jorge Bezerra Guedes (presidente)

Pedro Paulo de Mello (vice-presidente) Ademir Paulino

Anísio Roberto

Carlos Roberto

Fernando César

Ferrarini

de Campos

Muniz Caires

Torrezan

Henrique Okada

Inês Watanabe

José Antonio

Vitor Ropelato

de Souza

Spinardi Moia

Conselho Fiscal (2017-2019) Efetivos Carlos Roberto

José

Takayoshi

Ornelas

Antonio Félix

Joaquim Tuboni

Suplentes: Luiz Noboru

Jorge Carlos

Celso Takeshi

Ishikawa

Tamura

Haneda


76

12

Mensagem do presidente

16

Apresentação

22

Prefácio

26

Linha do tempo

PRIMEIRA PARTE

28 Origem do cooperativismo de crédito 42 Resgatando histórias 45 Um visionário 46 Fatos memoráveis 47 Nas mãos dos bancos 49 Credi, o braço financeiro 52 A economia brasileira em frangalhos 54 Fundada a cooperativa 55 Os primeiros dirigentes 56 Primeiro desafio: produtores desestimulados 58 Foi pequena a adesão 59 Uma situação incômoda 60 Enfim, em funcionamento 61 A ideia quase morreu na casca 61 O problema que respingou aqui

8


Sumário

62 “Cooperativa, não!” 63 O governo judiou 63 Uma luta renhida 64 Muitas adversidades 65 Um pesadelo, o fim do BNCC 66 Pregando no deserto 67 O setor sem apoio 68 Enfim, boas notícias 69 A Credicopagra por um fio 70 Plano Real 71

Um festival de zeros

71

Sem dinheiro na praça

72 Se correr o bicho pega... 72 Transferência de renda 73 Olivier deixa o comando 73 Pedro Paulo e Jorge assumem 75 Constituído o Bansicredi

78

SEGUNDA PARTE

81 A capitalização e o impulso 81 Cocecrer dá lugar ao Sicooper 82 Apoio governamental 86 Cooperativas no lugar no Bamerindus 87 A abertura de novas frentes

9


87 Apresentando bons resultados 88 Avanços e progressos 88 Fim da submissão ao BB 89 Um cenário incerto 89 Uma história na cooperativa 90 O sufoco de todo dia 91 Não podia confiar na tecnologia 91 Evitar as surpresas 92 Junto da comunidade 92 Capital humano 93 Em busca de novos associados 94 Cortar o cordão umbilical 95 Trilhar o próprio caminho 98 Uma boa impressão 99 A expansão do sistema 99 Abre-se um novo espaço 99 O impulso vem também da região 100 Chegando à Terra Rica 100 Jorge Bezerra Guedes assume a presidência 103 Zeca, um “desbravador” 104 Muitos desafios em Marilena 105 Quinze anos 106 O setor em alta 107 Poupança e custeio 108 A livre admissão 108 Com a força do Rabobank 109 O sucesso na comunidade 109 A inserção da cooperativa 110 Um associado que é Sicredi em tudo 113 Formação profissional 115 Sicredi avança para São Paulo 118 A necessidade de continuar crescendo

10


Sumário

118 Buscar competitividade 119 Um novo nome 120 Aprimorar e evoluir sempre 121 Grande potencial 124 Era um desejo antigo 125 A comemoração dos 25 anos 126 Ano de inaugurações 127 Em Presidente Prudente 130 Números de 2017 130 Estratégias para o crescimento 131 Contato direto com a gestão 134 Sistema consolidado no país 134 O Programa A União Faz a Vida 135 Formação 137 Dois momentos 140 Empretec 141 Encontro de Lideranças 144 Confiança se conquista 145 Cooperar, prática moderna e sustentável 152 As Agências 154 Do zero a caminho do bilhão 156 Presidentes 158 Conselheiros de administração 158 Conselheiros fiscais

166

Bibliografia

11


O idealismo e a realização Nossa mobilização para a criação da cooperativa de crédito fazia sentido quando analisávamos os valores destinados ao crédito rural pelos bancos, em pleno declínio

O jovem profissional médico veterinário, então com 24 anos, estava em Curi-

poderá fundar um sindicato naquela região do noroeste.

tiba-PR para tomar posse em seu novo

Mais tarde, vim a saber que havia sido

emprego visto ter sido aprovado em

designado para uma cidade chamada

concurso público na Emater-PR. Apro-

Nova Londrina.

veitou a estada na capital para se despe-

Assim conheci o Dr. Paulinho e mal

dir dos colegas da FAEP [Federação da

sabia que viria a ser um amigo e compa-

Agricultura do Estado do Paraná], pois

nheiro de tão longa jornada.

sua jornada como veterinário do Sindica-

O trabalho de extensionista na Emater

to Rural Patronal de Manoel Ribas havia

preconizava que os técnicos fossem um

acabado.

agente de desenvolvimento, cujo vetor

Ao adentrar na sala do advogado da

principal era o associativismo. Assim, nos

FAEP, foi-lhe apresentado um senhor

envolvemos na organização de grupos de

muito simpático, de fala expressiva e

jovens agricultores, criação de laticínios,

vivaz.

torneios leiteiros, organização do quadro

- Dr Jorge, quero lhe apresentar “o

social da Copagra, fundação do Sindicato

dono” de Nova Londrina... Seu nome é

Rural, clubes, associações e, consequen-

Pedro Paulo de Mello, disse o advogado

temente, na cooperativa de credito.

em tom de brincadeira. E continuou: - Ele busca informações de como 12

Nesta trajetória também conheci um homem idealista, de fala mansa, aparência


Mensagem do Presidente

Jorge Bezerra Guedes Presidente da Sicredi Rio Paranรก PR/SP

13


serena, determinado na defesa do coope-

Copagra. É preciso reconhecer: nunca

rativismo: o Dr. Olivier Grendene. Foi

nos faltou apoio em todas nossas ações.

ele o mentor de uma geração e líder do movimento que culminou na criação e

Nossa diretriz inicial tinha como objetivos estratégicos:

sustentação de nossa cooperativa Sicre-

1) buscar escala de negócios que desse

di Rio Paraná PR/SP. Seu exemplo, até

garantisse suporte às despesas do cresci-

hoje nos inspira e ilumina em momentos

mento, pois até então estávamos atrela-

de decisões importantes.

dos à cooperativa agropecuária; 2) abrir

Nossa mobilização para a criação da

o quadro social para o público urbano; 3)

cooperativa de crédito fazia sentido

ativar os inativos ou eliminar do quadro;

quando analisávamos os valores destina-

4) criar uma imagem pública própria,

dos ao crédito rural pelos bancos, em ple-

refletindo segurança, liquidez e autono-

no declínio. Também, o cenário de perda

mia; 5) buscar fontes alternativas para o

do valor da moeda por uma inflação ga-

credito rural e, 6) atrair e capacitar bons

lopante, exigia uma forma de proteção,

colaboradores.

pois os bancos se protegiam e ganhavam muito dinheiro com o overnight.

Nossa parceria com o Sistema Sicredi foi providencial, como a “mão de Deus”

Os cargos de dirigentes na Credico-

nos ajudando a encontrar os caminhos e

pagra não eram cobiçados, pois exigiam

meios de alcançar nossos objetivos. Do

grande responsabilidade e davam pouco

contrário, estaríamos atrelados a um con-

retorno e visibilidade. Como dizia um

vênio que atenderia mais a conveniên-

dirigente da cooperativa agropecuária:

cia dos bancos públicos do que o nosso

“se quiser um cargo na Copagra, tem que

desenvolvimento.

comer também a ‘carne de pescoço’, se

Pude participar da construção e apri-

referindo à Credicopagra. Comecei no

moramento do Sistema, como conse-

Conselho Fiscal, depois no Conselho de

lheiro na Central Sicredi PR/SP/RJ, e na

Administração e, por fim, passei a diretor

Confederação, com resultados que muito

-executivo em 1995.

me orgulham, pois hoje o sistema Sicredi

Ao assumir o cargo, fiz um “trato”

é modelo apresentado, discutido e visi-

com o então diretor da Copagra, Nelson

tado por cooperativas de várias partes do

Maior Bono, que me dedicaria ao cresci-

mundo.

mento da Credicopagra, mas com a con-

Nesta história passamos por momentos

dição de não haver nenhuma interferên-

de angustia e preocupação, como crises,

cia na administração e, ao mesmo tempo,

fraudes, inadimplência, insegurança pú-

ter total apoio “moral” da diretoria da

blica e jurídica, entre outras ansiedades,

14


Mensagem do Presidente

porem sempre tivemos o apoio dos conselheiros de administração e fiscal, e das assembleias de associados que participaram ativamente ao nosso chamado. Este livro narra a construção de uma empresa coletiva, a muitas mãos, passo a passo, por 30 anos relevante em nossa sociedade, com responsabilidade social e respeitando o crescimento individual de cada um dos sócios. Temos de agradecer aos sócios, colaboradores, parceiros, autoridades e colegas cooperativistas. Vislumbramos uma nova era, com maior influência das comunicações e da

Este livro narra a construção de uma empresa coletiva, a muitas mãos, passo a passo, por 30 anos relevante em nossa sociedade, com responsabilidade social e respeitando o crescimento individual de cada um dos sócios.

tecnologia, e sabemos que muito irá mudar, porém, perenemente continuaremos a nos relacionar com os nossos sócios, suprindo suas necessidades e estando juntos. Que Deus nos ajude nesta caminhada... Boa leitura!

15


Trinta anos de história Com este resgate histórico, a Sicredi Rio Paraná PR/SP deixa registrada a sua participação no desenvolvimento econômico e social das regiões onde atua e presta sua homenagem àqueles que sempre acreditaram nas conquistas do cooperativismo de crédito

Uma longa caminhada quando olhamos a construção. Algo muito recente

Ocepar e da Cocecrer (Central Sicredi PR/SP/RJ).

quando olhamos a história. Ao completar

Resgatar este momento é o maior re-

três décadas no mesmo ano em que ce-

conhecimento que uma administração

lebramos os 200 anos do nascimento de

pode fazer por aqueles que lideraram e

Friedrich Whilhem Raiffeisen, precursor

souberam deixar uma herança na região.

do nosso movimento e da nossa causa,

As pessoas e comunidades impactadas

a Sicredi Rio Paraná PR/SP continua a

serão sempre gratas, seja pelo senti-

missão de inspirar pessoas e nos presen-

do que terão ao ler esta história, pelos

teia com esta bela publicação: um resgate

benefícios gerados e, em especial, pelo

histórico repleto de ideias e sonhos.

bem que ainda está por vir. Escrever um

Tão bom rever episódios de um gru-

livro é imortalizar um pensamento, uma

po de idealizadores que escolheu Nova

história, uma causa. É também a me-

Londrina, pacata cidade do noroeste do

lhor forma de não se distanciar do ideal

Paraná, para constituir uma cooperati-

dos fundadores e renovar as promessas

va de crédito rural, sempre inspirado na

de fazer o bem em prol dos seus donos.

caminhada do Padre Theodor Amstadt,

E, nesta obra, temos a oportunidade e o

nas convicções de Ignácio Aloísio Do-

prazer de acompanhar esta caminhada.

nel e alicerçados no apoio decisivo da 16

O grande investimento na formação


Apresentação

humana, na capacitação de líderes e colaboradores propiciou a profissionalização plena desta organização que passou a ser respeitada e admirada pelas pessoas, comunidade e mercado. Forjada nas adversidades e na resistência, habilitou-se para arriscar novos desafios, ampliar suas fronteiras e ajudar na expansão e consolidação do Sicredi no noroeste do Paraná e

Escrever um livro é imortalizar um pensamento, uma história, uma causa. É também a melhor forma de não se distanciar do ideal dos fundadores

na grande região do Pontal do Paranapanema, em São Paulo. Esta construção, percebida e reconhecida, hoje tem raízes e, mais que isso, tem no Sistema Sicredi o principal fator para o crescimento. Com este resgate histórico, seus líderes e executivos deixam também presente nestas páginas o legado da gratidão. Da mesma forma, deixam a percepção da relevância em compreender que cidadania é uma obra constante e um labor diário. Frentes são abertas, emoções são geradas e propósitos são renovados com um único objetivo: gerar satisfação e progresso aos seus donos e comunidades. Os homens e as mulheres que construíram os 30 primeiros anos do Sicredi Rio Paraná fizeram a sua parte. Que os anos vindouros continuem venturosos!

Manfred Alfonso Dasenbrock Presidente da Central Sicredi PR/SP/RJ

17


Um futuro promissor A cooperativa seguiu um caminho de crescimento e chega aos 30 anos de atividades com uma história vencedora, fruto do trabalho e dedicação de seus dirigentes, colaboradores e cooperados

O cooperativismo de crédito, ramo que

que orientam o cooperativismo.

apresenta o maior crescimento em nú-

A cooperativa Sicredi Rio Paraná PR/

mero de cooperados no Paraná e no Bra-

SP é um exemplo da expansão do setor.

sil, é uma alternativa sólida em serviços

Sua fundação teve a participação da Co-

financeiros seguros e qualificados. Além

pagra, através do incentivo e apoio do lí-

de oferecer produtos e serviços a taxas

der cooperativista Dr. Olivier Grendene,

competitivas em comparação ao merca-

que viu na intercooperação uma oportu-

do, contribuindo para a inclusão finan-

nidade de contribuir para o crescimen-

ceira das pessoas, as cooperativas possuem

to da região noroeste do Paraná. Nesta

como diferencial a participação nos re-

época eu trabalhava na Organização das

sultados. O cooperado não é tratado ape-

Cooperativas Brasileiras (OCB), em Bra-

nas como mais um cliente, afinal, tanto

sília, quando acompanhei a determinação

seu crescimento, bem como o desenvol-

do Dr. Grendene em organizar a coope-

vimento da comunidade em que atua, faz

rativa de crédito.

parte dos propósitos da cooperativa.

Já consolidada, ela seguiu um caminho

Com investimentos constantes na pre-

de crescimento e chega, em 2018, aos

paração de seus colaboradores, as coopera-

30 anos de atividades, com uma história

tivas realizam um atendimento de qualida-

vencedora, fruto do trabalho e dedica-

de, com profissionalismo e transparência,

ção de seus dirigentes, colaboradores e

dentro de uma gestão democrática, na qual

cooperados. Pautada nos princípios do

o trabalho é fundamentado nos princípios

cooperativismo, oferecendo qualidade

18


Apresentação

Parabéns a todos que fazem parte dessa história bemsucedida, que está apenas começando e, certamente, haverá muitas conquistas e frutos a colher no futuro.

e segurança, a Sicredi Rio Paraná PR/ SP cresce visando o desenvolvimento de seus cooperados, em sintonia com suas necessidades, por meio de um relacionamento que estabelece laços de confiança. Parabéns a todos que fazem parte dessa história bem-sucedida, que está apenas começando e, certamente, haverá muitas conquistas e frutos a colher no futuro.

José Roberto Ricken Presidente do Sistema Ocepar

19


20


Foto Flash

21


Uma trajetória construída pela união Muitas pessoas com visão de futuro deixaram sua marca na instituição

Contar uma história envolve buscar na

considerado um homem sem criatividade

memória das pessoas o que elas passaram,

e hoje dá nome a um conglomerado de

viveram, relembrar momentos bons e

entretenimento que surgiu de um peque-

ruins, vitórias e derrotas.

no rabisco. Atualmente, a Disney lidera a

Mas a história de uma cooperativa vai muito além, pois não envolve só uma

lista de empresas de mídia mais valiosas, segundo informações da Fortune 500.1

pessoa, e sim, 40 mil. Estes associados que

E a Sicredi Rio Paraná PR/SP pode

hoje desfrutam de uma estrutura com 24

agora ser chamada de “balzaquiana”. Essa

agências, mais de 200 colaboradores e

jovem cooperativa chega à idade con-

presença em dois estados do país, podem

siderada por Honoré de Balzac como

não saber o que homens desbravadores

madura.2

fizeram em 1988, que resultou numa lin-

E assim como diria o escritor francês

da instituição que agrega resultados por

no século 19, é aos 30 anos que a mulher

onde passa. Hoje, a Cooperativa de Crédito Sicredi Rio Paraná PR/SP, é o resultado do sonho de pessoas que já não estão mais aqui para ver esta concretização. Estes empreendedores passaram por percalços, como Walt Disney, que foi 22

1 Fortune 500. Bloomberg, 2018. 2 Balzac, Honoré de (1799-1850). A comédia humana: estudos de costumes - cenas da vida privada / Honoré de Balzac; orientação, introduções e notas de Paulo Rónai. Tradução de Vidal de Oliveira. v. 3. ed. São Paulo: Globo, 2012.


Prefácio

tem experiências acumuladas e está pronta para enfrentar as mazelas do cotidiano em busca da independência. E nesta linda obra feita pelas mãos e criatividade do jornalista Rogério Recco, é possível compreender como foi construída essa instituição. Da primeira conversa em 1988 até hoje, os sinuosos

“[...] bela idade de trinta anos, ápice poético da vida das mulheres...”

percursos e a inauguração da nova Sede Administrativa 30 anos depois. Com um texto leve e divertido, ele apresenta detalhes e curiosidades que trouxeram a instituição até aqui, além de fatos marcantes para a economia que viriam a impactar diretamente o crescimento da cooperativa de crédito. O desbravar de Olivier Grendene, a vontade empreendedora de Pedro Paulo de Mello e a juventude auspiciosa de Jorge Bezerra Guedes, alguns dos personagens dessa trajetória que mudou a vida dos mesmos. E também de outras pessoas que deixaram sua marca na instituição. Balzaquiana, a Sicredi Rio Paraná PR/ SP celebra seus 30 anos em grande estilo e já projeta os próximos 30, 60, 100 anos. Confira essa jornada com detalhes de pessoas que tinham princípios de união e pensamentos no futuro. Pois o cooperativismo é assim, construído por muitas mãos, e uma primorosa história como esta fazemos JUNTOS.

Carolina Mussolini Celestino de Oliveira Assessora de Comunicação e Marketing da Sicredi Rio Paraná PR/SP Jornalista e Mestre em Letras

23


O cooperativismo é assim, construído por muitas mãos, e uma primorosa história como esta fazemos juntos

24


25


LINHA DO TEMPO 12/Set

10/Out

A data da reunião em que pela primeira vez o presidente da Copagra, Olivier Grendene, defendeu a possibilidade de criação de uma cooperativa de crédito, como braço financeiro da cooperativa de produção.

Em 1995, com a proibição de os mesmos dirigentes comandarem as cooperativas de produção e de crédito, Pedro Paulo de Mello assume a presidência da Credicopagra, com Jorge Bezerra Guedes na vice-presidência e diretoria-executiva.

16/Mar

Início das atividades.

Reunião preparatória com dirigentes e associados da Copagra para discutir a fundação da cooperativa.

Conselho Monetário Nacional (CMN) autoriza a constituição de bancos cooperativos privados.

Cocecrer/RS e filiadas se unificam no Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi).

21/Nov

Fundada a Credicopagra.

Com seu crescimento, o Sicredi passa a ocupar um espaço maior na sede da Copagra, para atender também associados de outras áreas.

1988 1989 1990 1992 1993 1995 1996 1997 1999

16/Mar

Governo Collor extingue o Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC), trazendo grandes transtornos ao setor.

26

Pedro Paulo de Mello e Jorge Bezerra Guedes são confirmados, em definitivo, pelos associados, respectivamente na presidência e vice-presidência da cooperativa.

Fato histórico:

Banco Central declara não ter impedimento à constituição de bancos cooperativos para operação múltipla.

Inaugurada a primeira agência da Credicopagra fora de Nova Londrina, no município de Marilena.

12/Dez

Cooperativas de crédito do Paraná e do Rio Grande do Sul se unem para fortalecer o recém-criado Banco Cooperativo Sicredi (Bansicredi). A Credicopagra passa a se denominar Sicredi Nova Londrina.

19/Ago

Bansicredi começa a operar em Curitiba. Aproveitando uma brecha da legislação, e com o beneplácito no Banco Central, tem início nas cooperativas de crédito rural um processo para associar representantes dos mais diversos segmentos, explorando um enorme potencial.


Linha do Tempo

Cooperativa deixa instalações da Copagra e se instala no centro de Nova Londrina. No dia 21 de novembro, comemoração dos 20 anos da cooperativa, com homenagens a ex-presidentes e lideranças.

Ao celebrar 15 anos, a cooperativa já conta com 5,6 mil associados e várias agências pela região.

2000 2002

Jorge Bezerra Guedes assume a presidência, com Pedro Paulo de Mello na vice-presidência.

2003

2007

Ao completar 30 anos, Sicredi Rio Paraná PR/SP conta com 16 agências no Paraná e 7 em São Paulo, incluindo Presidente Prudente, região onde projeta crescer fortemente nos próximos anos. São 40 mil associados, 25% dos quais já como resultado da presença em território paulista.

Celebração dos 25 anos de fundação da cooperativa, com homenagens a pioneiros, show do cantor Sérgio Reis e uma ampla perspectiva de crescimento.

2008

2011

Central Sicredi PR se funde com a Central Sicredi SP e cooperativas paranaenses são autorizadas a operar no Estado de São Paulo. Pouco depois, se soma ao grupo o Rio de Janeiro e a Central se torna Sicredi PR/SP/RJ.

2013

2018

Foi um ano intenso e a Sicredi Rio Paraná PR/SP (nova denominação da antiga Sicredi Noroeste) absorve uma área com 27 municípios no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, e abre sua primeira agência em terra paulistas, no distrito de Primavera, em Rosana.

A conquista tão esperada:

cooperativas de crédito rural são oficialmente autorizadas a operar com livre admissão. Sicredi Nova Londrina passa a se chamar Sicredi Noroeste PR.

27


Origem do cooperativismo de crédito As primeiras cooperativas de crédito ti-

vezes, visto como mais importante, pois

veram o alemão Franz Herman Schulze

as comunidades rurais alemãs eram muito

como seu precursor,

mais carentes de assistência financeira do

no ano de 1852.

Desse movimento originaram os Volks-

que o meio urbano.

bank (banco do povo), voltados para as

O cooperativismo de crédito avançou

necessidades dos donos de pequenas em-

rapidamente e logo ultrapassou as fron-

presas (comerciantes e artesãos). Tais coo-

teiras da Alemanha, Em 1865 surgia, na

perativas seguiam o modelo que passou a

Itália, o modelo conhecido como Luzzatti

ser denominado Schulze-Delitzsch.

(por ter sido implantado por Luigi Luz-

Também na Alemanha, Friedrich Wilhelm Raiffeisen constituiu em 1862, em

zatti, na cidade de Milão), caracterizado pela livre associação.

Anhausen, e em 1864, em Heddesdorf,

No continente americano, a primeira

as cooperativas de crédito rural, à época

cooperativa de crédito surgiu no Canadá

chamadas de loan societies e que, mais tar-

em 1900, na cidade de Lévis, estado de

de, assumiram o nome de Raiffeisenbank.

Quebec (colonizado por franceses), dando

Em 1900, já havia 2.083 cooperativas de

origem ao Movimento Desjardins, funda-

crédito que seguiam o modelo Raiffeisen,

do por Alphonse Desjardins e que serviu

com 265 mil associados.

de inspiração para as primeiras cooperati-

Embora Schulze possa reivindicar precedência cronológica, Raiffeisen é, muitas

28

vas instituídas nos Estados Unidos. (Portal do Cooperativismo Financeiro)


Introdução

Confiança. A palavra-mestra que nor-

Credibilidade, alicerces plantados em

teia uma cooperativa de crédito, assim

terra firme, segurança ao associado e um

como o sistema cooperativista como

futuro promissor. No ano de 2017, o

um todo, é, também, a sua principal

Conselho Mundial das Cooperativas de

matéria-prima.

Crédito (WOCCU, na sigla em inglês),

Em maior expressão na Europa, pas-

divulgou números que demonstram a

sando pela América do Norte e outras

grandiosidade do segmento. Estimou

regiões do planeta, o cooperativismo flo-

que os associados do cooperativismo de

resceu, em meados do século 19, a partir

crédito em todo o mundo já seriam mais

da necessidade da união em que grupos

de 235 milhões, responsáveis por US$ 1,4

buscaram a conquista de objetivos co-

trilhão em depósitos. Somando a eles os

muns por meio da soma de seus esforços

seus familiares próximos, chega-se, segu-

e ideais. Para isso, a base está na confiança

ramente, a cerca de um bilhão de pessoas

mútua que, com o tempo, estabelece uma

relacionadas a 68 mil cooperativas dis-

unidade sobre alicerces sólidos e torna

tribuídas em uma centena de países. Na

possível almejar a superação de desafios.

França e na Alemanha, as cooperativas

É como em uma floresta, onde, para en-

de crédito participam com 60% e 20%,

frentar as adversidades, os indivíduos de

respectivamente, dos depósitos totais do

um grupo precisam estar unidos, vigilan-

sistema financeiro. O Conselho projeta

tes e focados nos mesmos interesses.

também que a quantidade de associados

No continente europeu, especialmente, a força da união pode ser medida pela

deve ser acrescida em mais 50 milhões nos próximos anos.

sua representatividade e a intensa partici-

A solidez do cooperativismo de crédito

pação. Em alguns dos países onde o sis-

no mundo pode ser analisada, ainda, pela

tema cooperativista do ramo crédito se

forma serena como atravessou os anos de

encontra mais amplamente difundido, as

conturbada crise financeira internacional,

instituições cooperativas correspondem a

entre 2007 e 2008. Enquanto tradicionais

nada menos que 80% da movimentação

instituições de renome global se viram

financeira na soma de todas as corpora-

em apuros e algumas foram à insolvência,

ções do mercado. O associado de uma

o sistema de crédito cooperativo não ape-

cooperativa de crédito se sente mais se-

nas a tudo assistiu incólume como, com

guro, com senso de pertencimento e tem

base nesse cenário, ganhou ainda mais

consciência de que a sua instituição re-

impulso para continuar crescendo.

presenta uma conquista coletiva que levará a muitas outras.

No Brasil, a história do cooperativismo de crédito remonta há pouco mais de um 29


No Brasil, a história do cooperativismo de crédito remonta há pouco mais de um século, tendo como embrião a legendária Caixa de Economia (também chamada de Caixa Rural) que o padre jesuíta de origem suíça, Theodor Amstad, instituiu em 1902 no município gaúcho de Nova Petrópolis. 30

(fonte: http://unicredafinidade.com.br/conteudo/6/13/COOPERATIVISMO.html)


Introdução

século, tendo como embrião a legendária Caixa de Economia (também chamada de Caixa Rural) que o padre jesuíta de origem suíça, Theodor Amstad, instituiu em 1902 no município gaúcho de Nova Petrópolis. Esse modelo propagou-se pelo Estado e também por Santa Catari-

garantidor que protege depositantes e in-

na, sem conseguir um espaço importan-

vestidores, contribui com a manutenção

te no sistema financeiro nacional, onde

da estabilidade do Sistema Nacional de

as grandes corporações bancárias faziam

Crédito Cooperativo e iguala as condi-

prevalecer os seus interesses. Foi somente

ções de competitividade com os bancos

a partir dos anos 1980, alavancado pelo

comerciais.

empreendedorismo de lideranças de coo-

Em Nova Londrina, a data mais remota

perativas agrícolas, sobretudo no Paraná,

do cooperativismo de crédito na cidade

que o cooperativismo de crédito vislum-

é 12 de setembro de 1988. Foi quando

brou, enfim, um caminho para avançar e

o conselho de administração da então

desenvolver-se.

Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de

Atualmente, no país, o Sistema Sicredi

Nova Londrina (Copagra), hoje Copagra

é formado por 116 cooperativas filiadas

Cooperativa Agroindustrial, reuniu-se

em 22 Estados, com 1,6 mil agências que

para deliberar sobre assuntos relacio-

atendem a 3,8 milhões de associados e

nados à rotina da gestão da entidade e,

contam com 23,3 mil colaboradores. São

pela primeira vez, tratou da organiza-

R$ 77,3 bilhões em ativos, R$ 43,9 bi-

ção de uma ação prática para implantar

lhões de saldo em carteira de crédito, R$

uma cooperativa de crédito ligada à en-

53,4 bilhões em depósitos totais e R$ 12,8

tidade. Estavam na sala o presidente Oli-

bilhões de patrimônio líquido. O Siste-

vier Grendene, o vice-presidente Bento

ma tem a chancela do FGCoop, o fundo

Somenzari, o diretor-secretário Darci

Em Nova Londrina, a data mais remota do cooperativismo de crédito na cidade é 12 de setembro de 1988, que foi quando, em reunião da Copagra, se cogitou sobre a possibilidade de fundação da Credicopagra.

31


32


Introdução

Bertasi, os conselheiros Antonio Zot-

e falecido em 2004, faz parte do rol dos

ti Neto, Ernesto Mazzotti, José Bolivar

grandes nomes do cooperativismo para-

Garcia Léllis e Manoel Bono Belascuzas,

naense. Em suas respectivas regiões, esses

os integrantes do conselho fiscal Alfeu

homens não apenas foram precursores do

Franco Furtado, João Paulo Giacobbo

sistema, disseminando com entusiasmo

e José Teixeira de Carvalho, e o asses-

a semente do associativismo para que a

sor de cooperativismo Antonio Ferriani

comunidade rural pudesse se organizar,

Branco. O tema não corriqueiro da pauta

se fortalecer economicamente, ser digna-

mexia com o presidente Olivier Grende-

mente representada e prosperar. Com o

ne. Ele tinha em mãos, e apresentou com

seu empenho pessoal e visão de futuro,

apaixonada ênfase aos demais conselhei-

eles participaram da estruturação do coo-

ros, o exemplar recente de uma edição da

perativismo no Estado, ensejando uma

Folha de Londrina, de circulação esta-

realidade que hoje é exemplo para o país.

dual, cujo conteúdo aludia à fundação de

Olivier, o advogado e agropecuarista

várias cooperativas de crédito no Paraná.

Pedro Paulo de Mello e outros, são per-

O jornal havia sido entregue a ele pelo

sonagens a quem o destino conferiu es-

presidente do Sindicato Rural Patronal,

pecial relevância nessa história inicial. Já

Pedro Paulo de Mello, seu tradicional

haviam participado da fundação da Co-

companheiro de lida.

pagra, se engajado em outras lutas pelo

Olivier Grendene, médico e agrope-

bem da região e, ao final da década de

cuarista nascido no Rio Grande do Sul

1980, chegara o momento do cooperativismo de crédito em Nova Londrina, cabendo a eles, mais uma vez, o papel de protagonistas. Ambos tiveram a oportunidade de conviver com lideranças estaduais do cooperativismo, como Ignácio Aloysio Donel,

As lideranças do cooperativismo em Nova Londrina tiveram a oportunidade de conviver com cooperativistas obstinados, que dedicaram sua vida à estruturação do sistema no Estado, como Ignácio Aloysio Donel.

33


34


Monumento em Nova Petrópolis (RS) remete às origens do cooperativismo no país. (fonte: especiais-pio.clicrbs.com.br/ maisserra/11/central.html)

35


que dedicou toda sua vida profissional

Organização das Cooperativas Brasi-

a serviço do sistema, tendo sido o pri-

leiras (OCB). Em seu período, Donel

meiro gerente da cooperativa Cotrefal,

idealizou e implantou os Núcleos Re-

a qual presidiu. Ardoroso defensor da

gionais Cooperativos, de forma a bus-

máxima participação dos cooperados

car soluções regionais para os proble-

em suas cooperativas, Donel foi con-

mas relacionados ao desenvolvimento

duzido à presidência da Organização

do sistema cooperativista, liderando a

das Cooperativas do Estado do Paraná

implantação do cooperativismo de cré-

(Ocepar) para completar o mandato de

dito rural e tendo sido presidente da Si-

Wilson Thiesen, eleito presidente da

credi Central Paraná.

36


Primeira Parte

37


Registros do período de desbravamento regional, em que a mata cedeu lugar para lavouras e pastagens e o pequeno povoado de Nova Londrina começava a se desenvolver Fotos: acervos particulares e públicos

38


39


40


Pedro Paulo de Mello

Darci Bertasi

Arnaldo José Mazzotti, com o recebido de integralização de capital, para a constituição da cooperativa

Aléssio Roman

41


Resgatando histórias No dia 15 de janeiro de 2018, em reunião histórica promovida pelo presidente da Sicredi Rio Paraná PR/SP, Jorge Bezerra Guedes, com alguns pioneiros do cooperativismo de crédito na cidade, participaram o seu vice-presidente Pedro Paulo de Mello e os produtores Darci Bertasi, Arnaldo José Mazzotti e Aléssio Roman. O objetivo do encontro – comandado pelo presidente e acompanhado também pela assessora de comunicação, Carolina Mussolini Celestino de Oliveira, e pelo ex-diretor-executivo da cooperativa, Almir Schotten -, foi o de rememorar fatos relacionados à fundação da Credicopagra, entidade que antecedeu a atual Sicredi, para resgatar a sua história.

42


Na reunião, Jorge Bezerra Guedes

competitivos e sobreviver isoladamente.

ressaltou que estavam ali alguns dos re-

Sobre Olivier Grendene, Pedro Paulo

presentantes de uma saga marcada por

recordou-se: em várias das muitas viagens

relevantes serviços prestados ao coope-

que fez em companhia do amigo, cum-

rativismo, à Nova Londrina e conquistas

prindo jornadas nas quais representavam os

que fizeram a diferença na economia re-

interesses dos produtores e dos munícipes

gional. E que suas lembranças contribui-

em reivindicações junto a autoridades, ou-

riam para restaurar a memória dos pri-

via sempre que era preciso trabalhar para a

meiros passos da cooperativa de crédito,

implantação de uma cooperativa de crédi-

fornecendo subsídios para o livro come-

to rural na cidade. “Ele insistia que a gente

morativo aos seus 30 anos de fundação.

não poderia tirar essa ideia da cabeça.”

Ao pronunciar-se, Pedro Paulo de Mello

“Olivier era um idealista, um homem

fez questão de, primeiramente, ressal-

à frente do seu tempo. Ele enxergava a

tar a importância de outro incentivador

necessidade de uma cooperativa de cré-

do cooperativismo na cidade e região,

dito. Colocou isso na cabeça e passou a

que não poderia ser esquecido: Leonar-

defender a ideia junto a outras lideran-

do Spadini. Segundo ele, Spadini foi um

ças”, comentou Arnaldo José Mazzotti.

batalhador da filosofia da cooperação,

“Numa época, os bancos queriam sair

defendendo que os produtores rurais, de

do crédito rural, pois diziam que era um

pequeno e médio portes, deveriam unir-

mau negócio para eles. Conseguir cré-

se, pois seria improvável que, num futu-

dito era difícil e os pequenos produtores

ro próximo, eles conseguissem se manter

sofriam mais”, lembrou Darci Bertasi,

Pedro Paulo de Mello destaca o trabalho realizado por incentivadores do cooperativismo, como Leonardo Spadini, “um batalhador da filosofia da cooperação”.

43


Nessa época, Nova Londrina e municípios próximos engrossavam o fluxo migratório de famílias paranaenses em direção a outras regiões do país.

ex-vice-presidente e ex-diretor-secretário

desbravamento realizado em grande par-

da Copagra entre 1983 e 1992. “Uma vez,

te por migrantes oriundos do Rio Gran-

só nos restou ir a Brasília pedir um ‘pa-

de do Sul e de Santa Catarina, além de

pagaio’ [empréstimo] ao Banco do Brasil,

paulistas e descendentes de japoneses,

pois por aqui as agências não tinham au-

“sempre houve uma sociedade de ideias e

tonomia para concedê-lo”, relatou, dan-

fortes lideranças”, acrescentou, ressaltan-

do ideia do desinteresse das instituições

do que a comunidade criou a cultura de

financeiras para com o campo. “O presi-

abraçar os projetos que propugnavam o

dente Olivier afirmava que os produtores

desenvolvimento regional, citando como

precisavam ter o seu próprio banco. Só as-

exemplos as movimentações havidas em

sim eles deixariam de ser explorados pelos

prol da organização do associativismo –

outros bancos”, disse Aléssio Roman.

uma peculiaridade do povo gaúcho - que

Não havia dúvida, entre os precursores:

traria muitos frutos à Nova Londrina.

o objetivo de contar com uma coopera-

Dessa união é que surgiram, entre outros,

tiva de crédito rural em Nova Londrina

a cooperativa Copagra, o Sindicato Ru-

seria alcançada, era só uma questão de

ral, a organização do setor de laticínios,

tempo. Mas isto demandaria muita luta,

a destilaria de álcool e a Credicopagra

o que em nada desanimava as lideranças

(hoje Sicredi Rio Paraná PR/SP, atual-

da cidade onde, segundo Pedro Pau-

mente em franca expansão pelo interior

lo de Mello, “as coisas foram feitas na

de São Paulo, onde encontra enorme po-

raça, sempre com muita garra”. Com o

tencial para continuar crescendo).

44


Olivier Grendene, médico e agropecuarista nascido no Rio Grande do Sul e falecido em 2004, faz parte do rol dos grandes nomes do cooperativismo paranaense. “Ele era um homem de espírito comunitário e generoso, que sempre atendeu muita gente que não podia pagar nada, no hospital de sua cidade. Me recordo dele como um homem sereno, uma pessoa feliz”, lembra José Roberto Ricken.

Um visionário

diesel e as construções eram quase todas rústicas, de madeira. Mas, a exemplo do

Médico e com formação em filoso-

que se via em outras regiões do Estado

fia, o gaúcho Olivier Grendene nasceu

naquela época, o povoamento se desen-

em Farroupilha no dia 2 de fevereiro de

volvia, atraindo famílias de várias partes

1926. Tão logo se graduou, partiu em

do Brasil, em especial do Rio Grande do

busca de realizar o sonho de fazer a vida

Sul e de Santa Catarina, que iniciavam

em uma região que estava sendo desbra-

comércio, o cultivo de café, a criação

vada. Foi com esse intuito que, em 1952,

de gado de corte e leite. O progresso foi

ele chegou a Nova Londrina, então dis-

acontecendo e, em 1956, Nova Londrina

trito de Paranavaí. O lugar que estava

se tornou município.

sendo colonizado pela Imobiliária Nova

Primeiro médico da cidade e também o

Londrina e tinha entre seus dirigentes

dono do primeiro hospital, Olivier Gren-

alguns conterrâneos gaúchos, não pas-

dene havia sido investido na chefia do

sava ainda de um modesto aglomerado

posto de saúde local, em 1955, pelo pre-

de casas, cercado de mata, com estradas

feito de Paranavaí, José Vaz de Carvalho.

impraticáveis, onde não se podia contar

Destacando-se por sua liderança, abra-

com energia elétrica sem os geradores a

çou a política, foi eleito vereador e, 45


poucos anos depois, a prefeito, realizando

ao retornar a Curitiba, retomando seu

no período 1964-1969 uma administra-

trabalho na Ocepar, Ricken se recorda

ção progressista.

de ter presenciado a movimentação de

Com seu idealismo, Olivier, também

Olivier e seu grupo, para a fundação da

produtor rural, esteve sempre à frente

Credicopagra. “Era um homem de espí-

das mobilizações pelo desenvolvimento

rito comunitário e generoso, que sempre

do município e região, tendo participa-

atendeu muita gente que não podia pa-

do da fundação da Copagra, entidade da

gar nada, no hospital de sua cidade. Me

qual foi vice-presidente de 1968 a 1973

recordo dele como um homem sereno,

e presidente de 1980 a 1994. Ao deixar

uma pessoa feliz.”

de depender tanto da economia cafeeira, como ocorria em seus primeiros anos, a cooperativa modernizou-se e investiu em

Fatos memoráveis

novos negócios nos quais atuaria durante muitos anos, entre os quais a produção de etanol.

O café nunca foi o forte da família Bertasi, que conheceu Nova Londrina

Como cooperativista, foram inúme-

em 1954, proveniente de Caçador (SC).

ras participações. Ele ajudou a fortale-

Quando o casal Maximiliano e Felicita

cer a Organização das Cooperativas do

concluiu a viagem rumo às terras que ha-

Estado do Paraná (Ocepar) e, em Nova

via adquirido na longínqua cidade situa-

Londrina, articulou a fundação da Cre-

da no extremo noroeste paranaense, onde

dicopagra, cooperativa de crédito rural

era difícil chegar, tinha o objetivo de li-

que, mais tarde, se tornaria a Sicredi Rio

dar com pecuária e comércio. A exem-

Paraná PR/SP.

plo de quase todo mundo na região, eles

Em depoimento para este livro, o pre-

não deixaram de ter também o seu café,

sidente do Sistema Ocepar, José Rober-

uma experiência que durou pouco, con-

to Ricken, comentou que na década de

ta Darci, um dos dez filhos. “O meu pai

1980, quando prestou serviços em Bra-

nunca gostou muito do café, o negócio

sília, na Organização das Cooperativas

dele era o boi.”

Brasileiras (OCB), recebeu por algumas

Quando chovia forte, só mesmo co-

vezes a visita de Olivier Grendene. O

locando correntes nos pneus dos veícu-

médico de Nova Londrina tinha pro-

los para trafegar pelas estradas barrentas.

priedade na Bahia e, em viagem de carro,

Ainda assim, quem se arriscava, sabia que

ao passar pela capital federal, hospeda-

poderia acabar no meio de um atoleiro.

va-se na residência do amigo. Em 1988, 46

Histórias

assim

são

comuns

no


município, incluindo a de Aléssio Ro-

chegando, se instalando e a história mos-

man e seus familiares, igualmente des-

tra que elas souberam preservar o solo, o

bravadores, e Pedro Paulo de Mello, este

seu bem maior”, observa. O tempo pas-

último nascido em São Jerônimo da Serra

sou e, quando percebeu, Pedro Paulo não

(PR). Em 1958, recém-formado em di-

queria mais ir embora de Nova Londrina,

reito, Pedro Paulo foi para Nova Londri-

onde, além de advogado, dava aulas e já

na decidido a permanecer uns dois anos

tinha virado plantador de café.

na cidade, pois não lhe passava pela cabeça criar raízes no sertão. Na faculdade em Curitiba, um dos seus professores, o

NAS MÃOS DOS BANCOS

ex-governador Bento Munhoz da Rocha Netto, que havia sido também ministro

O cooperativismo de crédito desponta-

da Agricultura, volta e meia comentava

va como a solução para o grave problema

em sala sobre os 25 mil alqueires de terras

enfrentado pela agricultura paranaense e

que estavam sendo vendidos a desbrava-

brasileira em geral, que vinha de um pro-

dores dispostos a abrir a mata e tentar a

cesso de descapitalização e endividamen-

vida numa região nova. Segundo Pedro

to. Quem recorria aos bancos teria que se

Paulo, o professor só lamentava que a

sujeitar a taxas de juros escorchantes, em

colonização em solo arenoso, típico do

meio aos descalabros ocorridos no Brasil

noroeste, implicaria no risco iminente

com a sequência dos pacotes econômicos,

de provocar erosão. “As famílias foram

a partir de 1986. Poucos anos antes, em 1982, a angústia do campo havia se traduzido em um protesto de grandes proporções, mobilizado 400 mil agricultores no Rio Grande do Sul e avançado para

Havia um grande número de instituições bancárias, mas os recursos destinados a financiar o campo eram reduzidos. Os bancos, na verdade, fugiam do crédito rural

outras regiões do país. Os bancos corriam do crédito rural e o governo parecia não saber o que fazer. As corporações financeiras eram muitas, formando um sistema poderoso, com instituições oficiais – Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – e estaduais que ultrapassavam os limites de seus Estados, caso do Banco do Estado de São Paulo (Banespa) e o Banco do Estado de 47


Minas Gerais (Bemge), e privadas. Entre

isso excessivamente onerosas -, acabaram

os paranaenses, os dois mais importan-

extintas.

tes eram o Banco do Estado do Paraná

Em meio a um cenário de incertezas,

(Banestado) e o popular Bamerindus, da

a decisiva resposta paranaense, por meio

família Andrade Vieira, que chegou a ser

de suas cooperativas de produção, foi a

uma das maiores organizações bancárias

instituição de cooperativas de crédito ru-

do país, disputando espaço no mercado

ral. As três primeiras nasceram em 1981

com os seus principais concorrentes. En-

e, quatro anos depois, elas já eram dez,

tre eles o Banco Itaú, o Banco Brasileiro

coordenadas pela recém-criada Coopera-

de Descontos (Bradesco), o Unibanco,

tiva de Crédito Rural do Paraná (Coce-

o Banco Nacional (conhecido por ser

crer-PR). Em 1987, outras sete saíam do

um dos patrocinadores do piloto Ayr-

papel e os produtores de Nova Londrina,

ton Senna, que estampava a marca logo

cooperados da Copagra, tinham diante

acima do rosto, no seu famoso capacete

de si a oportunidade que não poderia ser

amarelo), o Banco Mercantil de São Pau-

desperdiçada de contar também com a

lo (ligado à Companhia Melhoramentos

sua própria instituição financeira.

Norte do Paraná), o Banco Mercantil do

No encontro com pioneiros organiza-

Brasil, o Banco Real, o Banco Comercial

do por Jorge Bezerra Guedes, Darci Ber-

do Paraná, o BIC, o Banco Boavista, o

tasi, que foi também contador e profes-

Banco Indústria e Comércio (Comind),

sor, contou que coube a ele, investido na

o Banco Garantia, o Banco Noroeste, o

função de diretor-secretário da Copagra,

Banco América do Sul, o Banco Tozan,

redigir a ata da memorável reunião de 12

o Banco Bandeirantes, o Nosso Banco, o

de setembro de 1988. Na oportunidade,

Banco Sulamericano do Brasil, o Banco

o presidente Olivier Grendene comen-

Geral do Comércio, o Banco Crefisul,

tou ter sido contatado pelo presidente

o Banco de Crédito Nacional (BCN), o

da Cocecrer-PR, Ignácio Aloísio Donel,

Banco Moreira Salles, o Banco Paulista

para que desenvolvesse esforços em sua

do Comércio e outros. Com o passar dos

região visando a criação de uma coope-

anos, as instituições menos competitivas

rativa de crédito. Olivier fez um amplo

foram sendo absorvidas, avançando-se

relato sobre a importância do cooperati-

para um processo de concentração do

vismo de crédito como forma de os pro-

crédito, enquanto outras, principalmente

dutores deixarem de ser reféns do sistema

as geridas pelos governos estaduais, uti-

bancário. Ele explicou que a Cooperativa

lizadas como cabides de emprego e para

Central Agropecuária do Paraná (Cocap,

conceder benesses a apaniguados - e por

extinta anos depois), a Organização das

48


Cooperativas do Estado do Paraná (Oce-

ao então presidente da Ocepar, Ignácio

par) e a Empresa de Assistência Técnica

Aloísio Donel, que mobilizaria dois inte-

e Extensão Rural (Emater), esta última

grantes do Comitê Pró-Constituição de

vinculada à Secretaria da Agricultura, já

Cooperativas de Crédito Rural: a advoga-

detinham muitas informações que pode-

da Mara Santana e o assessor Pedro Mar-

riam orientar na fundação da entidade em

tinez Cebrian, este último ligado à Ema-

Nova Londrina. Desde 1978, funciona-

ter. O presidente da Sicredi Rio Paraná

va na Ocepar o Comitê Pró-Constitui-

PR/SP, Jorge Bezerra Guedes, comentou

ção de Cooperativas de Crédito Rural e

que nessa época era médico-veterinário

contatos vinham sendo mantidos com as

e atuava no departamento de fiscalização

singulares, pelo interior, para apresentar

da Secretaria Estadual da Agricultura em

a proposta. A ideia era que, no futuro, as

Nova Londrina. A demanda da Copagra

cooperativas de produção contassem com

o envolvia diretamente. Jorge, que no se-

o seu braço financeiro e, dessa forma, de-

gundo grau havia feito o curso de técnico

pendessem menos dos bancos. Em 1988,

agropecuário e mais tarde seria graduado

já havia muitos exemplos práticos pelo

também em direito, tinha experiência em

Estado, de forma que, com naturalidade,

associativismo, pois já trabalhara em sin-

o tema mereceu prioridade na Copagra.

dicatos e como extensionista da Emater.

Ficou decidido pelo agendamento, em

Ele não poderia imaginar: anos depois, o

uma próxima reunião do conselho, da

destino faria dele o líder da cooperativa

visita de alguns especialistas, designados

que estava prestes a nascer.

pelo Cocecrer-PR, que pudessem es-

A mobilização dos produtores contou

clarecer sobre o funcionamento de uma

com um apoio importante, do escritório

cooperativa de crédito rural. Nessa oca-

local da Emater, onde o assessor de coo-

sião, recomendou-se que seria indispen-

perativismo Antonio Ferriani Branco,

sável, também, contar com a presença de

que prestava serviços junto a Copagra,

um representante do Banco Nacional de

começou a difundir a ideia.

Crédito Cooperativo (BNCC), o qual possuía agência em Maringá. Pedro Paulo de Mello disse ter sido

CREDI, O BRAÇO FINANCEIRO

convidado pelo presidente Olivier Grendene a fazer a coordenação do grupo de

Na tarde de 10 de outubro, a reunião

trabalho que visava a realizar os primeiros

convocada pelo conselho para inteirar-se

estudos para a constituição da coopera-

das informações para a criação da coope-

tiva. Contatos foram oficializados junto

rativa de crédito rural, atraiu dezenas de 49


participantes e foi realizada na Associa-

momento da Copagra seguir o exemplo

ção Atlética Cultural Copagra (AACC).

de outras cooperativas de produção e so-

Ata redigida pelo diretor Darci Bertasi

mar esforços para viabilizar o seu braço

registra o comparecimento de 38 coo-

financeiro. Ao ser convidado a pronun-

perados ativos, entre os quais os demais

ciar-se, Pedro Cebrian comentou resu-

integrantes dos conselhos de administra-

midamente sobre a história do sistema,

ção e fiscal (Olivier Grendene, Bento So-

destacando o seu avanço e o modelo de

menzari, José Bolivar Garcia Léllis, José

organização praticado em países como

Lopes Pires, Antonio Zotti Neto, Ivan

Alemanha, França e Holanda. Em re-

Chiamulera, Choken Zukeran, Manoel

lação ao Brasil, fez referência ao surgi-

Bono Belaskuzas, João Paulo Giacobbo

mento e a expansão das cooperativas de

e José Teixeira de Carvalho). Participam

crédito nas primeiras décadas do século,

dois convidados especiais: Pedro Marti-

trajetória que acabou sendo prejudica-

nez Cebrian, representando o Comitê

da pelo desvirtuamento que se observou

Pró-Constituição de Cooperativas de

em algumas dessas instituições, utiliza-

Crédito Rural, e o gerente do BNCC em

das para o proveito pessoal de dirigen-

Maringá, José Antonio Pizani.

tes, o que gerou desconfiança em todo

Ao abrir os trabalhos, o presidente

o setor. Segundo ele, o cooperativismo

Olivier Grendene expôs sobre a neces-

de crédito estava sendo, agora, passado a

sidade de desenvolvimento do coopera-

limpo. Os recursos para apoiar a agricul-

tivismo de crédito, relatando que seria o

tura vinham diminuindo gradativamente nos últimos anos, o custo do crédito disponível era abusivo e a inflação fora de controle inviabilizava a tomada de

Uma das lutas, na época, era pela constituição da poupança verde, para financiar a agricultura, uma vez que a poupança tradicional visava a apoiar a construção civil.

financiamentos. Explicou que uma das propostas era pela criação da caderneta de poupança verde, cujos recursos seriam canalizados para incentivar a produção, assinalando que a poupança tradicional visava, basicamente, a financiar a construção civil dos grandes centros urbanos. Pedro Cebrian defendeu reiteradas vezes que a solução para os agricultores seria o cooperativismo de crédito, mas deixou claro sobre a dimensão dos desafios

50


a enfrentar. As cooperativas de crédito

cooperativa de produção, utilizando a

tinham dificuldades para efetuar a capta-

mesma estrutura física e sob a gestão da

ção de recursos a longo prazo; o talão de

mesma diretoria.

cheques era fornecido pelo BNCC, que

Em sua participação, concluindo o

também fazia a compensação; os servi-

evento, o gerente da agência do BNCC

ços de cobrança só estavam permitidos

em Maringá, José Antonio Pizani, de-

pela já antiquada emissão de carnês e,

talhou sobre aspectos relacionados ao

por fim, a instalação de agências não era

funcionamento, bem como as formas de

autorizada, devendo restringir-se à sede

captação de recursos e as modalidades.

da cooperativa de produção. Em outras

Ficou claro aos participantes, em resu-

palavras: havia amarras demais e estímu-

mo, que a agricultura transferia ao siste-

los de menos, mas o único caminho a

ma financeiro quase todas as riquezas que

seguir era esse.

gerava. E, pior: depois retomava esses

Para melhor situar o leitor, no livro “Sicredi Paraná 20 anos” (2006), de au-

mesmos recursos, mas a custos altíssimos. Não podia continuar assim.

toria do jornalista Elóy Olindo Setti,

Com a Constituição de 1988, o Esta-

que reconstituiu os passos da organiza-

do deixava de participar na fiscalização

ção das cooperativas de crédito no Para-

das cooperativas. Elas poderiam orga-

ná a partir de 1982, praticamente tudo

nizar-se livremente, sem a interferên-

era proibido. Por conta dos problemas

cia e a autorização estatal, o que facili-

havidos no passado, as primeiras coope-

tava bastante o processo. No entanto,

rativas de crédito só podiam ser criadas

havia preocupação com essa liberdade

junto às cooperativas agropecuárias, elas

ilimitada, uma vez que além de o Es-

não tinham permissão para associar ou-

tado não mais exercer tutela sobre o

tras pessoas além dos agricultores e eram

setor, não se poderia contar com a es-

proibidas de abrir postos de atendimen-

trutura do Incra (Instituto Nacional de

to. No livro, Pedro Cebrian declarou

Cartografia e Reforma Agrária) para

que na época uma cooperativa de cré-

a tarefa de fiscalização, e muito me-

dito não podia fazer praticamente nada.

nos, do Senacoop (Serviço Nacional

“Você podia se filiar, depositar, sacar,

do Cooperativismo), que havia sido

mas não tinha talão de cheques próprio.

extinto. Cabia então ao próprio coo-

Como você vai entender uma institui-

perativismo, por meio de seus órgãos

ção financeira operando sem talão de

representativos, prestar apoio e fazer o

cheques?” Por fim, o assessor expôs que

controle de seu desenvolvimento, ou

a instituição deveria ser criada junto da

seja, a autogestão. 51


A ECONOMIA BRASILEIRA EM FRANGALHOS

haviam acreditado no plano governamental e contraído financiamentos para cultivar a safra. Naquele mesmo ano, o

No ano de 1988 a economia do Brasil

Estado foi assolado por um longo perío-

passava por enormes dificuldades, con-

do de estiagem que comprometeu a pro-

sequência da turbulenta situação criada

dução e reduziu drasticamente a já pre-

pelo governo a partir de 1986, quando,

judicada capacidade de pagamento dos

ao lançar o Plano Cruzado, promoveu

agricultores.

efeitos danosos para a sociedade brasileira em geral.

Não bastasse tudo isso, o governo editou um novo pacote de medidas ao final

Como este livro relata a história de uma

do primeiro semestre de 1987: o Plano

cooperativa de crédito, necessário se faz

Bresser, ou Cruzado II, que, a exemplo

contextualizar aquele momento. Em 27

do anterior, foi um retumbante fracasso.

de fevereiro de 1986, por meio de uma

As autoridades apostavam suas fichas no

canetada, o governo de José Sarney ten-

controle da instabilidade da economia,

tou estabilizar a economia, editando me-

insistindo no congelamento dos preços,

didas nada ortodoxas como a mudança

dos salários e dos aluguéis; de quebra,

da denominação da moeda de cruzeiro

adotaram a UPR, uma nova referência

para cruzado, o congelamento dos pre-

monetária, para o reajuste de preços e sa-

ços das mercadorias e dos salários e o fim

lários. A confusão era total. O ministro

da correção monetária. Mas a tal “varinha

da Fazenda, Luiz Carlos Bresser Pereira,

mágica” não funcionou. Em apenas 120

via a inflação ascender à absurda taxa de

dias, o ilusório alívio inicial deu lugar ao

23,2% no mês de maio daquele ano, pou-

desespero. Quando o plano foi editado,

cas semanas após tomar posse.

os bancos passaram a oferecer dinheiro

Na tentativa de diminuir o déficit pú-

a taxas mais que convidativas, de 1% ao

blico, o governo desativou o gatilho sa-

mês, e os mutuários deixavam, como ga-

larial, aumentou tributos, eliminou o

rantia, casas, propriedades rurais e outros

subsídio do trigo e adiou a construção de

bens. Tudo não passava de uma embos-

obras de grande porte. Mesmo com tudo

cada. Pouco tempo depois, com o des-

isso, a espiral inflacionária seguia firme-

controle da inflação, as taxas subiram ve-

mente e alcançava o índice assustador de

lozmente a níveis estratosféricos, levando

366% em dezembro de 1987, deixando a

muita gente à ruína.

todos desnorteados.

A situação ficou ainda pior para os

O leitor de menos idade que não vi-

produtores, caso dos paranaenses, que

venciou os episódios da década de 1980

52


talvez ache este relato um tanto exagerado, mas era exatamente assim: a situação beirava às raias do inacreditável. Em paralelo à inflação totalmente fora de controle, que corroia salários e arruinava empresas, a população era aterrorizada, praticamente todas as semanas, ou em períodos ainda mais breves, por anúncios de alta de combustível, tarifas públicas e

Em apenas 120 dias, o ilusório alívio inicial com o Plano Cruzado, em 1986, deu lugar ao desespero, uma vez que os juros subiram a taxas elevadas.

tudo mais. Nos supermercados, remarcadores de preços não tinham descanso e nas casas onde havia um freezer, os moradores tratavam de estocar o máximo de comida possível. Se alguém vendesse um

bancos eram restritivos quanto ao crédito

automóvel e ficasse por alguns dias com o

e cobravam juros muito elevados, mani-

dinheiro guardado em casa, perderia ra-

festações ocorriam em frente às agências,

pidamente de 20 a 30% do seu poder de

bem como bloqueios e passeatas de trato-

compra. Só gostavam da inflação os espe-

res em ruas e estradas. Ninguém aguen-

culadores, aqueles que, sem precisar tra-

tava mais.

balhar, deixavam seu dinheiro aplicado

Nessa época, o então presidente da Or-

e viviam de “rendimentos” ou de agio-

ganização das Cooperativas Brasileiras

tagem. Como a inflação era alta, havia a

(OCB), Roberto Rodrigues, publicou ar-

falsa impressão de que ganhavam muito

tigo em jornais para defender que a mais

também.

importante alternativa para a questão do

Entre os agricultores, crescia ainda

financiamento agrícola estava, defini-

mais o sentimento de que o setor rural

tivamente, na montagem no Brasil de

somente seria forte quando deixasse de

um sistema de crédito rural cooperativo,

depender tanto – e para quase tudo – das

à imagem do que se via nos países mais

instituições bancárias. Praticamente até

desenvolvidos. “Este é um componen-

meados de 1987, muitos produtores ain-

te de profissionalização do setor, através

da viviam sob a angústia de ver suas má-

da assunção, pela agricultura, de funções

quinas e caminhões recolhidos e proprie-

e serviços que hoje cobra do governo.

dades leiloadas. Mais do que nunca, eles

Da mesma forma que o agricultor preci-

sentiam na carne a necessidade de buscar

sa cuidar da tecnologia, da produção de

a independência. E como, na época, os

insumos que utiliza, da armazenagem e 53


da comercialização, da agroindústria e da

A saída seria fazer com que o dinheiro

exportação, é fundamental que o finan-

gerado pela agricultura ficasse nela mes-

ciamento da produção seja também por

ma e em seu único benefício fosse reverti-

ele assumido, através do cooperativismo

do. Nesse aspecto, o Paraná também dava

de crédito.” A ideia do modelo proposto

exemplo, vendo surgir várias cooperativas

era a integração horizontal e vertical. “O

de crédito rural em todo o Estado.

cooperativismo procura constituir cooperativas de crédito rural de primeiro grau ligadas a cooperativas de produção bem

FUNDADA A COOPERATIVA

sucedidas, especialmente porque a base do cooperativismo de crédito é a credibi-

No dia 21 de novembro de 1988, mes-

lidade e a confiança”, ressaltou Rodrigues.

mo com a impossibilidade de participa-

Ainda conforme escreveu o presidente da

ção do presidente Olivier Grendene e

OCB, “a mudança dos normativos hoje

com a presença de 32 pessoas, o conselho

vigentes no Banco Central que – ao di-

da Copagra se reuniu sob o comando do

ficultarem a participação das cooperativas

vice-presidente Bento Somenzari para

de crédito na câmara de compensação de

tratar do assunto que não poderia mais

cheques e ao impedirem a justa remune-

esperar. Era necessário agilizar a funda-

ração dos depósitos a prazo, entre outros

ção da cooperativa de crédito, uma vez

– inibe este movimento.” Roberto Rodri-

que possíveis mudanças no sistema regu-

gues saudava, no entanto, a tendência do

lamentador poderiam dificultar a consti-

BC de rever esses obsoletos normativos,

tuição de novas entidades. Como na reu-

asseverando: “Hoje já existe em nível de

nião anterior já haviam sido feitos todos

presidência do banco, uma comissão de

os esclarecimentos, decidiu-se pela fun-

alto nível que, em pouco tempo, deverá

dação da Cooperativa de Crédito Rural

estabelecer as bases do sistema integrado

do Noroeste Ltda., Credicopagra, esta-

de cooperativas de crédito rural, já bati-

belecendo-se que uma comissão de diri-

zado de Sicredi-BR. Aliás, não obstante

gentes e cooperados, a serem escolhidos

esses normativos, já há um florescente

pela diretoria-executiva, daria imediato

cooperativismo de crédito no país, espe-

andamento ao processo. Compareceram

cialmente no Rio Grande do Sul, onde

também à reunião os conselheiros Dar-

funciona uma central, a Cocecrer-RS, e

ci Bertasi, Antonio Zotti Neto, Manoel

em São Paulo, onde se localizam diversas

Bono Belascuzas, Choken Zukeran, Ivan

cooperativas de fornecedores de cana, e

Chiamulera, José Lopes Pires, João Paulo

da própria Cotia, entre outras”.

Giacobbo e Carlos Henrique de Araújo.

54


Bento Somenzari foi o primeiro diretor-presidente da Credicopagra, Darci Bertasi o diretor-administrativo e Olivier Grendene o diretor de crédito rural.

Cada associado subscreveu 10 mil quotas

e até a Assembleia Geral de 1990, foi for-

-partes no valor de dez mil cruzados, per-

mado por Bento Somenzari (diretor-pre-

fazendo um capital social no montante de

sidente), Darci Bertasi (diretor-adminis-

320 mil cruzados, cabendo ao engenhei-

trativo) e Olivier Grendene (diretor de

ro agrônomo Carlos Henrique de Araújo organizar a documentação que instrumentalizou a fundação da cooperativa. Ignácio Aloysio Donel, Pedro Cebrian e José Orlando Pizani também estiveram na reunião. Ao pronunciar-se, Donel ressaltou que a Copagra, então com 26 anos, havia conseguido destacar-se no cooperativismo paranaense e, certamente, isto também aconteceria com a sua cooperativa de crédito. Já Cebrian recordou-se das vezes em que esteve em Nova Londrina para orientar sobre a fundação da entidade, dizendo-se satisfeito pela concretização desse objetivo.

“A área de ação fica limitada ao município sede e aos seguintes: Marilena, Diamante do Norte, Itaúna do Sul, Loanda, Santa Izabel do Ivaí, Santa Cruz de Monte Castelo, Querência do Norte, Planaltina do Paraná, Terra Rica, Amaporã, Guairaçá, Porto Rico, Nova Olímpia, São Pedro do Paraná e Tapira, Estado do Paraná.”

OS PRIMEIROS DIRIGENTES

Art. 2 do Estatuto Social O primeiro conselho de administração para gerir a cooperativa entre aquela data 55


crédito rural), sendo composto também

mãe, passava por um bom momento e te-

por José Bolivar Garcia Léllis, Manoel

ria condições de suportar por algum tem-

Bono Belascuzas e Ivan Chiamulera. Já o

po as despesas da outra entidade. A legis-

primeiro conselho fiscal teve como efe-

lação era rígida, desfavorável e de nada

tivos Pedro Paulo de Mello, João Paulo

adiantaria a obstinação das lideranças e

Giacobbo e José Teixeira de Carvalho; na

a mobilização dos produtores em torno

suplência, Choken Zurekan e José Lopes

dessa ideia, se a Copagra não pudesse as-

Pires. Ficou deliberado que, inicialmente,

segurar o seu impulso inicial.

não haveria remuneração aos seus integrantes e nem cédula de presença. Eram quase todos eles dirigentes da Copagra, com interesses recíprocos, assim como

Primeiro desafio: produtores estavam desestimulados

também os primeiros associados estavam todos ligados à cooperativa de produ-

“A Copagra patrocinou a cooperativa

ção, o mesmo ocorrendo em relação aos

de crédito e emprestou a ela o seu nome”,

funcionários. As atividades começaram,

observa o presidente da Sicredi Rio Para-

muito timidamente, em março de 1989,

ná PR SP, Jorge Bezerra Guedes. Desde

depois que no dia 14 daquele mês, por

1984 em Nova Londrina, cidade onde

meio do Decur/Recof/Seaut – 89/0245, o

se instalou para prestar serviços como

Banco Central autorizou oficialmente o

extensionista rural da Emater, à qual in-

funcionamento da sociedade, aprovou o

gressou depois de aprovado em concur-

Estatuto Social e homologou os membros

so, o então médico-veterinário era “um

eleitos para os conselhos. A adesão dos

agente de desenvolvimento”, como defi-

produtores foi pequena: apenas alguns

ne. “A gente tinha que olhar a proprie-

mais próximos à administração e também

dade rural como um todo, com foco na

os entregadores de leite, pois recebiam

organização e trabalhando fortemente

seu crédito em conta.

o associativismo”, explica. Ele se recor-

O ex-diretor Darci Bertasi recordou-se

da que, em parceria com a Copagra, fo-

na reunião histórica de 15 de janeiro de

ram estruturados grupos de agricultores

2018 que o município de Nova Londrina

e também de jovens em cada entreposto

precisava com urgência de sua coopera-

da cooperativa, nos quais os participantes

tiva de crédito para apoiar os produtores.

falavam sobre a sua realidade e ouviam

Quanto a isso não havia dúvida, Mas tal

palestras sobre gestão dos negócios, alter-

conquista só foi possível, naquele mo-

nativas de diversificação e outros temas.

mento, porque a Copagra, a entidade

“Nosso principal objetivo era ajudá-los a

56


viabilizarem suas propriedades, a maioria delas de pequeno porte.” Na época, lembra Jorge, Nova Londrina e região engrossavam o fluxo migratório de famílias paranaenses em direção a outras regiões do país. Segundo ele, muita gente estava indo ou fazia planos de ir embora e Rondônia era um dos destinos mais falados. Havia desânimo e falta de perspectivas com o fim da cafeicultura local – afetada pelo nematoide, um ver-

No início, não foi fácil. Mesmo com todas as vantagens tão propaladas do cooperativismo de crédito rural para os produtores, estes se mostravam arredios, hesitantes, demorando a apoiar a ideia.

me do solo que ataca as raízes – e o pouco retorno oferecido pela pecuária. Então, logo que chegou, Jorge integrou-se à equipe composta pelo engenheiro agrônomo Reinaldo Rocha e o assessor de

integrar o departamento de fiscalização

cooperativismo Ireno Chikajevski, mer-

da Secretaria Estadual da Agricultura em

gulhando integralmente em um trabalho

Nova Londrina, Jorge recorda-se que

no qual não havia tempo a perder: “pen-

passou a acompanhar mais atentamente a

sar o município e planejar ações imedia-

movimentação que havia em outras re-

tas para tentar conter o êxodo rural.”

giões do Estado para a fundação de coo-

Uma das saídas era fortalecer a pecuá-

perativas de crédito. Ao mesmo tempo,

ria de leite, presente em muitas proprie-

começou a participar mais da Copagra.

dades, mas com uma produtividade tão

Assim, nos anos seguintes, na fase que

baixa – não mais do que 3 litros/dia por

antecedeu a fundação da Credicopagra e

animal, em média - que nem valia a pena.

após a sua constituição, ele se converteu

Para incentivar os produtores a adotarem

em um propagador do cooperativismo,

novas técnicas e melhorar o seu desempe-

procurando dialogar com os produtores

nho, Jorge começou a organizar torneios

e conscientizá-los sobre a importância da

leiteiros, com a participação da Copagra.

ativa participação de cada um.

Dessa forma, a cooperativa estruturaria

Constituída, mas ainda sem oferecer

um laticínio, ao qual Jorge, como mé-

atendimento, a Credicopagra começou a

dico-veterinário da Emater, manteve-se

receber a integralização de capital social

diretamente envolvido.

de produtores que se associavam. Por al-

Em 1987, deixando a Emater para

gum tempo, os dirigentes e praticamente 57


toda a equipe gerencial e de colaborado-

a ideia era boa mas os produtores estavam

res da Copagra, passou a pedir aos coope-

desestimulados e pareciam não assimilar

rados que fizessem a sua ficha cadastral na

muito bem a sua necessidade de partici-

cooperativa de crédito e integralizassem

pação no ‘banquinho da Copagra’, como

capital. A lógica era que, quando final-

eles chamavam”, relembra Jorge Bezerra

mente entrasse em operação, dentro de

Guedes.

alguns meses, a entidade contaria com um volume de recursos próprios.

O desafio, portanto, se mostrava maior do que o imaginado: no trabalho para ala-

Para os dirigentes, em suas conversas

vancar a cooperativa, começou a ser per-

com os produtores, o mais importante é

cebida uma certa frieza e o afastamento

que o associado seria o dono do negó-

dos produtores, no âmbito regional, por

cio. Se houvesse sobras, estas seriam dis-

mais que lideranças respeitáveis como a

tribuídas, como no sistema cooperativista

de Olivier Grendene conferissem credi-

de produção. Contudo, deixavam claro

bilidade e prestígio à iniciativa. Mesmo

que nessa etapa inicial, como os recursos

com todas as vantagens tão propaladas do

ainda seriam muito escassos, não haveria

cooperativismo de crédito rural para os

como fazer frente aos bancos. A expec-

produtores, estes se mostravam arredios,

tativa era trabalhar firmemente e apostar

hesitantes, demorando a apoiar a ideia.

no futuro: tão logo o sistema se conso-

O motivo o leitor compreenderá logo

lidasse, provavelmente os associados se-

adiante.

riam beneficiados com crédito mais em

Cinco meses após o último encontro

conta que os custos normais de mercado.

na Copagra, em que se decidiu constituir a cooperativa de crédito, os conselheiros foram convocados para duas reuniões em

FOI PEQUENA A ADESÃO

datas muito próximas, no mês de abril. Havia motivos para preocupações.

Inesperadamente, a despeito de todos

Na primeira, na tarde de 14 de abril de

os argumentos e esforços empreendidos,

1989, eles se encontraram para que fos-

a resposta dos produtores não foi a espe-

sem colocados a par de como estava sen-

rada. Nesse início, a adesão era pequena,

do encaminhada a Credicopagra. Pre-

muito abaixo das expectativas, seguindo

sentes Olivier Grendene, Manoel Bono

num ritmo vagaroso, diferente de outras

Belascuzas, Adalberto Carbonieri, Anto-

cooperativas de crédito que iam ganhan-

nio Gomes Silva Filho, Aristides Augus-

do impulso e robustez. “A Credicopagra

to Martins, Fernando Tadashi Kamita-

acabou sendo mais ideológica no começo,

mi, João de Alencar Barbosa, Napoleão

58


Augusto Chiamulera, Tomomi Muraka-

forte dependência das cooperativas de

mi e Pedro Paulo de Mello. Nessa oca-

crédito em relação ao Banco do Brasil,

sião, fora convidado também o funcio-

seu concorrente direto. Sem autonomia,

nário Luiz Carlos Mascarello, ex-gerente

elas serviam como meras repassadoras de

da agência do Bamerindus na cidade, o

crédito do BB. Olivier comentou tam-

qual, devido a sua experiência com ins-

bém, nessa oportunidade, sobre as trata-

tituição financeira, havia sido contratado

tivas que a Organização das Cooperati-

para estruturar e fazer a gestão do novo

vas Brasileiras (OCB) vinha procurando

empreendimento. Ao explanar sobre os

manter com a Febraban (Federação Bra-

preparativos para o início das ativida-

sileira dos Bancos) para a criação de um

des, Luiz Carlos declarou que, apesar da

banco cooperativo. De qualquer forma,

pouca integralização de capital, o início

tanto no caso do BB quando da Febra-

do funcionamento não demoraria mais

ban, a sensação reinante no setor era

do que noventa dias. E, autorizado pelo

bastante incômoda: a de que se estava

presidente, informou que havia repassado

sob o controle de quem não tinha in-

1% da conta capital dos fornecedores de

teresse algum no desenvolvimento do

leite, em grande número na época, para

cooperativismo de crédito no país.

integralizar a cooperativa de crédito.

Para Jorge Bezerra Guedes, a situação era essa mesma. Na visão dele, o Banco Central não via muito progresso no coo-

Uma situação incômoda

perativismo de crédito, pois, conforme algumas lideranças do setor financeiro se

Na segunda reunião, apenas cinco dias

expressavam, imaginava-se que as coo-

depois, o presidente da Copagra e diretor

perativas de crédito não tinham dono e

de crédito rural da Credicopagra, Olivier

eram vulneráveis a desvios de finalidade.

Grendene, reportou-se, apreensivo, às

Morreriam na casca. Chegavam a duvi-

incertezas que pairavam sobre o coope-

dar de sua capacidade de organização e,

rativismo de crédito rural no Brasil. Fa-

de forma clara, a Febraban, por motivos

lando a Bento Somenzari, Darci Bertasi,

óbvios, era contrária ao desenvolvimento

Adalberto Carbonieri, Aristides Augusto

desse sistema de crédito.

Martins, Manoel Bono Belascuzas, João

Foi nesse clima que, pouco tempo de-

de Alencar Barbosa e Tomomi Muraka-

pois, a Credicopagra iniciou timidamen-

mi, ele justificou a falta de convicção que

te a sua operação, ocupando um pequeno

algumas lideranças demonstravam quan-

espaço na sede da cooperativa de produ-

to a continuidade do sistema, devido a

ção. Antes de começar, foi preciso fazer 59


um balanço contábil do período até en-

recursos próprios, de fundos e quotas de

tão, relacionar o montante das integra-

capital. E, por normas estatutárias, era

lizações efetuadas pelos primeiros asso-

obrigada a aplicar 80% desse dinheiro em

ciados, e endereçar uma carta ao Banco

crédito rural, ficando liberada para apli-

Central comunicando o início das ativi-

car os 20% restantes em empréstimos não

dades. A estrutura despertou a curiosida-

especificados.

de dos produtores.

O cooperado que abria sua conta na

Coube à Copagra ceder o espaço físico e

Credicopagra poderia operar exatamen-

provê-lo de móveis, utensílios e dos equi-

te como em um banco tradicional. Teria

pamentos necessários, fornecer material de

o seu talão de cheques e movimentaria

escritório e também os primeiros funcio-

normalmente, com depósitos e saques,

nários. Era como mais um departamento

bem como recolheria tributos e efetua-

na estrutura da cooperativa de produção.

ria o pagamento de tarifas de água e luz. Para entrar na câmara de compensação de

ENFIM, EM FUNCIONAMENTO Como acontecera em relação às demais cooperativas, o Banco Central havia aberto uma conta da Credicopagra no BNCC. O primeiro trabalho foi debitar o pouco dinheiro integralizado pelos associados, que estava no BNCC, e creditá-lo na conta capital dos mesmos, utilizando fichas, nas quais os números eram datilografados. Abertas as conta-correntes, os associados recebiam os talões de cheques for-

”Foi solicitado aos presentes divulgarem a finalidade e os benefícios que trará uma Cooperativa de Crédito Rural para a região, devendo isso ser feito através das reuniões locais e comitês educativos da Cooperativa de Produção”...

necidos pelo banco cooperativo, para movimentá-las. A Credicopagra tornouse uma prioridade para a Copagra, que canalizou todos os seus pagamentos aos cooperados via cooperativa de crédito. De início, a cooperativa trabalhava apenas com depósitos à vista e utilizando 60

(Ata número 001/89 da reunião ordinária do conselho de administração, de 8/5/89)


cheques, as cooperativas de crédito utili-

descobriu-se que o referido funcionário

zavam-se do BNCC. Por isso o talão era

havia provocado uma fraude com recur-

daquele banco. A Credicopagra, por sua

sos dos associados, o que gerou uma ação

capilaridade, fazia também o repasse de

penal e a condenação prolatada no ano

crédito rural do Banco do Brasil e, para

de 1998. A cooperativa não permitiu que

reforçá-la, a Copagra transferiu para ela

nenhum associado tivesse prejuízo, mas o

uma parte dos recursos que movimentava

episódio traria ainda mais dificuldades à

com as instituições financeiras da cidade.

viabilização da estrutura.

Até então, a Copagra supria os seus cooperados com recursos para o financiamento de insumos, pagos a prazo. O dinheiro provinha principalmente de

O PROBLEMA QUE RESPINGOU AQUI

grandes bancos, que usavam as cooperativas de produção para aplicá-lo em crédito rural.

O problema, na realidade, não se limitava ao que havia acontecido na Credicopagra e isto ficou claro na reunião histórica promovida em 15 de janeiro de 2018.

A ideia quase morreu na casca

Havia outro preocupante fator em cena. O presidente da Sicredi Rio Paraná PR/ SP, Jorge Bezerra Guedes, descreveu que

Tudo bem: se o cooperativismo de cré-

uma das principais causas dessa indife-

dito era, como foi dito reiteradas vezes,

rença teria sido o desencanto dos produ-

a única alternativa para os produtores

tores locais, em grande parte de origem

rurais não ficarem tão reféns do sistema

gaúcha, com os rumos do cooperativis-

bancário - onde os recursos para apoiá

mo no Rio Grande do Sul. Depois de

-los em seus negócios estavam cada vez

apresentar um pujante crescimento e se

mais minguados e caros -, por qual moti-

tornar referência para os demais Estados,

vo eles se mostravam relutantes em aderir

o sistema cooperativo sul-rio-granden-

à sua cooperativa?

se, antes motivo de orgulho, mergulhara

Um fato negativo poderia ter coloca-

em dificuldades, não atendera às expec-

do tudo a perder já no nascedouro da

tativas a que se propusera e isto acabou

cooperativa. Para colocá-la em funcio-

impactando a recém-nascida cooperativa

namento, fora contratado um profissio-

de crédito de Nova Londrina, município

nal experiente no sistema bancário. Pas-

onde as famílias provenientes de terras

sados alguns poucos meses, no entanto,

gaúchas eram numerosas. 61


“Cooperativa, não!”

cooperativismo no Rio Grande do Sul desgastava não apenas a Credicopagra,

“Quando a gente saía para tentar

mas o sistema cooperativista como um

convencer os produtores a abrirem

todo. Sem esquecer que as organiza-

conta na Credicopagra, eles comenta-

ções desse setor - a exemplo do que

vam sobre os problemas do cooperati-

se observara naquela difícil década

vismo no Rio Grande do Sul, que era

de 1980 com as empresas em geral -,

o mais respeitado na época. Por isso,

muitos prejuízos acumularam em ra-

a gente evitava falar em cooperativa,

zão dos graves problemas econômicos

achava melhor falar no ‘banquinho da

enfrentados pelo país, que pareciam

Copagra’”, relembrou o ex-conselhei-

não ter trégua.

ro Aléssio Roman, explicando que algumas pessoas não queriam mais nem ouvir falar em cooperativa. Segundo o também ex-conselheiro Arnaldo Mazzotti, as adesões aconteciam, não raramente, mais pela amizade e o respeito que os produtores tinham por Olivier Grendene e seu grupo, do que pelos propósitos da cooperativa. Procuravam apoiá-los em sua causa. “Mais do que uma liderança cooperativista, o Dr. Olivier era um grande e muito querido líder político”, frisou. Se por um lado muitas das famílias procedentes do Rio Grande do Sul demonstravam não nutrir a mesma con-

”Foi apresentada uma proposta para implantação de um sistema próprio de processamento de dados dos serviços da Cooperativa, uma vez que vêm sendo prestados pela Cooperativa de Produção, que tem dado preferência aos próprios serviços, deixando em atraso os da Cooperativa de Crédito”...

fiança e a boa vontade de antes com o cooperativismo, o que dizer daqueles que tinham vindo de outros Estados, como os paulistas, e relacionavam o sistema cooperativo aos gaúchos? O cenário não era nada favorável. A verdade é que a difícil situação do 62

(Ata número 002/89 da reunião ordinária do conselho de administração de 01/09/89)


O governo judiou

uma enorme perda no seu poder de troca, acumulada ao longo dos anos, como

Depois dos citados planos econômi-

efeito de uma política equivocada para

cos Cruzado e Bresser, que colocaram

o setor. De acordo com números da

a economia de pernas para o ar, o ano

Ocepar, em junho de 1986 um produ-

de 1989 começava com uma nova in-

tor precisava de 1.338 sacas de soja ou

vestida do governo, na tentativa de

2.063 sacas de milho ou ainda de 75 mil

arrumar a casa. No dia 16 de janeiro,

litros de leite para adquirir um trator

em meio ao descrédito geral, o presi-

MF-275. Poucos anos depois, em ja-

dente Sarney lançava o Plano Verão.

neiro de 1990, a diferença era abismal:

Entre as medidas anunciadas, uma lei

3.138 sacas de soja ou 5.185 sacas de

modificava o rendimento da cader-

milho para comprar a mesma máquina,

neta de poupança, promovia o con-

que custava nada menos que o equiva-

gelamento de preços e salários, criava

lente a 165 mil litros de leite.

uma nova moeda - o Cruzado Novo, inicialmente atrelado ao dólar -, e decretava o fim da OTN, ferramenta

UMA LUTA RENHIDA

que referenciava a correção monetária. E assim como já havia acontecido

O espaço em que ficava localizada a

com o Plano Bresser, o Verão tam-

Credicopagra, no interior da sede da

bém trouxera desajustes às cadernetas

cooperativa, havia sido pintado numa

de poupança, registrando perdas que

cor diferente das demais dependên-

chegavam a mais de 20%.

cias, para continuar chamando a aten-

Com a economia em constante cri-

ção dos produtores que, com o passar

se, a agricultura seguia seu curso aos

dos meses, iam se aproximando e co-

trancos e barrancos e ninguém tinha

meçando a fazer negócios. Por mais

motivos para comemorar, a não ser as

que aquela estrutura financeira fosse

instituições bancárias, que faturavam

acanhada, as agências bancárias de

mais do que nunca com a transferên-

Nova Londrina já percebiam que algo

cia da riqueza do campo para o sistema

começava a mudar. Apesar de todas as

financeiro.

dificuldades e limitações enfrentadas

No final de 1989, ao chegar ao tér-

pelo cooperativismo de crédito no

mino do seu mandato, o presidente

país até então, o movimento só fazia

José Sarney deixava uma herança que

crescer no Paraná e em outras regiões

nenhum agricultor gostaria de receber:

do país. 63


Muitas adversidades

determinação para beneficiar os produtores rurais, não fosse bem-sucedido”,

Olivier Grendene e seu grupo haviam

assevera.

se empenhado de corpo e alma em mais

Esse temor, que perdurou por algum

essa luta e sabiam de antemão que nada

tempo, começaria a dissipar-se lenta-

seria conquistado com facilidade. Esta-

mente, “mas foram muitos os trancos e

vam habituados às lutas renhidas pelo

solavancos”, reitera Jorge. Em resumo,

desenvolvimento econômico do muni-

os desafios nessa história inicial da Cre-

cípio e região e mesmo analisando que

dicopagra somente poderiam ter sido

os desafios, às vezes, pareciam grandes

superados com muita confiança e deter-

demais, nunca deixavam de acreditar. A

minação. “Chegou uma época em que só

experiência de vida conferia a ele e a seus

restou ao presidente da Copagra, Olivier

companheiros a necessária resiliência nas

Grendene, expressar a sua convicção pes-

constantes adversidades, a percepção para

soal, a sua palavra, de que a cooperativa

entender os altos e baixos de uma jornada

de crédito, mesmo tão enfraquecida, te-

na qual poucos se habilitariam a enfrentar,

ria um grande futuro se os produtores a

a assimilar conhecimentos novos mesmo

apoiassem.” Era difícil, muito difícil ser

no amargor de eventuais frustrações, a

convincente àquela altura e fazer com

vislumbrar oportunidades onde nada se

que eles continuassem acreditando no so-

podia ver e, principalmente, a confiar

nho que, para alguns, parecia irrealizável.

sempre nos frutos do trabalho em união.

Felizmente, a maior parte dos produto-

Até que a Credicopagra se estruturasse, foram muitos e os mais variados os reve-

res acreditou – e a história seguiu o seu curso.

zes dos quais foi vítima, chegando-se a

No dia 6 de fevereiro de 1990, durante

pensar, na cidade, que a cooperativa não

Assembleia Geral Ordinária, é realizada

sobreviveria.

prestação de contas do exercício 1989 e

Jorge Bezerra Guedes lembra que uma

eleito o conselho que governaria a en-

conjunção de adversidades parecia cons-

tidade até 1993, permanecendo Bento

pirar para impedir o desenvolvimento da

Somenzari na presidência, Darci Bertasi

entidade. “Olivier Grendene o seu gru-

como diretor-administrativo e Olivier

po foram colocados à prova de todas as

Grendene na função de diretor de cré-

formas. Foi um período muito sofrido

dito rural, ao lado dos demais conselhei-

e até mesmo de constrangimentos para

ros Ivan Chiamulera, José Lopes Pires e

eles, pois havia o receio de que o proje-

Gilberto Carlos Fadel. No conselho fis-

to ao qual haviam se dedicado com tanta

cal, são aclamados Pedro Paulo de Mello,

64


Luiz Valdir Moreira e Jaime Mega (efe-

emitidas e estavam a caminho da com-

tivos), Gilberto Luiz Roman, Valdir An-

pensação, já não valiam mais nada, pois

tonio Palmieri e Luiz Lúcio (suplentes).

não havia como compensá-los e foram devolvidos. Com a devolução, os credores correram atrás dos produtores emi-

UM PESADELO, O FIM DO BNCC

tentes que, por sua vez, cobravam explicações da Credicopagra. Para complicar,

No dia 16 de março de 1990, um dia

ninguém na cooperativa ou em qualquer

depois de tomar posse, o presidente Fer-

outra do Brasil, sabia informar aos asso-

nando Collor de Mello anunciava mais

ciados onde tinha ido parar o seu dinhei-

um plano mirabolante para tentar co-

ro. A confusão era geral. Só com o passar

locar a economia nos trilhos. Seria um

das semanas é que começaram a circular

novo pesadelo para a população, em que

notícias dando conta que a Organização

houve a retenção da maior parte dos re-

das Cooperativas Brasileiras (OCB) esta-

cursos que estavam em conta-corrente

va tratando do assunto junto ao governo.

e também os depositados na poupança,

Ata da AGO da Credicopagra de 23 de

congelados os preços das mercadorias e

fevereiro de 1991 registra que as medi-

salários, eliminados os incentivos fiscais

das do chamado Plano Brasil Novo, do

e reajustadas as tarifas dos serviços públi-

governo Collor, “alcançaram a todos os

cos. Entre outras medidas, Collor extin-

brasileiros e impuseram especialmente ao

guiu diversos institutos governamentais, decretando o fechamento do Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC), instituição de grande interesse na época para o cooperativismo e a agricultura. Sem dúvida, o fim inesperado do BNCC ampliou em muito as dificuldades para as cooperativas de crédito. De um dia para o outro, elas perderam o talão de cheques, a câmara de compensação e até a caderneta de poupança. Fácil imaginar o tamanho estrago e os transtornos que isso ocasionou aos associados, uma vez

O fim inesperado do BNCC ampliou em muito as dificuldades para as cooperativas de crédito. De um dia para o outro, elas perderam o talão de cheques, a câmara de compensação e até a caderneta de poupança

que seus talões de cheques haviam perdido a utilidade. As folhas que tinham sido 65


sistema cooperativo de crédito, às coo-

um sério dilema: elas estavam, nesse novo

perativas de produção, seus cooperados

cenário, completamente vinculadas ao

e funcionários, um duríssimo desafio. A

BB – e mais dependentes do que nunca

extinção do BNCC deixou-nos total-

de seu concorrente direto. “O novo con-

mente desamparados”.

vênio firmado é parcial, o que nos obriga

Nessa situação, as cooperativas de cré-

a diminuir o ritmo de nossas atividades,

dito ficaram à deriva e a única solução

deixando-nos poucas opções de oferta a

encontrada pela Cocecrer-PR foi fazer

nossos associados”, incluiu a ata.

um acordo com o Banco do Brasil, o que demorou vários meses para concretizarse. Elas passaram a utilizar o talão de che-

PREGANDO NO DESERTO

ques e também a câmara de compensação do BB, além de captarem poupança para

Jorge Bezerra Guedes conta que se as

esse banco. Só assim as cooperativas con-

dificuldades já eram grandes para as coo-

seguiram retomar o seu funcionamento

perativas de crédito, acabaram ficando

com alguma normalidade, mas diante de

ainda maiores após as duras medidas tomadas pelo governo Collor. “O sistema ficou muito desacreditado, o produtor não se interessava pela cooperativa de crédito, ele continuava aceitando a ideia,

...”Por mim, secretário, foram apresentadas as propostas de admissão de novos cooperados, senhores Olaf Fey, José Ribeiro de Souza, Geraldo Apolinário de Oliveira, Jorge Bezerra Guedes...”

mas não investia na estrutura. “Os dirigentes e voluntários do cooperativismo de crédito pregavam no deserto”, afirma, acrescentando que poucos aceitavam fazer parte dos conselhos de administração e fiscal, até porque deveriam assinar financiamentos em que colocavam seus bens pessoais como garantia, sem que houvesse algum incentivo ou remuneração.

(Ata número 007/91, da reunião ordinária do conselho de administração de 23/05/91)

Ao participar de uma reunião do conselho fiscal da Cocecrer, no mês de janeiro de 1992, em que foi analisado o desempenho das cooperativas de crédito, o presidente Bento Somenzari voltou muito preocupado para Nova Londrina. A Credicopagra

66


estava entre as últimas no ranking, “com

O SETOR SEM APOIO

um patrimônio líquido muito baixo e um volume de depósitos em conta-corren-

Como se previa, o plano de estabiliza-

te disponível igualmente inexpressivo”,

ção econômica não teve resultado e a in-

conforme registra a ata 013/92 da reunião

flação voltou com força total, castigando

ordinária do conselho de administração

principalmente a população das camadas

de 30.01.92. Na oportunidade, Somenzari

menos favorecidas. O Brasil vivia tempos

foi avisado de que a sua entidade iria re-

de sobressaltos e, em meio a tudo isso,

ceber em breve a visita de representantes

foram editadas novas medidas para reor-

da central: “seremos alertados que devemos

ganizar a economia, ainda mais duras,

melhorar ou então convidados a dissolver a

como a desindexação, o controle de pre-

cooperativa”, registrou.

ços e salários e novos aumentos das tarifas

Mas, sem entregar os pontos, na ata da

públicas. Na agricultura, o produtor viu

AGO realizada em 31 de março de 1992,

agravar-se o processo de descapitalização

consta que o presidente chegou a pedir aos

em que já se encontrava há anos, teve

associados que fossem “mais otimistas”,

seus ganhos reduzidos em termos reais e

pois vários deles acreditavam que com a

foi obrigado a conviver com pesadas ta-

extinção do BNCC, o sistema de crédito

xas de juros e altos custos de produção.

não se sustentaria por muito tempo.

Em 1992, a Ocepar elaborou a “Carta de

A Credicopagra, na medida de suas

Curitiba em Defesa da Agropecuária”,

possibilidades, prestou serviços essenciais,

que exigia, entre outras medidas, apoio

financiou o custeio da produção por meio

ao setor, lembrando que as cotações agrí-

do repasse e garantiu amparo aos produ-

colas estavam 30%, em média, abaixo dos

tores que pediam Proagro [Programa de

preços mínimos. Na Carta, entregue ao

Garantia da Atividade Agropecuária]. E,

governo, o presidente da entidade, Igná-

naquela mesma AGO, anunciou a inten-

cio Aloysio Donel, lembrava ainda que a

ção de abrir uma agência em Querência

queda real da renda dos produtores che-

do Norte como alternativa para alavancar

gava a 50% nos últimos dez anos. Mes-

sua operação, além de iniciar a distribui-

mo assim, os produtos agrícolas nacionais

ção de talonário de cheques especiais aos

perdiam espaço para importados por cau-

associados.

sa dos subsídios recebidos pelos produto-

Em resumo: para tentar escapar da in-

res em países concorrentes.

solvência, a cooperativa não poderia ficar

Preocupado com o efeito direto de

restrita aos cooperados da Copagra, mas

sua política equivocada para o campo,

buscar associados pela região.

que resultara na diminuição da safra de 67


alimentos, o governo lançou algumas

legais e regulamentações pertinentes. O

medidas para tentar reanimar os produ-

único obstáculo, segundo Gustavo Loyo-

tores. Nesse contexto, as cooperativas

la, seria o artigo 46 da Resolução número

continuaram sendo fundamentais, as-

1914, que precisava ser revisto para abrir

segurando o fornecimento de insumos

a legislação ao cooperativismo de crédito.

básicos e fazendo a complementação dos

Por isso, há o reconhecimento, por par-

recursos financeiros a custos suportáveis.

te do setor, de que Gustavo Loyola não só se mostrou favorável ao sistema, como determinou que os técnicos do Banco

ENFIM, BOAS NOTÍCIAS

Central preparassem os normativos, tornando esse objetivo possível.

Depois de vários anos consecutivos de dificuldades, aflições, entraves, graves problemas e uma situação sufocante que parecia não ter fim, o cooperativismo de crédito havia resistido a duras penas e a Credicopagra estava entre as organizações “sobreviventes”. No Rio Grande do Sul, no Estado de São Paulo e mesmo no Paraná, algumas delas haviam encerrado atividades, a exemplo do que acontecera também no segmento da produção. O caso mais emblemático havia sido a insolvência da Cotia, uma das maiores do Brasil na época, e outras cooperativas importantes estavam prestes a fechar as portas. No meio desse tiroteio de notícias pouco alvissareiras, uma, pelo menos, agradou as lideranças do cooperativismo de crédito. Em 1993, ao ser consultado pela

...”Apesar das tentativas, o sistema financeiro continuou submetido a constrangimentos que afetaram a rentabilidade das operações. Nós, cooperativas de crédito, pequenas e desamparadas, amarradas a convênios que restringem nossas atividades, somos dentro do sistema financeiro, as que mais sentiram os reflexos desses acontecimentos”...

OCB, o presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, declarou que nada tinha contra a pretensão do sistema cooperativo brasileiro de constituir um banco múltiplo, desde que observadas as normais 68

(Trecho do relatório de administração de 1992)


Recorda-se que com a extinção do

contava até então com 607 associados, a

BNCC em 1990, o cooperativismo bra-

assessora jurídica da Cocecrer-PR, Mara

sileiro havia ficado à deriva, sem o seu

Santana, explicou que estava em anda-

banco. E as cooperativas de crédito rural

mento uma reforma estatutária para que

dependiam excessivamente do Banco do

aquela central assumisse o gerenciamento

Brasil, que demonstrava não ter interesse

do Sistema de Crédito Rural Cooperativo

em apoiar o desenvolvimento do sistema.

(Sicredi) no Estado, onde operavam 32

Desde então, as cooperativas passaram a

cooperativas. Seria um passo importante

articular-se com o objetivo de constituir

também, segundo ela, para fortalecer e

um banco próprio.

ampliar os serviços oferecidos.

Os ventos pareciam, mesmo, ter mudado de direção. Em 1992, por decisão de todas as cooperativas, a antiga Cocecrer

A Credicopagra por um fio

-RS e suas filiadas haviam se unificado com a denominação de Sistema de Cre-

O sonho de contar com um banco pró-

dito Cooperativo, Sicredi. Tal episódio

prio impunha exigências às cooperativas

teria especial relevância para o futuro do

de crédito, que deveriam melhorar o seu

cooperativismo de crédito no Brasil, por-

patrimônio líquido, sob pena de enfren-

que se começava a trabalhar o embrião de

tarem ainda mais dificuldades. Era o caso

um banco para o setor.

da Credicopagra, que vinha apresentando

Em 1992, Pedro Paulo de Mello e Jorge Bezerra Guedes são eleitos membros efetivos do conselho fiscal da cooperativa. E, no dia 24 de março de 1993, completada a gestão liderada por Bento Somenzari, um novo conselho é aclamado em AGO, agora sob a presidência de Olivier Grendene, tendo como companheiros o diretor-administrativo Manoel Bono Belascuzas, o diretor de crédito rural Valdir José Veit e outros três integrantes: Adalberto Carbonieri, Jorge Bezerra Guedes e Pedro Paulo de Mello.

Há o reconhecimento, por parte do setor, de que o presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, teve atuação importante no sentido de que o segmento cooperativista pudesse contar com um banco próprio.

No ano de 1994, ao participar como convidada da AGO da Credicopagra, que 69


entidade. Mas como conseguir isso, em meio a tantas adversidades? A situação era desesperadora.

”Hoje a Credicopagra conta no mercado de investimentos, com as poupanças RDC (Recibo de Depósito Cooperativista) a prazo fixo, o Fundo de Aplicação Diário, o “Fundão” e, para meados do primeiro semestre de 1994, teremos o commodities. Por não ser um banco, e sim uma cooperativa de crédito, foram grandes as conquistas”...

Em relação ao banco, a mesma ata registra que a circular 229 de 05/10/94 da Cocecrer-PR, informava da realização de um concurso interno entre a central, suas filiadas e funcionários, para escolher a denominação e a sigla da instituição prestes a ser fundada.

O PLANO REAL Nesse mesmo ano de 1994, o presidente Itamar Franco conseguiria, finalmente, organizar e implementar um programa de estabilização econômica com resultados duradouros, iniciado oficialmente no

(Trecho do relatório de administração de 1993)

dia 27 de fevereiro. A Medida Provisória 434 havia instituído a Unidade Real de Valor (URV), estabelecido regras de conversão e uso de valores monetários, iniciado a desindexação da economia e determinado o lançamento de uma nova

resultados negativos seguidamente. A

moeda, o Real. Foi o mais amplo progra-

cooperativa “sangrava”, parecia conde-

ma econômico já realizado, e tinha como

nada a desaparecer. “Para a Credicopagra

objetivo principal o controle da hipe-

se viabilizar é preciso que haja cresci-

rinflação. Utilizava-se de diversos ins-

mento de nosso patrimônio líquido, que

trumentos econômicos e políticos para a

é muito baixo”, relata a ata de número

redução da inflação que chegara a 46,6%

31 da reunião ordinária do conselho de

em junho de 1994, época de lançamento

administração de 07/10/94, mencionan-

da nova moeda. A idealização do proje-

do a necessidade de conscientizar os as-

to, a elaboração das medidas do governo

sociados para que eles capitalizassem a

e a execução das reformas econômica e

70


monetária contaram com a contribuição

janeiro de 1989, quando a moeda en-

de vários economistas, reunidos pelo en-

colheu mais três zeros e virou Cruzado

tão ministro da Fazenda e futuro presi-

Novo; pouco tempo depois, em 16 de

dente da República, Fernando Henrique

fevereiro de 1990, voltava a ser Cru-

Cardoso. Era o conjunto de medidas de

zeiro, mantendo os zeros. E passou a

estabilização econômica mais eficaz da

chamar-se Cruzeiro Real a partir de 10

história, combatendo a inflação, recupe-

de agosto de 1993, perdendo três zeros.

rando o poder de compra da população

Por fim, desde 1º de julho de 1994, a

e remodelando os setores econômicos

mudança em definitivo para Real.

nacionais.

SEM DINHEIRO NA PRAÇA UM FESTIVAL DE ZEROS Se por um lado o Plano Real conserParece piada, mas não é. Os livros re-

tou a economia, de outro os produtores,

gistram o tamanho descalabro da eco-

mais uma vez, tiveram que assumir um

nomia brasileira num período de apenas

ônus muito pesado. Inacreditavelmen-

29 anos, entre julho de 1965 e junho de

te, as medidas não previam preservar o

1994. Em tão curto espaço de tempo, a

segmento rural, que já vinha debilitado

inflação acumulou 16 dígitos e um per-

em razão dos desastrados pacotes an-

centual inacreditável de 1,1 quatrilhão

teriores. O maior problema estava nos

por cento. Os brasileiros perderam a

contratos de financiamentos assinados

noção do tamanho desses números por-

antes de junho de 1993, em que os to-

que, a cada reforma monetária ocorrida

madores foram prejudicados pela cor-

a partir de 1986, eram eliminados três

reção da Taxa Referencial (TR) plena.

zeros do valor da moeda, totalizando

Isto significa que, por exemplo, o agri-

doze.

cultor que tomou dinheiro emprestado

Com o Plano Real, o Brasil acertou

em 28 de abril de 1993, em vez de seu

sua economia e acabou com as cons-

débito ser corrigido dessa data até o fi-

tantes mudanças do dinheiro. Para se

nal do mês em 2,5%, foi atualizado com

ter ideia, de 1986 a 1994, a moeda teve

a TR plena do mês, de 28,22%.

cinco denominações. Até 28 de feverei-

Por outro lado, a retração do crédito

ro de 1986, vigorava o Cruzeiro que,

rural se acentuava: o governo prometia

naquela data, perdeu lugar (e três ze-

muito, mas dinheiro que é bom, os pro-

ros) para o Cruzado; isso foi até 15 de

dutores não viam a cor. Isso pressionava 71


as cooperativas de produção, obrigadas

frustração de safra.

a achar meios de financiar a venda de

Configurava-se o que ficou conhe-

insumos básicos aos cooperados e tam-

cido como “boca do jacaré”: o des-

bém as de crédito, caso da Credicopa-

compasso entre o brutal aumento dos

gra, que não podia fazer muita coisa,

custos e a forte redução na capacidade

mas ajudava o quanto possível.

de pagamento. Essa defasagem entre as despesas e a receita agravou ainda mais a descapitalização do setor. Muitas coo-

SE CORRER O BICHO PEGA...

perativas, que já vinham sofrendo por causa dos planos anteriores, passaram

Os pequenos e médios produtores

por sérias dificuldades e provavelmente

precisavam aguardar até o final do pra-

não sobreviveriam não fosse pelos pro-

zo de plantio para saber como arranjar

gramas implantados nos anos seguintes,

o total de recursos que necessitavam.

à custa de muita pressão do setor, como

O jeito, para muitos deles, que esta-

securitização [tornar uma dívida com

vam sendo socorridos em parte pelas

determinado credor em dívida com

cooperativas, era completar com as

compradores de títulos no mesmo va-

próprias reservas ou, em último caso,

lor], Pesa (Programa Especial de Sanea-

recorrer aos bancos e sujeitar-se aos

mento de Ativos) e Recoop (Programa

juros altos. Para complicar ainda mais,

de Revitalização de Cooperativas de

os preços dos principais produtos agrí-

Produção).

colas, como soja e milho, estavam em queda no mercado internacional, o que aumentava muito o risco de não con-

Transferência de renda

seguirem quitar os seus compromissos financeiros, sobretudo se houvesse uma

Se

as

cooperativas

de

produção

Configurou-se o que ficou conhecido como “boca de jacaré”: o descompasso entre o brutal aumento dos custos e a forte redução na capacidade de pagamento.

72


cambaleavam, as de crédito a elas atre-

de seis na diretoria da cooperativa de

ladas, balançavam para o mesmo lado.

crédito. O médico pioneiro em Nova

De acordo com o livro “Ocepar 35

Londrina, que havia entrado para a his-

anos”, o plano econômico, em sua fase

tória como o terceiro prefeito da cida-

inicial, foi extremamente prejudicial ao

de e se consolidado entre as lideranças

setor produtivo. Nesse período, ainda

mais respeitáveis do cooperativismo

segundo a publicação, a maior parte dos

paranaense, estava passando o bastão:

informes produzidos no ano de 1995

era o momento de abrir espaço para que

trouxe reportagens e estudos relaciona-

outros dessem seguimento ao trabalho.

dos à crise do setor agropecuário. Uma

Com seu entusiasmo contagiante e uma

das manchetes era: “TR [Taxa Referen-

admirável capacidade realizadora, havia

cial] tira R$ 3,6 bilhões do campo”. E,

dedicado muitos anos de sua vida à cau-

segundo uma reportagem, a renda da

sa cooperativista. Confiante, não tinha

agricultura brasileira havia encolhido

dúvida: tanto a Copagra quanto a Cre-

R$ 5,6 bilhões.

dicopagra ficariam em boas mãos. Oli-

A aflição era tamanha que, em julho

vier apresentara sua renúncia na AGO

de 1995, eclodiu o movimento “Eu não

de 31 de março daquele ano, justifican-

posso plantar – marcha sobre Brasília”,

do que precisava cuidar da saúde, apro-

quando cerca de 600 caminhões esta-

veitando que o diretor-secretário Valdir

cionaram nas ruas centrais da capital

José Veit também pedira desligamento.

federal, o que motivou um pronuncia-

As atas das Assembleias Gerais Ordi-

mento raivoso do presidente Fernando

nárias demonstram que Olivier sempre

Henrique Cardoso em cadeia de rádio e

pensou, primeiro, na saúde da coopera-

televisão, no qual chamou os produto-

tiva de crédito, dispensando pró-labore

res de “caloteiros”. Na mesma oportu-

e ajudas de custo, no que foi seguido

nidade, anunciou recursos para as coo-

pelos demais conselheiros.

perativas liberarem aos seus cooperados.

OLIVIER DEIXA O COMANDO

Pedro Paulo e Jorge assumem

O ano de 1995 foi de mudança no co-

Na cooperativa de crédito, assumia

mando da Credicopagra. O presidente

temporariamente a presidência, Pedro

Olivier Grendene completava o seu ci-

Paulo de Mello e, na vice-presidência,

clo de 14 anos à frente da Copagra e

encarregando-se também do cargo de 73


diretor-executivo, uma jovem liderança

não se sensibilizavam diante da necessi-

cooperativista: Jorge Bezerra Guedes.

dade de capitalização da estrutura para

Pedro Paulo fizera parte do Conse-

que a mesma tivesse fôlego e pudesse

lho Fiscal em 1988 e 1989 e depois, em

cumprir sua finalidade. Por outro lado,

companhia de Jorge, em 1992 e 1993.

contava-se apenas com 3 funcionários e

Ambos integraram, também, o Conse-

havia 16 contratos de financiamentos,

lho de Administração de 1993 a 1995.

todos de reduzida monta, com cerca de

Jorge esclarece que em 1995, com a

R$ 200 mil em depósitos. Por sua vez, o

Copagra em dificuldades financeiras, o

crédito rural era diminuto, pois não se

Banco Central havia estabelecido uma

fazia o repasse de outros bancos, exceto

norma vedando que a mesma diretoria

o que já era escasso, do BB. “Havia 296

continuasse à frente das cooperativas

associados, a maioria inativa. Após uma

de produção e de crédito, como vinha

análise criteriosa de cada uma das fichas

acontecendo até então. E, por sugestão

cadastrais, decidimos pela eliminação

do conselheiro Nélson Bono Maior, ele

de muitos deles, restando 176 que par-

e Pedro Paulo foram convidados para

ticipavam ativamente ou apresentavam

compor a diretoria, cujo mandato se

potencial para permanecer na coopera-

encerraria no ano seguinte.

tiva”, relata Jorge.

Antes de assumir o comando da coo-

Na sequência, teve início um traba-

perativa, a nova direção fez duas exi-

lho mais incisivo, de corpo a corpo,

gências: contar com o apoio total e ir-

na busca de novos associados e pelo

restrito do Conselho, e a garantia de, sob qualquer hipótese, haver ingerência na administração.

ACELERAR Diante da concordância dos demais, foram investidos em suas funções e já sabiam que seria preciso, sem mais delongas, tomar medidas para reestruturar a entidade que vinha operando de forma mínima, mantendo-se à base de pequenas tarifas e juros. Os associados, em grande parte, estavam inativos e 74

A cooperativa tinha apenas 3 funcionários e 16 contratos de financiamentos, todos de reduzida monta. Eram 296 associados, em sua maior parte inativos.


convencimento dos que permaneceram no quadro social, para que participassem mais efetivamente da instituição.

um crescimento mais consistente. Para Pedro Paulo de Mello, a autorização do governo federal para a cons-

Pedro Paulo de Mello, à época pro-

tituição de bancos cooperativos foi um

dutor rural, pecuarista, membro da Fe-

marco, enfim, para a independência e

deração da Agricultura do Estado do

o desenvolvimento do setor. Quanto

Paraná (Faep) e dirigente do Sindicato

isto aconteceu, segundo ele, as centrais

Rural de Nova Londrina, ressalta que

já haviam evoluído, estavam amadure-

a cooperativa vinha se mantendo, até

cidas em seus objetivos e confiantes de

então, mais pela amizade e a credibi-

que esta seria uma conquista definiti-

lidade de seus dirigentes. “A partir do

va para a sobrevivência e o futuro das

momento em que entramos, foi dado

cooperativas.

foco ao negócio.” “Não havia remuneração no primeiro ano e nem cédula de presença. Entramos com a cara e a coragem, certos de que daria tudo certo”, comenta Jorge.

CONSTITUÍDO O BANSICREDI Ainda em 1995, o cooperativismo de crédito comemora a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN), que autoriza pela primeira vez na história do país a constituição de bancos cooperativos privados, tendo como acionistas exclusivamente as cooperativas de crédito. Era constituído o Banco Cooperativo Sicredi S.A. (Bansicredi). Nesse ano que assinala a permissão para o funcionamento de bancos cooperativos, o Paraná contava com aproximadamente

“Havia 296 associados, a maioria inativa. Após uma análise criteriosa de cada uma das fichas cadastrais, decidimos pela eliminação de muitos deles, restando 176 que participavam ativamente ou apresentavam potencial para permanecer na cooperativa” (Jorge Bezerra Guedes)

32 mil produtores associados a cooperativas de crédito, setor que passou a ter 75


Ao lado, ata de constituição da Credicopagra, a cooperativa que serviu de embrião para a atual Sicredi Rio Paraná PR/SP. Na outra foto, a sede da Copagra, que por vários anos abrigou as modestas instalações da entidade (veja nos detalhes). Muitas reuniões foram realizadas junto aos produtores cooperados, para disseminar a ideia e buscar adesões, que ocorreram em um período de grandes dificuldades. Em 1995, Pedro Paulo de Mello e Jorge Bezerra Guedes assumem o comando da Credicopagra, respondendo, respectivamente, e a vice-presidência e diretoria executiva.

76


77


Segunda Parte



Resolução do Conselho Monetário Nacional, de 1995, que autorizou a criação do Bansicredi. 80


A capitalização e o impulso rumo a novos tempos

o médio R$ 360,00 e o grande R$ 480,00. Com isso, a cooperativa passaria a ter recursos para implementar as suas ativida-

No dia 30 de março de 1996, quando

des com mais desenvoltura. De acordo

foi completado o mandato tampão da

com Mello, valeu a pena, pois em apenas

diretoria, a Credicopagra promoveu As-

três anos, só com a economia que fizeram

sembleia Geral Ordinária na Associação

ao deixar de pagar as taxas cobradas em

Atlética e Cultural da Copagra. Entre os

empréstimos tomados junto ao sistema

itens da pauta, a eleição do novo Conse-

bancário, os produtores “amortizaram” a

lho de Administração, com a permanên-

integralização.

cia, agora em definitivo, de Pedro Paulo de Mello na presidência e Jorge Bezerra Guedes na vice-presidência, incluindo Nelson Bono Maior como diretor-secre-

COCECRER DÁ LUGAR AO SICOOPER

tário, e os demais conselheiros: Miguel Rubens Tranin, Shoei Yamauchi e Jair São João.

Outro assunto da pauta foi a exigência do sistema de autogestão que, por meio

Na oportunidade, foi dado um passo

da Resolução 2.193/95 do Conselho Mo-

crucial para o fortalecimento da coope-

netário Nacional (CMN), determinava

rativa. O presidente fez a leitura de uma

a filiação das cooperativas de crédito ao

moção, em que cobrou o compromisso

Sistema Integrado de Crédito Cooperati-

dos associados de, finalmente, capitali-

vo do Paraná – Sicooper Central, antigo

zarem a sua instituição. Diante da apro-

Cocecrer-PR. Competia à nova central

vação da matéria, ocorrida após acalo-

coordenar e supervisionar as atividades

rado debate, a integralização foi feita de

financeiras e administrativas das coope-

acordo com a classificação da estrutura

rativas de crédito. Com isso, todas deve-

fundiária dos associados, em quatro pa-

riam adotar a sigla Sicooper, seguida de

gamentos iguais. Aquele que se enqua-

uma identificação regional. No caso, a

drasse como mini-produtor deveria capi-

Credicopagra passou a ser denominada

talizar R$ 120,00, o pequeno R$ 240,00,

Sicooper Noroeste. 81


Com a filiação, a cooperativa com-

relevância para o desenvolvimento na-

prometeu-se a praticar “todos os atos e

cional, os governantes anteriores haviam

operações que constituem seus objetivos

menosprezado. No entanto, demorou

sociais, compondo o sistema de crédi-

muito até que o presidente FHC desse a

to cooperativo do Paraná”. Da mesma

esperada atenção ao campo. De qualquer

forma, a Sicooper Noroeste outorgava à

forma, o Brasil estava iniciando um ciclo

central poderes para integrar por si pró-

positivo de sua história, com a estabili-

pria ou por convênio o serviço de com-

zação da economia e o fim da inflação,

pensação de cheques. Ficava explícito,

o que permitiu ao setor produtivo e aos

ainda, que isto importava “solidariedade

demais segmentos da sociedade, traba-

até o limite das quotas-partes subscritas

lharem com planejamento.

pela cooperativa”.

Após contatos com o Banco Regional

Em resumo: a constituição do Sicooper

de Desenvolvimento do Extremo-Sul

Central instituiu o programa de autoges-

(BRDE), em Curitiba, cujo diretor na

tão das cooperativas de crédito rural do

época era Fernando Fontana, os dirigen-

Paraná, por meio de serviços padroni-

tes da Sicooper Noroeste comemoraram

zados de normatização, assessoria, auto-

outra conquista para a cooperativa. Foi

fiscalização, inspeção e, eventualmente,

celebrado um convênio no qual o BRDE

intervenção. No ano seguinte, em data

passou a efetuar, por meio da entidade,

de 3 de dezembro, a Credicopagra tem

o repasse de recursos financeiros para os

sua denominação alterada para Sicooper

produtores de cana-de-açúcar associados

Noroeste.

da Copagra, a qual havia investido em uma destilaria de álcool. Em tão pouco tempo, os dirigentes da

APOIO GOVERNAMENTAL

cooperativa de crédito haviam conseguido sedimentar uma base mais firme de

Jorge Bezerra Guedes menciona que,

sustentação e qualificado o quadro as-

nesse ano, Fernando Henrique Cardoso

sociativo, preparando a instituição para

se elegeu para a presidência da República

aproveitar as oportunidades que estavam

estabelecendo cinco prioridades básicas

por vir. Em setembro de 1996, eles inau-

de seu governo, apresentando-as, figura-

guram a primeira agência fora de Nova

tivamente, nos dedos de sua mão direita.

Londrina, na cidade de Marilena.

Um desses dedos, conforme prometido,

No dia 3 de junho de 1996 é aber-

seria o efetivo apoio à agricultura, seg-

ta em Porto Alegre a agência matriz do

mento da economia que, apesar de sua

Banco Cooperativo Sicredi. Em 13 de

82


dezembro, as cooperativas dos Estados do

Sicredi funcionando a todo vapor em

Paraná e do Rio Grande do Sul se unem

Porto Alegre e Curitiba, ocorreu o que já

para fortalecer o banco, tornando-o, as-

vinha sendo planejado há tempos: a inte-

sim, uma instituição interestadual.

gração de grande parte das cooperativas

O efervescente ano de 1997 promete.

de crédito ao Sicredi, à exceção de algu-

Em 19 de agosto, começam as atividades

mas que precisavam ainda sanar dificul-

do Bansicredi em Curitiba e, no dia 22

dades financeiras ou preferiram perma-

de dezembro, começam a operar a sede

necer independentes. No dia 6 de maio,

própria do Sicredi-RS e do Bansicredi em

a Sicooper Noroeste se associa ao Sistema

Porto Alegre. No mesmo ano, já estavam

Sicredi, tornando-se sócia do Bansicredi,

bem encaminhadas as tratativas com as

o que leva a uma nova mudança de sua

centrais das cooperativas de crédito do

denominação, agora para Sicredi Nova

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para

Londrina. Nesse mesmo mês, é inaugu-

adesão ao sistema.

rada a segunda agência da cooperativa,

Em 1998, com o Banco Cooperativo

no município de Diamante do Norte.

O BRDE, sob direção de Fernando Fontana (foto), passou a fazer o repasse a produtores de cana-deaçúcar da Copagra, por meio da cooperativa de crédito, o que representou uma importante conquista.

83


Com o Sistema Sicooper substituindo a Cocecrer, a cooperativa alterou sua denominação para Sicooper Noroeste. E, pouco mais tarde, aderiu ao Sistema Sicredi, tornando-se Sicredi Nova Londrina (veja a foto da Copagra, que incluiu em sua fachada a identidade visual da instituição de crédito). Logo que assumiu, a nova diretoria adotou a política de abrir agências pela região, começando por Marilena e, logo depois, Diamante do Norte

84


85


Cooperativas assumem o lugar do Bamerindus

movimentações voltadas ao desenvolvimento regional. Esse banco, no qual os clientes recebiam um atendimento quase

Mas, enquanto o banco cooperativo

informal, baseado muitas vezes na amiza-

vislumbrava um horizonte promissor,

de dos atendentes com o público, acabou

uma das instituições financeiras mais

arrastado por uma onda de insolvência

conhecidas do mercado, desaparecia,

de instituições financeiras pelo país afora,

deixando aberta uma lacuna para ser

o que culminou com a absorção de seus

aproveitada para o desenvolvimento e a

ativos por um banco multinacional, o

expansão do cooperativismo de crédito.

HSBC.

Foi quando, em março de 1997, os clien-

Assim, quando as agências do extin-

tes do Bamerindus levaram um susto. O

to Bamerindus foram abertas, agora sob

Banco Central havia decretado interven-

a logomarca do banco inglês, o atendi-

ção naquele que, até poucos anos, dis-

mento, por melhor que fosse, não ofere-

putara os primeiros lugares no ranking

cia a mesma proximidade de antes, o que

do sistema financeiro nacional. Com

fez com que o agricultor, como de resto a

suas campanhas de valorização do Para-

população habituada ao modelo anterior,

ná, o Bamerindus identificava-se e tinha

tivesse dificuldades em adaptar-se. Esse

grande empatia com a população em to-

fato, somado ao distanciamento das insti-

das as regiões do Estado, onde, além de

tuições oficiais, como o Banco do Brasil,

prestar os seus serviços, engajava-se em

fez com que muita gente, principalmente os pequenos produtores rurais, preferisse trabalhar com as cooperativas de crédito, a esta altura já consolidadas. No caso do Bamerindus, os paranaenses se sentiam

A quebra do Bamerindus abriu um largo espaço que foi sendo incorporado naturalmente pelo cooperativismo, caracterizado pela sua capilaridade na agropecuária.

donos, até porque o slogan era “o banco da nossa terra”. O distanciamento do BB era de origem prática, pois como esse banco não tinha interesse em pulverizar o crédito rural para um grande número de agricultores de pequeno porte, a função foi herdada pela cooperativa de crédito, já bem inserida na comunidade. O BB escolhia os grandes produtores, aqueles que não precisavam de dinheiro, enquanto

86


a cooperativa celebrava os pequenos e médios. A quebra do Bamerindus abriu

APRESENTANDO BONS RESULTADOS

um largo espaço que foi sendo incorporado naturalmente pelo cooperativismo,

O relatório de gestão de 1997 da Si-

caracterizado pela sua capilaridade na

credi Nova Londrina já apresentava

agropecuária.

resultados mais auspiciosos. O total de ativos, de R$ 873,105 milhões, era 45% maior que os R$ 601,493 milhões de

A abertura de novas frentes

1996, período também em que o número de associados aumentou 23%, de

Para completar o ano de 1997, as coo-

315 para 387.

perativas do Paraná e do Rio Grande do

Para melhor atender, o espaço da

Sul complementam o processo de inte-

cooperativa de crédito foi redimensio-

gração do Sicredi em ambos os Estados,

nado na sede da Copagra, realizou-se

sendo que o Bansicredi iniciava opera-

a aquisição de equipamentos de infor-

ções em terras paranaenses. Neste perío-

mática destinados aos terminais caixa e

do, as instituições cooperativas promove-

extratos, bem como de guichês para as

riam uma mudança do seu foco, até então

agências de Nova Londrina e Marilena,

estritamente rural, para um mais amplo,

treinamento de funcionários e, por fim,

de olho no crédito mútuo de livre admis-

reuniões para motivar a maior partici-

são, como veremos adiante.

pação de associados de Marilena e Dia-

Contando a partir de agora com o seu

mante do Norte.

próprio banco, o sistema cooperativista de crédito avançava e Jorge Bezerra Guedes não restringia sua participação à Sicredi Nova Londrina. Dedicando-se integralmente à cooperativa, foi convidado a participar da Central, onde poderia acompanhar de perto o desenvolvimento do setor em nível estadual, estar ao lado das demais lideranças e vislumbrar oportunidades para fortalecer cada vez mais a cooperativa. Já em 1996 ele fez parte do

O desempenho da cooperativa ainda era relativamente modesto, mas superior ao de outras singulares, inclusive as sediadas em grandes cidades do Estado

conselho fiscal e, em 1997, do conselho de administração. 87


O desempenho da cooperativa ainda

Fim da submissão ao BB

era relativamente modesto, mas superior ao de outras singulares, inclusive as

Com o Bansicredi, o cooperativismo

sediadas em grandes cidades do Estado.

de crédito deixou, finalmente, de utilizar

Em 1997, devido aos revezes sofridos, a

a câmara de compensação de cheques do

cooperativa de Irati havia sido anexada

Banco do Brasil, acabando com a cons-

pela instituição vizinha, enquanto a de

trangedora submissão das cooperativas de

Londrina foi liquidada e as de Maringá

crédito ao banco oficial e eliminando os

e Goioerê passavam por intervenção da

altos custos com a operação. De acordo

Sicredi Central para reestruturação.

com Pedro Paulo de Mello, nas negociações com o BB, a justificativa de sempre

AVANÇOS E PROGRESSOS

era que as cooperativas davam prejuízo ao banco. Em 1997, cada lançamento efe-

Um comparativo entre o período de

tuado na câmara de compensação do BB

cinco anos, compreendido de dezem-

custava não menos que R$ 0,69, despesa

bro/1994 a fevereiro/1998, demonstrava

essa que, na soma de um ano, represen-

avanços importantes. Os empréstimos

tava pesado encargo ao cooperativismo,

totais haviam saído de R$ 121,3 mil para

ainda em seu início.

R$ 477,9 mil; os depósitos a prazo e à vis-

Jorge Bezerra Guedes observa que nes-

ta, de R$ 40,1 mil para R$ 593,9 mil; o

sa época a Sicredi Nova Londrina já es-

patrimônio líquido, de R$ 106,5 mil para

tava mais estruturada, ganhava prestígio

R$ 276,9 mil; o capital social, de R$ 19,9

regional, cumpria o seu papel, mas era

mil para R$ R$ 105,9 mil, e os recursos

preciso avançar mais. O atendimento aos

administrados, de R$ 146,7 mil para R$

cooperados da Copagra era fundamental,

870,2 mil. No mesmo período, a relação

mas não poderia restringir-se a eles, o que

entre despesas fixas e recursos adminis-

limitava a sua perspectiva de crescimen-

trados havia caído de 6,4% para 1,5%.

to. Essa realidade era a mesma das outras

Localizada em uma região com 13

cooperativas de crédito e as suas lideranças

municípios que movimentavam R$ 113

estavam convictas: se tal situação perdu-

milhões e possuíam 6.711 proprietários

rasse por muito tempo, todas as conquistas

rurais (segundo dados de 1996 da Secre-

anteriores teriam sido em vão. “Não dei-

taria da Agricultura e do Abastecimento),

xamos de cumprir a legislação, claro, mas

a Sicredi Nova Londrina começava a pla-

entendemos que se fazia necessário adotar

nejar o seu futuro, sonhando com a meta

uma postura mais ousada, pois não quería-

de chegar a 30% desse montante.

mos mais continuar sendo vistos como o

88


‘banquinho da Copagra’”, explica.

acautelou-se e implementou um regi-

Quando completou dez anos de ativi-

mento interno para normatizar e padro-

dades, em 1998, a Sicredi Nova Londrina

nizar os processos organizacionais e seus

já estava mais fortalecida e com índices

procedimentos operacionais, bem como

ascendentes, em formato de degraus.

profissionalizar os recursos humanos, me-

Entre dezembro de 1997 a dezembro de

lhorar a produtividade e trazendo mais se-

1998, os ativos subiram de R$ 873,1 mil

gurança. Estabeleceu-se uma cartilha com

para R$ 1,384 milhão.

rígidos padrões para a concessão de crédito, prezando pela reciprocidade, liquidez, garantia e diversificação de risco.

UM CENÁRIO INCERTO

No mês de dezembro de 1999, Santa Mônica recebe a sua unidade e, em Nova

Aos poucos, a instituição conquistava a

Londrina, seria inaugurado um espaço de

confiança e a participação dos produtores,

atendimento mais amplo na sede da Copa-

mas a economia brasileira passava por di-

gra, para atendimento aos cooperados des-

ficuldades, com a crise cambial, enquanto

ta e também os associados de outras áreas

fatores internacionais corroboravam para

que ingressavam na cooperativa de crédito.

criar uma situação de incertezas, o que

No ano seguinte, o distrito de São José do

exigia cautela por parte do cooperativis-

Ivaí, em Santa Isabel do Ivaí, passa a contar

mo de crédito como um todo, visando

com um posto avançado. Em outras duas

a preservar o patrimônio dos associa-

cidades seriam abertas as portas em 2001:

dos. Nesse ambiente, o Sistema Sicredi

Querência do Norte e Terra Rica.

Uma história na cooperativa

Além de sua sede em Nova Londrina, a cooperativa já contava com agências em Marilena, Diamante do Norte, Santa Mônica, São José do Ivaí, Querência do Norte e Terra Rica.

A equipe da sede, nessa época, era composta pelo gerente Luiz Carlos Fernandes e os colaboradores Edson Mazotti, Elaine Meneguetti, Antonio Carlos São João, Vanderlei Gonçalves de Oliveira e Agostinho Muller. Em 1998, passou a contar também com Fernando Moreira da Silva. Elaine e Vanderlei haviam sido admitidos praticamente juntos, em 1997, como 89


estagiários: ela, no mês de maio, quan-

certamente irão estranhar. Segundo Van-

do tinha 20 anos, e ele em junho, aos 17.

derlei e Fernando, a paciência era um re-

Fernando ingressou em maio do ano se-

quisito básico: após a discagem, efetuada

guinte, também como estagiário. Os três

da mesma maneira como se utilizavam

estavam começando uma carreira de fu-

os telefones mais antigos, demorava um

turo na cooperativa: atualmente, Elaine é

pouco para entrar e, conseguindo, a rede

analista de crédito rural, Vanderlei o di-

podia cair a qualquer momento. “Havia

retor-executivo e Fernando o gerente da

sempre o risco de cair quando se baixava

agência de Nova Londrina. Ela já cursava

um arquivo e, quando isto acontecia, a

administração de empresas e acabara de

gente entrava em desespero”, conta Van-

prestar concurso na prefeitura de Nova

derlei. Uma prática comum e mais segura

Londrina. E lembra que quando soube

era salvar todos os movimentos em dis-

da vaga no Sicredi, inscreveu-se entre

quete (precursor do armazenamento de

seis candidatos e foi aprovada para traba-

dados) e enviar para as agências. Como

lhar no atendimento, fazendo abertura de

a área de Tecnologia de Informação (TI)

contas, cadastros e atuando também no

ficava em Curitiba, a 600 quilômetros de

caixa. Já eles iniciaram como auxiliares.

distância, atualizar o sistema era quase

As instalações se resumiam a duas pe-

uma odisseia: arquivos cuidadosamente

quenas salas cedidas pela Copagra, em

identificados seguiam por malote, mas

sua sede. Vanderlei se recorda das dificul-

não estava afastado o risco de perderem-

dades para executar o serviço: o proces-

se ou serem danificados durante o trans-

samento dos cheques ainda era feito por

porte ou no próprio manuseio.

convênio de compensação com a câmara do BB. E, tanto ele quanto Fernando e Elaine, vivenciaram a transição do trabalho essencialmente manual para os sistemas eletrônicos, mas ainda não era fácil acessar a internet.

UM SUFOCO TODO DIA Fernando relata que fez treinamento em Curitiba para implantar o sistema de cobrança. Os leitores mais jovens 90

“Havia sempre o risco de cair [a internet] quando se baixava um arquivo e, quando isto acontecia, a gente entrava em desespero.” (Vanderlei Gonçalves de Oliveira)


NÃO PODIA CONFIAR NA TECNOLOGIA

diretor-executivo. Ele cita que o gerente de uma das agências, José Carlos Esteves, não era de dar chance para o azar. Sem po-

Mesmo com a tecnologia sendo apli-

der confiar na internet, a solução que ele

cada para agilizar e facilitar os serviços,

acabou encontrando foi carregar o pró-

não se podia confiar nela. “A gente utili-

prio computador para cima e para baixo.

zava muitos disquetes e, para se garantir,

Assim, não precisaria sujeitar-se às incer-

fazia dois backup [cópia de segurança]

tezas da rede e, ao retornar todos os dias

por dia. Na manhã seguinte, voltava o

para a sede, descarregava as informações.

backup e começava tudo do zero”, expli-

Elaine diz que no começo os cadas-

ca Fernando, enfatizando que era preciso

tros dos associados eram elaborados ma-

monitorar o maloteiro, o qual tinha hora

nualmente, na máquina de escrever. E se

para chegar e não podia ficar esperando.

lembra que em suas conversas com eles,

“Algumas vezes tivemos que ir para a es-

no dia a dia, quase todos continuavam

trada, correndo atrás dele. As coisas não

achando que a cooperativa era um ban-

eram fáceis naqueles tempos”, relembra.

co da Copagra. “Como estávamos dentro

E não eram mesmo: durante a Copa do

da Copagra, seria natural que pensassem

Mundo de 1998, quando ocorriam as

assim”, observa. A constatação dela é que

partidas da seleção brasileira, Fernando

muitos associados se sentiam orgulhosos

via o movimento minguar, a cidade fi-

ou diferenciados quando recebiam o talão

cava deserta e os demais funcionários iam

de cheques, lembrando que as folhas eram

embora mais cedo para assistir aos jogos. Só ficava ele e alguns poucos, porque não se podia deixar de fazer o fechamento e despachar os disquetes para Curitiba.

EVITAR SURPRESAS De acordo com Vanderlei e Elaine, para que a cooperativa não fosse surpreendida por uma queima de servidor, toda semana eram impressas listas com as contas-correntes dos associados e os

“O psicólogo disse que eu não poderia ficar lá no fundo, mergulhado no serviço. Tinha que ficar na frente, me comunicando com os associados” (Fernando Moreira da Silva, ao ser efetivado)

seus respectivos saldos. “Não poderíamos descuidar da segurança”, justifica o atual 91


impressas e organizadas em talões pela

CAPITAL HUMANO

própria Elaine, mediante as requisições. Um ano e meio depois de ingressarem

Jorge Bezerra Guedes ressalta que

como estagiários, Vanderlei e Elaine fo-

a formação de pessoas sempre foi uma

ram efetivados, não sem antes passar por

prioridade na cooperativa. Com a rela-

uma avaliação com a psicóloga do Sicredi,

tiva dificuldade de trazer profissionais

em Curitiba. Foi o que também aconte-

para a região, raramente se deixa de

ceu com Fernando: “o psicólogo disse que

aproveitar um estagiário que demonstra

eu não poderia ficar lá no fundo, mergu-

interesse em fazer carreira na institui-

lhado no serviço. Tinha que ficar na fren-

ção. Ele frisa que, agindo dessa forma, a

te, me comunicando com os associados”.

Sicredi Nova Londrina estruturou uma

Comunicação e desprendimento, aliás, é

equipe comprometida e se fortaleceu

que nunca faltou ao animado Fernando.

ainda mais ao longo dos anos, abrindo

Com seu talento para o canto, ele se pron-

agências em municípios vizinhos, con-

tificava a abrilhantar festas na comunida-

quistando prestígio e, entre os coopera-

de, o que representava um diferencial para

dos da Copagra, o interesse pela partici-

a cooperativa e, sem dúvida, ajudava a fo-

pação só fez aumentar, pois eles estavam

mentar o relacionamento com o público.

vendo que a cooperativa era bem administrada e dava resultados.

JUNTO DA COMUNIDADE

Há muitos exemplos de colaboradores que ingressaram como estagiários e fize-

Elaine, que trabalhou também na agên-

ram carreira na cooperativa. Entre eles,

cia de Marilena, ressalta o envolvimento

José Gôngora Dardosse, o Zeca, gerente

da cooperativa de crédito com a comuni-

regional de desenvolvimento de negó-

dade, participando, por exemplo, de festas

cios no Estado de São Paulo, e Vanessa

de igreja e de bairros. “Muitas vezes eu

Gutowski, gerente regional de desenvol-

mesmo ficava no caixa, nesses eventos”,

vimento de negócios no Paraná.

diz, enfatizando que a proximidade foi e

Zeca entrou em 1º de abril de 2000 na

continua sendo uma estratégia do Sicredi.

agência de Marilena, onde lembra que

“As pessoas, de uma forma geral, iam se

fazia de tudo. Todo dia, em determina-

simpatizando de tal forma com a coopera-

do horário, ele corria até Nova Londri-

tiva, que comunidades de regiões vizinhas

na, pertinho, para buscar os disquetes e

vinham pedir a abertura de uma agência.

atualizar os dados do movimento. Tem-

Por aí, já se tem ideia do conceito e da

pos depois, teve que incluir no roteiro

credibilidade conquistados”, afirma.

diário a agência de Diamante do Norte,

92


a 30 quilômetros. “Fazia um malote compartilhado que precisava ficar pronto até às 16 horas, quando passava o maloteiro. Era um desafio louco”, recorda-se. Dedicado, Zeca estava concluindo naquele mesmo ano o curso de administração de empresas e não tinha dúvidas: queria permanecer no Sicredi. No entanto, ao graduar-se, foi informado de que não havia vaga para ser efetivado na coopera-

A formação de pessoas sempre foi uma prioridade na cooperativa, que estruturou uma equipe comprometida e fortaleceu ao longo dos anos, abrindo agências em vários municípios da região.

tiva e, como já estava diplomado, não poderia continuar estagiário. A solução ele achou sem hesitar: decidiu começar um segundo curso universitário, de ciências contábeis, o que o habilitou a ficar. “Eu sempre tive muita confiança no futuro da cooperativa de crédito”, afirma

era concedido mediante a análise de um comitê, o que nem sempre possibilitava agilidade.

Zeca que, ao concluir o curso em 2002, foi contratado como atendente de negócios em Terra Rica. Já Vanessa entrou em 2005, como es-

Em busca de novos associados

tagiária, quando fazia o segundo ano de administração. Ao ser efetivada, passou a

A partir de 1997, apesar da exigência

trabalhar num setor no qual se desenvol-

de que somente poderiam se associar às

veria profissionalmente: começou como

cooperativas de crédito rural os produto-

auxiliar da área de crédito, passou depois

res ligados às respectivas cooperativas de

a assistente e, mais tarde, a analista de

produção, o Banco Central começou a

crédito, sendo que já em 2007 assumiu

admitir a entrada de associados represen-

a assessoria de crédito comercial e rural.

tantes de outros segmentos, por entender

Atualmente, é gerente regional de desen-

que elas ficariam muito restritas e sem

volvimento de negócios.

capacidade de desenvolvimento, uma vez

Ela se recorda que com as dificuldades iniciais da cooperativa e do próprio siste-

que havia um enorme potencial a ser explorado em cada região.

ma, que ainda não contava com o recur-

A adesão de não cooperados só era

so da tecnologia, o crédito ao associado

possível porque as cooperativas o faziam 93


como uma extensão dos serviços do Ban-

instituições”, disse, explicando que os

co Cooperativo Sicredi, incluindo o uso

tomadores em geral, incluindo os pro-

de talão de cheques dessa instituição.

dutores rurais, pagavam muito caro ao

Segundo Jorge Bezerra Guedes, no caso

contrair financiamentos.

da Sicredi Nova Londrina, os produtores

Fernando Moreira da Silva, atual ge-

rurais, em sua maioria pequenos, não pos-

rente da agência Nova Londrina, lembra

suíam aplicações e o movimento rotinei-

que logo depois de ser admitido, come-

ro com a cooperativa de crédito levaria,

çou a haver a adesão de associados de ou-

num futuro próximo, à estagnação. Por

tros segmentos da economia, e não só da

outro lado, havia na cidade e municípios

agropecuária. “Mas, pelo sim, pelo não, a

vizinhos um grande número de peque-

gente cadastrava todo mundo como pro-

nos comerciantes, empresas prestadoras

dutor rural”, conta.

de serviços e indústrias diversas, além de

Com o aumento e a diversificação do

profissionais liberais e aposentados, que

quadro de associados, foram criados grupos

não se sentiam bem atendidas pelas insti-

específicos na cooperativa, visando a pres-

tuições bancárias, as quais priorizavam as

tar um atendimento com a reconhecida

contas mais abastadas. Diante da falta de

proximidade, marca registrada do Sicredi,

um posicionamento claro do BC, a es-

conhecendo as demandas de cada qual e, na

tratégia das cooperativas foi o de come-

medida do possível, agregando valor.

çar a absorver associados de outras áreas, e não apenas do segmento rural no qual estavam inseridas. Com isso, o cooperati-

Cortar o cordão umbilical

vismo de crédito foi demonstrando a sua importância no apoio às comunidades,

Ao reunir associados também de outros

sobretudo àquelas pelas quais os bancos

ramos, tornou-se conveniente fazer uma

não se interessavam.

modificação para o acesso desse público

Em entrevista para este livro, o pre-

à agência de Nova Londrina, que ainda

sidente do Sistema Ocepar, José Ro-

funcionava no interior das instalações

berto Ricken, observou que a falta de

da Copagra. Foi aberta uma porta dire-

posicionamento do BC era proposital,

tamente para a rua. A providência era

pois já havia o entendimento por parte

válida, mas estava claro que a instituição

das autoridades, de que precisava haver

precisaria mudar-se para um local mais

um equilíbrio no sistema financeiro do

amplo, uma vez que havia a perspectiva

país. “Não se queria deixar que o crédi-

de ampliar o número de associados com

to ficasse nas mãos de algumas poucas

representantes de outros setores.

94


Jorge Bezerra Guedes recorda-se que

TRILHAR O PRÓPRIO CAMINHO

era preciso ter cautela e jogo de cintura, ainda mais porque a Copagra enfrentava

O jeito foi começar a dialogar infor-

um período de dificuldades. “Podería-

malmente com profissionais de gestão e

mos sair para um endereço mais espaçoso

cooperados da Copagra. Nas conversas,

e confortável no centro da cidade, não

o objetivo era fazê-los compreender que

havia impedimento algum nesse senti-

a cooperativa de crédito precisaria tri-

do”, comenta. No entanto, a preocupa-

lhar o seu caminho, a exemplo do que já

ção era que a saída fosse vista como um

ocorria em outras instituições do mesmo

ato de ingratidão, no qual a cooperativa

segmento, as quais estavam deixando o

de crédito, em franco desenvolvimen-

interior das cooperativas de produção e

to, estaria dando as costas para a Copa-

se transferindo para o centro da cidade,

gra, que lhe serviu de berço e deu todo

onde poderiam melhor atender aos pro-

o amparo inicial. Além disso, é claro, a

dutores e o público.

Sicredi Nova Londrina não queria perder

Desses contatos casuais, a diretoria pas-

o apoio da cooperativa de produção, com

sou a aproveitar pequenas reuniões com

seu movimento financeiro e o volume de

os cooperados para tocar no assunto,

associados.

percebendo que não havia resistência. Pelo contrário: os produtores entendiam a necessidade de expansão, vendo como muito acanhado o espaço ocupado na Copagra.

Diante da falta de um posicionamento claro do Banco Central, a estratégia das cooperativas foi o de começar a absorver associados de outras áreas, e não apenas do segmento rural no qual estavam inseridas.

Até que, em 2000, para formalizar a saída, a diretoria organizou um café da manhã com toda a equipe de dirigentes e colaboradores da cooperativa de produção. “Foi quando rompemos o cordão umbilical e a transição para o centro da cidade ocorreu de maneira tranquila”, observa Jorge. Em pouco tempo, os produtores e os demais associados já haviam se acostumado ao atendimento na agência que foi aberta na esquina das avenidas Londrina e Antonio Ormeneze.

95


A cooperativa inaugurou um espaço mais amplo ainda na sede da Copagra, onde funcionou até 2000, quando, em razão do seu crescimento, transferiu-se para o centro da cidade, na esquina das Avenidas Londrina e Antonio Ormeneze, oferecendo um atendimento de mais qualidade aos associados, que já não eram exclusivamente do segmento agropecuário. O período impôs o desafio da mudança da operação manual, com as máquinas de datilografia, para a eletrônica, com a intensificação do uso de computadores e disquetes.

96


97


UMA BOA IMPRESSÃO

mesma de sua antiga sede. “Com mais espaço, a qualidade do aten-

A colaboradora Elaine Meneguetti,

dimento melhorou bastante e a equipe foi

atual analista de crédito rural, conta que

aumentando”, frisa o diretor-executivo

nessa época estava trabalhando na agên-

Vanderlei Gonçalves Oliveira, que nessa

cia de Marilena, mas se recorda que a

época trabalhava na contabilidade.

impressão foi das melhores, na cidade e

No novo espaço, foi preciso tomar um

região. Segundo ela, com a abertura das

cuidado maior com a segurança, uma

instalações no centro de Nova Londrina,

vez que os gerentes das agências se des-

todos puderam ter uma ideia do cres-

locavam para Nova Londrina, nos finais

cimento da cooperativa e, aos poucos,

de expediente, trazendo o numerário do

o pessoal foi dissociando a imagem da

movimento. Uma das providências foi a indispensável contratação de empresas de vigilância monitorada. Na época, os riscos pareciam menores do que atualmente, mas nem por isso, quando ainda

Diante da falta de um posicionamento claro do Banco Central, Com a abertura das instalações no centro de Nova Londrina, as pessoas puderam ter uma ideia do crescimento da cooperativa e, aos poucos, foi dissociando a imagem da mesma de sua antiga sede a estratégia das cooperativas foi o de começar a absorver associados de outras áreas, e não apenas do segmento rural no qual estavam inseridas.

trabalhava na contabilidade, Vanderlei escapou de uma tentativa de assalto. Como costumava trabalhar até mais tarde, ele foi abordado por alguns homens ao sair, os quais, armados, o dominaram e exigiram a abertura do cofre. Porém, assim que adentraram à agência, a empresa de vigilância começou a ligar para checar se estava tudo em ordem. Com frieza, o sagaz funcionário explicou aos assaltantes que precisaria atender, pois caso contrário os seguranças viriam investigar. No contato telefônico, como ele deu respostas

propositalmente

desconectadas

das perguntas, a pessoa do outro lado da linha percebeu que havia algo errado e comunicou a polícia. Quando as autoridades chegaram, poucos instantes depois, os assaltantes já haviam se evadido, sem

98


levar nada. “Após o telefonema, eles saí-

três anos antes. De uma hora para outra,

ram às pressas. Acabou sendo só um sus-

um dos símbolos econômicos do Estado

to”, finaliza.

– que completava 72 anos de fundação – estava sepultado. Agora com a logo do Itaú, deixava de ser um banco paranaen-

A EXPANSÃO DO SISTEMA

se, inserido em todas as regiões e comunidades, com as quais se identificava. Esse

Se em 1999 o Sistema Sicredi contava

público, que não podia contar mais com

com o Bansicredi e 97 cooperativas no

o Bamerindus e o Banestado, estava ago-

Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do

ra sendo absorvido pelo cooperativismo

Sul e o Rio Grande do Sul, a meta era

de crédito.

chegar ao final de 2002 com pelo menos 1 milhão de associados atendidos por 900 agências, com um total de ativos de R$ 2 bilhões. Esse objetivo, se alcança-

O impulso veio também da região

do, significaria um crescimento de quase 50% no número de agências e de 157%

Ingressando para trabalhar na coopera-

na quantidade de integrantes. Chegar a

tiva em 2001, Almir Schotten chegaria à

R$ 2 bilhões em ativos, três vezes o mon-

função de diretor-executivo, cargo que

tante administrado em 1999, “traria uma

ocupou até 2018, quando se desligou para

responsabilidade ainda maior ao Sicredi”,

cuidar de projetos pessoais. Mesmo ainda

reportou na época o presidente do Ban-

não participando nessa época, ele expli-

sicredi, Ademar Schardong. A situação

ca que a expansão regional, iniciada em

agora era bem mais confortável para as

1996, era uma questão de sobrevivência.

cooperativas de crédito que, em anos an-

“Se permanecesse só com os associados da

teriores, enfrentavam dificuldades e res-

Copagra, a cooperativa ficaria limitada.

trições impostas pelo governo.

Ao mesmo tempo, havia um potencial muito grande quando se levava em conta

ABRE-SE UM NOVO ESPAÇO

as imediações de Nova Londrina”, salienta, lembrando que naquele ano havia cer-

Em 2000, a privatização do Banco

ca de 1.100 associados no total, para uma

do Estado do Paraná S.A., o Banestado,

região formada por 17 municípios e uma

comprado pelo Itaú, acabou tendo o mes-

população que somava 110 mil habitan-

mo efeito para a população paranaense

tes. “Não havia outra opção a não ser sair

que o desaparecimento do Bamerindus,

para enfrentar os grandes bancos e buscar 99


os resultados”, diz.

no município e, no começo de suas ati-

Antes de ser convidado por Jorge Be-

vidades, utilizou-se um pequeno imóvel

zerra Guedes e Pedro Paulo de Mello

na Avenida Euclides da Cunha. Com o

para integrar o seu time, Almir Schotten

interesse de um investidor em construir

se dividia entre a gerência de uma con-

instalações mais amplas, na Avenida São

cessionária Volkswagen e a carreira de

Paulo, o Sicredi mudou-se para lá e a

professor. No primeiro dia de serviço,

equipe chegou a dez colaboradores, fora

ele lembra que causou espanto aos novos

os terceiros. E, mesmo com a concorrên-

colegas ao chegar para trabalhar com seu

cia dos outros bancos, houve boa recepti-

fusca zero quilômetro, algo não acessível

vidade por parte da população, angarian-

à grande maioria da população, incluindo

do-se muitos associados nos meios rural e

os funcionários. Designado para a agên-

urbano, que totalizam 3 mil atualmente e

cia de Querência do Norte, que acabara

fazem da unidade de Terra Rica a segun-

de ser aberta, por pouco sua animação

da maior de toda a rede, só atrás de Nova

com o cooperativismo de crédito não

Londrina.

terminou ali. “No primeiro e no segundo dia, não entrou uma viva alma. Só no terceiro é que apareceu um senhor, à tarde, para fazer um depósito”, lembra. Embora

Jorge Bezerra Guedes assume a presidência

mantivesse muitos contatos junto àquela comunidade, conversando com os co-

A gestão de Pedro Paulo de Mello foi

merciantes e produtores, eram poucos,

até 2002, final do seu segundo manda-

ainda, os que se interessavam e só com o

to, quando a Sicredi Central estabeleceu

passar dos dias e semanas é que as coisas

novas diretrizes e implementou a políti-

foram acontecendo.

ca de que o presidente seguinte deveria ser o executivo da instituição. Então, de forma natural, Jorge Bezerra Guedes as-

CHEGANDO À TERRA RICA

sume o comando, com Pedro Paulo na vice-presidência. Integraram o Conselho

Um impulso decisivo para a coopera-

de Administração, também, Jorge Kazu-

tiva foi dado, segundo Almir, com a im-

mi Ito, Osvaldo Zanqueta, Pe. Ilson Luiz

plantação da agência de Terra Rica, em

da Graça, Amauri Spósito e Antonio de

novembro de 2001. Havia dois bancos

Jesus Meneguetti.

100


pelo crescimento, o desejo de ampliar horizontes...

“Não havia outra opção a não ser sair para enfrentar os grandes bancos e buscar os resultados” (Almir Schotten, exdiretor-executivo)

Histórias que vale a pena resgatar. Naturais de Vicenza, norte da Itália, dois grupos de famílias que viriam a ser parentes no Brasil, os Marcon e os Stella, cruzaram o Atlântico em 1895 no mesmo navio. Ao cabo da viagem, em terras paulistas, seguiram direto para o serviço braçal em cafezais de São João da Boa Vista e, tempos depois, sempre próximos, mudaram-se para o relevo

HISTÓRIA DE FAMÍLIA

montanhoso dos arredores de Andradas, em Minas Gerais, onde lidaram com vi-

A miscigenação de raças é uma carac-

nícola e alambique. Foi ali que Antonio

terística marcante da população brasi-

Marcon (nascido durante a travessia do

leira. Povos de todas as origens, credos

Atlântico) e Divina Stella, os avós de

e costumes para cá vieram em busca

Jorge, cresceram e se casaram.

de oportunidades. O Paraná é exemplo

Por outro lado, sempre se ouviu di-

dessa mescla: representantes de mais de

zer que, antes de tudo, o sertanejo é um

40 nacionalidades integraram-se para

forte. Sem perspectivas no lugar onde

formar a base de um Estado reconhecido

viviam, os avós paternos Pedro Bezer-

pela sua capacidade realizadora e a con-

ra Guedes e Júlia Monteiro voltaram os

vivência harmônica.

olhos para o Sul e com seus 11 filhos,

Os ascendentes maternos de Jorge

seguindo a corrente migratória, parti-

Bezerra Guedes tiveram procedên-

ram em “paus de arara” para uma lon-

cia italiana e, como tal, mantiveram-

ga viagem. Foram parar em Sertaneja,

se apegados aos seus costumes e tra-

região de Londrina, época em que no

dições. Do lado paterno, uma família

norte do Paraná o mato estava sendo

brasileira, talhada às limitações do res-

derrubado para o plantio do café. Não

sequido interior paraibano, o que fez

faltava serviço. Líder natural, Pedro se

dela uma gente destemida e preparada

compadecia com as levas de famílias

para os desafios. Entre ambas, alguns

nordestinas que iam chegando só com

pontos em comum: os fortes laços fa-

a cara e a coragem. Generoso, abrigou

miliares, o apego ao trabalho, a busca

em casa e encaminhou muitas delas. 101


EM BUSCA DO FUTURO

representam a linhagem que carrega, em seu DNA, as características peculiares da

Foi em Sertaneja que Paulo, um dos filhos de Pedro e Júlia, conheceu e se ca-

junção que moldou a personalidade dos que os precederam.

sou com Olga, filha de Antonio e Divina

Em 1965, a família se muda para São

Marcon. Como tantos outros, os descen-

João do Ivaí, onde o pai vai trabalhar

dentes de italianos haviam deixado Minas

como cerealista e motorista de cami-

para realizar o sonho de ter as próprias

nhão. Na cidade, um tio, Aparecido

terras e construir no progressista norte

Bezerra Guedes, entra para a política e

do Paraná o seu futuro. Ouvia-se que

consegue se eleger prefeito no período

aqui os povoados surgiam do dia para a

1973/76.

noite e havia espaço para todos que quiserem prosperar. Em região tão inóspita, que estava sendo desbravada, as dificul-

INÍCIO

dades para os agricultores eram grandes na mesma proporção: a mata fechada, a

Aos 13 anos, o adolescente Jorge se-

vida em meio a muitos sacrifícios e, para

gue para fazer o segundo grau no anti-

completar, as geadas que dizimavam os

go Colégio Técnico Agrícola de Can-

cafezais nas noites congelantes.

dido Mota, no Estado de São Paulo e,

Frutos da união entre Paulo e Olga,

na sequência, o curso de medicina-ve-

Jorge Bezerra Guedes (nascido em

terinária na Universidade Estadual de

14/4/1960), duas irmãs e três irmãos,

Londrina (UEL). Mesmo tão devotado aos estudos, trabalha à noite para custear as despesas. Formado, retorna para São João do Ivaí onde presta serviços

Descendentes de italianos radicaram-se no norte do Paraná, onde seu sangue se misturou ao de migrantes do nordeste brasileiro, formando uma raça forte.

como médico-veterinário autônomo no Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Mais tarde em Manoel Ribas, é contratado pelo Sindicato Rural para cuidar de uma farmácia veterinária. Não demorou muito até acumular, também, a administração da entidade. Na Emater a partir de agosto de 1984, é indicado para o escritório de Nova Londrina por Nelcy Madruga, então

102


chefe em Paranavaí. Morando na mesma cidade, Jorge e

organização importante e em franco crescimento na sua região.

Pedro Paulo de Mello ainda pouco se conheciam. Naquele mesmo ano de 1985, o médico-veterinário fez uma visita à

Zeca, um “desbravador”

Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) em Curitiba, onde, casual-

Ao ser designado como atendente de

mente, o apresentaram a Pedro Paulo,

negócios na agência de Terra Rica, em

que, na oportunidade, buscava informa-

2002, José Gôngora Dardosse, o Zeca,

ções para fundar o Sindicato Rural.

não desperdiçou a chance oferecida. Depois de um ano, assumiu a gerência em Santa Mônica, onde procurou intensifi-

DEU TUDO CERTO

car o relacionamento com a comunidade, fortalecendo assim a principal carac-

Posteriormente, os dois se encontram

terística do Sicredi: a proximidade com

na Emater em Nova Londrina, onde co-

as pessoas. Sem saber, ele se tornaria,

meçam a articular reuniões com produ-

também, um “desbravador” da coopera-

tores para a organização do Sindicato.

tiva no Paraná e no Estado de São Paulo.

Começava aí uma sólida amizade e par-

Decorrido um ano em Terra Rica, re-

ceria, mas por um breve período, o mé-

cebeu o desafio de inaugurar a agência

dico-veterinário da Emater se transfere

de Cidade Gaúcha, praça que ainda não

para o escritório de Grandes Rios, pró-

conhecia. “Fui com o Almir [Schotten],

ximo a São João do Ivaí. Lá permanece

que me apresentou para as lideranças da

até o final de 1987, quando retorna para

cidade”, recorda-se. Ele tinha um pra-

Nova Londrina, já casado com Shirlei.

zo de 60 dias para atingir, na cidade, o

Agora, começava para Jorge um novo

objetivo de estruturar o quadro com 100

desafio profissional: prestar seus serviços ao departamento de fiscalização da Secretaria Estadual da Agricultura. Chegado o ano de 2002, após uma trajetória bem sucedida, Jorge ascendia à presidência da Sicredi Nova Londrina, instituição financeira que, em apenas

A história de vários colaboradores dos mais antigos, se confunde com a trajetória da cooperativa.

sete anos, saíra de uma fase ainda quase embrionária para se transformar em uma 103


sócios-fundadores, enquanto as instala-

em Querência do Norte antes de retor-

ções estavam sendo finalizadas. Segundo

nar à sua cidade onde, em 2007, Lucila

o gerente, o trabalho se resumia a con-

passou a responder pela unidade de Ma-

vidar representantes exponenciais do co-

rilena. Ela lembra que nesse seu início,

mércio e da sociedade local, a integrarem

apesar da tecnologia já estar bem mais

o quadro, fazendo um aporte financeiro

avançada que em anos anteriores, ainda

em conta capital, na época de R$ 1 mil

conheceu situações inimagináveis para os

cada um. “Não era uma tarefa simples,

dias de hoje. Um depósito, por exemplo,

consistia num trabalho de convencimen-

só cairia na conta no dia seguinte. E, a

to e de uma aposta na confiança”, explica.

exemplo das histórias relatadas anterior-

Para isso, foram várias reuniões, em que

mente por Vanderlei Gonçalves Oliveira,

repetia, com muitos argumentos, os be-

Elaine Meneguetti e Fernando Moreira

nefícios que poderiam ser trazidos à co-

da Silva, ela também sofreu agruras com

munidade pelo cooperativismo. Ao final,

os malotes que precisavam ser encami-

em meio a uma boa aceitação por parte

nhados diariamente para a central, em

de todos os setores, Zeca conseguiu fe-

Curitiba. Como se recorda, todo o mo-

char em 101 o número de sócios-funda-

vimento precisava ser gerado num arqui-

dores e a agência foi aberta.

vo e colocado em disquetes no máximo

No tempo em que esteve em Cidade

até as 16 horas. “Se passasse do horário,

Gaúcha, Zeca abriu também a agência na

o maloteiro não podia esperar e o único

vizinha Nova Olímpia, de porte menor,

jeito era sair correndo atrás dele.”

com 50 sócios-fundadores. Depois disso, foi ser gerente em Terra Rica, ocupando a função de 2006 a 2011, período em que inaugurou também as unidades de Guairaçá e São Pedro do Paraná.

Muitos desafios em Marilena Formada em pedagogia, Lucila Paiano Pilege, atual gerente da agência de Pirapozinho (SP), passou a integrar a equipe da cooperativa em 2002, como estagiária, tendo prestado serviços durante dois anos 104

Marilena é exemplo da alta aceitação do cooperativismo de crédito: a cidade tem 7 mil habitantes, dos quais 2,3 mil são associados do Sicredi.


Na tentativa de facilitar seu trabalho,

são nada menos que 2,3 mil associados. A

Lucila recorria a um caderno, onde ano-

gerente se recorda que com o fechamen-

tara códigos e atalhos para adentrar ao

to do Banestado, de uma hora para outra

sistema. Era um tempo, também, em que

a agência recebeu todos os aposentados

não havia cartão de crédito como hoje e,

que mantinham contas naquele banco.

muito menos, caixas eletrônicos; ainda se

“Foi um grande desafio absorver esse pú-

usava fax símile [reprodução, por meios

blico, pois as pessoas se dirigiam em mas-

fotomecânicos, de um texto ou de uma

sa para o Sicredi, formando longas filas e

imagem] e as impressoras eram matriciais

eram apenas 5 dias para os pagamentos.

[compostas por uma ou mais linhas ver-

Mas rapidamente nos adaptamos”, diz,

ticais de agulhas, que ao colidirem com

assinalando que atualmente chega a 900

uma fita impregnada com tinta, seme-

o número de aposentados.

lhante a papel químico, imprimiam um ponto por agulha]; ao mesmo tempo, as agências não contavam com portas gi-

Quinze anos

ratórias – sinal de que o sentimento de insegurança era muito menor que o de

Ao completar 15 anos em 2003, a Sicre-

nossos dias – e algumas coisas bastante

di Nova Londrina contava com a agên-

corriqueiras ficaram, igualmente, para

cia bem instalada em sua cidade-sede e

trás: entre elas, as máquinas de datilo-

atendia também com unidades em Que-

grafar, que pareciam imprescindíveis, a

rência do Norte, Loanda, Marilena, San-

Polaroid [um tipo de câmera fotográfica

ta Mônica, Terra Rica, São José do Ivaí,

de revelação instantânea, empregada em

Planaltina do Paraná e Cidade Gaúcha (as

vistorias] e o lápis de carpinteiro – veja

duas últimas inauguradas em 2003). Os

só – com o qual, pressionando o grafite

números do desempenho nesse exercício

sobre a superfície em relevo, se obtinha

não deixavam dúvidas quanto a prosperi-

num papel os números do chassis de um

dade da cooperativa, que ia acontecendo

veículo.

em ritmo rápido: cerca de 1,5 mil novos

Por muito tempo, inclusive, Lucila fez

associados, elevando de 4.1 mil para 5,6

questão de continuar preparando o cafe-

mil; uma equipe de 50 colaboradores;

zinho na agência de Marilena, onde co-

crescimento de 65% em recursos admi-

mandou uma equipe de 8 colaboradores,

nistrados (a 4ª melhor posição no ranking

antes de transferir-se para Pirapozinho. E,

entre as 25 cooperativas filiadas ao Sicredi

para se ter ideia da importância do Sicredi

no Paraná); 3,4 mil operações de crédito,

para a cidade, que tem 7 mil habitantes,

das quais R$ 2,6 milhões de crédito rural; 105


sobras brutas de R$ 432 mil e expansão

de crédito”, comenta. “São recursos da

de 61,5% do patrimônio líquido, que

região que ficam na própria região, pro-

chegava a R$ 2,7 milhões.

movendo o seu desenvolvimento.”

O exercício era representativo não só

Ele explica que o forte crescimento no

pela passagem dos 15 anos da instituição,

período se deve a esse fator e também,

mas pelo aperfeiçoamento de produtos e

claro, à confiança conquistada junto às

serviços oferecidos, entre os quais a co-

comunidades, à transparência no relacio-

municação online, plano de saúde Uni-

namento com os associados. Inclui, ainda,

med Paranavaí, cobrança automática,

a profissionalização do quadro de colabo-

consórcios, seguros, cartões e outros.

radores, mantido com uma estrutura mí-

Jorge Bezerra Guedes conta que, a

nima e apostando na formação de pessoas.

exemplo do que acontecia em coopera-

Sem deixar de lado o diferencial de sem-

tivas do sistema, a Sicredi Nova Londri-

pre do Sicredi: o atendimento prestado de

na promovia campanhas de capitalização

forma que os associados se sintam donos

com grande êxito nas cidades. Essas ações

da cooperativa e não meros clientes.

ajudavam a divulgar e a atrair novos associados, fortalecendo ainda mais a cooperativa. Aproveitando a oportunidade dos

O SETOR EM ALTA

seus 15 anos, por exemplo, foram sorteadas sete motocicletas entre os associados

O cooperativismo de crédito brasilei-

que fizessem aplicações. “As campanhas,

ro registrava um crescimento notável.

bem como a capitalização das sobras,

As cooperativas já eram 1.454 em 2003.

possibilitaram acumular uma boa reserva

Nesse ano, o segmento captou R$ 5,7

que é revertida aos associados em forma

bilhões em depósitos e realizou operações de crédito no montante de R$ 5,2 bilhões. Mesmo assim, um volume pequeno, apenas 1,12% do crédito escoado pelo sistema financeiro nacional.

Com a cooperativa de crédito, os recursos da região ficam na própria região, promovendo o seu desenvolvimento.

Nesse ano, os associados já podiam fazer suas transações financeiras via internet, graças a um investimento de R$ 70 milhões realizado na modernização de todo o sistema de informática, ligando, online, as cooperativas integrantes do sistema. Esse novo momento do

106


Sicredi foi definido como um “divisor

do cooperativismo de crédito e 65%

de águas”, crucial para manter o seu de-

dos recursos da poupança rural seriam

senvolvimento. No ano anterior, para

reinvestidos em benefício do próprio

se ter ideia, enquanto o sistema finan-

campo. O sistema lançou uma cam-

ceiro registrou crescimento de 12% em

panha de capitalização, com outdoors,

depósitos à vista, no Bansicredi essa ex-

veiculações na mídia e folheteria ao

pansão foi de 47%.

público, que premiou os poupadores.

Em meados de 2003, o Sicredi se tor-

O balanço de 2004 da Sicredi Nova

nava o sistema financeiro presente no

Londrina aponta para números anima-

maior número de municípios do Paraná,

dores. “O crescimento de nossa coo-

segundo levantamento divulgado pelo

perativa foi fantástico. Analisando o

Banco Central. Contava com 231 uni-

período de dez anos, em 1994 tínha-

dades de atendimento em 196 localidades

mos R$ 196,8 mil de recursos admi-

e se apresentava, também, como a única

nistrados, ao passo que em junho/2004

instituição existente em 36 municípios

contabilizamos R$ 22,839 milhões, o

(o Banco do Brasil tinha um número

que representou um crescimento de

maior de agências, 234, mas em número

11,504%”, destacou o relatório de ges-

de municípios menor, 179). Demonstra-

tão, ressaltando-se que esse índice foi o

va, assim, que tinha sabido aproveitar as

maior de toda a região norte/noroeste e

oportunidades deixadas pelo Bamerindus

o 5º entre todas as cooperativas Sicredi

e o Banestado.

do Paraná. E, mesmo com a exclusão de 912 associados, por inatividade, houve um aumento do quadro social de 5.608

POUPANÇA E CUSTEIO

para 6.359, uma expansão de 13,3%. Outra novidade: a partir de agos-

No ano seguinte, o Sicredi oferecia

to de 2005, os associados já poderiam

mais uma opção própria de investi-

contar com linhas de custeio agrícola

mento para o produtor: a poupan-

para todas as culturas de verão, ofere-

ça rural, autorizada pela resolução

cidas em condições especiais, além de

3.188 do Banco Central. Até então,

linhas de investimento de longo prazo.

as cooperativas de crédito não po-

Dentre as opções de custeio ofereci-

diam oferecer essa modalidade de in-

das, com recursos próprios equalizados

vestimento aos seus associados, res-

pelo governo federal, encontravam-

tringindo-se a aplicações de curto e

se as destinadas a pequenos e médios

longo prazos. Era mais uma conquista

agricultores. 107


A LIVRE ADMISSÃO

no dia 19 de setembro daquele ano, a instituição passou a ser denominada Sicredi

Enfim, a conquista tão esperada. No

Noroeste PR.

mês de abril de 2007, a resolução 3.106

Para a gerente regional de desenvolvi-

do Banco Central autoriza as cooperati-

mento de negócios,Vanessa Gutowski,

vas de crédito a admitirem associados de

a resolução do Banco Central represen-

outros ramos, e não apenas do segmen-

tou um divisor de águas para o Sicredi,

to agropecuário, sem qualquer restrição.

ao abrir uma margem muito grande de

Com isso, a cooperativa alterava o seu

atividades. Ela explica que como a coo-

Estatuto Social. De acordo com Jorge

perativa se baseia no tripé associado, cré-

Bezerra Guedes, a então Sicredi Nova

dito e captação, a medida contribuiu para

Londrina deixava de estar focada em um

fortalecer o sistema.

segmento apenas, para atuar livremente em todos os setores da sociedade. Um dos benefícios da atuação livre seria a maior

COM A FORÇA DO RABOBANK

estabilidade econômica. Se o agronegócio passasse por uma crise, por exemplo,

O Sicredi e o Rabo Financial Institu-

isto afetaria a cooperativa apenas parcial-

tions Development RD, braço de desen-

mente ou na proporção do que esse setor

volvimento do grupo holandês Rabo-

representava para a entidade. Com isso,

bank, firmaram em 2010 um acordo de parceria, pelo qual este último adquiriu participação de 30% do Banco Cooperativo Sicredi S.A., empresa consolidada pela Holding Sicredi Participações S.A. Segundo o presidente da Sicredi Parti-

Em recursos administrados, o crescimento da cooperativa apresentou a excepcional marca de 11.504% no período de dez anos, entre 1994 e 2004.

cipações e Central Sicredi PR/SP, Manfred Dasenbrock, a parceria inaugurava uma nova fase de oportunidade de negócios, direcionados a atender as necessidades dos associados. “A experiência internacional do grupo holandês vai contribuir para a evolução dos negócios cooperativos em áreas como agronegócio, leasing e crédito mobiliário, por exemplo”, declarou Dasenbrock.

108


O sucesso do Sicredi na comunidade

é tudo: “Nossa equipe de colaboradores está presente em todos eles, prestando ajuda voluntária”. A respeito desse envol-

Admitida em 2006 como estagiária na

vimento, Mírian destaca que os profissio-

agência de Terra Rica, Mírian Senson

nais “se vestem de Sicredi e passam a ter

Martinez foi caixa, atendente, encarrega-

também, na cidade, o sobrenome Sicre-

da do atendimento e gerente de pessoa

di”, para eles, um motivo de orgulho. A

jurídica (PJ) até setembro de 2011, quan-

gerente conta que desde o início passou

do passou a responder pela unidade. “So-

a ser chamada por “Mírian do Sicredi” e

mos a segunda maior em depósitos a pra-

lembra que a cooperativa realiza vários

zo e recursos administrados”, orgulha-se

programas para a disseminação e o maior

Mírian, sublinhando os 30% de partici-

conhecimento do cooperativismo de cré-

pação no mercado local, percentual esse

dito, como o “Crescer e Pertencer”.

que se mantém firme mesmo diante do

A gerente comenta também que Ter-

acirramento da concorrência com a che-

ra Rica foi a primeira agência da coo-

gada de outras instituições financeiras à

perativa a ser implantada por meio do

cidade, nos últimos anos.

sistema em que sócios-fundadores de-

O diferencial no atendimento e a inser-

positam capital antes da abertura das

ção na comunidade estão entre as razões

instalações. No caso, 26 sócios, entre

que, segundo Mírian, justificam o sucesso

pessoas físicas e jurídicas, aportaram

do Sicredi. Segundo ela, uma cooperativa

cada um, na época, R$ 1 mil. “Isto re-

de crédito consegue ser um banco, mas

presentou um salto”, relembra.

um banco, por suas características, jamais conseguirá oferecer o mesmo que uma cooperativa de crédito. Por outro lado,

A INSERÇÃO DA COOPERATIVA

“quem não é visto não é lembrado”, diz ela, frisando que o Sicredi é um dos prin-

“Tudo o que acontece na comunidade,

cipais apoiadores dos eventos promovi-

tem Sicredi”, afirma o gerente da agência

dos junto a população, como a Festa do

de Nova Londrina, Fernando Moreira da

Padroeiro (Santo Antônio) e outras ati-

Silva. Desde 2001 na função, ele lidera

vidades da igreja católica, bem como da

uma equipe de 12 colaboradores que aten-

Associação Comercial e do Rotary Club,

dem a 3,6 mil associados – dos quais 90%

entre outros. Os copos plásticos, os aven-

pessoas físicas, compondo um quadro com

tais e os guardanapos com a logo Sicredi

atividades diversificadas. A participação da

estão em todos os lugares, mas isso não

cooperativa no dia a dia dos moradores se 109


Um associado que “é Sicredi em tudo”

A gerente da agência de Terra Rica, Mírian Senson Martinez, destaca que os profissionais “se vestem de Sicredi e passam a ter também, na cidade, o sobrenome Sicredi”. Ela, por exemplo, é a Mírian do Sicredi.

O sucesso da agência de Nova Londrina junto à população pode ser avaliado pela satisfação de associados como Tatsugi Sugawara, de 83 anos, pioneiro na cidade, onde reside desde 1960. “Sou Sicredi em tudo”, afirma, explicando fazer parte da cooperativa há quase 20 anos, mantendo ali todos os seus negócios. Muito querido dos colaboradores, ele diz fazer da instituição a sua segunda casa, onde sempre aparece para tomar café e colocar a conversa em dia. Quando ele tinha três anos, sua família trocou o Japão pelo Brasil, sem falar uma

dá de diferentes maneiras, segundo Fer-

única palavra em português, para tentar a

nando: as tradicionais festas de igreja e

vida em lavoura no interior de São Paulo.

escolas, as promoções no seminário, no

Já adulto, aos 25, Tatsugi participou de

hospital e na Apae (Associação dos Pais

uma nova e definitiva mudança: os pais,

e Amigos dos Excepcionais), incluindo

ele e mais dois irmãos resolveram apro-

as campanhas Natal Vida, a exposição

veitar a chance de ter as próprias terras no

Expo Nova e eventos organizados pela

promissor município que surgia no extre-

Associação Comercial. “Temos um ca-

mo noroeste do Paraná. “Meus pais so-

lendário repleto”, afirma, lembrando

nhavam em conquistar uma vida melhor

que a participação mantém fortalecidos

para a família”, conta, explicando que em

os laços entre as partes, sendo a presença

Nova Londrina conseguiram progredir se

da cooperativa de crédito celebrada pelo

dedicando à cultura mais importante do

município e região, também, por regu-

Paraná naquela época. “Devemos muito

lar o mercado financeiro. “A concor-

ao café”, sublinha. Quando chegaram,

rência, mesmo as agências dos grandes

havia na cidade a Casa Japonesa, onde

bancos, se veem na obrigação de seguir

eles e muitas outras famílias compravam

o Sicredi como um balizador de taxas e

mantimentos, sinal de que a comunidade

tarifas”, explica.

nipônica era representativa na região.

110


Ainda hoje, o alegre e simpático Tatsugi, que todo mundo conhece e gosta de conversar, se mantém na atividade rural, mas seu negócio, desde o declínio da cafeicultura, tem sido a pecuária de corte. Com orgulho, o produtor ressalta que ele e os irmãos criaram e encaminharam 15 filhos, dos quais seis dele e de dona Majiko, com quem se casou em 1961. São

Muito querido dos colaboradores, ele diz fazer da instituição a sua segunda casa, onde sempre aparece para tomar café e colocar a conversa em dia.

três homens e três mulheres, “todos com diploma”, que já lhes deram cinco netos. Para ele, a cooperativa, da qual já foi conselheiro fiscal, “é fruto do trabalho

associados. “É um exemplo de parceria”,

honesto e um bom negócio para os as-

diz ela, mencionando também algumas

sociados, não tem burocracia, impulsio-

empresas da cidade que, igualmente,

na a região e ainda ajuda a comunidade”.

confiaram na cooperativa e não têm do

Outro diferencial, completa, é que “os

que queixar. É o caso da Karam’s Estofa-

associados conhecem desde o atendente

dos, dirigida por Fábio Kato e sua espo-

ao presidente, está tudo em casa”.

sa Sueli que, graças ao apoio do Sicredi, realizaram investimentos para expansão da fábrica. Tanto Fábio quanto o agen-

Quem coopera, cresce

te Cleocir se tornaram tão próximos da instituição que, atualmente, desempe-

Em Terra Rica, o ex-funcionário do Banestado, Cleocir Luiz Possebon, se

nham também a função de coordenadores de núcleos.

tornou um agente credenciado da cooperativa de crédito no mesmo ano de

EMPREENDER

inauguração da agência na cidade, em 2001, depois de firmar convênio para

Em Marilena, o dono do Buffet Serve

receber boletos. Parceiro desde o início,

Bem, Wanderson Cleiton Dim, também

sua participação só fez aumentar e, hoje

encontrou no Sicredi o apoio que preci-

em dia, segundo a gerente local Mírian

sava para desenvolver a empresa. Com

Senson Martinez, Cleocir se destaca en-

sua paixão pela gastronomia, ele come-

tre os maiores agentes Sicredi, atuando

çou o buffet em 2006, modestamente,

como um facilitador no atendimento aos

aplicando economias acumuladas ao 111


longo de anos de trabalho no Japão. Co-

OPORTUNIDADE

meçou a preparar festas e obteve linhas de crédito para promover uma expansão

Ainda em Marilena, a dentista Inês

contínua. Tanto que hoje ele é dono

Watanabe precisava achar um terre-

também da Evolution, empresa espe-

no mais bem localizado na cidade, para

cializada em prestação de serviços gerais

instalar seu consultório. Encorajada pelo

para festas e eventos de todos os por-

Sicredi, ela passou a procurar um bom

tes, mas não pretende parar por aí. Seu

terreno e o encontrou, por um valor que

próximo passo é implantar um buffet

foi financiado pela cooperativa em 60

infantil, incluindo espaço para locação,

meses. Nesse espaço, ela viria a construir

já sabendo onde encontrará apoio para

as instalações para atender sua clientela,

continuar crescendo.

além de 3 salões para alugar e ainda, na parte de cima, um amplo apartamento. “Estamos muito inseridos na comunida-

MUDOU A VIDA

de e interessados no desenvolvimento das pessoas e das empresas”, conta Lucila, que

O Sicredi foi mais que uma coopera-

cita também o exemplo do produtor rural

tiva de crédito para Jonas Martins Pe-

Antonio Apolinário Neto e de seu filho

reira, dono de frutaria e mercearia em

Adilson. O pai havia sido tomador de

Marilena. Há anos, com um caminhão

crédito na cooperativa e, decorridos al-

pequeno, ele viajava para buscar mer-

guns anos, o relacionamento esfriou. Era

cadorias em Maringá. Certo dia, inte-

o ano de 2007 e, percebendo a situação,

ressado em trocar de veículo, adquiriu

Lucila foi em busca de resgatá-los, infor-

uma cota de consórcio de pesados e,

mando a eles que tinham disponível um

numa conversa com a gerente Luci-

crédito aprovado: era só usar. Com isso,

la Paiano Pilege, acabou mudando o

satisfeitos pela consideração, ambos vol-

rumo de sua vida. A sugestão dela foi

taram a ser associados ativos, utilizando o

que, com um caminhão maior, Jonas

recurso para compra de gado.

poderia adquirir mais mercadorias para si e tornar-se, ao mesmo tempo, fornecedor das demais frutarias e mercados

“Associados são donos”

da cidade e região. Deu certo: a bordo de um caminhão baú, ele cresceu na

A gerente da agência de Terra Rica,

atividade e até já construiu uma casa

a segunda maior da Sicredi Rio Para-

nova, do jeito que a família sonhava.

ná PR/SP, Mírian Senson Martinez,

112


lembra: “Não somos uma instituição

DUAS DÉCADAS

bancária e, sim, uma cooperativa, da qual os associados são os donos”, sa-

Ao chegar aos seus 20 anos em 2008, a

lientando que, diferente dos bancos, os

Sicredi Noroeste se solidificara como um

recursos movimentados pela institui-

orgulho regional, crescendo e se aprimo-

ção ficam na região para promover o

rando. Nesse exercício foi inaugurada a

seu desenvolvimento.

agência de Loanda e reinaugurada a de

Vimos anteriormente também que

Terra Rica. No dia 21 de novembro da-

o cooperativismo de crédito havia

quele ano, um jantar marcava a passagem

conseguido ocupar o espaço de duas

do aniversário, oportunidade em que a

tradicionais instituições com capila-

cooperativa expressou seu reconheci-

ridade no Estado, que atuavam mui-

mento e gratidão a três ex-presidentes:

to proximamente junto aos clientes e

Bento Somenzari, que dirigiu a entida-

falavam a linguagem paranaense. O

de entre 1988 e 1993; Olivier Grende-

fim do Bamerindus e depois do Ba-

ne (in memoriam), que a comandou de

nestado ofereceu ao Sicredi a opor-

1993 a 1995; Pedro Paulo de Mello, de

tunidade de construir esse relaciona-

1995 a 2002; e Jorge Bezerra Guedes,

mento junto aos diversos públicos, o

que assumiu a presidência em 2002. Fo-

que a cooperativa soube fazer com

ram homenageados, também, João Paulo

propriedade e naturalidade. Aos pou-

Koslovski, presidente da Ocepar; Miguel

cos, a população foi conhecendo a sua

Rubens Tranin, presidente da Copagra,

forma de atuar, a proposta da coope-

a “cooperativa mãe”, e Luiz Carlos Fer-

ração, a flexibilidade e a informalidade

nandes, um dos primeiros colaboradores.

no atendimento. As pessoas descobriram que, no Sicredi, deixavam de ser clientes comuns para se tornar associa-

Formação profissional

das, com uma administração próxima, respeitada e conhecida. Nesse jeito Si-

De acordo com a gerente de Terra

credi, o associado passou a ser recebi-

Rica, Mirian Senson Martinez, sua agên-

do de uma forma bem mais amigável

cia se destaca por ser também um centro

e informal, sendo chamado pelo nome,

de formação profissional para o Sicredi,

contando com todo o leque de serviços

revelando talentos, vários dos quais apro-

oferecidos pelas instituições financeiras

veitados na Superintendência Regional

e firmando cada vez mais uma relação

(Sureg) em Nova Londrina. Em relação

baseada na confiança.

ao crescimento da equipe, ela menciona a 113


“Há pouco mais de 20 anos a Sicredi era só uma ideia e, hoje, uma realidade. Naquela época, poucas pessoas acreditavam que poderia dar certo. Hoje, está aí a cooperativa de crédito instalada em vários municípios, participando da vida da comunidade e, de modo especial, daqueles que fazem parte dela. E creio que nossos filhos vão usufruir deste legado construído pelo esforço das pessoas que acreditaram que o sonho poderia ser realizado.” Arnaldo José Mazzotti, um dos associados fundadores, em depoimento publicado no relatório 2008.

“A Sicredi Noroeste tem feito um trabalho fantástico e muito importante. Hoje estamos vendo os resultados da semente plantada há 20 anos, quando o cooperativismo dava os primeiros passos. A Sicredi Noroeste é um exemplo de um trabalho vigoroso que vem frutificando e com certeza vai continuar sendo uma grande alavanca para o setor produtivo do nosso Estado.” João Paulo Koslovski, presidente da Ocepar, em depoimento publicado no relatório 2008.

oportunidade oferecida por treinamentos

especialistas da Fundação Getúlio Vargas

constantes e também a disponibilização

(FGV).

de cursos de pós-graduação, como o mi-

O ex-diretor-executivo Almir Schotten

nistrado em 2012/13 na área de “Desen-

observa que a Sicredi Rio Paraná PR/SP

volvimento Humano de Gestores”, com

chegou a 2018 com uma equipe de 204

114


colaboradores qualificados e comprometidos, cujo padrão de profissionalismo se tornou uma referência. “Eles estão preparados para explorar todo o potencial de crescimento do Sicredi, uma vez que os desafios nunca cessam: a renovação do quadro de associados é um processo natural, incluindo aí o espaço para a maior participação das mulheres e também dos jovens na cooperativa.”

O Paraná fica pequeno e o Sicredi avança para São Paulo

Em 2008, eram 10.842 associados distribuídos em 13 agências no Paraná. Havia um crescimento consistente ano após ano

A Sicredi Noroeste cresceu e se desenvolveu ao longo dos anos, em ritmo

tempo depois de sua fundação, estava

impressionante. De 2003, quando com-

consolidada. Era um dos principais agen-

pletou 15 anos, até 2008, ano em que

tes do desenvolvimento econômico da

comemorou duas décadas de existência,

região, apoiando um grande número de

a cooperativa evoluiu e chegou a esse úl-

produtores rurais, empresários, comer-

timo ano com recursos totais de R$ 65,7

ciantes de todos os tamanhos, profissio-

milhões (contra R$ 50 milhões de 2007)

nais liberais, aposentados e uma quan-

e um quadro de 10.842 associados (ante

tidade cada vez maior de jovens, parte

8.801 do ano anterior) distribuídos por

deles estudantes ou sucessores em negó-

13 agências em municípios localizados

cios da família.

no extremo noroeste do Paraná. Mesmo

Jorge Bezerra Guedes destaca como

com a preocupante crise financeira inter-

decisões relevantes que possibilitaram

nacional, a cooperativa apresentara cres-

essa realidade: 1) a abertura do quadro

cimento de 31%, e rentabilidade de 9%

social para a associação de pessoas de ou-

do patrimônio líquido.

tros segmentos, e não restritas apenas aos

A instituição, que em seu início passou

cooperados da Copagra; 2) a associação

por muitas incertezas, dificuldades e só

ao Banco Cooperativo Sicredi, em vez

começou a operar, efetivamente, algum

de criar um banco próprio do Paraná; 3) 115


Lideranças e centenas de convidados participaram da comemoração dos 20 anos da cooperativa de crédito, em 2008. A partir da esquerda, Pedro Paulo de Mello, Miguel Tranin, João Paulo Koslovski e Jorge Bezerra Guedes. Na outra foto, Pedro Paulo de Mello, Almir Schotten, Luiz Carlos Fernandes, Vanderlei Gonçalves de Oliveira e Jorge Bezerra Guedes

116


117


o fato de dirigentes e colaboradores te-

realizadas mais de 12 mil operações de

rem decidido por uma atuação firme no

crédito que totalizaram acima de R$ 86

mercado, sem medo, buscando o cres-

milhões (dos quais R$ 14,3 milhões para

cimento, a autonomia, e a excelência

o segmento rural, atendendo associados

operacional.

da agricultura familiar, bem como produtores de outras áreas e pecuaristas). No dia 11 de setembro, era inaugurada a

A necessidade de continuar crescendo

agência de Santa Cruz de Monte Castelo, a primeira da cooperativa a contar com instalações próprias. E, em outubro de

“O ano de 2009 não deixará saudades

2010, foi aberta a de Santa Isabel do Ivaí.

para a economia regional”, registrou o presidente Jorge Bezerra Guedes em sua apresentação no relatório de gestão, lem-

BUSCAR COMPETITIVIDADE

brando que os efeitos da crise financeira internacional fizeram-se sentir durante o

No entanto, havia uma preocupação

ano com a queda da renda da agricultu-

que só fazia aumentar na mesma inten-

ra, comércio e agroindústrias. Segundo

sidade. Para que o leitor possa enten-

ele, foram despendidos “consideráveis

der melhor, importante relembrar que

esforços” para conter os índices de ina-

no Paraná o cooperativismo de crédito

dimplência na carteira de crédito, assim

como um todo, por meio do Sistema Si-

como gerir de forma parcimoniosa as

credi, crescia a passos muito acelerados e

despesas correntes e, por outro lado, me-

as cooperativas de menor porte, por mais

lhorar as receitas com produtos e serviços

bem administradas e eficientes que fos-

disponíveis aos sócios, incluindo premia-

sem no cumprimento de seus objetivos,

ção na comercialização de consórcios en-

não conseguiam ter a mesma competiti-

tre as cooperativas do Paraná.

vidade das grandes. Estas iam ocupando

Jorge lembra que a Sicredi Noroeste

rapidamente as áreas de atuação, abrindo

estava sólida e no caminho certo, com 14

novas agências e robustecendo os seus

unidades de atendimento, tendo cresci-

números, num cenário que exigia o mes-

do 5% em recursos administrados no ano

mo padrão de agressividade das médias

de 2009, 17% em número de associados

e pequenas cooperativas, sem o qual elas

(eram 12.748, contra 10.842 de 2008),

não sobreviveriam.

24% em patrimônio líquido e 117% em

“As coisas iam acontecendo muito

captações de poupança. Nesse ano, foram

depressa e não havia tempo a perder”,

118


lembra o presidente, assinalando que a

paranaenses passaram a operar no vizinho

Sicredi Noroeste foi ficando encurralada

Estado de São Paulo e pouco mais tarde,

em sua região e sem opção territorial para

também, no Rio de Janeiro, subdividin-

continuar promovendo a expansão. En-

do-se as regiões. Nesses dois Estados, por

quanto isso, começava a se tornar comum

uma questão cultural, o cooperativismo

no cooperativismo de crédito paranaense

de crédito, assim como o de outros ra-

– incluindo o Sistema Sicredi - um fato

mos, não se desenvolvia nos mesmos

previsível: a fusão entre as corporações,

moldes do Paraná, onde é considerado

com as grandes absorvendo as de menor

um modelo nacional, e a maior parte da

porte. Não havia como ser diferente.

sua população permanecia à mercê do

Jorge Bezerra Guedes conta que em

sistema financeiro tradicional.

reuniões com lideranças do setor, che-

A então Central Sicredi Paraná, presidi-

gou a ser aconselhado a admitir a possi-

da por Manfred Alfonso Dasenbrock, se

bilidade de uma junção com uma grande

tornaria a Central Sicredi PR/SP e, logo

cooperativa que já havia se instalado bem

depois, Central Sicredi PR/SP/RJ. Segun-

na fronteira de sua área de atuação. Seria

do ele, a abertura de um amplo espaço

essa uma tendência irreversível, pois com

territorial nesses dois Estados, pelo seu

o passar do tempo a Sicredi Noroeste iria

imenso potencial e praticamente tudo ain-

perder velocidade de crescimento e, ob-

da por fazer, “constitui uma oportunidade

viamente, deixaria de ser competitiva.

extraordinária para o crescimento do cooperativismo de crédito”. Com sua capacidade de gestão, expertise, transparência e

A SOLUÇÃO

larga experiência na superação de desafios e conquista de resultados, o Sistema Si-

A vigorosa expansão do Sistema Sicredi,

credi organizou-se, planejando prestar a

a necessidade de ocupar novos espaços em

mesma qualidade de atendimento e cres-

outras regiões e a sua atuação exemplar no

cer nas novas regiões, além de continuar

Paraná, onde promove o desenvolvimen-

fortalecendo a sua presença no Paraná.

to econômico regional e está presente em muitos municípios, acabaram trazendo a solução tão procurada pela Sicredi No-

UM NOVO NOME

roeste e outras cooperativas do Estado que tinham a mesma preocupação.

Com isso, a Sicredi Noroeste, até então

Por meio de uma autorização do Banco

detentora de uma região compreendida

Central, em 2011, cooperativas de crédito

por 17 municípios no extremo noroeste 119


paranaense, onde mantinha 16 agências,

números expressivos. O número de asso-

absorveu 27 municípios do chamado

ciados já chegava a 16.449, os depósitos

Pontal do Paranapanema, em São Paulo,

totais atingiam R$ 68,9 milhões, os re-

atualmente centralizados pela cidade de

cursos administrados somavam R$ 115,5

Presidente Prudente, a 230 quilômetros

milhões, as operações de crédito eram de

de Nova Londrina. A cooperativa havia

R$ 73,5 milhões e o crédito total conce-

amealhado uma importante área territo-

dido de R$ 148,9 milhões.

rial a explorar, promover sua expansão e

Mais do que tudo isso, havia agora a

ampliar horizontes, o que levou a uma

expectativa de expansão para uma região

mudança de sua denominação para Sicre-

nova e carente de cooperativismo de cré-

di Rio Paraná PR/SP. “Estamos somando

dito, segundo observa a gerente regional

forças com o Estado de São Paulo para

de desenvolvimento de negócios, Vanes-

buscar o desenvolvimento das duas re-

sa Gutowski, acrescentando: “Foi o início

giões. São Paulo é carente de nossos pro-

de um novo tempo para a cooperativa”.

dutos e serviços”, comentou o presidente Jorge Bezerra Guedes durante Assembleia Geral Extraordinária realizada dia 8

Aprimorar e evoluir sempre

de dezembro de 2011, para oficializar a expansão. A cooperativa encerraria 2011 com

O Sistema Sicredi passava por transformações importantes em sua organização operacional e política, para elevar ainda mais a imagem de excelência em relação ao sistema financeiro. “A Sicredi Noroeste cumpre a sua missão na região, buscando ser a diferença nas regiões onde

“Estamos somando forças com o Estado de São Paulo para buscar o desenvolvimento das duas regiões. São Paulo é carente de nossos produtos e serviços” (Jorge Bezerra Guedes)

atua”, citou Jorge no relatório de gestão daquele ano, lembrando a premissa básica de “crescer em quantidade e qualidade, e proporcionar resultados financeiros e sociais para a cooperativa e os seus associados”. Ao mesmo tempo, mais de 350 associados participavam de estudos do programa “Crescer”, que visa a qualificar a participação no programa “Pertencer”, de organização do quadro social,

120


implantado em 2012. A instituição se so-

financeira local. No caso de Nova Lon-

bressaía, ainda, por algumas conquistas

drina, esse índice supera os 30%. “O po-

no Sistema Sicredi, como o 3º lugar na

tencial é grande, sem dúvida”, diz, ex-

venda de produtos da campanha “Dono

plicando que cada cooperativa, além de

da Copa Sicredi”, o 2º na comercializa-

desenvolver o seu trabalho nas regiões

ção de consórcios, o 3º em seguro de vida

tradicionais, onde tem suas raízes, precisa

e 2º entre as que apresentavam os melho-

buscar oportunidades em outras para ace-

res índices de auditoria.

lerar o crescimento.

O ex-diretor-executivo Almir Schot-

No interior paulista, era necessário co-

ten ressalta que “nenhuma organização

meçar do marco zero. Do lado paranaen-

econômica ou cooperativa sobrevive se

se do Rio Paraná, o sistema cooperativista

não continuar evoluindo”, até porque

de crédito estava consolidado, reconheci-

os custos fixos não param de subir. E,

do e crescendo de forma rápida. Mas no

no caso das cooperativas de crédito, essa

lado paulista, a mudança era da água para

necessidade é ainda maior, uma vez que

o vinho e ele não passava, ainda, de um

elas estão inseridas em um mercado alta-

ilustre desconhecido.

mente concorrido, onde operam grandes corporações bancárias.

Almir se recorda que em uma viagem de reconhecimento, ao dialogar com a autoridade de um município daquela região, explicou que a cooperativa pla-

GRANDE POTENCIAL

nejava abrir uma agência ali e expôs os

Almir lembra que no Paraná, como um todo, ainda há muito espaço para a expansão do cooperativismo de crédito, onde esse sistema representa pouco mais de 10% do montante financeiro total. No Brasil inteiro, a média era inferior a 4% em 2018. Mas em algumas cidades paranaenses, especialmente as de pequeno porte, a expressividade da participação é bem maior, com percentuais que ultrapassam os 50%, em muitos casos, lem-

Se de um lado o sistema cooperativista de crédito era reconhecido por parte da população paranaense e estava consolidado, no interior de São Paulo ele não passava ainda de um ilustre desconhecido

brando que em tantas outras a agência Sicredi é, não raro, a única instituição 121


Em 2011, a cooperativa absorveu parte da região do Pontal do Paranapanema, no vizinho Estado de São Paulo, que tem como sua principal referência a cidade de Presidente Prudente (foto). A expansão oferece a tão esperada oportunidade para que a instituição impulsione ainda mais o crescimento, levando sua experiência, produtos e serviços para um grande número de municípios ávidos pela chegada do cooperativismo de crédito. Rodrigo Braga

122


123


benefícios que proporcionaria à popu-

A gerente regional de desenvolvimento

lação. Essa liderança não apenas desco-

de negócios, Vanessa Gutowski, salienta

nhecia a proposta do cooperativismo de

que apesar das diferenças culturais em re-

crédito, como duvidou de sua existência.

lação ao cooperativismo que haviam de um lado a outro do Rio Paraná, ambas as regiões (extremo-noroeste paranaen-

UM DESEJO ANTIGO

se e oeste paulista) possuem pontos em comum, entre os quais o mesmo tipo de

Mas já, de longa data, produtores do

solo arenoso e semelhança em relação ao

Paraná que mantinham negócios em mu-

clima, além de se situarem nas extremida-

nicípios dessa região paulista e estavam

des dos Estados. “O próprio desafio eco-

acostumados a lidar com cooperativas de

nômico dessas regiões é muito parecido”,

crédito e de produção agropecuária, rei-

pontua.

vindicavam a presença delas, justificando

O avanço para território paulista foi re-

que se sentiriam mais seguros e apoiados.

forçado com o chancelamento de 2012,

Em 2003, por exemplo, o produtor ru-

por parte da Organização das Nações

ral Roberto Junqueira, ligado na época

Unidas (ONU), como o Ano Interna-

à Copagra, associou-se na agência de

cional das Cooperativas. Um ano es-

Diamante do Norte (PR) e solicitou que

pecial, que para o Sicredi representou a

a cooperativa de crédito estudasse a pos-

continuidade das transformações na ala-

sibilidade de expandir sua atuação para o

vancagem de negócios, na infraestrutu-

Pontal do Paranapanema, onde os pro-

ra tecnológica, no portfólio à disposição

dutores estavam desassistidos. A demanda

dos associados e na governança. “Para o

requereu uma consulta ao Banco Central

cooperativismo, 2012 significou o reco-

que, alegando tratar-se de áreas diferen-

nhecimento de sua força no desenvol-

tes, não autorizou.

vimento da sociedade”, sintetizou Jorge

Agora, com o trânsito livre e desimpe-

Bezerra Guedes.

dido, e depois de inaugurar em 2011 mais

Vanessa cita que havia um problema,

uma agência no Paraná (em Planaltina do

em especial, a superar no interior de São

Paraná), a Sicredi Rio Paraná PR/SP mar-

Paulo: a desconfiança de algumas pessoas

charia firme em terras paulistas. Naquele

em relação ao próprio cooperativismo,

mesmo ano, chega a Primavera, no mu-

devido a um histórico negativo deixado,

nicípio de Rosana, já pensando nas trata-

principalmente, por organizações ligadas

tivas para implantar outras duas, em Pre-

ao setor produtivo.

sidente Epitácio e Presidente Venceslau. 124

Com

essa

dificuldade

a

mais,


certamente não seria uma tarefa simples

em parceria com o Comafen (Consórcio

viabilizar a implantação de unidades por

Intermunicipal da APA Federal do No-

meio de sócios-fundadores, como se fazia

roeste do Paraná) e prefeituras, aprofun-

no Paraná. “No entanto, não havia ou-

dando o debate sobre o encaminhamento

tra maneira, a gente tinha que fazer um

das propostas de desenvolvimento regio-

trabalho de formiguinha”, conta Vanessa,

nal. O evento contou com a presença do

lembrando que foi necessário desenvol-

governador Beto Richa. E, prestando ho-

ver um esforço muito maior no sentido

menagem a um de seus principais funda-

de conseguir apresentar o Sicredi às co-

dores, a cooperativa instituiu a premiação

munidades e conquistar a sua confiança,

“Medalha Olivier Grendene de Coope-

até chegar à cotização financeira. Para

rativismo” para reconhecer o trabalho

isso, eram convidadas pessoas de referên-

daqueles que fizeram o sistema crescer.

cia para reuniões em que elas passavam a

Por sua vez, o programa “A União Faz

conhecer a cooperativa e o seu modelo de

a Vida” foi ampliado para as cidades de

governança. Mesmo assim, nas primeiras

Terra Rica, Santa Mônica e Santa Cruz

conversas, as adesões eram pequenas.

do Monte Castelo, realizando-se ainda a reinauguração da agência de Diamante do Norte, agora em instalações mais am-

A comemoração dos 25 anos

plas e confortáveis. Para completar, os associados foram agraciados com um show

Os 25 anos da cooperativa, completados em 2013, foram marcados por um

do cantor Sérgio Reis, coroando um ano de êxitos e expansão.

crescimento vertical, “fortalecendo seus

“Nesses 25 anos, nossa maior meta foi

números e preparando-se para o traba-

dotar a cooperativa de um modelo de

lho de expansão no Estado de São Pau-

gestão que pudesse garantir a sua perpe-

lo com segurança e energia”, conforme

tuidade”, comentou no relatório de 2013

frisou o presidente em sua mensagem no

o presidente Jorge Bezerra Guedes. Ele

relatório de prestação de contas. Em sín-

acrescentou: “testemunhamos vários pro-

tese, foi registrado um crescimento anual

cessos de liquidação, fusão ou incorpora-

de ativos totais de 21,2%. Nesse ano, em

ção de cooperativas, seja de crédito ou de

que a instituição contava com 23 mil

produção, que deixaram tristes histórias

associados, 140 colaboradores e R$ 170

de desgaste junto ao público”.

milhões em recursos administrados, foi

A comemoração dos 25 anos aconte-

promovido o 5º Encontro de Lideranças

ceu no dia 22 de novembro, iniciando

da Região Extremo Noroeste do Paraná

pela homenagem a 11 fundadores da 125


cooperativa, que permaneceram ativos ao

da campanha de capitalização que sor-

longo desse período: José Bolivar Garcia

teou uma caminhonete S10 (ganha pelo

Lellis, Pedro Paulo de Mello, José Lopes

associado Osmar Orfanelli, de São Pedro

Pires, Luiz Valdir Moreira, Napoleão

do Paraná) e 17 aparelhos de televisão de

Augusto Chiamulera, Rudi José Schimd,

40 polegadas – um para cada unidade de

Aléssio Roman, Arnaldo José Mazzotti,

atendimento, na época.

Nelson Bono Maior, Mauro Bernardelli, Raimundo Gomes de Lucena e José Jorge Machado. Todos receberam a medalha

ANO DE INAUGURAÇÕES

Olivier Grendene. Após o evento, os associados foram re-

Em 2014, o atual gerente regional de

cebidos no Centro de Tradições Gaúchas

desenvolvimento, José Gôngora Dardos-

Três Fronteiras de Nova Londrina, para

se, o Zeca, vai para Presidente Venceslau

o show de Sérgio Reis. Milhares de as-

com a missão de implantar a unidade lo-

sociados de todas as unidades de atendi-

cal por meio do sistema de sócios-funda-

mento da cooperativa presenciaram gra-

dores. Ao final de um dedicado trabalho,

tuitamente o espetáculo.

alcançou seu objetivo, com a adesão de

Fechando o ano, foi realizado no dia

154 sócios que aportaram o montante

30 de dezembro o sorteio dos prêmios

de R$ 4 mil cada um. “A comunidade

R$ 34,505

159

milhões era o patrimônio

Era o número de

líquido da cooperativa em 2014,

colaboradores em 2014,

com crescimento significativo

ano em que

sobre os R$ 27,469 milhões

foram realizadas

do ano anterior e os R$ 22,848 milhões de 2012.

336 horas de treinamento.

126


entendeu a proposta e abraçou o Sicredi”,

à cooperativa paranaense, incluindo a

conta, lembrando o apoio recebido de

agência de Presidente Prudente, locali-

empresários como os do grupo Leonardi

zada na Avenida Manoel Goulart, 505-1,

e também do comerciante Edmilson Sca-

no cruzamento das principais Avenidas

lon, ligado ao Rotary Club.

(Manoel Goulart e Coronel Marcon-

O ano de 2014 marcaria a abertura de

des), que contava com 1,9 mil associados.

unidades de atendimento em Presidente

“Com a entrada de Presidente Prudente

Venceslau e Presidente Epitácio, no mês

em nossa área de atuação, a cooperativa

de março, e Teodoro Sampaio, em agos-

ganha em escala, números, representati-

to E, em 2016, inaugura as de Pirapozi-

vidade e abre muitas possibilidades para

nho e Mirante do Paranapanema.

se expandir ainda mais pelo Estado de São Paulo”, afirmou o presidente. Com isso, a cooperativa passou a somar

Em Presidente Prudente

44 municípios em sua área de atuação, dos quais 27 no Estado de São Paulo e 17 no

Ainda em 2016 a cooperativa conse-

Paraná. No ano de 2016 seria ultrapassado

guiria realizar o sonho de instalar-se em

o montante de R$ 300 milhões em ati-

Presidente Prudente, o maior municí-

vos totais, com crescimento de 24,7% em

pio e também o polo do oeste paulista,

recursos administrados, no comparativo

mas até fincar sua bandeira ali foi preciso

com o ano anterior. Houve aumento de

tempo e superar várias etapas de uma in-

21,2% em aplicações de poupança, che-

trincada negociação.

gando a R$ 10 milhões. Por outro lado,

Jorge Bezerra Guedes explica que ha-

foi registrada a participação de 2.812 as-

via na cidade uma cooperativa consti-

sociados em reuniões assembleares de

tuída por profissionais de odontologia, a

prestação de contas, o equivalente a 10%

Odontocred, que havia aderido ao Siste-

do quadro social.

ma Sicredi. Depois de enfrentar dificul-

A Sicredi Rio Paraná PR/SP chegou a

dades, a instituição foi incorporada pela

2017 com 23 unidades de atendimento,

Sicredi Centro Oeste, sediada em Marília

sediadas em Diamante do Norte, Mari-

(SP), cooperativa cujos associados têm

lena, Nova Londrina, Santa Mônica, São

forte presença na área da saúde.

José do Ivaí, Querência do Norte, Terra

Contudo, a Central Sicredi PR/SP/RJ

Rica, Loanda, Planaltina do Paraná, Ci-

promoveu uma reorganização das áreas

dade Gaúcha, Nova Olímpia, Amaporã,

de ação das singulares que ali operavam

Guairaçá, Santa Cruz de Monta Castelo,

e 10 municípios passaram a pertencer

Santa Isabel do Ivaí e São Pedro do Paraná, 127


O presidente Jorge Bezerra Guedes e grupo de colaboradores com o cantor Sérgio Reis, que se apresentou na comemoração dos 25 anos da Sicredi Rio Paraná, já uma importante organização voltada ao desenvolvimento econômico regional, assumindo protagonismo ao promover iniciativas como o encontro de senhoras, em que se debateu a relevância do papel feminino no apoio aos negócios familiares, o Empretec (em parceria com o Sebrae), para estimular o empreendedorismo, e o Encontro de Lideranças, que tem como objetivo a busca por soluções para explorar as potencialidades da região.

128


129


agregação de valores e também o aumen-

NÚMEROS EM 2017

to da base de associados. Em São Paulo, a cooperativa enxerga muito espaço para des-

36,4 mil associados

bravar e crescer em termos horizontais. Para

196 colaboradores

ocupar seu território, o objetivo é instalar

45 novas contratações

agências nos próximos anos em municípios

R$ 382 milhões em ativos

com população acima de 10 mil habitantes,

R$ 208 milhões em crédito

o que fomentará a captação de associados e

R$ 6,5 milhões em resultado

a oferta de seus produtos. Para os próximos cinco anos, de acordo com o presidente, a perspectiva é de um crescimento de 30% em

em terras paranaenses; Primavera, Presi-

média, considerando apenas o lado paulista,

dente Epitácio, Presidente Venceslau,

com a abertura de duas agências a cada ano.

Teodoro Sampaio, Pirapozinho, Mirante

“Quando chegamos, a participação do coo-

do Paranapanema e Presidente Prudente,

perativismo de crédito como um todo, na

no Estado de São Paulo. São mais de 40

região, era de 0,6%; atualmente, só o Sicredi

mil associados atraídos pela possibilidade

detém 1,3% desse mercado”, comemora.

de gerar crescimento coletivo.

Para fortalecer cada vez mais sua pre-

Com isso, mesmo tendo iniciado suas

sença, a cooperativa formaliza parcerias

operações no Estado de São Paulo ape-

com entidades de classe, organizações e

nas em 2011, aquela região já representa

cooperativas agropecuárias, entre as quais

25% de toda a movimentação financeira

a paranaense Cocamar, que também che-

da cooperativa, o mesmo acontecendo

gou à região naquela mesma época. O

em relação ao número de associados: em

presidente comenta que logo ao instalar-

2018, a quantidade de integrantes paulis-

se em terras paulistas e implantar o seu

tas já se aproximava de 10 mil.

sistema de trabalho, a reação do mercado foi positiva: finalmente, na visão local, o

Estratégias para o crescimento

cooperativismo de crédito começava a atuar com mais profissionalismo. Quando uma cooperativa de crédito se

O presidente Jorge Bezerra Guedes expli-

instala em uma comunidade, segue dire-

ca que, diante dessa nova realidade, as estra-

trizes de inclusão financeira e de fomento

tégias de crescimento da Sicredi Rio Para-

à economia local, e não apenas mercado-

ná PR/SP passaram a ser duas. No Paraná,

lógicas, como um banco. Dessa forma, a

o foco é a expansão vertical, por meio da

instituição materializa oportunidades de

130


acesso ao crédito e a outros produtos e

entidades e instituições estão entre as ca-

serviços financeiros, gerando efeitos mul-

racterísticas do Sicredi, em seu envolvi-

tiplicadores no desenvolvimento social e

mento com os setores de atividade, além

econômico. Exemplos disso são a forma-

do apoio e participação em eventos locais.

lização de atividades, o resgate da cidadania, a geração de empregos e o aumento

CONTATO DIRETO COM A GESTÃO

da renda. Contribui também para o fortalecimento econômico das comunidades a

Mas o relacionamento não fica por aí.

distribuição de sobras, que faz com que os

No caso da Sicredi Rio Paraná PR/SP,

recursos permaneçam na região, aumen-

desde 2005 são mantidas caixas receptoras

tando a capacidade de desenvolvimento.

em todas as agências, para que os associa-

Por fim, o polo de Presidente Pruden-

dos possam expressar-se, escrevendo co-

te representou um novo divisor de águas

mentários, sugestões e críticas que levem

para a cooperativa. Tanto que, em 2018,

à melhoria dos serviços. Outro contato

a Sicredi Rio Paraná PR/SP criou para

direto de comunicação com a gestão é a

aquela região uma nova Superintendên-

ação denominada Café com o Presidente,

cia Regional (Sureg).

que reúne lideranças especialmente con-

A inserção em uma comunidade, como

vidadas - além de colaboradores e conse-

já visto, inicia pela conquista da confian-

lheiros -, oportunidade em que se faz um

ça de um grupo de sócios-fundadores. O

detalhamento sobre determinado assunto

passo seguinte é a estruturação da agên-

e são sanadas dúvidas. O presidente Jorge

cia e o treinamento dos colaboradores.

Bezerra Guedes toma a iniciativa, ainda, de

Tudo pronto, a operação do atendimento

divulgar pessoalmente produtos e serviços

é divulgada amplamente por meio de um

da sua cooperativa, por meio do aplicati-

esforço de comunicação, utilizando várias

vo de conversas em grupo. Tudo isso sem

plataformas. As parcerias com empresas,

falar das assembleias e reuniões de rotina. Projeto da nova Sureg

131


O Sicredi (detalhe da sede e agência em Nova Londrina) desenvolve programas para educação infantil, atividades solidárias, aprimoramento do quadro de colaboradores e a gestão é próxima do quadro associado, com a realização de iniciativas periódicas para estreitar o relacionamento e sanar dúvidas, como o Café com o Presidente.

132


133


Sistema consolidado no país Com seu crescimento, as cooperativas de crédito do Sistema Sicredi cumprem

Em 2017, a Central Sicredi PR/SP/RJ atingiu a marca de 1 milhão de associados.

com as metas estabelecidas no planejamento estratégico da Central, cujo foco é o aumento da base de associados e a evolução dos depósitos para ampliação das carteiras de crédito.

e um modelo de gestão eficiente estão

Para tanto, as cooperativas condu-

contribuindo para que o Sicredi cres-

zem diferentes projetos com suas equi-

ça acima do mercado. Em outubro de

pes, para aprimoramento dos resultados,

2017, a Central Sicredi PR/SP/RJ atin-

como treinamentos corporativos, ações

giu a marca de 1 milhão de associados.

de marketing, campanhas de endomar-

O montante corresponde a quase um ter-

keting, ações de aproximação com as

ço do total de associados registrados em

comunidades (entre os quais o Progra-

todo o Brasil, 3,6 milhões de cooperados,

ma A União Faz a Vida), a ampliação da

até então.

participação dos associados na gestão da cooperativa pelos Programas Crescer e Pertencer, entre outras que diferenciam as atividades das instituições financei-

O programa A União Faz a Vida

ras cooperativistas das demais. No Sicredi, a utilização de produtos

Na área de atuação da cooperativa, o

financeiros como conta-corrente, cartão

Programa A União Faz a Vida começou

de crédito, investimentos, seguros e con-

a ser articulado no ano de 2008, come-

sórcios, trazem benefícios aos associa-

çando por Nova Londrina, quando Pre-

dos,pois os resultados de uma cooperativa

feitura, Secretaria de Educação e Facinor

de crédito são repassados proporcional-

(Faculdade Intermunicipal do Noroeste

mente ao volume das suas operações e

do Paraná) aceitaram o desafio de serem

reinvestidos no lugar onde vivem, forta-

parceiros na sua implantação.

lecendo a economia da região.

O lançamento ocorreu no dia 7 de abril

A cada ano, o cooperativismo de crédi-

de 2009, durante cerimônia que contou

to vem se consolidando no país. As op-

com a presença de autoridades, lideranças

ções eficazes de crédito e investimento

e educadores do município, oportunidade

134


em que foi firmado o termo de parce-

com o objetivo de vivenciar gestos de

ria entre a Prefeitura e o então Sicredi

carinho, solidariedade e afeto e levar à

Noroeste e também a proposta de apoio

percepção da criança o valor dessa ação

da cooperativa Copagra no programa,

aos beneficiados.

que, inicialmente, atendeu 5 escolas, 990 crianças e 80 educadores.

PESQUISA FORMAÇÃO

Já em 2010, no ano de desenvolvimento do programa, além das oficinas

A partir daí, iniciou-se a formação dos

de formação, a assessoria pedagógica in-

educadores no município, que ficou a

tensificou seus trabalhos, orientando 14

cargo da Facinor (Faculdade Intermu-

projetos nas escolas. Nesse mesmo ano,

nicipal do Noroeste do Paraná), respon-

em que o programa completava uma dé-

sável pela assessoria pedagógica, com

cada e meia em âmbito nacional, o Sicre-

três professoras habilitadas pelo Cenpec

di realizou uma pesquisa para acompa-

(Centro de Estudos e Pesquisas em Edu-

nhar o processo de desenvolvimento e a

cação, Cultura e Ação Comunitária), No

presença dos valores de cooperação e ci-

ano seguinte intensificou-se a forma-

dadania junto ao público-alvo, crianças

ção, por meio de oficinas de capacita-

e jovens, conduzido por uma instituição

ção, quando foram desenvolvidas ações

especializada e reconhecida nacional-

de integração do grupo, promovendo-

mente, a Fundação Carlos Chagas.

se socialização, expedição investigativa, comunidade, aprendizagem, trabalho com projetos e reuniões com a direção das escolas municipais.

Em Nova Londrina, os resultados apontaram: • Diálogo - os alunos reconheceram a importância do saber ouvir as ideias dos demais em situações que não envolvem conflitos de

SOLIDARIEDADE

interesse; • Solidariedade - os estudantes va-

Os primeiros resultados começaram

lorizaram a importância e o pra-

a surgir já no primeiro ano de realiza-

zer no trabalho de equipe e enfa-

ção do programa, com ações solidárias

tizaram que em uma equipe todos

desempenhadas pelos professores, fun-

têm os mesmos direitos e deveres,

cionários e alunos junto a comunidade,

em situação de igualdade; 135


• Diversidade - eles reconhece-

EDUCADORES

ram que há pessoas diferentes em vários aspectos e que devem ser respeitadas;

Em 2012, foi promovido um momento de descontração entre os educadores,

• Justiça - os alunos concordaram

com a apresentação de uma peça teatral

com os princípios gerais de que

a cargo da equipe HPimentel; houve,

devemos agir de acordo com as

ainda, 12h de oficinas de aprendizado

leis e que situações de violência

aos educadores, 40h de assessoria a proje-

prejudicam a todos;

tos nas escolas, execução de 32 projetos,

• Empreendedorismo - os estu-

construção do portfólio e a ação coope-

dantes valorizaram atitudes em

rativa “Cooperar para alegrar” que re-

que as pessoas se sintam responsá-

sultou na arrecadação de 2 mil peças de

veis pelo ambiente em que vivem.

roupas, além de brinquedos, calçados e cestas básicas que beneficiaram 111 fa-

Com a divulgação da pesquisa, em 2011,

mílias carentes. As doações foram obtidas

a cooperativa reuniu lideranças e autori-

pelos alunos, educadores, colaboradores e

dades da comunidade para compartilhar

parceiros do programa.

o resultado, buscando a conscientização e comprometimento de todos na melhoria do nível das crianças nas dimensões apre-

DESTAQUE

sentadas. Nesse mesmo ano a cooperativa desenvolveu um trabalho especial com gestores escolares e educadores.

Nesse mesmo ano, o sistema cooperativista comemorou em todo o mundo, o Ano Internacional das Cooperativas e dentre as ações programadas, as crianças expressaram seu sentimento sobre cooperação e cooperativismo por meio da

Os resultados começaram a aparecer já no primeiro ano de realização do programa A União Faz a Vida.

produção de textos e desenhos, sendo que um desses desenhos, de autoria uma aluna, foi escolhido para compor o cartão de Natal da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná). Muito trabalho marcou o ano de 2013. Houve a adesão das creches do município, atendendo-se assim a 100% da rede

136


municipal, em alunos e professores, com

Marcossi e Supermercado Sobral, que

8 escolas envolvidas, 103 educadores e

abraçaram a causa e contribuíram para o

1.150 crianças e a adesão da empresa Su-

sucesso da iniciativa. O lançamento nos

permercado e Auto Posto Castelli como

novos municípios aconteceu em 3 de fe-

apoiadora. Foi possível, também, dobrar

vereiro, sendo um ano dedicado exclu-

a carga horária de assessoria nas escolas

sivamente à capacitação dos professores.

para garantir mais proximidade do pro-

Já em Nova Londrina, foi dada sequência

fessor na execução do projeto. Por ou-

aos trabalhos, incluindo no calendário de

tro lado, realizou-se uma palestra moti-

ações a 1ª Gincana Cooperativa, com o

vacional reunindo todos os funcionários

envolvimento dos pais na vida escolar dos

da área da educação, sendo que numa

filhos e para marcar a comemoração da

avaliação local junto aos professores, che-

semana da família. Teve início, também,

gou-se como resultado a uma alta satisfa-

um trabalho da “abelhinha itinerante”

ção com o programa, havendo no quadro

com o objetivo de demonstrar o convívio

de assessoria pedagógica a formação de

do aluno com alguém diferente e o exer-

mais um assessor. Em resumo, foram rea-

cício dos valores praticados no programa.

lizados 30 projetos, prestadas homenagens ao dia das crianças e dos professores e articulados três novos municípios para

DOIS MOMENTOS

implantação do programa, favorecendo a sua ampliação na cooperativa.

Nada menos que 183 projetos foram realizados em 2015, com mais de 168

CRESCIMENTO

horas ofertadas aos educadores dos 4 municípios, entre capacitação e assessoria a

Foi dado um salto importante em 2014.

projetos. O ano ficará marcado por dois

Houve a expansão do programa para os

momentos, em especial. No primeiro,

municípios de Santa Mônica, Santa Cruz

um grupo de 38 alunos da Escola Muni-

de Monte Castelo e Terra Rica, soman-

cipal Isolde Julieta Andreatta, abrilhantou

do 31 entre escolas e creches envolvi-

a abertura do encontro Interestadual dos

das, 4.511 crianças participantes e 377

programas A União Faz a Vida e Coo-

educadores, além da inclusão de duas

perjovem, na cidade de Curitiba, com

Apae, uma de Santa Mônica e outra de

uma apresentação. No segundo, foi pro-

Santa Cruz de Monte Castelo. Nessa úl-

movida uma noite de Natal, que reuniu

tima cidade, contou-se com 3 apoiado-

cerca de 2 mil pessoas de Nova Londrina

res: Hipermercado Marcossi, Auto Posto

em frente ao Sicredi para assistir a uma 137


Nas fotos, detalhes do grande envolvimento promovido pelo Programa A União Faz a Vida em municípios da região da Sicredi Rio Paraná, para levar, com enorme sucesso, informações a educadores e estudantes.

138


139


exibição do Coral de Natal das crianças do Programa A União Faz a Vida, composto por 63 crianças de 7 a 10 anos. Em 2016, foram realizados 169 projetos, em 23 escolas, 315 educadores e 3.352 alunos envolvidos no Programa. Os professores participaram das oficinas de capacitação, encontros e aplicaram os

O Sicredi engajou-se no esforço visando a impulsionar o desenvolvimento regional, assumindo protagonismo.

conteúdos em sala de aula, computandose 120 horas entre formações e assessorias.

NOVA FASE Os novos municípios são Querência do No ano seguinte, foi dada continuida-

Norte e Guairaçá, no Paraná, e Teodo-

de ao trabalho apenas no município de

ro Sampaio, em São Paulo, incluindo-se

Santa Cruz de Monte Castelo. Aconte-

também o colégio Sesi (Serviço Social

ceram 77 projetos, 12 horas de formação

da Indústria) de Loanda (PR).

de educadores e 315 horas dedicadas a orientação de projetos. A coordenadora local recebeu habilitação para um maior entendimento de cada etapa da metodo-

Empretec estimula o empreendedorismo

logia do programa. Houve, ainda, um momento de descontração com todos

Para o desenvolvimento e maior sucesso

os educadores no início do ano letivo,

empresarial de seus associados, a coope-

apoiando uma campanha que resultou

rativa promoveu junto ao Sebrae (Servi-

na arrecadação de 184 livros infantis

ço Brasileiro de Apoio às Micro e Peque-

direcionados para escolas e um encerra-

nas Empresas) a realização do Seminário

mento dos trabalhos do ano nas escolas e

Empretec, específico para comerciantes

em praça pública.

de Nova Londrina. O Empretec é uma

Neste mesmo ano em que houve a

metodologia da Organização das Nações

perda de 3 municípios, o Sicredi teve a

Unidas (ONU) que busca explorar carac-

alegria de receber outros 3, por iniciativa

terísticas de comportamento empreende-

do poder público, marcando-se o início

dor, bem como identificar novas oportu-

dos trabalhos em 2 de fevereiro de 2018.

nidades de negócios.

140


DETALHES

participou desta edição foi o empresário Wanderson Dim, já citado neste li-

Por ser uma capacitação eminente-

vro. O presidente da cooperativa, Jorge

mente comportamental, a iniciativa pro-

Bezerra Guedes, lembra que na época

porciona aos seus participantes, além de

Dim demonstrava vontade de ter um

melhoria no desempenho empresarial,

negócio próprio, pois havia retornado

mais segurança na tomada de decisões,

recentemente do Japão: “Ele participou

ampliação da visão de oportunidades.

do Empretec e hoje possui duas empre-

São 60 horas de capacitação em seis dias

sas, uma de organização de eventos e

de imersão, na qual o participante é de-

um buffet”.

safiado em atividades práticas, cientifi-

O Empretec é executado pelo Sebrae

camente fundamentadas que apontam

em parceria com o PNDU (Programa das

como um empreendedor de sucesso age,

Nações Unidas para o Desenvolvimento

tendo como base algumas características

e a ABC/MRE (Agência Brasileira de

comportais, entre elas: oportunidade e

Cooperação, do Ministério das Relações

iniciativa, persistência, riscos calculados,

Exteriores). Com sua metodologia alta-

exigência de qualidade e eficiência, com-

mente interativa e experimental, inclui

prometimento, busca de informações,

palestras, exposições em vídeo, dinâmicas

estabelecimento de metas, planejamento

individuais e em grupo.

e monitoramento sistemáticos, persuasão e rede de contatos, independência e autoconfiança. Tendo esse perfil comportamental, o participante se autoavalia,

Encontro de Lideranças apresenta resultados

identificando seus pontos fortes e fracos, e novamente é desafiado a adotar uma

Para debater os desafios e oportunida-

postura que reforce suas potencialidades

des nos municípios localizados no extre-

e corrija as fraquezas.

mo noroeste do Paraná, a Sicredi Rio Paraná PR/SP idealizou há mais de 15 anos o Encontro de Lideranças, hoje deno-

CASE

minado Encontro de Desenvolvimento Regional, que já teve sete edições desde

Conforme já dito, a primeira edição do Seminário em Nova Londrina, foi

2007 e é realizado a cada dois anos, em períodos não eleitorais.

realizada por iniciativa da Sicredi Rio

Entre os assuntos prioritários na agen-

Paraná PR/SP. E um dos associados que

da estão o desenvolvimento do turismo, 141


indústria, cadeia produtora do leite e saú-

Aprendizagem Comercial (Sesc-Senac,

de pública.

em fase de licitação); criação de uma uni-

O evento é coordenado pela Sicredi

dade do Serviço Social da Indústria (Sesi)

Rio Paraná PR/SP e na última edição, em

em Loanda; duplicação da BR-376 (no

2017, contou com a parceria, na sua or-

trecho entre Maringá e Paranavaí, em

ganização, das seguintes entidades: Aimes

fase de conclusão); tratamento oncológi-

(Indústrias de Metais Sanitários de Loan-

co ambulatorial em Paranavaí (Unimed

da e Região), Fiep (Federação das In-

com clínica montada/ atendimento pelo

dústrias do Estado do Paraná), Amunpar

SUS (Consórcio Intermunicipal de Saú-

( Associação Dos Municípios do Noroes-

de) na Santa Casa/ Hospital do Câncer

te do Paraná), Cacinpar (Coordenadoria

de Barretos com presença mais forte na

das Associações Comerciais e Industriais

região (Centro de Diagnóstico em Nova

do Noroeste do Paraná), Acil (Associação

Andradina-MS); incentivo à qualidade

Comercial de Loanda), Codetea (Co-

dos produtos das Indústrias de Metais Sa-

legiado de Desenvolvimento do Terri-

nitários de Loanda (Através do APL de

tório das Águas), Comafen (Consórcio

Metais Sanitários de Loanda); instalação

Intermunicipal da APA Federal do No-

de um posto de fiscalização da Polícia

roeste do Paraná), Copagra Cooperativa

Rodoviária Estadual na divisa interesta-

Agroindustrial, Emater (Instituto Para-

dual em Diamante do Norte; instalação

naense de Assistência Técnica e Extensão

da reitoria da Unespar em Paranavaí

Rural), Facinor (Faculdade Intermunici-

(ocorrida em 27/01/2015); organização

pal do Noroeste do Paraná), Retur (Rede

da atividade turística, inclusive na ver-

Turismo Reginal), Sebrae PR (Serviço

tente rural, com festas culturais tradicio-

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

nais (a Retur tem feito esse trabalho com

Empresas - Paraná), Senar (Serviço Na-

municípios de G-6/criada a Câmara Téc-

cional de Aprendizagem Rural) e muni-

nica – Codetea). Ao mesmo tempo, for-

cípio de Loanda.

mação de consórcios para gerir patrulhas mecanizadas – estradas vicinais e rurais (o Comafen, em convênio com o go-

CONQUISTAS

verno do Estado, instituiu a Patrulha do Campo, programa que funcionou bem

Deste a primeira edição, em 2007, várias

por mais de um ano); companhia inde-

propostas se transformaram em conquis-

pendente da Polícia Militar em Loanda;

tas: criação de uma unidade do Serviço

estruturação do conselho gestor da APA

Social do Comércio/Serviço Nacional de

de Ilha Grande (o mesmo foi reativado,

142


as câmaras técnicas implantadas e se deu

com a possibilidade, dependendo de uma

início ao Plano de Manejo, enquanto

análise); melhoria da cadeia produtiva do

o Conselho da APA Federal das Ilhas e

leite, da saúde e do turismo (estão con-

Várzeas do Rio Paraná e o Conselho do

templadas no Plano do Território da Ci-

Parque Nacional de Ilha Grande estão

dadania, três câmaras: Leite, Saúde e Tu-

ativos, trabalhando, movendo moções e

rismo); criação de cursos EAD (Ensino a

atividades). Outros pleitos: instalação de

Distância) pela Universidade Aberta do

uma unidade descentralizada da Marinha

Brasil (UAB) que tem 555 polos, sendo

do Brasil em Porto Rico; inclusão da Ro-

37 no Paraná; revisão do Zoneamento

dovia Beira-Rio (Diamante do Norte a

existente e do plano APA Federal (ainda

Querência do Norte) no plano de obras

não há um zoneamento bem determina-

rodoviárias (a ordem de serviço foi au-

do, mas o Comafen, o ICMBio e demais

torizada pelo governador Beto Richa no

parceiros, têm feito os levantamentos ne-

dia 6 de outubro de 2017, no trecho Por-

cessários para se desenvolver o Plano de

to Rico – Porto São José); regulamentar e

Manejo. Esse documento irá regulamen-

fiscalizar a pesca (os órgãos responsáveis,

tar as atividades dentro da APA Federal e

entre os quais IAP, ICMBio e Polícia

zonear sua área); viabilizar uma extensão

Ambiental, vêm promovendo a fiscaliza-

de Universidade e cursos profissionali-

ção da pesca no Rio Paraná, seguindo as

zantes para Terra Rica (Unicesumar e

diretrizes nacionais e estaduais.

Fael).

SETORES

NOVAS PROPOSTAS

Trabalha-se, também, para a criação da

Criação de emprego e renda, unir

Associação de Municípios do Extremo

forças para atrair grandes empre-

Noroeste (12 unidades), em estudo pelo

sas industriais para a região; atrair

governo do Estado (Consórcio Coma-

agroindústrias

fen/Atividades Intermunicipais); realiza-

matéria-prima regional; conce-

ção de melhorias no saneamento básico

der incentivos para cerâmicas e

(coleta de esgoto, apoio das lideranças à

fecularias existentes, bem como

criação do curso de medicina em Parana-

para processadoras de frango de

vaí (foi feita uma sensibilização em toda

corte; diagnosticar as aptidões

a região, apresentando-se a reivindicação

regionais; fortalecer o consórcio

ao Ministério da Educação, que sinalizou

entre os municípios do território

para

aproveitar

143


“encontro das águas”; criação de

região noroeste; melhor sinaliza-

cursos profissionalizantes; fortale-

ção em rodovias e alargamento

cer o campus arenito, da Universi-

da PR-82; reativar o aeroporto

dade Estadual de Maringá (UEM),

de Umuarama, o que beneficiaria

com cursos noturnos; instalação

uma grande região; pleitear redu-

de um posto avançado do Institu-

ção de impostos estaduais; pro-

to Nacional de Seguridade Social

mover melhorias na segurança;

(INSS) em Cidade Gaúcha;

criação do pelotão da polícia em

reabertura da unidade frigorifica

Querência do Norte;

em Cidade Gaúcha; implantação

escola em tempo integral; ligação

de frigorífico de peixes; incentivo

da PR218 ao Mato Grosso do Sul,

à criação de cooperativas;

via Icaraíma.

fortalecimento da representatividade política, com candidatos da região que apresentem potencial

Confiança se conquista

eleitoral, de acordo com pesquisa; •

reuniões e visitas ao governo de

Em 2015, a Central Sicredi PR/SP/RJ

forma conjunta; realizar campa-

publicou o livro “A Construção da Con-

nhas pelo voto regional; viabili-

fiança – 30 Anos de Histórias”, escrito

zar uma representação do Sebrae

por Domingos Pellegrini, em que rela-

em Cidade Gaúcha; participa-

ta um pouco da história e do dia a dia

ção ativa de prefeitos e vereado-

de Joana D’Arc Balbino dos Santos, que

res; obras em conjunto e outras; atuação conjunta em áreas como saúde, turismo, esporte e projetos agropecuários; •

regionalização da saúde em Loanda; maior aproximação do território/consórcio com os municípios; maior divulgação das ações regionais; divulgar os resultados do encontro em redes sociais e outras; obras para estruturar o setor de turismo; divulgar oportunidades e pontos fortes de negócios na

144

Encontro de Desenvolvimento Regional, que já teve sete edições desde 2007 e é realizado a cada dois anos, em períodos não eleitorais.


há 17 anos prestava serviços à Sicredi em

cooperativa de crédito da América Lati-

Nova Londrina.

na, fundada em 1902 em Nova Petrópolis (RS), se mantém em plena atividade e mais forte do que nunca. O movimento

NOME DE SANTA

cooperativista de crédito conquistou amplitude mundial.

“Joana D’Arc Balbino dos Santos nem

Esse modelo inspirador, transparente e

desconfia porque a mãe lhe deu esse

centrado no ser humano e na coopera-

‘nome de santa’, mas duma coisa tem

ção entre pessoas, não teria mais espa-

certeza: ‘Nome e sobrenome não fazem

ços para crescer no Brasil? Certamente

ninguém, o que faz a gente é o que a

que sim, uma vez que os recursos gera-

gente faz’. E, na Sicredi Rio Paraná PR/

dos pela cooperativa de crédito perma-

SP de Nova Londrina, no extremo no-

necem na sua região de origem, distri-

roeste do Paraná, todos confiam que às

buindo riqueza e criando empregos nas

oito em ponto, todo dia, o ‘café da Joa-

comunidades.

na’ vai estar prontinho para um bom co-

A participação do cooperativismo de

meço de dia, ‘chova canivete ou faça sol

crédito em nosso país ainda é muito pe-

de rachar mamona’. Na parede da sala

quena quando comparada às relevantes

do presidente da cooperativa, onde é

presenças do segmento cooperativista de

entrevistada, há um grande quadro com

crédito em economias maduras da Euro-

foto do Papa João Paulo II, cujas pala-

pa Ocidental e da América do Norte.

vras estampadas ali parecem encomen-

Inserido nesse contexto, o Sicredi –

dadas para Joana: ‘A confiança não se

instituição financeira cooperativa com

conquista pela força, nem é obtida pelo

mais de 3,7 milhões de associados em 22

discurso. É preciso merecer a confiança

Estados e no Distrito Federal – tem con-

com gestos e fatos concretos.’

tribuído para o crescimento sólido e sustentável do cooperativismo de crédito. Pioneiro e referência nacional e inter-

Cooperar, uma prática moderna e sustentável

nacional pela organização em sistema, com padrão operacional e utilização de marca única, o Sicredi conta atualmente

Quem poderia imaginar que em 1902

com 116 cooperativas de crédito filiadas,

foi trazido para o Brasil um modelo

presentes em 1.187 municípios, sendo

de negócio que até hoje é considera-

que em 204 deles é a única instituição fi-

do moderno e sustentável? A primeira

nanceira atuante. 145


Palavras mais que atuais, cooperar e

de crescimento para todos e o associado,

compartilhar são princípios inerentes

por ser dono do negócio, também colhe

ao cooperativismo, que têm o poder de

benefícios diretos e indiretos.

transformar nossa sociedade e contribuir

Além disso, a cooperativa de crédito

para a construção de um futuro melhor,

tem total interesse na saúde financeira

pois ao mesmo tempo em que os objeti-

de seus associados e consegue competir

vos comuns dos associados são alcançados

no mercado financeiro com taxas e juros

e suas necessidades atendidas, a comuni-

mais justos. Tais fatos estão ligados, ainda,

dade é beneficiada com o desenvolvi-

aos diferenciais de relacionamento próxi-

mento local, promovido pela geração de

mo, consultoria customizada, concessão

valor econômico, social e ambiental das

de crédito consciente, entre tantos outros.

cooperativas de crédito.

Vale ressaltar, por fim, que as coope-

Quais os benefícios que eu tenho ao me

rativas de crédito são sociedades de pes-

associar a uma cooperativa de crédito?,

soas, e não de capital, o que significa que

poderia indagar o leitor. A resposta co-

qualquer associado, independentemen-

meça pela participação dos resultados da

te do valor que possui em capital social,

sua cooperativa, e essa participação estar

tem os mesmos direitos e deveres que os

diretamente relacionada com o que o as-

demais. Por conta disso, o cooperativis-

sociado gera de receita para ela. E isso não

mo de crédito é um modelo econômico

tem a ver com a quantia que ele tem na

e social que atua de forma extremamente

sua conta, mas o quanto utiliza de produ-

democrática e inclusiva.

tos e serviços, gerando mais rentabilidade à cooperativa de crédito. O conceito é o

146

Existe algo mais moderno e sustentável do que isso?


As cooperativas de crĂŠdito sĂŁo sociedades de pessoas, e nĂŁo de capital, o que significa que qualquer associado, independentemente do valor que possui em capital social, tem os mesmos direitos e deveres que os demais. 147


Mês de referência: Dezembro

123.187,72

1993

1994

148

1998

1999

1.683.902,74

1.145.570,45

782.072,08

578.693,27

334.582,82

290.001,29

171.346,30

130.553,78

102.727,36

54.163,17

162.766,73

2000 2001

3.155.608,13

2.588.075,59

1.943.399,90

1.583.101,55

1.358.608,27

953.157,62

478.867,06

17.021.778,69

12.551.496,61

9.928.721,79

7.823.007,41

6.608.644,61

4.987.162,19

2.391.878,13

VALORES EM DÓLARES

24.593.264,08

18.860.150,21

15.100.761,46

10.908.337,60

8.937.082,93

6.640.306,31

3.109.407,07

3.227.709,02

1997

2.530.906,31

1996

407.919,76

1995

2.506.800,65

PATRIMÔNIO LÍQUIDO 1.954.956,02

1.229.787,03

794.780,34

443.937,71

173.240,87

81.901,71

38.432,81

45.900,80

18.758,26

10.609,09

13.130,97

73.796,10

DEPÓSITOS

298.111,90

233.743,99

84.666,55

1992

268.774,72

79.406,90

1991

244.746,77

46.800,15

1990

223.993,94

27.883,82

1989

155.515,36

3.462,14

ATIVOS TOTAIS

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008


18.832,45

15.346,80

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1998

1999

2000 2001

2009 a 2017, veja números nas páginas seguintes

115.988,16

139.093,87

SOBRA ANUAL 306.888,76

14.403.682,68

9.108.590,96

6.645.405,65

3.723.762,63

3.154.969,54

2.410.717,15

2.351.608,75

1.874.798,21

1.473.425,86

1.130.058,49

885.261,32

610.277,93

272.529,93

206.482,50

1.039.249,27 1.258.408,85

139.502,92

99.087,76

106.344,83

91.571,86

52.933,86

31.048,08

23.564,92

14.096,23

14.008,64

14.467,63

2.892,07

3.508,57

912.148,81

385.486,86

490.204,35

421.013,96

399.267,06

173.122,27

139.835,14

267.073,98

25.755,48

5.670,85

12.058,34

43.670,85

OPERAÇÕES DE CRÉDITO

257.017,47

189.291,53

149.183,52

96.960,35

78.950,18

41.466,20

30.543,32

1997

28.177,84

13.217,67

38.136,40

30.116,90

6.509,91

12.778,82

1989

12.017,68

37.438,97

CAPITAL SOCIAL

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

149


ANO

ASSOCIADOS

2007

COLABORADORES 120

8.933

2008

84

10.809

2009

94

12.453

2010

89

14.260

2011

114

16.449

2012

133

19.830

2013

132

23.375

2014

156

25.878

2015

166

28.278

2016

195

33.315

2017

208

36.496

2018

215

40.000

Indicadores ANO

PATRIMÔNIO (R$/MIL)

(US$/MIL)

31/DEZ

ATIVOS (R$/MIL)

(US$/MIL)

31/DEZ

CRÉDITO (R$/MIL)

(US$/MIL)

31/DEZ

SOBRAS (R$/MIL)

(US$/MIL)

2007

7.478

4.224

54.491

30.777

31.668

17.886

886

500

2008

9.117

3.902

73.601

31.505

43.708

18.709

742

318

2009

11.336

6.513

73.685

42.338

46.628

26.792

1.221

702

2010

14.296

8.584

104.161

62.544

53.672

32.228

2.065

1.240

2011

17.716

9.448

121.728

64.918

73.664

39.285

1.815

968

2012

22.848

11.184

147.712

72.305

96.731

47.350

2.876

1.408

2013

27.469

11.729

178.722

76.312

109.488

46.750

3.320

1.418

2014

34.505

12.993

206.798

77.872

127.164

47.885

5.136

1.934

2015

42.048

10.770

245.779

62.952

137.362

35.183

6.225

1.594

2016

50.304

15.438

301.658

92.576

152.446

46.784

4.589

1.408

2017

58.627

17.726

382.302

115.590

184.843

55.888

6.564

1.985

150

31/DEZ


Dólar em 31/dez

3,904 3,307

EM R$

3,259

2,656 2,342

2,336 1,875 1,771 2007

1,740

1,665

2009

2010

2008

2012

2013

2014

2015

2016

2017

(R$/MIL)

(US$/MIL)

31/DEZ

POUPANÇA (R$/MIL)

(US$/MIL)

31/DEZ

CAPITAL SOCIAL (R$/MIL)

(US$/MIL)

2007

11.328

6.398

4.040

2.282

5.417

3.060

2008

10.095

4.321

6.692

2.864

6.794

2.908

2009

11.190

6.430

9.962

5.724

8.411

4.833

2010

15.682

9.416

13.840

8.310

10.135

6.086

2011

16.880

9.002

19.592

10.449

12.189

6.500

2012

25.002

12.238

24.383

11.935

15.528

7.601

2013

29.941

12.784

38.183

16.304

18.167

7.757

2014

31.354

11.807

44.504

16.759

22.148

8.340

2015

39.787

10.191

47.664

12.208

26.441

6.772

2016

44.089

13.530

57.801

17.739

33.565

10.301

2017

58.507

17.690

88.412

26.732

38.100

11.520

ANO

DEPÓSITOS À VISTA

2011

2,043

31/DEZ

151


As agências

Amaporã (PR)

Cidade Gaúcha (PR)

Diamante do Norte (PR)

Guairaça (PR)

Loanda (PR)

Marilena (PR)

152


Mirante do Paranapanema (SP)

Nova Londrina (PR)

Nova Olímpia (PR)

Planaltina do Paraná (PR)

Pirapozinho (SP)

Presidente Epitácio (SP)

153


As agĂŞncias

Presidente Prudente (SP)

Presidente Prudente (SP)

Presidente Venceslau (SP)

Primavera (SP)

QuerĂŞncia do Norte (PR)

154

Santa Cruz do Monte Castelo (PR)


Santa Isabel do Ivaí (PR)

Santa Mônica (PR)

São José do Ivaí (PR)

São Pedro do Paraná (PR)

Sureg (Superintendência Regional)

Terra Rica (PR)

Teodoro Sampaio (SP)

155


Do zero a caminho do bilhão Entre os mais antigos colaboradores, o Vanderlei, a Elaine, a Lucila, o Zeca, o Fernando, a Mírian e a Vanessa construíram sua história na Sicredi Rio Paraná e, ao mesmo tempo, perpetuam seus nomes na história da cooperativa, que saiu praticamente do zero e está a caminho do bilhão. Mais do que uma instituição financeira cooperativa, a Sicredi Rio Paraná é feita de gente – a equipe de colaboradores e as dezenas de milhares de associados - que se irmana em uma grande força do bem, cujo objetivo é desenvolvimento econômico nos mais diversos setores, em municípios e regiões onde ela mantém suas operações.

Elaine Meneguetti

156

Vanderlei Gonçalves de Oliveira

Lucila Paiano Pilege


JosĂŠ GĂ´ngora Dardosse (Zeca)

Fernando Moreira da Silva

Mirian Senson Martinez

Vanessa Gutowski

157


Diretorias Sicredi Rio Paraná PR/SP 1988-2018

PRESIDENTES Bento Somenzari ................................... 1988-1993 Olivier Grendene .................................. 1993-1995 Pedro Paulo de Mello ............................ 1995-2002 Jorge Bezerra Guedes ............................ desde 2002

CONSELHEIROS DE ADMINISTRAÇÃO José Bolívar Garcia Lelis ........................ 1988-1990 Olivier Grendene .................................. 1988-1995 Manoel Bono Belaskuzas ...................... 1988-1990 Ivan Chiamulera .................................... 1988-1993 Gilberto Carlos Fadel ............................ 1990-1993 José Lopes Pires ..................................... 1990-1993 Adalberto Carbonieri ............................ 1993-1995

158


DIREtorias

Jorge Bezerra Guedes ��������������������������� 1993-1995/1995-1999/19992002/2002-2005/2005-2008/20082011/2011-2015/2015-2019 Pedro Paulo de Mello ��������������������������� 1993-1995/1995-1999/19992002/2002-2005/2005-2008/20082011/2011-2015/2015-2019 Choken Zukeran ................................... 1995-1996 Luiz Valdir Moreira ............................... 1995-1996 Nélson Bono Maior ............................... 1996-1999 Jair São João ........................................... 1996-2002 Miguel Rubens Tranin .......................... 1996-2002/2005-2008 Antônio de Jesus Meneguetti ................ 1999-2011 Jorge Kazumi Ito ................................... 1999-2007 Amauri Spósito ...................................... 2002-2005 Pe. Ilson Luiz da Graça ......................... 2002-2011/2011-2015 Osvaldo Zancheta .................................. 2002-2005 Eduardo de Arruda Camargo ................ 2005-2007 Kleber Hudson Canassa ........................ 2005-2007 Elmerindo Volpato ................................ 2005-2011 Anísio Roberto de Campos ................... 2007-2011/2011-2015/2015/2019 Fábio Hiromitsu Kato ........................... 2008-2008 Aulo Koichi Sato ................................... 2005-2007 Paulo Sérgio Vieira ................................ 2011-2015 Ana Lúcia Bezerra ................................. 2011-2015 José Antonio Spinardi Moia .................. 2007-2011/2011-2015/2015-2019 José Antonio Bonvechio ....................... 2011-2015 Ademir Paulino Ferrarini ...................... 2007-2011/2011-2015/2015-2019

159


Carlos Roberto Muniz Caires ............... 2015/2019 Fernando César Torrezan ..................... 2011-2015/2015-2019 Henrique Okada .................................... 2015-2019 Inês Watanabe de Souza ....................... 2015-2019 Vitor Ropelato ....................................... 2015-2019

CONSELHEIROS FISCAIS José Lopes Pires ..................................... 1988-1990 José Teixeira de Carvalho ..................... 1988-1990 Jaime Mega ............................................ 1990-1991 Valdir Antonio Palmieri ........................ 1990-1991 Fernando Tadashi Kamitani ................. 1991-1992 Gilberto Luiz Roman ............................ 1990-1992 Hilário Bono Maior ............................... 1991-1992 Jucelino Félix Farina .............................. 1991-1992 Arnaldo José Mazzotti ........................... 1992-1993 Jorge Bezerra Guedes ............................ 1992-1993 Pedro Paulo de Mello ............................ 1988-1991/1992-1993 Afonso Palma ......................................... 1993-1994 Dario Alves Ribeiro ............................... 1993-1994 Miguel Rubens Tranin .......................... 1993-1994 Nazareno Francisco Sampaio ................ 1993-1994 Paulo Montanher ................................... 1992-1994 Choken Zukeran ................................... 1988-1990/1994-1995

160


DIREtorias

João Correia ........................................... 1995-1995 Luiz Valdir Moreira ............................... 1990-1993/1994-1995 Roberto Cristovan Scolaro .................... 1994-1995 Aloísio Rodrigues Viana ....................... 1995-1996 Jair São João ........................................... 1995-1996 Mirani Ribeiro da Silva ......................... 1995-1996 Antonio Geraldo Farina ........................ 1996-1997 Sérgio Henrique dos Reis ...................... 1997-1998 Henrique Palma Filho ........................... 1997-1998 Luiz João Antonio ................................. 1996-1998 Antonio Santos Pires ............................. 1994-1996/1997-1999 Antônio de Jesus Meneguetti ................ 1992-1999 Aristides Augusto Martins ..................... 1997-1998/1999-2000 Gilberto de Ângelo ................................ 1999-2000 Shozo Kita .............................................. 1999-2000 Antônio Sérgio Reinaldo ...................... 1999-2001 José Ernesto Giacobbo .......................... 1995-1999/2000-2001 Guiichi Suzuki ....................................... 2000-2001 Maurício Amorim Pereira ..................... 2000-2001 Anézio Mazzotti .................................... 2001-2002 Pe. Ilson Luiz da Graça ......................... 2001-2002 Ernandes Luiz da Graça ........................ 2001-2002 Winycius Edgar Rosa ............................ 1999-2000 Cláudio Aparecido R. Siqueira ............. 2000-2002 Gilson Inácio de Brito ........................... 2001-2003 Ana Lúcia Bezerra Fernandes ............... 2002-2003/2005-2009

161


Gênis de Souza Pim ............................... 1998-2000/2002-2003 Gino Aita ............................................... 2002-2003 Dirceu Luiz Prigol ................................. 2002-2004 João Paulo Giacobbo ���������������������������� 1998-1990/1991-1992/19931994/2002-2004 João Laurindo da Paixão ....................... 1996-1997/1989-1999/2003-2004 Eduardo Arruda Camargo .................... 2003-2004 Márcio José Ferreira .............................. 2003-2004 Paulo Sérgio Vieira ................................ 2003-2005 Ciro Nishiyama ..................................... 2004-2005 Aulo Koichi Sato ................................... 2004-2005 Euzébio Reginato .................................. 2004-2005 Manoel Fernandes Guedes .................... 2004-2005 Henrique Domingues ........................... 2005-2006/2007-2008 Tatsugi Sugawara .................................. 2005-2006/2008-2009 Ronaldo Schotten .................................. 2005-2009/2010-2013/2013-2015 Silvio Antonio Pires .............................. 2005-2006 Maronildo Donizete Carnezi ................ 2005-2006 Edivam Capelim .................................... 2005-2006 Inês Watanabe de Souza ....................... 2005-2006 Anísio Roberto de Campos ................... 2005-2006 Éder de Oliveira .................................... 2007-2008 José Spinardi Moia ................................. 2007-2008 Fábio H. Kato ........................................ 2007-2008 Jorge Kazumi Ito ................................... 2008-2009

162


Vítor Ropelato �������������������������������������� 2008-2009/2009-2010/20102013/2013-2015 Kleber Hudson Canassa ........................ 2008-2008 Ana Lúcia Bezerra Fernandes ............... 2008-2009/2009-2010 Osvaldo Zancheta .................................. 2009-2010/2010-2013 Luiz Noboru Ishikawa ������������������������� 2009-2010/2010-2013/20132015/2015-2017/2017-2019 Nilson Lopes de Souza .......................... 2009-2010 Carlos Roberto Ornelas ������������������������ 2009-2010/2010-2013/20132015/2015-2017/2017-2019 Vanda Luzia das Neves Pereira ............. 2010-2013 Geraldo Mateus Vicente ........................ 2013-2015/2015-2017 Ailton José Mendonça ........................... 2013-2015 José Augusto Félix ................................. 2015-2017/2017-2019 José Carlos Massatoshi Sekine ............... 2015-2017 Gilberto de Ângelo ................................ 2015-2017 Joaquim Takayoshi Tuboni .................. 2017/2019 Jorge Carlos Tamura ............................. 2017-2019 Celso Takeshi Haneda ........................... 2017-2019

163


Coordenadores de núcleo em atividade Efetivos Severino Justi Murilo Giglio de Souza Edmar Rocha Junior Delci Mazzotti Silvestre Pereira de Carvalho Jose Jorge Machado Sonia dos Santos Paseto Franco Alecio Guirau Jose Maria de Sousa Eneil dos Santos Barros Dirceu Luiz Prigol Flavio Renan Valerio Torrezan Jose Wilson Moreira Silva Osvaldo Sales De Santana Filho Fabio Hiromitso Kato Cleoacir Luiz Possebon Osmar Pavão Gilberto Hidekazu Kondo Nelson Barbosa da Silva Aulo Koichi Sato Antonio Boeing Elmerindo Volpato Maria Esmeralda da Silva Machado Alcides Paschoal Ailton Bonadio Costa Sandro Cezar Borsari Marrega Marcelo Crepaldi João de Paula Edi de Oliveira Gomes Jessica Emanoele Pereira Costa Araújo Lindalva Aparecida Barros de Souza Flavio Aguiar Penteado Carlos Valério Ailton José Mendonça Roberto Cristovan Scolaro

164

Joao Claudio Miquilin Celso Serenato Manoel Alves Ferreira Filho Marcos Alberto Lopes Arruda Carlos Roberto de Carvalho Leitão Fabio Martins de Carvalho Vallentim Zaneri Grion Manuel Renato Pereira Maria Regina Pietro S. Bonfim da Silva João Ademir Brisquiliari Demico Roberto Carlos Nunes Ivelise Akemi Kasae Fudo Cleber Junior Regasson Wadir Olivetti Junior Charles do Vale Novaes Junior 1º Suplentes Everson de Souza Augusto Monteiro Silva Luiz Agostinho Abramoski Alan da Silva Martins Wanderson Clayton Dim Sergio Sussunu Aoyague Arnaldo José Mazzotti Genis de Souza Pim Olivio Boos Junior Bruna Moreira Leite Claudio Aparecido Rodrigues Siqueira Edney Luiz Mardegam Rosalina Rodrigues Dos Santos Maria Helena R. de Assis Joaquim Marlene Malaman Sued de Paiva Barbosa Renato Ferreira dos Santos Junior Jurandir Jorge Leite Ademir Pessini


Willian Garcia Pugas Maria Schuroff Vandresen Celso Ribeiro Bone Pedro Soares Ferreira Henrique Domingues Jose Carlos Naressi Maria Aparecida Ferrarini Furlan Paulo Vinicius Bortolani Milani Tiago Bruno Maronez Ruiz Jose Roberto Sabatini Antonio Ferreira Valderrama Cleverson Herminio Moritz Rakoski Jose Americo Tonzar Ricardo Kouji Miyoshi David José Machado Caetano Silvano José Francisco Patrao Luiz Arlei Francisco Nienkoetter Ivanildo Passarelli Edileia Gonçalves do Nascimento Gargan Benedito Francisco da Silva Ailton Nonato Dorca Maria Trevisan da Silva Augusto Cesar Rodrigues de Carvalho Fabiana da Silva Guedes Edney Paulo Carrijo Maria José de Almeida Francielli Lucio Ferreira Heraldo Borghi Rosely Alves de Lima Augusto Anzai Andreia Silvia Yoshino de Osti 2º Suplentes Bernadete Vieira de Oliveira de Sales Mateus Henrique Viotto Bem Marcio Duessmann Joao Batista Antonio

Silvestre Reinaldo de Souza Efraim Rafael da Silva de Goes Antonio Gimenes Miron Antonio dos Santos Pires Erley Tassone Vieira Tania Lima das Graças Marcola Fernando Henrique dos Santos Guedes Salete Aparecida Hoesel Schwertz Elizio Nunes Jose Antonio Savoldi Nelson Maciel Claudiney Bezerra Pereira Nelson Antonio Schuroff Ivo Boni Ambrozio Volpato Neto Dirceu Aparecido Furlan Eliandra Zardo Munhoz Dorival Alvim Anderson Douglas Raphael Griffo Clovis Teixeira de Souza Marcos Marin Valdecir Rodrigues dos Santos Marcio Luiz Rinaldi Nave Vera Lucia Gloss Rodrigues Diglio Cesar Gomes Delatorre Tarik Roberto Amado Rafeh Ronerval Gonçalves Clodoaldo Guermandi Juliana Cicera Rodrigues de Arruda Diogo Fagner Leite dos Santos Americo Takaaki Kojo Milton Agostinho Francisco Ana Maria de Menezes Marco Antonio Zorzeto da Silva Nelson Massayuki Akashi Izabel Fatima Tenorio Martins Vera Lucia Pereira Lima

165


ReferĂŞncias

Colaboradores deste livro

166


- Atas dos Conselhos de Administração e Fiscal

- Relatórios de Gestão

- Sicredi 20 anos – Eloy Olindo Setti

- Ocepar 35 anos – Eloy Olindo Setti

- “A Construção da Confiança” – (2015) – Domingos Pellegrini

- A Ousadia que Faz Acontecer” – 2009 – Rogério Recco

Jorge Bezerra Guedes (presidente)

Pedro Paulo de Mello (vice-presidente)

Vanderlei Gonçalves de Oliveira (diretor-executivo)

José Gôngora Dardosse (gerente regional de desenvolvimento de negócios)

Vanessa Gutowski (gerente regional de desenvolvimento de negócios)

Carolina Mussolini (assessora de Marketing e Comunicação)

Tábata Mieli Furlan (assessora de Desenvolvimento Cooperativista)

Fernando Moreira da Silva (gerente de Agência)

Lucila Paiano Pilege e Mírian Senson Martinez (gerentes de agências)

Elaine Meneguetti (analista de crédito)

Tatsugi Sugawara (associado)

Darci Bertasi (sócio fundador)

Arnaldo José Mazotti e Aléssio Roman (associados e ex-dirigentes)

Almir Schotten (ex-diretor-executivo)

Manfred Alfonsus Dasenbrock (presidente Central Sicredi PR/SP/RJ) e

José Roberto Ricken (presidente Sistema Ocepar)

167


Copyright 2018 – Sicredi Rio Paraná Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial desta obra desde que seja mencionada a fonte. A reprodução total necessitará de autorização, por escrito, da cooperativa de crédito. Todos os direitos reservados desta edição 2018 à Sicredi Rio Paraná. Idealização Jorge Bezerra Guedes Coordenação editorial Carolina Mussolini Celestino de Oliveira Pesquisa e redação Rogério Recco Diagramação Andrea Tragueta Projeto Gráfico Sinergia Casa Editorial Foto da capa Regis Gentil Scota Colaboração Luz Própria


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.