Foca Livre 224

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JOÃO PAULO FAGUNDES

JORNAL LABORATÓRIO UEPG

IVRE

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

F L OCA

AGOSTO DE 2022 | EDIÇÃO 224

“Mãe, eu tô com fome!”

VITÓRIA TESTA

Pesquisa aponta que condição de pobreza é realidade para 15 mil pontagrossenses. A situação é pior em lares fe‐ mininos, onde a extrema pobreza está presente em 78% das casas. O principal motivo é a crise econômica desen‐ cadeada no período pandêmico e a dificuldade de reinserção das mulheres no mercado de trabalho. PÁGINA 6

ESPORTE

EDUCAÇÃO

ESPECIAL

Nadadores profissionais de Ponta Grossa denunciam a precariedade do esporte na cidade, pela falta de espa‐ ços públicos para treinamento. A piscina municipal do Clube Guaíra está interditada desde 2020 devido às más condições de uso, enquanto a Arena Multiuso não pode ser utilizada pela falta de aquecimento. PÁGINA 14

Com as atividades presen‐ ciais suspensas desde o começo da pandemia, ba‐ terias universitárias de Ponta Grossa voltam a en‐ saiar e participar de com‐ petições. Atualmente, a Liga de Baterias da cidade é composta por seis gru‐ pos, que reúnem mais de 130 estudantes de institui‐ ções públicas e privadas. PÁGINA 10

Entre janeiro e abril deste ano foram registrados mais de 1.500 casos de vi‐ olência doméstica contra mulheres e três casos de feminicídio na cidade de Ponta Grossa. Os dados apontam que grande par‐ te dos casos aconteceram na casa das vítimas. E que geralmente os agressores são pessoas conhecidas. PÁGINA 8

CULTURA

VERSÃO DIGITAL

Apresentações do Sexta às Seis voltam a ser realiza‐ das após dois anos de pa‐ ralisação. O evento que é tradicional na cidade é re‐ alizado no Parque Ambi‐ ental. O projeto é uma oportunidade para grupos e bandas locais conquista‐ rem espaço na música. PÁGINA 13


2 | Opinião | Agosto 2022

Entre altos e baixos EDITORIAL

F

oca Livre, o jornal labo‐ ratório da Universidade Estadual de Ponta Gros‐ sa, que elabora periodicamente informações relevantes para a sociedade, surge da apuração de jovens jornalistas. Apesar de nosso trabalho ter sido dificul‐ tado pela qualidade precária dos laboratórios do Departa‐ mento de Jornalismo, que pos‐ suem computadores defasados e equipamentos com configu‐ rações falhas, estamos satisfei‐ tos com o resultado. Mesmo com dificuldades na prática da redação integrada, a equi‐ pe da T‐36 apresenta com or‐ gulho a edição 224 do Jornal Laboratorial Foca Livre. A 224 teve uma produção conturbada, devido às diagra‐ mações realizadas muitas vezes na casa dos alunos com os pró‐ prios equipamentos. Por conta da baixa carga horária para a elaboração do jornal laborató‐ rio, muitas fotos das matérias não foram realizadas e as repor‐ tagens foram obtidas através de arquivos de mídia disponíveis. Outro problema ligado à baixa carga horária foi o uso das de‐ mais disciplinas para apura‐ ção e fechamento. Situações não muito diferentes da últi‐ ma edição, a 223. Mas já que não é só de proble‐ mas que vive um acadêmico do segundo ano de jornalismo, di‐ zemos com segurança que a ex‐ periência de uma redação tem

suas pequenas alegrias. As pressões pelas responsabilida‐ des dos cargos são presentes. Porém, a construção de co‐ nhecimentos, assim como o trabalho em equipe, a altera‐ ção de nossas relações inter‐ pessoais, a oportunidade de conhecer novas pessoas atra‐ vés das entrevistas e, principal‐ mente, a constante expectativa de receber um jornal impresso de 16 páginas em nossas mãos, é recompensadora. Em meio a todas as contradi‐ ções presentes no processo, a turma do segundo ano de Jorna‐ lismo da UEPG publica o seu se‐ gundo Foca Livre, trazendo os aprendizados do primeiro e acu‐ mulado conhecimentos para as próximas edições.

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Bom, bonito e barato? LARISSA DEL POZO

E

ncontrar um lugar para comer no cen‐ tro de Ponta Grossa é uma tarefa fácil. Difícil mesmo é desembolsar me‐ nos que vinte reais em um prato de comida. Mas, para quem têm coragem de se propor a fazer suas refei‐ ções no restaurante univer‐ sitário que carinhosamente foi apelidado pelos alunos de RU, o valor simbólico de R$ 3,80 acaba compensan‐ do os maus bocados. Esperando na quilomé‐ trica fila para entrar no RU, é possível ver a entrada sorrateira dos “furões”– os espertinhos que se enfiam

WESLEY MACHADO

para entrar antes – e ouvir os burburinhos sobre a co‐ mida. Ainda mais quando servem o famoso “strogo‐ nervo”, com mais nervo do que carne, ou o picadinho bovino, que é tão enervado quanto. Mas, mesmo assim eles, podem ser compensa‐ dores quando se paga me‐ nos que o valor de uma lata de Coca‐Cola em um prato fresquinho com arroz, fei‐ jão, carne ou uma proteína vegetal, salada, mistura do dia, uma frutinha de sobre‐ mesa e um copo de suco. De fato, as combinações que podem compor o prato seriam aprovadas por qual‐ quer nutricionista. Bem co‐ mo do contrário, qualquer um pode perceber que pa‐ ra sair vivo da universida‐ de, é preciso tomar água em vez daquele suco de procedência duvidosa. Certamente, comer no RU é uma prova de resis‐ tência. Desde comprar o ticket somente com dinhei‐ ro – igual os Maias e Aste‐ cas faziam – esperar na fila, faça chuva ou faça sol, e comer a comida vítima de tantas reclamações. O que realmente pode‐ mos considerar é que algu‐ ma hora todas as comidas enjoam, até a de casa, por isso, talvez falte no restau‐ rante universitário além de sabor, seja uma mãe dizen‐ do para todo mundo ficar quieto e raspar o prato.

EXPEDIENTE Editores‐chefe Emelli Schneider, Leonardo Czerski e Sara Dalzotto. Chefe de Design Vanessa Galvão. Designers Alex Dolgan, Bianca Voinaroski, Camila Ribeiro, Carolina Olegário, Iasmin Gowdak, João Paulo Fa‐ gundes, Júlia de Oliveira, Larissa Del Pozo, Naiomi Mainardes, Pa‐ mela Tischer, Rafaela Colman e Wesley Machado.

Editoras/editores de texto Amanda Dal`Bosco, Camila Souza, Cristiane de Mello, Daphinne Pi‐ menta, Eduarda Guimarães, Gabi Oliveira, Heloisa Ribas Bida, João Iansen, João Vitor Pizani, Kailani Czornei, Kauan Ribeiro, Lívia Has‐ man, Mariana Real, Quiara Camargo e Tayná Landarin. Editoras de fotografia Manuela Rocha, Maria Eduarda Ko‐ bilarz e Vitória Testa Repórteres

Consulte a autoria das reportagens diretamente na página da notícia. Foca Livre é o jornal‐laboratório do curso de Jornalismo da UEPG Contato Departamento de Jornalismo Praça Santos Andrade, n° 01, Centro, Ponta Grossa, PR CEP: 84010‐330 Telefone: +55 (42) 3220‐3389 Jornal elaborado e publicado pela disciplina "Núcleo de Redação Integrada I” Professores: Candida de Oliveira (MTB

16767 ‐ RS) e Maurício Liesen (MTB 2666 ‐ PB). Notícias integradas à disciplina "Produ‐ ção e Edição de Textos Jornalísticos II” Professor: Ricardo Tesseroli (MTB 6334 ‐ PR). Projeto gráfico integrado à disciplina "Design em Jornalismo" Professor: Maurício Liesen. Textos opinativos integrados à disciplina "Gêneros do Discurso Jornalísticos” Professor: Marcos Zibordi (MTB 38335 ‐ SP).


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Agosto 2022 | SOCIEDADE | 3

Violência contra crianças e adolescentes aumenta em PG Casos aumentaram durante a pademina, diz Conselho Tutelar WESLEY MACHADO E JOÃO PAULO FAGUNDES

EMELLI SCHNEIDER Ponta Grossa vem registran‐ do grandes índices de violência contra crianças e adolescentes ao longo dos últimos anos. Du‐ rante a pandemia, os casos re‐ lacionados às violências física, psicológica e sexual ficaram em grande evidência. Segundo dados do Conselho Tutelar, no primeiro trimestre de 2020 a ci‐ dade registrou 45 casos de vio‐ lência física, 109 casos de violência psicológica e cerca de 17 casos de violência sexual. No mesmo período de 2021, os casos de violência física fica‐ ram em 104, a psicológica em 223 e casos de abuso em 41. De janeiro a maio deste ano, o conselho já registrou mais de 110 casos de violência física, cerca de 165 casos de violência Violência contra crianças e adolescentes volta a crescer psicológica e 30 casos de vio‐ lência sexual. No total, em 2020 sumiu a guarda dos sobrinhos liar, “a reintegração na própria o conselho registrou mais de após o falecimento do pai e a família. Então, nós trabalha‐ 170 casos de violência física, negligência da mãe que veio mos o familiar para ajudar a se 275 casos de violência psicolo‐ depois da morte do marido. A reestruturar para poder ter o gica e 65 casos de abuso sexual. tia procurou o conselho para filho de volta”. Denise acres‐ Já em 2021, os casos ficaram regularizar a guarda provisória centa que enquanto a criança em 242, 413 e 76 respectiva‐ e, assim, poder matricular as não está destituída eles tentam mente, evidenciando o aumen‐ crianças na escola e demais di‐ a reestruturação familiar, mas to durante o tempo em que as reitos necessários. Por segu‐ se a família não apresenta in‐ pessoas ficaram em casa. Mas rança, a tia e as crianças não teresse então o caso volta para 2022 já vem mostrando uma terão suas identidades revela‐ a juíza que encaminha a crian‐ das nesta matéria. A conselhei‐ ça para uma família substituta baixa no número de casos. De acordo com a conselhei‐ ra explica que os casos passam ou adoção. Ela ainda aponta ra Simone Aparecida, que atua pelo conselho e, em seguida que, quando chegam, as crian‐ no Conselho Tutelar Norte, as são encaminhados até o Nú‐ ças recebem o melhor trata‐ possível porque, denúncias em sua maioria cleo de Proteção à Criança e ao mento ocorrem via telefone ou direta‐ Adolescentes Vítimas de Cri‐ segundo ela, as crianças de mente no conselho, que tem mes (NUCRIA), instituição que modo geral sempre chegam plantões de 24 horas. Em geral, faz a apuração do crime que foi muito assustadas, e que na os casos vêm, muitas vezes, da praticado contra o menor e to‐ instituição eles tratam com o melhor carinho possível para escola onde a vítima se encon‐ ma as medidas cabíveis. O município também conta que a criança se acalme, “eu tra. Ela conta que as denúncias são feitas de forma anônima ou com a instituição Pequeno An‐ costumo falar que o melhor da própria casa da vítima. A jo, que é um lugar de acolhi‐ para a criança é a família, con‐ conselheira informa que os ca‐ mento voltado à crianças em tudo, enquanto elas ficam na sos variam muito e a maneira situação de riscos, seja pessoal instituição nós fazemos o me‐ que eles chegam ao conselho ou social, todo ou qualquer ti‐ lhor por elas”. Além do mais, também: “Depende muito da po de violação de direitos. As as crianças recebem atendi‐ situação, os casos em geral va‐ crianças chegam à instituição mento psicológico e então elas riam bastante. As denúncias após um encaminhamento do são adaptadas à rotina da insti‐ vêm de muitos lugares. Por ex‐ Conselho Tutelar ou pela vara tuição. A coordenadora disse emplo são gestações na adoles‐ da infância e ficam por um que a instituição tem um con‐ cência onde o próprio hospital tempo provisório, porém inde‐ vênio com o Município, que nos encaminha porque se trata terminado. Segundo a coorde‐ paga o básico da instituição e de um menor”. Outro exemplo nadora da instituição, Denise que em demais demandas eles da atuação do conselho se dá Leifeld, o primeiro passo que é dependem de doações, even‐ pelo relato de uma tia que as‐ tomado é a reintegração fami‐ tos e de ajuda de voluntários.

NEDDIJ O Núcleo de Estudos e Defe‐ sa de Direitos da Infância e da Juventude (NEDDIJ) foi criado em 2006 nas Universidades Es‐ taduais para fazer a defesa ju‐ rídica para adolescentes em conflito com a Lei no Estado do Paraná. A UEPG é uma das 10 universidades do estado a contar com o NEDDIJ. Com a implantação da Defensoria Pú‐ blica em Ponta Grossa, o nú‐ cleo da universidade passou a realizar o atendimento socio‐ jurídico prioritário para famíli‐ as em condições vulneráveis, regularizando as situações de guarda, tutela e adoção. Além disso, integra o Programa de Extensão Núcleo de Estudos, Pesquisa, Extensão e Assesso‐ ria sobre Infância e Adolescên‐ cia (NEPIA) do Departamento de Serviço Social, onde será re‐ alizado o primeiro atendimen‐ to. Após o primeiro contato é feito um estudo para que um relatório e parecer social se‐ jam encaminhados para a par‐ te jurídica, que é feita pelos acadêmicos do curso de Direi‐ to. Na parte jurídica é feito o encaminhamento para que se‐ jam regularizadas as situações da guarda, tutela e adoção. De acordo com a professora e co‐ ordenadora Cleide Lavoratti, durante a pandemia os casos reduziram um pouco. “Talvez pelo receio das pessoas de saí‐ rem do isolamento para buscar os serviços ofertados, embora os atendimentos tenham con‐ tinuado de forma remota du‐ rante todo ano de 2020 e 2021”. Ela também acrescenta que es‐ tão buscando parceria com os Conselhos Tutelares e CRAS para atender essa demanda em conjunto com esses órgãos e equipamentos. Além disso, a partir de agosto o atendimento à adolescentes em cumprimen‐ to de medidas socioeducativas será mais amplo. Os casos que não se encaixam dentro do que o NEDDIJ oferece são encami‐ nhados até a Rede de Proteção para o acesso aos diversos ser‐ viços de políticas públicas co‐ mo assistência social e saúde.


4 | SOCIEDADE | Agosto 2022

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Ponta Grossa registra aumento de crimes contra idosos Paraná é o oitavo estado que mais registrou agressões contra idosos em 2021 PAMELA TISCHER Nos quatro primeiros me‐ ses de 2022, o número de de‐ núncias de violência contra idosos em Ponta Grossa che‐ gou a quase 50% de todos os registros do ano anterior, tota‐ lizando 154 ocorrências. Em 2021, houve 311 denúncias. Os dados fazem parte do relatório de atendimentos dos Centros Especializados em Assistência Social (CREAS) do Município. Segundo a Fundação de Assis‐ tência Social de Ponta Grossa (FASPG), no primeiro trimes‐ tre de 2021, foram registrados 30 casos de violência contra idosos. No mesmo período de 2022, houve um aumento ex‐ pressivo, contabilizando 102 denúncias no total. O Paraná é o oitavo na lista de estados brasileiros que mais registraram crimes con‐ tra pessoas idosas em 2021, segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH). O site aponta ainda que mu‐ lheres idosas são as que mais sofrem esse tipo de violência, especialmente idosas de baixa

renda ou que possuem ensino básico incompleto. Até agosto de 2021, foram somadas 1.852 denúncias de violência contra idosos no estado. Desses ca‐ sos, 1.227 eram vítimas do sexo feminino, 264 tinham en‐ sino fundamental incompleto e 212 eram analfabetas. A assistente social Maria Io‐ landa de Oliveira conta que a violência é um problema da sociedade em geral, e as pes‐ soas que estão em situação de vulnerabilidade são mais sus‐ cetíveis ao risco. Ela ressalta que existem vários tipos de vi‐ olência contra idosos: física, psicológica, financeira, patri‐ monial, sexual, negligência, abandono ou autonegligência. “Porém, a negligência aconte‐ ce tanto no âmbito institucio‐ nal como no familiar”, afirma. Maria Iolanda explica porque os casos não vêm à tona. “A pessoa idosa dificilmente de‐ nuncia, por causa da relação próxima que ela tem com o agressor. Seja ele cuidador ou membro familiar". Por conta desta proximidade existe um número menor de denúncias.

Como denunciar? Em situação de violência contra idosos, os canais de denúncias são: 156 (telefone ou site da prefeitura), Disque 100, Disque Idoso Paraná (0800 141 0001) e nos próprios CREAS (3220 1065, ou presen‐ cialmente). Após a denúncia, profissionais realizam uma vi‐ sita domiciliar para verificar a denúncia e se for confirmada

a violação dos direitos da população idosa, a família é convocada para dar esclareci‐ mentos. Em casos extremos, é realizado um boletim de ocor‐ rência e formalizada a violên‐ cia juntamente ao Ministério Público, o idoso então é retira‐ do da residência para receber os cuidados necessários, sen‐ do a família responsabilizada por essa violação. WESLEY MACHADO E JOÃO PAULO FAGUNDES

Número de casos de violência contra idosos nos últimos cinco anos.

IBGE: atraso prejudica políticas públicas LEONARDO CZERSKI O Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geogra‐ fia e Estatísticas (IBGE) dessa década iria ocorrer em 2020, mas devido a pandemia da Co‐ vid‐19 foi adiado para 2021. Um corte de verbas do Gover‐ no Federal adiou a pesquisa censitária novamente, desta vez para o ano de 2022. O ins‐ tituto está se preparando para recensear a população nacio‐ nal em meados de agosto. A seleção dos recenseadores foi feita no início do ano e o trei‐ namento preparatório de for‐ mação também já aconteceu. Desde que o Censo Demo‐ gráfico começou a ser feito a

cada dez anos, desde 1940, é a primeira vez que a pesquisa atrasa por dois anos. A única vez que o Censo atrasou foi em 1990, feito em 1991, período que o país passava pelo pro‐ cesso de redemocratização e as instituições não estavam to‐ talmente estabelecidas e não possuíam um orçamento fixo. Agora, o Censo atrasou pri‐ meiro pela pandemia da Co‐ vid‐19, e pela segunda vez pelo próprio IBGE, que alegou não haver recursos suficientes pa‐ ra realizar a pesquisa. A professora de Serviço So‐ cial da UEPG Silmara Carneiro e Silva avalia que o Censo é importante para que a popula‐ ção se reconheça enquanto so‐

ciedade. “A falta de dados atra‐ palha a agenda pública, pois os movimentos sociais preci‐ sam dos dados para pedir ao poder público que as deman‐ das sejam contempladas, mas a falta de dados do Censo in‐ fluencia diretamente na im‐ plementação dessas políticas”, explica a professora. Silmara ainda lembra que a pesquisa acadêmica feita nesses dois últimos anos está defasada, por conta dos dados que não foram atualizados na época em que deveriam. Segundo a coordenadora do Censo Demográfico em Ponta Grossa, Elizabete Rocha Cogo, a pesquisa de campo, feita de casa em casa, começa no dia

1º de agosto e será encerrada até 31 de outubro. Ela também orienta que “a população deve participar ativamente da pes‐ quisa, como por exemplo, re‐ cebendo bem o recenseador, ou mesmo que não possa rece‐ bê‐lo no momento, esse ano teremos a opção de responder pela internet ou por telefone.” De acordo com a coordenado‐ ra do Censo Demográfico de Ponta Grossa, toda a popula‐ ção participa da pesquisa. “Ca‐ so o recenseador passe por uma casa as quatro vezes obri‐ gatórias e não obtém as infor‐ mações, um supervisor vai até aquela casa e deixa uma carta para que a pesquisa seja feita de forma online”.


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Agosto 2022 | Saúde | 5

Doação de leite materno é baixa Alimento é essencial aos recém-nascidos EDUARDA GUIMARÃES O leite materno é fonte de alimento indispensável para a saúde e fortalecimento do re‐ cém‐nascido. Mas, por razões diversas, algumas mães aca‐ bam não produzindo leite su‐ ficiente para alimentar os filhos. Nesses casos, os Ban‐ cos de Leite Humano (BLH) são essenciais para dar ampa‐ ro às mulheres. De acordo com a Secretaria do Estado da Saúde, em todo o Paraná são 13 BLH espalhados pelo esta‐ do, além de 18 postos de cole‐ ta, 6 deles estão na capital. As unidades hospitalares das uni‐ versidades estaduais – de Pon‐ ta Grossa, Londrina, Maringá e Cascavel – contam com apro‐ ximadamente 700 doadoras ca‐ dastradas. Segundo os dados disponibilizados pela Secreta‐ ria da Saúde, em 2021 foram doados mais de 25 mil litros de leite. Apesar do número de doações ser 7% superior aos registrados em 2020, ainda é insuficiente. Em Ponta Grossa, a média de doações anuais desde 2019

até maio de 2022 é de quase 1,2 mil litros, mas, para man‐ ter abastecido o Banco de Lei‐ te da cidade, localizado no Hospital da Criança João Var‐ gas de Oliveira, são necessári‐ os 130 litros mensais, ou seja, aproximadamente 1,5 mil li‐ tros de leite por ano. No ano passado, as doações diminuí‐ ram 27% em relação ao ano anterior, e quase 4% quando comparado com 2019. Mesmo com a pandemia e com baixa quantidade de doações, o BLH de Ponta Grossa conseguiu ajudar mais de 1400 crianças de 2019 até metade de 2022. O alimento, após pasteurizado, é enviado para os hospitais Hu‐ mai, Unimed e Santa Casa. De acordo com a nutricionista do Hospital da Criança, Letícia Cruziniani, a expectativa é de que no mês de agosto haja um aumento nas doações de leite. Importância A nutricionista Priscila Sch‐ losser explica sobre a impor‐ tância do leite materno para a saúde da criança e da própria mãe. Dentre as vantagens da amamentação, temos: o bene‐

fício imunológico, pois o bebê recebe mecanismos de defesa durante o aleitamento; o vín‐ culo entre mãe e filho; e a di‐ minuição no câncer de mama devido a menor exposição aos estrógenos e outras diferenças nos níveis de hormônio, fazen‐ do com que a mulher fique me‐ nos suscetível para desenvolver câncer. Além disso, o fator nu‐ tricional do leite materno é adequado ao bebê, já que apre‐ senta quantidades ideais de vi‐ taminas, minerais, proteínas e gordura. “O leite é dividido en‐ tre o anterior, onde há maior quantidade de água, e o poste‐ rior que possui mais gordura, perfeito para que a criança ga‐ nhe peso”, reforça Priscila. A amamentação gera benefícios que permanecem durante ou‐ tras fases do desenvolvimento, como o fortalecimento da mus‐ culatura facial que o prepara para ingerir alimentos e intro‐ duzi‐lo à fala, e irá melhorar o desenvolvimento cognitivo. “O leite materno é mais higiênico que mamadeiras, reduzindo os casos de infecção e diarreias”. A nutricionista atenta para as consequências da falta de leite materno, já que outros ti‐ pos de fórmulas e leites de de‐ rivação animal possuem mais quantidade de proteína com‐ paradas com a capacidade de digestão da criança. “A morta‐ lidade infantil é maior entre as crianças que não recebe‐ ram aleitamento materno, co‐ mo a incidência de doenças

que poderiam ser evitadas com a ingestão do leite”, con‐ clui Priscila Schlosser. Agosto Dourado O mês de agosto é represen‐ tado pela cor dourada, para simbolizar a luta pelo incenti‐ vo à amamentação; essa cor foi escolhida para indicar o padrão de ouro do leite mater‐ no. A Semana Mundial de Alei‐ tamento Materno (SMAM) acontece entre os dias 1 e 7 do mês de agosto, com a bandeira de 2022 sendo “Proteger a amamentação: uma responsa‐ bilidade de todos”. Após a pan‐ demia, o Governo do Estado do Paraná fez campanhas para promover a SMAM e focar na saúde pública, amamentação e bem‐estar de mulheres e cri‐ anças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade co‐ mo alimentação complemen‐ tar até os dois anos de idade. Doação Para realizar uma doação é preciso entrar em contato com um Banco de Leite Humano ou em Postos de Coleta, mais próximo de sua cidade. Para tirar dúvidas ou se cadastrar é só entrar em contato com a unidade mais próxima. Os Bancos de Leite Humano podem ser encontrados nas ci‐ dades de Curitiba, Maringá, Apucarana, Cascavel, Ponta Grossa, Pinhais, Toledo, Foz do Iguaçu, Londrina, São José dos Pinhais e Campo Largo.

Restrição ao glúten dificulta socialização LARISSA DEL POZO “Faz dez anos que não faço mi‐ nhas refeições fora de casa. Quan‐ do saio levo marmita ou faço a refeição antes”. Desabafa a celía‐ ca, Valdirene Aparecida Veiga. Se‐ gundo o levantamento realizado pela reportagem, todos os celía‐ cos e intolerantes ao glúten entre‐ vistados acreditam que Ponta Grossa e região carecem de res‐ taurantes que atendam suas ne‐ cessidades. E constatou que quase 80% deixam de consumir os ali‐ mentos nesses ambientes por conta da contaminação cruzada. De acordo com a nutricionista do Departamento de Segurança Alimentar da cidade, Elaine Cris‐ tina Popoatzki, apenas cerca de

50 celíacos e intolerantes ao glú‐ ten estão cadastrados na prefeitu‐ ra. Entretanto, ela afirma que o número de pacientes é superior. Segundo a celíaca Luiza Si‐ queira Stemmler, a instrução dos restaurantes sobre as restrições alimentares deveria ser mais aprofundada. “Eu nem falo que eu sou celíaca, porque ninguém sabe o que é celíaco”. Selos De acordo com a presidente da Acelpar, Ana Claudia Cendofanti, a doença celíaca vai além do di‐ agnóstico médico e impacta dire‐ tamente o convívio social do indivíduo. Nesse contexto, a asso‐ ciação busca garantir espaços se‐ guros de convivência para esses cidadãos por meio da implanta‐

ção do “Selo Sem Glúten”— uma iniciativa com o intuito de propi‐ ciar uma produção, manipulação e preparo de alimentos totalmen‐ te livres de traços de glúten. Ana Claudia ainda afirma que existem aproximadamente 33 se‐ los distribuídos pelo estado, mas nenhum em Ponta Grossa. E co‐ menta que mesmo diante da pro‐ ximidade entre Ponta Grossa e Curitiba, ainda a cidade carece de espaços especializados para este público, contabilizando me‐ nos de dez estabelecimentos. Confira por meio do QR code mais informações sobre a socialização de celíacos em PG

LARISSA DEL POZO


6 | Cidadania | Agosto 2022

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Fome atinge lares chefiados por mulheres em PG ALEX DOLGAN “Meu almoço de hoje foi ar‐ roz, feijão e picadinho. O pouco que tinha na geladeira, que so‐ brou da janta na noite passada”. O relato de Catarina Laurichen é a realidade enfrentada por mais de 15 mil moradores do município de Ponta Grossa. O mapeamento da insegurança alimentar na cidade foi o foco da pesquisa “Fome e Pandemia: um estudo em Ponta Grossa”, publicada em 2022 pelo Núcleo de Pesquisa Questão Ambien‐ tal, Gênero e Condição de Po‐ breza da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O relatório traz um recorte de gênero e mostra o cresci‐ mento da fome em lares chefia‐

dos por mulheres. Para chegar a essa conclusão, a pesquisa le‐ vantou dados de 302 famílias da cidade que são atendidas pelos Centros de Referência da Assis‐ tência Social (CRAS), através de um questionário. Do total das famílias respondentes, 87% são chefiadas por mulheres. Onde há um empobrecimento em la‐ res feminilizados, com 95% das moradias em situação de po‐ breza e 78% em extrema pobre‐ za. A professora do curso de Serviço Social da UEPG Lenir Aparecida Mainardes da Silva, diz que o cenário da feminiza‐ ção da pobreza é uma constru‐ ção social antiga, porém com a pandemia e a crise econômica, essa desigualdade ficou ainda mais evidente. “Agora quando

JOÃO PAULO FAGUNDES, LEONARDO CZERSKI E WESLEY MACHADO/ LENTE QUENTE

olha para o rosto da pobreza, verá o rosto da mulher", diz. Lenir declara que, durante as entrevistas, ficou evidente que muitas dessas mulheres tinham empregos informais, principal‐ mente como diaristas. Durante o ápice da pandemia, essas mu‐ lheres ficaram sem empregos ou precisram sair para cuidar dos filhos, e até esse ano não acharam outro trabalho. Con‐ forme a professora, a condição de pobreza é a principal causa da fome. “Os bens e serviços são adquiridos com dinheiro e nem sempre isso é possível. Então, a fome é um reflxo da pobreza”. Relatos A coletora de materiais reci‐ cláveis Catarina Laurichen e seus quatro filhos estão entre as inúmeras famílias pontagros‐ senses em situação de insegu‐ rança alimentar. Catarina conta que um dia seus filhos voltaram da aula com fome, mas não ha‐ via nenhum alimento em casa. “Quando vi meus filhos choran‐ do e reclamando da fome, eu peguei eles e fui andando sem rumo para esquecerem da co‐ mida. Com certeza, foi o pior dia da minha vida”, desabafa. O dinheiro de Catarina e de seu

marido não é suficiente para as despesas mensais de sua casa e são poucas as doações de ali‐ mentos que são destinados à Ocupação Ericson John Duarte, onde a família mora. Outra situação é a de Maria Leonilda Galvão, de 70 anos. Ma‐ ria relata que o dinheiro pago pelo Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência (BPC/ LOAS) não é o suficiente para to‐ das as despesas. Devido ao gasto elevado com medicação, Maria Leonilda não consegue sustentar uma alimentação saudável. “Eu me sinto cansada ao ver que a vi‐ da está cada vez mais difícil. O preço da comida sobe todos os dias e não tenho condição de ar‐ car com esse aumento. Minha saúde fica muito prejudicada”. Em uma observação geral pela cidade de Ponta Grossa, a assistente social do Grupo Re‐ nascer, Regina Rosa, ressalta ter visto um grande aumento da fome em lares chefiados por mulheres. “Na época que trabalhei no Cartão Comida Boa, as mulheres vinham de longe só para conseguir o be‐ nefício. Assustador que 50 re‐ ais é a única forma de poder ter uma alimentação”, concluí.

Casa de Acolhimento de PG atende pessoas em situação de rua o ano todo CAMILA SOUZA Com capacidade para rece‐ ber 70 pessoas em situação de rua, com seus animais de esti‐ mação, a Casa de Acolhimen‐ to Maria Isabel Ramos Wosgrau iniciou as atividades no dia 09 de julho. Há 7 meses em situação de rua, Marli de Fatima Carneiro relata que a casa tem ajudado a suprir su‐ as necessidades desde que co‐ meçou a frequentar o local. "Aqui recebemos sopa na janta e temos café com pão de ma‐ nhã, também nos fornecem roupas. Tudo isso é bom e aju‐ da a aliviar o frio”. Segundo a assistente social

Karyn Collesel, responsável pela casa de acolhida, atual‐ mente, cerca de 150 pessoas estão em situação de rua. Karyn relata que a procura pela casa está atendendo as expectativas e que nas noites de frio mais rigorosas, o local chegou a atender em sua ca‐ pacidade máxima. Ela acredi‐ ta que a Casa é de extrema importância pois facilita na dignificação das pessoas. “As pessoas necessitam de um es‐ paço não apenas para dormir e também não somente no in‐ verno. Esse tipo de serviço prestado na casa ajuda a dig‐ nificar pessoas”. Em nota divulgada no site

da Prefeitura da cidade, a presidente da Fundação de Assistência Social (FASPG), Vinya Mara Anderes Dzievi‐ eski Oliveira, conta que a Ca‐ sa de Acolhimento realizou cerca de 40 atendimentos por noite em seus 20 primeiros dias em atividade. Vinya Mara afirma que o trabalho da Prefeitura com o apoio de parceiros é capaz de trazer carinho e segurança para as pessoas em situação de rua e que, juntamente com outros serviços já ofertados pelo Município, levam oportuni‐ dades de mudança de vida para as pessoas que estão em vulnerabilidade social.

Serviço A instituição atende diaria‐ mente das 20h às 8h e oferece alimentação, camas, itens de higiene pessoal e banho. A casa de acolhimento está localizada entre as ruas Generoso Mar‐ ques dos Santos e Barão de Teffé, na região central da cidade. O serviço será prestado o ano inteiro e é ofertada pela Secretaria Municipal da Família e do Desenvolvimento Social. Centro Pop PG também conta com o Centro Pop, instituição que oferta de forma gratuita serviços como regularização de documentos e passagens para itinerantes e indígenas


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Agosto 2022 | Economia | 7 VITÓRIA TESTA

Mercado da Família amplia faixa de atendimento Programa beneficia famílias que ganham até 5 salários JOÃO VITOR PIZANI O Mercado da Família, pro‐ grama da Prefeitura que pro‐ mete vender produtos até 30% mais baratos do que nos mer‐ cados, agora atende famílias que ganham até 5 salários mí‐ nimos. Antes da alteração da lei, que foi sancionada no dia 30 de junho, a renda máxima

para os cadastrados era de 2,5 salários mínimos. O aumento do teto da renda familiar visa corrigir o volume proporcio‐ nal de compras junto ao Pro‐ grama, afetado pela inflação. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IB‐ GE), nos últimos cinco anos o real perdeu 31,32% de seu va‐ lor, fazendo com que o poder

Falta de alternativas dificulta veganismo MARIA KOBILARZ De janeiro de 2021 até ja‐ neiro de 2022, a pesquisa do termo "veganismo" no google aumentou em 94% no Para‐ ná. Segundo pesquisa de 2020 realizada pela indústria alimentícia Ingredion, 59% dos entrevistados afirmaram que não optam por produtos baseados em plantas por conta do alto custo. No mes‐ mo ano, o The Good Food or‐ ganizou um estudo chamado “O Consumidor Brasileiro e o Mercado Plant Based”, que constatou que apenas 36,5% dos entrevistados estão dis‐

postos a pagar a mais por um produto de origem vegetal. Valesca Vebam é proprietá‐ ria do Armazém Cereais da Terra, uma empresa que tra‐ balha com cereais a granel, alimentos sem glúten, sem lactose e produtos veganos. Ela afirma que incluiu insu‐ mos veganos no armazém pe‐ la dificuldade pessoal de encontrar esses alimentos no munícipio. Além disso, os for‐ necedores desses alimentos são trabalhadores informais, o que inviabiliza a relação com o armazém. "Acho que a maior dificuldade é ter em‐ presas formais próximas, pa‐

de compra dos brasileiros hoje seja um terço menor do que era em 2017. A população de baixa renda é a mais afetada, pois alguns dos produtos e serviços que sofreram maior reajuste são aqueles consumi‐ dos no cotidiano. A diretora do Mercado da Família, Jéssica Ribas Ramos, conta que nos últimos meses o

ra ter um preço acessível". A falta de empresas voltadas exclusivamente a alimentos de origem vegetal na cidade de Ponta Grossa faz com que Va‐ lesca recorra a produtores de outros municípios. "Como a gente não tem uma produção aqui, as coisas ficam mais ca‐ ras por conta do frete. Tem que ter esse jogo de cintura para conseguir trazer algo viável pa‐ ra venda". Atualmente, seu for‐ necedor mais próximo é do município de Campo Largo. Uma das vertentes do movi‐ mento vegano é o Veganismo Popular, que alia a causa ani‐ mal e ambiental a questões de raça e classe social. Segundo essa vertente, o veganismo de‐ ve se opor ao elitismo, facili‐ tando o contato de grupos marginalizados com a causa. Clara do Prado, ativista desse movimento, aponta a necessi‐ dade de repensar as práticas de

público cadastrado no Progra‐ ma cresceu cerca de 20%, o que seria uma consequência do aumento no valor da cesta básica em Ponta Grossa. Des‐ de maio de 2021, os alimentos que compõem o grupo tiveram um aumento de 26,18%, con‐ forme aponta um estudo reali‐ zado pelo Núcleo de Economia Regional e Políticas Públicas (Nerepp) da UEPG. O valor é mais do que o dobro da infla‐ ção oficial (IPCA‐IBGE) acu‐ mulada nesse mesmo período, registrada em 11,73%. Por esses motivos, a Prefei‐ tur teria visto a necessidade de alterar o teto salarial do Programa para beneficiar mais pessoas. Atualmente o Programa atende em média 5 mil famílias por mês nas três unidades de Ponta Grossa, lo‐ calizadas no Centro, Santa Paula e no Parque Nossa Se‐ nhora das Graças. Segundo Ramos, a Prefeitura ainda não possui a estimativa de quantas familias a mais passarão a consumir no Mercado da Fa‐ mília com o aumento do teto salarial, mas ela afirma que o Programa conseguirá suportar o aumento do público. Confira por meio do QR code mais informações sobre o Mercado da Família

produção e consumo e a im‐ portância de não esquecer os movimentos sociais de Ponta Grossa. No município, os dois restaurantes voltados para alimentos vegetais fecharam na pandemia. Apesar de per‐ ceber um aumento de adesão, o movimento vegano enfrenta dificuldades para se desenvol‐ ver no mercado. O professor de economia da UEPG e coordenador do Projeto de Extensão Questões Ambien‐ tais, Econômicas e Sociais: práti‐ cas do meio ambiente, Renato Alves, ressalta que é essencial informar sobre o veganismo de forma que torne o assunto mais popular. Alves aponta a relevân‐ cia de valorizar pequenos pro‐ dutores veganos, levando em conta que os empreendimentos que usam carne, mas que possu‐ em opções veganas no cardápio, colaboram com um sistema que maltrata animais.


8 | Especial | Agosto 2022

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Gritos silenciados: m as diferentes fac

A cada hora, cinco mulheres registram um boletim

“Eu vejo que existe um sis‐ tema de proteção à mulher, mas a mulher não está sendo ajudada”. Essa é a fala de uma vítima de violência doméstica que sofreu inúmeras tentativas de feminicídio. Atendida pela Casa da Mulher de Ponta Gros‐ sa, essa pessoa, que não será identificada na matéria, é uma das milhares de paranaenses que sofrem com essa violên‐ cia. Segundo dados do Tribu‐ nal de Justiça do Paraná, até abril de 2022, foram registra‐ dos 15.545 casos de violência doméstica e 63 casos de femi‐ nicídios somente no estado. Apenas em Ponta Grossa, foram registrados 1.512 casos de violência doméstica e três casos de feminicídio nos pri‐ meiros quatro meses deste ano. As estatísticas levantadas e publicadas pela Polícia Civil do Paraná especificam as cir‐ cunstâncias dos crimes, o per‐ fil dos autores, o perfil das vítimas e as infrações penais. A maioria dos casos ocorrem dentro da residência da víti‐ ma, por pessoas conhecidas e, sobretudo, na relação íntima atual ou anterior com o abusa‐ dor. Os dados indicam que a

nam ameaça, com média de 2.383 casos por mês; lesão cor‐ poral, 2.363 e injúria, com 915 registros em delegacias. A coordenadora da Casa da Mulher de Ponta Grossa, Ca‐ mila Calisto Sanches, explica que o atendimento inicial da mulher em situação de violên‐

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DAPHINNE PIMENTA LÍVIA HASMAN

Ele começou a me bater muito. Chegou a um ponto em que eu não suportava mais viver aquilo

cia é realizado por uma psicó‐ loga e uma assistente social. Elas analisam as demandas da vítima―como boletim de ocor‐ rência, atendimento médico, medida protetiva, entre ou‐ tros―, ouvem os relatos dela e a encaminham para outros ór‐ gãos da rede de proteção, co‐ mo a Delegacia da Mulher e o Núcleo Maria da Penha. No entanto, a coordenadora afir‐ ma que nem todas as mulhe‐ res procuram o atendimento. “Muitas mulheres só chegam aqui na Casa pela violência fí‐ sica, por ser a violência que deixa marcas. Elas não che‐ gam pela violência psicológica ou por outros tipos”. A Casa também oferece su‐ porte à mulher após o boletim de ocorrência e o requerimen‐ to da medida protetiva, caso ela opte por esses registros. “Aqui a gente oferece o atendi‐ mento inicial como também o atendimento pós‐medida pro‐ tetiva”, explica Sanches. A Ca‐ -Vítima de violência doméstica sa está associada à Patrulha Maria da Penha, equipe espe‐ maioria dos agressores é com‐ cial ligada à Guarda Municipal posta por homens brancos de, de Ponta Grossa que monitora em média, 36 anos. As vítimas cerca de 550 mulheres que são majoritariamente brancas, conseguiram medida protetiva com cerca de 35 anos. Dentre contra o agressor. Além de as infrações penais, predomi‐ manter contato com as víti‐

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Ele fazia surpresas, mandava presentes. Era perfeito demais para ser verdade

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mas, a Patrulha também retira os pertences e realiza a devo‐ lução a mulher caso estejam em posse do abusador. O ciclo da violência O Instituto Maria da Penha adota como parâmetro a Teo‐ ria das Fases da pesquisadora e psicóloga Lenore Walker, pu‐

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-Vítima de violência doméstica

blicada em 1979. A teoria ex‐ plica que há três principais fases do ciclo de violência, sendo elas: o aumento da ten‐ são (momento em que o agres‐ sor se mostra nervoso por motivos insignificantes), ato de violência (reação violenta do agressor, seja ela verbal, fí‐ sica, moral, psicológica ou pa‐ trimonial) e o arrependimento ou “lua de mel” (o agressor se arrepende dos atos e tem ati‐ tudes carinhosas para tentar se reconciliar com a vítima). A pessoa citada no começo desta reportagem afirma que no início do relacionamento o seu agressor agia como um "príncipe encantado”, ilus‐ trando bem o ciclo de vio‐ lência estudado por Walker. “Ele fazia surpresas, manda‐ va presentes; aí começou uma sedução. Era perfeito demais para ser verdade”. Ela comenta que nos primei‐ ros seis meses o homem co‐ meçou a dar indícios de abuso quando aparecia sem aviso e em horários aleatórios na casa dela, até mesmo durante a madrugada. Por insistência do abusador, ela vendeu o ponto de comércio que tinha na ci‐ dade onde vivia e foi conven‐ cida a morar com ele em

Ponta Grossa. “Ele queria que eu ficasse na casa dele. Eu pensava: é carinho, para estar‐ mos perto”, explica a vítima. As primeiras agressões ver‐ bais mudaram a sintonia do relacionamento. “Do nada eu era burra, passei a ser uma idiota, uma rídicula”. Ela conta que após o término descobriu que o agressor fazia o mesmo com a ex‐companheira dele: traía, humilhava e a agredia fisicamente. Além disso, a víti‐ ma afirma que o homem não tinha um bom relacionamento com nenhum dos filhos. “Mas nesse período em que eu esta‐ va com ele, eu nunca descobri nada; ninguém me avisou”. Segundo ela, o autor das vi‐ olências saía todos os dias, deixando ela com a responsabilidade de cuidar de seus pró‐ prios filhos e


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Agosto 2022 | Especial | 9

mulheres enfrentam ces da violência

m de ocorrência de violência doméstica no Paraná dos dele. “Acabei abrindo mão da minha vida pessoal e social para me dedicar [aos filhos]. Eu achava que ia valer a pena”. A mulher conta que o agressor a manipulava de uma forma a

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Ao mesmo tempo em que ele era um monstro comigo, pedia perdão e dizia que me amava

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-Vítima de violência doméstica

não permitir que ela saísse de casa, decidia quais roupas ela iria usar e controla‐ va a interação com ou‐ tras

JO ÃO PA UL O

FA GU ND E

pessoas ―como com a família e amigos―e também monito‐ rava o patrimônio dela. Ela re‐ vela ainda que não se dava conta das violências sofridas por causa da mudança repen‐ tina de comportamento do abusador. “Ao mesmo tempo em que ele era um monstro comigo, me abraçava, pedia perdão e dizia que me amava. Ele falava que se eu não mu‐ dasse, teríamos que terminar; eu nunca entendi o que fiz de errado”. A situação só foi piorando. “Ele começou a me bater mui‐ to. Eu estava sempre com he‐ matomas, manchas e cortes pelo corpo. Chegou a um pon‐ to em que eu não suportava mais viver aquilo”, conta. Uma das inúmeras tentativas de fe‐ minicídio aconteceu quando o agressor atropelou ela com o carro. “No local havia policiais e paramédicos; eu só consigo lembrar de pedir para que nenhum homem me to‐ casse, se não eu apanha‐ ria”, relembra a vítima. O primeiro pedido de socorro foi por meio de um bilhete para sua contadora, que lhe passou o contato de uma advogada; a víti‐ ma, no entanto, não tinha como ligar. “Eu era controlada 24 horas; o meu celular e car‐ ro eram ras‐ treados. Tudo o que era meu e que ele pode‐ ria imaginar que eu teria acesso a outras pessoas, ele me privou”. Ela explica que muitos dos conhecidos não acreditaram em seu rela‐ to, o que dificultou a saída de seu relacionamento abusivo. S

Tipos de Violência

1

Violência Física Entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher. Ex: espancamento e atirar objetos.

Violência Psicológica Considerada qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. Ex: ameaça e manipulação.

3

2

Violência Sexual

Trata-se de qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força.

Ex: estupro e impedir o uso de contraceptivos

Violência Patrimonial

Entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição de seus objetos, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. Ex: controlar o dinhero e deixar de pagar pensão

5

4

Violência Moral

É considerada qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Ex: acusar a mulher de traição, expor a vida íntima e rebaixar a mulher xingando sua índole.

“Eu chamei a polícia. As pes‐ soas para quem pedi socorro foram as que acabaram aju‐ dando ele a fugir do flagrante”, relembra a vítima. Mesmo a mulher possuindo várias provas e testemunhas dos abusos sofridos, o agres‐ sor não foi preso. Pelo contrá‐ rio, ele passou a persegui‐lá. “Ele me perseguia de carro, me ameaçava, descumpriu a medida protetiva e nunca foi

LARISSA DEL POZO / Fonte: Instituto Maria da Penha

preso. Eu ainda preciso mudar constantemente de casa para ele não me encontrar”. A mu‐ lher critica o sistema judiciá‐ rio, afirmando que na prática a Lei contra o feminicídio, nº 13.104 do ano de 2015, não aju‐ da efetivamente as vítimas de tentativas de feminicídio como ela. “Só entra a Lei do Femini‐ cídio quando a mulher já está morta. Mas e a tentativa de as‐ sassinato? Por quê não entra?”.


10 | Educação | Agosto 2022

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No batuque dos instrumentos, música está nas universidades de Ponta Grossa Mesmo com rotina intensa, alunos obtêm tempo para baterias universitárias VANESSA GALVÃO

Bateria Caveirão ensaia no Ambiental em seu tempo livre VANESSA GALVÃO “Além de motivar os acadê‐ micos a se empenharem nos seus respectivos cursos, traze‐ mos disciplina, responsabili‐ dade, trabalho em equipe e o desenvolvimento de habilida‐ des pessoais e profissionais”. Assim a presidente da Liga de Baterias de Ponta Grossa, Eli‐ sa Flizicoski, define a existên‐

cia das baterias universitárias nas universidades públicas e particulares do município. A Liga agora é composta por 6 grupos, que integram os cursos da Universidade Esta‐ dual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Tecnológica Fe‐ deral do Paraná (UTFPR) e o Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (Cescage). A relação entre os grupos é tão

Ponta Grossa é polo de cheerleading ANA MORAES O que começou como uma forma de animar torcidas nos Estados Unidos atualmente é reconhecida como prática es‐ portiva. Segundo a Liga de Cheerleading de Ponta Grossa (LCPG), o município é consi‐ derado polo do esporte no es‐ tado do Paraná, uma vez que é uma das cidades que mais possuem times. Ponta Grossa já teve 13 ti‐ mes universitários e conta com 10 ativos, também possui duas equipes da categoria “All Stars”, que surgiram do inte‐ resse de ex‐universitários.

Camila Guedes, estudante de Engenharia de Produção na UTFPR do Paraná de Ponta Grossa, fez parte do time Asas Negras da atlética XV de Outu‐ bro e agora é treinadora da equipe Skulleadears, da atléti‐ ca de Direito da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Durante o período que participou do Asas, ela esteve em várias competições, entre elas o Campeonato de Cheer‐leading dos Jogos Inter Atléticas de Ponta Grossa (JOIA‐PG) e o Campeonato Nacional da União Brasileira de Cheerleading ‐ UBC. Para Camila, o Cheerlea‐

grande, que as baterias aca‐ bam integrando a grade curri‐ cular nas universidades, como é o caso da Tourada, bateria dos cursos de Engenharias da UEPG que é um projeto de ex‐ tensão na universidade. Entre as atividades desen‐ volvidas pela LBPG está o De‐ safio de Baterias dos Jogos Inter Atléticas de Ponta Grossa (JOIA‐PG). A Liga não recebe nenhum investimento mone‐ tário do Município e todas as suas despesas são custeadas por seus eventos. A presidente ainda explica que essas com‐ petições são organizadas pela diretoria, a partir de um regu‐ lamento que segue critérios de outros eventos nacionais. Competições como a Batu‐ cada fazem com que as bateri‐ as universitárias de Ponta Grossa conquistem reconheci‐ mento nacional. Mostrando assim a relevância da prática no município, Elisa Flizicoski ainda ressalta que as baterias ajudam no desenvolvimento cultural da cidade e que a LBPG também auxilia nas ati‐ vidades de outras baterias, prestando apoio para quem

deseja participar. O mestre da Bateria Cavei‐ rão do curso de Direito da UEPG, Thierry Sautchuk, res‐ salta a importância das bateri‐ as nos espaços universitários. “Para o curso, além das pró‐ prias questões de torcida e das competições, a Bateria funcio‐ na como um espaço de acolhi‐ mento aos alunos, de criação de novas amizades, servindo como um momento de distra‐ ção das atribulações diárias”, explica. Esse espaço de acolhi‐ mento também é observado pela musicoterapeuta Aline Si‐ queira, que ressalta os benefí‐ cios. “Importa para a conexão dos universitários, socializa‐ ção e troca de experiências entre os alunos. Também pro‐ porciona lazer para além do âmbito acadêmico”, comenta.

ding deve ser popularizado já que demanda locais adequa‐ dos para treino e muito inves‐ timento. “Só de uniforme e cheermix (música usada nas apresentações) saem em torno de R$300 a R$1000. Quanto mais pessoas conhecerem, mais o esporte cresce”. Outra universitária adepta ao esporte é Laís Carolina Anhaia, vice‐presidente do ti‐ me Sharkleaders, da atlética de Odontologia da instituição. Em 2018 o time foi campeão do JOIA. “O Cheerleading de‐ veria ser mais conhecido, mui‐ tas pessoas não sabem o que é ou não tiveram oportunidade de participar”, analisa. Segundo Vitória Machado, uma das presidentes da LCPG, a Liga surgiu em 2014, a partir da iniciativa de três times: Bul‐ leaders, da atlética Los Bravos da UEPG; Pirateleaders, da atlética de medicina da UEPG;

e Asas Negra, da XV de Outu‐ bro da UTFPR. Vitória explica o que é ne‐ cessário para um time. “Não há requisitos formais, mas é fundamental ter vontade de treinar e apego ao esporte. O time precisa ter de cinco a 38 atletas”. A prática ocorre por meio de cinco tipos de ativida‐ des: jump, tumbling, stunt, pi‐ râmides e dança. Para Camila Guedes, apesar de exigir muito, o esporte é onde ela encontra paz. “Cada treino é gratificante, as horas que gastamos, nossas lesões e nossas evoluções”. Já para Laís Carolina, o time significa o sinônimo de união. "Estamos todos juntos por um propósito dando o melhor de si". Para Camila do Valle, a prática sig‐ nifica integração e também di‐ versão. “Faz muito bem encontrar o pessoal e passar um tempo treinando”.

Confira por meio do QR code mais informações sobre as baterias e instrumentos


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Agosto 2022 | Educação | 11

Estudantes relatam dificuldade em lidar com ansiedade pré-vestibular Irritabilidade, tristeza, insônia, preocupação e agitação são alguns sintomas JOÃO PAULO FAGUNDES

JOÃO PAULO FAGUNDES A saúde mental nunca foi tão debatida quanto no mo‐ mento atual. As novas gera‐ ções estão bem empenhadas em promover os cuidados ao bem‐estar psicológico. Porém, isso não muda o fato de existir um número alarmante de ado‐ lescentes com problemas de ansiedade e depressão, em es‐ pecial estudantes. Segundo o Mapeamento das Competênci‐ as Socioemocionais, publicado em abril de 2022 pela Secreta‐ ria de Educação de São Paulo, 7 em cada 10 estudantes rela‐ tam sinais de transtorno de ansiedade e depressão. Segundo a psicóloga Larissa Heidmann, é comum que os alunos fiquem ansiosos perto da data de uma prova, porém é preciso se atentar aos sinais e níveis da ansiedade. A psicólo‐ ga alerta que, se começa a atrapalhar outros aspectos da vida, como sono e alimenta‐ ção, a ansiedade pode gerar um sério problema de saúde. Larissa Heidmann aconselha aos estudantes em situações

similares que procurem ajuda. "No momento em que a pes‐ soa não consegue controlar a crise de ansiedade, ela precisa de suporte médico e terapêuti‐ co", afirma Larissa. Beatriz Rocha Winkeler, tenta há alguns meses entrar em Medicina e afirma se sen‐ tir muito ansiosa, principal‐ mente perto do vestibular. “O pior é que também atrapalha na concentração, você acaba focando tanto na possibilidade de não ir bem, que acaba se sabotando”. Beatriz conta que já teve crises e que a época de pandemia foi complicada para se concentrar nos estudos. Os problemas com a ansie‐ dade em alunos de várias esfe‐ ras foram intensificados com a pandemia da Covid‐19. As mudanças na aplicação dos vestibulares, como adiamen‐ tos e cancelamentos, ajudou a aumentar a ansiedade daque‐ les que tentam ingressar no ensino superior. O diretor do Colégio Positi‐ vo de Ponta Grossa, Marcelo Assad, comenta sobre a pres‐ são familiar que os vestibulan‐

Com a proximidade das provas, os problemas ficam mais evidentes

dos sofrem. Segundo ele, os pais dos estudantes acabam pressionando os filhos para entrar. Como é comum que muitas pessoas não passem na primeira tentativa, existe uma quebra de expectativas que po‐ de ser mais nociva para esses alunos e alunas. Carolina Stadler acabou de entrar no curso de Medicina e afirma que sentiu pressão para

passar. "Você vê todos seus co‐ legas fazendo faculdade e eles ficam perguntando se você já conseguiu, como uma forma de cobrança”. Ela ainda relata que sofreu dores no estômago relacionadas à ansiedade e re‐ cebeu atendimento psicológi‐ co e medicamentos. Carolina prestou quatorze vestibulares até conseguir passar na prova e obter a vaga na universidade.

Projeto facilita ingresso à universidade IASMIN GOWDAK O Cursinho pré‐vestibular da Igreja Imaculada Concei‐ ção, no bairro de Uvaranas, iniciou as aulas para 250 estu‐ dantes em abril e segue até de‐ zembro com ensino presencial e remoto. Esse ano foram 150 vagas de maneira presencial e 100 remotas, devido à pande‐ mia da Covid‐19, mas no ano letivo de 2023, a previsão é que as aulas voltem a ser ofertadas totalmente presenciais, como explica Rodrigo Milleo, coor‐ denador do cursinho. O curso ocorre de segunda à sexta no período noturno. “Passei no vestibular sem cursinho e sei o quanto foi di‐ fícil estudar sozinha. Sinto que estou retornando para a socie‐

dade o que a universidade in‐ vestiu em mim, com cada aprovação, com cada forman‐ do”, diz Letícia Leal, professo‐ ra de história que atua como voluntária do Cursinho Prepa‐ ratório desde 2013. Segundo o coordenador, a seleção das vagas é feita de acordo com a renda familiar. “Por ser um projeto social não excluímos ninguém, porém, sempre priorizamos pessoas de renda baixa”. Milleo co‐ menta que a análise é feita conforme o número de vagas ofertadas. Rodrigo conta que o cursinho apresenta uma mé‐ dia de 50% de aprovação. Por ser um projeto social, Rodrigo esclarece que não existe nenhum tipo de proces‐ so seletivo para professores,

pedem apenas disposição e responsabilidade para traba‐ lhar uma vez por semana. Acadêmicos podem se volun‐ tariar a partir do segundo ano da graduação, além disso, o cursinho oferece certificados de horas extracurriculares pa‐ ra incentivar principalmente os estudantes dos cursos de li‐ cenciatura a participarem. Letícia Leal fala que, após saber do projeto através de amigos, se voluntariou para lecionar enquanto esperava o mestrado. “Na época, eu não queria trabalhar dando aulas, mas me descobri professora no cursinho. A atuação ali me fez encontrar realização na profissão”, conta. Os professores seguem os conteúdos do vestibular, que

são divididos por temáticas de cada matéria. "Fiquei quase oito anos trabalhando com História do Brasil e este ano decidi mudar para História Geral”, comenta Letícia, que procura se organizar em um cronograma de estudos. O cursinho não recebe ne‐ nhum patrocínio direto, então há uma taxa única de 115 re‐ ais para realizar a inscrição. Estudantes de baixa renda po‐ dem solicitar a isenção da ta‐ xa. O valor arrecadado serve para a manutenção do curso, como a compra de papel cha‐ mex, projetores e outros mate‐ riais necessários. Contudo, a principal forma de manter o cursinho é através da doação de materiais didáticos e da di‐ vulgação por rádio e televisão.


12 | Cultura | Agosto 2022 VITÓRIA TESTA/LENTE QUENTE

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Primeira casa de madeira é tombada AMANDA DAL' BOSCO

Bando da Leitura proporciona espaço literário para crianças

Ações literárias para os pequenos KAILANI CZORNEI A Biblioteca Municipal de Ponta Grossa Bruno Enei ofe‐ rece ações culturais para o pú‐ blico pontagrossense, com o enfoque na literatura e em ati‐ vidades dinâmicas. O Bando da Leitura, projeto indepen‐ dente, que traz uma roda se‐ manal de leitura assim como a Biblioteca, dispõe da mesma intenção de incentivo literário, voltado ao público infantil. A pedagoga e professora Lu‐ célia de Cássia Clarindo, res‐ ponsável pelo projeto Bando da Leitura, conta que as rodas literárias acontecem nas sex‐ tas‐feiras à tarde. Quem quiser participar encontra no Bando um ambiente colorido, repleto de risos e atividades interati‐ vas. Um livro é escolhido; as crianças sentam em roda, le‐ em o texto e partem para uma atividade prática e lúdica so‐ bre o que leram. Além disso, os pequenos também intera‐ gem uns com os outros, já que existe um momento de des‐ contração e brincadeiras. O Bando já mudou a vida de muitas pessoas, pelas quais Lucélia tem um apego especi‐ al. “Eu me apego às crianças, eu amo tudo o que eu faço. To‐ dos os rios que eu mergulhei descem até o Bando da Leitu‐ ra”. Lucélia tem certeza de que

a leitura é efetiva na vida das pessoas. “Eu gostava muito de ler quando criança, minha mãe contava muita história, havia poucos livros, mas mui‐ ta história. Sempre fui leitora, isso ajudou muito na minha formação como pessoa”. Assim como o Bando, entre os serviços da Biblioteca Mu‐ nicipal que são oferecidos de graça estão rodas de contação de histórias, visitas agendadas com as escolas do município e encontros de exaltação cultu‐ ral. O foco das diversas ativi‐ dades está no incentivo à leitura para as crianças. De acordo com um dos bi‐ bliotecários do local, Carlos Roberto Fernandes, o propósi‐ to do projeto é oferecer pro‐ gramação durante as férias. “Fazemos de modo mais livre, sem ter um público alvo. Aqui é como uma colônia de férias, lançamos a programação e os pais podem trazer as crian‐ ças”. O objetivo das ações é para que as crianças conhe‐ çam o ambiente da biblioteca e entendam a sua disponibili‐ dade. “Durante o ano letivo, nós entramos em contato com as escolas para agendamen‐ tos, então eles vem fazer uma visita monitorada na Bibliote‐ ca; ofertamos contação de his‐ tórias e visita ao acervo de obras raras”, diz Fernandes.

Imagine que você passa pe‐ la Rua Theodoro Rosas. Nota que, conforme anda, as cercas e muros se tornam menores e as grades das janelas somem junto com o asfalto, que dá lu‐ gar ao calçamento. De repen‐ te, você se depara com uma casa amarela alta que chama atenção, com um gramado cheio de flores que lembra a casa de uma avó. Dessa ma‐ neira que Thereza Chemin, herdeira e proprietária do lo‐ cal, recorda seu passado. Chemin, de 89 anos, saiu de Imbituva e chegou em Ponta Grossa com a família nos anos 60. Ela conta que os pais com‐ praram a casa de madeira nú‐ mero 64 em 1974. Segundo Chemin, a casa passou por muitas mudanças ao longo dos anos. “Quando compra‐ mos a residência, ela estava escondida no meio do mato, era cor de pinhão com as ja‐ nelas bem escuras e sujas. Nós reformamos e mandamos pintar de amarelo e branco, o que deu muito destaque”. Já que não foram planeja‐ das, as reformas chamaram bastante atenção. Um sobri‐ nho de Chemin solicitou o tombamento do imóvel para sua preservação, realizado em maio deste ano, o que desa‐

gradou a proprietária, que queria vendê‐la por ser bem velha e grande. Ela comentou sobre a possibilidade de re‐ verter a decisão do tomba‐ mento, mas diz reconhecer as dificuldades. “Agora que está tombada, que fique assim”, afirma Thereza Chemin. Estilo De acordo com a professo‐ ra de arquitetura e urbanis‐ mo, Kathleen Coelho, a casa amarela é de arquitetura polo‐ nesa com traços alemães e ita‐ lianos, o que representa bem as características dos imigran‐ tes que vieram para a cidade. A última sessão pública do Conselho Municipal do Pa‐ trimônio Cultural (COMPAC) foi realizada no dia 30 de maio. Foram decididos os pri‐ meiros tombamentos de uma praça, chamada Praça Mare‐ chal Floriano Peixoto, de uma casa modernista (Rua Sete de Setembro, 1287), e também de uma casa de madeira (Rua Theodoro Rosa, 64). Tombamento A fim de preservar bens de valor histórico, cultural, ar‐ quitetônico, ambiental e de valor afetivo para a população realiza‐se o tombamento, ato legal realizado pelo pelo Po‐ der Público. Em Ponta Grossa, é aplicada a lei número 8.431, decretada em 2005. VITÓRIA TESTA/LENTE QUENTE

Tombamento da Casa Amarela pode ser revertido


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Agosto 2022 | Cultura | 13

Sexta às Seis volta ao calendário local

SARA DALZOTTO

Evento é oportunidade à bandas de PG SARA DALZOTTO Após dois anos de paralisa‐ ção por conta da pandemia, o Sexta às Seis voltou a movi‐ mentar o calendário cultural da cidade de Ponta Grossa. Destroyer Kiss Cover foi a ban‐ da convidada que abriu o even‐ to no dia 8 de julho. As demais bandas selecionadas se apre‐ sentam toda sexta a partir do dia 22 de julho. O projeto acon‐ tecerá às sextas‐feiras, às de‐ zoito horas, no Parque Ambiental, e possui a duração de uma hora de apresentação por banda, podendo incluir músicas autorais e/ou covers. Segundo o Secretário de Cultura, Alberto Portugal, 55 bandas se inscreveram, e des‐ tas, 18 foram selecionadas. Se‐ paradas por duas categorias, a disputa divide as bandas com mais de cinco anos de carreira das que possuem menos de cinco anos. O projeto busca fo‐ mentar e oportunizar a cena da música alternativa under‐ ground e do rock na cidade. Cada banda selecionada pelos editais recebe R$3.500,00 de cachê pela apresentação. NAIOMI MAINARDES

A fã de rock, Fabiane Ferrei‐ ra, de 42 anos, acompanha o projeto do Sexta às Seis desde 1994. Para ela, a paralisação do evento deixou um vazio cultu‐ ral, já que os adeptos do gêne‐ ro não têm muitas opções na cidade. A volta dos shows reas‐ segura o evento que já é tradi‐ ção em Ponta Grossa. “Para esse Sexta eu estou muito em‐ polgada porque eu comecei a frequentar o evento com 14 anos e hoje poder trazer mi‐ nha filha de 10 anos para escu‐ tar algo que ela gosta é surreal”, conta Fabiane. A participação no projeto Sexta às Seis 2022 é exclusiva para os músicos de Ponta Grossa e foi aberta a grupos, conjuntos e bandas de diferen‐ tes estilos musicais, contanto que possuíssem ao menos uma música autoral e que tivessem o mínimo de três integrantes. Além disso, a Secretaria de Cultura pode convidar artistas, grupos, conjuntos e bandas pa‐ ra participar do evento ao lon‐ go do ano. Banda A banda Jamp é uma das que irão se apresentar. Com‐

posta atualmente por seis in‐ tegrantes: Pedro Marcello (vocalista/compositor), Luiz Henrique (guitarra/violão), Luan Teixeira (guitarrista), It‐ to Eleutério (baixista), Limão (percussão) e André Santos (baterista), a banda tem seu gênero musical focado no na‐ cional e inclui Rock, Pop/Pop Rock e Reggae em seus shows. A banda se formou em 2009 no Colégio Estaduall Presidente Kennedy em Ponta Grossa e o que uniu os inte‐ grantes foi a paixão pela mú‐ sica e inspirações que carre‐ gavam como Charlie Brown Jr., Detonautas e CPM 22. Na trajetória de experiências que a banda traz em sua história está a abertura de shows co‐ mo por exemplo o das bandas

Jota Quest e Onze 20. O vocalista Pedro Marcello conta que o projeto foi uma grande experiência desde su‐ as primeiras participações, que na época, era algo consi‐ derado grande para a banda. “Com a visibilidade que dá, eu acredito que seja um dos maiores festivais de música de Ponta Grossa”, afirma o vo‐ calista sobre as grandes opor‐ tunidades que o evento gera para a cidade, que possui tan‐ tos talentos musicais. Confira por meio do QR Code mais informações sobre o Sexta às Seis e ensaio fotográfico

Músicos retomam eventos em PG NAIOMI MAINARDES

Conservatório retoma atividades

Banda Destroyer Kiss Cover faz o show de abertura na edição de 2022

Com o fim do isolamento so‐ cial causado pela pandemia de Coronavírus, os músicos retor‐ naram às atividades e procu‐ ram recuperar o prejuízo obtido depois de quase dois anos sem conseguir trabalhar. De acordo com a pesquisa de 2021, da União Brasileira de Compositores (UBC), a pande‐ mia causou perdas a mais de 89% dos músicos, sendo que 50% dos trabalhadores do ra‐ mo musical tiveram perda total de sua renda. O pianista e aluno do Con‐ servatório Maestro Paulino, João Paulo Carvalho, relata que, por conta da pandemia, sofreu com a diminuição de trabalhos e a sua renda mensal

caiu muito, tendo que garantir o seu sustento pelo projeto de extensão da Universidade Esta‐ dual de Ponta Grossa (UEPG), do qual faz parte por meio do curso de Música. A cidade de Ponta Grossa, aos poucos, tem voltado à nor‐ malidade com as atividades em espaços culturais. Como exemplos, ocorreram o FUC (Festival Universitário da Can‐ ção), organizado pela UEPG, o retorno do evento cultural Sexta às Seis, os concertos e atividades realizadas pelo Con‐ servatório Maestro Paulino e até mesmo a volta da vida mu‐ sical em bares e casas de festa. O baterista e integrante da banda Mantrio, Ricardo Correa, afirma que o movimento em shows e apresentações musicais

voltou ao que era antes da pan‐ demia de Covid‐19 e ainda diz ter percebido um aumento na demanda. “Como ficamos todos confinados, as pessoas senti‐ ram falta da arte. Nos shows em que tenho ido e participado, muitas pessoas vão e a gente percebe que há uma valoriza‐ ção da arte por parte do públi‐ co”. Ele também afirma que o número de contratações para shows, eventos e até mesmo aniversários aumentou. João Paulo reforça a fala de Ricardo, contando que as ativi‐ dades musicais voltaram ao normal, dando como exemplo a sua experiência enquanto alu‐ no do conservatório. Segundo João, as aulas foram retomadas, juntamente com a programa‐ ção das apresentações.


14 | Esportes | Agosto 2022

FocaLivre

Falta de piscinas municipais prejudica nadadores profissionais em PG Interdição de piscinas obriga atletas a buscarem outros locais de treinamento VITÓRIA TESTA Nadadores Nadadores profis‐ sionais de Ponta Grossa enfren‐ tam problemas relacionados às piscinas públicas da cidade. Desde 2020, os atletas não trei‐ nam na piscina municipal do antigo Clube Guaíra, que foi in‐ terditada devido às condições precárias de uso. Segundo a Se‐ cretaria Municipal de Esportes (SMESP), é necessária uma re‐ forma expressiva para poder re‐ abrigar as atividades esportivas. A piscina da Arena Multiuso também não pode ser utilizada para treinamento devido a falta de aquecimento. A piscina da Arena ainda tem um problema a mais: ela foi construída com 24,96 me‐ tros, o que inviabiliza a utiliza‐ ção para competições oficiais, pois as medidas exigidas pela Federação de Natação são de 25 ou 50 metros. A Associação de Pais e Amigos da Natação de Ponta Grossa (APANPG), que auxilia financeiramente os atletas e mantém o técnico da equipe, solicitou formalmente uma reforma à Prefeitura para

a adequação da piscina, além de recorrer ao Ministério Pú‐ blico e à Federação de Natação. Contudo, os pedidos das enti‐ dades foram negado pelos ór‐ gãos municipais. Prejuízos Segundo o técnico da equipe de natação, Alexandre Pina, dentro do Guaíra os atletas ti‐ nham uma sala para exercícios funcionais e uma sala de mus‐ culação para realizar a prepa‐ ração física. Além disso, também possuíam blocos ofici‐ ais olímpicos, estrutura de 25 metros e mais horários para treinamento. Pina destaca os prejuízos de não poder utilizar a piscina municipal: “Inclui [a falta de] preparação física, blo‐ cos olímpicos e mais tempo de água, o que influenciou em uma queda de rendimento muito grande”. Para o atleta Yohan Moraes, a precariedade das piscinas da cidade afeta de maneira signifi‐ cativa o desempenho dos nada‐ dores, além de dificultar a adesão de novos membros à equipe. “Ficamos mais de um ano nadando em uma piscina

de 12,5 metros, isso é o equiva‐ lente a 1/4 de uma piscina de competição. Nosso técnico teve que adaptar todo planejamento de treino”, acrescenta. O presidente da APANPG, Roberto Mryczka, diz que o grande problema das piscinas municipais é a omissão por parte do poder público: “Ponta Grossa não tem um Conselho

Municipal de Esporte, não tem planos para o esporte”. De acordo com o dirigente da As‐ sociação, os gestores munici‐ pais não estão preparo para exercerem seus cargos. A equi‐ pe de reportagem entrou em contato com a Secretaria Muni‐ cipal de Esportes, mas até o fe‐ chamento desta edição não obteve nenhuma resposta. VITÓRIA TESTA

Atletas precisam treinar na piscina do Clube Guaranai

Projeto oferece aulas gratuitas de esportes BIANCA VOINAROSKI A Secretaria Municipal de Esportes (SMESP) começou a colocar em prática o Projeto Esporte de Base, que oferece aulas gratuitas de basquete, futsal, handebol e vôlei para crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. As atividades aconte‐ cem nos ginásios Oscar Perei‐ ra, Zukão, CIE Sabará e na Arena Multiuso. Os horários e dias das aulas variam de acor‐ do com a modalidade. As aulas estão sendo minis‐ tradas por professores e esta‐ giários de educação física da Prefeitura. O projeto possibili‐ ta que crianças e adolescentes tenham acesso a essas ativida‐

des com o auxílio de profissio‐ nais e em espaços específicos destinados às práticas esporti‐ vas, que além de trazer benefí‐ cios para a saúde, são uma boa oportunidade para a socializa‐ ção e integração. O professor Carlos Alberto Oliveira trabalha na Fundação Municipal de Esportes e fala sobre a iniciativa da Prefeitura de levar o projeto até as crian‐ ças e adolescentes de Ponta Grossa: “Trata‐se de uma nova proposta de oferecer para a população iniciação esportiva de modo gratuito nos ginásios da prefeitura”. O estudante de educação fí‐ sica Bryan Ludke está fazendo estágio no projeto e ministra

aulas de futsal. Ele vê o Proje‐ to Esporte de Base como uma chance de promover a sociali‐ zação, ajudar os jovens a se tornarem pessoas melhores e afastá‐los dos perigos da rua. “O esporte é uma porta para as crianças, às vezes eles se espelham em um professor que pode tirar eles de algo que seja maléfico para a vida, co‐ mo as drogas”. Bryan conta que, além de ensinar os funda‐ mentos básicos como passe, chute e finalização, ele tam‐ bém faz uma preparação espe‐ cial para goleiros. A maioria dos alunos que fazem parte do Projeto Espor‐ te de Base são adolescentes do sexo masculino. João Vitor Ro‐

drigues tem 12 anos e partici‐ pa das aulas de futsal. Ele diz que as aulas estão sendo muito proveitosas e que ele consegue aprender muitas coisas, além de ajudar os professores esta‐ giários. Guilherme Martins de Almeida, 14 anos, destaca a importância do projeto. “Ele é fundamental para manter a saúde, a estabilidade e evoluir no futebol”. As aulas do projeto inicia‐ ram no fim de junho e, segun‐ do a Secretaria de Esportes, estão tendo uma boa procura. A intenção é que nos próximos meses o projeto consiga aten‐ der em mais locais e ofereça atividades de diferentes moda‐ lidades esportivas.


FocaLivre

Agosto 2022 | Esportes | 15

Ginásio da Pessoa com Deficiência passa por revitalização Reformas na infraestrutura do local visam aumentar o conforto dos usuários JOÃO IANSEN O ginásio para pessoas com deficiência de Ponta Grossa, Ja‐ mal Farjallah Bazzi, passa por revitalização para melhorar a qualidade das práticas de es‐ porte e saúde realizadas no es‐ paço. A principal mudança no ginásio está na infraestrutura, como reparos na pintura e jar‐ dim, e instalação de novos equi‐ pamentos, como bebedouros. O início da reforma foi anunciado pela Prefeitura em 22 de junho. Todos os reparos foram realiza‐ dos pela Secretaria de Obras, com o apoio da Fundação de Assistência Social e da Secreta‐ ria da Família e Desenvolvi‐ mento Social, além de contar com a colaboração da Secreta‐ ria Municipal de Esportes. O espaço foi inaugurado em 2009, com o intuito de ser um centro de esporte e lazer para pessoas com deficiência física, contando com quadra polies‐ portiva, piscina, salão de jogos, área para atletismo, playground infantil e a administração da Associação Pontagrossense de Esportes para Deficientes Físi‐ cos (APDEF). A Prefeitura tam‐ bém disponibiliza atendimento psicológico e fisioterápico no local. No ano de 2020, foi aberta a Rádio Inclusão com o objetivo de levar entretenimento para pessoas com deficiência física e divulgar eventos e aconteci‐ mentos que envolvam o Jamal. As atividades são disponibiliza‐ das de forma gratuita para pes‐ soas com deficiência. O diretor do ginásio, Fabiano Gioppo, conta que os horários estão sendo organizados, mas a cada dia uma modalidade dife‐ rente será ofertada de forma gratuita. Entre as atividades já disponíveis estão golf 7, bas‐ quete, goalball, futsal, vôlei sentado, tênis de mesa, xadrez e judô, com treinos disponibili‐ zados de segunda a sábado, das nove horas da manhã às nove horas da noite. Além dos espor‐ tes, há outras atividades oferta‐ das no Jamal, entre elas está a musicoterapia, aulas de dança, fisioterapia e oficina de opera‐

dor de rádio, todas organizadas pela Rádio Inclusão. De acordo com o diretor, os atletas com alguma deficiência na cidade tiveram acesso às prá‐ ticas esportivas apenas na fase adulta, e muitos atletas promis‐ sores poderiam ter melhores oportunidades caso pudessem crescer praticando atividades fí‐ sicas. “A ideia é mudar isso, tra‐ zendo crianças e adolescentes para que possam participar das atividades do ginásio”, relata Fa‐ biano Gioppo. Infraestrutura Desde sua fundação, o centro esportivo passou a demonstrar precariedades que tornaram‐se empecilhos para a continuidade das atividades no local. Durante a visita da reportagem no cen‐ tro, foi possível notar a falta de água nos banheiros e também nos bebedouros. Questionada sobre o assunto, a coordenado‐ ra do ginásio, Loreni Menger dos Santos, explica que há um problema na bomba d 'água, fa‐ zendo com que em alguns dias a pressão de água não seja sufi‐ ciente para chegar aos banhei‐ ros e bebedouros. “Abrimos uma licitação para que seja feito o reparo, esperamos que logo seja resolvido”, comenta. Para Gioppo, este é um ano de revitalização tanto na parte estrutural, quanto na organiza‐ ção do local. Ele revela que não

era realizado um trabalho foca‐ do no paradesporto, mas com parcerias, profissionais e supor‐ te do governo será possível me‐ lhorar a infraestrutura. O diretor explica que nos demais ginásios esportivos da cidade ocorreu melhorias significativas na estrutura, mas a licitação aberta visava reformar locais voltados aos esportes. O ginásio Jamal passou a ser considerado pela Prefeitura como um espaço de ação social, focando nas áre‐ as de psicologia e fisioterapia. Assim, foi retirada a possibilida‐ de do ginásio entrar na licitação de reforma. Com a volta das práticas de paradesporto, o local voltou a ser considerado um es‐ paço esportivo. O diretor do gi‐ násio explica que nos demais ginásios esportivos da cidade de Ponta Grossa ocorreu melhorias significativas na estrutura, mas a licitação aberta visava refor‐ mar locais voltados aos espor‐ tes. O ginásio Jamal passou a ser considerado pela Prefeitura co‐ mo um espaço de ação social, focando nas áreas de psicologia e fisioterapia. Assim, foi retirada a possibilidade do ginásio entrar na licitação de reforma. Com a volta das práticas de parades‐ porto, o local voltou a ser consi‐ derado um espaço esportivo. De acordo com o diretor, ainda nes‐ te ano deve ser aberta uma nova licitação no valor de oitocentos JOÃO IANSEN

Atletas da equipe de basquete Tubarões treinam no Ginásio

mil reais para que sejam possí‐ veis reformas no espaço, como no telhado, na distribuição da água e em materiais esportivos. Além da verba que será dis‐ ponibilizada pela Prefeitura, Fa‐ biano Gioppo espera adquirir mais parcerias com empresas que tenham interesse em patro‐ cinar ou ajudar na compra de novos equipamentos. "Os valo‐ res dos materiais necessários para os treinos são altos e com as novas modalidades que va‐ mos ofertar, precisamos adqui‐ rir mais coisas”. Ele conta que para o treino de goalball era preciso uma nova trave, com os padrões corretos para o espor‐ te, e com a ajuda de uma em‐ presa parceira foi possível a compra do equipamento. Atividades Jean Sidnei Betim é cadeiran‐ te e participa com bastante frequência da fisioterapia no gi‐ násio, ele conta que falta água em mais de um dia na semana, porém acredita que não é algo que atrapalha o atendimento e as práticas ofertadas no Jamal. Jean começou a participar de atividades no ginásio duas vezes por semana, há cinco anos. Ho‐ je, ele faz apenas fisioterapia, mas já participou da Rádio In‐ clusão e de atividades de pintu‐ ra e desenho de tela, encerradas durante a pandemia. “O ginásio ficou fechado por um curto pe‐ ríodo em 2020 e a sessão de arte foi encerrada, mas fora isso a coordenação lidou bem com a pandemia e mantiveram o bom atendimento que sempre recebi aqui”. Jean acredita que o giná‐ sio possui muita importância para a comunidade, melhoran‐ do a qualidade de vida das pes‐ soas necessitadas. A direção e coordenação do Jamal pretende realizar mais eventos a partir do segundo se‐ mestre deste ano, começando com a Semana da Pessoa com Deficiência, que ocorrerá entre os dias 22 a 28 de agosto, e que oferece oficinas das modalida‐ des do ginásio para buscar aten‐ der a todas as pessoas com alguma deficiência física no município.


16 | Ensaio | Agosto 2022

FocaLivre

VITÓRIA TESTA

VITÓRIA TESTA

ALEX DOLGAN

Foca na

Patinha

ALEX DOLGAN

Expondo a negligência social e de saúde pública, a edição 224 traz seu ensaio relacionado ao abandono de cães nas ruas de Ponta Grossa. De acordo com o Art. 14 da Lei 9.019/07 de Ponta Grossa, é proibido abandonar animais em área pública ou privada, com pena de 13 mil reais. Além de prejudicar o animal, esta situação implica no bem estar da população, devido a transmissão de doenças. CAMILA SOUZA

WESLEY MACHADO

MARIA EDUARDA KOBILARZ

VITÓRIA TESTA

VITÓRIA TESTA ALEX DOLGAN

MANUELA ROCHA


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