Foca Livre 221

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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

FOCA LIVRE JORNALISMO UEPG | MARÇO DE 2022 | EDIÇÃO 221

UBSs fechadas para reformas há mais de um ano afetam atendimento de 14 mil pacientes em PG MATHEUS GASTON

As Unidades Básicas de Saúde (UBSs) Abrahão Federmann e Antônio Saliba tiveram os atendimentos suspensos para refor‐ mas estruturais, porém, os locais estão abandonados. Há mais de um ano, moradores relatam problemas ao procurar atendi‐ mento de saúde em UBSs distantes. Apesar de reclamações, a Prefeitura não tem previsão de realizar as reformas. P. 13

ESPECIAL PG é referência em parto humanizado Gestantes de toda a região bus‐ cam o município para garantir doulagem e atenção especial ao darem à luz. Ponta Grossa con‐ ta com Lei de parto humaniza‐ do desde 2015. P. 8

Moradores de Itaicoca aguardam ponte há 12 anos Região da Barra Grande perdeu sua principal ligação com Uvara‐ nas há mais de uma década. População realiza travessia de forma improvisada, com riscos à segurança. P. 7

Super-heróis dominam cinemas Nostalgia explica o motivo pe‐ lo qual personagens e histórias fazem sucesso nas telas e con‐ quistam públicos. Das 10 mai‐ ores bilheterias do cinema no Brasil, sete são filmes de super­ heróis. P. 15

POLÍTICA

ESPORTE

CIDADE

Funcionários que atual na ba‐ se operacional do município recebem cerca de 120 reais a menos que o salário mínimo. Segundo o Sindicato dos Ser‐ vidores Municipais de Ponta Grossa (SindServ), a tabela salarial está defasada. P. 4

Projeto Handebol de Ponta, criado em 2015, pode ter suas atividades encerradas por falta de recursos. Além de lazer e esporte, a iniciativa fornecia ajuda alimentícia aos partici‐ pantes do projeto em vulnera‐ bilidade social. P. 14

Usuários do transporte de Ponta Grossa reclamam das condições dos ônibus. Entre as dificuldades enfrentadas, estão o preço da passagem, a superlotação, grande espera entre os horários e precarieda‐ de do serviço. P. 7

Ocupação acolhe 700 famílias sem lar ÉRICA FERNANDA

Desde dezembro de 2021, pesso‐ as sem moradia estão abrigadas na Ocupação Ericson John Duar‐ te, na região do bairro Neves, em Ponta Grossa. O movimento é organizado pela Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), que reinvendica direito à habitação. Cerca de 700 famílias vivem em meio a dificuldades e condições precárias, sem água encanada, rede de esgoto e acesso à energia elétrica. Há ainda o perigo de animais peçonhentos, como escorpiões. O terreno da ocupação pertence à Prefeitura. P. 10


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OPINIÃO

EDITORIAL

Enfim chegou: a primeira edição impressa do Foca Livre da T35! Depois de produzirmos três jor‐ nais de maneira totalmente remota em 2021, finalmente vivenciamos a possibilidade de realizá­lo fora de nossas casas, em uma redação e com os colegas de curso. A sensação de termos o jornal em nossas mãos e distribuirmos para os estudantes e moradores de Ponta Grossa é única. Dessa vez o contexto é diferenci‐ ado, já que toda a produção foi feita presencialmente, seguindo as normas sanitárias de biossegurança. O retor‐ no das aulas práticas possibilitou maior integração entre os colegas, das reuniões de pauta até o dia de fechamento do jornal. Os repórte­ res conseguiram realizar entrevistas presenciais, saindo da rotina de apuração atrás das telas dos compu‐ tadores. A experiência com o cotidi‐ ano da cidade, depois de tanto tempo, ficará marcada nas nossas trajetórias e contribuirá em nossa formação profissional. Na edição 221, são destaques do jornal: a dificuldade da inclusão de alunos com deficiência nas escolas municipais e particulares da cidade; as lutas e movimentos por moradia nas ocupações; o fato do município apresentar o quarto pior déficit ha‐ bitacional do estado; a dificuldade de passagem para Itaiacoca. Na editoria de política, você con‐ fere as dificuldades na elaboração de políticas afirmativas enfrentadas pe‐ lo Conselho Municipal responsável por promover a igualdade racial em Ponta Grossa, por falta de acesso a verbas orçamentárias. Além disso, a

equipe do Foca ouviu moradores que usam o transporte coletivo e recla‐ mam do tempo de espera e do preço altíssimo da passagem que afeta di‐ retamente no dia a dia. Em saúde, também é destaque o descaso do poder público com duas UBSs que fecharam suas portas há mais de um ano para reformas, as quais nunca começaram. No esporte, falamos sobre a volta do tão espera‐ do JOIA (Jogos Inter Atléticas) pelos universitários neste ano, evento que teve duas edições canceladas nos anos de pandemia. Ao mesmo tempo, um projeto de handebol existente há sete anos corre o risco de ser encer‐ rado por falta de recursos públicos. Nesta edição, o especial do Foca Livre conta que Ponta Grossa é centro de referência para partos humanizados e traz a história de mulheres que sentiram na pele a hu‐ manização em seus partos. Já no en‐ saio, as fotos expressam um paralelo dos lugares vazios contrastando com os mesmos sendo utilizados pelos acadêmicos que retornaram às aulas presenciais na UEPG no início deste ano, depois da Universidade ter in‐ terrompido a maioria de suas ativi‐ dades por dois anos. E aos fãs de cinema, falamos sobre a influência das novas franqui‐ as de super­heróis e como este gêne‐ ro atrai cada vez mais o público, já que esses filmes nos despertam memórias e afeto. Esperamos que você, caro leitor e leitora, aprecie o nosso Foca e tenha uma ótima leitura!

Expediente Editoras­chefe: Amanda Martins, Ana Luiza Dimbarre e Catharina Iavorski.

Bertelli

Diagramadoras/diagramadores: Ana Carolina Barbato, Ana Moraes, Bettina Guarienti, Carlos Solek, Carolina Olegário, Heryvelton Martins, Janaina Cassol, Leriany Barbosa, Lilian Magalhães, Maria Eduarda Ribeiro, Helena Denck, Vinicius Sampaio e Victória Sellares. Editoras/editores de Texto: Cassiana Tozatti, Diego Chila, Heryvelton Martins, Isadora Ricardo, Kadu Mendes, Lincoln Vargas, Lucas Ribeiro, Maria Luiza Pontaldi, Mariana Gonçalves, Tamires Limurci, Valéria Laroca, Victória Sellares e Willian Brasil. Editoras/editores de Imagem: Ana Moraes, Cassiana Tozatti, Kathleen Schenberger e Matheus Gaston. Repórteres: Consulte a autoria das reportagens diretamente na página da notícia. Foca Livre é o jornal­laboratório do curso de Jornalismo da UEPG Contato: uepgfocalivre@gmail.com Departamento de Jornalismo UEPG ­ Campus Central ­ Praça Santos Andrade, nº01 ­ Centro CEP: 84010­330 ­ Ponta Grossa ­ PR ­ Telefone: +55 (42) 3220­3389 Jornal produzido e editado na disciplina “Núcleo de Redação Integrada I” Professores: Cândida de Oliveira (MTB 16767 ­ RS) e Rafael Kondlatsch ( MTB ­ 6730 ­ PR) Notícias integradas com a disciplina “Produção e Edição de Textos Jornalísticos II”

AMANDA MARTINS

Responsável: Prof. Muriel Emídio Pessoa do Amaral (MTB 6963 ­ PR) Confira a edição digital do Foca Livre:


EDUCAÇÃO JANAINA CASSOL

Pais são contra ensino integral obrigatório em PG LUCAS RIBEIRO

Falta de tutores especializados nas escolas dificulta inclusão de PCD's

Inclusão de crianças com deficiência nas escolas é um desafio Pais e alunos enfrentam problemas na matrícula e na rotina JANAINA CASSOL

Pais que têm filhos com defi‐ ciências físicas e mentais enfren‐ tam dificuldades para matrículas em escolas de Ponta Grossa. Isso porque há falta de tutores para acompanhamento do processo de aprendizagem e interação com os demais estudantes. Nas escolas particulares, por exemplo, a ma‐ trícula da criança não é efetivada. Jeany Chrestani, mãe do Eduardo que tem quatro anos e possui Atrofia Muscular Espinhal (AME) Tipo 2, doença que com‐ promete o sistema motor, viveu essa situação. Segundo ela, houve dificuldade por falta de vagas e tutores no CMEI Elisiane do Ro‐ cio Hilgemberg Manys. Devido à deficiência física, Eduardo precisa de auxílio para empurrar a cadeira de rodas, ir ao banheiro e nas ou‐ tras atividades. “Ele tem direito a um tutor. As professoras estão se revezando para ajudar, mas noto que acaba atrapalhando o funcio‐ namento da turma, porque elas já estão sobrecarregadas”, explica. A escola que Eduardo está matricu‐ lado possui rampas e fácil acesso às dependências, no entanto, não há banheiro para deficientes físi‐ cos. “Ele leva o mictório para a professora não precisar tirar ele da cadeira toda vez, porque isso aca‐ ba machucando”, afirma. Os problemas de inclusão de Pessoas com Deficiência (PCDs) não estão só na rede pública, es‐ colas particulares dão desculpas para recusar crianças com defici‐ ência. Jessica Hilgenberg tentou matricular Heloísa em quatro ins‐

tituições, mas todas a recusaram. ‘A escola não possui vagas’, ‘não vamos conseguir atender', e ‘não podemos matricular porque ela ainda usa fraldas’, essas foram as explicações usadas para não ma‐ tricular Heloísa, que tem três anos e possui transtorno do espectro autista. “A gente chegava na esco‐ la e éramos bem recebidos, o que dava a entender que poderíamos matricular. Porém, quando expli‐ cávamos o diagnóstico, as reações eram sempre as mesmas”, explica. Depois do transtorno, Heloí‐ sa foi matriculada em escola parti‐ cular. A adaptação ocorreu bem, mas os pais e a escola sentiram a necessidade de ter um tutor para acompanhá­la. “Diferente das ou‐ tras crianças, ela precisa de um apoio, porque quando vê a movi‐ mentação dos outros alunos, aca‐ ba perdendo o foco. Na turma, ela tem mais dificuldades para rea­ lizar as atividades". Direitos A inclusão de PCDs é um direito previsto por Lei e assegura que as escolas devem estar pre­ paradas para recebê­las. Há pena e multa para quem praticar, induzir ou incitar discriminação. Segundo o advogado Denival de Oliveira, do Observatório da Inclusão de Ponta Grossa, foram feitas denún‐ cias contra escolas que alegaram que estavam esgotadas as cotas de deficientes por sala. “Não há na lei um limite para o número de pessoas com deficiência. Isso é um absurdo social", explica. De‐ nún­cias sobre matricula recusada podem ser na ouvidoria do Estado ou na Prefeitura.

03

O retorno das aulas presenci‐ ais nas escolas de Ponta Grossa tem gerado discussões referentes à prática do ensino integral em es‐ colas municipais. Um abaixo­assinado, organi‐ zado por pais e responsáveis, com mais de mil assinaturas, foi entre‐ gue à Secretária Municipal de Educação (SME) com o pedido de retorno do ensino em meio pe‐ ríodo como opção para o estudan‐ te. No documento, é solicitado o direito de escolher a melhor opção de ensino para as crianças, respei‐ tando, assim, as necessidades de cada família. O movimento foi criado por pais e responsáveis em 2020 e ganhou notoriedade em ja‐ neiro nesse ano, quando houve a adesão também de professores e outros servidores envolvidos nas instituições de ensino. Para a microempresária e or‐ ganizadora, Fernanda Chrestani, não há interesse em acabar com o ensino integral, mas ter a oportu‐ nidade da escolha para passar mais tempo com os filhos. Além disso, ela explica que o grupo reu‐ niu relatos de mães e professores sobre a difícil situação de algumas escolas municipais, o que intensi‐ ficou o pedido. “Temos relatos de salas lotadas, falta de servidores e problemas com a Covid­19, o que deu mais força para nos ajudar nessa causa.". O ensino em tempo integral, que foi promulgado pela Lei 13.005/2014, está presente no Pla‐ no Nacional de Educação (PLE). O objetivo é oferecer a modalida‐ de em no mínimo 50% das esco‐ las públicas para atender, pelo menos, 25% dos alunos da educa‐ ção básica de forma gradativa até o ano de 2025. Segundo o profes‐ sor de História George Ramon, as discussões surgidas com a imple‐ mentação dessa nova modalidade são consequência da falta de um melhor planejamento por parte da ação pública da cidade. “Precisa‐ va ter trabalhado melhor questões básicas. O Ensino Integral não é simples, demanda muito de estru‐ tura de escola e funcionários”. Ele também analisa a questão social envolvendo a situação de pedidos pelo Ensino Integral e classifica como um dominó de problemas. “A escola é um refle‐ xo do social e a falta de investi‐

mento cria mais problemas que irá refletir na situação social dos alu‐ nos", aponta o professor. Servidores O pedido do retorno do Ensi‐ no Parcial em Ponta Grossa não parte apenas dos pais e responsá‐ veis, mas também dos servidores que atuam nas escolas em tempo integral, como explica Roberto Ferenzovicz, diretor do Sindicato dos Servidores (SindServ). De acordo com ele, antes do retorno das aulas o sindicato enviou um documento para a Secretária Mu‐ nicipal de Educação com a instru‐ ção de manter o sistema parcial. “Diminuiria as aglomerações dos alunos, além de evitar a sobrecar‐ ga dos trabalhadores que atuam nas escolas”, esclarece Roberto. A Secretaria de Educação diz que a implementação do ensino integral visava atender às necessi‐ dades particulares de cada escola e que não apresentou problemas, como superlotação. Segundo o ór‐ gão, até o momento mais 260 pro‐ fessores foram contratados, o que atenderia a demanda de escolas integrais e parciais. Sobre o pedido de ensino parcial, a explicação é que há a oferta desta modalidade em 22 es‐ colas de ensino fundamental e em 11 escolas de ensino infantil. Os Centros Educacionais de Educa‐ ção Infantil (CMEIs), de acordo com a Prefeitura, por sua caracte‐ rística, atendem somente a moda‐ lidade de ensino integral. A Secretaria também contesta os dados do abaixo­assinado e afirma que encontrou irregularida‐ des. “No total, foram apresenta‐ dos cerca de 1,4 mil nomes, alguns deles aparecendo mais de 100 vezes. Ao final, foram conta‐ bilizados quase 800 nomes repeti‐ dos. Após esta avaliação, o documento foi entregue ao Minis‐ tério Público, para conhecimento destas informações". Resposta O movimento de pais afirma que a quantidade de escolas com ensino parcial não é suficiente pa‐ ra a demanda da cidade, e que a quantidade de alunos em sala tem gerado superlotação. O movimen‐ to aponta não ser possível a mes‐ ma pessoa se registrar mais de uma vez no abaixo­assinado, e que as declarações feitas tem o in‐ tuito de prejudicar a credibilidade e as ações do movimento.


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POLÍTICA

PG registra cerca de 46 mil eleitores irregulares, segundo TRE-PR Título cancelado, suspenso ou débito eleitoral são os problemas mais frequentes VINICIUS SAMPAIO

VINICIUS SAMPAIO

Em 2022, o brasileiro vai es‐ colher deputados estaduais e fede‐ rais, senadores, governadores e presidente da República. Segundo dados do Tribunal Superior Elei‐ toral (TSE), o Brasil possui mais de 147 milhões de eleitores, po‐ rém, nem todos poderão exercer o direito do voto por estarem com o título irregular. Em Ponta Grossa, por exemplo, dos 243.054 eleito‐ res, 46.540 estão com os seus títu‐ los suspensos ou cancelados, uma parcela de 19,1% em relação ao número de títulos regularizados. Milena Nayara regularizou sua situação eleitoral no fim do ano passado. Ela não havia retira‐ do seu título dentro do prazo, an‐ tes das eleições municipais em 2020, e agora fez o procedimento de quitação. Após regularizar a si‐ tuação com a Justiça Eleitoral, Milena Nayara está no processo para fazer a coleta biométrica. A não justificativa de absten‐ ção nas eleições é um dos casos comuns de irregularidade. Esse é o caso de Fabiana Jacintho e seu

esposo, que não justificaram a au‐ sência nas Eleições 2020. "Por es‐ tarmos em plena pandemia, acreditamos que não seria bom ir votar e optamos por faltar. A in‐ tenção era pagar a multa e regula‐ rizar em seguida, porém com a correria acabamos esquecendo e não fizemos isso ainda. Mas sim, iremos fazer isso", afirma. Segundo o site do TRE­PR, há duas formas de irregularidade. O cancelamento ocorre por não

comparecimento do eleitor às ur‐ nas nas últimas três eleições sem justificar e não pagar multa; fale‐ cimento e quando o eleitor não comprova residência. A suspensão ocorre durante a prestação de ser‐ viço militar obrigatória e também quando há condenação criminal, improbidade administrativa ou aplicação do Estatuto Especial de Igualdade entre Brasileiros e Por‐ tugueses (o voto no país residente, Brasil ou Portugal, é um direito

garantido pelo regulamento). A importância da quitação eleitoral vai além do direito de votar nas eleições. O cidadão com pendências com a Justiça Eleitoral será impedido de fazer certas ati‐ vidades, como a retirada de passa‐ porte, renovação de matrícula em universidades públicas, inscrição em concursos públicos e obter um novo documento de identidade. Prazo O prazo máximo para alistar, regularizar ou transferir o título de eleitor é até o dia 4 de maio. A si‐ tuação eleitoral pode ser verifica‐ da no site do TSE e regularizada utilizando o site do Tribunal Regi‐ onal Eleitoral – PR. A multa para quitação eleitoral em cancelamen‐ tos é de R$3,51 e pode ser paga através de boleto (Guia de Reco‐ lhimento da União ­ GRU), PIX ou com cartão de crédito. Pendên‐ cias envolvendo o título de eleitor podem ser consultadas no portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no link Consulta de Débi‐ tos Eleitorais, nos sites dos tribu‐ nais eleitorais regionais e também pelo aplicativo Título Net.

Quase 20% dos servidores de PG têm salário-base menor que o mínimo CARLOS SOLEK

Menos que R$1.212, esse é o salário base de cerca de 20% dos servidores municipais de Ponta Grossa. Os dados são do Portal do Servidor, coletados em fevereiro de 2022. Profissionais que atuam em órgãos do município na base operacional como zelador, serven‐ te, auxiliar de serviços gerais e trabalhadores braçais têm como fixo R$1.094, quase R$120 a me‐ nos que o salário mínimo vigente em 2022. Por conta desse déficit, a Prefeitura Municipal precisa complementar o valor com um bônus adicional até que alcance o mínimo previsto por Lei. O diretor do Sindicato dos Servidores Municipais de Ponta Grossa (SindServ), Maurício Ca‐ margo, explica que o pagamento do mínimo é obrigatório aos ser‐ vidores, mas não exige a atualiza‐

ção do valor na tabela de salários do município. “Uma das nossas defesas é reivindicar que o empre‐ gador atualize a tabela do municí‐ pio incorporando este valor no salário base”, afirma. Maurício ressalta que já hou‐ ve situações semelhantes em anos anteriores, mas a diferença era menor, visto que o salário mínimo teve um dos maiores percentuais de aumento em 2022, o que acaba gerando uma defasagem maior. A defasagem em relação ao mínimo nacional afeta cargos públicos do nível 1 (o mais baixo da hierar‐ quia) até o nível 10, com base en‐ tre R$1.094 e R$1.189. “O nosso plano municipal está defasado, pois devido às políticas de au‐ mento recorrente dos níveis salari‐ ais, as categorias foram se igualando, sendo que o certo era estar em níveis diferentes”, refor‐ ça o diretor.

Para a atualização da tabela, a Prefeitura deve enviar à Câmara de Vereadores um projeto para a autorização de mudança destes valores. Contudo, o Executivo diz que, por enquanto, não há previ‐ são para que isso ocorra. Dados Atualmente há cerca de 8.600 servidores municipais em Ponta Grossa. As três secretarias com mais funcionários são Educa‐ ção, que abriga metade do número total: 4.418; Saúde, com 2.046, e Segurança com 405. Os cargos comissionados somam atualmente 290 servidores. Segundo dados do Portal da Transparência, foram pagos mais de 500 milhões de reais em 2021, incluindo servidores efetivos, co‐ missionados e agentes políticos. A chefe do Executivo, Elizabeth Schmidt, é quem recebe o maior salário da cidade: R$18.627. Os

secretários municipais têm como salário R$10.000 e o vice­prefeito Capitão Saulo recebe cerca de R$9.313, metade do vencimento mensal da prefeita. Relação Maurício Camargo relata que a relação entre os servidores com o Executivo vem tendo entraves e dificuldades em algumas questões desde o segundo mandato do ex­ prefeito Marcelo Rangel. “A von‐ tade da Prefeitura era mais supri‐ mir direitos do que mantê­los, e a atual prefeita segue o mesmo ali‐ nhamento, o que dificulta algu‐ mas negociações”, diz. Em 2022, a discussão pela data­base, vale alimentação e aumento salarial culminou em uma greve geral rea‐ lizada no início do mês de março. Procurados, Rangel e Elizabeth Schmidt não se manifestaram so‐ bre o assunto até o fechamento desta reportagem.


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POLÍTICA

Compir tem dificuldade em promover políticas raciais em Ponta Grossa Desde a sua criação em 2017, o conselho aguarda repasses de verbas para ações JANAINA CASSOL

Cristiane Zelinski (integrante do Mooladé e do Instituto Sorriso Negro) e Saulo Rosa (presidente do Compir)

ANA LUIZA BERTELLI DIMBARRE

O orçamento destinado ao Conselho Municipal de Promoção à Igualdade Racial (Compir), no Plano Plurianual 2022­2025 de Ponta Grossa, é de cerca de R$36 mil para a compra de equipamen‐ tos e R$30 mil para a manutenção de suas atividades, segundo a Pre‐ feitura. Porém, o caráter consulti‐ vo do Compir impede que o órgão tenha acesso direto à verba, o que dificulta sua atuação no desenvol‐ vimento de políticas afirmativas no município. Saulo Rosa, presidente do Compir, afirma que somente com a aprovação da procuradoria do município, o caráter do Conselho pode mudar. “Com a mudança, assumiremos uma maior postura e autonomia, não estando apenas na dependência de emitir a nossa opinião. Assim, realizaremos nos‐ sas atividades com maior efetivi‐ dade e conseguiremos visibilidade pelos moradores de Ponta Gros‐ sa”, afirma. O Conselho, que representa as comunidades negras, quilom‐ bolas e indígenas no município, fiscaliza as políticas de inclusão e combate ao racismo. É composto por membros de 10 órgãos do Po‐ der Público e 10 entidades da so‐ ciedade civil organizada. Criado em 2017, o Compir iniciou suas

atividades na Secretaria Munici‐ pal de Educação (SME), mas foi transferido para outros órgãos. Em 2020, atuou junto à Fundação de Assistência Social de Ponta Gros‐ sa (FASPG) e atualmente integra a Secretaria Municipal da Família e do Desenvolvimento Social (SMFDS). Desde o início das atividades, há pouca participação de gestores públicos representantes das secre‐ tarias municipais. Segundo Eurico Pereira Souza Filho, presidente do Compir, a presença dos conselhei‐ ros nas ações desenvolvidas entre 2018/19 foi de 50%. “Cobráva‐ mos a participação, mas não havia disposição e interesse de encami‐ nhar outros representantes em nossas reuniões. Quando temos um órgão, a participação de todos é o que traz força para a sua per‐ manência e o seu reconhecimento na cidade”, afirma. Segundo Rosa, a Secretaria da Família é o único órgão que tem presença ativa nas reuniões. “O Conselho surge devido a ne‐ cessidade da população e não por‐ que o governo quer. Existem causas e demandas que precisam ser cuidadas: tratar as desigualda‐ des dos povos negros, quilombo‐ las e indígenas”, destaca. Políticas De acordo com os represen‐ tantes do Conselho, as políticas

públicas são reparatórias e não ne‐ cessariamente inclusivas. Rosa explica: “prefiro utilizar o nome ‘políticas de vagas reparatórias’ do que ‘afirmativas’, pois há uma dívida histórica do governo com a população negra. O negro pode viver sem o Brasil, mas o que o Brasil seria hoje sem o negro? Ninguém está fazendo um favor me dando condições básicas para viver com dignidade”. Neivair de Jesus Gonçalves, representante da Colônia Sutil, um dos três grupos quilombolas da cidade, observa que “apenas em períodos eleitorais, as comuni‐ dades negras recebem algum tipo de assistência e atenção dos gesto‐ res públicos da cidade. Tudo o que temos hoje é por meio da nos‐ sa luta. Nos sentimos sozinhos e ficamos na dependência de que em algum momento, existam polí‐ ticas que nos auxiliem”. Para Souza Filho, as políticas públicas somente apresentam efi‐ ciência quando o racismo é deba‐ tido de forma consistente, uma vez que é mais fácil fingir que não existe do que enfrentá­lo. Segun‐ do ele, “não resolve falar de polí‐ ticas afirmativas sem apresentar interesse em obter efetividade nas ações para o enfrentamento do ra‐ cismo enraizado na sociedade, visto que o preconceito é fácil de ser camuflado”.

Cristiane Zelinski, integrante do Mooladé e do Instituto Sorriso Negro, afirma que hoje a luta é também pela efetividade das leis federais nº 10.639/2013 e de nª 11.645/2008 nas escolas, que fo‐ mentam as culturas afro­brasileira e indígena na formação escolar. “Quero que uma menina negra sinta orgulho da cultura, do cabe‐ lo black e da sua real história. Eles dizem que precisamos ajudar a minoria. Não somos a minoria, somos mais da metade da popula‐ ção no Brasil”, destaca. Atividades Ponta Grossa ainda não apre‐ senta políticas públicas efetivas que atuem contra a discriminação racial e favoreçam a inclusão, apenas ações pontuais realizadas pelos movimentos sociais e o Compir, como a entrega das ces‐ tas básicas à população negra vin‐ das da Secretaria da Justiça, Família e do Trabalho do Paraná (SEJUF). O Conselho também es‐ tá envolvido no sistema de cotas raciais da UEPG e nos editais de contratação da instituição e do Hospital Regional. “Temos como próximo objetivo mudar ambos os editais para que as provas levem em consideração apenas as carac‐ terísticas fenotípicas negróides dos candidatos e não a historicida‐ de da pessoa, pois quem sofre pre‐ conceito, é quem têm essas características”, pontua Saulo. Adriel de Matos Ribeiro irá ingressar na UEPG em 2022 após ser aprovado no curso de Direito aravés do edital de cotas para es‐ tudantes negros de escolas públi‐ cas. “A existência de cotas se faz fundamental para diminuir a desi‐ gualdade racial e refletir na com‐ posição étnica dos acadêmicos, uma vez que, a maior parte dos alunos de universidades públicas é branca e mais da metade da po‐ pulação brasileira é considerada negra”, afirma. Para ele, se não fossem os editais, o número de es‐ tudantes negros nas instituições de ensino superior seria menor. A equipe do Foca entrou em contato com a Prefeitura para fa‐ lar sobre a mudança de caráter do Compir mas, até o momento de publicação desta reportagem, não obteve retorno.


Cidade

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Moradores reclamam do transporte coletivo Principais reclamações são devido às horas de espera, grandes trajetos, tarifas exorbitantes e precariedade da frota AMANDA MARTINS

AMANDA MARTINS E MARIA LUIZA PONTALDI

Em bairros distantes do cen‐ tro de Ponta Grossa, moradores esperam pelas poucas linhas de ônibus que ainda circulam pela re‐ gião. Quando veem o veículo che‐ gando perto, separam as suas moedinhas para a passagem do transporte coletivo. Porém, o ôni‐ bus está lotado e passa reto por eles. Depois de ter vivenciado es‐ sa experiência nada agradável, os moradores precisam esperar mais uma hora até a próxima parada. A suspensão de algumas li‐ nhas de ônibus pela Viação Cam‐ pos Gerais (VCG), em março de 2020, deu início a este problema que já virou rotina em bairros co‐ mo Ronda, Uvaranas e Lagoa Dourada. Para substituir a falta de veículos em alguns locais, outras linhas tiveram seu trajeto modifi‐ cado a fim de suprir a necessidade dos moradores. Apesar do aumen‐ to da vacinação contra a Covid­19 e retorno ao ensino presencial, es‐ sas linhas continuam suspensas, alterando o horário e com o au‐ mento da espera. Segundo Rosangela Santos Leffer, moradora da Ronda, a no‐ va rota feita pelo ônibus interferiu na rotina dos moradores. As li‐

Usuários relatam medo de contaminação por conta da superlotação dos ônibus

nhas que vão para o bairro atual‐ mente são a Antunes Duarte e Pei‐ xoto, fazendo duas rotas, uma para cada vila da região. Caso o morador perca a condução, ele tem de esperar mais de uma hora pela próxima. “Várias mães carre‐ gando sacolas, filhos pequenos no colo, e, quando pegam a segunda linha, têm de caminhar quase dois quilômetros para chegar em casa. Isto não é justo com os moradores”, afirma. Os morado‐ res fizeram um abaixo­assinado reivindicando que a linha faça a ligação entre o Duarte e o Peixo‐ to, mas ainda não receberam res‐ posta da Prefeitura. Um outro problema é a su‐ perlotação dos ônibus. "A passa‐

gem cobrada pela VCG é absurda pra gente andar em um aperto desses. Isso é revoltante”, reclama a moradora de Uvaranas Danielle Reis. O descontentamento é parti‐ lhado pela estudante Mellany Thaise, que viu piora no transpor‐ te na pandemia. “No horário de pico tem poucos ônibus, e por causa disso os ônibus ficam lota‐ dos. O medo de pegar covid nes‐ sas horas aumenta, fora que a passagem tá mega cara e isso muitas vezes faz eu querer ir a pé para os lugares”, comenta. Atualmente, o valor da passa‐ gem em Ponta Grossa é de R$5,50, um dos mais caros do país. Para Andria Pinheiro Ger‐ den, a situação que mais revolta é

que o aumento do valor não refle‐ tiu em quaisquer melhorias nos serviços prestados. “O transporte público é uma coisa horrorosa e as condições em que os veículos se encontram é vergonhoso”, rela‐ ta a usuária das linhas Rio Verde e Coronel Cláudio. Kevin Kossar, usuário do transporte coletivo, acredita que o problema atual é causado em grande parte pela má gestão do sistema pelo poder público. “Eu creio que há uma ineficiência por parte dos órgãos públicos de fis‐ calização e de auditoria, para veri‐ ficar se o valor da tarifa realmente condiz com os gastos da empre‐ sa”, comenta. Para ele, é preciso questionar o aumento. “A VCG precariza o serviço, diminuindo as linhas em certos dias da semana e na junção de diversas linhas pró‐ ximas. Quando eu preciso sair du‐ rante um final de semana, levo quarenta minutos para pegar uma condução”, destaca. Mesmo com reclamações em vários bairros, a Prefeitura insiste que há uma melhora no sistema e que trabalha a partir da necessida‐ de de adequação dos veículos à demanda de passageiros. De acor‐ do com o Executivo, a população pode enviar demandas pela Cen‐ tral de Atendimento, no 156.

Atraso no investimento em iluminação de LED MARIA EDUARDA RIBEIRO

Luzes de LED nos postes proporcionam uma cidade mais iluminada. Com esse modelo, o gasto com o consumo para o município é de 20% a 30% menor e, consequentemente, seria uma economia para o bolso do contribuinte. Com luzes de vapor de sódio nos postes, as lâmpadas amareladas, Ponta Grossa fica atrás de várias outras cidades do Paraná no quesito iluminação pú‐ blica. O modelo de lâmpadas amarelas já foi substituído com‐ pletamente por luzes de LED em cidades como Guarapuava e Para‐ naguá, mas Ponta Grossa ainda mantém o sistema antigo, do iní‐ cio do século XX. Apesar disso, somente a iluminação instalada a partir de 2018 foi feita por lâmpadas de

LED, como a manutenção no Lago de Olarias e no binário do Monteiro Lobato. Contudo, essa implantação é recente, o centro e os bairros que concentram maior número de moradores ainda continuam sob a mira de uma fra‐ ca luz amarela que oferece pouca visibilidade à noite e que compromete o tráfego de pessoas. Ozi Freitas é morador da Vila Jardim Giana e conta que dirigir de forma segura à noite só é pos‐ sível ao ligar o farol alto do carro. “Aqui na rua da minha casa, em algumas partes, é bem escuro, só consigo enxergar a rua se eu diri‐ gir com o farol alto, se não, eu não enxergo nem os buracos; e sinceramente, não são poucos”. A pouca visibilidade das lu‐ zes amareladas não afetam so‐ mente a segurança no trânsito. Os moradores de outros bairros tam‐

bém estão expostos aos riscos por andarem em uma rua escura. À noite, quando voltava da casa de sua avó, Antonio Neto e seu ami‐ go, Eduardo Ribeiro, atravessa‐ vam uma passarela que une os bairros de Nova Rússia ao Santa Paula e foram assaltados com ar‐ ma de fogo. “Depois desse evento eu tenho pavor de andar sozinho nas ruas de Ponta Grossa até de dia", afirma Antonio. Experiências como essas são frequentemente relatadas pelo ser‐ viço 156 de manutenção de servi‐ ços públicos municipais. No ano passado foram recebidas 14.285 demandas, 54% delas eram a res‐ peito da iluminação pública. Cata‐ rina Edimar entrou em contato com o 156 online para fazer o re‐ gistro de uma lâmpada queimada e um fio de eletricidade solto em um poste na sua rua. "Como o fio

estava solto, os moradores anda‐ vam pela calçada tomando cuida‐ do. Depois que fiz a solicitação, a princípio a companhia só desligou a energia que passava pelo fio e o deixaram lá pendurado. Ficou as‐ sim por vários dias”, relembra. Pensando na possibilidade de uma melhoria na iluminação da cidade, em setembro do ano passado a Prefeitura de Ponta Grossa começou a planejar a mudança das luzes amarelas dos postes da cidade para luzes de LED. Por meio da assessoria, a Prefeitura explicou que um contrato foi assinado com a Caixa Econômica Federal, mas as trocas ainda não foram feitas, pois é preciso uma aprovação do município para a Licitação na Bolsa de Valores. Enquanto esse processo ainda não acontece, o planejamento continua parado.


CIDADE

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Há mais de uma década Itaiacoca aguarda reconstrução de ponte O acesso ao local é feito por uma travessia improvisada e oferece riscos à segurança dos moradores

HERYVELTON MARTINS

Isolamento, termo que ficou muito conhecido nos últimos anos, é palavra comum no voca‐ bulário de quem mora depois do Rio Guarituba, na localidade da Barra Grande, região do distrito de Itaiacoca. Em 2010, caiu a úni‐ ca ponte que ligava a região com Uvaranas e desde então, os mora‐ dores realizam a travessia por uma ponte improvisada, construí‐ da por eles mesmos. Feita de ca‐ bos de aço e tábuas, a travessia improvisada é o principal ponto de acesso. Os riscos à segurança são grandes e a situação pode fi‐ car mais dramática em dias de vento e chuva ou para quem pre‐ cisa chegar ao distrito com cargas. Suzete Messias de Moura, que morou no bairro, conta que os pais, de 68 e 69 anos, moram do outro lado do rio e enfrentam difi‐ culdades para realizar ações sim‐ ples todos os dias. “Para ir ao mercado, eles vão com um vizi‐ nho que tem caminhonete, mas só quando o tempo está bom”. De acordo com ela, em tempos de

chuva não é apenas o rio que isola os moradores, mas a manutenção das ruas também. Suzete contou que morava em Barra Grande quando a ponte caiu e nunca viu a administração fazer algo sobre. “Teve boatos que a Prefeitura ale‐ gava que a região era uma área de lazer e por isso não construiu a ponte”, afirma. Já a moradora Elizabeth Neto Costa Alves relata que as pessoas, na maior parte idosos, ficam à mercê do bom tempo e veículos off­road, como caminhonetes 4x4 e motos de trilha, para transitar pela região. Em caso de emergên‐ cia e atendimento médico, é ne‐ cessário se arriscar a atravessar a ponte já que o atendimento com ambulância é impossível. Os estudantes têm um ônibus e uma van disponibilizados pela Prefeitura de Ponta Grossa, mas ambos os veículos não fazem a travessia do rio. O transporte ofe‐ recido circula por algumas ruas do distrito, mas não chega até o bair‐ ro da Barra Grande, isso obriga os alunos a atravessar, diariamente, a ponte improvisada.

ELIZABETH NETTO COSTA ALVES/ARQUIVO PESSOAL (2022)

Em dias de chuva, a região costuma inundar e moradores ficam isolados

Para tentar encontrar uma so‐ lução para o problema, os mora‐ dores chegaram até a protocolar um pedido junto ao sistema 156 da prefeitura, usado pelo órgão para receber demandas. O pedido foi protocolado no dia 15 de feve‐ reiro, mas até agora segue sem uma resposta oficial. A Prefeitura de Ponta Grossa disse estar ciente do problema da região, mas afirma que ele só acontece após grandes chuva. A construção de uma ponte de ma‐ deira, que seria a solução mais rá‐

pida, não é possível, uma vez que as laterais do rio estão cedendo. Ainda segundo a Administra‐ ção Municipal, não existe uma so‐ lução viável para o problema da ponte que dificulta a mobilidade dos moradores da região. A Pre‐ feitura da cidade também infor‐ mou que a Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Pecuária (Smapa) está realizando um estudo para tentar encontrar a solução para o problema, entre‐ tanto não deu prazos para que a ação fosse colocada em prática.

Novo zoneamento do Lago de Olarias prevê verticalização na região CASSIANA TOZATI

O novo projeto de zoneamen‐ to da região do Lago de Olarias, apresentado pelo Instituto de Pes‐ quisa e Planejamento Urbano (Iplan), foi aprovado pela Prefei‐ tura de Ponta Grossa no início de fevereiro. A mudança permite edi‐ fícios de até quatro andares na zo‐ na I, mais próxima do parque e, na zona II, que fica em volta, pré‐ dios de até 14 pavimentos. Ambas as zonas são atualmente compos‐ tas por casas e terrenos vazios. Além disso, há a zona mista II que é de uso e ocupação resi‐ dencial, com estabelecimentos co‐ merciais e de serviço. A Prefeitura anunciou que o objetivo do novo projeto é a verticalização de imó‐ veis e incentivo ao comércio. A geógrafa e mestre em Ges‐ tão do Território, Ingrid Aparecida

Gomes, destaca que o zoneamen‐ to é importante por favorecer o desenvolvimento urbano, mas é necessário analisar como ele será feito e a quem irá atender. “Pri‐ meiro a política pública deve re‐ solver os problemas já existentes há muitos anos na região, e aí en‐ tão pensar numa melhoria de pla‐ nejamento”, afirma. Ingrid espera que o projeto não seja apenas uma justificativa da criação do Parque Olarias ou uma demonstração política de me‐ lhorias na infraestrutura do muni‐ cípio. “Temos problemas reais aqui. Temos que melhorar muito, por exemplo, a questão da infraes‐ trutura da cidade, os acessos às vi‐ as urbanas, drenagem urbana”. Ingrid salienta que o sistema de drenagem de Ponta Grossa foi construído na década de 60, e a partir do maior desenvolvimento

urbano, isso não é o suficiente. A geógrafa avalia que a po‐ pulação desconhece a maioria dis‐ cussões sobre políticas públicas no município. “Não é simples‐ mente divulgar no site da prefeitu‐ ra, mas incentivar a população interessada a participar. É muito fácil discutir alguma coisa que não vivenciamos”, analisa ela. Além disso, a profissional explica que nas regiões de Ponta Grossa, com arroios e riachos, co‐ mo é o caso de Olarias, é comum existirem áreas de ocupações irre‐ gulares. Quando esses locais estão próximos à região central da cida‐ de, as pessoas optam por não os deixar, mesmo com os problemas existentes nas moradias. "Existe a necessidade de valorizar e melho‐ rar o que já se tem, para então a pensar em no desenvolvimento para o lago”, destaca.

Morador da região há três meses, o pintor Jean Manosso, não concorda com a proposta, ele afirma que o lago foi criado para que as pessoas mais carentes ti‐ vessem acesso ao lazer e o projeto ameaça isso. "Estão fazendo um local para os mais ricos, e ainda utilizam dinheiro público para is‐ so", comenta. Fred Holanda Oliveira, fre‐ quentador do parque de Olarias, também não vê vantagem na mu‐ dança de zoneamento. "Provavel‐ mente vão ser prédios comerciais para as pessoas de elite; vai tirar a vista maravilhosa que a gente tem daqui”, declara. Para o corretor de imóveis, Edison Goias, o crescimento das cidades é medido verticalmente. Ele afirma que é comum que o zoneamento determine o cresci‐ mento vertical em volta de lagos.


ESPECIAL

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PG é referência em pa acompanhamen

Desde de 2015, a cidade conta com uma legislação que garant Catharina Iavorski e Valéria Laroca

Em 2021 foi aprovada uma lei estadual que garante a assistên‐ cia humanizada para gestantes em hospitais particulares e públicos. Entretanto, há 6 anos, Ponta Gros‐ sa conta com a lei municipal so‐ bre o tema que faz com que gestantes de cidades da região se desloque até o município. O parto humanizado não diz respeito à forma de nascimento (normal ou cesariana), mas representa o auxí‐ lio que a gestante recebe da equi‐ pe, onde as suas decisões são acatadas e respeitadas. A doula é a profissional res‐ ponsável por oferecer esse suporte e inclusive ressignificar a dor. De acordo com a Organização Mun‐ dial da Saúde (OMS), o acompa‐ nhamento dessas especialistas têm reduzido em 20% a duração do trabalho de parto e em 60% os pe‐

É necessário trabalhar a autonomia das mulheres em relação aos seus corpos didos da aplicação de anestesia. Segundo Nayara Marcon, moradora de Ivaí, que realizou o parto na Santa Casa de Ponta Grossa há 5 meses, a decisão do acompanhamento com doula sur‐ giu após familiares realizarem o processo com o auxílio. “Ivaí não

tinha uma boa assistência médica, então procurei outras alternativas de parto em Ponta Grossa, contra‐ tei uma doula e decidi ter meu be‐ bê na cidade”, explica. Para ela, a humanização com doula cumpriu todas as expectativas, e se sentiu segura e respeitada.

É preciso falar sobre o parto e gravidez na escola; só é falado sobre métodos contraceptivos e doenças Em Ponta Grossa, a lei muni‐ cipal 12.166, de 2015, garante a atuação de doulas em maternida‐ des, casas de parto e em estabele‐ cimentos hospitalares públicos e privados na cidade. “A entrada das doulas é liberada mediante ca‐ dastro prévio da mesma para atua‐ ção no hospital", explica o obstetra do Hospital Universitário Regional de Ponta Grossa (HU­ UEPG), Luiz Fernando Pallú. O relato de Nayara vai ao en‐ contro da experiência de Sophia Matos, que deu à luz ao primeiro filho há três meses. Segundo Sophia, suas consultas de pré­na‐ tal eram feitas com atendimento privado, contudo, após a indica‐ ção de uma amiga, se transferiu para o hospital público. “Ela me explicou que o HU­UEPG é refe‐ rência neste tipo de atendimento, então decidi buscar uma doula pa‐ ra me acompanhar no processo.”

Doula é responsável por oferecer suporte à gestantes; lei municipal garante a atua

Origem A técnica de doulagem é um movimento que surge a partir do lançamento de uma política de humanização do Sistema Único de Saúde (SUS), Lei 8.080/1990, que considerava os aspectos emo‐ cionais e culturais do ser humano. Além disso, as pautas feministas da época debatiam temáticas rela‐

cionadas ao poder sobre o próprio corpo e também o ativismo sobre o que hoje é reconhecido como violências obstétricas. Dentre as opções para o protagonismo das gestantes, houve uma retomada de práticas antigas, como o parto em casa e parteiras tradicionais, hoje chamadas de obstetrizes. Isso, in‐ clusive, levou à criação do curso


ESPECIAL

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artos humanizados e nto com doulas

te a assistência de gestantes em hospitais públicos e privados ARQUIVO PESSOAL / NAYARA MARCON (2021)

de cinco anos como a medicina e enfermagem; mas também, não é totalmente leiga, porque ela pos‐ sui uma capacitação que permite que ela compreenda as fases do parto, quais os problemas podem surgir e como evitar cesáreas", es‐ clarece Elaine.

O parto humanizado requer tempo para o corpo agir e o bebê nascer no tempo certo

ação da profissional em maternidades, casas de parto e hospitais em Ponta Grossa

de bacharelado em Obstetrícia, que forma profissionais para a função sem o requisito da gradua‐ ção em Medicina. Uma das primeiras conquis‐ tas para implementar a assistência de humanização foi a Lei Federal 11.108/2005, que declara que as mulheres têm o direito à acompa‐ nhante durante todo o trabalho de

parto. Inserida nesse processo, a doula surgiu do conceito norte­ americano “midwife”, que signifi‐ ca acompanhante da parteira. O termo foi melhor aceito no Brasil, visto que, o conceito de parteira era relacionado a mulheres mais velhas do interior, como anciãs. “A doula representa o meio termo, ela não precisa ter uma graduação

No entanto, ainda não há uma regulamentação federal e é responsabilidade de cada municí‐ pio estabelecer normas que garan‐ tam a presença das profissionais em âmbitos públicos e privados. Mas o parto humanizado ain‐ da é motivo de discussões na clas‐ se médica. Para o obstetra Adilberto Raymundo, uma das ra‐ zões pelas quais existe resistência é a preocupação com a duração dos partos. “O parto humanizado requer tempo de espera para o corpo da mulher agir e o bebê nascer no tempo certo, entretanto muitos médicos aceleram o pro‐ cesso e acabam optando por reali‐ zar uma cesariana”, comenta. Perfil Foram apontadas característi‐ cas em comum pelos entrevista‐ dos com relação ao perfil das mulheres que procuram o parto humanizado. Em sua maioria, são gestantes com mais de 30 anos,

que possuem um conhecimento prévio acerca dos direitos da par‐ turiente ou que já tiveram experi‐ ências de partos anteriormente. Uma das principais motiva‐ ções para a escolha da assistência humanizada é o medo da violên‐ cia obstétrica. As integrantes da organização Coletiva Doulas Pon‐ ta Grossa, Ariana de Siqueira e Juliane Carrico, afirmam que o foco do parto humanizado é o protagonismo da gestante. “São pessoas que são contra o sistema, já viveram o cenário obstétrico tradicional e querem uma experi‐ ência diferente. Têm pessoas que nos procuram por conta de medos e dúvidas com relação a gesta‐ ção”. esclarecem.

A doula representa o meio termo, não precisa de graduação mas não é leiga De acordo com a doula Elai‐ ne Ferreira, os anseios sobre o parto são consequência de lacunas deixadas na educação sexual. "É preciso falar sobre o parto e gravi‐ dez na escola, só é falado sobre métodos contraceptivos e doen‐ ças. Existe uma contradição, evi‐ tar gravidez na adolescência e na fase adulta sofrer pressão para en‐ gravidar, porém no processo edu‐ cacional ninguém te ensina sobre as mudanças que a gestação cau‐ sa. É necessário trabalhar a auto‐ nomia das mulheres em relação aos seus corpos ”, reflete. VALÉRIA LAROCA


sociedade

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Ocupação Ericson Duarte abriga famílias sem casa em Ponta Grossa “Não temos outra alternativa a não ser brigar pela moradia”, afirma ocupante KADU MENDES

KADU MENDES

Pessoas negras, com baixa escolaridade, desempregadas, de‐ sassistidas pelo governo e discri‐ minadas pela sociedade. Este é o perfil da maioria daqueles que vi‐ vem, ou tentam viver, na ocupa‐ ção Ericson John Duarte. Em meio a dificuldades e condições precárias, os ocupantes convivem com animais peçonhentos que in‐ festaram o terreno, quando este estava abandonado. Além disso, enfrentam insegurança alimentar e a ausência de medidas sanitárias, pois não há banheiros no local e nem todos possuem água encana‐ da em casa. O movimento é organizado pela Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) e reivin‐ dica o direito à moradia. Localiza‐ da no bairro Neves, a ocupação teve início em dezembro de 2021. Um dos ocupantes, William, 44 anos, comenta sobre as adversida‐ des enfrentadas por ele e os de‐ mais. “As pessoas daqui estão abaixo da linha da pobreza. Vive‐ mos em condições insalubres, não temos alternativa a não ser brigar pela moradia”, desabafa. A pandemia foi um fator que piorou o cenário. William teve de fechar o próprio negócio e, sem renda, passou a integrar a ocupa‐ ção desde os primeiros dias do movimento. Ciente das desigual‐ dades que afetam grupos vulnerá‐

Famílias do Ericson enfrentam condições precárias e insegurança alimentar

veis, William considera que “a falta de uma distribuição de renda minimamente igualitária deixa as pessoas nessa situação”. Mãe de dois filhos, Marcele Lauara, de 20 anos, relata as dificuldades pelas quais passou. “Veio a pandemia e subiu o preço da comida, das con‐ tas, do aluguel, e o salário não a­ companhou esse crescimento. Fi‐ cou impossível pagar”, avalia. Ainda que a violência não se‐ ja uma opção, os ocupantes se re‐ voltam com o descaso do poder público e com o preconceito que sofrem da sociedade. “Somos tra‐ tados como criminosos apenas por

reivindicar nossos direitos”. Re‐ trato comum atribuído a uma po‐ pulação que há anos luta por moradia, a afirmação é de Letícia Aparecida Cilian, de 31 anos. “O poder público, que deveria nos auxiliar, nos trata com desprezo, como se quiséssemos nos aprovei‐ tar da situação, mas ninguém aqui quer viver de ajuda de gover­ nantes”, afirma Letícia. O professor de Direito da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paulo Cesar de Lara, res‐ salta que a moradia é um direito constitucional e, quando negado, é reivindicado por mobilizações

que são repreendidas por meio da força por governos. “Quando es‐ ses grupos sociais, cansados de miséria, passam a ser os protago‐ nistas da própria história e legiti‐ mamente ocupam áreas a fim de chamar a atenção de autoridades, o poder público transforma a situ‐ ação em caso de polícia”, avalia. Revolta O terreno ocupado pertence à prefeitura e foi reservado para a construção de casas para as famí‐ lias cadastradas na Companhia de Habitação de Ponta Grossa (Pro‐ lar). No entanto, o local estava abandonado há mais de 10 anos, sem receber investimento do mu‐ nicípio. Além disso, segundo o advogado e coordenador da FNL, Leandro Dias, ainda pode ser ce‐ dido à iniciativa privada. Além de abrigar uma população que sofre com a falta de um lugar para vi‐ ver, a ocupação representa a re‐ volta contra o descaso, a falta de políticas públicas e a especulação imobiliária na cidade, explica Di‐ as. “Lutamos em prol da moradia digna, contra a especulação imo‐ biliária, onde se busca valorizar áreas que pertenciam a Cohapar e agora estão sob a posse da inicia‐ tiva privada”, afirma. Doações A FNL apela para ajuda aos moradores da ocupação, seja com alimentos, produtos de higiene, ou dinheiro. O contato é (42) 99820­ 8500 (Leandro Dias).

PG tem quarto pior déficit habitacional do Paraná BETTINA GUARIENTI

Ponta Grossa representa cer‐ ca de 12% do índice de déficit ha‐ bitacional em todo o estado, se­ gundo dados do Plano Estadual de Habitação de Interesse Social (PEHIS). Mesmo com a existên‐ cia da Companhia de Habitação de Ponta Grossa (Prolar), que tem a função de desenvolver soluções para as questões habitacionais, a situação não se altera. Para as fa‐ mílias cadastradas no programa, o relato comum é da falta de retorno sobre os pedidos de moradia que ficam parados por anos.

É o caso de Terezinha de Li‐ ma Nascimento, 65 anos, aposen‐ tada. Mesmo com o cadastro ativo há mais de duas décadas, ela nun‐ ca obteve uma resposta por parte do órgão. “Todo ano eu ia lá, des‐ de quando meu filho era pequeno e nunca podiam arranjar uma casa pra mim”, conta. Atualmente ela mora na ocupação Ericson John Duarte e diz que viu no lugar a única saída para ter uma moradia, uma vez que não conseguia arcar com o aluguel de uma casa. “Vim pra cá pra tentar uma vida melhor. Com luz, água e aluguel, não con‐ seguia”, afirma.

Elisiane Alves Correia, mora‐ dora da mesma ocupação, conse‐ guiu uma moradia pela Prolar, entretanto, a falta de segurança a obrigou a abandonar a casa. “On‐ de eu morava era muito perigoso. Tive que sair porque moradores do bairro falaram pras minhas me‐ ninas que se elas não fossem de‐ les, iam matá­las, daí eu tive que sair correndo". Sem opções, a também aposentada viu sua única alternativa na ocupação. De acordo com dados dispo‐ nibilizados pela Prolar, o projeto trabalha com a reapropriação e re‐ passe dos vazios urbanos da cida‐

de, além da retomada dos lotes e casas já distribuídas e posterior‐ mente abandonadas. Cerca de 50 unidades seriam reintegradas por ano. Mas, segundo o portal de transparência do órgão, o projeto não realiza novas entregas desde 2016, com o loteamento Jardim Boreal 2 e com o residencial No‐ va Ponta Grossa. No dia 7 de dezembro de 2021 o Executivo enviou à Câma‐ ra um projeto de lei que prevê a extinção da Prolar. Questionada sobre soluções para o problema, a Prefeitura não deu resposta até o fechamento desta edição.


SOCIEDADE LARISSA ONORIO

Abandono paterno na infância pode afetar vida adulta LERIANY BARBOSA

Lojistas confirmam aumento na compra e venda de peças reutilizadas

Brechós da cidade se popularizam entre consumidores de moda Pesquisa indica adesão de 48% dos participantes LILIAN MAGALHÃES

O conceito de moda consci‐ ente ganhou espaço em discussões sobre o consumo de roupas duran‐ te a pandemia da Covid­19. Nesse período, não era surpreendente encontrar uma peça de roupa anti‐ ga e sem uso. A solução encontra‐ da, nesse caso, tem sido a reutização e cuidados com peças já adquiridas. De acordo com uma pesquisa realizada pela reporta‐ gem com 89 participanetes, 43 de‐ clararam ter alto interesse pelo conceito de moda sustentável, tan‐ to que passaram a frequentar bre‐ chós. A maior vantagem, apontada por 73% dos participantes, é o baixo custo das roupas de marca via segunda mão. Para 56% dos entrevistados, a maior dificuldade de comprar em brechós é o acesso a roupas com maior diversidade em tama‐ nho. Segundo Camila Emmerich, 20 anos, esse é o motivo de não comprar neste tipo de estabeleci‐ mento físico. “Quando visito as lojas, encontro peças que se limi‐ tam ao P e M, e quando o tamanho é maior, o valor sobe. Sigo brechós online, pois consigo acompanhar as promoções de peças de tama‐ nhos diferentes com maior facili‐ dade”. No caso de Sara Batista, 51 anos, a sua perspectiva sobre o consumo de roupas mudou ao longo dos anos. “Antes eu pensa‐ va apenas nos valores acessíveis e não me preocupava com o meio ambiente, mas atualmente é dife‐ rente. Procuro doar as peças anti‐

gas antes de comprar uma nova, e brechós são uma boa alternativa quando consigo achar uma peça atrativa”, relata. Em Ponta Grossa, lojistas con‐ firmam o aumento na compra e venda de peças reutilizadas. En‐ tretanto, o mercado consciente ain‐ da apresenta instabilidade no que diz respeito à formação de uma clientela fixa. Para Marcela Ferrei‐ ra, curadora de um brechó, o fim do ano passado foi marcado por uma queda nas vendas. “As rou‐ pas de lojas fast fashion são mais caras e de qualidade inferior, mas ainda não é comum a compra de peças de brechó como presente de Natal ou para renovar o armário no início do ano”. O termo fast fashion vem da tradução “moda rá‐ pida”, onde indústrias e marcas de roupa produzem as mesmas peças em alta escala e velocidade sem se preocupar com os prejuízos ao meio ambiente. De acordo com Marcela, há dois públicos em bre‐ chós atualmente. “Existe quem se dispõe a investir em uma peça de qualidade, e quem quer comprar sua marca favorita por um preço acessível. O grupo que se preocu‐ pa com a sustentabilidade e rari‐ dade das peças é menor”. Jéssica Bianca Abib, dona de um brechó na cidade, também nota o aumento do interesse da sua cli‐ entela pelo conceito de moda sus‐ tentável. “Com a internet, as pessoas estão falando mais sobre os impac‐ tos negativos da indústria da moda sem consciência ambiental e o quão prejudicial é o fast fashion”.

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“Quem é meu pai? Quem sou eu? De onde eu vim?” Para a psi‐ cologia, essas questões fazem par‐ te do processo da criança e do adolescente para a construção emo‐ cional do ser humano. Em pesqui‐ sa recente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirma que existem mais de 12 milhões de mães solteiras no Bra‐ sil. Uma das consequências desse cenário são os filhos que não pos‐ suem o nome da figura paterna na Certidão de Nascimento. Segundo os dados da Agência Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil), somente em Ponta Grossa, entre janeiro de 2020 a ja‐ neiro de 2022, das 10.630 crianças que nasceram, cerca de 554 delas não são reconhecidas no cartório pelo pai. Além desses casos, há os filhos que passam pelo abandono afetivo paterno. Para a psicóloga Raísa Karol‐ lay Majara, a ausência afetiva da figura paterna interfere nas futuras conexões do filho ou filha. “Pode ser que as relações interpessoais sejam com pessoas que, provavel‐ mente, serão indisponíveis ou que não demonstram interesse em um relacionamento. Inconscientemen‐ te, a criança, ao crescer, irá repro‐ duzir a insistência por atenção com pessoas que tenham compor‐ tamentos semelhantes aos do pai", destaca. Entretanto, segundo Raísa, o comprometimento materno e o acompanhamento psicológico po‐ dem ajudar a criança a superar os traumas de abandono. De acordo com a psicóloga, é importante que os responsáveis da criança revelem a história dela, que falem sobre o pai, como a mãe o conheceu e o que levou ele a se afastar. “Tudo para que a cri‐ ança entenda desde sempre que as decisões foram por completa es‐ colha do pai, assim como a falta de responsabilidade.” Para ela, a figura paterna ou masculina pode ser substituída, de forma positiva, por um avô, tio ou padrinho. “O pai é muito mais que o genitor, é o que faz o papel”, conclui. Leonardo do Valle é estudan‐ te de Ciências Contábeis na Uni‐ versidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Ele é um dos exemplos de filhos que sofrem com a ausên‐ cia afetiva paterna e acredita que o principal motivo do pai não es‐

tar presente é devido à dependên‐ cia química. “Agora ele está em tratamento, até tenta um contato comigo, mas eu não consigo per‐ doá­lo”, destaca. Atualmente, Le‐ onardo mora com uma colega e não possui tanto contato com seus familiares. Foi a forma que en‐ controu para lidar com a ausência do pai de maneira isolada. “Nunca tive ninguém para ir às minhas apresentações de escola, ou para me defender nas situações da vi‐ da. Tive que aprender na marra e sozinho! Eu aprendi a cuidar de mim, mesmo que essa jornada se‐ ja um pouco dolorosa”. Já Priscila Schubert é mãe de dois filhos que vivenciam a au‐ sência afetiva do pai desde a sepa‐ ração, que ocorreu em 2019. Ela mesma passou pela experiência ao perder a mãe com menos de dois anos de idade, quando o pai se mostrou uma figura distante, em‐ bora vivessem sob o mesmo teto. Priscila se desdobra entre o traba‐ lho e a criação dos filhos, já que não tem o suporte do ex­marido. “Logo após a separação, ele se mostrou ausente com as crianças. A minha filha mais velha, de 11 anos, disse que ele não se divorci‐ ou somente de mim, mas deles também”, revela. Lei Os artigos 277 da Constituição Federal e o 4º da Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adoles‐ cente) estabelecem que os pais têm a obrigação de garantir os di‐ reitos à vida, à saúde, à alimenta‐ ção, à educação, à dignidade, à liberdade, à cultura, à profissionali‐ zação, ao lazer, à convivência fami‐ liar, bem como proteger os filhos em relação a quaisquer formas de negligência, entre outros deveres. Para o advogado especialista em direito da família, Vinicius Just Soares, não basta a figura pa‐ terna arcar com as questões finan‐ ceiras, ele precisa estar presente na vida do filho. Caso não ocorra, o filho ou responsável pode entrar com uma ação judicial. “O autor deverá informar as razões pelas quais entende que houve o aban‐ dono afetivo, bem como requerer uma indenização por dano moral e/ou dano material. Após avaliar o processo, cabe ao juiz decidir so‐ bre a penalidade cabível que, além da indenização, inclui a perda do direito paterna à guarda comparti‐ lhada”, explica.


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SAÚDE ANA BARBATO

Aulas presenciais exigem adaptação de universitários ISADORA RICARDO

Profissionais recomendam atividades físicas para corrigir falhas de postura

Pandemia aumenta problemas de coluna entre jovens Maior tempo em frente às telas estão entre as causas ANA BARBATO

“Após consultar com um mé‐ dico, descobri que estava com es‐ coliose e hiperlordose, sendo que eu não tinha antes da pandemia”. Este é o relato de Andressa Bueno, que tem 18 anos e está no primeiro ano da faculdade. A estudante ex‐ plica que após o início das aulas remotas, passou a sentir muita dor nas costas. Ela afirma que houve uma piora significativa do quadro quando surgiu a necessidade de es‐ tudar para o vestibular. Com o distanciamento social, Andressa também fez com que sua rotina de atividades físicas se reduzisse drasticamente, pois ela não praticava outras atividades além de se expor às telas do celu‐ lar e do computador. “As aulas preparatórias para as provas eram todas online, então tinha dias que eu ficava desde às nove horas da manhã até às seis da tarde em frente ao notebook”, relata. Assim como Andressa, mui‐ tos outros jovens também desen‐ volveram problemas de coluna ou tiveram o quadro agravado duran‐ te a pandemia. A fisioterapeuta e instrutora de pilates, Legiane San‐ tos, afirma que os pacientes mais jovens que possui tem de 12 a 28 anos, e que a maioria deles passa‐ ram a sentir dores e a apresentar desvios de postura. “A maioria apresenta alterações posturais, co‐

mo escoliose, hipercifose e hiper‐ lordose, e dores na região lombar e cervical, como lombalgia e cer‐ vicalgia”, explica Legiane. A fisioterapeuta afirma que a má postura é a principal causado‐ ra dessas doenças. “As aulas onli‐ ne pioraram esse quadro porque a maioria dos jovens não se sentam corretamente, não possuem uma cadeira apropriada para o estudo e passaram a usar mais o celular." Para Legiane, as dores ocorrem devido à alteração que os desvios posturais provocam na musculatu‐ ra da coluna, na força e na mobili‐ dade das articulações. Prevenção A atividade física é uma das formas mais eficazes para prevenir lesões e tratar problemas na colu‐ na. A prática mais indicada é o pi‐ lates, por trabalhar com todas as alterações posturais. Legiane afir‐ ma que, além de ajudar no fortale‐ cimento das musculaturas do corpo e na mobilidade da coluna, o pila‐ tes também promove a consciência corporal. Tudo para promover a capacidade das pessoas entende‐ rem como funciona o próprio cor‐ po e de como se auto corrigir. A fisioterapeuta ainda faz um alerta sobre a busca por acompa‐ nhamento de profissionais para a realização correta das atividades físicas. "Realizar o exercício de forma errada pode prejudicar ao invés de ajudar", afirma.

Com o retorno das aulas pre‐ senciais na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) de for‐ ma integral em 7 de março, estu‐ dantes e docentes precisaram se readaptar e lidar com problemas decorrentes do isolamento, inse‐ gurança ou traumas gerados com a pandemia da Covid­19. Durante o período pandêmico, as aulas fo‐ ram ministradas e assistidas de maneira virtual pela universidade. Um estudante da UEPG, que não quis ser identificado, desen‐ volveu ansiedade e fobia social durante a pandemia. A quebra de rotina com a retomada presencial impôs desafios para a readapta‐ ção. “Está bem difícil porque não conheço ninguém da minha tur‐ ma, a dificuldade é no projeto de extensão, por ter várias pessoas’’, afirma. Apesar de se sentir inco‐ modado, o aluno argumenta que prefere “todas as aulas presenciais justamente devido à fobia, expos‐ to a essas situações posso tentar superar aos poucos.’’ Outra aluna, que também não quis ser identificada, e faz acompa‐ nhamento psicológico devido à an‐ siedade, afirma que estava nervosa. Porém, o apoio dos professores têm facilitado o retorno. “Prefiro o ensino presencial, parece que no ensino remoto era mais pesado, ha‐ via mais cobrança’’, diz. Segundo a psicóloga Lorena Elias, o ensino remoto afetou a sociabilidade dos universitários, o que abala o aprendizado e as rela‐ ções sociais. Ela salienta que “a formação de laços é fundamental para a identidade do futuro da pessoa, e por eles terem ficado só com a parte da atividade conteu‐ dista, existe um agravamento. A aprendizagem não é a mesma.’’

Além de transtornos emocio‐ nais, o isolamento social fez com que a sociedade ficasse ainda mais conectada à Internet, por ser a úni‐ ca forma de contato. Mesmo sendo uma alternativa para a realização de estudos e trabalhos, Lorena faz um alerta: "as pessoas estavam sendo superestimuladas por telas e talvez gere crises epilépticas, caso a pessoa apresente tendência’’. Ainda segundo a psicóloga, o mais indicado em momentos de ansiedade não é se afastar do con‐ vívio; a melhor maneira para lidar com a questão é enfrentá­la e, por isso, as aulas presenciais podem ser um ponto positivo. “De início pode existir a fobia de se colocar no meio social, mas também tere‐ mos pessoas retomando o cuidado da saúde mental e desenvolvendo a formação da personalidade adul‐ ta’’, explica Lorena. Acolhida A Pró­Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae/UEPG) realizou, em parceria com o Ambulatório de Saúde Mental, atividades de acolhida, eventos online e presen‐ ciais no decorrer do mês de feve‐ reiro e início de março com o intuito de reacomodar os estudan‐ tes no meio acadêmico. A pedagoga da Prae, Iomara Favoreto, afirma que a instituição está preparada para atender a de‐ manda de estudantes que sofrem com a readaptação do ambiente universitário. “Primeiro há o aco‐ lhimento e a escuta para averiguar a situação. Caso necessário, enca‐ minhamos para o Ambulatório e ofertamos atendimento de primei‐ ros socorros ou psicológico’’, des‐ taca. Se houver a necessidade de atendimento, o universitário deve procurar a Prae no Campus Uva‐ ranas, ou entrar em contato pelo Whatsapp (42) 99827­8342. ISADORA RICARDO

Aulas presenciais podem ser positivas para saúde mental após isolamento


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SAÚDE

Prefeitura mantém duas unidades de saúde fechadas há mais de um ano Atendimento foi suspenso para realização de reformas que nunca começaram MATHEUS GASTON

MATHEUS GASTON

As unidades básicas de saúde (UBS), conhecidas popular‐ mente como postinhos, são refe‐ rência em atendimentos médicos prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar de serem es‐ senciais para a população, há mais de um ano, a Prefeitura de Ponta Grossa mantém duas unidades de saúde fechadas para realização de reformas que nunca começaram. É o caso da UBS Abrahão Feder‐ mann, na vila Ana Rita, fechada desde 27 de fevereiro de 2020, antes da pandemia. Desde então, cerca de 7 mil pacientes buscam atendimento na UBS Lubomir Ur‐ ban, no 31 de Março, há quase dois quilômetros de distância. Na época, a Fundação de Saúde explicou que o espaço seria reformado. A equipe responsável pela obra também avaliou a possi‐ bilidade de demolição e constru‐ ção de um novo prédio, por conta de irregularidades no solo. No ter‐ reno, há alguns tijolos quebrados e vergalhões. No entanto, a única mudança feita foi a ampliação de uma sala nos fundos da unidade, mas que nunca foi concluída. Moradores do Ana Rita reali‐ zaram protestos e organizaram um abaixo­assinado solicitando a rea‐ bertura do postinho. A repositora Sandra Mara de Almeida mora na vila há 50 anos. Ela conta que, desde o fechamento, nunca viu equipes de obra no terreno. “A Prefeitura deveria rever essa mu‐ dança nos postinhos. Por que tan‐ tas unidades foram fechadas? Acho que uma reforma não demo‐ ra tudo isso”, questiona. “A gente paga imposto, pelo menos um atendimento decente perto de casa a gente deveria ter”, observa. A UBS Antônio Saliba, no Parque dos Sabiás, também en‐ frenta a mesma condição. O esta‐ do de abandono do prédio é visível. Do lado de fora, paredes pichadas e mato alto crescendo. Por um buraco aberto na porta principal, é possível ver o que um dia já foi a recepção, além de ja‐ nelas quebradas, tomadas e portas arrancadas. Em janeiro, o posto de saúde completou um ano com ser‐ viços interrompidos. Agora, os pacientes precisam se deslocar por

Com estrutura vandalizada, abandono do postinho Antônio Saliba é visível

mais de dois quilômetros até a UBS Sharise Angélica Arruda, no Recanto Verde. De acordo com a moradora Mayara Rodrigues, a unidade foi fechada logo depois de ser alvo de vandalismo e por conta de danos causados por um vendaval. “Primeiro o vento estra‐ gou o telhado. Depois, algumas pessoas entraram lá dentro pra roubar equipamentos”, diz. Paciente desta unidade, a costureira Hellen Cristina Carnei‐ ro conta que, antes do fecha‐ mento, já era difícil conseguir um atendimento no postinho. “A fila de espera era muito grande, nem todos conseguiam ser atendidos”, lembra. Segundo Hellen, quando os serviços foram interrompidos, a Prefeitura disse que o atendi‐ mento ficaria suspenso de seis a oito meses. “Já completou um ano e tá tudo parado. Poucas vezes a gente viu equipes arrumando al‐ guma coisa”, afirma a costureira. Em relação à reforma das unidades Abrahão Federmann e Antonio Saliba, perguntamos à Fundação Municipal de Saúde (FMS) quais reparos deverão ser feitos, se há previsão para o início das obras e para a retomada dos atendimentos nos locais ainda abandonados. Porém, até a con‐ clusão desta reportagem, não re‐

cebemos respostas. Temporário Em janeiro deste ano, a Pre‐ feitura suspendeu o atendimento em 15 postos de saúde. Com a de‐ cisão, quase 30% das UBSs da ci‐ dade não estavam funcionando. Segundo a Fundação de Saúde, a medida foi tomada por conta do número de funcionários infecta‐ dos com Covid­19 e pela abertura de um centro de atendimento para os casos respiratórios. Segundo levantamento feito pelo Foca Livre, a região mais prejudicada foi a Colônia Dona Luiza, onde duas das três unida‐ des suspenderam os serviços. No bairro Chapada, três dos sete pos‐ tos fecharam as portas. Em Ofici‐ nas e Contorno, que possuem quatro unidades cada, e em Uva‐ ranas, onde há seis, metade das UBSs deixaram de funcionar. Para conseguir atendimento, pacientes iam até outras unidades, que nem sempre ficam próximas de suas casas. Quem era atendido na UBS Luiz Cajado Braga, no Cristo Rei, por exemplo, deveria ir até a UBS Carlos Ribeiro, no Parque do Café, uma distância de aproximadamente 7 km. Esta uni‐ dade também absorveu os servi‐ ços da UBS Louis Buron, no bairro Piriquitos, há 5 km dali.

A equipe do Foca Livre visi‐ tou os postinhos Cyro de Lima, em Oficinas, e Carlos Ribeiro, no Parque do Café, para conversar com moradores e funcionários. A aposentada Leoni Marsk é pacien‐ te da UBS Adão Ademar Andrade, no Jardim Cerejeira, que também foi fechada em janeiro. Ela expli‐ ca que a unidade que a atendia não tem médico e nem farmacêu‐ tico. Para ter acesso a medica‐ mentos, Leoni teve que ir à unidade Lauro Muller, na vila Santa Maria, e na Cyro de Lima, em Oficinas. Contudo, no posto perto de sua casa o atendimento é restrito. “A gente está indo no Santa Maria pegar remédio. Con‐ sulta lá também não tem”, relata. A professora Joceleia Albu‐ querque era paciente da UBS Aluízio Grochoski, na vila Guaí‐ ra. Com o fechamento temporário da unidade, ela foi até o postinho Cyro de Lima, para que seu pai, de 72 anos, fizesse consultas. “Antes ele conseguia ir sozinho. O posto ficava a duas quadras da casa dele. Só consegui trazer ele porque eu não estava trabalhando hoje”, conta a professora. Para Joceleia, o fechamento de unidades impacta diretamente a população idosa. A professora recomenda que os gestores da saúde priorizem melhorias nos serviços oferecidos pelo SUS. “É preciso pensar em alternativas para agilizar os atendimentos e diminuir a espera”, reforça. Funcionários da unidade Car‐ los Ribeiro relataram que o au‐ mento da população atendida, em certos momentos, provocou so‐ brecarga de trabalho. O posto tem apenas um médico. Ainda assim, segundo eles, nenhum paciente deixou de ser atendido. Assim como a UBS Carlos Ribeiro, a Cyro de Lima absorveu os atendimentos de outras duas unidades e tem só uma médica. Procurada, a Prefeitura disse que a reabertura dos postos iria depender do retorno dos profissio‐ nais afastados, mas não há previ‐ são de data. Alguns dias após o questionamento de nossa equipe ao municipio, a Fundação de Saú‐ de anunciou que os 15 postos vol‐ tariam a funcionar no dia 07 de março, após 42 dias fechadas.


ESPORTE

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Jogos Inter Atléticas de Ponta Grossa retornam em 2022 A expectativa é que o público deste ano supere o da última edição presencial LINCOLN VARGAS

Apesar da pandemia de Co‐ vid­19 não ter acabado, times se preparam para os Jogos Inter­ Atléticas de Ponta Grossa (Joia) que serão realizados de forma pre‐ sencial, após duas edições on­line. O evento conta com a participa‐ ção de 21 associações atléticas de diversos cursos de instituições de ensino superior da cidade, em du‐ as divisões. A primeira edição do Joia aconteceu em 2011 e a últi‐ ma, em 2019, contemplando di‐ versas modalidades de esportes coletivos e individuais. O presidente da Capetada, Atlética de Educação Física da UEPG, William Barboza, relata que “a volta do Joia é fundamen‐ tal. Fomentar nossas equipes faz com que a atlética consiga desem‐ penhar o seu papel principal, que é promover os esportes entre os universitários”. William conta que existe uma Comissão Organizado‐ ra do evento e com a flexibiliza‐ ção dos decretos municipais no final de 2021, os treinos voltaram a acontecer. “A comissão conta‐ tou a prefeitura para liberar o acesso aos ginásios e também

conseguiu que os jogos entrassem no calendário oficial da cidade”, afirma. Matheus Gonçalves, que participou das competições de 2016 a 2019, observa que é im‐ portante participar do evento co‐ mo um todo. “Nos jogos, pelo sentimento de competição e de pertencer aos grupos. E nas festas, pelas pessoas que você acaba co‐ nhecendo”, explica Matheus. Durante a pandemia, o even‐ to teve que se adaptar: passou a chamar­se e­Joia em alusão às competições de videogame online. O atleta Cícero Goytacaz, que participou da edição de 2020 jo‐ gando FIFA, acredita que o for‐ mato online vale a pena. “Foi uma experiência muito bacana, mesmo sem a sensação do presencial, foi muito emocionante com todos de suas casas, com muito treino e preparação de forma remota”. Com a volta do Joia presencial, Cícero ainda acredita que seria le‐ gal manter o e­Joia. “Eu penso que, caso seja viável financeira‐ mente, vale muito manter compe‐ tições de videogame no Joia sim, ainda mais com o mundo dos e­ sports crescendo nos últimos anos, até pela inclusão de vários

GUSTAVO SANTOS/ARQUIVO LENTE QUENTE (2014)

Joia conta com a participação de 21 atléticas de cursos de ensino superior

jogos e modalidades diferentes.” Parcerias Os Jogos Inter Atléticas têm parceria com algumas ONGs da cidade, como a Anjos da Noite, que já ajudou mais de 8 mil famí‐ lias e moradores de rua em Ponta Grossa. De acordo com Lucas Malaquias Sprenger de Barros,

um dos fundadores da ONG, o Joia é um evento fundamental para a arrecadação de alimentos. Lucas conta que, em média, a organização arrecada 2,5 tonela‐ das de alimentos por ano, mas em 2019, ano da última edição do Joia, houve quebra de recorde, to‐ talizando 3,2 toneladas.

Projeto Handebol de Ponta pode chegar ao fim por falta de recursos financeiros VICTÓRIA SELLARES

Criado em 2015 por iniciati‐ va do professor Fabiano Castro e com verba da Lei Federal de In‐ centivo ao Esporte, o Handebol de Ponta é um projeto esportivo e so‐ cial desenvolvido pela Liga de Handebol dos Campos Gerais pa‐ ra contemplar crianças e adoles‐ centes de baixa renda da cidade. O desenvolvimento das atividades depende de um valor mínimo a ser arrecadado por meio de doa‐ ções do Imposto de Renda. Desde a sua criação, o projeto teve duas edições entre 2016 e 2019 e aten‐ deu 420 pessoas. Contudo, as ati‐ vidades foram paralisadas nos dois últimos anos devido à pande‐ mia. Em 2022, o projeto corre o risco de não retornar por falta de verba e apoio financeiro.

O estudante Vitor do Nasci‐ mento, que jogou no time na últi‐ ma edição, afirma que o esporte ensina além das quadras. “O pro‐ jeto me ensinou muito mais do que regras e técnicas do esporte, ele me ajudou na interação social, me estimulou nos estudos e no convívio com amigos e família”, relata. Segundo Vitor, a disciplina e a necessidade de atuar em grupo influenciaram na sua postura em outros ambientes, tornando­o um adolescente mais interativo, parti‐ cipativo e empático. A coordenadora do Handebol de Ponta, Izabel Sekula, afirma que além da prática esportiva, o projeto fornecia amparo alimentí‐ cio para os estudantes. “Uma das principais motivações que perce‐ bemos nos alunos que entravam no projeto era a alimentação. Ofe‐

recemos almoço para todos após os treinos, muitos deles vivem em condições de vulnerabilidade e veem no projeto uma oportunida‐ de de ter uma refeição completa”, conta a coordenadora. As edições do projeto foram realizadas no Colégio Estadual Prof. João Ricardo Von Borell. A diretora, Claudete Albuquerque, notou melhor desempenho nas ati‐ vidades escolares entre os alunos participantes. “As aulas e treinos realizados no período contraturno dos estudantes influenciaram tam‐ bém no rendimento escolar; eles passaram a estar mais envolvidos com o colégio”, avalia. Campanha Para manter as atividades, o projeto Handebol de Ponta busca recursos a partir da doação de par‐ te do Imposto de Renda (IR) de

pessoas físicas e jurídicas, ação regulamentada pela Lei de Incen‐ tivo ao Esporte. Conforme estipu‐ lado, o valor mínimo para ser arrecadado é de até R$30 mil, enquanto o valor máximo não pode ultrapassar de R$224,8 mil. A quantia servirá para a aquisição de equipamentos, uniformes, ali‐ mentação, inscrições em competi‐ ções, transporte e outras ações. Com o valor mínimo, os treinos continuarão no Colégio Borell, envolvendo apenas estudantes da instituição. Mas, se a quantia for superior, os treinos se estenderão à outras instituições públicas, pos‐ sibilitando o acesso de mais alu‐ nos. Se o projeto não alcançar o valor mínimo até abril, precisará cancelar as atividades de 2022 por não acompanhar o calendário es‐ portivo de competições.


CULTURA e tecnologia

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Afetos e lembranças explicam sucesso dos super-heróis no cinema Personagens e histórias conquistam cada vez mais o coração do público; Marvel e DC Comics lideram lucros HELENA DENCK

HELENA DENCK

Quem frequenta as salas de cinema já percebeu que os filmes de super­heróis ocupam grande parte da programação. Segundo dados da Comscore, dos 10 filmes com maior lucro histórico exibi‐ dos nos cinemas brasileiros, 7 são longas produzidos pelos estúdios Marvel e DC Comics. Somente “Vingadores: Ultimato”, o longa mais bem sucedido no Brasil, acu‐ mulou cerca de R$350 milhões. Diversos motivos explicam o sucesso das franquias de super­he‐ róis. Para além das questões da in‐ dústria cultural, há os afetos que essas produções suscitam. O estu‐ dante Ryan Nabozny, adepto do gênero desde pequeno, fala de uma mistura de nostalgia à quali‐ dade das películas, que aumenta a cada ano. “Essa nova onda de fil‐ mes do gênero me cativa não so‐ mente pela excelente construção visual e pelas tramas, mas tam‐ bém porque remete à minha infân‐ cia; dá vida aos personagens que eu só via em quadrinhos”, afirma.

Os filmes campeões de bilheteria são produções sobre super-heróis

Para Ryan, os filmes criam rela‐ ções com situações da vida real e ultrapassam o conceito fictício de aventura fantástica. E engana­se quem acredita que esses filmes não atraem as meninas. Valentina Araújo tam‐ bém tem bons afetos por longas de super­heróis. “Na cultura da in‐ fância masculina, os meninos as‐ sistem muitos filmes de heróis. Como tenho um irmão mais ve‐ lho, comecei a assistir e acabei pegando gosto”, explica a estu‐ dante. Há cinco anos, ela acompa‐ nha os filmes nas salas de cinema

e se surpreende com a qualidade dos longas, cada vez mais criati‐ vos e tramas bem elaboradas. Para Valentina, a representatividade fe‐ minina no gênero também mudou: dos poucos papéis e quase nulos, as personagens mulheres aumen‐ taram, passaram a ser centrais nas histórias e mais poderosas. Lucas Martins, outro apaixo‐ nado pelo gênero desde a infân‐ cia, lembra quando a mãe fazia empréstimos de histórias em qua‐ drinhos da escola em que traba‐ lhava para que ele pudesse ler. Para Lucas, o sucesso dos filmes

de super­heróis depende da identi‐ ficação com o público. No caso dele, o fascínio pela história do Homem Aranha, personagem que o acompanha desde criança. “Pela primeira vez, eu via uma pessoa excluída e quieta se tornar prota‐ gonista de alguma coisa”, diz. Especialista O pesquisador Vilson Gon‐ çalves, autor da tese “Convenções estéticas e narrativas das adapta‐ ções fílmicas de super­heróis: Marvel e DC Comics (1978­ 2018)”, explica que esses filmes, tratados por ele como um gênero cinematográfico autônomo, são sucessos mundiais de bilheteria porque permitem um tipo de esca‐ pismo, ou seja, a fuga da realida‐ de. Além disso, as emoções reprimidas no dia a dia por serem consideradas infantis, como torcer intensamente e vibrar com a histó‐ ria de um personagem heroico são liberadas dentro das salas de cinema. “Esses filmes nos permi‐ tem escapar do real, mas não das emoções. As emoções são muito reais", argumenta.

Mercado digital pode facilitar esquema de pirâmide TAMIRES LIMURCI

“Faturei mil reais em um dia, utilizando apenas o meu celular, quer saber como? Me chama no privado que eu te conto.” Publica‐ ções como essa são cada vez mais comuns com a ascensão do traba‐ lho remoto e a necessidade de muitas famílias terem uma renda extra ou, até mesmo, uma renda principal. Porém, esse chamado tentador pode ser uma armadilha para o esquema de pirâmide, algo ilegal no Brasil. O esquema de pi‐ râmide é crime contra a economia popular no país, previsto na Lei 1521/1951. A prática é considera‐ da ilegal porque advém da entrada de novos membros que são atraí‐ dos pela promessa de ganhos fá‐ ceis, ou seja, sem associados na base da companhia, a empresa não se mantém. Os agenciadores destes esquemas costumam fazer campanhas voltadas para um pú‐ blico específico, composto geral‐ mente por mulheres com filhos.

Agenciamento Segundo a Associação Brasi‐ leira de Comércio Eletrônico (ABComm), as vendas online cresceram 68% desde o início da pandemia, período em que a espe‐ cialista em estética automotiva Maisa Correia começou a vender produtos digitais e atuar como mentora, auxiliando outras pesso‐ as a começar no ramo. Ela oferece um curso no valor de R$297,00, com aulas de até cinco minutos, e ajuda a esclarecer dúvidas. Segun‐ do Maísa, a atividade é uma for‐ ma de conseguir uma renda extra nos horários de que dispõe. Con‐ tudo, “não existe valor mínimo nem máximo que alguém pode re‐ ceber, isso depende da vontade e dedicação em aplicar as técnicas ensinadas no curso”, comenta. Algumas pessoas percebem o esquema só quando acumulam prejuízos. Em 2020, Isabela Mar‐ ques decidiu trabalhar com as vendas online, logo após o nasci‐ mento da filha. Uma ex­colega de

classe a contatou via redes sociais e a apresentou a outros mentores ­ pessoas que estão a mais tempo no ramo. Após comprar um curso no valor de R$435,00, ela foi ins‐ truída que era melhor formar uma equipe para ter um retorno alto, através da comissão das vendas. Depois de meses sem conseguir recuperar o valor inicial, Isabela se viu desesperada. “O dinheiro que gastei fazia parte do enxoval da minha filha. Quando não con‐ segui bater a meta, logo percebi que estava participando de um es‐ quema de pirâmide.” Segundo Isabela, o trabalho consiste em enviar de 20 a 30 mensagens por dia, convidar as pessoas para participar, além de publicar postagens nas próprias mídias, com depoimentos de pes‐ soas que teriam faturado alto em curtos períodos de tempo para fir‐ mar uma narrativa. Com a adesão de outras pessoas, o ciclo reinicia. Apesar do início promissor, o ne‐ gócio não rendeu. “Depois que a

euforia passou, comecei a perder dinheiro para continuar no esque‐ ma”, comenta Isabela sobre os va‐ lores que precisou aplicar, cerca de R$2 mil, além dos investimen‐ tos iniciais para se manter ativa. Denúncia Segundo o professor de mar‐ keting digital, Alexandre Breda, é cada vez mais difícil confundir empresas digitais de esquemas. Is‐ so acontece porque hoje as empre‐ sas focadas no mercado estão tendo cuidado para evitar a com‐ paração, buscando deixar claro como funcionam, seus CNPJ e com quem formalizam seus con‐ tratos. Para descobrir se é um tra‐ balho legítimo ou não, a pessoa interessada deve pesquisar sobre os produtos, conversar com con‐ sumidores e vendedores, descon‐ fiar de muito dinheiro em pouco tempo e se manter atento. Caso seja vítima de um esquema, é pos‐ sível abrir um boletim de ocorrên‐ cia e denunciar a empresa no site do Ministério Público Federal.


ENSAIO

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VALÉRIA LAROCA

Quando voltamos à UEPG em fevereiro, parecia que o ambiente não era o mesmo e o pensamento de que aquela não era a nossa universidade permanecia em nossa mente. O silêncio e o vazio dos corredores mostravam que a pandemia não acabou. Durante o retorno 100% presencial, reaprender a conviver com colegas, professores, que só conhecíamos através de uma tela, é um estímulo para continuarmos acreditando nos nossos sonhos. ANA LUIZA BERTELLI

CATHARINA IAVORSKI

AMANDA MARTINS

AMANDA MARTINS

CATHARINA IAVORSKI

CATHARINA IAVORSKI

CATHARINA IAVORSKI

HERYVELTON MARTINS


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