Foca Livre 222

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DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

FOCA LIVRE JORNALISMO UEPG | ABRIL DE 2022 | EDIÇÃO 222

Centros acadêmicos e estudantes esperam melhorias nos cursos e diálogo com nova reitoria da UEPG CÁSSIO MURILO

Prédio Reitoria ­ Campus Uvaranas UEPG

As eleições para a reitoria da Universidade Estadual de Ponta Grossa elegeram a chapa “Sempre UEPG”, com 56,9% dos votos. Miguel Sanches Neto continua no cargo de reitor e Ivo Mottin Demiate assume a vice­reitoria. As eleições ocorreram nos dias 9 (EAD) e 13 de abril (cursos presenciais). O Foca Livre entrevistou estudantes e representantes de centros acadêmicos para saber o que esperam da nova gestão. ESPECIAL P. 8

Discriminação de atletas no esporte prejudica carreiras O preconceito e o machismo com o futebol feminino deses‐ timulam atletas. Ações sociais que proporcionam acessibili‐ dade e visibilidade para as es‐ portistas oferecem incentivo e apoio para carreira. P. 14

Plano de carreira e reajuste insuficientes afetam educação A defasagem do plano de car‐ reira municipal de Ponta Gros‐ sa gera descontentamento entre professores. Reajuste salarial recente deixa boa parte dos profissionais de fora. P. 4

O Senhor da Guerra não gosta de crianças Aspectos econômico, geopolí‐ tico e cultural estão entre as ra‐ zões que levaram a Rússia a atacar a Ucrânia. Do Brasil, fa‐ mílias de descendentes assis‐ tem apreensivas ao conflito que mata inocentes. P. 7

SAÚDE

UEPG

POLÍTICA

Pacientes que tiveram Covid­ 19 relatam perda de memória e dificuldade de atenção. Sono desregulado, alimentação ina‐ dequada, falta de exercícios físicos e estresse pioram sin‐ tomas. Casos graves são mais comuns em pessoas com pro‐ blemas neurológicos. P. 12

Acadêmicos da UEPG enfren‐ tam dificuldades para se ali‐ mentarem de forma correta. A falta de cantinas dentro da universidade obriga os estu‐ dantes a recorrerem a opções mais caras próximas à institui‐ ção ou até mesmo optarem por não comer. P. 3

Burocatização dos orgãos pú‐ blicos de Ponta Grossa cria entraves para a Lei de Acesso à Informação (LAI). Pedidos de ofício, demora na liberação e formato fechado de dados são algumas das estratégias para atrapalhar a apuração jornalística. P. 5

Lei contra assédio não garante segurança BETTINA GUARIENTI

Lei 13.748/2020 para comba‐ ter o assédio as mulheres em bares e casas noturnas de Pon‐ ta Grossa não é efetiva. Se‐ gundo apuração feita pelo Foca Livre, 97,4% das entre‐ vistadas reclamam ações e medidas mais eficazes. Traba‐ lhadoras desses estabeleci‐ mentos também relatam o assédio constante por clientes e colegas de trabalho. Elas afirmam sofrerem mais que as próprias frequentadoras dos locais, porque são obrigadas a estarem em contato direto com os agressores. P. 10


02

OPINIÃO

O último Foca da T35

Expediente

Terminam produções do ano letivo de 2021

Editoras­chefe: Bettina Guarienti, Heryvelton Martins e Vini‐ cius Sampaio

Com muitos obstáculos, dificul‐ dades e reuniões de pauta on­line, mais um ciclo se encerra, o último Foca Livre da Turma 35. Com o in‐ tuito de dar voz à população local, o jornal laboratório do curso de jorna‐ lismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa te conta o que ficou fo‐ ra do radar dos veículos locais. A edição 222 traz no especial, as expectativas dos Centros Acadêmicos da UEPG em relação à nova reitoria. Além disso, os estudantes entrevista‐ dos fazem relato do descaso com os cursos, como equipamentos velhos e produtos vencidos. Pautas importantes na atualida‐ de, como a Guerra na Ucrânia, são abordadas com o viés da cidade, vis‐ to a influência da imigração ucrani‐ ana no Paraná e principalmente na região dos Campos Gerais. Na saúde, o número de imuniza‐ dos para outras doenças além da Covid cai em Ponta Grossa. Na pági‐ na 13, trazemos uma matéria com os dados vacinais e comparação entre os anos de 2020 e 2021 que mostra essa realidade. A disseminação de notícias falsas relacionadas às vaci‐ nas, principalmente pelo atual Presi‐ dente da República, têm grande influência no crescimento dos núme‐ ros de não vacinados e consequente‐ mente na saúde da população. É destaque também, a alta nos combustíveis e como isso afeta moto‐ ristas e caminhoneiros. A classe trabalhadora dos motoristas vê a necessidade de aumentar a carga de trabalho para receber o mesmo va‐ lor, em razão do aumento no valor fi‐ nal do diesel e da gasolina. AMANDA MARTINS

Em Ponta Grossa, o uso de más‐ caras deixou de ser obrigatório e a equipe do Foca Livre realizou uma pesquisa para ouvir os cidadãos. A máscara fica ou sai? A questão divi‐ de opiniões, 54% dos entrevistados disseram que seguirão usando más‐ cara em todos os lugares, enquanto 46% apenas em locais fechados. Na universidade, até o fechamento deste Foca, o uso de máscaras continuava obrigatório para estudantes, colabo‐ radores e visitantes. Já no esporte, trazemos o retorno dos Jogos Estudantis Municipais (JEM) após dois anos sem edições do evento em decorrência da pandemia. A competição é realizada desde 1985 e seu retorno é muito esperado por alunos e pelos educadores da rede municipal de ensino. Além disso, de‐ nunciamos o preconceito e a falta de estímulo no futebol feminino. São poucas as iniciativas que visam de‐ senvolver o esporte no âmbito local. Ao mesmo tempo que cresce o núme‐ ro de meninas interessadas em seguir carreira na área esportiva, a escassez de apoio e as manifestações preconceituosas contribuem para a falta de estímulo das atletas. Por fim, as cartas, meio tão anti‐ quado e romântico de comunicação, mostram que ainda funcionam como estratégia de conexão e registro. A matéria traz o relato de um casal que trocava cartas de amor na década de 1960, quando ela ficou na cidade de Ponta Grossa e ele foi para a Pales‐ tina em uma missão de guerra. Ve‐ nha conhecer essa história e de inúmeros outros pontagrossenses com o nosso jornal!

Diagramadoras/diagramadores: Ana Carolina Barbato, Ana Moraes, Cassia‐ na Tozati, Catharina Iavorski, Janaina Cassol, Kathleen Schenberger, Leriany Barbosa, Lili‐ an Magalhães, Lincoln Vargas, Tamires Li‐ murci, Victória Sellares e William Brasil. Editoras/editores de Texto: Amanda Martins, Ana Luiza Bertelli Dim‐ barre, Carlos Solek, Carolina Olegário, Die‐ go Chila, Isadora Ricardo, Maria Helena Denck, Maria Luiza Pontaldi, Mariana Gon‐ çalves, Matheus Gaston, Valéria Laroca. Editoras/editores de Imagem: Isadora Ricardo, Kadu Mendes, Maria Edu‐ arda Ribeiro. Repórteres: Consulte a autoria das reportagens direta‐ mente na página da notícia. Foca Livre é o jornal­laboratório do curso de Jornalismo da UEPG Contato: uepgfocalivre@gmail.com Departamento de Jornalismo UEPG ­ Campus Central ­ Praça Santos An‐ drade, nº01 ­ Centro CEP: 84010­330 ­ Ponta Grossa ­ PR ­ Tele‐ fone: +55 (42) 3220­3389 Jornal produzido e editado na disciplina “Núcleo de Redação Integrada I” Professores: Cândida de Oliveira (MTB 16767 ­ RS) e Rafael Kondlatsch ( MTB ­ 6730 ­ PR) Notícias integradas com a disciplina “Pro‐ dução e Edição de Textos Jornalísticos II” Responsável: Prof. Muriel Emídio Pessoa do Amaral (MTB 6963 ­ PR)

Confira a edição digital do Foca Livre:


UEPG MARIA HELENA DENCK

03

Volta da feira de economia solidária anima vendedores LINCOLN VARGAS

Acadêmicos pagam mais caro pelas refeições ou as trazem lanche de casa

Sem cantina, alunos não têm opções para alimentação Alternativas próximas à UEPG são caras e escassas MARIA HELENA DENCK

Quando os alunos da Univer‐ sidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) retornaram às aulas pre‐ senciais em março, estranharam a ausência das cantinas. Para mui‐ tos, essa era uma opção de ali‐ mentação entre as aulas ou até mesmo substituia refeições do Restaurante Universitário (RU). A falta da cantina fez com que estu‐ dantes buscassem alternativas, co‐ mo recorrer a refeições mais caras ou trazer alimentos de casa. Segundo a acadêmica de Direito, Melanie Teles, que traba‐ lha durante o dia e estuda à noite, redes de fast food são os únicos locais abertos nas redondezas do campus central, no período notur‐ no. “Eu levo sempre alguma coisa para comer durante a tarde, mas à noite estou com fome de novo”, conta. Melanie costumava tomar café antes das aulas e lamenta não encontrar maior variedade nos lo‐ cais que estão abertos. Acadêmicos de cursos in‐ tegrais, por exemplo a estudante de Farmácia, Brenda Alves, en‐ frentam dificuldades para se ali‐ mentar de maneira regrada. Por morar longe da universidade, ela passa a maior parte do dia no campus, e sente falta de comprar na cantina. "A alimentação tem papel fundamental para a execu‐ ção correta das nossas funções bi‐ ológicas, incluindo o cérebro, o que reflete diretamente no nosso

desempenho”, afirma. Muitas das opções ao redor dos campi da universidade não oferecem alternativas saudáveis.A nutricionista Isadora Sayuri conta que estudantes universitários rela‐ tam cansaço e esgotamento men‐ tal durante as consultas. De acordo com a profissional, quan‐ do os pacientes acrescentam mais fibras e vitaminas na alimentação, têm um aumento na disposição e rendimento. “Comer mal pode ge‐ rar uma inflamação no corpo, le‐ vando a uma síndrome metabólica que colabora para a falta de rendi‐ mento acadêmico”, explica. Para Isadora, uma das soluções para comer melhor no período das au‐ las é trazer comida de casa, focar em alimentos com mais nutrientes e evitar ultraprocessados. Cantina A assessoria de imprensa da UEPG informou, em nota, que o termo de referência para as novas concessões está em fase de con‐ clusão para encaminhamento da abertura do processo licitatório. O local onde a cantina e a livraria funcionavam no campus central será reformado e destinado a la‐ boratórios do curso de Turismo. Para atendimento emergencial, se‐ rá apresentada ao Conselho de Administração uma proposta para permissão de comércio temporá‐ rio nos campi. A previsão para efetivação é de vinte dias. O espa‐ ço e a forma de atendimento ainda são analisados pela universidade.

Depois de dois anos de pan‐ demia com a universidade fecha‐ da, a tradicional feirinha da UEPG retoma atividades. Trata­se de um evento de economia solidá‐ ria que ocorre toda quinta­feira, no campus central da universida‐ de, com a venda dos mais diver‐ sos produtos, entre eles roupas, bolsas e outros produtos artesa‐ nais, além de alimentos como ver‐ duras, legumes, pães e docinhos. O período marcado pela au‐ sência da feirinha na universidade afetou diretamente os comercian‐ tes, que se viram obrigados a bus‐ car alternativas para continuar os negócios. É o caso da dona Gene‐ cilda Lourenço Gotardo, de 70 anos, que comercializa seus legu‐ mes e verduras no campus central desde 2017. Durante a pandemia, ela teve uma queda de 70% nas vendas. “Houve uma queda muito grande no número de vendas, por‐ que não foi apenas a feira da UEPG que acabou sendo suspen‐ sa. Não podíamos vender na rua, e, escolas públicas que compra‐ vam os produtos, acabaram sendo fechadas também”. Ela conta que, durante os dois anos de ausência da feira, houve a necessidade de buscar formas alternativas para vender seus produtos. “Fazíamos bolsas com legumes e verduras para vender pela cidade, algumas pessoas compravam e nós fazía‐ mos a entrega, outros iam bus‐ car”, relata. Dona Genecilda vê com bons olhos o retorno da feira e se mostra animada. “A volta es‐ tá muito boa, semana passada trouxemos uma certa quantidade e tudo foi vendido, agora estamos

trazendo um volume maior de produtos”, afirma a comerciante. Para outros comerciantes que trabalham na feira, o período da pandemia acabou sendo mais próspero no quesito financeiro. É o que conta a dona Noemi de Oli‐ veira, de 66 anos, que vende pro‐ dutos artesanais como roupas, bonecas de pano e outros itens na feirinha da UEPG desde 2006. Ela afirma que decidiu começar a vender máscaras nessa época, o que acabou sendo uma boa alternativa. “No começo eu estava dependendo dos meus filhos, mas após um tempo comecei a fazer máscaras para vender. Vendi uma quantidade alta, já que fazia e meus filhos vendiam nos locais onde eles trabalhavam, então pra mim acabou sendo lucrativo.” Em relação a volta da feirinha, dona Noemi conta que sentia falta do convívio na universidade. “Eu sempre gostei de trabalhar aqui pela convivência com as pessoas mais jovens, e na pandemia eu sentia muita falta dessa experiên‐ cia”, comenta Noemi. Do ponto de vista dos alunos, há um consenso de que a volta da feirinha é muito positiva. É o que pensa, por exemplo, a estudante de Serviço Social, Estefany Fer‐ nanda Boiko. “Eu já vivi a experi‐ ência da feirinha antes, quando fazia cursinho popular na UEPG em 2019. A volta é ótima para to‐ do mundo. Já comprei uns produ‐ tos artesanais lá, além de uns pães caseiros, que são uma delícia”, conta. A Feira de Economia Soli‐ dária acontece, também, no Centro de Convivência do cam‐ pus de Uvaranas, em toda última quinta­feira do mês. CARLOS SOLEK

Produtos artesanais, verduras e alimentos caseiros são vendidos na Feira


04

política

Defasagem de plano de carreira afeta atuação de professores municipais Reajuste de 33% do piso salarial contempla educadores com magistério, mas não beneficia demais elevações HERYVELTON MARTINS

LERIANY BARBOSA

A ausência de um plano de carreira e de salários atualizados, com reajustes e promoções para todas as categorias, gera alta rota‐ tividade entre professores munici‐ pais da cidade. Os profissionais não encontram vantagens em atu‐ ar na rede de ensino. Para o vice­ presidente do Sindicato dos Servi‐ dores Públicos Municipais de Ponta Grossa (SindServ), Jackson Lincoln Lopes, o plano de carreira do professor no município não possui benefícios. "A oferta de emprego existe por parte da pre‐ feitura, mas muitos dos professo‐ res preferem não ocupar o cargo, devido à estagnação do plano de carreira municipal”, afirma. Jackson ainda avalia o último reajuste do piso salarial do magis‐ tério para professores. A nova complementação do piso salarial, que foi de R$ 2.886,00 para R$ 3.845,63, beneficiará, com mais ênfase e a partir de maio, os pro‐ fessores com nível magisterial. Conforme o SindServ, dos 3,3 mil professores municipais, 1,1 mil deles não têm direito à comple‐ mentação do salário. O principal motivo é que o valor acordado afeta o plano de progressão de carreira dos professores de Ponta Grossa. O reajuste também não contempla os profissionais que atingiram o limite máximo dos sa‐ lários definidos para os servidores do Município, que destina 53% do orçamento à folha de pagamento.

Professores municipais manifestam contra a falta de atualização do piso salarial

Adriana Wallis é coordenado‐ ra de um colégio da rede munici‐ pal, porém, até o ano passado, atuava como professora. Com 27 anos de carreira, ela avalia que a complementação do piso salarial deveria ser mais ampla. “O salário dos professores em início de car‐ reira era muito baixo e precisava ser reajustado urgentemente, mas, penso que deveria ocorrer o mes‐ mo com os demais professores do município", revela. A coordenado‐ ra ainda destaca que a falta de um plano estável para o magistério faz com que muitos profissionais desistam do cargo. “Pois, são pou‐ cos incentivos, muita cobrança e um trabalho de muita responsabi‐ lidade”, complementa. Segundo o SindServ, cerca de 80% das escolas municipais são integrais, o que exige contratação

de professores com carga horária de 40 horas semanais e dificulta o fechamento de contratos de 20 horas. A carga horária completa, segundo o sindicato, prejudica o desempenho e a atuação dos pro‐ fissionais. “Ser um professor de 40 horas não é vantajoso, pois co‐ mo o profissional fica o dia todo na escola, existem situações em que muitos deles não tem nem um horário digno de almoço”, afirma. A professora de Educação Fí‐ sica, Roberta Mainardes, também compartilha da mesma opinião que sua colega de atuação. Para além da sobrecarga causada pelas 40 horas, ela afirma que o aumen‐ to do piso deveria acontecer pelo salário base de cada professor e respeitar as elevações de cada um. “Como acabei de concluir um mestrado, torço para que ele saia

depois do reajuste. Caso contrá‐ rio, meu título quase não irá va‐ ler.” A professora destaca que, se tivesse uma proposta melhor, não pensaria duas vezes em desistir do cargo municipal. Essa é a realidade de Diego Petyk, que desistiu do cargo mu‐ nicipal em 2016 para lecionar na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). “Digamos que você faça uma especialização, o tempo e o dinheiro gastos não va‐ lem a pena, pois o plano de carrei‐ ra não estimula a capacitação do professor”, afirma. Além dos ca‐ sos de professores que deixam de atuar no município para migrar pro Estado ou ensino particular, há aqueles que desistem da profis‐ são. Porém, para Diego, nunca foi uma opção deixar de ser profes‐ sor, já que ele não se vê trabalhan‐ do em outra área. “Continuaria até conseguir algo melhor, pois sem‐ pre quis trabalhar com o ensino superior”, finaliza. Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Educação de Ponta Grossa (SMEPG) diz não existir dados que comprovem a existência da rotatividade do professor municipal, muito menos que a insatisfação do plano de carreira seja um dos principais motivos de desistência. Ainda, se‐ gundo a SMEPG, o magistério é uma das funções mais almejadas entre os professores e que, portan‐ to, a secretaria dispõe de um pla‐ no de carreira que valoriza os profissionais da educação.

Detentos serão transferidos de Castro para PG CARLOS SOLEK

Com a inauguração da nova penitenciária em Ponta Grossa, o município deve receber cerca de 200 detentos da cadeia de Castro. O anúncio, divulgado pelo Estado no início do ano, deve se concreti‐ zar entre os meses de abril e maio deste ano. A cidade vizinha deve‐ rá demolir a antiga penitenciária. Além das questões burocráticas, uma dúvida que preocupa familia‐ res é como funcionarão as visitas. A aposentada Maria Ramos

Scherpinski, de 82 anos, tem um neto preso há três anos. Ela la‐ menta a mudança, pois assim não conseguirá mais visitá­lo. “Eles proibiram as visitas no início da pandemia e só liberaram no fim de 2021. Consegui ver meu neto uma vez nesse ano, agora que vão mandar pra Ponta Grossa, não te‐ rei como vê­lo, por conta de pro‐ blemas de saúde e de locomoção”, relata. A Prefeitura de Castro in‐ formou que não disponibilizará transporte para as visitas em um primeiro momento.

A diarista Joselma Aparecida da Silva também possui um fami‐ liar encarcerado. Apesar das difi‐ culdades em vê­lo, ressalta o lado positivo da transferência. “A ca‐ deia daqui tem uma estrutura pés‐ sima, além de ser muito apertada devido a quantidade de presos. Lá em Ponta Grossa, pelo menos, existem condições melhores”, diz. Ela conta que o familiar chegou a ter problemas pulmonares porque precisou dormir no chão gelado uma vez que não havia locais apropriados para deitar.

Em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (SESP), a mesma informou em nota que a decisão para a transfe‐ rência deve­se a um pedido antigo da cidade de Castro. O presídio possui instalações precárias e su‐ perlotação, além de se localizar em uma área central que liga os dois maiores bairros do município (Centro e Vila Rio Branco). A mu‐ dança dos presos ocupará cerca de um terço das vagas da nova Peni‐ tenciária de Ponta Grossa, que te‐ rá capacidade de 752 vagas.


05

política

Burocratização no acesso à informação compromete prática jornalística “Meu trabalho já foi prejudicado porque não obtive uma resposta clara do órgão público”, afirma jornalista MARIA EDUARDA RIBEIRO

Após 11 anos da aprovação, a Lei de Acesso à Informação (LAI) ainda não é cumprida efetivamen‐ te em Ponta Grossa. Segundo a norma (Lei 12.527/2011), qual‐ quer pessoa pode solicitar infor‐ mações e dados públicos municipais, estaduais e federais, mas a burocratização trava o re‐ passe. Alguns órgãos públicos e os próprios agentes têm dificulda‐ des para dar entrevistas ou escla‐ recer dúvidas de profissionais e estudantes de jornalismo. “A burocratização do acesso à informação é criar obstáculos para que o jornalista ou qualquer cidadão não consiga obter infor‐ mações que são legalmente des‐ critas como de caráter público, ou, o que acontece na maioria dos ca‐ sos, ganhar tempo ou ainda escon‐ der algo que não deveria ser respondido”, esclarece o doutor em comunicação e coordenador do curso de Jornalismo da UniSe‐ cal, Helton Costa. A dificuldade para conseguir se comunicar com esferas públi‐ cas compromete a prática jornalís‐ tica e, consequentemente, fragiliza a qualidade da informação oferta‐ da à sociedade. O engessamento no acesso à informação é, muitas vezes, o principal obstáculo. Para conseguir uma entrevista com o Corpo de Bombeiros de Ponta

Grossa, por exemplo, o procedi‐ mento padrão estabelece que se deve encaminhar um ofício de so‐ licitação ao comandante do grupo. O documento deve ser impresso e também entregue em horários pré­ estabelecidos pela instituição. Protocolos, ofícios e contatos por e­mail se tornam muros entre jornalistas e a informação. Segun‐ do o jornalista Marcos Silva, de um portal de notícias na internet, muitas vezes o tempo de espera para conseguir uma resposta é longo e a maioria dos órgãos pú‐ blicos nem sempre colaboram. “Em quase todos os casos, as atu‐ ais estruturas dificultam e atrasam o trabalho dos jornalistas, pois criam­se mecanismos para dificul‐ tar o acesso à informação. Eu en‐ tendo que as equipes de Jornalismo foram feitas para en‐ curtar esse acesso da população à informação através do profissio‐ nal jornalista, mas na atual situa‐ ção é o inverso”, afirma. Assim como a assessoria da Prefeitura, o batalhão de Polícia Militar da cidade é outro órgão público que utiliza apenas e­mail como forma de contato. Recente‐ mente, o próprio Silva questionou a corporação sobre uma denúncia de possível estupro envolvendo policiais militares; ele teve retor‐ no apenas três dias depois da con‐ sulta. “Eu entendo que esses protocolos são justamente feitos

MARIA EDUARDA RIBEIRO

para atrasar o processo, para que a gente demore um pouco mais para expor a notícia ao público, e até para eles terem um tempo de en‐ contrar uma resposta adequada". O Governo do estado tam‐ bém têm vários processos buro‐ cráticos. Para o jornalista Willian Santos, que atua em rádios, o Go‐ verno do Paraná não faz questão de contribuir com o trabalho dos jornalistas. “Nunca me negaram informação, porque eles são obri‐ gados a repassar, mas dependendo do teor da pauta, criavam um pro‐

blema e diziam que precisava de um contato por telefone, depois por e­mail e a resposta das per‐ guntas nunca foram esclarecidas”, comenta Willian. Por e­mail, a assessoria da Prefeitura esclarece que não exis‐ tem outras possibilidades mais rá‐ pidas de retorno e obtenção de informações. “Nenhum pedido é atendido quando feito por telefo‐ ne. Os contatos da imprensa e, até mesmo de estudantes de Jornalis‐ mo, devem ser feitos pelo e­mail da assessoria”.

Mudanças nas urnas facilitam a votação de pessoas com deficiências HERYVELTON MARTINS

Eleitores com deficiência vi‐ sual, auditiva ou motora terão di‐ reito ao voto facilitado nas eleições de 2022. O Tribunal Re‐ gional Eleitoral (TRE) irá disponi‐ bilizar as novas urnas eletrônicas no pleito deste ano, além de me‐ lhorar recursos das que já existi‐ am. Os aparelhos passam a contar com diversos mecanismos de aces‐ sibilidade inéditos, tais como o narrador. O Presidente do Tribu‐ nal Superior Eleitoral (TSE) anun‐ ciou a mudança ainda em

dezembro de 2021. Desde então, as pessoas com algum tipo de de‐ ficiência aguardam para testar o novo equipamento. Odenil Silva é deficiente vi‐ sual desde o nascimento e conta que teve dificuldades na hora de escolher os candidatos. “O narra‐ dor era algo meio robótico, nunca saia o nome certo do candidato”, relata. Silva se refere ao problema que os narradores têm ao pronun‐ ciar alguns nomes, o que dificulta a correta identificação do candi‐ dato em que se está votando. Uma das mudanças anunciadas para o

recurso é o registro fonético do nome do candidato. Para o estudante Guilherme Gomes, que tem deficiência audi‐ tiva, a inclusão de um intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) deve facilitar seu voto. Se‐ gundo Gomes, o uso da Língua de Sinais é um marco para a história das eleições, pois agiliza o pro‐ cesso de votação. As novas urnas eletrônicas marcam uma evolução na inclu‐ são de pessoas com deficiência. Dos 150 milhões de eleitores brasileiros, 1,5 milhões têm algum

tipo de deficiência. No Paraná, se‐ gundo o Portal de Estatísticas do TSE, 80.901 eleitores afirmam ter algum tipo de deficiência visual, auditiva ou motora. O Paraná deve receber, até o início das votações, cerca de 12.221 novas urnas eletrônicas, o que representa quase 50% do quantitativo total, que chega pró‐ ximo aos 27.000. O TRE também diz que o Paraná terá em cada lo‐ cal de votação um "Coordenador de Acessibilidade", que será res‐ ponsável por ajudar os eleitores que possuem alguma deficiência.


SOCIEDADE

06

Idosos têm dificuldades com totens de autoatendimento em Ponta Grossa Aparelhos eletrônicos dificultam a acessibilidade em estabelecimentos comerciais do município LILIAN MAGALHÃES MARIA EDUARDA RIBEIRO

Não raro é encontrar os to‐ tens de autoatendimento para rea‐ lizar os pedidos em restaurantes, lanchonetes, mercados e bancos. Símbolos de modernidade para os mais novos, podem ser um pro‐ blema para os idosos. A vergonha de não saber operar os dispositi‐ vos é queixa frequente entre os usuários de mais idade. A aposentada Rosa Silva relata dificuldades em manusear totens de touch screen e quando precisa fazer operações mais com‐ plexas, como usar caixas eletrôni‐ cos. “Quando sou indicada a ir para várias telas, me perco no atendimento e preciso pedir ajuda a alguém. Uma vez tentei fazer uma operação mais difícil sozinha e demorou mais tempo do que o esperado”, relembra. No caso de Tereza do Rosá‐ rio, de 89 anos, o seu contato com o autoatendimento é bastante li‐ mitado. “Não vou a bancos, res‐ taurantes ou lojas sozinha, pois sei que vou precisar de ajuda”, conta. Sempre acompanhada da filha ou dos netos para auxiliá­la, Tereza não utiliza outro aparelho eletrônico além do tablet. “Se aparece alguma coisa diferente na

Atendimentos feitos no estilo "self-service" afasta pessoas mais velhas

minha tela, preciso que alguém me ensine a manusear. Eu não entenderia uma máquina muito rápida ou com palavras difíceis sozinha”, afirma. Acessibilidade Para a acadêmica Maria Edu‐ arda Baptista, que cursa Serviço Social na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e faz es‐ tágio na Incubadora de Empreen‐ dimentos Solidários (IESol), a inclusão social dos idosos é com‐

prometida quando eles não são instruídos à modernização de for‐ ma adequada, o que passa pelos campos econômico e educacional e requer engajamento cívico. Além disso, segundo Maria Edu‐ arda, os idosos tendem a sofrer preconceito pela idade e nem sempre a inclusão é correta. “A faixa etária dos idosos sofre de analfabetismo digital, pois um acesso não orientado à apropria‐ ção do uso dos artefatos tecnoló‐

gicos de forma adequada pode ser um falseamento da inclusão, colo‐ cando em risco o bem estar do usuário”, afirma. Nos que oferecem o serviço, geralmente existe um funcionário para auxiliar o uso dos equipa‐ mentos. Daiane Aparecida, fun­ cionária de uma franquia de fast­ food em Ponta Grossa, explica que o corte de gastos realizado pela lanchonete durante a pande‐ mia afetou a dinâmica dos cargos do restaurante. “Quando você en‐ tra na lanchonete, o anfitrião deve estar indicando como utilizar os totens. Entretanto, a quantidade de funcionários diminuiu, então o próprio caixa ou alguém da cozi‐ nha deve auxiliar nesta função.” Dois mercados do município implementaram o autoatendimento nos últimos meses, mas a adesão não é consenso entre os estabeleci‐ mentos. Renato Hoinaski, gerente de departamento de um hipermer‐ cado, diz que a sua sede optou por ainda não aderir a este serviço no momento. “É um estilo de self­ser‐ vice que pode assustar os clientes idosos que ainda se importam com o atendimento bairrista. Pagamen‐ to por código QR já é uma novida‐ de, eliminar o atendimento cara a cara vá um pouco além.”

Após pandemia, cardápios digitais ganham espaço em restaurantes locais TAMIRES LIMURCI

Em restaurantes e lanchone‐ tes é possível fazer pedidos sem a necessidade de esperar o aten‐ dente trazer o cardápio até a me‐ sa. O material impresso dá lugar aos acessos por QR code, um có‐ digo que direciona o usuário a links por meio do uso da câmera do celular. Com a pandemia da Covid­19, os cardápios virtuais contribuíram para evitar o conta‐ to entre as pessoas. Apesar da facilidade, o recurso pode trazer complicações no dia a dia. Segundo pesquisa online re‐ alizada pela reportagem, 64 de 97 respondentes dizem não gos‐

tar do cardápio virtual, devido principalmente à necessidade de um celular compatível, além de um plano de internet ou wi­fi. De acordo com o acadêmico de direito Lucas Lamy, existem situações em que a tecnologia traz benefícios, mas depende do ambi‐ ente, como restaurantes ou bares por exemplo. Para a estudante do ensino médio Sofia Casacchi, o uso de QR codes nos restaurantes interfere na comunicação. “Ao invés de conversarem entre si, as pessoas ficam ocupadas olhando para os seus próprios celulares.” Segundo a estudante de mo‐ da Luana Barbosa, os cardápios digitais diminuem o uso de pa‐

pel e a produção de lixo. Porém, o recurso pode segregar os clien‐ tes que não dispõem de recursos tecnológicos para seu acesso. “Estabelecimentos que possuem cardápio digital são projetados para outro público­alvo, aqueles que possuem acesso e são adep‐ tos às tecnologias atuais; é um pouco excludente para as classes populares”, observa Luana. A adesão à inovação em um restaurante local ocorreu pela facilidade em atualizar o cardápio sem precisar imprimir novas cópias. Mas, por conta do público de idade diversificada, eles oferecem outras opções pa‐ ra quem tem dificuldades de

acesso, como fazer a leitura do cardápio e a disponibilização de wi­fi. Segundo Luiz Antônio, funcionário do estabelecimento, foi difícil se adaptar à tecnolo‐ gia. “Com o cardápio na mesa, os clientes pediam dois, três itens. Com o QR code, pedem o mínimo possível para não ter que abrir o celular novamente.” De acordo com o gerente de um café na cidade, Daniel Wagner, as pessoas estão se adaptando cada vez mais aos cardápios digitais, mas o local mantém versões físicas descar‐ táveis para clientes que possu‐ em alguma dificuldade.


SOCIEDADE

07

Rússia e Ucrânia: Uma guerra que ultrapassa fronteiras Questões históricas, econômicas e nacionalistas estão na base do conflito VALÉRIA LAROCA E CASSIANA TOZATI

De acordo com o projeto Da‐ dos de localização e eventos de conflitos armados (Aclec, na sigla em inglês) há 28 conflitos ativos ao redor do mundo em 2022. Quais são as particularidades da guerra entre Rússia e Ucrânia? “A maior motivação para um gover‐ nante querer uma guerra é sempre o poder”, esclarece o historiador e sociólogo Gismo Cavalheiro, so‐ bre as razões que levaram o presi‐ dente da Rússia, Vladimir Putin, a invadir o território da Ucrânia no dia 24 de fevereiro. O anúncio da ofensiva militar ocorreu após mo‐ vimentações entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da Ucrânia, Vo‐ lodymyr Zelensky, sobre uma possível entrada deste país na Or‐ ganização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), aliança que foi criada para proteção dos países membros por meio de ações di‐

plomáticas ou militares. De acordo com o historiador, para compreender as tensões entre Rússia e Ucrânia, é necessário voltar ao contexto da Guerra Fria e da dissolução da União das Re‐ públicas Socialistas Soviéticas (URSS) em 1991. Com a extinção da URSS, os países do Leste Eu‐ ropeu que compunham o bloco tornaram­se independentes, dentre eles, a Ucrânia. A partir dos anos 2000, a OTAN avançou entre os países ex­soviéticos e a Rússia perdeu a influência política e militar na re‐ gião. Com a chegada de Putin à presidência, em 2003, foi iniciado um plano de reconquista de poder político e de territórios na região. Isso aumentou as tensões entre o governo russo e o ucraniano. So‐ bretudo depois que os Estados Unidos iniciaram, em 2008, pro‐ cesso para uma possível adesão da Ucrânia à aliança e após os ucra‐ nianos sinalizarem associação à União Europeia (UE).

Entre 2013 e 2014, a Ucrânia passou por vulnerabilidades go‐ vernamentais. O presidente Víktor Yanukóvytch, contrário a acordos econômicos do país com o bloco europeu, foi deposto após uma onda de protestos. No mesmo pe‐ ríodo, a Rússia anexou a Penínsu‐ la da Criméia, território ucraniano, e fomentou lutas separatistas na região de Donbass, leste do país, onde a maioria da população se identifica como russa. Apesar dis‐ so, em junho de 2014, o recém eleito presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, assina acordo de li‐ vre comércio com a União Euro‐ peia. Em Donbass, com o apoio bélico da Rússia, grupos separa‐ tistas intitularam duas repúblicas populares em Donetsk e Lugansk, apesar de acordos firmados em 2014 para interromper os confli‐ tos. Para Gismo Cavalheiro, é im‐ portante frisar as motivações do presidente Putin. “Ele possui ide‐ ais conservadores e imperialistas.

O apoio que oferece aos grupos separatistas, alegando oferecer li‐ berdade para as duas repúblicas, visa garantir a área de segurança e estratégia militar na fronteira”, explica o historiador. Segundo o geógrafo, mestre em geopolítica e relações interna‐ cionais, Douglas Rundvalt, a as‐ censão de Zelensky, pró­ocidente, reiniciou as tensões com a Rússia. Segundo Rundvalt, devido à pro‐ ximidade entre a capital Kiev e Moscou, a entrada da Ucrânia à OTAN significaria uma ameaça iminente, já que o país e os EUA estariam separados apenas pela fronteira ucraniana, aumentando possíveis fragilidades econômicas e de segurança. Com uma possível ligação comercial direta entre Ucrânia e UE, parte da dependência euro‐ peia na importação de grãos e óleo russos seria cortada, já que o território ucraniano também é um grande exportador, principalmente de óleo de girassol, trigo e milho. VALÉRIA LAROCA

Fatores religiosos e culturais Além de questões políticas históricas, aspectos religiosos, econômicos e que favorecem a as‐ censão do nacionalismo estão na base do problema. “Quando fala‐ mos do conflito Rússia x Ucrânia, é muito importante frisar o con‐ texto cultural da região. São situa‐ ções complexas que envolvem até mesmo a Igreja Ortodoxa ucrania‐ na e a russa”, comenta Gismo. De acordo com o cientista político Marcelo Bordin as guer‐ ras estão intimamente ligadas ao sentimento nacionalista imposto no discurso poítico de seus gover‐ nantes. O crescimento de políticos outsiders, como o caso de Ze‐ lensky na Ucrânia, colaborou para o surgimento de novas tensões. “Políticos que dizem não ser liga‐ dos a nenhum tipo de grupo já

existente ou ‘novos’, é um fator para que a população passe a acreditar em outros discursos, que despertam de certa forma o orgu‐ lho nacional, mesmo não sendo pessoas que tenham um bom pre‐ paro para estar no poder”. Depoimentos Mesmo a muitos quilômetros de distância, os descendentes ucranianos lamentam o sofrimen‐ to causado pela guerra. Prudentó‐ polis, maior colônia de imigrantes fora da Ucrânia, e Ponta Grossa, têm muitas famílias apreensivas com o conflito. Os avós paternos de Helena Bezuska foram imigrantes e ela ainda tem parentes na Ucrânia. “Minha prima disse que foi tudo muito triste, sobretudo ver adultos e crianças morrerem. Eles esta‐ vam na fila para abastecer o carro

e fugir, uma fila de 30 km”, conta, ao relembrar o primeiro bombar‐ deio da Rússia. Helena relata que, depois disso, não conseguiu mais falar com sua prima e conhecidos. “Não sabemos o que está aconte‐ cendo, se eles conseguiram ou não fugir, se estão bem. Vamos ver quando acabar a guerra, se va‐ mos conseguir entrar em contato com alguém”, lamenta. Por ser muito próxima à cul‐ tura ucraniana, Helena procura mantê­la na família. Ela diz que sabe o idioma e tenta ensinar aos netos. “É sempre bom mantermos a cultura dentro da gente, porque nascemos e crescemos com ela. Fomos criados em colégios de pa‐ dres e de freiras, aprendendo a re‐ zar, falar e escrever em ucraniano. É importante manter isso na famí‐ lia, pois já são poucos os que co‐

nhecem o idioma”, conta. Sueli Hellmann de Souza também é descendente de família ucraniana por parte do avô mater‐ no. Ela é auxiliar administrativo há quase 17 anos na Paróquia Ca‐ tólica Ucraniana Transfiguração de Nosso Senhor, em Ponta Gros‐ sa, onde são mobilizadas campa‐ nhas humanitárias. “Para os ucranianos, a fé é muito forte e marcante. Junto da Igreja cultiva‐ mos nossos costumes religiosos que são especialmente muito lin‐ dos”, afirma ao explicar o papel da igreja neste momento. Sueli diz que usa de sua fé para que a paz retorne à Ucrânia. “É um país de pessoas de bem que não mere‐ cem estar vivendo esse massacre. Sinto muita tristeza e só peço que a paz seja restaurada o quanto an‐ tes”, finaliza.


ESPECIAL

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Centros acadêmicos e que esperam d

Alunos reclamam da infraestrutura e uso de equipamentos velhos ou quebr ISADORA RICARDO

A votação ocorreu no sábado (09) e quarta-feira (13) nas dependências da UEPG no Campus Central e de Uvaranas

Isadora Ricardo e Bettina Guarienti

A chapa “Sempre UEPG” venceu as eleições da Universida‐ de Estadual de Ponta Grossa, com 56,9% de votos. Assumem os car‐ gos majoritários, Miguel Sanches Neto e Ivo Mottin Demiate, como reitor e vice­reitor, respectivamen‐ te. Os candidatos ao cargo de Rei‐ tor, nas duas chapas que concorriam à eleição, atuaram juntos na última gestão de 2018 à 2022. Desta vez, a chapa vence‐ dora disputou contra “UEPG! Im‐ portante é você!”, do professor Everson Augusto Krum. A campa‐ nha eleitoral encerrou no dia 8 de abril e as votações ocorreram nos dias 9 e 13 de abril. Os votos fo‐ ram apurados ainda no dia 13, após o término das votações. A nova gestão assume a Universida‐ de em 1º de setembro de 2022, com o final do mandato previsto para o dia 31 de agosto de 2026. Para a eleição deste ano, es‐ tavam aptos à votação 13.288 pes‐ soas, entre discentes, docentes e agentes universitários, os dois úl‐

timos sendo obrigados a votar. Ao todo, somente 3.693 pessoas com‐ pareceram às urnas, registrando 9.595 abstenções. A chapa vence‐ dora teve 1.004 votos, 25 eleitores votaram em branco e 53 nulos. Os Centros Acadêmicos e re‐ presentantes dos estudantes dialo‐ gam sobre a necessidade de melhorias nos departamentos, la‐ boratórios e infraestrutura da Uni‐ versidade. Entre as principais demandas estão a reforma do piso do pátio do Campus Central, meio de locomoção no Campus de Uvaranas, a disponibilização de itens de higiene básica nos ba‐ nheiros e a manutenção dos equi‐ pamentos de disciplinas práticas. O Centro Acadêmico do cur‐ so de Enfermagem realizou dis‐ cussões sobre a eleição na UEPG, e vê a necessidade de uma admi‐ nistração participativa. “Espera‐ mos que seja uma gestão comunicativa e democrática, que atenda não só a necessidade de al‐ gumas minorias, mas de todos”, diz Sherlyn Souza, presidente do Centro Acadêmico. Nos laborató‐ rios de enfermagem faltam mate‐

riais de testagem de técnicas, além dos bonecos de estudo esta‐ rem debilitados. "É preciso inves‐ tir em materiais. Enfermagem é prática, se não temos o material necessário fica complicado, preci‐ samos improvisar”, comenta.

Muitos alunos acabam desistindo porque sentem o curso pouco valorizado em relação às outras áreas ­ Alexandre Kapusniak, História

Já no departamento de enge‐ nharia de materiais, o Centro Aca‐ dêmico conta que a última gestão, composta por Miguel e Emerson, atendeu as necessidades do setor. “Nosso bloco está muito bom, desde cadeiras novas até vidraça‐ ria, equipamentos caríssimos fo‐ ram consertados e temos internet”, afirma a vice­presidente, Luiza Pauzer. De acordo com ela, houve também a instalação de ar­condici‐ onados em todas as aulas de aulas

teóricas e, apesar do problema ini‐ cial com falta de luz e mal contato das tomadas, o contratempo foi re‐ solvido. “A gente construiu e inau‐ gurou o nosso bloco. Por mais que tenha apoio financeiro do governo federal, tivemos apoio da reitoria também”, explica a estudante. Para Paulo André Pupo, pre‐ sidente do Centro Acadêmico de Odontologia, um dos primeiros cursos a voltarem com aulas práti‐ cas presenciais depois do fecha‐ mento da universidade, em 2020, o departamento está bem organi‐ zado, mas ainda assim, existem demandas a serem atendidas. Por terem muitos materiais, a Univer‐ sidade fornece armários para que não seja necessário levar equipa‐ mentos para casa todos os dias. Entretanto, Paulo relata que estão velhos e precisam ser trocados. “A maioria dos estudantes deixa as coisas no armário, gastamos mui‐ to dinheiro em material, então te‐ mos que ter um local seguro”. Além disso, ele também vê a ne‐ cessidade de mudanças no perfil esportivo, como uma maior dispo‐ nibilidade da estrutura da UEPG para treinos, pensando em eventos como os Jogos Inter Atléticas (Joia). “Esperamos uma atenção maior ao lado esportivo, afinal é necessário atrelar o esporte à roti‐ na estudantil”, afirma Paulo. Caroline Schmidt, integrante da chapa provisória de Serviço Social, conta que o departamento não possui estrutura adequada. Segundo ela, o laboratório de in‐ formática é compartilhado com o curso de Turismo, e falta um espa‐ ço para abrigar a biblioteca do Centro Acadêmico, tendo que guardar alguns livros doados na casa dela, ou em uma sala cedida pelas professoras. Entre as ações pensadas para a próxima Reitoria, ela fala da inclusão dos alunos na UEPG. “É possível a elaboração de projetos que beneficiem as alu‐ nas mães, visto que é difícil a per‐ manência dessas mulheres. Além


ESPECIAL

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e estudantes relatam o da nova gestão

rados. Diálogo e melhorias nos campi estão entre as principais expectativas ISADORA RICARDOI

disso, poderia haver um maior en‐ volvimento da comunidade para que exista valorização do ensino público”, afirma Caroline. No departamento de História, de acordo com o integrante do Di‐ retório Acadêmico, Alexandre Ka‐ pusniak, a infraestrutura é ade­ quada e, no geral, está em bom estado. No entanto, ele vê a ne‐ cessidade de diálogo e incentivo da Universidade. “Muitos alunos acabam desistindo porque sentem o curso pouco valorizado em rela‐ ção às outras áreas”, afirma. Ele entende que o melhor caminho para melhorias na próxima gestão é a comunicação com discentes. “Esse diálogo é fundamental para que os alunos possam se posicio‐ nar e trazer ideias, construindo uma comunidade acadêmica com pluralidade de vozes”, finaliza.

Espero que seja uma gestão democrática, que atenda não só a necessidade de algumas minorias, mas de todos ­ Sherlyn Souza, Enfermagem

Estudantes O jornal Foca Livre realizou uma pesquisa com os acadêmicos da universidade nos dois últimos dias da campanha eleitoral, 7 e 8 de abril, e verificou a postura dos estudantes frente à votação. Dos 54 acadêmicos que responderam ao questionário, 50 optaram por votar nas eleições, e destes, 34 le‐ ram os cadernos de propostas. De forma geral, os estudantes também apontam problemas e di‐ zem o que esperam da próxima gestão com relação a universidade e a cada departamento específico do curso que frequentam. De acordo com o estudante Matheus Diniz, de Física, o curso depende de materiais para testes e várias

Antes companheiros, os professores Everson e Miguel concorreram por chapas diferentes pela reitoria da UEPG

vezes foi necessário utilizar equi‐ pamentos quebrados ou velhos. “Teve uma vez que precisei usar produtos vencidos em um experi‐ mento. A professora falou que era pra usar assim mesmo, porque não havia dinheiro para comprar novos”, afirma o estudante, citan‐ do que o produto mais novo que possuem venceu em 2019. E a diferença entre os campi também incomoda. “Podia ter mais atenção ao Central porque é mais velho, parece que foi uma construção abandonada e está sen‐ do usado, Uvaranas está mais conservado”, aponta o acadêmico de Ciências Contábeis, Isaac Bas‐ so. Opinião reforçada pela aluna de Direito, Luiza Fogaça. “Os ba‐ nheiros não têm trinco, nem pa‐ pel, retornamos da pandemia mas parece que continua a mesma coi‐ sa de antes”, conta. Questões co‐ mo essa, segundo Isaac, mostram descuido com os alunos. “Tem que dar um enfoque melhor para os novos acadêmicos, porque a evasão escolar é muito grande, acabamos nos desiludindo com a faculdade”, afirma o estudante.

Informações da chapa eleita: Miguel Sanches Neto, reitor reeleito, é formado em Letras, especializado em Literatura Brasileira, Mestre pela UFSC e Doutor pela Unicamp. Atua na UEPG desde 1993, assumindo diversos cargos ao longo dos anos, como professor, editor da Editora UEPG, Pró­ Reitor de Pesquisa e Pós­graduação e Pró­Reitor de Extensão e Assuntos Culturais. O vice­reitor, Ivo Mottin Demiate, fez Agronomia na UEPG, Mestre pela USP, Doutor pela Unicamp e fez pós­doutorado na Iowa State University (EUA). É Professor da UEPG e bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq. Algumas das principais propostas: • Ampliação de vagas de moradia estudantil; • Oferta de café da manhã nos restaurantes universitários; • Ampliar ações pedagógicas facilitando acessibilidade de pessoas com deficiência; • Dar suporte online a todos os serviços da Prograd; • Promover modernização de equipamentos e espaços didáticos dos cursos; • Desenvolvimento de aplicativo para celular com informações acadêmicas; • Nomear 50% dos cargos com mulheres; • Realizar diagnósticos para implementar ações práticas de enfrentamento à retenção e a evasão.


cidade

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Lei não garante segurança às mulheres em casas noturnas de Ponta Grossa A reportagem apurou que 97,4% das mulheres entrevistadas gostariam de ações e leis mais efetivas BETTINA GUARIENTI

BETTINA GUARIENTI E CATHARINA IAVORSKI

Desde 2020, a mulher que sair de algum estabelecimento no­ turno em Ponta Grossa pode ser acompanhada por um funcionário até o carro para garantir sua segu­ rança. Elas também podem solici­ tar ao bar o “drink de emergência” na suspeita de assédio. Essas são medidas que fazem parte da lei 13.748/2020 de autoria do verea­ dor Geraldo Stocco (PSB). Porém, a eficácia da lei foi questionada por mulheres em pesquisa realiza­ da pela reportagem. Por meio de formulário onli­ ne, respondido por 42 mulheres de 18 a 42 anos, percebeu­se que a lei é insuficiente para garantir a segurança e proteção em caso de assédio. Quando perguntadas se elas se sentiam seguras com as formas de auxílio previstas pela lei, 15,8% indicam não se senti­ rem nada seguras, 13% relatam incerteza quanto à segurança e apenas 5,3% dessas mulheres se sentem completamente seguras. Segundo a estudante Caroli­ na Ugnes, a lei não evita o cons­ trangimento. “O local só toma alguma atitude após o assédio", afirma. Ela ainda conta que sente medo de, após sair da festa, ser seguida pelo assediador, já que ele apenas vai ser denunciado previa­ mente, e não há o envolvimento de ações mais efetivas, quanto à punição pelo assédio. Uma outra estudante, que pe­ diu para não ter seu nome divul­ gado, relata que já sofreu perseguição enquanto estava em um bar da cidade. Ela foi seguida até o banheiro e depois quando foi embora do local, e não recebeu nenhuma forma de auxílio. Além das questões apresenta­ das, 97,4% afirmaram a necessi­ dade de uma maior eficácia em políticas públicas para a defesa da mulher contra o assédio. “Educar mais pessoas, ao invés de ensinar mulheres como se defender e fa­ zê­las depender de mecanismos e táticas de fora, com certeza não deve ser uma medida eterna” rela­ ta uma das respondentes. Limites da lei De acordo com o criador da lei, Geraldo Stocco, não há ne­

Trabalhadoras de estabelecimentos noturnos relatam que sofrem mais assédio do que as clientes nos locais

nhum mecanismo de fiscalização nesses locais, visto que a Secreta­ ria de Segurança ainda não deci­ diu sobre o assunto. Quanto à efetividade, ele afirma que não é possível que ela garanta total pro­ teção às mulheres. “Acredito que essa lei ajuda a coibir casos de as­ sédio, para que pessoas que vão mal intencionadas até os locais. Sendo assim, proteger é um termo complicado nesse contexto, acre­ dito que coibir seja o objetivo maior dessa lei”, afirma. A repor­ tagem entrou em contato com sete estabelecimentos, entre bares e casas noturnas, sobre o cumpri­ mento da lei, mas até o fechamen­ to da edição, nenhum deles retornou o contato. Trabalhadoras O relato em comum entre a maioria das trabalhadoras dos es­ tabelecimentos de entretenimento de Ponta Grossa é o constante as­ sédio por parte de clientes e cole­ gas de trabalho. De acordo com dados de 2021 da Associação Bra­ sileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e da Confederação Na­ cional do Comércio (CNC), esti­ ma­se que existam 5,5 milhões de trabalhadores no setor de bares e

restaurantes. Destes, 55% são mu­ lheres. As ações frequentemente relatadas pelas trabalhadoras, es­ tão crimes de importunação sexu­ al tais como beijo roubado, puxão pelo braço, agarrar pela cintura e toques no corpo sem autorização. Os relatos delas são muitos. Maria*, atendente de um bar na região de Olarias, frequentado principalmente por homens, conta que por ser a única mulher do estabelecimento, os clientes sen­ tem­se confortáveis para tratá­la com desrespeito. “As situações acontecem todos os dias, nem sempre assédio, mas sem sombra de dúvida posso te dizer que rece­ bo olhares maliciosos e cantadas todos os dias ”, relata. Além de sofrerem assédio, muitas trabalhadoras não conse­ guem denunciar. Júlia*, barmaid de uma casa noturna na região do centro de Ponta Grossa, relata o medo. “A gente vê casos de mu­ lheres que denunciam e são leva­ das como piada o tempo todo, é muito difícil”, diz. Uma de suas experiências teve consequências psicológicas e ela precisou inter­ romper a jornada de trabalho do dia. “Um cara me agarrou pelo

braço através do balcão e disse que só ia me soltar se desse um beijo nele. Estava muito apavora­ da porque ele me segurava muito forte e eu não conseguia me sol­ tar”, revela. A situação resultou em uma crise de ansiedade e o se­ gurança do local retirou o homem do balcão, mas não da festa. “A casa estava cheia e ninguém fez nada, foi o que mais me assustou. Nós que trabalhamos nos bares sofremos mais assédio que as cli­ entes, estamos em contato direto com os agressores”, afirma a bar­ maid. Além de passar pelo cons­ trangimento de não ser atendida, ela relata que o emprego no bar é sua única fonte de renda, o que di­ ficulta a denúncia. “Não consigo conversar com quase ninguém so­ bre isso, não posso perder meu trabalho aqui ”, conta. A lei municipal, entretanto, em nenhum momento trata da proteção às trabalhadoras. Elas são obrigadas a ajudar e socorrer outras mulheres, mas não há cláu­ sula que dê suporte a sua condi­ ção de vulnerabilidade ao assédio. *Por motivos de segurança, as identidades das fontes foram resguardadas na reportagem.


CIDADE

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Acidentes de trabalho em Ponta Grossa apresentam alta em 2022 No primeiro trimestre, ocorreram quatro mortes, mais da metade do total de óbitos registrados em 2021 ISADORA RICARDO

ISADORA RICARDO

O mês de abril é conhecido pelo combate aos acidentes de tra‐ balho. Em Ponta Grossa, o cená‐ rio não é dos melhores e a tendência para os próximos meses é que o número de óbitos ultra‐ passe os do ano anterior. O aci‐ dente de trabalho ocorre quando o empregado, no exercício da sua função, sofre algum tipo de lesão corporal ou perturbação funcional que pode causar morte, redução temporária ou permanente da ca‐ pacidade para o trabalho. De acordo com o 2º Grupa‐ mento de Bombeiros (GB), que cobre a região dos Campos Gerais do Paraná, foram atendidas 662 vítimas de acidentes de trabalho no ano passado, constando sete óbitos. Do início de 2022 até me‐ ados de março, foram 95 atendi‐ mentos e quatro mortes, média de uma a cada 23 ocorrências. Os motivos mais frequentes para o suporte são colisões, atropelamen‐ to, choque elétrico e tombamento. Uma trabalhadora, que não quis ser identificada, foi contrata‐ da em julho de 2021 para atuar como operadora de produção em uma indústria metalúrgica de Pon‐ ta Grossa. No primeiro dia de tra‐ balho, a função pré­definida foi alterada e ela ficou responsável

Sem uso de Equipamento de Proteção Individual, o risco de acidentes cresce

pela operação de máquinas. Em setembro, machucou a mão, foi encaminhada ao UPA e ficou qua‐ tro dias afastada do emprego. “Voltei a trabalhar com minha mão doendo e inchada. Toda sexta eu ia até o massagista da empresa para passar pomada e enfaixar, mesmo assim, o problema não es‐

tava sendo resolvido e fui demiti‐ da’’, explica. A justificativa da empresa referente à demissão da funcionária foi por haver muita contratação, sendo necessário dis‐ pensar algumas pessoas. Outro trabalhador, que prefe‐ riu não ser identificado, também foi vítima de acidente de trabalho.

“Eu estava indo para a empresa de moto e sofri uma colisão com um carro. Não tive fratura exposta, mas uma luxação no tornozelo e também nas mãos’’. Neste caso específico, o acidente é laboral, pois ele estava no percurso da re‐ sidência para o emprego. De acordo com o engenheiro de segurança do trabalho, José Aparecido Leal, durante a pande‐ mia da Covid­19 o número de aci‐ dentes cresceu no estado do Paraná. “Tivemos a desobrigação do cumprimento das normas regu‐ lamentadoras, com isso, o número de ocorrências aumentou’’, expli‐ ca. Ele ressalta a importância da conscientização no trabalho, sen‐ do necessário o fornecimento de equipamentos de proteção indivi‐ dual (EPI) aos funcionários. Segundo José Aparecido Le‐ al, após uma ocorrência, o empre‐ gado deve fazer o registro de Comunicação de Acidente de Tra‐ balho (CAT) no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para ter seus direitos garantidos. Indepen‐ dente do tempo de atestado, o co‐ laborador recebe o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Em situações mais gra‐ ves, o funcionário pode recorrer à aposentadoria por invalidez, que ocorre quando há incapacidade de retornar ao serviço.

Número de imunizados para outras doenças além da Covid cai em Ponta Grossa MARIANA GONÇALVES

Na pandemia da Covid­19, o índice de vacinação de combate a outras doenças caiu consideravel‐ mente. Segundo o Sistema de In‐ formação do Programa Nacional de Imunizações, em Ponta Grossa as vacinas de combate à poliomie‐ lite para crianças de até quatro anos tiveram queda brusca. Em 2020, 101,15% do público alvo foi vacinado, enquanto em 2021 a porcentagem caiu para 63,94% . O mesmo ocorreu com a BCG, vacina contra a tuberculose. Em 2020, 90,27% da população se imunizou e, em 2021, os números caíram para 72,79%.

A baixa vacinação traz à tona a preocupação com o possível res‐ surgimento de doenças que já estavam erradicadas, como o sa‐ rampo. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, em 2019, o Pa‐ raná registrou 1653 casos da do‐ ença; em 2020, foram 428 casos. O sarampo é uma doença alta‐ mente transmissível que pode pro‐ vocar febre, tosse, coriza e manchas vermelhas pelo corpo. Em casos mais graves, pode cau‐ sar pneumonia, encefalite, poden‐ do até levar à morte. De acordo com a coordena‐ dora de imunização de Ponta Grossa, Stela Godoy, a principal responsável pela erradicação de

doenças é a imunidade de reba‐ nho, quando o percentual elevado de imunizados faz com que a transmissão de uma doença seja interrompida. "Nossa meta é man‐ ter a imunidade de rebanho e fa‐ zer essa busca ativa para manter a vacinação em dia", afirma. Como forma de incentivar a vacinação para o público infantil, Ponta Grossa lançou estratégias. "O município optou por abrir uma vez por mês as salas de vacinação nos sábados para a atualização da carteirinha, sem necessidade de agendamento prévio", conta a co‐ ordenadora de imunização. Felipe Corrêa Santos, diretor de arte, conta que antes da pande‐

mia o ato de se vacinar não era prioridade, mas que as campanhas contra o coronavírus foram um in‐ centivo. "Agora temos uma noção maior da importância da imuniza‐ ção contra todas as doenças". Ele, que é pai de uma criança portado‐ ra de Artrogripose Múltipla Con‐ gênita (AMC), explica que, desde o nascimento da filha até sua se‐ gunda cirurgia, feita aos 3 anos de idade, manteve a carteirinha de vacinação em dia. "No período em que ela usou gesso, perdemos algumas vacinas do calendário. Depois disso, teve um período em que deixamos a vacinação de la‐ do, mas todo o cuidado foi reto‐ mado após o retorno das aulas".


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Saúde e sociedade

Perda de memória é uma das principais sequelas entre pacientes de covid-19 Pacientes relatam dificuldade em memorizar lembranças recentes e elaborar frases JANAINA CASSOL

Mesmo após a recuperação da doença, pacientes que tiveram covid­19 enfrentam período com sequelas. Entre as reclamações es‐ tão a perda de memória, dificulda‐ des de atenção, memorização e linguagem. De acordo com um es‐ tudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), cerca de 51% dos pacientes apresentaram declínio da memória. Pesquisado‐ res avaliaram 425 pessoas do Hospital das Clínicas entre seis e nove meses após a alta hospitalar, que apresentaram sintomas mode‐ rados e graves. Dentro desses números está Nara Camilo, de 24 anos. Ela con‐ traiu o vírus em abril de 2020 e teve sintomas leves. Mas as con‐ sequências foram mais severas. Nara conviveu por três meses com lapsos de memória que chegaram a durar alguns dias. “Só percebi as sequelas após algumas semanas, como estava em época de entrega de TCC (Trabalho de conclusão de curso), achei que era apenas a ansiedade e o estresse, fui desco‐ brir apenas mais tarde que fazia

parte das sequelas. Hoje mante‐ nho uma rotina estressante, mas a memória está muito melhor”, con‐ ta, esperançosa. Pouco mais de um ano após contrair covid, Adriana Cristina Rebonato, de 46 anos, ainda sente que sua memória não é como an‐ tes. “Quando estou sobrecarrega‐ da, preciso me concentrar, pensar no que estou fazendo, senão es‐ queço. Nunca fui de fazer lista de compras, agora tenho que anotar tudo”, relata. Ela também conta que chegou a fazer vários exames neurológicos para descobrir os motivos da perda de memória, mas os resultados não apresenta‐ ram nenhuma alteração. Segundo a psiquiatra Erika Romiti, casos graves de perda de memória são mais propícios em indivíduos que apresentam histó‐ rico de problemas neurológicos. “Pacientes que têm diabetes, hi‐ pertensão, ansiedade e depressão são mais suscetíveis. A melhora depende da gravidade dos sinto‐ mas e necessita de uma aborda‐ gem tanto clínica quanto psiquiátrica, além de fisioterapia, atividade física e nutrição adequa‐

JANAINA CASSOL

Exercitar o cérebro com jogos e atividades pode ajudar na recuperação

da”, afirma. Além disso, sono des‐ regulado, alimentação inadequa‐ da, falta de exercícios físicos e estresse colaboram para a piora do funcionamento da memória. Para as pessoas que foram afetadas, há uma série de atividades que po‐ dem ser realizadas. De acordo com o neurologista Carlos Henri‐ que Ferreira Camargo, elas podem

desenvolver atividades que esti‐ mulem o cérebro, além de se pre‐ ocuparem com a alimentação e conter o consumo de álcool e ci‐ garros. “Leitura, jogos da memó‐ ria e repouso em conjunto de uma boa suplementação contribuem para a possível recuperação total da memória em alguns meses”, afirma o neurologista.

Cartas ainda são estratégia de conexão e registro histórico MARIA LUIZA PONTALDI

Na década de 1960, um casal trocava cartas de amor. Ela ficou em Ponta Grossa e ele foi para a Palestina, em missão de guerra. Ela não quis identificar seu nome, mas o Foca Livre registrou essa história de amor. Em uma caixa, R. F. guarda as cartas que trocou com o falecido marido quando ele estava a serviço do Exército. Na época, o canal mais viável para manter contato era a troca de car‐ tas, algo quase impensável nos di‐ as de hoje. Momentos importantes foram compartilhados por meio de palavras no papel. “Quando ele foi servir, eu nem pude me despe‐ dir. Foi tudo pelas cartas. Depois de muito tempo, quando já estáva‐ mos mais velhos, ele lembra que não podemos nos despedir”. O tempo para receber e envi‐ ar correspondências causava ansi‐ edade em quem esperava a visita

do carteiro. “Se ele escrevesse dia 12, a carta chegaria no fim do mês. Até eu escrever novamente para ele, levava mais um tempo. Não tinha como manter um conta‐ to tão frequente”, explica. Com a volta do esposo, R. F. perdeu o costume de trocar cartas. “Depois disso, escrevi só algumas vezes para parentes no Rio e em Pru‐ dentópolis”, recorda. A ponta­grossense Isis Lopes Starck lembra com saudosismo o período em que enviava cartas. “Quando jovem, eu trocava cartas com uma prima. Contávamos no‐ vidades e, como ela falava inglês, ela traduzia músicas para mim”, relata. “Ela era de Santa Catarina. Eu tinha uns 15 anos e minha pri‐ ma era dois anos mais velha. Bons tempos”. Guilherme Veiga Carva‐ lho lamenta que o hábito de escre‐ ver cartas tenha perdido espaço para a tecnologia. “Eu trocava cartas com uma senhora que foi

empregada dos meus avós durante 25 anos. Era tão bom quando abria a caixa de correio e tinha uma correspondência para mim”. Ainda que existam novos meios de se comunicar, há pesso‐ as que se voltaram ao papel e ca‐ neta recentemente. “Eu e minha neta de 16 anos somos quase vizi‐ nhas, mas trocamos cartas, hábito adquirido na pandemia”, diz Au‐ rora Mercer. “A ideia veio dela, pela curiosidade sobre como eram as coisas na minha adolescência.” Segundo a psicóloga Flávia Carvalhares, as cartas acionam o campo emocional da memória que serve como estratégia de luta para que possamos escrever outras his‐ tórias além da oficial. “As cartas têm importância no sentido de ocupar o cenário das narrativas que circulam o país com outras vozes e trajetórias”, explica. Flá‐ via também fala sobre as inova‐ ções tecnológicas e como elas

afetam a conexão criada pelas car‐ tas. “Nossa vida, em grande medi‐ da, está capturada por tecnologias que têm produzido uma conexão. Tenho a sensação de que estamos atravessados por um milhão de feixes de imagens e informações, mas que nunca estivemos tão so‐ zinhos", desabafa. Projeto Durante a pandemia, o ponta­ grossense, Reginaldo Clemente criou o projeto “Leitura e Escri‐ ta”, que valoriza a grafia à mão e o saudosismo das cartas. “Vemos que tanto os adolescentes, quanto crianças e até mesmo meus con‐ temporâneos não têm muito co‐ nhecimento de uma comunicação escrita”, afirma. A iniciativa busca conectar duas pessoas para que troquem ao menos duas cartas por mês, durante três meses. A pro‐ posta é que os participantes pos‐ sam criar uma relação através do hábito da escrita.


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saúde

Câncer de colo de útero pode ser prevenido com diagnóstico precoce Somente em 2021, foram registrados mais de 140 casos da doença em Ponta Grossa KATHLEEN SCHENBERGER

KATHLEEN SCHENBERGER

O câncer de colo de útero afe‐ ta cerca de 570 mil mulheres por ano no mundo, segundo a Agência Internacional de Pesquisa em Cân‐ cer (IARC). Também conhecido como câncer cervical, esse tumor ocorre, principalmente, quando a paciente tem contato com o vírus do papilomavírus humano (HPV). Em Ponta Grossa, 144 casos foram registrados apenas em 2021. A maioria dos casos eram de mulhe‐ res entre 30 a 64 anos. O fator ida‐ de pode aumentar a probabilidade de desenvolver a doença. No Brasil, o Instituto Nacio‐ nal de Câncer (INCA) revela que o tumor é o terceiro mais recor‐ rente e a quarta causa de morte por câncer entre a população fe‐ minina. Apesar de ser uma doença agressiva, as taxas de cura são al‐ tas para quem a descobre nos es‐ tágios iniciais. A melhor forma para identificar a doença é fazer o exame preventivo anualmente. Esse foi o caso de Adriana Kadamus de Quadros, que ao fazer o exame de rotina descobriu o início de câncer maligno no co‐ lo do útero. “Eu tinha 22 anos na época. Como descobri cedo, pude tratar com medicamentos intrava‐ ginais, mas sofri muito nesse pro‐ cesso”, destaca a vítima. Adriana relata que teve muito medo de perder seu útero e não realizar o sonho de ser mãe. “Co‐ mo os remédios começaram a ma‐ chucar muito, eu parei de passar e isso acelerou ainda mais o desen‐ volvimento da doença. Foi nesse momento que quase perdi meu útero.” Ela ainda explica que ao retornar ao médico foi informada da piora do câncer e precisou pas‐ sar por cirurgia para retirar o teci‐ do. Apesar da complicação da doença, Adriana conseguiu se re‐ cuperar. Após um ano e meio, ela teve o primeiro filho. “Descobrir no início foi fundamental para a minha recuperação”, frisa. Diagnóstico O médico ginecologista espe‐ cializado em câncer de colo de útero Fabio Mansani explica que as chances de cura são de 100% com o diagnóstico de lesões pré­ malignas, como foi o caso de Adriana. Segundo Mansani, o tu‐

mor é assintomático nas fases ini‐ ciais. “Em estágios mais avança‐ dos, os sinais de alerta são sangramentos genitais irregulares, sangramento ou dor durante a re‐ lação sexual, corrimento averme‐ lhado e com odor fétido”, ressalta. O oncologista também desta‐ ca que os riscos de desenvolver o câncer aumentam se a pessoa tem histórico de Infecções Sexualmen‐ te Transmissíveis (ISTs), pratica sexo desprotegido com vários par‐ ceiros, faz uso de tabagismo e de pílula contraceptiva. Mulheres grávidas também podem desenvolver o câncer, ape‐ sar de mais incomum nessa condi‐ ção. Quando a mulher tem a imunidade reduzida durante a ges‐ tação, a manifestação do vírus ocorre com mais facilidade. O di‐ agnóstico, durante o pré­natal, é realizado através de exames espe‐ cíficos e o início do tratamento deve ser imediato. Isso porque, em alguns casos, pode haver a transmissão do vírus para a larin‐ ge do bebê. Assim, é comum o aparecimento da papilomatose la‐ ríngea, que são lesões na mucosa do recém­nascido, mas que po‐ dem ser curados com tratamento clínico ou cirúrgico. Prevenção Para diagnosticar o câncer é feito o preventivo pelo exame pa‐ panicolau, que retira amostras do colo do útero para analisar as cé‐

lulas em laboratório. Mansani destaca que o exame preventivo do colo uterino deve iniciar aos 25 anos em mulheres que já inici‐ aram a vida sexual ou que apre‐ sentem sintomas da doença, segundo as orientações do Minis‐ tério da Saúde. “Porém, a nível individual e fora dos programas governamentais, a mulher pode realizar o preventivo após os 19 anos se já iniciou a vida sexual há pelo menos 3 anos”, explica. Segundo o médico, o papilo‐ mavírus humano (HPV) é respon‐ sável por mais de 95% dos tumores do colo uterino. Como ele destaca, são vários os subtipos virais relacionados com o HPV de alto risco, que podem ser comba‐ tidos com a aplicação de vacina para evitar infecções e o desen‐ volvimento da doença. “A vacina disponível no Brasil protege con‐ tra os dois vírus de HPV mais agressivos, o 16 e o 18, responsá‐ veis por 70% das lesões. Desta maneira, as mulheres, mesmo va‐ cinadas, devem manter o rastrea‐ mento de rotina para o câncer de colo uterino”, reforça Mansani. Exames A coleta para o preventivo e o exame papanicolau são oferta‐ dos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), um direito garantido a to‐ das as mulheres de 24 a 69 anos. Além disso, em Ponta Grossa, existem redes de apoio para mu‐

lheres que enfrentam cânceres de mama e no útero. A Rede Femini‐ na de Combate ao Câncer realiza ações e incentiva as mulheres a cuidarem da saúde. A palestrante da Rede Feminina, Vera Moura, reforça a importância de estar sempre em dia com os exames. De acordo com Vera a insti‐ tuição oferece exames preventivos gratuitamente para mulheres caren‐ tes. “Na Rede Feminina realizamos os exames no nosso próprio con‐ sultório." A integrante da institui‐ ção explica que os exames são feitos o ano todo em parceria com a UEPG. De acordo com Vera, os professores de medicina realizam os exames que são assistidos pelos alunos ou médicos residentes. “No ano passado conseguimos diagnos‐ ticar três mulheres com o câncer de colo de útero e encaminhá­las para o tratamento”, complementa. Vacinação O vírus do HPV também in‐ fecta os homens e pode ser trans‐ mitido pelo contato sexual. Outra forma importante para prevenção desse tipo de câncer é a vacinação contra o vírus. A vacina é disponi‐ bilizada em Unidades de Saúde da Família, tanto para meninas de 9 a 14 anos como para meninos de 11 a 14 anos. A dosagem previne cer‐ ca de 70% dos cânceres de colo do útero e 90% dos casos de ver‐ rugas genitais, que são produzidas pelo vírus da HPV.


ESPORTE

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Preconceito com futebol feminino afeta carreira das atletas Em PG, uma ação social de moradores oferece oportunidades para meninas que querem seguir na profissão JANAINA CASSOL

ANA LUIZA BERTELLI DIMBARRE

Além da falta de investimen‐ to, as meninas que querem se de‐ dicar ao futebol também en­ frentam preconceito e machismo por atuarem em campo. Em Ponta Grossa, são poucas as iniciativas que visam desenvolver o futebol feminino local. Ao mesmo tempo que cresce o número de meninas interessadas em seguir carreira na área esportiva, o escasso apoio e as manifestações preconceituosas contribuem para a falta de estímulo das atletas. Gabriely Natali Ferreira Bor‐ ges ingressou, em 2021, no proje‐ to Meu Bairro Melhor (MBM), iniciativa da Associação de Mora‐ dores do Jardim Esplanada, do Bairro Boa Vista. A ação social te‐ ve início em 2018 e oferece opor‐ tunidade para meninas praticarem futebol, seja a nível profissional ou como lazer. “Infelizmente o fu‐ tebol feminino ainda não conse‐ gue ser auto suficiente e são muitas as desigualdades que en‐ contramos no meio do caminho. Pensamentos e comentários de que as mulheres são frágeis e que não devem estar ali atrapalham o nosso desenvolvimento”, afirma. De acordo com Aurélio Mi‐ guel Oliarski, treinador dos times femininos do MBM, grande parte das meninas que frequentam o

Ginásios são disponibilizados de forma gratuita para treinos do projeto

projeto sonham em ser jogadoras profissionais, mas ele procura mantê­las com os pés no chão. “Sempre deixo claro a realidade e os obstáculos impostos pela socie‐ dade preconceituosa que elas con‐ vivem. Tanto que indicamos a todas realizarem acompanhamen‐ to psicológico desde o início, para que consigam lidar com essas

questões, além de terem o auto‐ controle de si, tanto fora quanto dentro de campo”, comenta. Operário O Operário Ferroviário Es‐ porte Clube (OFEC) oferece às jo‐ vens pontagrossenses a escola de base. A ação foi iniciada em julho de 2019 para atender à prática de futebol amador, todavia, as parti‐

cipantes devem arcar com mensa‐ lidades. Atualmente, o projeto atende meninas de cinco a 20 anos e conta com 40 jovens ins‐ critas. Já o clube, não conta com time de futebol feminino adulto. Segundo Alisson Santos, trei‐ nador e idealizador do projeto, a metodologia aplicada aos grupos femininos dentro do clube é igual a do masculino. “90% das meni‐ nas que treinam com a gente bus‐ cam seguir carreira no esporte. Oferecemos a mesma estrutura, a mesma qualidade de materiais, equipamentos e treinos, até por‐ que a nossa didática, além do pre‐ paro físico e tático, é a inclusão”, destaca o treinador. A atleta Ághata Allana Dado‐ na, de 19 anos, que já apresentava carreira esportiva, realizou treina‐ mentos na Escola Oficial do Ope‐ rário no ano de 2021, quando chegou a representar o clube em algumas competições. De acordo com Ághata, a maior dificuldade de ser esportista é a busca por um futuro mais seguro. “Quando você é atleta, a evolução precisa ser constante, e por ser mulher, a luta é em dobro. Por trás das conquis‐ tas de cada uma, existe uma histó‐ ria de vida. E incentivar a categoria feminina é, além de tu‐ do proporcionar alegria e liberda‐ de, também quebrando diversos tabus”, explica a atleta.

Volta do JEM gera expectativas em professores e alunos LUCAS RIBEIRO

Os Jogos Estudantis Munici‐ pais (JEM) de Ponta Grossa retor‐ nam neste ano de 2022, após pausa de dois anos por conta da pandemia da Covid­19. As com‐ petições, realizadas desde 1985, tem como intuito a integração en‐ tre escolas públicas e particulares da cidade. O retorno do JEM em 2022 é visto com bons olhos tanto por educadores como por alunos da rede municipal de ensino. O professor de Educação Fí‐ sica Marcelo Ferreira de Lima destaca a importância do evento para a instrução dos alunos. “Para competir, é preciso ter organiza‐ ção e disciplina, e muitos alunos aprendem esses conceitos durante

os jogos”. Apesar do desejo para o retorno, o professor alerta para a falta de apoio que escolas públi‐ cas sofrem durante o preparo dos estudantes. “Há um talento enor‐ me no estado, mas falta oportuni‐ dade. É preciso ter uma política pública voltada ao esporte e a es‐ trutura, como quadras e materiais, para que seja possível preparar os jovens para as competições”. A falta de tempo e de apoio do governo são pontos que preo‐ cupam os educadores da rede mu‐ nicipal de ensino. O professor Alan Oliveira prepara seus alunos para competições como o JEM desde 2011. Segundo o educador, o pouco tempo para realizar os projetos esportivos atrapalha o re‐ torno dos jogos. “Nós não esta‐

mos conseguindo nos preparar pa‐ ra estas competições. Faltam ho‐ ras de treino e também de atenção por parte das gestões do municí‐ pio”. Apesar dos problemas, Oli‐ veira vê que a escola pública tem um grande potencial para superar as particulares no esporte, devido ao grande número de pessoas en‐ volvidas e também a quantidade de talentos nas salas de aula. “São alunos que costumam brincar mais e desenvolver melhor habili‐ dades básicas, como saltar e cor‐ rer. São habilidosos e também são mais fáceis de treinar”, conta. Estudantes Os alunos também aguardam o retorno do JEM com muita ex‐ pectativa. A estudante de escola pública Rafaela Sampaio Rodri‐

gues reflete sobre a influência dos jogos em sua vida. “Participar do JEM me deu oportunidades de competir e conhecer pessoas ma‐ ravilhosas, oportunidades de pos‐ síveis bolsas de estudos. Os esportes tiveram grande impacto em minha vida, pois eu consegui descobrir o amor que tenho por eles”, afirma a atleta. A competição está prevista para acontecer entre os dias 15 e 29 de outubro, cinco meses mais tarde quando comparado às edi‐ ções anteriores do evento. A alte‐ ração da data tem como objetivo dar mais tempo de preparação pa‐ ra os atletas e treinadores do mu‐ nicípio, além de garantir a adesão de mais instituições de ensino aos jogos deste ano de 2022.


SOCIEDADE

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Altas no preço dos combustíveis dificultam trabalho de motoristas Eles alegam que 2022 é o pior ano já enfrentado pelas categorias KADU MENDES

As constantes altas no preço dos combustíveis não agradaram os motoristas de aplicativos e cami‐ nhoneiros. No dia 08 de março, o preço da gasolina teve aumento de 18,8%, com acréscimo de, em mé‐ dia, R$0,50 por litro. Do diesel, o reajuste foi de quase 25%, ou seja, R$1,00. Esses profissionais alegam que o atual cenário é delicadíssimo no aspecto financeiro. Se a tendên‐ cia de alta dos combustíveis se con‐ firmar até o fim do semestre, os veículos ficarão na garagem. Para que os danos não sejam maiores, os motoristas adotaram algumas medidas. “Temos que fa‐ zer mais que o dobro de viagens do que fazíamos para conseguir ter uma renda equivalente a que tínhamos quando a gasolina esta‐ va na casa dos R$4,00”, relata o motorista de aplicativo, Patrick Souza. “Por termos que rodar mais pela cidade, o gasto com manuten‐ ção é mais frequente, o que impac‐ ta diretamente na nossa renda.” No ano passado, Souza traba‐ lhava seis horas diárias e tinha uma renda de R$150 a R$200 por dia. Hoje, são necessárias no mí‐ nimo 12 horas de trabalho para conseguir um valor que na maio‐ ria das vezes não alcança o anteri‐ or. O motorista conta que o reajuste da bonificação dos aplicativos não

é suficiente para compensar a esca‐ lada do preço da gasolina. “Quem não roda com GNV [Gás Natural Veicular] está parando de traba‐ lhar. Para quem usa combustível líquido, está cada vez mais inviá‐ vel”, enfatiza. O caminhoneiro Carlos Al‐ berto Follmann conta que a clas‐ se foi uma das mais prejudicadas pelo aumento do combustível. “O valor pago pelos fretes jamais acompanha o preço do diesel. Nos‐ sa margem de lucro é cada vez menor”, destaca. “No período en‐ tresafras trabalhamos no verme‐ lho. Mas, neste ano, a situação piorou demais, não houve um ano pior do que esse. Creio que depois que terminar a atual safra

teremos que parar o caminhão”, alega. Follmann acredita que será necessária intervenção do Gover‐ no Federal no pós­safra para que os caminhões não parem. “Não temos projeção de como será o fu‐ turo, estamos vivendo dia a dia. Nos próximos meses, se a situação piorar ainda mais, será impossível de trabalhar”, destaca. Os motoboys estão em uma situação melhor, é o que afirma Ezequiel Ferreira, profissional do ramo. “O preço da gasolina subiu, mas o valor da corrida acompa‐ nhou. Os aplicativos para quais trabalhamos nos concedem uma ajuda de custo que nos permite ter a mesma renda”, conta. “Enquanto motoboy, o preço da gasolina não

me afeta nenhum pouco, já que há reajustes quando sobe a gasolina.” Para combater a alta, os go‐ vernos estaduais decidiram con‐ gelar o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em relação à gasolina e ao gás de cozinha, até o final do primeiro semestre de 2022. No fim de mar‐ ço, o Conselho Nacional de Políti‐ ca Fazendária (Confaz) determinou que a alíquota de ICMS para o di‐ esel S10 passa a ser de R$1,006 (um real e seis milésimos de real). Por conta do aumento do valor do barril de petróleo e dos reajustes que os combustíveis sofrem na es‐ fera Federal, a tendência é que o preço alcance um patamar ainda mais elevado ao final de junho. KADU MENDES

Desobrigação do uso de máscaras em PG divide opiniões VINICIUS SAMPAIO

Desde o início do ano, a ideia de desobrigação do uso de másca‐ ras em espaços abertos e fechados circula em algumas cidades brasi‐ leiras. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as máscaras foram apo‐ sentadas em diferentes medidas. No Paraná, o decreto 10.596/2022 revogou a obrigatoriedade do item em espaços fechados. Já em Ponta Grossa, o uso das máscaras em es‐ paços abertos e fechados também foi liberado, mas o assunto ainda rende discussões. A equipe do Foca Livre fez um levantamento após a desobriga‐ ção do uso de máscaras no municí‐ pio. Entre os entrevistados, 53,8%

dizem que mantêm o uso da prote‐ ção em ambientes abertos e fecha‐ dos, enquanto 46,2% usam máscara somente em locais fechados. A pes‐ quisa também mostra que 37,5% das pessoas consultadas se sentem seguras no atual contexto da pande‐ mia, 50% relatam que “talvez” e 12,5% afirmam que não. Matheus Diniz Moro, de 20 anos, é um dos moradores que não se sente seguro em relação à pandemia. O estudante de Física discorda da liberação e diz que vai seguir utilizando a máscara. “Vou continuar utilizando porque a pandemia ainda não acabou. Qualquer descuido agora pode ge‐ rar uma nova onda de casos. Uso todos os dias, tanto em ambientes

fechados quanto em abertos.” A gerente Ana Cláudia dos Santos, de 36 anos, é favorável à liberação das máscaras, mas diz que ainda não sente total seguran‐ ça por conta de seu filho. “Ele não está com o esquema vacinal com‐ pleto”, explica. Ela também conta que usou máscara com frequência em seu cotidiano, mas que agora passou a relaxar. “Não estou usan‐ do, mas continuo com a limpeza das mãos com álcool”, conta. Saúde O especialista em Saúde Pú‐ blica, Isaías Cantoia, avalia que já era previsto em certo momento que os governos iriam estabelecer leis que liberassem o uso das más‐ caras. Para ele, a utilização depende

de cada um e que a proteção conti‐ nuará fazendo parte do cotidiano das pessoas. “Agora será uma ques‐ tão pessoal. A pessoa que se sentir mais segura ao usar a máscara em locais fechados seguirá utilizando a proteção. Ela vai fazer parte da vida das pessoas, como para os profissionais de saúde, por exem‐ plo”, observa. Isaías destaca que a máscara contribuiu para a redução de casos de outras doenças respiratórias, du‐ rante os dois anos em que a prote‐ ção foi obrigatória no Brasil. “As pessoas, ao utilizarem a máscara, estavam se protegendo de outras doenças que têm transmissão pelas vias aéreas, além da Covid­19”, diz o especialista.


ENSAIO

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Semana da Cultura A cultura e as artes são o que mantêm o senso de humanidade nas pessoas. Essas formas de ex‐ pressão possibilitam a transmis‐ são de ideias e sentimentos. A arte faz com que assuntos inex‐ plorados venham à tona, de ma‐ neira potente, marcante e muitas vezes inesquecível. Pensando nis‐ so, o tema do Ensaio da edição 222 do Foca Livre é a abertura da 36º Semana da Cultura Bruno e Maria Enei, realizada no começo de abril. O evento de abertura reuniu diversas apresentações de dança, artes visuais e música. CATHARINA IAVORSKI

VICTÓRIA SELLARES

CATHARINA IAVORSKI

VICTÓRIA SELLARES

CATHARINA IAVORSKI

CATHARINA IAVORSKI

VICTÓRIA SELLARES


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