Foca Livre 223

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JORNAL LABORATÓRIO UEPG

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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JUNHO DE 2022 | EDIÇÃO 223

ALEX DOLGAN

Dois anos de abandono: DCE permanece sem gestão Estudantes da UEPG reclamam da falta de representação no Diretório Central dos Estudantes (DCE). A entidade está sem comando desde setembro de 2020. Eleição para a próxima gestão está suspensa. PÁGINA 3

DAPHINNE PIMENTA

Plano de revitalização inicia obras no prédio histórico do MCG O Museu Campos Gerais (MCG) recebe investimento de R$ 10,5 milhões para obra de revitalização. O plano inclui a restauração do edifício antigo e a criação de um anexo para os acervos e para a estruturação interna do espaço. A reabertura do MCG está prevista para ocorrer em evento comemorativo aos 200 anos de Ponta Grossa e 73 anos do Museu . PÁGINA 7

VERSÃO DIGITAL

SOCIEDADE

SAÚDE

ESPECIAL

Ativistas LGBTQIA+ desta‐ cam atuação do movi‐ mento em Ponta Grossa, que há mais de vinte anos busca ampliar a visibilida‐ de do grupo. Comunidade reclama da falta de políti‐ cas públicas na cidade para atender suas necessidades. PÁGINA 5

Hemocentro de PG realiza campanha "Junho Verme‐ lho" para incentivar doação de sangue entre os mu‐ nícipes. Estoque do Heme‐ par está 50% abaixo do nível de segurança. Inver‐ no e doenças estão entre os motivos da queda. PÁGINA 11

Mesmo com o crescimen‐ to de ciclistas, a infraestu‐ rura cicloviária em Ponta Grossa é precária. Usuá‐ rios reclamam da falta de ciclofaixas e da insegu‐ rança das ciclovias. Entre janeiro e maio já foram quase 60 acidentes. PÁGINA 8


2 | Opinão | Junho 2022

FocaLivre

Mais conectado: Foca Livre agora é multiplataforma Após as dificuldades do ensino à distância, finalmente colocamos os pés na universidade. A turma 36 do Curso de Jornalismo da UEPG se adaptou ao novo ritmo de entrevistas, apurações e pro‐ duções dentro do Campus e então teve a tarefa de produzir sua primeira edição do Jornal Foca Livre, para trazer as notícias mais relevantes de Ponta Grossa. A edição 223 traz como manchete o abandono do DCE da UEPG que há quase dois anos está sem representantes. Discentes afirmam que a gestão inativa prejudica a mobilização e o fortalecimento do movimento estudantil, necessários em momento crítico para a manutenção das universidades públicas. Acompanhando o Mês do Orgulho LGBTQIA+, nossa editoria de SOCIEDADE mostra a luta e os avanços do movimento na cidade. Em POLÍTICA, você confere de‐ talhes sobre a reestruturação da saúde pública do município. A equipe do Foca Livre ouviu moradores que, devido às mudanças, tiveram dificuldades para acessar serviços de saúde e que reivindicam melhorias. Na editoria de SAÚDE, é destaque a baixa nos estoques de sangue no Hemocentro de Ponta Grossa devido à falta de doações. As causas são o inverno, quando aumentam os

casos de doenças respiratórias que inaptam a doação, e a pandemia, que reduziu a taxa de doações de sangue em 30%. Já em CIDADE, cobrimos o projeto de revitalização do prédio histórico do Museu Campos Gerais, iniciado em março. A cena da CULTURA local tem como destaque o projeto paranaense Mova‐se Hip Hop, que promove ati‐ vidades e apresentações artísticas nos colégios estadu‐ ais e municipais da cidade. O ESPECIAL dessa edição traz dados sobre a estrutura cicloviária de Ponta Grossa que é, insuficiente para o número

de usuários de bicicleta no município. Por fim, em nosso ENSAIO, a música foi traduzida através das fotos da 34ª edição do Festival Universitário da Canção (FUC). Pela primeira vez, o projeto editorial e gráfico do Jornal Foca Livre é multimidiático. Ele está integrado não apenas a outros veículos do De‐ partamento de Jornalismo da UEPG, como o portal Pe‐ riódico, mas também a outras páginas da internet. Essa integração entre o meio impresso e os meios digitais foi possível graças ao uso dos QR Codes no fim das matérias

para disponibilizar mais da‐ dos e informações ao público do jornal. Assim, se você, leitor, ficar interessado em alguma ma‐ téria, verifique se ela possui um QR Code. Então, abra o aplicativo de câmera do seu celular, aponte para a imagem e acesse mais conteúdo sobre o assunto. Buscando integrar o jornalismo impresso aos meios digitais, a equipe do Foca Livre trabalhou para trazer o máximo de informações a você oferecendo uma edição mo‐ derna, que acompanha os avanços tecnológicos das no‐ vas gerações. WESLEY MACHADO

EXPEDIENTE Editores‐chefe Emelli Schneider, Leonardo Czerski e Lívia Hasman. Chefe de Design Vanessa Galvão. Designers Alex Dolgan, Bianca Voinaroski, Camila Ribeiro, Carolina Olegário, Iasmin Gowdak, João Paulo Fagun‐ des, Júlia de Oliveira, Larissa Del Pozo, Naiomi Mainardes, Pamela Tischer, Rafaela Colman, Vitória Testa e Wesley Machado.

Editoras/editores de texto Amanda Dal`Bosco, Camila Souza, Cristiane de Mello, Daphinne Pimen‐ ta, Eduarda Guimarães, Gabi Olivei‐ ra, Heloisa Ribas Bida, João Iansen, João Vitor Pizani, Kailani Czornei, Kauan Ribeiro, Mariana Real, Quiara Camargo e Tayná Landarin. Editoras de fotografia Manuela Rocha, Maria Eduarda Kobi‐ larz e Sara Dalzotto. Repórteres Consulte a autoria das reportagens

diretamente na página da notícia. Apoio Técnico Catharina Iavorski, Matheus Gaston e Victória Sellares. Foca Livre é o jornal‐laboratório do curso de Jornalismo da UEPG Contato Departamento de Jornalismo Praça Santos Andrade, n° 01 ‐ Centro CEP: 84010‐330 Ponta Grossa ‐ PR Telefone: +55 (42) 3220‐3389

Jornal elaborado e publicado pela disciplina "Núcleo de Redação Integrada I” Professores: Candida de Oliveira (MTB 16767 ‐ RS) e Maurício Lie‐ sen (MTB 2666 ‐ PB). Notícias integradas à disciplina "Produção e Edição de Textos Jorna‐ lísticos II” Professor: Ricardo Tesseroli (MTB 6334 ‐ PR). Projeto gráfico integrado à discipli‐ na "Design em Jornalismo" Professor: Maurício Liesen.


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Junho 2022 | UEPG | 3

Diretório Central dos Estudantes encontra-se abandonado Discentes da UEPG reclamam da falta de representação estudantil ALEX DOLGAN “Não sei o que é o DCE, mas deve ser algo para ajudar os alunos de toda a universida‐ de”. A afirmação de Isabelly Marinho, estudante da Univer‐ sidade Estadual de Ponta Gros‐ sa (UEPG), não é por acaso. Pouco conhecido entre os pró‐ prios discentes, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) está sem representantes há quase dois anos e com atraso nas eleições para a Gestão 2022‐2023. O estudante de Serviço Soci‐ al Holiver Laroca Rosa afirma que a gestão inativa do DCE di‐ ficulta a mobilização e o forta‐ lecimento do movimento estudantil. “Os alunos preci‐ sam saber como as medidas da Lei Geral das Universidades podem influenciar na qualida‐ de de ensino e necessitam lu‐ tar contra isso juntos. Essa mobilização é a maior falta que o DCE nos causa atual‐ mente”, afirma. Durante os anos ativos do DCE, as ações repercutiam pa‐ ra além dos muros da universi‐ dade. A estudante de Odontologia Fernanda Ales‐ sandra Silva afirma que já co‐ nhecia o DCE antes de ser universitária: “Mas esse espa‐ ço de mobilização se tornou apenas uma lembrança efê‐

mera”. Por isso, Fernanda destaca a necessidade de res‐ gatar o DCE. “Os alunos preci‐ sam desse espaço de representatividade, é o único meio das Instituições ouvirem dos próprios estudantes as lu‐ tas que enfrentamos”. Eleição suspensa O cronograma para a elei‐ ção do Diretório foi assunto durante as reuniões do Con‐ selho de Entidades de Base (CEB) em setembro de 2020, quando o DCE ainda era co‐ mandado pela chapa “Todas as Vozes” (gestão 2019‐2020). O CEB é um órgão deliberati‐ vo que realiza encontros para entender e discutir as deman‐ das dos Centros e Diretórios Acadêmicos, fiscalizar a ges‐ tão do DCE e organizar uma nova eleição. De acordo com o ex‐coor‐ denador geral do DCE, André Mamédio, os CEBs são convo‐ cados pelo próprio Diretório e, quando não existe gestão, a convocação fica a cargo dos Centros Acadêmicos (CA). O ex‐coordenador foi quem soli‐ citou o último encontro do CEB, em agosto de 2020, para deliberar um novo cronogra‐ ma da eleição. Porém, confor‐ me Mamédio, os membros não chegaram a um acordo durante a reunião e as elei‐ ções foram adiadas.

EMELLI SCHNEIDER E LEONARDO CZERSKI

Sistema dificulta acesso ao RU CAMILA SOUZA O restaurante Universitário (RU) da UEPG serve diaria‐ mente cerca de 1750 refei‐ ções no campus de Uvaranas e 600 no Centro. Para que uti‐ lizaem o serviço do RU, os es‐ tudantes e servidores necessitam adquirir bilhetes que custam R$3,80 cada. En‐ tretanto os discentes só po‐ dem comprá‐los com dinheiro em espécie. A equipe de reportagem do Foca Livre ouviu, no dia 23 de

maio, 40 estudantes que utili‐ zam o RU no campus Central. Eles concordam que um no‐ vo sistema de compras de bi‐ lhetes é urgente e seria ideal. A estudante de direito Heloísa Vivan, que utiliza os serviços do Restaurante Universitário, acredita que é necessária ou‐ tra opção para facilitar a com‐ pra. Já Ana Paula Freire, que cursa licenciatura em Ciên‐ cias Biológicas, conta que dei‐ xou de se alimentar no RU por não ter dinheiro para comprar o ticket de refeição.

O Pró‐Reitor de Assuntos Administrativos (PROAD), Ivo Mottin Demiate, admite que a forma atual de venda dos bi‐ lhetes é antiquada e que um novo sistema de pagamentos vinha sendo estudado, po‐ rém, esse projeto foi tempo‐ rariamente suspenso devido a pandemia, que inutilizou o uso do restaurante durante os anos de 2020 e 2021. Segundo o Pró‐Reitor, a maior dificul‐ dade atualmente é encontrar ferramentas adequadas para adotar medidas que facilitem

a compra dos bilhetes. Os planos idealizados por Ivo Mottin incluem instalar um sistema de cartão pré‐pa‐ go, viabilizar o pagamento dos tickets através de boleto ou ainda via Pix com identifi‐ cação. Ele afirma que as me‐ didas necessárias para adequar o sistema já estão sendo tomadas: "Queremos desenvolver isso o quanto an‐ tes porque a troca do sistema já era um planejamento ante‐ rior que acabou sendo sus‐ penso", comenta o Pró‐Reitor.


4 | SOCIEDADE | JUNHO 2022

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Imigrantes enfretam dificuldades devido à falta de políticas públicas Acesso à residência e emprego são os principais problemas relatados JÚLIA ANDRADE Muitas cidades brasileiras não possuem estrutura para receber imigrantes que chega‐ ram ao Brasil nos últimos anos. Só em 2020, Ponta Gros‐ sa registrou 1024 pedidos de auxílio para regularizar a do‐ cumentação de imigrantes junto à Cáritas Diocesana, uma das poucas entidades que ajuda pessoas de outros países na cidade. Em 2021, foram 816 atendimentos. Porém, a falta de políticas públicas para imi‐ grantes na cidade dificulta a vida dessas pessoas para esta‐ belecer residência e conseguir trabalho ou auxílio financeiro. Segundo a assistente social da Cáritas, Érica Francine Pi‐ larski Clarindo, a entidade atende principalmente imi‐ grantes da Venezuela e do Hai‐ ti. A maioria pede somente a regularização de documentos legais, pois estão de passagem pela cidade. Essa dificuldade é relatada por Antonio José Bas‐ tidas, que veio da Venezuela. Ele foi atendido pela Cáritas

de Ponta Grossa, conseguiu regularizar os documentos e outros benefícios dados pelo Governo Federal. Ele fala sobre sua dificuldade. "Não fiz curso de português, aprendi tudo com quem me ajudou. Aqui no município tem esco‐ las privadas de cursos de ou‐ tras línguas, porém seria bom ter algum curso de português gratuito, porque aqueles que chegam, não conseguem falar direito", afirma Antonio. A inserção no mercado de trabalho é outra dificuldade enfrentada. Rosemond Chery, que veio do Haiti, relata que chegou no Brasil e ficou na ca‐ sa de um amigo, enquanto procurava um emprego na ci‐ dade. Para poder trazer a fa‐ mília ao país, ele buscou o Sindicato dos Trabalhadores na Movimentação de Merca‐ dorias em Geral, que o ajudou a conseguir um serviço. Tra‐ balhando, ele pode comprar uma casa e trazer a família. Rosemond conseguiu auxílio após conhecer a Cáritas. “De‐ pois de um tempo eu conheci

Programa atende crianças em risco MARIA EDUARDA KOBILARZ “As crianças vêm muito ma‐ chucadas. Eu tenho o costume de olhar nos olhos delas e mos‐ trar que eu estou enxergando lá dentro. Então, depois que elas encontram uma família, se a criança está feliz eu estou feliz também”, disse Josimara Terezinha Costa que já acolheu sete crianças vulnerveis. Ela é voluntária do Serviço de Aco‐ lhimento em Família Acolhe‐ dora desde 2018. O programa é realizado pela Fundação Municipal de Assis‐ tência Social de Ponta Grossa (FASPG), onde crianças e ado‐

lescentes em risco social são recebidos em lares temporári‐ os até que sua guarda seja defi‐ nida, perante a lei. O que representa um contraponto ao acolhimento institucional. O acolhimento em abrigos possui atitudes coletivas, com rodízio profissional, muitas ve‐ zes privando os acolhidos de afeto, de referências maternas e de direitos essenciais. Segun‐ do o Sistema Nacional de Ado‐ ção e Acolhimento (SNA), existem 27.797 crianças insti‐ tucionalizadas no Brasil. No Paraná, para cada criança há cerca de oito inscritos para adotá‐la, mas 14% dos acolhi‐

a Cáritas, foi quando minha família veio para cá e precisa‐ mos fazer os documentos”, conta Chery. Em Ponta Grossa, há o Co‐ mitê Municipal para Migran‐ tes, Refugiados e Apátridas, criado pelo decreto nº 19.727, em dezembro de 2021. A fina‐ lidade do Comitê é criar polí‐ ticas públicas para atender as

demandas dos imigrados, mas, o Comitê não age. Até a data da entrevista com a as‐ sistente social Érica, só havi‐ am sido feitas duas reuniões com os membros definidos do Comitê. Dessa maneira, o auxílio que os imigrantes en‐ contram são provindos de igrejas ou instituições não go‐ vernamentais. JÚLIA ANDRADE

ONG de Ponta Grossa ajuda imigrantes na regularização documental

dos aptos à adoção não corres‐ pondem ao perfil esperado. Em 2009, com a edição da Lei n° 12.010, o acolhimento familiar se mostrou como o melhor destino para as crian‐ ças, constando no Estatuto da Criança e do Adolescente co‐ mo medida protetiva, já que é uma forma humanizada que propicia um tratamento indivi‐ dualizado. Os voluntários pas‐ sam por uma capacitação e recebem um auxílio para aco‐ lher o menor até que seu desti‐ no seja definido, retornar à família ou ser adotado. Para a psicologa Larissa Kinczel, especializada em De‐ senvolvimento Infantil, o trata‐ mento individual da família acolhedora é essencial para a formação das crianças. “Cada criança é única e tem a sua subjetividade. Numa institui‐ ção, não há esse olhar mais de

perto, de entender as necessi‐ dades de cada um”. A psicóloga Larissa reforça que a falta de individualidade pode afetar o desenvolvimento infantil. O amparo por famílias cor‐ responde a 5% do total de aco‐ lhimentos no país. O Paraná é o estado que mais computa acolhidos em tal modalidade, chegando a 29%. De acordo com a FASPG, de janeiro a abril de 2022, dezessete crian‐ ças foram beneficiadas pelo programa. Ainda assim, parti‐ cipantes e organizadores reco‐ nhecem a pouca aderência na cidade de Ponta Grossa. Confira por meio do QR Code outros depoimentos de famĺias acolhedoras na cidade


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JUNHO 2022 | SOCIEDADE | 5 VERIDIANE PARIZE/LENTE QUENTE

PG oferece abrigo a vulneráveis CAMILA RIBEIRO

Comunidade LGBT+ luta por visibilidade em Ponta Grossa Apesar de conquistas, ainda faltam políticas públicas JOÃO VITOR PIZANI O Mês do Orgulho LGBT+, comemorado em junho, cele‐ bra a luta contra o preconceito de gênero e sexualidades. Em Ponta Grossa, o movimento tra‐ balha em diversas frentes para ampliar a visibilidade da popu‐ lação LGBT+ há mais de vinte anos, realizando eventos com grupos, comitês, conselhos de políticas públicas para repre‐ sentar a comunidade. O Conselho Municipal LGBT (CMLGBT), fundado em 2015, é o responsável por discutir pro‐ jetos e programas de cidadania LGBTQIA+ no município. Se‐ gundo a ativista travesti Débora Lee, que participou da primeira composição do CMLGBT entre 2015 e 2017, a implantação do órgão foi fruto de uma árdua lu‐ ta em busca de diálogo junto ao poder público para atender às demandas da comunidade LGBT+ na assistência social. No entanto, Lee considera que o Conselho não foi eficaz no tra‐ balho que propôs e avalia que ele acabou na invisibilidade. A advogada Thaís Boamor‐ te, que tomou posse dia 17 de maio como membro do CMLGBT, revela que não havia planos de ação para cobrar a Prefeitura e os órgãos públi‐ cos. “O Conselho estava lá, haviam alguns membros, mas nunca teve quórum para fazer reuniões”, esclarece.

Descaso e reação Na opinião da advogada, há um descaso do governo muni‐ cipal com as políticas públi‐ cas voltadas à comunidade LGBT+. “Por mais que Ponta Grossa tenha um movimento forte e seja a primeira e única cidade do Paraná a ter um Conselho Municipal LGBT, ainda somos uma sociedade conservadora e preconceituo‐ sa”, comenta. No ano anterior, Ponta Grossa virou notícia quando a cantora Pabllo Vittar, que iria se apresentar na München‐ fest, foi ameaçada de prisão pelo vereador e pastor Eze‐ quiel Bueno por conta de uma fake news sobre a drag queen. O caso teve repercussão naci‐ onal e incentivou a realização da 1ª Parada Cultural LGBT+ dos Campos Gerais. “Naquele momento, nós vimos verda‐ deiramente o movimento LGBTQIA+ se levantando em Ponta Grossa, indo até a Câ‐ mara de Vereadores e dizendo o quão absurdo era aquilo. Por conta desse episódio, o Dia Municipal da Luta Contra o Preconceito é comemorado em 5 de dezembro, data con‐ quistada por nós em 2017”, conta Erick Teixeira, um dos idealizadores do evento. Erick Teixeira, atua como produtor de eventos para a comunidade LGBT+ e afirma que é impossível desvincular

o entretenimento e a cultura do movimento político. “É muito importante colocar ar‐ tistas LGBT+ ocupando um es‐ paço que normalmente não é deles e mostrar para Ponta Grossa, que eles existem e pre‐ cisam ser respeitadas”, declara. Grupo Renascer Lu Feola, diretora de cultu‐ ra da gestão do DCE, que au‐ xiliou na organização da 1º Parada Cultural, avalia que o Movimento LGBT+ de Ponta Grossa é desorganizado e há carência de ações efetivas do poder público para mudar a realidade, principalmente das pessoas trans que trabalham com prostituição. “Não há ne‐ nhuma política, além do Re‐ nascer, que auxilie essas pessoas", explica. O Grupo Renascer é uma iniciativa local independente que existe desde 2000, foi fun‐ dado por Débora Lee e dedi‐ ca‐se à defesa e garantia de direitos da população LGBT+ de Ponta Grossa. A ONG realiza ações de promoção à saúde da comunidade. “Eu iniciei minha trajetó‐ ria no movimento na década de 1980, durante a Ditadura Militar e no auge da epide‐ mia de Aids no país. Foi quando vi a necessidade de possuirmos um local de fala e de reconhecimento nas po‐ líticas públicas”, relembra Débora Lee.

Na época mais fria do ano, as pessoas em situação de rua demandam atenção redo‐ brada. Para minimizar os im‐ pactos do frio, a Prefeitura de Ponta Grossa disponibilizou, em junho, um albergue para a proteção dos que estão em ris‐ co. Na primeira noite de funcionamento, 25 pessoas foram acolhidas no local. Divulgado pelo portal da Prefeitura, a iniciativa visa garantir uma melhor atenção às pessoas em vulnerabilidade social. A Casa de Acolhimento Municipal Maria Isabel Ramos Wosgrau, conta com espaço mais adequado com chuveiros, refeitório e camas para a população passar a noite. O local passou por reforma e adaptações para abrigar os vulneráveis, além de ter um espaço para os animais de estimação dos moradores de rua. A casa funciona na área central e presta atendimento apenas noturno, das 20h às 8h. O espaço do albergue pertence à Fundação de Assistência Social de Ponta Grossa (FASPG). Nos invernos de 2019, 2020 e 2021, o ginásio Oscar Pereira era utilizado para acolher essas pessoas. Antes da abertura, os que precisavam de abrigos eram encaminhados para o Min‐ istério Viver Bem. Adilson, que encontra‐se em situação de vuln‐ erabilidade, afirma que “as iniciativas ajudam bastante durante o inverno, prin‐ cipalmente as ações que oferecem comidas aos que não tem condições de passar pelo frio de uma forma ‘confort‐ ável’”. Para ele, as ações sociais fazem efeito na cidade, no entanto, muitas pessoas que necessitam de auxílio não têm conhecimento das iniciativas. Outras ações que auxiliam pessoas em situação de rua nesta época do ano são o Serviço de Abordagem Social e a Casa Assistencial Mãe Divina Providência, também chamada “Casa da Sopa”.


6 | CIDADE | Junho 2022

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Moradores do Contorno reclamam da estrutura viária no bairro Alagamentos e ruas esburacadas são as principais reclamações SARA DALZOTTO Os moradores do bairro Contorno, de Ponta Grossa, afirmam que, por diversas ve‐ zes nos últimos anos, solicita‐ ram à Prefeitura que as ruas das vilas fossem asfaltadas, mas não tiveram respostas efetivas. Os habitantes rela‐ tam dificuldades para transi‐ tar nas ruas em dias de chuva e casos de alagamento devido à falta de bueiros. No começo do ano, a prefeita Elizabeth Schmidt anunciou a abertura de processos para a execução de obras de pavimentação em diversos bairros de Ponta Grossa. Essas ações fazem parte do “Programa Asfalto Novo em PG” e o investimento é de 70 milhões de reais. A moradora da vila Dom Bosco, do bairro Contorno, Paola Antunes, conta que ten‐ tou evitar o alagamento da sua própria casa colocando pe‐ quenos muros de terra em volta do terreno. Como ele é mais baixo que o nível da es‐ trada, em dias muito chuvo‐

sos, a barreira nem sempre funciona. Paola acredita que a Prefeitura não finalizará a obra. “Podem até começar, mas veremos se irão terminar, na rua abaixo começaram e ficaram um bom tempo com a obra parada”. Residente na mesma locali‐ dade, Daiane Vieira Carvalho conta que moradores mais an‐ tigos da vila, incluindo sua própria mãe, aguardam o as‐ faltamento das vias há 20 anos. Daiane afirma que em dias de chuva “as ruas ficam esburacadas e se torna quase impossível a passagem dos carros”. Segundo o autônomo Valdecir de Oliveira, as estra‐ das ruins já foram motivo até de brigas na vizinhança, entre moradores que se negavam a descer a rua esburacada. Val‐ decir só acreditará nas obras quando forem realmente ini‐ ciadas. De acordo com dados divul‐ gados nas redes da Prefeitura de Ponta Grossa, as vilas be‐ neficiadas no projeto são San‐ ta Paula III, Dom Bosco, San

SARA DALZOTTO

Má estrutura das vias prejudicam os moradores

Marino, Panorama, Monte Carlo, entre outras. A reportagem do Foca Li‐ vre foi até a Prefeitura para tratar das reclamações dos moradores e do projeto junto à Secretaria de Infraestrutura e Planejamento. As únicas in‐ formações repassadas, por meio da assessoria, que se comunicou por e‐mail, são as

declarações do secretário de Infraestrutura e Planejamen‐ to, Henrique do Vale, já divul‐ gadas na imprensa local, de que o objetivo é construir um grande banco de projetos e desenvolver o maior programa de obras da história de Ponta Grossa. Quanto às reclama‐ ções da população, nenhuma resposta foi dada.

Prolar extinta dificulta acesso à habitação LEONARDO CZERSKI A Câmara de Vereadores de Ponta Grossa aprovou, no dia 25 de abril, o projeto de Lei nº 341/21, de autoria da Prefeita Elizabeth Schmidt (PSD), que prevê a extinção da Compa‐ nhia de Habitação de Ponta Grossa (Prolar). A previsão é de que a Prolar deixe de ser um órgão independente no fim do ano e seja incorporada co‐ mo um departamento da Se‐ cretaria Municipal da Família e Desenvolvimento Social. A assistente social Sandra Scheffer, que atuou na Prolar durante 21 anos e estuda proje‐ tos públicos de habitação, ex‐ plica que a Prolar possuía

falhas, mas a extinção não era a melhor saída. “A prefeitura poderia ter cobrado, exigido, brigado, mas extinguido ja‐ mais; uma captação de recur‐ sos na União ou no estado já faria com que a cidade não ficasse totalmente desampara‐ da nessa questão”, afirma. Sandra ainda comenta que Ponta Grossa possui uma de‐ manda habitacional muito grande e que com o fim da Pro‐ lar, ficará maior. O surgimento e crescimento de ocupações na cidade como a Ocupação Ericson Duarte e a Ocupação Andorinhas, confirmam essa realidade. A autônoma Lucélia Apare‐ cida Correa de Paula está na

fila de recebimento de um ter‐ reno da Prolar desde 2004. “Já fui pessoalmente lá várias ve‐ zes e eles sempre falam que eu atendo aos requisitos, mas que são muitas pessoas e que mi‐ nha vez está chegando.” Atual‐ mente, Lucélia mora em uma casa nos fundos do terreno da sua irmã, mas paga aluguel. Silvana do Rocio da Cruz, merendeira escolar, conta que em 2007 entrou para a fila de espera da Prolar porque a dire‐ tora da escola onde trabalhava recebeu um terreno. “Fiquei muito feliz com a possibilida‐ de de ter um terreno próprio”. Silvana comenta que está em processo de adesão ao Progra‐ ma Casa Verde e Amarela, do

Governo Federal. “É minha úl‐ tima esperança de deixar algo para a minha filha quando eu for embora”. A extinção da Prolar faz par‐ te do projeto de Reforma Ad‐ ministrativa da Prefeita Elizabeth Schmidt. Segundo o projeto, os órgãos estão sendo extintos porque não geram lu‐ cro para o Município e seus in‐ vestimentos seriam repassados às áreas da Saúde, da Educação e da Pavimentação. Confira por meio do QRCode mais informações sobre as ocupações pontagrossenses.


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Junho 2022| CIDADE | 7

Prédio histórico do Museu Campos Gerais passa por restauro e reforma Valor do projeto previsto no Plano de Revitalização é de R$10,5 milhões DAPHINNE PIMENTA A reforma e a restauração do antigo prédio do Museu Campos Gerais (MCG) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), iniciada em março, contemplam de‐ mandas históricas. Segundo o engenheiro Gustavo Sampaio, coordenador da reforma, a presença de mofo, infiltração, cupim, aranhas‐marrons e pintura com tintas impróprias estavam afetando o prédio. O Plano de Revitalização inclui o restauro do prédio his‐ tórico, a construção de uma edificação anexa para os acervos e para a estruturação interna do Museu. Sampaio explica que a obra já dura três meses, e serão realizadas a aplicação de veneno para cupim, subs‐ tituição de assoalhos danifi‐ cados, melhoria da pintura e troca de vidros. “As atividades que estamos executando são voltadas para o restauro de portas, janelas e assoalho do prédio. Esse processo é mais

demorado por conta do cui‐ dado para lidar com a preser‐ vação da estrutura antiga”. A construção do prédio anexo será ligada ao edifício histórico e trará a acessi‐ bilidade inexistente até este momento. "Vamos colocar uma plataforma elevatória para viabilizar a visitação de deficientes”, comenta. O diretor do MCG, Niltonci Batista Chaves, afirma que o valor investido – de R$ 10,5 milhões – pelo Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, foi calculado a partir de um projeto estrutural feito pela Pró‐Reitoria de Planejamento (Proplan) da UEPG. “A expectativa é fazer um evento de reabertura para come‐ morar os 200 anos de Ponta Grossa e os 73 anos do Museu Campos Gerais”. A estudante Ariana Fuen‐ tes, do curso de licenciatura em História na UEPG, afirma que, o acesso à biblioteca e ao auditório do MCG, apenas por

escadas, dificulta a visitação por qualquer pessoa. Ariana compartilha das mesmas expectativas do plano de ação da reforma. “A revitalização vai servir para ter um espaço mais adaptado, ter mais exposições, ampliar o espaço e melhorar a infraestrutura, a acessibilidade e a promoção de mais atividades”. O mestrando Frederico Renan Hilgenberg Gomes, do curso de História da UEPG, diz que a revitalização do

prédio histórico é importante para preservar a edificação e as memórias da Universidade, como também a preservação do passado de Ponta Grossa e da região dos Campos Gerais como um todo. A jornalista Érica Ramos, que cobre eventos no Museu, comenta que o espaço atual não comporta muitas exposi‐ ções ao mesmo tempo. Os ma‐ teriais de acervo e reserva são guardados atualmente em sa‐ las restritas. DAPHINNE PIMENTA

Restaurações são realizadas na estrutura do MCG

Estudantes reclamam de nova rota de ônibus KAUAN RIBEIRO Os Estudantes da Universida‐ de Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Campus de Uvaranas, que necessitam do transporte público para chegar à Institui‐ ção, enfrentam diariamente problemas durante o trajeto, como a superlotação e o atraso dos ônibus, além de horários irregulares. De acordo com os alunos, os problemas começa‐ ram após mudanças na rota. Em março deste ano, a Via‐ ção Campos Gerais (VCG) fez algumas alterações na linha que liga o terminal de Uvaranas à UEPG. Anteriormente, o ôni‐ bus ia do terminal ao Campus. Agora, o trajeto do ônibus pre‐

vê uma parada no Hospital Uni‐ versitário (HU), para em segui‐ da retornar ao terminal. A discente do curso de Zoo‐ tecnia, Tayná Ribeiro, diz que o ônibus demora para chegar na Universidade devido à uma pa‐ rada no HU: “Ele leva cerca de 20 minutos, porque vai para o Hospital Universitário e fica lá parado um pouco”. Para o aluno Adrian Ferrei‐ ra, do curso de Engenharia de Materiais, a VCG não levou em conta a qualidade do transporte e o bem‐estar dos passageiros. “A viação está tentando dimi‐ nuir horários e linhas de ôni‐ bus para economizar, sem se preocupar com a qualidade do transporte”, afirma.

Os estudantes ainda afir‐ mam que com a mudanças, o ônibus excedeu mais a sua ca‐ pacidade de lotação máxima, pois agora leva trabalhadores e pacientes do hospital, gerando assim mais aglomeração. Vários discentes relatam que já chegaram depois do horário de início das aulas, devido ao tempo de espera do ônibus, o que antes não ocorria. A aluna de licenciatura em Matemática, Rebeca Maria Luz, relata que já chegou atrasada às aulas devido ao tempo de espera. “Às vezes acontece de todos os ônibus atrasarem, aí chego ainda mais atrasada”. Na opinião da estudante Celi‐ ne Neves, do curso de gradua‐

ção em Educação Física, um caminho para solucionar o pro‐ blema seria retomar o trajeto antigo, quando o ônibus não re‐ alizava paradas no HU. “Como sugestão eu apoio o retorno e aumento (no número) dos ôni‐ bus que fazem somente o cami‐ nho da UEPG”. A reportagem entrou em contato com a empresa que de‐ tém a concessão e a Prefeitura, solicitando esclarecimentos so‐ bre a mudança. A VCG informou que não lhe cabe falar do assunto. A Secretaria Municipal e a Autarquia Muni‐ cipal de Trânsito e Transporte (AMTT) não prestaram esclarecimentos até o fecha‐ mento da matéria.


8 | Especial | Junho 2022

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Falta de ciclovias a acidentes em P

Ciclistas utilizavam as principais rotas de tráfe primeiros cinco LÍVIA HASMAN

LÍVIA HASMAN

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A cidade não foi estruturada para receber o ciclista, então a gente se vira com o que tem

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- José Augusto da Silva

A infraestrutura de ciclovias existentes nas cidades não atende a demanda do aumento de ciclistas durante a pande‐ mia de coronavírus. Muitas pessoas aderiram à bicicleta como meio de transporte para trabalho, estudo ou lazer e de‐ vido à alta nos preços dos com‐ bustíveis desde dezembro de 2020. Segundo dados da plata‐ forma Strava Metro, principal aplicativo sobre deslocamento em transporte não motorizado no mundo, o número de cida‐ dãos que utilizam regularmen‐ te a bicicleta aumentou no país entre 2019 e 2021. Além disso, de acordo com informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustível (ANP), o preço dos combustíveis deriva‐ dos do petróleo aumentou em

A ciclofaixa Mario Jorge Fadel possui pouco mais de 1 km de extensão

22,6% de janeiro deste ano até a primeira semana de maio. O aumento de ciclistas tam‐ bém ocorre em Ponta Grossa. Segundo o ciclista José Augusto “Gugu” da Silva, proprietário de uma loja de bicicletas, o nú‐ mero de pessoas que utilizam a bicicleta como meio de trans‐ porte cresceu muito na cidade. Para ele, a divulgação de gru‐ pos de ciclismo nas redes soci‐ ais é uma das razões do crescimento. Gugu cita o grupo “Pedal Noturno”, de que faz parte, voltado para ciclistas ini‐ ciantes. Atualmente, cerca de 50 pessoas participam das pe‐ daladas que ocorrem em dias de clima agradável.

perigosa. Você precisa andar pela extrema direita da via e não tem espaço ali”, explica. O ciclista expõe outros lugares de risco. “Tem várias vias perigo‐ sas. A Avenida Carlos Caval‐ canti, onde a ciclovia foi feita em só um pedaço, a Avenida Doutor Vicente Machado, a Balduíno Taques”. Ação do Poder Público A Câmara Municipal de Pon‐ ta Grossa aprovou, no dia 18 de

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O número de acidentes de trânsito envolvendo ciclistas em Ponta Grossa revela falta de segurança aos usuários de bici‐ cleta por insuficiência de ciclo‐ faixas e orientações de trânsito na cidade. Foram 59 ocorrênci‐ as de janeiro a maio deste ano. Os registros mostram maior in‐ cidência nos bairros Uvaranas, com 11 acidentes, Oficinas e Contorno, ambos com sete ca‐ sos registrados, e Neves, com seis. Os dados levantados pelo Sistema de Estatísticas de Ocorrências do Corpo de Bom‐ beiros do Paraná especificam os tipos de ocorrência, entre elas estão atropelamento, coli‐ são e queda de veículo.

O ideal seria ter ciclofaixas em praticamente todas as ruas, dando lugar para o ciclista - Iara Solange Panzarini

José Augusto afirma, no en‐ tanto, que falta segurança para os ciclistas em diversas vias da cidade por conta da insuficiên‐ cia ou até falta de ciclovias e ciclofaixas. “Eu não pedalo na Doutor Paula Xavier, é muito

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maio, o Projeto de Lei 160/2021, que institui o progra‐ ma “Vou de Bike” com a insta‐ lação de bicicletários na cidade. Segundo o autor do PL, vereador Felipe Passos (PSDB), o programa busca incentivar o uso de bicicletas como meio de transporte e a melhoria da qualidade da mobilidade urba‐ na no município, por meio da promoção de meio de trans‐ porte não poluente. Somente a instalação de bicicletários pú‐ blicos, porém, não é suficiente para solucionar os problemas da ciclomobilidade de Ponta Grossa, que necessita de rota cicloviária estruturada. Na opinião de José Augusto, as ci‐ clovias e ciclofaixas existentes no muni‐ cípio não são sufici‐ entes. “A cidade não foi estru‐ turada para receber o ciclista, então a gente se vira com o que tem, né? É pouco”, afirma Gugu. O ciclista acrescenta que também é necessária a orien‐ tação e o respeito no trânsito, tanto de motoristas quanto de


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aumenta riscos de Ponta Grossa

ego da cidade em 53% dos casos registrados nos o meses do ano usuários de bicicleta: “Depen‐ de do Poder Público fazer uma campanha ou talvez uma blitz edu‐ cativa para todos: para o ciclista, o bicicleteiro e o pes‐ soal que dirige”, diz.

JOÃO PAULO FAGUNDES

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Em cada bike, uma vida A criadora do projeto “Pro‐ teja o Ciclista”, Iara Solange Panzarini, também professora de inglês, afirma que quanto mais pessoas se unirem em prol da causa de proteção aos ciclistas, melhor. Mãe de Hen‐ rique Isaac Panzarini Silva, ví‐ tima de um acidente de trânsito em 2020 enquanto an‐ dava de bicicleta, ela e a famí‐ lia iniciaram o projeto após a tragédia com o intuito de aler‐ tar ciclistas, motoristas e res‐ ponsáveis sobre os cuidados que se deve ter no tráfego. “A ciclofaixa dá mais segurança aos ciclistas, assim como os componentes de segurança, como o capacete. Só que ciclo‐ faixas não existem em todos os lugares”, observa.

A ciclofaixa dá mais segurança aos ciclistas. Só que elas não existem em todos os lugares - Iara Solange Panzarini

O projeto já realizou passea‐ tas, distribuição de capacetes e adesivos refletores e também blitz educativas em parceria com o Departamento de Trân‐ sito do Paraná (DETRAN/PR), a Guarda Municipal de Ponta WESLEY MACHADO E JOÃO PAULO FAGUNDES

Grossa e a Autarquia Munici‐ pal de Trânsito e Transporte (AMTT). Apesar do foco de atu‐ ação do projeto ser campanhas de conscientização e preven‐ ção de acidentes, a profes‐ so‐ ra comenta a necessidade de uma rota cicloviária no muni‐ cípio. “O ideal seria ter ciclo‐ faixas em praticamente to‐ das as ruas, para que os carros pu‐ dessem respeitar mais, dando lugar para o ciclista”. O projeto realiza arrecada‐ ções de equipamentos de segu‐ rança para o ciclista, como capacetes, joelheiras e cotove‐

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leiras. A distribuição dos ma‐ teriais ocorre durante as pas‐ seatas promovidas pelo projeto e nas escolas. Para Iara, quanto mais polí‐ ticos e cidadãos comuns se en‐ volverem na causa da segu‐ rança ao ciclista, melhor para a população. “Acho que tem muito mais gente andando de bicicleta, ainda mais com o preço da gasolina aumentan‐ do. Quanto maior a quan‐ tidade de ciclofaixas, ciclovias e bicicletários existirem na ci‐ dade, mais pessoas vão estar se beneficiando”, conclui.


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PR tem queda na vacinação infantil EDUARDA GUIMARÃES Durante a pandemia da Covid‐19, houve muita desin‐ formação sobre a eficácia dos imunizantes, o que oca‐ sionou em baixas nos índi‐ ces de vacinação. Segundo a Secretaria de Saúde do Para‐ ná, as vacinas que mais so‐ freram baixas no ano passado em relação a 2015 foram: a da BCG, contra tu‐ berculose, que teve uma queda de cerca de 20%; a Trí‐ plice Viral, responsável pela proteção contra sarampo, ca‐ xumba e rubéola, passou de aproximadamente 91% para 82%; já a Pentavalente, que protege contra difteria, téta‐ no, coqueluche, hepatite B e outras infecções, sofreu uma queda de mais de 16%. O pediatra Alberto Calvet explica que a vacinação in‐

fantil, além de obrigatória, é essencial para garantir a pro‐ teção da saúde. “As vacinas possuem eficácia cientifica‐ mente comprovada há mais de 50 anos, salvando milha‐ res de vidas desde então e evitando a volta de doenças até então erradicadas”, diz. A proprietária da clínica Prevenção Vacinas, Mara Oli‐ veira, conta que é comum pais ficarem temerosos quando o assunto é vacina, mas que a maioria acaba por imunizar seus filhos. Ela ain‐ da alerta para uma possível desinformação presente quando o assunto é saúde. “Pode ser que o conjunto de desinformação acerca da va‐ cinação infantil acabe resul‐ tando na baixa imunização de crianças e adolescentes que Ponta Grossa está en‐ frentando”.

Vacinação diminui e casos de Covid aumentam em PG PAMELA TISCHER Segundo o Vacinômetro Nacional, a procura pela vacina da Covid‐19 está em queda desde o ínicio desse ano. No Paraná, dados divul‐ gados pela Secretaria de Esta‐ do da Saúde mostram que 1,8 milhão de doses foram apli‐ cadas em janeiro, quando surgiram os primeiros casos da variante Ômicron. Porém, a procura diminuiu gradativa‐ mente nos meses seguintes, chegando a apenas 856,3 mil doses em abril. Em paralelo, os casos de Covid‐19 aumen‐ taram no Paraná no último mês. Em abril, 27,4 mil casos foram registrados e, em maio, 49,5 mil. A dose de reforço é mais afetada com a queda. O moni‐ toramento estima que mais de 4,3 milhões de paranaen‐

ses estão com a terceira e quarta doses atrasadas. Em Ponta Grossa também há alta nos casos de Covid‐19. O mu‐ nicípio teve 185 casos entre 2 a 10 de maio, e 396 casos en‐ tre 11 e 19 de maio, segundo a Fundação Municipal de Saúde. Os óbitos também au‐ mentaram, em abril houve‐ ram seis, já em maio 16. A acadêmica de enferma‐ gem, Amanda Mattozo, co‐ menta que notou uma queda na vacinação no local que faz estágio. “No início, as pesso‐ as estavam mais preocupa‐ das com o número de óbitos, porém quando houve uma queda deste número, a pro‐ cura pela vacina também caiu”. Amanda acredita que os casos podem subir novamente com a falta da va‐ cinação e o uso não obrigató‐ rio de máscaras.

EMELLI SCHNEIDER

Farmácias com falta de remédios Antibióticos e xaropes infantis são os mais escassos no Paraná EMELLI SCHNEIDER A falta de medicamen‐ tos no Paraná reflete o pós‐ pandemia de Covid e também a necessidade da matéria pri‐ ma. Outro fator que influencia nessa insuficiência é o aumen‐ to significativo de doenças res‐ piratórias com a chegada do outono, que gerou uma alta de‐ manda de produção, a qual a indústria não conseguiu suprir. Isso gerou uma baixa nos esto‐ ques levando a essa escassez de medicamentos, a chamada falta crônica. De acordo com o levantamento realizado pela reportagem, profissionais que atendem nas farmácias da rede privada e pública afirmam que em média 42 remédios estão em escassez, entre eles antibió‐ ticos em solução e xaropes in‐ fantis. De modo geral, os medicamentos já estão faltan‐ do há cerca de seis meses, o que levou os estoques de far‐ mácias a zero. Segundo o farmacêutico Fe‐ lipe Carneiro, que trabalha em uma rede privada de farmácias de Ponta Grossa, a falta dos medicamentos atinge os esto‐ ques de farmácias há pelo me‐ nos 6 meses e agora a situação se intensificou. Ele comenta

que houve um aumento de 13.6% nos medicamentos, muito além do normal porque geralmente há um reajuste de 5%. Felipe diz que os clientes são orientados a voltar ao mé‐ dico para trocar a receita, “Ori‐ entamos os clientes a voltar ao médico ou passamos os anti‐ bióticos que ainda consegui‐ mos comprar. Geralmente os médicos substituem pelo o que agora se encontra nas farmáci‐ as." disse ele. Na cidade, a falta de remédios também ocorre na rede pública. Em nota, a prefeitura informou que isso está sendo registrado em todo o Brasil. São efeitos do pós‐ pandemia de covid‐19 e do desabastecimento por conta da guerra na Ucrânia. Ponta Grossa já fez a aquisição de medicamentos necessários para o atendimento em toda rede e está cobrando e acompanhando os cronogramas de entrega. Foi acrescentado ainda que a situação ainda não se normalizou, temos problemas em vários setores, inclusive na pediatria. Com isso estão buscando outros fornecedores de forma emergencial e remanejando medicamentos entre farmácias.


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O frio aumenta, as doações de sangue diminuem Hemocentro de Ponta Grossa realiza campanha para doação de sangue VANESSA GALVÃO

AMANDA DAL'BOSCO E VANESSA GALVÃO O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (He‐ mepar) de Ponta Grossa está com estoque de bolsas de san‐ gue em estado crítico devido à baixa na doação, o que aconte‐ ce durante o inverno. Na cidade o Hemepar rece‐ be em média, 700 doadores por mês, mas desde a pande‐ mia, há uma queda de 30%. A coordenadora do hemocentro de Ponta Grossa, Fabíola Viol Tonon Alves diz que diaria‐ mente de 40 a 50 pessoas vão doar sangue, porém a meta da instituição é 80. A responsável diz que o es‐ toque está 50% abaixo do que é considerado seguro. Fabíola explica que os hemocompo‐ nentes O+ e O‐, grupos sanguí‐ neos que mais demandam transfusão, são os que têm me‐ nor estoque na unidade. Outro fator que interfere na reserva é que eles apresentam com‐ patibilidade com outros gru‐ pos sanguíneos, podendo suprir, assim, a necessidade diante da escassez de sangue. As coletas realizadas no município atendem 12 cidades da região dos Campos Gerais, todas pertencentes à 3º Regio‐ nal de Saúde. A coordenadora explica como as doações são direcionadas aos pacientes. “Fazemos parte de uma he‐ morrede do Estado do Paraná, então, se alguma unidade está com o estoque zerado, nós de Ponta Grossa ajudamos a uni‐ dade cedendo um pouco do nosso estoque”. Situação inversa também já ocorreu em Ponta Grossa. Fabíola relata que a cidade já precisou de uma doação, pois não havia nenhuma bolsa disponível. Outros municípios da rede, como de União da Vitória, Foz do Iguaçu e Maringá, fornecendo bolsas de sangue para que, desse modo, nenhum dos pacientes ficassem sem o devido atendimento. As baixas doações no inver‐ no são resultado não apenas

Durante inverno, Hemocentro registra queda de 30% em doações

do clima frio, mas também das doenças que chegam com ele. Nesta estação, é comum as pessoas sofrerem com al‐ gumas doenças respiratórias que as deixam inaptas à doa‐ ção. Fabíola esclarece ainda que muitas pessoas ficaram impossibilitadas de doar por conta da Covid‐19. “Alguns não podem mais doar porque ficaram sequelados, alguns foram a óbito e alguns fica‐ ram com medo”, afirma. Ela ainda pondera que o Heme‐ par sempre tomou todos os cuidados e seguiu os protoco‐ los para a segurança das pes‐ soas que doam sangue. Além disso, na reabertura de cirurgi‐ as eletivas agendadas, o núme‐ ro de doadores é menor que os das cirurgias programadas. Para aumentar os estoques são realizadas algumas cam‐ panhas. O técnico de enfer‐ magem, João Acir dos Santos, comenta sobre esse trabalho. “As campanhas são feitas quando baixa o nível de san‐ gue no laboratório, recente‐ mente fizeram uma chamada na televisão, isso ajuda o pes‐ soal a retornar”. Outra forma de conseguir doação vem de dentro de hospitais, convi‐

dando familiares dos pacien‐ tes a doar sangue. Uma única doação de san‐ gue pode ser utilizada em até quatro pacientes dependendo do quadro clínico. Sendo des‐ tinadas para pessoas que se submetem a tratamentos e in‐ tervenções médicas de gran‐ de porte e complexidade. O técnico ainda comenta que a bolsa de sangue é dividida em concentrado de hemácias, plaquetas e plasma. Doações Quem faz a doação tam‐ bém reconhece a importância do ato. O assistente de crédi‐ to, Carlos Eduardo Sikorski, começou a fazer as doações por perceber o impacto que a ação tem na vida das pessoas que a recebem. “Você pode li‐ teralmente salvar a vida de várias pessoas, 4 doações por ano podem impactar a vida de 16 pessoas”. Já Carlos Eduardo Kordiak diz que o incentivo para doar veio de uma campanha que dizia “uma doação pode sal‐ var mais de uma vida’’. Ele diz que sente falta das chamadas para doar sangue nos meios de comunicação e ressalta a necessidade de maior divul‐

gação. “A importância está jus‐ tamente na premissa de doar sangue é salvar vidas’’ diz. No entanto, algumas pesso‐ as não conseguem realizar as doações devido ao horário de atendimento do Hemepar, co‐ mo é o caso de Arlene Col‐ man, que trabalha como atendente do cartório e conse‐ gue realizar as doações apenas em seu período de férias. “Eu realizo a doação uma vez ao ano, pois o funcionamento é em horário comercial. Se hou‐ vesse um horário estendido para doar, eu faria a doação mais vezes ”. Porém segundo o artigo 473 da Consolidação das Leis do Trabalho, os trabalhadores que doam sangue têm um dia de ausência no serviço garan‐ tido por lei. O empregado po‐ de deixar de comparecer ao serviço, sem que haja prejuízo salarial, a cada 12 meses, em caso de doação voluntária de‐ vidamente comprovada. Campanhas A campanha Junho Verme‐ lho, criada em 2015 pelo Mi‐ nistério de Saúde como uma forma de incentivar as pesso‐ as a irem aos hemocentros para doar sangue, a fim de au‐ mentar as doações neste mês. Como doar A doação de sangue pode ser feita por agendamento ou diretamente no Hemepar, que está em novo endereço por aproximadamente 120 di‐ as, na Rua Augusto Ribas, 131. Para realizar a doação é necessário ter entre 16 e 69 anos completos. Menores de idade devem estar acompa‐ nhados e ter autorização do responsável legal. O doador deve pesar no mínimo 51 quilos, estar em boas condi‐ ções físicas e mentais e também deve apresentar do‐ cumento oficial com foto. Agende sua doação no Hemepar por meio deste QRCode


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Mesmo com atendimento, fibromialgia segue desconhecida em Ponta Grossa Com escassez de grupos de apoio, fibromiálgicos sofrem com preconceito JOÃO PAULO FAGUNDES

KAILANI CZORNEI A fibromialgia afeta cerca de 2% da população brasileira, segundo uma pesquisa presente no site do Ministério da Saúde. Em Ponta Grossa, a Lei Nº 13.743 de 06 de julho de 2020, sancionada pelo ex‐pre‐ feito Marcelo Rangel, garante o atendimento preferencial para pessoas com fibromialgia em agências bancárias, co‐ mércios e empresas. De acordo com o Ministé‐ rio, a fibromialgia é definida como uma síndrome crônica de causa desconhecida, que aparece na forma de dores musculoesqueléticas em vári‐ os pontos do corpo e atinge principalmente mulheres. A síndrome apresenta, ainda, fatores psicológicos como es‐ tresse, ansiedade e depressão. Pesquisas disponíveis na pági‐ na do Governo Federal mos‐ tram que os pacientes mais afetados psicologicamente são os que mais aderem às dores além de receber menos suporte social. Larissa Heidmann fisiotera‐

Pontos onde ocorre a dor da fibromialgia

peuta que atua na região de Ponta Grossa, afirma que os principais sintomas apresen‐ tados são as dores específicas conforme o mapa de teste. Acrescenta que com a chega‐ da do inverno, as dores da fibromialgia tendem a au‐ mentar por causa das contra‐ ções corporais que as pessoas fazem ao sentir frio, o normal

é manter‐se aquecido, nesse caso, a movimentação nem sempre é viável Heidmann também destaca que a fisioterapia é benéfica às pessoas fibromiálgicas, no alongamento e fortalecimento do corpo do paciente, pois é necessário o movimento con‐ tínuo do corpo, especialmente em épocas frias.

Para Leila Maria Nasci‐ mento, portadora de fibromi‐ algia, o preconceito com a doença chegou a prejudicar seu ambiente de trabalho. “Precisei de atendimento mé‐ dico diversas vezes por conta das dores e frequentava o hospital quinzenalmente pa‐ ra tomar medicamentos”. Ela chegou a ser demitida devido à incompreensão de um em‐ pregador. Leila conta também que demorou para receber o diag‐ nóstico. Como a síndrome não possui cura, ela relata que apenas alguns remédios ajudam na redução das dores, e que mesmo estes deixam de fazer efeito. No momento, pa‐ ra ela, o que mais ajuda é per‐ manecer em repouso e não fazer esforço físico. A portadora relata que sen‐ te falta de um grupo de apoio para fibromiálgicos na cida‐ de para compartilhar vivên‐ cias e receber mais atenção dos médicos. Assim como ações de conscientização e vi‐ sibilidade de pessoas que so‐ frem com a síndrome.

Uso de cão-guia é escasso no Paraná LARISSA DEL POZO A chance de obter um cão‐ guia como alternativa de mo‐ bilidade é uma realidade longí‐ qua para os deficientes visuais de Ponta Grossa e da região. O acesso aos animais assistentes é raro no Paraná, estado que necessita de instituições para fornecer treinamento para os cães‐guia e diminuir os custos para quem precisa desses ser‐ viços. De acordo com matéria pu‐ blicada na Revista Nacional de Reabilitação em 2021, o Brasil possuia menos de 200 cães‐ guia para auxiliar a mobilida‐ de de mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiências visu‐

ais no país, conforme o censo do Instituto Brasileiro de Geo‐ grafia e Estatísticas (IBGE), de 2010. Em Ponta Grossa, o Co‐ ordenador do Controle de Zoo‐ noses, Leandro Monteiro Inglês, afirma que desconhece a existência de animais assis‐ tentes de pessoas cegas ou com baixa visão na cidade, o que contrasta com a população local de cães. Segundo Lean‐ dro, há cerca de 85 mil cachor‐ ros no município. O número atenderia aos de‐ ficientes visuais que residem em Ponta Grossa, mas entre os quase 200 alunos cadastrados na Associação de Pais e Ami‐ gos do Deficiente Visual (Apa‐ devi), por exemplo, nenhum

utiliza serviços de cão‐guia. A coordenadora pedagógica da associação, Lucélia Aparecida Lara, afirma que, em seus 22 anos de atuação na entidade, não conheceu nenhum defici‐ ente visual que contasse com o auxílio desses animais. Segun‐ do ela, há muitos obstáculos para a aquisição desses assis‐ tentes, inclusive o alto custo de treinamento desses cães, já que não existem instituições que realizam esse tipo de ser‐ viço no estado. No Paraná, Thiago Bornia foi um dos poucos que conse‐ guiu substituir a bengala por um cão‐guia. Ele afirma que passou a ser mais ágil e seguro nos seus próprios movimen‐

tos, além do cão facilitar sua inclusão. Thiago comenta, po‐ rém, que falta incentivo por parte dos governos. Dificuldades As despesas para fornecer um animal é cerca de 35 mil reais, segundo o portal do Ins‐ tituto de Responsabilidade e Inclusão Social (IRIS), organi‐ zação especializada em cães‐ guia, sediada em São Paulo. Por conta disso, a espera para ter acesso gratuito a esses as‐ sistentes de quatro patas pode levar três anos e depende das condições do usuário que, após adquirir o cão‐guia, deve se responsabilizar pelo cuida‐ do e despesas com alimenta‐ ção e vacinação do animal.


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Junho 2022 | ECONOMIA | 13 NAIOMI MAINARDES

Feiras estimulam economia de PG QUIARA CAMARGO

Usados atraem a atenção de pedestres pela Praça do Ponto Azul

Uso sustentável aumenta brechós NAIOMI MAINARDES O segmento de lojas e even‐ tos especializados na oferta de roupas usadas cresce no país, estimulado por uma maior conscientização sobre a ne‐ cessidade de consumo susten‐ tável. Em Ponta Grossa não é diferente. O Varal das Mina, feira responsável pela exposi‐ ção de artigos de moda sus‐ tentável, principalmente brechós, caracteriza a ascen‐ são do movimento na cidade. O evento, realizado desde 2018, fez sua última exposição no dia 11 de junho, no Ponto Azul, com a participação de 45 brechós. Uma das organizadoras do evento, Mariana Mendonça Silva, conta que o Varal das Mina é uma comunidade de mulheres que se apoiam. O objetivo é ajudar financeira‐ mente quem vive dessa ativi‐ dade, servindo também de suporte para a valorização e o aumento de consumidores de moda sustentável na cidade. Mariana afirma que a feira cresceu muito em compara‐ ção com a primeira edição: “Nós percebemos isso a cada dia, tanto de mulheres que querem expor (no Varal), quanto de pessoas que procu‐ ram esses produtos”. Mylena Chaikouski e Joslai‐ ne Dias da Luz, donas de bre‐ chós em Ponta Grossa,

avaliam que as vendas au‐ mentaram, mesmo durante a pandemia, e que o público é formado por pessoas de clas‐ ses sociais diferentes. Abrir um brechó online foi uma es‐ tratégia adotada pelas propri‐ etárias para manter e ampliar a compra e venda dos artigos. A consumidora de brechós Ana Flavia Neri conta que de‐ cidiu aderir ao consumo sus‐ tentável há quatro anos e hoje tem cerca de 90% do seu guarda‐roupa constituído de roupas usadas. Ana observa que Ponta Grossa conta com cada vez mais brechós e baza‐ res, citando o Varal das Mina como um grande exemplo da popularização da moda sus‐ tentável. De acordo com ela, estabelecimentos são admi‐ nistrados e frequentados, em sua maioria por um público jovem, entre 20 e 30 anos, adeptos da moda clássica e de estilo antigo. A indústria tradicional da moda é um dos principais fa‐ tores responsáveis por contri‐ buir com o desmatamento da floresta Amazônica. Isso se dá devido ao fast fashion, que em outras palavras, seria a produção de roupas de baixa qualidade e duração, em con‐ formidade com uma pesquisa da organização ambiental Stand.earth. O estudo cita companhias como Zara, Adi‐ das, Nike e Lacoste.

O comércio de hortifruti‐ granjeiros, por meio de feiras semanais, em Ponta Grossa, é uma alternativa para famílias economizarem nas despesas com alimentação, além de ser fonte de renda para produto‐ res locais e feirantes. A popu‐ lação conta com diversas feiras e iniciativas que ocor‐ rem de terça à sábado, em vá‐ rios locais da cidade, além de outras possibilidades, como por exemplo o aplicativo "Fei‐ ra Fácil", que permite a venda de verduras e frutas online, todos os dias. A Feira do Produtor é um dos projetos do governo mu‐ nicipal que visa apoiar peque‐ nos produtores locais. Ela se manteve aberta durante a pandemia com o objetivo de escoar a produção e diminuir a concentração em grandes mercados. A Feira é realizada to‐ da quarta‐feira, das 13 às 18 ho‐ ras, e sábados das 7 às 13 horas. A feira movimenta em media 4 a 6 mil pessoas semanalmente. O feirante, Ricardo Schei‐ fer, declara que as feiras são importantes espaços de socia‐ lização. "As feiras são essenci‐ ais para aproximar cliente e vendedor, cria‐se um vínculo muito maior que somente a obtenção do lucro”. Segundo Scheifer, com as feiras, a eco‐ nomia passa por um processo de desmonopolização. “Numa perspectiva econômica se quebram monopólios de grandes mercados, os preços

caminham mais perto da rea‐ lidade", destaca o feirante. Scheifer afirma que, apesar da importância das feiras, há muito o que melhorar na re‐ gião. Ele diz que as vendas nas feiras estão subindo, mas o número de pessoas que fre‐ quentam poderia ser muito maior, considerando a popula‐ ção de Ponta Grossa. O feiran‐ te também critica a falta de variedade da produção agríco‐ la local, baseada na produção de culturas como milho, soja e trigo, enquanto a produção de hortaliças ainda ‘’engatinha’’. Ainda assim, de acordo com o feirante, as vantagens de se adquirir produtos em feiras são enormes e incluem preço menor, qualidade melhor, além do apoio à economia lo‐ cal da cidade. O presidente da Feira do Produtor, Jonas Gonçalves Franco, destaca a importância das feiras para produção agro‐ familiar de hortifrutigranjei‐ ros. Ele explica que, apesar da aproximação do inverno, as tecnologias atuais garantem a continuidade da variedade, embora a qualidade de certos vegetais seja afetada. Os ali‐ mentos das feiras vêm, princi‐ palmente, da economia das famílias. Adriano Costa Vala‐ dão menciona a produção da comunidade Emiliano Zapata, ligada ao Movimento dos Tra‐ balhadores Rurais sem Terra (MST), onde a terra já foi des‐ tinada para as famílias e está em processo de se tornar um assentamento. QUIARA CAMARGO

Feira do Produtor acontece embaixo de restaurante popular


14 | POLÍTICA | Junho 2022

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Reestruturação na saúde pública desagrada moradores de PG Projeto inclui a criação de novas UBS, mas a situação atual frusta moradores JOÃO PAULO FAGUNDES A Prefeitura de Ponta Gros‐ sa anunciou uma série de modificações com o objetivo de reestruturar a saúde públi‐ ca no município. A primeira medida do projeto foi a criação do Centro de Atendimento à Criança, uma unidade médica voltada ao atendimento pediá‐ trico, que abriu no dia 16 de maio no bairro de Olarias. A unidade 24 horas atende casos leves de crianças até 11 anos. Mas, moradores reclamam que precisam se deslocar para ou‐ tras unidades de saúde, já que o Centro de Atendimento subs‐ tituiu a UBS Sady Silveira que atendia a população do bairro. Segundo a moradora do Olarias, Tais Rigoni, o Centro de Atendimento à Criança re‐ solve um problema, mas cria outro: “Para a criançada é bom, mas para os moradores é complicado porque tem que ir buscar atendimento em outro lugar, e não é de hoje que essa situação da saúde está compli‐ cada”. Houve protestos e críti‐ cas contra o encerramento da

UBS. Na manhã do dia 5 de maio, cartazes foram colados na fachada da unidade de saúde pelos moradores. Eles questionam para onde o aten‐ dimento da região seria direci‐ onado e pedem melhorias na saúde. A encarregada do Centro de Atendimento à Criança, Ro‐ sineia Roque, afirma que é compreensivel a revolta da po‐ pulação, mas havia a necessi‐ dade da criação de uma unidade de saúde voltada ex‐ clusivamente às crianças, principalmente no bairro de Olarias: “Tinha muita recla‐ mação. A UPA Santa Paula es‐ tava sofrendo de superlotação e as crianças estavam sendo prejudicadas. Então foi priori‐ zado um serviço exclusiva‐ mente para as crianças, tanto é que na primeira semana de funcionamento realizamos cerca de 950 atendimentos.” Centros de Atendimento Atualmente os moradores do bairro estão necessitando se deslocar para a Unidade de Saúde Madre Josefa, em Uva‐ ranas. Outras medidas anunci‐

JOÃO PAULO FAGUNDES

Centro à Criança começa atendimentos em Olarias.

adas pela prefeitura para rees‐ truturação são a criação de uma Unidade de Pronto Aten‐ dimento no bairro Uvaranas, reformas e construções de no‐ vas unidades de saúde que de‐ vem ampliar a rede disponível para a população dentro dos próximos meses. A previsão é de que 45 unidades sejam construídas e reformadas até

o ano de 2024, sendo que 15 delas tem previsão para ser entregues ainda em 2022. A reportagem tentou uma entrevista com o ministro da saúde interino e procurador‐ geral do município, Gustavo Schemim da Matta, porém só obteve releases repassados por e‐mail pela assessoria de imprensa da Prefeitura.

Projeto de Lei pode fechar TV Educativa RAFAELA KOLODA Com 22 anos, a TV Educati‐ va de Ponta Grossa (TVE PG) passa pela pior crise de sua gestão, resultado do Projeto de Lei nº 339/2021, da prefeita Eli‐ zabeth Schmidt, em tramita‐ ção na Câmara Municipal desde dezembro de 2021. Es‐ tão previstas alterações na Fundação Educacional de Pon‐ ta Grossa (Funepo), responsá‐ vel pela emissora, além do corte de investimentos públicos e a transferência dos servidores. A emissora fundada na ges‐ tão do prefeito Jocelito Canto, possui transmissão pelo canal 58.1. Retransmite a TV Cultura de São Paulo, boletins jorna‐ lísticos diários, o programa

Crônicas Campos Gerais e o Esporte Emoção. Na pande‐ mia de Covid‐19, a emissora vei‐ culou aulas através do programa municipal “Vem Aprender”. A proposta da prefeitura pode causar a diminuição de conteúdos transmitidos. Para o editor Alexandre Gonçalves Machado, há 22 anos na TV Educativa, a população perde com o fechamento. Se houves‐ se mais investimentos, a pro‐ gramação poderia ser melhorada, aumentando o in‐ teresse do público. “Ocorreu um movimento de ir minando a capacidade de produzir conteúdo de interes‐ se público”, relembra a inte‐ grante do Conselho de Curadores da Funepo e do Sin‐

dijor‐PR, Aline de Oliveira Rios. Ela lembra que cabe aos membros do Conselho man‐ ter a emissora em atividade, conforme o Estatuto da Fune‐ po. Isso significa fiscalizar a aplicação de recursos públi‐ cos investidos na TVE e aler‐ tar a população e instituições. Conforme a PL, a Funda‐ ção Educacional de Ponta Grossa é uma entidade de personalidade jurídica de di‐ reito privado. Não sendo pos‐ sível mantê‐la, os recursos materiais e humanos seriam investidos em outras áreas. De acordo com o membro do Conselho de Curadores da Funepo e representante da Conferência de Cultura, Mar‐ celo Bronosky, mesmo que a

Fundação seja uma entidade privada, sem o investimento municipal, que garante seu funcionamento, a emissora será prejudicada. Marcelo ressalta que a mai‐ or parte do orçamento da TV Educativa está voltado para o pagamento dos funcionários e outra, é utilizada no custeio de despesas fixas. O restante é devolvido aos cofres públicos. "O orçamento não é usado em sua integralidade", afirma. É preciso lembrar que o descaso com a emissora existe desde a gestão do prefeito Marcelo Rangel. Outro proble‐ ma persistente é o número de funcionários da emissora que, conforme Alexandre, caiu de 54 para apenas 14.


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Junho 2022 | CULTURA | 15 MANUELA ROCHA

PG é palco para arte circense VITÓRIA TESTA

Benefícios de projeto cultural em PG

Cultura Hip Hop movimenta a arte MANUELA ROCHA O projeto paranaense Mo‐ va‐se Hip Hop lançou recente‐ mente seu calendário mensal de atividades e apresentações em colégios. O cronograma apresenta a história da arte urbana, coreografias de im‐ proviso e um tema definido em parceria com os diretores de cada escola. Os temas abordados envolvem ensina‐ mentos que pregam disciplina e organização para que as pa‐ lestras impactem positiva‐ mente no desempenho dos estudantes. Criado pelo artista Osvaldo “Nike” Serra, o projeto Mova‐ se Hip Hop tem como objetivo fazer com que os alunos co‐ nheçam culturas diferentes de forma pedagógica. O projeto ficou inativo du‐ rante 2020 e 2021, devido à pandemia, o que impossibili‐ tou a realização de apresenta‐ ções de modo presencial. Com o retorno, segundo Os‐ valdo, o hip hop contribui di‐ retamente para que os estudantes criem uma disci‐ plina e uma rotina saudável novamente, ao mesmo tempo em que os alunos se divertem e simultaneamente aprendem com a dança e até mesmo com o Graffiti. O artista esclarece que o hip hop está ligado diretamente aos conceitos de respeito, amizade e confiança,

além de ser o começo da arte urbana. Já o graffiti, é um dos quatro elementos do hip hop e representa a parte visual. O grafiteiro ponta‐gros‐ sense Jackson Paes acredita que a importância do Graffiti vai muito além de colaborar com a urbanização das cida‐ des. Segundo ele, a arte im‐ pacta o cotidiano das pessoas. A partir do momento em que a expressão artística é criada e mantida nas ruas, ela se torna pública e não apenas do artista. Para Jackson, levar a arte para o ambiente urba‐ no, principalmente em locais onde há indivíduos oprimidos socialmente, pode despertar novos artistas, novas perspec‐ tivas e outras experiências no contato com a prática artística do Graffiti. Moradora da cidade, Aliet Fusculin, de 88 anos, admira as artes urbanas. O muro da casa de Aliet sempre teve espaço para o Graffiti. Uma das artes que já esteve pintada em sua casa durou mais de 5 anos.

O circo Zanchettini desem‐ barcou em Ponta Grossa pela primeira vez e ergueu a lona ao lado da biblioteca munici‐ pal no início de abril. Após al‐ gumas semanas, a Prefeitura solicitou que o circo saísse do local. A alternativa foi instalar a estrutura no Jockey Club de Uvaranas. Na semana seguin‐ te, as redondezas da bibliote‐ ca municipal foram ocupadas pelo Ferrari Circus. A cidade conta, agora, com duas atra‐ ções circenses. Andréa Silveira e Rodrigo Falcão, casal que criou o Fer‐ rari Circus, conta que a média de público semanal varia muito. Os finais de semana são os dias de maior público, cerca de 350 pessoas compa‐ recem por dia para assistir aos espetáculos. Em dias de semana, essa média cai para cerca de 150 pessoas. A maior parte do público é composto por famílias, crianças e ido‐ sos. “Como na cidade tem ou‐ tros meios para os jovens, como shoppings e cinemas, esse público se divide muito, nós recebemos poucos ado‐ lescentes”, observa Andréa. Adriane Monteiro, mora‐ dora de Ponta Grossa, relem‐ bra saudosa sua infância ao falar da magia do espetáculo do circo. Hoje, sempre que pode, ela leva sua filha Vallen‐ tina, 7 anos, para prestigiar. Além das acrobacias e palha‐

çadas, Vallentina afirma gos‐ tar das comidas circenses, en‐ tre suas favoritas, a maçã do amor e a pipoca. Outra moradora de Ponta Grossa, Caroline Alves, que aguarda na fila para assistir ao espetáculo do circo Ferrari Circus, juntamente com seus dois filhos, afirma ter ido em outros circos e sempre que po‐ de costuma frequentar com a família. “ Para as crianças tu‐ do é lúdico, eles gostam bas‐ tante”, comenta. Um mapeamento publicado no site da Fundação Nacional de Artes (Funarte), vinculada ao Ministério da Cidadania, em julho de 2020, revela que existem 651 circos em todo o Brasil. Aproximadamente, 80% deles estão concentrados nas regiões Nordeste (271) e Sudeste (248). Os dados levan‐ tados mostram, ainda, que há 31 circos no Norte, 31 no Cen‐ tro‐Oeste e 70 no Sul. No Paraná, existe o projeto da SECC chamado Prêmio Selo Circo Amigo, que seleciona e premia a trajetória de 30 cir‐ cos, com recursos da Lei Aldir Blanc. Confira por meio do QRCode mais informações sobre os circos que estão na cidade

Confira por meio do QRCode mais informações sobre o projeto Mova-se Hip Hop

Palhaço Serelepy, palhaça Magali Gasolina e palhaço Tico Tico


16 | ENSAIO | Junho 2022

FocaLivre

Foca no som

HELOISA RIBAS BIDA

A música, uma forma de expressão capaz de combinar sons e silêncio, desperta em quem ouve os mais diversos sentimentos. Com esse viés, o tema do Ensaio do Foca Livre 223 é a música na 34ª edição do Festival Universitário da Canção para que, além dos instrumentos, o seu coração seja tocado por meio da fotografia. O evento, que valoriza artistas dos Campos Gerais, ocorreu no dia 11 de junho no Cine‐Teatro Ópera. NAIOMI MAINARDES DE SOUZA

AMANDA DAL'BOSCO

NAIOMI MAINRDES DE SOUZA

HELOISA RIBAS BIDA

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AMANDA DAL'BOSCO NAIOMI MAINARDES DE SOUZA

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