Esperanca em tempos difíceis

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Revista Lar Crist達o


Lar Cristão

{ SUMÁRIO }

nov/dez 2008 – nº 105

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4 Pra Início de Conversa Esperança em tempo de crise { Jaime Kemp }

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Enfermidade Diante da Enfermidade { Josué Gonçalves }

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O propósito de Deus O projeto de Deus para o casamento e a família { Carlos Alberto Bezerra }

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Tentação A armadilha da tentação { Natalino do Prado Filho }

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6 Capa

{ Judith Kemp }

Esperança em tempos difíceis 24

{ jaime Kemp }

Depressão Só quem passou entende quem está passando! Discipulando filhos Casamento é benção { Adhemar de Campos }

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Relacionamentos Relacionamentos estremecidos { Luiz Henrique }

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Harmonia nos relacionamentos

Finanças para vida Falência financeira { Paulo de Tarso }

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Intimidade para uma boa comunicação

Superando os Conflitos O amor esfriou, e agora? { Marcos Antonio Garcia }

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{ Aécio Ribeiro }

Questionamento A chegada das lágrimas { Jaime Kemp }

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Boa Leitura Crise Emocional Quando parece não haver mais esperança { Maria Lúcia Thomazi }

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Divórcio

Diante da falta de referencial familiar { Josué Gonçalves }

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Teoria na Prática Quando não vemos lógica nas crises { Iara Vasconcellos }

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Kids com Mig e Meg { Márcia M. d’Haese } Revista Lar Cristão

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{ PRA INÍCIO

DE

CONVERSA }

Lar Cristão novembro/dezembro 2008

O desejo pelo material Jesus falou mais sobre dinheiro do que sobre céu e inferno! Cristo sabia que o envolvimento do ser humano com o material incidiria diretamente sobre o caráter. As Escrituras estão repletas de exemplos, exortações, mandamentos e advertências sobre dinheiro. Vemos também ali que a avareza é reprovada, enquanto a generosidade é exaltada. Qual é a razão disso? A resposta é que Deus não nos criou para nos satisfazer com coisas. A verdadeira riqueza descansa no tesouro que acumulamos no céu: “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mateus 6.21). No entanto, o dinheiro é a grande força propulsora do mundo moderno. Não há um lar que escape das suas garras. Para satisfazer a cobiça, o conceito da compra através do crédito escraviza milhões de pessoas que não conseguem resistir aos apelos desleais da grande máquina da publicidade e da ciência do marketing. No casamento ele é uma das principais causas de discórdias, brigas inflamadas e até de divórcios. O dinheiro afeta de maneira mesquinha um relacionamento permeado de amor. Talões de cheques, cartões de crédito e contas vencidas são fontes de atritos. Portanto, é no mínimo incoerente o fato de que a maioria dos casais só começa a pensar na questão financeira depois de casados e, assim mesmo, quando surge algum problema nessa área. Algo que mereceria conversas e planejamento antecipados, adequação e estabelecimento de prioridades acaba sendo tratado sem preparo. Pelo fato de nunca terem se programado para os compromissos financeiros, muitas vezes ocorrem desentendimentos entre os cônjuges. Esse assunto deveria ser debatido durante o namoro e o noivado, de forma a responderem perguntas como as que se seguem:

Qual é o cônjuge mais hábil para lidar com a questão financeira? Quais são as prioridades para estabelecer gastos e investimentos? Como o dinheiro deverá ser dividido? Quais são os alvos e expectativas referentes ao padrão de vida a ser adotado?

E por aí afora. É muito importante que esse tópico se torne algo corriqueiro e não um tabu, como ocorre em muitas famílias, em que um cônjuge chega até a desconhecer o quanto o outro recebe de salário. Creio que, principalmente em época de crise financeira globalizada, em que ainda nem se sabe a extensão de seus efeitos, o assunto finanças deve ser tratado em família. Muitos filhos que pressionam seus pais para receber o tênis da moda ou a mochila de grife poderiam entender que nem sempre aquele presente será possível. Às vezes os pais se endividam para suprir não as necessidades, mas os desejos egoístas de seus filhos, que crescem achando que são o “centro do mundo” e que é só querer para ter. Situações como essas poderiam ser evitadas, partindo de orientações adequadas. E é exatamente isso que temos em mente para esta edição. Que você possa receber informações, ser desafiado e encorajado com esta leitura que destaca o aspecto financeiro, seu impacto na família e formas de controlar nosso dinheiro para que ele não nos controle.

Jaime Kemp 4

Revista Lar Cristão

A Revista Lar Cristão é uma publicação da Editora Fôlego Ltda. dirigida à família brasileira. Seu conteúdo oferece orientação bíblica, clara e segura. Diretor Jaime Kemp Editores Emilio Fernandes Junior Rosana Espinosa Fernandes Jornalista Responsável Luiz Francisco de Viveiros MTB 23258 Revisor Paulo César de Oliveira Projeto Gráfico e Diagramação Neriel Lopez (NLopez Publicidade) Matéria de Capa Tania Cecilia Fernandes Moraes Atendimento Adriana Lemos França Cunha adriana@editorafolego.com.br (11) 2122-4243 Publicidade Deve ser encaminhada para NLopez Publicidade: Alameda Orquídea, 911 – Jd. Estância Brasil CEP 12.949-119 – Atibaia – SP Fone/fax: (11) 4415-1438 elibel@globo.com Seções Permanentes Adhemar de Campos, Aécio Ribeiro, Carlos Alberto Bezerra, Iara Vasconcellos, Jaime Kemp, Márcia M. d’Haese, Marcos Antonio Garcia, Paulo de Tarso Conselho Editorial Pr. Ivailton dos Santos – psicólogo clínico cristão (Vinhedo/SP); Rev. Hernandes Dias Lopes (Igreja Presbiteriana de Vitória); Dr. Luiz Antonio Caseira – médico e missionário de Vencedores por Cristo (RJ/ RJ); Pr. Ismail Sperandio (Curitiba/PR); Alex Dias Ribeiro – diretor de Atletas de Cristo (SP/SP); Ary Velloso – Igreja Batista do Morumbi (SP/SP); Sonia Emilia Andreotti – redatora do Ministério Lar Cristão (SP/SP); Pr. Edson Alves de Souza – Igreja Batista de São Gonçalo (S. Gonçalo/RJ); Pr. Armando Bispo – Igreja Batista de Fortaleza (Fortaleza/CE); Dr. Carlos Oswaldo Cardoso Pinto – Seminário Bíblico Palavra da Vida (Atibaia/SP). Correspondentes Internacionais Dr. Luiz Palau – escritor e evangelista argentino (EUA); Paul Landrey – Christ for the Cities; Dr. Bill Lawrence – teólogo e professor no Dallas Theological Seminary (EUA); Hans Wilhelm – vice-diretor da Chinese International Mission. Material Jornalístico e de Divulgação Deve ser encaminhado para a Editora Fôlego: redacao@revistalarcristao.com.br www.revistalarcristao.com.br Caixa Postal 16.575 – São Paulo/SP CEP 03149-970 – Tel./fax: (11) 5539-4329 As fotos utilizadas nesta edição, quando não identificadas pelo crédito, são de CDs autorizados. PhotoDisc, Diamar Portfolios, Key Photos, Photo Gallery2, PhotoStudio. A Revista Lar Cristão não se responsabiliza pelo conteúdo e pelos conceitos emitidos nos artigos assinados, pois não representam, necessariamente, a opinião da revista. É permitida a reprodução, total ou parcial, do conteúdo do material editorial publicado, desde que citada a fonte e com autorização prévia e documentada da Revista Lar Cristão.


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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

} CONFIANÇA

Esperança em tempos difíceis Deus é soberano em meio a toda e qualquer crise

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O

apóstolo Paulo certamente entrou no rol dos profetas quando afirmou em 1 Timóteo 4.1: “O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios”.

Depois, continuou em 2 Timóteo 3.1-5:

“Saiba disto: nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis. Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder. Afaste-se desses também”.

Ele previu exatamente o que estamos atravessando, você não concorda? Temos a impressão de que Paulo caminhou pelas ruas das grandes cidades do mundo, e aqui no Brasil em São Paulo ou no Rio, que se debruçou na varanda do quarto andar de um prédio de apartamentos em Recife, na linda praia de Boa Viagem, e usou, em cada uma dessas cidades, sua “visão de raios X”, vendo atrás de cada parede os abortos, roubos, seqüestros, estupros, assassinatos, abuso infantil, espancamento de mulheres e de crianças, pastores e padres levando vidas

duplas, enganando por anos suas congregações; donos de financeiras “passando a perna” em seus associados (sem nem mesmo perderem o sono). Ele viu também pais irresponsáveis, homosse-

É inevitável que esse quadro resulte em aumento de pressão na já estressada vida familiar. Mais pais de família deverão ser pressionados a buscar mais meios legítimos (e às vezes não tão legítimos assim) de

No mundo em que vivemos é fácil nos tornarmos mais amargos, confusos, desconfiados, desencorajados e até deprimidos. xuais se agitando sem o menor pudor em passeatas, viu confrontos raciais e preconceitos de todas as espécies; construtoras utilizando material de baixa qualidade em seus prédios sem se preocuparem com prováveis desabamentos, fraudes de seguro, lojas pornográficas se multiplicando, o aumento do consumo de crack, cocaína... E a longa lista continua... Paulo estava certo: os tempos seriam difíceis... Estamos, nestes dias, atravessando uma nova crise financeira, só que desta vez totalmente globalizada. Essa crise já está afetando o Brasil, e por menor que seja o estrago, comparado a outros lugares, certamente desestabilizará vários setores.

sustento às suas famílias. Igrejas sofrerão instabilidade em suas ofertas e contribuições, devido ao maior desemprego de seus membros. No mundo em que vivemos é fácil nos tornarmos mais amargos, confusos, desconfiados, desencorajados e até deprimidos. E pensamentos pessimistas acabam se confundindo com os realistas, tendendo a desestruturar até a mais otimista das pessoas. Como encarar e vivenciar tudo isso? Será que não haverá mais coisas boas pelas quais possamos ser gratos? Será que daqui para frente a tendência é de que tudo vá piorando até chegar o princípio do fim? Creio que não! Ainda podemos exalar o aroma

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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

das flores que nascem no campo. Ainda se pode ouvir o choro de um recém-nascido. Deliciosos pãezinhos de queijo ainda podem ser saboreados com um cafezinho, ou com guaraná. Coloridos poresdo-sol podem ser admirados, e Deus ainda se assenta em seu trono! Enquanto participamos dos recentes acontecimentos mundiais, no ressurgimento da crise financeira global, na crise de integridade existente na sociedade como um todo, inclusive na Igreja, fui encorajado por outra declaração de Paulo, já ao final de sua segunda carta a Timóteo: “Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece inabalável e selado com esta inscrição: “O Senhor conhece quem lhe pertence’ e ‘afaste-se da iniqüidade todo aquele que confessa o nome do Senhor’ ” (2 Timóteo 2.19). Isso não é fantástico? O fundamento que o Senhor estabeleceu não será destruído. Não importa quão pior fique a situação, Deus não muda! Mas... se Deus não muda, então quem está mudando? Nós... Eu e você! A última parte do versículo diz: “Afaste-se da iniqüidade todo aquele que confessa o nome do Senhor”.

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} CONFIANÇA Deus para que pautássemos nossa vida.

Portanto, é imprescindível que nestes tempos instáveis, duvidosos, em que tudo passa a ser relativo, nos firmemos na Rocha Eterna. Então, devemos nos cuidar para que, apesar dos tempos difíceis, não façamos ou nos associemos com atividades que sejam duvidosas. Para que nossas famílias sobrevivam em tempos cada vez mais difíceis em todas as áreas, da financeira à moral, devemos: 1. Reconhecer que o Senhor permanece no trono e no controle total. Ele nos ama com amor eterno e nada – absolutamente nada – pode nos acontecer sem que passe por sua permissão (lembrese de Jó, de que Satanás precisou pedir a autorização de Deus para tocar nele).

2. Nunca nos esquecer de que Deus é bom e, portanto, não há como Ele ser cruel. Crueldade divina não existe. Devemos ler os eventos que nos ocorrem como a ação de Deus para que sejamos mais parecidos com seu Filho. 3. Lembrar que Deus é sábio demais para cometer erros. Nós, seres humanos, somos pecadores, falhos e nos envolvemos em sofrimento e dor. Muitas vezes inevitáveis, mas muitas também desnecessárias, por desconhecimento dos princípios bíblicos deixados por

A crise mundial existe, é real e palpável. Por mais, ou menos, que ela esteja atingindo a você e a sua família, devemos nos lembrar de que Deus permanecerá. Ele é imutável. Sua Palavra é sólida e é nosso referencial em tempos de tempestade. Portanto, é imprescindível que nestes tempos instáveis, duvidosos, em que tudo passa a ser relativo, nos firmemos na Rocha Eterna. Podemos, sim, olhar para cima e ter esperança, porque Ele é soberano sobre tudo e todos! “Antes de ser castigado, eu andava desviado, mas agora obedeço à tua palavra. (…) Foi bom para mim ter sido castigado, para que aprendesse os teus decretos” (Salmos 119.67, 71). Jaime Kemp é doutor em Ministério Familiar e diretor do Lar Cristão. Foi missionário da Sepal por 31 anos e fundador dos Vencedores por Cristo. É palestrante e autor de 50 títulos. Casado com Judith, é pai de 3 filhas e avô de 2 netos.


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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

} ENFERMIDADE

Diante da enfermidade O

enfoque teológico para muitas igrejas hoje é a saúde e a prosperidade; a doença e a pobreza são uma excrescência... Se você é crente, com toda certeza, segundo alguns, tem de determinar a cura e abortar a pobreza porque “é filho de Deus” ou “não sou dono do mundo, mas sou filho do dono”... O senso comum lança dúvidas sobre tais afirmações. Quando estudante ouvia sempre uns versos que diziam o seguinte: “Quem passou pela vida em brancas nuvens e em plácido repouso adormeceu. Quem não sentiu o frio da desgraça Quem passou pela vida e não sofreu... Foi espectro de homem, não foi homem. Só passou pela vida... Não viveu!”

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Não me lembro quem é o autor dos versos, que eram muito populares na minha adolescência, mas a mensagem ficou gravada em meu coração: o sofrimento é inerente à natureza humana. A sabedoria popular assume e acolhe esta posição: o homem sofre! Lendo as Sagradas Escrituras aprendemos que o sofrimento, em suas faces como morte de um ente querido, sentença de morte pela medicina, doenças crônicas resultantes de hereditariedade, da degeneração do corpo pela idade, etc., traz abalos emocionais que dificultam o bom andamento da vida, fechando portas, impedindo avanços, quebrando a rotina, onerando física, emocional e economicamente pessoas e seus grupos familiares.

Qual é a fonte do sofrimento? O pecado! Para entender um pouco e às vezes acalmar a revolta de muitos, precisamos trabalhar com nossa mente como se fôssemos fazer de um emaranhado de fios um novelo; é preciso achar a ponta dos fios... e a ponta dos fios é saber quem é Deus e quem somos nós. Se cremos num Ser Superior, e Ele é o Deus Vivo, que nos criou e nos guarda na eternidade, conhecemos também, e não vamos explicar aqui, a nossa condição de pecadores. Deus nunca desejou o sofrimento. Ele nos criou em clima de paz e perfeita felicidade; o pecado jogou o homem num abismo de sofrimento e dor. Hoje amargamos as conseqüências da ofensa dos nossos primeiros pais ao Criador; todos nós fomos mortos em Adão. No segundo

Adão recuperamos a vida, e embora nascidos de novo e livres das penalidades do pecado e do seu poder, sofremos “neste corpo de morte” os resultados da decisão tomada no Paraíso. O sofrimento de qualquer natureza, física, espiritual ou social, angústias, dores, incertezas marcam os dias de nossa vida aqui na Terra. Esta é a resposta para aqueles que se perguntam: “Se Deus é bondoso mesmo, por que permite tanta dor”? Tentar ligar o sofrimento a um Deus bondoso é tarefa sem resultados; somos limitados em nossos raciocínios, não temos instrumentos para medir a Deus e as suas obras nem seus desígnios: “Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os


meus pensamentos, mais altos que os seus pensamentos” (Isaías 55.9). Depois da leitura e reflexão desse versículo o nosso coração se aquieta e repousa, ou deve repousar nas mãos de Deus, porque não temos escolha! O Deus que conhecemos é SOBERANO, tudo está em suas mãos; Ele não

deixou de nos amar e cuidar de nós; seus olhos estão sobre os que clamam! Deus não tem prazer no sofrimento, pois foi dito que esse não era o nosso destino. Deus nos ama a tal ponto que enviou seu Filho para morrer na cruz por nós. Seu filho também padeceu no seu corpo dores horrí-

veis e angústias de alma, e nele não havia pecado! Então, será que a gratidão ao Eterno bastaria para aliviar a dor? Com certeza não. O estoicismo, uma corrente filosófica do passado grego, aceita o sofrimento com resignação, considerando-o como parte da vida. O mundo

moderno, com sua tecnologia, faz tudo para suprimir a dor. Psicólogos e terapeutas diariamente cuidam de pessoas deprimidas e enfermas com dores da alma e do coração; a indústria farmacêutica apresenta ao mercado centenas de remédios para aliviar tensões, acalmar, fazer dormir, alegrar, entusiasmar, tirar a “dor do espírito”. Podemos, entretanto, ter outra visão do sofrimento; este esconde um tesouro precioso. Quem passa por ele, seja de que forma for, quem atravessa a dor em vez de rejeitá-la, é como uma “fênix” que ressurge vitoriosa das cinzas. Há dignidade no sofrimento que aceitamos. As Escrituras dizem que a “tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu” (Romanos 5.3-5). Tudo passa! O sofrimento um dia terá fim; de uma vez por todas, quando vivermos na eternidade. Às vezes o fim do sofrimento é a morte, o que dá na mesma, para o cristão, é claro. O ímpio

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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

experimentará doses maiores dele, e na vida comum as doenças trazem sofrimentos passageiros... entra um, sai outro... os relacionamentos também... as preocupações com as coisas corriqueiras da vida e as mais importantes, como sobrevivência, cuidado com os filhos e por aí afora. Tudo passa... Uma amiga dizia:

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} ENFERMIDADE

“A gente passa pelo sofrimento e nem percebe, a gente se acostuma, quando vê já passou...”. Parece tão simples, não é? Para nós o mais importante no sofrimento é ter alguém ao nosso lado, que nos sustente com seu vigor e a empatia de um coração que bate junto com o nosso, mais do que remédios e tecnologia “top de linha”; é o amor precioso, a presença confortadora de alguém que nos ama de verdade. Um tratamento vip num hospital modelo, com estranhos à nossa volta, dá um sentimento de abandono, de dor maior que a própria doença. Perde-se a vontade de viver, a força da vida se esvai lentamente quando o doente é “animado” com visitas rápidas, informais, apressadas com os jargões como:

Ele nos criou em clima de paz e perfeita felicidade; o pecado jogou o homem num abismo de sofrimento e dor. “Ah! Você vai ver, logo vai ficar bem!”, “você é forte, vai sair dessa!”, palavras vazias, obrigatórias, sem calor, que nada acrescentam. Num mundo onde a beleza, saúde, vigor e riqueza são supervalorizados, para muitos o doente é um marginal; quanto mais cedo desocupar seu lugar, melhor! No entanto, o doente muitas vezes distribui, ele mesmo, graça aos que o visitam; sua boca é manancial de vida num corpo depauperado. O homem sábio, ao sofrer, volta-se para o seu criador; ele não dispensa os cuidados humanos que o reconfortam, porém sua visão está em Deus e entende que Deus sabe das coisas. Tudo ocorre para seu próprio bem; a morte não é um fim. Ele recebe das mãos de Deus suas bênçãos diárias, como o povo judeu recebeu no deserto o maná do dia. Submeter-se à vontade de Deus é uma graça divina, é mansidão de espírito. É difícil vivê-la, mas é nessa

perspectiva que o nosso caráter é moldado. Nesta reflexão fica o cerne da filosofia do autor. O sofrimento faz parte da existência. A culpa do sofrimento não é Deus, é dos nossos pais. Temos o exemplo de Cristo Jesus, que viveu o sofrimento com dignidade sem acusar ninguém; sofreu e morreu por nós. Por que iríamos nós desperdiçar os momentos preciosos do sofrimento sem louvar a Deus sempre pela sua soberana vontade? Que o Eterno continue derramando da sua graça sobre todos nós, que muitas vezes temos de enfrentar momentos de dor em família. Josué Gonçalves é terapeuta familiar, pastor e presidente do Ministério Família Debaixo da Graça em Bragança Paulista, SP, onde mora com a esposa Rousemary e os três filhos, Letícia, Douglas e Pedro. O pastor Josué é membro da CGADB – Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil e conferencista internacional. Possui várias obras publicadas na área familiar e de liderança.


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{ O

PROPÓSITO DE

DEUS }

O projeto de Deus para o casamento e a família Ocasamento no mundo atual (Gênesis 11)

A

crise que nossa geração vive está especifica mente centrada nos lares. Assim como o pri meiro pecado foi cometido dentro da família e atentou contra ela (Gênesis 3.6), também em nossos dias a maioria dos pecados são cometidos no seio familiar. As tensões, contendas, discussões, brigas, gritos, ofensas, ressentimentos, amarguras nos lares são constantes, chegando até a separações e divórcios. A família tem sido o alvo dos ataques de Satanás. Ele tem interesse na destruição de todas as famílias da Terra. A deterioração dos valores tradicionais, o aumento dos conflitos familiares e o número crescente de separações e divórcios atingem proporções alarmantes. A causa desses problemas é que os princípios bíblicos de Deus para as famílias têm sido ignorados, abandonados e substituídos por critérios humanos. Por que as pessoas se casam no mundo atual? Como explicar tanto desajuste nas famílias?

A falta de propósito Atualmente, muitos casamen-

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tos são realizados sem um propósito determinado. As pessoas casam-se, trabalham, esforçam-se, adquirem coisas, têm filhos, porém não sabem a razão principal pela qual estão fazendo isso. Se perguntarmos à maioria dos casais de noivos próximos ao casamento o porquê de se casarem, eles não encontrariam uma resposta correta e clara para nos oferecer. Costumam planejar muitos detalhes como o vestido, a festa, a viagem, os móveis, os convidados, porém jamais se perguntam: “Por que vamos nos casar?”. Esta falta de propósito no casamento leva a maioria dos pais a crer que atingirão os objetivos na família somente quando oferecerem a alimentação, vestuário, moradia, cuidados médicos, educação escolar ou recreação para seus filhos. Tudo isso é necessário, mas ainda está muito longe do propósito central do casamento.

Objetivos errados O PROGRESSO MATERIAL A falta de um propósito claro para a família faz com que nos desviemos para objetivos equivoca-


Carlos Alberto Bezerra é fundador e líder nacional da Comunidade da Graça no Brasil. Casado com a pastora Suely Bezerra, é pai de 6 filhos e avô de 12 netos.

dos e façamos dos meios um fim. O progresso material tem se constituído no objetivo principal de muitas famílias. A grande meta é o conforto e a realização material. As pessoas gastam a vida trabalhando para alcançar o desejado, e então seguem trabalhando para manter o alcançado. Sempre estão pensando em uma nova conquista, e sacrificam tudo, até mesmo a própria família. Fazem do meio um fim (Lucas 12.15).

A GRATIFICAÇÃO PESSOAL A gratificação pessoal e egoísta tem sido outro objetivo errado para o casamento. Existem aqueles que se casam pensando em si mesmos. Seu objetivo não é dar, mas receber; não servir, mas ser servido. Isso na esfera material, sexual ou das responsabilidades familiares. O fracasso do casamento nesses casos é garantido.

A DEIFICAÇÃO DA PRÓPRIA FAMÍLIA A deificação da própria família é outro objetivo equivocado. Alguns fazem da família um fim em si mesmo. A própria felicidade e convivência se convertem na meta mais alta da vida familiar, ainda que, inconscientemente, considerando Deus como um excelente meio para o bem-estar da família. Tais famílias se preocupam muito com sua própria fama e glória e empenham-se em conquistar sua própria comodidade e prazer.

A OBTENÇÃO DOS BENEFÍCIOS LEGÍTIMOS QUE A FAMÍLIA OFERECE

Mesmo de modo inconsciente, a maioria das pessoas busca este objetivo no casamento. Evidentemente há benefícios legítimos que Deus tem outorgado ao casamento: a alegria de se viver em companhia, oferecer e receber carinho, afeto, a felicidade e o deleite que oferecem as relações sexuais, estar ligado a um núcleo familiar, a cobertura e proteção, a graça de ter filhos, etc.

O casamento sob o ponto de vista de Deus Deus tem um propósito eterno: Ele se propôs, antes da fundação do mundo, a ter uma família com muitos filhos semelhantes a seu Filho Jesus (Romanos 8.29; Efésios 1.4-5). A família foi criada em função de um propósito eterno

que nasceu “no coração” de Deus: Ele quer ser pai de uma grande família. O profeta Malaquias demonstra o propósito de Deus ao fazer do homem e da mulher “uma só carne”, quando diz: “Não foi o Senhor que os fez um só? Em corpo e espírito eles lhe pertencem. E por que um só? Porque ele desejava uma descendência consagrada. Portanto, tenham cuidado: Ninguém seja infiel à mulher da sua mocidade.” Malaquias 2.15

Não foi Adão que se propôs a ter uma família, a idéia foi de Deus. O homem e a mulher receberam de Deus a capacidade de se multiplicarem, produzindo assim uma descendência que Ele adota como seus filhos, por meio de Jesus Cristo. Na criação da mulher Deus não estava somente oferecendo ao homem uma companheira, mas uma auxiliadora idônea para que neles e através deles pudesse realizar seu plano e propósito. Portanto, a família foi feita para ser uma comunidade que serve aos elevados e eternos propósitos de Deus.

Os objetivos do casamento Para entender o propósito inicial de Deus para o casamento, devemos olhar para Gênesis 1.26 a 28. Neste trecho encontramos três objetivos para o casamento: 1. Refletir a imagem de Deus (v. 26); 2. Reproduzir descendentes piedosos (v. 28); 3. Exercerem domínio na terra (v. 28b). A compreensão dessas verdades como família cristã leva-nos a refletir sobre nossos objetivos e atitudes diante da vida e efetuar as correções necessárias a fim de nos consagrarmos ao propósito de Deus (Mateus 7.24-25). Quando a família está afinada com o projeto eterno de Deus, ela se transforma no ambiente mais propício para o desenvolvimento do ser humano. Quando a família atende ao propósito de Deus, ela se torna o alicerce de uma Igreja sólida, que por sua vez firma a base de uma sociedade justa, desenvolvida e próspera. Revista Lar Cristão

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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

} T E N TA Ç Ã O

A armadilha da tentação “

V

ocê não pode impedir que um pássaro pouse em sua cabeça, mas pode impedi-lo de fazer um ninho”, assim diz um antigo ditado. Na verdade ele ilustra o que Paulo diz em Romanos 6.12: “Portanto, não permitam que o pecado continue dominando os seus corpos mortais, fazendo que vocês obedeçam aos seus desejos. Não ofereçam os membros do corpo de vocês ao pecado…”. Ser tentado já é um perigo, mas dar lugar à tentação, permitir que o “pássaro” faça o ninho, já é demais. O apóstolo Paulo enfatiza dois aspectos importantes nesse texto: 1) Não permitir que o pecado continue dominando; 2) Não oferecer os membros do corpo ao pecado. A tentação é um mal do qual não podemos nos 16

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livrar, mas Paulo nos adverte a não permitir que o pecado domine nosso corpo, nem oferecer os membros do corpo ao pecado, pois ele vai destruir nossa vida, reputação, moral, imagem, prestígio, vai enfraquecer nossa palavra, etc. No início tudo é bom e ainda tentamos esclarecer que as coisas não são tão graves, mas depois temos de conviver com as conseqüências pelo resto da vida. Hoje, conhecendo tantas pessoas e participando de tantas histórias, podemos afirmar que o pecado não compensa. Suas conseqüências são cruéis, o prazer do momento não compensa a

dor da alma, as frustrações e os traumas. Parece que em alguns casos as pessoas passam o resto da vida tentando ajuntar os cacos, refazer uma história. Pensando bem, o rei Davi podia ter fechado aquela janela, poderia ter resistido à tentação, mas não o fez. Abraão poderia ter repreendido Sara por aquela proposta tão distante da vontade de Deus, poderia tê-la chamado de louca, sem propósito, mas não o fez. Foi mais fácil e conveniente ceder,

ouvir sua esposa, achar que no fundo ela tinha razão. E Sansão? A arrogância tomou conta de seu ser, e ele, que era para ser um grande juiz, tornou-se uma vergonha.

A tentação enfraquece o raciocínio A tentação está ali na frente da pessoa, ela sabe que não convém, mas, como a ovelha que caminha para o matadouro, deixa-se levar, e provavelmente aqueles que estão próximos digam: “Será que ela não vê, não percebe?”. Por isso Jesus disse:


“Vigiem e orem para que não caiam em tentação”.

A tentação satisfaz os olhos, os sentidos e os desejos do coração Não deixe o pecado reinar ou fazer ninho em sua vida. A tentação é perigosa, pois aparentemente não faz mal, aparentemente vai dar para consertar a situação, mas cair na tentação produz mancha na nossa história, e em alguns casos essa mancha nunca sai. Depois que caímos só existe uma maneira de apagar a mancha: criar uma nova história. E sabemos que só em Cristo isso é realmente possível, visto que a questão não é só aqui nesta vida, mas também na vida eterna. A Bíblia diz: “… e não dêem lugar ao diabo” (Ef 4.27); “Não se deixe atrair pelo vinho quando está vermelho…” (Pv 23.31); “O vinho é zombador… não é sábio deixar-se dominar por ele” (Pv 20.1); “... fique longe dessa mulher [da adúltera]” (Pv 5.8); “Afaste do coração a ansiedade” (Ec 11.10); “Que o ímpio abandone o seu caminho…” (Is 55.7). As tentações virão automaticamente, sem que nós a busquemos, portanto temos de nos preparar para sermos mais que vencedores. Mas o que mais me aborrece é que existem pessoas que vivem entran-

do em áreas de risco, muito próximas da tentação, e cair é uma questão de tempo – lembre-se de que Satanás já está condenado, por isso posso afirmar que ele não tem pressa, vai tentar nos destruir. Só há uma maneira de deixar Satanás bem longe: manter Jesus bem perto de nós – por isso Ele disse: “Vigiem” – prestar atenção, tomar cuidado, estar sempre atentos, pois o diabo não tira férias – “e orem” – manter o canal de comuni-

afastei-me por completo, sabia que estava errado, mas o sucesso me envolveu. Sabia que precisava voltar para Cristo, mas como? Não ia à igreja, mas tudo estava bem. Às vezes pensava que iria passar por algo marcante (acidente, crise) e então voltaria para Cristo e teria um testemunho marcante para ajudar os outros. Assim se passaram alguns anos, e como a Bíblia diz: ‘Abismo chama abismo’. Nem sei como, mas acabei

Podemos afirmar que o pecado não compensa. Suas conseqüências são cruéis, o prazer do momento não compensa a dor da alma, as frustrações e os traumas. cação disponível, conectado, santificado, ocupado através da oração, mantendo a chama de Deus e de seu Filho Jesus bem viva dentro nós.

Quantos gostariam de voltar atrás! Certa vez recebi uma carta de um moço que me contava um pouco do seu testemunho: “Eu fui criado em uma igreja, ainda na infância conheci sua igreja, passei a adolescência na sua igreja. Comecei a ser bemsucedido no que fazia,

me envolvendo com drogas, e em um momento fui pego com uma quantia. Isso resultou em minha prisão e depois condenado a 16 anos de prisão. Ah! Se eu pudesse voltar atrás! Agora sim voltei para Cristo, mas sei que não precisava passar por isso. Sei que este não foi o plano do Senhor para mim, mas foi o caminho que escolhi. Preciso de oração, mensagem, apoio, pois eu sei que não precisava passar por isso”. Jesus disse: “Vigiem e orem”. A tentação vem, e a

carne é fraca. Não conte com a carne, mas busque ao Senhor, ore, vigie, santifique-se… Quantos jovens, se pudessem voltar atrás, escreveriam outra história; quantos adultos, se pudessem voltar atrás, escolheriam outra maneira de viver. Lembre-se: às vezes estamos no caminho certo, fazendo a coisa errada, ou da maneira errada, ou estamos no caminho certo, fazendo a coisa certa, da maneira certa, na hora errada. Lembre-se de que vigiar e orar nos ajuda a equilibrar todos estes pontos. No caminho certo, fazendo a coisa certa, da maneira certa e na hora certa. Jesus estava preocupado com seus discípulos, por isso disse: “Vigiem e orem”, para que não entrassem na zona de perigo (a tentação). Voltese para Deus em oração, disposição, perseverança, pois nele somos mais do que vencedores. Não deixe o pecado se tornar rei em sua vida, pois você vai se tornar boneco em suas mãos. Pr. Natalino do Prado Filho é pastorpresidente da Igreja Cristo é a Resposta e palestrante internacional para família. É casado com a Miss. Eliana Guedes Rédua do Prado há 29 anos e pai de Priscila (25) e Moysés (22).

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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

} DEPRESSÃO

Só quem passou entende quem está passando! “Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus.” Salmos 43.5

A

lma abatida e perturbada – essa é uma boa definição para a depressão. Lembro-me bem do que senti em certa fase

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da minha vida: isolamento, medo, tristeza profunda, insegurança e por aí vai... Eu poderia unir minha voz e fazer eco às palavras do salmista no salmo 42: Minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite (v. 3). Choro angustiado (v. 4). Abismo chama abismo (v. 7). E ele, como eu, também tinha de lidar com as

pessoas que perguntavam: “Onde está o seu Deus?”. Existem muitas idéias falsas e preconceitos sobre a depressão. Há pessoas que afirmam que: Cristão de verdade não fica deprimido. Depressão é um problema espiritual. Tomar remédio demonstra “falta de fé” de que Deus vai curar. É interessante notar que a pessoa que escreveu os salmos de número 42 e

43, com essas características de depressão, era um homem profundamente dedicado ao Senhor – ele ia saltando à frente das paradas de sua época, louvando a Deus com toda a força dos pulmões. A multidão se animava e ia atrás dele, também cantando e bendizendo ao Deus Soberano. Se olharmos no livro de Reis, também vamos ver que depois da grande vitória que ocorreu no


monte Carmelo, quando Deus fez cair fogo do céu, Elias entrou em profunda depressão (1 Reis 18 e 19). Ele estava tão mal que pediu a Deus para morrer. O Senhor, conhecendo a condição de sua alma, não o repreendeu, mas deu-lhe água, comida, falou-lhe com voz suave e mostroulhe que não estava sozinho e abandonado, a despeito de como se sentia. E ali, deu-lhe também uma nova visão de ministério. Podemos tirar dessa passagem inúmeras lições, e uma delas é a de que somos corpo, alma e espírito e precisamos tratar de cada uma dessas três áreas.

Motivos Por que você está assim tão triste, ó minh’alma? Minha oração durante aquele tempo em que sofri com depressão era a mesma do salmista: – Por que, Senhor, por quê? Às vezes o motivo é explicável, detectável e lógico. Por exemplo, quando alguém passa por alguma perda significativa como a de um ente querido, da saúde, do emprego, do casamento é praticamente esperado que ocorra, por um período, algum tipo de depressão. Além disso, também sabemos que

passar por traumas, abusos, rejeições durante a infância e a adolescência pode, mais tarde, resultar em sérios problemas emocionais (não significa que todos os terão, mas alguns sim). São conseqüências, digamos, até previsíveis de ocorrer em algum momento da vida. No entanto, eu não tive nada desse tipo, nem no passado, nem no presente. Minha infância foi muito feliz. Recebíamos

o nascimento de um filho ou durante a menopausa, em que é comum o desequilíbrio hormonal causar algum tipo de abalo emocional, e entre eles está a depressão. Outras possíveis causas podem ser: disfunção da tireóide, algum tipo de alergia ou até mesmo efeito colateral de algum remédio. A depressão em si é um problema fisiológico, pois foi cientificamente comprovado que se trata de

A depressão em si é um problema fisiológico, pois foi cientificamente comprovado que se trata de um componente químico do cérebro que vai se desgastando e precisa ser renovado. muito amor em nosso lar. E hoje eu tenho a família que pedi a Deus. Naturalmente temos nossos problemas, como todos, mas nos amamos muito e corremos sempre ao Senhor para resolver qualquer situação que nos ocorra. Outra causa explicável é a saúde física. Sou enfermeira por profissão e reconheço que existem muitas causas físicas para a depressão. Há, para a mulher, alguns momentos típicos na vida, como após

um componente químico do cérebro que vai se desgastando e precisa ser renovado. Pela terminologia da palavra pode-se também dizer que de-pressão implica estar debaixo de algum tipo de pressão. E nem há como numerar a lista de motivos que podem nos pressionar. Entre eles também estão culpa, pecado ou fracasso. Eu não estava sob nenhuma pressão externa, fosse do marido, das filhas,

da missão ou de Deus, mas eu mesma estava colocando um grande peso sobre mim. Fazendo um rápido retrospecto de minha vida, aceitei a Jesus como meu Salvador com oito anos de idade. Aos 12 eu já queria ser missionária. Deus me deu um marido com o mesmo desejo. Chegar ao Brasil era para mim a realização de um sonho de muitos anos. Eu queria ser a melhor esposa, a melhor mãe e a melhor missionária possível. E era aí que estava o foco do meu problema. Não que o alvo não fosse certo: o ponto é que eu não estava conseguindo!

A descoberta da causa “Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador e o meu Deus.” Salmos 42.11

Depois de um ano de sofrimento, minha depressão foi embora e, graças a Deus, não voltou mais. Já faz 30 anos que tudo isso aconteceu. Sei que algumas pessoas já sofrem há bem mais tempo do que eu sofri. Quero, porém, dar esperança àqueles que talvez pensem que vão ficar doentes pelo resto de sua vida. Era como eu

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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

} DEPRESSÃO Agora faço por amor e posso dizer que as lições que Deus me ensinou durante aquele período, apesar de difíceis e sofridas, foram tão significativas que não as troco por nada deste mundo. Eu poderia dizer muitas coisas, mas creio que o mais importante é deixar registrado que, seja qual for a causa da depressão – física, emocional ou espiritual –, uma grande dose da graça de Deus será sempre bem-vinda, indicada e necessária. Termino deixando aqui uma preciosa promessa que me acompanhou durante aqueles atribulados meses:

Seja qual for a causa da depressão – física, emocional ou espiritual –, uma grande dose da graça de Deus será sempre bem-vinda, indicada e necessária. pensava em meio à minha depressão, e faz parte dos sintomas da doença. Durante aquele tempo em que tive depressão e buscava e esperava pela cura, comecei a entender, pela primeira vez na vida, o significado da graça de Deus. Ele não nos diz: “Amo você porque...”. Tampouco “Eu vou amar você quando você fizer tal coisa, ou se fizer tal coisa”.

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Ele diz: “Eu amo você”. Ponto final! E Ele vai além e acrescenta que nada pode nos separar do amor que Ele tem por nós (Romanos 8.38-39). A vida cristã se inicia pela graça (Efésios 2.8-9: Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie) e é dependente da graça que

devemos continuar a viver. Ocorre que muitas vezes passamos a depender de nossa própria força e a contar mais com nossas próprias habilidades do que com a graça de Deus. Descobri, então, que é heresia dar mais ênfase àquilo que eu faço para Deus do que àquilo que Deus faz por mim. Antes da minha depressão eu servia ao Senhor por obrigação.

“O Deus de toda a graça, que os chamou para a sua glória eterna em Cristo Jesus, depois de terem sofrido durante um pouco de tempo, os restaurará, os confirmará, lhes dará forças e os porá sobre firmes alicerces. A ele seja o poder para todo o sempre. Amém.” 1 Pedro 5.10-11 Judith Kemp é esposa do Pr. Jaime Kemp, mãe de Melinda, Márcia e Annie, avó de James e Skiller. É enfermeira, escritora e palestrante.


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{ HARMONIA

NOS

RELACIONAMENTOS }

Intimidade para uma boa comunicação

P

edi aos meus alunos algumas palavras que estivessem relacionadas ao verbo “comunicar”. A resposta foi bastante curiosa: falar, expressar, narrar, contar, perguntar, apresentar, entre outras. Nenhum deles disse “ouvir”. Pareceu-me lógico. Normalmente não associamos o “ouvir” como elemento de comunicação, pois quando nos referimos a esta disciplina pensamos apenas em uma pessoa do discurso: aquele que fala. A comunicação, todos dizem, é um dos principais elementos para uma relação duradoura e sem conflitos. No contexto do casamento, da família, entendemos que um lar jamais poderá ser construído sem este “cimento”.

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Todos estamos convencidos de que em uma família em que não há comunicação, em que as coisas não se esclarecem, em que os princípios não são partilhados, o resultado deverá ser caótico. Quanto a isto, não temos muito que discutir. Precisamos, sim, pensar um pouco no nosso conceito de comunicação. Quem são os agentes dela, como ela se processa na nossa casa, qual é o canal que utilizamos para isso. Decerto que nem todos têm conhecimento da “ciência” da comunicação, mas todos são obrigados a se utilizar dela até por questão de sobrevivência. A ciência da comunicação nos apresenta os interlocutores como pessoas essenciais para um discurso. Quem fala e quem ouve são da mesma maneira relevantes. Não se pode comunicar algo se não houver esses dois agentes. Mas o curioso é que, embora a comunicação os chame de INTER-locutores, ou seja, ambos têm o mesmo direito potencial de locução, nem sempre nos dispomos a permitir que o outro fale. Somos mais propensos a acreditar que a comunicação só será estabelecida no plano da primeira pessoa: EU falo, EU dito as regras, EU discuto, EU concluo. O discurso é sempre unilateral – só um lado define. Esta perspectiva se evidencia mais quando os ânimos se alteram na discussão de um determinado assunto. Por acaso você nunca se flagrou alterando seu tom de voz na tentativa de se fazer ouvido, dando a mínima atenção ao que o outro fala? Todos já fizemos isso. É


Aécio Ribeiro é formado em Letras e Teologia, mestrando em Teologia Pastoral, pastor adjunto da Assembléia de Deus Bom Retiro e secretário-executivo do Conselho de Pastores do Estado de São Paulo. É casado com Jesiana Rita e tem dois filhos: Kemuel e Kandace.

mais cômodo para nós pensar a comunicação como um instrumento para nosso egoísmo. Quem “canta” mais alto em nossa casa? Orgulhosamente, nós homens dizemos que somos nós. Até parece uma questão de honra o homem “gritar” mais alto. Ledo engano. Esta seria a evidência número “um” de que não há concordância nesta relação. Nenhuma conclusão pode ser finalizada apenas por uma imposição unilateral. Tem de haver comunicação.

Portanto, somente posso garantir uma comunicação eficaz quando estou apto a discernir, a interpretar o que meu interlocutor me diz. É do mesmo modo anômalo um processo de comunicação em que me disponho apenas a ouvir. Há quem acene com esta posição como uma qualidade sábia. Nem sempre é. Reafirmo que tão importante quanto falar é ouvir. Esses elementos devem ser alternados num processo de comunicação. Dizem que as mulheres falam 20 mil palavras por dia, e os homens, 7 mil. Claro, o cérebro feminino insta para que as mulheres falem mais. Isso, no entanto, não sugere uma boa comunicação. Falar muito não é comunicar, assim como deixar de falar também não o é. Os turnos lingüísticos, na comunicação, devem ser construídos em alternância. Pensando numa comunicação ideal, devemos propor que haja o bom senso devido para que os cônjuges se afinem. Quem está acostumado apenas a falar deve exercitar um pouco o ouvido. Os que se silenciam diante de quase tudo devem se esforçar para falar no momento certo, com a dosagem certa. Relevante também é compreendermos que “ouvir”, no contexto da comunicação, não é um processo apenas auditivo, físico ou biológico. O termo pode ser concebi-

do como a habilidade de interpretar o que se anuncia. Do mesmo modo, “falar” ultrapassa o aspecto físico da emissão de voz. Portanto, somente posso garantir uma comunicação eficaz quando estou apto a discernir, a interpretar o que meu interlocutor me diz. Para isso devemos nos ater às linguagens da comunicação, que são tão distintas quanto o número de interlocutores num discurso. Cada pessoa tem seu jeito especial de dizer algo. Uma palavra, em si, exerce pouco poder de comunicação. Mais importante que a palavra é a linguagem – a vestimenta dessa palavra. Ou seja, como se diz é mais significante do que o dito em si. A família é o melhor ambiente para o desenvolvimento dessa linguagem. Isso porque nas relações familiares se desnudam todos os fatores necessários a este mecanismo: os interlocutores se conhecem intimamente, sabem até mesmo o que o outro está dizendo quando não diz nada. Pelo menos assim deveria ser numa relação conjugal e familiar. O grande problema que identificamos nas famílias pós-modernas é que lhes falta a intimidade suficiente para uma comunicação eficaz. A ausência do tempo, a correria desmedida, o hiperindividualismo asfixiam as relações, e os membros dessa família praticamente se desconhecem. Maridos, esposas e filhos parecem tão envolvidos em seus interesses pessoais que pouco se dão conta da vivência familiar. Isso interfere diretamente no processo de comunicação, trunca a linguagem, prejudica sua interpretação. Não poucas vezes há conflitos familiares pelo fato de o marido não conhecer a linguagem da mulher, ou esta desconhecer o que os filhos estão dizendo com sua linguagem peculiar – seja com palavras, expressões ou comportamento. As carências da nossa geração instam para que novas medidas sejam tomadas em favor do fortalecimento da família. Maridos, esposas e filhos precisam abrir mão de interesses egoístas e desenvolver uma afinidade familiar que convirja para uma saúde relacional, permitindo a cada um conhecer o outro mais intimamente. A comunicação, na prática, é “alfa e ômega” deste processo – provê a intimidade, e esta garante a eficácia da própria comunicação.

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{ DISCIPULANDO FILHOS }

Adhemar de Campos é cantor, músico, compositor e pastor auxiliar da igreja sede da Comunidade da Graça no Brasil, localizada na Vila Carrão, São Paulo. É casado com Aurora e tem três filhos.

Casamento é bênção

C

omo fazer a escolha certa, apresentando diante de Deus sua vida amorosa e respeitando o tempo de espera dado por Ele? Como abordar as diversas fases de um relacionamento (namoro, noivado e casamento) e as incertezas vividas neste período? Estamos diante de um assunto complexo e desafiador. A Bíblia não fala muito claramente sobre namoro e noivado, no entanto existem nela alguns princípios que podem nos nortear com segurança. A meu ver, outro fator de complexidade é que nem todo jovem cristão tem pais cristãos, um detalhe que é fundamental e determinante na área sentimental de todo moço e moça, pois o princípio bíblico ensina que os pais “entesouram para os filhos” (2 Coríntios 12.4). Há uma enorme diferença entre um jovem cristão cujos pais são igualmente cristãos e outro que vive uma situação contrária, pois o relacionamento dos pais reflete diretamente nos filhos, influenciando-os de forma sadia ou não. Essa é a conclusão a que chego em função dos aconselhamentos feitos ao longo do tempo. Analisando o contexto de uma família em que todos de fato são cristãos, vamos notar que o relacionamento saudável dos pais é o principal estímulo para um filho almejar constituir uma família. A experiência, somada ao ensino bíblico, é a ferramenta mais eficiente para formar a visão dos filhos e dar-lhes a segurança de

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que precisam para fazerem suas escolhas e tomarem decisões sábias e seguras. Dessa forma, será mais fácil para esse jovem discernir quando deve iniciar um namoro com alguém que tenha beleza não só externa, mas também tenha o caráter de Cristo, de maneira que ambos se completem. Iniciado o namoro, debaixo de aprovação divina, da bênção dos pais e do pastor, ambos vão planejar a vida futura, trabalhando a fim de juntar economias e assim começarem a adquirir um imóvel e o que for necessário para a vida a dois. Pode parecer muito prático a maneira como estou descrevendo o processo, mas a chave de tudo são pais saudáveis que geram filhos saudáveis, sobretudo na área sentimental. É evidente que lutas surgirão durante o processo até o casamento, porém elas serão superadas pela capacidade e maturidade espirituais resultantes da presença de Cristo, e também de oração e diálogo visando o cumprimento do propósito divino. No caso de o jovem não ter pais cristãos, creio que é quase um dever dos casais da igreja “adotarem” alguns para ajudá-los nessa fase tão delicada de sua vida. Pode também ocorrer casos em que o jovem não pretende se casar. Se houver uma situação como essa, a família e a igreja devem proteger e apoiar. Como disse no início, o assunto é complexo, mas a graça de Deus é a fonte de capacitação para que todas as dificuldades sejam vencidas.


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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

} RELACIONAMENTOS

Relacionamentos Estremecidos

R

elacionamento é o ato de relacionar ou relacionar-se; relação; capacidade de relacionar-se ou conviver com os outros; comportamento pessoal e social. 28

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Logo, relacionamento tem muito a ver com intimidade, e podemos dizer que intimidade determina a profundidade do relacionamento. A intimidade é complexa, uma vez que

seus significados variam de relacionamento para relacionamento, e dentro de um mesmo relacionamento ao longo do tempo vivido. Em alguns relacionamentos a intimidade

está ligada ao sexo, principalmente quando falamos do relacionamento do homem para com a mulher. Romantismo é a marca das mulheres, e não pode ser confundido com relações sexuais. Aliás, o homem faz carinho porque quer sexo, mas a mulher não é assim, ela faz sexo porque quer receber carinho, ser amada. De qualquer forma, a intimidade está ligada com sentimentos de afeto em um relacionamento; parece que intimidade e relacionamentos saudáveis estão juntos e de mãos dadas. Certamente a intimidade é um ingrediente básico em qualquer relacionamento com algum significado. Precisamos aprender que somos diferentes (marido e mulher): o homem resolve os problemas calado com o


controle remoto na mão e em frente da televisão sem assistir a nenhum canal, e a mulher resolve os problemas falando, e quando ela não fala é porque aconteceu alguma coisa errada. As mulheres falam cerca de 24 mil palavras por dia e há mulheres que não conseguem falar de dia todas as palavras e falam à noite dormindo. Os homens falam de 7 a 8 mil palavras por dia. As mulheres conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo, e os homens só conseguem atender ao celular e mais nada; dê ao seu marido uma coisa de cada vez, somos diferentes e se quisermos um relacionamento sadio precisamos usar as diferenças para nos ajudar e não para estremecer nossos relacionamentos. Nossos ingredientes são: a intimidade e a tolerância, mesmo quando estamos a ponto de estremecer; aqui entra o papel do verdadeiro amor. Durante um aconselhamento com uma mulher, o pastor disse: “Irmã, você está com raiz de amargura contra o seu marido”. Aquela mulher respondeu: “Raiz não, eu estou com tronco de amargura”. Precisamos buscar respostas e soluções para

nossos relacionamentos em Deus, pois o próprio Deus é o criador dos relacionamentos. No livro de Gênesis 1.26 Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo já se relacionavam. Na expressão “façamos o homem” existe uma inter-relação entre as pessoas da trindade. O homem é mais uma prova de que Deus gosta de relacionamentos, pois ele foi feito à imagem e semelhança de Deus para

imagem com um objetivo real: relacionar-se. A imagem que temos de Deus afeta nossos relacionamentos em três níveis: Com nós mesmos. Com o próximo (nesse caso diretamente com a esposa). Com Deus. A queda levou-nos à visão distorcida da imagem de Deus, e isso influencia totalmente

Perdemos a visão e o propósito do que é relacionamento e temos vivido um tempo egoísta, em que todos os ganhos devem ser meus, não importando o que o outro pensa. que pudesse se relacionar integralmente com Ele. A imagem de Deus em nós leva-nos a conhecer a Deus e aponta para relacionamentos; Deus se torna visível através de nossos relacionamentos. Toda tarde Deus vinha para conversar com Adão, mas certo dia ele se escondeu, e nós só nos escondemos quando estamos errados. Mesmo depois da queda, Deus continua buscando restaurar no homem sua

nossa vida e nossos relacionamentos. Perdemos a visão e o propósito do que é relacionamento e temos vivido um tempo egoísta, em que todos os ganhos devem ser meus, não importando o que o outro pensa. Temos construído impérios pessoais megalomaníacos; o desafio hoje é “venha a mim o meu reino e seja feita a minha vontade”, “glórias a mim e louvado seja o meu nome”. Tudo isso é

marca da queda do homem, e aqui começa a verdadeira dificuldade nos relacionamentos. Nossos relacionamentos só serão restaurados a partir da cruz de Cristo; tenho de olhar para as pessoas como Jesus olha, devo ter o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus (Filipenses 2.5), mesmo quando se tratar de relacionamentos. Particularmente creio que a família é o melhor lugar para crescermos em nossos relacionamentos. Sem famílias fortes nossos relacionamentos serão marcados pelos traumas e indiferenças. Deus, para curar nossos relacionamentos estremecidos, precisa curar-nos primeiro, perdoar nossos pecados e nos ensinar a perdoar como decisão e não como sentimento. Deixo aqui uma frase para reflexão: “Deus cura relacionamentos estremecidos, mas não suporta rebeldia”. Luiz Henrique é pastorpresidente do Ministério Família um Projeto de Deus. Doutor em Aconselhamento e Cuidado de Família e autor de dois livros: “Quem manda na Família Hoje” e “Manual de Discipulado”.

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{ FINANÇAS

PA R A A

VIDA }

Falência financeira “

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Paulo de Tarso é engenheiro civil e mestre em Teologia. É o idealizador e organizador do Site, Palestra e Seminário Finanças para a Vida e do Projeto Educação Financeira para Todos.

D

inheiro é algo que faz parte do nosso dia-adia. Desde cedo, quando tomamos um café, compramos pão ou o jornal do dia, estamos tomando decisões financeiras. Mesmo as crianças, quando tomam contato com o dinheiro e compram balas, doces ou outras guloseimas, estão, desde cedo, tomando decisões financeiras.

As dificuldades financeiras A Associação Nacional dos Executivos de Finanças fez um levantamento e descobriu que a família média brasileira gasta em torno de 1/3 de tudo o que ganha com despesas financeiras, e o IBGE levantou que 85% das famílias brasileiras sentem algum tipo de dificuldade de chegar ao final do mês com aquilo que ganham. Quando falamos de dificuldades financeiras, muitas coisas podem vir à mente: ganhos abaixo de nossas necessidades e desejos, dívidas, falta de progresso financeiro, carreiras estacionadas, dificuldades de comunicação no lar quando o assunto é dinheiro, cônjuges e filhos que sempre querem mais e mais, incapacidade de administrar bem o dinheiro que temos; e a lista pode ser bem mais extensa. Lidar com as decepções na área do dinheiro não é nada fácil, porque a luta pelo ganho financeiro é parte indissociável do nosso cotidiano.

relacionados a tensões financeiras na família). Também apresentam baixa produtividade no trabalho, pois estão mais preocupadas em como resolver os problemas financeiros.

Como mudar o quadro? Aqui vão alguns conselhos que, se seguidos, podem fazer a diferença na vida financeira das pessoas, famílias e organizações:

Tenha bons princípios Os princípios são fundamentais. Nossa vida gira em torno deles. Direta ou indiretamente somos movidos por princípios na construção daquilo que queremos alcançar. Busque os princípios de gestão que o leve a uma vida financeira bem-sucedida.

das famílias brasileiras sentem algum tipo de dificuldade de chegar ao final do mês com aquilo que ganham.

85

%

Fonte: IBGE

O que leva as pessoas a dificuldades financeiras? Há várias razões que, associadas, contribuem para o empobrecimento e desequilíbrio das pessoas, famílias e organizações: falta de educação financeira; nível de endividamento além das possibilidades; ostentação; padrão de vida acima das possibilidades financeiras; orgulho próprio, que impede a pessoa de tomar conselho por se achar auto-suficiente no assunto; falta de orçamento, e por aí vai.

Conseqüências do desequilíbrio financeiro Em geral, pessoas que se encontram em desequilíbrio financeiro caem em depressão, perdem muitas vezes o sentido da vida, têm muitas dificuldades nos relacionamentos, principalmente para os que são casados (cerca de 50% dos divórcios têm como raiz problemas

Estabeleça metas Partindo dos bons princípios, estabeleça metas a serem alcançadas, porque é sobre elas que você poderá fazer progressos ao longo do tempo. Só com metas você saberá aonde está indo e se está alcançando suas necessidades e desejos.

Tenha disciplina Por exemplo, se você estabeleceu a meta de investir 5% da sua renda, tão logo receba, separe esse valor e coloque-o em algum tipo de aplicação que o ajude a alcançar mais rapidamente seu alvo. Lembre-se de que a disciplina será fundamental para que os princípios e metas se realizem de forma efetiva.

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{ FINANÇAS

PA R A A

VIDA }

ferramenta, verá que as vantagens são bem compensadoras.

Faça investimentos Lembre-se de que você necessita separar uma parte daquilo que você ganha para necessidades emergenciais (conserto de carro, eletrodomésticos, etc.), como também para necessidades de médio prazo (troca de carro, reforma da casa, etc.) e longo prazo (aposentadoria, compra de imóvel, etc.). Se você almeja o sucesso financeiro, lembre-se sempre de que não pode cair no erro de comprometer toda sua renda com seu estilo de vida.

Seja um doador

Lembre-se sempre de que seu maior bem são seus relacionamentos, as pessoas que amam você, como sua família e seus amigos.

É um erro pensar que as doações vão levar você a dificuldades financeiras, desde que realizadas com o equilíbrio necessário. As pessoas mais bem sucedidas financeiramente foram doadores generosos. O rei Salomão já dizia que “quem reparte generosamente seus bens com outras pessoas se tornará cada vez mais rico; quem procura segurar mais dinheiro do que necessita acabará perdendo tudo”.

Eduque-se financeiramente Livre-se de dívidas Quando você faz investimentos, os juros trabalham a seu favor. Quando você faz dívidas, os juros trabalham contra seu sucesso financeiro. E o pior é que normalmente os juros que você tem de pagar são bem superiores. Resumindo, se você tem dívidas, o primeiro e melhor investimento a fazer é: livre-se delas.

Gaste com sabedoria Para gastar com sabedoria, você necessita de um plano para os seus gastos, um orçamento. Muitas pessoas acham que um orçamento é algo complicado e difícil de lidar. Mas quero mostrar que um orçamento não precisa ser algo complicado e que, se você dedicar um pouco do seu tempo para trabalhar esta

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Como tudo o que aprendemos na vida, a educação financeira é um processo. Como sempre temos de lidar com o nosso dinheiro, precisamos nos reciclar para sabermos a cada dia qual é a melhor forma de ganhar e aplicar o nosso dinheiro.

Concentre-se nos relacionamentos Eu acho que, quando o assunto é dinheiro, o maior erro que você poderia cometer é concentrar sua atenção exclusivamente no próprio dinheiro, em sua mera acumulação. Lembre-se sempre de que seu maior bem são seus relacionamentos, as pessoas que amam você, como sua família e seus amigos. Por último, e o mais importante: estabeleça um relacionamento com Deus, “pois que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”.


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{ SUPERANDO

OS

CONFLITOS }

O amor esfriou, e agora?

Acende, Senhor! O

que leva um casal a quebrar a sua intimidade? O que gera um esfriamento na relação matrimonial? Não é incomum ouvirmos testemunhos e preocupações com o esfriamento da relação de um casal, seja ele físico, afetivo, emocional, enfim, um distanciamento. Recentemente li em um jornal de grande circulação na cidade de São Paulo um artigo sobre “relacionamento conjugal”. A matéria destacava, entre outros aspectos,

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Marcos Antonio Garcia é pastor na Catedral Metodista de São Paulo, no bairro da Liberdade, mestre e doutor em Ciências da Religião,Teologia Prática e Sociedade pela Universidade Metodista de São Paulo, professor no Centro Metodista de Capacitação – Cemec e palestrante em encontro de casais. É casado com Ivana há 20 anos e pai de Mateus, 17 anos, e Larissa, 12 anos.

o distanciamento sexual do casal ao longo de determinadas etapas da vida conjugal, por exemplo dois anos, cinco anos, dez anos etc. O mais interessante era perceber que a crise não ocorria em torno dos 40, 50 anos de vida conjugal, mas especialmente entre casais jovens, e os motivos do distanciamento elencados na matéria eram estresse em função do trabalho, prioridade na construção de uma carreira, cansaço, desencontro de horários, problemas financeiros. Esta é só uma das inúmeras matérias que relatam o conflito no relacionamento conjugal. O autor da reportagem não levou em consideração o ser cristão ou não. Porém, a constatação é que em nossa realidade muitos casais estão vivendo experiência semelhante. O que gera esses conflitos? O que é intimidade? Intimidade é a “qualidade do que é íntimo; familiaridade; relação íntima”, e íntimo é o “que está muito no interior; profundo; âmago; muito cordial, muito ligado; pessoa a quem se dedica particular afeição”.

A intimidade com Deus – pessoal e familiar –, um desafio! Deus deseja estabelecer um relacionamento de intimidade com cada um de nós individualmente e como casal e família. A Palavra do Senhor afirma que “a intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” (Salmos 25.14 – ARA). Precisamos estabelecer um relacionamento íntimo com Deus! Se você olhar para a Palavra do Senhor, verá que desde a criação de Adão e Eva Deus queria ter intimidade com eles. No Novo Testamento o discipulado de Jesus é um processo de relacionamento, de intimidade, companheirismo e amizade. O próprio Jesus afirmou em João 15: “Vocês são meus amigos”! Em Marcos 14.3-9 lemos o relato sobre a mulher que ungiu os pés de Jesus em Betânia, e na narrativa de João 12 ela ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. Jesus reconhece o afeto dessa mulher. No entanto, alguns fatores podem quebrar a

intimidade. Pensando ainda no ministério de Jesus, Pedro é um exemplo disso: diante da sua fragilidade humana, ele chega a prometer que morreria por Jesus, mas quando Jesus foi preso, usou uma arma para defendê-lo, depois passou a “segui-lo de longe” e finalmente o negou por três vezes (Mateus 25). Deus nos criou para sermos felizes e usufruirmos de todas as suas bênçãos, no casamento, na intimidade conjugal, no relacionamento familiar, com os amigos e irmãos na fé...

A intimidade com Deus no casamento O que pode quebrar a intimidade no relacionamento conjugal? Alguns autores fazem várias listas de atitudes que

O mais interessante era perceber que a crise não ocorria em torno dos 40, 50 anos de vida conjugal, mas especialmente entre casais jovens... acabam por afastar um casal. Destaco aqui algumas delas: mania de criticar; raiva e ressentimentos recalcados; fracasso na comunicação; falta de confiança no companheiro ou em si mesmo; insegurança quanto à aparência física; não enfatizar o valor do sexo; falta de sensibilidade; ausência de contato físico não sexual (afetividade); excesso de “televisão”, e hoje podemos acrescentar excesso de tempo dedicado ao computador. Onde acabamos sendo tentados em nosso relacionamento que pode gerar um esfriamento? (Leia Tiago 1.13-15 e Provérbios 6.24-29.) Podemos destacar três grandes áreas: sexo, finanças e comunicação. Esses temas têm sido abordados com freqüência na Lar Cristão, pois sabemos que isso tem gerado o esfriamento em muitos relacionamentos.

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{ SUPERANDO

OS

CONFLITOS }

Deus nos criou para sermos felizes e usufruirmos de todas as suas bênçãos, no casamento, na intimidade conjugal, no relacionamento familiar, com os amigos e irmãos na fé... O que fazer para conseguir resgatar a intimidade no casamento? Intimidade espiritual – é fundamental voltar ao primeiro amor. Acredito que nenhum casal que está distante um 36

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do outro realmente conseguirá estabelecer intimidade com Deus. O Espírito Santo estará sempre incomodando! Estabeleça confiança mútua – o casal deve buscar resgatar os valores do início do relacionamento, deve se abrir, conversar de forma franca, amistosa, sem, contudo, procurar culpar somente o outro, mas buscar ajuda para a restauração. Apoio mútuo. Aprendam a gozar a sensualidade – o namoro deve ser contínuo depois do casamento. Ele encoraja o relacionamento sexual como amantes e ainda desafia os casais a viverem o sexo depois dos 60, 70, 80 anos – uma bênção que continua! Programem passeios, divirtam-se! – incluam no orçamento familiar recursos para “continuar namorando”! Qual é o nosso maior desafio? Viver a proposta de Deus para o amor em 1 Coríntios 13: a maturidade do amor. Aprendemos que não devemos procurar no casamento “meus próprios” interesses. Aprender que a proposta de Deus no casamento é “fazer o outro feliz” (leia Colossenses 3.16-17, 23). Na narrativa de Neemias sobre a restauração dos muros aprendemos que eles não são muros de separação, mas de proteção. Você tem praticado o amor? Há quanto tempo você não faz um elogio ao seu cônjuge? Quanto tempo faz que vocês não conversam, passeiam, namoram, dão risada juntos? Não deixe seu amor esfriar! Busque a alegria e a comunhão no Senhor e a plena felicidade proposta por Deus para sua vida conjugal! Você tem presenteado seu cônjuge? Levado flores ou bombons para sua esposa, ou feito algo especial para seu marido? Posso lhe dar um conselho? Desligue a televisão, o computador e gaste tempo com seu cônjuge. Organizem a vida de vocês para experimentar a cada dia a alegria de uma vida conjugal. O Senhor, com certeza, está abençoando seu casamento! Não desista dele! Não abra mão da bênção de Deus sobre sua vida conjugal!


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A influência do ambiente universitário na vida dos jovens

A

medida que os anos passam, presenciamos sérias mudanças no comportamento dos jovens nas escolas em todo o mundo. Recentemente vimos, através da mídia, tragédias que jamais imaginamos que pudessem acontecer. O desrespeito e a violência contra professores e diretores de escolas tornou-se algo assustador. Como cristãos, nós sabemos que estamos num caminho sem volta. O distanciamento dos princípios da Palavra de Deus, tem levado a nossa sociedade a um caos moral sem precedentes. Talvez, ao dizer isto, você se pergunte: “Mas, e nos dias de Noé, não foram semelhantes?” Sim. Até mesmo Jesus, ao falar dos últimos dias, menciona, em Mateus 24.37, que o caos moral dos dias de Noé se repetiria. Porém, o que devemos levar em conta é a extensão do problema, uma vez que falamos de uma população mundial

muito superior em números e que conta com tecnologia capaz de destruir e influenciar a humanidade muito mais rápido, com práticas e costumes, os mais perversos possíveis. A grande pergunta sobre a qual queremos refletir é: “Estão nossos filhos preparados para enfrentar esta batalha?” Muitos pais, preocupados com o sucesso educacional e material de seus filhos, ainda não perceberam que, dentre as grandes mudanças sofridas nos nossos dias, várias delas vieram a fragilizar a capacidade do jovem cristão de reagir positivamente às influências no ambiente estudantil. Dentre elas, poderíamos citar a idade cada vez menor dos jovens, ainda imaturos, entrando para as universidades e o despreparo espiritual dos jovens cristãos, que por não conhecerem bem as bases bíblicas que fundamentam sua fé, deixam-se influenciar por ensinos que contrariam a Palavra

de Deus. Pesquisa* realizada recentemente nos EUA revelou que 53% dos jovens cristãos abandonam sua convicção na Palavra de Deus no primeiro ano da universidade. O que podemos fazer para mudar esse quadro? A resposta não é tão fácil de colocá-la em prática. Fortalecer o caráter cristão dos nossos filhos, transformá-los em líderes, dar-lhes maturidade espiritual e convicção daquilo que querem para o seu futuro. Tudo isso exige tempo e investimento. Isto não se consegue apenas nos dias em que freqüenta a Igreja, é preciso que eles sejam imersos em um ambiente estudantil adequado, onde os valores espirituais serão firmados em suas vidas, de forma consistente e prática, a tal ponto que, ao invés de serem influenciados, eles serão influência na vida de outras pessoas. *Columbia International University – SC - USA

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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

} QUESTIONAMENTO

A chegada das lágrimas Os porquês da idade adulta

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N

ormalmente, entre 5 e 7 anos as crianças passam por uma fase em que quase enlouquecem os adultos que as rodeiam, principalmente os pais. Elas perguntam sobre tudo. São verdadeiros cientistas procurando respostas. E muitas vezes nós, os adultos, acabamos sufocando essas mentes curiosas e argutas, que estão descobrindo a vida e clamam por maiores explicações. Esse é um paralelo de como nos sentimos quando somos surpreendidos por situações inesperadas. Podemos até não crivar a Deus de perguntas, mas nosso coração e nossa mente assumem a forma de um enorme ponto de interrogação: por que eu, Senhor? Dennis Kizziar, um grande amigo, contou-me

certa vez a história de um canário que se chamava “Por que eu?”. A avezinha tinha donos muito ricos. Certo dia, quando a empregada limpava o fundo de sua gaiola com o aspirador de pó, ela tropeçou, e com o tranco a mangueira saiu do lugar e acabou sugando o

lá estava ele... Completamente marrom e coberto pela poeira, ofegante e debatendo-se à procura de ar. Apavorada, a senhora tirou-o dali, levou-o até a torneira mais próxima e lhe deu um bom banho de água fria para limpar a sujeira. Em seguida, pegou o

Há frasededesua C.carreira S. Lewis, o O uma sucesso grande teólogo inglês, que fala não compensa o fracasso de muito comigo: “Deus sussurra em sua família! nossos prazeres, mas grita em nossas dores”. pobrezinho para dentro do tambor do aparelho. Imediatamente, prevendo a bronca que levaria se alguma coisa acontecesse a “Por que eu?”, ela desligou o aparelho, abriu a tampa, e

secador de cabelo de sua patroa e, no ar bem quente, foi secando o aterrorizado canário, que mal podia respirar diante da fúria turbinada daquele vendaval.

Sempre dou risada ao imaginar o pobre bichinho! Porém, quando paro e penso no que está por trás dessa ilustração, percebo que muitas vezes na vida eu me senti no lugar desse canário que, sem mais nem menos, foi sugado, ficou sem ar e empoeirado, recebeu o impacto de ser agarrado e inesperadamente colocado sob um jato de água gelada para, em seguida, sofrer o choque térmico do ar superaquecido de um secador! Foram muitas vezes em que, se não verbalizei, certamente pensei: por que eu, Senhor? Há uma frase de C. S. Lewis, o grande teólogo inglês, que fala muito comigo: “Deus sussurra em nossos prazeres, mas grita em nossas dores”. E o Senhor gritou comigo e com minha família,

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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

principalmente nos anos de 1997 e 1998. Durante aquele período eu me apeguei ainda mais à Palavra de Deus, pois não entendia o porquê dos sofrimentos e da dor pelos quais estávamos passando no âmbito familiar e ministerial. Fui, literalmente, levado a pensar e a meditar nos propósitos de Deus no sofrimento de seus filhos. Minha busca acabou resultando em um livro chamado Onde está Deus em meu sofrimento?. Neste artigo compartilho parte do que aprendi. Se você tiver oportunidade, leia o livro. Judith, minha esposa, e eu vivemos momentos dramáticos quando, por muito pouco, não perdemos nossa filha Márcia, que adoeceu de repente. Depois, nosso genro, marido de Melinda, nossa filha mais velha, teve sérios

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} QUESTIONAMENTO

problemas de saúde. Mais para frente, sofri um seqüestro relâmpago que me traumatizou profundamente. Paralelamente a tudo isso, Judith precisou fazer uma delicada cirurgia que poderia afetar profun-

Algo que temos descoberto ao longo desses anos é que nenhum de nós está imune a tristezas, provações e sofrimentos, apesar de haver uma corrente cristã que pregue esse tipo de teologia (Evangelho da

Aos poucos, pela dura experiência tenho aprendido de modo muito prático que o Senhor é o nosso refúgio e socorro bem presente nas horas das mais profundas dúvidas, receios e sofrimentos. damente sua audição. Além disso, meu sogro faleceu e uma de minhas irmãs também. Além dessas, ainda outras situações nos acometeram, mas acho que as citadas já são suficientes para demonstrar as dores e perdas que atravessamos.

Prosperidade). Seria muito bom se fosse assim! Os portadores dessa mensagem distorcida pregam que é propósito do Senhor que estejamos sempre ricos, saudáveis, felizes e que isso não é uma prerrogativa, mas um direito. Como será

que eles lidam com a parte do livro de Hebreus que mostra os heróis da fé e os sofrimentos pelos quais passaram? Há situações pelas quais atravessamos que são realmente frutos de erros, de pecados, conseqüências inevitáveis da lei “quem semeia colhe”. Porém, há pessoas piedosas, que mantêm a consciência limpa perante Deus, com ministérios abençoados, e estão sofrendo, e muito, seja com enfermidades súbitas ou com algum outro problema pessoal ou familiar. Creio que nessas horas o mais importante é irmos à Palavra e ao Pai, não tanto para saber o “porquê” de estarmos sendo afligidos, mas para entender “para quê”! No auge de nossas provações derramei minha


aflição, confusão e medo no altar do Pai Celestial, dia após dia. Aos poucos, pela dura experiência tenho aprendido de modo muito prático que o Senhor é o nosso refúgio e socorro bem presente nas horas das mais profundas dúvidas, receios e sofrimentos. A passagem de 2 Coríntios 1.3-11 mostra um dos motivos de Deus permitir o sofrimento. “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações. Pois assim como os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, também por meio de Cristo transborda a nossa consolação. Se somos atribulados, é para consolação e salvação de vocês; se somos consolados, é para consolação de vocês, a qual lhes dá paciência para suportarem os mesmos sofrimentos que nós estamos padecendo. E a nossa esperança em relação a vocês está firme, porque sabemos que, da mesma forma como vocês participaram dos nossos sofrimentos, participam também da nossa consolação” (2 Coríntios 1.4-7). A Palavra coloca de forma clara que Deus nos

Quando aprendemos a correr para os braços do Pai, aconchegando-nos a seu peito e permitindo que Ele nos console, então conseguimos agir da mesma forma com os outros. consola em nossas tribulações. E depois acrescenta que devemos também consolar aos que sofrem, com a mesma consolação com que fomos contemplados. Quem é consolado consola. O Senhor nos supre para suprirmos. O ser humano, em geral, é egoísta, está sempre mais preocupado com seu próprio conforto do que com a carência de seu semelhante. A Palavra de Deus então nos declara que a tribulação produz perseverança. Para criar caráter no coração de seus filhos, o Senhor permite

que experimentem dificuldades, dores, provações. Para que possamos receber o conforto que necessitamos, em primeiro lugar de Deus e depois das outras pessoas, é preciso que sejamos confortados em nossas próprias dores. Quando aprendemos a correr para os braços do Pai, aconchegando-nos a seu peito e permitindo que Ele nos console, então conseguimos agir da mesma forma com os outros. Nesse trecho de 2 Coríntios 1 Paulo utiliza a palavra consolação e o

verbo consolar nove vezes. A palavra no grego, “parakletos”, está intimamente relacionada ao ministério do Espírito Santo (João 14.16; 15.26; 16.7). O grande “Parakleto” é o Deus de toda consolação. Em sua dor mais lancinante, o Senhor deseja segurá-lo, e Paulo nos revela que o propósito disso é: “... com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações” (2 Coríntios 1.4b). Não sei se houve algum outro momento em minha vida em que chorei mais do que naquela fase turbulenta pela qual nossa família passou. No entanto, o essencial foi descobrir os muitos “parakletos” que o Senhor providenciou para cada um de nós. E, mais do que nunca, agora reconheço que um dos propósitos do sofrimento é experimentar o conforto de Deus e assim nos tornarmos aptos para ministrar graça aos que sofrem. Jaime Kemp é doutor em Ministério Familiar e diretor do Lar Cristão. Foi missionário da Sepal por 31 anos e fundador dos Vencedores por Cristo. É palestrante e autor de 50 títulos. Casado com Judith, é pai de 3 filhas e avô de 2 netos.

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{ BOA LEITURA }

Cuidado com

as armadilhas

Meditações para maltrapilhos Autor: Brennan Manning Páginas: 384 Tamanho: 16x23 cm Editora: Mundo Cristão Acompanhe em 365 dias reflexões selecionadas de Brennan Manning, cuja eloqüente mensagem desconstrói a visão de que a graça e o amor de Deus são propriedades exclusivas de um pequeno grupo de notáveis.

Ela precisa. ele deseja

Quando homens fiéis são tentados Autor: Bill Perkins Páginas: 264 Formato: 14x21cm Editora: Vida Este livro foi feito para você saber combater a batalha contra a pureza sexual em todos os níveis e mídias! Devemos aprender a nos render a Deus e admitir o problema, em vez de correr dele ou tentar escondê-lo. Para o autor, a tentação à luxúria, não pode ser subjugada, reconsiderada ou amenizada. Ela deve der tratada como é, e agora mesmo! Trazê-la à luz para resolver a culpa e a vergonha é o que homens de bem fazem ao admitir pecados específicos a Deus e pedir a ele por perdão.

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Autor: Dr Willard F. Harley Jr Páginas: 275 Formato: 14x21 cm Editora: Candeia Esta edição foi lançada nos Estados Unidos em comemoração aos 15 anos de publicação ininterrupta deste livro e ao constante crescimento de sua popularidade. Lendo este livro você descobrirá que um casamento “fora de série” não é apenas um sonho, mas pode ser realidade. Porque este livro, mais do que qualquer outro, ajuda maridos e esposas a darem um ao

outro o que cada um mais necessita no casamento.

Família, a Casa do Oleiro Vida pessoal e casamento Autor: Giovani Zimmermann Páginas: 120 Formato: 14x21 cm Editora: Fôlego Esta é uma obra que renova as esperanças a fim de termos uma família saudável, revigorada nos princípios bíblicos e ajustada ao projeto de Deus.

Conselhos para uma vida sábia Reflexões sobre o livro de Eclesiastes Autor: Alcindo Almeida Páginas: 234 Formato: 14x21 cm Editora: Fôlego O autor nos leva a ver o que Salomão nos ensina sobre a vida através de Eclesiastes. Nos ensinos de Salomão nossa opinião superficial sobre o temor de Deus é aprofundada.

Bebendo diariamente da fonte Graça para o momento – vol. 2 Autor: Max Lucado Páginas: 400 Formato: 10x15,5 cm Editora: CPAD

É um livro que estimula a buscar diariamente a graça de Deus, por meio de pequenos textos com temas variados para cada dia do ano. Em seu livro, Max Lucado diz: “Que tal nos servirmos diariamente da fonte da graça de Deus? Beba profundamente meu amigo. E beba diariamente.”


{ AGENDA }

Seminários Lar Cristão 1ª Ig. Batista de Fortaleza/ CE Seminário com Judith Dias: 21, 22 e 23 de novembro Informações: Expedito Jr. 92-3234-5298/ 85-3433-1370 ou 9925-9093 Curso: FID

Seminário em Portugal Dias: 27/11 à 10/12 Local: Igreja Evangélica em Porto e Lisboa Informações: 234-911-242 Pr. Ruben Fontoura ou 351-961385-490 Pr. Artur Fuchs Curso: FID

Seminário na França Local: Igreja Evangélica em Paris Dias: 12 à 14 de dezembro Informações com Marcos 33-139-655-101. Curso: FID

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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

} DIVÓRCIO

Diante da falta de referencial familiar T

odo assunto sobre família é sério. Começando com Adão e Eva, Caim, Abel, Sete, Enos, etc., a família continua a mesma, com os mesmos conflitos e problemas, só muda o endereço. Mudou a família? Sim! Mudou o homem e seus relacionamentos. O modelo familiar criado por Deus incluía um homem forte, o líder, sua mulher, ajudadora idônea, e filhos submissos aos pais. A hierarquia teocrática propõe: o homem submisso a Deus, a mulher submissa ao homem e os filhos submissos aos pais, um padrão que parece não existir nos dias atuais. A família é uma instituição divina. Deus criou o homem e pouco depois Eva. Ao apresentála a Adão, Deus fez o papel de mediador amoroso. Eles teriam a responsabilidade de governar e gerar filhos para Deus e

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seu reino de amor. A multiplicação dos homens ocorreria segura e sem riscos. Caberia aos pais administrar a convivência pacífica e frutífera dos agregadores: seus filhos, seus netos, empregados, genros e noras. As famílias dos primeiros tempos viviam em “clãs”, agrupamento de no mínimo quatro gerações. Havia conflitos? Com certeza! O núcleo familiar, porém, era forte. A família é o melhor lugar para o indivíduo se desenvolver e desabrochar como PESSOA. Na família o indivíduo encontra sua IDENTIDADE e destino. Na família se exercita a partilha, a convivência, as emoções são treinadas, os sentimentos avaliados, a reta vontade exercida. Antigamente a família tinha uma rotina que a fortalecia: hora do almoço, juntos, hora do jantar,

juntos, hora de dormir, juntos sobre o mesmo teto. Nas festas de família memoráveis, o clã se reunia para o lazer, mas sempre juntos. No começo dos tempos parecia que o tempo demorava a passar; mais tarde, ao “pegar velocidade”, ele foi passando cada vez mais rápido e hoje o “tempo voa”; vivemos cada vez mais intensamente, mas “NÃO VIVEMOS”! Como peixes fora d’água, que “pulam muito” (ativismo), no entanto não estão vivendo, mas morrendo. Aprendemos desde jovens que a família é a “célula mater” da sociedade; hoje, porém, as famílias não são células-mãe, mas células-madrastas. Vejamos os sinais dos tempos. A mulher já não gravita em torno do marido. Ela ampliou seus espaços... Tem outras fontes de referência em outras

órbitas sociais; a luta pela sobrevivência ou pela projeção individual trouxe mudanças para a dinâmica familiar, mudanças radicais! A mulher vive longe do marido e dos filhos a maior parte do dia. Ela ampliou seu espaço; este não se limita à cozinha ou corredores da casa ou quintal, seu espaço de circulação é maior, longe de casa como enfermeira, médica, vendedora nos magazines, professora, executiva de grandes empresas, cruza os céus em aviões, se desloca em seu próprio carro, diz adeus aos afazeres domésticos (odeia cozinhar, lavar, passar), terceiriza a educação dos filhos a babás, creches e escolas infantis, fica cada vez mais longe de seu lar. Os relacionamentos vão se enfraquecendo; trocamse ou anulam-se os relacionamentos por conexões; os contatos familiares ficam


cada vez mais frios e até “impessoais”. É na família, entretanto, que o jovem e a criança aprendem as formas mais sadias de relações; o calor humano dentro do lar entre mãe, pais, filhos, irmãos se solidifica no prazer dos encontros diários; comer, viver, dormir sob o mesmo teto. A família favorece o treino emocional para suportar as diferenças entre uns e outros, favorece o direcionamento das emoções para aquecer a infância, adolescência e juventude em família, e poder acorrer a ela após o casamento é um privilégio de poucos. Um dia ouvi uma senhora dizendo: “O maior presente que eu queria na minha infância era ter uma família”. Somos como uma árvore: o tronco representa a pessoa, os galhos a família, porém a árvore tem de ter raízes, e raízes fortes! Senão como sobreviveriam os galhos? As raízes são o referencial de uma pessoa, é delas que saem a seiva que alimenta, dá força, saúde e vigor para enfrentar a vida com dignidade. Como é essa seiva? Como ela se revela? Essa seiva é corporificada no essencial que todo homem precisa para viver: sua escala de valores. Dentre esses valores, a importân-

A família é o melhor lugar para o indivíduo se desenvolver e desabrochar como PESSOA. Na família o indivíduo encontra sua IDENTIDADE e destino. cia de uma família. Essa seiva é absorvida em todos os momentos de convivência familiar, nos momentos de alegria, tristeza e dificuldades... Nos ensinamentos rotineiros, no abraçar ou brincar com um irmão, na disciplina exigida para que a organização da casa não sofra danos, no respeito à figura do pai, da mãe ou de qualquer autoridade, no estabelecimento e treinamento de comportamentos de qualidade, no amor expressado através de gestos e ações generosas, no respeito às idéias e preferências individuais, o amor de verdade à ordem,

ao bem coletivo; o respeito ao próximo; a coragem, a firmeza, o bom caráter. Acima de tudo, a Palavra de Deus como regra de fé e prática, e a adoração ao Deus único e verdadeiro. Sem os valores morais e bíblicos, material indispensável para a construção de um lar, a família andará sobre solo movediço, e com o passar do tempo sofrerá danos irreparáveis, pois falta um eixo, faltam referências, falta direção. Sem os valores morais a tendência é os filhos seguirem padrões distorcidos e terem inclinação

para o divórcio, pois experimentaram essa tragédia ao vivo. Terão também inclinações para o alcoolismo, a violência, o desrespeito, as agressões, porque sendo vítimas sofridas do caos familiar inconscientemente repetirão em suas respectivas famílias o que antes desaprovavam. Como solucionar tais conflitos? Estancando da própria vida as vertentes dos maus procedimentos, das agressões e dores. É trocar a mágoa pelo perdão, a ira pela paciência, a revolta pela tolerância, o desespero pela esperança. É dizer: não quero isso para a minha vida e para meus filhos. A verdade é que quando a família vive comprometida com um código de valores, ela se torna um referencial para outras famílias, e essa é a vontade daquele que a criou! Josué Gonçalves é terapeuta familiar, pastor e presidente do Ministério Família Debaixo da Graça em Bragança Paulista, SP, onde mora com a esposa Rousemary e os três filhos, Letícia, Douglas e Pedro. O pastor Josué é membro da CGADB – Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil e conferencista internacional. Possui várias obras publicadas na área familiar e de liderança.

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{ ESPERANÇA

EM TEMPOS DE CRISE

} CRISE

EMOCIONAL

Quando parece não haver mais esperança “Digo-lhes verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto.” João 12.24

J

esus, ao declarar esta frase aos seus discípulos, estava falando de sua própria morte. Uma vez que a morte representa a mais completa perda de esperança, é possível aprender com Jesus como ver esperança onde parece que é o fim. O dito popular “existe um jeito para tudo, menos para a morte” mostra a importância desse ensino de Jesus sobre a esperança nos momentos de perdas. A maior perda que podemos experimentar, aos olhos humanos, é de nossa própria vida. Porém, Jesus, ao predizer sua morte, nos ensina que, para aquele

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que tem seu olhar voltado para a eternidade, há esperança de vida em qualquer tipo de perda. Grande parte das vezes em que surge uma crise houve uma perda que a desencadeou. As pessoas têm perdas de todos os tipos: de saúde, de condição financeira, de estabilidade profissional, de um ente querido, de um cônjuge (por morte ou abandono), de alegria, de fé, ministeriais, e várias outras. Ao passar por uma perda significativa, a primeira

reação é de desesperança. A mente e o coração são tomados por uma confusão de sentimentos: angústia, tristeza, raiva, mágoa, medo. Mas o que se torna

mais desesperador é a sensação de que tudo está acabado, não há o que fazer, e um vazio se instala no coração.


Creio que, em maior ou menor grau, todos já passaram por algum momento assim em sua vida. Qual seria a diferença entre aqueles que reconstroem sua vida e voltam a ter alegria e aqueles que nunca mais voltam a viver com alegria? A diferença não está no tamanho da crise, ou da intensidade da dor, mas na decisão de aprender a vivenciar seu luto e depois deixar ir. Aprendendo com o ensino de Jesus é possível entender dois pontos cruciais para nunca perder a esperança, seja qual for a situação. O primeiro ponto é que “o grão cair na terra” simboliza o vivenciar a perda, isto é, chorar seu luto. Quando sofremos uma grande dor, é preciso chorar, deixar os sentimentos serem expressos. É preciso dar um tempo para poder se adequar à nova realidade que se instalou com a perda. Vai haver dias de

choro, outros de raiva, talvez alguns dias em que tudo que se deseja é ficar só e quieto. Permitir-se passar por esses momentos não representa falta de espiritualidade nem falta de fé, mas respeito à sua própria humanidade.

apodrecendo sua alma. São pessoas que deixam o grão de trigo cair, mas não o enterram. O segundo ponto é que o grão precisa morrer para trazer vida novamente. Isso significa que se estacionarmos no momen-

As pessoas têm perdas de todos os tipos: de saúde, de condição financeira, de estabilidade profissional, de um ente querido, de um cônjuge (por morte ou abandono), de alegria, de fé, ministeriais, e várias outras. Um grão de trigo caindo na terra traz para mim a imagem clara do momento da perda, o momento em que algo acontece e parece que a vida toda mudou de uma hora para outra. Por isso, deixar o grão cair na terra simboliza se permitir chorar sua perda. Quem não sofre seu luto nunca sai do estado fantasioso de que nada aconteceu, portanto não tem como reconstruir aquilo que, na sua imaginação, nunca perdeu. Em contrapartida, alguns estacionam no lamento de seu luto e mantêm seus “defuntos” presos a si, ano após ano,

to da perda e ficarmos sempre olhando para o “grão” morto, morreremos junto com ele. Deixar o grão morrer significa deixar a dor ir embora. Parar de olhar para o chão e voltar a olhar para o horizonte, onde encontramos novas possibilidades, novas esperanças. É possível deixar de se apegar a sentimentos que trazem sofrimento, basta querer de todo o coração. Para abrir mão da tristeza, da mágoa, da raiva, é preciso abrir mão do desejo de vingança, do sentimento de autocomiseração, e principalmente liberar perdão.

É incrível, mas muitas pessoas preferem morrer todo dia um pouco mais do que simplesmente deixar sua dor ir embora. Enterre suas perdas para que você possa voltar a enxergar tudo o que ainda tem e assim reconstruir sua vida. Uma coisa que tenho aprendido é que quando confio a Deus todos os meus caminhos, mesmo diante das maiores perdas, de grandes dores, elas se transformam em degraus que me levam para lugares mais altos e mais belos. As crises me tornam mais sábia, as dores me tornam mais valente e as perdas me fazem valorizar mais tudo o que me resta. Olhando para Jesus ao falar de sua morte nos traz inspiração para vermos que sempre há um propósito, mesmo que não entendamos no momento, e sempre há algo melhor que está por vir. Maria Lucia Zagato Thomazi é pastora da Comunidade Cristã Ministério Ipiranga ao lado de seu esposo Marco Antonio Thomazi. Juntos são os pastores e idealizadores do Ministério Ipiranga, um ministério de adoração profética. É também psicóloga clínica e conselheira familiar. É mãe de três filhos e avó de duas netas.

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{ TEORIA

NA

PRÁTICA }

Quando não vemos lógica nas crises Deus não se atrasa nunca, o nosso relógio é que se adianta!

O

s cientistas, como os desportistas, são considerados idealistas e leais, sendo admirados por sua fibra e perseverança. O esporte tem seu ponto alto com as Olimpíadas, e a ciência com o prêmio Nobel, que contempla aqueles que, por meio de incessantes pesquisas, buscam respostas e soluções que diminuam as enfermidades e aumentem a qualidade de vida do ser humano. A mesma decepção que sofremos quando surgem casos de doping e deslealdade entre atletas ocorreu em 2006 quando foi revelado um caso de fraude que abalou não só a comunidade científica, mas a todos que também os percebiam como heróis. Um dos temas científicos da moda é a pesquisa para obtenção de células-tronco embrionárias clonadas, 1 tendo em vista utilizá-las em pacientes com doenças degenerativas. E foi exatamente aí que

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Iara Vasconcellos é tradutora e produtora editorial da Sociedade Religiosa Lar Cristão. Casada com João Marcos Vasconcellos, freqüentam a Igreja Batista do Morumbi, em São Paulo.

Não queremos ser simplistas. É muito difícil atravessar crises, e é muito fácil dar receitas prontas... um cientista sul-coreano comunicou ao mundo ter encontrado a solução. Ele foi aclamado “herói” e deu esperança a enfermos em fila de doação de órgãos. Ocorre, porém, que cientistas de todo o mundo utilizaram “a receita” sul-coreana, mas sem conseguir o resultado anunciado. E em ciência, quando todas as especificações são rigorosamente seguidas, o desfecho, obrigatoriamente, tem de ser o mesmo, caso contrário não será ciência. E foi assim que a fraude foi descoberta e revelada ao mundo. Portanto, quando essa mesma técnica é aplicada em outras áreas da vida, sem, no entanto, funcionar também já pensamos em algum tipo de fraude ou boicote. Vamos aplicar essa mesma tática na área espiritual. Há pessoas que têm um relacionamento pessoal com Jesus, procuram saber a vontade do Pai em cada área da

vida, buscam estudar a Palavra para aplicá-la no cotidiano, compartilham com outros o evangelho e, a despeito de todo esse fervor, são fustigadas por duras provações. Você conhece alguém assim? Eu também! Convenhamos... É difícil conciliar um Deus justo com determinadas situações! Como seria bom se existisse uma receita garantida para evitar o sofrimento! Mas não há. Da mesma forma que o sofrimento faz parte da vida, as crises também podem trazer possibilidades. Podemos usar nossa inteligência e astúcia no sentido de aproveitá-las e assim também ajudaremos a equilibrar nossas emoções. Seria algo do tipo: “Não gosto, não quero, mas já que tenho de passar por esta situação, vou procurar aprender tudo o que for possível, para que o sofrimento não seja em vão!”. Precisamos ter muito claro em nossa mente e coração que Deus não nos abandona. Ele pode até permitir a provação, porque muitas vezes aquela será a única forma de aprendermos determinadas lições. No entanto, dele mesmo virá a solução. “Não vos sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele mesmo lhes providenciará um escape, para que o possam suportar” (1 Coríntios 10.13). É isso. Tem alguém no controle. O fogo não vai se espalhar além do estabelecido. Sofrimento dosado, resgate providenciado. No entanto, apesar de a teoria ser realmente maravilhosa, não queremos ser simplistas. É muito difícil atravessar crises e é muito fácil dar receitas prontas, mesmo que elas não existam. Então, gostaria de deixar claro que estes versículos não são chavões, são promessas de um Deus que nos ama, que compreende a nossa dor e nos reabastece com seu carinho e cuidado de Pai: “Não fiquem com medo, pois estou com vocês; não se apavorem, pois eu sou o seu Deus. Eu lhes dou forças e os ajudo; eu os protejo com a minha forte mão” (Isaías 41.10 – NTLH). Que as crises sirvam para corrermos para o Pai, e não do Pai! 1

http://www.ghente.org/temas/celulas-tronco/fraude_na_ciencia.htm

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{ KIDS

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COM

MIG

E

MEG }

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