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Saberes Por dentro do mundo dos jornais escolares

Jornais Escolares

Um espaço para crescer e dar voz aos estudantes

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Por Luís Duarte Sousa

Do básico ao secundário, em papel ou em formato digital, tem-se assistido ao crescimento do número de jornais escolares por todo o país. Estudantes e professores envolvidos destacam o papel destas publicações no crescimento dos estudantes e na coesão da comunidade escolar.

Maria Barbosa é aluna da Escola Secundária Camilo Castelo Branco, em Famalicão, e há dois anos que integra a equipa do seu jornal da escola, o Jornal Europeu. Maria frequenta o 11.º ano do curso Ciências e Tecnologias e revela que, apesar de pretender ser enfermeira no futuro, sempre gostou muito de ler e escrever. A oportunidade de colaborar num jornal escolar surgiu naturalmente: “Já fa-

zia parte do Clube Europeu da escola. O nosso jornal é focado principalmente em temas relacionados com a Europa e com a União Europeia. Como gosto de fazer

“O jornalismo é uma coisa demasiado séria para ficar só na mão dos adultos” Tiago Brandão Rodrigues, Ministro da Educação

entrevistas, decidi colaborar”.

Além das entrevistas que realiza, Maria é também responsável pela capa do jornal.

O trabalho é coordenado pela professora de Inglês, Carla Machado, uma das

responsáveis pelo Jornal Europeu. A professora explica à FORUM que, ao todo, para manter este jornal, que também está presente em plataformas digitais e nas mais variadas redes sociais, estão envolvidos mais de cem alunos, coordenados por vários professores de diversas disciplinas. Para Carla Machado, os jornais escolares possuem um papel fundamental na formação dos jovens e na preparação “para o exterior”, nomeadamente “para o contacto com a informação”. A professora acredita inclusivamente que seria benéfico haver “mais professores envolvidos nestes projetos para levar

os alunos a chegar o mais longe possível na realização dos seus objetivos pessoais e profissionais”.

No caso do Jornal Europeu, por exemplo, conta Carla Machado, os estudantes já fizeram várias viagens, inclusivamente representando a sua escola além-fronteiras, demonstrando, no geral, empenho na realização das tarefas envolvidas na criação da publicação. “[Este é um]

sinal de criatividade, de motivação e do espírito de resi-

liência destas publicações”, reforça a professora.

“Dar voz a todos os alunos”

Tiago Rocha, também de dezasseis anos, estuda na Escola Secundária de São Pedro do Sul, em Viseu, e é um dos membros fundadores do jornal Jovens AESPS (Associação de Estudantes de São Pedro do Sul). Apesar de ser um jornal escolar, o Jovens AESPS tem características distintivas, revela Tiago Rocha, ao “não ser o jornal oficial da escola”. “[O

jornal] foi e é criado e dirigido apenas por alunos. Decidimos desenvolver este projeto porque não havia um jornal

na escola”, conta.

As peças neste jornal, que podem ser notícias, reportagens ou peças de opinião, podem ser publicadas por qualquer aluno, “depois de serem revistas e aprovadas”, mencionou Tiago Rocha. Além do jornal, apenas em formato online, a AESPS

“O jornal Jovens AESPS foi criado para dar voz a todos os alunos” Tiago Rocha, Jornal Jovens AESPS, São Pedro do Sul

possui uma rádio, também

online, e um podcast asso-

ciado ao jornal.

Para Tiago, a participação em qualquer um destes meios é uma forma de os alunos partilharem as suas opiniões, oferecendo-lhes protagonis-mo dentro da comunidade escolar. “Este jornal foi cria-

do para dar voz a todos os

alunos”, refere Tiago, que explica que a publicação é lida por vários intervenientes do espaço escolar e também por pessoas externas à instituição de ensino.

Escrever para crescer

Para todos os estudantes contactados pela FORUM, trabalhar num jornal escolar tem sido uma oportunidade de crescimento com efeitos imediatos. A estudante Ana Leonor Amado, da Escola da Batalha, que colabora na produção do jornal Alfabeto conta como esta experiência tem ajudado a cumprir um dos seus objetivos: “Decidi parti-

cipar porque queria aprender a comunicar melhor e integrar este projeto tem ajudado bastante nesse sentido”.

“O nosso jornal é focado principalmente em temas relacionados com a Europa e com a União Europeia. Como sempre gostei de ler, escrever e fazer entrevistas, decidi colaborar” Maria Barbosa, Jornal Europeu, Famalicão

O jornal Alfabeto é um projeto de alunos e professores e contém essencialmente notícias e reportagens sobre atividades das aulas, projetos dos alunos, eventos organizados pela escola e têm até uma secção para Erasmus. Todas as semanas, a equipa do jornal Alfabeto reúne-se durante cinquenta minutos na “oficina de jornalismo”, mas o trabalho dos alunos e professores não fica por aqui. Cada um dos integrantes faz vários trabalhos durante a semana para manter o jornal. “Trabalha-

mos sempre fora do horário escolar e, muitas vezes, até quando estamos fora da

escola”, conta.

O papel dos jornais escolares

A Direção-Geral da Educação disponibiliza no seu site uma área dedicada aos jornais escolares, que tem como objetivo, não só apoiar, como “fazer a divulgação

de boas práticas de utilização de jornais em contexto educativo, dando conta do trabalho realizado pelos docentes, nas escolas, com os

seus alunos”. A plataforma inclui documentos de apoio como um guia intitulado “A Aventura de Fazer o Jornal na Escola”. “Decidi participar porque queria aprender a comunicar melhor e integrar este projeto tem ajudado bastante nesse sentido” Ana Leonor Amado, jornal Alfabeto, Batalha

Esta iniciativa surgiu no contexto do Referencial de Educação para os Media que a Direção-Geral da Educação (DGE), no âmbito das Linhas orientadoras de Educação para a Cidadania publicadas em 2012. Através deste portal, acrescenta a DGE, pretende-se dotar os docentes, os alunos e as escolas de conhecimento e ferramentas que os habilitem a fazer a edição digital dos seus jornais, dando origem a novos formatos ou, até, a novos projetos. A plataforma inclui um mapa interativo dos jornais escolares em Portugal, detalhando

informações sobre 351 publicações de todo o territó-

rio nacional. De acordo com a informação disponibilizada no site, esta lista é atualizável, sendo que os professores

coordenadores dos projetos de Jornal Escolar devem registar o jornal que dinamizam no seu agrupamento através de um formulário disponível na página. “Após aprova-

ção, o jornal será publicado numa ficha específica e ficará visível para os utilizado-

res”, detalha a DGE. A relevância destas estruturas também já foi destacada por membros do Governo. Durante a entrega de prémios do Concurso Nacional de Jornais Escolares promovido pelo jornal Público (ver caixa), o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, realçou a importância destas publicações, antes de concluir: “O jornalismo é uma

coisa demasiado séria para ficar só na mão dos adultos”.

O que é o Concurso Nacional de Jornais Escolares?

Promovido pelo Jornal Público em parceria com o Ministério da Educação e a Fundação Belmiro de Azevedo, o Concurso Nacional de Jornais Escolares oferece anualmente um conjunto de prémios a jornais escolares, com o objetivo de “aumentar a importância da utilização dos jornais escolares no processo de ensino e na construção de identidade nas escolas”. Em novembro de 2021, foram entregues oito mil euros em prémios a seis publicações.

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