De tudo um pouco

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De tudo um pouco Conheรงa o Camelรณdromo, famoso na capital por sua variedade de produtos Por Natรกlia Moraes

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O Caos Organizado É raro, senão impossível, entrar no Camelódromo e não ser interrogado por algum vendedor interessado em exibir seus produtos. - Moça, posso ajudar? Ele ronda o visitante com um olhar cativo, “invasivo”, ou até mesmo sedutor, cada um de um jeito, com uma estratégia. A atmosfera do espaço é de um caos organizado. A bagunça existe, de uma maneira diferente. Ela está presente nos variados artigos vendidos e na conversa ruidosa dos vendedores, que se confundem.Tudo se mistura: cores, formas, vozes, ruídos. O caos é organizado em 472 boxes, que foram fabricados em uma estrutura metálica, medindo 1,75m por 1,75m cada. Cerca de 500 trabalhadores dividem a área de 3.500 metros quadrados. Cada vendedor possui um box, não tendo o direito de adquirir outro. O Camelódromo possui sede administrativa, lanchonete, banheiro masculino e feminino, bebedouro, tanque para lavar roupa ou o que convier. Para os clientes, há provadores no primeiro piso, adaptados para o espaço reduzido do Centro Comercial. De uniformes laranjas, funcionários de uma empresa terceirizada são responsáveis por manter o ambiente agradável. A segurança é função dos guardas, posicionados nas entradas do Camelódromo. Como qualquer estabelecimento, o Centro possui regras, que devem ser obedecidas, caso contrário, os seguranças interferem. Não é permitido entrada de animais, entrar sem camisa, com capacete na cabeça, portando bebida alcoólica, ou fumar no ambiente. O Camelódromo atrai gente de todos os jeitos, caras e bocas. É um espaço popular, onde se comercializa variados produtos no primeiro piso. O segundo é destinado a expor obras de artistas plásticos regionais, todavia, no momento o andar está vazio. 2


Pessoas de todas as idades frequentam o Camel贸dromo. Segundo mat茅ria publicada no jornal Correio do Estado, estima-se que 2 mil passem diariamente pelo local. 3


O Prédio

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Você já ouviu falar do “Centro Comercial Popular Marcelo Barbosa da Fonseca”? O nome comprido, não muito comum na boca dos campo-grandenses, refere-se ao conhecido Camelódromo. O prédio foi inaugurado em 5 de dezembro de 1998, na gestão do prefeito André Puccinelli. Ele foi construído para comportar os vendedores ambulantes, que ocupavam as ruas centrais da capital, como a Rua Barão do Rio Branco. A restauração ficou por conta do prefeito Nelson Trad Filho, que em 10 de de dezembro de 2005 inaugurou o novo espaço, localizado na Avenida Noroeste. O prédio É administrado por Linda Tufaile, também presidente da AVA (Associação dos Vendedores Ambulantes). O Centro Comercial está em uma área de mercado tradicional em Campo Grande, próximo de pontos turísticos, como o Mercadão, a Morada dos Baís e a Casa do Artesão. Quando se fala em comércio, o Camelódromo é um símbolo na cidade. Ele é patrimônio histórico. Foi oficialmente aceito como Patrimônio Cultural do município em 2012, por meio do projeto de lei municipal 7.216. O tombamento gerou polêmica – para alguns campo-grandenses, o local não possui qualidades de patrimônio, para outros, os ex-vendedores ambulantes mereceriam um espaço melhor e mais digno. Mesmo em 2014, críticas ainda existem ao Camelódromo, que é considerado “abafado” e “apertado”, e também já foi alvo de ações da Polícia Civil devido à denúncias de venda de produtos contrabandeados ou roubados. Em compensação, para alguns vendedores, poder ter um local para guardar suas “bugigangas” após o horário comercial, não ficar exposto a situações perigosas como furtos, e não ficar embaixo de chuvas e sol, permite um conforto considerável.


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Cada vendedor pode ter apenas um box. Ao todo, SĂŁo 472 boxes, com diversos artigos. EletrĂ´nicos sĂŁo maioria entre os produtos vendidos.

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Quem trabalha lá As histórias de quem trabalha no Camelódromo se misturam com a história do local.

“Nasci Aqui” Thaís Rosa, de 19 anos, veio com quatro anos para o Camelódromo, e desde então, não saiu mais. A mãe, vendedora ambulante, foi uma das contempladas na época da inauguração do local. Rosa brinca que cresceu no espaço, ajudando nas vendas de alimentos, como salgados, e apren-

dendo sobre negócios. Hoje ela vende, junto com o namorado, acessórios para celular. A escolha em seguir um comércio diferente da mãe é porque para Rosa, as “capinhas” são a febre no momento. Além de se dedicar à venda dos acessórios, cursa Jornalismo na Universi-

dade Anhanguera Uniderp, onde aproveita para comercializar outros produtos, como bolsas e chinelos. Com gestos enérgicos e gargalhadas, revela que adora conversar e trata bem o freguês, o que a faz ter uma clientela fiel, muitos da faculdade. Do lucro que obtém, se sustenta e

consegue pagar a mensalidade da faculdade. Toda a família trabalha com vendas, e isso é fonte de renda para cinco pessoas. Para ela, o Camelódromo é uma segunda casa. Quando questionada se com a graduação pretende seguir outra carreira, declara, “estudo, mas daqui não saio”.

A vendedora Thais Rosa exibe suas capas preferidas, e menciona que o público jovem é maioria em seu Box 8


A voz da experiência Gabriel Gomes de Sá, 60 anos, está no local desde a fundação. Foi um dos instigadores à construção do prédio. “Percebi que nos organizando, poderia surtir efeito. Observei outras regiões brasileiras [que possuíam um tipo de Centro Comercial para vendedores ambulantes], e pensei, ‘se lá dá certo, por que aqui não? ’”. Ele administrou a AVA por 16 anos, e durante 5 anos o próprio Camelódromo - dedicou grande parte

da vida aos vendedores ambulantes. Sá veio de Presidente Prudente para Campo Grande em 1971. Com vontade de ter algo para si, começou a trabalhar nas ruas como vendedor am-

bulante. Continuou na profissão, hoje é vendedor “legalizado”, ao todo já tem 40 anos de trabalho, alguns desses no Camelódromo. Ele passou por uma situação complicada no Centro Comer-

cial, quando teve a mercadoria apreendida, por trabalhar com venda de CDs, o que é proibido. Isso foi em 2008, e para evitar conflitos, Sá hoje vende outros produtos, como óculos.

para explicar que a renda da família vem das vendas. Ferraz vende artigos para camas e banho, carteiras, bolsas. Para o trabalhador, a escolha por esse comércio é

porque é melhor para investir, necessita de menos capital. Ao me despedir, ele cata seu jornal, e continua lendo, e me revela que considera a profissão jornalista bonita.

Da fazenda para a cidade João Ferraz, aos 69 anos, é de uma alegria contagiante. Veio para o Camelódromo na fundação, em 1998. Passou a vida nas fazendas, trabalhando na pecuária. Veio para a cidade e se tornou vendedor ambulante para sustentar a família. Com 20 anos “de rua”, conta que teve uma vida sacrificada. Quando soube da ideia do Camelódromo, no início ficou receoso, porque trabalhava livre na rua. Foi contrariado, mas percebeu que a

mudança foi bem vinda, “foi bom e é bom”. Ele afirma que coloca o atendimento em primeiro lugar. Ele brinca, diz que não tem outro emprego e não é aposentado,

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