Estórias da Lagoa
Betta a coruja FRANCESCO SMELZO
Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos
À noite na lagoa nem todos os animais repousam em suas tocas. Os ratões, quando a lua desponta nas noites de verão, saem para caçar os insetos dos quais se alimentam, e é então que saem á caça também os rapinantes noturnos, para fazer uma bela comilança destes bichinhos. Antes de começar a caçada aos ratões, o corujão Pompeo, Rocco o mocho ,Nanni a coruja amarela e Betta a coruja tinham o hábito de reunirem-se para prosear um pouco sobre um galho do velho Olmo. Nestas reuniões, habitualmente, um deles quase sempre Pompeo, respeitado por todos pela idade e sabedoria, introduzia o argumento do debate. Aquela vez Pompeo disse aos outros: “ queridos amigos e ilustríssimos colegas, esta noite ponho sob vossa atenção e discussão um argumento bastante importante, falando da melhor maneira para caçar ratões.” Não havia ainda terminado de anunciar o tema quando o mocho, pomposamente, disse: “ Honoráveis colegas, após longos anos de um atento exame das várias técnicas , minha experiência leva-me a afirmar que para caçar os ratões, o melhor jeito é sem dúvida a emboscada, abrigados pelos galhos , esperando que a presa passe sob a árvore, para cair encima dela em curta distância.”
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“ Desculpe contradizer um ilustre colega” -respondeu no mesmo tom a coruja amarela – todavia, a minha não tão pequena atividade de caça, leva-me a sustentar inefavelmente que é, sem dúvida a preferência pelo ataque planando em vôo, após um vôo de reconhecimento.” “ A senhora coruja amarela, por quanto respeitadíssima “rebateu fortemente o mocho- “ expõe uma tese já superada, todos nós podemos constatar como os ratões desta lagoa tornaram-se muito espertos para andar em espaços descobertos e caírem vítimas de ataques de vôos de planação.” “ Ah bem...desculpe dizê-lo “ – respondeu a coruja amarela- “ mas ilustríssimo mocho esta noite parece-me um pouco temerário em seus juízos. Ninguém são da cabeça pode pôr em dúvida a validade de uma bom vôo de planação!” Enquanto isto Betta a coruja distanciava-se e voltava sobre o galho, sem que ninguém notasse sua breve ausência. Apenas em tempo porque , vendo que os ânimos se esquentavam, Pompeo fez uma intervenção para moderar a discussão, dizendo: “ Calma, calma caros colegas. Ouçamos o que tem para dizer a coruja Betta. “ “ Mmmh...nada. Estou admirada da sabedoria de vocês , colegas, e queria ouvir ainda mais os seus argumentos.”
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O mocho e a coruja amarela retomaram então o bate-boca, em tons cada vez mais acesos. “ Querida coruja amarela das minhas botas”- começou o mocho com modos agora mais rudes- “ Sei que a sutileza não é uma das melhores qualidades da sua raça, porem também com seus limitados recursos deveria ter notado que não se vê um ratão ao ar livre há meses.” A coruja amarela, a este golpe baixo inchou todas as plumas, irritada e replicou: “ Ah! e agora chegou a hora em que os mochos se fazem professores na arte da caça!” Neste ínterim, Betta a coruja estava novamente desaparecida, retornando sem que os outros três , empenhados na discussão, percebessem sua falta. O debate havia, entretanto, assumido tons sempre mais ásperos entre o mocho e a coruja amarela, tanto que Pompeo fez uma outra intervenção: “ Amigos, amigos, não é o caso de esquentarem-se assim. Peço a vocês que mantenham a discussão em tons mais pacatos. Ouçamos agora o que tem a dizer a coruja Betta.” “ Mas...ainda nada”...disse Betta- “ estou curiosa com os argumentos que vocês estão assim tão profundamente desenvolvendo ,meus colegas,e é ainda cedo para intervir. Só escuto.” 3
Seus colegas nem mesmo a notaram. “ Asno de um asno!”- estava dizendo Rocco o mocho a Nanni a coruja amarela- “até um filhote compreenderia que voltejando sobre o prado os ratões , já escaldados, desapareceriam em um lampejo e planando você encontraria entre suas patas apenas um belo tufo de grama do prado!” “ Mocho de uma figa”- respondia o outro- “ e você estaria então por toda a noite apoiado nas patas, esperando um ratão distraído quando,voando,e você pode voar sobre toda a lagoa , manter os olhos acesos para escolher a presa para agarrar ? “ Betta a coruja, entretanto, estava ainda desaparecida e retornara ao galho sem que ninguém fizesse caso dela. Sobre o galho agora, pouco a pouco, o argumento da discussão passara para segundo plano e o mocho e a coruja amarela estavam descendo sempre mais no plano do insulto verdadeiro. “ Idiota coruja amarela! Ignorante das regras mais elementares de caça!” “ Estúpido mocho! Desde quando um mocho tem alguma coisa para ensinar a uma coruja? “ A disputa continuou ainda mais por um bom tempo. “ Mmmh...” fez a coruja que acabara de voltar de um outro dos seus “ giros”misteriosos.
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A este ponto os dois briguentos e Pompeo , que procurava acalmá-los, calaram-se, olhando curiosos a coruja, que até então não se pronunciara. “ Mmmh...” repetiu ainda a coruja. “ Querida Betta, você quer dizer alguma coisa? Finalmene também você conseguiu uma opinião sobre a melhor maneira para caçar os ratões?” disse então Pompeo. Betta a coruja então falou: “ Queridíssimos, das técnicas de caça que vocês ilustraram com tão profundos e abundantes particulares, não saberia dizer qual a melhor – se a emboscada ou planando em vôo.Todavia queria que vocês notassem que, enquanto estavam empenhados em discussões tão animadas , os ratões corriam por aqui tranquilamente sob nossas vistas, às centenas.Agora, como podem ver , o sol surge e começa a brilhar sobre a lagoa e os ratões já retornaram às suas tocas e suas barrigas estão vazias.” Os outros olharam-se à volta e perceberam que era verdade : os primeiros raios do amanhecer já iluminavam a lagoa e eles, ocupados demais com suas brigas, ficaram de boca seca e seus estômagos começavam já a protestar. “ Da minha parte” –continuou a coruja- “enquanto vocês discutiam com tanta doutrina e fervor, de tanto em tanto, capturei alguns ratões, não importando se fosse de emboscada ou
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planando. O fato é que agora não tenho mais fome, enquanto vocês sim!”
Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos
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