O mais veloz dos coelhos

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Histórias da Lagoa

O mais veloz dos coelhos

FRANCESCO SMELZO

Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos


Próximo à lagoa , entre os animais, havia duas espécies conhecidas pela sua velocidade : os coelhos e as lebres. As lebres de longas patas eram porém bem mais velozes do que os coelhos, tanto que entre elas usava-se dizer , para caçoar de um outro semelhante particularmente “ preguiçoso” , você é lento como um coelho! Lebres e coelhos viviam em dois grupos diferentes, as lebres no prado ao norte da lagoa, enquanto os coelhos naquele ao sul. Entre eles evitavam de encontrar-se. Como vimos, as lebres sentiam-se mais fortes na corrida e viam os coelhos como um tipo de “lebres pouco dotadas”. Pelo lado deles também os coelhos toleravam pouco as lebres, que julgavam decididamente “ antipáticas”. Entre os coelhos havia porem um , o coelho Pino, que, pela sua raça, era extraordinariamente dotado na corrida. Tanto lebres como coelhos eram sempre pegos pela mira do falcão ,o predador que caía do céu, levando embora as vítimas entre suas garras pontiagudas. Um dia o falcão decidiu fazer uma boa refeição às custas dos coelhos que, mais lentos, representavam um alvo mais fácil. Voando sobre o prado ao sul da lagoa, com seu olhar agudo, viu o coelho Pino que roia tranquilamente o mato, distante da toca.” 1


Que bocado fácil” pensou, enquanto já se precipitava em alta velocidade. Os outros coelhos, protegidos perto das suas tocas, nada puderam fazer a não ser gritar: “ Atenção Pino, atenção ao falcão ! Corra, corra...” Pino o coelho então , com um salto fulminante, percorreu em um piscar de olhos todo o prado até refugiar-se em uma toca segura. Olha só o falcão! Já pronto para agarrar sua presa, seguro de tê-la entre suas garras, rolou ao invés sobre o prado, com um grande barulho e esvoaçar de penas. Que triste figura diante dos lentos coelhos que agora , gargalhando, caçoavam dele, só mostrando os focinhos na entrada das tocas! Sacudiu o pó e ,com o olhar desdenhoso e a barriga vazia, alçou vôo e desapareceu. Quando o falcão distanciou-se, todos os coelhos rodearam Pino: “ Bravo” Você se fez ver àquele emplumado! Você sim é um corredor nato...”- e assim por diante com elogios e cumprimentos por sua habilidade. Tornara-se agora o herói de todos os coelhos, especialmente das coelhinhas, que davam a entender claramente que formariam de

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boa vontade uma família com ele, para terem filhos com aquele dote de corredor. E Pino...bem, diante de todos estes cumprimentos meteu na cabeça que era realmente um pouco “ especial” E quis o acaso que assistindo a cena houvesse também uma lebre.Mas não uma lebre qualquer, mas sim o chefe das lebres, Aquiles. Aquele dia na verdade Aquiles decidira de explorar novos pastos e ,costeando a lagoa, chegara ao prado dos coelhos. Quando o falcão estava atacando Pino, encontrava –se bem escondido dentro de uma moita e percebeu logo o perigo. Foi então que ,quando o falcão fugiu, saiu da moita e, sem dignar-se nem mesmo um olhar aos outros coelhos, aproximouse de Pino, dizendo-lhe: “Bravo coelho! Você é um corredor realmente notável...pena que você seja um desperdício neste grupo de animais vagarosos. Por que não vem comigo e se une a nós lebres? Conosco sim seus dotes poderão se ressaltar!” Pino o coelho, que um pouquinho, digamos francamente, convencera-se de ter alguma coisa de especial, com grande tristeza dos outros coelhos, decidiu seguir Aquiles. Os primeiros dias foram felizes. Pino disputava com as outras lebres, às vezes chegando primeiro e outras não. Porém tratava-se 3


mesmo sempre de lebres, não de seus mais lentos companheiros coelhos, então , em todo caso, estava contente de poder pôr em evidência suas habilidades entre aqueles que não as tinham. Entretanto o falcão ,sempre com a barriga vazia e a honra ofendida, decidira armar uma cilada no prado das lebres. Sabia muito bem como fazer com os animais mais velozes, então adotou uma estratégia mais astuta. Aterrisou do céu sobre os galhos mais altos do velho carvalho, escondido da visão das lebres. E dalí, não sendo visto, podia manter os olhos sobre o prado. As lebres todavia tinham um bom olfato e o vento levou até seus focinhos a presença do falcão. Assim correram para suas tocas sem avisar o pobre Pino, que estava no centro do prado, não pensando nem mesmo se tinha ou não o mesmo olfato e depois...” trata-se sempre de um coelho, não de uma lebre” ,pensaram. O falcão, do ramo do carvalho, reconhecendo Pino, pela fome e pela recordação da ofensa sofrida poucos dias atrás, caiu sobre o pobre coelho, desta vez agarrando-o com suas próprias garras. O desventurado já via acabar seus dias na barriga do rapinante, balançando-se enquanto ele o levava para seu ninho pouco distante. Somente o acaso quis que uma águia, que descera da alta montanha, percebeu o falcão e sua presa e, pensando em fazer 4


uma refeição descansada, decidiu atacá-lo para roubar-lhe o coelho. Seguiu-se uma tremenda briga nos ares, entre os dois temíveis pássaros. E o falcão, para defender-se da águia foi obrigado a deixar sua presa, fazendo com que Pino caísse em uma moita de amoreiras. Foi então que o coelho todo amassado conseguiu salvar a pele e, depois que se refez dos ferimentos, voltou para junto de seus parentes. Sentia-se um pouco culpado por ter deixado o grupo dos coelhos, mas estes não o desprezaram. Antes, organizou-se uma festa à base de tenros brotos e Pino foi proclamado chefe do grupo. E assim Pino ficou contente de ser o mais veloz dos coelhos. Tradução de Elizabeth Lemes Dos Santos

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