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Uma curiosidade sobre o trabalho de Geraldino Brites, pela mão de Luís Guerreiro Por Luísa Martins
Uma curiosidade sobre o trabalho de Geraldino Brites, pela mão de Luís Guerreiro
Por LUÍSA MARTINS Historiadora
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Há mais de 20 anos, falando com o meu saudoso amigo Pedro Encarnação, veio à colação o médico Geraldino Brites [1] , que trabalhou em Loulé nos primeiros anos do século XX e que publicou um relatório sobre o concelho de Loulé. Lembro-me que na altura procurámos em vão um exemplar desse livro. Na altura era complicado reunirmos condições para se ir a Lisboa procurar um título na Biblioteca Nacional. Recorremos à ajuda de pessoa conhecedora do património e da história do concelho de Loulé, que nos informou que o livro não seria desejado no contexto do regime político instalado após a Primeira República, não só por reação ao seu autor, que se opunha ao regime de Salazar e sofreu um período de prisão, mas também, segundo se dizia, porque «não seria simpático para as gentes louletanas». Desconhecia-se, pois, a existência de algum exemplar do Relatório. Os anos passaram, as pessoas partiram e outros olhares se foram encontrando. Um dia, em conversa com o Eng.º Luís Guerreiro, com quem trabalhei e colaborei, ouço-o falar de Geraldino Brites. Invado-o de perguntas sobre o médico e sobre o trabalho que desenvolvera em Loulé. E eis que o Luís Guerreiro sabia onde se encontrava um exemplar da obra. Debaixo do meu nariz. Mesmo no Centro de Documentação do então Arquivo Histórico, guardado em depósito, e que «desencantara» num daqueles dias em que ali ficava horas a ver título a título. Finalmente consegui ver, tocar e ler o exemplar. Ainda está acessível aos leitores no Centro de Documentação do Museu Municipal de Loulé. Mais tarde, Luís Guerreiro conseguiu adquirir num alfarrabista um exemplar que atualmente consta do fundo do Centro de Estudos Algarvios da Fundação Manuel Viegas Guerreiro. Penso que esta experiência marca dois aspetos que gostaria de deixar registados. O primeiro, que a obra do médico Geraldino Brites constitui hoje uma fonte documental fundamental para quem queira desenvolver estudos sobre a contemporaneidade do concelho de Loulé e do território algarvio. O segundo, porque esta situação transparece a procura constante de Luís Guerreiro pelo saber e o seu empenho na reunião de material bibliográfico que constitui o que temos hoje: a Biblioteca do Centro de Estudos Algarvios da Fundação Manuel Viegas Guerreiro.
Luísa Martins 31.07.2020
[1] (n. Porto, 25.07.1882-f. Lisboa, 23.08.1941). Em 24 de Abril de 1908 vem residir para Loulé, tendo-se candidatado a um concurso para facultativo médico. Aqui trabalhou até 1910, tendo então desenvolvido estudos que foram publicados mais tarde: - Febres Infecciosas: notas sobre o concelho de Loulé. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1914, 433p. - Clima do Algarve: o inverno. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1916, 138p. É autor de 236 publicações científicas, alguns livros e dezenas de artigos de opinião e de imprensa. Em 1927 foi preso na penitenciária de Lisboa, por suspeita de conspiração contra a ditadura militar. Em 1928 publicou artigos de opinião sobre o Ensino na revista Seara Nova. Foi desenhador e fotógrafo, com mais de cem quadros, desenhos a carvão e fotografias do meio envolvente.
LUÍSA MARTINS | Trabalha no Serviço de Investigação da Câmara Municipal de Loulé; doutorada em História / Presença portuguesa em África no século XIX, pela Universidade de Évora; é membro doutorado integrado no Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora; colabora no projeto Diaita da Universidade de Coimbra no âmbito da História Local e da História da Alimentação.