ENTREVISTAS GESTOR PORTUGUÊS por Miguel Rêgo, CFA
Ana Aguiar GESTORA DO IMGA LIQUIDEZ, IMGA
“O PARADIGMA DAS TAXAS BAIXAS É UMA REALIDADE QUE VEIO PARA FICAR” Um paradigma que tem vindo a afetar todas as classes de ativos na última década, mas que traz consigo um grande e novo desafio: como preservar capital na gestão da liquidez e tesouraria?
A
pesar dos movimentos de subida que temos visto nas taxas de referência desde o início do ano, continua a existir uma ampla liquidez no mercado interbancário, resultado das políticas acomodatícias praticadas pelo Banco Central Europeu, facto que obriga a níveis deprimidos das Euribors e, consequentemente, a taxas de remuneração baixas nos instrumentos de mercado monetário. Enquanto o BCE praticar taxas de depósito negativas, os bancos continuarão sem incentivos para captar novos depósitos e tentarão canalizar as poupanças dos seus clientes para produtos fora de balanço, dentro do mesmo perfil de risco”. Ana Aguiar enquadra assim o contexto de mercado que enfrenta quando tem a seu comando o maior fundo de curto prazo nacional, o IMGA Liquidez. Segundo a gestora, a escassez de oferta de aplicações de curto prazo e a prática de taxas negativas nos depósitos à ordem resulta num “desafio e num constrangimento para os fundos de curto prazo que continuam a disponibilizar-se para uma gestão eficaz de recursos para um período de três a seis meses”. Além disso, as expectativas de inflação têm pesado no comportamento dos mercados e têm sido determinantes para o comportamento das taxas de juro apesar de ser questionável a sustentabilidade de uma inflação acima do normal no médio e longo prazo. “Acreditamos que inflação na Europa tem uma 80 FUNDSPEOPLE I JULHO E AGOSTO
natureza transitória, e que o BCE tem incentivos a preservar condições de financiamento favoráveis, sobretudo se pensarmos na possibilidade da dívida de países periféricos se tornar insustentável perante um aumento muito significativo dos custos de financiamento”, comenta Ana Aguiar. Mas apesar destas expectativas, a gestora salienta o perfil de remuneração variável de uma grande parte da carteira, o que faz com que esteja “relativamente protegida contra uma subida significativa das taxas de juro”. Não obstante, relembra a forte correlação que existe entre o movimento de taxas e os spreads de emissões investment grade, o que representa um fator de risco adicional: “Quanto maior o nível de subida das taxas, maior fraqueza dos spreads, já que teoricamente as empresas terão que financiar a sua atividade suportando custos de financiamento mais altos”. Além de depósitos a prazo, a carteira do fundo é constituída, como refere Ana Aguiar, “única e exclusivamente por obrigações de rating investment grade, apresentando maior concentração no bucket de BBB, onde existe um prémio de risco superior”. Na gestão do fundo IMGA Liquidez a gestora privilegia emissões do setor financeiro e maturidade média de três a cinco anos. Dão igualmente preferência a “emitentes da periferia da zona euro de forma a aproveitar os prémios de risco adicionais”, comenta a gestora.
O PROCESSO
“As decisões de risco de taxa de juro são normalmente tomadas tendo em conta a nossa visão macroeconómica e discutidas nos comités de investimento”, introduz. Já no que se refere ao risco de crédito, acreditam “que a análise fundamental das empresas e o acompanhamento do newsflow numa base diária gera valor”. Uma vez selecionados os emitentes, realizam uma análise relativa onde comparam o risco e o retorno face aos seus pares, dentro da própria curva do emitente e em relação à respetiva curva do governo. “Também consideramos alguns elementos técnicos (como níveis de oferta) para determinar a short-list de emitentes e emissões”, diz. Repetem o “procedimento regularmente para procurar oportunidades onde reduzir o risco de taxa de juro sem abdicar de rendimento ou de aumentar o rendimento sem aumentar significativamente a duration, ou a spread-duration, da carteira”. Finalmente, e “quando possível”, recorrem ao mercado primário para ganhar exposição aos emitentes que mais gostam, “tirando partido do prémio oferecido neste mercado e evitando o impacto do bid/offer na avaliação desses títulos”, conclui.