10 minute read
O LONGO CAMINHO PERCORRIDO PELA BLUECROW EM MAIS DE UMA DÉCADA DE EXISTÊNCIA
A escala, as valências, os métodos… tudo evoluiu no grupo BlueCrow, que se configura, hoje em dia, como um grande grupo independente de gestão e advisory em Portugal.
ABlueCrow Capital percorreu um longo caminho desde que nasceu em 2010 com o propósito de se posicionar no mercado da consultoria para investimento independente em Portugal. Hoje em dia, as empresas do grupo acumulam a atividade de consultoria com a gestão de fundos de capital de risco, numa entidade que ultrapassa os 450 milhões de euros em ativos sob gestão ou supervisão. E as ambições são para que, sob o novo Regime de Gestão de Ativos (RGA), possam oferecer eventualmente ao mercado o seu expertise sob a forma de fundos mobiliários alternativos.
António Mello Campello, um dos sócios da entidade e o responsável pela unidade de consultoria - que agrega cerca de 15% dos ativos do grupo -, relembra a abordagem ao mercado: “Temos funcionado mais numa lógica de multifamily office do que apenas na de consultoria de carteiras”. Segundo explica, o advisory na entidade, que “tem como valores centrais o investimento de longo prazo, simples, compreensível e totalmente independente”, conjuga três vertentes de especialidade. Em primeiro lugar, as ações, que canalizam através do
Discovery Fund, sob a alçada da Lynx AM atualmente. Em segundo lugar, os Real Estate Investment Trusts (REIT), uma tipologia de veículo de investimento em ativos imobiliários que “conjuga o melhor dos rendimentos das obrigações com o potencial de valorização das ações”. “O único ativo além das ações com uma valorização real, tanto do lado dos rendimentos, como do património”, detalha. E, por fim, as obrigações, com um grande viés para o segmento high yield.
DO INVESTIMENTO DIRETO AOS FUNDOS
E é nas obrigações que se verificou, recentemente, uma significativa transformação na abordagem ao mercado. “Sempre tivemos uma exposição muito específica, direta, a esta classe de ativos. Hoje em dia, perante a necessidade de capacidade para escalar o advisory a diferentes dimensões de carteiras, decidimos que seria mais simples fazê-lo através de uma seleção de fundos. Para que possamos preparar a estrutura para uma maior abrangência, temos que olhar para os ativos de forma diferente”. É por isso que, após terem reduzido a exposição à classe de ativos em antecipação à subida previsível de taxas em 2022, no final do ano voltaram a construir a exposição, mas com blocos de fundos ativos de terceiros.
O diretor de Investimentos, Francisco Louro, tem sob a sua alçada a seleção e due dilligence de fundos de investimento, mas o ponto de partida dessa seleção teve como fator preponderante a simplificação da relação com os bancos com que trabalham. “Partimos da oferta comum dos bancos com que trabalhamos na Suíça e Portugal e sintetizamos as carteiras com base em quatro grandes blocos, com o tal viés para high yield: globais flexíveis, retorno absoluto, emergentes e high yield. Em cada categoria incluímos três fundos”, explica. E apesar de António Mello Campello ser também o Chief ESG Officer na entidade, a inclusão de critérios ESG não é uma prioridade, nem restringe de forma alguma a oferta. “Trabalhamos apenas com investidores profissionais”, aponta.
Os projetos, no curto prazo, passam por “converter a BlueCrow numa sociedade que vai muito mais além de uma gestora de ativos. Queremos oferecer soluções que se configuram como inovadoras a nível europeu”, diz o responsável. A internalização da gestão do fundo Discovery será, eventualmente, um dos passos a dar, agora que o RGA o permite, mas não só. Trade finance ou imobiliário alternativo, serão temas que em breve podem ganhar mais importância na entidade.
Os anos de dinheiro barato chegaram ao fim. E isto trará consequências tanto para os mercados cotados como para os privados, vaticina Jochen Mende. Mas embora os retornos esperados se tenham que adaptar à nova realidade, o especialista não acredita que seja uma sentença de morte para o capital de risco. Na sua opinião, a mensagem passou para os investidores: os ativos privados oferecem diversificação e as suas próprias oportunidades de investimento. Olhando para o futuro, a UBS AM augura um interessante potencial para as estratégias de mercados secundários, um segmento da classe de ativos que procura superar alguns dos obstáculos dos tradicionais fundos close-ended e ilíquidos.
Os últimos anos têm sido um período de transformação para os mercados privados. A nível de ativos, floresceram em popularidade. Investidores que tradicionalmente não alocavam capital a esta área, descobriram que é uma classe de ativos demasiado grande para poder ser ignorada. E pela mão do maior interesse do cliente, aconteceram importantes movimentos ao nível da indústria. Dentro da mesma, estratégias multigestor (e do mercado secundário em particular) atraíram especial atenção das gestoras, procurando entrar num negócio em ascensão.
Assim, algumas das tradicionais boutiques especializadas têm sido absorvidas por grandes players, numa pequena onda de M&A neste espaço. “Essa primeira geração de fundadores da indústria de mercados secundários tem dado um passo ao lado. Cada vez há menos casas independentes que não tenham sido compradas por gestoras de ativos tradicionais”, conta Jochen Mende, responsável de Secundários de Private Equity, na UBS Asset Management.
Os dados que gerem entidades de análise como a Prequin, mostram-nos o enorme crescimento dos ativos em mercados privados em apenas cinco anos. Mas depois de vários anos de bonança, agora está a fechar-se a torneira da ampla liquidez. “Muitos investidores, de um modo ou outro, concentraram-se na classe de ativos. Agora estão a enfrentar as consequências da correção nos mercados cotados, as valorizações, etc.”, indica o especialista.
E isto é precisamente o ponto doloroso para o investidor atual, na sua opinião. Agora que as taxas de juro e as yields positivas voltaram, Mende prevê uma nova mudança na tendência dos fluxos dos mercados privados para públicos.
É esta uma sentença de morte para os ativos privados? Mende não vê a situação com essa clareza. Na sua opinião, os investidores deram-se conta de que estavam a perder substanciais oportunidades de investimento e benefícios de diversificação se ignoravam uma classe de ativos inteira, como acontecia com os mercados privados. “São qualidades, para além disso, completamente independentes do nível onde estão as taxas de juro. É
Uma Gest O Ativa Do Capital Risco
O Evergreen Secondary Fund é um fundo aberto com subscrições trimestrais e NAV mensal. O foco da carteira está em oportunidades em empresas de pequena e média capitalização, já que oferecem perfil risco-rentabilidade mais interessante, universo mais amplo e menos competitivo. Geograficamente, mostra um enviesamento por mercados desenvolvidos (América do Norte e Europa), enquanto que a Ásia e emergentes pesarão no máximo 30%.
algo que há algum tempo que temos vindo a comunicar aos nossos clientes, e acreditamos que finalmente a mensagem passou”, afirma.
“Os últimos anos de dinheiro barato também beneficiaram os mercados privados, pelo que é normal esperar que os retornos futuros não sejam tão abundantes como no passado”, reconhece. Assim, a sua previsão é de que o futuro dos mercados privados esteja a meio caminho. Particularmente, na forma de produtos semilíquidos. “Este tipo de soluções, permite abrir aos investidores um mundo que antes estava fechado. Clientes que não tinham o capital ou os recursos para investir através das estruturas tradicionais de mercados privados”, explica. Para a UBS AM, os semilíquidos são a próxima grande área de crescimento no segmento.
Private Equity
Há quase três anos, a entidade detetou uma necessidade nos seus clientes por produtos que dessem acesso a mercados privados, e por private equity especificamente. Mas deviam ser soluções adaptadas: com liquidez pelo menos trimestral, fácil de explicar e gerir. Foi assim a forma como viram a oportunidade na estrutura de semilíquidos, uma área de competência com a qual a UBS AM tem vindo a trabalhar há alguns anos. Por exemplo, a gestora tem na sua gama fundos semilíquidos de imobiliário com histórico desde 2008. “Tínhamos o conhecimento, só que nunca o tínhamos aplicado ainda no private equity”, conta Mende.
Assim foi pensado o lançamento do Private Equity (Lux) Evergreen Secondary Fund da UBS AM. Um investidor secundário de capital de risco compra os direitos de participação de fundos privados já lançados. Atua como provedor de liquidez para os investidores de capital privado que desejem vender as suas posições e não têm tempo ou o desejo de manter os seus investimentos até ao final da sua vida útil (geralmente prazos de 10 anos ou mais). São transações cada vez mais frequentes no setor, impulsionadas por gestores de fundos de capital de risco que procuram conseguir mais tempo ou capital (ou ambas as coisas), para trabalhar com determinadas empresas.
“OS INVESTIDORES TÊM-SE DADO
CONTA DE QUE SE ESTAVAM
A PERDER SUBSTANCIAIS OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO E BENEFÍCIOS DE DIVERSIFICAÇÃO AO IGNORAR
UMA CLASSE DE ATIVOS INTEIRA”
Isto oferece uma vantagem particular face a outras estratégias privadas, no sentido em que permite aos novos participantes da classe de ativos ampliar com relativa rapidez a sua exposição diversificada aos títulos privados. “São produtos cómodos de ter em carteira”, afirma Mende. Na sua opinião, soluciona alguma das limita - ções dos tradicionais fundos close-ended. Por exemplo, permite ampliar ou reduzir a posição quando o investidor o deseja. Para além disso, ao não partir do mercado primário, minimizam o período inicial de retornos negativos (conhecido como a curva em J), inerente a esta classe de ativos.
Mas estas oportunidades que deteta Mende deverão ser acompanhadas por um trabalho de educação financeira. “Os investidores devem entender que os mercados privados são fundamentalmente um ativo menos líquido. Só porque se coloca um ativo ilíquido numa estrutura semilíquida, isso não a torna mais líquida”, insiste. Desse modo, se um dos seus requisitos é poder liquidar 100% da sua carteira em qualquer contexto de mercado, então os ativos privados não são uma alternativa para a sua carteira. “No entanto, se o cliente pode tolerar certo grau de liquidez, é sim uma opção para diversificar essa carteira fora dos vieses dos mercados cotados e colher os lucros que oferecem”, sentencia.
por Margarida Pinto
João Pratas
PRESIDENTE, ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE FUNDOS DE INVESTIMENTO, PENSÕES E PATRIMÓNIOS (APFIPP)
UCITS, com liquidez, mas são também produtos destinados a dar uma rentabilidade num determinado prazo em que a ideia é que se espere até à maturidade das obrigações”, explica. Este é um produto que apelida de “interessante”, especialmente com a grande incerteza vigente.
Mas nem tudo foram más notícias em 2022. No caminho traçado, João Pratas consegue elencar um ponto muito positivo para a associação: o sucesso do Regime de Gestão da Ativos (RGA), que está praticamente fechado. Congratula o facto de se ter conseguido “uma diminuição de regras que eram mais exigentes do que aquelas que existiam a nível europeu”. Vai mais longe: “Ao nível do RGA, o regulador fez um papel muitíssimo bom e muito favorável à nossa indústria”, refere. Isto apesar de ainda faltar aprovar uma perna deste regime, ou seja, o regulamento da CMVM. “A nossa expetativa é de que o regulamento que vai regulamentar o RGA não dê um passo atrás. Ou seja, que não venha criar regras que são diferentes da linha orientadora do RGA. É o grande diploma que temos agora pela frente para analisar”, comenta João Pratas.
Fiscalidade Alterada
Depois de um ano pouco positivo para a gestão de ativos nacional, João Pratas mostra-se esperançoso para 2023. Não só ao nível da recuperação dos ativos, mas também na eventual mudança fiscal já há muito esperada pela indústria.
Apalavra que ocorre a João Pratas para definir a evolução da gestão de ativos nacional é montanha-russa. Se no final de 2021 parecíamos estar perante um momento dourado para a indústria, 2022 colocou um freio no positivismo. Não é preciso sermos descritivos sobre o sucedido: inflação, guerra e crise energética. Tanto pela saída dos investidores dos fundos ou pela própria perda significativa do seu valor, o montante gerido pela indústria nacional sofreu um baque. “E quem estava investido em ativos tipicamente mais seguros, como a dívida, atingiu mais depressa a sua capacidade de aceitação de perda”, começou por relembrar o responsável da APFIPP.
Ainda assim, consegue friamente olhar para os números e perceber que houve resiliência da parte dos investidores. Talvez por isso, refugia-se numa certa confiança. “Se o ano de 2023 tiver alguma estabilidade - ainda não perdi essa esperança - admito que possamos estabilizar os investimentos e depois conseguir voltar a subir”, augura.
O mercado adaptou-se à conjuntura e começou a lançar produtos que combatessem a situação. Especificamente fundos de obrigações, como elenca João Pratas. “São fundos
Em termos fiscais, continuam a existir questões que o responsável gostava de ver alteradas, e tem esperança que isso aconteça em 2023. Por um lado, o falado level playing field para os fundos de investimento face a outros produtos. Para o presidente, seria benéfico que existisse a “diminuição da fiscalidade ao fim de um determinado prazo de investimento, como acontece, por exemplo, nos seguros ou nos unit linked”. “Não há razão nenhuma para haver um tratamento diferenciado entre produtos”, contesta. Por outro lado, a questão da transferência entre fundos de investimento, sem que isso represente um momento de pagamento de impostos de mais-valias - algo que tem lugar em Espanha - e que em Portugal só é possível nos PPR. “Em Espanha, o denominado trespaso, sustenta uma poupança de mais longo prazo no país”, aponta o responsável.
O ESG fechou a conversa, e a verdade é que, sobre este tema, a palavra “complicado” foi a mais referida. O ESG é uma questão difícil para as entidades e também para a supervisão, reconhece João Pratas, mas na sua ótica há que agir com boa-fé e ser muito transparente. Do lado do regulador, contudo, pede alguma compreensão. “A CMVM tem de ser um pouco compreensiva com as entidades mais pequenas, só assim se consegue fazer uma supervisão de proporcionalidade”, refere. Do lado das entidades, o responsável fala da necessidade de uma troca de ideias constante com o regulador. Aponta a necessidade de ser muito bem explicado, por exemplo, porque é que um fundo está classificado de determinada forma ao abrigo da SFDR. “Isto tem de ser feito para não estarmos depois a falar de greenwashing. Se não se souber o que é o green, não se percebe o que é o washing. Tem de haver uma interação muito grande com os reguladores”, conclui.
FUNDOS COM DATA DE VENCIMENTO
Um dos movimentos a que a associação assistiu por parte da indústria foi o lançamento de fundos de obrigações com data de vencimento. Um produto que o presidente apelida de interessante neste contexto de mercado.
por Óscar R. Graña