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OS ETF ABREM CAMINHO NO MUNDO DO ESG
A transição para fundos cotados sustentáveis está a acontecer a um ritmo muito mais rápido do que o esperado. Esta é uma das principais conclusões da mesa redonda organizada pela FundsPeople com os responsáveis de alguns dos maiores fornecedores de ETF da indústria.
Oinvestimento com critérios Ambientais, Sociais e de Governance (ESG) é a tendência dominante na indústria da gestão de ativos. Também no que diz respeito ao mundo dos ETF onde, segundo os dados da Refinitiv, dos 52.000 milhões de euros que estes produtos captaram este ano na Europa, 70% (quase 37.000 milhões) foi para veículos que seguem critérios ambientais.
Os ETF estão a abrir caminho no mundo do ESG. Algo com que os responsáveis de alguns dos fornecedores de fundos cotados mais relevantes dentro do universo da indexação concordaram numa mesa redonda organizada pela FundsPeople no evento Tendências e oportunidades de investimento na indústria de ETF. Nela participaram Peter Scharl, responsável pelo Canal de Wealth Management na Europa
Peter Scharl Ishares
Continental da iShares; Lukas Ahnert, especialista sénior de gestão passiva na DWS; Olivier Paquier, responsável de Distribuição de ETF da J.P. Morgan AM para a EMEA; Christopher Mellor, responsável de Produtos de Ações e Commodities da Invesco para a EMEA; Antoine Lesné, responsável de Estratégia na State Streert Global Advisors (SSGA), e Stefan Kuhn, responsável de Distribuição de ETF para a Europa na Fidelity International.
Tend Ncia A Crescer
A transição da indústria de gestão indexada para o mundo da sustentabilidade “está apenas a começar”. Mas, ao nível dos fluxos, “está a acontecer a um ritmo muito mais rápido do que tínhamos previsto”, reconheceu Peter Scharl (iShares). Na sua opinião, é uma tendência explicada por uma conjunção de dois fatores: um top-down, que é a regulação, e outro bottom-up, que é a própria procura por parte dos clientes, que, de forma cada vez mais decidida, caminha nessa direção.
Basta ver o que está a acontecer com as plataformas online, cuja operação se limita à execução. “Antes da pandemia, entre 3% e 5% dos fluxos iam para ETF sustentáveis. Agora estamos a falar de percentagens de mais de 25%”.
Para Antoine Lesné (SSGA), a tendência de fundo subjacente é a substituição de produtos de gestão ativa por estratégias de gestão passiva e a substituição de produtos não sustentáveis por produtos que cumprem com estes critérios. Mas, na sua opinião, ainda existem muitas coisas a esclarecer no âmbito do ESG. A reclassificação de produtos de artigo 9º para artigo 8º é algo que está em curso e isso incomoda o cliente. “Gerou incerteza. Falta de clareza no que se refere à definição do que é um investimento sustentável em termos de taxonomia”, lamenta.
Em alguns segmentos de mercado, o responsável de Estratégia na SSGA considera que foi apresentado de forma esclarecedora. Cita, por exemplo, o caso das obrigações verdes: “Esta classe de ativos é sustentável. É suficientemente claro como as empresas vão utilizar as suas receitas e, por isso, podem ser classificadas como artigo 9º. Quanto ao resto, há menos clareza”.
Nesta mesma linha, Lukas Ahnert (DWS) explica que a solução na indústria de ETF passa agora por “abordar o mercado de uma nova forma e ter uma estrutura robusta”, ou seja, “não ter de reclassificar produtos de forma improvisada”. Na sua opinião, a regulação traz certeza aos produtos que seguem os critérios de sustentabilidade, o que faz com que os investidores se sintam confortáveis. Neste âmbito, acredita haver oportunidades para desenvolver novos veículos, sobretudo com estratégias
Stefan Kuhn Fidelity International
“NOS ETF NÃO DEVE HAVER NADA MAIS ALÉM DA PURA INDEXAÇÃO.
ACREDITO QUE ISSO É O CORRETO”
LUKAS AHNERT DWS
“A
DE ESTRATEGIAS ORIENTADAS PARA O ENGAGEMENT É O TEMA SEGUINTE NA AGENDA DOS ETF” orientadas para o engagement. “É a próxima tarefa na agenda dos ETF”, prevê.
Os especialistas concordam que os ETF ESG estão a evoluir juntamente com os clientes, que querem e pedem novas soluções que lhes permitam cobrir as suas exigências nesta matéria. Dentro do investimento com critérios ESG, até ao momento, o foco tem estado no E, principalmente em tudo o que se refere ao clima. No entanto, para o futuro, Christopher Mellor (Invesco) considera que continuaremos a assistir a evoluções, particularmente no S de Social. “O foco mudará cada vez mais para aí. Serão lançados mais produtos nesta área, por exemplo, ligados à igualdade de género”.
A este respeito, é previsível que as gestoras continuem a reforçar as suas gamas de ETF sustentáveis. O seu peso sobre o total de novos lançamentos é elevado. “Dos 34 novos produtos que criámos este ano, 28 são estratégias artigo 8º ou 9º. Há centenas de milhares de veículos com estratégias de investimento sustentáveis, mas também há muitos gaps na indústria que precisam de ser colmatados”, reconheceu Olivier Paquier (J.P. Morgan AM). Mas fazê-lo nem sempre é fácil.
Acontece, por exemplo, no mundo dos temáticos, onde muitos aderem a filosofias sustentáveis. “O universo de investimento tem de ser suficientemente amplo. É um fator que limita o número de temas com que se pode jogar”, reconhece Stefan Kuhn (Fidelity International).
Outro fator é como construir a carteira. Aqui há diferenças entre os jovens fornecedores no mundo dos ETF, cuja conceção do veículo varia. Há quem, como Kuhn, os veja como o que tradicionalmente têm sido: instrumentos de gestão passiva. “O importante é que estes veículos dão acesso ao investidor a uma determinada parte do mercado. O que vê é o que tem. Mas sempre plenamente consciente do que há dentro do ETF. Não há nada mais além de pura indexação. Acredito que isso é o correto”, sublinha.
Paquier também defende essa transparência e o facto de fornecer diariamente ao cliente a composição da carteira. Mas a empresa não vê o ETF apenas como um mero veículo de gestão passiva, mas como o invólucro através do qual oferecem a solução ao cliente. Em consequência, não querem criar apenas produtos sustentáveis que reproduzam índices, mas utilizar esses índices como benchmarks para, apoiando-se no trabalho dos próprios analistas da entidade, ter um impacto positivo. “O objetivo não é unicamente gerar retornos superiores a partir de exclusões ou inclusões, mas também gerar engagement para gerir os ativos de forma mais adequada”.
São as diferentes visões de um produto que, apesar do desafio colocado pelo aparecimento da sustentabilidade como filosofia de investimento, está a provar ser capaz de se adaptar a esta nova realidade.
CHRISTOPHER MELLOR INVESCO
“VAMOS CONTINUAR A VER EVOLUÇÃO NOS ETF SUSTENTÁVEIS, SOBRETUDO NO S DO SOCIAL”
OLIVIER PAQUIER
* Atualmente, o profissional trabalha na AXA IM
CENTENAS DE MILHARES DE ETF NA INDÚSTRIA, MAS TAMBÉM MUITOS GAPS QUE SÃO NECESSÁRIOS COBRIR”
“HÁ
SEGUNDO A REFINITIV, ESTE ANO, APROXIMADAMENTE 70% DAS
ENTRADAS LÍQUIDAS QUE OS ETF ESTÃO A RECEBER VÃO PARA ESTRATÉGIAS COM CRITÉRIOS SUSTENTÁVEIS
PAR T NER
A OPINIÃO RAP T REN
Vivemos tempos turbulentos em que os preços dos ativos nem sempre refletem as convicções. Os mercados estão a reformular-se para se adaptarem e estes movimentos estão na origem de muitas divergências entre perceção e valorização. No caso da transição energética, uma preocupação é que a tecnologia não permita abordar o processo como gostaríamos. Mas a tecnologia desenvolve-se rapidamente, as preferências da sociedade mudam e os governos promulgam novas políticas: a economia inclina-se a favor da produção sem carbono e a transição pode acelerar. Outro fator importante são as cadeias de abastecimento, que, como vimos especialmente ao longo dos últimos meses, afetam as dinâmicas do mercado e geram perturbações.
A terceira fonte de divergência é a inflação. O aumento dos preços confronta os bancos centrais com o dilema de limitar o crescimento para controlar a inflação, algo que os investidores devem ter em conta num cenário de incerteza. A lacuna de valorizações é colmatada com convicção e firmeza, pelo que é fundamental não se afastar do objetivo a longo prazo e confiar em empresas que, como a BlackRock, atuam como fiduciários para atingir os objetivos financeiros dos investidores.
JANEIRO E FEVEREIRO I FUNDSPEOPLE 107