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MOBILIÁRIOS NACIONAIS
Adérito Oliveira RESPONSÁVEL DE NEGÓCIO E DE ISR, BPI GESTÃO DE ATIVOS
Augusto Caro RESPONSÁVEL GLOBAL DE ESG, SANTANDER AM
Cristina Brízido
ADMINISTRADORA, CAIXA GESTÃO DE ATIVOS
Com o crescimento do interesse pelo investimento sustentável aumentam as necessidades em termos de recursos humanos dedicados a este percurso inevitável. Mas será que as entidades nacionais já têm equipas exclusivamente dedicadas ao ESG ou ainda há um longo caminho a percorrer?
Os critérios ambientais, sociais e de governance (ESG, na sigla em inglês) assumiram um papel preponderante no mundo da gestão de ativos, nos últimos anos. As gestoras passaram dos esforços iniciais feitos no campo do E, para estarem cada vez mais atentas ao S, nunca esquecendo o G. Seguiram-se os investidores. Veem interesse nos benefícios ambientais e sociais da temática, mas começam a acreditar que com ela vem acoplada uma maior rentabilidade, como revelou o Schroders Global Investor Study 2022.
Maior interesse pelo investimento sustentável e, consequentemente, mais produtos, também aumentam as exigências a nível regulatório. A necessidade de ter mais recursos humanos dedicados ao ESG, de modo a acompanhar a evolução constante do tema é premente. Para perceber de que forma a indústria nacional se está a adaptar e a alterar as suas equipas para responder a esta tendência em expansão, a FundsPeople inquiriu as gestoras de fundos mobiliários nacionais.
Das 14 gestoras inquiridas, cinco optaram por não participar. A indefinição e complexidade do tema dita que algumas entidades ainda não se pronunciem. Outras duas revelaram que embora estejam a esforçar-se para implementar as novas regras ESG e desenvolver esta área, ainda não têm equipas formadas nem dedicadas em exclusivo ao tema. Porém, metade
José Valente
GESTOR DE CARTEIRAS DE AÇÕES E OBRIGAÇÕES E RESPONSÁVEL DE ESG, CA GEST
Com O Crescimento
DO INTERESSE
PELO ISR ADVÉM A
Luís Filipe Carvalho
GESTOR DE PRODUTO E RESPONSÁVEL DE ESG, GNB GESTÃO DE ATIVOS
do universo questionado tem pelo menos um profissional dedicado à temática, embora a maioria acumule esse cargo com outras funções.
Transversalidade
Nas respostas das gestoras podemos encontrar vários pontos em comum. Um deles é que quer haja ou não um ESG officer, as questões ESG acabam por ser um tema transversal a todas as áreas dentro da entidade, funcionando com uma lógica interdepartamental.
Paulo Sepúlveda ADMINISTRADOR, BIZ GROUP
do ponto de vista de compliance com as obrigações de supervisão.
HUMANOS
Começando pelo Grupo BIZ, na entidade revelam que o tema ESG é seguido no âmbito do Conselho de Administração, estando o administrador Paulo Sepúlveda responsável pela temática. Embora quando se trata de fundos ESG as equipas de gestão sejam responsáveis pelo controlo específico do tema, o administrador segue o tema
No caso da Caixa GA, a sustentabilidade tem um pelouro autónomo na estrutura organizativa da entidade, a cargo da administradora Cristina Brízido. Adicionalmente, “a definição dos princípios gerais e a implementação da abordagem de sustentabilidade é levada a cabo por um comité de sustentabilidade que é responsável por analisar e verificar a conformidade com a estratégia e as políticas estabelecidas em matéria de ISR nos patrimónios geridos”, explicam.
Na CA GEST, também há um responsável pelo ESG. José Valente dedica a este tema, em média, 20% do seu tempo, “variando consoante surjam maiores exigências na execução de reportes, alteração de alocações de investimento e acompanhamento regulatório”, explicam. Porém, da entidade contam também que a
O Enquadramento Legal Vasto E Com Padr Es T Cnicos Extensos
Por último, a Montepio GA. Não têm a figura de ESG officer, mas revelam que “o exercício do tema ESG concorre com o exercício das restantes funções já desempenhadas na empresa, seja ao nível da gestão, seja noutras áreas funcionais”.
Dificuldades
REGRESSO ÀS OBRIGAÇÕES?
integração ESG funciona em articulação com o gabinete de Sustentabilidade do Crédito Agrícola e restante grupo.
No caso da GNB Gestão de Ativos, a entidade conta com Luís Filipe Carvalho como ESG officer. Este “tem o papel de implementar e acompanhar a estratégia da sociedade gestora em matéria ESG”. O profissional, porém, apenas dedica 50% do seu tempo a esta matéria, pois acumula outras funções. Além disso, existe um comité de sustentabilidade representado pelos vários departamentos relevantes.
2022 trouxe mudanças no tema na BPI GA. As áreas de ISR e desenvolvimento de negócio passaram a ser uma só, liderada por Adérito Oliveira. A parte da sustentabilidade tem dois profissionais em dedicação exclusiva, mas beneficia de estar numa equipa mais alargada, com responsabilidades ao nível do desenvolvimento de produto. também destacam o envolvimento com o grupo BPI-Caixabank, quer ao nível de partilha de conhecimento e de práticas, quer ao nível do modelo de governance.
Com uma equipa inteiramente dedicada ao tema, a Santander AM dirige o tema a partir de Madrid. Aí está Augusto Caro, responsável global de ESG, que com uma equipa de 10 pessoas presta serviços a todas as SAM a nível global.
Sendo esta uma temática relativamente nova nas entidades, há dificuldades a apontar por quem as executa, e a legislação é o grande calcanhar de Aquiles. A grande maioria dos profissionais refere que o enquadramento legal é vasto e com padrões técnicos extensos e difíceis de implementar. Por outro lado, falam de uma acentuada falta de objetividade, o que contribui para aumentar a amplitude das alternativas e dos riscos.
O facto deste ser um tema relativamente novo que cresce a uma velocidade galopante também entra na lista. Na opinião das entidades, é difícil estabilizar procedimentos internos que promovam uma maior qualidade e fiabilidade da informação trabalhada. A própria comunicação é desafiante. Revelam que se torna complexo tornar inteligível a informação que se presta aos clientes para não os induzir em erro, ao passo que é necessário um esforço para aumentar a literacia ESG dos clientes.
Vantagens
Mas não só de dificuldades se faz o caminho. Há várias vantagens que podem surgir com a aposta no ESG. Os benefícios são reconhecidos e valorizados pelos investidores que cada vez mais procuram este tipo de produtos. Segundo contam os profissionais, não existe sustentabilidade financeira sem considerar os impactos ESG nas decisões financeiras. E, finalmente, também a integração de questões ESG na tomada de decisão aumenta a probabilidade de serem alcançados retornos financeiros superiores.
Após um reajuste histórico como o vivido nos mercados obrigacionistas em 2022, os investidores questionam-se sobre como voltar a apostar em obrigações. O ambiente macroeconómico mantém-se complexo. A inflação subjacente pode demorar a voltar ao controlo. E não podemos esquecer os possíveis riscos. Tendo em conta a incerteza macroeconómica inerente a este ponto do ciclo de juros e de crédito, pode ser o momento errado para aumentar agressivamente a duração ou o risco de crédito. Muitas curvas de juros da dívida pública estão achatadas ou invertidas. Assim, a compra de obrigações a curto prazo pode garantir uma rentabilidade tão alta, ou até maior, do que a oferecida pela dívida a longo prazo. No entanto, as obrigações a curto prazo podem não atenuar a volatilidade. Os investidores devem considerar a combinação de obrigações de vencimento a curto prazo com estratégias de derivados que podem ajudar a minimizar a volatilidade dos juros, dos spreads e das divisas. As obrigações de taxa variável são outra forma de adicionar exposição à dívida corporativa de curta duração com menor risco de juros. Outras opções são as green bonds, high yield ou a dívida de mercados emergentes, que recuperaram em valor e oferecem uma boa margem de lucro. Mas podem implicar maior volatilidade, bem como riscos de default, pelo que a gestão ativa é crucial.