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Pedro Fernandes

NÚMERO 46 SETEMBRO E OUTUBRO 2022 .

ENTREVISTAS MICHAEL KRAUTZBERGER, BLACKROCK PEDRO FERNANDES, HEED CAPITAL NEGÓCIO PORTUGAL- MERCADO TITÃ EM FUNDOS DE INVESTIMENTO ESTRANGEIROS ESTRATÉGIAS OS FUNDOS PORTUGUESES MAIS RENTÁVEIS NA ÚLTIMA DÉCADA ESTILO VOLTA AO MUNDO EM 10 ANOS 10 ANOS DE FESTA FUNDSPEOPLE ANOS

RESPONSÁVEL DE INVESTIMENTOS, HEED CAPITAL “É IMPORTANTE QUE A EQUIPA SE MANTENHA FIEL À SUA FILOSOFIA E, NESSE SENTIDO, OS PRÓXIMOS 10 ANOS NÃO DEVERÃO SER MUITO DISTINTOS DOS ÚLTIMOS 10”

UMA DÉCADA DE TRANSFORMAÇÃO

27/09/2022 12:21 O ano de 2012 não foi, de longe, o melhor contexto para o negócio de gestão de ativos, mas a Heed Capital viu nesse ano o momento para lançar o Heed Património. Dez anos depois, Pedro Fernandes descreve os movimentos que marcaram o fundo neste período.

E

m 2012 estávamos no pós-crise financeira e em plena crise de dívida europeia - se é que ambas não são uma mesma crise - e foi um contexto em que no mercado de fundos português não se via um fulgor de nova atividade notável. Muito poucos fundos foram lançados em 2012, mas um deles, o Heed Património, da Heed Capital, partilha com a FundsPeople o seu décimo aniversário em 2022.

Perante esta efeméride, Pedro Fernandes, CIO na entidade gestora, explicou os momentos que marcaram os 10 anos do fundo e o quão consistente foi a forma como a equipa abordou a sua gestão. “O que nos tem sido mais grato e é mais importante para nós é a consistência. Não somos uma casa que faz um ano excelente, seguido de um ano muito mau, mas sim uma casa consistente. Para isso ajuda termos mantido a mesma equipa desde o princípio e entendemo-nos maravilhosamente”, expõe.

Crise de dívida soberana, taper tantrum em 2013, bolha das ações chinesas em 2015, Brexit em 2016, guerra comercial em 2018, pandemia em 2020 e inflação em 2022… São muitos os eventos que impactaram o dia a dia da equipa, mas que se revelaram muitas vezes como oportunidades, segundo Pedro Fernandes. Tudo isto com as mãos dos bancos centrais firmemente a segurar o mercado de ações e a espremer o mercado de obrigações. Mas, para a equipa, a consistência e a disciplina revelaram-se um valor acrescentado.

Numa análise do que foi o trabalho de gestão ao longo destes anos, Pedro Fernandes é categórico ao afirmar que “foram anos incríveis em termos de dificuldades no mercado. Nos 30 anos da minha experiência profissional, talvez tenha sido a época mais difícil”, diz. A razão? Uma em particular: a experimentação dos bancos centrais com o quantative easing e as taxas negativas. “Estamos pela primeira vez em muito tempo a comprar crédito e a assumir duration nas carteiras, depois de muitos anos a tomar decisões que nos deixavam muito pouco confortáveis nos mercados de dívida como foi investir em emissões com taxas nulas”, explica. Em contraste, “o fundo nunca teve tanta duration como atualmente”, diz o CIO da Heed Capital.

UM NOVO CONTEXTO DE MERCADO

Assim, como diz, este fecho da década está finalmente a abrir portas a “oportunidades que fazem sentido” no mercado de obrigações. No entanto, claro, não esquece outro momento interessante no mercado de dívida que marcou a atividade do fundo, mais especificamente o seu princípio. Nessa altura, os spreads de dívida pública da periferia

DEPOIS DO TRABALHO

Para Pedro Fernandes, a jardinagem funciona como um descompressor da tensão dos mercados.

proporcionaram uma oportunidade de investimento sem paralelo. “Não sem os seus riscos, claro. Nos primeiros tempos do fundo reduzimos a nossa exposição a ações para equilibrar o risco que advinha do investimento em dívida pública periférica”, diz Pedro Fernandes.

Desde então, o peso das ações manteve-se sempre perto do máximo de 50%. “É curioso que, desde esse momento, as ações que selecionamos, em geral, pareceram-nos sempre baratas. Os resultados têm sido ótimos ao longo do tempo e, no entanto, os índices, excluindo as empresas tecnológicas norte-americanas, não têm tido um comportamento coerente”. Evidentemente, há que realçar que a equipa de gestão da Heed não alinha em modas, no que se refere ao investimento em ações. “Se há uma coisa que as últimas grandes crises nos mostraram é que surge sempre um momento em que há uma grande disponibilidade de liquidez para comprar as ações mais sexy. Nós não temos qualquer problema com essas empresas, mas sim com o preço que se paga por elas”, exclama. “Queremos manter o fundo com uma estrutura confortável e que nos defenda em todos os cenários”, acrescenta.

A DISTORÇÃO ESG

Já no que se refere à tendência mais recente do mercado, a integração de fatores ESG, o CIO não vê que seja, para a equipa, “um problema ou limitação”. Vê, isso sim, um movimento que “distorceu o mercado, criando oportunidades em alguns setores e dirigindo o dinheiro para os setores, pretensamente, mais verdes”.

Em suma, foram 10 anos difíceis, mas recompensadores, para Pedro Fernandes. “Isso refletiu-se no nosso posicionamento em termos de retorno e risco face à concorrência. É importante que a equipa se mantenha fiel à sua filosofia e, nesse sentido, os próximos 10 anos não deverão ser muito distintos dos últimos 10”.

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