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vol. 01 Furtar Agosto 2015


Talvez seja necessário contextualizar este presente documento. Os textos e entrevistas que você vai ler aqui foram produzidos há alguns meses, mas só agora pudemos juntar tudo e montar uma publicação honesta. Ao passo que Furtar pretende dedicar seu coração à fotografia e ao trabalho que a envolve, igualmente deseja ser um espaço para comunicar de outra maneira; é por isso que vez ou outra entregaremos um apêndice como este, com artigos, entrevistas, colunas e afins produzidos por amigxs que têm algo a dizer ou por gente cujos projetos sejam pertinentes. Espermamos que desfrutem o que fazemos, é com todo o carinho, sempre!

II


A Memória como Resistência

Texto originalmente publicado em um fanzine repartido na comunidade de Florencio Varela, em Buenos Aires, Argentina, tendo como motivo os 39 anos do golpe de Estado que levou o país a uma sangrenta ditadura militar.

Por Felipe Arriagada. Santiago de Chile.

III

Os corpos se perdem, desaparecem. Mas não são esquecidos. Se escondem no mar, em túmulos sem nomes, em espaços desconhecidos. Esses corpos perdem suas formas, apodrecem. Se decompõe. Ninguém viu, ninguém falou. A câmera registra, toma vida, se converte em testemunha. A memória resiste enquanto houver uma imagem. E esta imagem é, assim, “um instante congelado no tempo”. O tempo passado são lembranças, experiências, formas de encarar o mundo em síntese: cultura. O corpo se perde, desaparece, mas a alma permanece. A alma vive em terceiros, não em apenas um. A alma é, então, memória. As ditaduras destroem corpos, os cerceiam, golpeiam. Desaparecem. Seu objetivo não é dar cabo a um punhado de pele e ossos, mas apoderar-se de sua cultura. A cultura, então, é, ao mesmo tempo, verdade. E na verdade vivem os povos. É transmitida de boca em boca, registrada. A câmera então os assusta, atormenta, se faz inimiga. “Melhor um inimigo próximo”. As ditaduras censuram. Censuram imagens, palavras, ruídos e censuram quem os cria e quem os registra. Porque são parte do corpo, mas também são máquinas que gravam, registram, observam e informam. E eles também são máquinas, mas da morte. Uma máquina em oposição a outra. Quem controla as imagens se torna dono da cultura e assim aparecem o circo, as vedetes, os programas de domingo. O aparato do Estado venceu e pessoas morrem em todos os cantos. Do Chile até o mais longínquo canto da Terra foram tomando conta das imagens, porque assim funciona sua forma de vencer a memória do povo. Combate-se o terrorismo e o Estado (não seriam a mesma coisa?) com fotos carregadas no peito, com discos clandestinos, escondidos por anos!, com fotogramas oxidados. Com imagens. No relato coletivo a palavra solidária que se passa de pessoa a pessoa e nós, cineastas, artistas, músicos, pintores... as transformamos em mensagens. Desde a poesia popular ao stencil mantém os mortos dentro da memória e, esta, por sua vez, deixa de ser um elemento frágil para ser uma arma. Uma arma que necessita um corpo, uma arma que registra corpos que se perdem, desaparecem. Mas não são esquecidos.

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Por Ofe. Santiago de Chile.

Para começar, me conte um pouco sobre o começo da banda e o que vocês já fizeram até hoje. Quando terminei a escola comecei a compor na guitarra, mas o som não se encaixava muito na banda onde eu tocava, então achei que seria melhor segurar aquilo até que encontrasse um projeto adequado. Comecei a gravar algumas demos por conta própria e eventualmente perguntava se o Aaron queria fazer um som comigo. Ele tocava com algumas bandas, e por isso o nosso processo era bem lento, até mesmo para encontrar outras pessoas que quisessem tocar conosco. Tentamos com alguns amigos, mas nunca engrenou. Foi aí que demos uma encostada em tudo isso. Depois de um tempo, uns dois anos mais ou menos, quando nossas respectivas bandas começaram a diminuir de ritmo, Aaron e eu nos juntamos novamente, resgatamos aquele material e ainda contamos com o Nilsson, que tocava baixo na minha outra banda; com ele lançamos Analytical Dreaming e Anomie, além de tocar em diferentes partes do Canadá. Quando ele saiu, chamamos o Zach para segurar as pontas por um tempo. As coisas foram funcionando bem e acabamos achando que o melhor seria mantê-lo conosco. Nessa altura eu estava começando a ficar cansado

dos vocais mais pesados, então com o Zach tivemos algumas ideias e ele acabou cantando no split com o Solids e também no Half Asleep. Foi aí que tocamos nos Estados Unidos e fomos para outros cantos do Canadá com o Solids. Desde então estamos mais calminhos, mas acreditamos que teremos um full-lenght no forno mais pro final deste ano. Percebemos muitas mudanças de um disco para outro e Half Sleep soa um pouco mais pesado do que o anterior. A mudança está presente até mesmo nas melodias e no vocal. Quais são as razões para que isso tenha acontecido? Essa resposta pode parecer simples e até evasiva, mas a verdade é que o som mudou porque nós começamos a ouvir outro tipo de som. Sobre o que suas músicas falam? Os assuntos também mudaram desde que a banda começou ou o principal ainda são questões pessoais? As músicas são só uma grande mistura de pensamentos sobre a vida e essas coisas… Diria que as letras ainda são bem similares aos que tratávamos no começo, sabe?

IV


Este ano vocês saíram em tour com o Solids, com quem dividiram um split. Como foi que tudo isso aconteceu? Os caras do Solids tocavam em algumas bandas de hardcore quando nós começamos, e foi assim que os conhecemos. Quando eles se juntaram para formar o Solids nos encontrávamos quando vinham para Toronto ou quando íamos para Montreal, e sempre curtimos o som uns dos outros. Quando o Zach entrou e nossa música tomou uma outra cara, foi algo natural percebermos que a mistura seria interessante para um split. Falamos com eles e pronto, aconteceu. No último verão eles nos perguntaram se topávamos tocar juntos em alguns shows já marcados na parte oeste do Canadá, e como já tínhamos uma tour de três semanas pelos Estados Unidos agendada e que terminaria justo antes desses shows, resolvemos estender a coisa e nos reorganizarmos para que desse tudo certo. Como você se organiza para montar os shows, preparar o merch e gravar discos? Trabalha dentro da filosofia do it yourself? A real é que temos muitos amigos e eles nos ajudam nesse dia a dia. Collin, que tocou guitarra na minha outra banda, foi quem gravou tudo o que temos até agora e o Em Cuthbert, vocal do Foxmoulder, ajudou lançando nossos dois primeiros discos no seu próprio selo, o Mountain Far, além de ser o principal responsável por marcar quase todos os shows de post-hardcore em Toronto. Nosso outro amigo, e guru!, Jay Wydra, é o dono do Soybomb, que é um dos únicos picos DIY remanescentes e sempre faz rolês para todas as idades. E tem o Darryl também, que trampa na Perpetual Strees e tem movimentado bastante a cena este ano. Eu sou o responsável pela maioria das artes dos discos e do merch, sempre com a ajuda do Artie, que fez o layout do Analytical Dreaming e do Anomie. Xavier,

V

que toca guitarra no Solids, e eu trabalhamos em parceria na arte do split e fizemos as camisetas e pôsteres dos shows da tour. Ah, claro, tem o Ingo também, da I.Corrupt. Records, da Alemanha, que lança nossas coisas por lá – menos o Half Asleep. Ele se esforça muito para fazer nosso som rolar pela Europa e devemos muito a ele por isso. Esperamos tocar para aqueles lados qualquer dia. Quais são suas principais influências musicais e o que tem ouvido recentemente? As minhas principais influências, quando começamos, eram muito mais abrasivas do que aquilo que escuto agora. Minhas bandas favoritas eram Rockets Red Galre e Capsule. Mas hoje em dia seria mais complicado dizer do que eu gosto... é praticamente tudo! Há duas bandas de Boston que curtimos bastante, Pile e Bad History Month. Inclusive já tivemos o prazer de tocar com eles algumas vezes no ano passado. Altamente recomendável. O Animal Faces costuma ter um álbum novo por ano. Acredita que esse é o caminho a seguir no futuro? O que pretende fazer quando falamos em próximos lançamentos? Estamos trabalhando em um full lenght e queremos lança-lo em breve, mas fora isso não temos – e nem queremos – muitos planos. Outros projetos nos têm ocupado no momento e temos a sensação de que o Animal Faces merece atenção quando o instante é propício. É isso! Agradecemos seu tempo. Quer acrescentar alguma coisa? Obrigado pelo espaço e por se importatem com a banda e nossa música. Tentamos ao máximo colocar para fora nossos sentimentos nas músicas que criamos e esperamos que isso seja perceptível. Cuidem-se!

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O Institution (institutionhardcore.bancamp.com) é uma banda que já nasceu grande. Não por estar em posição de destaque quando de seu começo na cena hardcore de São Paulo, mas por contar com nomes consagrados em sua formação: Rodolfo Duarte (Still Strong, Good Intentions, Paura) no baixo, Paulo Sotero (Still Strong, NGTV, Live By The Fist) na bateria, Felipe Knoller (Wolfdog) na guitarra, Hélio Siqueira (Jeffrey Dahmer, Seven I Lie) na voz e Fábio Pereira (Clearview, Ralph Macchio, Live By The Fist) também na guitarra.

Por Marcelo La Farina. São Paulo, Brasil.

O primeiro show dos caras rolou em abril de 2014, poucos meses antes do lançamento oficial de Uncritical Receiver – EP que veio ao mundo pelas mãos da Black Embers Records. Cerca de um ano mais tarde, a banda tem seu espaço garantido, realizando cada vez mais shows —sempre trajados com calças compridas e de cores escuras— tanto dentro como fora de São Paulo. Falamos com Fábio sobre a postura adotada pela banda, o caminho que vem trilhando e a nova formação – Rodrigo Japa assumiu as baquetas uma vez que Paulo foi tentar a vida nos Estados Unidos. Damas e cavalheiros, com vocês, Institution:

Qual o lance com as calças compridas e o predominante tom negro no visual de vocês? O Youth Crew foi pro caralho? Nem fodendo! Que o diga o Rodolfo, que também toca com o Good Intentions (xgoodintentionsx.bandcamp.com). A ideia desse visual nasceu quando ainda estávamos nos organizando para escrever as músicas, conversando sobre o que esperávamos da banda e o que aprontaríamos pro primeiro show. Para mim, é bem interessante montar um visual pro palco, saca? Não acho que seja uma questão de que a banda seja “grande”, “pequena”, DIY ou qualquer outra coisa... Todo mundo pensa assim, mas muitos não o reconhecem publicamente. Todos pensam com qual camiseta de banda vão tocar, em qual momento vão pular, o que vão dizer ao público... Isso faz parte do show, é normal.

O que fizemos foi ter essas coisas combinadas de antemão. Acredito que se você tem uma banda e está metendo as caras é porque tem algo a dizer e o desejo de criar toda uma experiência seja para 10 ou para 1000 pessoas. Nunca vamos ser melhores do que ninguém por estar em cima do palco, mas uma vez que você se propõe a subir ali, gosto da ideia de pensar uma experiência completa entre música e visual. Mas ao mesmo tempo somos uma banda de hardcore e gostamos de coisas simples, sem grandes produções; por isso a ideia de nos vestir de preto para construir uma identidade visual. No começo os outros caras não curtiram muito essa onda, ainda mais o Hélio, mas você sabe como são os vocalistas, né? Mas sério: é algo simples, mas que funciona. Comecei a pensar sobre isso depois de ler a biografia do crass, que era formada por artistas vindos de diferentes VI


cenários, como o teatro. Eles usavam o lance do espetáculo como um todo, e não só para um show. Quando eles decidiram que estariam sempre de preto, inclusive para ressaltar a posição anarquista da banda, isso se converteu em um símbolo que mais tarde deu forma à identidade visual do Anarco-Punk. Se você der uma olhada na história do hardcore/punk, vai encontrar a mesma coisa: o pessoal do Minor Threat raspava a cabeça, o do Refused com as roupas do avô. Mas né, vai que mais pra frente pensamos outra coisa? Por agora seguimos assim: calças compridas e pretas. O Institution nasceu com a proposta de recuperar a onda de experimentação musical dos anos 1990. Como vocês definem o som que fazem? É hardcore, é punk, é metal, é metalcore, é o hardcore do apocalipse? É hardcore e temos isso bem claro. Se perdemos a linha em dado momento, logo voltamos. Quando falamos de ‘experimentar’ falamos de fazer o que faziam as bandas dos anos 1990, que é misturar o hardcore com outros gêneros, como fez o Earth Crisis, o Unbroken, Point Of No Return, Refused, Indecision, Disembodied, 108... Todas essas bandas são de hardcore, mas com elementos a mais musicalmente falando. A impressão que tenho é que isso deixou de existir nos anos 2000; as pessoas foram ou para o metal ou para o hardcore que podemos chamar de clássico. Não havia mais essa gama de tons de cinza entre o branco e o preto. Não posso generalizar, é claro, mas é o que penso. E isso tampouco é dizer que somos virtuoses, mas sim criativos. Não queríamos estar mergulhados em clichês a vida toda.

VII

Se digo que vocês são o Converge dos trópicos vou apanhar? Vocês gostam de Converge aliás? Vai apanhar porque não merecemos a comparação, nem por brincadeira. Temos a intenção de misturar o hardcore com novos elementos, mas nada no mesmo nível do que o Converge faz, que é uma banda extremamente técnica. Na verdade, a gente gosta bastante de Converge, com uma exceção. Não vou dizer quem é para que o pobre coitado não seja expulso de casa. Mesmo sendo uma banda com pouco tempo em atividade, vocês vêm conseguindo uma resposta bem positiva do público e tocando não só em São Paulo. Isso é uma casualidade ou estava nos planos? Sim, a gente pensou bastante nisso e continuamos pensando. São Paulo é uma cidade complicada. Por exemplo: há muitos shows de muitas bandas nacionais e internacionais. Bandas de outras cidades sempre querem tocar aqui, uma vez que São Paulo é o principal centro econômico e cultural do país, onde acontece de tudo, e isso tem suas vantagens e desvantagens, obviamente. As vantagens são uma cena com bastante movimento e muitas coisas novas nascendo. A consequente desvantagem é uma segmentação muito presente no público. É difícil escolher quando temos três, quatro shows no mesmo dia e em partes diferentes da cidade. Além do mais, o que queremos fazer com o Institution é o que não fizemos com outras bandas, que é conhecer lugares novos e levar nosso som às pessoas que não têm nem ideia de quem somos. O Brasil é gigantesco, tem muita gente aqui, e quase nunca tentamos fazer as coisas acontecerem fora do eixo Rio-São PauloSul. Locomover-se é caro (gasolina, pedágio, passagens...), mas é algo que vale a pena. Juntar gente e criar uma rede independente como acontece na Europa, por exemplo.

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Estaria exagerando se dissesse que o Institution é a banda mais séria —em termos de maturidade pessoal e musical— que vocês cinco já tiveram? Não sei pro outros caras, mas para mim sim. Sem dúvidas. Ter banda é sempre complicado, né? Conciliar as agendas, os desejos. É aquela história do “quando um não quer, cinco não brigam”. No Institution conversamos bastante sobre comprometimento desde o comecinho, mas confesso que não acreditei muito porque sempre tive esse papo quando estava montando manda hahahaha Mas com o tempo vi que todos estavam na mesma pegada. Sempre quis ter algo mais sério, não por ter aspirações profissionais, mas porque eu gosto de ver a evolução das coisas que fazemos de coração, seja com mais shows, gravações de melhor qualidade. É fácil frustrar-se quando a coisa termina do nada depois de investirmos tempo, carinho e mesmo dinheiro com ensaios, equipamento... Não me arrependo de nada, que fique claro, mas isso me chateia, ver coisas com tanto potencial transformando-se em nada por motivos fúteis. Hoje, mais do que nunca, dou muito valor ao meu tempo. Percebi que esse é o bem mais valioso que podemos ter, e por isso o dedico a algo que me deixe feliz.

Falando de vocês cinco, o Paulo foi trampar nos EUA e o Rodrigo ficou na bateria. É uma mudança permanente ou quando o Paulo voltar ele volta pra banda também? Se sim, o Rodrigo tá de boa com isso? No começo deste ano o Paulo disse que ia zarpar pros EUA por um tempo para dar um grau no seu desempenho profissional. Ele trabalha com produção de eventos/roadie/ stage management. O que acontece é que esse “tempo” não tinha – e ainda não tem – data limite e a banda já tinha fechado a agenda para 2015, inclusive com o pessoal da Hearts Bleed Blue, que vai lançar nosso próximo disco. Ao mesmo tempo, o Paulo nunca quis sair da banda. Então pensamos uma forma de conciliar tudo e chamamos o Rodrigo para ser o substituto. O Paulo não sabe quando volta, se volta e se vai continuar tocando mesmo, assim que é complicado fazer qualquer previsão. Sabemos que neste momento é o Rodrigo o baterista e que é ele que está gravando o disco novo. O Paulo é membro fundador, mas ele ainda precisa encontrar seu caminho antes de saber se vai continuar no Institution ou não.

VIII


Hábitáculos: Homem na época do Grande Homem

Por Gautier. Monterrey, México

*Senhoras e Senhores, somos Furtar. Escrevemos este recado para informar que não há tradução para o texto acima referido por um motivo simples: tanto sentido quanto poética das palavras em espanhol não seriam representadas à altura em português e, como era de se esperar, não temos a intenção de comprometer nenhum tipo de informação neste zine. Agradecemos a compreensão!

Nací en Monterrey psiquiátrico, semiárido, al noroeste de ese México de urbanizado cuerpo. Médula de insensato asfalto, emblema industrial y el valle que algún día fue, desadormeció desterrado a las orillas de la Ciudad de las Montañas. Una férula es un dispositivo que no sólo inmoviliza, también forja, y del mismo modo, las avenidas, calles y edificios inmovilizan y forjan la marcha, el traslado. Aun informe, se anda de aquí a allá sobre enlosado calzado. Luego el paso se vuelve decrépito, cenagoso. En mi primera juventud, enmohecidos mis viajes por la república, se fue libre frente a la gran esclavitud que las carreteras imponen a los cuerpos y territorios; de Nuevo León hasta Zacatecas o Mérida: allí sólo hay dos flujos de paso, el suplicio de tienda con insípidos enlatados, matorrales y un montañoso páramo desunido del camino punteado. Es ante ese campo que el disimulo pierde su contorno y toda expectante se aterra ante la imposibilidad de vagar sin que lama el concreto los pies. Nunca he pensado que la planicie o montaña sean quienes espantan los espíritus más acorralados, es el enorme parentesco que hay entre nosotras y ese camino punteado, flujos igualmente de paso. Junto a él es que se es lo inevitable, y sin él, ideologías bastan para sentenciarse a la peor de las separaciones. Sus flujos siempre llevan y nos alejan del mismo modo; nuestros flujos, si se siguen con horrendas disciplinas y señalamientos,

IX

se termina siendo el mismo adoquinado sujeto. No negarán que toda ciudadanía se otorga las vestiduras de la demencia. Aquí es donde se desata cierta memoria roída por el orín y la polilla. Es aquí donde se celebra el decaimiento, la conmemoración de la politizada familia, donde aguarda la civilidad su ennegrecimiento, y es aquí mismo donde se labró mi nombre, vocablos que refieren a mi empolvado abuelo. Presuroso romance, el libertino encuentra un dictador para derrocar y el mercenario un culpable para lacerar; con la misma simpleza es que me volví un teatro, desde Edipo hasta Hamlet. Relegado hijo bajo la lupa de autoridades intelectuales, que prisioneras son de calabozos más amplios y sofisticados. Indisputablemente todas vivimos bajo una ordenanza ajena de nuboso germen. Dijo la poetisa, “es más lo olvidado que lo recordado.” Poco de lo que bien recuerdo es a mi padre, hombre de severa opinión democrática; ruinosa su garganta con voz de parlamento y ultraderecha. De él ingerí ese hombre enmascarado de Hombre, sus mujeres, y esa certera declaración donde hubo de verter las ansias más mordaces al dirigirme “quien es su propia naturaleza es labrantío donde no se siembra el error.” Poco sé de mi madre, y es justo aquí donde la roída memoria comienza por ser mácula si la intención es escribir, hacer y hablar desde mujer, y con mujer no sólo expongo esa

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formulación cultural, hoguera que luego de arder vuelve a ser hoguera. También conjuro a ese espíritu, Anima fuera de época, pues desdeña la creciente jerga de las certidumbres y al gentío que indolente se vuelve al profundizar en hallazgos médicos la naturaleza de la percepción: trasnochado fascismo con modernas funciones de sujeción. Sin duda, en la época que sobrenadamos hay nulo respiro o sollozo para esa alma vuelta agobio. Y yo, cincelado como hombre de alabastro, deambulo. Así como en un mismo ritmo, la configuración capitalista mancilla la bandada proletaria, y repleta agraviando las salas burguesas de sofoco, es como advierto el peligroso ritual de darle rostro y nombre al autócrata. Política ocasional, ¿hombre será la genealogía de la época del Gran Hombre? ¿qué diría mi padre y sus políticas diestras al respecto? Inmaculados sermones, ante ellos siempre me hallé en desavenencia con ese hombre producido a partir de sus dioses, sus mujeres y la trágica contienda consolidada como hierro al rojo vivo. Y aun fuera la garganta de mi padre que resonaba arqueando juncos y muros, su cabeza reposó siempre en el callado pecho de mi madre. Así mismo hicieron sus dioses. Grilletes arrastra la intimidad entre mis íntimas, y venía yo viajando en autobús al lado de Ge Tletl, hombre entre los Hombres, cuán barrote ignora que su cuerpo celda es. Ya Ge había llegado a mis inviernos y hogares, luego de haber decidido abandonar un pequeño pueblo húmedo, el antiguo reino de Colliman, de colli (abuelo, ancestro), y man (extensión). Colima es, de algún modo, “lugar donde dominan los ancestros”, hogar del volcán de fuego y el lugar donde Ge nació. Fue entonces que mi encuentro con Ge fue el encuentro con mis fuegos y mis ancestros, los ancianos sonidos

que luego fueron palabras y poemas. Acompañado llegó de una mísera maleta de mano, un par de cálidas prendas y una guitarra. Fue para él un viaje silencioso, incesante, pues nunca volvió a Colima, y cuando así lo hizo, ya todo había cambiado. Que el pueblo lleve el mismo nombre con el que fue bautizado no significa que siga siendo el mismo sitio, así como un rótulo no significa siempre lo mismo en un arcano de Tarot. Ahora todo era distinto, y ambos contornos, el mío y el de Ge, se trasladaban de sur en sur sobre carreteras que enhebran y esclavizan territorios. —¿Qué más podría narrarte de mí, Ge? ¿de qué más se puede hablar que no sea fanfarroneo de anacoreta frente a sus santos y discípulos? Nunca ha habido claridad de por qué mi corazón, acorazado de pecho, pasó a ser órgano de débil lenguaje. —Proseguí discursivo, —¿De primavera serán mis manos? pues mi madre me enseñó que con papel se pueden hacer flores intrigantes, inigualables. Lo que no me enseñó fue el sentido trágico y novelesco que posee la flor en nuestras políticas. Hubo ocasión en la que forzadamente hube de montar ridículos romances frente a mis amistades, refriegas sofocaron en seguida cariños bastardos, amores sinrazones, pues regalar una flor de papel sin ocasión o motivo es como anudar la soga a mi cuello. Es de esto que trata el lenguaje débil del pecho, mudo corazón desairado por tolvaneras milenarias donde es un letargo ser menos hombre entre los Hombres, qué desdicha son todos los aparatos binarios, qué miserable secreto el nuestro, siempre circundante a la seducción y la culpa. Decidí desdoblar las malheridas flores de papel y templar mis manos de entretiempo.— Aclaró la garganta, Ge.

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—¿Qué hiciste de ellas?—, preguntó. —En ellas escribí mis cartas, pero a las silvestres semillas las desplaza el viento. No tardé en volver a estar entre los temores más humanos, y hube de teorizar calumnias, disimular el haber escrito en femenino desde persona, pues por agregar una sigilosa -a- en los nominativos que nos detallan, se han sentido algunas heridas y amedrentadas. Bien es cierto que el significante ahora es significado en estado puro. Pienso que el primer lenguaje fue el de los sonidos, pues es el mismo que utilizan los bosques, las montañas, los lagos. Luego de tanto, decidimos componer bajo la morada de la palabra y su lectura; ésta le es inmanente, pues ¿qué puede ser escrito para nunca ser leído? Recordé nuevamente a mi padre, hombre de los discursos junto a mi empolvado abuelo, hombre de silencios. Mudo clamor, mi padre advirtió muy bien el quebranto, y entre alarido o llanto me hundió en una cubeta colmada de agua fría. Me fue inscrito el nuevo discurso: nunca maquinar contra el genitor, ya sea en nombre de naufragar o replegarse en ese Gran Hombre. Pensé en que los sonidos, prohibidos como tal, son el abuelo de mis cartas, y como en tu pueblo, en ellas dominan los ancestros estando mis cartas hechas de palabras, hijas del sonido. Me dispuse a no desdoblar ahora mis palabras ni mis manos de entretiempo. Todo lo que le escribí a María Magnolia fueron textos y cartas sobre aquello que fue charla alguna vez. Hiriente, tengo que confesar que siempre que escribo verso o misiva, aún escribo desde persona, es decir, escribo desde mis ancianos sonidos, ceremonias y barbaries.

XI

Nunca intenté, juro por mis primaveras y flores, hacer de mis idearios algún dirigente como en los que se abreviaba mi padre o Monterrey entero. No sólo de trizas mi alma, también ese dios de santuario, copal y el camino proclamado como única vereda. Poco hace falta para la gran pugna, para el incendio, y es que en plena ciudad, hacer una flor de papel atenta con todas las primaveras de todas las personas. Si te escribo de mis barbaries, sólo escribo de mis propias barbaries que, paradójicamente, refiere a la barbarie de toda la civilización. Claro está que mis bebedizos sólo alivian mi contorno, de igual modo es que mis enfermedades son aisladas de toda réplica. Aún nada se sabe de los crepúsculos: hay infinitas penumbras en cada noche. «Íntima, mis idearios no dicen ni hacen nada por mí. Perdí la fe en cada una de mis ideas. Si bien entiendo, estamos pobladas de ideas, y de pueblo en pueblo es que el valle fue edificio y avenida. De piedra arenisca, estuco y barro están hechos los templos, y cada templo erigido está condenado a la ruina, incluso pienso que es la ruina genealogía del templo. Del mismo material están hechos mis idearios, están destinados a la misma ruina. Doliente es perder cada idea, pues se siente el caer de la idea como el caer del propio pie, brazo o párpado. Qué fortuna es asistir a la fúnebre ceremonia de mis ideas. Sin embargo, ¿quién estará en el funeral de mi silueta si ya no estarán amorfas todas ellas?» (Carta desde mis intimidades, María Magnolia pág. 2013).

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Por Marcelo La Farina. São Paulo, Brasil.

Da iniciativa dos famigerados irmãos Diego e Daniel Garcia, ladeados por Rafael KBL e Fábio Binha —hoje substituído por Biel— nasce o dedication, banda straight edge youth crew que, de sonho de verão, passou a figurar como uma das mais relevantes dentro da cena paulistana. “Conversando com meu irmão”, nos conta Diego, “chegamos à conclusão de que São Paulo estava carente de uma banda youth crew na pegada do Youth Of Today, que fizesse hardcore/punk rápido, agressivo, com sing-alongs e letras positivas”. Leia a entrevista completa e descubra mais sobre a banda ideal para quem monta o visu com bermuda e moletom.

Como e por que surgiu o dedication? A coisa começou mais ou menos como um projeto de verão. Conversando com meu irmão chegamos à conclusão de que São Paulo estava carente de uma banda youth crew na pegada do Youth Of Today, que fizesse hardcore/punk rápido, agressivo, com sing-alongs e letras positivas. Nisso chamamos o KBL e o Binha, que já tinham tocado conosco no X-Punch, e gravamos quatro sons que acabaram virando o Break The Chains (2013). O plano era para que a coisa terminasse aí, as nos apaixonamos pela banda e resolvemos seguir adiante. E como você enxerga o fato de conseguir conciliar uma banda independete às obrigações que todos temos diariamente? Trabalho, escola, faculdade... Cara, por mim posso dizer que a treta é grande e que às vezes tenho a impressão que as coisas vão ficando mais e mais complicadas com os anos. A verdade é que temos muita sorte com o dedication porque somos todos amigos e nos damos bem; quando o Binha saiu, logo entrou o Biel e tudo continuou firme. É como se conseguíssemos ler os pensamentos uns dos outros, sabe? Além do mais, ninguém

consegue viver sem o hardcore, e por isso sempre damos um jeito de fazer acontecer. Fora do dedication vocês fazem o quê? E que outras bandas já tiveram? Eu toquei com o X-Punch e com o Sentenced, e atualmente também sou guitarra do Stand Accused e canto no Final Round. O Biel era do Hold Tight e agora está no Stand Accused e no Final Round. O KBL também tocou no X-Punch, além de ser o batera do Positive Youth e do Jah Hell Kick. O Daniel, além do X-Punch, tocou no Inner Self é o guitarra do Violent Stomp, do Stand Hard e do Final Round, e canta no Stand Accused. Junto com o meu irmão temos o selo Thinking Straight Records e o KBL sempre dá uma força no coletivo Juventude Positiva fazendo trampos como designer gráfico para cartazes, camisetas, discos e essas coisas. A primeira edição do Break The Chains esgotou em quanto tempo? As fitinhas nem chegaram a vir pro Brasil, certo? Vendemos todos os discos em questão de um mês, mais ou menos, e isso é assustador! As fitinhas saíram em duas frentes: 35 cópias pela

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SP Discos, da Alemanha, e outras 50 pela Gold Rain Records, da Argentina. Desta primeira leva acho que só temos duas ou três no Brasil, e da segunda umas 10. São poucos e bons os que conseguiram descolar uma ;)

As mensagens das letras tratam sobre o straight edge e o vegetarianismo. Para vocês, qual a importância de seguir esses ideais como banda e como isso se reflete no cotidiano?

Foi isso que os motivou a lançar uma segunda edição do disco e começar a trabalhar em novos sons?

Pra começar acho válido dizer que o dedication é uma banda que apoia o veganismo, mas que não é uma banda vegana, dado que o Daniel é ovo-lacto vegetariano. Mas isso não quer dizer que não possamos tomar partido da causa, saca? Acreditamos que a libertação animal é um dos temas mais importantes a serem discutidos dentro da sociedade, porque as pessoas seguem comendo carne por pura comodidade e não se dão conta do quão cruel é esse ato. Acreditamos também que as drogas —legais ou ilegais— são uma fonte de destruição e sofrimento não apenas para a senhora que apanha do marido bêbado, mas para os jovens que deixam de fazer algo produtivo para estar aí se entupindo de pó ou qualquer coisa. E como nossa a sociedade tem esse costume besta de celebrar qualquer coisa com churrasco e cerveja, sabemos que os straight edge/veganos/vegetarianos são pessoas estranhas, mas para mim isso não é problema. Não vou deixar de conviver com alguém que bebe e come carne e nem de me divertir sem isso.

A ideia de fazer uma segunda edição foi do Tony, da Positive And Focused, e do Sujão, da True Spirit Records. Os dois já estavam nessa tinha tempo e queriam agitar esse relançamento, mas trabalhando com uma capa nova e essas coisas. Embarcamos na deles e a coisa aconteceu. Vocês já fizeram shows para 10, 15, 20, 50 pessoas, assim como abriram para o Bane e fizeram shows na Argentina. Qual a importância de cada uma dessas situações e como vocês enxergam as respectivas diferenças? Pra gente um show de hardcore é sempre um show de hardcore, independentemente da quantidade de gente que está assistindo. Óbvio que quanto mais, melhor, mas não adianta nada um show com 100 pessoas que ficam de braço cruzado no canto. Se temos 10 pessoas cantando e dando stage dives, ficamos mil vezes mais contentes. O fato é que se o dedication toca pra cinco pessoas, podem ter certeza de que teremos a mesma energia de quando tocamos para 100. E a gira pela Argentina foi incrível! Fizemos shows espetaculares e conhecemos gente espetacular. Esperamos poder voltar um dia.

E a pergunta mais cretina que poderia ser feita: quais bandas —nacionais e internacionais— vocês têm como referência? Decisão por consenso: Youth Of Today e Inspire.

Para ouvir: xdedicationx.bandcamp.com XIII

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Por Felipe Arriagada. Santiago de Chile.

Oi! Então, pra começar, vocês poderiam contar sobre a banda? É que é meio difícil encontrar material sobre vocês. Para dizer a real, achei que a banda nem estava mais ativa depois do lançamento de Discography, do 10” e da mudança de nome para Mort Mort Mort. Podem nos situar sobre o que vem rolando com a banda desde o começo? Claro! Olha só: tudo começou em 2005 com o Aussitôt Mort, que contou com diferentes músicos de diferentes bandas, como None-id, Apollo Program e Amanda Woodward. Sempre quisemos fazer coisas paralelas aos nossos projetos principais e expandir os horizontes, até que finalmente rolou. Lançamos uma demo com quatro sons e a Level Plane a transformou em algo maior, o que foi totalmente inesperado. Depois de gravarmos mais duas músicas, nossa demo virou um EP com seis títulos. Em 2008 lançaríamos o Montuenga, mas pouco antes nosso vocalista, o Greg, saiu da banda, então acabamos voltando pro estúdio para refazer as vozes e a coisa mudou um pouco de figura, saindo um pouco do screamo. E tudo isso acontecendo durante uma cacetada de tours; quando voltamos do Japão, o Pierre, nosso baixista, resolveu dar uma sossegada porque tinha virado pai e o Marc veio tocar conosco. Mas aí, pouco tempo depois, o Pierre quis voltar e acabamos ficando com dois baixistas que se alternavam de acordo com a disponibilidade de cada um. Depois disso começamos a trabalhar em um novo EP, que acabou sendo lançado em LP, o Nagykanysza. Curiosidade: Montuenga e Nagykanysza são cidades da Espanha e da Hungria onde tocamos em tour. Foi aí que a coisa começou a ficar confusa: em meio a tantas tour começaram a surgir problemas; na Rússia a treta foi tanta que o Antoine e o Pierre deram área e para evitar mais confusões acabamos mudando de nome também, escolhendo Mort

Mort Mort por ser uma referência a uma de nossas músicas favoritas. Encontramos um novo baterista, o Steve, do Guns Of Brixton, e gravamos mais duas músicas e estamos trabalhando em um novo disco para lançar no outono. A última é que o Marc saiu da banda, e o Tom, do Missing Mile, vai fazer alguns shows conosco antes de terminarmos as gravações. Como rola o processo de composição como banda? Vocês são influenciados por alguma banda ou artista em particular? Quais são essas influências? Em termos de composição, somos bem lentos hahahaha. Mas é assim mesmo, é nosso jeito de fazer as coisas: tranquilinhos. É assim que funciona. Preferimos criar durante os ensaios. Além disso, os gostos e influências de cada um são diferente e no final temos em mãos uma bagunça que precisa ser organizada aos poucos. Não é fácil achar um consenso, mas poderia dizer que gostamos bastante de Isis, Neurosis, Neil Young, Bolt Thrower, Supuration, Death... e também coisas como Dark Millennium ou Four Hundred Years. Por que vocês acham que a França passou por um boom na cena emo/screamo nestes últimos anos? É coincidência ou isso reflete algum acontecimento cultural e/ou político?

Pois é, aqui na França temos uma cultura de contestação política bem forte. Isso certamente nos influencia a fazer esse tipo de música dentro de uma cena mais alternativa, punk e DIY. Em contrapartida, devo dizer que durante as tours temos encontrado muita gente envolvida com a cena mas sem uma personalidade mais politizada. Algumas até mesmo caem em contradição se pararmos para pensar sobre suas condutas e o que pregam nas músicas. Isso é broxante. O fato é que é meio complicado de se afirmar que o contexto XIV


político-social francês seja um elemento para explicar o que rola na cena. Mas vocês conseguem dizer que a História francesa influenciou a banda? Porque ninguém nega a carga de riqueza que ela carrega, certo? De minha parte posso dizer que minha forma de pensar deriva de duas coisas. A primeira é o que aconteceu e acontece com o proletariado francês; nosso vocal, o Milouze, escreveu muitas letras baseado na batalha que os trabalhadores enfrentam dia após dia. A segunda faz mensão à questão nuclear; somos praticamente o país que mais utiliza energia nuclear no mundo, e nisso muitos dos meus pensamentos giram em torno da questão ambiental e do impacto que a produção desse tipo de energia tem na nossa vida. Dá pra perceber isso em letras como “Supraliminaire” ou “Le Prophète de Malheur”. Já em “Le Chant Des Sirènes”, “La Bourse Ou La Vie”, “Que Le Veilleur Gagne” estão presentes os temas do trabalho, por exemplo. A França, enquanto Estado, enfrentou acontecimentos alarmantes nos últimos tempos no que tange ao racismo e xenofobia. Houve reflexos na cena hardcore/punk? Como isso tudo afeta vocês? Certamente debatemos esses temas dentro do rolê. Mas a discussão sempre acaba chegando à mesma conclusão: nossos políticos não nos representam uma vez que o índice de abstenção eleitoral é significativo. E nisso a mídia parece fazer questão de enfatizar questões de raça e isso faz com que as pessoas prestem atenção no que diz o Front National, organização de direita. Na cena pensamos que o jogo das eleições não é justo. Os shows são muito importantes para disseminarmos nossas ideias. Contudo, eu vivo fora dos grandes centros urbanos e vejo que as ideias de direita estão cada vez mais fortes por aqui. Seria simples se as pessoas conseguissem ver a analisar com calma, mas aí entramos numa questão de educação e diálogo, que vai diretamente contra o que o Estado e a mídia pregam diariamente.

Essa é a mágica quando se faz esse tipo de música. O DIY te abre espaços e faz com que sua música atinja pessoas em todo o mundo. Fomos tomando consciência dessa realidade conforme recebíamos demanda de shows em países como Japão, Vietnam, Rússia, Canadá, Austrália, México... Isso nos deita muito contentes. Recebemos demanda da América do Sul também, e temos muita vontade de fazer uma tour mais longa por aí. Como as novas tecnologias têm influenciado a cena punk/hardcore francesa em termos de gravação e distribuição? Olha, as vantagens são muitas, facilitam e fortalecem o DIY. Hoje em dia podemos fazer praticamente tudo nós mesmos e lançar um disco está cada vez mais fácil. Mas como somos mais velhos —38, 40 anos— acabamos fazendo tudo à maneira antiga, indo pro estúdio e tudo isso. Mas não teríamos problema em fazer as coisas em casa também, entende? Mas a desvantagem disso existe também: as bandas gravam e lançam coisas sem ter maturidade para tal e se metem em tours com um material relativamente pobres, com shows meio miados e algum nível de frustração. E o que vocês estão planejando em termos de tours, discos ou qualquer outra coisa? Ah, 2015 tem sido bem devagar. Na real está sendo difícil conciliar a banda com nossos empregos e, para complicar ainda mais, vivemos longe um do outro. Mas a ideia é não fazer tour por agora e focar na composição do disco novo, que como disse ali em cima deve sair no outono ou começo do inverno. Depois disso pensamos em voltar para o Japão e ver se conseguimos ir para a América, tanto do Norte quanto do Sul. Alguma banda francesa para recomendar? Certamente! Temos amigos que fazem boa música:

Pneu, Jessica 93, Buche, Mandale, Severe Gouine, Verbal Razors, Hashcut, Mental Distress, Baton Rouge. Quer acrescentar alguma coisa?

A presença do emo francês é muito forte em países como o Chile, por exemplo. Vocês imaginavam que sua música atingiria pessoas em lugares tão distantes?

XV

Nós é que agradecemos! Porque nossa música sobrevive graças a iniciativas como essa!

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