7 | BUMBO novembro 2020
sempre provocativa, estrutura que naturalmente preserva a a sonoridade detalhada nos antecessores Rainha da Ciranda (1977), Eu Sou Lia (2000) e Ciranda de Ritmos (2010), porém, se permite avançar criativamente. E isso se reflete logo na abertura do disco, na já citada Falta de Silêncio. Pouco menos de três minutos em que sintetizadores de DJ Tudo e Leo D se espalham em meio a inserções eletrônicas assinadas por Benke Teixeira (Boogarins) e DJ Dolores. Uma propositada perversão do óbvio que se completa pelo lirismo místico de Alessanda Leão, artista que lançou há poucos meses o também delicado Macumbas e Catimbós (2019). Um preparativo para o som eletro-acústico que ganha forma na crescente Meu São Jorge, canção que, mais uma vez, mostra a força da pernambucana em estúdio, como se pensada para as apresentações ao vivo. Partindo dessa estrutura, Lia revela desde criações marcadas pelo forte aspecto folclórico, caso Peixe Mulher, música composta por Ava Rocha, até faixas marcadas por memórias da infância e instantes de
doce nostalgia, marca de Desde Menina, composição escrita por Chico César especialmente para a cantora. Instantes em que a artista pernambucana convida o ouvinte a mergulhar em um universo de referências particulares, porém, sempre tingidas pela novidade, vide o uso destacado das guitarras, texturas e demais componentes antes contidos nos antigos trabalhos da cantora, vide a base cíclica, quase psicodélica que toma conta de Lua Ciranda. Outro elemento curioso na execução do trabalho está no romantismo empoeirado
que surge em momentos estratégicos da obra. São faixas como a inusitada releitura de O Relógio, música originalmente lançada na década de 1950 pelo cantor e compositor mexicano Roberto Cantoral, porém, eternizada por Altemar Dutra. O mesmo direcionamento melancólico acaba se refletindo mais à frente, em Companheiro Solidão, um bolero tropical que parece valorizar a presença de cada instrumentista do trabalho, vide o baixo suculento de Yuri Queiroga. o baixo suculento de Yuri Queiroga. Foto Celso Hartkopf