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[Literatura I]

LITERATURA SUMÁRIO

Unidade 1 - LITERATURA 1. A arte da literatura ................................................................................................................................ 03 2. Funções da Linguagem ..........................................................................................................................06 3. Figuras de Linguagem ............................................................................................................................10 4. Gêneros Literários .................................................................................................................................15 5. Quinhentismo ..........................................................................................................................................24 6. Barroco . .................................................................................................................................................28 7. Arcadismo ..............................................................................................................................................36 8. Romantismo . .........................................................................................................................................43 9. Realismo .................................................................................................................................................53 10. Naturalismo ..........................................................................................................................................56 11. Parnasianismo .....................................................................................................................................60 12. Simbolismo ..........................................................................................................................................67

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UNIDADE 1 LITERATURA, CULTURA E ARTE CONCEITO DE LITERATURA “A Literatura, em sentido restrito, significa a arte que se constrói com palavras. Por mais que o texto literário assemelhe-se a outras formas de textos escritos, apresenta certa especificidade, capaz de causar um efeito de estranhamento decorrente de sua elaboração peculiar. Além disso, a Literatura mantém com a realidade uma relação que tanto a reflete como a refrata. Por mais que não vise a uma função pragmática, o conhecimento literário é um conhecimento tão necessário quanto os demais, no sentido de que a Literatura ocupa-se dos seres humanos e de sua relação com o mundo, tornando-os mais compreensivos e abertos para a natureza, [e] a sociedade” (Antônio Cândido)

1. A arte da literatura Como acontece com as outras artes, todas as sociedades, todas as culturas, em todos os tempos e lugares, produziram literatura em sua forma oral ou escrita. Por quê? Que atributos específicos teria a literatura para se mostrar tão importante para homens e mulheres desde sempre? Há muitas respostas possíveis para essa pergunta, mas o fato de ter sido produzida por culturas e em tempos tão diferentes nos permite concluir que a literatura cumpre funções muito importantes nas sociedades humanas.

1.1. FUNÇÕES DA LITERATURA A LITERATURA NOS FAZ SONHAR Os textos têm o poder de transportar o leitor, provocar alegria ou tristeza, divertir ou emocionar. Em outras palavras, a literatura nos permite “viver” outras vidas, sentir outras emoções e sensações. Nesse sentido, a literatura nos oferece um descanso dos problemas cotidianos, quando nos descortina o espaço do sonho e da fantasia. Leia o trecho do romance Iracema, de José de Alencar. “Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.(...)”

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A LITERATURA PROVOCA NOSSA REFLEXÃO A literatura não tem poder de modificar a realidade, mas certamente é capaz de fazer com que as pessoas reavaliem a própria vida e mudem de comportamento. Se esse efeito é alcançado, o texto literário desempenha um importante papel transformador, ainda que de modo indireto. Podemos dizer que a literatura pode provocar a reflexão e responder, por meio de construções simbólicas, a perguntas que inquietam os seres humanos. O trecho abaixo, retirado do conto Aqueles dois de Caio Fernando Abreu, nos faz refletir sobre o preconceito com as relações homossexuais. (...) E tão próximos que um podia sentir o cheiro do outro: o de Raul, flor murcha, gaveta fechada; o de Saul, colônia de barba, talco. Durou muito tempo. A mão de Saul tocava a barba de Raul, que passava os dedos pelos caracóis miúdos do cabelo do outro. Não diziam nada. No silêncio era possível ouvir uma torneira pingando longe. Tanto tempo durou que, quando Saul levou a mão ao cinzeiro, o cigarro era apenas uma longa cinza que ele esmagou sem compreender. (...)

A LITERATURA DIVERTE A experiência apaixonante de passar horas lendo um bom livro é familiar a muitas pessoas em todo o mundo. Ao acompanhar as investigações de um detetive com uma mente lógica como a de Sherlock Holmes, por exemplo, ou as análises psicológicas do investigador Poirot, o leitor se vê preso às páginas do livro, ansioso para chegar ao desfecho, geralmente inesperado. E quem já não deu boas risadas sozinho com as trapalhadas cotidianas que tantos cronistas registram, como se dissessem que temos também de aprender a rir de nós mesmos? Os escritores tem essa habilidade de trazer entretenimento para seus leitores. Observe, no poema abaixo, de Paulo Leminski, um possível debate bem humorado sobre o ensino de língua portuguesa e sobre a importância (ou não) das regras gramaticais para o aluno.

O assassino era o escriba Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente. Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida, regular como um paradigma da 1ª conjunção. Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto. Casou com uma regência. Foi infeliz. Era possessivo como um pronome. E ela era bitransitiva. Tentou ir para os EUA. Não deu. Acharam um artigo indefinido na sua bagagem. A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva o tempo todo. Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.

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A LITERATURA AJUDA A CONSTRUIR NOSSA IDENTIDADE Nos textos literários, de certo modo entramos em contato com a nossa história, o que nos da a chance de compreender melhor nosso tempo, nossa trajetória como nação. O interessante, porém, é que essa “história” coletiva e recriada por meio das histórias individuais, das inúmeras personagens presentes nos textos que lemos, ou pelos poemas que nos tocam de alguma maneira. Como leitores, interagimos com o que lemos. Somos tocados pelas experiências de leituras que, muitas vezes, evocam vivências pessoais e nos ajudam a refletir sobre nossa identidade individual e também a construí-la. Érico Veríssimo na trilogia O tempo e o vento, foi responsável por um dos processos de reflexão e construção da identidade do gaúcho. Leia o trecho do capítulo Um certo capitão Rodrigo, do romance O continente I. Leia: “Toda a gente tinha achado estranha amaneira como o capitão Rodrigo Cambará entrara na vida de Santa Fé. Um dia chegou a cavalo, vindo ninguém sabia de onde, com o chapéu de barbicacho puxado para a nuca, a bela cabeça de macho altivamente erguida, e aquele seu olhar de gavião que irritava e ao mesmo tempo fascinava as pessoas. Devia andar lá pelo meio da casa dos trinta, montava um alazão, trazia bombachas claras, botas com chilenas de prata e o busto musculoso apertado num dólmã militar azul, com gola vermelha e botões de metal. Tinha um violão a tiracolo;sua espada, apresilhada aos arreios,rebrilhava ao sol daquela tarde de outubro de 1828 e o lenço encarnado que trazia ao pescoço esvoaçava no ar como uma bandeira. Apeou na frente da venda do Nicolau, amarrou o alazão no tronco dum cinamomo, entrou arrastando as esporas, batendo na coxa direita com o rebenque, e foi logo gritando, assim com ar de velho conhecido:- Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho!(...)” Por meio da convivência com poemas e histórias que traçam tantos e diversos destinos, a literatura acaba por nos oferecer possibilidades de resposta a indagações comuns a todos os seres humanos. Na literatura procuramos encontrar, em alguma de suas manifestações, uma resposta que dê sentido a nossa existência, que nos ajude a compreender um pouco mais de nós mesmos e de nossa vida. Trilhar esses caminhos da literatura nos põe em contato direto com a nossa humanidade e ajuda a revelar um pouco de nós a nós mesmos. Lei o poema de Mário Quintana abaixo. ESPERANÇA Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano Vive uma louca chamada Esperança E ela pensa que quando todas as sirenas Todas as buzinas Todos os reco-recos tocarem Atira-se E — ó delicioso vôo! Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada, Outra vez criança... E em torno dela indagará o povo: — Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá (É preciso dizer-lhes tudo de novo!) Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam: — O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

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A LITERATURA DENUNCIA Em diferentes momentos da história humana, a literatura teve um papel fundamental: o de denunciar a realidade, sobretudo quando setores da humanidade tentam oculta-lo. Foi o que ocorreu, por exemplo, durante o período da ditadura militar no Brasil. Naquele momento, inúmeros escritores arriscaram a própria vida para denunciar, em suas obras, a violência que tornava a existência uma aventura arriscada. A leitura dessas obras, mesmo que vivamos numa sociedade democrática e livre, nos ensina a valorizar nossos direitos individuais, nos ajuda a desenvolver uma melhor consciência política e social. Em resumo, permite que olhemos para a nossa história e, conhecendo algumas de suas passagens mais aterradoras, busquemos construir um futuro melhor. Mas não é apenas um momento de opressão política que a literatura denuncia a realidade. Graciliano Ramos, por exemplo, ao contar a saga de Fabiano e sua família, em Vidas Secas, denuncia a triste realidade de uma parte do Nordeste brasileiro, até hoje condenada à seca e à falta de perspectivas. Leia um trecho. “(...) A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O voo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de bichos moribundos. - Anda, excomungado. O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário - e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.(..)”

Retirantes (1944), de Candido Portinari FONTE: http://www.doispensamentos.com.br/site/?p=61

2. FUNÇÕES DA LINGUAGEM No processo de comunicação, os interlocutores têm sempre uma intenção ou objetivo, por isso a linguagem modifica-se de acordo com a situação. A linguagem verbal é constituída por diferentes elementos com determinadas funções. Existem seis elementos no ato de comunicação: o locutor ou emissor [a pessoa que fala], o interlocutor ou receptor [a pessoa com quem se fala], o canal ou contato [o som e o ar, o meio físico], o referente ou contexto [o assunto], o código [a língua] e a mensagem ou texto [a conversa]. A cada um desses componentes corresponde uma das seis funções de linguagem, respectivamente: emotiva, conativa, fática, referencial, metalinguística e poética. Funções da linguagem: emotiva [locutor], conativa [interlocutor], fática [canal], referencial [contexto], metalinguística [a própria língua] e poética [texto].

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2.1. FUNÇÃO EMOTIVA OU EXPRESSIVA Contextualização Veja. SE EU MORRESSE AMANHÃ! Que sol! que céu azul! que doce n'alva Acorda a natureza mais louça! Não me batera tanto amor no peito, Se eu morresse amanhã!

Se eu morresse amanhã, viria ao menos Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora A ânsia de glória, o dolorido afã... A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro! Que aurora de porvir e que manhã! Eu pendera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã!

O eu Iírico do poema de Álvares de Azevedo expressa suas emoções, suas opiniões e seu estado de espírito. Por isso, os verbos e pronomes estão na lª pessoa: Se eu morresse amanhã! Fechar meus olhos minha triste irmã, Minha mãe de saudades morreria, Quanta glória pressinto em meu futuro! Eu pendera chorando..., Não me batera tanto amor no peito,. Conceituação Na função emotiva ou expressiva, a ênfase é dada no locutor [ou emissor] da mensagem. A linguagem é subjetiva, centrada na primeira pessoa verbal, É comum, nesse tipo de função, o uso de reticências, exclamações e interjeições, pontuações que expressam emotividade.

2.2. FUNÇÃO CONATIVA OU APELATIVA Contextualização Leia a campanha.

Observe que a principal intenção do emissor é convencer os interlocutores. A linguagem persuasiva da publicidade destaca uma campanha organizada pela prefeitura de Rio do Sul em Santa Catarina: adote Conceituação A função conativa ou apelativa ocorre quando o foco está no interlocutor [ou receptor], a quem se deseja influenciar pela mensagem. Em geral, quando predomina a função conativa, o pronome pessoal desloca-se do eu para você, ocorrendo o emprego de verbos no modo imperativo, como no texto do anúncio.

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2.3. FUNÇÃO FÁTICA OU DE CONTATO Contextualização Leia o texto de Dalton Trevisan: Criança O pai telefona para casa: — Alô? Reconhece o silêncio da tipinha. Você liga? Quem fala é você. — Alô, fofinha. Nem um som. Criança não é, para ser chamada fofinha. Cinco nos, já viu. — Oi, filha. Sabe que eu te amo? — Eu também. ”Puxa, ela nunca disse que me amava”. — Também o quê? — Eu também amo eu. Percebe-se no texto uma tentativa do pai de falar com a filha, que é marcada pelas expressões: Alô?, Alô fofinha? Conceituação Na função fática, o objetivo do emissor é estabelecer a comunicação , manter aberto o canal ou fechar o canal. Essa função ocorre em situações do dia-a-dia, sempre que iniciamos contato verbal: Tudo bem?, Como vai?, Boa tarde!, Está frio, não?, Pronto?, Você está me entendendo? Fui claro?,Até logo, tchau.

2.4. FUNÇÃO REFERENCIAL OU DENOTATIVA Contextualização Leia este texto VANT - Veículo aéreo não tripulado Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Veículo aéreo não tripulado (VANT) ou drone (zangão, em inglês) é todo e qualquer tipo de aeronave que não necessita de pilotos embarcados para ser guiada. Esses aviões são controlados a distância por meios eletrônicos e computacionais, sob a supervisão e governo humanos, ou sem a sua intervenção, por meio de Controladores Lógicos Programáveis (CLP).

Conceituação A função referencial ocorre quando se põe ênfase no referente (ou contexto), ou seja, quando há uma informação objetiva a ser transmitida. Normalmente se emprega a terceira pessoa verbal, pois se fala de algo ou de alguém: não necessita de piloto... É comum em textos jornalísticos e científicos.

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2.5. FUNÇÃO METALINGUÍSTICA Contextualização Observe.

Na tira, o quadrinista utiliza o ato de desenhar para tratar sobre desenho. O humor da tira reside no fato do artística retratar sua própria arte. registrado no segundo quadrinho pela incapacidade de ler o que a personagem falou, pois passou o limite do quadrinho. Conceituação O que se destaca na função metalinguística é o código, que é utilizado para explicar a si mesmo. Ocorre metalinguagem quando a intenção do texto (linguístico ou visual) é explicar ou pedir explicação sobre algum elemento [ou todos eles] que o constitui (ou constituem). Palavras, nas aulas e verbetes de dicionários, explicam outras palavras; imagens, nos quadrinhos, podem explicar palavras (linguagem mista); filmes podem explicar o cinema; um poema pode explicar a poesia de um poeta. Nesses casos, há metalinguagem. Veja o exemplo: Emergência Mário Quintana Quem faz um poema abre uma janela. Respira, tu que estás numa cela abafada, esse ar que entra por ela. Por isso é que os poemas têm ritmo - para que possas profundamente respirar. Quem faz um poema salva um afogado.

2.6. FUNÇÃO POÉTICA Contextualização Leia este poema de Augusto de Campos.

Observe a preocupação do poeta com a organização do texto. Houve uma seleção e combinação das palavras, de forma especial e particular. O objetivo do emissor não está na informação, mas no trabalho com a construção da mensagem. Por isso, a manipulação dos substantivos lixo e luxo dá possibilidades de diversificação e nuances semânticas que chamam a atenção para o sentido da mensagem. Conceituação Na função poética, o objetivo do emissor é o trabalho com a construção da mensagem.A função poética pode ser explorada em verso e em prosa, mas também em anúncios publicitários e na linguagem cotidiana. ATENÇÃO! Pode haver mais de uma função num mesmo texto, mas, em geral, uma determinada função é predominante e distingue o tipo de mensagem.

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3. FIGURAS DE LINGUAGEM As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um recurso linguístico para expressar de formas diferentes experiências comuns, conferindo originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso. As figuras revelam muito da sensibilidade de quem as produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor. A palavra empregada em sentido figurado, não-denotativo, passa a pertencer a outro campo de significação, mais amplo e criativo. As figuras de linguagem classificam-se em: A) Figuras de palavra; B) Figuras de harmonia C) Figuras de pensamento; D) Figuras de construção ou sintaxe.

3.1. FIGURAS DE PALAVRA As figuras de palavra consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na comunicação. São figuras de palavra: comparação, metáfora, metonímia, catacrese, sinestesia E perífrase (antonomásia)

COMPARAÇÃO Ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos — feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem — e alguns verbos — parecer, assemelhar-se e outros. EXEMPLO: "As solteironas, os longos vestidos negros fechados no pescoço, negros xales nos ombros, pareciam aves noturnas paradas..."(Jorge Amado)

METÁFORA Ocorre metáfora quando um termo substitui outro através de uma relação de semelhança resultante da subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está expresso, mas subentendido. EXEMPLO: “Em praias de indiferença navega meu coração.” (Cecília Meireles)

METONÍMIA Ocorre metonímia quando há substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação mútua. Tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva, real e de continuidade realizando-se de inúmeros modos:

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[Literatura I] EXEMPLOS:  o continente pelo conteúdo e vice-versa: Antes de sair, tomamos um cálice1 de licor. 1. O conteúdo de um cálice.  a causa pelo efeito e vice-versa: "E assim o operário ia Com suor e com cimento2 Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento." (Vinícius de Morais) 2. Com trabalho.  o autor pela obra: Ela aprecia ler Jorge Amado3 . 3. A obra de Jorge Amado.

CATACRESE A catacrese é um tipo especial de metáfora, "é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. É a metáfora tornada hábito linguístico, já fora do âmbito estilístico" (Othon M. Garcia). É a utilização de um termo fora de seu sentido próprio por não haver uma palavra apropriada para expressar o que se pretende. EXEMPLO: Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos..." (Graciliano Ramos, Vidas Secas.)

SINESTESIA A sinestesia consiste na fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas). EXEMPLO: "Meu Deus! Como é sublime um canto ardente.” (Olavo Bilac)

PERÍFRASE Ocorre perífrase quando se cria um torneio de palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou situação que não se quer nomear. EXEMPLO: "Cidade maravilhosa Cheia de encantos mil Cidade maravilhosa Coração do meu Brasil." (André Filho)

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3.2.FIGURAS DE HARMONIA Chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou» ainda, quando se procura "imitar" sons produzidos por coisas ou seres. As figuras de harmonia ou de som são: aliteração , assonância e onomatopeia

ALITERAÇÃO Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares. EXEMPLO: "Quando essa preta começa a tratar do cabelo é de se olhar toda a trama da trança a transa do cabelo." (Caetano Veloso)

ASSONÂNCIA Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema. EXEMPLO: "Sou Ana, da cama, da cana, fulana, bacana, sou Ana de Amsterdam." (Chico Buarque)

ONOMATOPEIA Onomatopeia é um vocábulo de grande valor expressivo. Quando se trata de emissões sonoras humanas (espanto, alegria, dor etc), os sons onomatopeicos obedecem aos modelos fonológicos de uma língua, embora atinjam, de certa forma, a universalidade, já que estão sempre associados às imagens. EXEMPLO:

FONTE: http://veredasdalingua.blogspot.com.br/2011/09/processos-de-formacao-de-palavras-ii.html

3.3. FIGURAS DE PENSAMENTO As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico. São figuras de pensamento: antítese, paradoxo, eufemismo, hipérbole, ironia e prosopopeia.

ANTÍTESE Ocorre antítese quando há aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos. EXEMPLO: "Amigos e inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal." (Rui Barbosa)

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PARADOXO Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas também na de ideias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. Oxímoro é outra designação para paradoxo. EXEMPLOS: Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? (Carlos Drummond de Andrade)

EUFEMISMO Ocorre eufemismo quando uma palavra ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante. EXEMPLO: “Quando a Indesejada das gentes chegar Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, A mesa posta, Com cada coisa em seu lugar”. (Manuel Bandeira)

HIPÉRBOLE Ocorre hipérbole quando há exagero de uma ideia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de impacto. EXEMPLO: "Rios te correrão dos olhos, se chorares!" (Olavo Bilac)

IRONIA Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica. EXEMPLO: “Moça linda bem tratada, Três séculos de família, Burra como uma porta: Um amor.” (Mário de Andrade)

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PROSOPOPEIA Ocorre. prosopopeia (ou animização ou personificação) quando se atribui movimento, ação, fala, sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a seres inanimados ou imaginários. Também a atribuição de características humanas a seres animados constitui prosopopeia o que é comum nas fábulas e nos apólogos. EXEMPLO: "O peixinho (...) silencioso e levemente melancólico..." (Mário Quintana)

3.4. FIGURAS DE CONSTRUÇÃO OU SINTAXE As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões. Portanto, são figuras de construção ou sintaxe: polissíndeto, zeugma, elipse e pleonasmo

POLISSÍNDETO Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção e). É um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos. EXEMPLO: "E saber, e crescer, e ser, e haver E perder, e sofrer, e ter horror:" (Vinícius de Morais)

ZEUGMA Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição. EXEMPLO: "Foi saqueada a vila, e assassinados os partidários dos Filipes."1 (Camilo Castelo Branco) 1. Zeugma do verbo: "e foram assassinados...".

ELIPSE Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e dinamismo. EXEMPLO: "Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas."1 (Rubem Braga) 1. Elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de sandálias.,.).

PLEONASMO Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma ideia, isto é, redundância de significado.

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PLEONASMO LITERÁRIO É o uso de palavras redundantes para reforçar uma ideia, tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem. EXEMPLO: "Morrerás morte vil na mão de um forte." (Gonçalves Dias)

PLEONASMO VICIOSO É o desdobramento de ideias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas. Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma ideia, sendo apenas fruto do desconhecimento do sentido real das palavras. EXEMPLOS: subir para cima, entrar para dentro, repetir de novo, ouvir com os ouvidos, hemorragia de sangue, principal protagonista

4. GÊNEROS LITERÁRIOS As obras literárias são classificadas em vários grupos que correspondem a sua estrutura de composição e à forma como se apresentam, revelando a atitude do escritor perante a realidade artística que está criando. São os chamados gêneros literários. O grego Aristóteles, no século V. a.C., estabeleceu uma divisão entre os gêneros que persiste até hoje:  Gênero épico (ou épica) ou Gênero Narrativo  Gênero lírico (ou lírica)  Gênero dramático (ou dramática) A grosso modo, diríamos que quando um eu registra sua subjetividade e emoções, trata-se da lírica; quando nos é contada alguma história, trata-se da épica; mas se atores, através de gestos e falas, representam uma ação no palco, trata-se da dramática. Esquecida durante muitos séculos, a divisão estabelecida por Aristóteles foi retomada durante o Renascimento e transformada em códigos rígidos e regras invioláveis. Séculos depois, os românticos revisaram e até mesmo questionaram estes conceitos. No século XX, chegou-se a propor a abolição das fronteiras entre eles e, inclusive a declará-los inválidos ou inúteis.

4.1.GÊNERO ÉPICO OU GÊNERO NARRATIVO O gênero épico (ou épica, ou gênero narrativo, ou simplesmente narrativa) é provavelmente a mais antiga das manifestações literárias. Ele surgiu quando os homens primitivos sentiram necessidade de relatar suas experiências, centradas na dura batalha de sobrevida num mundo caótico, hostil e ameaçador. Podemos imaginar os demais membros da tribo, em torno de uma roda de fogo, ouvindo estes narradores que talvez mais gesticulassem e emitissem grunhidos do que articulassem verbalmente as suas histórias. Podemos conceber também que alguns desses ancestrais dos grandes escritores tivessem maior capacidade para contar suas aventuras do que seus companheiros. Talvez selecionassem melhor os fatos interessantes, concatenassem de maneira mais ordenada os acontecimentos ou conseguissem descrever com maior realismo os animais ferozes que haviam caçado.

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[Literatura I] É possível também que – em função da resposta do auditório – estes contadores primitivos de histórias acabassem aumentando o número e a intensidade de suas façanhas. E é de se supor, por fim, que em busca do aplauso do clã, não se restringissem apenas às situações vividas, mas acrescentassem pormenores inexistentes e inventassem ações heroicas. Ou seja, é bem provável que produzissem ficção. Estava nascendo o gênero épico, a narrativa.

GÊNERO ÉPICO - EPOPEIA CLÁSSICA A epopeia clássica- termo aplicado essencialmente às obras de Homero – é estruturada em forma de poema com métrica, mas sem rima. Isso facilitava a sua memorização pelos menestréis que, acompanhados por uma lira, recitavam diante do público, os cantos (ou partes) das obras. Sabe-se que existiram muitos dessas epopeias, mas, à exceção da Ilíada e da Odisséia – conservadas na íntegra – restam delas poucos fragmentos. E os que restaram são nitidamente inferiores diante daquelas obras.

OS POEMAS HOMÉRICOS Na formação da cultura grega sempre houve uma tradição oral e anônima: velhos narradores repassavam aos jovens as histórias sagradas do passado. Com isso foi se criando um expressivo conjunto de mitos (ou lendas) que explicavam como se formara o mundo, como se instaurara a ordem cósmica, e qual o papel dos deuses e dos heróis nesta fundação da realidade. Esta mitologia – inventada por poetas e artistas – tornou-se um processo tão denso e cheio de significados para a sociedade grega que, durante vários séculos, parte considerável da literatura e das artes plásticas teve como tema a apresentação e a interpretação dos referidos mitos – os quais, não raro, estavam impregnados dos valores aristocráticos dominantes como o militarismo, o sentido de honra, as clãs familiares, etc. Os poemas homéricos também se desenvolveram em torno de mitos e ideias então correntes. Neles, deuses do Olimpo e heróis humanos jogam-se em guerras e aventuras de ação trepidantes cujo desenrolar e desfecho já eram conhecidos pelo público por fazerem parte da memória coletiva grega. A função do poeta épico – ou do menestrel que recitava o texto – centrava-se, pois, na elaboração coerente e na forma clara e interessante com que apresentavam os episódios. Daí a necessária invocação das musas antes de iniciar-se o recital ou a escrita do texto. Essas nove divindades femininas eram as protetoras das artes e delas vinha a inspiração dos poetas. Só as palavras inspiradoras destas divindades asseguravam a veracidade e a importância de uma obra de arte. O artista era apenas o instrumento da verdade eterna expressa pela arte. No começo da Ilíada, Homero invoca a deusa que vai lhe transmitir os acontecimentos desencadeados pela fúria do guerreiro Aquiles: Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, filho de Peleu, Funesta, que inumeráveis dores aos Aqueus causou e muitas valorosas almas de heróis ao Hades Lançou, e a eles tornou presa de cães e de todas as aves de rapina; cumpriu-se o desígnio de Zeus, o qual desde o princípio separou em discórdia o filho de Atreu, senhor de guerreiros, e o divino Aquiles

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GÊNERO NARRATIVO Na concepção moderna surge como variante do gênero épico, o GÊNERO NARRATIVO em que há narrador, personagens e uma sequência de fatos. Abrange várias modalidades de textos: ROMANCE: apresenta uma narrativa longa, em prosa, estruturada em capítulos. Envolve grande número de personagens e histórias paralelas ao conflito principal, podendo abranger vários espaços simultaneamente, abordar o tempo presente e o passado. NOVELA: é uma narrativa menos abrangente que o romance, composta de uma série de unidades encadeadas, mas articuladas em torno de uma personagem central. A narrativa é mais direta, sem rodeios. CONTO: estruturado em prosa, o conto é uma narrativa que se desenvolve em torno de um conflito vivido, geralmente, por uma só personagem. É uma história curta que concentra a ação em um único ponto de interesse. CRÔNICA: narrativa curta, em prosa, limita-se a registrar ou comentar um incidente, em geral fatos comuns, assuntos relativos à vida cotidiana. A linguagem é simples, dinâmica e normalmente bem-humorada. FÁBULA: é uma narrativa figurada, na qual as personagens são animais que ganham caracteristicas humanas. Sempre contém uma moral por sustentação, constatada no final da história. APÓLOGO: bem parecido com a fábula em sua estrutura, o apólogo é um tipo de narrativa que personifica os seres inanimados (objetos), transformando-os em personagens da história.

OS ELEMENTOS ESSENCIAIS DA NARRATIVA Desde os seus primórdios – quando se constituiu – a estrutura épica se organizou sempre em torno dos mesmos elementos:

NARRADOR É aquele que conta a história a um público, formado, antes da invenção da escrita, por ouvintes e, mais tarde, por leitores. Pode ser tanto um relato de suas próprias vivências (narração em primeira pessoa), quanto um relato de ações praticadas por outros indivíduos (narração em terceira pessoa). Observe os exemplos:

- NARRADOR EM 1ª PESSOA Quando o narrador conta sua própria história. Observe o trecho do romance Angústia, de Graciliano Ramos: “Levantei-me há cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios.”

- NARRADOR ONISCIENTE O narrador em 3ª pessoa é um observador dos fatos, não participa da história. Chamamos de ONISCIENTE o narrador que conhece o mundo interior dos personagens (sabe tudo). Veja o exemplo no trecho do conto Pai contra mãe, de Machado de Assis:

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[Literatura I] “Cândido Neves, em família, Candinho, é a pessoa a quem se liga a história de uma fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um defeito grave esse homem, não agüentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; é o que ele chamava caiporismo.”

- NARRADOR PERSONAGEM A narrativa é em primeira pessoa, é uma personagem da história. Observe o exemplo no trecho do conto “Os Cabelos da China” do livro “Contos gauchescos” de Simões Lopes Neto, que tem como narrador Blau Nunes, que conta a história de Juca Picumã e sua filha Rosa: “Quem me ensinou a courear uma égua, a preceito, estaquear o couro, cortar, lonquear, amaciar de mordaça, o quanto, quanto...; e depois tirar os tentos, desde os mais largos até os fininhos, como cerda de porco, e menos, quem me ensinou a trançar, foi um tal Juca Picumã, um chiru já madurázio, e que tinha mãos de anjo para trabalhos de guasqueiro, desde fazer um sovéu campeiro até o mais fino preparo para um recau de luxo, mestraço, que era, em armar qualquer roseta, bombas, botões e tranças de mil feitios. Este índio Juca era homem de passar uma noite inteira comendo carne e mateando, contanto que estivesse acoc'rado em cima quase dos tições, curtindo-se na fumaça quente... Era até por causa desta catinga que chamavam-lhe – picumã.”

HISTÓRIA É a sucessão de fatos (aventuras, conflitos) organizados de forma coerente e lógica. É chamada também de enredo, argumento, urdidura, intriga ou trama.

PERSONAGEM São os seres, em geral imaginários, que protagonizam as ações do enredo. Denomina-se PROTAGONISTA a personagem principal e as demais personagens são chamadas SECUNDÁRIAS.

TEMPO É o período que assinala o percurso cronológico que vai do início ao fim do enredo. Quase todas as narrativas apresentam os eventos como já ocorridos, como algo pertencente ao passado, o que permite ao autor organizar com maior facilidade a estrutura temporal de sua obra. Assim, ele pode concentrar ou estender as ações, em intervalos maiores ou menores de tempo, de acordo com a necessidade de persuasão, a dramaticidade e a intensidade do enredo. Pode ser:

- TEMPO CRONOLÓGICO É tempo sequencial, linear (passado, presente, futuro), marcado por horas, datas ou por outros índices exteriores. “Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras” (A cartomante, deMachado e Assis)

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[Literatura I]

- TEMPO PSICOLÓGICO É o tempo que se passa no consciente das personagens: recordações, sonhos, delírios. “Quando chegou em casa, atirou-se de bruços na cama e ficou de olhos escancarados, fundidos na escuridão. A voz tremida da velha parecia vir de dentro do travesseiro, uma voz sem corpo, metida em chinelas de lã: "Que seta? Não estou vendo nenhuma seta..." Misturando-se à voz, veio vindo o murmurejo das traças em meio de risadinhas. O algodão abafava as risadas que se entrelaçaram numa rede esverdinhada, compacta, apertando-se num tecido com manchas que escorreram até o limite da tarja. Viu-se enredado nos fios e quis fugir, mas a tarja o aprisionou nos seus braços. No fundo, lá no fundo do fosso, podia distinguir as serpentes enleadas num nó verde-negro. Apalpou o queixo. "Sou o caçador?" Mas ao invés da barba encontrou a viscosidade do sangue. Acordou com o próprio grito que se estendeu dentro da madrugada. Enxugou o rosto molhado de suor.” (A caçada de Lygia Fagundes Telles)

ESPAÇO É o ambiente onde os personagens se movimentam. Pode ser apresentado de maneira minuciosa ou apenas sugerido.

- ESPAÇO EXTERNO “Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto. Iracema saiu do banho: o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.” (Iracema de José de Alencar)

- ESPAÇO INTERNO “Visitamos o refeitório, adornado de trabalhos a lápis dos alunos, a cozinha de azulejo, o grande pátio interno dos recreios, os dormitórios, a capela... De volta à sala de recepção, adjacente à da entrada lateral e fronteira ao escritório, fui apresentado ao Professor Mânlio da aula superior de primeiras letras, um homem aprumado, de barba toda grisalha e cerrada, pessoa excelente, desconfiando por sistema de todos os meninos.” (O Ateneu de Raul D’Ávila Pompeia)

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4.2. GÊNERO LÍRICO É um certo tipo de texto no qual um eu-lírico (a voz que fala no poema, que nem sempre corresponde à do autor) exprime suas emoções, ideias e impressões ante o mundo exterior. Leia o poema de Fernando Pessoa. Autopsicografia O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama o coração.

PERTENCEM A ESSE GÊNERO: ODE OU HINO: dois nomes que vêm da Grécia e significam canto. Ode é a poesia mais entusiástica, de exaltação. Hino é a poesia destinada a glorificar a pátria ou dar louvores às divindades. BALADA: canta a saudade e o amor. É formada de três oitavas (estrofes de oito versos) e uma quadra (estrofe de quatro versos). HAICAI: poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no início do século XX. Consiste em 17 sílabas poéticas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas. Observe um exemplo de Paulo Leminski. nu como um grego ouço um músico negro e me desagrego

CANTIGA: poesia geralmente dividida em estrofes iguais, destinada a ser cantada. Observe a poesia Cantiga de Manuel Bandeira Nas ondas da praia Nas ondas do mar Quero ser feliz Quero me afogar Nas ondas da praia Quem vem me beijar? Quero a estrela-d'alva Rainha do mar. Quero ser feliz Nas ondas do mar Quero esquecer tudo Quero descansar.

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[Literatura I] ELEGIA: é uma poesia que fala de acontecimentos tristes ou da morte de alguém. Observe a poesia de Fagundes Varela. Cântico do calvário À memória de meu Filho morto a 11 de dezembro de 1863 Eras na vida a pomba predileta Que sobre um mar de angústias conduzia O ramo da esperança. Eras a estrela Que entre as névoas do inverno cintilava Apontando o caminho ao pegureiro. Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, a inspiração, a pátria, O porvir de teu pai! - Ah! no entanto, Pomba, - varou-te a flecha do destino! (...) SONETO: é uma composição poética de forma fixa composta de catorze versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Observe os versos de Vinícius de Morais. Soneto da fidelidade De tudo, meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

O RITMO Ao ouvirmos uma melodia qualquer, percebemos que ela foi composta em determinado ritmo. Um poema também tem ritmo que lhe é dado pela alternância das sílabas tônicas e átonas. Observe o trecho de I-Juca Pirama de Gonçalves Dias. Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.

Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante,

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[Literatura I]

A cultura das ruas No Brasil, a origem do funk e do hip-hop remonta aos anos 1970, quando da proliferação dos chamados “bailes black” nas periferias dos grandes centros urbanos. Embalados pela black music americana, milhares de jovens encontravam nos bailes de final de semana uma alternativa de lazer antes inexistente. Em cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, formavam-se equipes de som que promoviam bailes onde foi se disseminando um estilo que buscava a valorização da cultura negra, tanto na música como nas roupas e nos penteados. No Rio de Janeiro ficou conhecido como “Black Rio”. A indústria fonográfica descobriu o filão e, lançando discos de “equipe” com as músicas de sucesso nos bailes, difundia a moda pelo restante do país. DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo Horizonte: UFMG, 2005

Você sabe o que é RAP? A palavra RAP, nome de um gênero musical muito praticado atualmente, é a sigla para rhythm and poetry, ou seja, ritmo e poesia. É por isso que o RAP tem sempre uma marcação rítmica muito forte. LITERATURA: Tempos, leitores e leitura. Maria Abaurre e Marcela Pontara.

4.3. GÊNERO DRAMÁTICO OU TEATRAL FONTE: https://livroseafins.com/teatro-3d-ha-2-milenios-e-meio

Origem: Assim como os outros gêneros, o dramático - ou simplesmente o teatro – nasceu dos rituais religiosos antigos, na Grécia. O culto a Dioniso, deus da fertilidade e da alegria, e que através do vinho possibilitava ao homem o êxtase divino, era celebrado com canções, procissões, máscaras, tochas. Ou seja, o culto tinha a dimensão de um grande espetáculo público. Sabe-se que certas exibições corais – unindo cantos e danças – ocorriam nestas festas dionisíacas. É possível também que entre a embriaguez e a orgia, alguém personificasse um herói mítico ou um tipo conhecido, divertindo as pessoas com a arte da imitação. No século VI a.C., um grego chamado Tépsis, mascarado e fantasiado, desceu os degraus do altar que montara em sua carroça e gritou: “Eu sou Dioniso”. O povo ateniense escutou-o e tornou-se seu admirador, consciente de que se tratava de uma representação e que o homem que ali gritava não era verdadeiramente o deus dos prazeres, mas alguém que falava palavras imaginárias em nome de uma figura divina. O êxito de Tépsis decorre da verossimilhança daquilo que dizia? Ou da maneira arrebatada e emocionante com que se expressava? Nada sabemos. Aliás, sua história pode ser apenas uma lenda que

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[Literatura I] atravessa milênios, mas serve para ilustrar os primórdios de uma arte que, até hoje, nos seus instantes mais felizes, envolve os espectadores no mesmo arrebatamento dos velhos rituais. ESPÉCIES DE TEXTOS DRAMÁTICOS: TRAGÉDIA: de origem clássica, seu objetivo principal era inspirar medo e compaixão aos que assistiam. COMÉDIA: tem sua origem nas festas em honra ao deus Dionísio; é voltada a provocar riso através de contras tes. Tem por objetivo criticar o comportamento humano através do ridículo. TRAGICOMÉDIA: mistura da tragédia e da comédia, em que ocorrem acontecimentos tristes, mas o desfecho é feliz. DRAMA: espécie de modernização da tragicomédia, em que se alteram momentos de alegria e de dor. FARSA: representação mais leve, em que se ridicularizam costumes ou elementos da sociedade, apelando para a caricatura. AUTO: composição dramática, com argumento geralmente bíblico, burlesco e também alegórico. O auto constitui uma das formas mais populares do antigo teatro português. ELES NÃO USAM BLACK-TIE (GIANFRANCESCO GUARNIERI) Peça em 3 atos e 6 quadros Ato I (Barraco de Romana. Mesa ao centro. Um pequeno fogareiro, cômoda, caixotes servem de bancos. Há apenas uma cadeira. Dois colchões onde dormem Chiquinho e Tião.) QUADRO I MARIA (falando baixo, entre risos) - Pronto, lá se foi o sapato. . . Enterrei o pé na lama. . . TIÃO - Olha só como tá meu linho! (Passa a mão pela roupa, risonho. Para fora) Ei, Juvêncio! Tocando na chuva estraga a viola! (Pausa. O violão afasta-se.) É um maluco... tocando na chuva. MARIA - Fala baixo, tu acorda o pessoá! TIÃO - Acorda, não. MARIA –É melhó a gente ir andando. .. é só um pedacinho. TIÃO - Pra ficá enterrada na lama? Não senhora, vamo esperá estiá. MARIA - D. Romana não vai achá ruim? TIÃO (acendendo um lampião) - Não sei porquê! Maria obedece. Tião senta-se no chão junto dela. A viola continua. Pergunta.

O TEATRO DE RUA Podemos definir teatro de rua como um “Teatro que se produz em locais exteriores às construções tradicionais: rua, praça, mercado, metrô, universidade, etc.” (PAVIS, 1999, p.385). É uma forma teatral que possui suas origens na antiguidade, o teatro nasceu no espaço aberto e desde a Grécia Antiga colocou na cena os problemas da polis e dos cidadãos. Teatro e cidade sempre foram ligados, numa relação amigável ou conflituosa, mas um sempre se serviu ou serviu ao outro durante vários séculos, profissionalizou-se no Renascimento e seguindo a burguesia criouse o espaço teatral restrito ou edifício teatral que acabou sendo uma forma de elitizar o teatro. As motivações para se optar pelo teatro de rua são as mais variadas, desde uma tentativa de levar o teatro às pessoas que não tem acesso ao fazer teatral convencional, até uma forma de teatro político, Amir Haddad fala que: “ao fazer teatro na rua, descobri uma possibilidade nova de platéia que eu não conhecia: a platéia heterogênea.” As pessoas que vêem as peças pela cidade são pessoas das mais diversas faixas etárias, classes sociais e mentalidade, este é um dos fatores interessantes do teatro de rua, ele tem de ser criado de forma que trabalhe com sua variedade de público.(...) https://foradopalco.wordpress.com/teatro-de-rua/

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[Literatura I]

5. QUINHENTISMO 1500 – “A CARTA” DE PERO VAZ DE CAMINHA A EL REI D. MANUEL

5.1.“LITERATURA” INFORMATIVA A expansão ultramarina européia teve, como desdobramento literário, o aparecimento de inúmeros viajantes às terras recém-descobertas ou exploradas da Ásia, da África e da América, cuja missão era a de produzir relatórios, com informações sobre essas terras, detalhando os recursos minerais, a fauna, a flora e os aspectos exóticos e pitorescos de seus habitantes. Esses relatórios, denominados “CRÔNICAS DE VIAGEM”, pertencem mais ao âmbito da História do que ao da Literatura, posto que nos remetem a uma imagem puramente referencial ou denotativa. Assim, é usual excluir-se a literatura informativa do século XVI da periodização da Literatura Brasileira, já que as primeiras produções propriamente literárias só viriam a ocorrer no Séc. XVII, em plena efervescência do estilo Barroco.

“A CARTA” DE PERO VAZ DE CAMINHA A Carta, datada de 1º de Maio de 1500, é um testemunho das primeiras impressões recolhidas pelos portugueses ao chegarem ao novo mundo. Este registro histórico permaneceu inédito durante três séculos, porque não lhe foi atribuída grande importância pelos historiadores da época. Só foi publicada em 1817 no âmbito da obra Corografia Brasileira da autoria do Padre Aires do Casal. Encontra-se neste momento na Torre do Tombo, em Lisboa.

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[Literatura I] De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito fremosa. (...) Nela até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata... porém a terra em si é de muitos bons ares assim frios e temperados como os de Entre-Doiro-e-Minho. Águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que. querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem, porém o melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente e esta deve ser a principal semente que vossa alteza em nela deve lançar.” Assim o escrivão da armada de Cabral conclui sua carta-relatório ao Rei Dom. Manuel, informando sobre o descobrimento do Brasil. Observe a convivência, no mesmo parágrafo, do propósito mercantilista da viagem (a preocupação com o ouro e a prata), com o espírito missionário (a salvação do índio), que oferecia uma justificativa para a exploração econômica. A Carta de Caminha marca, também, o inicio de uma longa tradição, o UFANISMO ou NATIVISMO, que consiste na exaltação (por vezes exagerada) das virtudes da terra e da gente, e que se irá desdobrar em todos os períodos subsequentes. Com relação ao índio, a atitude de Caminha foi de certa simpatia: “Andam nus sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa de cobrir nem mostrar suas vergonhas e estão acerca disso com tanta inocência como têm de mostrar no rosto.(...) Eles porém contudo andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me parece ainda mais que são como as aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo que as mansas, porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão fremosos que não pode mais ser.” Alude também, maliciosamente, à nudez das índias: “... Ali andavam entre eles três ou quatro moças bem novinhas e gentis, com cabelos mui pretos e compridos pelas costas e suas vergonhas tão altas e tão saradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha.” Com a Carta a El-Rei D. Manuel I Sobre o Achamento do Brasil, o seu autor, Pêro Vaz de Caminha, cumpriu a sua função de escrivão pertencente à armada de Pedro Álvares Cabral e deixou um documento histórico de grande importância. O encontro com os nativos

Descobrimento do Brasil, Candido Portinari. FONTE: https://peregrinacultural.wordpress.c om/2009/04/22/22-de-abril-de-1500o-escobrimento-do-brasil/

“Civilizações díspares povoam as terras "descobertas" por portugueses e espanhóis. No lado hispânico, astecas, maias e incas apresentam surpreendentes níveis de organização social e de conhecimento científico e tecnológico. No lado luso, ao contrário, os nativos vivem na Idade da Pedra e costumam praticar o canibalismo. Em regra geral, todos recebem os brancos com hospitalidade e oferendas, sem se dar conta da destruição que os aguarda. Uma destruição que não foi programada, mas que acontecerá tanto pela superioridade bélica dos europeus e as doenças que trazem quanto pela inocência dos indígenas. Entre estes, os que conseguirem escapar das doenças, da escravidão e dos arcabuzes, serão submetidos a um poderoso processo de desaculturação, ou seja, perderão os seus valores culturais e, com isso, a sua identidade histórica, deixando de ser "índios" sem alcançar a condição de homens brancos. A ocidentalização da América será feita, portanto, a ferro e fogo, num processo doloroso para os primitivos donos do território. Do ponto de vista histórico, este processo era dramaticamente inevitável, dada a ânsia imperialista dos países europeus e a incapacidade indígena de autodefesa.” (Sérgius Gonzaga – Curso de Literatura Brasileira)

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[Literatura I]

5.2. LITERATURA JESUÍTICA Os impérios ibéricos contêm em sua expansão uma profunda ambiguidade. Ao espírito capitalistamercantil associam um forte ideal religioso, definido por Darcy Ribeiro como salvacionista. Dezenas de padres acompanham as expedições a fim de converter os gentios. Durante quase todo o período colonial, a educação foi atribuição exclusiva das ordens religiosas, especialmente da Companhia de Jesus. Com efeito, os jesuítas, agentes da Contra-Reforma, instalaram no Brasil sua obra missionária, desde as primeiras décadas de nossa história. Foram fator fundamental na FONTE: História do Brasil para Principiantes de Carlos Eduardo Novaes destribalização do índio e na sua absorção pelo mundo “civilizado”. Imbuídos dessa intenção pedagógica e moralizante, os textos que produziram revestem-se de caráter mais didático que artístico. Nessa linha, incluem-se o Pe. Manuel da Nóbrega e Pe. José de Anchieta.

JOSÉ DE ANCHIETA

FONTE: História do Brasil para Principiantes de Carlos Eduardo Novaes

Boa parte da literatura escrita pelos padres possui uma dimensão meramente informativa. Enviam aos superiores notícias da obra catequética e dos problemas da ordem. Simultaneamente, surgem os primeiros religiosos dispostos a elaborar uma tosca literatura, destinada à conversão dos indígenas. Avulta então o nome de José de Anchieta. Dotado de sólida formação religiosa e com senso artístico acima do comum, ele criará simultaneamente: - Uma produção refinada: poemas e monólogos em latim que parecem destinadas a satisfazer suas necessidades espirituais mais profundas; - Uma produção didática - hinos, canções e especialmente autos, que visavam infundir o pensamento cristão nos índios.

OS AUTOS Interessa-nos hoje, sobretudo, a obra teatral de Anchieta. Nela, o autor intenta conciliar os valores católicos com os símbolos primitivos dos habitantes da terra e com os aspectos da nova realidade americana. Os elementos sagrados do catolicismo europeu ligam-se aos mitos indígenas, sem que isso signifique uma contradição maior, pois as idéias que triunfam nos espetáculos são evidentemente as do padre. As crendices e superstições dos nativos acabam vinculadas ao pecado e seu poderoso agente, Satanás.

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[Literatura I] Neste confronto perpétuo entre o bem e o mal, o primeiro é defendido por santos e anjos, os quais expressam o cristianismo e subjugam o segundo, constituído por deuses e pajés dos nativos, misturados com os demônios da tradição católica. Desta forma, os índios (sobremodo os curumins) percebem que os seus valores são falsos e corruptos e aceitam de melhor grado os princípios cristãos. Do ponto de vista da encenação dos autos, - conforme depoimentos de época - a liberdade formal salta aos olhos: o teatro anchietano pressupõe o lúdico, o jogo coreográfico, a cor, o som. É algo arrebatador, de enorme fascínio visual. Dirige-se mais aos sentidos do que à razão, apelando para a consciência mítica dos nativos. Santos e demônios duelam; desencadeiam-se milagres e apocalipses; alternam-se elementos históricos e fictícios, religiosos e profanos; pequenos sermões musicados irrompem no meio das cenas. Perante essa festa para as emoções e o coração, o indígena vacila em suas crenças. Observe um trecho de um auto. Na festa de São Lourenço (Eram três diabos que querem destruir a aldeia com pecados, aos quais resistem São Lourenço, São Sebastião e o Anjo da Guarda, livrando a aldeia e prendendo os tentadores cujos nomes são: Guaixará, que é o rei; Aimbirê e Saravaia, seus criados) [...](São Lourenço fala a Guaixará:) SÃO LOURENÇO Dizei-me o que quereis desta minha terra em que nos vemos.

SÃO LOURENÇO Quem és tu? GUAIXARÁ Sou Guaixará embriagado, sou boicininga, jaguar, antropófago, agressor, andirá-guaçu alado, sou demônio matador.

GUAIXARÁ Amando os índios queremos que obediência nos prestem por tanto que lhes fazemos. Pois se as coisas são da gente, ama-se sinceramente.

SÃO LOURENÇO E este aqui?

SÃO SEBASTIÃO Quem foi que insensatamente, um dia ou presentemente? os índios vos entregou? Se o próprio Deus tão potente deste povo em santo ofício corpo e alma modelou!

AIMBIRÊ Sou jibóia, sou socó, o grande Aimbirê tamoio. Sucuri, gavião malhado, sou tamanduá desgrenhado, sou luminosos demônio.

Os autos anchietanos contribuem para desculturar os índios, que assim perdem a sua identidade. Desajustados ante a nova ordem social e psicológica, irão se ver, como disse José Guilherme Merquior, "dolorosamente arrancados à cultura materna e dolorosamente desarmados ante a bruta realidade da experiência colonial."

A POESIA Expressa a motivação mística e catequética do autor, impregnado de profunda devoção mariana. Traduz uma visão ainda medieval (teocêntrica) do universo. A estrutura é também medieval, com versos curtos e emprego de Redondilhas (maiores -7 sílabas; e menores - 5 sílabas). A mortificação do humano, o distanciamento dos prazeres terrenos encontram consolação no amor divino, que contrapõe ao desengano da vida os valores positivos da esperança e da alegria, também presentes na poesia de Anchieta.

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[Literatura I] EM DEUS, MEU CRIADOR Não há cousa segura. Tudo quanto se vê se vai passando. A Vida não tem dura. O bem se vai gastando. Toda criatura passa voando. Contente assim. minh ‘alma, do doce amor de Deus toda ferida, o mundo deixa em calma, buscando a outra vida, na qual deseja ser absorvida. Dentro da mais pura tradição medieval, Anchieta vai buscar no cotidiano, na dicção popular, boa parte das imagens que povoam sua obra: Á SANTA INÊS

DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Cordeirinha linda, Como folga o povo, Porque vossa vinda Lhe dá lume novo

Oh que pão, oh que comida, oh que divino manjar se nos dá no santo altar cada dia.

Santa Padeirinha Morta com cutelo Sem nenhum farelo É vossa farinha. O pão, que amassastes Dentro em vosso peito, É o amor perfeito Com que Deus amastes.

Este dá vida imortal, este mata toda fome, porque nele Deus e homem se contém. Que este manjar tudo gasta, porque é fogo gastador que com seu divino ardor tudo abrasa.

6. BARROCO 1601 – “Prosopopeia” de Bento Teixeira Pinto A culminância do estilo Barroco, a sua mais plena realização, deu-se no séc. XVII, ainda que não haja uniformidade de traços: há um Barroco ibérico-jesuítico (Espanha, Itália, Portugal, com projeções na América Latina), caracterizado pela exasperação do conflito provocado pela crise religiosa; há um Barroco reformista e luterano (Alemanha, Holanda, Inglaterra) e há países em que as manifestações do Barroco foram muito tênues (Suécia, países nórdicos, onde quase não existiu conflito religioso). Assim, podemos estabelecer uma proporção: o Barroco será tanto mais intenso, quanto mais intensa tiver sido a atuação da Reforma Protestante ou da Contra-Reforma Católica, razão pela qual se diz entre nós que O BARROCO É A ARTE DA CONTRA-REFORMA.

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[Literatura I] Durante o séc. XVI, a Igreja Católica sofrera um duro revés; quase metade da cristandade renascentista passara-se para o protestantismo luterano e calvinista, e a Reforma prosseguia avassaladora, com a adesão da burguesia mercantil e de importantes segmentos da nobreza; o racionalismo grego, a busca da riqueza e dos prazeres terrenos provocaram fundas rupturas no dogmatismo da Igreja Católica, que, atrelada ao espírito ascético do medievo, continuava a combater o lucro e o comércio, entravando o desenvolvimento econômico e bloqueando a difusão do humanismo. A reação Católica principiou com a convocação do CONCÍLIO DE TRENTO (realizado entre 1545 e 1563, na localidade de Trento, Norte da Itália). A cúpula da Igreja, lá reunida, deliberou encetar uma CONTRAREFORMA, que atuou por meio de um órgão executivo - a SANTA INQUISIÇÃO, sistema eclesiástico, ideológico-administrativo, de censura, que, por meio do TRIBUNAL DO SANTO OFÍCIO, investigava, levava a julgamento e condenava aqueles que não contribuíssem para a preservação; defesa e propagação da doutrina Católica, nos termos em que fora estatuída no Concílio de Trento. Galileu Galilei, Giordano Bruno e Copérnico sofreram, pelas ideias que defendiam, a implacável perseguição inquisitorial, para ficarmos apenas em três famosas vítimas. Assim, a época da Contra-Reforma e do Barroco é marcada por uma profunda dualidade. Por um lado, é o desdobramento do humanismo clássico e do Renascimento, com seus apelos ao racionalismo, ao prazer, ao “carpe diem” (aproveite o dia). Por outro lado, o homem é pressionado pela Igreja Católica e pelo protestantismo mais vigoroso a um regresso ao teocentrismo medieval, à postura estoica, à renúncia aos prazeres, à mortificação da carne e à observância plena do “amar a Deus sobre todas as coisas”, princípio capitular do teocentrismo medieval. Em síntese, o homem do século XVII foi compelido a conciliar O TEOCENTRISMO MEDIEVAL e o ANTROPOCENTRISMO CLÁSSICO e valores opostos como: fé x razão, alma x corpo, Deus x homem, céu x terra, virtude x prazer. Valemo-nos da apreciação do Prof. Afrânio Coutinho: “O homem do Barroco é um saudoso da religiosidade medieval e, ao mesmo tempo, um seduzido pelas solicitações terrenas e valores mundanos, amor, dinheiro, luxo, posição; que a Renascença e o Humanismo puseram em relevo. Desse dualismo nasceu a arte barroca.” (Aspectos da Literatura Barroca, RJ, 1950, pág. 54). Vê-se, pois, que a época barroca, o séc. XVII foi das mais conturbadas que o homem ocidental viveu. E mais, coincide com o apogeu do Absolutismo monárquico e com a implantação sistemática do capitalismo e sua extensão a áreas coloniais. É notório que, se a Literatura é a expressão do homem e de ‘eu tempo, o estilo barroco haveria de refletir as angústias, as incertezas e o desespero do homem que viveu essa época difícil.

CONCEITUAÇÃO - ”A ARTE DO CONFLITO”

A dúvida de Tomé de Caravaggio. FONTE: http://wordscanchangeyourlife.blogs.sapo.pt/48566.html

O homem do Barroco foi marcado, como já vimos, por impulsos contraditórios. Claro que sua produção artística haveria de ter como traço fundamental o CULTO DO CONTRASTE, DO CONFLITO e DA CONTRADIÇAO, que se expressa, na Literatura, pela frequência das antíteses e paradoxos; na pintura, pelo jogo de massas e pelo centraste claro/escuro; na escultura, pelo exagero do alto/baixo relevo, como se vê nos profetas de Aleijadinho, com os queixos pontiagudos e as órbitas oculares exageradamente côncavas; na música, pela presença do canto/contra-canto, do contraponto e da fuga. Examinemos a presença da antítese e do paradoxo nos fragmentos que seguem: (antítese = justaposição de contrários; paradoxo = relação interna entre ideias opostas).

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[Literatura I] “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém, se acaba o Sol. por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia?

CARACTERÍSTICAS a) Dualismo - conflito e angústia provocada pela dúvida entre os prazeres e progressos obtidos nos primeiros cem anos da Idade Moderna, representados pela TERRA-MATÉRIA-CORPO-VIDA e o longo período místico medieval, de penitências e preparação para a vida extraterrena, representados pelo CÉU-ESPÍRITO-ALMAMORTE. O conflito está em não conseguir obter uma solução entre esses dois pontos. b) Antropocentrismo x Teocentrismo c) Valores subjetivos e espirituais. d) Abundância de figuras de linguagem na poesia: antíteses, metáforas, paradoxos, etc. e) Forma pomposa, ornamentada, grandiosa. f) Gosto por raciocínios complexos e intrincados. g) Inversões sintáticas. h) Uso de silogismos. “Mui grande é o vosso amor e o meu delito Porém pode ter fim todo o pecar, E não o vosso amor, que é infinito Essa razão me obriga a confiar Que, por mais que pequei, neste conflito Espero em vosso amor me salvar.”

ESTILOS DO BARROCO Na Espanha do século XVII, dentro do padrão barroco, aparecem duas designações literárias que se tornam símbolos do exagero verbal e de certa obscuridade do pensamento.

CULTISMO OU GONGORISMO “O jogo de palavras” Cultismo ou Gongorismo são as denominações que recebeu, na Península Ibérica, e em colônias ultramarinas, o aspecto do Barroco voltado para o rebuscamento da forma, para a ornamentação exagerada do estilo, por meio do vocabulário precioso, erudito, cheio de latinismos, para a inversão da ordem direta da frase, imitando a sintaxe do latim clássico. O termo Cultismo deriva da obsessão barroca pela linguagem culta, erudita, e o termo Gongorismo alude ao autor espanhol Luís de Gôngora, expoente maior desse procedimento literário, criador de uma verdadeira escola que tem como seguidores, entre nós, Manuel Botelho de Oliveira e, em alguns momentos, Gregório de Matos Guerra. O aspecto exterior imediatamente visível no Cultismo ou Gongorismo é o abuso no emprego de figuras de linguagem, especialmente as semânticas (METÁFORAS, ANTÍTESES e HIPÉRBOLES); as sintáticas (de inversão oracional, de repetição ou supressão de termos, como HIPÉRBATOS, ANÁFORAS, etc.)

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CONCEPTISMO OU QUEVEDISMO A dialética barroca “O jogo de idéias” Define-se o Conceptismo como o aspecto construtivo do Barroco voltado para O JOGO DAS IDÉIAS, para a argumentação sutil, para a dialética cerrada, que opera por meio de associações inesperadas, ainda fundadas na metáfora e, especialmente, nos procedimentos da lógica formal, como o silogismo, o sofisma e o paradoxo. Enquanto os Cultistas ou Gongóricos consideravam que a percepção cognoscitiva das coisas deveria processar-se pela captação de seus aspectos sensoriais e plásticos (contorno, forma, cor, volume), produzindo como resultado um verdadeiro frenesi cromático, visando a apreender o como dos objetos, os Conceptistas pesquisavam a essência íntima dos objetos, buscando saber o que são, visando à apreensão da face oculta, apenas acessível ao pensamento, ou seja, aos conceitos; assim, a inteligência, a lógica e o raciocínio ocupam o lugar dos sentidos, impondo a concisão e a ordem, onde reinavam a exuberância e o exagero. Assim, é usual a presença de elementos da lógica formal, como o silogismo.

GREGÓRIO DE MATOS GUERRA Gregório de Matos Guerra nasceu na Bahia, filho de família abastada e poderosa, de fortes raízes em Portugal. Fez seus primeiros estudos no colégio jesuítico da Bahia. Com dezesseis anos, ingressou na Universidade de Coimbra, onde viria a se formar em Direito. No ano de 1663, tornou-se juiz, sendo nomeado para um lugarejo do interior português. Em seguida, tornou-se juiz em Lisboa, casando-se com a filha de um importante magistrado e da qual enviuvou em 1678. Retornaria ao Brasil já com quarenta e seis anos, recebendo a tonsura (ordens FONTE: https://alchetron.com/ eclesiásticas menores) e assim virando padre. Dois anos depois foi destituído da Greg%C3%B3rio-de-Matos condição clerical por levar uma "vida sem modo de cristão". Homem inteligente e engenhoso. Viveu entre ricos e pobres, religiosos e decaídos. Tinha “em cada canto de sua alma um altar para um deus diferente”. Transpôs para o português esquemas poéticos de Gôngora e Quevedo. Usou dos processos os mais racionais e típicos do barroco. Grande consciência artesanal. Sua vasta e variada obra permaneceu inédita durante toda sua atribulada vida, mas muitos de seus poemas eram constantemente oralizados pelo povo, quando não manuscritos, e assim circulavam. Incompreendido, sofreu prisão e exílio; chamaram-no “O Boca do Inferno” pela maldade e justeza de suas sátiras.

A POESIA DE GREGÓRIO DE MATOS GUERRA A LÍRICA AMOROSA E FILOSÓFICA Apresenta-se sobre o signo da dualidade barroca, oscilando entre a atitude contemplativa, o amor elevado, à maneira dos sonetos de Camões, e a obscenidade, o carnalismo. É curioso que a postura platônica é dominante, quando o poeta se refere a mulheres brancas, de condição social superior, e a libido agressiva, o erotismo e o desbocamento são as tônicas, quando o poeta se inspira nas mulheres de condição social inferior, especialmente as mulatas. Neste sentido destaca-se já certa “tropicalidade”, a antecipação de certo “sentimento brasileiro”.

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[Literatura I]

Observe os versos curtos e a aproximação com uma linguagem mais espontânea e popular. A MESMA D. ÂNGELA

ADMIRÁVEL EXPRESSÃO QUE FAZ O POETA DE SEU ATENCIOSO SILÊNCIO

Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor, e Anjo Juntamente: Ser Angélica flor, e Anjo florente, Em quem. senão em vós, se uniformara: Quem vira uma tal flor, que a não cortara, De verde pé, da rama florescente; E quem um Anjo vira tão luzente. Que por seu Deus O não idolatrara? Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o mau Custódi e a minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas veio. que por bela, e por galharda. Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

Largo em sentir, em respirar sucinto, Peno, e calo, tão fino, e tão atento, Que fazendo disfarce do tormento, Mostro que o não padeço, e sei que o sinto. O mal, que fora encubro, ou que desminto, Dentro no coração é que o sustento: Com que, para penar é sentimento, Para não se entender é labirinto. Ninguém sufoca a voz nos seus retiros; Da tempestade é o estrondoso efeito: Lá tem ecos a terra, o mar suspiros. Mas oh do meu segredo alto conceito! Pois não me chegam a vir à boca os tiros Dos combates que vão dentro no peito.

A POESIA SATÍRICA Ninguém escapou da língua ferina do “Boca do Inferno”: autoridades, comerciantes, padres, freiras, juízes, militares, brancos, pretos, mulatos, índios. Mas havia dois alvos prediletos: o relaxamento moral na Bahia e os “caramurus”, primeiros colonos nascidos aqui e que aspiravam à condição de fidalgos. ONTEMPLANDO NAS COUSAS DO MUNDO

A OUTRA FREYRA, QUE SATYRIZANDO A DELGADA FIZIONOMIA DO POETA LHE CHAMOU PICAFLOR.

Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: Com sua língua ao nobre o vil decepa: O Velhaco maior sempre tem capa.

Se Pica-flor me chamais, Pica-flor aceito ser, mas resta agora saber, se no nome, que me dais, meteis a flor, que guardais no passarinho melhor! se me dais este favor, sendo só de mim o Pica, o mais vosso, claro fica, que fico então Pica-flor.

Mostra o patife da nobreza o mapa: Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa; Quem menos falar pode, mais increpa: Quem dinheiro tiver, pode ser Papa. A flor baixa se inculca por Tulipa; Bengala hoje na mão, ontem garlopa: Mais isento se mostra, o que mais chupa. Para a tropa do trapo vazio a tripa, E mais não digo, porque a Musa topa Em apa, epa, ipa, opa, upa.

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[Literatura I]

EPÍLOGOS (JUÍZO ANATÔMICO DOS ACHAQUES QUE PADECIA O CORPO DA REPÚBLICA) Que falta nesta cidade?... Verdade. Que mais por sua desonra?... Honra. Falta mais que se lhe ponha?... Vergonha. O demo a viver se exponha, Por mais que a fama a exalta, Numa cidade onde falta Verdade, honra, vergonha. Quem a pôs neste rocrócio?... Negócio. Quem causa tal perdição?... Ambição. E no meio desta loucura?... Usura. Notável desventura De um povo néscio e sandeu, Que não sabe que perdeu Negócio, ambição, usura. Quais são seus doces objetos?... Pretos. Tem outros bens mais maciços?... Mestiços. Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos. Dou ao Demo os insensatos, Dou ao Demo o povo asnal, Que estima por cabedal, Pretos, mestiços, mulatos. Quem faz os círios mesquinhos?… Meirinhos. Quem faz as farinhas tardas?… Guardas. Quem as tem nos aposentos?… Sargentos. Os círios lá vem aos centos, E a terra fica esfaimando, Porque os vão atravessando Meirinhos, guardas, sargentos.

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[Literatura I]

A POEISIA SACRA OU RELIGIOSA A culpa e o arrependimento Expressa a cosmovisão barroca: a insignificância do homem perante Deus, a consciência nítida do pecado e a busca do perdão. Ao lado de momentos de verdadeiro arrependimento, muitas vezes o tema religioso é utilizado como simples pretexto para o exercício poético, desenvolvendo engenhosos jogos de imagens e conceitos. A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido: Porque, quanto mais tenho delinqüido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto pecado, A abradar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida, e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história: Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada; Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.

PADRE ANTÔNIO VIEIRA

crista não estava dando o resultado Vieira trabalhou com os jesuítas a público por meio de um discurso

Nasceu em Lisboa e veio menino (seis anos) para a Bahia com seu pai, alto funcionário da Coroa. Estudou no colégio dos jesuítas, onde brotaria sua vocação sacerdotal, ordenando-se aos 26 anos. Em 1640, prega o seu audacioso sermão Contra as armas de Holanda. No ano seguinte, já reconhecido, volta para Lisboa, tornando-se o grande pregador da Corte. Entre os seus aficionados, encontrava-se o jovem rei D. João IV. A pedido dele, executou várias funções políticas e diplomáticas. O mais famoso orador sacro do Brasil colônia foi o padre jesuíta português Antônio Vieira, que desempenhou missões religiosas no Maranhão e no Grão-Para atuou como professor de retórica no Colégio de Pernambuco e participou ativamente da política do rei D. João IV. , em Portugal e no Brasil. Seus sermões, publicados entre 1679 e 1748 atingem 16 volumes. O púlpito foi o veículo propagador de suas ideias e das causas que defendeu. A principal foi a reeducação dos próprios padre da Companhia de Jesus, cuja missão de disseminar a fé esperado. FONTE: http://www.historiadigital.org/ questoes/questao-padre-vieira-e-os-engenhos ideia de convencer o veemente, com largo uso

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[Literatura I] de figuras de linguagem (comparações, antíteses, metáforas, hipérboles, etc.), paro eletrizar o ouvinte e despertar-lhe a consciência. A repetição, com finalidade enfática, bem como o processo de perguntaresposta foram também utilizados com indiscutível eficácia. Em Vieira predomina o conceptismo, isto é, o desenvolvimento da ideia no intuito de persuadir, a retórica para amparar seu discurso. Principais Obras: SERMÕES: cerca de 200, entre os quais se destacam: Sermão pelo Bom sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda. (Bahia, 1640), Sermão da Sexagésima. (Lisboa, 1655), Sermão de Santo Antônio aos Peixes. (Maranhão 1653). CARTAS: cerca de 500 OBRAS DE PROFECIA: História de Portugal, Esperanças de Portugal, Clavis Prophetarum. A estrutura dos sermões Vieira usava a estrutura clássica nos seus sermões, dividindo-os em 3 partes: - Introito ou exórdio: em que se apresenta o plano do sermão; - Argumentação ou desenvolvimento: em que propõe a tese, debatendo os prós e contras; - Peroração ou epílogo - onde incita os fiéis a seguirem as ideias propostas. Normalmente, Vieira principia os Sermões com uma citação bíblica, em Latim. Define os termos essenciais da citação e estabelece um diálogo fictício com o ouvinte, remetendo-o a fatos concretos, e envolvendo-o emocionalmente com descrições realistas e tocantes. Os recursos mais comuns nos Sermões são: - argumentação sutil, desenvolvida por meio de sofismas, silogismos, paradoxos e associações inesperadas; - sintaxe rebuscada, valendo-se das figuras de inversão (hipérbato, anástrofe), de repetição (anáforas), de omissão (elipses); - método parenético, pelo qual Vieira pensava todas as possibilidades que poderiam surgir no raciocínio dos ouvintes e as derrubava, antecipando-se às conclusões do auditório e desarmando as possíveis objeções; - erudição, por meio de citações bíblicas e clássicas e do emprego de expressões latinas; - observação constante do auditório, com que estabelecia um diálogo fictício, não raro envolvendo a mordacidade e a ironia; - os “defeitos” do estilo de Vieira são, em última análise, excessos de virtudes, resultantes do emprego intensivo das imagens, dos jogos de palavras ou frases, da propensão à prolixidade, que o próprio Vieira justificava, dizendo: - “Desculpe-me ter sido longo; não tive tempo de ser breve.” Os Sermões do Padre Antônio Vieira Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda  Dividido em cinco partes;  Pregado na Igreja de N. S. da Ajuda, na cidade da Bahia, no dia 10 ou 11 de maio de 1640;  O tema é a invasão holandesa no nordeste brasileiro devido à luta pelo comércio do açúcar;  Visto as conquistas por parte do inimigo em relação aos combates. Visto que uma invasão a Salvador era iminente.  Vieira (católico) prega contra os holandeses (protestantes);  Apela a Deus, com muito fervor, que interceda nos confrontos entre portugueses e holandeses;  Espera o amparo divino contra os "hereges";

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[Literatura I] Sermão da Sexagésima ou do Evangelho  Dividido em 10 partes;  Pregado na Capela Real no ano de 1655;  Tema: Trata da arte de pregar. “Semen est verbum Dei.” (São Lucas, VIII, 11)  A arte de bem falar, de bem dizer e de bem convencer os fiéis;  Discorre sobre a missão do pregador;

Conhecendo a arte barroca... O realismo sombrio de alguns pintores do Barroco destaca a decadência humana decorrente da passagem do tempo. Nesta obra, São Paulo, esquelético e envelhecido, contempla um crânio que simboliza a mortalidade humana. São Paulo, o eremita de J. Ribera. FONTE: http://pt.wahooart.com/@@/8LHSV3Jusepe-De-Ribera-(Lo-Spagnoletto)-s%C3%A3opaulo-o-ermita-2-

7. ARCADISMO 1768 – “Obras poéticas” de Cláudio M. da Costa O Arcadismo está associado ao Iluminismo, nome que se dá ao conjunto de tendências que marcaram o final do século XVII e o século XVIII. As palavras-chave para entender a filosofia iluminista são RAZÃO e CIÊNCIA, consideradas como base, na época, para análise e explicação do mundo. O intenso progresso científico desse período (como a formulação da lei da gravidade, por Newton, e a classificação dos seres vivos na Biologia) conduziu a uma visão racionalista e científica do mundo. Numa sociedade em que predominava essa visão de mundo, o estilo barroco não tinha mais lugar, pois era considerado extremamente emocional e desequilibrado. Esse momento histórico europeu coincide, no Brasil, com a crise da lavoura açucareira e com a exploração de minas de ouro e pedras preciosas, o que deslocou o eixo econômico do país da região Nordeste para a região de Minas Gerais. Nossa literatura que até então não passava de manifestações isoladas, começa a se integrar num sistema estruturado AUTOR-OBRA-PÚBLICO LEITOR.

CONCEITUAÇÃO O termo Arcadismo retoma a Grécia Clássica, reduto de pastores e ovelhas, símbolo de simplicidade e pureza. Os Árcades buscaram essa simplicidade. As Arcádias eram núcleos que abrigavam artistas comprometidos com a linha metódica de um grupo. Outras denominações: além de Arcadismo outro nome bem conhecido é Neoclassicismo (busca de retorno a primeira fase do período clássico). Em toda a poesia árcade há uma insistente linguagem que evoca pastores, campos, ovelhas, gado, montanhas, enfim, paisagens bucólicas.

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[Literatura I]

CARACTERÍSTICAS a) Racionalismo b) Objetivismo c) Natureza d) Temas campesinos e bucólicos e) Simplicidade da forma f) Retomada dos temas clássicos g) Uso intenso de pseudônimos, principalmente tirados de nomes de pastores gregos. h) Uso de frases latinas. carpem diem (aproveita o dia) - desejo de fruição dos prazeres da vida; aurea mediocritas (mediocridade do ouro) - ideal de herói simples, humilde e honrado; locus amoenus (lugar ameno) - a natureza aprazível e dedicada. Único lugar onde o homem poderia ser feliz; fugere urbem (fugir da cidade, seguir a natureza) - opção pela vida campestre em oposição à vida citadina; inutilia truncat (cortar o inútil) - contra os exageros, o rebuscamento, a extravagância do Barroco.

7.1. A LÍRICA ÁRCADE DO GRUPO MINEIRO TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA Veio para o Brasil com 7 anos de idade. Fez os primeiros estudos com os jesuítas, na Bahia. Em Portugal, formou-se em Coimbra e escreveu o Tratado de Direito Natural, tese com a qual se candidatou à carreira universitária. Foi magistrado em Portugal, retornando ao Brasil com 38 anos, na condição de Ouvidor de Vila Rica. Datam dessa época as Liras de Marilia de Dirceu (1ª parte), inspiradas em Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, noiva do poeta. Em 1789, foi preso por implicações na Inconfidência Mineira. Remetido para a prisão da Ilha das Cobras, escreve, no cárcere, a segunda parte das Liras. Em 1792, parte, degredado, para Moçambique, onde reconstrói a vida e morre. Obras: JURÍDICA – Tratado de Direito Natural LÍRICA - Marília de Dirceu SATÍRICA - Cartas Chilenas

As Liras de “Marília de Dirceu” Uma leitura atenta das liras permite-nos identificar algumas constantes:  Pastoralismo - bucolismo: na exaltação da vida pastoril, campestre; no entendimento de que a felicidade e a beleza decorrem da vida no campo. É da convenção arcádica o poeta identificar-se artisticamente como pastor e à sua musa como pastora.  Otimismo - narcisismo: o poeta manifesta-se satisfeito com o próprio destino. É evidente o propósito de autovalorização (narcisismo); na afirmação da juventude; na alusão à virilidade; na exaltação da sensibilidade artística.  Desvios Sensuais: Estando ligado às concepções rígidas do Arcadismo, Tomás Antônio Gonzaga tende à generalização insossa dos sentimentos e ao amor comedido e discreto. Mas há vários momentos, em Marília de Dirceu, que indicam um desejo de confidência e onde aparecem atrevimentos eróticos surpreendentes. São momentos de emoção genuína: o poeta lembra que o tempo passa, que com os anos os corpos se entorpecem, e convoca Marília para o "carpe diem" renascentista.

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[Literatura I]  Ideal burguês de vida: na afirmação da condição de proprietário, no orgulho pela posse da terra, apóia-se o poeta para expressar a consciência de superioridade sobre “o vaqueiro que viva de guardar alheio gado”, que o poeta deprecia.  Simplicidade: observa-se o predomínio da ordem direta da frase e a clareza da expressão, sem muitas figuras de linguagem, próxima do ritmo da prosa.  O Pré-romântico: A tristeza da prisão domina a segunda e a terceira partes do poema. Há uma tendência maior à confissão. Por outro lado, as convenções arcádicas diminuem e o equilíbrio neoclássico é várias vezes rompido pelo tom de desabafo que percorre o texto. Nem sempre a amargura confere vigor poético aos versos, que continuam controlados nas imagens, nos ritmos e na pintura das emoções. Lira XV

Lira XV Eu, Marilia, não sou algum vaqueiro, que viva de guardar alheio gado, de tosco trato; de expressões grosseiro, dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; dá-me vinho, legume, fruta, azeite; das brancas ovelhinhas tiro o leite e mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marilia bela. graças à minha estrela! Eu vi o meu semblante numa fonte: dos anos inda não está cortado; os pastores que habitam este monte respeitam o poder do meu cajado. Com tal destreza toco a sanfoninha, que inveja até me tem o próprio Alceste: ao som dela concerto a voz celeste, nem canto letra que não seja minha. Graças, Manha bela, graças á minha estrela!(...)

Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro, Fui honrado Pastor da tua aldeia; Vestia finas lãs, e tinha sempre A minha choça do preciso cheia. Tiraram-me o casal, e o manso gado, Nem tenho, a que me encoste, um só cajado. Para ter que te dar, é que eu queria De mor rebanho ainda ser o dono; Prezava o teu semblante, os teus cabelos Ainda muito mais que um grande Trono. Agora que te oferte já não vejo Além de um puro amor, de um são desejo. (...) Quando passarmos juntos pela rua, Nos mostrarão c’o dedo os mais Pastores; Dizendo uns para os outros: “Olha os nosso “Exemplos da desgraça, e são amores”. Contentes viveremos desta sorte, Até que chegue a um dos dois a morte.

Depois de nos ferir a mão da morte, Ou seja neste monte, ou noutra serra, Nossos corpos terão, terão a sorte De consumir os dois a mesma terra. Na campa, rodeada de ciprestes, Lerão estas palavras os Pastores: “Quem quiser ser feliz nos seus amores, Siga os exemplos, que nos deram estes.” Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!

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[Literatura I]

Cláudio Manuel da Costa Filho de abastados mineradores estudou com os jesuítas em Mariana, indo para Portugal, onde se formou em Direito. Regressando a Minas Gerais, exerceu a advocacia, administrou as lavras de ouro da família, foi funcionário e lavrador. Envolvido na “devassa” da Inconfidência Mineira, na qual teve participação mínima, foi preso. Homem de temperamento brando e acomodatício, com sessenta anos, a prisão foi um rude golpe. Numa demonstração de pânico, durante os interrogatórios, inculpou os amigos e comprometeu-se nas respostas. Foi encontrado morto na sua cela. A história oficial registra que teria, numa crise de consciência, se suicidado. Hoje, parece inconteste que “suicidaram” o poeta. Usava, como nome arcádico, o pseudônimo de GLAUCESTE SATÚRNIO. OBRAS: - OBRAS POÉTICAS - (1768) – Reúne a produção lírica do poeta (sonetos, éclogas, epicédios, cantatas e outras modalidades). - VILA RICA - poema épico clássico, derivação imitativa de Os Lusíadas de Camões, obedecendo à estrutura tradicional. A substância heróica e histórica é a descoberta das minas e a fundação de Vila Rica. O herói central é o governador Antônio de Albuquerque Coelho. A história da literatura vê, no episódio líricoamoroso de que são protagonistas a Índia Aurora e Garcia Rodrigues, bem como nas cenas da natureza, uma antecipação do nativismo e do indianismo. É, contudo, obra de escasso valor literário.

Uma obra de transição A produção lírica de Cláudio Manuel da Costa faz-se, em parte, como um regresso aos modelos camonianos e, em parte, como um compromisso entre Barroco e Arcadismo, do que resulta uma obra rica, mas sem ostentação, e simples, mas sem banalidade. Sua poesia é sóbria, elegante, expressando agudo senso dos conflitos da alma, consciência nítida dos problemas de seu tempo, sublimados pelo culto dos modelos clássicos, e requintada sonoridade. Foi grande sonetista, aproximando-se da elegância e da elevação dos sonetos de Camões. Observemos o texto que segue:

“Não vês, Nise, este vento desabrido, Que arranca os duros troncos? Não vês esta, Que vem cobrindo o Céu, sombra funesta. Entre o horror de um relâmpago incendido?

Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci: oh! quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza!

Não vês a cada instante o ar partido Dessas linhas de fogo? Tudo cresta, Tudo consome, tudo arrasa, e infesta O raio a cada instante despedido

Amor, que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra meu coração guerra tão rara Que não me foi bastante a fortaleza.

Ah! não temas o estrago, que ameaça A tormenta fatal; que o Céu destina Vejas mais feia, mais cruel desgraça;

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano;

Rasga o meu peito, já que és tão ferina Verás a tempestade, que em mim passa; Conhecerás então, o que é uma ruína.”

Vós que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temei: que Amor tirano Onde há mais resistência mais se apura.

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[Literatura I]

7.2. A POESIA ÉPICA “O URAGUAI” DE BASÍLIO DA GAMA Estudou no Rio de Janeiro no Colégio dos Jesuítas. Foi para Coimbra, mas, envolvido em questões político-religiosas, é degredado para Angola. Obteve a comutação da pena, ao cair nas graças do Marquês de Pombal, com a elaboração do Epitalámio, dirigido à sua filha. Seu pseudônimo árcade foi TERMINDO SIPILIO Viveu em plena efervescência do Arcadismo Português, assumindo, em face das lutas literárias do momento, uma posição critica, atestada em mais de uma composição poética como A Declaração Trágica. Dentro do Arcadismo, soube fugir ao artificialismo da linguagem mitológica e aos lugares-comuns do bucolismo dominante. PERSONAGENS General Gomes Freire de Andrade (chefe das tropas portuguesas); Catâneo (chefe das tropas espanholas); Cacambo (chefe indígena); Cepé (guerreiro índio); Balda (jesuíta administrador de Sete Povos das Missões); Caitutu (guerreiro indígena, irmão de Lindóia); Lindóia (esposa de Cacambo); Tanajura (indígena feiticeira). RESUMO DO POEMA O poema é dividido em cinco cantos, contrariando o esquema clássico-canoniano de dez cantos Canto I: Saudação ao General Gomes Freire de Andrade. Chegada de Catâneo. Desfile das tropas. Andrade explica as razões da guerra. A primeira entrada dos portugueses, enquanto esperam reforço espanhol. Canto II: Partida do exército luso-castelhano. Soltura dos índios prisioneiros, Sepé e Cacambo vêm parlamentar. Não chegam a um acordo. Atos valorosos dos índios. A morte de Sepé. Quando o ilustre espanhol que governava Montevidéu, alegre, airoso e pronto As rédeas volta ao rápido cavalo E por cima de mortos e feridos, Que lutavam co’a morte, o índio afronta. Sepé, que o viu, tinha tomado a lança E atrás deitando a um tempo o corpo e o braço A despediu. Por entre o braço e o corpo Ao ligeiro espanhol o ferro passa: Rompe, sem fazer dano, a terra dura E treme fora muito tempo a hástea. Mas de um golpe a Sepé na testa e peito Fere o governador, e as rédeas corta Ao cavalo feroz. Foge o cavalo, E leva involuntário e ardendo em ira Por todo o campo a seu senhor; e ou fosse Que regada de sangue aos pés cedia A terra, ou que pusesse as mãos em falso, Rodou sobre si mesmo, e na caída Lançou longe a Sepé. Rende-te, ou morre,

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Grita o governador; e o tape altivo, Sem responder, encurva o arco, e a seta Despede, e nela lhe prepara a morte. Enganou-se esta vez. A seta um pouco Declina, e açouta o rosto a leve pluma. Não quis deixar o vencimento incerto Por mais tempo o espanhol, e arrebatado Com a pistola lhe fez tiro aos peitos. Era pequeno o espaço, e fez o tiro No corpo desarmado estrago horrendo. Viam-se dentro pelas rotas costas Palpitar as entranhas. Quis três vezes Levantar-se do chão: caiu três vezes, E os olhos já nadando em fria morte Lhe cobriu sombra escura e férreo sono. Morto o grande Sepé, já não resistem As tímidas esquadras. Não conhece Leis o temor. Debalde está diante, E anima os seus o rápido Cacambo.(...)


[Literatura I] Canto III: O General acampa às margens de um rio. Do outro lado Cacambo descansa e sonha com o espírito de Sepé. Este incita-o a incendiar o acampamento inimigo. Cacambo atravessa o rio e provoca o incêndio. Depois, regressa para a sede. Surge Lindóia. Balda prende Cacambo e mata-o. Tanajura propicia visões a Lindóia: a índia “vê” o terremoto de Lisboa, a reconstituição da cidade por Pombal, a expulsão dos jesuítas. Canto IV: Maquinações de Balda. Pretende entregar Lindóia e o comando dos indígenas a outro. O episódio mais importante: a morte de Lindóia. Para não se entregar a outro homem. deixa-se picar por uma serpente. Os padres e os índios fogem da sede, não sem antes atear fogo em tudo. O exército entra no templo. Canto V: Descrição do Templo. Perseguição aos índios. Prisão de Balda. O poeta dá por encerrada a tarefa e despede-se.

FREI JOSÉ DE SANTA RITA DURÃO Santa Rita Durão iniciou os estudos com jesuítas na Rio de janeiro, e ainda criança foi para Portugal Em 1777, após a queda de Pombal (com a “Viradeira”, ou seja, a anulação das reformas pombalinas), o frade agostiniano assumiu uma cátedra de Teologia na Universidade de Coimbra. Passou a vida entre lecionar e redigir o poema épico Caramuru, segundo os padrões estruturais e estilísticos seguidos pelos imitadores de Camões. Em 1784, mudo-se para Lisboa, falecendo no mesmo ano.

“Caramuru” O poema épico narra, em dez cantos, o naufrágio de Diogo Álvares Correia e seus amores com as índias, sobretudo com Paraguaçu. O material é vasto: fatos de nossa história, o temperamento dos indígenas, lendas. O poema segue o esquema clássico-camoniano, usando a oitava rima, observando a divisão tradicional em proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo. Uso da linguagem mitológica e do maravilhoso pagão e cristão, rigorosamente nos moldes camonianos.

Moema (1866), de Vitor Meirelles FONTE: http://artefontedeconhecimento.blogspot.com.br/2015/03/moema-victor-meirelles1866.html

PERSONAGENS PRINCIPAIS: Diogo Álvares Correia (O “Caramuru”, naufrago português); Paraguaçu (filha do cacique Taparica); Gupeva e Sergipe (Chefes indígenas); Moema (índia amante de Diogo). O Caramuru tem os elementos tradicionais do gênero épico: duros trabalhos de um herói, contato de gentes diversas, visão de uma sequência histórica. A sua linha é camoniana e o intuito foi “compor uma brasiliada”. A narrativa é enriquecida com referência a fatos históricos desde o descobrimento até a época do autor, dando-se grande relevo também à matéria descritiva e informativa. É o caso da descrição do Brasil por Diogo, coroando as tentativas de louvação da terra, prenunciando certos aspectos do nacionalismo romântico. Durão penetra na vida do índio com um intento analítico diferente do devaneio lírico de Basílio da Gama. A fantasia a que se abandona é com efeito precedida pela descrição dos costumes, das técnicas, dos ritos, tão exata quanto possível no seu tempo.

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[Literatura I] Numa camada mais profunda que o nativismo e o indianismo, o que verdadeiramente anima a epopeia do frade mineiro, está a sua visão do mundo, ou seja, a inspiração religiosa (religião como ideologia). Esta consiste em justificar e louvar a colonização como empresa religiosa desinteressada, trazendo a catequese ao primeiro plano e com ela cobrindo os aspectos materiais básicos. A visão laica e civil do Uraguai e dos poemas satíricos é aqui banida, fazendo do Caramuru o antagonista ideológico da melhor linha mental na literatura comum. Daí valorizar a obra de Diogo, principalmente como incorporação do selvagem à fé cristã. A morte de Moema Abandonada por Diogo, que parte para a Europa com Paraguaçu, Moema atira-se ao mar. perseguindo o navio em que Diogo viajava, até a morte. CANTO VII Copiosa multidão da nau francesa Corre a ver o espetáculo assombrada; E ignorando da estranha empresa, Pasma da turba feminil que nada.’ Uma. que as mais procede em gentileza, Não vinha menos bela, do que irada.’ Era Moema. que de inveja geme. E já vizinha nau se apega ao leme.

“Bárbaro (a bela diz). tigre. e não homem... Porém o tigre por cruel que brame. Acha forças amor. Que enfim o domem; Só a ti não domou, por mais que eu te ame: Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem. Como não consumis aquele infame? Mas pagar tanto amor com tédio, e asco... Ah! que o corisco és tu... raio...penhasco.

Entendendo o pastoralismo...

FONTE: http://pt-br.mouse.wikia.com/wiki/Arcadismo

Um dos aspectos mais artificiais da estética árcade é o fato de os poetas e de suas musas e amadas serem identificados como pastores e pastoras. A troca dos nomes dos membros das arcádias era uma forma eficiente de eliminar as marcas de sua origem nobre ou plebeia. Como todos os membros adotavam nomes de pastores e eram chamados por seus pseudônimos, estabelecia-se entre eles uma espécie de nobre simplicidade, que eliminava tudo aquilo que poderia ser associado à artificialidade e à hipocrisia da vida na corte. Valorizar o saber e a cultura, como defendia a perspectiva iluminista, significava encontrar meios de "neutralizar" diferenças sociais evidentes. Os árcades faziam isso através do uso de pseudônimos. Observe ao lado a tela Pastoral de outono de F. Boucher. O tema do pastoralismo alimenta a imaginação árcade: os amantes felizes levam uma vida simples em meio à natureza bucólica. LITERATURA: Tempos, leitores e leitura. Maria Abaurre e Marcela Pontara

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[Literatura I]

8. ROMANTISMO 1836 – “Suspiros poéticos e saudades” de Gonçalves de Magalhães A ascensão da burguesia europeia é um processo que se inicia com o Mercantilismo, nos séculos XVI e XVII, passando pela Revolução Inglesa, de 1688, pela Independência Americana, de 1776, e atingindo o seu o momento culminante na Revolução Francesa, de 1789. Na França, sobretudo, a derrocada da aristocracia permite não apenas a extinção dos privilégios seculares, mas também o fim das barreiras rígidas entre as classes sociais. Um novo sentido de vida, baseado na livre iniciativa, exalta a audácia, a competência e os méritos pessoais de cada indivíduo, independentemente de seus títulos e seus antepassados. A era do Liberalismo está em seu auge e com ela um conjunto notável de mudanças na história do Ocidente.

CARACTERÍSTICAS a) Sentimentalismo b) Supervalorização do Amor c) Liberdade de criação d) Evasão (no tempo, no espaço, na morte) e) Subjetivismo f ) Idealização g) Indianismo (brasileiro) h) Individualismo I) Nacionalismo j) Pessimismo k) Ideais libertários l) Religiosidade

A Liberdade conduzindo o povo, de Eugène Delacroix, é a imagem mais acabada do espírito revolucionário romântico. FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Liberdade_guiando_o_povo

ROMANTISMO NO BRASIL Uma tela gigantesca, de 4,15m de altura por 7,60m de comprimento, mostra um valente Dom Pedro I erguendo sua espada no ar, às margens do riacho Ipiranga, acompanhado por uma tropa de alazões e oficiais bem alinhados, a declarar a independência do

FONTE: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Independ%C3%AAncia _ou_Morte.jpg

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Brasil de Portugal. É o quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo, hoje no acervo do Museu Paulista, conhecido como Museu do Ipiranga. O ano da cena era 1822. O resto, quase tudo ficção.


[Literatura I] O Romantismo brasileiro nasce das possibilidades que surgem com a Independência política e suas consequências sócio-culturais: o novo público leitor, as instituições universitárias e, acima de tudo, o nacionalismo ufanista que varre o país, após 1822, e do qual os escritores românticos são os principais intérpretes. Contribuir para a grandeza da nação através de uma literatura que fosse o espelho do novo mundo e de sua paisagem física e humana, eis o projeto ideológico da primeira geração romântica. Há um sentimento de missão: revelar todo o Brasil, criando uma literatura autônoma que nos expressasse.

8.1. A POESIA ROMÂNTICA Poucos movimentos estéticos, na história da nossa literatura tiveram a amplitude e a variedade de grandes representantes como o Romantismo, berço da nossa sensibilidade de nação independente e forja da nossa dicção lírica própria e inconfundível. Se na prosa desse momento assistimos aos primórdios da ficção nacional, na poesia vemos surgir uma a um os primeiros monumentos insuperáveis do gênero no Brasil, ápices perfeitamente atingidos, plenamente realizados, pertencentes a esse eterno presente, inalterável pelos gostos e modismos, que é lugar autentico da obra de arte. O Romantismo inicia-se no Brasil em 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica um livro de poesias intitulado Suspiros Poéticos e Saudades. Os intelectuais do século XIX buscaram identificar o recente Império brasileiro com imagens originárias do próprio país, que expressassem a grandeza de seu passado e de sua natureza. A poesia romântica no Brasil é dividida em três fases bem distintas: a Indianista ou Nacionalista, a do Mal do Século e a Condoreira ou Social. A DIVISÃO EM GERAÇÕES Na lírica romântica brasileira, podem ser delimitados, com algum rigor, três momentos que se caracterizam por (1) apresentar temas e visões de mundo diferenciadas. Estes momentos coincidem com a formação de três gerações . Cada geração assume uma perspectiva própria, embora todas sejam marcada pelo caráter romântico. Contudo, os elementos que definem cada uma delas não são exclusivos. Interpenetrando-se de forma bastante acentuada. Geração

Denominação

Componentes

Modelos Poéticos

Temas

Nacionalista ou Indianista

Gonçalves de Magalhães e Gonçalves Dias

Chateaubriand e Lamartine

- O índio - A saudade da Pátria - A natureza - A religiosidade - O amor impossível

Individualista ou Subjetivista ou do Mal do Século

Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire

Byron e Musset

- A dúvida - O tédio - A orgia - A morte - A infância - O medo do amor - O sofrimento

Liberal ou Social ou Condoreira ou Abolicionista

Castro Alves

Vitor Hugo

- Defesa de causas humanitárias - Denúncia da escravidão - Amor erótico

(1)

normalmente atribuía-se a duração média de 15 anos para cada geração. A partir de meados do século XX, em função da rapidez da mudança de costumes e valores, reduziu-se este tempo para 10 anos.

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[Literatura I]

1ª GERAÇÃO ROMÂNTICA A Primeira Geração, conhecida como indianista ou nacionalista e também chamada de a Geração dos Iniciadores é conhecida pela busca de um representante típico para o homem brasileiro, que encontrou no indianismo uma de suas mais representativas tendências.

GONÇALVES DIAS Filho de um comerciante português e de uma mulata que viviam em concubinato, Antônio de Gonçalves Dias nasceu em Caxias, no Maranhão. Quando o menino tinha seis anos, o pai casou-se com uma moça branca e proibiu o filho de visitar a mãe, que se reencontraria com o filho apenas quinze anos depois. Antônio cresceu trabalhando como caixeiro na loja do pai e teve uma boa educação, sendo enviado com quatorze anos para Portugal. A morte do pai, no mesmo ano, trouxe o rapaz de volta ao Maranhão, porém a madrasta cumpriu a vontade do marido quanto ao filho e mais uma vez o futuro poeta foi mandado para Coimbra. No início de 1845, retornou à sua província natal, já formado em Direito. Era um rapaz baixinho, musculoso e de olhar inteligente. Sua origem mestiça não era evidente à primeira vista. A sociedade de São Luís o recebeu bem e ele conheceu então aquela que - algum tempo depois - seria o grande amor de sua vida, a jovem Ana Amélia. Antes da eclosão desse amor extremado, viajou para o Rio de Janeiro, onde se radicaria. Virou professor de Latim no Colégio Pedro II e lançou, com notável repercussão, os Primeiros cantos e os Segundos cantos. De imediato, obteve a proteção imperial, ocupando diversos cargos de importância nas áreas de pesquisa escolar e de busca de documentos históricos. Em visita ao Maranhão reencontrou Ana Amélia e a pediu em casamento. A família da moça recusou o poeta, alegando a sua origem bastarda e mulata. Exasperado, casou-se com Olímpia Coriolana, provavelmente a primeira mulher que encontrou depois da recusa e com a qual viveu um casamento infeliz. Viajou muito pelas províncias do Norte e pela Europa, sempre a serviço. Afetado pela tuberculose, tentou a cura na França. Desenganado pelos médicos, retornou num cargueiro que naufragaria, já nas costas do Maranhão. A única vítima do naufrágio foi o poeta, que contava então quarenta e um anos de idade. Obras: Primeiros cantos (1846); Segundos cantos (1848); Sextilhas de frei Antão (1848); Últimos cantos (1851); Os timbiras (1857). Sua obra se articula em torno de três assuntos principais:

 O ÍNDIO: I – Juca Pirama IV Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.

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Já vi cruas brigas, De tribos imigas, E as duras fadigas Da guerra provei; Nas ondas mendaces Senti pelas faces Os silvos fugaces Dos ventos que amei. (...) Andei longes terras Lidei cruas guerras, Vaguei pelas serras Dos vis Aimoréis; Vi lutas de bravos, Vi fortes – escravos! De estranhos ignavos Calcados aos pés. (...)


[Literatura I]

 A NATUREZA: Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.

Que tais não encontro eu cá; Em cismar - sozinho, à noite Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas tem mais flores, Nossos bosques tem mais vida, Nossa vida mais amores.

Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.

Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá. Minha terra tem primores,

 O AMOR IMPOSSÍVEL: Ainda Uma Vez Adeus I Enfim te vejo! - enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te, Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado, Houveram-me acabrunhado A não lembrar-me de ti!

XVII Adeus qu'eu parto, senhora; Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo, Ter sepultura entre os meus; Negou-me nesta hora extrema, Por extrema despedida, Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus!

II Dum mundo a outro impelido, Derramei os meus lamentos Nas surdas asas dos ventos, Do mar na crespa cerviz! Baldão, ludíbrio da sorte Em terra estranha, entre gente, Que alheios males não sente, Nem se condói do infeliz! (...)

XVIII Lerás porém algum dia Meus versos d'alma arrancados, D'amargo pranto banhados, Com sangue escritos; - e então Confio que te comovas, Que a minha dor te apiade Que chores, não de saudade, Nem de amor, - de compaixão.

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[Literatura I]

2ª GERAÇÃO ROMÂNTICA A Segunda Geração, chamada de geração do mal do Século, Byroniana ou Geração dos Pessimistas é caracterizada por abandonar os temas do índio, da pátria e da natureza cedendo lugar a uma poesia mais desiludida, melancólica que via na morte a solução de seus problemas. Os poetas dessa geração eram conhecidos como ultrarromânticos, pois manifestavam um sentimentalismo exagerado.

ÁLVARES DE AZEVEDO Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo e morreu no Rio de Janeiro. Cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, cidade onde viveu uma vida muito curta. Ao morrer, com apenas 21 anos, deixou inédita toda sua obra, que começou a ser publicada no ano seguinte ao de sua morte. O ultra-romantismo está presente nas muitas faces da poesia de Álvares de Azevedo. Amou desenfreadamente e desejou morrer para se libertar. Duas situações bem contraditórias, portanto: o desejo de amar e o desejo de morrer, que às vezes tornam sua obra um tanto tumultuada e pouco equilibrada. Obras: POESIA:Lira dos vinte anos. CONTO:Noite na Taverna. TEATRO:Macário.

TEXTOS GÓTICOS Macário Macário: Por acaso há mulheres ali? (Em São Paulo) Satã: Mulheres, padres, soldados e estudantes. (...) Para falar mais claro as mulheres são lascivas, os padres dissolutos, os soldados ébrios, os estudantes vadios. Isso salvo honrosas exceções, por exemplo, de amanhã em diante tu. Macário: Esta cidade deveria ter o teu nome. Satã: Tem o de um santo: é quase o mesmo. Não é o hábito que faz o monge. Demais essa terra é devassa como uma cidade, insípida como uma vila e pobre como uma aldeia. (...) Até as calçadas... Macário: Que têm? Satã: São intransitáveis. Parecem encastoadas as tais pedras. As calçadas do inferno são mil vezes melhores. Mas o pior da história é que as beatas e os cônegos cada vez que saem, a cada topada, blasfemam tanto com o rosário na mão que já estou enjoado.

Noite na taverna Se fôssemos cobrar verossimilhança dos contos que compõem o livro Noite na taverna, certamente riríamos desses sete rapazes que bebem, fumam, gritam, e - enquanto a fumaça se mistura com os eflúvios da cerveja e do conhaque - narram histórias de suas vidas orgíacas e criminosas. Há algo de falsidade (e mesmo de bobagem pueril) nas cenas de necrofilia, incesto, canibalismo, assassinato e violação de todos os códigos morais que eles vão contando, falsamente horrorizados com o seu próprio desregramento. No entanto, apesar de sua total improbabilidade, esses relatos cínicos ainda hoje exercem uma sedução nos leitores, especialmente os mais jovens, mostrando que não se deve cobrar dos contos realismo e sim aquilo que eles representam simbolicamente.

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[Literatura I]

A POESIA Se eu morresse amanhã Pálida à luz da lâmpada sombria, Sobre o leito de flores reclinada, Como a lua por noite embalsamada, Entre nuvens de amor ela dormia!

Se eu morresse amanhã, viria ao menos Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã!

Era a virgem do mar! na escuma fria Pela maré das águas embalada... -- Era um anjo entre nuvens d' alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Quanta glória pressinto em meu futuro! Que aurora de porvir e que amanhã! Eu pendera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã!

Era mais bela! o seio palpitando... Negros olhos, as pálpebras abrindo... Formas nuas no leito resvalando...

Que sol! que céu azul! que doce n’alma Acorda a natureza mais louçã! Não me batera tanto amor no peito, Se eu morresse amanhã!

Não te rias de mim, meu anjo lindo! Por ti - as noites eu velei chorando, Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!

Mas essa dor da vida que devora A ânsia de glória, o dolorido afã... A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã!

3ª GERAÇÃO ROMÂNTICA A Terceira Geração, conhecida por Condoreira ou Social surge num momento marcado pela decadência da monarquia, pela luta abolicionista, pela campanha republicana, é natural que alguns poetas românticos tenham produzido uma poesia que retratasse o social. Castro Alves é o poeta mais representativo desta nova proposta poética brasileira. O olhar do poeta, mesmo poético, é crítico, social, e também lírico-amoroso.

CASTRO ALVES Descendente de uma família tradicional e poderosa do interior baiano seu pai era médico, formado na Europa - Antônio de Castro Alves nasceu na Fazenda das Cabeceiras, perto da cidade de Curralinho. Quando tinha sete anos, a família mudou-se para Salvador. Lá estudou no Colégio Abílio, que revolucionara o ensino brasileiro pela eliminação dos castigos físicos aplicados aos alunos. Em 1858, morreu-lhe a mãe. Seu irmão mais velho, José Antônio, ficou muito abalado, suicidando-se alguns anos depois. Mas já no início de 1862, Castro Alves estava no Recife, fazendo os preparatórios para a Faculdade de Direito, ainda em companhia do irmão. Conheceu então a famosa atriz portuguesa Eugênia Câmara, de quem se tornou amante aos dezenove anos. Na Faculdade, parecia mais interessado em agitar ideias abolicionistas e republicanas e produzir versos (que obtinham grande repercussão entre os colegas) do que propriamente estudar leis. Após concluir um drama em prosa, Gonzaga, especialmente composto para Eugênia Câmara, seguiu com a atriz rumo a Salvador. Ali os dois receberam espetacular consagração com a estreia da peça no Teatro São João. Estando ele disposto a retornar ao curso de Direito, viajaram para São Paulo, antes parando dois meses

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[Literatura I] no Rio de Janeiro, onde foram celebrados por José de Alencar e Machado de Assis. A temporada paulista durou apenas um ano. O nome de Castro Alves tornara-se uma legenda: ótimo declamador de seus próprios poemas, recitou O navio negreiro e Vozes d'África sob a ovação dos estudantes. Um colega escreveu que Castro Alves "era grande e belo como um deus de Homero". Sua vida afetiva, no entanto, entrou em crise pelas constantes traições à orgulhosa Eugênia Câmara. Ela terminou por abandoná-lo definitivamente. Para esquecer a ruptura, o poeta começou a se dedicar à caça, ferindo-se casualmente no pé, que infeccionou. Levado para o Rio, foi submetido a uma amputação sem anestesia. Depois disso, debilitado, retornou à Bahia, onde viveu por pouco mais de um ano, até que sobreveio a tuberculose fatal. Morreu em fevereiro de 1871, antes de completar vinte e quatro anos. Obras: Espumas Flutuantes (1870); A cachoeira de Paulo Afonso (1876); Os escravos (1883); Gonzaga ou A Revolução de Minas (drama - 1875). Sua obra se abre em duas direções: Poesia social – poesia abolicionista, causas liberais e humanitárias. Poesia lírica - natureza e amor sensual. Vozes d’África Marieta Deus! ó Deus! onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes Como o gênio da noite, que desata Embuçado nos céus? O véu de rendas sobre a espádua nua, Há dois mil anos te mandei meu grito, Ela solta os cabelos... Bate a lua Que embalde desde então corre o infinito... Nas alvas dobras de um lençol de prata... Onde estás, Senhor Deus?... O seio virginal, que a mão recata, Qual Prometeu tu me amarraste um dia Embalde o prende a mão... cresce, flutua... Do deserto na rubra penedia Sonha a moça ao relento... Além na rua — Infinito: galé!... Preludia um violão na serenata! . . . Por abutre — me deste o sol candente, E a terra de Suez — foi a corrente . . . Furtivos passos morrem no lajedo. . . Que me ligaste ao pé... (...) Resvala a escada do balcão discreta Minhas irmãs são belas, são ditosas... Matam lábios os beijos em segredo... Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas Dos haréns do Sultão. Afoga-me os suspiros, Marieta! Ou no dorso dos brancos elefantes Ó surpresa! ó palor! ó pranto! ó medo! Embala-se coberta de brilhantes Ai! noites de Romeu e Julieta!... Nas plagas do Hindustão. (...) Quando eu morrer Quando eu morrer... não lancem meu cadáver No fosso de um sombrio cemitério... Odeio o mausoléu que espera o morto Como o viajante desse hotel funéreo. Corre nas veias negras desse mármore Não sei que sangue vil de messalina, A cova, num bocejo indiferente, Abre ao primeiro o boca libertina.(...) Como deve custar ao pobre morto Ver as plagas da vida além perdidas, Sem ver o branco fumo de seus lares Levantar-se por entre as avenidas! ... (...)

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[Literatura I]

Leitura complementar: Victor Hugo: O primeiro libertário A poesia de cunho social e ideais libertários ganha voz no Romantismo nos versos do Frances Victor Hugo. Inaugura-se assim uma tradição em que os textos expõem as dores de seu tempo e traduzem-se em gritos de liberdade. A influência do escritor será sentida em vários autores que irão lutar contra as injustiças da sociedade em que vivem. Veja, nestes versos, traduzidos por Castro Alves, como o poeta é comparado a águia e chamado a levantar sua voz. A águia é o gênio ... Da tormenta o pássaro, Que do monte arremete altivo píncaro, Qu'ergue um grito aos fulgores do arrebol, Cuja garra jamais se peia em lodo, E cujo olhar de fogo troca raios - Contra os raios do sol. Radia!... E tempo!... E se a lufada erguer-se Muda a noite feral em prisma fulgido! De teu alto pensar completa a lei! ... Irmão! - Prende esta mão de irmão na minha! ... Toma a lira - Poeta! Águia! - esvoaça! Sobe, sobe, astro rei! ... No Brasil, Castro Alves será o poeta que mais fortemente se inspirara na luta pela liberdade defendida por Victor Hugo. Como vimos, ela ganhara a forma do grande drama social representado pela escravidão e expressara os desejos abolicionistas do poeta dos escravos. LITERATURA: Tempos, leitores e leitura. Maria Abaurre e Marcela Pontara.

8.2. A PROSA ROMÂNTICA Os romances dos autores românticos europeus como Victor Hugo, Alexandre Dumas, Walter Scott e outros tornaram-se populares no Brasil através de sua publicação em jornais, depois de 1830, criando no público o gosto por um gênero ainda desconhecido entre nós.

O ROMANCE DE FOLHETIM Era publicado com periodicidade regular pela imprensa (jornais da época), explorando a complicação sentimental, a intriga, o mistério, a aventura, à maneira das novelas da televisão. Esta modalidade ganhou grande popularidade e foi através dela que os escritores divulgavam suas obras. O sucesso do folhetim europeu, em jornais brasileiros, foi resultado da emergência de um novo público leitor, composto basicamente por estudantes e mulheres. Era um público urbano, mas não raro procedente do campo: em geral, filhos e esposas de senhores rurais que haviam se estabelecido na Corte, depois da Independência. As mensagens sentimentais libertadoras dos folhetins serviram como uma luva às necessidades daquela gente asfixiada pelas regras intolerantes de uma sociedade economicamente agrária e culturalmente arcaica. E isso estimulou o aparecimento de vulgares adaptações dos relatos românticos, feitas por escritores de segunda categoria. Teixeira e Sousa, em 1843, publicou O filho do pescador, tornando-se o pioneiro desse subgênero.

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[Literatura I] No entanto, em 1844, veio à luz A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Pelo enredo melhor articulado, pelo registro do ambiente carioca e pela sutil harmonização entre amor juvenil e preceitos conservadores, esta narrativa ultrapassava a dimensão de simples cópia de folhetins europeus. Sob certos aspectos, estava nascendo o romance brasileiro.

CARACTERÍSTICAS Ao lado da poesia e do teatro, a ficção, entendida como ROMANCE ROMÂNTICO, completa o quadro dos gêneros preferidos do Romantismo. Os traços mais comuns desse gênero, entre nós, são: a) detalhes de costumes e de cor local; b) comunhão entre a natureza e os sentimentos das personagens; c) elevação de sentimentos e nobreza de caracteres, em oposição à vilania, com o triunfo do bem e a punição do mal, com intenção moralizante (linearidade das personagens, estereotipadas, previsíveis); d) complicação sentimental: o herói e a heroína têm o encontro final, o “happyend”, retardado pela ação do vilão, ou pelo conflito entre a honra e o dever, ou ainda pela intriga ou orgulho ferido, criando no leitor a expectativa pelo desenlace.

ESPÉCIES DE ROMANCES ROMÂNTICOS: • ROMANCE URBANO OU SOCIAL: tem como cenário a cidade e focaliza, em geral, o cotidiano burguês. • ROMANCE INDIANISTA: apresenta o indígena como protagonista. O nativo apresenta fortíssimos traços éticos e morais do cavaleiro medieval europeu. • ROMANCE REGIONALISTA: focaliza usos, costumes e paisagens típicas de determinadas regiões. • ROMANCE HISTÓRICO: retrata o passado histórico brasileiro.

OS ROMANCISTAS ROMÂNTICOS JOAQUIM MANUEL DE MACEDO Nasceu em Itaboraí (RJ), filho de uma família de posses. Jovem ainda, formou-se em Medicina, a qual não praticaria, seduzido pela carreira literária, pelo magistério (foi preceptor dos filhos da princesa Isabel e professor de História no colégio Pedro II) e pela política (tornou-se deputado pelo Partido Liberal em várias legislaturas), além de fazer constantes incursões pelo jornalismo. Foi o primeiro escritor brasileiro a conhecer grande popularidade, deixando uma obra bastante vasta de mais de quarenta títulos. Morreu no Rio de Janeiro. Obras principais:A moreninha (1844); O moço loiro (1845); Memórias do sobrinho de meu tio(1867); A luneta mágica (1869)

A moreninha Augusto, Leopoldo e Fabrício, jovens estudantes de Medicina, vão passar o dia de Sant'Ana em uma ilha de propriedade da avó de Felipe, um colega. Como Augusto se dizia incapaz de ficar apaixonado por alguém por mais de quinze dias, Felipe aposta com ele que, se conseguisse amar alguma mulher, teria que escrever um romance contando essa paixão. Na ilha, pouco a pouco Augusto vai se encantando por Carolina, a Moreninha, irmã de Felipe. Mas o moço mantém um juramento feito a uma menina que conhecera aos treze anos. No entanto, quem vence é Carolina e, no fim, eles descobrem que a menina do passado era a própria Moreninha.

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JOSÉ DE ALENCAR Filho de tradicional família da elite cearense, José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, no interior do Ceará. Seu pai, homem culto, liberal extremado, participou de várias revoluções, como a chefiada por Frei Caneca, em 1817, e a Confederação do Equador, em 1824, exercendo também cargos políticos importantes, como o de senador do Império. O menino viveu, portanto, em um ambiente familiar intelectualizado e favorável à formação cultural. Tinha nove anos quando se mudou com os pais para a Corte (Rio de Janeiro), onde fez seus estudos primários, seguindo depois para São Paulo com o objetivo de concluir o secundário e matricular-se em Direito, curso no qual se formou em 1851, com vinte e dois anos de idade. De volta à Corte, trabalhou como advogado e jornalista. Em 1856, sob pseudônimo de Ig, teceu duras críticas ao poema Confederação dos tamoios, de Gonçalves de Magalhães, que, por seu turno, foi defendido pelo próprio Imperador, também sob pseudônimo. No mesmo ano, Alencar publicou seu romance de estreia, Cinco minutos. Em 1857, lançou no jornal O Diário do Rio de Janeiro, sob a forma de capítulos, o folhetim O guarani, que teve uma repercussão jamais conhecida por qualquer outro escritor até então no país. Com trinta e cinco anos, casou-se com a sobrinha do Almirante Cochrane, herói da Independência. O casal teve quatro filhos. OBRAS PRINCIPAIS: Romances urbanos:Cinco minutos (1856); A viuvinha (1857); Lucíola (1862); Diva (1864); A pata da gazela (1870); Sonhos d'ouro (1872); Senhora (1875); Encarnação (1877). Romances regionalistas ou sertanistas:O gaúcho (1870); O tronco do ipê (1871); Til (1872); O sertanejo (1875); Romances históricos:As minas de prata (1862); Alfarrábios (1873); A guerra dos mascates (1873) Romances indianistas:Ubirajara (1874) Iracema (1865); O guarani (1857);

Senhora Neste romance, o autor retrata os costumes da sociedade carioca da época, tomando como base o relacionamento amoroso entre as personagens Aurélia Camargo e Fernando Seixas. Aurélia Camargo era uma moça órfã e pobre, noiva de Fernando Seixas. Este a abandona para tentar um casamento com outra moça mais rica. Aurélia, no entanto, recebe uma grande herança de seu avô paterno. Querendo vingar-se de seu noivo, ela compra-o por um bom dote, sem identificar-se. Fernando só fica sabendo que sua noiva é Aurélia um pouco antes do casamento. Na noite de núpcias, Fernando é humilhado por Aurélia. Passam a relacionar-se com frieza e indiferença até que Fernando, depois de onze meses de árduo trabalho, devolve o dinheiro do dote à esposa. Só depois disso é que Aurélia lhe suplica o seu amor e, no final do romance os dois reconciliam-se.

MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA Nasceu no Rio de Janeiro, filho de uma família relativamente pobre. Depois de frequentar o colégio, estudou por pouco tempo na Academia de Belas Artes. Com 17 anos incompletos, matriculou-se na Faculdade de Medicina, na qual se formaria em 1855. Ainda estudante, começou a colaborar na imprensa para sustentar os irmãos já que tanto o pai quanto a mãe haviam falecido. Provavelmente por necessidade econômica não pode seguir a carreira médica, optando pelo jornalismo e efetuando traduções diversas para aumentar o minguado salário. Em 1852, publicou anonimamente – sob a forma de folhetim semanal, no Correio Mercantil – o romance “Memórias de um sargento de milícias”que obteve certa repercussão entre os leitores. Em 1854, o texto foi lançado em livro (dois volumes), mas teve uma venda insignificante. O fracasso pode ter sido a causa do abandono da literatura por Almeida. Em 1857 foi nomeado diretor da Tipografia Nacional e tornou amigo e protetor de um jovem funcionário chamado Machado de Assis. Sérios problemas econômicos, no entanto, levaram-no a abandonar o Rio de Janeiro e ir para Nova Friburgo. Na

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[Literatura I] esperança de melhorar de situação, candidatou-se a deputado da Assembleia Provincial. Em novembro de 1861, quando se dirigia a Campos, em campanha política, morreu no naufrágio do vapor Hermes.

Memórias de um sargento de Milícias Publicado primeiramente em folhetins anônimos, apenas assinado por "Um Brasileiro", Memórias de um sargento de Milícias foi editado em forma de livro em 1855. O enredo gira em torno de Leonardo, filho de Leonardo Pataca e de Maria da Hortaliça, e suas aventuras picarescas no Rio de Janeiro, nos princípios do século XIX. Repudiado por pai e mãe, Leonardo e criado e amparado pelos padrinhos. Adulto, namora Luisinha, que se casa com José Manuel. Muito aventureiro, Leonardo se envolve em casos rumorosos. Preso pelo Major Vidigal, torna-se pracinha. Pouco depois e novamente preso e só ganha a liberdade graças a intervenção de sua madrinha. Promovido a sargento de milícias, casa-se com a ex-namorada Luisinha, que enviuvara.

Leitura complementar: Uma obra incomum... “A frieza com que a única obra ficcional de Manuel Antônio de Almeida foi recebida, inclusive por escritores que lhe votavam amizade, evidencia o quanto a mesma fugiu dos padrões estéticos vigentes no país, na metade do século XIX. É verdade que há nesta obra várias passagens de grande ingenuidade narrativa, em especial nos diálogos travados com os leitores, quando o autor anuncia ou posterga os acontecimentos futuros. Porém, diferentemente de seus contemporâneos, intoxicados de clichês românticos, Almeida inova ao apresentar certo relativismo moral, certo cinismo simpático que o torna condescendente com as transgressões dos personagens, transformando estes pecados e pequenos crimes em situações irresistivelmente cômicas e não em melodramas baratos. Assim, ele anula a dicotomia entre o bem e o mal, tão a gosto do Romantismo, e cria a obra mais original do período.”(Sérgio Gonzaga – Curso de Literatura Brasileira)

9.REALISMO 1881 – Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo são as correntes artísticas mais expressivas da segunda metade do século XIX até o limiar do século XX. Refletem, no plano artístico, a consolidação da burguesia e seu fortalecimento, enquanto classe detentora do poder, em função do triunfo definitivo do capital industrial sobre o capital de comércio, e da implementação do capitalismo avançado e sua expansão às áreas periféricas do sistema mundial América, África e Ásia. O ímpeto revolucionário e contestatório do período romântico, a exaltação da liberdade individual, da rebeldia, são sub ESSO, a RAZÃO, que interessam à classe dominante, no sentido da estabilização de suas conquistas, de preservação stituídos por novas palavras-de-ordem: a CIÊNCIA, o PROGR da ORDEM, de maximização da produção industrial. O lema da bandeira brasileira “ORDEM E PROGRESSO”, extraído de Augusto Comte, sintetiza a proposta do Positivismo, uma das vertentes do pensamento da época. O apogeu da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, o avanço científico e tecnológico marcaram profundas transformações na vida, na arte e no pensamento. A situação das massas trabalhadoras nas cidades industriais, a explosão urbana,a eletricidade, o telégrafo sem fios, a locomotiva a vapor criam uma nova forma de vida, antecipadora da civilização industrial do nosso tempo.

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[Literatura I] No Brasil o esse período foi marcado pela abolição da escravatura, o movimento republicano, a fundação do Partido Republicano em 1970, a troca da mão-de-obra escrava pela do imigrante e a Proclamação da República.

O SURGIMENTO DO REALISMO Realismo é um termo bastante amplo que serve para designar as mais variadas tendências artísticas. No sentido de "arte que pretende a reprodução exata e sincera do ambiente social e da época em que vivemos", ele já aparece numa exposição de pinturas de Courbet, em 1856. Porém, como afirmação literária de uma doutrina estética, surge em 1857, também na França, com Madame Bovary, de Gustave Flaubert.

The Stone Breakers(1849), de Gustave Courbet.

Prosa Realista a) Contemporaneidade (para o realista o que interessa é o mundo ao seu redor, o contemporâneo e as pequenas coisas do cotidiano); b) Anti-emotividade e anti-idealização(é uma arte racional, crítica, assim as personagens, as situações e o cenário refletem os equívocos da vida); c) Materialismo (não há lugar para apelos religiosos e místicos. A vida é concebida de forma pragmática); d) Razão e Objetividade (busca apresentar o mundo pelos aspectos cognitivos e não emocionais); e) Verossimilhança (semelhança com a Verdade. A arte deveria imitar a vida); f) Universalismo e Impessoalidade (os temas devem ser tratados de forma genérica e, assim, mais próxima da Verdade); g) Pessimismo (sentido trágico da existência); h) Denúncia das mazelas sociais (essa arte reflete os problemas sociais e a pequenez dos indivíduos); i) Análise psicológica das personagens (desvendamento do caráter da personagem); j) Introspecção (narrativa centrada nas reflexões interiores das personagens).

MACHADO DE ASSIS Joaquim Maria Machado de Assis foi cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um pintor de paredes mestiço, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, uma lavadeira. Machado de Assis além de filho de mestiço e com uma saúde muito frágil era epilético e gago. O jovem que foi criado em um morro tinha tudo para dar errado na vida, mas tornou-se o maior escritor do Brasil. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras em 15 de dezembro de 1896. Faleceu em 1908.

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CARACTERÍSTICAS DO ESCRITOR a) a introspecção; b) o humor e a ironia; c) o pessimismo com relação à essência do homem e seu relacionamento com o mundo; d) a análise psicológica; e) a interferência do narrador; f) os principais temas que aborda são: a ganância, a loucura, o adultério, a ambiguidade feminina, a vaidade, etc.

Memórias Póstumas de Brás Cubas Publicado em 1881, Memórias póstumas de Brás Cubas é o romance que marcou o inicio do Realismo na literatura brasileira. Surgiu, primeiramente, em forma de folhetins. O protagonista-narrador, Brás Cubas, depois de morto, resolve escrever a sua autobiografia. As lembranças vêm fragmentadas, cabendo ao leitor organizá-las para acompanhar o relato. Em capítulos curtos, a história se inicia pela morte de Brás Cubas e as personagens vão sendo apresentadas à medida que participaram da vida dele. De tudo que narra, ressaltam-se os seus amores na juventude. Primeiro o namoro com a prostituta de luxo Marcela, que o explora e quase acaba com os seus bens. Para separá-lo dela, os pais o enviam à Europa. Quando volta, já é doutor. Brás Cubas começa a namorar uma moça pobre, Eugênia, que tem um defeito na perna. Terminado mais esse namoro, fica noivo de Virgília. O casamento teria sido conveniente às aspirações políticas de Brás Cubas, devido à influência do pai de Virgília. Mas, Lobo Neves antecipa-se e casa-se com ela. Brás Cubas fica solteirão. Anos mais tarde, torna-se amante de Virgília, vivendo uma paixão ardente. A gravidez de Virgília alegra Brás Cubas, mas a criança morre antes de nascer, Os amantes se separam. A irmã de Brás Cubas, Sabina, arranja-lhe uma noiva - Eulália - que, no entanto, morre vitimada por uma epidemia. Brás Cubas, completamente sem rumo na vida,encontra o seu amigo e filósofo Quincas Borba. O filósofo lhe explica a teoria do Humanitismo. Mais tarde, o filósofo enlouquece. Brás Cubas vai tentar a vida política, pois quer ser célebre. Em vão. Apanhado por uma pneumonia, vem a falecer.

Dom Casmurro Publicado em 1900, Dom Casmurro é narrado em primeira pessoa. Bentinho conta a sua própria história, a partir de um flashback da velhice para a adolescência. Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar muito carinhoso - tia Justina, tio Cosme, José Dias -, recebendo todos os cuidados da mãe, D. Glória, que o destinara à vida sacerdotal. Entretanto, Bentinho não quer ser padre - namora a vizinha, Capitu, e quer se casar com ela. D. Glória, presa a uma promessa que fizera, aceita a ideia inteligente de Escobar, colega de Bentinho da época do seminário, de enviar um substituto ao seminário, para ser ordenado no lugar de Bentinho. Livre do sacerdócio, o moço se forma em Direito e acaba se casando mesmo com Capitu. O casal vive muito bem; Bentinho vai progredindo, mantém amizade com o casal formado por Escobar e Sancha, a amiga de Capitu. A vida segue o seu curso. Capitu tem um filho chamado Ezequiel. Escobar morre e, durante o seu enterro, Bentinho começa a achar Capitu estranha: surpreende-a contemplando o cadáver de uma forma que ele interpreta como apaixonada. A partir do episódio, Bentinho se consome em ciúmes e tem início uma crise no casamento. Ezequiel se torna cada vez mais parecido com Escobar - o que precipita em Bentinho a certeza de que ele não é seu filho. Em consequência disso, o casal se separa. Capitu e Ezequiel vão para a Europa. Algum tempo depois ela morre. Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que constata a semelhança entre o filho e o antigo colega do seminário. Ezequiel morre no estrangeiro. Bentinho, cada vez mais fechado em sua dúvida, ganha o apelido de “Casmurro” e se põe a escrever o livro de sua vida.

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Leitura complementar: Observe o comentário de Erico Veríssimo sobre Machado de Assis: "Tinha senso de equilíbrio, odiava o exibicionismo, era discreto e abominava a verbosidade. Numa terra de extrovertidos eloquentes era um introvertido sem amor pela eloquência ou o colorido. Aderiu ao romance psicológico, e em suas histórias o enredo é tênue e desimportante, a coisa toda sendo apenas um pretexto para o escritor exercer seus dotes como dissecador de almas. Suas personagens com frequência falam ao leitor o que pensam da vida e dos homens. Seus pontos de vista e pensamentos são sombrios e amargos. Em geral encontram no cinismo um ponto frio, mas seguro para suas almas desiludidas". VERÍSSIMO, Erico. Breve história da literatura brasileira. Porto Alegre: Globo, 1995.

O Realismo e a nacionalização da língua. O Realismo brasileiro teve ainda outro papel no que diz respeito ao processo de nacionalização da língua. A evolução que vinha de longe, e que o Romantismo acentuara, o Realismo consolidou. Incorporando a literatura áreas de expressividade regionais, profissionais, populares, e a não ser em Machado de Assis que criou um estilo, e ao contrario dos mestres franceses da escrita artística, mais inclinado a reproduzir a experiência real na sua frescura imediata, sem fetichismo classicizante e mesmo com relativa indiferença formal, o Realismo concorreu para o desenvolvimento de um estilo em fala nativa. Dando incremento ao processo de independência da expressão, prosseguiu, pela Mao de seus epígonos, a nacionalização da literatura. Coincidindo com o inicio do trabalho de valorização, analise e interpretação da realidade brasileira, graças aos estudos antropológicos, etnográficos, folclóricos, sociológicos, históricos e linguísticos, o Realismo olhou para o mundo brasileiro, ensinou o escritor brasileiro a tratar esteticamente do material autóctone, não mais com o sentimentalismo romântico, e com ele a literatura finca pé definitivamente no solo pátrio, conquista que o Modernismo (1922) veio ratificar de vez. A literatura no Brasil, de Afrânio Coutinho

10. NATURALISMO 1881 – “O mulato”, de Aluísio Azevedo O naturalismo adota a teoria de que a arte deve se conformar com a natureza, utilizando métodos científicos de observação e experimentação no tratamento dos fatos e personagens. Seu criador foi Émile Zola no livro Lê Roman Experimentable. Afirma que o método do cientista deveria ser o do escritor. Pode-se afirmar ainda que o Naturalismo é um Realismo exacerbado e de análise, além de psicológica, patológica das personagens.O Naturalismo surge como o romance Teresa Raquin (1868), de Zola.

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Prosa Naturalista a) Determinismo (as personagens são submetida às leis deterministas: são moldadas pelo meio, momento e pela hereditariedade); b) Descrição minuciosa (tudo é devidamente explicado, numa narrativa lenta, com detalhes de cenário, origem das personagens...); c) Animalização do comportamento humano (as personagens são comparadas a animais, mostrando que agem por instinto - meio, momento e hereditariedade); d) Predileção pelo lado patológico das personagens (as personagens apresentam “taras” - defeitos morais. Verdadeiros comportamentos doentios). e) Crítica social explícita (todo autor naturalista elabora uma crítica direta a aspectos da realidade social).

O Romance Experimental ou Romance de Tese: O romancista procura se equiparar ao médico ou cientista. Seu método de composição artística pressupõe uma objetividade e um rigor tão absolutos que o escritor se transforma num mero ilustrador dos postulados das ciências. Esta proximidade da literatura com o método de investigação leva Zola a designar o romance naturalista também como romance experimental ou de tese. A pretensão científica torna-se cada vez mais obstinada: O romance experimental é uma consequência da evolução científica do século. Ele continua e completa a fisiologia; ele se apoia sobre a química e a física; ele substitui o estudo do homem abstrato e metafísico pelo estudo do homem natural, submetido à leis físicoquímicas e determinado pelas influências do meio. Ele é, em uma palavra, a literatura de nossa idade científica.

Leitura complementar: Diferenças entre Realismo e Naturalismo Os escritores realistas propunham-se a fazer o "romance da revolução, pretendiam reformar a sociedade por meio da literatura crítica. Preferiam trabalhar com um pequeno elenco do personagens e analisá-los psicologicamente. Esperavam com isso que os leitores se identificassem com as situações retratadas e, a partir de uma auto-análise, pudessem transformar-se. Já os naturalistas estavam comprometidos com a ética cientificista da época objetivavam desenvolver o “romance de tese”, no qual seria possível a demonstração das diversas teorias científicas. Os naturalistas retratam preferencialmente o coletivo, envolvendo as personagens em espaços miseráveis, corrompidos social e/ou moralmente, pois acreditavam que a concentração de muitas pessoas num espaço desfavorável fazia aflorar os desvios psicopatológicos - um alvo de interesse desses escritores. Os naturalistas vêem o mundo com olhos biológicos, reduzem o homem à condição animal, fazendo prevalecer o instinto sobre a razão. Os aspectos desagradáveis e repulsivos da condição humana são valorizados, como uma forma de reação ao idealismo romântico. (In: Jordão, Rose e Oliveira, ClenirBellezi de - Linguagens: Estrutura e Arte. São Paulo: Moderna)

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ALUÍSIO AZEVEDO Nasceu em São Luís do Maranhão, filho de uma mulher cheia de ousadia que abandonara o marido, grosseiro comerciante português, para ir viver em regime de concubinato com o vice-cônsul de Portugal, com quem teve cinco filhos. Estimulado pela atmosfera intelectual e artística que imperava em sua casa, Aluísio revelou precocemente pendor pelo desenho e pela pintura. Fez os primeiros estudos na capital maranhense, mas aos dezenove anos, sonhando com um curso de Belas-Artes, na Europa, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde seu irmão mais velho, o comediógrafo e jornalista Artur de Azevedo fazia grande sucesso. Lá trabalhou como caricaturista em vários periódicos. A morte do pai, dois anos depois, obrigou-o a retornar para São Luís, onde cuidaria dos negócios paternos. Em 1879, estreou na literatura com um medíocre folhetim, Uma lágrima de mulher. Dedicou-se também ao jornalismo, editando O pensador, um jornal de combate ao clero e ao atraso mental de cidade. Em 1895, com quase quarenta anos, ingressou na carreira diplomática. Como cônsul, percorreu uma série de países estrangeiros. A partir de então, surpreendentemente, abandonou a produção literária. Os motivos de sua renúncia ficaram ignorados. Morreu em Buenos Aires, onde servia e vivia conjugalmente com uma senhora argentina e dois filhos desta. Obras Principais: Naturalistas - O mulato (1881); Casa de pensão (1884); O cortiço (1890) Folhetins - Girândola de amores (1882); O homem (1894); O livro de uma sogra (1895).

O Cortiço O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso. Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rompimento provisório de relações entre os dois. Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão trabalha ardorosamente e passa por privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também ostentar uma posição social reconhecida, frequentar ambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente da vida burguesa. No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira. Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance procura demonstrar a má influência do meio sobre o homem é o caso do português Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos. O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo as manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado. Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a denuncia a seus donos como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser capturada, Bertoleza comete o suicídio, deixando o caminho livre para o casamento de Romão.

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RAUL POMPEIA Nasceu em Angra do Reis, filho de uma família de grandes proprietários. Teve uma infância bastante reclusa, devido ao isolamento social de seus pais. No começo da década de 1870, os Pompeia se mudaram para a Corte e o menino vai estudar no mais famoso e caro colégio da época, o Colégio Abílio, onde permaneceu por cinco anos e do qual se vingaria dez anos depois. Concluiu seus estudos no Colégio D. Pedro II e, mais tarde, bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Abolicionista e republicano exaltado, é uma espécie de intelectual de esquerda da época. Ocupou vários cargos públicos, inclusive a direção da Biblioteca Nacional. Seu temperamento exaltado despertou ódios e inimizades. Chegou a marcar um duelo com Olavo Bilac, que acabou não se realizando. Esta sensibilidade doentia e não resolvida impeliu-o ao suicídio, num dia de Natal. Contava então trinta e dois anos de idade. Obra Principal: O Ateneu (1888)

O Ateneu O Ateneu tem o subtítulo Crônica de saudades, constituindo-se em um misto de obra de ficção e de memórias. Oscilando entre ser um diário e um romance, o livro é escrito em torno das experiências do menino Sérgio no internato dirigido pela mão de ferro de Aristarco Argolo de Ramos. Não há um enredo básico que possa ser reproduzido. A história do internato fala da formação sexual e intelectual do adolescente como um reflexo da sociedade e focaliza, ao mesmo tempo, a decadência do regime monárquico-escravocrata brasileiro. Trata-se de uma justaposição de quadros narrativos que vão sendo expostos ao leitor. Personagens e situações do colégio são apresentadas, desvendando-se, assim, um mundo de hipocrisias e falsidades em que até amigos se tornam delatores. No internato existe um sistema de “proteções”; alguns estudantes mais velhos tomam a guarda de outros mais novos. O sistema esconde todo tipo de baixeza, inclusive o assassinato provocado pela criada Ângela. A atmosfera saturada e falsa, forjada pelo diretor Aristarco, contamina a todos, com exceção de D. Ema, esposa do diretor, que, aparentemente, é pessoa de muito boa vontade e vem a ser objeto de uma paixão platônica do menino Sérgio.

Leitura complementar: A Classificação de O Ateneu “O Ateneu já foi incluído na estética naturalista. A ideia da corrupção desencadeada pelo meio percorre o romance. Mas a diluição da objetividade narrativa num angustiante subjetivismo afasta o texto dos princípios daquele movimento. Vários críticos consideram o relato como realista, usando os mesmos critérios para a classificação da obra de Machado de Assis, isto é, tratar-se-ia de um realismo particular, pessoal, intransferível. Este conceito, como já vimos, possui tamanha abrangência que nenhum livro escrito no ocidente deixaria de ser realista. Mais recentemente, alguns críticos buscaram uma similitude entre a obra de Raul Pompeia e valores do Impressionismo europeu, numa engenhosa aproximação.” (Sérgius Gonzaga – Curso de Literatura Brasileira)

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11. PARNASIANISMO 1882 – “Fanfarras” de Teófilo Dias Parnasianismo foi um movimento essencialmente poético que reagiu contra os abusos sentimentais dos românticos. Alguns críticos chegam a considerá-lo uma espécie de Realismo na poesia. Tal aproximação é relativa, pois apesar de algumas identidades (objetivismo, perfeição formal) as duas correntes apresentam visões de mundo distintas. O autor realista percebe a crise da auto-imagem elogiosa da burguesia europeia, já não acredita em nenhum dos valores da classe dominante e a fustiga social e moralmente. Em compensação, o autor parnasiano mantém uma soberba indiferença frente aos dramas do cotidiano, isolando-se na sua "torre de marfim", onde elabora teorias formalistas de acordo com a inconsequência e a superficialidade vitoriosas em vários setores artísticos, no final do século XIX. Neste sentido, o Parnasianismo pode ser associado à “Belle Époque” - época dourada das elites europeias, que se divertem com os lucros do espólio imperialista. O can-can, os cabarés e cafés parisienses, os janotas que bebem licor e as prostitutas de alta classe formam a imagem frenética de um mundo enriquecido e alegre. Uma certeza inabalável preside esse mundo: a de que ele é eterno e superior. Assim, o Parnasianismo será a tradução poética de um período de euforia e de relativa tranquilidade social, no qual a forma e a ornamentação se sobreporão às ideias. (Curso de Literatura Brasileira – Sérgius Gonzaga)

CONCEITUAÇÃO O Parnasianismo surgiu na França, a partir de 1866, com uma antologia de poetas de tendências diversas, mas, na maioria, desejosos de reagir contra o sentimentalismo romântico. Essa publicação chamava-se LE PARNASE CONTEMPORAIN e tinha, entre os seus participes e teorizadores, entre outros, os poetas: Théophile Gauthier, Leconte de Lisle e Charles Baudelaire A denominação “Le Parnase Contemporain” remete-nos à Antiguidade Clássica: o Monte Parnaso, na região da Fócida (Grécia), segundo uma lenda, era a morada dos deuses e poetas que se isolavam do mundo para dedicar-se exclusivamente à arte. Além do francês, só no Brasil houve um movimento chamado Parnasianismo, diretamente inspirado nele.

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CARACTERÍSTICAS a) “A arte pela arte” (a preocupação com a estética: versos, rimas, ritmos, estrofes, métricas); b) Perfeição formal (“O poeta joalheiro”); c) Recusa aos temas vulgares (“O poeta na torre de marfim” , a preocupação com a estrutura do poema: d) e) f) g) h) i) j) k) l)

poema=joia); Poesia descritivista, plástica e visual (descrevem cenas da natureza, objetos de arte, as formas, os volumes e as cores)); Gosto pelo detalhe (detalhismo); Fetichismo (culto ao objeto); Retorno aos temas greco-latinos (resgatam a antiguidade clássica: os mitos e os deuses); Preferência por formas fixas (sonetos); Uso de rimas ricas e raras (entre palavras de classes gramaticais diferente e difíceis de serem feitas); Comparação entre poesias e artes plásticas (poesia das elites); Impassibilidade (incapacidade de demonstrar emoções, poesia anti-sentimentalista); Poetas de Dicionário (linguagem culta, erudita).

Detalhe de O Parnaso, célebre quadro de Rafael, mostrando o lendário monte grego, onde viviam pastores e poetas. FONTE: http://warburg.chaaunicamp.com.br/obras/view/12699

OLAVO BILAC Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac, jornalista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, de que é expressão o poema “O caçador de esmeraldas”, celebrando os feitos, a desilusão e morte do bandeirante Fernão Dias Pais. Bilac foi, no seu tempo, um dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, tendo sido eleito o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, no concurso que a revista Fon-fon lançou em 1º de março de

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[Literatura I] 1913. Alguns anos mais tarde, os poetas parnasianos seriam o principal alvo do Modernismo. Apesar da reação modernista contra a sua poesia, Olavo Bilac tem lugar de destaque na literatura brasileira, como dos mais típicos e perfeitos dentro do Parnasianismo brasileiro. Foi notável conferencista, numa época de moda das conferências no Rio de Janeiro, e produziu também contos, crônicas e obras didáticas. Obras: Poesias (1888); Crônicas e novelas (1894); Crítica e fantasia (1904); Conferências literárias (1906); Dicionário de rimas (1913); Tratado de versificação (1910); Ironia e piedade, crônicas (1916); Tarde (1919), etc.

CARACTERÍSTICAS DO POETA a) b) c) d) e) f) g) h)

Poesia plástica e retórica (visual e de perguntas e respostas); Culto a perfeição formal (a preocupação estética); Lirismo espiritualizado (amor elevado); Sensualidade (o erotismo dos versos); Temas: a beleza física da mulher, diversos cenários, a antiguidade greco-romana); Momentos históricos (resgatas momentos da história da humanidade); A reflexão existencial (desassossegos da vida) O nacionalismo ufanista (sentimento patriótico) Profissão de fé

(...) Invejo o ourives quando escrevo: Imito o amor Com que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor.

Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo: O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro.

Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito: E que o lavor do verso, acaso, Por tão subtil, Possa o lavor lembrar de um vaso De Becerril. (...)

Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papel A pena, como em prata firme Corre o cinzel. Corre; desenha, enfeita a imagem, A idéia veste:

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Via Láctea XIII “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?” E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Satânia

In extremis

Nua, de pé, solto o cabelo às costas, Sorri. Na alcova perfumada e quente, Pela janela, como um rio enorme De áureas ondas tranqüilas e impalpáveis,

Nunca morrer assim! Nunca morrer num dia Assim! De um sol assim! Tu, desgrenhada e fria, Fria! Postos nos meus os teus olhos molhados, E apertando nos teus os meus dedos gelados...

Profusamente a luz do meio-dia Entra e se espalha palpitante e viva. Entra, parte-se em feixes rutilantes, Aviva as cores das tapeçarias,

E um dia assim! De um sol assim! E assim a esfera Toda azul, no esplendor do fim da primavera! Asas, tontas de luz, cortando o firmamento! Ninhos cantando! Em flor a terra toda! O vento Despencando os rosais, sacudindo o arvoredo... E, aqui dentro, o silêncio... E este espanto! E este medo! Nós dois... e, entre nós dois, implacável e forte, A arredar-me de ti, cada vez mais a morte... Eu com o frio a crescer no coração, — tão cheio De ti, até no horror do verdadeiro anseio! Tu, vendo retorcer-se amarguradamente, A boca que beijava a tua boca ardente, A boca que foi tua! E eu morrendo! E eu morrendo, Vendo-te, e vendo o sol, e vendo o céu, e vendo Tão bela palpitar nos teus olhos, querida, A delícia da vida! A delícia da vida!

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Doura os espelhos e os cristais inflama. Depois, tremendo, como a arfar, desliza Pelo chão, desenrola-se, e, mais leve, Como uma vaga preguiçosa e lenta, Vem lhe beijar a pequenina ponta Do pequenino pé macio e branco.


O NACIONALISMO UFANISTA EM OLAVO BILAC Olavo Bilac também quebra a impassibilidade parnasiana com o patriotismo retumbante de seus versos. Transforma-se numa espécie de poeta oficial da República Velha, fugindo do Brasil problemático e inventando um Brasil de heróis intrépidos, grandezas infinitas e símbolos a serem amados. Bandeirantes ferozes, como Fernão Dias Pais Leme, são transformados em agentes da civilização ("Violador dos sertões, plantador de cidades / Dentro do coração da pátria viverás!") A natureza, a exemplo do Romantismo, vira expressão da nacionalidade. Crianças são convocadas a amar a pátria com "fé e orgulho". E a poesia parece diluir-se num manual de civismo. Mesmo assim - descontados o tom declamatório e o excesso ufanista - sente-se aqui e ali a dimensão do verdadeiro criador. O caçador de esmeraldas, rápida e frustrada tentativa épica, tem um belo início: Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada Do outono, quando a terra, em sede requeimada, Bebera longamente as águas da estação, Que, em bandeira, buscando esmeraldas e prata, À frente dos peões filhos da rude mata, Fernão Dias Paes Leme entrou pelo sertão. Um dos seus poemas patrióticos mais conhecidos é Língua portuguesa: Última flor do Lácio*, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga* impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura. Tuba* de alto clangor*, lira singela, Que tens o trom* e o silvo da procela* , E o arrolo* da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!" E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! * Lácio: região que circunda Roma e onde se origina o latim. * Ganga: resíduo inútil de minério. * Tuba: instrumento de sopro, similar à trombeta * Clangor: som forte * Trom: som de trovão * Procela: tempestade * Arrolo: arrulho, acalanto (Curso de Literatura Brasileira, Sergius Gonzaga)

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RAIMUNDO CORREIA Raimundo Correia (Raimundo da Mota de Azevedo Correia), magistrado, professor, diplomata e poeta, nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris, França, em 13 de setembro de 1911. Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia brasileira. Seu livro de estréia, Primeiros sonhos (1879) insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883) nota-se o feitio novo que seria definitivo em sua obra o Parnasianismo. Obras: Primeiros sonhos (1879); Sinfonias (1883); Versos e versões (1887); Aleluias (1891); Poesias (1898, 1906, 1910, 1916);

CARACTERÍSTICAS DO POETA a) b) c) d) e) f)

Poesia reflexiva, filosófica e moralista (existencialista, o sentido da vida); De participação social (a consciência da realidade); Poesia romântica, mas objetiva (sem exageros) ; A transitoriedade da vida (a consciência da vida efêmera); O pessimismo (a melancolia, de caráter filosofante, visão dolorida da existência); O negativismo (“As pombas” – perda das ilusões). As pombas

Mal Secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse;

Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada...

Se se pudesse o espírito que chora Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse!

E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada...

Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa!

Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais;

Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja a ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa!

No azul da adolescência as asas soltam, Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais...

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ALBERTO DE OLIVEIRA Antônio Mariano Alberto de Oliveira, farmacêutico, professor e poeta, nasceu em Palmital de Saquarema, RJ, em 28 de abril de 1857, e faleceu em Niterói, RJ, em 19 de janeiro de 1937. Durante toda a carreira literária, colaborou também em jornais cariocas: Gazetinha, A Semana, Diário do Rio de Janeiro, Mequetrefe, Combate, Gazeta da Noite, Tribuna de Petrópolis, Revista Brasileira, Correio da Manhã, Revista do Brasil, Revista de Portugal, Revista de Língua Portuguesa. Era um apaixonado bibliógrafo, e chegou a possuir uma das bibliotecas mais escolhidas e valiosas de clássicos brasileiros e portugueses, que doou à Academia Brasileira de Letras. Obras poéticas: Canções românticas (1878); Meridionais, com introdução de Machado de Assis (1884); Sonetos e poemas (1885); Versos e rimas (1895): Poesias completas, 1 série (1900), etc.

CARACTERÍSTICAS DO POETA a) b) c) d) e) f)

Concepção estética (cria modelos: de mulher, da natureza e de objeto; uma reprodução mecânica); Humanização dos objetos (personificação de obras de arte) ; Lirismo amoroso oscila entre casto e erótico (puro/virginal X sensual/vulgar) ; Fetichismo (Vaso grego, Vaso chinês) Sugestões extraídas da arte e dos mitos gregos e orientais (resgate da antiguidade clássica); Segue os rígidos padrões do movimento (o descritivismo e a preocupação com a forma) Cheiro de espádua

Vaso Chinês Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, Casualmente, uma vez, de um perfumado Contador sobre o mármor luzidio, Entre um leque e o começo de um bordado.

Quando a valsa acabou, veio à janela, Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava, Eu, viração da noite, a essa hora entrava E estaquei, vendo-a decotada e bela.

Fino artista chinês, enamorado, Nele pusera o coração doentio Em rubras flores de um sutil lavrado, Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Eram os ombros, era a espádua, aquela Carne rosada um mimo! A arder na alva De improvisa paixão, eu, que a beijava, Hauri sequiosa toda a essência dela!

Mas, talvez por contraste à desventura, Quem o sabe?... de um velho mandarim Também lá estava a singular figura.

Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciúme! Sair velada da mantilha. A esteira Sigo, até que a perdi, de seu perfume.

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a, Sentia um não sei quê com aquele chim De olhos cortados à feição de amêndoa.

E agora, que se foi, lembrando-a ainda, Sinto que à luz do luar nas folhas, cheira Este ar da noite àquela espádua linda!

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12. SIMBOLISMO 1803 – “Missal” e “Broquéis” de Cruz e Sousa As duas últimas décadas do século XIX assistiram, em todos os planos do conhecimento, a uma forte reação contra o espírito científico, positivista, materialista, determinista e mecanicista. Invertendo-se a tendência dominante, a Ciência, até há pouco, “Dona da Verdade”, passa a ser questionada, impondo-se um forte desencanto, pois a Ciência, que a tudo enquadrava numa forçada relação de causalidade, mostrava-se impotente, deixando intocadas as grandes questões da vida, que continuavam como um profundo mistério. É exatamente esse mistério que vai seduzir os filósofos e artistas desse período, na busca, muitas vezes, de um modo suprarracional de conhecimento; este caminho é o “coração” de Pascal (“O coração tem razões que a própria razão desconhece”) e será logo, para muitos filósofos, a “intuição”, ou aquilo que, desde há muito tempo, têm experimentado os místicos. As três idades da mulher (1905) de Gustave Klimt. A arte simbolista procura fazer com que o público perceba a relação entre a realidade aparente e a essência. FONTE: http://vestindovestido.blogspot.com.br/2010/07/as-tres-idades-da-mulher-gustav-klimt.html

Conceituação Os simbolistas retomam a subjetividade da arte romântica com outro sentido. Os românticos desvendavam apenas a primeira camada da vida interior, onde se localizavam vivências quase sempre de ordem sentimental. Os simbolistas vão mais longe, descendo até os limites do subconsciente e mesmo do inconsciente.

Características Negação do positivismo (das ciências); Religiosidade, transcendentalismo e misticismo (o metafísico, o que foge ao nosso entendimento) ;; Subjetividade: predomínio do vago e etéreo (impreciso, misterioso e sem forma); Os nefelibatas (néfilins - seres que vivem com os pés nas nuvens);; Musicalidade: aliteração (repetição de consoantes), assonância (repetição de vogais); Cromatismo (utilização das cores claras);; Hermetismo (poesia de difícil compreensão); Criação poética como fruto do inconsciente, da intuição, da sugestão da associação de idéias (incorporam elementos sensoriais); i) O eu X mundo (poesia existencialista e reflexiva); j) A utilização de palavras iniciando com letra maiúscula no interior dos versos; k) A sinestesia (representação das sensações); a) b) c) d) e) f) g) h)

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CRUZ E SOUSA João da Cruz e Souza nasceu em 21 de novembro de 1861 em Desterro, hoje Florinaopolis, Santa Catarina. Seu pai e sua mãe, negros puros, eram escravos alforriados pelo marechal Guilherme Xavier de Sousa. Ao que tudo indica o marechal gostava muito dessa família pois o menino João da Cruz recebeu, além de educação refinada, adquirida no Liceu Provincial de Santa Catarina, o sobrenome Sousa. Apesar de toda essa proteção, Cruz e Souza sofreu muito com o preconceito racial. Depois de dirigir um jornal abolicionista, foi impedido de deixar sua terra natal por motivos de preconceito racial. Algum tempo depois é nomeado promotor público, porém, é impedido de assumir o cargo, novamente por causa do preconceito. Ao transferir-se para o Rio, sobreviveu trabalhando em pequenos empregos e continuou sendo vítima do preconceito. Em 1893 casa-se com Gravita Rosa Gonçalves, que também era negra e que mais tarde enlouqueceu. O casal teve quatro filhos e todos faleceram prematuramente, o que teve vida mais longa morreu quando tinha apenas 17 anos. Cruz e Souza morreu em 19 de março de 1898 na cidade mineira de Sítio, vítima de tuberculose. Suas únicas obras publicadas em vida foram Missal e Broquéis. De um lado, encontram-se aspectos noturnos, herdados do Romantismo como por exemplo o culto da noite, certo satanismo, pessimismo, angústia morte etc. Já de outro, percebe-se uma certa preocupação formal, como o gosto pelo soneto, o uso de vocábulos refinados, a força das imagens etc. Em relação a sua obra, pode-se dizer ainda que ela tem um caráter evolutivo, pois trata de temas até certo ponto pessoais como por exemplo o sofrimento do negro e evolui para a angústia do ser humano.

CARACTERÍSTICAS DO POETA a) Poesia humanístico-social (a valorização do humano); b) Busca do transcendentalismo (o misticismo, o metafísico); c) Obsessão pela cor branca (cromatismo); d) Temas raciais (negritude) com grande dramatismo (a consciência da raça negra, o sofrimento); e) Sensualidade (o erotismo dos versos); f) A musicalidade (aliterações e assonâncias);

Violões que Choram...

Antífona Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas! Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras Formas do Amor, constelarmante puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas ... Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... (...)

Ah! plangentes violões dormentes, mornos, soluços ao luar, choros ao vento... Tristes perfis, os mais vagos contornos, bocas murmurejantes de lamento. Sutis palpitações à luz da lua anseio dos momentos mais saudosos, quando lá choram na deserta rua as cordas vivas dos violões chorosos. (...) Vozes veladas, veludosas vozes, volúpias dos violões, vozes veladas, vagam nos velhos vórtices velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. (...)

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TEXTO COMPLEMENTAR Cruz e Sousa - O sofrimento da condição negra Em Faróis e Evocações (poemas confessionais em prosa), Cruz e Sousa produzirá textos dolorosos e noturnos. A escuridão da noite - sempre associada à ideia de morte - substituirá o culto do branco e do erotismo. Estes dois livros correspondem à época da loucura de sua mulher, das maiores dificuldades financeiras, do preconceito de cor e do descaso dos intelectuais por sua obra. Como que lhe traduzindo a agonia interior, o estilo torna-se mais obscuro e tortuoso do que normalmente. O seu sentimento dominante é o de opressão, como se percebe em O emparedado: Se caminhares para a direita, baterás e esbarrarás ansioso, aflito, numa parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que a primeira. Se caminhares para a frente, ainda nova parede, feita de Despeito e Impotências, tremenda, de granito, broncamente se elevará do alto! Se caminhares, enfim, para trás, há ainda uma derradeira parede, fechando tudo, fechando tudo - horrível! - parede de Imbecilidade e Ignorância, te deixará n'um frio espasmo de terror absoluto. (...) E as estranhas paredes hão de subir longas, negras, terríficas! Hão de subir, subir, subir mudas, silenciosas, até as Estrelas, deixando-te para sempre perdidamente alucinado e emparedado dentro do teu Sonho... O sofrimento da condição negra não se transforma em protesto racial, e sim em isolamento, solidão, aristocratização amarga. O Simbolismo é para ele uma forma de revolta contra a sociedade e contra suas próprias origens africanas, pelas quais sente, ao mesmo tempo, orgulho e pesar. O "emparedado" vingase das "paredes" que o asfixiam com a sua criatividade poética. É uma revolta estética, raramente quebrada pela denúncia social, a não ser em textos como Litania dos pobres: Os miseráveis, os rotos São as flores dos esgotos São espectros implacáveis Os rotos, os miseráveis São prantos negros de furnas Caladas, mudas, soturnas (...) Faróis à noite apagados Por ventos desesperados(...) Bandeiras rotas, sem nome, Das barricadas da fome. Bandeiras estraçalhadas Das sangrentas barricadas. (Curso de Literatura Brasileira, Sergius Gonzaga)

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ALPHONSUS DE GUIMARÃES Afonso Henriques da Costa Guimarães Nasceu em 24 de julho de 1870 na cidade de Ouro Preto em Minas Gerais. Após cursar as primeiras letras, matriculouse, em 1887, no curso de engenharia. No entanto, em 1888, morre sua noiva, Constança. A morte da moça abalou moralmente e fisicamente o poeta. Devido ao período que viveu em Mariana, ficou conhecido como “O Solitário de Mariana”, apesar de ter vivido lá com a mulher e, acredite se quiser, seus 14 filhos. O apelido foi dado a ele devido ao estado de isolamento completo em que viveu. Sua vida, nessa época, passou a ser dedicada basicamente às atividades de juiz e à elaboração de sua obra poética. Apesar de ter se casado posteriormente, o amor por Constança marcou profundamente sua poesia. Além disso, o misticismo e a morte são outras características que marcaram profundamente sua poesia. O misticismo surge em decorrência do amor pela noiva e de sua profunda devoção pela Virgem Maria. A morte é vista como a única maneira de aproximar-se de sua Amada é também da Virgem Maria.

CARACTERÍSTICAS DO POETA a) Poesia místico – religiosa (parecida com sonhos, emotiva - (a devoção à Virgem Maria) b) Temas: amor e morte (a morte da noiva) c) Tom de ternura e melancolia (sensível e delicado) d) A sonoridade dos versos (uso de aliterações e assonâncias); e) Paisagens fantasmagóricas (leia o poema “A catedral”)

Segunda dor Mãos que os lírios invejam, mãos eleitas Para aliviar de Cristo os sofrimentos, Cujas veias azuis parecem feitas Da mesma essência astral dos olhos bentos; Mãos de sonho e de crença, mãos afeitas A guiar do moribundo os passos lentos, E em séculos de fé, rosas desfeitas Em hinos sobre as torres dos conventos. Mãos a bordar o santo Escapulário, Que revelastes para quem padece O inefável consolo do Rosário; Mãos ungidas no sangue da Coroa, Deixai tombar sobre a minha Alma em prece A bênção que redime e que perdoa !

Crucificação Corpo Hipercúbico, Salvador Dali . FONTE: http://diamantinoarts.blogspot.com.br/2011/12 /abordagem-do-cristo-crucificado-na.html

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A catedral

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu, Pôs-se na torre a sonhar... Viu uma lua no céu, Viu outra lua no mar.

Entre brumas, ao longe, surge a aurora. O hialino orvalho aos poucos se evapora Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu risonho, Toda branca de sol.

No sonho em que se perdeu, Banhou-se toda em luar... Queria subir ao céu, Queria descer ao mar...

E o sino canta em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" O astro glorioso segue a eterna estrada. Uma áurea seta lhe cintila em cada Refulgente raio de luz. A catedral ebúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho, Recebe a bênção de Jesus. (...) E o sino chora em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!" O céu é todo trevas: o vento uiva. Do relâmpago a cabeleira ruiva Vem açoitar o rosto meu. A catedral ebúrnea do meu sonho, Afunda-se no caos do céu medonho Como um astro que já morreu.

E, no desvario seu, Na torre pôs-se a cantar... Estava longe do céu... Estava longe do mar... E como um anjo pendeu As asas para voar. . . Queria a lua do céu, Queria a lua do mar... As asas que Deus lhe deu Ruflaram de par em par... Sua alma, subiu ao céu, Seu corpo desceu ao mar...

E o sino geme em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

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Literatura I

EXERCÍCIOS: ENEM + vestibulares 1. ARTE DA LITERATURA

d) êxodo rural e a falta de escolaridade são causas da violência nas grandes cidades. e) complacência das leis e a inércia das personagens são estímulos à prática criminosa.

1. (ENEM 2014) Leia os textos: TEXTO I

2. (ENEM 2014) Leia o texto:

João Guedes, um dos assíduos frequentadores do boliche do capitão, mudara-se da campanha havia três anos. Três anos de pobreza na cidade bastaram para o degradar. Ao morrer, não tinha um vintém nos bolsos e fazia dois meses que saíra da cadeia, onde estivera preso por roubo de ovelha. A história de sua desgraça se confunde com a da maioria dos que povoam a aldeia de Boa Ventura, uma cidadezinha distante, triste e precocemente envelhecida, situada nos confins da fronteira do Brasil com o Uruguai.

Cordel resiste à tecnologia gráfica O Cariri mantém uma das mais ricas tradições da cultura popular. É a literatura de cordel, que atravessa os séculos sem ser destruída pela avalanche de modernidade que invade o sertão lírico e telúrico. Na contramão do progresso, que informatizou a industria gráfica, a Lira Nordestina, de Juazeiro do Norte, e a Academia dos Cordelistas do Crato conservam, em suas oficinas, velhas máquinas para impressão dos seus cordéis. A chapa para impressão do cordel é feita à mão, letra por letra, um trabalho artesanal que dura cerca de uma hora para confecção de uma página. Em seguida, a chapa é levada para a impressora, também manual, para imprimir. A manutenção desse sistema antigo de impressão faz parte da filosofia do trabalho. A outra etapa é a confecção da xilogravura para a capa do cordel. As xilogravuras são ilustrações populares obtidas por gravuras talhadas em madeira. A origem da xilogravura nordestina até hoje é ignorada. Acredita-se que os missionários portugueses tenham ensinado sua técnica aos índios, como uma atividade extra-catequese, partindo do princípio religioso que defende a necessidade sujeita aos maus pensamentos, ao pecado. A xilogravura antecedeu ao clichê, placa fotomecanicamente gravada em relevo sobre metal, usualmente zinco, que era utilizada nos jornais impressos em rotoplanas.

MARTINS, C. Porteira fechada. Porto Alegre: Movimento, 2001 (fragmento).

TEXTO II Comecei a procurar emprego, já topando o que desse e viesse, menos complicação com os homens, mas não tava fácil. Fui na feira, fui nos bancos de sangue, fui nesses lugares que sempre dão para descolar algum, fui de porta em porta me oferecendo de faxineiro, mas tava todo mundo escabreado pedindo referências, e referências eu só tinha do diretor do presídio. FONSECA, R. Feliz Ano Novo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (fragmento).

A oposição entre campo e cidade esteve entre as temáticas tradicionais da literatura brasileira. Nos fragmentos dos dois autores contemporâneos, esse embate incorpora um elemento novo: a questão da violência e do desemprego. As narrativas apresentam confluência, pois nelas o(a)

VICELMO, A. Disponível em: www.onordeste.com. Acesso em: 24 fev. 2013 (adaptado).

a) criminalidade é algo inerente ao ser humano, que sucumbe a suas manifestações. b) meio urbano, especialmente o das grandes cidades, estimula uma vida mais violenta. c) falta de oportunidades na cidade dialoga com a pobreza do campo rumo à criminalidade.

A estratégia gráfica constituída pela união entre as técnicas da impressão manual e da confecção da xilogravura na produção de folhetos de cordel

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a) realça a importância da xilogravura sobre o clichê. b) oportuniza a renovação dessa arte na modernidade. c) demonstra a utilidade desses textos para a catequese. d) revela a necessidade da busca das origens dessa literatura. e) auxilia na manutenção da essência identitária dessa tradição popular.

numa explosão de diamantes. A reflexão acerca do fazer poético é um dos mais marcantes atributos da produção literária contemporânea, que, no poema de José Paulo Paes, se expressa por um(a) a) reconhecimento, pelo eu lírico, de suas limitações no processo criativo, manifesto na expressão “Por translúcida pões”. b) subserviência aos princípios do rigor formal e dos cuidados com a precisão metafórica, como se observa em “prisão da forma”’. c) visão progressivamente pessimista, em face da impossibilidade da criação poética, conforme expressa o verso “e te estilhaces, suicida”. d) processo de contenção, amadurecimento e transformação da palavra, representado pelos versos “numa explosão de diamantes”. e) necessidade premente de libertação da prisão representada pela poesia, simbolicamente comparada à “garrafa” a ser “estilhaçada”.

3. (ENEM 2015) Leia o texto: Primeiro surgiu o homem nu de cabeça baixa. Deus veio num raio. Então apareceram os bichos que comiam os homens. E se fez o fogo, as especiarias, a roupa, a espada e o dever. Em seguida se criou a filosofia que explicava como não fazer o que não devia ser feito. Então surgiram os números racionais e a História, organizando os eventos sem sentido. A fome desde sempre, das coisas e das pessoas. Foram inventados o calmante e o estimulante. E alguém apagou a luz. E cada um se vira como pode, arrancando as cascas das feridas que alcança.

5. (UNIFRA 2015 – Inverno) Leia o texto:

BONASSI, F. 15 cenas do descobrimento de Brasis. In: MORICONI, Í. (Org.).Os cem melhores contos do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

A fala comum se caracteriza pela transparência. O mesmo não acontece com o discurso literário. Este se encontra a serviço da criação artística. O texto da literatura é um objeto de linguagem ao qual se associa uma representação de realidades físicas, sociais e emocionais mediatizadas pelas palavras da língua na configuração de um objeto estético.

A narrativa enxuta e dinâmica de Fernando Bonassi configura um painel evolutivo da história da humanidade. Nele, a projeção do olhar contemporâneo manifesta uma percepção que

(PROENÇA FILHO, Domício. A linguagem literária. 6. ed. São Paulo: Ática, 1997, p. 7-8.)

a) recorre à tradição bíblica como fonte de inspiração para a humanidade. b) desconstrói o discurso da filosofia a fim de questionar o conceito de dever. c) resgata a metodologia da história para denunciar as atitudes irracionais. d) transita entre o humor e a ironia para celebrar o caos da vida cotidiana. e) satiriza a matemática e a medicina para desmistificar o saber científico.

Tomando como referência o texto acima, avalie as afirmações que seguem. I. Todas as palavras da língua, mesmo em seu uso na fala comum ou na escrita, podem configurar um objeto estético. II. Para ser considerada literatura e estar a serviço da criação artística, a palavra precisa ter um caráter imaginativo. III. Como objeto de linguagem, o discurso literário se distancia da fala comum em função da ambiguidade do primeiro. IV. A palavra empregada na fala cotidiana pode ser considerada literatura, desde que, obrigatoriamente, tenha apenas um sentido.

4. (ENEM 2015) Leia o poema: À garrafa Contigo adquiro a astúcia de conter e de conter-me. Teu estreito gargalo é uma lição de angústia. Por translúcida pões o dentro fora e o fora dentro para que a forma se cumpra e o espaço ressoe. Até que, farta da constante prisão da forma, saltes da mão para o chão e te estilhaces, suicida,

Está(ão) correta(s) apenas a) I. b) II. c) I e II. d) I e III. e) II e III.

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de cabeça até porque, no fundo, a única coisa que eu queria era escrever um poema sobre a rapariga do café. A solução, então, é mudar de café, e limitar-me a escrever um poema sobre aquele café onde nenhuma rapariga se pode sentar à mesa porque só servem café ao balcão.

2. FUNÇÕES DA LINGUAGEM 1. (ENEM 2012) Leia o texto:

JÚDICE, N. Matéria do Poema. Lisboa: D. Quixote, 2008.

Desabafo O texto traz em relevo as funções metalinguística e poética. Seu caráter metalinguístico justifica-se pela

Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.

a) discussão da dificuldade de se fazer arte inovadora no mundo contemporâneo. b) defesa do movimento artístico da pós-modernidade, típico do século XX. c) abordagem de temas do cotidiano, em que a arte se volta para assuntos rotineiros. d) tematização do fazer artístico, pela discussão do ato de construção da própria obra. e) valorização do efeito de estranhamento causado no público, o que faz a obra ser reconhecida.

CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).

Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica “Desabafo”, a função da linguagem predominante é a emotiva ou expressiva, pois

3. (ENEM 2014) Leia o poema: O exercício da crônica

a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código. b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito. c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem. d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais. e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação.

Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, restalhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado.

2. (ENEM 2013) Leia o poema: Lusofonia Rapariga : s.f., fem. de rapaz: mulher nova; moça; menina;(Brasil), meretriz. Escrevo um poema sobre a rapariga que está sentada no café, em frente da chávena de café, enquanto alisa os cabelos com a mão. Mas não posso escrever este poema sobre essa rapariga porque, no brasil, a palavra rapariga não quer dizer o que ela diz em portugal. Então, terei de escrever a mulher nova do café, a jovem do café, a menina do café, para que a reputação da pobre rapariga que alisa os cabelos com a mão, num café de lisboa, não fique estragada para sempre quando este poema atravessar o atlântico para desembarcar no rio de janeiro. E isto tudo sem pensar em áfrica, porque aí lá terei de escrever sobre a moça do café, para evitar o tom demasiado continental da rapariga, que é uma palavra que já me está a pôr com dores

MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.

Predomina nesse texto a função da linguagem que se constitui a) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista b) nos elementos que servem de inspiração ao cronista. c) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica. d) no papel da vida do cronista no processo de escrita da crônica. e) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica.

[74]


A causa mortis do personagem, expressa no último parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo da narrativa, ocorre uma

3. FIGURAS DE LINGUAGEM

a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”. b) aproximação exagerada da estética abstracionista. c) apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem. d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”. e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas.

1. (UCS 2013 – Verão) De acordo com Pablo Neruda, Tudo está na palavra... Uma ideia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu... Leia o fragmento do poema “Profundamente”, de Manuel Bandeira.

3. (UPF 2013 - Verão) Leia o poema: SEMPRE

Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo (...) – Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente.

Sou eu o dono dos tesouros perdidos no fundo do mar. Só o que está perdido é nosso para sempre. Nós só amamos os amigos mortos E só as amadas mortas amam eternamente. MÁRIO QUINTANA – Apontamentos de história sobrenatural

No texto acima, o poeta: Ao comparar o fragmento do poema de Manuel Bandeira com a declaração de Pablo Neruda, é possível perceber que a afirmação de Neruda está exemplificada no poema de Bandeira por meio das palavras adormeci e dormindo. A palavra dormindo se configura como uma __________, pois sugere uma imagem completamente nova.

a) emprega o verso livre e a rima consoante. b) exprime, por metáfora, sua capacidade de amar incondicionalmente. c) exprime, pelos paradoxos característicos do humor, a fugacidade de tudo, principalmente do amor e da amizade. d) lamenta, por metáfora, a perda da riqueza herdada de seus pais. e) questiona, por metáfora, a fidelidade dos amigos.

A alternativa que preenche corretamente a lacuna da frase acima é a) antítese. b) metonímia. c) catacrese. d) hipérbole. e) metáfora.

4. (ENEM 2014) Leia o trecho: O negócio Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se abastecem de pão e banana: — Como é o negócio? De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa: — Deus me livre, não! Hoje não... Abílio interpelou a velha: — Como é o negócio? Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim. Ele se chegou: — Como é o negócio? Ela sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal combinado, duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o quintal cuidadosa de não acordar os filhos. Ele trazia a capa de viagem, estendida na grama orvalhada. O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas

2. (ENEM 2012) Leia o trecho: Aquele bêbado — Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com os indicadores. Acrescentou: — Álcool. O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fi ns de semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio. — Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos. Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos. ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991.

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pancadas fortes na porta. O marido em viagem, mas não era dia do Abílio. Desconfiada, a moça surgiu à janela, e o vizinho repetiu: — Como é o negócio? Diante da recusa, ele ameaçou: — Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe que eu conto!

e) as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento do poder armado.

TREVISAN, D. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 1979 (fragmento).

O vento varria as folhas, O vento varria os frutos, O vento varria as flores... E minha vida ficava Cada vez mais cheia De frutos, de flores, de folhas. (...)

6. (UNIFRA 2016 – Verão) Leia o poema de Manuel Bandeira: CANÇÃO DO VENTO E DA MINHA VIDA

Quanto à abordagem do tema e aos recursos expressivos, essa crônica tem um caráter a) filosófico, pois reflete sobre as mazelas vividas pelos vizinhos. b) lírico, pois relata com nostalgia o relacionamento da vizinhança. c) irônico, pois apresenta com malícia a convivência entre vizinhos. d) crítico, pois deprecia o que acontece nas relações de vizinhança. e) didático, pois expõe uma conduta a ser evitada na relação entre vizinhos.

Sobre os versos do poema “Canção do vento e da minha vida”, de Manuel Bandeira, é possível afirmar que: I. A reiteração dos fonemas IvI e IfI, nos versos transcritos, remete à ação do vento varrendo as coisas num ímpeto destruidor. II. O significado denotativo do vento, na imagem da devastação desencadeada pelo tempo, amplia-se por meio de aliterações fonéticas. III. A tonalidade emotiva, característica da poesia, está presente na atitude do sujeito lírico.

5. (ENEM 2015) Leia o poema: Aquarela

Está(ão) correta(s)

O corpo no cavalete é um pássaro que agoniza exausto do próprio grito. As vísceras vasculhadas principiam a contagem regressiva. No assoalho o sangue se decompõe em matizes que a brisa beija e balança: o verde – de nossas matas o amarelo – de nosso ouro o azul – de nosso céu o branco o negro o negro

a) apenas I. b) apenas I e II. c) apenas II. d) apenas I e III. e) apenas II e III.

4. GÊNEROS LITERÁRIOS 1. (UNIFRA) Leia atentamente o fragmento abaixo e identifique os elementos que compõem a narrativa: ...”A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável”... (A Cartomante, Machado de Assis)

CACASO. In: HOLLANDA, H. B (Org.). 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007.

Situado na vigência do Regime Militar que governou o país, na década de 1970, o poema de Cacaso edifica uma forma de resistência e protesto a esse período, metaforizando a) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura. b) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro enjaulado. c) o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com a Ditadura. d) o emblema nacional, transfigurados pelas marcas do medo e da violência.

a) O narrador apresenta-se em primeira pessoa, protagonista, o tempo é psicológico e o espaço é fechado. b) O narrador apresenta-se em terceira pessoa, onisciente, o tempo é cronológico e o espaço é aberto.

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c) O narrador apresenta-se em primeira pessoa, observador, o tempo é psicológico e o espaço é fechado. d) O narrador apresenta-se em terceira pessoa, onisciente, o tempo é psicológico e o espaço é aberto. e) O narrador apresenta-se em terceira pessoa, observador, o tempo é psicológico e o espaço é fechado. 2. (PUC 2016 – Verão) Leia o trecho abaixo, de Lygia Fagundes Telles, retirado da obra Passaporte para a China.

devem estar ligados com lógica uns aos outros e à ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação.

“Rio de Janeiro, 24 de setembro de 1960. Diz o horóscopo que os do signo de Áries não devem de modo algum se arriscar no dia de hoje. Sou do signo de Áries e daqui a pouco, em plena noite, devo embarcar num avião a jato para a China. Escalas? Dacar, Paris, Praga, Omsk, Irkutsck e finalmente Pequim. Quer dizer, atravessarei quatro continentes: América, África, Europa e Ásia. É continente demais, hein! Melhor tomar antes um chope duplo ali no bar do Lucas, defronte ao mar de Copacabana, ficar ouvindo a voz espumejante das ondas e esquecer que passarei horas e horas “naquela coisa” que às vezes a gente ouve cortar o céu tão rapidamente e com um silvo tão desesperado que quando se olha para as nuvens não se vê mais nada. Nada.”

COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).

Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é possível sua concepção de forma coletiva. b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores. c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances, poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros. d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais. e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena teatral.

Com base no texto selecionado e na obra de Lygia Fagundes Teles, analise as seguintes afirmativas: I. A narradora enfrenta a ideia de voar com expectativa, pois, além do país asiático, conhecerá outras cinco cidades. II. O texto expressa os sentimentos de uma viajante momentos antes da partida, enfrentando o pânico de cruzar o planeta para conhecer um país distante. III. O emprego reiterado de aliterações no último parágrafo sugere a ideia da velocidade que provoca temor na viajante supersticiosa.

4. (ENEM 2014) Leia o texto: FABIANA (arrepelando-se de raiva) — Hum! Ora, eis aí está para que se casou meu filho, e trouxe a mulher minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho quem casa quer casa... Já não posso, não posso, não posso! (batendo o pé). Um dia arrebento, e então veremos!

A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são: a) I, apenas. c) I e III, apenas. e) I, II e III.

b) II, apenas. d) II e III, apenas.

3. (ENEM 2009) Leia o texto:

PENA, M. Quem casa quer casa. www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 dez. 2012.

Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é complementado pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica, caracterizada: 1) pela presença de personagens que

As rubricas em itálico e negrito, como as trazidas no trecho de Martins Pena, em uma atuação teatral, constituem a) necessidade, porque as encenações precisam ser fiéis às diretrizes do autor. b) possibilidade, porque o texto pode ser mudado, assim como outros elementos.

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c) preciosismo, porque são irrelevantes para o texto ou para a encenação. d) exigência, porque elas determinam as características do texto teatral. e) imposição, porque elas anulam a autonomia do diretor.

E a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu desferirem o voo desde o Ilisso às ribas africanas, sem embargo das ruínas e dos tempos, – a imaginação dessa senhora também voou por sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil... Deixá-la ir; lá iremosmais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos primeiros anos. Agora, quero morrer tranquilamente, metodicamente, ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro. Juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que podia parecer. De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo faziase-me planta, e pedra e lodo, e coisa nenhuma. Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.”

5. (UNIFRA 2016 – Verão) Leia o trecho: FORMIGA Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima. – É sinistro. Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina. – Pelo menos não vi sinal de barata – disse minha prima. A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. (...) (Lygia Fagundes Telles)

6. Com base no texto, afirma-se: I. A grande variedade de pronomes presentes no texto aponta para a existência de pelo menos três elementos narrativos: Virgília, o narrador Brás Cubas e o leitor. II. Expressões como “mais tarde”, “Agora”, “ribas de uma África juvenil” assinalam a existência de diferentes planos temporais na narrativa, dos quais se destacam o momento da enunciação, o passado recente e o passado mais remoto. III. O último parágrafo do trecho, ao revelar a causa da morte do narrador a partir de uma doença banal, serve de contraponto ao tom poético do parágrafo anterior.

Sobre o fragmento do conto, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).

A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são ( ) O narrador, em primeira pessoa, revela o universo feminino a partir de características opressoras. ( ) A descrição do espaço ocupa um importante lugar na trama narrativa. ( ) A intertextualidade está presente no enunciado “mais negra do que a asa da graúna”.

a) I, apenas. c) I e II, apenas. e) I, II e III.

b) III, apenas. d) II e III, apenas.

7. (ENEM 2016) Leia o texto:

A sequência correta é

Receita

a) V – F – F. b) F – V – F. c) F – V – V. d) V - V – F. e) F – F – V.

Tome-se um poeta não cansado, Uma nuvem de sonho e uma flor, Três gotas de tristeza, um tom dourado, Uma veia sangrando de pavor. Quando a massa já ferve e se retorce Deita-se a luz dum corpo de mulher, Duma pitada de morte se reforce, Que um amor de poeta assim requer.

(PUC 2017 – Verão) Para responder à questão 6 leia a passagem a seguir, retirada de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997.

“– ‘Morto! morto!’ dizia consigo.

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Os gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis e podem reconfigurar-se em função do propósito comunicativo. Esse texto constitui uma mescla de gêneros, pois a) introduz procedimentos prescritivos na composição do poema. b) explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita. c) explora elementos temáticos presentes em uma receita. d) apresenta organização estrutural típica de um poema. e) utiliza linguagem figurada na construção do poema.

PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013.

Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que a) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária. b) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna. c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos. d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma função social e artística. e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo momentos histórico, retratando a colonização.

5. QUINHENTISMO 1. (UCS 2011) Com base na Carta do Achamento, de Pero Vaz de Caminha, considere as seguintes afirmações. I Na Carta, o escrivão Caminha descreve o descobrimento de uma nova terra, chamando a atenção para a beleza natural, a fertilidade, a cordialidade dos índios e as riquezas. II No texto, é possível perceber um dos objetivos da expansão marítima de Portugal: catequização dos gentios para a ampliação do mundo cristão. III A Carta, um dos relatos que fazem parte da literatura informativa sobre o Brasil, é considerada mais um documento histórico do que uma obra literária. Das afirmativas acima, pode-se dizer que a) apenas I está correta. b) apenas III está correta. c) apenas I e II estão corretas. d) apenas II e III estão corretas. e) I, II e III estão corretas.

3. (UDESC 2015 - Inverno) Leia o texto: Capítulo II

2. (ENEM 2013) Observe os textos:

Como os homens daquela terra principiaram a tratar conosco, das suas casas e de alguns peixes que ali há, muito diversos dos nossos. Naquele mesmo dia, que era no oitavário da Páscoa, a 26 de abril, determinou o capitão-mor de ouvir missa, e assim mandou armar uma tenda naquela praia, e debaixo dela um altar, e toda a gente da armada assistiu tanto à missa como à pregação, juntamente com muitos dos naturais, que bailavam e tangiam nos seus instrumentos; logo que se acabou, voltamos aos navios, e aqueles homens entravam no mar até aos peitos, cantando e fazendo muitas festas e folias. Depois de jantar tornou a terra o capitão-mor, e a gente

TEXTO I Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão bemdispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam. CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).

TEXTO II

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da armada para espairecer com eles, e achamos neste lugar um rio de água doce. Pela volta da tarde tornamos às naus e no dia seguinte determinou-se fazer aguada e tomar lenhas, pelo que fomos todos a terra e os naturais vieram conosco para ajudar-nos. Alguns dos nossos caminharam até uma povoação onde eles habitavam, coisa de três milhas distante do mar, e trouxeram de lá papagaios e uma raiz chamada inhame, que é o pão de ali que usam, e algum arroz, dando-lhe os da armada cascáveis e folhas de papel em troca do que recebiam. Estivemos neste lugar cinco ou seis dias; os homens, como já dissemos, são baços, e andam nus sem vergonha, têm os seus cabelos grandes e a barba pelada; as pálpebras e sobrancelhas são pintadas de branco, negro, azul ou vermelho; trazem o beiço de baixo furado e metem-lhe um osso grande como um prego; outros trazem uma pedra azul ou verde e assobiam pelos ditos buracos; as mulheres andam igualmente nuas, são bem feitas de corpo e trazem os cabelos compridos. As suas casas são de madeira, cobertas de folhas e ramos de árvores, com muitas colunas de pau pelo meio e entre elas e as paredes pregam redes de algodão, nas quais pode estar um homem, e de [baixo] cada uma destas redes fazem um fogo, de modo que numa só casa pode haver quarenta ou cinqüenta leitos armados a modo de teares.

valores estéticos que remontam os textos literários do período medieval. V. Nas estruturas linguísticas “os homens, como já dissemos, são baços” (linha 14) e “metem-lhe um osso grande como um prego” (linha 17) constatase que o emprego das estruturas paralelísticas foi na intenção de estabelecer uma comparação, aludindo às características físicas dos nativos. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas II, III, IV e V são verdadeiras. b) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras. c) Somente as afirmativas I, III e V são verdadeiras. d) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras. e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

4. (ENEM 2009) Leia os textos: Texto 1 José de Anchieta fazia parte da Companhia de Jesus, veio ao Brasil aos 19 anos para catequizar a população das primeiras cidades brasileiras e, como instrumento de trabalho, escreveu manuais, poemas e peças teatrais. Texto 2

OLIVIERI, Antonio Carlos e VILLA, Marco Antonio. Cronistas do descobrimento. São Paulo: Editora Ática,1999, pp. 30 e 31

Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque e não se vê em todo ano árvore nem erva seca. Os arvoredos se vão às nuvens de admirável altura e grossura e variedade de espécies. Muitos dão bons frutos e o que lhes dá graça é que há neles muitos passarinhos de grande formosura e variedades e em seu canto não dão vantagem aos rouxinóis, pintassilgos, colorinos e canários de Portugal e fazem uma harmonia quando um homem vai por este caminho, que é para louvar o Senhor, e os bosques são tão frescos que os lindos e artificiais de Portugal ficam muito abaixo.

Analise as proposições em relação à obra Cronistas do descobrimento, Olivieri, Antonio Carlos e Villa, Marco Antonio e ao Texto. I. Da leitura do texto, infere-se que havia, a princípio, contato amistoso entre os homens da nau de Pedro Álvares Cabral e os índios que aqui residiam. II. No período “Como os homens daquela terra principiaram a tratar conosco” se a preposição destacada for substituída por de a regência do verbo permanece de acordo com língua padrão. III. É a partir dos textos literários que remontam o século XVI que a corrente modernista vai se apoiar para propor uma nova ideia de nacionalismo – uma releitura dos moldes da Literatura de Informação em relação ao nacionalismo. IV. A leitura da obra leva o leitor a inferir que esta não é apenas uma obra que retrata a historiografia do período da Literatura de Informação, mas também traz resquícios de

ANCHIETA, José de. Cartas, informações, fragmentos históricos e sermões do Padre Joseph de Anchieta. Rio de Janeiro: S.J., 1933, 43031 p.

A leitura dos textos revela a preocupação de Anchieta com a exaltação da religiosidade. No texto 2, o autor exalta, ainda, a beleza natural do Brasil por meio a) do emprego de primeira pessoa para narrar a história de pássaros e bosques brasileiros, comparando-os aos de Portugal. b) da adoção de procedimentos típicos do discurso argumentativo para defender a beleza dos pássaros e bosques de Portugal.

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c) da descrição de elementos que valorizam o aspecto natural dos bosques brasileiros, a diversidade e a beleza dos pássaros do Brasil. d) do uso de indicações cênicas do gênero dramático para colocar em evidência a frescura dos bosques brasileiros e a beleza dos rouxinóis. e) do uso tanto de características da narração quanto do discurso argumentativo para convencer o leitor da superioridade de Portugal em relação ao Brasil.

d) o texto e a pintura são baseados no contraste entre a cultura europeia e steza e melancolia, do movimento romântico das artes plásticas. b) o artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, representando-o de maneira realista, ao passo que o texto é apenas fantasioso. c) a pintura e o texto têm uma característica em comum, que é representar o habitante das terras que sofreriam processo colonizador. a cultura indígena. e) há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, uma vez que o índio representado é objeto da catequização jesuítica.

6. BARROCO 1. (UCS 2015 - Verão) O Barroco constituiu uma escola literária que enfocou a dualidade humana, empregando abundantemente a antítese. Assinale a alternativa que contém a expressão da visão de mundo, caracteristicamente, Barroca. a) Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido, Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.

5. (ENEM 2009) Observe:

b) Assim era aquele casal: ele como o jerivá [velho, ela como um cacho de flor. c) Tudo é deserto... somente À praça em meio se agita Dúbia forma que palpita, Se esforce em rouco estertor. d) Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. e) Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco.

ECKHOUT, A. “Índio Tapuia” (1610-1666). Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br. Acesso em: 9 jul. 2009.

2. (UNIFRA 2016 - Verão) Leia o texto:

A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto.

SERMÃO DA SEXAGÉSIMA Faz pouco fruto a palavra de Deus no mundo, pode proceder de um de três princípios: ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma alma se converte por meio de sermão, há de haver três concursos: há de concorrer o pregador com a Doutrina, persuadindo; há de concorrer o ouvinte com o entendimento, percebendo; há de concorrer Deus com a graça, alumiando. Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e

CAMINHA, P. V. A carta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 12 ago. 2009.

Ao se estabelecer uma relação entre a obra de Eckhout e o trecho do texto de Caminha, conclui-se que a) ambos se identificam pelas características estéticas marcantes, como tri

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luz. Se tem espelho e é cego, não pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos e é de noite, não pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho, e há mister olhos. Que coisa é a conversão de uma alma, senão entrar um homem dentre em si e ver-se a si mesmo? Para esta vista não necessários olhos, é necessário luz e é necessário espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre coma luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. [...]

I. O poeta explora o paralelo entre Anjo e Angélica e revela a condição perecível e doméstica da flor, permitindo que se perceba a uniformização pretendida pelo barroco, a qual estabelece regras poéticas rígidas. II. A mulher Anjo Luzente, no poema, encarna tanto o anjo protetor que livra "de diabólicos azares", quanto a criatura feminina tentadora que provoca a imaginação e a sensualidade. III. A associação e o contraste da flor, que seria cortada do verde pé, com o Anjo luzente a ser idolatrado, indica o diálogo do poeta (vós) com o anjo enviado dos céus para proteger os altares de sua esposa.

(VIEIRA, Pe. Sermões. 2ed. Rio de janeiro: Agir, 1996)

Considerando a leitura, é possível verificar características específicas de um período literário em que a arte é impregnada de conflitos. A partir disso, a alternativa correta, tendo em vista a estética deste período, é:

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. d) Apenas I e III. e) I, II e III

a) culto ao contraste, supervalorização da forma, jogo de palavras b) idealismo amoroso e a religiosidade, metáforas c) morte como tema favorito, bucolismo, dualidade d) equilíbrio, introspecção, culto ao contraste. e) religiosidade, antíteses, idealismo amoroso.

c) Apenas I e II.

5. (UCS 2014 - Inverno) O Barroco caracteriza-se pelo dualismo ideológico e estilístico, representado pelo conflito entre razão e fé. O maior expoente desse movimento no Brasil é Gregório de Matos, autor dos excertos abaixo, pertencentes ao poema “Aos vícios”.

3. (UPF) Dos elementos abaixo mencionados, aquele que não estão presente na literatura de Gregório de Matos é: a) a crítica a autoridades do Brasil Colônia b) o tema da fugacidade do tempo c) a poesia religiosa d) a crítica aos portugueses que continuam explorando o Brasil após a proclamação da independência do país e) o tema do amor

Eu sou aquele que os passados anos Cantei na minha lira maldizente Torpezas do Brasil, vícios e enganos. (...) Quantos há, que os telhados têm vidrosos, E deixam de atirar sua pedrada De sua mesma telha receosos.

4. (UFRGS 2013) Leia o poema abaixo, de Gregório de Matos Guerra.

Considere as seguintes afirmativas sobre o excerto de Gregório de Matos.

Retrato / Dona Ângela

I. O eu-poético nos versos transcritos elogia o caráter daqueles que evitam apontar as falhas alheias. II. O eu-lírico afasta-se da temática centralmente abordada pela poesia barroca, o conflito entre matéria e espírito, com uma preocupação em satirizar os vícios sociais. III. Os versos acima assumem um viés lírico, uma das facetas assumidas pelo poeta, ao preocupar-se com o futuro do Brasil.

Anjo no nome, Angélica na cara Isso é ser flor, e Anjo juntamente: Ser Angélica flor e Anjo florente Em quem, senão em vós se uniformara? Quem veria uma flor, que a não cortara De verde pé, de rama florescente? E quem um Anjo vira tão luzente, Que por seu Deus o não idolatrara?

Das afirmativas acima, pode-se dizer que

Se como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu custódio, e minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo, que tão bela, e tão galharda Posto que os anjos nunca dão pesares Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

a) apenas II está correta. b) apenas III está correta. c) apenas I e II estão corretas. d) apenas I e III estão corretas. e) apenas II e III estão corretas.

Considere as seguintes afirmações sobre o poema

6. (IMED 2016 - Verão) Leia o texto abaixo, de Gregório de Matos Guerra:

[82]


I. O autor é considerado, por vários escritores e críticos literários posteriores a ele, como um dos maiores mestres da língua portuguesa. II. Seu espírito contemplativo e sua vocação religiosa impediram-no de abordar, em seus escritos, as questões políticas e sociais de sua época. III. O Sermão da sexagésima expõe a sua arte de pregar.

A MARIA DE POVOS, SUA FUTURA ESPOSA Discreta e formosíssima Maria, Enquanto estamos vendo a qualquer hora, Em tuas faces a rosada Aurora, Em teus olhos e boca, o Sol e o dia: Enquanto, com gentil descortesia, O ar, que fresco Adônis te enamora, Te espalha a rica trança voadora, Da madeixa que mais primor te envia:

Está correto apenas o que se afirma em: a) I. b) I e II. c) I e III. d) II e III.

9. (UFPR 2013) Considere o soneto a seguir, de Gregório de Matos:

Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo troca, a toda a ligeireza, E imprime em cada flor uma pisada.

Descreve com galharda propriedade o labirinto confuso de suas desconfianças

Oh não guardes que a madura idade Te converta essa flor, essa beleza, Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

Ó caos confuso, labirinto horrendo, Onde não topo luz, nem fio achando; Lugar de glória, aonde estou penando; Casa da morte, aonde estou vivendo!

Analise as assertivas abaixo a partir do texto: I. O soneto lírico se estrutura na oposição entre dois campos semânticos, que pode ser evidenciado, especialmente, na comparação entre a primeira e a última estrofe. II. Em tal soneto, percebe-se o tema do carpe diem, proveniente dos clássicos grecolatinos, que converge com a preocupação do homem barroco brasileiro em relação à efemeridade da vida e à repulsa pela morte. III. O autor do soneto, Gregório de Matos Guerra, cultivou a poesia sacra, lírica e satírica. Também escreveu poemas graciosos e pornográficos. Representante do período barroco, também foi conhecido como “Boca de Inferno”. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas III. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

e) III

Oh voz sem distinção, Babel* tremendo; Pesada fantasia, sono brando; Onde o mesmo que toco, estou sonhando; Onde o próprio que escuto, não o entendo; Sempre és certeza, nunca desengano; E a ambas pretensões com igualdade, No bem te não penetro, nem no dano. És ciúme martírio da vontade; Verdadeiro tormento para engano; E cega presunção para verdade. *Babel: bíblico, torre inacabada por castigo divino; quando de sua construção os homens viram seus idiomas se confundirem, gerando o desentendimento que os obrigou a se dispersarem. Por extensão, desentendimento, confusão.

c) Apenas I e II.

7. (UNIFRA 2010) Um dos representantes do ________________ no Brasil, _______________, utilizou, principalmente, a linguagem ___________ para desenvolver suas ideias em sermões cujos temas versavam, por exemplo, sobre a defesa dos índios.

O soneto transcrito apresenta características recorrentes da poesia de Gregório de Matos e do período literário em que ele o escreveu, o Barroco. Acerca desse soneto, é correto afirmar:

A alternativa que preenche corretamente as lacunas é a) Quinhentismo; José de Anchieta; objetiva b) Barroco; Antônio Vieira; conceptista c) Arcadismo; Cláudio Manuel da Costa; bucólica d) Barroco; Gregório de Matos Guerra; cultista e) Romantismo; Olavo Bilac; racionalista

a) O poema descreve um labirinto e, de modo semelhante à imagem descrita, utiliza uma linguagem em que a ideia central só se apresenta no fim do texto. b) O poema se apropria de duas imagens, Babel e labirinto, com a intenção de tematizar um sentimento conturbado: a presunção. c) O poema se estrutura como um soneto típico, em que a ideia central está apresentada no primeiro quarteto.

8. (UPF 2015 - Verão) Leia as seguintes afirmações sobre o Padre Antônio Vieira e a sua obra.

[83]


d) As figuras de linguagem utilizadas associam ideias contrárias, o que se contrapõe às imagens do labirinto e de Babel. e) O poema apresenta nos quartetos duas imagens concretas, dissociadas das abstrações apresentadas nos tercetos.

(vós, vos): Gregório argumenta que o Senhor está empenhado em perdoá-lo, enquanto Vieira dirige-se a Deus (E que fizestes vós ... ) para impedir que Jó seja perdoado. II - Padre Vieira vale-se das palavras e do exemplo de Jó, figura do Velho Testamento, para argumentar que o homem abusa da misericórdia divina ao pecar, e que Deus, de acordo com a ocasião e os argumentos fornecidos por Jó, inclina-se para o castigo no lugar do perdão. III - Tanto Padre Vieira como Gregório de Matos argumentam sobre a misericórdia e a glória divina: assim como Jó, citado por Vieira, declara que Deus lhe deverá a glória por tê-lo perdoado; Gregório comparase à ovelha desgarrada que, se não for recuperada, pode pôr a perder a glória de Deus.

(UFRGS 2014) Leia o trecho do Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda, do Padre Antônio Vieira, e o soneto de Gregório de Matos Guerra a seguir. Depois responda as questões 10 e 11: Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda Pede razão Jó a Deus, e tem muita razão de a pedir responde por ele o mesmo santo que o arguiu -porque se é condição de Deus usar de misericórdia, e é grande e não vulgar a glória que adquire em perdoar pecados, que razão tem, ou pode dar bastante, de os não perdoar? O mesmo Jó tinha já declarado a força deste seu argumento nas palavras antecedentes, com energia para Deus muito forte: Peccavi, quid faciam tibi? Como se dissera: Se eu fiz, Senhor, como homem em pecar, que razão tendes vós para não fazer como Deus em me perdoar? Ainda disse e quis dizer mais: Peccavi, quid faciam tibi? Pequei, que mais vos posso fazer? E que fizestes vós, Jó, a Deus em pecar? Não lhe fiz pouco, porque lhe dei ocasião a me perdoar, e, perdoando-me, ganhar muita glória. Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a graça que me fizer, e ele deverme-á a mim, como a ocasião, a glória que alcançar.

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

11. Assinale a alternativa correta a respeito dos textos. a) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, elogiam a autoridade divina capaz de perdoar os pecados, mesmo que à custa de sua glória e de seu discernimento. b) Jó, de acordo com Vieira, argumenta que há tanta glória em perdoar como em não perdoar, enquanto, para Gregório, o perdão concedido ao pecador renitente é a prova da glória de Deus. c) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, inibem a autoridade divina que se vê constrangida a aceitar os argumentos de dois pecadores. d) Jó, de acordo com Vieira, considera que a ocasião e a sorte impediram que a graça divina se manifestasse, enquanto para Gregório a graça divina não sofre restrições. e) Os autores, ao remeterem aos exemplos bíblicos de Jó e da ovelha perdida, reforçam seus argumentos a favor do perdão como garantia da glória divina.

A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Da vossa piedade me despido; Porque, quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-vos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história, Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada: Cobrai-a, e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória.

7. ARCADISMO

10. Considere as seguintes afirmações sobre os dois textos. I - Tanto Padre Vieira quanto Gregório de "Matos dirigem-se a Deus mediante a segunda pessoa do plural

1. (UFRGS 2010) Considere as seguintes afirmações sobre O Uraguai, de Basílio da Gama.

[84]


I – Cacambo recusa as ofertas de Gomes Freire e acusa os padres jesuítas de não cumprirem seus deveres de guardiões da fé e de terem celebrado um acordo secreto com as autoridades lusitanas. II – Gomes Freire comanda as tropas luso-castelhanas que atacam as missões defendidas pelas tropas guaranis e, antes do combate, mantém um diálogo tenso com Cacambo e Sepé. III – Sepé acusa Gomes Freire de haver traído os acordos estabelecidos entre índios e exército, embora reconheça que as autoridades portuguesas tenham procurado preservar a paz. Quais estão corretas? a) apenas I. b) apenas II. d) apenas II e III. e) I, II e III

realizando, assim, o desejo de morrer, observa-se uma relação harmônica entre a natureza e a personagem, visto que aquela age sobre esta com suas plantas e seus animais. Está correto o que se afirma em: a) I, II e III b) I e II c) II e III d) I e III e) II 4. (UNIFRA) Considere o fragmento a seguir: “Este lugar delicioso e triste, Cansada de viver, tinha escolhido Para morrer a mísera Lindóia. Lá reclinada, como que dormia, Na branda relva e nas mimosas flores, Tinha a face na mão, e a mão no tronco De um fúnebre cipreste, que espalhava Melancólica sombra.”

c) apenas I e III.

2. (UNIFRA 2010 – Verão) Leia os versos: “Que havemos de esperar, Marília bela? que vão passando os florescentes dias? As glórias que vêm tarde, já vêm frias, e podem, enfim, mudar-se a nossa estrela. Ah! não minha Marília, aproveite-se o tempo, antes que faças, o estrago de roubar ao corpo as forças, e ao semblante a graça!” (Tomás Antônio Gonzaga) Com relação às características do Arcadismo presentes no fragmento, assinale a alternativa que as apresenta corretamente:

Sobre o excerto, é verdadeiro afirmar que I. é parte do poema épico O Uraguai, de Basílio da Gama, integrante do movimento árcade. II. ao lado de Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, exemplifica o filão satírico do Barroco. III. o ponto alto do poema épico Caramuru, de Santa Rita Durão, retrata o índio convertido à religião do colonizador. Está(ão) correta(s) a) apenas I. d) apenas I e II.

a) carpe diem; postura hedonista. b) locus amoenus; bucolismo. c) pastoralismo; ornamentação leve. d) fugacidade do tempo; rebuscamento estilístico. e) imitação da natureza; antítese.

b) apenas II. e) apenas II e III.

c) apenas III.

5. (UPF 2011 - Verão) Leia as seguintes afirmações sobre Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga: I. Embora seja uma das principais características do período árcade, o bucolismo está ausente do poema. II. A busca da objetividade conduziu à neutralização da individualidade do poeta, que passa a recorrer a situações e emoções genéricas nas quais sua emoção se dilua. III. Está presente na obra de Tomás Antônio Gonzaga a concepção burguesa do amor e da vida.

3. (UPF 2010) Analise as afirmativas abaixo, sobre a obra O Uraguai, de Basílio da Gama. I. Nas cenas iniciais de guerra descritas pelo poeta Basílio da Gama, os indígenas aparecem como heróis gloriosos, lembrando os protagonistas de guerras de épicos antigos. Cacambo, por exemplo, ao incendiar o acampamento do inimigo europeu, lembra Ulisses, que incendiou Troia. Entretanto, no decorrer do texto esse mesmo indígena é ridicularizado, passando a ser apresentado como um derrotado ou covarde. II. Nos versos "Tem por despojos cabeludas peles/ De ensanguentados e famintos lobos/ e fingidas raposas.", o poeta, fazendo referência ao que cabe aos heróis depois da luta, deixa clara a sua condenação à ação dos jesuítas nas Missões. Assim, afirma a ideia de que a guerra guaranítica prestou-se à libertação dos índios do poder dos jesuítas. III. A heroína indígena Lindóia, diante da dor pelo amor que se tornou impossível, procura a morte na floresta. Na cena em que se deixa picar por uma serpente,

Qual(is) está(ão) correta(s)? a) I, II e III b) Apenas II e III d) Apenas I, III e) Apenas III

c) Apenas I, II

6. (UCS 2014 – Inverno) Em relação ao Arcadismo, é correto afirmar que a) o movimento estético caracteriza-se, principalmente, pela retomada da cultura greco-latina, pela subjetividade e pela idealização do amor e da beleza.

[85]


b) a estética simples presente no Movimento permite até a inserção da linguagem popular em textos épicos. c) o exagero transparece principalmente em relação a qualidades e defeitos dos personagens. d) a presença marcante do bucolismo implica exaltação da vida campesina em poemas do Período. e) a tendência ao sentimentalismo, assumida pelo Arcadismo em oposição ao Barroco, implica tematizar o sofrimento amoroso.

e) Gonçalves Dias – Arcadismo 9. (ENEM 2016) Leia o poema Soneto VII Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado; E em contemplá-lo tímido esmoreço.

7. (UCS 2015 – Verão) Os trechos a seguir fazem parte da canção “Casa no campo”, cantada por Elis Regina.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado: Ali em vale um monte está mudado: Quando pode dos anos o progresso!

Eu quero uma casa no campo Onde eu possa compor muitos rocks rurais E tenha somente a certeza Dos amigos do peito e nada mais [...] Eu quero carneiros e cabras pastando solenes No meu jardim [...] Eu quero plantar e colher com a mão A pimenta e o sal [...]

Árvores aqui vi tão florescentes Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera.

Fonte: REGINA, Elis. Casa no campo. Letra de Zé Rodrix e Tavito. Ábum: Fascinação. 1990.

(COSTA, C.M. Poemas. Disponível em www.dominiopublico.gov.br. Acesso em 7 jul 2012)

Na presença marcante do bucolismo e na exaltação da vida campesina, a composição acima retoma traços característicos do a) Romantismo. b) Arcadismo. c) Realismo. d) Barroco. e) Modernismo.

No soneto de Claudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma reflexão em que transparece uma a) angústia provocada pela sensação de solidão. b) resignação diante das mudanças do meio ambiente. c) dúvida existencial em face do espaço desconhecido. d) intenção de recriar o passado por meio da paisagem. e) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.

8. (UNIFRA 2015 Verão) Leia o poema: Para cantar de amor tenros cuidados, Tomo entre vós, ó montes, o instrumento; Ouvi pois o meu fúnebre lamento; Se é, que de compaixão sois animados: Já vós vistes, que aos ecos magoados Do trácio Orfeu parava o mesmo vento; Da lira de Anfião ao doce acento Se viram os rochedos abalados.

10. (UNIFRA 2017 - Verão) Leia: Não sei, Marília, que tenho, depois que vi o teu rosto, pois quanto não é Marília, Já não posso ver com gosto. Noutra idade me alegrava, até quando conversava com o mais rude vaqueiro: hoje, ó bela, me aborrece inda o trato lisonjeiro do mais discreto pastor Que efeitos são os que sinto? Serão efeitos de Amor?

Bem sei, que de outros gênios o Destino, Para cingir de Apolo a verde rama, Lhes influiu na lira estro divino: O canto, pois, que a minha voz derrama, Porque ao menos o entoa um peregrino, Se faz digno entre vós também de fama. Assinale a alternativa que apresenta corretamente o nome do autor e o respectivo período literário.

(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu & Cartas Chilenas. São Paulo: Ática, 1999).

a) Gonçalves Dias – Romantismo b) Castro Alves – Romantismo c) Cláudio Manuel da Costa – Arcadismo d) Álvares de Azevedo – Romantismo

[86]


Considerando a leitura do excerto e os seus conhecimentos sobre o Arcadismo brasileiro, é correto afirmar que a) a estética árcade pressupunha uma atitude de evidente intenção sexual. b) o Arcadismo brasileiro propôs uma poesia palaciana, marcada por um aristocrático trato da linguagem. c) os aspectos biográficos que circundam Marília de Dirceu são dispensáveis para sua compreensão na história da literatura brasileira. d) as liras de Dirceu mantêm um preceito de decoro ao retratar a beleza da amada, privilegiando, especialmente, o seu rosto. e) a poesia regionalista do Arcadismo é matriz de poetas como Murilo Mendes e Mário de Andrade.

Já da morte o palor me cobre o rosto, Nos lábios meus o alento desfalece, Surda agonia o coração fenece, E devora meu ser mortal desgosto! Do leito embalde no macio encosto Tento o sono reter!... já esmorece O corpo exausto que o repouso esquece... Eis o estado em que a mágoa me tem posto! O adeus, o teu adeus, minha saudade, Fazem que insano do viver me prive E tenha os olhos meus na escuridade. Dá-me a esperança com que o ser mantive! Volve ao amante os olhos por piedade, Olhos por quem viveu quem já não vive!

11. (UPF 2017 – Verão) Considere as afirmações a seguir em relação ao período de formação da literatura brasileira.

AZEVEDO, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

O núcleo temático do soneto citado é típico da segunda geração romântica, porém configura um lirismo que o projeta para além desse momento específico. O fundamento desse lirismo é

I. Ao longo do século XVI, a literatura brasileira é formada, predominantemente, por textos informativos sobre a natureza e o homem brasileiro, escritos por viajantes e missionários europeus. II. Nos séculos XVII e XVIII, verificam-se influências do Barroco europeu na incipiente literatura brasileira e, também, nas artes plásticas e na música nacionais, sendo que as produções relativamente originais dessas últimas artes permitem que se fale de um “Barroco brasileiro”. III. De meados do século XVIII até a eclosão do Romantismo, na primeira metade do século XIX, o estilo literário dominante nas letras nacionais é o Arcadismo, caracterizado por um a oposição sistemática ao avanço do racionalismo iluminista, cuja influência busca neutralizar através da celebração da natureza e da vida no campo.

a) angústia alimentada pela constatação da irreversibilidade da morte. b) a melancolia que frustra a possibilidade de reação diante da perda. c) o descontrole das emoções provocado pela autopiedade. d) o desejo de morrer como alívio para a desilusão amorosa. e) o gosto pela escuridão como solução para o sofrimento. 3. (ENEM 2010 – Segunda aplicação) Leia os textos: Texto I Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja já; Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá!

Está correto apenas o que se afirma em: a) I e III. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III.

8. ROMANTISMO - POESIA 1. (UNIFRA 2010 - Verão) Representante da poesia de viés social, ligada às lutas pelo abolicionismo, ___________ é autor de ______________, poema em defesa dos escravos. A alternativa que completa corretamente as lacunas é a) Castro Alves; “Navio Negreiro” b) Casimiro de Abreu; “Primaveras” c) Gonçalves de Magalhães; “Lira dos vinte anos” d) Junqueira Freire; “Gonzaga” e) Gonçalves Dias; “Ideias íntimas”

Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro Respirando este ar; Faz que eu viva, Senhor! dá-me de novo Os gozos do meu lar! O país estrangeiro mais belezas Do que a pátria não tem; E este mundo não vale um só dos beijos Tão doces duma mãe! Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Lá na quadra infantil; Dá que eu veja uma vez o céu da pátria, O céu do meu Brasil!

2. (ENEM 2010) Leia o Soneto:

[87]


ALVES, C. Poesias completas. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995 (fragmento).

Se eu tenho de morrer na flor dos anos Meu Deus! não seja já! Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá!

TEXTO II No caso da Literatura Brasileira, se é verdade que prevalecem as reformas radicais, elas têm acontecido mais no âmbito de movimentos literários do que de gerações literárias. A poesia de Castro Alves em relação à de Gonçalves Dias não é a de negação radical, mas de superação, dentro do mesmo espírito romântico.

ABREU, C. Poetas românticos brasileiros. São Paulo: Scipione, 1993.

Texto II A ideologia romântica, argamassada ao longo do século XVIII e primeira metade do século XIX, introduziu-se em 1836. Durante quatro decênios, imperaram o “eu”, a anarquia, o liberalismo, o sentimentalismo, o nacionalismo, através da poesia, do romance, do teatro e do jornalismo (que fazia sua aparição nessa época).

MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003 (fragmento).

O fragmento do poema de Castro Alves exemplifica a afirmação de João Cabral de Melo Neto porque

MOISÉS, M. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1971 (fragmento).

a) exalta o nacionalismo, embora lhe imprima um fundo ideológico retórico. b) canta a paisagem local, no entanto, defende ideais do liberalismo. c) mantém o canto saudosista da terra pátria, mas renova o tema amoroso. d) explora a subjetividade do eu lírico, ainda que tematize a injustiça social. e) inova na abordagem de aspecto social, mas mantém a visão lírica da terra pátria.

De acordo com as considerações de Massaud Moisés no Texto II, o Texto I centra-se a) no imperativo do “eu”, reforçando a ideia de que estar longe do Brasil é uma forma de estar bem, já que o país sufoca o eu lírico. b) no nacionalismo, reforçado pela distância da pátria e pelo saudosismo em relação à paisagem agradável onde o eu lírico vivera a infância. c) na liberdade formal, que se manifesta na opção por versos sem métrica rigorosa e temática voltada para o nacionalismo. d) no fazer anárquico, entendida a poesia como negação do passado e da vida, seja pelas opções formais, seja pelos temas. e) no sentimentalismo, por meio do qual se reforça a alegria presente em oposição à infância, marcada pela tristeza.

5. (UCS 2013 – Verão) Observe a reprodução da obra

4. (ENEM 2012 – Segunda aplicação) leia os textos: TEXTO I A canção do africano Lá na úmida senzala, Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no chão, entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão... De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, Que tem no colo a embalar... E à meia-voz lá responde Ao canto, e o filhinho esconde, Talvez p’ra não o escutar! “Minha terra é lá bem longe, Das bandas de onde o sol vem; Esta terra é mais bonita, Mas à outra eu quero bem.”

Iracema, de José Maria de Medeiros.

Analise a veracidade (V) ou a falsidade (F) das afirmativas a seguir, tendo como base a relação entre o sentimento romântico expresso na pintura e as propostas da escola romântica na literatura brasileira. ( ) A inocência e a sensualidade com que o amor e a figura feminina eram tratados por alguns autores românticos fazem parte também do quadro acima. ( ) O tédio e a solidão da mulher de meados do século XIX, atestados pelos poemas de Álvares de Azevedo, entre outros poetas, estão inscritos tanto na pintura acima como na terceira fase da escola romântica.

[88]


( ) A liberdade presente nas raízes do Romantismo, influenciado pelo lema da Revolução Francesa (liberdade,igualdade e fraternidade), é sugerida na pintura acima, como vivência, e, no Condoreirismo de Castro Alves,como desejo.

Considere as seguintes afirmações sobre esse trecho do poema. I - O poema de Castro Alves é marcado pela denúncia da escravidão e pelo elogio ao índio, elementos típicos do Romantismo brasileiro. II - O sujeito lírico dirige-se à mãe, aconselhando-a ironicamente a seguir as regras da sociedade escravocrata. III - A mãe é apresentada como impotente diante do destino do filho; por isso lhe resta apenas lamentar sua ausência e chorar sua morte.

Assinale a alternativa que preenche corretamente os parênteses, de cima para baixo. a) V – V – V b) F – V – F c) V – F – V d) V – F – F e) F – V – V 6. (UFRGS 2013) Leia o trecho do poema A mãe do cativo, de Castro Alves: II

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. d) Apenas I e II. e) I, II e III

Ó Mãe! não despertes est'alma que dorme, Com o verbo sublime do Mártir da Cruz! O pobre que rola no abismo sem termo Pra qu'há de sondá-lo... Que morra sem luz.

c) Apenas III.

7. (ENEM 2014 – Segunda aplicação) Leia o Soneto: Oh! Páginas da vida que eu amava, Rompei-vos! nunca mais! tão desgraçado!... Ardei, lembranças doces do passado! Quero rir-me de tudo que eu amava!

Não vês no futuro seu negro fadário, Ó cega divina que cegas de amor?! Ensina a teu filho - desonra, misérias, A vida nos crimes - a morte na dor.

E que doido que eu fui!como eu pensava Em mãe, amor de irmã! em sossegado Adormecer na vida acalentado Pelos lábios que eu tímido beijava!

Que seja covarde... que marche encurvado... Que de homem se torne sombrio reptíl. Nem core de pejo, nem trema de raiva Se a face lhe cortam com o látego vil.

Embora — é meu destino. Em treva densa Dentro do peito a existência finda Pressinto a morte na fatal doença!

Arranca-o do leito... seu corpo habitue-se Ao frio das noites, aos raios do sol. Na vida - só cabe-lhe a tanga rasgada! Na morte - só cabe-lhe o roto lençol.

A mim a solidão da noite infinda Possa dormir o trovador sem crença. Perdoa minha mãe — eu te amo ainda!

Ensina-o que morda... mas pérfido oculte-se Bem como a serpente por baixo da chã Que impávido veja seus pais desonrados, Que veja sorrindo mancharem-lhe a irmã.

AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

A produção de Álvares de Azevedo situa-se na década de 1850, período conhecido na literatura brasileira como Ultrarromantismo. Nesse poema, a força expressiva da exacerbação romântica identifica-se com a(o)

Ensina-lhe as dores de um fero trabalho... Trabalho que pagam com pútrido pão. Depois que os amigos açoite no tronco... Depois que adormeça co'o sono de um cão.

a) amor materno, que surge como possibilidade de salvação para o eu lírico. b) saudosismo da infância, indicado pela menção às figuras da mãe e da irmã. c) construção de versos irônicos e sarcásticos, apenas com aparência melancólica. d) presença do tédio sentido pelo eu lírico, indicado pelo seu desejo de dormir. e) fixação do eu lírico pela ideia da morte, o que o leva a sentir um tormento constante.

Criança - não trema dos transes de um mártir! Mancebo - não sonhe delírios de amor! Marido - que a esposa conduza sorrindo Ao leito devasso do próprio senhor! ... São estes os cantos que deves na terra Ao mísero escravo somente ensinar. Ó Mãe que balanças a rede selvagem Que ataste nos troncos do vasto palmar. ASTRO ALVES. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. v. 1, p. 265.

8. (UPF 2015 – Verão) Leia o poema:

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A respeito do trecho lido, é correto afirmar que a) os versos melancólicos enfatizam a tomada da morte como um meio de evasão desejado pelo sujeito lírico. b) a decepção com o amor das mulheres está entre os motivos para o eu lírico romântico desejar a morte. c) o sensualismo latente nos versos se opõe aos contornos idealizantes com que o Romantismo tende a pintar a figura feminina. d) as imagens construídas acerca do ser feminino deixam transparecer uma sutil referência ao ato sexual, reforçando o modo de mostrar o amor no Romantismo. e) o sujeito lírico, nos versos, rebela-se contra o fim, exaltando a liberdade, o que caracteriza o autor como o “Poeta dos escravos”.

É ELA! É ELA! É ela! é ela! — murmurei tremendo, E o eco ao longe murmurou — é ela!... Eu a vi... minha fada aérea e pura, A minha lavadeira na janela! Dessas águas-furtadas onde eu moro Eu a vejo estendendo no telhado Os vestidos de chita, as saias brancas... Eu a vejo e suspiro enamorado! Esta noite eu ousei mais atrevido Nas telhas que estalavam nos meus passos Ir espiar seu venturoso sono, Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

10. (UNIFRA 2016 – Inverno) Acompanhe os versos iniciais da canção Boa Esperança, do rapper paulistano Emicida, presente no álbum Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa..., de 2015.

Como dormia! que profundo sono!... Tinha na mão o ferro do engomado... Como roncava maviosa e pura!... Quase caí na rua desmaiado! .......................................................... ÁLVARES DE AZEVEDO – É ela! É ela!

Por mais que você corra, irmão Pra sua guerra vão nem se lixar Esse é o xis da questão Já viu eles chorar pela cor do orixá? E os camburão o que são? Negreiros a retraficar Favela ainda é senzala, jão Bomba-relógio prestes a estourar

Nas estrofes iniciais de “É ela! É ela!”, de Álvares de Azevedo, o sujeito lírico mostra-se atordoado diante das facetas discrepantes de sua amada, que ora lhe aparece como “fada aérea e pura”, ora como simples “lavadeira”. O autor explora essa duplicidade da figura da amada com o propósito evidente de _______ uma das características centrais da estética ultrarromântica, qual seja, ____________.

(Fonte:www.vagalume.com.br/emicida/boaesperanca.html#ixzz43SnSK-cOK)

Nesse rap, Emicida atualiza, no cancioneiro popular brasileiro, as discussões sobre a condição do negro na sociedade brasileira. A propósito do tema, são poucos os autores que, em nosso cânone literário, mostraramse dispostos à realização desse debate. Entre eles, é possível citar

Assinale a alternativa cujas informações preenchem corretamente as lacunas do enunciado. a) ridicularizar / a representação das classes operárias. b) ilustrar / a religiosidade. c) ironizar / o uso do poema-piada. d) ilustrar / a preocupação com a atividade econômica. e) ironizar / a idealização da figura feminina.

a) Machado de Assis e a representação do negro Prudêncio em Memórias Póstumas de Brás Cubas. b) os retirantes em Vidas Secas, de Graciliano Ramos. c) o processo de humanização do negro, empenhado pela poesia de Castro Alves. d) a construção do escravo nobre e resignado nos poemas satíricos de Gregório de Matos. e) o manifesto contra a opressão racial dos sonetos de Cruz e Souza.

9. (UCS 2015 – Inverno) Leia o excerto abaixo, da autoria de Castro Alves. Mocidade e morte

9. ROMANTISMO - PROSA

[...] Morrer... quando este mundo é um paraíso, E a alma um cisne de douradas plumas: Não! O seio da amante é um lago virgem... Quero boiar à tona das espumas. Vem! formosa mulher – camélia pálida, Que banharam de pranto as alvoradas. Minh’alma é a borboleta, que espaneja O pó das asas lúcidas, douradas... [...]

1. (UPF 2011 – Verão) A obra Senhora, de José de Alencar, é um _________________ que apresenta ________________ . A alternativa que completa corretamente as lacunas do texto anterior é: a) romance urbano - um retrato dos costumes da sociedade carioca

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b) romance histórico – traços do indianismo c) romance urbano – o culto da natureza e o gosto pelo exótico d) romance regionalista – a cultura e a natureza de uma região do país e) romance histórico – o culto da natureza e o gosto pelo exótico

valorização de uma natureza pura, não contaminada pela presença humana. ( ) A adjetivação abundante (“ardente chama”; “intenso fogo”; “tépido ninho”; “vivos rubores”) é uma importante característica da prosa romântica, que será mais tarde evitada por escritores realistas. ( ) Ao entregar-se a Martim, Iracema deixa de ser virgem e, portanto, não poderia mais ser a guardiã do segredo da jurema; ainda assim continua a sê-lo, só deixando de preparar e servir a bebida quando Caubi descobre sua gravidez e a expulsa da tribo. ( ) Entre as várias manifestações do nacionalismo romântico presentes em Iracema, está o desejo de mostrar o povo brasileiro como híbrido, constituído pela fusão das raças negra, indígena e branca. ( ) Além de indianista, Iracema é também um romance histórico; serve assim duplamente ao projeto nacionalista da literatura romântica brasileira.

2. (UFSC 2011 – adaptada) Texto O cristão repeliu do seio a virgem indiana. Ele não deixará o rasto da desgraça na cabana hospedeira. Cerra os olhos para não ver, e enche sua alma com o nome e a veneração de seu Deus: – Cristo!... Cristo!... Volta a serenidade ao seio do guerreiro branco, mas todas as vezes que seu olhar pousa sobre a virgem tabajara, ele sente correr-lhe pelas veias uma onda de ardente chama. Assim quando a criança imprudente revolve o brasido de intenso fogo, saltam as faúlhas inflamadas que lhe queimam as faces. [...] Abriram-se os braços do guerreiro adormecido e seus lábios; o nome da virgem ressoou docemente. A juruti, que divaga pela floresta, ouve o terno arrulho do companheiro; bate as asas, e voa a conchegar-se ao tépido ninho. Assim a virgem do sertão aninhou-se nos braços do guerreiro. Quando veio a manhã, ainda achou Iracema ali debruçada qual borboleta que dormiu no seio do formoso cacto. Em seu lindo semblante acendia o pejo vivos rubores; e como entre os arrebóis da manhã cintila o primeiro raio do sol, em suas faces incendidas rutilava o primeiro sorriso da esposa, aurora de fruído amor. [...] As águas do rio banharam o corpo casto da recente esposa. Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras.

A alternativa correta é a) V – V – F – F – F – V c) V – F – F – V – F – F e) V – V – F – V – F – V

b) F – V – F – F – F – V d) F – F – V – F – F – V

3. (UFRGS 2011) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações, sobre Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida. ( ) Leonardo Pataca é o pai de um jovem indisciplinado, mas generoso, cujas aventuras e desacertos compõem a maior parte do romance. ( ) A narrativa é marcada pelo humor com que são caracterizados os personagens que percorrem as ruas do Rio de Janeiro. ( ) O romance expõe o tratamento que era dispensado aos escravos no século XIX e propõe o fim do tráfico escravista. ( ) Vidigal tem a tarefa de manter o respeito à ordem no romance, mas não apela para a violência física e faz uso do diálogo e do convencimento. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V - F - F - F. b) F - V - V - F. c) V - V - F - V. d) F - F - V - V. e) V - V - F - F.

ALENCAR, J. de. Iracema. São Paulo: Núcleo, 1993. p. 39-41.

A partir da leitura do texto e do romance Iracema, e considerando o contexto do Romantismo brasileiro, assinale Verdadeir (V) ou Falso (F) nas proposições: ( ) Ao seduzir e possuir Iracema, Martim está consciente dos seus atos, e isso constitui traição tanto aos seus valores cristãos quanto à hospitalidade de Araquém. Quebra-se aqui, portanto, uma importante característica do Romantismo, a idealização do herói, que jamais comete ações vis. ( ) Em Iracema, os elementos humanos e naturais não se mesclam. Nas descrições que faz de Iracema, por exemplo, Alencar evita compará-la a seres da natureza, pois isso seria contrário ao princípio romântico de

4. (ACAFE 2011 – Verão) Assinale a alternativa correta sobre a obra “Iracema”, de José de Alencar. a) Iracema, anagrama de América, é uma índia idealizada física e moralmente. b) Os protagonistas caracterizam-se pela melancolia de viver, pela vontade de morrer e pela impotência diante da vida. c) As ações do protagonista Peri assemelham-se aos feitos heróicos das novelas de cavalaria medievais. d) No segundo capítulo, Martin faz diversas referências ao filho morto e a si mesmo por meio de abundante metaforização.

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e) n.d.a.

É para mim uma das coisas mais admiráveis que tenho visto nesta terra, o caráter desse índio. Desde o primeiro dia que aqui entrou, salvando minha filha, a sua vida tem sido um só ato de abnegação e heroísmo. Crede-me, Álvaro, é um cavalheiro português no corpo de um selvagem! Fonte: ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: Ateliê, 1999. p. 28.

5. (UNISC 2014 - Inverno) Leia o trecho: “Era no tempo do rei. Uma das quatro esquinas que formam as ruas do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo — O canto dos meirinhos —; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava o processo.”

Considerando o excerto, assinale a alternativa correta em relação ao Romantismo. a) A estética romântica explora as contradições humanas e demonstra a convivência entre o bem e o mal, manifestadas na expressão cavalheiro português no corpo de um selvagem. b) O Romantismo dedicou-se ao projeto nacionalista, buscando um “tipo puro” e legítimo que pudesse representar a alma do povo brasileiro. c) Alencar deseja, ao criar o herói indígena, principalmente, posicionar-se a favor do preconceito que o português nutre em relação ao índio. d) O índio, na perspectiva romântica, é representado com objetividade, rigor e cientificismo. e) O Romantismo propõe um destaque à “cor local”, enfatizando a cultura popular, como representativa de uma coletividade, na qual não há lugar para o exótico.

Manuel Antonio de Almeida

A partir do fragmento de Memórias de um Sargento de Milícias, é correto afirmar que

7. (UPF 2016 – Verão) Em Senhora, de José de Alencar, pode-se observar que o autor emprega, de modo recorrente, ao longo da narrativa, uma linguagem _____________________ para sustentar certo grau de ____________________ diante do tema central do romance, o casamento por dinheiro.

a) “Era no tempo do rei” significa colocar a história de Memórias de um Sargento de Milícias em tempo incerto e não sabido, para que o leitor não vincule os tipos sociais representados pelas personagens a personalidades da Rua do Ouvidor e da Quitanda. b) “Era no tempo do rei” insere um tempo psicológico à história de Memórias de um Sargento de Milícias,característico das narrativas memorialísticas. c) “Era no tempo do rei” situa a história na época em que os meirinhos governavam o Estado do Rio de Janeiro e sofriam a oposição dos desembargadores, afetando as soluções para as necessidades do povo. d) “Era no tempo do rei” estabelece uma época em que se pode distinguir a polaridade entre os meirinhos do tempo do Império e os desembargadores da República. e) “Era no tempo do rei” situa a história à época do Império, no século XIX, quando os meirinhos eram figuras importantes do sistema judiciário.

Assinale a alternativa cujas informações preenchem corretamente as lacunas do enunciado. a) jurídica / hermetismo. b) jornalística / imparcialidade. c) metafórica / idealização. d) jornalística / sensacionalismo. e) metafórica / realismo. Para responder à questão 8, leia o excerto abaixo, retirado da obra As vítimas algozes, de Joaquim Manuel de Macedo. Havia no terreiro cães a velar; mas o homem compra os cães como compra homens; a uns, pedaços de carne; aos outros, mais ou menos moedas de ouro. Simeão comprara os cães e um negro escravo da cozinha, e entrava todas as noites na casa de João de Sales. A casa de João de Sales estava pois de noite à mercê das intenções e de quaisquer projetos de Simeão; mas que

6. (UCS 2014 – Inverno) O excerto abaixo, de autoria de José de Alencar, consiste em uma fala da personagem D. Antônio de Mariz, no interior do romance O Guarani.

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casa há aí, onde haja escravos e sobretudo escravas, cuja segurança não esteja exposta às consequências do instinto animal e da boa ou má vontade do elemento escravo? Simeão era, pois, durante duas horas em cada noite mais do que o amante da mucama, o árbitro das vidas e da fortuna de João de Sales e de sua família. Ainda bem que Simeão, o escravo, ali ia somente como animal que o instinto arrasta em procura da sua igual; se fora ladrão ou assassino tinha tido abertas a janela da sala e a porta da cozinha.

brasileira, e preencha as lacunas do texto relacionado ao excerto. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxarme e tragar-me.

8. (PUC RS 2016 – Inverno) Com base no excerto, assinale a única alternativa INCORRETA: a) Apesar de Macedo ser um autor da escola romântica, o excerto apresenta algumas marcas do realismo: tipificação social, sentido de observação e de experiência. b) Percebe-se que Simeão tem total consciência do seu poder sobre a casa de João de Sales. c) No trecho, o narrador apresenta uma crítica negativa ao homem, capaz de subornar para atingir seus objetivos. d) Ao comparar homem e cão, o narrador iguala o ser racional e o irracional, reduzindo-os a elementos facilmente corrompíveis. e) A comparação entre animal e escravo permite-nos analisar o contexto social daquela época.

Narrada por __________, a obra __________, de __________, traz uma das mais cativantes personagens da literatura brasileira: __________. 1. (PUC RS 2015 – Inverno) A alternativa correta para o preenchimento das lacunas é a) Leôncio – A escrava Isaura – Bernardo Guimarães – Isaura b) Brás Cubas – Memórias póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis – Virgília c) Martim – Iracema – José de Alencar – Iracema d) Bentinho – Dom Casmurro – Machado de Assis – Capitu e) Fernando – Senhora – José de Alencar – Aurélia

9. (UFRGS 2017) Assinale a alternativa correta sobre autores do Romantismo brasileiro.

2. (UNISC 2014 – Verão) As questões 2 e 3 referem-se ao fragmento abaixo, de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

a) Gonçalves Dias, autor dos célebres Canção do exílio e I-Juca-Pirama, dedicou a maioria de seus poemas à temática da escravidão. b) Joaquim Manuel de Macedo, em A Moreninha, afasta-se da estética romântica em muitos pontos, especialmente no tom paródico adotado pelo narrador que ridiculariza a sociedade burguesa fluminense. c) Álvares de Azevedo, em A noite na taverna, desvincula-se do nacionalismo paisagista e indianista e ingressa no universo juvenil da angústia, do erotismo e do sarcasmo. e) Castro Alves é o principal poeta do indianismo romântico, pois toma o índio como figura prototípica da nacionalidade. d) Manuel Antônio de Almeida, em Memórias de um sargento de milícias, vincula-se à estética romântica, em especial porque se centra em personagens da classe média urbana fluminense.

“Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que me encaminhei para o ‘undiscovered country’ de Hamlet, sem as ânsias nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego, como quem se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viram-me ir umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, minha irmã Sabina,casada com o Cotrim, – a filha, um lírio do vale, – e...Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que parentes. É verdade, padeceu mais. Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúne em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos convinha a essa anônima era aparentá-lo. De pé, à

10. REALISMO Para responder à questão 1, leia a passagem a seguir, referente a uma marcante personagem da literatura

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cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, aboca entreaberta, a triste senhora mal podia crer na minha extinção.”

queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior à sua. e) Augusto amava deveras e, pela primeira vez em sua vida; e o amor, mais forte que seu espírito, exercia nele um poder absoluto e invencível. Ora, não há ideias mais livres que as do preso; e, pois, o nosso encarcerado estudante soltou as velas da barquinha de sua alma, que voou, atrevida, por esse mar imenso da imaginação.

2. A partir do fragmento, é correto afirmar que a) o personagem Brás Cubas lamenta que tenha partido sem pagar suas dívidas. b) a morte de Brás Cubas é uma tragédia tal como a de Hamlet. c) em uma perspectiva futura, Brás Cubas imagina como será seu próprio enterro. d) Brás Cubas é o defunto autor que narra sua história a partir do próprio óbito. e) Brás Cubas dialoga com uma dama cujo nome não pode revelar.

5. (ULBRA 2015 – Inverno) Sobre a obra Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, assinale a alternativa correta. a) A morte de Brás Cubas reconduz Quincas ao confronto com a vacuidade da própria existência. b) Na abertura do livro, uma dedicatória escrita sob forma de um epitáfio anuncia o personagem secundário desse romance inusitado: Brás Cubas, um defunto-autor que conta detalhes do seu funeral. c) Depois de algumas digressões, o narrador não retoma a ordem cronológica dos acontecimentos, seus relatos são desencontrados. d) Em meio aos acontecimentos, Brás Cubas reencontra Quincas Borba, amigo dos tempos de escola, e apresenta a Quincas sua doutrina filosófica, o Humanitismo. e) O romance tem uma perspectiva deslocada: é narrado por um defunto, que reconta a própria vida, do fim para o começo, num relato marcado pela franqueza e isenção.

3. O fragmento de Memórias póstumas de Brás Cubas pode servir como exemplo da inserção da obra no a) Romantismo, quando ainda toma como referências os temas clássicos, a exemplo de Shakespeare. b) Realismo, quando coloca em primeiro plano o cotidiano carioca, buscando a criação de uma identidade nacional para a literatura. c) Realismo, quando propõe o desmascaramento da sociedade a partir da visão de alguém que já não vive nela. d) Modernismo, quando apresenta uma linguagem carregada de lugares-comuns, buscando uma referência no cotidiano e no vulgar. e) Modernismo, quando constrói uma personagem fantasmagórica, rompendo com a verossimilhança. 4. (UCS 2015 – Verão) O amor é um dos grandes motivos literários e está continuamente presente nas produções artísticas sob perspectivas diferentes. A estética realista tematiza o amor de modo particular, abordando-o desde um ponto de vista pessimista e irônico.Assinale a alternativa que apresenta, enfaticamente, essa perspectiva.

6. (ULBRA 2016 – Verão) Leia o trecho sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto. Brás Cubas, homem rico e solteiro, após sua morte, decide se dedicar à narração da própria vida. Assim, emite opiniões e desconsidera a possibilidade do julgamento que os vivos pudessem fazer dele. Da infância, registra somente o contato com ____, um colega de escola, e o comportamento de menino levado, que o fazia maltratar o escravo Prudêncio, assim como atrapalhar os amores adúlteros de D. Eusébia, amiga da família. Da juventude, documenta o envolvimento com uma prostituta de luxo, ____. Após voltar de uma temporada de estudos na Europa, vive uma existência de riqueza, futilidade e despreocupação. Conhece ____, filha de D. Eusébia, mas despreza a moça por ser manca. Vive uma paixão por ____, namorada da juventude, agora casada com o político ____. O adultério se prolonga por muitos anos e se termina friamente. Brás Cubas se aproxima de

a) Maria, ao sair do Tejo, estava encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela e, com o ferrado sapatão, assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado. b) Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. c) O terno esposo, em quem o amor renascera com o júbilo paterno, a cercou de carícias que encheram sua alma de alegria, mas não a puderam tornar à vida: o estame de sua flor se rompera. d) Ele propôs-lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não

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____, no entanto, a morte da moça interrompe o projeto de casamento.

III- O agregado da família Santiago, José Dias, desempenha funções elevadas de conselheiro e rebaixadas de mandalete. Sua acomodação nessa família dá mostras dos arranjos sociais entre homens livres e classe dominante.

a) Lobo Neves; Eugênia; Marcela; Nhã Loló; Dom Casmurro; Virgília. b) Lobo Neves; Virgília; Eugênia; Marcela; Quincas Borba; Nhã Loló. c) Quincas Borba; Marcela; Eugênia; Virgília; Lobo Neves; Nhã Loló. d) Quincas Borba; Nhã Loló; Marcela; Eugênia; Lobo Neves; Virgília. e) Lobo Neves; Marcela; Eugênia; Virgília; Quincas Borba; Nhã Loló.

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

c) Apenas III.

11. NATURALISMO Para responder à questão 1, leia o trecho de O cortiço, de Aluísio de Azevedo, e preencha as lacunas.

7. (ENEM 2016 – Segunda aplicação) Esaú e Jacó

Bertoleza é que continuava na cepa torta, sempre a mesma crioula suja, sempre atrapalhada de serviço, sem domingo nem dia santo: essa, em nada, em nada absolutamente, participava das novas regalias do amigo: pelo contrário, à medida que ele galgava posição social, a desgraçada fazia-se mais e mais escrava e rasteira.

Ora, aí está justamente a epígrafe do livro, se eu lhe quisesse pôr alguma, e não me ocorresse outra. Não é somente um meio de completar as pessoas da narração com as ideias que deixarem, mas ainda um par de Lunetas para que o leitor do Iivro penetre o que for menos claro ou totalmente escuro. Por outro lado, há proveito em irem as pessoas da minha história colaborando nela, ajudando o autor, por uma Iei de solidariedade, espécie de troca de serviços, entre o enxadrista e os seus trabalhos. Se aceitas a comparação, distinguirás o rei e a dama, o bispo e o cavalo, sem que o cavalo possa fazer de torre, nem a torre de peão. Há ainda a diferença da cor, branca e preta, mas esta não tira o poder da marcha de cada peça, e afinal umas e outras podem ganhar a partida, e assim vai o mundo.

1. (PUC RS 2015 – Verão) A personagem Bertoleza em O cortiço, de Aluísio deAzevedo, representa o fatalismo_________ que se presentifica em muitas obras _________, pautadas pela forte influência de escritores franceses como _________.

ASSIS, M. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1964 (fragmento).

O fragmento do romance Esaú e Jacó mostra como o narrador concebe a leitura de um texto literário. Com base nesse trecho, tal leitura deve levar em conta

a) determinista – naturalistas – Émile Zola b) determinista – simbolistas – Gustave Flaubert c) capitalista – modernistas – Charles Baudelaire d) positivista – realistas – Charles Baudelaire e) capitalista – maneiristas – Émile Zola

a) o leitor como peça fundamental na construção dos sentidos. b) a luneta como objeto que permite ler melhor. c) o autor como único criador de significados. d) o caráter de entretenimento da literatura. e) a solidariedade de outros autores.

2. (ENEM 2016) Leia o texto: Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos e eu parti. Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação. Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos anúncios.

8. (UFRGS 2016) Considere as seguintes afirmações sobre o livro Dom Casmurro , de Machado de Assis. I - O romance de Machado de Assis, narrado em terceira pessoa, expõe o triângulo amoroso entre Bentinho, Capitu e Escobar. O narrador, que ingressa na consciência de todas as personagens, revela ao leitor a traição de Capitu e a paternidade de seu filho Ezequiel. II - O livro está estruturado em forma de diário, por isso guarda as lembranças mais íntimas de Dom Casmurro. A personagem registra que não quer ter suas memórias reveladas, pois isso macularia sua imagem ante a sociedade fluminense.

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O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que o não o procuravam eram um belo dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.

falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em sua presença, discutiam questões de raça e de sangue. AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996 (fragmento).

O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois a) relaciona a posição social a padrões de comportamento e à condição de raça. b) apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no século XIX. c) mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes entre homens e mulheres. d) ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de ascender socialmente. e) critica a educação oferecida às mulheres e os maustratos dispensados aos negros.

POMPÉIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.

Ao descrever o Ateneu e as atitudes de seu diretor, o narrador revela um olhar sobre a inserção social do colégio demarcado pela

4. (UFRGS 2016) Sobre o romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.

a) ideologia mercantil da educação, repercutida nas vaidades pessoais. b) interferência afetiva das famílias, determinantes no processo educacional. c) produção pioneira de material didático, responsável pela facilitação do ensino. d) ampliação do acesso à educação, com a negociação dos custos escolares. e) cumplicidade entre educadores e famílias, unidos pelo interesse comum do avanço social.

( ) No início do romance, está o vendeiro português João Romão que, com força de trabalho e boa dose de oportunismo, constrói o cortiço, seu primeiro caminho para a ascensão social. ( ) No romance, a ex-escrava Bertoleza é a companheira de João Romão, por ele tratada com respeito, o que dá mostras do tom conciliatório do livro, que trata a escravidão como problema resolvido. ( ) No sobrado contíguo ao cortiço de João Romão, vivem Miranda, Dona Estela e a filha Zulmirinha, família financeiramente confortável, que cria sinceros vínculos de amizade com João Romão e Bertoleza. ( ) No romance, Dona Estela, sempre descrita pelo narrador como uma dama séria e decorosa, sofre com as constantes traições de seu marido Miranda.

3. (ENEM 2014 – Segunda aplicação) Leia: O mulato Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir. Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias. Mulato! Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as reticências dos que lhe

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V – F – V – F. b) F – V – F – V. c) V – F – F – F. d) F – F – V – V. e) V – V – F – V. 5. (UFRGS 2016) Leia o seguinte trecho de O cortiço. A criadagem da família do Miranda compunha-se de Isaura, mulata ainda moça, moleirona e tola, que gastava todo o vintenzinho que pilhava em comprar capilé na venda de João Romão; uma negrinha virgem, chamada Leonor, muito ligeira e viva, lisa e seca como um moleque, conhecendo de orelha, sem lhe faltar um termo, a vasta tecnologia da obscenidade, e dizendo, sempre que os caixeiros ou os fregueses da taverna, só para mexer com ela, lhe davam atracações: “Óia, que

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eu me queixo ao juiz de orfe!”; e finalmente o tal Valentim, filho de uma escrava que foi de Dona Estela e a quem esta havia alforriado.

( ) O despertar, matéria cotidiana, é figurado como fato rotineiro de pessoas executando seus hábitos higiênicos matinais. ( ) A linguagem do narrador, preocupado em mostrar a dimensão natural presente nas ações humanas, evidencia-se em expressões como "prazer animal de existir". ( ) O objetivo, nesse segmento, é apresentar o cortiço e a venda como empreendimentos comerciais usados no enriquecimento de João Romão.

Sobre o texto acima, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações. ( ) O fragmento reflete o tom geral do romance, no qual o narrador em terceira pessoa distancia-se das personagens populares – especialmente as negras –, pois está atrelado às reduções do cientificismo naturalista que antepõe raça superior a raça inferior. ( ) A linguagem do narrador é diferente da linguagem da personagem: a fala de Leonor não segue o registro linguístico adotado pelo narrador. ( ) As personagens femininas descritas no trecho – e no romance de maneira geral – são estereotipadas, respondem ao imaginário da mulata sensual e ociosa, especialmente Bertoleza e Rita Baiana. ( ) O narrador em terceira pessoa simpatiza com as personagens populares; tal simpatia está presente em todo o romance, nas inúmeras vezes em que a narração em terceira pessoa cede espaço para o diálogo entre escravos.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) V - V - F - F. b) V -V -V - V. c) V - F - F - V. d) F - F - F - V. e) V - V - V - F.

12. PARNASIANISMO 1. (ENEM 2013) Leia o poema de Raimundo Correia: Mal secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse;

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

Se se pudesse, o espírito que chora, Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse!

a) V – V – F – F. b) F – F – V – V. c) F – F – F – V. d) F – V – F – V. e) V – V – V – F.

Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa!

6. (UFRGS 2017) Leia o segmento abaixo, do terceiro capítulo de O cortiço, de Aluísio Azevedo.

Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa!

Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. ( ... ) O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.

Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção doeu lírico, esse julgamento revela que a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada. b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social. c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja. d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo. e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o segmento. ( ) O segmento apresenta a descrição do cortiço sem destacar um personagem, com ênfase na coletividade para ações triviais de homens, mulheres e crianças.

2. (PUC RS 2014 - Inverno) Leia o poema A cavalgada, de Raimundo Correia.

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A lua banha a solitária estrada… Silêncio!… Mas além, confuso e brando, O som longínquo vem-se aproximando Do galopar de estranha cavalgada.

a) transformação da cultura brasileira. b) religiosidade do povo brasileiro. c) abertura do Brasil para a democracia. d) importância comercial do Brasil. e) autorreferência do povo como brasileiro.

São fidalgos que voltam da caçada; Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando, E as trompas a soar vão agitando O remanso da noite embalsamada…

4. (ENEM 2015) Leia o poema: A pátria

E o bosque estala, move-se, estremece… Da cavalgada o estrépito que aumenta Perde-se após no centro da montanha…

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! não verás nenhum país como este! Olha que céu! Que mar! Que rios! Que florestas! A Natureza, aqui, perpetuamente em festa, É um seio de mãe a transbordar carinhos. Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos, Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos! Vê que luz, que calor, que multidão de insetos! Vê que grande extensão de matas, onde impera, Fecunda e luminosa, a eterna primavera! Boa terra! jamais negou a quem trabalha O pão que mata a fome, o teto que agasalha...

E o silêncio outra vez soturno desce, E límpida, sem mácula, alvacenta A lua a estrada solitária banha… O texto do crítico Sergius Gonzaga refere-se a características da obra de Raimundo Correia, também perceptíveis no poema da questão. “Raimundo Correia é um dos poetas mais ligados aos padrões do movimento __________. Alguns críticos valorizam nele o __________, muitas vezes acrescido de uma __________ que __________”. (GONZAGA, Sergius. Curso de Literatura Brasileira. Adaptado.)

Quem com o seu suor a fecunda e umedece, Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece! Criança! não verás país nenhum como este: Imita na grandeza a terra em que nasceste! BILAC, O. Poesias infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1929.

A alternativa que completa as lacunas do excerto adequadamente é:

Publicado em 1904, o poema A pátria harmoniza-se com um projeto ideológico em construção na Primeira República. O discurso poético de Olavo Bilac ecoa esse projeto, na medida em que a) a paisagem natural ganha contornos surreais, como o projeto brasileiro de grandeza. b) a prosperidade individual, como a exuberância da terra, independe de políticas de governo. c) os valores afetivos atribuídos à família devem ser aplicados também aos ícones nacionais. d) a capacidade produtiva da terra garante ao país a riqueza que se identifica naquele momento. e) a valorização do trabalhador passa a integrar o conceito de bem-estar social experimentado.

a) simbolista – grande potencial para a construção de imagens – euforia – dá vida ao culto à forma b) parnasiano – sentimentalismo nos conflitos humanos – subjetividade – subverte o mero culto à forma c) romântico – pendor à idealização da natureza – força – espiritualiza o humano d) simbolista – poder sugestivo da construção simbólica – musicalidade – valoriza a forma e o conteúdo e) parnasiano – sentido plástico de suas descrições da natureza – melancolia – humaniza a paisagem

5. (UCS 2015 - Verão) O excerto a seguir faz parte do soneto “A um poeta”, escrito por Olavo Bilac, um dos expoentes do Parnasianismo no Brasil.

3. (ENEM 2014 PPL) Leia o texto: Abrimos o Brasil a todo o mundo: mas queremos que Brasil seja Brasil! Queremos conservar a nossa raça, nossa história, e, principalmente, a nossa língua, que toda a nossa vida, o nosso sangue, a nossa alma, nossa religião.

o a é a

Longe do estéril turbilhão da rua, Beneditino escreve! No aconchego Do claustro, na paciência e no sossego, Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!

BILAC, O. Últimas conferências e discursos . Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1927.

Mas que na forma se disfarce o emprego Do esforço: e trama viva se construa De tal modo, que a imagem fique nua Rica mas sóbria, como um templo grego

Nesse trecho, Olavo Bilac manifesta seu engajamento na constituição da identidade nacional e linguística, ressaltando a

[98]


[…]

Abrindo as asas, – leve fantasia Da primavera quando despertava, Sonho dos campos, – ao nascer do dia De trecho em trecho a borboleta voava. (...) Ia e vinha, volteava no ar, arfando, Descia às flores e, num torvelinho De pétalas e pólen doidejando, Ruflava as asas como um passarinho. E voava. Os vossos olhos, entretanto, Viam-na, e quando junto da janela Passava acaso, enchendo-se de espanto: –“Lá vai!” – disseram, enlevados nela. “Lá vai! tão grande! tão azul! tão linda! Apanhemo-la” – Assim foi que a tivestes; E a esforçar por ser livre, vendo-a ainda, A sacudir as pequeninas vestes, Mão bárbara e cruel, mão feminina De atro estilete segurando na haste Como que vibra, lâmina assassina, O peito, sem piedade, lhe varaste” (...)

Fonte: BILAC, Olavo. A um poeta. In: Tarde. Disponível em: <http://www.lusopoemas.net/modules/news03/article.php? storyid=504>. Acesso em: 20 set. 14.

O poema tematiza, de modo central, algumas características da estética parnasiana, quais sejam: a) a impessoalidade e a objetividade no tratamento da realidade. b) o emprego de linguagem rebuscada e a preferência por formas fixas. c) a exploração da mitologia grega e da cultura clássica, que se manifestam na comparação da arte a um templo grego (segunda estrofe). d) a valorização da estética e a busca da perfeição formal, exprimindo o fazer poético no verso Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!. e) a valorização da subjetividade e da emoção, em oposição ao racionalismo. 6. (UCS 2015 - Inverno) Os excertos abaixo fazem parte do soneto “Velhas árvores”, de Olavo Bilac. Leiaos com atenção.

( ) O poeta utiliza-se de imagens que revelam a delicadeza do voo da borboleta. ( ) O uso de aliterações pode também ser encontrado no poema, recurso que auxilia na construção sonora do bater das asas da borboleta. ( ) O poeta humaniza, em diversos momentos, a borboleta. ( ) A fragilidade da borboleta é presa fácil à mão humana, e o inseto não oferece qualquer tipo de resistência. ( ) O poeta suaviza a morte da borboleta com a utilização de eufemismos, técnica comum no movimento simbolista.

Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores novas, mais amigas: Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas… O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas Vivem, livres de fomes e fadigas; E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas. […] Fonte: Velhas árvores. In: BILAC, Olavo. Antologia: Poesias.Coleção a obra-prima de cada autor. São Paulo: Martin Claret,2002. Alma Inquieta. Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>. Acesso em: 13 fev. 15.

7. (PUC RS 2016 – Inverno) A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

Olavo Bilac integrou a tríade parnasiana e, no soneto lido, a filiação ao Parnasianismo explicita-se, marcadamente, na

a) V – V – V – F – F c) V – F – F – V – F e) F – F – F – F – V

a) oposição entre desejos humanos e lei divina, manifesta na visão da árvore velha. b) manifestação idealizando o envelhecimento humano. c) preocupação em criticar os problemas sociais e sublinhar valores positivos, representados na força da árvore velha. d) busca de uma estética nacionalista que valoriza elementos da natureza brasileira. e) preocupação com o rigor formal, expressa na rima nos quartetos do soneto.

b) V – V – F – V – V d) F – V – V – F – V

13. SIMBOLISMO 1. (UPF 2013 – Verão) Leia as seguintes afirmações sobre os períodos literários: I. A tentativa de conciliar o espiritualismo medieval com o humanismo renascentista provocou a tensão tão peculiar ao estilo barroco, e as contradições próprias a uma tendência que ora festeja a razão, ora a fé; ora o sensorial, ora o espiritual. II. Os românticos, quando se voltam ao passado, não o fazem em busca de modelos, mas por sedução pelo

Para responder à questão 7, leia o excerto do poema “Borboleta morta”, de Alberto de Oliveira, e preencha os parênteses com V para verdadeiro e F para falso.

[99]


remoto, por tentativa de fuga do presente, manifestando-se, assim, o sonho, a loucura e a utopia. III. Os parnasianos, renegando o tom confessional da poesia romântica, aspiravam à impessoalidade livre de qualquer subjetivismo, numa arte em que predomina o conteúdo sobre a forma, a inspiração sobre a técnica. IV. O poeta simbolista caracteriza-se pela concepção mística do mundo,pelo interesse no indefinido,pela alienação do social e pelo conhecimento ilógico.

Condenado do Amor, que se recorda Do Amor e sempre no Silêncio borda De estrelas todo o céu em que erra e pensa. Claros, meus olhos tornam-se mais claros E tudo vejo dos encantos raros E de outras mais serenas madrugadas! Todas as vozes que procuro e chamo Ouço-as dentro de mim porque eu as amo Na minha alma volteando arrebatadas

Está correto apenas o que se afirma em: a) I, II e III. b) I, II e IV. c) I, III e IV. d) II e III. e) II e IV.

I. A subjetividade, a sugestão no conteúdo e um cultivo à técnica formal revelam características da obra de um dos poetas mais importantes da escola simbolista. II. Substantivos comuns grifados com maiúsculas, a obsessão pelo claro, pela cor branca, são marcas do poeta Cruz e Souza. III. As aliterações são também um traço típico da obra deste poeta, perceptíveis no poema “Inefável”. IV. Característica típica do simbolismo, o eu lírico neste poema sofre fisicamente por um amor não vivido.

(UCS 2011 - Inverno) texto que segue refere-se às questões 2 e 3: Por seu __________ , o Simbolismo apresenta algumas semelhanças com a poesia romântica, porém a grande diferença reside na linguagem bem mais trabalhada dos simbolistas, que procuram obter variados efeitos rítmicos e sonoros. Além disso, os simbolistas manifestam acentuado gosto pelo vocabulário litúrgico e __________, o que dá a seus textos um ar de misticismo e espiritualidade ausente do Romantismo.

4. (PUC RS 2014 – Inverno) As afirmativas corretas são, apenas, a) I e II. b) I e IV. c) III e IV. d) I, II e III. e) II, III e IV.

(In: TUFANO, Douglas. Estudos de literatura brasileira . 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 170.)

2. Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas do texto.

5. (ENEM 2014) Leia o poema:

a) objetivismo, religioso b) objetivismo, profano c) subjetivismo, profano d) objetivismo, metafórico e) subjetivismo, religioso

Vida obscura Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, ó ser humilde entre os humildes seres, embriagado, tonto de prazeres, o mundo para ti foi negro e duro. Atravessaste no silêncio escuro a vida presa a trágicos deveres e chegaste ao saber de altos saberes tornando-te mais simples e mais puro.

3. Assinale a alternativa correta em relação aos autores do período simbolista que apresentam, em suas obras, algumas das características mencionadas no texto acima.

Ninguém te viu o sentimento inquieto, magoado, oculto e aterrador, secreto, que o coração te apunhalou no mundo,

a) Cruz e Sousa, Álvares de Azevedo b) Olavo Bilac, Cruz e Sousa c) Alphonsus de Guimaraens, Raimundo Correia d) Álvares de Azevedo, Alberto de Oliveira e) Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens

Mas eu que sempre te segui os passos sei que cruz infernal prendeu-te os braços e o teu suspiro como foi profundo!

Para responder à questão 4, considere o poema Inefável em seu contexto, e leia as afirmativas que seguem. Nada há que me domine e que me vença Quando a minh’alma mudamente acorda... Ela rebenta em flor, ela transborda Nos alvoroços da emoção imensa.

SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961.

Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Sousa transpôs para seu lirismo uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em

Sou como um Réu de celestial sentença,

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a) sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação. b) tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social. c) extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes. d) frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais. e) vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã. Para responder à questão 6, leia o poema “O mar”, de Cruz e Sousa. Que nostalgia vem das tuas vagas, Ó velho mar, ó lutador oceano! Tu de saudades íntimas alagas O mais profundo coração humano. Sim! Do teu choro enorme e soberano, Do teu gemer nas desoladas plagas, Sai o quer que é, rude sultão ufano, Que abre nos peitos verdadeiras chagas. Ó mar! ó mar! embora esse eletrismo, Tu tens em ti o gérmen do lirismo, És um poeta lírico demais. E eu para rir com bom humor das tuas Nevroses colossais, bastam-me as luas Quando fazem luzir os seus metais. Com base no poema e em seu contexto, preencha os parênteses com V para verdadeiro e F para falso. ( ) A obsessão pelo branco, uma das características de Cruz e Sousa, aparece de forma intensa neste poema. ( ) O soneto, através do uso da personificação, estabelece uma relação de correspondência entre o mar e o poeta. ( ) O mar surge, no poema, como um elemento catalizador de memórias e de inspiração. ( ) O soneto expressa forte musicalidade, revelada no cuidado com a linguagem, embora seja composto de versos brancos. 6. (PUC RS 2015 – Inverno) O correto preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) F – V – V – V d) V – F – V – V

b) F – V – V – F e) V – F – F – V

c) F – V – F – F

1.C

GABARITO – ARTE DA LITERATURA 2.E 3.D 4.D 5.E

1.B

GABARITO – FUNÇÕES DA LINGUAGEM 2.D 3.E

[101]

1.E

GABARITO – FIGURAS DE LIGUAGEM 2.D 3.C 4.C 5.D 6.E

1.D

GABARITO – GÊNEROS LITERÁRIOS 2.D 3.A 4.B 5.C 6.E

1.E

GABARITO – QUINHENTISMO 2.C 3.D 4.C 5.C

1.A 8.C

2.A 9.A

GABARITO – BARROCO 3.D 4.B 5.A 6.D 10.D 11.E

7.B

1.B 8.C

2.A 9.E

GABARITO – ARCADISMO 3.C 4.A 5.B 6.D 10.D 11.D

7.B

1.A 8.E

GABARITO – ROMANTISMO – POESIA 2.B 3.B 4.E 5.C 6.B 9.C 10.C

7.E

1.A 8.B

GABARITO – ROMANTISMO – PROSA 2.D 3.E 4.A 5.E 6.B 9.C

7.C

1.D 8.C

2.D 9.E

1.A

GABARITO – NATURALISMO 2.A 3.A 4.C 5.A 6.E

1.A

GABARITO – PARNASIANISMO 2.E 3.E 4.B 5.D 6.E

1.B

2.E

GABARITO – REALISMO 3.C 4.B 5.E 6.E 10.C 11.C

GABARITO – SIMBOLISMO 3.E 4.D 5.A 6.B

7.A

7.A

7.A


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela Nogueira. Literatura brasileira: tempos, leitores e leitura. São CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens. Volume único. 2.ed. São CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar; CLETO, Ciley. Interpretação de textos: construindo competências e habilidades em leitura. São Paulo: Atual, 2009. NICOLA, J. de. Literatura Brasileira - das origens aos nossos dias. São Paulo: Paulo: Atual, 2005. SALTON, Vanilda; e outros. Atividades de leitura e escrita. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. São Paulo: Scipione, 2001. Scipione, 1990. TERRA, Ernani; NICOLA, José de Nicola.Práticas de linguagem: leitura e produção de textos. Volume único.

*Livro didático elaborado pelo professor Alexandre Flores, formado em Letras pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ministra aulas em escolas e cursinhos preparatórios para ENEM e vestibulares desde 1999.

[102]


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