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[Literatura II]

LITERATURA SUMÁRIO Unidade 1 – Pré-Modernismo ...............................................................................02 Unidade 2 – Modernismo...........................................................................................13 2.1. Modernismo – 1ª Fase ........................................................................................................................13 2.2. Modernismo – 2ª Fase ........................................................................................................................23 2.3. Pós- Modernismo ................................................................................................................................36

Unidade 3 – Literatura Contemporânea..................................................42 3.1. Poesia de Vanguarda ...........................................................................................................................42 3.2. Poesia Contemporânea .......................................................................................................................43 3.3. Ficção Contemporânea........................................................................................................................50

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UNIDADE 1 PRÉ-MODERNISMO 1902 – “OS SERTÕES” DE EUCLIDES DA CUNHA E “CANAÔ DE GRAÇA ARANHA.

Fonte: www.infoescola.com/historia/guerra-de-canudos

1.1. Contexto As primeiras décadas do século XX não registram muitas transformações no Brasil. A abolição da escravatura e a mudança de Império para república pouco alteraram as estruturas básicas do país, pois a economia ainda demonstrava uma dependência externa e um domínio interno dos grandes produtores de café. Pequenas mudanças acontecem no processo de urbanização, o no crescimento industrial e os imigração começam a chegar de diversos países. Fortalece-se a classe média, fazendo emergir uma classe popular insatisfeita e disposta a revoltas irracionais como, por exemplo, a rebelião contra a vacina obrigatória representada na charge ao lado. Acontecem confrontos como a Revolta da Armada, e no meio rural, lutas entre coronéis em determinadas regiões até a verdadeira guerra civil - que se trava no Rio Grande do Sul - entre republicanos e maragatos, além da guerra de Canudos (1896-1897, a fotografia acima flagra a rendição dos conselheiristas em 2 de outubro de 1897) e do Contestado (1912).

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1.2. Características Convencionou-se chamar de Pré-Modernismo, no Brasil, o período entre 1902 e 1922, ou seja, os vinte anos que antecedem a Semana de Arte Moderna, marco do Modernismo brasileiro. Esse período não pode ser considerado uma escola literária propriamente dita, uma vez que não é possível agrupar escritores que manifestem características comuns em relação à temática ou ao tratamento com a linguagem. O movimento é marcado tanto pela presença de resíduos culturais do século XIX como pela busca de novas formas de expressão do século XX, mas principalmente a manifestação do desejo individual de redescobrir, de maneira crítica, o Brasil esquecido, ignorado, doente, mas que precisa ser mostrado, discutido, interpretado. O Pré-Modernismo é uma fase de transição e, por isso, registra: a) Um traço conservador - a permanência de características realistas / naturalistas, na prosa, e na poesia um caráter ainda parnasiano ou simbolista. - Realistas e naturalistas: escritores cujos procedimentos literários são tipicamente realistas (objetividade, verossimilhança, crítica social, análise psicológica, etc.) - Parnasianos: ainda imperantes, com suas ideias formalistas, sua concepção da literatura como "sorriso da sociedade", sua linguagem retórica e bacharelesca. Olavo Bilac era o "príncipes dos poetas" idolatrado. - Simbolistas: grupo que ainda sonha com neves e neblinas e escuta os doces sons da poesia, marcada pelo subjetivismo. b) Um traço renovador - a renovação revela-se no interesse com que os novos escritores analisavam a realidade brasileira de sua época: a literatura incorpora as tensões sociais do período. O regionalismo persiste nesse momento literário, mas com características diversas daquelas que o animaram durante o Romantismo: o escritor não deseja mais idealizar uma realidade, mas denunciar os desequilíbrios dessa realidade. - Intérpretes do Brasil: os escritores valem-se da literatura, para questionar a realidade brasileira e debater o seu futuro.

Autor: Augusto Dos Anjos

FONTE: https://pt.wikipedia.org/ wiki/Augusto_dos_Anjos

VIDA: Augusto Carvalho Rodrigues Dos Anjos nasceu em 28 de abril de 1884 no Engenho Pau D’arco, localizado na Vila do Espírito Santo, Paraíba. Augusto dos Anjos viveu nesse lugar até os 24 anos, quando a propriedade teve que ser vendida para o pagamento de dívidas. Em 1903 matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife, formando-se bacharel quatro anos depois. Apesar da formação acadêmica, preferiu exercer as funções de professor no Liceu Paraibano. Em 1910 casou-se e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde continuou lecionando. Dois anos depois publicou o livro de poesias “Eu”, que causou enorme polêmica devido a sua linguagem “malcriada”, se comparada às obras Parnasianas do mesmo período. Em 1914 transferiu-se para o Estado de Minas Gerais, onde assumiu a direção de um grupo escolar na cidade de Leopoldina. Ainda nesse ano apanhou uma forte gripe, que o levou a morte a 12 de novembro de 1914. OBRA: Eu (1912)

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[Literatura II] Augusto dos Anjos é um caso à parte na poesia brasileira. Destaca-se em sua poesia a temática da morte, a angústia do ser humano e o uso de ousadas metáforas indicariam a tendência simbolista. O poeta mistura estilos, desde uma linguagem corrosiva, o uso de coloquialismo e a incorporação à literatura de todas as "podridões" da vida. Pode-se destacar sonetos como Versos íntimos, que desenvolve esse tipo de linguagem. Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro da tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera Foi tua companheira inseparável! Acostuma-te à lama que te espera! O Homem que, nesta terra miserável, Mora entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!

A VISÃO DA VIDA E DA MORTE A sua obsessão pela morte pode apresentar: podridão da carne, ambientes mórbidos, cadáveres fétidos, corpos decompostos, vermes famintos e fedor de cemitérios. O poeta é dominado pelo niilismo e questiona a falta de sentido da experiência humana e verte um nojo amargo e desesperado pelo fim sem glórias a que a natureza nos reserva. Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra. Em seus lábios que os meus lábios osculam Microorganismos fúnebres pululam Numa fermentação gorda de cidra. Duras leis as que os homens e a hórrida hidra* A uma só lei biológica vinculam, E a marcha das moléculas regulam, Com a invariabilidade da clepsidra!*

Hidra: serpente gigantesca morta por Hércules. Clepsidra: relógio de água. Necrófagas: aqueles que se nutrem de substâncias em decomposição.

Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos Roída toda de bichos, como os queijos Sobre a mesa de orgíacos festins!... Amo meu pai na atômica desordem Entre as bocas necrófagas* que o mordem E a terra infecta que lhe cobre os rins!

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A LINGUAGEM PRÓPRIA DAS CIÊNCIAS A poesia de Augusto dos Anjos apresenta o uso de uma linguagem científica. Uma grande quantidade de metáforas aparece em seus versos, intensificando-lhes a genialidade ou o mau-gosto. Um exemplo da linguagem cientificista encontra-se em Psicologia de um vencido: Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância,* Sofro, desde a epigênese* da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme - este operário das ruínas Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade orgânica da terra!

Rutilância: brilho intenso. Epigênese: início de uma célula sem estrutura.

Autor: Euclides Da Cunha VIDA: O engenheiro, escritor e ensaísta brasileiro Euclides Rodrigues da Cunha nasceu em Cantagalo (Rio de Janeiro) em 20 de janeiro de 1866. Órfão de mãe desde os três anos de idade, foi educado pelas tias. Frequentou conceituados colégios fluminenses e, quando precisou prosseguir seus estudos, ingressou na Escola Politécnica e, um ano depois, na Escola Militar da Praia Vermelha. Em 1891, deixou a Escola de Guerra e foi designado coadjuvante de ensino na Escola Militar. Em 1893, praticou na Estrada de Ferro Central do Brasil. Quando surgiu a insurreição de Canudos, em 1897, Euclides escreveu dois artigos pioneiros intitulados “A nossa Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/euclid Vendéia” que lhe valeram um convite d’ O Estado de S. Paulo para es_da_cunha presenciar o final do conflito. Durante quatro anos escreveria um documento amargurado sobre o conflito: Os sertões, que viria à luz em 1902. Alguns anos depois - em plena glória pública e literária - foi assassinado (pelo amante de sua esposa) por questões de honra. OBRAS PRNCIPAIS: Os sertões (1902), Contrastes e confrontos (1907), À margem da história (1909).

OS SERTÕES AS VÁRIAS FACES DA OBRA Euclides tenta fundamentar de forma científica o que observara na Guerra de Canudos. Estudou Geografia, Botânica, História, Geologia, Psicologia, Sociologia, etc. Baseia-se em princípios teóricos científicos das últimas décadas do século XIX. Os Sertões trata da campanha de Canudos em 1897, no nordeste da Bahia. Divide-se em três partes: “A terra”, “O homem” e “A luta”.

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A TERRA Nessa primeira parte predomina a visão cientificista e naturalista de Euclides da Cunha. Há uma descrição do meio físico opressor detalhadamente: a vegetação pobre, o chão calcinado, a hidrografia, a fauna, o relevo, o clima e repetição da paisagem árida. A natureza é vista de forma dramática. Veja este fragmento: Preliminares O Planalto Central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas. Mas ao derivar para as terras setentrionais diminui gradualmente de altitude, ao mesmo tempo que descamba para a costa oriental em andares, ou repetidos socalcos, que o despem da primitiva grandeza afastando-o consideravelmente para o interior. (...) Ajusta-se sobre os sertões o cautério* das secas; esterilizam-se os ares urentes**, empedra-se o chão, gretado, recrestado***; ruge o Nordeste nos ermos; e, como um cilício dilacerador, a caatingas estende sobre a terra as ramagens de espinhos... Mas, reduzidas todas as funções, a planta, estivando em vida latente, alimenta-se das reservas que armazena nas quadras remansadas e rompe os estios, pronta a transfigurar-se entre os deslumbramentos da primavera. *Cautério: queima, corrosão; **Urentes: ardentes; ***Recrestado: requeimado

O HOMEM A segunda parte é a mais polêmica porque nela aparecem questões relativas a formação racial do sertanejo e os problemas da mestiçagem. O escritor vê na mistura de raças um retrocesso. Acreditava que “o mestiço - mulato, mameluco ou cafuzo - menos que um intermediário, é um decaído, sem a energia física dos ascendentes selvagens, sem a altitude intelectual dos ancestrais superiores.” FONTE:www.mundodastribos.com /03-de-maio-dia-do-sertanejo.html

Os sertanejos nordestinos (embora também resulte de misturas étnicas) seriam diferentes, pois estavam muitos anos isolado no interior do país. O Sertanejo

O abandono em que jazeram teve função benéfica. Libertou-os da adaptação penosíssima a um estágio social superior e, simultaneamente, evitou que descambassem para as aberrações e vícios dos meios mais adiantados. Por isso, apesar de seu atraso mental, o sertanejo surge como um titã: O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos* do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno**, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. (...) É um homem permanentemente fatigado. Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.

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[Literatura II] Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se; (...) e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro***, reponta inesperadamente o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias. *Neurastênico: indivíduo mal-humorado e irascível; **Desempeno: elegância; ***Canhestro: desajeitado

A LUTA

Foto de Antônio Conselheiro morto. FONTE: http://histatual.blogspot.com.br/2010/04/antonioconselheiro-e-cidadela-de.html

A luta é a última parte da obra. O escritor leu, ouviu e entrevistou pessoas que haviam participado dos confrontos. Assim pode registrar a Guerra de Canudos em todos os seus detalhes. Relata a violência de parte a parte, soldados republicanos e jagunços, que gera um derramamento de sangue. Admira a resistência de Canudos, esta “Jerusalém de taipa”, que logo se transforma numa “Tróia de taipa”.

Canudos não se rendeu Fechemos este livro. Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.

O QUE FOI A GUERRA PARA EUCLIDES DA CUNHA? O escritor argumenta que o confronto foi uma tragédia de erros. Erros originários de uma profunda cegueira de ambos os lados. Para os seguidores de Antônio Conselheiro, os soldados eram agentes do demônio e deviam ser destruídos. Para o exército republicano, os sertanejos eram jagunços primitivos a serviço da causa monárquica e tinham de ser exterminados. Euclides tenta recompor as razões da guerra. Os sertanejos eram retrógrados, mas não degenerados. Seu monarquismo não passava de uma ilusão da soldadesca, alimentada por jornalistas e políticos, e pelo próprio ardor republicano de então. Na verdade, os guerrilheiros de Canudos eram uns pobres-diabos, filhos da ignorância e das crendices de uma civilização parada no tempo há três séculos. Precisavam de professores e não de tiros de canhão. Já as tropas do governo, que representavam a civilização contemporânea e a face moderna do país, a quem cabia o mínimo de racionalidade, foram incapazes de perceber a verdadeira natureza dos inimigos. Trataram então de destruí-lo a ferro e fogo. Com requintes de horror e barbárie. Daí a denúncia que percorre todo Os Sertões, já anunciada pela nota preliminar do autor: “Aquela campanha lembra um refluxo para o passado.E foi na significação integral da palavra, um crime.Denunciemo-lo.” A mesma denúncia que Euclides reforça no epílogo da obra: “É que ainda não existe um Maudsley para as loucuras e os crimes das nacionalidades...”

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COMO DEFINIR O ROMANCE? Os sertões é uma mistura de romance e ensaio científico, relato histórico, descrição geográfica e reportagem jornalística, o que torna difícil de enquadrálo nos limites de um gênero literário. Trata-se de uma obra única. Este romance distingue-se do mero documento com incursões científicas pela presença e uso intencional da linguagem artística. O estilo é trabalhado, pomposo, enfático, retórico, cheio de antítese e comparações, o que o aproxima da escrita do barroco.

FONTE: História do Brasil para Principiantes de Carlos Eduardo Novaes

Autor: Lima Barreto Vida: Filho de um operário e de uma professora primária, ambos mulatos, Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 1881. Cedo ficou órfão de mãe e passou a frequentar a Colônia dos Alienados, um asilo de loucos onde seu pai exercia a função de almoxarife. Graças a protetores, Lima Barreto concluiu o secundário e iniciou os estudos superiores na Escola Politécnica. Por ironia do destino, seu pai enlouqueceu e acabou internado no próprio asilo onde trabalhava. Lima Barreto encarregou-se de sustentar a família, abandonando os estudos e conseguindo um emprego burocrático na Secretaria de Guerra. Ao mesmo tempo, começou a colaborar com quase todos os jornais do Rio de Janeiro. Todavia seu Fonte: https://pt.wikipedia.org/ espírito inquieto e rebelde, seu inconformismo com a mediocridade reinante, suas wiki/Lima_Barreto_(escritor) críticas mordazes aos letrados nativos tornaram-lhe bastante difícil a vida econômica. Além disso, manifestou-se contra ele o preconceito de cor. Para fugir das complicações pessoais e sociais, entregou-se então de corpo e alma ao álcool. Suas contínuas depressões o conduziram várias vezes ao hospital de alienados mentais. Morreria de um colapso cardíaco, em plena miséria aos quarenta e um anos, em 1922. De há muito já não escrevia coisas importantes e caíra no esquecimento em vida. Somente na década de 1970 sua obra voltaria a circular no país Obras principais: Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909) Triste fim de Policarpo Quaresma (1911) Numa e Ninfa (1915) Vida e morte de M .J. Gonzaga de Sá (1919) Os bruzundangas (1923) Clara dos Anjos (1924) Cemitério dos vivos (1957 - Edição póstuma)

O SUBÚRBIO E A CRÍTICA SOCIAL No Rio de Janeiro do início do século, dominado culturalmente pelos letrados tradicionais, a contestação artística se faz de forma bastante problemática: o conservadorismo parece asfixiar o novo. Daí as dificuldades e provocações que Lima Barreto enfrenta ao produzir uma literatura inteiramente desvinculada dos padrões e do gosto vigentes. O escritor revela, em seus romances e contos, Serenata, de Di Cavalcanti. FONTE: sobretudo a tristeza dos subúrbios, com sua gente humilde: http://ireflexoes.blogspot.com.br/2007/11/serenata-por-dicavalcanti-1925.html funcionários públicos aposentados, jornalistas pobretões, tocadores de violão, raparigas sonhadoras, etc. Sua obra preocupa-se com os fatos históricos e com os costumes sociais, tornando-se uma espécie de cronista apaixonado da antiga capital federal (Rio de Janeiro), seguindo a mesma linha de Manuel Antônio de Almeida.

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[Literatura II] Seus textos desvelam a vida cotidiana das classes populares, sem qualquer idealização, ainda que cheios de simpatia humana para os protagonistas mais sofridos. Lima Barreto experimenta grande ternura pelos desvalidos e humilhados, fugindo, no entanto, do sentimentalismo populista que é o maior perigo dessa literatura a favor dos pobres. Há um forte caráter de denúncia social, pois vê o mundo com o olhar dos derrotados, dos que sofrem as injustiças, dos que são feridos pelos preconceitos.

O ESTILO SIMPLES O escritor desprezou a erudição bacharelesca e parnasiana e escreve com simplicidade, até com certo desleixo voluntário, querendo aproximar a escrita da linguagem coloquial. Acusado de escritor incorreto e incapaz de lidar com os padrões linguísticos da elite culta, sua obra será julgada gramaticalmente e condenada por suposta vulgaridade e Poucos aceitaram estes contos e romances que revelaram a vida cotidiana das classes populares, sem qualquer idealização, ainda que cheios de simpatia humana para os protagonistas mais sofridos. Triste Fim De Policarpo Quaresma Publicado inicialmente em folhetins do Jornal do Comércio entre agosto e outubro de 1911 e depois em livro em 1916, Triste Fim de Policarpo Quaresma, obra mais famosa de Lima Barreto, condensa em si muitas das características que consagraram seu autor como o melhor de seu tempo. A obra focaliza fatos históricos e políticos ocorridos durante a fase de instalação da república, mais precisamente no governo de Floriano Peixoto (1891 - 1894). Seus ataques, sempre escachados, derramam-se para todos os lados significativos da sociedade que contempla, a Primeira República, ou seja, as primeiras décadas desse regime aqui no Brasil. Assim, Lima Barreto encaixa-se no Pré-Modernismo (1902-22), pois, respeita códigos literários antigos (principalmente o Naturalismo, conforme anteriormente apontado), mas já apresenta uma linguagem nova, mais arejada em relação ao momento anterior. O romance narrado em terceira pessoa, descreve a vida política do Brasil após a Proclamação da República, caricaturizando o nacionalismo ingênuo, fanatizante e xenófobo do Major Policarpo Quaresma, apavorado com a descaracterização da cultura e da sociedade brasileira, modelada em valores europeus. Divertido e colorido no início, o livro se desdobra no sofrimento patético do major Quaresma, incompreendido e martirizado, convertido numa espécie de Dom Quixote nacional, otimista incurável, visionário, paladino da justiça, expressando na sua ingenuidade a doçura e o calor humano do homem do povo. O romance anuncia no título o seu desfecho pouco alegre, apesar do enredo em que os efeitos cômicos estão aliados ao entusiasmo ingênuo do personagem central e ao seu inconformismo e obsessões. Quaresma é um tipo rico em manifestações inusitadas: seus requerimentos pedindo o tupi-guarani como língua oficial, seu jeito de receber chorando as visitas, suas pesquisas folclóricas; tudo procurando despertar o riso no leitor que, no final, presencia sua morte solitária e triste: “Com tal gente era melhor tê-lo deixado morrer só e heroicamente num ilhéu qualquer, mas levando para o túmulo inteiramente intacto o seu orgulho, a sua doçura, a sua personalidade moral, sem a mácula de um empenho, que diminuísse a injustiça de sua morte, que de algum modo fizesse crer aos algozes que eles tinham direito de matá-lo”. Dom Quixote, de Pablo Picasso. FONTE: http://chc.cienciahoje.uol.com.br/a-imaginacao-e-o-delirio-deum-cavaleiro-andante/

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Autor: João Simões Lopes Neto Vida: Neto do famoso Visconde da Graça - que chegou a ter uma orquestra particular composta por escravos em sua grande fazenda João Simões Lopes Neto nasceu em Pelotas, no ano de 1865, descendia da elite rural rio-grandense. Aos treze anos, foi para o Rio de Janeiro, estudar no famoso colégio Abílio. Em seguida, teria frequentado até a terceira série a Faculdade de Medicina, mas sobre esta passagem acadêmica nunca houve provas. Retornando ao Sul, fixa-se em sua terra natal, Pelotas, então rica e próspera pelas mais de cinquenta charqueadas que lhe davam a base econômica. Nesta cidade dinâmica e aristocrática, o jovem patrício enceta a mais bizarra, surpreendente e malograda trajetória vivida por um escritor gaúcho. João Simões sobreviveu das atividades jornalísticas. Ali estampou seus relatos, em uma linguagem que fugia dos padrões reconhecidos na época. Ninguém percebia a sua importância literária. Muitos pelotenses ainda o tratavam com deferência, por suas origens aristocráticas e seu http://apoesiadobrasil.blogspot.com.br/ 2013/09/joao-simoes-lopes-neto-1865caráter generoso; outros viam nele apenas um derrotado, um tipo que 1916.html merecia piedade. A própria mulher, com quem não teve filhos, parecia desprezá-lo. Em 1916, morreu em Pelotas, aos cinquenta e um anos, de uma úlcera perfurada. OBRAS: Cancioneiro guasca (1910), Contos gauchescos (1912), Lendas do Sul (1913), Casos do Romualdo (1952 - edição póstuma)

O UNIVERSO GAUCHESCO Os textos do escritor transcorrem no passado, abrangendo um período histórico que se inicia depois da Independência e alcança o início do século XIX. Vários momentos significativos da formação do Rio Grande do Sul são evocados como pano de fundo dos contos: a Revolução Farroupilha, as Guerras Platinas, a Guerra do Paraguai, etc. Uma das técnicas mais interessante do escrito foi dar a voz narrativa de sua principal obra – Contos Gauchescos – a um velho vaqueano chamado Blau Nunes, com isso consegue atribuir oralidade e o regionalismo da linguagem e a fixação do mundo gauchesco aos contos. Observe a apresentação do narrador: Genuíno tipo — crioulo — rio-grandense (hoje tão modificado), era Blau o guasca sadio, a um tempo leal e ingênuo, impulsivo na alegria e na temeridade, precavido, perspicaz, sóbrio e infatigável; e dotado de uma memória de rara nitidez brilhando através de imaginosa e encantadora loquacidade servida e floreada pelo vivo e pitoresco dialeto gauchesco. E, do trotar sobre tantíssimos rumos; das pousadas pelas estâncias; dos fogões a que se aqueceu; dos ranchos em que cantou, dos povoados que atravessou; das cousas que ele compreendia e das que eram-lho vedadas ao singelo entendimento; do pêlo-a-pêlo com os homens, das erosões da morte e das eclosões da vida, entre o Blau — moço, militar — e o Blau — velho, paisano —, ficou estendida uma longa estrada semeada de recordações — casos, dizia que de vez em quando o vaqueano recontava, como quem estende, ao sol,para arejar, roupas guardadas ao fundo de uma arca. Querido digno velho! Saudoso Blau! Patrício, escuta-o.

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[Literatura II] A visão de Blau Nunes a respeito do gaúcho é ambígua. Por um lado, celebra-lhe as virtudes: a hombridade, a bravura, a honestidade, etc. Por outro lado, Blau Nunes é essencialmente um gaudério, um homem que tem de seu apenas o cavalo e as habilidades campeiras e guerreiras. Um homem simples que pertence ao núcleo dos “de baixo” e que olhas para os “de cima” com certa desconfiança A narrativa dos contos não estabelece apenas um itinerário geográfico em busca das paragens típicas do Rio Grande do sul; mas também é um percurso existencial, pois narra os casos de que participou, traçando a própria autobiografia e um painel da formação do nosso estado e do nosso povo.

A LINGUAGEM REGIONALISTA O velho gaudério, Blau Nunes, assume a narração de seus casos, valendo-se de uma espécie de linguagem popular campeira, imperante na campanha, pelo menos durante o século XIX, e que, certamente, já estava em desuso no início do século XX, quando o escritor a fixou literariamente. A fala de Blau Nunes é saborosa, sugestiva, em função de inúmeras e criativas metáforas, e nos dá a impressão de total naturalidade. Nela aparecem vocábulos espanhóis (despacito, entrevero, etc.); arcaísmos (escuitar, peor, etc.); corruptelas (vancê, desgoto, etc.); e uma grande quantidade de termos específicos da região (china, bagual, chiru, etc.); sem contar algumas variantes do próprio escritor. Por isso, deve-se ler a obra com um glossário confiável. Tornam-se nítidos a fixação do mundo gauchesco, a oralidade e o regionalismo da linguagem. Contribui para o encantamento verbal a que o narrador nos submete o fato de falar com alguém, um homem que acompanha o vaqueano na cavalgada e nos causos que conta. Blau Nunes é o vaqueano que conduz o viajante através dos pagos. Trata-se aqui do portador de um conjunto de valores que expressa a imagem do gaúcho gerada pela tradição coletiva: a grandeza, a hospitalidade, a amizade, a confiança, a audácia e a perspicácia. Em "Contrabandista", por exemplo, um pai atravessa a fronteira para buscar um vestido de noiva para a filha, mas no dia do casamento, enquanto o noivo, o padre e dezenas de convidados vão chegando, o pai não retorna com o presente. A espera, em plena festa matrimonial, pelo velho contrabandista e seus asseclas é uma das cenas mais exasperantes da ficção brasileira. Observe o trecho: O Jango Jorge foi maioral nesses estropícios. Desde moço. Até a hora da morte. Eu vi. Como disse, na madrugada véspera do casamento o Jango Jorge saiu para ir buscar o enxoval da filha. Passou o dia; passou a noite. No outro dia, que era o do casamento, até de tarde, nada. Havia na casa uma gentama convidada; da vila, vizinhos, os padrinhos, autoridades, moçada. Havia de se dançar três dias!... Corria o amargo e copinhos de licor de butiá. Roncavam cordeonas no fogão, violas na ramada, uma caixa de música na sala. Quase ao entrar do sol a mesa estava posta, vergando ao peso dos pratos enfeitados. A dona da casa, por certo traquejada nessas bolandinas do marido, estava sossegada, ao menos ao parecer.

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OS DRAMAS HUMANOS Apesar dos contos documentarem os costumes e as singularidades da região pastoril e apresentarem personagens inseridos na “vida dos gaúchos”, há neles uma forte presença de sentimentos elementares que reconhecem o homem universal. A maldade dos estancieiros, a luta de dois comandantes farroupilhas provavelmente por causa de uma mulher, a devoção do pai a sua filha em "Contrabandista"; o ódio e a vingança ilimitada, a loucura do orgulho ferido, as histórias de amor, a morte, o horror da guerra são exemplos de relatos dos dramas humanos, que marcam o universalismo da obra de Simões Lopes Neto.

Acima, a forma bem humorada que o cartunista Louzada, criador do personagem Tapejara, imagina o gaúcho. (Fonte: http://www.paginadogaucho.com.br/tapejara). RASCUNHO

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UNIDADE 2 MODERNISMO

2.1. 1ª Fase Modernista (1922 - 1930) A SEMANA DE ARTE MODERNA A Semana de Arte Moderna ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, tendo como objetivo mostrar as novas tendências artísticas que já vigoravam na Europa. Esta nova forma de expressão não foi compreendida pela elite paulista, que era influenciada pelas formas estéticas européias mais conservadoras. Em um período repleto de agitações, os intelectuais brasileiros se viram em um momento em que precisavam abandonar os valores estéticos antigos, ainda muito apreciados em nosso país, para dar lugar a um novo estilo completamente contrário, e do qual, não se sabia ao certo o rumo a ser seguido. No Brasil, o descontentamento com o estilo anterior foi bem mais explorado no campo da literatura, com maior ênfase na poesia. Entre os escritores modernistas destacam-se: Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida e Manuel Bandeira. Na pintura, destacou-se Anita Malfatti, que realizou a primeira exposição modernista brasileira em 1917. Suas obras, influenciadas pelo cubismo, expressionismo e futurismo, escandalizaram a sociedade da época. Monteiro Lobato não poupou críticas à pintora, contudo, este episódio serviu como incentivo para a realização da Semana de Arte Moderna.

Embora tenha sido alvo de muitas críticas, a Semana de Arte Moderna só foi adquirir sua real importância ao inserir suas idéias ao longo do tempo. O movimento modernista continuou a expandir-se por divulgações através da Revista Antropofágica e da Revista Klaxon, e também pelos seguintes movimentos: Movimento Pau-Brasil, Grupo da Anta, Verde-Amarelismo e pelo Movimento Antropofágico. Todo novo movimento artístico é uma ruptura com os padrões utilizados pelo anterior, isto vale para todas as formas de expressões, sejam elas através da pintura, literatura, escultura, poesia, etc. Ocorre que nem sempre o novo é bem aceito, isto foi bastante evidente no caso do Modernismo, que, a princípio, chocou por fugir completamente da estética europeia tradicional que influenciava os artistas brasileiros.

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Fonte: https://www.lendo.org/semana-arte-moderna-1922/

A Semana, na verdade, foi a explosão de ideias inovadoras que aboliam por completo a perfeição estética tão apreciada no século XIX. Os artistas brasileiros buscavam uma identidade própria e a liberdade de expressão; com este propósito, experimentavam diferentes caminhos sem definir nenhum padrão. Isto culminou com a incompreensão e com a completa insatisfação de todos que foram assistir a este novo movimento. Ronald de Carvalho, ao recitar o poema Os sapos, de Manuel Bandeira foi desaprovado pela plateia através de muitas vaias e gritos.


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O MODERNISMO DE 22 (Fase De Destruição E Experimentação) - CARACTERÍSTICAS DA 1ª FASE MODERNISTA a) Desintegração da linguagem tradicional Questiona-se toda a arte acadêmica, com suas fórmulas envelhecidas, a expressão gasta, a linguagem convertida em clichês. O estilo parnasiano e o bacharelismo são os alvos prediletos dos ataques modernizadores. Para efetivar tal destruição, usa-se a paródia, a piada, o sarcasmo. b) Liberdade de expressão Poética (Manuel Bandeira) Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. Abaixo os puristas (...) Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. c) Incorporação do cotidiano Poema retirado de uma notícia de jornal (Manuel Bandeira) João Gostoso era carregador de feira-livre e morava no morro [da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na Lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. d) Linguagem coloquial Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados.

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[Literatura II] e) Verso livre O verso já não está sujeito ao rigor métrico e às formas fixas de versificação, como o soneto, por exemplo. Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval Paixão Ciúme Dor daquilo que não se pode dizer Felizmente existe o álcool na vida e nos três dias de carnaval éter de lança-perfume. (...) Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados Dorinha meu amor... Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro: - Na boca! Na boca! f) Verso branco A rima se torna desnecessária. O major morreu. Reformado. Veterano da guerra do Paraguai. Herói da ponte do Itororó. Não quis honras militares. Não quis discursos. Apenas À hora do enterro O corneteiro de um batalhão de linha Deu à boca do túmulo O toque de silêncio. g) Paródia Os modernistas realizam, em todas as artes, uma aproximação crítica das obras do passado. No universo literário, a releitura de textos famosos das escolas anteriores torna-se uma forma de rejeição ou de admiração. Com frequência, os modernos terminar por reescrever alguns dos textos consagrados sob uma perspectiva de humor: é a paródia. Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos aqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra (...) Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para são Paulo Sem que eu veja a rua 15 E o progresso de São Paulo

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[Literatura II] h) Busca da expressão nacional O nacionalismo surge no horizonte do grupo modernista apenas em 1924. Antes, as questões fundamentais eram estéticas. A partir de agora passam a ser ideológicas: vai se discutir o nacional e o popular em nossa literatura. Sonha-se com a delimitação de uma cultura brasileira, de uma alma verde-amarela.

Autor: Mário De Andrade Vida: Mario de Andrade nasceu em São Paulo, no ano de 1893. Professor, crítico, poeta, contista, romancista e músico, formou-se pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, passando a lecionar neste mesmo local posteriormente. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Durante sua trajetória, Mario de Andrade fundou a Sociedade de Etnografia e Folclore e também passou por vários cargos públicos, entre estes, foi diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo.

Fonte: https://www.pensador.com/ autor/mario_de_andrade/

Apesar de ter sido uma pessoa com inúmeras ocupações, este artista modernista sempre tinha tempo para ajudar os escritores que ainda não eram conhecidos.

Enquanto viveu, ele lutou pela arte com seu estilo de escrita puro e verdadeiro. Certo de que a inteligência brasileira necessitava de atualização, este escritor modernista nunca abandonou suas maiores virtudes: a consciência artística e a dignidade intelectual. Foram de sua autoria os versos de Paulicéia Desvairada, considerada o marco inicial da poesia modernista no Brasil. Outra obra deste artista que se destacou por sua contribuição ao movimento modernista foi o livro Macunaíma, romance onde é mostrado um herói que tem as qualidades e defeitos de um brasileiro comum. OBRAS: Há uma gota de sangue em cada poema (1917), Paulicéia desvairada (1922), Losango Cáqui (1926), Clã do Jaboti (1927), Remate de Males (1930), Poesias (1941), Lira Paulistana (1946), Amar, Verbo Intransitivo (1927), Macunaíma (1928), Primeiro Amor (1926), Belazarte (1934), Contos Novos (1946)

O livro Paulicéia Desvairada é repleto de inovações de linguagem, sendo a cidade de São Paulo o ponto de partida para a temática do livro. Nesse livro encontra-se o "Prefácio interessantíssimo”, um dos mais importantes documentos da poesia modernista. Nele, o autor expõe sua teoria poética, a que dá o nome de "desvairismo”. Eis alguns fragmentos do "Prefácio":

“Quando sinto o impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que meu inconsciente me grita. Minhas reivindicações? Liberdade. Uso delas; não abuso. O passado é lição para se meditar, não para reproduzir”.

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[Literatura II] Eu sou trezentos... Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, As sensações renascem de si mesmas sem repouso, Ôh espelhos, ôh! Pireneus! ôh caiçaras! Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro! Abraço no meu leito as milhores palavras, E os suspiros que dou são violinos alheios Eu piso a terra como quem descobre a furto Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus [próprios beijos! Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, Mas um dia afinal eu toparei comigo... Tenhamos paciência, andorinhas curtas, Só o esquecimento é que condensa, E então minha alma servirá de abrigo.

SONETO (Dezembro de 1937) Aceitarás o amor como eu o encaro ?… …Azul bem leve, um nimbo, suavemente Guarda-te a imagem, como um anteparo Contra estes móveis de banal presente. Tudo o que há de melhor e de mais raro Vive em teu corpo nu de adolescente, A perna assim jogada e o braço, o claro Olhar preso no meu, perdidamente. Não exijas mais nada. Não desejo Também mais nada, só te olhar, enquanto A realidade é simples, e isto apenas. Que grandeza… a evasão total do pejo Que nasce das imperfeições. O encanto Que nasce das adorações serenas.

Ode ao burguês Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampiões! os condes Joões! [os duques zurros! que vivem dentro de muros sem pulos; e gemem sangues de alguns mil-réis fracos para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam os "Printemps" com as unhas! Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais o êxtase fará sempre Sol! Morte à gordura! Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi! Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano! "–Ai, filha, que te darei pelos teus anos? –Um colar... –Conto e quinhentos!!! Mas nós morremos de fome!" Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma! Oh! purê de batatas morais! Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas! Ódio aos temperamentos regulares! Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia! Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados! Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos, sempiternamente as mesmices convencionais! De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! Dois a dois! Primeira posição! Marcha! Todos para a Central do meu rancor inebriante Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! Morte ao burguês de giolhos, cheirando religião e que não crê em Deus! Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico! Ódio fundamento, sem perdão! Fora! Fu! Fora o bom burguês!...

FONTE: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Macuna%C3%ADma_(filme)

I–

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[Literatura II] Macunaíma No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Sio incitavam a falar exclamava: - Ai! que preguiça!. . . e não dizia mais nada." Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos, e frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.

Autor: Oswald De Andrade Vida: Oswald de Andrade, poeta, romancista e dramaturgo, nasceu em São Paulo em 11 de janeiro de 1890. Filho de família rica, estuda na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e, em 1912, viaja para à Europa. Em Paris, entra em contato com o Futurismo e com a boemia estudantil. Além das ideias Futuristas, conhece Kamiá, mãe de Nonê, seu primeiro filho, nascido em 1914. De volta a São Paulo faz jornalismo literário. Em 1917, passa a viver com Maria de Lourdes Olzani (ou Deise), conhece Mário de Andrade e defende a pintora Anita Malfatti de uma crítica devastadora de Monteiro Lobato. Ao lado deles, e de outros intelectuais, organiza a Semana de Arte Moderna de 1922. Em 1924 publica, pela primeira vez, no jornal “Correio da manhã”, na edição de 18 de março de 1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil. No ano seguinte, após algumas alterações, o Manifesto abria o seu livro de poesias “Pau-Brasil”. Em 1926, Oswald casa-se com a Tarsila do Amaral e os dois tornam-se o casal mais importante das artes brasileiras. Apelidados carinhosamente por Mário FONTE: https://www.infoescola.com/ de Andrade como “Tarsiwald”, o casal funda, dois anos depois, o Movimento literatura/oswald-de-andrade Antropófago e a Revista de Antropofagia, originários do Manifesto Antropófago. A principal proposta desse Movimento era que o Brasil devorasse a cultura estrangeira e criasse uma cultura revolucionária própria.

O ano de 1929 é fundamental na vida do escritor. A crise de 29 abalou as suas finanças, ele rompe com Mário de Andrade, separa-se de Tarsila do Amaral e apaixona-se pela escritora comunista Patrícia Galvão (Pagu). O relacionamento com Patrícia Galvão intensifica sua atividade política e Oswald passa a militar no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Além disso, o casal funda o jornal “O Homem do Povo”, que durou até 1945, quando o autor rompeu com o PCB. Do casamento com Patrícia Galvão, nasceu Rudá, seu segundo filho. Depois de separar-se de Pagu, casou-se, em 1936, com a poetisa Julieta Bárbara. Em 1944, mais um casamento, agora com Maria Antonieta D’Aikmin, com quem permanece junto até a morte, em 1954. Nenhum outro escritor do Modernismo ficou mais conhecido pelo espírito irreverente e combativo do que Oswald de Andrade. Sua atuação intelectual é considerada fundamental na cultura brasileira do início do século. A obra literária de Oswald apresenta exemplarmente as características do Modernismo da primeira fase.

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[Literatura II] OBRAS:

Pau-Brasil (1925) Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927) Memórias sentimentais de João Miramar Serafim Ponte Grande "Pronominais"

crônica Era uma vez o mundo

Vício na fala Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiao e vão fazendo telhados

velhice O netinho jogou os óculos Na latrina

Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro

Pero Vaz Caminha a descoberta Seguimos nosso caminho por este mar de longo Até a oitava da Páscoa Topamos aves E houvemos vista de terra os selvagens Mostraram-lhes uma galinha Quase haviam medo dela E não queriam por a mão E depois a tomaram como espantados

primeiro chá Depois de dançarem Diogo Dias Fez o salto real as meninas da gare Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas Que de nós as muito bem olharmos

RASCUNHO

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[Literatura II]

Autor: Manuel Bandeira Vida: Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho nasceu no Recife no dia 19 de abril de 1886, na Rua da Ventura, atual Joaquim Nabuco, filho de Manuel Carneiro de Souza Bandeira e Francelina Ribeiro de Souza Bandeira. Em 1917 publica seu livro de estreia A cinza das horas, de nítida influência parnasiana e simbolista. Ainda nesse período fixa-se no Rio de Janeiro, onde escreve poesia e prosa, faz crítica literária e leciona na Faculdade Nacional de Filosofia. Os modernistas viram em Manuel Bandeira um precursor do movimento que se manifestaria, através da Semana de Arte Moderna, em 1922. Bandeira influenciou tanto os jovens modernistas que Mário de Andrade chamava-o de “São João Batista do modernismo brasileiro”. Dentro das características fundamentais para se entender a poesia de Bandeira estão a liberdade de forma e conteúdo, a revolta contra o convencionalismo, a valorização do cotidiano, a expressão literária impregnada de coloquialismo, expressões antipoéticas, a mistura prosa e poesia, os versos livres, etc. Fonte: https://www.todamateria.com.br/ manuel-bandeira/

Em 1940 é eleito para a Academia Brasileira de Letras, na vaga de Luís Guimarães Filho. Poeta de amplos recursos foi também um exímio tradutor de poesia. Além da bela coletânea dos seus Poemas traduzidos (1945), construiu textos notáveis ao passar para o português as obras de Schiller, Shakespeare e Brecht, entre muitos outros autores. Manuel Bandeira morreu no Rio de Janeiro em 13 de outubro de 1968. CARACTERÍSTICAS DO POETA a) a liberdade de forma e conteúdo (aproxima-se das renovações modernistas); b) a revolta contra o convencionalismo (critica os parnasianos e a linguagem culta); c) a valorização do cotidiano (o prosaísmo); d) a expressão literária impregnada de coloquialismo (o jeito de falar do povo, a linguagem simples para captar a complexidade da existência); e) as expressões antipoéticas (termos que não cabem à poesia); f) a mistura da prosa com poesia (poesia em prosa, a mescla de gêneros, os interlocutores); g) os versos livres (sem métrica); h) as lembranças da infância (família, parentes, amigos, festas populares, brincadeiras de criança, recife...) i) a evasão (caráter autobiográfico, confissão pessoal) j) a preparação para a morte (revolta e ironia contra o destino) k) o desejo não realizado (certa insatisfação e tristeza com a vida) l) a simpatia pelos populares (pessoas de vida simples) m) a sonoridade dos versos (leia o poema “Trem de ferro”); n) a temática social (leia o poema “O Bicho”); Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . . - Respire. ................................................................................... - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

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[Literatura II] Vou-me Embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada

Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive

Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar

E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água

E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada.

João Gostoso era carregador João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. O Bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem.

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[Literatura II] Trem de Ferro Café com pão Café com pão Café com pão

Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matar minha sede Oô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô...

Virge Maria que foi isso maquinista? Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força (trem de ferro, trem de ferro) (...)

Vaou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente... (trem de ferro, trem de ferro)

Leitura Complementar: O Projeto Literário da Primeira Geração Modernista Menotti del Picchia resumiu de modo objetivo o projeto literário da primeira geração de modernistas brasileiros. Segundo ele, o grupo da Semana "não formulou um código: formou uma consciência, um movimento libertador a integrar nosso pensamento e nossa arte na nossa paisagem e no nosso espírito dentro da autentica brasilidade", Mais uma vez a busca pela identidade nacional voltava ao centro do projeto literário de uma geração. Para cumprir esse projeto, o Modernismo, inspirado pelas propostas iconoclastas das vanguardas europeias, deu início a um questionamento sistemático dos valores que fundamentavam o gosto nacional. Pode parecer contraditório que o questionamento das influências estrangeiras na cultura brasileira tenha sido inspirado por movimentos artísticos europeus. É preciso lembrar, porém, que a renovação das vanguardas começava pela destruição dos valores do passado. E a crença na necessidade de destruir esses valores para propor um novo olhar para a arte que anima os primeiros modernistas. Assim, ao mesmo tempo que davam seu grito de independência e se revoltavam contra modelos do passado, enfrentavam heroicamente a resistência de um publico que cultivava esses modelos como sinônimo de beleza. (Literatura, tempos, leitores e leituras, de Maria L. M. Abaurre e Marcela Pontara)

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2.2. Neomodernismo 2ª FASE MODERNISTA (1930 – 1945) CONTEXTO O quadro social, econômico e político que se verificava no Brasil e no mundo no início da década de 1930 - reflexos da crise da bolsa de Nova Iorque ocorrida em 1929; crise cafeeira; Revolução de 30; Intentona Comunista, em 1935; Estado Novo (1937-1945); ascensão do Nazismo e do Fascismo e combate ao socialismo; Segunda Guerra Mundial (19391945) - exigia dos artistas e intelectuais uma tomada de posição ideológica, do que resulta uma arte engajada. O Modernismo consolidou suas conquistas no período de 1930 a 1945. Passada a fase mais agressiva e polêmica, observamos que a literatura brasileira começa a entrar num Guerra de Lasar Segall. FONTE: http://www.arteeartistas.com.br/lasarsegall-e-sua-obra período de amadurecimento. Sobretudo com a estreia de uma geração de escritores que revelariam em suas obras, uma grande preocupação com os problemas sociais de seu tempo. A segunda fase do Modernismo brasileiro pode ser considerada um momento de amadurecimento de todas as novidades trazidas pelo período heroico, que teve início com a Semana de Arte Moderna.

A POESIA SOCIAL Os poetas da geração de 30 tiveram grande preocupação social. A necessidade de compreender o mundo transformado pela guerra e pelas sucessivas crises fez com que procurassem uma interpretação da realidade, tentando entender o dinamismo das relações do homem com o universo que habita. Assim, por exemplo, as poesias de Drummond e de Murilo Mendes analisam o destino do ser humano como um todo. Essa visão abrangente do homem também aparece em Cecília Meireles e Vinícius de Moraes, que produzem também, uma poesia intimista, voltada para a espiritualidade ou então para a reflexão amorosa. Quando analisamos a poesia da segunda geração modernista, observamos que a principal característica no uso da linguagem é a liberdade para explorar todo tipo de recurso formal. A seleção de palavras parece sugerir opção pela simplicidade, mas a estrutura sintática dos versos é, muitas vezes, mais elaborada, sinalizando a direção oposta. Essa maior complexidade sintática pode ser associada à própria temática desenvolvida nos textos. Os poetas usam a poesia para falar de um momento em que a humanidade esta diante de questões complicadas. Refletir sobre elas exige uma elaboração sintática de complexidade equivalente. A maneira como são usados os recursos próprios da linguagem poética, como versos, ritmos e rimas, também reforça a liberdade como marca dessa geração. Versos, livres e brancos convivem com outros rimados e de métrica fixa. Formas poéticas fixas, como o soneto, também serão revisitadas por todos os

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[Literatura II] poetas, que submetem a linguagem às suas necessidades, valendo-se de todos os recursos (formais ou não) à sua disposição.

Autor: Carlos Drummond de Andrade

Poema das Sete Faces

Vida: Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por “insubordinação mental”. De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro. Fonte: www.pensador.com/autor/ carlos_drummond_de_andrade

Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil. Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única. A poesia de Carlos Drummond de Andrade pode ser abordada a partir da dialética “eu x mundo”, desdobrando-se em três atitudes:

Quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai Carlos! Ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração Porém meus olhos não perguntam nada O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucas, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo, mundo vasto mundo, Se eu me chamasse Raimundo seria apenas rima, não seria solução. Mundo, mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.

Eu maior que o mundo: marcada pela poesia irônica. O poeta vê os conflitos de uma posição de equidistância e não envolvimento: daí o humor, os poemas-piada e a ironia. O poeta fotografa a província, a família. É sarcástico, de uma irreverência incontida, mas de um sentimento contido, o que vem a produzir um texto objetivo, seco, versos curtos e descarnados, sem transbordamento emocional. É o que ocorre em Alguma Poesia e Brejo das Almas.

No Meio do Caminho

na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.

No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento

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[Literatura II] Eu menor que o mundo: marcada pela poesia social, tomando como temas a política, a guerra e o sofrimento do homem. Desabrocha o sentimento do mundo, marcado pela solidão, pela impotência do homem, diante de um mundo frio e mecânico, que o reduz a objeto. É o que ocorre em Sentimento do Mundo, José e especialmente em A Rosa do Povo. Os poemas Consideração do poema e A flor e a náusea também incluem-se nessa fase. Consideração do poema Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra, que todas me convêm. As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem, no céu livre por vezes um desenho, são puras, largas, autênticas, indevassáveis. Uma pedra no meio do caminho ou apenas um rastro, não importa. Estes poetas são meus. De todo o orgulho, de toda a precisão se incorporam ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo. Que Neruda me dê sua gravata chamejante. Me perco em Apollinaire.(...)

Como fugir ao mínimo objeto ou recusar-se ao grande? Os temas passam, eu sei que passarão, mas tu resistes, e cresces como fogo, como casa, como orvalho entre dedos, na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte, e te desejo e te perco, estou completo, me destino, me faço tão sublime, tão natural e cheio de segredos, tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina, o povo, meu poema, te atravessa.

A flor e a náusea Preso à minha classe e a algumas roupas, Vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjoo? Posso, sem armas, revoltar-me'? Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera. O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse. Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. O sol consola os doentes e não os renova. As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. Vomitar esse tédio sobre a cidade. Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado. Nenhuma carta escrita nem recebida. Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem. Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns achei belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver.

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[Literatura II] Ração diária de erro, distribuída em casa. Os ferozes padeiros do mal. Os ferozes leiteiros do mal. Pôr fogo em tudo, inclusive em mim. Ao menino de 1918 chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim. Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima. Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. Eu igual ao mundo: abrange a poesia metafísica, de Claro Enigma onde a escavação do real, mediante um processo de interrogações e negações, conduz ao vazio que espreita o homem e ao desencanto, e a “poesia objetual”, de Lição de Coisas, onde a palavra se faz coisa, objeto, e, é pesquisada, trabalhada, desintegrada e refundida no espaço da página. Apresenta uma novidade: o erotismo. A Metafísica do Corpo A metafísica do corpo se entremostra nas imagens. A alma do corpo modula em cada fragmento sua música de esferas e de essências além da simples carne e simples unhas.

mulher planta brisa mar, o ser telúrico, espontâneo, como se um galho fosse da infinita árvore que condensa o mel, o sol, o sal, o sopro acre da vida.

Em cada silêncio do corpo identifica-se a linha do sentido universal que à forma breve e transitiva imprime a solene marca dos deuses e do sonho.

De êxtase e tremor banha-se a vista ante a luminosa nádega opalescente, a coxa, o sacro ventre, prometido ao ofício de existir, e tudo mais que o corpo resume da outra vida, mais florente, em que todos fomos terra, seiva e amor.

Entre folhas, surpreende-se na última ninfa o que na mulher ainda é ramo e orvalho e, mais que natureza, pensamento da unidade inicial do mundo:

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Eis que se revela o ser, na transparência do invólucro perfeito.


[Literatura II]

Autora: Cecília Meireles Vida: Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D. Matilde Benevides Meireles, professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó D. Jacinta Garcia Benevides. Escreveria mais tarde:

Fonte: www.pensador.com/ autor/cecilia_meireles

“Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.”

Concluiu seus primeiros estudos — curso primário — em 1910, na Escola Estácio de Sá, ocasião em que recebe de Olavo Bilac, Inspetor Escolar do Rio de Janeiro, medalha de ouro por ter feito todo o curso com “distinção e louvor”. Diplomando-se no Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, passa a exercer o magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal. Falece no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. Seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura. CARACTERÍSTICAS a) liberdade da forma; b) espiritualidade (intimismo); c) neossimbolista; d) atmosfera de sonho e fantasia e) musicalidade (aliteração, assonância e reiteração); f) uso de metáforas e sinestesias; g) temas universais h) poesia melancólica – sentimento de ausência e solidão

Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento.

Retrato Se desmorono ou se edifico se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.

Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno e asa ritmada E um dia sei que estarei mudo: - mais nada.

Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?

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[Literatura II] Pistoia - Cemitério Militar Brasileiro Eles vieram felizes, como para grandes jogos atléticos: com um largo sorriso no rosto, com forte esperança no peito, - porque eram jovens e eram belos.

Este cemitério tão puro é um dormitório de meninos: e as mães de muito longe chamam, entre as mil cortinas do tempo, cheias de lágrimas, seus filhos. (...)

Marte, porém, soprava fogo por estes campos e estes ares. E agora estão na calma terra, sob estas cruzes e estas flores, cercados por montanhas suaves.

E as mães esperam que ainda acordem, como foram, fortes e belos, depois deste rude exercício, desta metralha e deste sangue, destes falsos jogos atléticos.

São como um grupo de meninos num dormitório sossegado, com lençóis de nuvens imensas, e um longo sono sem suspiros, de profundíssimo cansaço. (...)

Entretanto, céu, terra, flores, é tudo horizontal silêncio. O que foi chaga, é seiva e aroma, - do que foi sonho, não se sabe e a dor anda longe, no vento...

Romanceiro da inconfidência CENÁRIO

ROMANCE XXI OU DAS IDÉIAS

Passei por essas plácidas colinas e vi das nuvens, silencioso, o gado pascer nas solidões esmeraldinas.

Doces invenções da Arcádia! Delicada primavera: pastoras, sonetos, liras, - entre as ameaças austeras de mais impostos e taxas que uns protelam e outros negam. Casamentos impossíveis. Calúnias. Sátiras. Essa paixão da mediocridade que na sombra se exaspera. E os versos de asas douradas, que amor trazem e amor levam... Anarda. Nise. Marília... As verdades e as quimeras. Outras leis, outras pessoas. Novo mundo que começa. Nova raça. Outro destino. Planos de melhores eras. E os inimigos atentos, que, de olhos sinistros, velam. E os aleives. E as denúncias. E as ideias.

Largos rios de corpo sossegado dormiam sobre a tarde, imensamente, - e eram sonhos sem fim, de cada lado. Entre nuvens, colinas e torrente, uma angústia de amor estremecia a deserta amplidão na minha frente. Que vento, que cavalo, que bravía saudade me arrastava a esse deserto, me obrigava a adorar o que sofria? Passei por entre as grotas negras, perto dos arroios fanados, do cascalho cujo ouro já foi todo descoberto. As mesmas salas deram-me agasalho onde a face brilhou de homens antigos, iluminada por aflito orvalho.

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[Literatura II]

Autor: Vinícius de Moraes Vida: Nasce, em meio a forte temporal, na madrugada de 19 de outubro , no antigo nº 114 (casa já demolida) da rua Lopes Quintas, na Gávea, ao lado da chácara de seu avô materno, Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz. São seus pais d. Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, este, sobrinho do poeta, cronista e folclorista Mello Moraes Filho e neto do historiador Alexandre José de Mello Moraes. Desde cedo demonstra seu pendor para a poesia. Criado por sua mãe, Lydia Cruz de Moraes, que, dentre outras qualidades, era exímia pianista, e ao lado do pai, Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, poeta bissexto, Vinicius cresce morando em diversos bairros do Rio, infância e juventude depois contadas em seus versos, que refletiam o pensamento da geração de 1940 em diante. Fonte: www.pensador.com/ autor/vinicius_de_moraes

É operado a 17 de abril, para a instalação de um dreno cerebral. Morre, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa, na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher. CARACTERÍSTICAS - Recupera o uso das formas fixas: sonetos PRIMEIRA FASE: a) a poesia mística e transcendental b) valorização do momento c) presença da religiosidade d) sensualidade. SEGUNDA FASE: a) a poesia que retrata o amor b) a reflexão a cerca do amor c) o cotidiano d) os problemas sociais. Soneto de Fidelidade De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Pátria minha A minha pátria é como se não fosse, é íntima Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo É minha pátria. Por isso, no exílio Assistindo dormir meu filho Choro de saudades de minha pátria. Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi: Não sei. De fato, não sei Como, por que e quando a minha pátria Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias, pátria minha Tão pobrinha! (...) Agora chamarei a amiga cotovia E pedirei que peça ao rouxinol do dia Que peça ao sabiá Para levar-te presto este avigrama: "Pátria minha, saudades de quem te ama… Vinicius de Moraes."

Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

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[Literatura II] Poema de Natal

A rosa de Hiroshima

Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente.

Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A antirrosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada.

NEOMODERNISMO A Prosa – O Romance de 30 Realismo e Regionalismo

Escultura de Mestre Vitalino. Fonte: http://pensaeai.blogspot.com.br/2013/11/mestre-vitalino-arte-feitade-barro.html

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[Literatura II] Chama-se de Romance de 30, Neorrealismo ou Neomodernismo (2ª fase do Modernismo) a produção ficcional brasileira de inspiração realista produzida a partir de 1928, ano de publicação de A bagaceira, de José Américo de Almeida, que inaugura o referido ciclo. Em função do predomínio da temática rural, generalizou-se também o conceito de romance regionalista para indicar os relatos da época, apesar de alguns romances urbanos fazerem parte do mesmo período. As características comuns aos romances de 30 são a verossimilhança, o retrato direto da realidade em seus elementos históricos e sociais, a linearidade narrativa, a tipificação social (indivíduos que representam classes sociais) e a construção ficcional de um mundo que deve dar a ideia de abrangência e totalidade. Características muito semelhantes as do Realismo machadiano, com o acréscimo do regionalismo e das conquistas modernistas de introspecção e liberdade linguística. A década foi marcada também por um impressionante florescimento de estudos sobre a sociedade brasileira, com destaque especial para Casagrande e senzala (1933), de Gilberto Freyre. Quanto à temática, os romancistas de então enfatizam as questões sociais e ideológicas. É uma época de efervescência política no país e no mundo: no Brasil Getúlio Vargas assume depois de uma Revolução e inauguraria o FONTE: www.culturagenial.com/quadro Estado Novo, enquanto o mundo vive o período entre guerras e assiste a -retirantes-de-candido-portinari ascensão do socialismo na União Soviética. O escritor, ao invés de pegar em armas, usa a ficção, a descrição e o romance como forma de denunciar as desigualdades e injustiças.

Autor: Graciliano Ramos Vida: Graciliano Ramos é considerado um dos maiores escritores brasileiros do século XX e proeminente representante do Romance de 30.

Fonte: https://pt.wikipedia.org /wiki/Graciliano_Ramos

Primogênito de 16 filhos do casal Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ramos, viveu os primeiros anos em diversas cidades do Nordeste brasileiro. Terminando o segundo grau em Maceió, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou um tempo trabalhando como jornalista. Volta para o Nordeste em setembro de 1915, fixando-se junto ao pai, que era comerciante em Palmeira dos Índios, Alagoas. Neste mesmo ano casa-se com Maria Augusta de Barros.

Entre 1930 e 1936 viveu em Maceió, trabalhando como diretor da Imprensa Oficial e diretor da Instrução Pública do estado. Em 1934 havia publicado São Bernardo, e quando se preparava para publicar o próximo livro, foi preso em decorrência do pânico insuflado por Getúlio Vargas após o Levante comunista de 1935. Com ajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rego, consegue publicar Angústia (1936), talvez sua melhor obra. É libertado em janeiro de 1937. As experiências da cadeia, entretanto, ficariam gravadas em uma obra publicada postumamente, Memórias do Cárcere (1953), relato franco dos desmandos e incoerências da ditadura a que estava submetido o Brasil. Em 1938 publicou Vidas Secas. Em seguida estabeleceu-se no Rio de Janeiro, como inspetor federal de ensino. Em 1945 ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB), de orientação soviética e sob o comando de Luís Carlos Prestes; nos anos seguintes, realizaria algumas viagens a países europeus, retratadas no livro Viagem (1954). Ainda em 1945, publicou Infância, relato autobiográfico. Adoeceu gravemente em 1952. No começo de 1953 foi internado, mas acabaria falecendo em 20 de março de 1953, aos 60 anos, vítima de câncer do pulmão. O estilo formal de escrita e a caracterização do eu em constante conflito (até mesmo violento) com o mundo, a opressão e a dor seriam marcas de sua literatura.

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[Literatura II] Vidas Secas Publicado em 1938, Vidas Secas, é o mais importante romance regionalista da segunda fase do nosso modernismo. Escrito em terceira pessoa, com várias passagens em discurso indireto livre, a narrativa começa com a família - Fabiano, Sinhá Vitória e os dois filhos - acompanhada do papagaio e da cachorra Baleia, fugindo da seca, a caminho do Sul. Pulando de uma fazenda a outra, trabalhando sempre em caráter provisório, Fabiano e a família não se fixam em lugar algum. Assim como começa, o romance termina com uma fuga, mas desta vez porque Fabiano se julgava roubado pelo patrão. CARACTERÍSTICAS a) Focaliza o drama social do nordeste (Vidas Secas); b) Análise psicológica e social c) Relações homem x meio natural e homem x meio social; d) Romance de caráter autobiográfico (Infância); e) Crítica à ditadura de Vargas (Memórias do Cárcere) f) Linguagem sintética e textos enxutos;

Leitura Complementar: A Linguagem Constrói O Olhar Realista O cuidado com as palavras é um dos traços mais importantes da prosa de Graciliano Ramos. A economia absoluta no uso de adjetivos e advérbios, a escolha cuidadosa dos substantivos que melhor contam uma realidade, todos os aspectos da construção de seus romances colaboram para a criação do "realismo bruto" que define o olhar neorrealista desse autor. Observe, por exemplo, como o narrador de São Bernardo, Paulo Honório, fala sobre os funcionários que Ihe serviam. Bichos. As criaturas que me serviram durante anos eram bichos. Havia bichos domésticos, como o Padilha, bichos do mato, como Casimiro Lopes, e muitos bichos para o serviço do campo, bois mansos. Os currais que se escoram uns aos outros, lá embaixo, tinham lâmpadas elétricas. E os bezerrinhos mais taludos soletravam a cartilha e aprendiam de cor os mandamentos da lei de Deus. Toda a apresentação dos trabalhadores e feita a partir do campo semântico criado pelo substantivo bichos, denominação metafórica escolhida pelo narrador para caracterizá-Ios. O adjetivo “domésticos” e a locução adjetiva “do mato” estabelecem uma diferença no grau de civilidade de alguns deles. Padilha, herdeiro falido da fazenda São Bernardo, é um bicho “domestico”, por ser um homem educado. Casimiro Lopes, capanga de Paulo Honório, não tem educação nem refinamento, par isso e considerado um bicho do mato. Os demais funcionários não chegam sequer a ser identificados. A metáfora escolhida para resumir sua condição ajuda a compreender como as questões sociais aparecem nos romances de Graciliano Ramos: são “bois mansos”. O narrador faz, nesse momento, uma particularização do campo semântico inicial: os “bichos” (funcionários de modo geral) passam a “bois” (somente os que trabalham nos campos). Desse ponto em diante, todas as informações dadas a seu respeito estarão contidas no novo campo semântico criado. Assim, suas casas são currais e seus filhos, bezerrinhos. Por meio da linguagem, Graciliano constrói seus protagonistas: homens atormentados, cheios de conflito, solitários, destruídos pela vida, como Paulo. (Literatura Brasileira – Tempos, leitores e leituras, de Maria Luiza M. Abaurre e Marcela Pontara).

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[Literatura II]

Autor: Erico Veríssimo Vida: Filho de Sebastião Veríssimo da Fonseca e Abegahy Lopes Veríssimo, família abastada que ficou arruinada, não chegou a completar os estudos secundários devido à necessidade de trabalhar. Mudou-se de Cruz Alta para Porto Alegre em 1930 disposto a viver de seus escritos, onde passou a conviver com escritores já renomados, como Mário Quintana, Augusto Meyer, Guilhermino César e outros. No ano seguinte foi contratado para ocupar o cargo de secretário de redação da Revista do Globo, da qual se tornaria editor a partir de 1933. Assumiu, também, todo o projeto editorial da Editora Globo, projetando-a nacionalmente. Publicou a sua primeira obra, Fantoches, em 1932, uma sequência de contos, em sua maioria na forma de pequenas peças de teatro. No ano seguinte obteve o seu primeiro sucesso, com o romance “Clarissa”. Casou-se e teve dois filhos. Um deles é, o também escritor, Luis Fernando Veríssimo. Em 1943 mudou-se com a família para os Estados Unidos, onde ministrou aulas de Literatura Brasileira na Universidade de Berkeley, até 1945. Entre 1953 e 1956 foi diretor do Departamento de Assuntos Culturais da Organização dos Estados Americanos, em Washington. Dessas viagens e da permanência nos Estados Unidos resultaram dois livros: Gato preto em campo de neve (1941), e A volta do gato preto (1947). É considerada como a sua obra-prima a trilogia histórica O Tempo e o Vento (1949-1961), da qual saíram alguns personagens primordiais e bastante populares entre seus leitores, como Ana Terra e o Capitão Rodrigo. Em 1965 publicou o romance O Senhor Embaixador no qual refletia sobre os descaminhos da América Latina. No romance Incidente em Antares (1971), traça um apanhado da história do Brasil desde os primeiros tempos e envereda pelo fantástico, com uma rebelião de cadáveres durante uma greve de coveiros na fictícia cidade de Antares. O enfarte que o vitimou em 1975 impediu-o de completar o segundo volume de sua autobiografia, Solo de Clarineta, programada para ser uma trilogia, além de um romance que se chamaria A hora do sétimo anjo.

CARACTERÍSTICAS PRIMEIRA FASE: a) Retrata a vida urbana de Porto Alegre; b) A crise da sociedade moderna; c) Os dramas da classe média;

SEGUNDA FASE: a) b) c) d)

Representante gaúcho no regionalismo modernista; Passado histórico do RS; A disputa de terra e do poder; O realismo fantástico (Incidente em Antares).

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[Literatura II]

Leitura Complementar:

“O Tempo e Vento” Visto Por Antônio Candido Em O Continente é a primeira uma obra que compõe a trilogia O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, e foi publicado em 1949. Transita entre o lírico e o épico; entre o intimista e o histórico, e abrange 150 anos da história (1745–1895), traçando a origem da sociedade rio-grandense, marcada pelo controle de uma elite latifundiária e pela violência das guerras fronteiriças e das revoluções fraticidas. Nesse período de 150 anos ocorrem grandes acontecimentos históricos que são internalizados no texto literário, tais como o Tratado de Madri, a Guerra da Cisplatina, a Independência do Brasil, a Revolução Farroupilha, a Guerra do Paraguai, a Abolição da Escravatura, a proclamação da República e a Revolução Federalista de 1893. A palavra "continente" significa no romance, em primeiro lugar, o território conquistado a ferro e fogo durante os séculos XVIII e XIX. A conquista dá-se simultaneamente por ação privada e por ação estatal. A primeira, iniciada nos Campos de Cima da Serra, e comandada por aventureiros sorocabanos e lagunenses, estende-se rumo ao oeste e ao sul da região, em busca de planícies férteis para o pastoreio. A segunda é mais litorânea, através da imigração açoriana e do estabelecimento de fortificações militares pelo Estado português. Ambas confluem e se unificam, no entanto, em um grande objetivo comum: a tomada da "terra de ninguém" e do gado alçado - vacum e equino - que vagava às centenas de milhares pelos campos da Serra e da Campanha. Em segundo lugar, o "continente" significa, no romance, o tempo histórico da conquista e da consolidação do poder dos estancieiros na região, associado à solidificação do núcleo familiar, originando os primeiros clãs dominantes. Aqui, "continente" significa aglutinação, coesão, esforço familiar num sentido comum. Bem diferente de "arquipélago", que traz a ideia de desintegração, fim do clã, estilhaçamento, isolamento dos indivíduos. A obra está inserida no chamado Romance de 30, obras de cunha neorrealista que aliam a descrição denunciante do Realismo às investigações psicológicas das personagens e liberdades linguísticas do narrador, frutos do Modernismo. Assim como O continente, muitas dessas obras são de cunho regionalista. A visão global compõe-se de sucessivas visões parciais, ou limitadas no tempo e no espaço, de forma que a obra verdadeiramente é uma aglutinação de novelas, entremeadas de cantos de certo sabor poético, impregnados de elementos folclóricos e referências populares. A sua unidade resulta, primeiramente, do próprio desenrolar histórico dos fatos e situações, tendo a região de Santa Fé como ponto de convergência e irradiação. Esboçam-se, ao mesmo tempo, as origens e a formação da cidade do mesmo nome. Os fatos e situações, por sua vez, visam de maneira particular ao processo de enraizamento, de afirmação do poderio econômico e de mandonismo local, de determinadas famílias: os Amaral e os Terra e Cambará. No caso, o ponto de partida do desenvolvimento da intriga, paralelamente com as visões retrospectivas, é a luta entre federalistas e republicanos, de 1893. De um lado, estão os Amaral, de outro, os Terra e Cambará, cujas rivalidades de famílias encontram evasão nas lutas políticas. (...) Fonte: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_continente RASCUNHO

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[Literatura II]

Autor: Jorge Amado Vida: Filho de João Amado de Faria e de D. Eulália Leal, Jorge Amado de Faria nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na fazenda Auricídia, em Ferradas, distrito de Itabuna - Bahia. O casal teve mais três filhos: Jofre (1915), Joelson (1920) e James (1922). Com apenas dez meses, vê seu pai ser ferido numa tocaia dentro de sua própria fazenda. No ano seguinte uma epidemia de varíola obriga a família a deixar a fazenda e se estabelecer em Ilhéus. Em 1917 a família muda-se para a Fonte: www.estantevirtual.com.br/livros/jorgeFazenda Taranga, em Itajuípe, onde seu pai volta à lida na lavoura de cacau. amado Talvez por isso Jorge Amado foi o autor que traduziu de forma mais perfeita a Bahia, a terra do cacau, as mulheres brejeiras, a brasilidade, a cultura de um povo rico em personagens. As principais características encontradas em suas obras são: a literatura ideológica de participação social, os; romances políticos e revolucionários e com humor extraído do cotidiano, o regionalismo baiano, a preocupação com os tipos marginalizados e a linguagem retrata o falar do povo. Em 1943 é publicado “Terras do sem fim”, seu primeiro livro a ser vendido livremente após seis anos de censura. O romance, que faz parte do “Ciclo do Cacau”, trata da existência sofrida dos que vencem a mata, plantam, colhem e tratam os frutos além de retratar os imponentes coronéis do cacau, sua força e violência, na época da aventureira conquista da terra em São Jorge dos Ilhéus. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em fitas gravadas para cegos. Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001. Foi cremado, e suas cinzas foram enterradas no jardim de sua residência, na Rua Alagoinhas, em 10 de agosto, dia em que completaria 89 anos.

CARACTERÍSTICAS PRIMEIRA FASE: a) Literatura ideológica de participação social; b) Romances políticos, revolucionários c) Fala da exploração dos trabalhadores e suas lutas políticas; d) A região cacaueira do sul da Bahia

Cacau de Cândido Portinari. Fonte: http://warburg.chaaunicamp.com.br/obras/view/11473

SEGUNDA FASE: a) b) c) d) e)

Regionalismo baiano; O humor extraído do cotidiano; Uma narrativa que trata dos costumes da Bahia; Preocupação com os tipos marginalizados; A linguagem retrata o falar do povo.

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[Literatura II] “As velhas beatas que rezavam a ‘São Jorge’ na igreja de Ilhéus costumavam dizer que o coronel Horácio, de Ferradas, tinha debaixo da sua cama, o diabo preso numa garrafa. Como o prendera era uma história longa, que envolvia a venda da alma do coronel num dia de temporal. E o diabo, feito servo obediente, atendia a todos os desejos de Horácio, aumentava-lhe a fortuna, ajudava-o contra os seus amigos. Mas um dia - e as velhas persignavam ao dizê-lo - Horácio morreria sem confissão e n diabo saindo da garrafa levaria a sua alma para as profundas dos infernos. Dessa história o coronel Horácio sabia e ria dela, uma daquelas suas risadas curtas e secas, que amedrontavam mais que mesmo os seus gritos nas manhãs de raiva.” Terras do sem fim, de Jorge Amado.

Leitura Complementar: Retratos da Bahia de Jorge Amado De todas as fases por que passou sua obra, algumas merecem destaque, como a que retrata a vida na região cacaueira de Ilhéus, caracterizando a opressão em que viviam os trabalhadores rurais em contraste com a situação dos grandes coronéis da região, enriquecidos pelo cultivo do cacau o "ouro negro". E a essa fase que pertence o romance que muitos críticos consideram sua obra-prima: Terras do sem-fim (1943). Outra obra merecedora de atenção é Capitães da Areia (1937), que retrata a vida de um grupo de meninos de rua. Acompanhando o amor entre Dora e Pedro Bala, o líder do grupo, o narrador leva o leitor pelos becos e vielas de Salvador, pelos terreiros de candomblé, localizando no cenário urbano o que já havia registrado na região cacaueira. Além disso, a sensualidade brasileira aparece em todas as obras de Jorge Amado. Povoadas de morenas como Gabriela, Tieta e Tereza Batista, suas narrativas falam de um amor mundano, altamente erotizado. A partir da publicação de Gabriela, cravo e canela (1958), a ficção de Jorge Amado afasta-se das questões sociais para concentrar-se na construção de tipos humanos, explorando cada vez mais o tema do amor. Essa nova tendência de suas obras garantiu ao autor a continuidade de seu imenso sucesso popular. (Literatura – tempos, leitores e leituras. Maria Luiza M. Abaurre e Marcela Pontara)

2.3. Pós-Modernismo 3ª FASE MODERNISTA CONTEXTO O ano de 1945 é marcado pelo fim da 2ª Guerra Mundial. No Brasil, Getúlio Vargas é deposto e volta a se reeleger em 50. Em 1955 é eleito Juscelino Kubitschek, devido as suas mudanças na economia brasileira, o processo inflacionário se agravaria cada vez mais. Após seu governo e a renúncia de Jânio Quadros (61), o país ficaria mais de vinte anos sem escolher o presidente (ditadura militar). Nos anos 80, houve o processo de redemocratização - Tancredo Neves, Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso. Podemos dizer que em todos esses anos o país passou por várias crises: repressão, inflação, salários baixos, planos econômicos e greves.

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[Literatura II] CARACTERÍSTICAS Alguns historiadores de nossa literatura preferem chamar esta terceira fase de Pós-Modernismo, reservando o nome Modernismo apenas para as duas primeiras fases. A partir desse momento surgem várias tendências tanto na prosa quando na poesia, que podemos esquematizar da seguinte maneira:

A POESIA – A GERAÇÃO DE 45 Muitos poetas de fases anteriores ainda estavam em plena produção literária quando um grupo novo, que se autodenominou "geração de 45", fez sua estreia. Morte e Vida Severina Esse grupo caracterizou-se pela rejeição dos valores Cena 1 - Monólogo no qual Severino se modernistas da primeira fase - como o verso livre, a apresenta e se iguala a tantos outros irreverência, o poema-piada. Para os poetas desse grupo, Severinos: a poesia tinha se vulgarizado e deveria retomar o rigor formal, expressar-se num vocabulário mais erudito, abrir- O meu nome é Severino, não se para uma temática mais universal e seguir regras de tenho outro de pia. metrificação mais rigorosas. O grande nome que surge Como há muitos Severinos, com essa geração é o de João Cabral de Melo Neto. A Que é santo de romaria, partir de 1960 novas tendências vão configurar no cenário deram então de me chamar da poesia brasileira. Severino de Maria; Como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, Vida: João Cabral de Melo fiquei sendo o da Maria Neto (9 de janeiro de 1920, do finado Zacarias. Recife — 9 de outubro de 1999, Rio de Janeiro) foi Mas isso ainda diz pouco: um poeta e diplomata há muitos na freguesia. brasileiro. Pertencia a uma por causa de um coronel das mais tradicionais que se chamou Zacarias famílias do Pernambuco, e que foi o mais antigo sendo irmão do historiador senhor desta sesmaria. Evaldo Cabral de Mello e Como então dizer quem fala primo do poeta Manuel ora a Vossas Senhorias’? Fonte: www.escritas.org/pt/ Bandeira e do sociólogo joao-cabral-de-melo-neto Vejamos; é o Severino Gilberto Freyre. da Maria do Zacarias. Conhecida pelo rigor estético de seus versos, avessos lá da serra da Costela, a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, a limites da Paraíba. obra poética de João Cabral foi justamente reconhecida por [...] laureações como o Prêmio Camões (mais importante E se somos Severinos premiação da literatura em língua portuguesa) em 1990, o iguais em tudo na vida, Neustadt International Prize for Literature em 1992 e o morremos de morte igual, Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana em 1994. mesma morte Severina: Além de poeta, viajou pelo mundo inteiro em seu ofício como que é a morte de que se morre diplomata. Dos inúmeros países que conheceu, nutriu de velhice antes dos trinta, especial afeição pela Espanha, em especial a região de de emboscada antes dos vinte, Sevilha, fonte de inspiração para muitos de seus versos, de fome um pouco por dia muitas vezes comparada a Recife. A primeira cidade onde serviu foi Barcelona, na década de 1940, quando conheceu (de fraqueza e de doença grandes amigos como o pintor Juan Miró e o poeta Joan é que a morte severina Brossa. Autor de Morte e Vida Severina (poema musicado por ataca em qualquer idade, Chico Buarque), João Cabral foi também membro da e até gente não nascida). Academia Brasileira de Letras. [...]

Autor: João Cabral de Melo Neto

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[Literatura II] CARACTERÍSTICAS a) objetividade na constatação da realidade e do cotidiano; b) poesia pensada, racional; c) utiliza uma linguagem enxuta, concisa, parecida com o falar do sertanejo; d) preocupação com a estética, com a arquitetura da poesia. e) poesia metalinguística; f) a educação pela pedra – criação poética – fruto do trabalho e do esforço – prática.

Fonte: http://virusdaarte.net/portinari-enterro-na-rede.

Educação pela pedra Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, frequentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de poética, sua carnadura concreta; a de economia, seu adensar-se compacta: lições da pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la. Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse, não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra; lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma.

Tecendo a Manhã 1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

A PROSA INTIMISTA A Prosa Intimista segue a linha da sondagem psicológica inaugurada na segunda fase modernista. Esse tipo de narrativa apresenta personagens mergulhados em seu mundo interior. Destacam-se Clarice Lispector (consolida esse tipo de narrativa), Autran Dourado (Ópera dos Mortos), Lygia Fagundes Telles, Lya Luft, Nélida Piñon (Tebas do meu coração).

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[Literatura II]

Autora: Clarice Lispector Vida: Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família em direção à América. Publicado em 1960, Laços de Família é um dos pontos máximos da prosa de Clarice Lispector, talvez o supra-sumo de seus contos. As narrativas dessa obra usam constantemente o fluxo de consciência, por meio do qual conhecemos o universo mais íntimo das personagens. É um expediente que autoriza sua literatura a ser chamada ora de psicológica, ora de introspectiva. Suas personagens são sempre flagradas no momento em que, a partir do cotidiano banal, alcançam o lado misterioso, inusitado, diferente da existência humana, mesmo que não consigam entendê-lo. No fim, acabamos nos deparando com histórias de exteriorização do oculto, em que o protagonista termina buscando, nos elementos exteriores, o seu interior. Ou seja, a busca da identidade passa pela busca do outro, seja humano, animal ou objeto. Clarice morre, no Rio, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes do seu 57° aniversário vitimada por uma súbita obstrução intestinal, de origem desconhecida que, depois, veio-se a saber, ter sido motivada por um adenocarcinoma de ovário irreversível. CARACTERÍSTICAS a) o intimismo; b) o questionamento do ser; c) o romance e o conto introspectivo, ambíguo; d) afasta-se da sociedade em crise e retrata o indivíduo, sua consciência e inconsciência; e) a linguagem valoriza a palavra, explora os significados;

Leitura Complementar:

A Hora Da Estrela Publicado em 1977, pouco antes de a autora morrer, A hora da estrela é a única de suas obras que enfatiza aspectos da realidade objetiva e manifesta uma intenção explicitamente social, embora não seja esta a dimensão mais valiosa do texto. O relato é construído por duas camadas que se interligam de maneira contínua: a) A camada do narrador: Rodrigo S.M., o primeiro narrador masculino na obra de Clarice, atormenta-se ao escrever uma novela sobre uma jovem nordestina. Ele questiona o tempo inteiro o seu próprio modo de narrar, o seu estilo, a sua capacidade de compreender Macabéa, moça de extração sócio-cultural inferior. Simultaneamente, tenta desvelar o jogo complicado que o seu texto empreende entre a ficção e a realidade. Em última instância, o que ele procura é desvendar o significado da literatura e da existência. b) A camada de Macabéa: é o registro da medíocre trajetória no Rio de Janeiro de uma alagoana de 19 anos, moradora de um quarto de pensão que divide com quatro balconistas das Lojas Americanas. Macabéa é moça raquítica, feia, solitária e morrinhenta, além de ser uma datilógrafa de segunda categoria. Alienada, sonsa, adora ouvir a Rádio Relógio, coleciona pequenos anúncios num álbum e gostaria de ser artista de cinema. Trata-se de uma jovem sem qualquer tipo de vida interior, sem futuro e com um passado inexpressivo, quase cretina.

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[Literatura II] No transcurso da história, Macabéa arruma um namorado, também nordestino, o metalúrgico Olímpico de Jesus, só que este, apesar de inculto e grosseiro, sonha em integrar-se ao Sul, ascender socialmente e até tornar-se deputado. Percebendo os limites gerais de Macabéa, (“Ela era incompetente para a vida”, diz o narrador), Olímpico troca-a por Glória, estenógrafa, loira oxigenada e amiga de sua ex-namorada. Aconselhado pela própria Glória, Macabéa procura uma cartomante, Madame Carlota, antiga prostituta e cafetina. Esta, sinceramente horrorizada com a vida que a moça levava, resolve animá-la com a perspectiva de um futuro sorridente, profetizando que a nordestina encontraria um estrangeiro alourado de “olhos azuis ou verdes ou castanhos ou pretos”, muito rico e com quem se casaria. Macabéa que “nunca tinha tido coragem de ter esperança”, sai feliz da consulta, pois “a cartomante lhe decretara sentença de vida”. Porém, ao atravessar a rua distraidamente é atropelada por uma Mercedes amarela. Cai no chão, agoniza e diz sua última frase, em aparência enigmática: “Quanto ao futuro”. Várias pessoas observam a moribunda. Alguém pousa junto ao corpo uma vela acesa. Desta maneira, Macabéa alcança, com a própria morte, a sua hora de estrela. (Curso de Literatura Brasileira de Sérgius Gonzaga)

A PROSA REGIONALISTA Ora mantendo-se na linha do nosso regionalismo da segunda geração, ora incorporando inovações desencadeadas pela obra de Guimarães Rosa, destacam-se inúmeros escritores que pesquisam a realidade do espaço e do homem rural brasileiro. Outros autores: Mário Palmério (O Chapadão do Bugre, Vila dos Confins); Bernardo Éllis (O Tronco); Ariano Suassuna (A pedra do reino); José Cândido de Carvalho (O Coronel e o Lobisomem); Adonias Filho (Corpo Vivo).

Autor: Guimarães Rosa Vida: João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo (MG) a 27 de junho de 1908 e era o primeiro dos seis filhos de D. Francisca (Chiquitinha) Guimarães Rosa e de Florduardo Pinto Rosa, mais conhecido por “seu Fulô” comerciante, juiz-de-paz, caçador de onças e contador de estórias. Obra publicada em 1962, reúne 21 contos. Trata-se do primeiro conjunto de histórias compactas a seguir a linha do conto tradicional, daí o “Primeiras” do título. O escritos acrescenta, logo após, o termo estória, tomando-o emprestado do inglês, em oposição ao termo História, designando algo mais próximo da invenção, ficção. No volume, aborda as diferentes faces do gênero: a psicológica, a fantástica, a autobiográfica, a anedótica, a satírica, vazadas em diferentes tons: o cômico, o trágico, Fonte: www.pensador.com/ o patético, o lírico, o sarcástico, o erudito, o popular. As estórias captam episódios autor/guimaraes_rosa/ aparentemente banais. As ocorrências farejadas através dos protagonistas transformam-se de uma espécie de milagre que surge do nada, do que não se vê, como diz o próprio Guimarães Rosa; “Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”. Este milagre pode ser então, responsável pela poesia extraída dos fatos mais corriqueiros, pela beleza de pensar no cotidiano e não apenas vivê-lo, pelo amor que se pode ter pelas coisas da terra, pelo homem simples, pelo mistério da vida. Dos “causos” narrados brotam encanto e magia frutos da sensibilidade de um poeta deslumbrado com a paisagem natural e/ou recriada de Minas Gerais. CARACTERÍSTICAS a) nova perspectiva do regionalismo; b) revalorização da linguagem (neologismos), a fala do sertanejo, suas expressões, suas particularidades; c) o misticismo e a transcendência do sertão; d) reinvenção do sertão “o sertão é o mundo”; e) temática universalizante. f) a simbologia (o conto descrito através de desenhos);

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[Literatura II] 1. Conceito de sertão: o sertão é o mundo O sertão criado por Guimarães Rosa extrapola limites geográficos para simbolizar o próprio universo onde se movem personagens representativas não mais de conflitos regionais, mas de conflitos eternos do homem. Em Grande sertão veredas aparecem muitas definições de sertão. Vejamos algumas: • "O sertão está em toda parte". • "O senhor sabe: sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!" • "Sabe o senhor: o sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar." 2. Ampliação do conceito de sertanejo O sertanejo não é simplesmente o homem que vive em determinada região, condicionado ao meio físico e social; é o homem atemporal, universal, enfrentando dúvidas de ordem filosófica, procurando a razão da vida. 3. Linguagem: transformação radical A obra de Guimarães Rosa expressa a mais radical transformação a que um escritor submeteu a linguagem literária no Brasil. São características dessa linguagem: a) Criação de Palavras Compostas totalmente inusitadas: cabismedita, sussuruído, descrevivendo-as beladoce, enxadachim, cabisbaixara-se, personagente, doutoridade, excelentriste... b) Uso de prefixos e sufixos em combinações originais: pobrepérrimo, vice-vi, repiscados os olhos, aleluair, justiçamente, bis-viu, indesfecho, infinícula... c) Uso de ditados populares, geralmente alterados, uso de aforismos: "O homem dera aí o ar de sua presença.", "Cão que ladra não é mudo.", "Era um espreguiçar-se no adormecer para poupar tempo no acordar", "Tintim de cor por tintim salteado", "A gente cresce sempre, sem saber para onde." ... d) Ausência dos limites entre prosa e poesia: "Eles olhavam um para o outro como os passarinhos ouvidos de repente a cantar, as árvores pé-antepé, as nuvens desconcentradas: como do assoprado das cinzas a explendeção das brasas. Eles se olhavam para não-distância, estiadamente, sem saberes, nem caso. Mas a moá estava devagar. Mas o moço estava ansioso..." e) Construções sintáticas surpreendentes: "Era um rio e seu além. Estava, já do outro lado., "E quase, quasinho... quasezinho, quase...", "Só se fosse para ter a minhaproteção contra os isos e vndiços.", "Sou de nem palavras"... "O Sertão é do tamanho do Mundo". - Viver é perigoso." RASCUNHO

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[Literatura II]

Leitura Complementar:

Grande sertão: veredas As travessias de Riobaldo Riobaldo realiza três travessias básicas em Grande sertão: veredas: A primeira é a travessia exterior, como jagunço em um sertão real, onde ele conhece a natureza, os bichos e os limites extremos da condição humana cristalizada na selvageria e nos gestos épicos dos companheiros de jagunçagem. A segunda é a travessia interior, que, nascida do fato de que “o sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente”, leva Riobaldo ao auto-conhecimento. A profunda percepção de si mesmo e a própria formação de sua subjetividade surgem do contato com dois outros indivíduos que sintetizam as noções difusas de bem e mal. Um abre para Riobaldo as comportas íntimas do medo, do ódio e da ambição: Hermógenes. O outro, mulher camuflada de homem, desencadeia a explosão do amor: Diadorim. A terceira travessia é a passagem de um tipo de consciência mítica-sacral (Riobaldo-jagunço) para outra de estrutura lógico-racional (Riobaldo-fazendeiro). O primeiro tipo de consciência – comum às sociedades indígenas e mestiças dos sertões brasileiros e latino-americanos – explica o mundo pelo mito e pelo sagrado. Por isso, certos fenômenos são atribuídos a poderes superiores à realidade objetiva: diabos, lobisomens, mortos, etc. O segundo tipo – próprio da civilização racionalista moderna – vê o mundo de um ponto de vista científico (José H. Dacanal). À medida que a racionalidade das sociedades modernas avança, o pensamento mítico-sacral, ou mágico, tende a se dissolver. Assim, em Grande sertão: veredas, o Diabo é um protagonista fundamental, no plano do passado, dentro do universo sacral onde se movem os jagunços. Já no plano do presente, quando conta sua vida ao doutor, Riobaldo tende a recusar a visão da juventude, negando a existência do Diabo. (Curso de Literatura Brasileira de Sérgius Gonzaga) RASCUNHO

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[Literatura II]

UNIDADE 3 LITERATURA CONTEMPORÂNEA

3.1. A Poesia de Vanguarda O CONCRETISMO O avanço da tecnologia, somado à aceitação cada vez mais ampla da linguagem dos meios de comunicação de massa, levou à busca de novas formas de expressão que fossem condizentes com uma sociedade em que tudo acontecia de maneira rápida, objetiva e era instantaneamente consumido para ceder lugar ao novo, o Concretismo é a primeira manifestação dessa realidade. O movimento concretista despontou em 1952, com o Fonte: www.antoniomiranda.com.br/ensaios/concretismo_lontra.html lançamento da revista Noigandres (palavra de origem provençal que significa “antídoto do tédio”). Mas o lançamento oficial do movimento deu-se em 1956, com a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada em São Paulo. Os principais nomes do grupo são Décio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos - iniciadores do movimento. Destacam-se ainda Pedro Xisto, Wlademir Dias Pino e Ferreira Gullar (que abandonou o grupo em 1957). Características: a) b) c) d) e)

poesia verbo-voco-visual; abolição do verso; aproveitamento do espaço; exploração do significante da palavra; possibilidade de leituras múltiplas. Augusto de Campos

Décio Pignatari Décio Pignatari

3.2. Poesia Contemporânea [44]


[Literatura II] O nome é vago, pois houve poesia de caráter social em vários momentos de nossa literatura. Neste caso, foi a designação escolhida para a proposta de um grupo de poetas que reagiram à poesia de sua época (sobretudo a concretista), que consideravam excessivamente apegada ao formalismo e, extremamente alienada. Trata-se de uma poesia de expressão política. Buscando maior comunicação com o leitor, a poesia social propõe o retorno ao verso, o emprego de uma linguagem mais simples e a escolha de temas relacionados com a realidade social do país. Além de Ferreira Gullar, dissidente do grupo concretista e que já havia proposto o neoconcretismo destacam-se Affonso Romano de Sant'Anna, Afonso Ávila, Thiago de Mello.

Poema sujo

turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro escuro menos menos menos que escuro menos que mole e duro menos [que fosso e muro: menos que furo Vida: Ferreira Gullar (José escuro Ribamar Ferreira), nasceu no mais que escuro: dia 10 de setembro de 1930, claro na cidade de São Luiz, capital como água? como pluma? claro mais do Maranhão, quarto filho [que claro claro: coisa alguma dos onze que teriam seus e tudo pais, Newton Ferreira e Alzira (ou quase) Ribeiro Goulart. Inicia seus um bicho que o universo fabrica estudos no Jardim Decroli, [e vem sonhando desde as entranhas em 1937, onde permanece azul por dois anos. Depois, estuda era o gato com professoras contratadas pela família e em um azul colégio particular, do qual acaba fugindo. Em 1941, era o galo matriculou-se no Colégio São Luís de Gonzaga, azul naquela cidade. o cavalo Aprovado em segundo lugar no exame de admissão do azul Ateneu Teixeira Mendes, em 1942, não chega a teu cu concluir o ano letivo nesse colégio. Ingressa na Escola tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia Técnica de São Luís, em 1943. Apaixonado por uma sorrir entre as folhas de banana entre os cheiros vizinha, Terezinha, deixa os amigos e passa a se de flor e bosta de porco aberta como uma boca dedicar à leitura de livros retirados da Biblioteca do corpo (não como a tua boca de palavras) Municipal e a escrever poemas. como uma entrada para CARACTERÍSTICAS eu não sabia tu A estrela Um instante a) dissidente do grupo não sabias meu amigo, concretista; fazer Gatinho, girar a vida Aqui me tenho fazes ideia do seja uma estrela? b) poesia de denúncia social montão deque estrelas e oceano Como não me conheço com seu Dizem que todo este nosso imenso planeta e política; entrando-nos em ti (...) nem me quis coberto de oceanos e montanhas c) poesia participante e é menos que um grão de poeira engajada; sem começo se comparado a uma delas d) poesia bem humorada; nem fim Estrelas são explosões nucleares em cadeia numa sucessão que dura bilhões de anos aqui me tenho O mesmo que a eternidade Não Há Vagas sem mim Não obstante, Gatinho, confesso nada lembro que pouco me importa O preço do feijão nem sei quanto dura uma estrela não cabe no poema. Importa-me quanto duras tu, à luz presente querido amigo, [45] sou apenas um bicho e esses teus olhos azul-safira transparente com que me fitas

Autor: Ferreira Gullar


[Literatura II] O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos. Como não cabe no poema o operário que esmerila o se dia de aço e carvão nas oficinas escuras - porque o poema, senhores, está fechado "não há vagas" Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço O poema, senhores, não fedem nem cheira.

A INFLUÊNCIA DOS CONCRETOS Os autores concretistas desintegraram o lirismo pretensioso e retórico da geração anterior e transformaram seu movimento, por alguns anos, em um divisor de águas entre a velha poesia e a nova vanguarda. Apesar da escassa receptividade pública de suas obras, as mesmas tiveram inegável importância na problematização estética da época. Cultos e sofisticados, emitiram um sem número de manifestos e de interpretações da própria poesia. A autopublicidade e autocitação contínuas do grupo (combinadas com a incapacidade de aceitar qualquer outro tipo de poesia) renderam-lhe admiradores e inimigos, a tal ponto que, nos anos de 1960, nenhum poeta poderia estrear sem fazer a opção “concreto x não concreto”. No entanto, quase todos os primeiros adeptos do movimento acabaram se afastando do núcleo fundador. Entre eles, Ferreira Gullar, que não apenas renegou o concretismo, como passou a combatê-lo, vendo na poética inovadora da década de 1950 apenas um vanguardismo vazio e historicamente datado: “Trata-se de uma poesia artificiosa, imposta pela teoria. Uma novidade que logo passou.” É preciso reconhecer, contudo, que o objetivo de criar uma “poesia de exportação”, tão presente nos fundadores do movimento obteve êxito, pois grupos concretos de maior ou menor relevância se formaram em vários países: Alemanha, Suíça, Portugal, França, etc. Observe-se, por outro lado, que nas artes plásticas nacionais, o concretismo dialogou com criadores muito importantes como Lígia Clark, Hélio Oiticica e outros. Também a música popular brasileira sofreu o impacto do projeto paulista. Os chamados tropicalistas, em especial, se apropriaram de certas características do movimento para compor suas letras mais ousadas. Alguns anos depois, na canção Sampa, Caetano Veloso celebraria os fundadores da vanguarda concretista: Quando eu cheguei por aqui / Eu nada entendi / Da dura poesia concreta de tuas esquinas. (Curso de Literatura Brasileira – Sérgius Gonzaga)

A POESIA MARGINAL (1970) Um estudioso do movimento explica a origem do nome:

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[Literatura II] “Os livros são muitas vezes rodados em mimeógrafos o que deu margem a que se falasse em uma geração de mimeógrafo — às vezes em offset ou processos semelhantes, as tiragens são pequenas, os trabalhos têm frequentemente um acabamento material bastante rústico [...] A venda se dá, geralmente, de mão em mão, sendo realizada muitas vezes pelo próprio autor ou por amigos deste e percorrendo um circuito mais ou menos fixo de bares e / ou restaurantes, portas de cinema e teatro, ou mesmo universidades”. (Carlos A. Messeder) Em resumo: os poetas dessa geração recusavam os métodos tradicionais de produção e distribuição de sua obra. Alguns poetas que surgiram com o grupo “marginal” hoje têm sua obra produzida e distribuída por grandes editoras. É o caso de Chacal, Cacaso e Paulo Leminsky. A linguagem e a temática da poesia marginal são muito diversificadas. Observam-se não só influências do Concretismo e do Poema-Processo como a retomada de algumas características do nosso modernismo da primeira fase. Nota-se ainda o desprezo pelo chamado “bom gosto” da classe dominante. Em todos os casos predomina o coloquialismo e a fusão de poesia e prosa. A ironia é outra constante nessa poesia produzida sob forte pressão política. Ora poesia de expressão subjetiva, pessoal, ora poesia de denúncia, a obra dos “marginais” de 70 obteve maior aceitação do que a poesia dos grupos anteriores. rápido e rasteiro (Chacal)

Jogos Florais (Cacaso)

Vai ter uma festa que eu vou dançar até o sapato pedir pra parar.

I Minha terra tem palmeiras onde canto o tico-tico. Enquanto isso o sabiá vive comendo o meu fubá.

aí eu paro tiro o sapato e danço o resto da vida.

Ficou moderno o Brasil ficou moderno o milagre: a água já não vira vinho, vira direto vinagre.

Sintonia para pressa e presságio (Paulo Leminski) Escrevia no espaço. Hoje, grafo no tempo, na pele, na palma, na pétala, luz do momento. Soo na dúvida que separa o silêncio de quem grita do escândalo que cala, no tempo, distância, praça, que a pausa, asa, leva para ir do percalço ao espasmo.

II Minha terra tem Palmares memória cala-te já. Peço licença poética Belém capital Pará. Bem, meus prezados senhores dado o avançado da hora errata e efeitos do vinho o poeta sai de fininho.

Eis a voz, eis o deus, eis a fala, eis que a luz se acendeu na casa e não cabe mais na sala.

(será mesmo com 2 esses que se escreve paçarinho?)

Autora: Adélia Prado Vida: Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935, filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa.

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[Literatura II] Leva uma vidinha pacata naquela cidade do interior: inicia seus estudos no Grupo Escolar Padre Matias Lobato e mora na rua Ceará. Adélia costuma dizer que o cotidiano é a própria condição da literatura. Morando na pequena Divinópolis, cidade com aproximadamente 200.000 habitantes, estão em sua prosa e em sua poesia temas recorrentes da vida de província, a moça que arruma a cozinha, a missa, um certo cheiro do mato, vizinhos, a gente de lá.

“Meu registro fundamental é um registro do cotidiano. E o meu cotidiano é marcado por um limite interiorano e acentuadamente religioso. É só disso que eu sei falar” “Toda obra, quer o autor queira ou não, traz um registro biográfico desse autor.” AS

CAR ACT ERÍ STIC

Com licença poética

poesia emocional, feminista; reflete a vida cotidiana; apresenta o medo e a tristeza; o amor e o sonho; e) a religiosidade a) b) c) d)

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.

Casamento Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil" "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva. Corridinho O amor quer abraçar e não pode. A multidão em volta, com seus olhos cediços, põe caco de vidro no muro para o amor desistir.

O amor usa o correio, o correio trapaceia, a carta não chega, o amor fica sem saber se é ou não é. O amor pega o cavalo, desembarca do trem, chega na porta cansado de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena, pede água, bebe café, dorme na sua presença, chupa bala de hortelã. Tudo manha, truque, engenho: é descuidar, o amor te pega, te come, te molha todo. Mas água o amor não é.

Autor: Arnaldo Antunes

Vida: Arnaldo Antunes, músico, poeta, compositor e artista visual brasileiro, talvez seja hoje o maior exemplo do dialogismo entre a literatura e a música. Nome forte do rock nacional da década de 1980, foi um dos fundadores e líderes de uma das bandas de maior sucesso de nossa música, os Titãs. Sua jornada poética começou em 1986, quando teve publicado o livro Ou e, que foi composto

[48] Fonte: www.lilianpacce.com.br/emais/arnaldo-antunes-ganhaexposicao-por-30-anos-de-carreira


Literatura II [Literatura II] de poemas que exploram a dimensão visual das palavras. Depois da estreia bem sucedida, muitos outros livros vieram. Em 1992, o artista recebeu o maior prêmio concedido a um autor da literatura brasileira, o Prêmio Jabuti, na categoria Poesia. Depois de algum tempo afastado da mídia, formou juntamente com Marisa Monte e Carlinhos Brown, o trio Tribalistas, e foi um sucesso até 2009, no Brasil e na Europa, chegando a ganharem, em 2003, o prêmio do Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro.

CARACTERÍSTICAS a) os poemas musicados. b) explora diferentes técnicas de diagramação. c) o aproveitamento icônico. d) o jogo de palavras, o lúdico. e) a escrita telegráfica e a objetividade.

Cultura

Os buracos do espelho

O girino é o peixinho do sapo. O silêncio é o começo do papo. O bigode é a antena do gato. O cavalo é o pasto do carrapato.

o buraco do espelho está fechado agora eu tenho que ficar aqui com um olho aberto, outro acordado no lado de lá onde eu caí

O cabrito é o cordeiro da cabra. O pescoço é a barriga da cobra. O leitão é um porquinho mais novo. A galinha é um pouquinho do ovo.

pro lado de cá não tem acesso mesmo que me chamem pelo nome mesmo que admitam meu regresso toda vez que eu vou a porta some

O desejo é o começo do corpo. Engordar é tarefa do porco. A cegonha é a girafa do ganso. O cachorro é um lobo mais manso.

a janela some na parede a palavra de água se dissolve na palavra sede, a boca cede antes de falar, e não se ouve

O escuro é a metade da zebra. As raízes são as veias da seiva. O camelo é um cavalo sem sede. Tartaruga por dentro é parede.

já tentei dormir a noite inteira quatro, cinco, seis da madrugada vou ficar ali nessa cadeira uma orelha alerta, outra ligada

O potrinho é o bezerro da égua. A batalha é o começo da trégua. Papagaio é um dragão miniatura. Bactéria num meio é cultura.

o buraco do espelho está fechado agora eu tenho que ficar agora fui pelo abandono abandonado aqui dentro do lado de fora

3.3. Ficção Contemporânea Autor: Rubem Fonseca [49]


[Literatura II] Vida: Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 11 de maio de 1925, José Rubem Fonseca é formado em Direito, tendo exercido várias atividades antes de dedicar-se inteiramente à literatura. Em 31 de dezembro de 1952 iniciou sua carreira na polícia, como comissário, no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Muitos dos fatos vividos naquela época e dos seus companheiros de trabalho estão imortalizados em seus livros. Aluno brilhante da Escola de Polícia, não demonstrava, então, pendores literários. Ficou pouco tempo nas ruas. Foi, na maior parte do tempo em que trabalhou, até ser exonerado em 06 de fevereiro de 1958, um policial de gabinete. Cuidava do Fonte: serviço de relações públicas da polícia. Em julho de 1954 recebeu uma licença www.portaldaliteratura.com/ para estudar e depois dar aulas sobre esse assunto na Fundação Getúlio Vargas, autores.php?autor=657 no Rio. Na Escola de Polícia destacou-se em Psicologia. Contemporâneos de Rubem Fonseca dizem que, naquela época, os policiais eram mais juízes de paz, apartadores de briga, do que autoridades. Zé Rubem via, debaixo das definições legais, as tragédias humanas e conseguia resolvê-las. Nesse aspecto, afirmam, ele era admirável. Escolhido, com mais nove policiais cariocas, para se aperfeiçoar nos Estados Unidos, entre setembro de 1953 e março de 1954, aproveitou a oportunidade para estudar administração de empresas na New York University. Após sair da polícia, Rubem Fonseca trabalhou na Light até se dedicar integralmente à literatura. É viúvo e tem três filhos. CARACTERÍSTICAS a) b) c) d) e) f)

análise da sociedade e da família burguesa; aborda o mundo da marginalidade a linguagem realista; apresenta a violência das relações humanas; romance histórico (Agosto); a solidão do homem no mundo urbano;

Fonte: https://istoe.com.br/edicao/2430; FONTE: http://aluizioamorim.blogspot.com.br/2014/ 01/reportagem-bomba-da-revista-veja-detona.html Fonte: http://www.adobepublish.com/s/Revista %20%C3%89poca/3297fac0e14742989cfd8ad83 93d9e96/Revista_%C3%89poca_968/00_Capa.html

Leitura Complementar: Um Mundo Violento E Bárbaro [50]


[Literatura II] Um dos temas dominantes de seus contos e romances é a violência que percorre as ruas brasileiras, numa espécie de guerra civil não declarada. Às vezes esta violência brota das circunstâncias sociais. Outras vezes ela emerge de pulsões subterrâneas dos indivíduos que experimentam o fascínio do mal, independentemente da classe a qual pertencem. Certas passagens de contos como Feliz ano novo, Passeio noturno e O cobrador, e da narrativa longa A grande arte apresentam uma brutalidade tão meticulosamente narrada que se tornam leitura quase insuportável para espíritos delicados. Veja-se esta passagem de Feliz ano novo: Podem comer e beber à vontade, ele disse. Filho da puta. As bebidas, as comidas, as jóias, o dinheiro, tudo aquilo para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. .Para eles, nós não passávamos de três moscas no açucareiro. Como é seu nome? Maurício, ele disse. Seu Maurício, o senhor quer se levantar, por favor? Ele se levantou. Desamarrei os braços dele. Muito obrigado, ele disse. Vê-se que o senhor é um homem educado, instruído. Os senhores podem ir embora que não daremos queixa à polícia. Ele disse isso olhando para os outros que estavam quietos, apavorados no chão, e fazendo um gesto com as mãos abertas, como quem diz, calma minha gente, já levei este bunda suja no papo. Inocêncio, você já acabou de comer? Me traz uma perna de peru dessas aí. Em cima de uma mesa tinha comida que dava para alimentar o presídio inteiro. Comi a perna de peru. Apanhei a carabina doze e carreguei os dois canos. Seu Maurício, quer fazer o favor de chegar perto da parede? Ele se encostou na parede. Encostado não, não, uns dois metros de distância. Mias um pouquinho para cá. Aí. Muito obrigado. Atirei bem no meio do peito dele, esvaziando os dois canos aquele tremendo trovão. O impacto jogou o cara com força contra a parede. Ele foi escorregando lentamente e ficou sentado no chão. No peito dele tinha um buraco que dava para colocar um panetone. Viu, não grudou o cara na parede, porra nenhuma. Tem que ser na madeira, numa porta. Parede não dá, disse Zequinha. O que mais choca é o amoralismo dos bandidos. Em nenhum momento eles são atormentados por qualquer remorso, qualquer culpa. São perversos e frios, venham das camadas populares ou dos estratos superiores. As cidades parecem vazias de inquietação ética, a não ser por alguns indivíduos que, em meio ao horror, agem movidos por um sentimento qualquer de justiça, como o criminalista Mandrake, em A grande arte, o delegado Vilela, em A coleira do cão, e o comissário Mattos, em Agosto. Estes personagens, inabaláveis na sua força motriz, trazem com certeza o espírito da literatura noir, desenvolvida e aperfeiçoada pelos escritores Hammet e Chandler. Neste estilo, sai de cena a dedução brilhante de protagonistas como Sherlock Holmes e Poirot e entra a figura do detetive capaz de dar murros, de arrancar confissões de personagens que transitam entre o bem e o mal com muita fluidez. Num mundo sujo e infame, onde a moral e a ética foram dissolvidas, onde o vilão e o mocinho desaparecem, estes personagens erguem um protesto quase solitário (senão romântico) contra esta realidade que apesar de tudo – ao contrário do romance policial clássico – continuará suja e infame, seja o criminoso eliminado ou não – a realidade continuará brutal e infame. (Sergius Gonzaga – Curso de Literatura Brasileira)

Autor: Luís Fernando Veríssimo Vida: Luís Fernando Veríssimo nasceu em 26 de setembro 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma universidade da

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[Literatura II] Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone. É casado com Lúcia e tem três filhos. Fonte: www.pensador.com/autor/luis_f ernando_verissimo/

CARACTERÍSTICAS a) b) c) d)

representa satiricamente aspectos da realidade brasileira; linguagem ao mesmo tempo coloquial e elegante; maneira específica e absolutamente pessoal de narrar; diversidade de gênero: do comentário lírico ao comentário irônico, da criação de atmosfera ao relato anedótico, passando pela sofisticada análise sócio-cultural do país e do mundo.

A audácia! Quem o Lula pensa que é, tomando Romanée-Conti? Gente! O que é isso? Onde é que estamos? RomanéeConti não é pro teu bico não, ó retirante. Vê se te enxerga, ó pau-de-arara. O teu negócio é cachaça. O teu negócio é prato-feito e ceva e olhe lá. A audácia do Lula! Hoje tomam Romanée-Conti, amanhã vão querer o que? No mínimo se achar iguais a nós. Pedir os mesmos direitos. Viver como a gente, que tem berço, que tem classe, que tem bom gosto e portanto merece o melhor. E nós sabemos como isso acaba. Logo, logo vão estar querendo subir pelo elevador social. O Lula tomando Romanée-Conti... Ora faça-me o favor. Que coisa grotesca. Que coisa ridícula. Que acinte. Que escândalo. E que desperdício. Vai ver ele não sabe nem pronunciar o nome, quanto mais apreciar o sabor. Vai ver derramou um pouco pro santo, na toalha. Romanée-Conti não é pra gentinha, não, Lula. As coisas boas da vida são para as pessoas finas do mundo, não pra pé-rapado que bota gravata e acha que é doutor. Muito menos pra pé-rapado brasileiro. Está bom, foi só um gole. Mas é assim que começa. Hoje tomam um gole de Romanée-Conti, amanhã estão com delírio de grandeza, pedindo saneamento básico, habitação decente, oportunidade de trabalho e até gentinha metida a grande coisa não sabe quando parar - mais saúde pública, mais igualdade e caviar. Enfim, essas coisas que intelectual comunista põe na cabeça deles. Sim, porque a índole natural da nossa gentinha, em geral, é boa. Se pudessem escolher, escolheriam angu aguado e vinho Boca Negra, coisas autênticas, às vezes mortais, mas pitorescas. Como eles, que até hoje nunca tinham incomodado ninguém, que até hoje conheciam o seu lugar. Agora, depois da gentinha provar Romanée-Conti, ninguém sabe o que pode acontecer neste país. Deram álcool para os índios! Nenhum branco está mais seguro. O Lula tomando Romanée-Conti... É o cúmulo. É uma inversão completa dos valores sob os quais nos criamos, segundo os quais se Deus quisesse que os pobres tomassem vinho de rico daria uma ajuda de custo. É o fim de qualquer hierarquia social, portanto o caos. Ainda bem que ainda existem patriotas alertas para denunciar o ridículo, o acinte, o escândalo, e chamar o Lula de volta à humildade. Para mandar o Lula se enxergar. Sim, porque hoje é Romanée-Conti e amanhã pode ser até a Presidência da República. Gentinha que não conhece o seu lugar é capaz de tudo.

Leitura Complementar:

GALERIA DE TIPOS (por Sergius Gonzaga - Curso de Literatura Brasileira)

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Literatura II [Literatura II] Um dos recursos primordiais da crônica de Luis Fernando Veríssimo é a criação de personagens que, com duas ou três características, representam satiricamente aspectos da realidade brasileira. Entre estes tipos o mais popular é o analista de Bagé. Com seus métodos poucos ortodoxos (“a terapia do joelhaço”, por exemplo), suas concepções simplórias e bem-humoradas sobre a alma humana e seu impagável linguajar gauchesco, o analista permite a Veríssimo ironizar tanto a psicanálise quanto o bairrismo sul-rio-grandense. Veja-se este fragmento de uma das crônicas do livro O analista de Bagé: Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão, possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vem de Bagé, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas não adianta. Estas histórias do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé, história apócrifa é mentira bem educada), mas pensando bem, ele não poderia vir de outro lugar. Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão. — Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho. — O senhor quer que eu deite logo no divã? — Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro. — Certo, certo. Eu... — Aceita um mate? — Um quê? Ah, não. Obrigado. — Pos desembucha. — Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano? — Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope. — Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe — Outro. — Outro? — Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque. — E o senhor acha... — Eu acho uma pôca vergonha. — Mas... — Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!

Fonte: https://coisaseria.wordpress.com/2008/04/01/edgar-vasques-01-o-analista-de-bage-lvf/

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[Literatura II]

EXERCÍCIOS: ENEM + vestibulares UNIDADE 1 - PRÉ-MODERNISMO

instituições nacionais no âmbito do funcionalismo público, da política, da vida militar, da imprensa e mesmo da vida rural.

01. (UEL) Considere as afirmativas sobre o PréModernismo:

Quais estão corretas? a) Apenas I c) Apenas I e II e) I, II e III.

I - A permanência de características realistas/ naturalistas, na prosa, e a permanência de um poesia de caráter ainda parnasiano ou simbolista estão presentes no Pré-Modernismo. II - O traço renovador revela-se no interesse com que os novos escritores analisaram a realidade brasileira de sua época: a literatura incorpora as tensões sociais do período. III - O regionalismo — nascido do Romantismo — persiste nesse momento literário, mas com características diversas daquelas que o animaram durante o Romantismo. Agora o escritor não deseja mais idealizar uma realidade, mas denunciar os desequilíbrios dessa realidade. Está(ão) correta(s): a) somente I b) somente II d) I e II e) todas

b) Apenas II d) Apenas II e III

04. (UPF) O aspecto que caracteriza o elemento renovador do Pré-Modernismo e que situa a literatura produzida nesse período como um prenúncio da literatura modernista é: a) o emprego das formas parnasianas. b) o exotismo europeizante. c) o interesse pela realidade brasileira. d) a temática simbolista. e) o concretismo. Leia os versos de Augusto dos Anjos e responda a questão 05:

c) somente III

Idealismo

02. (FURG) Tendo em vista a poesia de Augusto dos Anjos, é correto afirmar que

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo! O amor da Humanidade é uma mentira. É. E é por isto que na minha lira De amores fúteis poucas vezes falo.

a) a família é um dos grandes centros geradores de sua poesia. b) seu tema preferido é a vacuidade do ser humano. c) o poeta é um dos representantes da poesia romântica brasileira. d) sua obra poética é marcada pelo experimentalismo formal. e) o poeta apresenta uma poesia comprometida com a realidade social do país.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?! Quando, se o amor que a Humanidade inspira É o amor do sibarita e da hetaíra, De Messalina e de Sardanapalo?! Pois é mister que, para o amor sagra O mundo fique imaterializado - Alavanca desviada do seu lucro

03. (UFRGS) Considere as afirmações abaixo, a respeito de Lima Barreto.

E haja só amizade verdadeira Duma caveira para outra caveira, Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!

I - Sua obra ficcional situa-se no Rio de Janeiro, de cuja paisagem urbana e principalmente suburbana tirou vários tipos populares e de classe média, dentre eles alguns que lhe inspiravam indisfarçável simpatia. II - Ao avaliar a realidade brasileira a partir do Rio de Janeiro, revela-se um romancista inserido em uma tradição que inclui Manuel Antônio de Almeida, Aluísio Azevedo e Machado de Assis. III - Demonstra preocupação crítica e certa capacidade satírica ao expor, em romances e contos, valores e

Vocabulário: sibarita: pessoa dada à indolência ou à vida de prazeres; hetaira (hetaira ou hetera): prostituta elegante; é mister: é necessário

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[Literatura II] 05. (Mack - SP) Considere as afirmações acerca do poema:

expressões anti-poéticas e com um tom pessimista diante da vida.

I. Um elemento característico da obra de Augusto dos Anjos - a utilização de termos referentes à matéria física, química e biológica - está presente nesse poema. II. A primeira estrofe sintetiza o tema do soneto e justifica a raridade de poemas do tema amoroso na obra de Augusto dos Anjos. III. O poema apresenta uma visão pessimista de humanidade submetida às leis da avidez e da luxúria.

Quais são corretas? a) apenas a I. b) apenas I e III c) apenas I e II. d) I, II e III. e) apenas a III.

Quais estão corretas? a) apenas I b) apenas II d) apenas II e III e) I, II e III

07. (UNIFRA) Passados cem anos desde sua primeira publicação, em 1902, a obra Os sertões, de Euclides da Cunha, é considerada um marco da literatura brasileira. Sobre esse livro pode-se afirmar que

c) apenas III

Um, dois, três, quatro, cinco... Esoterismos Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros, Na progressão dos números inteiros A gênese de todos os abismos!

I. representou uma inovação temática e estilística, ao abordar a realidade do interior brasileiro a partir de um estudo sobre a Revolução Pernambucana, ocorrida no final do século XIX. II. procurou seguir as mais avanças teorias científicas de seu tempo, dividindo o texto em três partes: "A terra", "O homem" e "A luta", correspondentes, respectivamente, ao meio, raça e momento, fatores decisivos de análise para o determinismo positivista. III. procurou demonstrar que era incorreta a visão popular de que "o sertanejo é antes de tudo um forte", concluindo que o homem do sertão era apenas um "desgracioso, desengonçado e torto", habitante de uma região sem futuro.

Oh! Pitágoras da última aritmética, Continua a contar na paz ascética Dos tábidos carneiros sepulcrais

Está(ão) correta(s) a) Apenas I e II. b) Apenas I e III. c) Apenas II e III. d) Apenas II. e) I, II e III.

Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros, Porque, infinita como os próprios números, A tua conta não acaba mais!

08. (PUC RS) Assinale a alternativa INCORRETA a respeito de Euclides da Cunha. a) Em Os Sertões, o autor se utiliza de uma linguagem preciosista e rebuscada em que pontificam os termos emprestados à ciência da época, os adjetivos exagerados e os verbos cuidadosamente escolhidos. b) Os Sertões é o produto final de um longo trabalho de pesquisa bibliográfica, de uma engajada cobertura jornalística realizada in loco pelo autor e da revisão de anotações detalhadas feitas por Euclides da Cunha durante sua estada no sertão baiano. c) A utilização de personagens ficcionais lado a lado com as figuras históricas que protagonizam os acontecimentos de Os Sertões permite a Euclides da Cunha inserir suas impressões pessoais sobre o episódio e, além disso, estabelece nexos entre as ações isoladas. d) Nas duas primeiras partes de Os Sertões, o autor se mostra adepto das doutrinas científicas da época, que não viam com bons olhos a mestiçagem e estabeleciam uma relação direta entre herança biológica e progresso material dos povos. e) Na última parte de Os Sertões, A luta, que a sua transformação do ponto de vista do autor, que, graças à técnica narrativa utilizada, contagia o leitor,

06. (PUC) Leia os versos: Numerar sepulturas e carneiros, Reduzir carnes podres a algarismos, Tal é, sem complicados silogismos, A aritmética hedionda dos coveiros!

Considere as afirmativas: I - A precisão matemática pode ser observada no rigor formal que estrutura o poema: a forma clássica do soneto (14 versos, 2 quartetos, 2 tercetos); e métrica e rimas regulares (predominância de versos decassílabos; nos quartetos as rimas obedecem ao esquema abba – rimam as últimas palavras do primeiro e quarto versos e as do segundo e terceiro versos – e nos tercetos, o esquema é aab ). II - O poema faz uso de palavras e expressões do campo semântico da matemática (“algarismos”; “silogismos”; “aritmética”; “progressão dos números inteiros”; “Pitágoras”) e da biologia (“Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros”). O emprego de termos técnicos racionaliza a morte, tratada como realidade objetiva, quantificável, sem mistificação. Tal perspectiva contrasta com o sentimentalismo e subjetivismo da tradição romântica, que idealiza a morte como evento transcendental. III – Augusto dos Anjos é modernista conhecido como “O poeta do mau gosto”, pois escreveu poesias com

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[Literatura II] inicialmente vistos como fanáticos, os sertanejos de Canudos conquistam o respeito e a admiração.

irremediavelmente, para a violência sangrenta e a morte.

09. (UNIFRA) O trecho abaixo é um fragmento do prefácio dos Contos gauchescos, de Simões Lopes Neto.

11. (UPF 2013 - Verão) Leia o trecho de Triste fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto:

Patrício, apresento-te Blau, o vaqueano. - Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezigue. Já senti a ardentia das areias desoladas do litoral; já me recreei nas encantadoras ilhas da lagoa Mirim; [...] molhei as mãos no soberbo Uruguai; [...]. Saudei a graciosa Santa Maria, fagueira e tranquila na encosta da serra, emergindo do verde-negro da montanha copada o casario, branco, como um fantástico algodoal em explosão de casulos. Subi aos extremos do Passo Fundo, [...]; cortei um formigueiro humano na zona colonial.

Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios?Eram grandes, pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folklore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio geral; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes [férteis] e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.

Sobre esses Contos Gauchescos, tomados em conjunto, pode-se afirmar que a) os textos afirmam o caráter aventureiro e colonizador do homem sul-rio-grandense. b) apresentam um regionalismo sobre questões universais, como alguns dilemas éticos vivenciados pelo narrador-personagem. c) se centram na figura do peão de estância, caracterizado como um tipo rude, preguiçoso e contador de histórias fantasiosas. d) se limitam a uma visão romântica do mundo sulriograndense, apresentando traços semelhantes ao romance histórico do século XIX. e) se configuram como um conjunto de situações marcadas pelo humor e ironia, em que os latifundiários são considerados os grandes responsáveis pelo progresso e manutenção dos costumes locais.

Assinale a única afirmação correta em relação ao texto acima. a) Policarpo Quaresma descobre, finalmente, a falsidade e inviabilidade da ideologia do nacionalismo ufanista, em relação à natureza e à sociedade brasileiras. b) Policarpo Quaresma entregou a Floriano Peixoto um conjunto de propostas de apoio à agricultura nacional e conseguiu que o Marechal as pusesse em prática. c) Policarpo Quaresma leu os cronistas que descreviam a extraordinária fertilidade da natureza brasileira, mas não experimentou, como agricultor, se tal descrição era verdadeira. d) Policarpo Quaresma mantém-se fiel, apesar das decepções, à ideologiado nacionalismo ufanista, em que acreditava desde sua juventude. e) Policarpo Quaresma se caracteriza como uma figura quixotesca, que desiste, à primeira dificuldade, de lutar por seus ideais.

10. (UPF 2012 - Inverno) Marque a alternativa incorreta. O gaúcho, personagem-tipo central de Contos gauchescos , de Simões Lopes Neto, a) é caracterizado pelos valores da virilidade, coragem, honra e lealdade. b) é contrastado com o homem urbano, em particular o ilhéu, incapaz de dominar um cavalo, e o homem da Corte, de hábitos refinados e algo afeminados. c) é identificado principalmente com o estancieiro, de acordo com a ideologia senhorial da “democracia gaúcha”. d) é identificado tanto com os heróis históricos das guerras do Rio Grande do Sul no século XIX quanto, principalmente, com os peões de estância, agregados, vaqueanos e mesmo contrabandistas, todos com participação decisiva na formação histórica da sociedade gaúcha. e) é visto frequentemente como o macho que, apesar da sua força viril, sucumbe ao fascínio demoníaco de algumas mulheres, precipitando-se,

12. (Mackenzie) A estrofe que NÃO apresenta elementos típicos da produção poética de Augusto dos Anjos é: a) Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. b) Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

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[Literatura II] Apedreja a mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!

14. Pela análise das afirmativas, conclui-se que está correta a alternativa a) I e II b) I e III c) II e IV d) III e IV e) II, III e IV

c) Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

15. (ENEM 2014) Leia o poema:

d) Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo... Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo!

Psicologia de um vencido Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese* da infância, A influência má dos signos do zodíaco.

e) Agregado infeliz de sangue e cal, Fruto rubro de carne agonizante, Filho da grande força fecundante De minha brônzea trama neuronial.

Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco.

(PUC - RS) Para responder às questões 13 e 14, ler os trechos que seguem.

Já o verme - este operário das ruínas Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra,

“As forças que trabalham a terra atacam-na na contextura íntima e na superfície, sem intervalos na ação demolidora, substituindo-se, com intercadência invariável, nas duas estações únicas da região.“

Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade orgânica da terra!

“Adstrita às influências que mutuam, em graus variáveis, três elementos étnicos, a gênesis das raças mestiças do Brasil é um problema que por muito tempo ainda desafiará o esforço dos melhores espíritos.”

ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

“O caso é original e verídico. Evitando as vantagens de uma arrancada noturna, os sertanejos chegavam com o dia e anunciavam-se de longe. Despertavam os adversários para a luta.”

A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como prémodernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas dessa literatura de transição, como

13. Os trechos pertencem à obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, sobre a qual é correto afirmar que a) apresenta uma visão otimista da Guerra de Canudos. b) salienta a importância da integração do imigrante à vida brasileira. c) conta a história do herói Antônio Conselheiro até o dia de sua rendição. d) desfigura a posição marginal do sertão nordestino. e) se constitui em marco decisivo para o engajamento social da literatura brasileira. Para responder à questão 14, considerar as afirmativas que seguem, sobre o texto acima.

a) a forma do soneto, os versos metrificados, presença de rimas e o vocabulário requintado, além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo. b) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância” e “ influência má dos signos do zodíaco”. c) a seleção lexical emprestada ao cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco”, “epigênesis da infância” e “frialdade inorgânica”, que restitui a visão naturalista do homem. d) a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação na expressividade poética, e o desconcerto existencial. e) a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas.

I. O estilo do autor evidencia a rejeição à visão determinista típica do Naturalismo. II. O caráter revolucionário da obra impõe-se pela denúncia social. III. O estilo jornalístico do autor anula a linguagem artística. IV. De tendência positivista, a obra se organiza, rigorosamente, em três partes, a que cada um dos trechos pertencem, respectivamente.

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[Literatura II] 16. (PUC RS 2017 – Verão) Leia o poema A meu pai morto, de Augusto dos Anjos, e analise as afirmativas.

Laocoonte(1) constrangido pelas serpentes, Ugolino(2) e os filhos esfaimados. Evocava também o seco Nordeste, carnaubais, caatingas... Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades(3) excepcionais. Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz. O cacto tombou atravessado na rua, Quebrou os beirais do casario fronteiro, Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças, Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas privou a cidade de iluminação e energia: – Era belo, áspero, intratável.

Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra. Em seus lábios que os meus lábios osculam Microrganismos fúnebres pululam Numa fermentação gorda de cidra. Duras leis as que os homens e a hórrida hidra A uma só lei biológica vinculam, E a marcha das moléculas regulam, Com a invariabilidade da clepsidra!... Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos Roída toda de bichos, como os queijos Sobre a mesa de orgíacos festins!...

(1) Laocoonte – escultura da Grécia Antiga que representa serpentes estrangulando o sacerdote Laocoonte e seus filhospor castigo divino. (2) Ugolino – imagem do Inferno da Divina comédia, de Dante, poeta italiano medieval (1265 – 1321), em que o conde Ugolino é preso, com os filhos, na Torre da Fome. (3) Feracidades – fertilidades. Assinale a afirmação incorreta sobre o poema. a) O poema é escrito em versos livres e com vocabulário acentuadamente prosaico. b) O poeta descreve um temporal segundo os procedimentos próprios da notícia jornalística. c) O poeta aproxima, pela imagem do cacto, uma visão não romântica da natureza brasileira e duas das maiores expressões do sofrimento humano na história da arte ocidental. d) O poeta apresenta o cacto gigante, abatido pelo vento que assolou a cidade, como imagem da luta ineficaz, mas valente e altiva, contra um poder excessivamente maior. e) O poeta apresenta a imagem do cacto como expressão de um estranho tipo de beleza, que não se identifica com a delicadeza e a harmonia.

Amo meu Pai na atômica desordem Entre as bocas necrófagas que o mordem E a terra infecta que lhe cobre os rins! I. As estrofes que começam por “Podre meu Pai!” reiteram a ideia de que, por trás da Morte, há a presença de bichos e microrganismos cuja função é servir à lei biológica, que conduz todo ser vivo ao seu fim e à dissolução. II. O poema, por ser um soneto, contrasta com a produção de Augusto dos Anjos, em geral marcada pela presença de versos livres e pela renovação formal. III. O uso de vocabulário científico, transformado em linguagem poética pelo autor, é percebido na poesia de Augusto dos Anjos. A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são a) I, apenas. c) I e III, apenas. e) I, II e III.

b) II, apenas. d) II e III, apenas.

(PUC RS) INSTRUÇÃO: Para responder à questão 02, leia o poema “Os cortejos”, de Mário de Andrade, e as afirmativas.

GABARITO UNIDADE 1 01. E 08. E 15. D

02. B 09. A 16. E

03. E 10. C

04. C 11. A

05. D 12. D

06. C 13. E

Monotonias das minhas retinas... Serpentinas de entes frementes a se desenrolar... Todos os sempres das minhas visões! “Bom giorno,caro.” Horríveis as cidades! Vaidades e mais vaidades... Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria! Oh! os tumultuários das ausências! Paulicéia – a grande boca de mil dentes; e os jorros dentre a língua trissulca de pus e de mais pus de distinção... Giram homens fracos, baixos, magros... Serpentinas de entes frementes a se desenrolar... Estes homens de São Paulo, todos iguais e desiguais, quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,

07. D 14. E

UNIDADE 2.1 – MODERNISMO 1ª FASE 01. (UPF 2012 – Inverno) Leia o poema de Manuel Bandeira: O CACTO Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:

[58]


[Literatura II] parecem-me uns macacos, uns macacos.

No galho? Sozinha No jardim, na rua. Sozinha no mundo. Em torno, no entanto, Ao sol de meio-dia, Toda a natureza Em formas e cores E sons esplendia. Tudo isso era excesso. A graça essencial,

Considerando a forma e o conteúdo do poema, afirmase: I. Apresenta uma visão restrita da cidade, captada pelos sentidos, que aponta para a integração dos sujeitos nos grandes aglomerados urbanos. II. Revela concepções estéticas modernistas na regularidade métrica, nas rimas ricas e na forma característica do soneto. III. Critica as condições de vida nos centros urbanos, onde não há lugar para a beleza e o sonho. IV. Faz referência à diversidade populacional da cidade de São Paulo na década de 1920. 02. As afirmativas corretas são: a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) II e IV, apenas. d) III e IV, apenas. e) I, II, III e IV.

Pequeno poema para Manuel Bandeira (Cassiano Ricardo) “1 Viste um dia uma rosa sozinha, no galho. No galho? Sozinha, no jardim, na rua. Sozinha no mundo. Em torno, a natureza, as cores, as formas, tudo isso era excesso.”

03. (PUC) Leia o poema de Oswald de Andrade: Epitáfio Eu sou redondo, redondo Redondo, redondo eu sei Eu sou uma redond’ilha Das mulheres que beijei Por falecer do oh! amor Das mulheres da minh’ilha Minha caveira rirá ah! ah! ah! Pensando na redondilha

A partir da relação entre o poema de Manuel Bandeira e o fragmento do poema de Cassiano Ricardo, acima, é incorreto afirmar que a) o eu-lírico de “Pequeno poema para Manuel Bandeira” provavelmente se refere ao eu-lírico de “Eu vi uma rosa”. b) ambos poetas certamente leram o poema um do outro. c) ambos textos tomam a rosa como uma metáfora. d) o poema de Cassiano Ricardo faz referência a Manuel Bandeira. e) existe uma relação intertextual entre os poemas.

Marque a opção correta em relação ao texto: a) O poema incorpora o sentimento iconoclasta do primeiro momento modernista. b) O título Epitáfio prenuncia a presença trágica e irreversível da morte, tema predominante no poema, em particular, e na obra de Oswald de Andrade, em geral. c) O uso de uma metrificação regular e a disposição das estrofes aproximam o poema das reivindicações formais do Parnasianismo. d) O eu lírico contrapõe à morte a idealização romântica da figura feminina e) O eu lírico encontra na morte a possibilidade de transcendência e eternidade.

Mistério inefável 04. (UNISC 2014 – Verão) — Sobrenatural — Da vida e do mundo, Leia os poemas: Estava ali na rosa Sozinha no galho. Eu vi uma rosa (Manuel Bandeira) Sozinha no tempo. Tão pura e modesta, Eu vi uma rosa Tão perto do chão, — Uma rosa branca — Tão longe na glória Sozinha no galho. Da mística altura, Dir-se-ia que ouvisse Do arcanjo invisível As palavras santas De outra Anunciação.

05. (UNIFRA 2014 - Verão) O movimento artísticoliterário que mobilizou parcela significativa da intelectualidade brasileira, durante a década de 1920, surgiu da rejeição ao chamado colonialismo mental e pregava o rompimento com os padrões europeus de criação. Com isso, pode-se afirmar que tinha como proposta a) a preocupação dominante de retratar os males da colonização. b) a tentativa de recuperação das idealizações românticas ligadas à temática do índio brasileiro. c) a tentativa de constituição, no campo das artes, da problemática da nacionalidade, ressaltando as peculiaridades do povo brasileiro.

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[Literatura II] d) a desvalorização da problemática regionalista, contidanas lendas e mitos brasileiros. e) a valorização dos aspectos românticos da vida sertaneja.

Com base no poema, afirma-se: I. Os versos abordam uma temática prosaica, de aparente simplicidade, muito presente na totalidade da obra de Manuel Bandeira. II. Uma certa melancolia, associada ao sentimento de conformismo diante da realidade, é perceptível ao longo do poema. III. O poema apresenta um traço narrativo, trazendo, inclusive, uma fala registrada em discurso direto. IV. As marcas de oralidade e a presença de adjetivos evidenciam o lirismo exacerbado que caracteriza o sentimento de mundo do poeta.

06. (PUC RS 2104 – Inverno) O ano de 1922 trouxe muito barulho ao cenário das letras brasileiras. Para responder à questão 38, preencha as lacunas do texto relacionado a dois dos mais representativos articuladores desta época. Mario de Andrade e __________ são considerados os principais nomes do __________ brasileiro, movimento que, entre outras características, apresentava __________ e __________.

07. A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e III, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III.

A alternativa que completa o excerto adequadamente é: a) Oswald de Andrade – Modernismo – uma liberdade formal – um ideário nacionalista b) Augusto dos Anjos – Pré-Modernismo – um cientificismo grotesco – uma ideologia de vanguarda c) Olavo Bilac – Modernismo – um vínculo com a razão – um pessimismo ideológico d) Augusto dos Anjos – Pré-Modernismo – uma valorização do nacional – uma subversão expressionista e) Oswald de Andrade – Futurismo – um convencionalismo da linguagem – um nacionalismo utópico

08. (UNIFRA 2016 – Inverno) O Modernismo brasileiro representou uma incisiva ruptura com os padrões literários vigentes até as primeiras décadas do século XX. Tal quebra não se restringiu a gêneros específicos e influenciou novas formas na poesia e na prosa. Sobre isso, é pertinente a afirmação do professor e crítico literário Alfredo Bosi: Todas as grandes aventuras literárias empreendidas na Europa desde o início do século XX iam nessa direção: transcender o código dito “realista”, ou melhor, positivista, já decaído a clichê de estilo e a estereótipo de personagem. Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Expressionismo propunham-se a captar as imagens de uma nova era da técnica e da velocidade, ou então, de um eterno inconsciente, sem prendê-las nas categorias de tempo e espaço tal como as convencionalizara a prática literária do Oitocentos “burguês”.

(PUC RS 2014 – Verão) Para responder à questão 07, leia o poema “Elegia de agosto”, de Manuel Bandeira. A nação elegeu-o seu Presidente Certo de que jamais ele a decepcionaria. De fato, Durante seis meses, O eleito governou com honestidade, Com desvelo, Com bravura. Mas um dia, De repente, Lhe deu a louca E ele renunciou. Renunciou sem ouvir ninguém. Renunciou sacrificando o seu país e os seus amigos. Renunciou carismaticamente, falando nos pobres e humildes que é tão difícil ajudar. Explicou: “Não nasci presidente. Nasci com a minha consciência. Quero ficar em paz com a minha consciência.” Agora vai viajar. Vai viajar longamente no exterior. Está em paz com a sua consciência. Ouviram bem? ESTÁ EM PAZ COM A SUA CONSCIÊNCIA E que se danem os pobres e humildes que é tão difícil ajudar.

(BOSI, Alfredo. Situação de Macunaíma, in: Céu, Inferno: ensaios de crítica literária e ideológica. São Paulo: Editora 34, 2003, p.190)

Considerando a leitura desse excerto, além dos seus conhecimentos sobre os principais autores e obras do nosso Modernismo, é correto afirmar que: a) A obra Pau-Brasil é reconhecida pela crítica e pelo ensino escolar como expoente da poesia de Mário de Andrade, ao lado de Paulicéia desvairada. b) Para compor Memórias Sentimentais de João Miramar, Oswald de Andrade vale-se da mesma oralidade popular que se observa em Iracema, de José de Alencar. c) Com uma linguagem cuja estilização é influenciada pelas vanguardas europeias, Macunaíma se assenta como a expressão máxima da prosa de Oswald de Andrade. d) Na gênese do Modernismo brasileiro, o romance Serafim Ponte Grande ainda apresenta fortes traços da linguagem parnasiana. e) Em Macunaíma, Mário de Andrade discute a identidade brasileira pela inserção de mitos, lendas e

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[Literatura II] expressões indígenas em meio a formas pertencentes à alta cultura literária.

( ) Pode-se inferir, a partir da leitura do poema, que o elemento primordial, na visão do eu lírico, é a alma, não o corpo. ( ) O poeta é um dos principais representantes da poesia da geração de 45, junto com João Cabral de Melo Neto.

09. (UPF 2016 – Inverno) Considere com atenção as afirmações a seguir. I. A Exposição de Anita Malfatti, realizada em 1917, e que recebeu uma crítica demolidora de Monteiro Lobato, foi o fato cultural mais importante na gestação da Semana de Arte Moderna, pois ajudou a unir os jovens artistas e intelectuais no combate às estéticas que remontavam ao século XIX.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é a) F – F – V – V – V b) F – V – F – F – V c) V – F – V – V – F d) V – V – F – F – V e) V – V – F – F – F

II. O primeiro livro que apresentou uma poesia integralmente nova, afinada com as propostas de liberdade formal e com os ideais nacionalistas do grupo modernista em formação, foi Carnaval, de Manuel Bandeira, publicado em 1919.

11. (ENEM 2016 - 2º Aplicação) Leia: O bonde abre a viagem, No banco ninguém, Estou só, stou sem. Depois sobe um homem, No banco sentou, Companheiro vou. O bonde está cheio, De novo porém Não sou mais ninguém.

III. Durante a realização da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, em 1922, o momento mais marcante foi aquele em que Manuel Bandeira declamou seu poema “Os sapos”, no qual destila uma ironia violenta contra os poetas simbolistas, sob os apupos, as vaias e os assobios do público.

ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Vila Rica, 1993.

O desenvolvimento das grandes cidades e a consequente concentração populacional nos centros urbanos geraram mudanças importantes no comportamento dos indivíduos em sociedade. No poema de Mário de Andrade, publicado na década de 1940, a vida na metrópole aparece representada pela contraposição entre

Está correto apenas o que se afirma em: a) I.

b) II. c) III. d) I e II. e) I e III.

10. (PUC RS 2017 – Verão) Leia o poema Momento num café, de Manuel Bandeira, e analise as afirmações que seguem, preenchendo os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso).

a) a solidão e a multidão. b) a carência e a satisfação. c) a mobilidade e a lentidão. d) a amizade e a indiferença. e) a mudança e a estagnação.

Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida.

12. (ENEM 2016 - 2º Aplicação) Leia: Poema tirado de uma notícia de jornal

Um no entanto se descobriu num gesto largo e [demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem [finalidade Que a vida é traição E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta.

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número. Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.

( ) Entre as duas estrofes do poema, há uma relação de oposição quanto a visões sobre a vida. ( ) O uso de elementos cotidianos, por trás dos quais há uma revelação, é típico em Manuel Bandeira. ( ) Apesar de ser construído por versos livres, o ritmo do poema torna-se mais rápido a partir da segunda estrofe.

No poema de Manuel Bandeira há uma ressignificação de elementos da função referencial da linguagem pela a) atribuição de título ao texto com base em uma notícia veiculada em jornal. b) utilização de frases curtas, características de textos do gênero jornalístico.

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[Literatura II] c) indicação de nomes de lugares como garantia da veracidade da cena narrada. d) enumeração de ações, com foco nos eventos acontecidos à personagem do texto. e) apresentação de elementos próprios da notícia, tais como quem, onde, quando e o quê.

Texto 2 AMAR E SER AMADO Castro Alves Amar e ser amado! Com que anelo Com quanto ardor este adorado sonho Acalentei em meu delírio ardente Por essas doces noites de desvelo! Ser amado por ti, o teu alento A bafejar-me a abrasadora frente! Em teus olhos mirar meu pensamento, Sentir em mim tu’alma, ter só vida P’ra tão puro e celeste sentimento Ver nossas vidas quais dois mansos rios, Juntos, juntos perderem-se no oceano, Beijar teus lábios em delírio insano Nossas almas unidas, nosso alento, Confundido também, amante, amado Como um anjo feliz... que pensamento!?

13. (ENEM 2016 - 2º Aplicação) Leia: Descobrimento Abancado à escrivaninha em São Paulo Na minha casa da rua Lopes Chaves De sopetão senti um friúme por dentro. Fiquei trêmulo, muito comovido Com o livro palerma olhando pra mim. Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim, Na escuridão ativa da noite que caiu, Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos Depois de fazer uma pele com a borracha do dia, Faz pouco se deitou, está dormindo. Esse homem é brasileiro que nem eu...

Disponível em: <https://pensador.uol.com.br/frase/ NTU2MTQw/>. Acesso em: 07 nov. 2016. Texto 3 Livre Cruz e Sousa

ANDRADE, M. Poesias completas. São Paulo: Edusp, 1987.

O poema Descobrimento, de Mário de Andrade, marca a postura nacionalista manifestada pelos escritores modernistas. Recuperando o fato histórico do “descobrimento”, a construção poética problematiza a representação nacional a fim de

Livre! Ser livre da matéria escrava, arrancar os grilhões que nos flagelam e livre penetrar nos Dons que selam a alma e lhe emprestam toda a etérea lava. Livre da humana, da terrestre bava dos corações daninhos que regelam, quando os nossos sentidos se rebelam contra a Infâmia bifronte que deprava.

a) resgatar o passado indígena brasileiro. b) criticar a colonização portuguesa no Brasil. c) defender a diversidade social e cultural brasileira. d) promover a integração das diferentes regiões do país. e) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros.

Livre! bem livre para andar mais puro, mais junto à Natureza e mais seguro do seu Amor, de todas as justiças.

(UCPel 2017 – Verão) Para responder às questões 14, 15 e 16, considere os textos 1, 2 e 3.

Livre! para sentir a Natureza, para gozar, na universal Grandeza, Fecundas e arcangélicas preguiças.

Texto 1 O Último Poema Manuel Bandeira

Disponível em:<http:/www.poesiaspoemaseversos.com.br/ cruz-e-sousa-poemas/>. Acesso em: 07 nov. 2016.

Assim eu quereria o meu último poema. Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

14. Os textos de Manuel Bandeira, Castro Alves e Cruz e Sousa são, respectivamente, de quais períodos literários? a) modernismo - romantismo - simbolismo b) simbolismo - parnasianismo - romantismo c) modernismo - romantismo - parnasianismo d) naturalismo - romantismo - romantismo e) romantismo - naturalismo – romantismo

Disponível em:<http://www.releituras.com/ mbandeira_ultimo.asp>. Acesso em: 07 nov. 2016.

15. Sobre o(s) texto(s) é correto afirmar que:

[62]


[Literatura II] GABARITO UNIDADE 2.1

a) O texto 3 demonstra a temática presente nas poesias românticas da segunda geração, ou seja, o desejo pela liberdade. b) O texto 2 é um soneto que representa o valor métrico atribuído ao parnasianismo. c) Os textos 1 e 3 demonstram a liberdade representada ora na escrita e ora no tema, algo representativo para o romantismo. d) O texto 2 demonstra a preocupação do eu-lírico com a questão da efemeridade da vida e a busca pelo prazer, algo representativo na primeira geração do romantismo. e) O texto 1 demonstra a liberdade de expressão e criação poética, sem preocupação com a linguagem, característica presente nas produções literárias do modernismo.

01. B 08. E 15. E

02. D 09. A 16. C

03. A 10. E 17. C

04. A 11. A

05. C 12. E

06. B 13. C

07. C 14. A

UNIDADE 2.2 – MODERNISMO 2ª FASE (PUC RS 2013 – Verão) Para responder à questão 01, leia o poema “Soneto da Separação”, de Vinícius de Moraes, e as afirmativas. De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

16. Em “O Último Poema”, no texto 1, Manuel Bandeira concretiza, o que é denominado a) intertextualidade. b) ironia. c) metalinguagem. d) melancolia. e) alusão.

De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama.

17. (UFRGS 2017) Leia o trecho abaixo do poema Poética, de Manuel Bandeira.

De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente

Estou farto do lirismo comedido do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo [e manifestações de apreço ao Sr. Diretor Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo (...) De resto não é lirismo Será contabilidade tabela de cossenos secretário do amante exemplar com [cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbedos O lirismo difícil e pungente dos bêbedos O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente I. O poema tematiza um efêmero processo de transformação amorosa no qual a união dos amantes se converte em separação e desamparo. II. O amante traduz o drama da finitude de uma paixão por intermédio da boca, das mãos, dos olhos. III. Elementos da natureza, como bruma, espuma, chama, vento, são utilizados como figuras de ênfase para representar o irremediável instante da desunião amorosa. 01. A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III.

Considere as seguintes afirmações sobre o poema. I - Poética é um poema que defende a concepção libertária da criação artística. II - O poema, publicado no livro Libertinagem, de 1930, reforça o ideário modernista de inovação estética. III - Bandeira intensifica a rigidez da forma poética, que já havia em Os sapos, do livro Carnaval, de 1919.

PUC RS 2012 – Verão) Responder à questão 02 com base nos fragmentos a seguir, de Carlos Drummond de Andrade, e nas afirmativas.

Ausência

Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e II. d) Apenas II e III. e) I, II e III.

Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo.

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[Literatura II] Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim!

III. Em “Ausência”, ao rememorar o seu passado, o eu lírico percebe ter sempre desejado a ausência como momento de felicidade e satisfação.

Poema das Sete Faces Quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai Carlos! ser gauche na vida.

03. (UFPR 2013) Leia atentamente este trecho do Romanceiro da Inconfidência:

A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são a) apenas I. b) apenas III. d) apenas II e III. e) I, II e III.

c) apenas I e II.

Romance LIV ou DO ENXOVAL INTERROMPIDO

As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.

Aqui esteve o noivo, de agulha e dedal, bordando o vestido do seu enxoval.

O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração Porém meus olhos não perguntam nada

Em Maio, era em Maio, num Maio fatal; feneciam rosas pelo seu quintal. Por estrada e monte, neblina total. No perfil da lua, um nimbo mortal.

O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucas, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode.

(Mas quem lê na névoa o amargo sinal?) A noite da Vila é densa e glacial. O sono, embuçado em cada beiral.

Meu Deus por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.

Quem não dorme, sonha com seu enxoval. A agulha, de prata, e de ouro, o deda. Em haste de cera, ergue o castiçal para a turva noite lírio de cristal.

Mundo, mundo vasto mundo, Se eu me chamasse Raimundo seria apenas rima, não seria solução. Mundo, mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.

“Sabeis, ó pastora, daquele zagal* que andava num prado sobrenatural?

02. Com base nos textos, afirma-se: I. “Ausência” apresenta uma possibilidade de entendimento da solidão como algo positivo, que fortalece o indivíduo por meio do retorno à sua interioridade. II. “Poema de Sete Faces” descreve uma jornada que tem início no nascimento e é marcada pelo abandono na passagem por um “vasto mundo”.

Teria inimigo? Teria rival?” O sono conversa em cada poial** .“Sabeis, ó pastora, quem seja o chacal que os passos arrasta de longe arraial? Eu vi sua língua

[64]


[Literatura II] é um negro punhal. Que mortes fareja o imundo animal?”

a) Utilizou uma linguagem que enfatiza os símbolos, o apelo sensorial e a musicalidade. b) Abordou, em seus poemas, temas como sonhos, solidão e transitoriedade das coisas e da vida. c) Produziu poemas em que certos vocábulos, como oceano, mar, música adquirem uma dimensão metafórica. d) É classificada como pertencente à 2ª fase modernista, mas sua obra apresenta influências simbolistas. e) Participou diretamente do momento de ruptura e vanguardismo deflagrado pelo grupo de paulistas, responsáveis pela organização da Semana de Arte Moderna.

*Zagal: pastor. **Poial: assento de pedra na entrada de uma casa. O Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, vincula-se a uma tradição literária que prevê a mescla de gêneros. No livro, a recriação de fatos históricos, as falas de personagens espalhadas por toda a peça e a linguagem repleta de recursos expressivos poéticos resultam em uma obra singular. Com base nisso, considere as seguintes afirmativas: 1. A primeira estrofe apresenta o personagem central e sua ação anterior a uma reviravolta. 2. A segunda estrofe possui imagens líricas que podem ser associadas à poética do personagem retratado, como o carpe diem presente no verso “feneciam rosas”. 3. A contraposição entre dormir e sonhar, na terceira estrofe, é desenvolvida no diálogo entre a pastora e o sono, transcrito entre aspas. 4. O diálogo final atenua gradativamente a aflição inicial ao apresentar um conjunto de interrogações estruturadas em linguagem figurada.

05. (ENEM 2015) Leia os versos de Cecília Meireles: Cântico VI Tu tens um medo de Acabar. Não vês que acabas todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo dia. No amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno.

Assinale a alternativa correta. a) Somente a afirmativa 2 é verdadeira. b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

A poesia de Cecília Meireles revela concepções sobre o homem em seu aspecto existencial. Em Cântico VI, o eu lírico exorta seu interlocutor a perceber, como inerente à condição humana,

04. (UNIFRA 2014 - Inverno) Leia o poema: Aceitação É mais fácil pousar o ouvido nas nuvens e sentir passar as estrelas do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos. É mais fácil, também, debruçar os olhos nos oceanos e assistir, [lá no fundo, ao nascimento mundo das [formas, que desejar que apareças, criando com teu [simples gesto o sinal de uma eterna esperança Não me interessam mais nem as estrelas, nem as [formas do mar, nem tu. Desenrolei de dentro do tempo a minha canção: não tenho inveja às cigarras: também vou morrer [de cantar. (Cecília Meireles)

a) a sublimação espiritual graças ao poder de se emocionar. b) o desalento irremediável em face do cotidiano repetitivo. c) o questionamento cético sobre o rumo das atitudes humanas. d) a vontade inconsciente de perpetuar-se em estado adolescente. e) um receio ancestral de confrontar a imprevisibilidade das coisas. 06. (UPF 2015 – Inverno) Considere as afirmações a seguir, referentes ao livro A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade. I.O livro abrange uma ampla variedade temática, que vai do lirismo do “eu” à pintura histórica, do drama do

Com base nos versos ao lado, assinale a alternativa Incorreta sobre a sua autora.

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[Literatura II] cotidiano ao poema filosófico, da lira erótica à poesia sobre a poesia. II.O poema longo, que o Modernismo tendia a usar em oposição às formas curtas da canção romântica e do soneto parnasiano, comparece com força no livro. III.O livro expressa uma visão de mundo pessimista, que não dá margens à esperança, pelo fato de ter sido escrito nos anos finais da Segunda Guerra Mundial.

08. (UCS 2015 – Inverno) No “Soneto do amor total”, de Vinicius de Moraes, o sujeito poético declara seu amor, mesclando sentimentos e desejos. Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade

Está correto apenas o que se afirma em: a) I.

b) II.

c) III.

d) I e II.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante E te amo além, presente na saudade Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante

e) II e III.

07. (UPF 2016 – Verão) Leia o poema: Amo-te como um bicho, simplesmente De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente

Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. O céu cintila sobreflores úmidas. Vozes na mata, e o maior amor. Só, na noite, seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe. Onde é tudo belo e fantástico, só, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e voltar paraonde é tudo belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe.

E de te amar assim, muito e amiúde É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude Fonte: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor. p. 293.

Embora tenham sido compostos no período Modernista, os versos acima retomam um traço característico do Romantismo, qual seja a) o amor sensual e físico, sem nenhuma idealização. b) o amor como elemento de ligação entre o homem e a natureza. c) a proximidade entre o amor e a morte, alicerçada no sentimentalismo. d) o amor como motivo de estabilidade emocional para os humanos. e) a atenção à forma, de modo objetivo e racional. 09. (UCS 2016 – Verão) Os excertos a seguir são de Cecília Meireles e Carpinejar, respectivamente. “Minhas mãos ainda estão molhadas do azul das ondas entreabertas, e a cor que escorre dos meus dedos colore as areias desertas”.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE Nova canção do exílio

Considere as afirmações abaixo em relação ao poema “Nova canção do exílio”, de Carlos Drummond de Andrade. I.O poema retoma, de forma intertextual, o conhecido texto da “Canção do exílio”, do poeta romântico Gonçalves Dias. II. A estrutura repetitiva do poema deve-se, exclusivamente, à influência do texto de Gonçalves Dias, uma vez que a repetição não é um procedimento comum no autor de A rosa do povo. III. O exílio a que se refere o título do poema assume ao longo do texto uma dimensão que ultrapassa o aspecto geográfico, assumindo um caráter existencial.

(MEIRELES, 2000, p. 27).

“A matilha dos filhos fareja o sonho inacabado, perseguindo tua lapela castanha, o açúcar do linho, olor de café aquecido”. (CARPINEJAR, 2008, p. 58-59).

Em ambas as composições, os versos acima revelam que o sujeito lírico tem do mundo uma percepção a) onírica. b) sentimental. c) racional. d) sensorial. e) emotiva.

Está correto apenas o que se afirma em: a) I. b) II. c) I e II. d) I e III. e) II e III.

10. (ENEM 2016 – 2ª aplicação) Leia:

[66]


[Literatura II] Do amor à pátria

poética. No fragmento, demonstra um(a)

São doces os caminhos que levam de volta à pátria. Não à pátria amada de verdes mares bravios, a mirar em berço esplêndido o esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a uma outra mais íntima, pacífica e habitual – uma cuja terra se comeu em criança, uma onde se foi menino ansioso por crescer, uma onde se cresceu em sofrimentos e esperanças plantando canções, amores e filhos ao sabor das estações.

a

expressividade

lírica

a) defesa da esperança como forma de superação das atrocidades da guerra. b) desejo de resistência às formas de opressão e medo produzidas pela guerra. c) olhar pessimista das instituições humanas e sociais submetidas ao conflito armado. d) exortação à solidariedade para a reconstrução dos espaços urbanos bombardeados. e) espírito de contestação capaz de subverter a condição de vítima dos povos afetados.

MORAES, V. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987.

O nacionalismo constitui tema recorrente na literatura romântica e na modernista. No trecho, a representação da pátria ganha contornos peculiares porque

12. (ENEM 2015) Leia os versos:

a) o amor àquilo que a pátria oferece é grandioso e eloquente. b) os elementos valorizados são intimistas e de dimensão subjetiva. c) o olhar sobre a pátria é ingênuo e comprometido pela inércia. d) o patriotismo literário tradicional é subvertido e motivo de ironia. e) a natureza é determinante na percepção do valor da pátria.

Carta ao Tom 74 Rua Nascimento Silva, cento e sete Você ensinando pra Elizete As canções de canção do amor demais Lembra que tempo feliz Ah, que saudade, Ipanema era só felicidade Era como se o amor doesse em paz Nossa famosa garota nem sabia A que ponto a cidade turvaria Esse Rio de amor que se perdeu Mesmo a tristeza da gente era mais bela E além disso se via da janela Um cantinho de céu e o Redentor É, meu amigo, só resta uma certeza, É preciso acabar com essa tristeza É preciso inventar de novo o amor

11. (ENEM 2016 – 2ª aplicação) Leia: Anoitecer A Dolores É a hora em que o sino toca, mas aqui não há sinos; há somente buzinas, sirenes roucas, apitos aflitos, pungentes, trágicos, uivando escuro segredo; desta hora tenho medo. [...] É a hora do descanso, mas o descanso vem tarde, o corpo não pede sono, depois de tanto rodar; pede paz – morte – mergulho no poço mais ermo e quedo; desta hora tenho medo. Hora de delicadeza, agasalho, sombra, silêncio. Haverá disso no mundo? É antes a hora dos corvos, bicando em mim, meu passado, meu futuro, meu degredo; desta hora, sim, tenho medo.

MORAES, V.; TOQUINHO. Bossa Nova, sua história, sua gente. São Paulo: Universal; Philips,1975 (fragmento).

O trecho da canção de Toquinho e Vinícius de Moraes apresenta marcas do gênero textual carta, possibilitando que o eu poético e o interlocutor a) compartilhem uma visão realista sobre o amor em sintonia com o meio urbano. b) troquem notícias em tom nostálgico sobre as mudanças ocorridas na cidade. c) façam confidências, uma vez que não se encontram mais no Rio de Janeiro. d) tratem pragmaticamente sobre os destinos do amor e da vida citadina. e) aceitem as transformações ocorridas em pontos turísticos específicos. 13. (PUC 2016 – Verão) Sobre Carlos Drummond de Andrade, é correto afirmar:

ANDRADE, C. D. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 2005 (fragmento).

a) É autor de versos cujos temas, retirados do quotidiano, expressam a dolorosa situação do homem, que, mesmo entre tantos outros, continua sozinho no mundo.

Com base no contexto da Segunda Guerra Mundial, o livro A rosa do povo revela desdobramentos da visão

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[Literatura II] b) Pertence a uma geração de representativos poetas brasileiros como Manoel Bandeira, Mário de Andrade e Raimundo Corrêa. c) É considerado um poeta simbolista porque tematiza as relações entre o mundo real e a fantasia do homem contemporâneo. d) Publicou também as obras Vou me embora pra Pasárgada e A verdadeira arte de viajar. e) Foi autor de uma poética extensa e escreveu um único romance, intitulado Mar morto.

[...] Na outra noite me disse: “A morte leva a gente. Mas os retratos são de natureza mais forte, além de serem mais exatos.

14. (UPF 2011 – Verão) Lei o soneto:

Depois que estejas morta, um dia, tu, que és só desprezo e ternura, saberás que ainda te vigia meu olhar, nesta sala escura.

Quem tiver tentado destruí-los, por mais que os reduza a pedaços, encontra os seus olhos tranquilos mesmo rotos, sobre os seus passos.

Soneto de Despedida Uma lua no céu apareceu Cheia e branca; foi quando, emocionada A mulher a meu lado estremeceu E se entregou sem que eu dissesse nada.

Em cada meia-noite em ponto, direi o que viste e o que ouviste. Que eu – mais que tu – conheço e aponto quem e o que te deixou tão triste.”

Larguei-as pela jovem madrugada Ambas cheias e brancas e sem véu Perdida uma, a outra abandonada Uma nua na terra, outra no céu.

Com base na leitura do poema, preencha os parênteses com V para verdadeiro e F para falso. ( ) O retrato tem uma determinada hora para dialogar com o Eu poético, primeira voz no poema. ( ) O leitor pode ser levado, pelo retrato, a pensar sobre a brevidade da vida. ( ) O retrato é uma espécie de duplo ameaçador do Eu poético. ( ) O poema sugere que o retrato é mais duradouro do que a vida. ( ) O retrato suscita terror na alma do Eu poético.

Mas não partira delas; a mais louca Apaixonou-me o pensamento; dei-o Feliz - eu de amor pouco e vida pouca Mas que tinha deixado em meu enleio Um sorriso de carne em sua boca Uma gota de leite no seu seio. O soneto transcrito acima pode ser tomado como exemplo da ______________ de autoria de ___________________. A alternativa que completa corretamente as lacunas do texto anterior é:

15. (PUC RS 2011 – Verão) A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é: a) V – V – F – V – F c) F – V – V – V – F e) V – F – V – F – V

a) poesia erótica - Carlos Drummond de Andrade b) poesia erótica - Vinícius de Moraes c) poesia religiosa - Carlos Drummond de Andrade d) poesia erótica - Jorge de Lima e) poesia religiosa - Jorge de Lima

b) V – F – F – V – V d) F – V – V – F – V

16. (PUC RS 2011 – Verão) No poema “Retrato falante”, de Cecília Meireles, percebe-se I. a retomada de um tema fantástico, que é a representação do sujeito através da sombra, do reflexo, da fotografia ou do sósia. II. um Eu poético sugerindo que o retrato falante é tão raro quanto a felicidade. III. um retrato que, de modo coercitivo, impele o Eu poético a ter uma experiência triste.

Para responder às questões 15 e 16, leia o trecho do poema “Retrato falante”, de Cecília Meireles, e as afirmativas. “Não há quem não se espante, quando mostro o retrato desta sala, que o dia inteiro está mirando, e à meia-noite em ponto fala.

A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são: a) I, apenas. c) I e III, apenas. e) I, II e III.

Cada um tem sua raridade: selo, flor, dente de elefante. Uns tem até felicidade! Eu tenho o retrato falante

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b) I e II, apenas. d) II e III apenas.


[Literatura II]

GABARITO UNIDADE 2.2 01. E 08. C 15. A

02. C 09. D 16. B

03. C 10. B

04. E 11. C

05. A 12. B

06. D 13. A

Couto. Nesses dois textos, com relação ao universo feminino em seu contexto doméstico, observa-se que 07. D 14. B

a) o desejo sexual é entendido como uma fraqueza moral, incompatível com a mulher casada. b) a mulher tem um comportamento marcado por convenções de papéis sexuais. c) à mulher cabe o poder da sedução, expresso pelos gestos, olhares e silêncios que ensaiam. d) a mulher incorpora o sentimento de culpa e age com apatia, como no mito bíblico da serpente. e) a dissimulação e a malícia fazem parte do repertório feminino nos espaços público e íntimo.

UNIDADE 2.3 – MODERNISMO 2ª FASE – ROMANCE DE 30 01. (UNISC 2013 – Verão) A protagonista de Gabriela, cravo e canela é uma mulher anacrônica, pois escolhe trilhar um caminho que rompe com os parâmetros da sociedade da sua época. Do mesmo autor, que personagem também pode ser considerada à frente de seu tempo?

03. (UNIFRA 2014 – Verão) Assinale a alternativa incorreta em relação à obra O Tempo e o Vento , de Erico Veríssimo.

a) Teresa, em Teresa Batista cansada de guerra. b) Lina, em Iaiá Garcia. c) Rita Baiana, em O cortiço. d) Diadorim, em Grande sertão: veredas. e) Sinhá Vitória, em Vidas secas.

a) A obra é composta pela trilogia: O Continente; O Retrato e o Arquipélago. b) O Tempo e o Vento narra a saga do Rio Grande do Sul, desde suas origens, em meados do século XVIII, até o século XX. c) O Arquipélago é a primeira parte da trilogia em cujo enredo se destaca a personagem Ana Terra. d) o núcleo da narrativa é a história das famílias Terra e Cambará que, unidas, representam a saga do povo sulrio-grandense. e) O Retrato é a segunda parte da trilogia e conta a história de Rodrigo Terra Cambará.

02. (ENEM 2015 – Segunda aplicação) Leia: TEXTO I Quem sabe, devido às atividades culinárias da esposa, nesses idílios Vadinho dizia-lhe "Meu manuê de milho verde, meu acarajé cheiroso, minha franguinha gorda", e tais comparações gastronômicas davam justa idéia de certo encanto sensual e caseiro de dona Flor a esconder-se sob uma natureza tranqüila e dócil. Vadinho conhecia-lhe as fraquezas e as expunha ao sol, aquela ânsia controlada de tímida, aquele recatado desejo fazendo-se violência e mesmo incontinência ao libertar-se na cama. AMADO, J. Dona Flor e seus dois maridos. São Paulo: Martins, 1966.

04. (UCS 2015 – Inverno) A obra Vidas Secas foi publicada em 1938 e focaliza o percurso de uma família de retirantes da seca. Leia o trecho abaixo, em que a narração captura as reflexões do personagem Fabiano: Indispensável os meninos entrarem no bom caminho, saberem cortar mandacaru para o gado, consertar cercas, amansar brabos. Precisavam ser duros, virar tatus. Se não calejassem, teriam o fim de seu Tomás da bolandeira. Coitado. Para que lhe servira tanto livro, tanto jornal? Morrera por causa do estômago doente e das pernas fracas.

TEXTO II As suas mãos trabalham na braguilha das calças do falecido. Dulcineusa me confessou mais tarde: era assim que o marido gostava de começar as intimidades. Um fazer de conta que era outra coisa, a exemplo do gato que distrai o olhar enquanto segura a presa nas patas. Esse o acordo silencioso que tinham: ele chegava em casa e se queixava que tinha um botão a cair. Calada, Dulcineusa se armava dos apetrechos da costura e se posicionava a jeito dos prazeres e dos afazeres.

Fonte: RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 115. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011. p. 25.

A partir do trecho lido, assinale a alternativa na qual melhor se percebem as características do projeto literário do romance de 30. a) Retratar a realidade regional, em seus elementos sociais, por meio da configuração de personagens. b) Mostrar a realidade de maneira científica, sustentando a visão do homem, como resultado de características hereditárias e do meio. c) Criar uma nova identidade nacional, por meio do elogio aos valores heroicos do homem rural.

COUTO, M. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.

Tema recorrente na obra de Jorge Amado, a figura feminina aparece, no fragmento, retratada de forma semelhante à que se vê no texto do moçambicano Mia

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[Literatura II] d) Explorar a tensão entre a cultura livresca e a sabedoria popular, valorizando esta última. e) Idealizar o mundo natural e bucólico.

a) “Até os dezoito anos gastei muita enxada ganhando cinco tostões por doze horas de serviço”. (RAMOS, 1977, p. 13). b) “A cerca ainda estava no ponto em que eu a tinha encontrado no ano anterior. Mendonça forcejava por avançar, mas continha-se; eu procurava alcançar os limites antigos, inutilmente”. (RAMOS, 1977, p. 30). c) “Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las”. (RAMOS, 1977, p. 37). d) “Resolvi estabelecer-me aqui na minha terra, município de Viçosa, Alagoas, e logo planeei adquirir a propriedade S. Bernardo, onde trabalhei, no eito, com salário de cinco tostões”. (RAMOS, 1977, p. 15). e) “No outro dia, cedo, ele *Padilha+ meteu o rabo na ratoeira e assinou a escritura”. (RAMOS, 1977, p. 24).

05. (UPF 2016 – Verão) Em Um certo Capitão Rodrigo, de Érico Veríssimo, quando Rodrigo Cambará avista pela primeira vez Bibiana, ela se encontra no cemitério, junto a seus pais, visitando o túmulo da avó, Ana Terra. Ao final da narrativa, o leitor encontra Bibiana, outra vez, no cemitério, agora junto aos seus filhos pequenos, visitando o túmulo do Capitão Rodrigo. A circularidade dessas cenas no cemitério, dispostas no início e no final da história, reforçam, em relação à figura de Bibiana, os traços simbólicos do(a) _____________ e da_____________ , que a crítica destaca nas grandes personagens femininas de O tempo e o vento. É por meio desses traços que Bibiana, assim como sua avó, Ana Terra, se contrapõem a um mundo dominado pelos homens e que se encontra continuamente transfigurado pela violência.

08. (UCS 2016 – Verão) Em seu esforço para dar sentido a si mesmo e ao passado, o relato de Paulo Honório, em São Bernardo, ganha nuances psicológicas e aproxima-se ao de outro narrador-protagonista muito famoso na Literatura Brasileira: Bentinho, o Dom Casmurro, criado por Machado de Assis na obra homônima. Os trechos a seguir pertencem aos dois romances, respectivamente, e referem-se à relação matrimonial dos protagonistas.

Assinale a alternativa cujas informações preenchem corretamente as lacunas do enunciado. a) permanência / memória. b) luto / mortificação. c) melancolia / desesperança. d) passagem / destruição. e) religiosidade / contrição.

- “O que eu dizia era simples, direto, e procurava debalde em minha mulher concisão e clareza. Usar aquele vocabulário, vasto, cheio de ciladas, não me seria possível. E se ela tentava empregar a minha linguagem resumida, matuta, as expressões mais inofensivas e concretas eram para mim semelhantes às cobras: faziam voltas, picavam e tinham significação venenosa”. (RAMOS, 1977, p. 141). [...]

06. (UPF 2016 – Inverno) A narrativa Um certo Capitão Rodrigo integra o volume _______________, da trilogia O tempo e o vento, obra maior de Érico Veríssimo, que cobre um período de ____________ da formação política e social do Rio Grande do Sul, com destaque para as diversas guerras que marcaram a história do povo gaúcho. A guerra representada em Um certo Capitão Rodrigo, e que acaba vitimando o protagonista, ficou conhecida como _______________.

– “O que estragou tudo foi esse ciúme, Paulo”. (RAMOS, 1977, p. 147).

Assinale a alternativa cujas informações preenchem corretamente as lacunas do enunciado.

- “Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua e dissimulada” (ASSIS, 1988, p. 46).

a) O continente / 100 anos / Guerra do Paraguai. b) O retrato / 200 anos / Revolução Farroupilha. c) O arquipélago / 300 anos / Guerra do Paraguai. d) O retrato / 100 anos / Revolução Federalista. e) O continente / 200 anos / Revolução Farroupilha.

– “Pois até os defuntos! Nem os mortos escapam aos seus ciúmes!” (ASSIS, 1988, p. 145). Assinale e alternativa que melhor descreve o clima que envolve os narradores, em suas relações amorosas, nos romances mencionados.

07. (UCS 2016 – Verão) No romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, a aquisição da fazenda São Bernardo pelo narrador-protagonista, Paulo Honório, ilustra o capitalismo predatório, sistema econômico que prima pelo acúmulo de capital a qualquer custo. A citação que melhor caracteriza esse sistema econômico é:

a) Sentimento de inferioridade ante os outros homens. b) Desconfiança em relação à figura feminina. c) Sentimento de revolta. d) Descrença na instituição do casamento. e) Desejo de colocar à prova a fidelidade alheia.

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[Literatura II] Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a esfregar as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscouse no tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto e levou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos traseiros e inutilizou uma perna de Baleia, que se pôs a latir desesperadamente. (...) Dirigiu-se ao copiar, mas temeu encontrar Fabiano e afastou-se para o chiqueiro das cabras. Demorou-se aí um instante, meio desorientada, saiu depois sem destino, aos pulos.

09. (UCS 2011 – Verão) O texto que segue, refere-se à geração do período entre 1930 e 1945, da literatura brasileira. A importância da renovação cultural provocada pelo _______ só pode ser bem entendida quando confrontada com a situação dos primeiros vinte anos deste século. (...) Destaca-se na _______, o surgimento de escritores interessados na análise de problemas sociais de determinadas áreas do Brasil, sobretudo do ________. Os temas mais frequentes passam a ser: o drama das secas, as desigualdades sociais, a decadência da aristocracia rural, o cangaço, a formação do proletariado. O romance é visto como um valioso meio de análise _______ e os escritores que mais se destacam são Graciliamo Ramos, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, José Américo de Almeida e José Lins do Rego. ](In: TUFANO, Douglas. Estudos de literatura brasileira. 4 ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 1988. p. 300. Texto adaptado.)

11. Na famosa cena da morte de Baleia, personagem do romance _________, de _________, é nítida a _________ da cadela numa cena extremamente _________.

Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas do texto.

a) O quinze– Raquel de Queirós – personificação – vívida b) Vidas secas– Graciliano Ramos – humanização – realista c) O quinze– Graciliano Ramos – alegorização – violenta d) Vidas Secas– Graciliano Ramos – metaforização – sutil e) O quinze– Raquel de Queirós – simbolização – hostil

a) cientificismo, poesia, Sudeste, psicológica b) modernismo, prosa, Sul, existencialista c) modernismo, prosa, Nordeste, social d) cientificismo, poesia, Sudeste, cultural e) modernismo, prosa, Nordeste, filosófica 10. (UPF 2017 – Verão) O foco narrativo do(a) _________________, adotado por Graciliano Ramos, em Vidas secas, revela-se uma escolha estratégica, por parte do autor, no sentido de __________ a distância entre o leitor urbano e o universo das diferentes personagens, em cujas mentes o discurso localiza, alternadamente, o leitor.

12. (UNIFRA 2011 – Verão) Sobre Erico Veríssimo é incorreto afirmar que a) é o autor de Fogo Morto, no qual retrata uma sociedade em decadência. b) Clarissa é seu romance de estreia na Literatura Brasileira. c) é o autor da trilogia O Tempo e o Vento, composta por O Continente, O Retrato e O Arquipélago. d) em parte de seus romances, que engloba Música ao Longe, Caminhos Cruzados e Olhai os lírios do campo, predomina a temática urbana e o retrato de personagens como representantes medianos da pequena burguesia gaúcha. e) é o autor de Incidente em Antares, romance no qual retoma a história da formação histórica do Rio Grande do Sul.

Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas da afirmação anterior. a) narrador onisciente neutro / ampliar. b) “eu” como testemunha / anular. c) narrador onisciente neutro / reduzir. d) “eu” como testemunha / ampliar. e) onisciência seletiva múltipla / reduzir.

(PUC RS 2017 – Verão) Para responder à questão 11, leia a passagem a seguir, referente a uma marcante personagem da literatura brasileira, e preencha as lacunas do texto relacionado ao excerto.

13. (UFSC 2011 – adaptada) TEXTO Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio

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[Literatura II] apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitória mandou os meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha, concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, realizou somas e diminuições. No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as operações de sinha Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros. Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria! O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à-toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher, provavelmente devia ser ignorância da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto, sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra. O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo. Na porta, virando-se, enganchou as rosetas das esporas, afastou-se tropeçando, os sapatões de couro cru batendo no chão como cascos.

V - Entre o patrão e Fabiano, em vez de acordo profissional estabelecido em condições de equilíbrio de poder, parece existir uma relação de senhor e escravo, sugerida nos termos “branco” (linha 07), “negro” (linha 09), “carta de alforria” (linha 09) e “amo” (linha 16). VI - Na linha 10 e 11, a expressão “baixou a pancada” sugere que Fabiano deseja agredir o patrão e o faz na imaginação, mas acaba descarregando sua agressividade contida na mulher, culpando-a pela divergência nas contas. VII - No parágrafo final, a imagem de Fabiano deixando a sala é de submissão completa, na qual transparece importante elemento do romance, a animalização, representada aqui pela comparação dos sapatos do vaqueiro a cascos. a) II, V e VII d) V, VI e VI

b) I, II, III e V e) I, II, V e VII

c) todas

GABARITO UNIDADE 2.2 ROMANCE DE 30 01. A 08. A

02. B 09. C

03. C 10. E

04. A 11. B

05. A 12. A

06. E 13. A

07. C

UNIDADE 2.3 – PÓS-MODERNISMO 01. (ENEM 2011) Leia os textos: TEXTO I O meu nome é Severino, não tenho outro de pia. Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, deram então de me chamar Severino de Maria; como há muitos Severinos com mães chamadas Maria, fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias, mas isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia, por causa de um coronel que se chamou Zacarias e que foi o mais antigo senhor desta sesmaria. Como então dizer quem fala ora a Vossas Senhorias?

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 58. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 1986. p. 92-94.

Considerando a leitura do texto e do romance Vidas secas, bem como o contexto em que a obra foi produzida, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S). I - Sinha Vitória era mais inteligente que Fabiano, mas enganava-se nas contas, por desconhecer o conceito de juros; assim, a cada vez que Fabiano acertava as contas com o patrão, este precisava explicar-lhe pacientemente porque os resultados diferiam. II - Da mesma forma que José Lins do Rego, Jorge Amado e outros prosadores da segunda fase do Modernismo brasileiro, Graciliano Ramos faz, no romance, uma denúncia de desigualdade social. III - O discurso indireto livre, utilizado no segundo e no quarto parágrafos do texto, visa mostrar ao leitor o que Fabiano pensa, mas que não chega a verbalizar, tal o seu temor pelo patrão. IV - Pela oposição entre os instrumentos auxiliares da matemática – o papel e as sementes – Graciliano deixa evidente que, apesar de o patrão e de Fabiano pertencerem a universos culturais diversos, constrói-se entre eles uma relação de igualdade de forças.

MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1994 (fragmento).

TEXTO II João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o Capibaribe, também segue no caminho

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[Literatura II] do Recife. A autoapresentação do personagem, na fala inicial do texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços biográficos são sempre partilhados por outros homens.

ainda te escrevo: flor! (Te escrevo: flor! Não uma flor, nem aquela flor-virtude — em disfarçados urinóis). Flor é a palavra flor; verso inscrito no verso, como as manhãs no tempo. Flor é o salto da ave para o voo: o salto fora do sono quando teu tecido se rompe; é uma explosão posta a funcionar, como uma máquina, uma jarra de flores.

SECCHIN, A. C.João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999 (fragmento).

Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I) e na análise crítica (Texto II), observa-se que a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para um problema social expresso literariamente pela pergunta “Como então dizer quem fala / ora a Vossas Senhorias?“. A resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da a) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-narrador. b) construção da figura do retirante nordestino como um homem resignado com a sua situação. c) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição. d) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta, em sua crise existencial. e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.

(MELO NETO, J.C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997)

A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de a) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados. b) um urinol, uma referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX. c) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética. d) uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pósRevolução Industrial. e) um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.

02. (UCS 2015 – Verão) Leia as afirmações feitas a partir da obra Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. I A peça, em forma de poema, apresenta a história de um dos tantos severinos de Maria, filhos de Zacarias, que foge da morte que os abate antes da velhice. II A trajetória do migrante nordestino em busca de um mundo melhor permeia o enredo: por onde passa, encontra miséria, morte, pobreza, sofrimento. III O título é um exemplo de poesia engajada que retrata a dura realidade da população nordestina. IV O nascimento de uma criança pode representar a esperança de dias melhores; mesmo com tantas adversidades, há uma quebra na trajetória sofrida do personagem.

04. (PUC RS 2017 – Verão) Leia o trecho a seguir, retirado da obra Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, e compare-o com o quadro Os retirantes , de Candido Portinari.

Das proposições acima,

– Desde que estou retirando só a morte vejo ativa, só a morte deparei e às vezes até festiva; só a morte tem encontrado quem pensava encontrar vida, e o pouco que não foi morte foi de vida Severina

a) apenas I e II estão corretas. b) apenas I e IV estão corretas. c) apenas II, III e IV estão corretas. d) apenas III e IV estão corretas. e) I, II, III e IV estão corretas.

03. (ENEM 2016) Leia: Antiode Poesia, não será esse o sentido em que

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[Literatura II] a) compara o som das folhas do canavial com o da cigarra. b) põe em relevo a rusticidade da plantação de cana de açúcar. c) destaca o som do vento que passa pela plantação. d) associa o som do canaviaI com o amassar das folhas de papel. e) faz do vento a navalha que corta o canavial. 06. (UNIFRA 2010 – Inverno) De um modo geral, as personagens de ___________ representam a vivência alienada dos centros urbanos e certa inadaptação ao mundo, o que se revela por uma escrita marcada pelo fluxo da consciência e subjetividade, sendo o conto __________ um exemplo. Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas. Todas as alternativas apresentam afirmações corretas, EXCETO:

a) Jorge Amado; “A morte e a morte de Quincas Berro D´Água”. b) João Simões Lopes Neto; “O mate do João Cardoso”. c) Manuel Bandeira; “Pneumotórax”. d) Caio Fernando Abreu; “Uma ideia confusa”. e) Clarice Lispector; “Amor”.

a) Severino serve de metonímia para retirantes, tema que é referido tanto no poema quanto no título do quadro. b) O tom sombrio do quadro revela o tema da morte a partir de elementos como o aspecto físico dos personagens, a aridez em volta e os pássaros negros que os acompanham. c) O tratamento social conferido aos temas da seca, da fome e da morte é recorrente em romances, poemas, quadros e filmes brasileiros a partir dos anos 30. d) No poema, há a oposição constante entre vida e morte, o que vai de encontro à temática abordada no quadro, já que, na representação da família, as crianças mostram que a vida é mais forte do que a morte. e) A vida severina aparece como um contraponto à morte, embora não seja necessariamente mais positiva do que ela.

07. (UNIFRA 2015 – Verão) Em A hora da estrela, de Clarice Lispector, a história é contada por um personagem masculino, ________________. Ele é simultaneamente narrador, personagem e criador da narrativa. Assim, pode-se dizer que há uma narração em ________________, nas passagens em que ele participa da trama que conduz. E ocorre a ______________ nos momentos em que ele apenas conta a trajetória de Macabéa, como escritor e narrador. Assinale a alternativa que completa as lacunas do trecho acima com o nome do personagem e o ponto de vista do narrador,respectivamente. a) Olímpico de Jesus – 1ª pessoa – 3ª pessoa b) Raimundo Silveira – 1ª pessoa – 1ª pessoa c) Olímpico de Jesus – 3ª pessoa – 3ª pessoa d) Rodrigo S.M. – 1ª pessoa – 3ª pessoa e) Rodrigo S.M. – 1ª pessoa – 1ª pessoa

05. (ITA 2015) O poema abaixo, de João Cabral de Melo Neto, integra o livro A escola das facas. A voz do carnaval Voz sem salva da cigarra, do papel seco que se amassa,

08. (UPF 2016 – Inverno) Em relação à obra Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, apenas é incorreto afirmar que:

de quando se dobra o jornal: assim canta o canavial,

a) Reúne contos de vários tipos, entre eles o psicológico, o anedótico, o fantástico e o satírico. b) Confere destaque à voz do narrador culto, que permanece distanciado das personagens e preocupado em desvendar a lógica subjacente à ação das crianças, loucos e seres rústicos que povoam os contos. c) Demonstra a preocupação do autor em recriar a linguagem, através de deslocamentos sintáticos e do uso de arcaísmos e neologismos, entre outros recursos.

ao vento que por suas folhas, de navalha a navalha, soa, vento que o dia e a noite toda o folheia e nele se esfola. Sobre o poema é INCORRETO afirmar que a descrição

[74]


[Literatura II] d) Não se trata, apesar do título, do livro de estreia do autor, mas apenas de seu primeiro livro composto unicamente por narrativas curtas. e) Ultrapassa, frequentemente, as fronteiras entre a narrativa e a poesia lírica, através do destaque dado aos aspectos sonoros e melódicos da linguagem.

que você não cria galinhas-d‘angola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não... — me deu resposta: — Eu gosto muito de mudar... [...] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. [...] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.

09. (ENEM 2015 – Segunda aplicação) Leia: Famigerado Com arranco, calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar. O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava: E, pá: — "Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... fazmegerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?

ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento). Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho. b) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agregado — em proprietário de terra. c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra. d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente. e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.

ROSA, J. G. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. A linguagem peculiar é um dos aspectos que conferem a Guimarães Rosa um lugar de destaque na literatura brasileira. No fragmento lido, a tensão entre a personagem e o narrador se estabelece porque a) o narrador se cala, pensa e monologa, tentando assim evitar a perigosa pergunta de seu interlocutor. b) o sertanejo emprega um discurso cifrado, com enigmas, como se vê em “a conversa era para teias de aranha” c) entre os dois homens cria-se uma comunicação impossível, decorrente de suas diferenças socioculturais. d) a fala do sertanejo é interrompida pelo gesto de impaciência do narrador, decidido a mudar o assunto da conversa. e) a palavra desconhecida adquire o poder de gerar conflito e separar as personagens em planos incomunicáveis.

11. (ENEM 2016) Leia: A partida de trem Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bemvestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto – e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava

10. (ENEM 2011) Leia o texto: Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é

[75]


[Literatura II] que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho. Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou: – A senhora deseja trocar de lugar comigo? Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini: – É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?

protagonista como, também, sua relutância em anunciar a morte de Macabéa ao leitor. b) Ao final de sua agonia, Macabéa profere uma última e enigmática frase, “-Quanto ao futuro”, justamente um dos doze títulos alternativos que figuram no início do romance, junto ao título A hora da estrela. c) Por amarga ironia, Macabéa, que nunca despertara atenção maior das outras pessoas ao longo de toda a sua vida, encontra a sua “hora de estrela” no momento de morrer, ao se ver cercada por vários desconhecidos que espiam seu corpo caído no meio da rua. d) Após o atropelamento, Macabéa se entrega, resignada, à morte, pois em momento algum dera crédito às fantasiosas promessas de felicidade futura que madama Carlota, a cartomante, lhe acabara de fazer. e) A narrativa de Lispector estabelece um diálogo intertextual com o conto “A cartomante”, de Machado de Assis, no qual também há uma personagem que, logo após visitar uma cartomante e receber dela vaticínios auspiciosos, encontra a morte.

LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento).

A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a) a) comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada. b) anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação. c) incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes. d) constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas. e) sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.

GABARITO UNIDADE 2.3 01. C 08. B

02. E 09. E

03. A 10. D

04. D 11. E

05. E 12. D

06. E 13. D

07. D

UNIDADE 3 - LITERATURA CONTEMPORÂNEA

12. (UNIFRA 2016 – Inverno) O romance A Hora da Estrela foi lançado em 1977, ano da morte de Clarice Lispector. É, portanto, um livro da maturidade da autora, no qual se observam algumas preocupações narrativas e temáticas diversas de suas produções anteriores. Sobre isso, é correto afirmar que:

01. (PUC PR 2011) Leia atentamente o poema de Ferreira Gullar. Em seguida analise as afirmações feitas sobre esse texto. O morto e o vivo

a) A personagem principal, Macabéa, ao contrário das outras mulheres clariceanas, representa um símbolo das conquistas feministas nas décadas de 60 e 70. b) Em A Hora da Estrela, a nordestina Macabéa é construída exclusivamente sobre a matriz autobiográfica da autora. c) Nesse romance, não há a suspensão de momentos existencialistas na vida de mulheres aprisionadas pela rotina como mães e donas de casa. d) O narrador Rodrigo S.M. se compadece das agruras vividas pela imigrante Macabéa. e) Ao assumir a temática social, Clarice Lispector abandona, no término de sua carreira, as inquietações existencialistas de seus textos precedentes.

Inútil pedir Perdão dizer que o traz no coração O morto não ouve I. O poema acima faz parte de um grupo de metapoemas, encontrado em Muitas Vozes. II. Os versos curtos apontam para a falta de diálogo entre morto e vivo. III. A disposição dos versos na página remete a um recurso utilizado pelos concretistas. IV. O poema pertence a um grupo de poemas encontrados em Muitas Vozes, que têm a morte como tema. V. O poema trata de uma questão própria dos jovens.

13. (UPF 2017 – Verão) No desfecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector, a personagem Macabéa sofre um atropelamento, e morre. Em relação a esse desfecho, apenas é incorreto afirmar que: a) Após a cena do atropelamento, ao longo de várias páginas, revela-se não apenas a indecisão do narrador, Rodrigo S. M., quanto ao destino que dará à sua

Está(ão) CORRETA(S): a) Somente as afirmações I, II e III.

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[Literatura II] b) Somente as afirmações I e V. c) Somente as afirmações II e V. d) Somente as afirmações IV e V. e) Somente as afirmações III e IV.

memória cala-te já. Peço licença poética Belém capital Pará. Bem, meus prezados senhores dado o avançado da hora errata e efeitos do vinho o poeta sai de fininho.

02. (UNIFRA 2014 – Verão) Leia o poema: Estupor esse súbito não ter esse estúpido querer que me leva a duvidar quando eu devia crer esse sentir-se cair quando não existe lugar aonde se possa ir esse pegar ou largar essa poesia vulgar que não me deixa mentir

(será mesmo com dois esses que se escreve paçarinho?) I. A leitura dos poemas Jogos Florais I e II permite identificar a intertextualidade com a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. II. A grafia inadequada da palavra “passarinho” revela uma inadequação do autor ao sistema de ensino. III. A linguagem irônica do poema é uma das características da poesia da década de 1970, caracterizada pela manifestação de denúncia e de protesto. IV. Ao afirmar que o sabiá como fubá alheiro, pode-se compreender que o eu lírico apresenta uma crítica à política brasileira.

(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 249)

Sobre o autor do poema acima, analise as afirmativas e marque a alternativa correta. a) Leminski dividiu-se entre as duas tendências da poesia produzida nos anos 70: a dos construtivistas, com seu rigor formal, e o lirismo da geração mimeógrafo. b) O tom místico imprime em sua obra um sentimento de aceitação e resignação diante da própria vida, dos sofrimentos e dores. c) Poeta indiscutivelmente simbolista, fez poesia unindo a concisão da linguagem com forte crítica social. d) Percebe-se, nos seus versos, um lado mais clássico, com uma escrita equilibrada e rígida, e um lado puramente romântico. e) Procurou formar um sentimento nacionalista ao incorporar assuntos, povos e paisagens brasileiras na literatura.

Quais estão corretas? a) Apenas I. c) Apenas I, III e IV. e) I, II, III e IV.

b) Apenas II. d) Apenas II, III e IV.

04. (ENEM 2015) Leia o poema de Arnaldo Antunes: da sua memória mil e mui tos out ros ros tos sol tos pou coa pou coa pag amo meu

03. (IMED 2015 Inverno) Leia o texto abaixo, de Cacaso, e analise as afirmações feitas sobre ele: Jogo florais I Minha terra tem palmeiras onde canta o tico-tico Enquanto isso o sabiá vive comendo o meu fubá. Ficou moderno o Brasil ficou moderno o milagre: a água já não vira vinho, vira direto vinagre.

Trabalhando com recursos formais inspirados no Concretismo, o poema atinge uma expressividade que se caracteriza pela

Jogos florais II Minha terra tem Palmares

[77]


[Literatura II] a) interrupção da fluência verbal, para testar os limites da lógica racional. b) reestruturação formal da palavra, para provocar o estranhamento no leitor. c) dispersão das unidades verbais, para questionar o sentido das lembranças. d) fragmentação da palavra, para representar o estreitamento das lembranças. e) renovação das formas tradicionais, para propor uma nova vanguarda poética.

Um dos procedimentos consagrados pelo Modernismo foi a percepção de um lirismo presente nas cenas e fatos do cotidiano. No poema de Adélia Prado, o eu lírico resgata a poesia desses elementos a partir do(a) a) reflexão irônica sobre a importância atribuída aos estudos por sua mãe. b) sentimentalismo, oposto à visão pragmática que reconhecia na mãe. c) olhar comovido sobre seu pai, submetido ao trabalho pesado. d) reconhecimento do amor num gesto de aparente banalidade. e) enfoque nas relações afetivas abafadas pela vida conjugal.

05. (ENEM 2015) Leia o poema de Cacaso: Aquarela O corpo no cavalete é um pássaro que agoniza exausto do próprio grito. As vísceras vasculhadas principiam a contagem regressiva. No assoalho o sangue se decompõe em matizes que a brisa beija e balança: o verde – de nossas matas o amarelo – de nosso ouro o azul – de nosso céu o branco o negro o negro

07. (UNIFRA 2016 – Inverno) Leia o poema a seguir: Eu tão isósceles Você ângulo Hipóteses Sobre o meu tesão Teses Sínteses Antíteses Vê bem onde pises Pode ser meu coração (LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.)

Situado na vigência do Regime Militar que governou o Brasil, na década de 1970, o poema de Cacaso edifica uma forma de resistência e protesto a esse período, metaforizando

Nesse poema, são reconhecíveis as características da poesia de Paulo Leminski:

seguintes

a) A visão desencantada do destino humano b) O recurso do humor e a influência da concisão do HaiKai c) A idealização da figura feminina d) A herança do concretismo e o engajamento político e) A dissolução entre as fronteiras da prosa e do verso

a) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura. b) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro enjaulado. c) o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com a Ditadura. d) o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do medo e da violência. e) as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento do poder armado.

08. (ENEM 2016) Leia: Casamento Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como “este foi difícil” “prateou no ar dando rabanadas” e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.

06. (ENEM 2015 – 2ª aplicação) Leia o poema: Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: "Coitado, até essa hora no serviço pesado". Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo. PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991

PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991.

[78]


[Literatura II] – Sexo não tem feminino? – Não. – Só tem sexo masculino? – É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e feminino. – E como é o feminino de sexo? – Não tem feminino. Sexo é sempre masculino. – Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e feminino. – O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra “sexo” é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino. – Não devia ser “a sexa”? [...] – A palavra é masculina. – Não. “A palavra” é feminino. Se fosse masculina seria “O pai…” – Chega! Vai brincar, vai. O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta: – Temos que ficar de olho nesse guri… – Por quê? – Ele só pensa em gramática.

O poema de Adélia Prado, que segue a proposta moderna de tematização de fatos cotidianos, apresenta a prosaica ação de limpar peixes na qual a voz lírica reconhece uma a) expectativa do marido em relação à esposa. b) imposição dos afazeres conjugais. c) disposição para realizar tarefas masculinas. d) dissonância entre as vozes masculina e feminina. e) forma de consagração da cumplicidade no casamento. 09. (PUC RS 2017 – Verão) Leia o poema As mortes sucessivas, de Adélia Prado, e analise as afirmativas. Quando minha irmã morreu eu chorei muito e me consolei depressa. Tinha um vestido novo e moitas no quintal onde eu ia existir. Quando minha mãe morreu Me consolei mais lento. Tinha uma perturbação recém-achada: meus seios conformavam dois montículos e eu fiquei muito nua, cruzando os braços sobre eles é que eu chorava. Quando meu pai morreu Nunca mais me consolei. Busquei retratos antigos, procurei conhecidos, parentes, que me lembrassem sua fala, seu modo de apertar os lábios e ter certeza. Reproduzi o encolhido do seu corpo em seu último sono e repeti as palavras que ele disse quando toquei seus pés: deixa, tá bom assim . Quem me consolará desta lembrança? Meus seios se cumpriram e as moitas onde existo são pura sarça ardente de memória.

VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Apresentação e seleção de Ana Maria Machado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 53-54.

Considerando o texto, o livro Comédias para se ler na escola e a biografia de seu autor, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S). I. Ana Maria Machado, ao fazer a apresentação do livro de Luis Fernando Verissimo, diz que o autor tem “uma admirável economia no uso das palavras – tudo é enxuto, nada sobra” (p. 14). Essa característica do estilo do autor pode ser percebida no texto acima. II. A crônica “Sexa”, que integra a parte do livro intitulada “De olho na linguagem”, aborda um aspecto gramatical da língua portuguesa – a flexão de gênero – e se organiza em torno da confusão entre gênero gramatical e sexo biológico. III. Existe um contraste entre o título do livro e o seu conteúdo, pois Veríssimo, de forma recorrente, retrata cenas densas de sua infância num tom intimista, carregado de saudosismo e melancolia.

I. O poema apresenta um eu lírico que busca uma aprendizagem frente à morte. II. As transformações do corpo do eu lírico evidenciam uma sucessão de perdas, enfrentadas desde a juventude. III. A lembrança do pai é representada como ferida dolorosa que não tranquiliza o sentimento de falta.

IV. Luis Fernando Veríssimo, filho do escritor gaúcho Erico Veríssimo, pode ser situado na categoria de romancista, como seu pai. V. O pai fica intimidado com o assunto sobre sexo, puxado pelo filho, e desconversa, aproveitando a oportunidade para ensinar gramática ao menino.

A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II, III.

Das afirmativas acima, pode-se dizer que

10. (UFSC 2011 – Adaptada) Leia o texto:

a) apenas I está correta. b) apenas II está correta. c) apenas I e II estão corretas. d) apenas II e V estão corretas. e) I, II e IV estão corretas.

Sexa – Pai… – Hmmm? – Como é o feminino de sexo? [...] – Não tem.

[79]


[Literatura II] 11. (ENEM 2014) Leia os textos:

a) Através do humor e com linguagem simples, marcas próprias das tirinhas, Verissimo traz para debate uma grande questão filosófica: quem somos e para onde vamos. b) A repetição de sentenças negativas reforça o caráter angustiante que a segunda cobra procura comprovar. c) Nesta obra curta, o autor também explora o silêncio. d) A primeira fala da primeira cobra, com o desenrolar da tirinha, revela-se irônica. e) Conhecido pela construção dos diálogos, alguns dos textos narrativos do autor prescindem do narrador, característica também presente na tirinha.

TEXTO I João Guedes, um dos assíduos frequentadores do boliche do capitão, mudara-se da campanha havia três anos. Três anos de pobreza na cidade bastaram para o degradar. Ao morrer, não tinha um vintém nos bolsos e fazia dois meses que saíra da cadeia, onde estivera preso por roubo de ovelha. A história de sua desgraça se confunde com a da maioria dos que povoam a aldeia de Boa Ventura, uma cidadezinha distante, triste e precocemente envelhecida, situada nos confins da fronteira do Brasil com o Uruguai.

13. (ENEM 2016) Leia: MARTINS, C. Porteira fechada. Movimento, 2001 (fragmento).

Porto

Alegre: De domingo

TEXTO II Comecei a procurar emprego, já topando o que desse e viesse, menos complicação com os homens, mas não tava fácil. Fui na feira, fui nos bancos de sangue, fui nesses lugares que sempre dão para descolar algum, fui de porta em porta me oferecendo de faxineiro, mas tava todo mundo escabreado pedindo referências, e referências eu só tinha do diretor do presídio.

— Outrossim? — O quê? — O que o quê? — O que você disse. — Outrossim? — É. — O que que tem? — Nada. Só achei engraçado. — Não vejo a graça. — Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias. — Ah, não é.Aliás, eu só uso domingo. — Se bem que parece uma palavra de segunda-feira. — Não. Palavra de segunda-feira é óbice. — “Ônus. — “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”. — “Resquício” é de domingo. — Não, não. Segunda. No máximo terça. — Mas “outrossim”, francamente… — Qual o problema? — Retira o “outrossim”. — Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás, é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.

FONSECA, R. Feliz Ano Novo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989 (fragmento). A oposição entre campo e cidade esteve entre as temáticas tradicionais da literatura brasileira. Nos fragmentos dos dois autores contemporâneos, esse embate incorpora um elemento novo: a questão da violência e do desemprego. As narrativas apresentam confluência, pois nelas o(a) a) criminalidade é algo inerente ao ser humano, que sucumbe a suas manifestações. b) meio urbano, especialmente o das grandes cidades, estimula uma vida mais violenta. c) falta de oportunidades na cidade dialoga com a pobreza do campo rumo à criminalidade. d) êxodo rural e a falta de escolaridade são causas da violência nas grandes cidades. e) complacência das leis e a inércia das personagens são estímulos à prática criminosa.

(VERÍSSIMO. L.F. Comédias da vida privada. Porto Alegre: LP&M, 1996).

No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa. Esse uso promove o (a) a) marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias da semana. b) tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos formais. c) caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela recorrência de palavras regionais. d) distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com significados poucos conhecidos.

(PUC RS 2015 – Inverno) Para responder à questão 12, tenha como base a tirinha As cobras, de Luis Fernando Veríssimo. 12. Com base na tirinha e no contexto de seu autor, assinale a única alternativa INCORRETA:

[80]


[Literatura II] e) inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por parte de um dos interlocutores do diálogo. 14. (ENEM 2016 – 2ª aplicação) Leia:

sem nenhum aplauso. Perfeita. PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.

Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas, reconhecidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto A diva

Noites do Bogart O Xavier chegou com a namorada mas, prudentemente, não a levou para a mesa com o grupo. Abanou de longe. Na mesa, as opiniões se dividiam. — Pouca vergonha. — Deixa o Xavier. — Podia ser a filha dele. —Aliás, é colega da filha dele. Na sua mesa, o Xavier pegara na mão da moça. —Está gostando? — Pô. Só. — Chocante, né? – disse o Xavier. E depois ficou na dúvida. Ainda se dizia “chocante”? Beberam em silêncio. E ele disse: — Quer dançar? E ela disse, sem pensar: — Depois, tio. E ficaram em silêncio. Ela pensando “será que ele ouviu?”. E ele pensando “faço algum comentário a respeito, ou deixo passar?”. Decidiu deixar passar. Mas, pelo resto da noite aquele “tio” ficou em cima da mesa, entre os dois, latejando como um sapo. Ele a levou em casa. Depois voltou. Sentou com os amigos. — Aí, Xavier. E a namorada? Ele não respondeu.

a) narra um fato real vivido por Maria José. b) surpreende o leitor pelo seu efeito poético. c) relata uma experiência teatral profissional. d) descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora. e) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral. 16. (ENEM 2013 – 2ª aplicação) Leia: Meu povo, meu poema Meu povo e meu poema crescem juntos Como cresce no fruto A árvore nova No povo meu poema vai nascendo Como no canavial Nasce verde o açúcar No povo meu poema está maduro Como o sol Na garganta do futuro Meu povo em meu poema Se reflete Como espiga se funde em terra fértil

VERISSlMO, L. F. O melhor das comédias da vida privada. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

O efeito de humor no texto é produzido com o auxílio da quebra de convenções sociais de uso da língua. Na interação entre o casal de namorados, isso é decorrente

Ao povo seu poema aqui devolvo Menos como quem canta Do que planta

a) do registro inadequado para a interlocução em contexto romântico. b) da iniciativa em discutir formalmente a relação amorosa. c) das avaliações de escolhas lexicais pelos frequentadores do bar. d) das gírias distorcidas intencionalmente na fala do namorado. e) do uso de expressões populares nas investidas amorosas do homem.

FERREIRA GULLAR. Toda poesia. José Olympio: Rio de Janeiro, 2000.

O texto Meu povo, meu poema, de Ferreira Gullar, foi escrito na década de 1970. Nele, o diálogo com o contexto sociopolítico em que se insere expressa uma voz poética que a) precisa do povo para produzir seu texto, mas se esquiva de enfrentar as desigualdades sociais. b) associa o engajamento político à grandeza do fazer poético, fator de superação da alienação do povo. c) afirma que a poesia depende do povo, mas esse nem sempre vê a importância daquela nas lutas de classe. d) reconhece, na identidade entre o povo e a poesia, uma etapa de seu fortalecimento humano e social. e) dilui a importância das contingências políticas e sociais na construção de seu universo poético.

15. (ENEM 2013) Leia: A diva Vamos ao teatro, Maria José? Quem me dera, desmanchei em rosca quinze kilos de farinha, tou podre. Outro dia a gente vamos. Falou meio triste, culpada, e um pouco alegre por recusar com orgulho. TEATRO! Disse no espelho. TEATRO! Mais alto, desgrenhada. TEATRO! E os cacos voaram

GABARITO UNIDADE 3 01. B 08. E 15. B

[81]

02. A 09. E 16. D

03. A 10. C

04. D 11. C

05. D 12. D

06. D 13. B

07. B 14. A


[Literatura II]

[82]


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