InForme Revista
Uma irresistível viagem ao sul do Chile pág. 112
Trabalho Acadêmico válido como Verificação Final - Editoração Eletrônica II - C406D - 2019.1 - Facha Botafogo - Rio de Janeiro
“Estão brincando com esse processo de impeachment”, comentou o relator sobre Crivella pág. 7
48 mulheres são estupradas por hora na República do Congo, na África pág. 44
O último adeus MORRE NIKI LAUDA, LENDA DA FÓRMULA 1 1
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Editorial Caro leitor, A edição da Revista InForme C406D, do 1o semestre de 2019, vem de cara nova e trazendo temas atuais, relevantes e de interesse geral. O projeto, que é desenvolvido na disciplina do 4o período da disciplina Editoração Eletrônica II, traz a proposta de os alunos da FACHA Botafogo desenvolverem uma revista impressa e digital de forma igualitária e ao mesmo tempo diversificado. Ela possui uma extensa carga de cerca de 140 páginas, onde a orientação foi dada pelo professor Gilvan Nascimento, sem contar com nenhum apoio ou intenção financeira. As matérias aqui contidas são produzidas pelos próprios alunos ou foram retiradas de matérias já publicadas em algum veículo de mídia, que tiveram seus créditos inseridos de forma integral, assim como as imagens. É importante afirmar que todo o conteúdo gráfico fora produzido pelos alunos, como a diagramação, o planejamento e a edição, quando necessária.
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Expediente Desenvolvida como projeto acadêmico, você encontrará nesta edição matérias sobre temas diversos ligados às áreas de cidade, política, internacional, sociedade, saúde, cultura, moda, turismo e esporte. Como forma de avaliação, foram mantidos os erros cometidos por eles durante a produção do trabalho. Alunos participantes: Barbara Rudge, Beatriz Azevedo, Brunno de Oliveira, Fernanda Dias, Filipe Brandão, Isabela Carvalho, Jasmine Ferreira, Juan Victor Moraes, Júlia Nascimento, Lucas Henain, Maria Vittoria Trainotti, Mateo Gentili, Pedro Henrique Lira, Rodrigo Portella, Tabata Hellen Macedo e Ygor Willians Rangel. Editores: Beatriz Azevedo beatrizdeazevedo@gmail.com Fernanda dias febrito7@hotmail.com Curso de comunicação social - Jornalismo C406D - Editoração Eletrônica ll Professor Gilvan Nascimento FACHA - Faculdades Integradas Hélio Alonso Rua Muniz Barreto, 51, Botafogo - Rio de Janeiro. www.facha.edu.br
Sumário
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Cidade
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Política
40
Internacional
57
Sociedade
74
Saúde
83
Cultura
99
Moda
108
Turismo
120
Esporte
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E AGORA CRIVELLA?
Midianinja.org
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Impeachment : testemunhas de defesa de Crivella começam a ser ouvidas
g1.com
Brunno Salles e Isabela Carvalho Fonte: g1.com A comissão que analisa o pedido de impeachment do prefeito do Rio começa a ouvir as testemunhas de defesa de Marcelo Crivella, nesta segunda-feira (13), a partir das 10h. O prefeito foi denunciado pela infração político-administrativa por irregularidades nos contratos de empresas de publicidade em pontos de 8
ônibus e relógios de rua, renovados sem previsão e com prejuízo de R$ 8,2 milhões para os cofres públi-
pelo denunciante Fernando Lyra Reys, que estava presente, mas não pôde fazer perguntas. Todos os
‘Estão brincando com processo de impeachment’ cos. Na sexta-feira (10), a comissão ouviu as testemunhas de acusação indicadas
servidores ouvidos afirmaram desconhecer qualquer pedido do prefeito para acelerar contratos para
favorecer empresas. Ta m b é m s e r ã o o u vidas nesta segunda-feira, a subprocuradora-geral Christiana Mariani d a S i l v a Te l l e s e a controladora-geral Márcia Andréa dos Santos Peres, que não compareceram à reunião dos indicados pela acusação. Elas serão ouvidas antes das testemunhas de defesa. Ao todo, deverão ser ouvidas dez testemunhas.
A comissão que analisa o processo de impeachment do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), se reuniu durante quase três horas, mas não ouviu nenhuma das 10 testemunhas esperadas nesta segunda-feira (13). Os 10 servidores que seriam ouvidos faltaram e a Comissão de impeachment suspendeu a sessão. Segundo o relator do processo, vereador Luiz Carlos Ramos Filho (Podemos), a Câmara Municipal foi desrespeitada. "A impressão é a pior possível. É lamentável que a defesa do prefeito Marcelo Crivella fique se utilizando desses artifícios. Está na cara que foi tudo combinado, não é possível que testemunhas vão viajar e as arroladas pela defesa não compareçam sem ter uma orientação por parte da defesa. Esse é o meu pensamento. É um desrespeito com essa Casa Legislativa, estão brincando com esse processo de impeachment". Alberto Sampaio, advogado que defende Crivella no processo,
nega e diz que houve uma coincidência. Para ele, o processo pode ser anulado porque duas testemunhas de acusação - que também faltaram - serão intimadas. Segundo ele, a comissão deveria abrir prazo novamente para a defesa. O presidente da Comissão, Willian Coelho (MDB), acredita que "pode ter sido uma estratégia da defesa", pois o porque o prazo regimental para a conclusão do processo é 4 de julho. Depois disso, os vereadores não podem votar o pedido de impeachment, que teria de ser arquivado. O relator, contudo, garante que o processo será concluído. "É uma oportunidade que a defesa tinha para ofertar à população e esclarecer todos os fatos imputados ao prefeito Marcelo Crivella. Não vão conseguir dessa forma (adiar), vamos dar a devida resposta. Entendemos ser pessoas-chave na elucidação desse processo", diz Ramos.
Discussão e três suspensões
A reunião foi aberta num clima quente. Oposicionistas tentaram anular a sessão da última sexta, quando nove testemunhas de acusação foram chamadas. Somente os três membros da comissão puderam fazer perguntas e a oposição pediu para também fazer parte do interrogatório. Os membros da comissão Willian Coelho (MDB), Luiz Carlos Ramos Filho (Podemos) e Paulo Messina (PROS) - suspenderam a sessão e permitiram que os demais vereadores fizessem pergunta. No entanto, foram surpreendidos com a ausência. A sessão foi transferida para o plenário, à espera das testemunhas, mas ninguém chegou. Ao todo, foram três suspensões até o encontro ser dado por encerrado. "Isso está virando uma brincadeira. Pareceu uma luta de boxe, com três rounds", ironizou Paulo Pinheiro (PSOL).
Agencia Brasil
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Prefeitura do Rio já gastou mais de R$ 135 mil com a reposição de peças na estátua de Noel Rosa
R7.com / odia.com / oglobo.com
O monumento, que mostra o compositor sentado em um bar, sendo servido por um garçom, está desaparecendo aos poucos. A mesa e o encosto da cadeira tinham sumido, mas até então o garçom continuava no lugar, e Noel estava inteiro. Agora na estátua do garçom só sobravam os pés e uma pequena parte das pernas. A figura do sambista ficou sem o braço esquerdo, e também foi roubada a mesa onde ele se apoiava.
Brunno salles e Isabela Carvalho Fonte: g1.com A prefeitura do Rio de Janeiro já gastou mais de R$ 135 mil com a reposição de peças de bronze da estátua em homenagem ao cantor e compositor Noel Rosa, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. E os gastos públicos vão aumentar consideravelmente nos próximos meses para reparar a ação de vândalos no monumento, que teve mais da metade de sua estrutura roubada, nos últimos dias. Segundo a Polícia Civil, as investigações para desvendar os culpados pelo crime estão em andamento. Agentes da 20ª Delegacia 10
Policial (Vila Isabel) analisam imagens de câmeras de segurança instaladas na região para tentar identificar os responsáveis. A Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente informou que está preparando o orçamento e abrirá uma nova licitação para restabelecer o monumento de acordo com o projeto original, feito pelo artista plástico Joás Passos. A obra de arte, localizada no início da rua Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel, retrata uma cena comum na vida de Noel Rosa. O monumento apresenta o músico sentado em uma cadeira de uma mesa de bar, fumando um cigarro e sendo servido por um
garçom. Ao seu lado, uma cadeira vazia serve como atração para quem quer tirar uma foto ao lado do compositor. A escultura faz referência a um dos grandes sambas do ‘Poeta da Vila’: “Conversa de botequim”. Segundo moradores do bairro, na última sexta-feira (12), criminosos levaram o tampão da mesa de Noel e o encosto da cadeira vazia. Alguns dias depois, um braço do compositor também foi roubado. Na última terça-feira (16), foi a vez do garçom praticamente desaparecer. Da obra original, só restaram os pés da mesa, as pernas do garçom, a cadeira sem encosto e um Noel Rosa sem o braço direito.
De acordo com a Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente, neste caso, não há reparo e sim reposição de peças. “Se for manutenção, providencia-se o atendimento por meio do contrato de conservação da gerência de Monumentos e Chafarizes, que cuida atualmente de 1.374 monumentos e chafarizes públicos na cidade do Rio de Janeiro, um dos maiores acervos do País”.
Em nota, o órgão municipal informou que a reposição de peças em bronze, por furto ou vandalismo, não faz parte do contrato anual de conservação. Desta forma, técnicos da secretaria estão fazendo o levantamento para avaliar os problemas e estimar o valor de cada peça que necessite ser refeita. “Assim, cada vez que um monumento é furtado (parcial ou integral), danificado ou vandalizado, é preciso fazer a elaboração de um projeto com previsão orçamentária independente e outras necessidades para a execu-
ção dos reparos, sendo necessária a abertura de licitação para o restauro. Por isso, não há valor estimado do prejuízo com vandalismo de monumentos”, comunicou a secretaria. O contrato de manutenção que está em vigor tem disponível R$ 820 mil para reparos elétricos, hidráulicos, pintura e limpeza de chafarizes e monumentos. Contudo, esse valor não pode ser utilizado para a reposição de peças. Roubos acontecem com frequência A primeira vez que a estrutura de bronze teve partes roubadas foi em
2012. Na ocasião, criminosos furtaram a cadeira em bronze e também um copo que fica sobre a mesa. As peças foram repostas no início de 2013 e custaram cerca de R$ 40 mil. Já no final de 2015, três partes da escultura foram serradas. Foram levados o braço esquerdo e o pé direito de Noel, além do braço esquerdo do garçom. Meses depois, em 2016, a peça foi removida pelo departamento de Gerência de Monumentos e Chafarizes, órgão da prefeitura, para ser restaurada pelo próprio artista que a esculpiu. Os serviços custaram 95 mil reais.
Noel Rosa (1910-1937) foi um compositor, cantor e violonista brasileiro. Um dos mais importantes artistas da história da música popular brasileira. Em pouco tempo de vida compôs mais de 300 músicas, entre sambas, marchinhas e canções. Entre suas músicas destacam-se, “Com Que Roupa”, seu primeiro sucesso, “Conversa de Botequim”, “Feitiço da Vila” e “Fita Amarela”. Ficou conhecido como “O Poeta da Vila”.
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MIDE O B
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correiodopovo.com.br
Ainda sem regulamentação, patinetes elétricos no rio têm explosão no número de usuários e causam dezenas de acidentes
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Brunno Salles e Isabela Carvalho Fonte :g1.com O Rio viu nos últimos meses uma nova forma de mobilidade multiplicar seus usuários, mas também os acidentes causados por ela. Enquanto uma das concessionárias de patinetes elétricos registrou aumento de 1268% no número de seus usuários de dezembro a abril, dois hospitais que funcionam perto da orla da cidade registraram, cada um, quase 50 acidentes, incluindo casos com fraturas, de janeiro a abril. Profissionais de saúde afirmam que a quantidade de acidentes pode ser bem maior, como os hospitais públicos não informam sua quantidade de atendimentos em casos do tipo e já que vários usuários dos patinetes não procuram atendimento médico após acidentes. A prefeitura do Rio de Janeiro diz que está trabalhando para regulamentar a utilização dos patinetes elétricos na cidade e para isso vem conversando com as principais empresas que já operam o serviço no município. O objetivo é elaborar normas definitivas para o uso do equipamento. O diálogo já abriu a possibilidade da Guarda Municipal passar a utilizar os veículos em breve para ajudar no patrulhamento das ciclovias do Rio. Duas empresas operam o serviço no Rio. Ambas não informam o número total de usuários, mas somente a Tembici, operadora dos Patinetes Petrobras, que conta com 500 unidades, registrou um aumento de 1268% no número de usuários, da primeira semana de dezembro até o final de abril.
Decreto provisório regula o uso no momento Responsável pela regulamentação, a Secretaria Municipal de Fazenda ainda tem dúvidas para definir as restrições de circulação. Quesitos como as áreas que serão permitidas; os horários de funcionamento; a segurança dos usuários e não usuários e o local de estacionamento dos veículo ainda não foram definidos. De acordo com a Prefeitura, a partir da publicação do texto as empresas licenciadas que não cumprirem as regras de segurança, estarão sujeitas a punições. Hoje, as regras que regulam a circulação dos patinetes elétricos são provisórias. Um decreto da prefeitura publicado em 2018, diz que a utilização dos patinetes, “em caráter experimental” deve respeitar as regras do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que permitem a circulação do veículo somente em áreas de tráfego de pedestres (com velocidade máxima de 6km/h), em ciclovias e ciclofaixas (velocidade máxima de 20km/h). O decreto do poder municipal só autoriza os patinetes nas vias para carros quando as pistas estiverem fechadas para o lazer. Número de acidentes preocupa Uma preocupação do poder público e das empresas é o número de acidentes envolvendo o novo meio de transporte. Somente no Hospital São Lucas, localizado em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, foram registrados mais de 50 acidentes envolvendo os patinetes elétricos, de janeiro até abril. O coordenador do Centro de Trauma do Hospital São Lucas,
Paulo Silveira, explica que esse número pode ser ainda maior, já que muitos casos não acabam no hospital. “Talvez seja um pouco mais que 50 casos nesses meses. Nós não temos esse número muito preciso porque nem sempre o paciente informa que aquela torção ou aquele trauma leve foi ocasionado por uma queda de patinete”, disse Paulo Silveira. A Secretaria Municipal de Saúde, alega o mesmo problema para não conseguir definir quantos casos foram registrados na rede pública. “A entrada dos pacientes nos hospitais se dá por conta de queda, mas não especifica se foi por patinete, bicicleta, etc”. Segundo o médico Paulo Silveira, a maioria dos casos são de pequenas fraturas, torções, hematomas e escoriações. “São raros os casos mais complexos. A maioria não precisa de internação”, disse. A Tembici diz acreditar que o importante para evitar quedas e batidas é educar os usuários sobre as normas de utilização. “Por se tratar de um modal novo, procuramos proporcionar o maior número de informações e orientações para os usuários, de forma a prevenir e reduzir o risco de lesões e acidentes. Para isso, nossa estratégia foi disponibilizar promotores em todas as estações, onde os usuários recebem instruções sobre o funcionamento, respeito à legislação e ao pedestre. Também são oferecidos capacetes para os usuários, sendo recomendado o uso de joelheiras, cotoveleiras e luvas, embora seu uso não seja obrigatório”, disse a empresa. A Grow também acredita que a prevenção de acidentes deve ser 13
uma prioridade. Para a empresa a utilização dos patinetes na rede de ciclovias seja uma maneira de diminuir os riscos. Além disso, a empresa considera que, por se tratar de um novo meio de locomoção, “é recomendável que todos os agentes envolvidos no sistema discutam maneiras de aumentar ainda mais os recursos para prevenção dos acidentes”.
Segundo a empresa, o modelo sem uma estação fixa permite mais mobilidade para os usuários. “O papo tem sido interessante. Nós mostramos os benefícios do nosso modelo, com experiências nacionais e internacionais. A prefeitura tem trabalhado certo para buscar a segurança do usuário e para contribuir com a
retirada das pessoas de dentro dos carros”, comentou o diretor da Grow, que hoje está presente em 14 cidades do Brasil. Já para os responsáveis da empresa Tembici, operadora dos Patinetes Petrobras, o modelo ideal de regulamentação é com estações fixas para a retirada e devolução dos patinetes. Segundo a empresa, essa diferença “colabora com o ordenamento urbano”. Guarda Municipal estuda utilização de patinetes Os agentes da Guarda Municipal do Rio de Janeiro que realizam o patrulhamento em ciclovias na cidade podem ser os próximos a utilizarem os patinetes elétricos. Esse é um possível acordo que vem sendo costurado pela Prefeitura com a empresa Grow. Segundo a empresa, em paralelo as conversas sobre a regulamentação do serviço de alugueis, o poder público pode firmar essa parceria. Se tudo correr bem, a Guarda Municipal pode ter, em comodato, 15 patinetes para reforçar o policiamento nas ciclovias da cidade. g1.com
Pontos fixos ou ocupação das calçadas Para chegar em um decreto definitivo, capaz de atender usuários, motoristas e pedestres, o poder público vem conversando com as principais empresas do ramo, como a Grow, que é detentora das marcas Grin e Yellow, e a Tembici, que opera na cidade desde dezembro de 2018 em parceria com a Petrobras Distribuidora. Defensores da micromobilidade - uma categoria de veículos leves, elétricos e utilizados para pequenos deslocamentos - a Grow investe no aluguel de patinetes sem estações de retirada e devolução fixas. Segundo Milton Achel, diretor de relações com o governo da empresa, os patinetes elétricos são ideais para percorrer distâncias que seriam “muito longas para se fazer a pé e muito curtas para tirar o carro da garagem”.
“Os nossos fundadores colocam para gente que temos que ser uma solução para as cidades. Por isso estamos conversando bastante com a prefeitura. Acreditamos que a regulamentação potencialize o modal limpo de transporte. Esse modal é o patinete”, diz Milton. Ele afirma que está realizando um papel de esclarecimento junto à Prefeitura e apresentando modelos de regulamentação de outras cidades. Os patinetes da empresa são monitorados por GPS e contam com dispositivos de segurança que controlam a movimentação dos veículos.
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metrojornal
Crônicas Cariocas:
o jeito correto de usar patinetes Isabela Carvalho e Brunno Salles Fonte: diariodorio.com Aqui, neste Diário do Rio, publicamos alguns textos sobre os patinetes elétricos. Recentemente, comentamos que outras cidades, como São Paulo, por exemplo, estão criando leis para o uso do veículo. Contudo, enquanto as autoridades não criam regras, nós, cariocas, usamos os patinetes da melhor forma, do nosso jeito correto.
Um evento foi criado no Facebook convidando todos para uma grande corrida (pega) de patinetes elétricos. A pista vai ser o Aterro do Flamengo. Quem precisa de Fórmula 1? Aprende aí, São Paulo. O grande racha de patinetes será no dia 26 deste mês. Já são milhares de confirmados. O Felipe Massa aqui estará presente. Pelas ruas do centro da cidade já é possível ver pessoas usando os patinetes elétricos sem a tração eletrônica. Estão botando os veículos para andar do jeito certo:
puxando com as pernas. Bem melhor para a saúde. Como não lembrar do rapaz que foi filmado na orla do Rio, usando o patinete elétrico, porém, sentado em um cooler (provavelmente cheio de cerveja), transformando o patinete em uma pequena moto. Outro dia, vi um moleque ensaiando umas manobras bem radicais no meio da Avenida Rio Branco. Tirando o patinete do chão e dando giros. Perigoso e divertido. Nada mais carioca que isso.
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Novas estações do Bike Rio geram polêmica entre moradores do Rio Isabela Carvalho e Brunno Salles Fonte: extra.globo.com Reformulado desde fevereiro e muito celebrada pelos ciclistas, o novo sistema de aluguéis de bicicletas da cidade, o Bike Rio, está sendo colocado em xeque pelos moradores de alguns bairros contemplados pelas estações de aluguel das “laranjinhas”. No Leme, as reclamações estão sendo diárias. De acordo com o presidente da Associação de Moradores e Amigos do Leme (AMA-Leme) Francisco Nunes, o telefone não
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para e já chegam a 40 desde o último sábado. O motivo do imbróglio é que a nova estação, a única do bairro que já teve duas, foi deslocada para a Praça Heloneida Studart, onde estaria atrapalhando a circulação dos pedestres. Os moradores dizem que são a favor sim da utilização da ciclovia e do uso das bicicletas, mas em um local adequado e tinha que ser na orla ou no calçadão central e não dentro do bairro, porque é ruim até para pegar e ir para a ciclovia. Dizem ainda que antes já tinha problemas quando era
na Rua Aurelino Leal, por exemplo, quando tomou o espaço de cinco vagas para carro, o que é inadmissível. Também tem reclamação na Barra sobre a estação em frente ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), na Avenida das Américas. A nova instalação está ocupando a metade da calçada. Já em outras partes da cidade com forte apelo turístico, como a Praia de Botafogo e a Praça Mauá, que chegou a ter quatro terminais próximos a ela, a queixa é que os pontos foram retirados de vez.
De acordo com o CEO da empresa, Tembici Tomás Martins, responsável por operar o novo sistema, os espaços escolhidos para a instalação dos 260 terminais — dos quais 119 estão em operação — foram feitos após uma pesquisa que envolveu membros da sociedade civil ligados ao universo do ciclismo urbano e com a Prefeitura. Assim, ele prometeu que os problemas que estão surgindo serão discutidos com os moradores de cada região, além de estarem avaliando os novos locais e obtendo as licenças para novas instalações.
— Desenhamos tudo em conjunto com cada um. Tem casos especificos que é óbvio que sentaremos com os moradores e vamos rever o projeto caso seja necessário. É assim mesmo. Bicicleta, na cidade, é uma grande mudança cultural e que tem gente que é mais resistente a essas mudanças. Infelizmente essa é uma discussão de cidade e de repensar esse modelo que queremos — explica Tomás. Apesar das polêmicas, as mudanças estão sendo boas para alguns ciclistas. A estudante inglesa Marie Foster, que mora no Rio há sete anos, no bairro da Glória, utiliza o sistema diariamente. — Agora, com essas novas bicicletas, melhorou muito. Me sinto até mais
segura — disse, sorridente, ao retirar a sua. Centro e zona sul tem maioria do sistema. Outro questionamento que os ciclistas levantam é sobre a disposição das estações pela cidade. De acordo com o geógrafo Hugo Costa, as Zonas Norte e Oeste seria onde a infraestrutura cicloviária é mais demandada, mas são os lugares onde ela é menos contemplda. — A lógica de distribuição de estruturas cicloviárias da cidade é totalmente inversa a real necessidade. A Zona Norte, apesar de ter quase metade da população carioca, só tem 7% da malha de ciclovias da cidade. Ramos não tem, os bairros da Zona da Leopoldina, não tem...
A Zona Norte, na visão de cidade, só vai até a grande Tijuca, onde há estações e via cicláveis — disse Hugo, que mora em Ramos. De fato a Tijuca é o bairro da Zona Norte que mais tem opções para alugar a laranjinha, tendo oito terminais, e a nova da Praça Saens Peña, alvo frequente de vandalismo, dobrou a sua capacidade, tendo agora espaço para até 28 bicicletas. Enquanto isso, Vila Isabel tem três, Estácio tem duas e Madureira possui apenas uma. Para o mestrando da UFRJ Guilherme Alves, que mora em Campo Grande e usa constantemente o projeto, também existe uma grande demanda reprimida para
a Zona Oeste. A região tem apenas três estações: duas no Recreio e uma no Parque Olímpico. — Usei as novas bicicletas e gostei bastante. São resistentes, seguras e achei confortáveis também. As luzes dão uma segurança boa, especialmente pedalando na rua a noite. Muita gente anda de bike em Campo Grande e geralmente são deslocamentos curtos que poderiam ser feitos de bicicleta, especialmente, na conexão com as estações de trem e BRT — disse o estudante. Sobre a disposição das estações, Tomás Martins informou que o estudo que realizaram para o novo modelo priorizou os lugares que já tem ciclovias estabelecidas.
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Pesquisadores usam cinzas do Museu Nacional para reconstruir acervo destruído em incêndio
bbc.com
Isabela Carvalho e Brunno Salles Fonte: bbc.com A ciência vive de experiências. Como define o método de tentativa e erro, é preciso que algo dê errado antes de acertar. E foi numa dessas experiências, ou melhor numa crise daquelas que não saem da memória, que cientistas brasileiros viram uma oportunidade que poderá ajudar a reescrever parte da história perdida do país. A crise em questão foi o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, ocorrido em setembro de 2018, que transformou em pó e cinzas 200 anos de história e um dos mais ricos acervos de antropologia e história natural da América Latina, com mais de 20 milhões de itens. Mas do pó e das cinzas dessa tragédia, que repercutiu em todo o 18
mundo, surgiu um projeto experimental que pode contribuir na recuperação de parte do acervo tomografada antes do incêndio. Os pesquisadores estão adicionando “restos” do Museu Nacional a resinas de impressoras 3D para recriar ou restaurar peças. Desde o fim de 2018, foram “fabricados” com carvão e restos de madeira resgatados dos destroços do museu um fóssil do crocodilo pré-histórico Mariliasuchus amarali, que viveu no Brasil há quase 70 milhões de anos e um shabit, tipo de estatueta funerária egípcia que era colocada junto a corpos mumificados do Egito Antigo. Mas o maior desafio do grupo deve vir em breve: a impressão da réplica do crânio de Luzia, fóssil humano mais antigo do Brasil, com detritos que antes tinham como destino o lixo. A ideia partiu de pesquisadores do
próprio Museu Nacional, gerido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com apoio de equipes da PUC-Rio e do Instituto Nacional de Tecnologia (INT). Eles elaboram testes para adicionar materiais diferentes a resinas utilizadas em impressoras 3D, equipamentos usados na fabricação de peças distintas a partir de softwares próprios. Do pó retornarás Com autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela recuperação do prédio centenário que abrigava o museu, foram recolhidos itens que seriam descartados para análise de equipes do Laboratório de Processamento de Imagem Digital (Lapid), sob a coordenação do pesquisador Sergio Alex Azevedo. A ideia só foi viável graças a estudos prévios conduzidos pelo
Lapid, ligado ao Museu, feitos ao longo de 15 anos em parceria com o pesquisador Jorge Lopes, da PUC-Rio e do INT. Juntos, eles tomografaram centenas de artefatos da coleção principal do museu no intuito de preservar a memória caso algo viesse a provocar a perda do acervo - o que se concretizou no ano passado. Foram mais de 300 tomografias, de fósseis de dinossauros a múmias egípcias. Com o scanner a laser, foi possível observar o interior de sarcófagos e o que continham urnas funerárias da cultura marajoara, sociedade indígena que viveu na Amazônia há mais de mil anos. “A gente fez o primeiro teste para mostrar bbc.com que era possível fazer. Várias pessoas ficaram interessadas e encantadas pelo simbolismo. É uma tecnologia que surgiu do lixo e que pode dar um peso maior na recuperação do acervo do Museu Nacional, uma possibilidade de incorporação de materiais” afirma Azevedo. Antes de aplicar as cinzas na produção de peças, foram adicionados carvão e madeira queimada comum à resina para impressora 3D. Jorge Lopes explica que após os primeiros testes, ficou evidente que as peças impressas não se esfarelavam, o que garantiria o uso dessas substâncias pouco usuais. “Eu via a luta dos estudantes trabalhando nos escombros para salvar alguma coisa e pensava se aquele pó todo e aquela cinza
toda serviriam para algo. Isso tem um apelo muito interessante, gera uma conectividade”, explica. Segundo Lopes, os testes estão sendo feitos com recursos próprios. De acordo do Azevedo, a técnica abre possibilidades para a recuperação de fósseis, por exemplo. “No caso de dinossauros, poderia colocar na resina materiais da rocha onde aquela peça foi encontrada. Pode-se colocar mais materiais que sejam compatíveis com a construção, criando uma cópia 3D
mais fiel ao original”, explica. Outros testes deverão ser realizados pela equipe, que pretende reconstruir cerâmicas marajoaras com lama da região de Marajó, e recuperar outros artefatos egícios. O museu conseguiu R$ 85 milhões para recuperação Em janeiro, a BBC News Brasil mostrou que Museu Nacional deverá ter em caixa R$ 85,4 milhões para obras emergenciais, recuperação do prédio histórico e reconstrução do acervo. O diretor da instituição, Alexander Kellner, explicou que boa parte do dinheiro demoraria a chegar devido à burocracia, mas que o
montante já tem destinação prevista e não pode ser usado para outras finalidades. O orçamento anual do museu, repassado pela UFRJ - mantida com recursos do governo federal -, havia caído drasticamente nos últimos cinco anos: de R$ 531 mil, em 2013, para R$ 54 mil, em 2018. O diretor Kellner explicou que a verba prevista era excepcional para começar a reconstruir a instituição, mas ressaltou que “não se faz uma coleção de dois séculos em duas décadas”. Para ele, mais importante no momento é discutir como viabilizar a manutenção do local após sua recuperação. “Antes do incêndio, o Museu Nacional precisaria de US$ 3,8 milhões (R$ 14,7 milhões) para manutenção básica de sua estrutura. No entanto, só recebia R$ 500 mil. Eu estimo que, numa janela de até seis anos, vamos precisar de US$ 10 milhões (R$ 38,8 milhões) anuais para mantê-lo em condições razoáveis.” Para 2019, Kellner afirma que serão três as prioridades. A primeira delas é a recuperação do palácio, em seguida o resgate e recomposição do acervo, e, por último, o fomento à pesquisa na instituição. No fim de março, um laudo divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo apontou que a Polícia Federal concluiu que um curto circuito em um aparelho de ar-condicionado do auditório, localizado no primeiro andar do prédio, causou o incêndio. 19
PASSEIOS NA CIDADE MARAVILHOSA
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Estamos falando de uma cidade linda, repleta de praias, parques, bairros e edificações que valem cada visita e criam passeios incríveis. Entre eles, selecionamos os 6 principais passeios para fazer no Rio de Janeiro, todos eles à prova de erros e que devem estar em seu roteiro. Dos cartões postais da cidade a recantos menos divulgados, estas sugestões vão garantir que sua visita ao Rio traga para a sua vida memórias variadas, cheias de beleza, emoção e história.
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Pão de Açúcar De todos os passeios para fazer no Rio de Janeiro, a ida ao Pão de Açúcar é um dos mais icônicos. Fazer o trajeto com o tradicional bondinho é garantia de colecionar paisagens clássicas da cidade. Se quiser fugir das aglomerações, evite os finais de semana, e uma dica: pense na possibilidade de fazer uma visita noturna para deixar a experiência ainda mais especial. Gabinete Real Português O Real Gabinete Português de Leitura é uma biblioteca pública histórica inaugurada pela Princesa Isabel. Nele está guardado um acervo repleto de obras raras que pode ser visitado durante os dias úteis. Cristo Redentor Existe uma razão para que o passeio ao Cristo Redentor seja tão popular entre os turistas que visitam o Rio de Janeiro: o lugar é realmente incrível! Se possível, prefira fazer o trajeto até o alto do Morro do Corcovado de trem, embora também exista a opção de ir de van. As paisagens incríveis que são vistas no mirante aos pés da estátua art déco do Cristo tornam o passeio ainda mais empolgante. Pedra da Gávea Situada no Parque Nacional da Tijuca, a Pedra da Gávea é a escolha perfeita para quem gosta de trilhas e esportes radicais. Para chegar ao seu topo, algumas trilhas são famosas, como a Garganta do Céu e a Via P4. A Pedra é ponto tradicional de decolagem de voo livre. Lapa O bairro boêmio do Rio tem todo tipo de opção, tanto na gastronomia, em seus bares, restaurantes e barraquinhas de rua, quanto na vida noturna, sempre movida a música, da mais tradicional à mais moderna. Estando ali, não se esqueça de admirar os famosos Arcos da Lapa. Maracanã Fãs de futebol não precisam de muitos argumentos para concordarem que este é um dos melhores passeios para fazer no Rio de Janeiro. Afinal, o estádio Jornalista Mario Filho, seu nome oficial, já foi palco de uma imensa quantidade de jogos e de outros eventos, que trazem à memória todo tipo de emoção. Ipanema A música que eternizou a Garota de Ipanema serve como trilha para a própria praia, a mais charmosa do Rio. Comece a explorar suas areias a partir do Posto 10, o ponto mais tranquilo, frequentado por famílias e turistas, ou, se preferir, entre direto no agito do Posto 8, onde a paquera rola solt
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As políticas de terror de Wilson Witzel no Rio
brasil.elpais.com
Governador brinca de ‘Apocalipse Now’. Dias depois, a polícia que comanda atira do alto em pleno horário escolar na Maré. Quem porá limites à sua política homicida? 24
Mateo Gentili e Fillipe Meirelles Fonte: Felipe Betim brasil.elpais.com em 11/05/2019 Já não é mais possível —não sei se foi algum dia— usar eufemismos para descrever a política de segurança do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Ela é o que é: arbitrária, ilegal, criminosa e homicida. Se restavam dúvidas, no último sábado o governador entrou em um helicóptero da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil e sobrevoou uma comunidade de Angra dos Reis ao lado do prefeito do município. Um vídeo do momento foi publicado em seu perfil do Twitter. “Vamos botar fim na bandidagem em Angra dos Reis”, dizia, enquanto um policial com fuzil em punho mirava uma área povoada da favela. Acontece que a TV Globo conseguiu outro trecho do vídeo em que o policial realiza múltiplos disparos contra uma área da mata e atinge uma tenda azul. Moradores disseram que se tratava de uma tenda evangélica frequentada por fieis, enquanto a polícia garantiu que havia sido montada pelo tráfico. Seja como for, o episódio é bastante revelador. Em primeiro lugar, confirma os relatos de moradores, nunca confirmados publicamente pela polícia, de que em operações do tipo os agentes atiram em direção ao solo, em áreas densamente povoadas, indiscriminadamente. Como ocorreu alguns dias depois, na última segunda-feira, no Complexo da Maré, um dos mais emblemáticos conjuntos de favela do Rio, em pleno horário escolar. Imagens mostraram crianças correndo pelas ruas, desviando dos disparos feitos a esmo
de um helicóptero, enquanto outras esperavam encolhidas nas salas de aula e corredores do colégio o fim dos tiros. É a velha rotina de sempre nas comunidades. Oito rapazes que eram suspeitos de pertencer ao tráfico morreram em uma ação terrestre dos agentes. Em segundo lugar, a cena de Apocalipse Now promovida por Witzel confirma que o governador está mais do que ciente do que acontece quando policiais entram em favelas ocupadas pelo tráfico com helicóptero e caveirão. Cabe ressaltar que o governador é o máximo responsável pelas polícias estaduais. Foi durante outra ação na Maré com helicóptero e blindado que o menino Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, sem nenhuma participação com o tráfico, foi executado a caminho da escola durante uma ação da polícia. É verdade que a morte de Marcos Vinícius aconteceu quando o Rio estava sob intervenção federal e nada tem a ver com Witzel. Também é certo que o regime de terror ao qual moradores das favelas são submetidos cotidianamente não é uma novidade dos tempos bolsonaristas. Basta lembrar que, em 2007, após uma operação no Complexo do Alemão que resultou na morte de 19 pessoas, a maior chacina da década do Rio, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) irresponsavelmente apoiou a ação dizendo que não se combate o crime jogando “pétalas de rosa ou pó de arroz”. Mas se a brutalidade policial sempre foi, no mínimo, tolerada dentro das políticas de segurança pública, chegamos a uma situação em que agora ela é publicamente estimulada. Uma perigosa linha foi cruzada, graças em parte a essa
negligência das autoridades frente ao abuso policial. E se antes os moradores e movimentos sociais das favelas conseguiam constranger autoridades e arrancar compromissos, hoje esse espaço parece cada vez menor. Nada disso chega a ser surpresa se considerarmos que Witzel ganhou as eleições de 2018 prometendo “mirar na cabecinha” de criminosos armados e abatê-los. Um discurso que não se restringiu à campanha e se repete como se fosse um mantra, com resultados concretos. Foram registradas 434 mortes causadas por agentes de Estado nos três primeiros meses de Governo, segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio, vinculado ao Governo do Estado. Um recorde absoluto para o primeiro trimestre desde que se iniciou a contagem deste índice, em 1998. São quase cinco mortes por dia causadas por policiais. Depois que ao menos 15 pessoas suspeitas foram executadas nos morros da Coroa, Fallet-Fogueteiro e dos Prazeres em fevereiro, submetidas a longos minutos de torturas dentro de casas, segundo apontam os indícios, Witzel apareceu ao lado do secretário da Polícia Militar para respaldar “uma ação legítima da polícia para combater narcoterroristas”. Dias depois, em uma cerimônia, disse que “qualquer atuação do PM, antes de qualquer discussão, é legítima”. Na última segunda-feira, quando helicóptero e blindados entraram no Complexo da Maré, outros oito rapazes morreram. Segundo relatos de testemunhas para a Defensoria Pública, foram executados depois de se renderem, como acontecera em fevereiro. Moradores também relataram que os jovens já não ofereciam riscos, 25
sendo que dois deles levantaram as mãos e disseram “perdi”. Tiveram a seguinte resposta dos policiais: “Minha ordem é matar”. Pelo visto, a doutrina Witzel também se estende aos que, mesmo já desarmados e sem oferecer risco a policiais, deveriam responder na Justiça pelos seus crimes. Existe uma relação direta entre os dois casos. Em ambos policiais empoderados agiram com a certeza de impunidade e de que receberiam aprovação do chefe. Muitos argumentarão que, afinal, se tratavam de bandidos. Convém lembrar que as leis, a Constituição e os tratados internacionais que o Brasil assinou não são mero detalhe: proíbem qualquer tipo de pena de morte, execução sumária ou tortura, os dois últimos crimes de lesa-humanidade. Policiais são o braço armado do Estado e possuem poder de fogo, mas devem obedecer a rigorosos protocolos para usá-lo. Tudo isso deveria ser óbvio, como também o fato de que a violência por parte do Estado não termina com a violência de bandidos contra os cidadãos. Pelo contrário, só traz mais sofrimento e aumenta a insegurança. Convém destacar também que a repressão que se faz ao crime organizado nas favelas não leva em conta, em momento nenhum, os moradores que nela vivem. A maioria negros e pobres, submetidos a um regime de terror cotidiano, com balas cruzando no céu, escolas e comércios fechados e a uma truculência policial que destrói casas e acaba com a vida também de crianças inocentes. Witzel só reforça essa dinâmica cruel, enquanto que as maiores apreensões de armas continuam sendo feitas em lugares distantes, em aeroportos e casas luxuosas, fruto de boas 26
investigações policiais e sem a necessidade de troca de tiros. Como deve ser. E onde estão o Ministério Público e o Judiciário estaduais para controlar as ações da polícia e se contrapor ao discurso do governador? Num passado recente a Defensoria Pública e a Procuradoria até entraram com uma ação para impedir o uso de aeronaves, mas a Justiça preferiu rejeitar de forma cínica a demanda. Coube agora a Procuradoria-Geral da República abrir uma investigação preliminar, fase anterior a abertura de inquérito, sobre a política do abate promovida pelo governador, após quatro representações feitas desde abril pelo Conselho Nacional dos Direitos Humanos, pelo deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) e pela deputada estadual Renata Souza (PSOL). Souza, que presidente a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia do Rio de Janeiro (ALERJ), também denunciou Witzel a ONU e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) nesta semana. O documento destaca que a atual política de segurança pública “está cada vez mais militarizada com o uso de drones, helicópteros e carros blindados, além da técnica de snipers”, o que vem aumentando consideravelmente o tempo das operações, segundo o documento: se antes duravam em média 5 horas, agora duram até 14 horas podendo chegar a mais de 24 horas de tiroteio. Em resposta, Witzel pediu a cassação do mandato de Souza, algo que seu partido, o PSC, já solicitou na Assembleia. Nesta semana, uma foto que rodava nas redes sociais dava a dimensão do retrocesso civilizacional
que se vive. Na imagem aparece uma placa onde se pode ler “Escola. Não atire”. Na denúncia levada à ONU e à OEA, não existe a possibilidade de que o governador seja processado pessoalmente por esses organismos. Já o Estado brasileiro poderia, por exemplo, receber advertências e até ser condenado a aplicar mudanças que garantam o fim dos abusos e da impunidade policial, entre outras medidas. É, no mínimo, um chamado para que o mundo saiba a escalada do terror promovida pelos novos dirigentes no poder. Em documento enviado à PGJ, parlamentares questionam a conduta do governador em relação ao uso de uma aeronave e de atiradores em uma operação, em Angra Dos Reis. Wtzel chegou a divulgar um vídeo sobrevoando o município, na Costa Verde fluminense. Nas imagens, policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil disparam rajadas de tiros do alto. A representação diz ainda que a Defensoria Pública do Estado já havia protocolado, em junho de 2018, uma liminar proibindo o uso indiscriminado de helicópteros em favelas e locais densamente povoados. O MPRJ confirma que recebeu, nesta quinta-feira (9), na assessoria executiva da Procuradoria-Geral de Justiça, representação de deputados estaduais que solicitam a apuração do episódio em que o governador Wilson Witzel sobrevoa o Município de Angra dos Reis a bordo de um helicóptero. Segundo o MP, o documento será despachado pelo procurador-geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro no expediente desta sexta. O governo do estado do Rio disse.
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Por que tanto medo de discutir a descriminalização das drogas?
Julgamento que estava marcado para o início de maio, no STF, definiria se o porte de substâncias ilícitas para uso próprio é ou não crime 28
Mateo Gentili eFillipe Meirelles Fonte: Rodrigo Hirose jornalopcão.com.br em 02/06/2019 Estava agendada para a próxima terça-feira, 5, a retomada do julgamento sobre a constitucionalidade do artigo 28 da Lei das Drogas (11.343), no Supremo Tribunal Federal (STF). O verbo da primeira frase está no passado porque o presidente da corte, Dias Toffoli, atendeu a um pedido do presidente Jair Bolsonaro para tirar o Recurso Extraordinário (RE) 635.659 da pauta. A manobra teve o objetivo de evitar que o tribunal decidisse por descriminalizar o porte de drogas (ao menos a maconha) para uso próprio. Ao mesmo tempo, a intenção de Bolsonaro é que seja votado o Projeto de Lei 37/2013, do então deputado e atual ministro da Cidadania, Osmar Terra. A proposta do ministro, já aprovada na Câmara, será apreciada no Senado. Ela cria uma nova política nacional sobre drogas, mas mantém intacto o artigo 28 da Lei das Drogas. A importância do “28”, como é chamado no jargão policial, é que ele se refere ao tratamento dispensado legalmente ao usuário, e não ao traficante. Quando entrou em vigor, em 2006, a lei atual aboliu a prisão para o consumidor, apesar de manter a conduta como crime (segundo entendimento do próprio STF). As penas passaram a ser advertência sobre os efeitos, prestação de serviços à comunidade e medidas educativas. Porém, apesar de branda em comparação à supressão da liberdade, a legislação em vigor tem repercussões práticas na vida de quem a infringiu. “O artigo 28 não re-
tirou os demais efeitos [da pena]. Ainda se perde a primariedade e impede alguns benefícios em alguma futura apuração sobre tráfico”, exemplifica a professora da Universidade Federal de Goiás (UFG) no Programa de Mestrado Profissional em Direito e Políticas Públicas (PPGDP/UFG), Franciele Cardoso. É aqui que entra o Recurso Extraordinário 635.659. Interposto pela Defensoria Pública de São Paulo em favor de um condenado por porte de drogas flagrado com 3 gramas de maconha, ele questiona a constitucionalidade do artigo 28 da 11.343. A Defensoria alega que esse artigo viola o artigo 5º da Constituição Federal. O voto do relator do caso no STF, ministro Gilmar Mendes, dado no início do julgamento, em 2015, foi nesse sentido. De acordo com o ministro, tratar como crime a posse de drogas para consumo próprio “fere o direito ao livre desenvolvimento da personalidade, em suas diversas manifestações”. Para o advogado criminalista Pedro Paulo Medeiros, este ponto é central na discussão. “A droga faz mal apenas para a pessoa que usa ou para a coletividade? Se faz mal apenas para o indivíduo, o Estado deve entrar tanto na individualidade do cidadão?”, questiona. Medeiros lembra, contudo, que, no Brasil, mesmo danos pessoais, como a deterioração da saúde do usuário, é reparado com recursos de todos, por meio da assistência de Saúde. “No Brasil, o Estado tutela a todos”. Mendes estendeu os efeitos de seu voto para todo tipo de drogas. Os outros dois ministros que votaram, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, também decidiram pela inconstitucionalidade, mas
restringiram a descriminalização do porte apenas da maconha. Segundo todos os analistas do STF, esse era o entendimento que prevaleceria na retomada do julgamento. Por isso, o governo federal reagiu e conseguiu que Dias Toffoli retirasse a questão da pauta. Para os aliados do presidente da República, o projeto de Osmar Terra dá um tratamento mais duro à questão e, por isso, mais adequado. Porém, varrer um problema para debaixo do tapete não significa que ele deixou de existir. Ao contrário, pequenos medos, se não enfrentados, tendem a crescer até se transformarem em pânico. Aí, a resolução fica muito mais difícil. Um em cada quatro presos cumprem pena por causa de envolvimento com drogas Quando foi escrita, a Lei 11.343 pretendia ser um avanço, especialmente na questão do dependente de drogas ilícitas. “Na prática, ela se tornou uma lei imprecisa na definição de quem é traficante e de quem é usuário”, diz a professora Franciele Cardoso, que é pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência da UFG. Segundo ela, desde que a atual legislação entrou em vigor, houve um aumento no número de condenados por tráfico de drogas no Brasil. Segundo os dados mais atuais do Cadastro Nacional de Presos, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Goiás tem aproximadamente 17,7 mil presos, em todos os regimes. O tráfico responde por 24% das condenações no Brasil, atrás apenas do roubo (27%). Isso significa que Goiás pode ter mais de 4 mil condenados por trá 29
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gurança da Secretaria da Segurança Pública de Goiás reforçam o argumento do titular da Denarc. Em 2018, as forças de segurança do Estado apreenderam 17,4 toneladas de drogas (15 toneladas somente de maconha). A quantidade já foi superada no primeiro quadrimestre de 2019: de janeiro a abril, f o r a m apreendidas 26,2 toneladas de drogas em território goiano (21,9 somente de maconha). Uma hipotética mudança no entendimento atual em relação ao usuário de drogas alcançaria quem já cumpriu ou cumpre pena relacionada. “Uma conduta que passa a ser aceita socialmente, retroage e retira efeitos anteriores”, diz o criminalista Pedro Paulo Medeiros. “Se houver alteração legislativa, abolindo o crime, todos que estão respondendo por ele são afetados”, complementa a professora da UFG Franciele Cardoso. Cultura, violência e saúde Contudo, a discussão sobre a descriminalização das drogas não pode passar ao largo das questões comportamentais e de suas implicações na violência e na saúde. “A humanidade usa drogas desde que há humanidade. Elas são um feriado de si mesmo”, diz a professora do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás
Renata Mazaro e Costa, que faz pesquisas em toxicologia reprodutiva. “Não há registro de sociedade sem a presença de drogas. Elas não são apenas uma questão ética ou jurídica, mas também cultural e até religiosa”, complementa Franciele Gustavo
fico e associação para o tráfico de drogas. Infelizmente, nem o Tribunal de Justiça, nem a Secretaria de Segurança Pública, tampouco a Superintendência de Administração Penitenciária puderam informar a quantidade de condenações ou ocorrências envolvendo usuários de drogas no Estado. Levantamento do Tribunal de Justiça, feito a pedido do Jornal Opção, mostra que, dos 4,1 mil presos que passaram pela Audiência de Custódia este ano, 497 (12%) tiveram drogas apreendidas, muitos deles com mais de um tipo. A droga mais apreendida foi a maconha (306 casos), seguida pela cocaína (174) e pelo crack (115). Para a pesquisadora Franciele Cardoso, o aumento da população carcerária pós-Lei 11.343 (de 31 mil, em 2006, para 174 mil, em 2014, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional – Depen – divulgados pelo Conjur), em parte decorre da forma como o artigo 28 foi interpretado na prática. “A maioria das prisões não é fruto de investigação, mas de flagrantes”, diz. Nesse contexto, cria-se um conflito entre a palavra do policial e a do preso. Pedro Paulo Medeiros afirma, por outro lado, que a mudança na legislação ampliou as possibilidades de enquadramento em tráfico de drogas. “Houve um aumento no número de condutas que caracterizam o tráfico. Ao mesmo tempo, o aparato investigativo melhorou”, acredita. Para quem lida no dia a dia da repressão, essa também é uma explicação. “As polícias têm investido mais em investigação e inteligência no combate ao tráfico”, afirma o delegado titular da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc). Os dados do Observatório de Se-
Cardoso. Dian-
te desse quadro, no caso da descriminalização, outra discussão se impõe. Ela seria ampla ou se restringiria a algumas substâncias? No caso da discussão dentro do
racterizar o que é tráfico, o que é uso. Um dos critérios balizadores é a quantidade. Mas, ainda assim, ele não encerraria a discussão. “Não há uma fórmula mágica”, diz Franciele Cardoso. Sendo assim, seria preciso comprovar que a substância é efetivamente para uso e não para o comércio. “A quantidade não pode ser um critério exclusivo, pois senão pode haver injustiça. Por isso, é preciso levar e m consi-
Gustavo Oliveira - marujuana.com.br
Supremo Tribunal Federal (STF), a tendência era de que apenas o uso da maconha fosse descriminalizado. O Projeto de Lei 37/2013, do ministro Osmar Terra, mantém a criminalização do uso mesmo da maconha. Pesquisador da dependência química há muitos anos, o professor Ronaldo Ramos Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que é pós-doutor em psiquiatria, é fortemente contrário à liberação do uso recreativo da Cannabis sativa. Em artigo publicado no El País, Laranjeira argumenta que a descriminalização agravará um quadro de problemas sociais no Brasil. O pesquisador, no entanto, ressalta que a prisão não é o melhor caminho – apoiando, portanto, o modelo existente hoje no País. Com base em sua experiência no combate ao tráfico, o titular da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), Fernando Gama, a descriminalização aumentará o número de consumidores e não eliminará o tráfico. “O traficante não se regularizará e continuará existindo um mercado paralelo”, diz. Para o delegado, é preciso seguir na política da repressão ao tráfico, mas também atuar na outra ponta. “Enquanto houver demanda, o mercado seguirá atrativo. E, com o tráfico, vários outros crimes ocorrem em paralelo”, avalia. STF não substitui o Legislativo No caso de a descriminalização do uso de drogas, em especial a maconha, virar realidade, a situação ainda não estará definida. A partir de então, será preciso ca-
deração as circunstâncias, os antecedentes, etc”, complementa Pedro Paulo Diniz. O adiamento da decisão no STF é um “balde de água fria”, segundo Franciele Cardoso. Por outro lado, o criminalista questiona se o tribunal é a instância adequada para uma definição. “O Legislativo tem perdido a legitimidade diante da população.
Assim, o Judiciário está ocupando esse vácuo”, diz Pedro Paulo Medeiros. Há alguns anos, seria impensável sequer cogitar a descriminalização das drogas hoje ilícitas. Vários países optaram pela liberação, em maior ou menor grau. Observar os resultados alcançados neles pode ser um bom caminho para o Brasil definir o caminho que quer seguir. As entidades elencam uma série de números e estatísticas para argumentar que a demora no julgamento do caso prejudica o sistema prisional e penaliza os usuários ao não fixar parâmetros claros sobre o que é tráfico e o que é posse de drogas. A proibição mata! O novo projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional mantém o uso de drogas como crime. Portanto, não inova ou altera nada. O conflito com a Constituição continua a existir, e a manifestação do STF sobre o tema segue necessária. Na semana passada, Gilmar negou um pedido da Defensoria Pública do Estado de São Paulo para suspender o andamento de todos os processos criminais abertos no país sobre porte de drogas para uso pessoal. Para ele, não parecia “recomendável determinar a suspensão dos processos”. Edson Fachin e Luís Roberto Barroso também votaram pela descriminalização, mas só para o porte de maconha. 31
MPF pede a suspensão imediata do decreto das armas de Bolsonaro Segundo os procuradores, o aumento na comercialização de armas poderá ter efeitos “irreversíveis” Filipe Meirelles e Mateo Gentili Fonte: Leonardo Prazeres folha.uol.com.br em 15/05/2019
O presidente Jair Bolsonaro assinou na terça-feria, dia 7 de maio, um decreto para alterar as regras sobre o uso de armas e munições. O decreto foi assinado em uma cerimônia no Palácio do Planalto. Entre as principais medidas do decreto estão a quebra do monopólio da importação de armas no Brasil, a permissão para o proprietário rural com posse de arma de fogo utilizar a arma em todo o perímetro da propriedade, a permissão para colecionadores, atiradores desportivos e caçadores(CAC’s) poderem sair de casa para o local de tiro com a arma com munição, o direito ao porte de arma concedido aos praças das Forças Armadas com dez anos ou mais de experiência, e o direito à compra de cartuchos, que antes era de 50 cartuchos por ano, agora passará para até mil cartuchos por ano. Segundo o presidente da República, o governo foi “no limite da lei” ao editar o decreto desta terça-feira. “O nosso decreto não é um projeto de segurança pública. É, no nosso entendimento, algo mais importante. É um direito individual daquele que, porventura, queira ter uma arma de fogo, buscar a posse, que seja direito dele, respeitando alguns requisitos”, declarou. 32
De acordo com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, decreto assinado por Bolsonaro nesta terça-feira garante a caçadores, atiradores desportivos e caçadores o direito de “transitar livremente” no país. Em janeiro, logo no início do novo governo, o presidente também assinou um decreto que flexibilizou a posse de armas de fogo no país. O direito à posse é a autorização para manter uma arma de fogo em casa ou no local de trabalho (desde que o dono da arma seja o responsável legal pelo estabelecimento). Para andar com a arma na rua, é preciso ter direito ao porte, cujas re-
gras são mais rigorosas e não foram tratadas no decreto de janeiro. Durante os 28 anos em que foi deputado federal, Bolsonaro se declarou a favor da facilitação do acesso do cidadão a armas de fogo. Também se manifestava frequentemente de maneira contrária ao Estatuto do Desarmamento. O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação na Justiça pedindo que o decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) que flexibiliza as regras para a compra e o porte de armas no Brasil seja suspenso até que a Justiça possa julgar o mérito do processo. Na avaliação dos procuradores, o aumento na comercialização de armas no Brasil poderá ter efeitos “irreversíveis”.O decreto que flexibiliza as regras para compra e porte de armas f o i assinado
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Momento em que Jair Bolsonaro assina o decreto ao lado de deputados que compôem a bancada da bala no congresso nacional
por Bolsonaro no dia 7 de maio. O texto amplia a quantidade de categorias que podem ter acesso a armas e permite, por exemplo, que menores de idade não precisem mais de autorização judicial para praticar tiro esportivo. Desde o seu anúncio, o decreto vem sendo alvo de críticas de diversos setores e de questionamentos jurídicos. Os partidos Rede Sustentabilidade e PSOL moveram ações no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a constitucionalidade do decreto. Eles argumentam que as alterações previstas no decreto só poderiam ter sido feitas pelo Poder Legislativo. Agora, os procuradores da Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) moveram uma ação junto à 17ª Vara da Justiça Federal. Na ação, os procuradores criticam os efeitos do aumento na comercialização de armas no Brasil. “De fato, por se tratar a arma de fogo de bem durável, o aumen-
to da comercialização de armas em decorrência do novo decreto impactará desde já por décadas no número de armas em circulação no País e repercutirá na segurança pública do País”, afirma o texto. Os procuradores mencionam um estudo produzido pelo Instituto Sou da Paz que indica que a maioria das armas apreendidas com criminosos no Brasil haviam sido produzidas antes da entrada em vigor do Estatuto do Desarmamento, em 2003. O temor dos procuradores é que o decreto acabe por aumentar a quantidade de armas nas mãos de criminosos. Segundo o MPF, “muitas daquelas armas vendidas no Brasil antes do Estatuto do Desarmamento, portanto, municiam agentes do crime até hoje”. A ação movida pelo MPF aponta que o próprio governo federal já deu indicações de que o decreto das armas poderia ser inconstitucional. O texto cita
reportagem publicada pelo UOL na segunda-feira, dia 13 de maio, na qual o chefe de assuntos legislativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), Vladimir Passos de Freitas, disse que haveria a possibilidade de o decreto conter alguma inconstitucionalidade. a semana passada, uma outra reportagem do site da UOL revelou que o presidente Bolsonaro anunciou que assinaria o decreto dois dias antes de o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) ter dado pareceres técnicos que avalizavam a proposta. Hoje, o ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro disse não acreditar que o aumento da quantidade de armas em circulação no país possa elevar as taxas de violência. “Acho que não é possível estabelecer uma correlação tão clara entre uma coisa e outra”, afirmou. 33
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Ex-ministros se unem em defesa do meio ambiente
Oito antecessores de Ricardo Salles acusam o atual Governo de promover uma “política sistemática e deliberada de destruição das políticas ambientais
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Filipe Meirelles e Mateo Gentili Fonte: Naiara G. Gortázar e Felipe Betim - brasil.elpais.com em 09/05/2019 Todos os ex-ministros do meio ambiente vivos desde que a pasta foi criada, em 1992, assinaram um comunicado conjunto e se reuniram nesta quarta-feira em São Paulo para lançar um alerta para a sociedade brasileira. E para o mundo. Rubens Ricupero, Gustavo Krause, José Sarney Filho, José Carlos Carvalho, Marina Silva, Carlos Minc, Izabella Teixeira e Edson Duarte acusaram o Governo do ultradireitista Jair Bolsonaro (PSL) de colocar em prática em pouco mais de quatro meses uma “política sistemática, constante e deliberada de desconstrução e destruição das políticas meio ambientais” implementadas desde o início dos anos de 1990, além do desmantelamento institucional dos organismos de proteção e fiscalizadores, com o Ibama e o ICMbio. A imagem de unidade que ofereceram por cima de suas diferenças ideológicas, incluindo a que foi prejudicada e o que foi beneficiado pelo dramático impeachment de Dilma Rousseff, dá uma ideia da gravidade de sua denúncia. O grupo acusa o presidente e o atual ocupante da pasta, Ricardo Salles (NOVO), de estarem revertendo todos as conquistas das últimas décadas. Conquistas que “não são de um governo ou de um partido, mas de todo o povo brasileiro”, segundo destacou mais de uma vez Marina Silva, que ocupou o Ministério entre 2003 e 2008, além de ter sido candidata a presidência da República nas últimas três eleições. Silva e seus seis colegas que compareceram
à reunião desta quarta (Gustavo Krause não pôde estar presente) destacaram que, ao contrário do que prega Bolsonaro, a defesa da natureza, da biodiversidade e o combate às mudanças climáticas não são incompatíveis com o desenvolvimento econômico. Todo o contrário. Silva afirmou que o Brasil “depende do meio ambiente para ser a potência agrícola e mineradora que é”, destacando que o país crescia uma média de 3% e impulsionava o agronegócio ao mesmo tempo que reduzia em 80% o desmatamento da Amazônia. O atual ministro Ricardo Salles lançou uma nota rebatendo seus colegas. “O atual governo não rechaçou, nem desconstruiu, nenhum compromisso previamente assumido e que tenha tangibilidade, vantagem e concretude para a sociedade brasileira”, destacou. “Mais do que isso, criou e vem se dedicando a uma inédita agenda de qualidade ambiental urbana, até então totalmente negligenciada”. Os antigos ministros deixaram claro que o panorama atual é desolador. Todos fizeram questão de sublinhar que, apesar de diferenças ideológicas, cada um deles manteve o legado de seus antecessor e o rumo das políticas ambientais ao mesmo tempo que trabalhava em novas políticas e diretrizes para preservar a riqueza ecológica brasileira. Rubens Ricupero, ministro do Governo Itamar Franco entre 1993 e 1994, descreveu que o atual governo faz um esforço “malévolo e destrutivo contra algo que o Brasil construiu com tanto esforço”. As medidas “retrógradas” tomadas pelo Governo Bolsonaro neste assunto são muitas e diversas: transferir para o Ministério da
Agricultura a demarcação de terras indígenas e o Serviço Florestal Brasileiro, a perda da Agência Nacional de Águas para o Ministério de Desenvolvimento Regional, a extinção da Secretaria de Mudança Climática, o assédio aos fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), responsáveis por aplicar multas ambientais para poluidores e desmatadores, além das ameaças de desmantelar áreas protegidas, reduzir o Conselho Nacional do Meio Ambiente eliminar o Instituto Chico Mendes (ICMbio). Além disso, o governo Bolsonaro passou a indicar militares e policiais militares para os cargos de chefia do IBAMA e do ICMbio com a desculpa de que podem conferir um maior poder de política para os organismos. “Nada contra eles, mas são pessoas que não possuem a agenda ambiental”, disse Izabella Teixeira (2010-2016). Tudo isso compromete, segundo o documento assinado, o papel de protagonista exercido globalmente pelo país e indica retrocessos nos esforços realizados para reduzir as emissões de gás carbônico. Sem uma mudança de rumo, advertiu Silva, “vão transformar nosso em país em um exterminador do futuro. Isso não podemos permitir”. Já Ricupero incentivou que os jovens ocupem ruas e praças, como vem acontecendo na Europa e nos Estados Unidos, para pressionar o Governo contra o desmantelamento das políticas ambientais. Teixeira afirmou, por sua vez, que “o Brasil não pode ser a rainha má do Game of Thrones do meio ambiente”. As consequências das ações e inações do atual mandatário 35
Nelson Almeirda AFP
Os ex-ministros do Meio Ambiente José Carlos Carvalho, Carlos Minc, Marina Silva, Rubens Ricupero, Izabella Teixeira, Sarney Filho e Edson Duarte em encontro no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo
“serão dramáticas e irreversíveis” para a ecologia, a economia e a sociedade, afirmou Silva. Os mais jovens são os que irão sofrer de maneira mais intensa. Os ex-ministros explicaram que este “não é um ponto de chegada, mas sim um ponto de partida”. Querem aproveitar a crescente sensibilização planetária com a crise climática e as greves de adolescentes na Europa para estabelecer um diálogo com a sociedade civil que estabeleça uma frente contra essas políticas regressivas. E dizer basta. Silva apelou para a cidadania que, recordou, deu a vitória a um candidato que prometeu durante a campanha eleitoral acabar com a gestão ambiental. “Agora é o povo brasileiro que tem que avaliar se quer um país sem suas florestas”. Os ministros incluíram o Governo Bolsonaro em seus constantes apelos ao diálogo e a unidade diante de um tema muito impor36
tante para o futuro. Bolsonaro anunciou na campanha que eliminaria o Ministério do Meio Ambiente e prometeu que, assim como Donald Trump, tiraria o país do Acordo de Paris contra as mudanças climáticas. O ultraconservador finalmente não cumpriu com as duas promessas. Contudo, com suas decisões posteriores, conseguiu esvaziar o Ministério: nomeou Ricardo Salles, “um ministro anti-meio ambiente”, debilitou notavelmente os sistemas de proteção florestal dos povos indígenas, essenciais na preservação da biodiversidade. Como se fosse pouco, em palavras de Carlos Minc (20082010), “colocou uma pistola na mão dos agressores, poluidores e desmatadores, enquanto que os defensores do meio ambiente tiveram suas mãos atadas”. Minc também advertiu que o atual Governo “está autorizando diariamente novos agrotóxicos
cancerígenos que já estão proibidos nos Estados Unidos e na Europa”. E que podem, além de tudo, acabar com as abelhas, “essenciais para manter a biodiversidade”. Outro exemplo dado foi o arquipélago de Abrolhos, uma área de mais de 900 quilômetros quadrados próxima do Estado da Bahia que é protegida, o que permitiu que as baleias Jubarte pudessem sair da lista de animais em perigo de extinção. Porém, o Governo quer liberar a extração de Petróleo na região. Os ex-ministros também garantiram que irão manter diálogo com instituições e organismos internacionais e que, se necessário, poderão acionar a Justiça para tentar impedir algumas ações do Governo. Advertiram também que as consequências para o Brasil no campo internacional podem ser graves: vão desde a perda de credibilidade e de poder de articulação até o
fechamento de mercados para os produtos brasileiros. Algo que já começa a acontecer: recentemente, Salles cancelou um giro pela Europa devido às críticas dirigidas ao Brasil por causa da atual gestão ambiental. Em Davos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) garantiu a executivos presentes no Fórum Econômico Mundial que o Brasil permanecerá no Acordo de Paris, contrariando declarações recentes em que ameaçou retirar o país do acerto internacional para redução das emissões de gases do efeito estufa. Mais cedo, em discurso que marcou sua estreia no evento, ele falou em “avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da
biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico”, sem esquecer que eles são “interdependentes e indissociáveis”. As promessas, porém, contrastam com ações adotadas pelo governo Bolsonaro no que tange à política ambiental brasileira. Apesar de recuos em decisões como a fusão dos ministérios de Agricultura e Meio Ambiente, a nova administração federal agiu, com ações e declarações, na direção inversa de compromissos e políticas ambientais já estabelecidos no país. Esse foi o caso, por exemplo, do esvaziamento de atribuições da pasta do Meio Ambiente; das reiteradas críticas a uma suposta “indústria da multa ambiental”; da suspensão de contratos com
organizações não governamentais ambientalistas; de propostas de flexibilização do licenciamento ambiental; e da extinção de secretarias que formulavam políticas públicas para mitigar efeitos das mudanças climáticas globais. Porém, claramente suas declarações e as medidas tomadas pela sua equipe do governo para analisar não estão de acordo com as promessas de preservação do meio ambiente e da biodiversidade brasileiras feitas pelo presidente. E no que depender dos ex-ministros da pasta do meio ambiente, a pressão será constante no combate a esses retrocessos impostos pelo governo Bolsonoaro nesses primeiros meses iniciais do mandato.
Foto de uma área de exploração ilegal no meio floresta Amazônica. Desmatamento durante o iníco do governo Bolsonaro atinge números alarmantes.
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Sob risco de impeachment, Crivella enfrenta nova crise por conta de carnaval Depoimento envolve assessor-chefe de gabinete do prefeito em licitação sob suspeita para uso de camarote no Sambódromo Filipe Meirelles e Mateo Gentili Fonte: folha.uol.com.br em 29/04/2019 Sob risco de sofrer um impeachment, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), passou a ter nova dor de cabeça num tema do qual sempre preferiu manter distância: o Carnaval. Depoimento de um servidor municipal nesta segunda-feira (29) a CPI na Câmara Municipal envolve o assessor-chefe do gabinete de Crivella, Isaías Zavarise, na licitação sob suspeita de fraude para venda do camarote da prefeitura no Sambódromo. Desde 2017, a gestão Crivella leiloa o camarote a que tem direito na Marquês da Sapucaí. Bispo licenciado da Igreja Universal, que condena a festa, o prefeito nunca acompanhou os desfiles das escolas de samba e decidiu vender o espaço para ajudar os combalidos cofres municipais. Neste ano, uma nova regra para o leilão foi criada: caso não houvesse interessados em pagar a oferta inicial, de R$ 500 mil, duas novas rodada seriam feitas, a primeira por metade do valor inicial e a segunda, 25%. Mensagens apresentadas pelo presidente da comissão da licitação, Alexandre Gonçalves de 38
Souza, à CPI que investiga o caso mostram que Zavarise acompanhou de perto o andamento da disputa, mesmo sem qualquer participação formal na organização da disputa. “Bom dia. Até o momento ninguém apareceu”, informou Souza a Zavarise no dia 18 de fevereiro, data da licitação. “Bom dia! Na primeira [chamada]? Agora vai pra segunda? O rapaz falou cedo que vinha pra licitação...”, respondeu Zavarise. Logo em seguida, o assessor-chefe de Crivella explica a situação para o presidente da comissão. “Eles estão aí esperando a hora da segunda [chamada].” No dia seguinte, Zavarise volta a pedir informações sobre a disputa. “Amigão, os caras pagaram o camarote??? Os caras disseram que pagaram. Pedi pra mandar a cópia do boleto. O rapaz chamado Rodrigo me ligou dizendo que eles pagaram o boleto no Itaú para transferir pro Santander, que devido ao valor a gerente ficou meia [sic] enrolada... isso que ele me falou”, disse. Minutos depois, o assessor do prefeito encaminha a Souza cópia do boleto pago. A licitação teve a participação de quatro empresas, mas apenas uma
apresentou oferta: a Lockerbling, empresa de blindagem. Ela aguardou a terceira rodada da disputa e arrematou o camarote por R$ 125 mil. Dias antes do fim da licitação, contudo, ingressos para o espaço já eram oferecidos na internet. O certame foi organizado pela Casa Civil, à época comandada pelo vereador Paulo Messina (PRB), que reassumiu o mandato para defender Crivella na Câmara. Em depoimento à CPI, ele afirmou que determinou a abertura de sindicância à época que as primeiras suspeitas foram divulgadas. Zavarise é um dos mais longevos assessores de Crivella. Trabalhou no gabinete do prefeito quando exercia o mandato de senador e presidiu o PRB no Rio de Janeiro. Ele também foi diretor de Marketing da TV Record, controlada pela Universal. O assessor-chefe do gabinete do prefeito não foi encontrado para comentar o caso. O prefeito e a empresa Lockerblind não se pronunciaram. Crivella é alvo de um processo de impeachment na Câmara Municipal, aberto no início do mês. Na semana passada, a comissão processante decidiu manter a investigação após analisar a defesa prévia do prefeito.
Desde que assumiu, Marcelo Crivella tem enfrentado pedidos de impeachment na Câmara dos Vereadores
Ele é acusado de renovar de forma ilegal três contratos de concessão para instalação e exploração de publicidade no mobiliário urbano. A denúncia feita por um servidor da Fazenda municipal, contudo, foi apenas um instrumento dos vereadores para demonstrar a insatisfação com a gestão Crivella. As articulações para remover o prefeito começaram após ele descumprir uma série de acordos firmados com membros da Câmara, além de não atender pedidos de obras e serviços para suas bases eleitorais.
A votação sobre a continuidade ou não do mandato do prefeito deve ser feita até o dia 4 de julho. Há dúvidas, porém, sobre a real viabilidade de derrubada do prefeito. A insatisfação com a gestão Crivella na Câmara é quase unânime, mas parte dos que votaram pela abertura do processo teme pelo resultado de uma nova eleição direta neste ano —forma prevista pela lei municipal para ocupar o cargo de prefeito vago até o terceiro ano de mandato. O cargo ficaria vago em caso de impeachment porque o vice-prefeito, Fernando MacDowell
morreu no ano passado em decorrência de um infarto. O presidente da Câmara, Jorge Felippe (MDB), assumiria o cargo por um mês para convocar novas eleições. Caso Crivella não caia em razão do processo de impeachment em curso, há a expectativa de novas denúncias. Além da própria CPI do Camarote, há outra comissão de inquérito que investiga o uso da estrutura da Comlurb em favor da candidatura do filho do prefeito, Marcelo Hodge Crivella, à Câmara dos Deputados. 39
Estados Unidos ameaçam invadir Venezuela Representantes do governo americano deram, nesta semana, sinais mais evidentes sobre a possibilidade de uma ação militar no país sul-americano Jasmine Ferreira e Júlia Nascimento Fonte: msn.com (adaptado). Em 05/05/2019. Foto: gannett-cdn.com (editada). Os Estados Unidos deram novo impulso às ameaças de uma ação militar na Venezuela, agora de forma mais explícita do que os avisos repetidos de que “todas as opções estão na mesa” na conduta de Washington sobre Caracas. Com Nicolás Maduro ainda no poder na Venezuela, um dia depois de seus opositores terem convocado um levante para derrubá-lo, os EUA encararam a crise no país sul-americano como um assunto prioritário. Embora o discurso geral seja o de que Washington prefere que Maduro deixe o poder em uma transição pacífica, representantes da cúpula da Casa Branca fizeram, nos últimos dias, declarações mais abertas sobre a possibilidade de uma invasão militar da Venezuela. “A ação militar é possível. Se isso for necessário, é o que os Estados Unidos farão”, afirmou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, ao canal Fox Business. Ele acrescentou que “o presidente (Donald Trump), finalmente, terá que tomar essa decisão e 40
está preparado para fazê-lo se for necessário”. O conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, disse que os militares devem estar “prontos” para atuar na Venezuela, se preciso. O Pentágono negou que tenha ordens para uma ação militar naquele país, mas o secretário interino de Defesa dos EUA, Patrick Shanahan, precisou cancelar, no fim de abril, uma viagem à Europa para “coordenar efetivamente” com as equipes de Bolton e Pompeo sobre a Venezuela e a fronteira com o México, de acordo com um porta-voz. “Fizemos um planejamento minucioso (em relação à Venezuela), de forma que não haja situação para a qual não tenhamos nos preparado”, disse Shanahan em uma audiência no Congresso. Então, tudo isso significa que Washington está de fato mais perto de enviar tropas para a Venezuela? Não necessariamnte, é o que afirmam especialistas. Maior pressão O que Washington busca é convencer os militares venezuelanos a apoiarem Juan Guaidó, líder da oposição e autoproclamado presidente interino, segundo explica Alan McPherson, professor
de História e diretor do Centro de Estudos sobre Força e Diplomacia na Universidade Temple, nos Estados Unidos. “Parece que não funcionou ontem, mas acho que o Departamento de Estado está usando uma linguagem mais forte em suas advertências para pressionar mais pessoas”, disse McPherson à BBC. Na opinião de McPherson, o Pentágono é relutante sobre uma intervenção militar na Venezuela, mas Trump pode fazê-lo apesar das importantes consequências que isso pode ter no tabuleiro da América Latina - como a acusação, por países aliados na região, de que a intervenção americana seria ilegal. De fato, o militar de mais alta patente dos EUA, o general Joseph Dunford, afirmou que o Pentágono está focado em reunir informações sobre a Venezuela por meio de seus serviços de inteligência. Segundo o jornal americano Washington Post, a questão causou atrito entre o Pentágono e a equipe de John Bolton. Na semana passada, o general Paul Selva, segundo militar mais graduado do país, teria ficado furioso com os conselheiros de Bolton, que o pressionaram por ações militares na Venezuela.
Os EUA têm procurado enfraquecer Maduro com sanções econômicas e com a formação de uma coalizão de dezenas de países, incluindo o Brasil, que reconhece Guaidó como o líder legítimo da Venezuela e qualifica Maduro como ditador. Washington também pediu aos militares venezuelanos que apoiem Juan Guaidó. Mas Maduro permanece no poder em meio a uma enorme crise política e econômica, com o apoio dos principais comandos das Forças Armadas da Venezuela. Rússia e China também apoiam seu governo. Isso parece frustrar os EUA, que, segundo analistas, podem levar a rupturas na coalização em torno de Guaidó a depender do rumo que tomar. Por esses riscos, as declarações de Pompeo ou Bolton têm termos “vagos” sobre quando ou como uma ação militar aconteceria, destaca McPherson. “Não acho que eles estão mentindo”, diz, “mas estão enviando um
aviso de que estão se aproximando dessa decisão”. O fator Rússia Washington também parece estar enviando recados mais firmes para a Rússia sobre a Venezuela. Em março, o envio de aviões militares russos a Caracas foi encarado pelos americanos como uma afronta à sua influência na região. Pompeo disse, nesta terça-feira, que Maduro estava pronto para deixar a Venezuela, mas desistiu de fazê-lo a pedido da Rússia, que negou essa versão. No início da semana, Pompeo telefonou para o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, e disse que “a intervenção da Rússia e de Cuba está desestabilizando a Venezuela e as relações bilaterais EUA-Rússia”, disse um porta-voz do Departamento de Estado. Mas o Ministério das Relações
Exteriores da Rússia emitiu uma declaração onde afirmou que “a interferência de Washington nos assuntos internos de um Estado soberano, a ameaça contra sua liderança, é uma violação grave do direito internacional”. “Indica-se que a continuação desses passos agressivos viria acompanhada de consequências mais sérias”, acrescentou o texto russo. Kimberly Marten, professora do Barnard College da Universidade Columbia e especialista em segurança internacional e na Rússia, acredita que Washington e Moscou buscam firmar suas posições na Venezuela. “O perigo é que isso possa chegar a um ponto em que os EUA vão ceder ou iniciar operações militares, o que seria uma tragédia”, disse Marten à BBC. “Podemos esperar que ambas as partes tentem, em vez disso, usar essa jogada, simplesmente, para fomentar suas reivindicações em direção a uma solução pacífica”, acrescenta, “e para que as cabeças mais frias prevaleçam”.
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Europeus protestam por união e contra nacionalismo Manifestações ocorrem a poucos dias da votação para eleger o próximo Parlamento Europeu
Jasmine Ferreira e Júlia Nascimento Fonte: g1.com.br (adaptado). Em 19/05/2019. Milhares de cidadãos europeus protestaram neste domingo (19) para pedir pela união da Europa, contra o nacionalismo e a extrema direita. As manifestações ocorrem a poucos dias da votação para eleger o próximo Parlamento Europeu, que será entre os dias 23 e 26 de maio. Os manifestantes são contra o nacionalismo, a ascensão de eurocéticos e da ultradireita e pregam
a preservação da União Europeia. Há a preocupação de que partidos eurocéticos e ultradireitistas consigam grande número de assentos, principalmente com a baixa participação nas urnas em toda a UE. Em Berlim, 20 mil manifestantes, segundo os organizadores, marcharam pelo centro da capital, da icônica praça Alexanderplatz à Coluna da Vitória, no Parque Tiergarten. Os desfiles também reuniram 14 mil pró-europeus em Frankfurt, segundo a polícia. Houve ainda protestos em Hamburgo, Colônia e Munique. g1.com.br
Manifestantes pedem união da Europa em Colônia, na Alemanha
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As manifestações foram convocadas por mais de 250 organizações, incluindo Attac, Pro Asyl e Campact. Em Viena, onde a coalizão governista entre conservadores e a extrema direita viveu uma verdadeira derrota neste fim de semana, cerca de 2,5 mil pessoas manifestaram, segundo a polícia, 6 mil de acordo com os organizadores. Já no sábado, milhares de manifestantes se reuniram em frente à Chancelaria para exigir novas eleições após o escândalo envolvendo o FPÖ, de extrema direita, cujo homem forte, Heinz-Christian Strache, foi forçado a renunciar. “Me manifesto para alertar que o que os governos estão fazendo na Hungria, na Polônia, na República Tcheca, e talvez mais tarde na Alemanha, é muito perigoso”, disse à France-Presse Marius Schlageter, de 27 anos. Para ele, “vivemos em um mundo global, com problemas globais, que devem receber respostas globais”. Renate Foigt, de 74 anos, faz parte de um coletivo de “Avós contra a Direita”. “Estou aqui porque não quero reviver o que um sistema nacional-socialista já causou na minha vida. Isso jamais deve acontecer novamente”, enfatizou ela.
Apesar de declaradamente pró-europeus, os organizadores também reivindicam mudanças no bloco. Eles exigem promoção da diversidade e garantias de justiça social, assim como a defesa dos direitos humanos, em especial para os solicitantes de refúgio e migrantes que chegam pelo Mar Mediterrâneo. Merkel critica nacionalismo A chanceler alemã, Angela Merkel, disse, no sábado (18), que a Europa “deve se levantar” frente aos políticos de extrema direita “que se vendem”. A declaração está relacionada à gravação que levou à renúncia do vice-chanceler austríaco por suspeita de corrupção. Em entrevista coletiva na capital croata, Zagreb, Merkel afirmou que, ao mesmo tempo em que os partidos de extrema direita rejeitam valores como a proteção das minorias e os direitos humanos básicos, “os políticos que se vendem desempenham um papel, e temos de agir de maneira decisiva contra tudo isso”.
g1.com.br
Manifestação “Por uma Europa para todos” em Viena, na Áustria
“O patriotismo e o projeto europeu não são opostos. O nacionalismo é inimigo do projeto europeu, e temos de deixar isso claro nestes últimos dias antes da eleição”, frisou a chanceler. Extrema direita se une Partidos nacionalistas e xenófobos de todo o velho continente, liderados pelo líder italiano Matteo Salvini, a francesa Marine Le Pen e o holandês Geer Wilders,
marcharam neste sábado (18) em Milão para fortalecer seus laços com o objetivo de conquistar a União Europeia (UE). Faltando uma semana para as eleições europeias, Salvini e sua principal aliada, Marine Le Pen, líder do Rassemblement National (RN, ex-Frente Nacional), tentam construir uma aliança de extrema direita com cerca de 12 formações para se tornar a principal força política no Parlamento Europeu. folha.com
Ato a favor da união da Europa e contra o nacionalismo em Berlim, na Alemanha
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O país onde 48 mulheres são estupradas por hora A República Democrática do Congo tem uma das maiores taxas de violência sexual no mundo Jasmine Ferreira e Júlia Nascimento Fonte: Aaron Akinyemi, terra. com (adaptado), em 18/05/2019. Foto: blogueirasnegras.org (editada). A República Democrática do Congo tem uma das taxas mais altas de violência sexual do mundo, mas uma nova abordagem do tema está estimulando os homens a confrontarem e questionarem a “masculinidade tóxica”. Moises Bagwiza é um dos homens que agora reflete com pesar sobre seu passado. As lembranças de como tratou e estuprou sua esposa, Jullienne, são francas, explícitas e perturbadoras. “Sexo com ela era como uma briga. Eu não me importava com o que ela estava vestindo - eu arrancaria tudo”, diz ele. Em um modesto bangalô na pacata vila de Rutshuru, no leste da República Democrática do Congo, Bagwiza lembra de um ataque em particular, quando a esposa estava grávida de quatro meses. “Eu me virei e dei um chute no estômago dela”, ele diz, contando que ela caiu no chão, sangrando, enquanto vizinhos, preocupados, correram para levá-la ao hospital. O que ela tinha feito? Ela estava economizando, escondida, dinheiro para despesas domésticas com ajuda de um coletivo local de mulheres. 44
Antes do ataque, ela tinha se recusado a dar dinheiro a ele para um par de sapatos. “É verdade que o dinheiro era dela”, reconhece Bagwiza. “Mas, hoje em dia, como você sabe, quando as mulheres têm dinheiro, elas se sentem poderosas e mostram isso”. Ideias tradicionais de masculinidade Esse ressentimento está no centro do que alguns chamam de crise da masculinidade africana moderna. Durante séculos, os homens foram criados com ideias definidas sobre o que significa ser homem: ser forte, capaz de proteger e sustentar sua família. No entanto, a evolução das questões de gênero, com maior empoderamento feminino, combinada com altos níveis de desemprego masculino, está frustrando a capacidade dos homens de viverem de acordo com esses ideais antigos de masculinidade. Para homens como Bagwiza, uma mulher independente financeiramente representa uma ameaça. Pedreiro em uma vila local, ele diz que sentiu que a violência era a única forma de se comunicar com sua esposa. “Eu achava que ela pertencia a mim”, disse. “Eu pensei que poderia fazer qualquer coisa que quisesse com ela”.
Compensação pelo ‘fracasso masculino’ O caso de Bagwiza está longe de ser o único. A República Democrática do Congo tem uma das maiores incidências de estupro no mundo, com uma estimativa de que cerca de 48 mulheres são estupradas a cada hora, de acordo com um estudo do American Journal of Public Health. Vários especialistas atribuem a crise de violência sexual do país a um conflito de longa data no leste do Congo, onde grupos de milícias rivais, geralmente, usam o estupro coletivo e a escravidão sexual como armas de guerra. A causa principal do estupro, contudo, é muito mais profunda, segundo Ilot Alphonse, co-fundador da ONG Rede de Homens do Congo (Comen). “Quando falamos de violência sexual apenas no contexto de um conflito armado, estamos fugindo da questão central”, diz ele. “Nós herdamos essa maneira de tratar as mulheres como objetos nossos, uma ideia de que os homens têm o direito de fazer sexo a qualquer hora. A causa da violência sexual se trata do poder e da posição que os homens congoleses sempre quiseram manter”. Mulheres no debate Danielle Hoffmeester, do Instituto de Justiça e Reconciliação (IJR)
na África do Sul, diz que a violência de gênero está diretamente ligada a como os homens são socializados enquanto crianças e à incapacidade de cumprir as regras rígidas da masculinidade africana tradicional. “A incapacidade dos homens de prover e sustentar suas famílias levou muitos deles a compensar esse ‘fracasso’ na masculinidade de maneiras frequentemente tóxicas e violentas”, diz ela. Alphonse diz que ele foi tanto um agressor quanto uma vítima de violência. “Na escola, fomos espancados, em casa, fomos espancados e, na aldeia, organizamos sessões de luta”, diz. Ele diz que internalizou a violência, que mais tarde se tornou uma maneira de se comunicar. “Às vezes, eu batia na minha namorada, e era ela quem tinha que se desculpar. Lembro que um dia, quando ainda éramos crianças, briguei com minha irmã e joguei uma faca nela”. As iniciativas contra o estupro na África têm, normalmente, focado nas mulheres, que são a maior parte das vítimas, e excluído os homens, que são a causa da violência sexual. Para Alphonse, contudo, essas medidas tratam dos sintomas e não das causas profundas da violência sexual. “Estamos combatendo a violência com base no gênero”, diz ele. “Para que isso aconteça, temos que envolver homens e meninos que são parte do problema, então eles têm um espaço para mudar o comportamento”. Foi isso que Alphonse e colegas fizeram. Criaram a Baraza Badilika, uma versão contemporânea de antigos espaços de encontro onde
os homens se reuniam para resolver questões urgentes da comunidade e iniciar os meninos na masculinidade. Como conflitos sucessivos arrasaram aldeias e mataram pessoas, esses espaços foram quase erradicados, o que levou a uma falta de modelos masculinos para as crianças, segundo ele. Enquanto a tradicional Baraza Badilika (cuja tradução é “Círculo de Mudança”) era frequentada apenas por homens, essa interação do século 21 dá às mulheres papeis de liderança. “É, realmente, hora de as mulheres tomarem esses espaços”, afirma. Mudanças Toda semana, cerca de 20 homens se encontram na Baraza por duas horas para aprender sobre masculinidade positiva, igualdade de gênero e paternidade. As oficinas são conduzidas por um homem e por uma mulher, que usam filmes, livros ilustrados e sessões de psicodrama para “reprogramar o cérebro” dos agressores. Alphonse diz que a maioria das mulheres relata a ele que os maridos mudaram depois de participar das oficinas. “Elas dizem: ‘Fomos a líderes religiosos, chefes tradicionais, mas ele não mudou. Foi preso várias vezes, mas não mudou. De repente, vejo ele não sendo mais violento e voltando para casa na hora’”. Alphonse está determinado a alcançar “todos os homens” na República Democrática do Congo com sua filosofia de masculinidade positiva. “Sonhamos em ver o fim de todas as formas de violência neste país”, diz ele. “Assim, podemos torná-lo apropriado para homens, mulheres, meninos e meninas”. 45
Polícia interrompe marcha LGBT em Cuba Cerca de 100 manifestantes conseguiram caminhar apenas 400 metros pela famosa avenida Paseo del Prado. Ao menos três ativistas foram presos Jasmine Ferreira e Júlia Nascimento Fonte: Deutsche Welle, g1.com.br (adaptado), em 12/05/2019. A polícia de Cuba interrompeu, neste sábado (11), uma marcha pelos direitos LGBT, que fora organizada como protesto pelo cancelamento do desfile contra a homofobia, patrocinado, anualmente, pelo governo e cancelado esta semana pelas autoridades do país. Aos gritos de “sim, é possível!”, os cerca de 100 manifestantes conseguiram caminhar apenas 400 metros pela famosa avenida Paseo del Prado, no centro histórico de Havana, antes de serem dispersados pela polícia. Pelo menos três manifestantes foram detidos. Os ativistas protestaram contra o cancelamento da tradicional “conga”, organizada há mais de 10 anos, no Dia contra a Homofobia, pelo Centro Nacional de Educação Sexual (Cenesex), sob o patrocínio do Ministério da Saúde cubano. Na segunda-feira, o Cenesex – dirigido por Mariela Castro, filha de Raúl Castro e ativista LGBT – anunciou, na sua página oficial no Facebook, que a decisão de cancelar o evento fora tomada pelo Ministério da Saúde “dada a atual conjuntura vivida pelo país”, que se prepara para enfrentar a pior crise econômica em décadas. O cancelamento coincide com as 46
medidas de austeridade anunciadas pelo governo de Cuba, incluindo racionamento de produtos básicos. O governo cubano atribuiu a escassez no abastecimento ao recrudescimento dos embargos dos Estados Unidos. Economistas também apontam como causas a ineficiência da economia cubana e a crise na Venezuela, o principal parceiro comercial da ilha. A marcha de protesto foi a segunda passeata organizada independentemente de instituições estatais – algo até então raro em Cuba – em pouco mais de um mês, embora a anterior, em defesa dos direitos dos animais, tinha recebido autorização das autoridades locais. “Este momento marca um antes e um depois para a comunidade LGBT, mas também para a sociedade civil cubana em geral”, avaliou o jornalista independente e ativista LGBT Maykel Gonzalez Vivero. “A mídia social está desempenhando seu papel, e a sociedade civil demonstrou que tem força e pode sair às ruas se necessário, e a partir de agora o governo terá que levar isso em conta”. Os ativistas promoveram a marcha nas redes sociais, graças à expansão da internet em Cuba nos últimos anos, com um número crescente de cubanos se mobilizando online sobre certas questões. Mas o governo continua mantendo um controle rigoroso sobre espa-
ços públicos físicos, autorizando apenas manifestações de apoio ao governo, como o recente desfile do Dia do Trabalho. A “conga” de Havana era uma exceção, que se tornou um evento regular, e um lembrete de que o governo, que já enviou gays a campos de trabalho forçado nos primeiros dias da revolução de 1959 de Fidel Castro, fez avanços consideráveis nos direitos LGBT nos anos recentes. Havana garante os direitos dos homossexuais e proíbe a discriminação com base na sexualidade, em uma região onde alguns países ainda têm leis contra sodomia. Alguns ativistas LGBT dizem que sentiram que o cancelamento da “conga” é um sinal de que esses direitos estão sendo corroídos, possivelmente porque uma recente consulta pública sobre uma nova Constituição revelou haver mais oposição à comunidade gay do que se pensava anteriormente. O desfile de 2019 teria sido o primeiro depois da aprovação, em abril, da nova Constituição cubana, que chegou a ter prevista uma modificação abrindo caminho ao casamento homossexual, embora não tenha sido incluída no texto final. Muitos cubanos expressaram sua oposição à mudança. Igrejas evangélicas também realizaram campanhas sem precedentes contra a modificação.
Fotos: midiario.com
Acima, manifestantes cubanos da LGTBI marcham na avenida do Prado, em Havana Abaixo, polĂcia cubana prende manifestantes, tambĂŠm em Havana
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Cadela Lucy inspirou nova lei sobre compra de cães no Reino Unido Historia de vida da cadela Lucy, que foi maltratada no canil, virou uma campanha de incentivo a adoção e inspirou lei para regulamentar a venda de cães e gatos. Jasmine Ferreira e Julia Nascimento Fonte: g1.com (editada) Foto: g1.com em 13/05/2019 Quando Lucy foi resgatada, ela sofria de epilepsia, problemas no quadril, na coluna e na pele. Resultado de anos de maus-tratos num canil no País de Gales, onde era forçada a reproduzir à exaustão. Lucy é uma cadela da raça cavalier king charles spaniel que passou boa parte da vida presa em uma jaula e já não reproduzia mais. A história de Lucy, que acabou adotada por uma ativista britânica por direitos de animais, e ganhou três anos de carinho antes de morrer em 2016, virou motivo de uma campanha contra as chamadas “fábricas de filhotes” e ajudou a mudar a legislação na Inglaterra para regular a venda de filhotes de cães e gatos. Ativistas lutaram para acabar com a prática de alguns criadores que mantém fêmeas constantemente prenhes e, muitas vezes, 48
em condições insalubres. A nova lei, prevista para entrar em vigor em 2020, exige que a compra ou adoção de animais com menos de seis meses de idade seja feita diretamente de criadores ou abrigos de animais. Segundo o governo britânico, a medida inibe a atuação de terceiros no comércio de animais bem como de criadores que separam filhotes das mães até os primeiros seis meses e mantém os animais em situações degradantes forçando-os a procriar no limite de suas forças para aumentar a margem de lucro. Foi exatamente isso que aconteceu com Lucy. “Estava claro que pelo estado físico dela que foi submetida a condições terríveis. Mas, com muita paciência, Lucy acabou desfrutando felicidade na vida, apesar de curta”, disse Lisa Garner, a ativista que adotou a cadela, em entrevista ao jornal britânico Mirror. Segundo o veterinário Marc Abraham, que também participou da campanha para mudar a
legislação no Reino Unido, Lucy tinha cinco anos de idade quando foi resgatada com o corpo todo machucado. Mas, no período em que viveu em liberdade, diz ele, teve uma vida como um cachorro normal. “Lançamos a (campanha) ‘Lei Lucy’ um ano depois de sua morte como tributo a ela e a todos os cães reprodutores que estão escondidos do público”, explicou o veterinário à rádio 5 Live, da BBC. A campanha para regular a venda de animais e inibir criadores que não oferecem o mínimo de estrutura para o bem estar de cães e gatos teve apoio de celebridades britânicas, como o comediante Ricky Gervais. “Estávamos muito animados para tê-lo em casa, mas, 17 horas depois de ele chegar, tudo deu errado”, disse Rebecca Reed. Max não queria comer, mas estava bebendo água sem parar. Rebecca estava em casa quando o marido a chamou para voltar pra casa, porque o cão estava muito doente. “Ele era como um cobertor molhado no chão. Ele não conse-
guia nem levantar a cabeça, ele estava tão fraco. Foi doloroso”, lembra Rebecca. Um veterinário diagnosticou Max com megaesôfago - uma doença em que os cães são incapazes de colocar comida no estômago. Rebecca tentou entrar em contato com o vendedor para saber se outros filhotes tinham a mesma doença, mas as ligações foram ignoradas. Para cuidar de Max, Rebecca precisou mudar o horário no trabalho. Ela e o marido passaram a dar uma dieta líquida e construíram uma cadeira especial para ajudá-lo a digerir o alimento. O casal estima que gastou mais de 5 mil libras, o equivalente a cerca de R$ 25 mil, para cuidar do cão, depois de o vendedor ter mentido sobre a raça, a idade, o histórico de vacinação e o estado de saúde de Max.
Novas regras A nova lei que regula a venda de cães e gatos, batizada de Lei Lucy deve entrar em vigor somente em abril de 2020. A partir dessa data, pet shops só e comerciantes de cães e gatos só poderão comercializar animais criados por eles seguindo as regras de licenciamento. Estão, portanto, proibidos de comprarem de terceiros. O ministro para Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais, Michael Gove, disse que as novas regras dariam aos animais “o melhor começo possível na vida”, uma vez que a legislação exige que os animais tenham nascido e crescido num ambiente saudável. A Sociedade Real para Prevenção de Crueldade contra Animais, maior entidade britânica de defesa de animais, comemorou a nova lei, mas ressaltou que é preciso fiscalização.
No Brasil A lei no Brasil exige que todo criador comercial seja licenciado e tenha um veterinário responsável. Mas a fiscalização é precária. No fim do ano passado, o Senado e a Câmara aprovaram a ampliação da pena para o crime de maus-tratos a animais para de um a quatro anos de detenção - atualmente, a pena prevista é de três meses a um ano de detenção, além de multa. Foi uma resposta do Legislativo diante da repercussão da morte de uma cadela agredida em um supermercado em Osasco (SP). Ambas as Casas aprovaram textos com propostas ligadas à proteção de animais - o texto aprovado na Câmara precisa ser aprovado pelo Senado, e vice-versa. Ambos mantêm a previsão de pagamento de multa.
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A proposta aprovada pelos senadores estabelece também punição financeira para estabelecimentos comerciais que, por omissão ou negligência, venderem animais vítimas de maus-tratos. A proposta da Câmara traz agravantes da pena, com ampliação do prazo de prisão de um sexto a um terço para casos de zoofilia ou se o animal morrer. A norma vale para atos praticados contra animais silvestres, domésticos, nativos ou exóticos. E há municípios, como Santos (SP), que estão discutindo na Câmara de Vereadores um projeto que proíbe a comercialização de cães, gatos e pássaros na cidade.
Lucy foi adotada pela ativista Lisa Garner em 2016.
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Sylvi Listhaug: a ministra da Saúde que defende que noruegueses fumem, bebam e comam carne ‘o quanto quiserem’ Nomeada na semana passada, Sylvi Listhaug voltou ao governo um ano após ter sido forçada a renunciar após se ver em meio a polêmica sobre imigração. 50
Jasmine Ferreira e Julia Nascimento Fonte: g1.com (adaptado) em 8/05/2019 A nova ministra para Saúde Pública e Idosos da Noruega causou polêmica ao defender que as pessoas devem poder comer, fumar e beber “o quanto quiserem”. Nomeada na sexta-feira, Sylvi Listhaug também disse que os fumantes são levados a se sentirem como párias. Seus críticos dizem que ela tem pouca compreensão do que é saúde pública. “Meu ponto de partida em relação a saúde pública é muito simples. Não pretendo ser uma polícia moral e dizer como as pessoas devem levar suas vidas, mas pretendo ajudar as pessoas a obter informações que servirão de base para suas escolhas”, disse ela à emissora norueguesa NRK em uma entrevista na segunda-feira. “As pessoas devem fumar, beber e comer tanta carne vermelha quanto quiserem. As autoridades podem querer informar a população, mas as pessoas sabem muito bem o que é ou não é saudável”, declarou a ministra da saúde. ‘Um retrocesso de décadas em saúde pública’ Listhaug, ela própria uma ex-fumante, acrescentou ainda que hoje quem fuma é levado a se sentir como um pária. “Eles praticamente acham que têm de se esconder, e isso é estúpido. Embora fumar não seja bom, por ser prejudicial à saúde, adultos têm de decidir por si mesmos o que fazer.” A ministra defendeu que a única coisa que governos devem fazer é fornecer informações para que as pessoas possam fazer esco-
lhas conscientes. “É por isso que devemos, entre outras coisas, conceber uma estratégia para o tabaco agora, o que ajudará a evitar que jovens comecem a fumar e também pode levar adultos a pararem” com o hábito. Listhaug diz que, hoje, só fuma raramente e o faz principalmente em ocasiões sociais. Anne Lise Ryel, secretária-geral da Sociedade do Câncer da Noruega, disse que os comentários de Listhaug são potencialmente danosos à saúde pública. “Muitos vão concordar com o que ela diz. Isso representa um retrocesso de muitas décadas em saúde pública”, afirmou Ryel à NRK. Ministra defendeu visões anti-imigração Listhaug é política populista do Partido Progressista, uma legenda de direita que faz parte do governo de coalizão liderado pelo Partido Conservador, e já
se viu em meio a controvérsias anteriormente. No ano passado, ela foi forçada a renunciar ao Ministério da Justiça depois de acusar os partidos Trabalhista e Democrata Cristão de colocarem “direitos terroristas” antes da segurança nacional. As legendas ajudaram a derrotar um projeto de lei que daria ao Estado o direito de revogar a cidadania norueguesa de pessoas suspeitas de terrorismo ou de se juntar a grupos militantes estrangeiros. Os democratas cristãos ameaçaram derrubar o governo caso ela não renunciasse. Em 2016, ela foi ridicularizada por pular de um barco no Mediterrâneo - com roupa especial que permite boiar com facilidade - para viver a experiência de refugiados nas perigosas travessias rumo à Europa. g1.com
Ministra com roupa especial em 2016 em Lesbos na Grêcia.
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Academia militar nos EUA tem maior número de formandas negras em toda a história A cerimônia de formatura, marcada para este sábado (25), terá 34 mulheres negras, um recorde que sinaliza esforços para diversificar a Academia de West Point, que forma alunos para o exército americano. g1.com
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Jasmine Ferreira e Julia Nascimento Fonte: g1.com (editado)em 25/06/2019 Foto:g1.com (editado) Um número recorde de mulheres negras se forma neste sábado (25) na Academia Militar de West Point, nos Estados Unidos, que prepara alunos que já terminaram o ensino médio para o exército americano. Elas são 34 dos cerca de mil estudantes da turma de 2019. “Eu acabei de mostrar a mim mesma e àqueles que achavam que eu não conseguiria que, sim, eu consigo”, disse a formanda Stephanie Riley (foto). “E não só que eu consigo: eu posso mostrar a outras meninas que, sim, você pode vir para West Point. Sim, você pode fazer algo que talvez o resto dos seus colegas não estejam fazendo. E, sim, você pode ser diferente do resto do grupo”, afirmou. Stephanie estava entre as formandas negras que posaram para fotos de formatura em seus uniformes cinza, segurando sabres cerimoniais. As fotos — parte de uma tradição para cadetes graduados — foram publicadas online e se tornaram um símbolo da crescente diversidade de West Point, que permanece principalmente branca e do sexo masculino. As 34 formandas são uma fina fatia dos cerca de mil cadetes da turma de 2019. Ainda assim, as cadetes dizem estar orgulhosas de fazerem parte de um marco histórico na academia, depois de quatro anos testando seus limites.
“Eu estava mais animada para tirar a foto porque significa que estamos todas nos formando. Foi ótimo estar lá com muitas das minhas irmãs, que me apoiaram em momentos difíceis durante o treinamento de verão e o ano acadêmico”, disse a cadete Gabrielle Young. “Eu não esperava que tivesse o impacto que causou em todo o país”. Embora West Point desafie todos os cadetes, as experiências podem ser diferentes para mulheres negras. Stephanie contou que as pessoas procuravam por ela para fazer comentários durante discussões em sala de aula sobre raça ou escravidão. Já Gabrielle disse que é muito atenta a como se comporta e como é vista por pessoas diferentes. “Eu sinto que, de alguma forma, eu tenho que me provar um pouco mais, provar que eu pertenço a este lugar. E até mesmo um colega me disse, acho que no nosso primeiro ano, que eu só entrei porque eu era
uma mulher negra”, contou Gabrielle, uma das poucas na sala que foram selecionadas para uma faculdade de medicina. Marcos Históricos West Point impulsionou os esforços para recrutar mulheres e estudantes negros depois de receber, em 2013, uma recomendação do então chefe de gabinete do Exército. A academia mudou sua abordagem de marketing e abriu um escritório de diversidade. Os funcionários de admissões aumentaram o os esforços de alcance para áreas metropolitanas de cidades como Nova York, Atlanta e Detroit. Nem todos esses esforços foram voltados especificamente para minorias ou mulheres, mas ampliaram a busca por candidatos qualificados. O fato de a academia ter montado times de lacrosse e rugby para jogos universitários também ajudou a atrair atletas do ensino médio. A turma que se forma neste sábado tem vários recordes: são, ao todo, 223 mulheres - o maior número desde que as primeiras cadetes se formaram, em 1980 -, 110 alunos negros e 88 latinos, os maiores números da história. “Estamos começando a ver os frutos de nossos trabalhos”, disse a a coronel Deborah McDonald, diretora de admissão. Em outro marco, o tenente-general Darryl A. Williams tornou-se o primeiro superintendente negro em West Point no verão (americano) passado. Em 2017, Simone Askew foi a primeira mulher negra a se tornar a primeira capitã do Corpo de Cadetes, a mais alta posição estudantil na academia. 53
Mesmo com o progresso na diversidade, West Point não ficou imune a problemas enfrentados pelos militares e pela sociedade. A violência sexual e o assédio têm sido problemas tão persistentes que Williams suspendeu as aulas por um dia, em fevereiro, para que toda a academia pudesse se concentrar neles. Além disso, foi há apenas qua-
tro anos que 16 alunas negras do último ano inadvertidamente provocaram controvérsias, levantando os punhos cerrados em uma de suas fotos de formatura. Críticos viram implicações políticas em um gesto que, segundo os defensores, foi feito com boas intenções solidárias. Neste sábado, Stephanie e Gabrielle estarão entre os formandos que
serão comissionados segundos-tenentes do exército americano, depois de um discurso do vice-presidente Mike Pence. Stephanie vai para o Corpo de Sinais do exército. “Eu não acho que trocaria essa experiência por nada no mundo”, disse Gabrielle. “Eu sei que já conquistei muito e sei que estou preparada para o que quer que venha.” g1.com.br
A turma que se forma neste sábado tem vários recordes: são, ao todo, 223 mulheres - o maior número desde que as primeiras cadetes se formaram, em 1980 -, 110 alunos negros e 88 latinos, os maiores números da história.
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Botsuana libera a caça de elefantes
A caça estava vetada desde 2014, mas a proibição foi suspensa. Jasmine Ferreira e Julia Nascimento Fonte: g1.com Foto: g1.com (editada) Botsuana retirou n e s t a quarta-feira (22) a proibição à caça de elefantes. Prevaleceu o argumento de que as populações do animal aumentaram demais. Além disso, alega-se que os meios de subsistência dos agricultores estão sendo afetados. A proibição da caça de elefantes foi estabelecida no país do sul da África em 2014 pelo então presidente conservacionista Ian Khama. Mas os deputados do Partido Democrático de Botsuana (PDB), atualmente no poder, pressionaram para que a proibição fosse revogada, argumentando que as populações se tornaram incontroláveis em algumas áreas. O presidente Mokgweetsi Masisi assumiu o cargo após Khama, em abril do ano passado. O novo presidente se distanciou das políticas de defesa da fauna selvagem iniciadas por seu pre-
decessor e, cinco meses depois, foi iniciada uma revisão pública da medida.
Botsuana tomou a decisão de
revogar a suspensão da caça”, disse o Ministério do Meio Ambiente do país sul-africano, em comunicado. Botsuana tem a maior população de elefantes da África, com mais de 135 mil animais em liberdade, em seus parques e amplos espaços abertos, mas especialistas estimam que a população pode chegar a 160 mil animais. O número de paquidermes no país, famoso destino de safáris de luxo, quase triplicou nos últimos 30 anos. Agricultores lutam para manter os elefantes fora de seus campos, onde comem produtos agrícolas e, às vezes, podem colocar as pessoas em risco. Segundo o governo, uma revisão do comitê do gabinete revelou que “o conflito entre humanos e elefantes aumentou em número e intensidade e estes animais afetam cada vez mais os meios de subsistência [da população]”. “O consenso geral [...] foi que a proibição da caça devia ser retirada”, acrescentou o ministério, prometendo que a prática seria restabelecida “de um modo ordenado e ético”. 55
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Anarcofeminismo
Maria Lacerda de Moura 57
Tabata Hellen e Barbara Rudge fonte: Helô D’Angelo revistacult.uol.com.br Em 16/05/2017 Nascida há 130 anos, em Manhuaçu (MG), Lacerda foi anarquista e escreveu sobre direitos femininos, maternidade compulsória, antifascismo, amor livre e antimilitarismo Maria Lacerda de Moura se definia como intelectual, pacifista e feminista. Na imprensa, escre -
veu sobre os movimentos e m
q u e militou sem deixar de criticá-los: o feminismo, por não acolher mulheres negras e pobres; o comunismo, por pregar hierarquias excessivas no governo; o anarquismo, por ser tão radical a ponto de não aproveitar boas estratégias de outros sistemas políticos. A descrição poderia ser a de muitas jovens de hoje, mas pertence a uma mulher que viveu no século passado, e que foi uma das primeiras feministas do Brasil. Nascida há 130 anos, em Ma58
nhuaçu (MG), Lacerda partia das próprias reflexões sobre a opressão da mulher para lutar contra outras formas de opressão, como a de classe. Por seu destaque como porta voz e crítica destes movimentos, chegou a ser conferencista tanto no Brasil quanto em outros países da América do Sul, tratando de temas polêmicos naquele contexto e ainda hoje, como direitos femininos, maternidade compulsória, antifascismo, amor livre e antimilitarismo. “Seus escritos trazem questões datadas e questões ainda muito atuais”, escreveu a professora Miriam Moreira Leite, estudiosa e diretora do documentário Maria Lacerda de Moura – Trajetória de uma Rebelde (2003). Moreira Leite afirma que a luta da feminista centrava-se no “esclarecimento da mulher sobre sua situação de escrava da família e do marido, ou sua marginalização como solteirona ou prostituta”, e era posta em prática pela ideia de que as mulheres e as classes oprimidas em geral só conseguiriam qualquer tipo de emancipação quando alcançassem a liberdade intelectual: “Enquanto não souber pensar [a mulher] será instrumento passivo em favor das instituições do passado. E ela própria, inconsequente, trabalhará pela sua escravidão”, escreveu em 1922. Esta emancipação intelectual era algo que ela mesma reconhecia, por experiência, como algo de difícil alcance. Por isso, esforçava-se para militar na esfera da educação, e falava, em seus
textos, sobre tudo aquilo que julgava ser opressor: “Seus temas vão desde o Estado e o serviço militar obrigatório aos métodos de contracepção e a uma noção muito específica de amor”, explica a professora Ana Lúcia Ferraz, co-diretora do documentário. “Sua posição diferia de todas as outras em sua época. Por isso, ela não foi adotada por nenhum movimento.” Anarquista, Lacerda não deixou de questionar o próprio anarquismo ao perceber que o movimento repudiava o sistema de educação comunista da União Soviética, que ela achava um bom modelo. Sufragista, colocou em xeque o movimento pelo voto feminino porque percebeu que as militantes também exploravam outras mulheres, mais pobres, nos trabalhos domésticos. Feminista, criticou o feminismo do início do século 20, pois entendia que a palavra “feminismo” estava perdendo seu significado de luta e se tornando uma espécie de moda – razão pela qual não poderia aceitar “nem o feminismo de votos, muito menos o feminismo de caridade”, como escreveu em texto de 1928. Indesejável Para Moreira, a trajetória da feminista mostra uma “coragem audaciosa, em contraste à submissão ainda corrente das mulheres à autoridade da família, do Estado e da Igreja”. E foi mesmo uma história de vida diferente: em vez de resignar-se com a própria situação, como era comum até mesmo entre mulheres que se proclamavam feministas, começou a estudar assuntos como feminismo, política, pedagogia e economia, e passou a se identifi-
car como feminista. Em 1919, no Rio de Janeiro, fundou a Liga pela Emancipação Feminina junto da bióloga Bertha Lutz, organização que lutava principalmente pelo sufrágio feminino. Mas por notar o caráter demasiadamente burguês e excludente das pautas defendidas pela Liga – como o estudo da Mulher no currículo básico escolar -, afastou-se do movimento sufragista e também do feminismo, que já considerava esvaziado de seu sentido original. “A palavra ‘feminismo’, de significação elástica, corrompida, mal interpretada, já não diz nada das reivindicações feministas. Resvalou para o ridículo, numa concepção vaga, adaptada incondicionalmente a tudo quanto se refere à mulher. Em qualquer gazela, a cada passo, vemos a expressão ‘vitórias do feminismo’ – referente, às vezes, a uma simples questão de modas”, elaborou, em 1928. A consciência se intensificou a partir de 1921, quando foi viver em São Paulo e viu as condições de trabalho e de vida do proletariado. Do espanto, veio o envolvimento mais intenso com ideologias de esquerda, em especial o anarquismo. “Em São Paulo, ela compartilha o ambiente politizado dos movimentos de trabalhadores, sem compreender as divisões entre aqueles que lutavam pelos interesses dos e das trabalhadoras: feministas, anarquistas, comunistas de então”, afirma a professora Ana Lúcia Ferraz. Dentro da imprensa operária, escreveu em publicações anarquistas importantes como o jornal A Plebe e a revista Renascença, além de outros jornais independentes e progressistas como O Combate e O Ceará. Nestes tex-
tos, Lacerda falava principalmente de pedagogia e educação, mas não deixava de denunciar a opressão sofrida por mulheres e crianças. “Sou ‘indesejável’, estou com os individualistas livres, os que sonham mais alto, uma sociedade onde haja pão para todas as bocas, onde se aproveitem todas as energias humanas, onde se possa cantar um hino à alegria de viver na expansão de todas as forças interiores, num sentido mais alto – para uma limitação cada vez mais ampla da sociedade sobre o indivíduo”, escreveu na época. “Sua obra dialoga com seus contemporâneos e com autores clássicos, sua erudição não deixa de ser profundamente engajada nos debates de seu tempo, com uma visão radicalmente libertária.” Os ecos da degenerescência O médico português Miguel Bombarda não era uma exceção na tentativa de atestar a inferioridade biológica da mulher. Segundo a professora Margareth Rago, um dos principais nomes por trás da difusão de ideias relacionadas à “degenerescência feminina” foi o italiano Cesare Lombroso (1835-1909). O criminologista ficou conhecido no mundo todo pela elaboração de teorias que tentavam relacionar traços hereditários à disposição para o crime. No livro “A mulher delinquente: a prostituta e a mulher normal”, escrito no fim do século 19 com Guglielmo Ferrero (1871-1942), Lombroso lista aspectos físicos e comportamentais que caracterizariam uma prostituta, definida na obra como a “degenerada nata”. Para
Margareth Rago, interpretações do discurso científico sobre o corpo e o temperamento da mulher ganharam força no Brasil ao corroborarem uma normalização do comportamento feminino em um contexto de mudanças marcadas pela industrialização e pela formação das cidades. “Nos primeiros anos do século 20, estava surgindo uma nova mulher, que é essa mulher do espaço urbano. Elas estavam começando a entrar na esfera pública, nas fábricas, nas ruas, nas lojas. E as elites estavam muito preocupadas em dizer como deveriam entrar: com que roupa, de que modo, em que horário”, disse. No livro de 1924, Maria Lacerda questionou a linha argumentativa dos que defendiam a existência de uma degenerescência feminina e também denunciou a função de controle que ela exercia sobre a vida das mulheres na época. No período em que a ativista escreveu e ministrou palestras, temas como casamento, adultério, divórcio e aborto, marcantes em sua obra, não eram admitidos como objeto da reflexão de mulheres. Ela também foi uma das primeiras brasileiras a tocar em assuntos como a prostituição e a violência sexual. “É uma mulher que marca uma virada no pensamento feminista e na luta pelas mulheres no Brasil [...] não é uma voz isolada dentro do anarquismo, mas elabora com mais profundidade em temas que as anarquistas estão colocando”, disse Rago.
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O feminino que não se lê Tabata Hellen e Barbara Rudge Fonte: Maricia Ciscato revistacult.uol.com.br Em 10/05/2019 Ao final do século 19, início do século 20, em meio a uma cultura europeia centrada em “famílias tradicionais” (homens “chefes de família”, mulheres dedicadas a filhos, tarefas domésticas e crianças sem infância), Sigmund Freud criou a psicanálise. A Europa fervia: revolução industrial, invenção da imprensa, arte impressionista… E, em poucos anos, os anúncios de uma primeira guerra mundial. Freud se dispôs a escutar o silêncio dos lares vienenses, assim como o sussurrar dos ventos de sua época. Seu trabalho transformou nosso olhar sobre o sujeito moderno ocidental, fruto do Iluminismo, que se viu derrubado do lugar de “centro da razão”. Foram as mulheres quem primeiramente fizeram o criador da psicanálise perceber o que pulsava por trás dos incompreensíveis sintomas em seus corpos e lares. Sintomas que faziam enigma a um universo masculino da época, que recorria aos saberes prescritos de então, para tentar “curá-las”, sem sucesso algum. A escuta atenta de Freud ao que elas se dispunham a lhe falar provocou uma abertura no mundo científico e, com isso, o início da psicanálise. As mulheres ensinaram a Freud que o sofrimento que lhes acometia não se dispunha a ser tratado com prescrições médicas, mas com suas próprias palavras. Que as palavras que encontra60
vam inicialmente para tentar bendizer suas dores puxavam outras, e outras, e memórias infantis, e sensações corporais, até o espanto de perceberem que sabiam sobre si o inimaginável. Os efeitos da linguagem e da cultura no corpo feminino se destacaram na escuta freudiana. Já nos idos 1900, as mulheres portavam em seus corpos o anúncio do que falhava nas estruturas viris europeias de então (como sempre, algo falha em qualquer estrutura). Apontavam para o que estava para além das construções dos saberes e dos circuitos politicamente corretos. Faziam entender que a cultura não se separa dos corpos, que a linguagem não se separa do erotismo e que a maternidade não é idílica. Anunciavam que, no encontro entre a linguagem e o corpo, algo escapa às montagens significantes e aos infinitos significados de nossas histórias. Às parcerias perfeitas, entre casais ou entre mãe e filho, as mulheres respondiam com seus corpos em descompasso com a suposta harmonia da época. Instinto materno? Elas nos ensinam, por exemplo, que a ainda, que seguem a tanto nos ensinar. A experiência da maternidade – pelo menos a da maternidade humana, linguageira – de natural e “instintiva” nada tem. Ensinam que, como mães, podem vivenciar a chegada de um bebê não apenas em seu aspecto fálico, mas como algo muito angustiante. Não deveria lhe envolver de imediato um amor incondicional e um saber se vi-
rar com colos, choros e afagos? Eis que nasce o bebê, mas – surpresa difícil – a sua chegada não coincide necessariamente com a da mãe. Peito e boca não se encontram. Choro e colo não se abraçam. Exaustão e sono não se acalantam. Seu corpo de mulher se tornou uma massa amorfa a fazer peso escorrendo por um peito de dor e fissuras; um peito sugado e abocanhado por horas e horas e horas por uma boquinha mínima, linda, doce. E infinitamente voraz. Uma boquinha aberta em modo constante para um peito do qual pende a inconsistência de um corpo que já não é mais o daquela mulher que antes podia usufruir do mesmo, oferecendo-o ao prazer, seu e de parceiros. Experimenta a perda de suas bordas corporais. Gozos Uma forma de a psicanálise lacaniana pensar a experiência, no corpo, de perda das bordas e de apagamento dos contornos, é através do conceito de “gozo feminino” (ou “gozo nãotodo”). O “gozo”, é constituído pelo encontro da linguagem com o corpo. Refere-se aos excessos de prazer e de desprazer tão únicos a cada um; a algo que experimentamos singularmente, sempre como um profundo estranhamento, embora também de modo familiar. Em seu seminário de número 20, o psicanalista Jacques Lacan nos apresenta uma fórmula com dois tipos de gozo, o “fálico” e o “feminino” (ou o gozo “todo” e o “nãotodo”). A esses dois tipos de gozo, so-
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Pintura Nascimento do menino Jesus
um gozo “de mulher”. Referimo-nos a um gozo opaco, que não faz conjunto, não é compartilhável, não faz unidade, não se permite delimitar ou definir; é um gozo líquido e não sólido; um acontecimento de corpo que faz enigma e que pode vir a desmanchar os contornos de todos os seres falantes, dos mais consistentes aos mais líquidos. Neste sentido, o gozo feminino está em oposição ao gozo fálico que seria, por sua vez, enlaçado aos enredos da vida, referido ao jogo binário entre presença e ausência, às palavras, aos discursos e a uma unidade corporal (mesmo sendo ele estranho a imagem que temos de nosso corpo). Devastação Quando o gozo nãotodo vem se situar de modo avassalador numa relação, uma leitura pos62
sível dessa vivência é através do que em psicanálise nomeamos de “devastação”. A “devastação materna” é bastante abordada pela teoria psicanalítica como um aspecto do infantil, devastado, enquanto objeto, pela presença de uma faceta materna totalizante. O ponto aqui é como a criança pode ser atravessada pelo que, da mãe, não encontra ponto de parada. Hoje, no entanto, perguntamo-nos se, no lugar de mãe, uma mulher também pode passar pela experiência de devastação quando a presença de um bebê passa a ser sentida por ela como “devoradora”. Não estamos acostumados a pensar a devastação do lado da mãe (embora atualmente se fale muito de patologias como depressão pós-parto e do que se chama de “baby blues”), pois a
leitura mais conhecida ainda é a da maternidade como uma experiência fálica (e por vezes idílica). E talvez, de fato, tenha sido essa a vivência preponderante em relação à maternidade em tempos passados. O que constatamos hoje, no entanto, é que ela pode ser vivida de um modo bastante angustiante. Neste sentido, “longe de encontrar uma satisfação apaziguada em sua relação com o filho objeto de seu desejo, [uma mulher] pode, inversamente, passar pela experiência da devastação, sendo engolfada, deportada dela mesma por um gozo louco, enigmático, fora do sentido”, como afirma a psicanalista Esthela Solano-Suárez, estudiosa do tema. Tornar-se mãe Não é evidente – e muito menos
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natural –, portanto, a operação que irá possibilitar que, ali onde os contornos se desfizeram, apresente-se um sujeito a ocupar o lugar materno. A construção da maternidade, para algumas mulheres, exige que elas se desloquem do lugar de “objeto devorado”, ao qual, como vimos, podem ser lançadas sem esperar, para alçar o bebê ao lugar de “objeto fálico”. Essa expressão é bastante conhecida entre leitores de Freud e faz menção a um lugar muito especial do bebê na cadeia simbólica materna. É nesta cadeia que a mulher poderá vir a localizar, entre ela (enquanto mãe) e o bebê, algo relativo ao que não se encaixa e não se encerra entre eles, algo que os remeterá, a ambos, ao ponto de impossível a se localizar neste “entre”. Um impossível encaixe a se lo-
calizar no desencaixe completo. Com isso, permitir-se-á que toda uma cadência se construa, não apenas entre peito e boca, passos e descompassos, entre mãe e filho, mas para toda uma vida que se abrirá para ambos a partir daí. A invenção da maternidade A chegada de um bebê é sempre acompanhada de algo que não se espera. Essa surpresa, por vezes, pode se apresentar como um enorme susto, uma perda das bordas e do rumo. Não deveria comparecer, ali, a mãe para receber em seus braços o bebê tão esperado? Não deveria lhe envolver um amor incondicional e um saber se virar com colos, choros e afagos? Eis que nasce o bebê, mas – surpresa difícil – sua chegada não coincide necessariamente com a da mãe.
No consultório dos analistas, na conversa entre amigas, nos relatos das redes sociais, cada vez mais encontramos mulheres em busca de palavras que possam vir a significar a experiência da chegada de uma criança em suas vidas. Para algumas, a chegada do bebê coincide com a de um abismo sob seus pés. Não apenas se dão conta de que tudo se coloca diferente do que havia sido sonhado, como também constatam que não encontram mais a mulher que sonhara isso tudo. Nem o sonho se apresenta, nem o sujeito que o havia sonhado pode agora comparecer. A essa experiência de falta de bordas junta-se um estranhamento sobre quem, afinal, é o objeto: o bebê, aquele serzinho que precisa ser manuseado e cuidado? Ou elas, assim sugadas de tantas 63
ela mesma, do lugar de “objeto devorado” para alçar o bebê ao lugar de “objeto fálico” – expressão bastante conhecida entre leitores de Freud, que faz menção a um lugar muito especial do bebê na cadeia simbólica materna, localizando, entre mãe e bebê, algo relativo ao que não se encaixa e não se encerra nessa relação. O gozo nãotodo e a devastação materna À sensação de perda das bordas, de apagamento dos contornos, de abismo sob os pés, a psicanálise lacaniana nomeia “gozo feminino” (ou “gozo nãotodo”). O “gozo”, conceito tão fundamental aos lacanianos, é marcado pelo encontro da linguagem com o corpo. Refere-se aos excessos de prazer e desprazer tão únicos a cada um, a algo que experimentamos singularmente como um profundo estranhamento. Em seu seminário de número 20, Lacan nos apresenta uma fórmula com dois tipos de gozo, o “fálico” e o “feminino” (ou o gozo “todo” e o “nãotodo”). Para nossa abordagem, é suficiente situarmos que o gozo feminino se refere a algo que não faz conjunto, não é compartilhável, não faz unidade, não tem bordas, não se permite delimitar ou definir; é um gozo líquido e não sólido, um acontecimento de corpo, impossível de ser todo capturado pelo universo das palavras, uma experiência nãotoda significável, nãotoda contável, nãotoda passível de ser enlaçada pelo universo significante, por contos e enredos. Está em oposição ao gozo fálico, que seria, por sua vez, um gozo enlaçado aos enredos da vida e referido a uma “unidade corporal”, mesmo que 64
este lhe seja estranho, que a atravesse ou que a redefina. A esses dois tipos de gozo, somos todos suscetíveis. Quando o gozo nãotodo vem se situar de modo avassalador, na experiência entre mãe e filho, nomeamos essa vivência de devastação, “devastação materna”. Nessa experiência, nas palavras da psicanalista Esthela Solano-Suárez (no capítulo “Maternidade blues” do livro Ser mãe – Mulheres psicanalistas falam de maternidade, vários autores), uma mulher, “longe de encontrar uma satisfação apaziguada em sua relação com o filho, objeto de seu desejo, pode, inversamente, passar pela experiência da devastação, sendo engolfada, deportada dela mesma por um gozo louco, enigmático, fora do sentido”. Entre os cuidados e a devoração A clínica psicanalítica tem nos mostrado que a experiência de devastação materna não é uma rara exceção destinada a algumas poucas mulheres não afeitas ao mundo materno. Não tem sido incomum ouvir que, algumas, na tentativa de se extraírem dessa inundação, se colocam infinitas imposições, tarefas e medidas protetivas para a criança, num esforço exaustivo de controle e de “tomar as rédeas” da situação por meio de um cuidado metódico (excesso de higiene, de horários, de regras, de uma alimentação “perfeita” etc.). A cadeia de cuidados não tem fim, o que pode fazer com que, dentro desse contexto, torne-se uma metonímia infinita superegoica: mais e mais e mais… Ao tentar responder à devastação materna com desmandos
do superego, muitas mulheres relatam uma profunda sensação de impotência, sentindo-se incapazes de estarem à altura das tantas tarefas cotidianas com a criança, traduzidas por uma profunda sensação de exaustão e de fracasso. No trabalho de escutar (e de ler) o que dizem (e escrevem) essas mulheres “devastadas” pela chegada de um bebê, percebemos algo de grande valor clínico. O fino fio que permite a muitas delas realizar alguns alinhavos iniciais, na tessitura de uma possibilidade para a maternidade, costuma envolver algo de suas relações com as próprias mães. Anunciam lembranças, sustos e uma profunda falta de compreensão. O feminino que não se lê Em nossa sinfonia contemporânea, atonal, as mulheres seguem prenhas da pulsação do que destoa da norma. Mas se pluralizaram de tal modo na cultura, que o enigma feminino, antes pensado e localizado apenas em bruxarias e histerias, espalhou-se e disseminou-se pelos múltiplos corpos da cidade. Ao impacto da linguagem nos corpos, erotizados pelo banho com que os lambe a língua do Outro, os corpos reagem feminizando-se (talvez cada vez com mais intensidade), em deságue, escorrendo por entre os filetes da linguagem, fazendo-se ilegível aos textos sociais, traçando caminhos de gozo que não respondem ao status quo, à melodia quo, à harmonia social. Em Um útero é do tamanho de um punho, a poeta Angélica Freitas, mágica, maravilhosa, nos dá a ler “MULHER DE”, com suas tantas tentativas de escritas: mulher de vermelho; mulher de valores;
Pagode 90 humanizou o homem negro, mas deixou a negra fora da festa Se o estereótipo de que eles não choram por amor foi ultrapassado, outros lugares-comuns continuaram de pé Bárbara Rudge e Tabata Dias barbararudge@uol.com.br Fonte e imagem: tab.uol.com.br 05/04/2019 Resgatado em blocos e festas nos últimos tempos, com direito ao status de cult, o pagode dos anos 1990 ressurge agora como uma fundação sentimental do brasileiro. Se porem lado, o movimento musical deu visibilidade ao lado apaixonado do homem negro, as letras e escolhas afetivas dos letristas reforçaram o lugar secundário da mulher negra, descrita como “morena” nas canções e preterida em relação à branca. O homem negro, associado a estereótipos de agressividade e criminalidade, apareceu como príncipe encantado, carinhoso e cuidadoso, que só quer sua amada de volta e “enfrentar essa dor que se chama amor”. Grupos como Katinguelê, Soweto e Negritude Jr. trouxeram logo no nome o marcador racial e apresentaram um negro inesperado para a sociedade: um sujeito que chora, morre de amor, manda um telegrama, uma carta de amor.
como um subumano. É um ser embrutecido, sem sentimento, que se restringe ao trabalho bruto e manual. Eis aí a justificativa para escravizá-lo, negando a sua humanidade”, reflete Claudinho de Oliveira, ex-integrante do grupo Soweto. Na maior parte das letras de sucesso, o homem vive uma desilusão amorosa e está com o coração partido, sem chão ou referência depois do rompimento com a grande paixão. No gênero, o amor é sempre o caminho para a felicidade. Na música “Farol das Estrelas”, do Soweto, Belo e todo o grupo cantam que “Se o brilho da nossa verdade; durar para a eternidade; a estrela da felicidade encontrei”. Pegue um lenço, prepare o coração, porque é hora de refletir sobre o pagodão como você nunca havia feito. Uma das organizadoras da coleção de livros ‘Sambas Escritos’, Maitê Freitas acredita que esse movimento musical em si é uma forma de crônica literária, que aborda vários temas, entre
eles o amor. Não à toa também ficou conhecido como “pagode romântico”, enquanto que, para um público mais crítico “pagode comercial”, “pagode das gravadoras” ou “pagode pop” são as definições mais populares. As inovações pagodeiras As músicas, antes feitas em rodas de samba, passaram a ser produzidas em (por) gravadoras e sob demanda, inclusive com a regravação de sucessos nacionais e internacionais de outros gêneros — é o caso de “Do fundo do meu coração”, de Roberto Carlos, que ganhou uma versão do Raça Ne gra. Os artistas da época foram responsáveis por introduzir no samba uma série de novos elementos musicais para esse universo, como saxofone e teclado. Mas esse movimento foi também influenciado pela música pop norte-americana, como as boybands. Os pagodeiros tinham
Os homens também choram Para ele, esse processo é mais delicado para o negro devido ao passado escravista e à presença do racismo estrutural na sociedade brasileira. “Desde a colonização da África, o negro é visto 65
definearevolution.com
A boy band Boyz II Men, uma das precursoras do estilo, no final dos anos 80.
que apresentar coreografias, figurinos combinados e efeitos especiais nos shows. Essas mudanças, porém, não foram bem avaliadas por parte dos sambistas tradicionais. O movimento Pagode 90 foi reprovado por figuras importantes da música como Nei Lopes, que criticou o estilo iminentemente paulistano e comercial derivado das festas (pagodes) dos anos 1980 em Ramos, subúrbio carioca, berço do Fundo de Quintal. “O que era uma revolucionária forma de compor e interpretar o samba, fruto de um movimento estrutural, passou a ser apenas uma diluição, expressa em um produto sem a malícia das síncopes, sem as divisões rítmicas surpreendentes de melodias e harmonias intencionalmente primárias, letras infantilmente erotizadas, com arranjos sempre previsíveis e cada vez mais próximo da massificação do pop”, escreveu Lopes em seu livro ‘Sambeabá’. Independentemente das críticas, o público adorou a proposta, e as músicas foram um sucesso, que se refletiu na mídia. Na TV, Gazeta e Globo tinham programas sobre o tema; no rádio, várias emissoras chegaram a ter cerca de 80% da programação musical tocando pagode. Revistas especializa66
das ganhavam as prateleiras das bancas. O gênero, porém, não escapou da lógica de mercado e saturou o público. Já no início dos anos 2000, outros formatos de música ganharam a audiência. “Loirinha, cafungada do negão é um problema”? Se o samba é um fenômeno social que critica e subverte a lógica dominante, como, no caso, humanizar o homem negro, o gênero também é capaz de reforçar lugares sociais, como a reprodução de estruturas machistas e racistas nas na vida pessoal dos cantores, afirma Maitê Freitas. Descrito nas letras como apaixonado pela sua comunidade, o pagodeiro dessa geração dava a entender que não tinha como foco a conquista da mulher negra. O hit do grupo “Cravo e Canella”, a música “Lá Vem o Negão” serve de exemplo para esse pensamento. A letra descreve um “negão cheio de paixão”, que tem o interesse em dar uma “cafungada” na “loirinha” e se relacionar com ela. “Assunto comum na nossa história de afetos e debatido há tempos pelo movimento negro, o relacionamento interracial pode ser lido como uma estratégia, consciente ou não, de inserção social e em-
branquecimento”, explica Ícaro Rodrigues, arte-educador e autor do artigo ‘Pagode 90: A construção da afetividade do homem negro periférico’, publicado na série ‘Sambas Escritos’. Tadeu Kçula, sambista, sociólogo e pesquisador de cultura e territórios negros, viveu de perto o momento e acha que essa foi uma questão “grave” no gênero, na medida em que os homens negros viam e vêem a possibilidade de se relacionar com uma mulher branca como a consolidação de uma ascensão social. “Muitos homens desses grupos de pagode abdicaram de ter uma vida estável com as suas companheiras negras e acabaram se deixando levar por uma questão midiática. Isso, de uma certa forma, para algumas das pessoas desse universo, é sinônimo de ascensão social, o que é um grande erro. Ascensão social não está no fato de você se relacionar com uma mulher branca ou negra”, critica. Claudinho de Oliveira concorda que muitos desses artistas preferiram se relacionar com mulheres brancas, mas aponta que esse não é um problema exclusivo da música. Ele recorda, que parte significativa desses artistas também se relacionou com mulheres negras, o que não era noticiado pela grande imprensa. para ele, talvez a mídia não tivera o interesse em mostrar famosos com negras. “Talvez fosse até o caso de nos perguntarmos: qual
Guerra às drogas é pretexto para atacar negros e pobres, diz criminalista Advogado diz que Justiça faz uma seleção que separa branco como usuário e negro como traficante
ser encarados como usuários, diz Costa, citando pesquisa de 2015 do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro - o trabalho aponta que 60% das apreensões de maconha no Rio seriam consideradas posse legal em Portugal, enquanto na Espanha o índice subiria para 80%. Ou seja, livres de detenção. Lei de Drogas Sancionada em 2006, a lei peca por aplicar critérios subjetivos na
Bárbara Rudge e Tabata Dias barbararudge@uol.com.br Fonte e imagem: tab.uol.com.br 10/04/2019 Filho de um ex-traficante e de uma empregada doméstica, criado na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro, Joel Luiz Costa é um advogado defensor de mudanças nos processos judiciários que penalizam o jovem negro das periferias. Costa se formou em Direito graças a um acordo com o pai, que prometeu abandonar o tráfico caso o filho se formasse em um curso universitário. Hoje, com pós-graduação em Processos Penais e Garantias Fundamentais, tem escritório próprio no Jacarezinho. Lá, atende a moradores com casos nas áreas criminal, trabalhista e previdenciária civil. Com a experiência de criminalista com escritório na comunidade onde cresceu, Costa afirma que há seletividade racial na Justiça a partir das leis e das interpretações e decisões de diferentes instâncias do Judiciário. Ao longo de sua formação e prática, tornou-se um crítico feroz da nova Lei de Drogas, aprovada em 2006. A política de segurança
O advogado Joel Costa no Jacarezinho, onde foi criado e hoje trabalha
pública adotada nos últimos anos no Rio de Janeiro e o combate às drogas no país, afirma o advogado, formam “uma cortina de fumaça” que encobre a manutenção do rentável negócio das drogas ilícitas e a discriminação racial e de classe na Justiça. “A pobreza no Brasil tem cor. A Lei de Drogas faz parte disso”, afirma. Atualmente, acusados ou condenados por crimes relacionados ao narcotráfico formam o maior contingente nas penitenciárias brasileiras. Hoje, o tráfico de drogas é o crime que mais resulta em prisão no Brasil, e 62% da população carcerária é constituída por negros, segundo estatística do Ministério da Justiça de 2014. Muitos poderiam
diferenciação entre traficantes e usuários, e “na periferia, não existe o benefício da dúvida”, observa Costa. “Um moleque negro, sem trabalho formal, em um bairro de periferia à noite em um local dito como controlado por determinada facção, necessariamente vai ser enquadrado como traficante independentemente da quantidade (de droga) que tenha”, explica. Sem meias palavras, o advogado afirma que a falta de clareza da lei, “num país racista, classista e preconceituoso”, só reforça o preconceito racial e de classe. Já que não há definição expressa sobre a quantidade mínima que separe o que é posse do que é tráfico, o portador da droga é en67
juiz, que, por sua vez, irá decidir com base na quantidade, no contexto da ocorrência e nas circunstâncias pessoais e sociais do detido. Para Costa, essa falha representa um grande retrocesso, e impulsionou o Brasil a ter a quarta maior população carcerária do mundo. Na opinião do advogado, quando a legislação entrou em vigor, o Brasil já tinha maturidade jurídica suficiente para saber que “um país racista e dividido como o nosso, onde as pessoas são julgadas pelo seu CEP, esse tipo de critério não seria mecanismo de justiça”. “Essa lei é um cheque em branco para a polícia prender pessoas em situação de vulnerabilidade e encarar pobres, favelados e negros como traficantes e não como usuários”, diz.
nais, de 1941, a Lei de Vadiagem, foi o grande mecanismo legal de controle do corpo preto livre, antes e depois da abolição. Depois houve a criminalização do samba, da capoeira e das religiões de matrizes africanas”, resgata Costa. No começo do século 20, afirma, esse papel passou a ser desempenhado pela criminalização do consumo e comércio de drogas. A partir da década de 1930, quando o Brasil passou a punir também o usuário de drogas, a política de combate às drogas tornou-se um mecanismo para controle para grupos específicos. Costa cita as sentenças de porte de drogas da década de 1970 e 1980, nas quais jovens brancos e negros tinham tratamento diferenciado. “Um Crédito: odia.com.br
Forças de Segurança em operação contra o tráfico na comunidade do Jacarezinho, em setembro de 2018
Seletividade racial Costa diz que a seletividade racial no Judiciário brasileiro é histórica. Para ele, a legislação que criminalizava e prendia pessoas que estavam nas ruas sem condições de se manter financeiramente está na origem desse tratamento. “Nascida no Código Penal do Império, que tratava dos vadios e mendigos, até chegar no atual texto da Lei de Contravenções Pe68
moleque negro apreendido com uma certa quantidade de drogas ficava internado em uma instituição para menores. Já o menino branco era liberado para que os pais levassem para casa sob o argumento de que teria um tratamento especializado.” Segundo o advogado, basta olhar os números. Um levantamento realizado pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro
em 2016 mostrava que na zona norte do Rio, área mais pobre e com maior população negra, a incidência de crimes relacionados ao tráfico é sete vezes maior do que na zona sul da cidade, mesmo tendo o dobro de moradores que a área mais rica e branca da cidade onde predominam favelas controladas pelo tráfico. O resgate pela educação “Eu não deixei de entrar no tráfico por medo de ser preso, eu deixei de entrar para o tráfico porque eu tive a oportunidade de escolher uma cadeira na faculdade”, diz Costa. No fim de fevereiro, ele conseguiu colocar em funcionamento o NICA (Núcleo Independente e Comunitário de Aprendizagem), um cursinho pré-vestibular gratuito para jovens do Jacarezinho. “O medo do cárcere não faz com que ninguém deixe de cometer crimes. Com 15 anos, um garoto da favela já tem que botar dinheiro dentro de casa para sustentar a família. Como fazer, onde arrumar trabalho com 15 anos?”, questiona. O advogado não vê sentido em trabalhar para uma grande empresa ou ter escritório em outro lugar que não seja a favela onde nasceu. “Não há sentido que todo aquele grupo que vive no lugar de onde eu vim não tenha algum benefício desse meu privilégio de ter tido instrução, de ter estudado. É para que o moleque da favela pense ‘olha, esse moleque aqui é um neguinho igual a mim e é advogado, então posso virar advogado’, para que ele veja que ele pode fazer outra coisa além do tráfico.” Representatividade importa, afirma. “Os negros não
estão nos programas de TV, nos cargos de gestão, no Judiciário e nem no Legislativo. Quando estão, é em número irrisório.” Guerra às drogas e Segurança Pública “A guerra não é às drogas, a guerra é aos pobres. Isso é uma cortina de fumaça. Se fosse para realmente combater as drogas, a gente vigiava as fronteiras”, afirma. Para Costa, o combate às drogas no país é “esquizofrênico”. Ele questiona, por exemplo, o fato de uma megaoperação policial no Jacarezinho resultar na apreensão de 3 quilos de cocaína e 20 quilos de maconha enquanto a maior apreensão no aeroporto do Galeão Tom Jobim, no Rio, ter sido de uma 1,2 tonelada. “Não se combate violência com mais violência.” A frase não é nova, mas resume a avaliação que o advogado faz da política de segurança pública do Rio de Janeiro nos últimos anos. “Não vai mudar com ocupação bélica, não faz nenhum sentido. O moleque não vai deixar o tráfico por medo do cárcere. Ele vai deixar por oportunidades de estudar e trabalhar”, conclui. O novo governador Para Joel Costa, a naturalização da morte pelo Judiciário no Rio de Janeiro já existe, e a proposta de execução primária apresentada por Witzel não surpreende. Segundo o advogado, 98% dos casos de autos de resistência (mortes por policiais em confronto por resistência do suposto bandido) no Estado são arquivados sem investigação. “A morte de determinado grupo já está naturalizada pelo Judiciário. Eu não consigo esperar que um juiz que saiu dessa estrutura e hoje
‘As pessoas não acham que alguém como eu possa ser inteligente’: a vida dos alunos da periferia na USP Uma das maiores universidades do Brasil está mudando de cara ao se abrir aos jovens beneficiados por políticas de inclusão Bárbara Rudge e Tabata Dias Fonte e imagem: bbc.com/portuguese 29/04/2019 Foi graças ao pai pedreiro que a paulistana Thamiris Oliveira, de 20 anos, se apaixonou por construções. Quando tinha dez anos, ela o acompanhava ao trabalho e ficava emocionada ao ver as casas que ele fazia tomando forma, então decidiu que seria engenheira civil. Há dois anos, o pai é que se emocionou ao ver a filha mais nova, que estudou a vida toda em escola pública, entrar na Universidade de São Paulo (USP). “Foi uma alegria que não dá para descrever”, diz Thamiris, que hoje está no terceiro ano da Escola Politécnica. Histórias como essa se tornaram mais comuns na USP nos últimos anos, com um número crescente de estudantes pobres e de classe média baixa entrando na universidade. Graças a políticas de inclusão, a porcentagem de calouros provenientes da escola pública subiu de 28,5% em 2013 para 41,8% em 2019. Mesmo pas-
sado o vestibular, esses estudantes continuam enfrentando obstáculos. Muitos têm de conciliar grande carga de estudos com o trabalho, superar a defasagem na qualidade de ensino que tiveram, perder horas no transporte, suportar a insalubridade de moradias estudantis, competir por bolsas e intercâmbios com colegas que já falam várias línguas e se enturmar em um grupo socioeconômico diferente. E afirmam ter de, muitas vezes, lutar contra discriminação e racismo de colegas, professores e funcionários de uma universidade que ainda é majoritariamente branca. A USP implementou sistema de reserva de vagas em 2018 e o número de pretos, pardos e indígenas que ingressaram em 2019 aumentou 38% em relação ao ano anterior, mas continua longe de representar a realidade brasileira. Como é ‘ser da quebrada’ e estudar na USP Criado em uma favela na Brasilândia, zona norte da capital paulista, o estudante de Ciências Sociais Thiago Torres, de 19 anos, 69
cebook. “Ver de onde você veio e de onde as pessoas vieram, perceber que elas estão com séculos de vantagem em relação a você e aos seus tem sido bem triste e difícil para mim”, escreveu ele no texto, que teve 51 mil curtidas e 15 mil compartilhamentos. Ele conta que, ao andar pelo campus, frequentemente as pessoas o encaram. “Muitos olham com olhar de medo, achando que eu vou roubar. Outros tiram sarro, fazem comentários maldosos.” Thiago faz questão de se vestir como se identifica. “No meu caso, é bem nítido (que sou da periferia). Mas faço questão de me vestir do modo da quebrada mesmo, nesse estilo chavoso (boné de aba larga, correntes, estilo típico de funkeiros)”, diz ele. “As pessoas de classe média não acham que alguém como eu, com meu estilo, pode ser inteligente, pode estar nesse espaço.”
do se fala em inclusão no ensino superior público, a questão do acesso é central, mas não é a única. É preciso reforçar políticas de acolhimento e permanência estudantil”. Para ele, o fato da universidade não ter sido “originalmente pensada para acomodar quem trabalha” é um dos principais problemas dos alunos de baixa renda, que precisam se
Corrida de Obstáculos Thiago estudou a vida inteira em escola pública, onde “faltava papel higiênico, faltava professor, giz. Tinha dias que não tinha merenda”, conta. Hoje, sua mãe trabalha como faxineira, e o pai conseguiu se formar na faculdade depois de adulto, mas trabalha como atendente em um posto de saúde. Thiago estuda à noite e trabalha como jovem aprendiz pela manhã. Acorda às 5h30 da manhã e chega em casa, em Guarulhos, meia-noite e meia. Passa cerca de 5 horas por dia no transporte público. “Às vezes, eu fico o dia inteiro morrendo de sono e não consigo nem estudar. E no ônibus eu vou de pé, superapertado, não dá pra estudar.” Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva afirma que “quan-
manter e, muitas vezes, também ajudar a família. “Eles não podem fazer cursos integrais e não têm tempo para estudar”, diz. Além disso, deixam de aproveitar uma das principais vantagens da universidade pública em relação à rede privada: o rico ambiente de debate e desenvolvimento extracurricular. “A USP é muito mais do que eu esperava, nesse aspecto”, Cassia Menezes, de 24 anos, aluna do quarto ano na Faculdade de Direito. “O melhor nem são as aulas, mas os grupos de estudo, os projetos de extensão, os coletivos de ação social, as militâncias políticas.” Filha de um camelô e de uma diarista, a jovem conta que foi na graduação que se deparou pela primeira vez com preconceito de classe. Antes de se tornar aluna da
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USP, começou o curso na Universidade Mackenzie com bolsa do ProUni, onde diz ter sofrido muito. “Foi lá onde eu descobri que era pobre, porque as pessoas me tratavam diferente, me tratavam mal”. Cassia conta que na USP se sentiu mais acolhida justamente por esses coletivos e grupos de extensão. Ainda assim, ela se decepcionou.”Mesmo dentro dos
Thiago Torres em sala de aula na FFLCH, onde cursa Ciências Sociais
grupos de esquerda e progressistas, o elitismo ainda se manifesta muito. É um preconceito de classe muito latente, e as pessoas não percebem. E isso foi o que mais me machucou, porque são pessoas muito bem formadas, mas que acabam sendo pouquíssimo abertas a crítica”, observa. “Eu sofri muito para explicar que às vezes não tinha dinheiro para pagar passagem para ir numa reunião, que às vezes não podia contribuir com a comida, que não tinha um espaço para receber colegas na minha casa.” Por gerações e gerações Cassia sempre morou na Vila Guilherme, periferia de São Paulo, e conseguiu bolsa para cursar o ensino fundamental em uma escola particular. Recorda que seu pai
“se anulou completamente” para poder oferecer uma educação de qualidade. Ele morreu em 2014, sem conseguir ver a filha passar na USP, em 2016, na primeira turma aprovada pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada). “O sentimento de passar na USP quando você tem uma vida ferrada é algo que significa uma mudança na vida. Eu chamaria de ‘redenção’ o sentimento”, reflete Cassia. Segundo Renan De Pieri, professor de economia do Insper, para quem é pobre e de classe média baixa, a entrada em uma universidade pública representa uma mudança significativa de vida. “A graduação ainda é um dos fatores que faz mais diferença em termos salariais. Abre um leque de opções bem maiores, permite ocupações que pagam melhor e diminui a chance da pessoa ficar desempregada”, diz o economista. Meirelles concorda: “Não existe colchão econômico mais seguro do que uma boa formação universitária. Um emprego a pessoa pode perder, um Bolsa Família pode ser cortado, mas a educação ninguém tira.” É uma mudança que pode mudar a perspectiva da família toda, e “que perdura por gerações, porque gera um ciclo virtuoso de aumento na escolaridade, já que pais escolarizados criam filhos mais escolarizados.” Políticas de permanência Para a maioria dos alunos de baixa renda, a dificuldade mais básica é se manter na universidade. Quando passou em Direito na USP, Gabriel Belém simplesmente não tinha dinheiro para vir de sua cidade, Jacareí (SP), para São Paulo. Ex-aluno de escola públi-
ca, ele foi o primeiro da família a entrar em uma universidade pública — seu pai é porteiro e sua mãe é técnica de enfermagem, e ambos só concluíram o ensino fundamental depois de adultos. Para poder se mudar para a capital, Gabriel juntou dinheiro vendendo sacolés na rua e fez campanha nas redes sociais. Na capital, além de estudar, começou a trabalhar 8h por dia em uma fábrica na Vila Formosa. “Era bem puxado. No primeiro ano não consegui me dedicar muito à faculdade”, diz. A USP tem uma série de programas de permanência universitária: moradias estudantis, bolsas de auxílio, subsídio para alimentação. Para ter acesso, é preciso passar por uma seleção com critérios socioeconômicos, como renda familiar, casa própria, etc. Mas os estudantes relatam que as vagas desse programa são limitadas, logo nem todos os alunos que precisam de ajuda conseguem obtê-la. Segundo Thiago, a bolsa-auxílio, de R$ 400 por mês, não seria suficiente para bancar uma dedicação integral aos estudos. “Trabalhando, eu ganho salário mínimo (R$ 998) e tenho vale-refeição, que ajuda muito minha família.” Gabriel só conseguiu uma vaga na Casa do Estudante (moradia social para alunos da Faculdade de Direito) no terceiro ano. As condições nas moradias, não só na Faculdade de Direito, também estão longe de serem ideais: em algumas, há relatos de fiação improvisada (com risco de incêndio), vazamentos, falta de pintura e manutenção em geral. “A gente tem até medo de apontar todos os problemas, porque se o prédio for interditado as pessoas sim-
plesmente não vão ter para onde ir”, revela Gabriel, que concorre em uma chapa à administração do Centro Acadêmico e quer colocar a permanência estudantil como prioridade. “A desculpa da universidade é sempre que não tem dinheiro, mas há outras formas de viabilizar, fazer parcerias, otimizar recursos”, afirma. Duas realidades A participação em coletivos, centros acadêmicos e grupos de militância acaba sendo uma das principais maneiras encontradas pelos alunos para lidar com os problemas. A USP também têm programas de diversidade e canais para denúncia de casos graves de discriminação, como a Ouvidoria Geral e as direções e ouvidorias de cada faculdade. Mas boa parte dos problemas são questões mais sutis, resultantes de choque de culturas e de realidades. Aluna do terceiro ano de direito, a estudante Rafaella Ueda, de 20 anos, cresceu na comunidade do Calux, em São Bernardo do Campo. Ela comenta sobre a dificuldade que encontra de se comunicar com quem teve uma criação diferente. “Com meus amigos eu sou muito objetiva, falo o que eu penso. Se alguma coisa está ruim a gente fala, se alguém me incomoda eu sou direta. Aqui não, qualquer coisa as pessoas ficam ofendidas, tudo você precisa encontrar um jeito de florear, de contornar” relata. Rodrigo Silva, formado ano passado em contabilidade na Faculdade de Economia e Administração (FEA), conta que, custou a se enturmar. Ele mora em Diadema e fez cursinhos populares enquanto frequentava o ensino médio, trabalhava como instru71
pagavam R$ 3 mil de mensalidade. No fim de semana eu ia visitar minha família no Grajaú, eles iam para a Londres, para Nova York”. Para Thais Rugulo, aluna do terceiro ano de Direito e filha de uma costureira de Sorocaba, no interior de São Paulo, a discriminação racial impacta mais do que os problemas socieconômicos. “Ainda pesa mais. Tem muita gente que é pobre, mas se camufla, as pessoas acabam nem percebendo. Mas a questão racial é algo que você não consegue esconder. E aqui ainda tem isso (preconceito e falta de representatividade)”, diz ela. Thiago Torres diz que um aspecto problemático na comunicação foi o fato de muitas vezes as pessoas o subestimarem. “É muito comum as pessoas suporem que eu não sei coisas óbvias, virem me explicar coisas que eu já sei”, conta. Thais afirma que, no entanto, como os negros ainda são minoria na universidade, existe o lado positivo, que é unir as pessoas. “A gente se ajuda muito.” Fazendo conexões Essas conexões feitas na universidade podem afetar fortemente as perspectivas de futuro. “O ‘capital social’ é uma das grandes barreiras enfrentadas por esses alunos [de baixa renda], porque costumam ser as primeiras na família a ter ensino superior e conhecem muito menos pessoas que conseguem facilitar sua entrada no mercado de trabalho”, afirma Meirelles. “Não têm pais médicos, tios advogados ou empresários.” De Pieri acrescenta que “a questão dos contatos não é marginal. Os primeiros trabalhos, principalmente no início da carreira quando a pessoa ainda 72
não tem como se diferenciar, dependem muito da indicação de familiares, colegas, professores”. Outra barreira importante, diz o analista, é o capital cultural: conhecer o mundo, falar idiomas, ter visitado museus. “Você chega e todo mundo já fala inglês super bem, faz outra língua, já fez intercâmbio, parece que você está anos para trás”, diz Thais. “Muitos fazem questão de ficar falando dos autores que leram, dos filmes que viram, dos lugares que já viajaram”, comenta Thiago. “E você sente de cara a sua defasagem em relação aos outros quando pega um monte de texto acadêmico para ler. Tenho que estudar muitas vezes mais que meus colegas para tirar a mesma nota, sem ter o mesmo tempo para estudar”, conta ele, que apesar das inúmeras dificuldades está no segundo ano sem ter sido reprovado em nenhuma matéria. Apesar dos desafios, pesquisas mostram que alunos cotistas ou beneficiados por programas de inclusão têm resultados iguais ao dos demais alunos, aponta Renan De Pieri, do Insper, acrescentando que a universidade também deveria acompanhar melhor os alunos na fase final da graduação, ajudando-os a se posicionar na academia ou no mercado de trabalho. Meritocracia Thiago diz que o que mais o entristece não são suas próprias dificuldades, mas ver colegas e amigos da periferia não tendo as mesmas oportunidades e vantagens que a maioria dos colegas da USP, que vêm de classes sociais mais privilegiadas. “Infelizmente problemas como vício em drogas, violência, gravidez na
adolescência, presença do tráfico, criminalidade são maiores na periferia. Quando você vive em dois mundos tão diferentes e vê essas duas realidades, é um choque tão grande. A USP é como se fosse outro país”, diz. “Na periferia é muito mais difícil pensar no futuro, ter sonhos. Você está sempre pensando no presente, porque não sabe se vai ter o que comer hoje.” Nesse sentido, todos os entrevistados afirmam se incomodar quando suas histórias são usadas por quem defende a tese da “meritocracia”, que dispensaria políticas de inclusão, já que esses alunos seriam o exemplo de que “quem quer consegue”. “Não existe meritocracia quando não há igualdade de oportunidades”, diz Matheus Santana Figueredo, de 23 anos, ex-aluno de escola pública e hoje no quarto ano de Medicina na USP. “Sim, eu estou aqui, mas eu sou a exceção. Você não pode usar uma exceção como argumento”, diz. Cassia Menezes afirma que “é o cúmulo” usar histórias como a dela para dizer que melhorar de condição financeira é “questão de força de vontade”. “Eu aprendi que tudo o que eu tenho foi abdicando de muita coisa. E a minha saúde mental tem sido uma delas”, afirma ela, que já teve depressão e síndrome do pânico e ainda faz tratamento no SUS. Ela diz que tudo o que passou poderia tê-la “levado ao fracasso muito fácil” e que isso só não aconteceu porque teve assitência do governo e da família. “Eu acho que quem quer pode conseguir, mas precisa ter apoio. Tem que ter bolsa de estudos, cotas para escola pública, cotas raciais. Tem que ter Sistema Único de Saúde”. Sob esse aspecto,
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Pular o café da manhã aumenta o risco de doenças cardíacas Maria Vittória Alberti Fonte: bbc.com Em 29/04/2019
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Estudo publicado neste mês pela sociedade americana de cardiologia relaciona o risco de doença cardiovascular à falta de hábito para a primeira refeição do dia. O café da manhã é internacionalmente reconhecido como a refeição mais importante do dia. Um estudo divulgado na semana passada pelo American College of Cardiology, associação médica que se dedica a doenças cardiovasculares nos EUA, afirma que o café da manhã pode também salvar vidas. Pular a primeira refeição do dia está associado a um maior risco de morte por doenças cardiovasculares, afirmam os pesquisadores. A pesquisa envolveu uma equipe de médicos e pesquisadores de diferentes universidades dos EUA. Eles analisaram uma mostra de 6.550 adultos com idades entre 40 e 75 anos, que participaram de uma pesquisa nacional de saúde e nutrição entre 1988 e 1994. Os participantes informaram a frequência com que tomavam café da manhã.
De um modo geral, 5% dos participantes disseram que nunca tomavam café da manhã, cerca de 11% deles afirmaram que raramente comiam pela manhã e 25% disseram que consumiam café da manhã de forma intermitente. Os pesquisadores, então, analisaram os registros de morte dessas pessoas até 2011 - 2.318 participantes do estudo tinham morrido - e procuraram por associações entre o consumo de café da manhã e mortalidade. Depois de avaliar outros fatores de risco como fumo ou obesidade, os pesquisadores descobriram que 87% dos que pulavam o café da manhã tinham maior probabilidade de morrer de doença cardiovascular. Ressalvas ao estudo: Pesquisas médicas já haviam indicado, anteriormente, que pular o café da manhã tinha impacto negativo na nossa saúde. Mas cientistas continuam procurando entender as possíveis relações entre não fazer essa refeição e ter algum problema de saúde.
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Ao comentar a pesquisa da associação americana de cardiologia, o NHS, o serviço público de saúde do Reino Unido, foi categórico em dizer que o estudo “não é capaz de provar que não comer café da manhã é causa direta de morte por doença cardiovascular”. “Pessoas que não tomam café da manhã (no estudo) tinham mais chances de ser ex-fumantes, consumidores pesados de álcool, sedentários, com uma alimentação pobre e de baixo status socioeconômico do que os que tomavam café da manhã”, diz uma resenha publicada no site do NHS, destacando os fatores aumento o risco de doenças cardiovasculares. “O estudo só teve uma avaliação única do café da manhã, que pode não refletir hábitos ao longo da vida. Também não explica o que o café da manhã significa para pessoas diferentes”, diz o texto do NHS. “Por exemplo, muitas pessoas tomam café da manhã todos os dias, mas pode ter uma variação enorme entre quem come algo saudável às 8h e quem come um sanduíche de bacon ou uma barrinha de cereal açucarada no fim da manhã.” De qualquer forma, Wei Bao, professor assistente de epidemiologia da Universidade do Iowa e um dos autores da pesquisa, sai em defesa das descobertas do estudo. “Muitos estudos têm mostrado que pular o café da manhã está relacionado com alto risco de ter diabetes, hipertensão ou colesterol alto”, diz Bao. “Nosso estudo indica que tomar café da manhã pode ser uma forma simples de promover a saúde cardiovascular”, completa o professor. Bao e seus colegas também es76
creveram no artigo sobre a pesquisa que as associações entre o consumo de café da manhã e o risco de doença cardíaca “eram significativas e independentes do nível socioeconômico, do índice de massa corporal e dos fatores de risco cardiovascular”. “Até onde sabemos, esta é a primeira análise prospectiva (que avalia) pular o café da manhã e o risco de mortalidade por doença cardiovascular”, observaram os pesquisadores. Os problemas cardiovasculares - especialmente o infarto e o acidente vascular cerebral são a principal causa de morte no mundo, tendo sido responsáveis por um total de 15,2 milhões de mortes em 2016, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Pequenas substituições deixam o café da manhã mais saudável Entre todas as refeições do dia, o café da manhã precisa de uma atenção especial. É depois de dormir que precisamos de mais nutrientes, já que passamos muito tempo em jejum. “Dentre todos os nutrientes, o carboidrato é fundamental, pois é ele que irá repor os estoques de energia gastos durante o sono”, diz a nutricionista Amanda Epifanio Pereira, do Centro Integrado de Terapia Nutricional, em São Paulo. Algumas escolhas podem fazer com que você comece mal o dia. “Os frios ou embutidos sãos os piores itens do café da manhã, já que são ricos em conservantes que fazem mal à saúde, além de apresentarem grande teor de sódio”, alerta a nutricionista. Veja quais são as substituições mais saudáveis:
1) Pão Integral Um bom primeiro passo para ter um café-da-manhã mais saudável é substituir o pão de forma branco pelo integral. “Os produtos integrais retardam o tempo digestivo, promovem saciedade e oferecem nutrientes protetores à saúde, como magnésio e selênio”, explica a nutricionista Amanda Epifanio. A presença de fibras nos pães torna-os muito mais nutritivos e saudáveis, graças à ação protetora delas em nosso organismo. Durante o processo de refinamento do trigo, todos os nutrientes e vitaminas, importante para o funcionamento dos músculos, vitamina B2, essencial para o crescimento, e vitamina E, que retarda o envelhecimento das células) são retirados junto com a casca do grão. Por isso, o pão normal não tem muitos nutrientes além dos carboidratos que, podem trazer aumento de peso.
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2) Frutas Ao colocá-las na primeira refeição do dia, estamos ingerindo fibras, vitaminas e minerais logo após acordarmos. “Frutas são mais nutritivas e menos calóricas do que qualquer rosca ou doce servidos no café-da-manhã”, diz a nutricionista. Não há uma fruta especifica para o desjejum. Como, em geral, essa é uma refeição realizada em casa, é recomendado o consumo de frutas difíceis de serem transportadas, como mamão, melão, abacaxi, entre outras. De acordo com a nutricionista Amanda Epifanio, não evitar doces e bolos no café da manhã talvez seja um dos principais erros de quem está fazendo dieta. Uma fatia de 100 gramas de bolo caseiro sem recheio e cobertura, por exemplo, é equivalente em calorias a duas unidades de pão francês com margarina e uma quantidade ainda maior de frutas.
3) Cereal “Cereais integrais contêm menos açúcares e, normalmente, são melhores fontes de fibras do que os cereais matinais tradicionais”, diz Amanda Epifânio. Mas atenção: mesmo na versão integral, consumir cereais e pão no café da manhã pode levar ao aumento de peso, já que os dois alimentos são fontes de carboidratos. Intercalar o dia de consumo de cada um deles é uma forma simples de evitar esse problema. Além de ser uma boa fonte de carboidratos complexos, os cereais são ricos em fibras que ajudam no processo digestivo. Mas nem todos os tipos devem ser consumidos todos os dias. “Muitos contêm uma quantidade grande de açúcar e corantes. Por isso, é importante escolher as versões integrais”, explica a nutricionista Amanda Epifanio. 4) Suco Segundo a nutricionista Amanda Epifanio, é importante escolher sempre sucos naturais. Mas o ideal é consumir suco de fruta natural preparado com diluição em água. Sucos concentrados, como o de laranja (três laranjas enchem apenas um copo), são ricos em açúcar (natural da fruta) e podem promover ganho de peso. Os sucos artificiais de fruta ou soja representam as grandes armadilhas do café da manhã. São bebidas ricas em corantes, conservantes, sódio e açúcar, com o agravante de oferecerem poucos ou quase nenhum nutriente saudável. 5) Ovo O ovo cozido é a maneira mais saudável de consumir esse alimento. “Se o ovo mexido for preparado com pouco óleo ou em panela an-
tiaderente, será semelhante ao cozido”, explica a nutricionista. Os ovos podem fazer parte do café da manhã sem apresentar qualquer risco à saúde. Entretanto pessoas que precisam cuidar do peso corporal deverão ter cuidado, pois sempre que adicionamos um alimento ao cardápio, saudável ou não, estamos adicionando mais calorias. A atenção ao consumo de ovos se deve principalmente ao seu modo de preparo. Prepará-lo frito ou mexido não é tão saudável, já que oxida o colesterol contido nos ovos, tornando-o nocivo à saúde. 6) Leite A substituição do leite integral pela versão desnatada é uma excelente opção para tornar o desjejum uma refeição mais saudável. Ela contém praticamente os mesmos nutrientes que o leite integral e tem níveis pequenos de gorduras. Vale lembrar que o teor de cálcio do leite desnatado é o mesmo do integral. Amanda Epifanio explica que todos os alimentos de origem animal são ricos em gorduras saturadas, responsáveis pela elevação do colesterol. O leite não escapa dessa característica. “Muitos alimentos que podem fazer bem ao nosso corpo têm seu lado negativo por serem ricos em gorduras saturadas”, diz a nutricionista. 7) Margarina X Manteiga Atualmente, a margarina é uma opção melhor que a manteiga. Por muitos anos, as margarinas eram as principais fontes de gordura trans da nossa alimentação. Hoje, sua composição foi alterada e quase não há margarina com trans. A manteiga possui grande quantidade de gorduras saturadas, que eleva os níveis de colesterol. 77
Os pequenos intervalos que têm efeito poderoso no bem-estar do trabalhador bbc.com/portuguese
Maria Vittória Alberti Fonte: bbc.com/portuguese Em 06/05/2019 Há uma cena na clássica série cômica dos anos 2000, The Office, em que um chefe sem bom senso faz um discurso motivacional. “O riso é o melhor remédio”, introduz. Brent segue dizendo que isso reduz o estresse e que, por isso, ele o pratica várias vezes durante a jornada de trabalho. Em seguida, demonstra sua técnica caindo em uma gargalhada solitária. Sob um olhar mórbido da sala inteira, os 30 segundos de riso parecem uma eternidade. Mas, na verdade, Brent parece finalmente ter razão. Ele estava, de certo modo, descrevendo o que os especialistas chamam de “microintervalo”, ou seja, qualquer atividade breve que ajude a quebrar a monotonia de tarefas que provoque um desgaste físico ou mental. A estratégia pode durar de alguns segundos a vários minutos e envolve desde tomar uma xícara de chá até alongar ou assistir a um clipe de música. Estudos mostram que, embora os intervalos sejam minúsculos, eles melhoram a capacidade de trabalhadores de se concentrar, de avaliar seus próprios empregos e até mesmo de se protegerem contra lesões ligadas a ficar à mesa o dia 78
Intervalos curtos no celular podem aumentar eficiência no trabalho
todo, com a circulação parada. Como não há consenso sobre quanto tempo o microintervalo deve durar ou com que frequência se deve fazê-lo, o trabalhador deve testar o que funciona melhor para cada um, recomendam os especialistas. Na realidade, se você costuma se reclinar para falar com uma pessoa ao seu lado ou dá uma olhada no smartphone, é possível que você já seja mestre da técnica.
Instituto Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional em Ohio e da Universidade Purdue, nos Estados Unidos. Eles queriam entender se as pequenas pausas poderiam aumentar a produtividade ou reduzir o estresse. Por isso criaram um ambiente de escritório artificial e convidaram 20 participantes para “trabalhar” durante dois dias, realizando tarefas “extremamente repetitivas”.
Segundo Sooyeol Kim, doutorando da Universidade de Illinois e especialista em microintervalos, há apenas duas regras: eles devem ser curtos e voluntários. Os intervalos, diz, ajudam os profissionais a lidarem com o fato de que passam a maior parte do dia no trabalho.
Cada participante ganhava um microintervalo a cada 40 minutos de trabalho. Durante o intervalo, que durava apenas 27 segundos, os participantes paravam de trabalhar, mas permaneciam em sua estação de trabalho.
Efeito calmante A técnica foi inventada no final de 1980 por pesquisadores do
Depois de acompanhar os batimentos cardíacos e a produtividade dos “funcionários” antes e depois de cada intervalo, os cientistas descobriram que as pausas
não eram tão benéficas quanto esperavam. Sua força de trabalho se saiu pior em algumas tarefas depois do descanso - digitando menos teclas por minuto, por exemplo. Mas uma coisa chamou a atenção: as pessoas que tiraram microintervalos um pouco mais longos tiveram frequências cardíacas mais baixas, sugerindo com isso que elas teriam se acalmado. O trabalho delas também exigiu menos correções. Após décadas de mais pesquisas, o microintervalo foi redimido. Existem agora diversas evidências de que eles podem ser benéficos reduzindo o estresse, mantendo os trabalhadores engajados e tornando o trabalho mais agradável. No caso do primeiro estudo, como as pausas mais longas estavam ligadas a uma melhor recuperação, os cientistas especularam que talvez os microintervalos fossem simplesmente curtos demais. Por que alongar é importante A única área em que os microintervalos se tornaram amplamente aceitos é como método para reduzir o risco de lesões no trabalho. “Nós os recomendamos a todos os nossos clientes”, diz Katharine Metters, ergonomista, fisioterapeuta e especialista em saúde e segurança da consultoria de ergonomia Posturite. Os números mais recentes da HSE - agência governamental britânica sobre saúde e segurança do trabalho - dão o tamanho do problema. Entre 2017 e 2018, havia 469 mil trabalhadores no Reino Unido sofrendo de lesões músculo-esqueléticas adquiridas em seus empregos. De acordo com Zaheer Osman, fundador e diretor da con-
sultoria de ergonomia Adept Ergonomics, a maioria não percebe que está se prejudicando até sentir dor - ou seja, quando já é tarde demais. Uma área em que isso se tornou particularmente evidente é a cirurgia. Em um campo que exige precisão, em que os erros costumam custar a vida de pacientes, é importante encontrar maneiras de ajudar os especialistas a evitar distrações e a manter o foco. Em 2013, um pequeno estudo analisou se os microintervalos podiam ajudar. Dois pesquisadores da Universidade de Sherbrooke, no Canadá, testaram 16 cirurgiões para verificar se os intervalos de 20 segundos a cada 20 minutos afetavam seus níveis de cansaço físico e mental. Para o experimento, os cirurgiões foram colocados em situações estressantes de operações complexas da vida real e depois avaliados em uma sala adjacente. Lá, eles foram solicitados a traçar o contorno de uma estrela com sua tesoura cirúrgica (uma variante de um jogo experimental clássico usado para testar a precisão das mãos) e ver quanto tempo eles poderiam suportar um peso com o braço esticado. Cada um foi testado três vezes: antes da operação, depois de uma operação em que foram permitidos microintervalos e outra após uma cirurgia sem esses períodos. Durante os intervalos, eles foram solicitados a deixar brevemente a área de trabalho e a fazer alongamentos. Os cirurgiões foram sete vezes mais precisos em seus desenhos após as operações com microin-
tervalos. Eles também tinham metade dos níveis de cansaço físico e sentiam menos dor nas costas, pescoço, ombros e pulsos. Desfrutar o intervalo Os microintervalos dão aos trabalhadores uma certa licença para se entregar ao que pode parecer uma perda de tempo. Tirar um tempo para navegar na internet - embora não por mais de 12% do dia, de acordo com um estudo - ou contemplar campos floridos pode melhorar a produtividade e ajudar os funcionários a se concentrar. O cientista social Andrew Bennett estudou os microintervalos para seu doutorado na Universidade Virginia Commonwealth. Sua principal descoberta foi que usar esse período para assistir a um clipe de vídeo engraçado deixou as pessoas revigoradas e mais atentas, com menor fadiga e menores atrasos em seus tempos de resposta durante um teste cognitivo. Reformule, se necessário É claro que assistir a clipes de televisão pode não agradar seu chefe - mas há muitas outras maneiras de fazer microintervalos sem parecer que você está jogando tempo fora. Aqui estão algumas dicas dos especialistas. Kim, da Universidade de Illinois, enfatiza que a maneira como as pessoas gastam seus intervalos deve ser decidido por cada um, já que diferentes indústrias tendem a acomodar diferentes tipos de intervalo. “As organizações podem oferecer um ambiente livre em que seus funcionários aproveitem as oportunidades de recuperação da forma como quiserem, equilibrando pressão e bem-estar.” 79
Como empresas estão ganhando dinheiro com seu DNA Maria Vittória Alberti Fonte: bbc.com/portuguese Em 07/05/2019 Se você já enviou amostras de DNA para fazer testes de ancestralidade ou exames de saúde, é provável que seus dados genéticos sejam compartilhados com terceiros para realização de pesquisas médicas ou até mesmo para solucionar crimes, a menos que você tenha solicitado especificamente à companhia para não fazer isso. A questão veio à tona no fim de janeiro, quando a empresa de genealogia Family Tree DNA admitiu que estava compartilhando informações genéticas de seus clientes com o FBI, a polícia federal americana, para ajudar a identificar suspeitos de estupros e assassinatos. Outra companhia de análise de DNA, a 23andMe, assinou um contrato de US$ 300 milhões com a gigante farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) para ajudar no desenvolvimento de novos medicamentos. Mas será que quem contrata estes serviços está ciente de que terceiros podem ter acesso às suas informações genéticas para pesquisa médica? Esse tipo de relação pode trazer benefícios ou devemos ficar preocupados? Consentimento no uso de dados A 23andMe é uma empresa com sede na Califórnia, nos EUA, que 80
oferece relatórios sobre ancestralidade e saúde com base em análise de DNA a partir de amostras de saliva. A companhia diz que tem mais de cinco milhões de clientes, dos quais mais de 80% concordaram em participar de suas pesquisas, criando uma enorme base de dados genéticos. Quando a parceria com a GSK foi anunciada no ano passado, Anne Wojcicki, CEO da empresa, afirmou acreditar que o acordo de cooperação aceleraria o avanço de descobertas científicas. Isso quer dizer, então, que a companhia mudou seu foco de atuação e passou a comercializar seu banco de dados genético? “Eu diria realmente que não”, responde Kathy Hibbs, diretora jurídica da 23andMe. “A maneira como olhamos para o nosso negócio é como um círculo virtuoso. Temos consumidores interessados e motivados em relação a sua própria saúde - como nossa genética pode influenciar o risco de desenvolver certas condições.” A ideia, diz ela, é realizar descobertas que ofereçam aos clientes
mais informações que possam usar para embasar suas decisões a respeito da saúde. Ela rejeita a hipótese de que os consumidores não entendem que estão concordando em compartilhar seus dados, chamando a atenção para um documento de autorização “muito explícito” que pergunta se a pessoa consente a realização da pesquisa e se permite que seja compartilhada com terceiros. O ponto fundamental, diz ela, é que a pesquisa depende de os clientes responderem a perguntas de um questionário. “A informação genética, se eles não fornecerem os dados do questionário... realmente não é interessante para nós. Portanto, eles não apenas autorizam conscientemente, como também participam afirmativamente desses estudos.” Hibbs afirma que a parceria com a GSK vai permitir que um grupo muito maior de pesquisadores estude os dados que eles têm disponíveis. A empresa também vai poder trabalhar em parceria com acadêmicos e instituições públicas se não houver conflito de interesses com a companhia farmacêutica, acrescenta.
‘Bem maior’ Paralelamente, muitos países estão desenvolvendo bancos de dados de DNA públicos, em oposição aos privados que pertencem a companhias, como a 23andMe. No Reino Unido, o projeto está sendo conduzido pela Genomics England, empresa criada pelo Departamento de Saúde e Assistência Social do governo. A companhia lidera o Projeto 100 mil Genomas, que tem o objetivo de sequenciar o genoma de pacientes com câncer e doenças raras, assim como de seus familiares. Todos são atendidos pelo serviço público de saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês), e o foco está na melhoria do tratamento - e não no desenvolvimento de novos medicamentos lucrativos. Mark Caulfield, cientista-chefe da Genomics England, diz que o projeto oferece diversos benefícios.
ta também uma grande economia do ponto de vista financeiro para o NHS, porque ela estava sendo internada periodicamente e recebendo cuidados intensivos.” Ele destaca que o genoma pode ajudar a elaborar uma imagem muito mais detalhada do curso de vida de uma pessoa - algo que pode ajudar os cientistas a identificar quem corre risco de contrair certas doenças. Todos que fazem parte do banco de dados aderiram com base no chamado consentimento informado, que prevê a distribuição de material informativo impresso e consulta com profissional de saúde. A Genomics England trabalha em parceria com outros países e empresas privadas, algo que Caulfield vê como positivo. Quando um paciente sofre de uma doença muito rara, obter uma resposta pode depender do compartilhamento de dados com outros países.
Ele cita o exemplo de uma menina de 10 anos com catapora recorrente grave. “Encontramos uma mutação no DNA dela que alterou o sistema imunológico. Isso nos permitiu optar pelo transplante de medula óssea e curá-la”, diz ele. “Esta não é apenas uma transformação para o indivíduo, represen-
co de ter uma reação adversa por causa da nossa constituição genética. E como 80% dos medicamentos falham durante o desenvolvimento, usar o genoma para tentar obter drogas mais seguras na primeira tentativa pode reduzir o custo desses remédios quando eles chegam ao sistema de saúde”, explica. Ele destaca o papel fundamental que a identificação do gene responsável pelo colesterol hereditário, condição que leva ao desenvolvimento precoce de doenças cardíacas, desempenhou no desenvolvimento da droga para seu tratamento. “A Amgen [empresa farmacêutica] estima que o trabalho com o genoma encurtou o desenvolvimento desse medicamento em três anos. Se eu puder fazer algo capaz de evitar a morte ou a dor de alguém mais rápido por meio desta parceria público-privada, então eu acho que é um bem maior para a sociedade.” O fato de as empresas privadas dominarem os bancos de DNA preocupa Kayte Spector-Bagdady, professora assistente da faculdade de medicina da Universidade de Michigan, nos EUA. Ela alerta ainda que as perspectivas de lucro podem distorcer as pesquisas.
Em paralelo, dialogar com empresas privadas que estão desenvolvendo medicamentos pode ajudar a baratear um processo extremamente caro. “Muitos de nós têm o ris81
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AGENDA CULTURAL Música
culturalbancodobrasil.com.br
Juan Victor e Ygor Rangel Fonte:culturabancodobrasil.com. br (adaptado) Em 07/05/19 XIV RioHarpFestival Ministério da Cidadania e Banco do Brasil apresentam RioHarpFestival, projeto que chega a sua 14a edição e reúne importantes harpistas do Brasil e do mundo. O festival traz músicos de mais de 20 países em apresentações com um amplo repertório, que vai do erudito ao rock, passando pelo étnico, jazz e ritmos brasileiros. Inserido no Música no Museu, o evento se consolidou no calendário cultural da cidade e adquiriu relevância internacional, sendo hoje um dos principais de música clássica no Brasil. Com a realização do festival, o Centro Cultural Banco do Brasil reafirma o seu apoio às artes musicais, contribuindo ainda para a formação de plateias. O XIV RioHarpFestival - Festival Internacional de Harpas inserido em Música no Museu, concertos gratuitos realizados há mais de 21 anos em museus, centros culturais, igrejas, Palácios, Sinagogas, clubes, de norte a sul do Brasil e que ampliou-se, levando a musica e músicos brasileiros para o exterior. Busca privilegiar a música de boa qualidade, sem distinção de procedência, escola ou época.
A brasileira Tatiana Henna também se apresentará no XIV RioHarpFestival culturabancodobrasil.com.br
Serviço:
$ Entrada franca
Datas: 01/05 a 31/05 83
Artes visuais Galeria de valores Juan Victor e Ygor Rangel Fonte: culturabancodobrasil.com. br (adaptado) Em 02/03/19
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xposição de longa duração que mostra a trajetória da moeda no
Brasil e no mundo, com cerca de 2 mil peças do acervo numismático do Banco do Brasil. Na coleção, destacam-se raros exemplares como moedas obsidionais cunhadas pelos holandeses no século XVII e a moeda de ouro lanescolajabuti.com.br
çada para comemorar a coroação de D. Pedro I. A exposição é aberta todos os anos, geralmente nos meses finais de cada ano e recebe centenas de estudantes e professores.
Serviço:
$ Entrada franca
Datas: 01/12 a 31/12 Horário: de 9h às 21h Exposição reúne acervo de cerca de duas mil peças
Arte que educa
Crianças da Escola Jabuti exploram trajetória da moeda no Brasil Juan Victor e Ygor Rangel Fonte: Escolajabuti.com.br (adaptado) Em 08/12/18 As crianças visitaram a exposição do CCBB, Galeria de Valores. Além de toda brincadeira, as crianças investigaram a função social dos números, e perceberam que eles agregam valor às notas e moedas. “Esta exposição permanente levou o grupo a se encantar viajando no tempo 84
através das trocas de moedas que acontecem em todo mundo”, relata Gilvanete, professora deste grupo. Lá, passaram literalmente por cima de uma espécie de rio cheio de moedas, com muita brincadeira e interatividade observaram a mudança das notas e moedas brasileiras e de outros países ao longo do tempo e constataram também como eram realizadas as compras antes de existir o dinheiro.
escolajabuti.com.br
Crianças brincam com moedinhas
Artes visuais Paul Klee – Equilíbrio Instável g1.com
Juan Victor e Ygor Rangel Fonte:almanaquedaculturacom.br (adaptado) Em 03/04/19
R
eúne, pela primeira vez na América Latina, mais de 100 obras do suíço Paul Klee (1879-1940). A exposição conta com 16pinturas, 39 papéis, 5 gravuras, 5 fantoches e 58 desenhos, além de objetos pessoais do artista. Suíço, filho de pai alemão, Klee transitou com notável desenvoltura por diversos estilos, como o Cubismo, o Expressionismo, o Construtivismo e o Surrealismo, mas não cabe atribuir ao seu legado artístico nenhum em particular, tendo alcançado uma notável expressão pictórica própria, que reforçou seu papel central na história moderna da arte. Paul Klee estudou pintura e desenho em Munique, no final do século XIX, e conviveu com outros importantes artistas de sua época, dentre eles Wassily Kandinsky (18661944) e Pablo Picasso (1881-1973). Além de exímio pintor, a partir de 1921 Klee lecionou na Bauhaus, berço do modernismo e a primeira escola de design do mundo. No dia 15 de maio, às 18h30, a curadora conversa com o público sobre a obra do artista, mediante retirada de senha 1 hora antes do início do evento. Curadoria: Fabienne Eggelhofer, do Zentrum Paul Klee, de Berna, na Suíça.
Obras de Paul Klee, que integram a mostra ‘Equilíbrio Instável’
Serviço:
$
g1.com
Entrada franca
Datas: 15/05 a 12/08 Horário: de 9h às 21h
A exposição conta com 39 papéis
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Cinema SAIBA MAIS sobre o filme
18ª MOSTRA DO FILME LIVRE 2019 Por: Juan Victor e Ygor Rangel Fonte: culturabancodobrasil.com. br (adaptado) Em 05/05/19
A
maior mostra de cinema brasileiro chega a sua 18ª edição focada em sua missão de ser o melhor e mais completo painel da atual produção audiovisual independente nacional. De 773 filmes inscritos, de cineastas de todo o país, mais de 150 foram selecionados para serem exibidos na mostra. Entre os curtas-metragens do Distrito Federal, estão: A praga do cinema brasileiro, de William Alves; Aulas que matei, de Amanda Devulsky e Pedro B. Garcia, Entre Parentes, de Tiago de Aragão e O mistério da Carne, de Rafaela Camelo. Neste ano o homenageado será o cineasta Sylvio Lanna, que participará de sessões e debates e o jornalista Geneton Moraes Neto que também terá sua filmografia autoral em Super8 DF. Sobre a mostra Nascida no CCBB em 2002, desde então exibe curtas, médias e longas de todos os gêneros e formatos, promovendo também diversos debates sobre nosso cinema livre. A MFL é uma criação da WSET Multimídia e é beneficiada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura contando com o patrocínio do Banco do Brasil e apoio institucional da Cinemateca Pernambucana.
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Programação
16/04 – Terça 19h – Abertura – (14 anos) 17/04- Quarta 18h30 – Especial Geneton, seguida de debate – (14 anos) 18/04- Quinta 18h30 – Curta Brasília – (14 anos) 20h – Bressane 1 – (14 anos) 20/04 –Sábado 12h – Mostrinha 1 – (Livre) 13h – Mostrinha 1 – (Livre) 14h – Mostrinha 1 – (Livre) 15h – Pílulas – (14 anos) 16h – Pan 1 – (14 anos) 17h30 – Pan 2 – (Livre) 19h – Pan 3 – (14 anos) 21/04 –Domingo 12h – Mostrinha 2, (Livre) 13h – Mostrinha 2, (Livre) 14h – Mostrinha 2, (Livre) 15h – Pan 4 – (14 anos) 17h – Pan 5 – (14 anos) 18h30 – Pan 6 – (14 anos) 23/04 – Terça 18h- Territórios 1 – (14 anos) 19h30 – Territórios 2 – (14 anos) 24/04 – Terça 18h – Territórios 3 – (14 anos) 19h30 – Territórios 4 – (14 anos) 25/04 – Quinta 18h -Territórios 5 – (14 anos) 19h30 – Territórios 6 – (14 anos) 26/04 – Sexta 17h30 – Territórios 7 – (14 anos) 19h30 – Distruktur – (14 anos) 27/04 – Sábado 14h – Mostrinha 2 – (Livre) 15h – Pílulas – (14 anos) 16h – Biografemas 1 – (14 anos) 18h – Biografemas 2 – (14 anos) 28/04 – Domingo 14h – Mostrinha 1- (Livre) 15h – Biografemas 3 – (14 anos) 17h – Biografemas 4 – (14 anos) 19h – Biografemas 5 – (14 anos) 30/04 – Terça
18h – Biografemas 6 – (14 anos) 19h30 – Biografemas 7 – (14 anos) 01/05- Quarta 18h – Autorias 1 – (14 anos) 19h30 – Autorias 2 – (18 anos) 02/05- Quinta 18h – Autorias 3 – (14 anos) 19h30 – Autorias 4 – (14 anos) 03/05 – Sexta 18h – Pílulas – (14 anos) 19h30 – Longa Livre 1 – (14 anos) 04/05 – Sábado 15h – Longa Livre 2 – (14 anos) 17h – Longa Livre 3 – (14 anos) 19h – Curta Brasília – (14 anos) 05/05 – Domingo 14h – Mostrinha 2 (Livre) 15h – Longa Livre 4 – (14 anos) 17h – Longa Livre 5 – (16 anos) 19h – Caminhos – (14 anos) 07/05 – Terça 18h – Curta Rio 1 – (14 anos) 19h30 – Curta Sampa – (14 anos) 08/05 – Quarta 18h – Curta Rio 2 – (14 anos) 19h30 – Mundo Livre 1 – (14 anos) 09/05 – Quinta 17h30 – Curta Rio 3 – (14 anos) 19h30 – Mundo Livre 2 – (14 anos) 10/05 – Sexta 18h – Questão de gênero: Animação – (16 Anos) 19h30 – Questão de gênero: Terror – (18 Anos) 11/05 – Sábado 14h – Mostrinha 2 – (Livre) 15h – Questão de Gênero: Terror 2 – (16 Anos) 17h – Homenagem Lanna 1 – (14 Anos) 18h30 – Homenagem Lanna 2, seguida de debate – (14 Anos) 12/05 – Domingo 13h – Mostrinha 1 – (Livre) 14h – Questão de gênero: ficção científica – (14 Anos) 15h15 – Coisas Nossas – (14 Anos)
Cinema SAIBA MAIS sobre o filme
18ª MOSTRA DO FILME LIVRE 2019
g1.com
Edição 2018 trouxe produções independentes do audiovisual nacional - Filme “Uma História das Cores”
g1.com
Edição 2018 trouxe produções independentes do audiovisual nacional- Filme “Prefiro Não Ser Identificada”
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Música Marcelinho da Lua lança novo álbum no MAR de Música Juan victor e Ygor Rangel Fonte:agendacarioca.com.br (adaptado) Em 05/05/19
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DJ carioca Marcelinho Da Lua lança o seu novo álbum, “Insolente”, na edição de maio do MAR de Música, que acontece no Museu de Arte do Rio nesta sexta-feira, dia 17, a partir das 18h. O disco é o primeiro trabalho de estúdio do DJ em 10 anos e conta com participações de Marcelo D2, Otto, Fernanda Takai, entre outros nomes da música brasileira.O show nos pilotis do museu vai trazer um repertório cheio de suingue e misturas de ritmos bem tropicais, costurando samba, reggae, drum and bass e bossa nova. Os ingressos, que custam a partir de R$ 5, já podem ser comprados na bilheteria do museu.Marcelinho Da Lua fará um show nos pilotis do MAR e vai receber no palco parceiros do coletivo Tranquilo Soundz: Bruno LT, Marcio Menescal e Heitor Nascimento, junto com participações especiais de Hélio Bentes, Lucas Santtana e Augusto Bapte. Os DJs Lencinho e Chu Selecta também fazem parte do evento. Sob a
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curadoria de Gabriel Moreno, o MAR de Música contará com barraquinhas de comidas e bebidas, uma parceria com os Vizinhos do MAR. A entrada custa R$ 5 (meia-entrada) e R$ 10 (inteira) e os ingressos podem ser comprados na bilheteria do museu.
bater esse avanço de um ‘extremismo’: Otto, Fernanda Takai, Marcelo D2, todos eles, eu diria”, conta. O trabalho com outros artistas não é novidade para o produtor, que já fez parcerias com Gaby Amarantos, Daniela Mercury ou Lenine. “Com todas essas pessoas que g1.com participaram, João Donato, Mart’nalia, Martinho da Vila, tudo sempre ocorreu de forma muito natural, nasceu de uma conversa. Eu tive a sorte de sempre ter o estúdio perto de mim, nasci e cresci lá dentro. Para mim, ir lá e gravar nunca foi um mistério”, afirma. Foi dessa forma orgânica que Marcelinho da Lua concebeu o fruto de uma de suas parceCapa do novo CD do Dj Marcelinho rias mais produtivas: a versão de “Cotidiano”, feita com Seu Trabalho de equipe Jorge, que estourou em 2004. O posicionamento político de “Uma pessoa me sugeriu que a “Insolente” não vem somen- cadência dessa música funcionava com a batida com a qual te da parte de eu trabalhava Marcelinho na época, que da Lua, mas “Eu tive a sorte de era o ‘drum dos inúmeros artistas que sempre ter o estú- and bass’. Na hora, para inc o nt r i b u í r a m dio perto de mim, terpretar essa na criação das nasci e cresci lá música e dar músicas. “Muitas pessoas que dentro. Para mim, vida a ela, penno Jorge”, estão no álbum ir lá e gravar nun- sei diz o DJ Marse posicionaca foi um mistério” celinho. ram para com-
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‘‘O lugar que não há questionamento é muito perigoso’’
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Literatura Contos tradicionais são recontados por pesquisadoras em nova coletânea Juan Victor e Ygor Rangel Fonte: Thaissa Barzellai www. agendacarioca.com.br (adptado) em 04/05/19 Um dos gêneros literários mais celebrados pela literatura brasileira, o conto, ganhou uma homenagem que será lançada neste sábado, dia 18, no Cabriola, na Glória, em uma noite de autógrafos com direito a música ao vivo que acontece das 18h às 22h. Apaixonadas pela linguagem poética e sensível presente nas linhas dessas histórias, as pesquisadoras da “arte da palavra encantada” Ana Gibson e Juliana Franklin decidiram unir essa admiração e escrever a coletânea “Uma história e uma história e uma história”.
Com a ideia de honrar todas as referências religiosas, culturais e sociais de diversas culturas do mundo – como a sufi, a judaica, a indiana, entre outras -, presentes nos textos desse tipo de produção literária, as escritoras decidiram recontar contos de diferentes épocas e autores de modo que eles conversem entre si, fugindo da linguagem tradicional. Nas 29 histórias escolhidas a dedo, algumas inclusive na internet – no último capítulo, elas compartilham a experiência de ir atrás desses títulos e como eles chegaram até elas -, o leitor vai se deparar com uma interpretação contemporânea da ficção lida anos antes que pode acabar mostrando uma interpretação que antes não seria possível.
Serviço: Entrada franca
Data: 18/05 Horário: de 18h às 22h Local: Glória
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Ana Gibson (à esquerda) e Juliana Franklin (à direita) são as autoras de “Uma história e uma história e uma história”
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O livro reúne mais de 20 contos tradicionais da literatura brasileira
Com atividades culturais, EMEI Tia Eva festeja 100 anos de festa de padroeiro da comunidade De acordo com a diretora da unidade, que conta com 75 crianças, Cleidevana Maria Chagas, esta foi a primeira etapa do projeto “A comunidade sob o olhar da criança” blogs.diariodonordeste.com.br
Crianças aprendendo a arte da capoeira
Juan Victor e Ygor Rangel Fonte: m.acritica.net em 17/05/2019 Com exposições de artesanato, degustação de comidas típicas e apresentações culturais, alunos e professores da EMEI Tia Eva deram início esta semana às festividades do centenário da festa em louvor ao padroeiro da comunidade, São Benedito, na qual a escola está inserida. Durante a semana os alunos participaram de rodas de conversa e atividades cívicas contextualizadas, que resgataram a história da comunidade Tia Eva. O resultado de todo esse aprendizado pode ser conferido na tarde desta sexta-feira (17), durante evento que contou com a presença do prefeito Marquinhos Trad e reuniu lideranças da comunidade e familiares. Logo na entrada era possível conferir um painel de fotos legendadas que contavam a história da
comunidade, além de maquete e releitura da Igrejinha. Também estavam expostos utensílios domésticos antigos e artesanato produzido pelos alunos. De acordo com a diretora da unidade, que conta com 75 crianças, Cleidevana Maria Chagas, esta foi a primeira etapa do projeto “A comunidade sob o olhar da criança”, que ao longo do ano irão resgatar as histórias e tradições de tia Eva e seus descendentes, que deram origem a comunidade, em 1910. Apesar de a maioria dos alunos ser descendente de Eva Maria de Jesus, fundadora da comunidade, a escola também recebe crianças de bairros próximos, por isso a diretora acredita na importância de trabalhar a história local para difundir a cultura daqueles que deram origem a comunidade. “Entendemos que essa especificidade, de estarmos dentro da comunidade, nos torna responsáveis, por meio deste projeto, de contribuir
com o vivenciar de experiências, de promover pesquisas que dialoguem com a realidade local, com o processo de formação, difusão e preservação da história dos descendentes de Tia Eva”, ressaltou a diretora. O presidente da Associação dos Descendentes da Tia Eva, Eurides Antônio da Silva, diz ser um orgulho festejar o centenário na unidade escolar. “É um resgate daquilo que a Tia Eva nos deixou. Educação é tudo, sempre foi uma luta dela e aqui na escola existe um belo trabalho cultural, por isso hoje nosso sentimento é de agradecimento”, frisou. Pela primeira vez prestigiando os festejos na EMEI, a copeira, Tainara Prazeres, mãe de Nicole, de 4 anos, diz que o resgate da história da comunidade incentiva o respeito entre os alunos. “Minha filha já sabe até a jogar capoeira. Ela se desenvolveu muito aqui e eu acho ótimo esse trabalho de valorização”, afirmou. 91
diariodonordeste.verdesmares.com.br
36 coleções de marcas autorais desfilarão nas passarelas do DFB Festival 2019
DFB Festival inicia promovendo a cultura e moda local Juan Victor e Ygor Rangel Fonte:diariodonordeste.verdesmares.com.br Em 15/05/19
O
primeiro dia de DFB Festival 2019 reuniu, no Aterro da Praia de Iracema, nomes relevantes da moda em uma noite com clima praiano. Nesta edição, a estrutura do espaço é composta pelas salas de desfile, por uma feira de expositores de mais de 60 marcas cearenses e autorais, bem como os palcos dos shows que acontecem paralelamente. A marca autoral Parko abriu a programação de desfiles no palco do DF Beach Club ousando com modelos fora do padrão. Montado na areia, o setor aposta em uma apresentação com clima descontraído e show ao vivo. A coleção “do 92
good get good” surgiu a partir do conceito de colher o que se planta, composta por peças com pinceladas lúdicas em preto, branco e tonalidades terrosas. Outro destaque da noite foi o desfile de Almerinda Maria, a nova coleção da designer presta homenagem à Carmen Miranda e é intitulada como Tropical Chic. Com tecidos nobres, as peças feitas à mão trabalham com bordados e Rendas e mesclam as cores tradicionais da marca com tons de fruta e temperos típicos do Brasil. A programação contou ainda com desfiles de Victor Cunha com Caio Nascimento, Homem do Sapato, Gisela Franck e Água de Coco. À tarde, o público pôde conferir oficinas e palestra com Dudu Bertholini no Auditório DPM. Experiência Janaína Câmara trabalha com confecção e resolveu participar do DFB pela primeira vez. Para ela, a experiência está sendo
ótima. O interesse veio a partir de um curso técnico que ela começou a fazer. “O professor do curso incentivou a gente a vir, também estou partIcipando de outro evento e fiquei curiosa em conhecer”, conta. Já para Cibele Girão, o DFB é evento marcado na agenda. “Eu acho muito interessante que o Ceará floresça esse mundo ligado à moda, à cultura, bacana pois consigo ver muitas coisas da cultura local”, opina. O novo local do evento também foi elogiado por ela, bem como a estrutura. Música Em 2019, o DFB Festival conta com dois palcos musicais, o Sesc e o Cores. Nesta quarta-feira (15), as atrações foram Banda Regina George, Banda Reite, Ballet Madiana Romcy, Projeto Rivera, Two Notty e Tulipa Ruiz. A programação segue até sábado (18) e traz nomes como Marcelo Jeneci, MC Pocahontas e Melim.
asnamanga.com
A edição deste ano celebra 19 anos do evento e reúne moda, cultura e ciclos de formação
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Um museu em busca da história do feminismo na década de 1970 Coleta de objetos pessoais das principais representantes do movimento foi iniciada pelo Museu Histórico Nacional Por: Juan Victor e Ygor Rangel arte.estadao.com.br (adaptado) em 10/12/2018 O ano era 1975. A Organização das Nações Unidas (ONU) realizava a Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher, na Cidade do México. Enquanto isso, no Rio, em pleno regime militar, nascia o Centro da Mulher Brasileira, fundado por uma geração de feministas que retomou os movimentos de rua no País para reivindicar direitos como a igualdade salarial e o fim da violência contra a mulher. Uma história que o Museu Histórico Nacional (MHN) quer recontar a partir da reunião de artefatos pessoais de algumas das protagonistas do movimento feminista brasileiro da década de 1970. A montagem da coleção faz parte do programa de criação de acervo de história contemporânea do Brasil, como explica o diretor do MHN, Paulo Knauss. “Somos um museu de acervo. Então, temos esse trabalho de construir coleções que contem a história contemporânea”, diz Knauss. “Uma das partes deste trabalho envolve os movimentos ligados à promoção e à construção de identidade.” O processo está sendo coordenado por técnicos do museu em cooperação com representantes do movimento feminista da década de 1970. O recorte histórico foi escolhido por se tratar de um momento chave na volta das manifestações de rua e do protagonismo 94
feminino na vida social e política do País. “O Ano Internacional da Mulher é o marco para o ressurgimento das mulheres na rua. Você ainda tinha um grande chapéu no Brasil, a redemocratização”, diz a professora Hildete Pereira de Melo, do Programa de Estudos Pós-Graduados em Políticas Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF). Naquela década, ocorreu uma segunda onda feminista, de acordo com Hildete, uma das representantes ativas do movimento naquele período. Enquanto o primeiro levante batalhou pelo sufrágio universal, conquistado em 1934, o movimento seguinte tinha influências como a escritora francesa Simone de Beauvoir e a fundadora da Organi-
zação Nacional das Mulheres nos Estados Unidos, Betty Friedan. “Entre os movimentos das sufragistas e as conquistas posteriores, como o Estatuto da Mulher Casada, que garantiu igualdade na sociedade conjugal, em 1962, houve um interlúdio muito grande, resgatado pelos movimentos que vinham de fora e repercutiam no Brasil, e também pelo livre acesso da mulher à educação”, afirma Hildete. O Museu Histórico já conseguiu a doação de objetos pessoais que resgatam a história de algumas das pioneiras dessa segunda onda. “Já temos os óculos de Rose Marie Muraro, os óculos escuros de Ruth Escobar e o cinzeiro de Carmen da Silva”, conta Paulo Knauss. “Por meio desses objetos pretendemos montar uma coleção que permita formar uma biografia coletiva do movimento.” Histórias feministas Hildete nasceu em Campina Grande, em 1943. Ativa no movimento estudantil na Paraíba, mudou-se para o Rio com o marido porque, segundo ela, não conseguia emprego em decorrência de sua atuação. Na capital fluminense, formou-se em Economia e em 1966 foi com o marido estudar na França, onde ficou até 1968. De acordo com a economista, a mudança no engajamento político feminino nesse período ficou evidente na sua volta. “A diferença do Brasil que eu dei-
xei e o Brasil que eu encontrei um ano e meio depois foi grande. E a educação foi um fator decisivo para a retomada do movimento feminista, com o aumento do número de mulheres na universidade”, relembra. “Encontrei muitas mulheres na política, ainda sem voz nos microfones, mas participando.” Os movimentos estudantis de 1968 foram importantes para a retomada da presença feminina nas ruas, segundo Hildete. Mas o trabalho de algumas pioneiras, que têm suas histórias resgatadas no acervo do MHN, também se mostrou decisivo. “É o caso de Carmen da Silva, jornalista que escrevia a coluna A Arte de Ser Mulher na revista Claudia, onde defendia sempre a independência financeira como forma de alcançar a liberdade feminina”, conta Hildete. “É a partir das leitoras dela, as mesmas mulheres que haviam posto os pés na universidade nos anos 1960, que se organiza no Rio uma semana de debates sobre a situação da mulher, o embrião do Centro da Mulher Brasileira.” Outra feminista retomada pela coleção é a escritora Rose Marie Muraro, então editora da Vozes, ligada à Igreja Católica, trabalhando ao lado de intelectuais como Leonardo Boff. “Em 1971, Rose promoveu a vinda de Betty Friedan para o Brasil para divulgar um de seus livros. Ela teve uma longa participação desde os anos 1960 e conosco no Centro da Mulher Brasileira.” Causas do movimento A inauguração do Centro da Mulher Brasileira representou um passo importante para as feministas de então. Com uma agenda própria, as mulheres conse-
guiram pleitear seus direitos de forma institucional. Por meio do trabalho desenvolvido pela instituição, surgiram a propostas como o texto da emenda ao Código Civil que instituiu o direito ao divórcio. Além disso, o órgão serviu para pautar o debate público em torno das causas do movimento. “As maiores bandeiras naquele momento eram a igualdade salarial, ‘o salário igual pelo trabalho igual’, e o fim da violência contra a mulher. Avançamos bastante também com o direito das trabalhadoras domésticas, que sempre foram esquecidas.” O respaldo político ajudou a obter a implementação de relevantes políticas públicas. Na década de 1980, Tancredo Neves, em Minas Gerais, e Franco Montoro, em São Paulo, inauguram as primeiras delegacias voltadas para mulheres. Para além da agenda desenvolvida pelo Centro da Mulher Brasileira, pautas externas foram incorporadas com o passar dos anos. Com a anistia e a volta de mulheres exiladas ao Brasil, por exemplo, um tema que ganhou espaço no debate nacional foi a descriminalização do aborto, já discutida em outras partes do mundo. “A primeira manifestação de rua pelo aborto foi em 1980, depois da prisão de algumas mulheres. A volta das exiladas foi fundamental para esse debate, porque a luta pela descriminalização do aborto já havia no mundo inteiro.” Doação de itens relevantes Apesar do esforço para remontar a história do movimento feminista, ainda não há uma previsão de quando e nem de como será a exposição ao público. Apenas ao fim do processo de coleta de itens e de consolidação da coleção, explica
Knauss, é que se analisará a forma de apresentação. “Com base no que for possível coletar para montar a coleção é que o museu vai averiguar se poderá colocar em um espaço ou em uma coleção permanente – a que conta a história geral do Brasil”, conta o diretor. lhs.unb.br
Hildete nos jardins do Palácio Itamaraty
“Espero que esta nova geração de mulheres que chega à vida adulta, a geração da minha neta, não permita que a bola caia. Que continuem a luta pela igualdade.” 95
fundacaodecultura.ms.org.br
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Alunos de Bonito conhecem instituições do Memorial da Cultura durante a Semana de Museus A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul iniciou hoje a programação da 17ª Semana Nacional de Museus com visita ao Memorial da Cultura e da Cidadania dos alunos do 9º ano da Escola Estadual Bonifácio de Carvalho Gomes, de Bonito Juan Victor e Ygor Rangel Fonte: m.acritica.net (adaptado) Em 14/05/2019
O
s estudantes participaram do Cardápio Cultural, com visitação aos espaços do prédio da FCMS (Hall de entrada, Centro Referencial de Artesanato, Sala Jorapimo, Galeria dos ex-governadores, Sala Apolônio de Carvalho, Arquivo Público Estadual, MuArq, Biblioteca Pública Estadual Dr. Isaias Paim e Museu da Imagem e do Som), e também assistiram ao curta-metragem em homenagem à atriz Glauce Rocha. Acompanharam os alunos a professora de Língua Portuguesa, Denise Mota, e o professor de história. Elton Teixeira da Silva. Os dois participam do Projeto Interdisciplinar de Leitura da escola, que desenvolve atividades direcionadas ao prazer de ler. “O objetivo é fazer com que os alunos se sintam incentivados a buscar livros e desenvolver a leitura com prazer. Temos uma biblioteca na escola e semanalmente temos uma aula direcionada para esta atividade”. A professora Denise afirma que esta visita ao Memorial da Cultura faz com que os alunos conheçam uma outra realidade. “Eles ficam conhecendo outros espaços que eles podem buscar. Somos do interior, e muitos vêm para Campo Grande cursar uma universidade. Então, é uma oportunidade de conhecer um pouco a cidade. Tem quatro alunos que vieram pela
primeira vez à capital”. O professor Elton acrescenta que o projeto político-pedagógico da escola prevê oportunizar aos alunos conhecer diferentes espaços, e para isso, buscou parceria com a Fundação de Cultura de MS. “Buscamos os espaços públicos para eles compreenderem que têm livre acesso, para incentivá-los a buscar estes espaços interessantes. Nós desenvolvemos uma educação voltada para a paz, com ações voltadas para formar um mundo melhor, mais consciente e justo”. A estudante Raquel Loureiro, de 14 anos, estava bastante interessada e acompanhava com atenção as explicações dos gestores da FCMS. “Gostei muito da Biblioteca porque gosto de ler, acho muito importante. Quanto mais você lê, mais conhecimento você tem. Achei o artesanato muito bonito e adorei saber mais sobre a história do cinema, me acrescentou muito. Quero ser arquiteta, e o que aprendi aqui pode incrementar meus conhecimentos, pois isso aqui é história. Em muitos projetos meus eu posso levar isso, é um aprendizado que vou levar para a vida toda”. Pedro Paulo Assis, 14 anos, e seu colega Rodinei Domingos Medeiros, de 15, gostaram de aprender sobre cinema e participaram com alegria das atividades. “Gostei muito também da Biblioteca e do Arquivo Público, das coisas que estão lá há muito tempo. Você fazendo as coisas, aprendendo, consegue ir mais longe na vida”, diz Rodinei, que pretende cursar Agronomia. “Gostei das esculturas representando os indí 97
genas e do espaço do artesanato, no andar térreo”, diz Pedro Paulo, que quer ser policial. Para o coordenador do Sistema Estadual de Museus, Douglas Alves da Silva, que acompanhou toda a visita, o Memorial da Cultura é um espaço cultural muito plural e todas as instituições nele contidas têm algo a somar no processo educativo. “A visita ao prédio só tem a agregar ao que o professor faz em sala de aula, conseguimos dar um suporte maior para o aprendizado”. Um dos objetivos da Semana dos Museus é dar visibilidade a esses espaços para incentivar a visitação. “Os museus são disponibilizados para a população e muitas vezes ela não sabe. As pessoas podem aprender muito mais sobre sua própria cultura e sua história visitando estes espaços”, diz Douglas. A abertura oficial da 17ª Semana Nacional dos Museus acontece nesta terça-feira, dia 14, às 19 horas, na Plataforma Cultural, com lançamento do vídeo documentário “Imagens para a história”; lançamento da cartilha “Conceitos do Patrimônio Cultural de Campo Grande/MS” e instalação artística “A arte transforma”, organizada pelo Prof. Me. Roberto Figueiredo (UCDB).
burocracia, redução de investimentos, cortes orçamentários, realocação de recursos. Enfim, todos esses fatores podem ser apontados como responsáveis pelo trágico incêndio, deste domingo (2), que dizimou milhões de itens históricos e culturais que faziam parte do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Nas palavras do Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Alexandre Fortes, “a perda escancara o caráter criminoso das políticas de ‘austeridade’ transformadas em emenda constitucional”. No entanto, infelizmente, este não foi o primeiro caso de museus e outras instituições culturais no Brasil, que tiveram seus ricos acervos queimados, destruídos, total ou parcialmente. Em 1978, o Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro perdeu telas de Pablo Picasso, Joan Miró, Salvador Dalí e de centenas de artistas brasileiros queimarem em 40 mi-
nutos de incêndio. Do acervo de mais de mil peças restaram somente 50. Em 2008, o tradicional Teatro Cultura Artística, localizado na região central de São Paulo, foi vítima de um incêndio que teve duração de três horas e meia até ser totalmente debelado. O grande painel de Di Cavalcanti que enfeitava a fachada do prédio não foi totalmente danificado. No entanto, todo o terceiro andar foi destruído e, por isso, o teto cedeu e desabou. Não houve vítimas. Dois anos depois, em 2010 e também em São Paulo, um incêndio atingiu o laboratório de répteis do Instituto Butantan, na capital paulista, destruindo, nada mais nada menos, do que um dos mais importantes acervos de cobras, aranhas e escorpiões para pesquisas do mundo e o principal e maior do Brasil. No total, mais de 70 mil espécies conservadas foram queimadas no local. Nenhuma pessoa ficou ferida nessa ocasião. agenciabrasil.ebc.com.br
Incêndios em instituições culturais não são novidade no Brasil Museu de Arte Moderna, Memorial da América Latina, Liceu de Artes e Ofício, Museu da Língua Portuguesa e Cinemateca Brasileira, entre outros, tiveram seus acervos, parcial ou totalmente, destruídos pelo fogo Descaso do atual governo com a cultura, traduzido em excesso de 98
Incêndio de grandes proporções atinge Museu da Língua Portuguesa
A MODA DO RAP: DO GUETO AO LUXO
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Um dos rappers mais aclamados da atualidade, ASAP Rocky leva jeito para música e isso não se discute muito. Outro dos talentos de Rakim Mayers (seu nome de nascença) é entender de moda. O artista estampa amanhas de grifes como Calvin Klein e Dior, é figurinha certa em desfiles das semanas de moda internacionais e de quebra é queridinho de marcas como Gucci.
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Pharrell Williams está há anos no mainstream e independentemente do seu projeto momentâneo, o destaque para seu estilo é sempre o mesmo, pois é impossível não reparar no incrível senso de moda e na capacidade de lançar tendências que ele possui, bem vestidos e descolados, ele é um verdadeiro ícone. Rapper, produtor musical, designer e empresário, talentoso em todos os segmentos.
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Se tem uma coisa que temos certeza sobre a influência de Kanye West na indústria da moda. Suas coleções para a adidas são um sucesso e seus tênis Yeezy são adotados por muitas celebridades e o público faz fila. Na última semana o rapper foi flagrado usando um tenis da adidas e o resultado foi surpreendente. A internet foi à loucura e as pessoas começaram a ir à procura do sneakers. Ao imprimir no vestuário os códigos das minorias que aparecem em verso e melodia, os rappers brasileiros valorizam e geram visibilidade às subculturas que servem de referência também para marcas elitizadas. A simbiose entre Moda e Rap é um catalizador de transformações sociais e enaltece a base cultural do nossos país – das ruas aos palcos, passando pelos desfiles, o espírito rebelde e a linguagem própria do Hip Hop embala o rumo da moda brasileira com estilo e atitude. 99
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Semana de Moda de Nova York, primeira coleção de roupas a “Yeezy”, inspiradas no steetstyle do mundo do hip-hop
HIP-HOP E MODA: UMA TENDÊNCIA QUE VEIO PARA FICAR Por: Pedro Lira Fonte: woomagazine.com.br 31/05/2019 Você provavelmente já viu pessoas andando com camisetas e moletons com alguns pequenos rasgos. Hoje é fácil achar essas peças em diversas cores em grandes lojas de departamentos. Mas de onde surgiu essa exótica ideia de usar peças de algodão oversized e com furos e rasgos? Em 2015, o rapper americano Kanye West lançou, na Semana de Moda de Nova York, sua primeira coleção de roupas a “Yeezy”, inspiradas no steetstyle do mundo do hip-hop. 100
Já no Brasil, a cultura de rua do hip-hop entrou nas passarelas no ano seguinte. O desfile mais comentado da São Paulo Fashion Week de 2016 foi o da grife Laboratório Fantasma, dos rappers Evandro Fióti e Emicida. As peças passavam longe das tradicionais camisetas com logos de cantores ou bonés de aba reta que já são vendidas na loja on-line da Lab há anos. Tecidos mais sofisticados e modelos muito bem elaborados discutiram gênero, raça e preconceito: temas bem correntes nas músicas dos dois irmãos e da maioria dos rappers do Brasil. A própria apresentação das peças
foi um manifesto: os modelos que desfilavam vinham de todas as cores, formatos e opções sexuais. Apesar de inovarem, promoverem discussões e lançarem tendências, o que Emicida ou Kanye fizeram não é exatamente novo. A moda e o hip-hop se misturam desde os anos de 1980. Este estilo musical que surgiu em Nova York nos anos 70 sempre foi bastante visual, o vestuário da cultura rapper sempre foi muito bem definido: calças largas e baixas, camisetas ou moletons oversized e tênis. Nos anos 80, a identificação visual dos rappers se consolidou ain-
da mais. Surgia no mundo do rap a cultura “bling ring”. Suas marcas registradas eram as grossas correntes douradas e a obsessão por logos. Apesar de considerada muitas vezes fútil, esta moda tinha um nobre intuito: mostrar para outros jovens negros que eles também poderiam chegar “no topo do mundo”, mesmo que as mídias tradicionais não mostrassem seu sucesso. Mas nem sempre as marcas gostaram da ideia de ter rappers usando suas peças. Na maior parte das vezes, por puro preconceito. É possível dizer que a relação um pouco mais positiva entre a cultura do hip-hop e a moda come-
çou em 1986. Neste ano, o grupo Run D.M.C. lançou seu hit “My Adidas”, a partir deste momento algumas marcas, principalmente de sportswear e do que viria a ser chamado streetwear notaram que o rap poderia ser uma boa propaganda. Além da Adidas, marcas tradicionais como Tommy Hilfiger ou Versace aceitaram que o rap seria uma tendência que veio para ficar e, além de convidarem alguns rappers para a primeira fila de seus desfiles (como a Versace em 1996, quando Tupac e sua namorada estavam na primeira fileira), as marcas promoveram campanhas publicitárias pensando em atingir o público que ouvia
aos rappers que gostavam de vestir as marcas. Se primeiro as marcas detestavam que os rappers usassem suas peças e depois aceitaram que eles as usassem, hoje são os próprios rappers que pautam e inspiram a moda. Além de Kanye West há que se mencionar Pharell Williams, que sempre se mostrou bem antenado com a moda e já fez nada menos que 20 collabs. Desde óculos Louis Vuitton até tênis Adidas, Pharell sempre inova em seus looks e estrelou neste ano a campanha da nova it-bag da Chanel.
Aqui no Brasil, a rapper Karol Konka é a it-girl do momento, e lançou em abril deste ano uma linha de bolsas em colaboração com a grife Soleah. Ao que parece o rap não será uma moda passageira. Chegou para ficar pelas próximas décadas, trazendo o stree-
twear, o empoderamento e o seu estilo único. Quem quiser entender um pouco mais desta história, vale muito a pena assistir o documentário “Fresh Dressed”. Que conta justamente como a moda entrou no rap e o rap entrou na moda.
Outro rapper que mostra que a relação entre moda e hip-hop nunca esteve tão estreita é o A$AP Rocky, autor “Fashion Killa” – rap que menciona 20 marcas de luxo –, garoto propaganda da Dior e amigo pessoal de estilistas como Jeremy Scott. 101
De Michael Jordan ao hip hop: a influência do basquete na moda O hábito de vestir roupas esportivas longe das quadras foi inventado pelos norte americanos. As peças mais casuais, com inspiração direta nos modelos usados por atletas, começou a ganhar o público nos anos 1920, mesma época em nasceu o termo sportswear. Calças de moletom, agasalhos com e sem capuz, meias altas e, principalmente, tênis de cano alto, peças ícones de conforto e sinônimo do basquete que já eram usadas por volta de 1930. Antes disso, em 1917, foi criado o primeiro tênis voltado exclusivamente para o mercado de basquete. Chuck Taylor, atleta norte-americano, fechou um contrato de patrocínio com uma marca de tênis. O atleta deu nome a um
dos modelos do calçado que acabou sendo usado por décadas nas quadras. Isso bem antes do Air Jordan. Com o hip hop, nos anos 80, se tornando uma das principais influências do streetwear, o basquete continuou presente no estilo das roupas que migravam das quadras para as ruas. De tão presente, há quem diga que o basquete poderia ser o “quinto elemento” da cultura hip hop, juntando-se aos outros quatro: DJ, grafite, MC e b-boy. Mas, se tudo o que atletas como LeBron James e Stephen Curry vestem vira moda nas ruas, por outro lado, famosos de outras áreas também têm participação na evolução do basketball fashion. Repare nos looks das cantoras Rihanna, Beyoncé, Ariana Grande ou da brasileira Anitta. Tênis de cano alto e calças largas - e, não raro - com-
blog.futfanatics.com.br
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Por: Pedro Lira Fonte: globo.com 31/05/2019
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binados com camiseta de algum time da NBA (as mais frequentes são do Chicago Bulls e Los Angeles Lakers). Atualmente, a maioria dos jogadores abandonou o combo tênis branco-moletom folgado, passando a investir num visual mais elegante, com peças casuais, alfaiataria e estilo próprio. O barbudo James Harden, do Houston Rockets, por exemplo, é hipster. Já o ala Carmelo Anthony, jogador do New York Knicks, é presença frequente na primeira fila dos desfiles de moda em Nova York. Seu interesse e envolvimento com a moda é tão grande que o astro tem uma categoria dedicada exclusivamente à moda masculina em seu site. A relação que começou com um par de tênis está cada vez mais sólida. E, se Michael Jordan disse, está dito. blog.futfanatics.com.br
Michael Jordan, um dos maiores atletas de todos os tempos, disse: “Se eu me visto bem, eu me sinto bem. Se eu me sinto bem, minha performance é melhor. E se minha performance é melhor, eu ganho.” A frase faz ainda mais sentido quando pensamos no grau de influência que o basquete exerceu - e ainda exerce - na moda. O próprio Jordan foi responsável direto por estreitar essa relação, quando serviu de garoto-propaganda para o tênis que foi inspirado em suas performances na quadras. Lembra do modelo Air Jordan? lançado ha 32 anos, o tênis se transformou em ícone fashion e foi responsável pela popularização do esporte para além das quadras norte-americanas. Quem nunca ouviu falar do tênis Air Jordan? Por muitos, é a linha de tênis mais conhecida no mundo, e mesmo quem não joga basquete já teve vontade de ter um. Neste post iremos contar a história da linha do tênis atrelado com a história da carreira de Michael Jordan. Ou seja, você vai ver muitas curiosidades e se deslumbrar com os modelos da marca. Ainda em ascensão, Michael Jordan, o melhor jogador de basquete de todos os tempos, começou a chamar atenção de patrocinadores antes mesmo de iniciar sua carreira como profissional na NBA. Foi assim
que a Nike encontrou a promessa de fenômeno do basquete e o ofereceu um contrato de 500 mil dólares anuais por cinco anos de exclusividade que teve início em 1984. O garoto era um fenômeno e em pouco tempo, a marca começou a faturar milhões de dólares com a imagem do atleta e também com o lançamento do Tênis Nike Air Jordan que em pouco tempo já representava 4% do faturamento da empresa. Já dá para ter uma ideia do fenômeno que foi as vendas do Air Jordan em todo o mundo, e você provavelmente já tenha ouvido falar no modelo também, mas será que já sabia que foram feitos mais de 25 modelos diferentes ao longo desses pouco mais de 30 anos? Abaixo
vamos mostrar os modelos do Air Jordan desde o início de seu lançamento até o fim de sua carreira em 2003. Nike Air Jordan 18 – Ano 2003 – Fim da Carreira Como anunciado no ano anterior, a temporada de 2002-2003 seria sua última. Era a chance da Nike lançar o “último” modelo e conseguir faturar o máximo possível pois não saberiam como seria de lá pra frente. A equipe de design da Nike ficou meses tentando elaborar um produto que representasse o ciclo da era Michael Jordan, até que resolveram fazer jus a frase “menos é mais” e criaram, ao meu ver, o tênis mais bonito da linha Jordan. Ele possui poucos traços, e poucas misturas de cores, o que o deixa singular e moderno. Além do mais, o tênis vinha com uma escova personalizada para você escovar o tênis e mantê-lo sempre limpo. O grande diferencial que deu um toque especial neste modelo, é a lingua por cima do cadarço, mantendo a aerodinâmica e a uniformidade do tênis. 103
Estilo Basquete: Tendências do esporte na moda urbana Por Pedro Lira Fonte: blog.futfanatics.com.br 31/05/2019 O basquete surgiu em 1891 no inverno da cidade de Massachussets. De lá para cá, muita coisa mudou: as regras se modificaram, grandes jogadores apareceram, nasceu a milionária NBA, bem como outras evoluções além da bola e a cesta. O esporte começou a ganhar público entre os anos 1980 e 90 com surgimento do ícone Michael Jordan. O astro foi capaz de trazer o marketing para o mundo do basquete. Além disso, Jordan foi um dos primeiros jogadores a lançar tendências do basquete para a moda urbana. A referência do jogador no mundo publicitário trouxe novamente a força e autoestima dos negros norte-americanos. O basquete se tornou presente nas ruas, chegan-
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do a ser considerado por muitos um quinto elemento da cultura Hip-hop. Todo jogador busca se destacar no estilo. O estouro de Jordan trouxe visibilidade para a NBA, de maneira que mais jogadores começaram a ser patrocinados pelas marcas, criando seus próprios modelos de tênis e linha de roupas. Hoje, os jogadores buscam ser ícones dentro e fora das quadras. LeBron James, Kevin Durant e Stephen Curry são referências de moda no basquete. Esta influência reflete nas vendas de produtos exclusivos para os grandes astros do basquete. (Compre o tênis do Curry aqui Fut). Com uma ousadia que transcende as quadras, Westbrook e Harden são outros que influenciam a moda nas suas redes sociais fazendo que mais adeptos do basquete se identifiquem com o es-
tilo. A moda do basquete ganhou ainda mais força com a influência de famosos usando o estilo no dia a dia. Nomes como Rihanna, Miley Cyrus e Anitta popularizaram os modelos de regatas com o público feminino, fazendo que o estilo também seja um símbolo pop. Futebol e basquete possuem uma relação muito forte, talvez por serem esportes que cresceram nas ruas. Ronaldinho Gaúcho, além de ser um grande amigo de Kobe Bryant, é um dos boleiros que aderiu o estilo basquete. Recentemente Neymar postou em seu Instagram a camisa do Celtics autografada pelo armador Kyrie Irving. Messi também é outro que saiu nas redes sociais com a camisa do Bulls. Vale lembrar também que LeBron James homenageou CR7, postando uma foto do gol de bicicleta do craque contra a Juventus.
Moda NBA
A tendência de uniformes esportivos sempre esteve em alta. Mas é necessário fazer algumas combinações para que os acessórios e regatas de basquete fiquem bem com seu estilo casual. O público feminino está seguindo os modelos esportivos. As regatas de basquete e acessórios do esporte estão viraram tendência entre as ‘minas’. As regatas normalmente possuem formas grandes, então acabam ficando mais larguinhas. Combine elas com shorts curtos e tênis. Calças jeans e pretas vão muito bem. Outra dica legal é combinar com acessórios, mas tome cuida-
do com o exagero. além de serem confortáveis e bem ventiladas, regatas da NBA são folgadinhas, não incomodam. Junto de calças ou bermudas largas ganham destaque, conversam com um estilo mais urbano citado neste texto. Apesar das regatas serem bem legais, há momentos que precisamos abrir mão delas. As camisetas podem preencher esta lacuna por
serem mais versáteis com a maior parte dos ambientes. Os modelos com números e os modelos gametime são peças clássicas para fãs de basquete. Há também os modelos licenciados com estampas de jogadores ou com escudos e mascotes das franquias. São boas opções para demonstrar admiração pela sua franquia favorita.
Não existe nada mais urbano que o moletom. A combinação entre basquete e roupas de frio faz todo o sentido, principalmente quando unido à sua franquia favorita da NBA
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Monte Everest tem fila de espera para expedições turísticas
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Expedições turísticas congestionam o teto do mundo, transformando em um negócio para quem pode pagar por uma ascensão sem precisar ser alpinista
Fernanda Dias Fonte: Óscar Gorgoza - brasil.elpaís.com em 13/05/2019 O recorde de ascensões ao Everest (de 8.848 m) em uma só temporada ocorreu em 2018: 802 pessoas pisaram no teto do mundo, mas apenas uma não usou oxigênio artificial. É a estatística que irrita Reinhold Messner e Peter Habeler, os primeiros seres humanos a desafiarem a ciência e a medicina, prescindindo do ar engarrafado e demonstrando que o ser humano é capaz de sobreviver apenas com seus pulmões no ponto mais alto do planeta. Foi em 1978, em 8 de maio: quem não criticou sua ousadia extrema se emocionou e passou a tratá-los como heróis. Agora, 41 anos depois, Reinhold Messner observa espantado um dado que o surpreende: só 4% das 4.833 ascensões já feitas ao Everest não contaram com a ajuda de tanques de oxigênio, uma forma de doping abençoada, aceita e recomendada por todas as instâncias que não desejam que o Everest vire um cemitério. “São turistas”, diz Messner, um dos que ensinaram o caminho, a maneira ética de escalar as montanhas mais elevadas do planeta. Habeler e ele sonharam com um Everest limpo, ético, uma forma de respeitar a maior montanha de todas. Mas, atualmente, esse virou um negócio a mais, cada vez mais poderoso, organizado, asséptico e distante da aventura que viveram os pioneiros. Todos os grandes montanhistas da atualidade seguem o caminho desenhado por Messner: dificuldade técnica, leveza, escassez de meios, velocidade, ousadia… mas seu exemplo não significa nada nas duas rotas habituais do Everest, uma a partir da vertente do Nepal, a outra saindo do Tibete, na China. E isto é uma pedra no sapato de Reinhold Messner e Peter Habeler, convencido, este último, de que “a maioria dos que pisam no Everest. 109
jamais deveriam fazê-lo”. A cada ano, cerca de mil pessoas, entre escaladores profissionais, guias e clientes, se dispõem a escalar o Everest. Para isso, fazem fila, como na entrada dos estádios de futebol. É praticamente necessário pegar senha para poder subir. Segundo o site Himalayan Database, 64% das ascensões são pelo Nepal, e 36% pela China, uma estatística idêntica quanto ao número de mortes – estima-se que 288 pessoas já morreram na tentativa. O Chomolungma (nome do Everest em idioma tibetano), ou Sagarmatha (em nepalês), é uma questão comercial, um prêmio pelo qual se paga caro e que exigirá um desembolso cada vez maior: a China, cuja vertente é mais austera que a do Nepal, quer que sua rota se torne igualmente popular, por isso procura clientes, a demanda acompanha, e isso se traduz em uma guerra de preços em elevação. Escalar o Everest custa entre 115.500 e 511.000 reais: a primeira é a tarifa baixa, mas há uma intermediária, de 267.000 reais. A diferença é que os pacotes mais baratos são operados por agências do Nepal, enquanto os mais caros são oferecidos por empresários estrangeiros que chegam a empregar vários guias para uma só pessoa. Só o oxigênio engarrafado custa cerca de 23.500 reais e dá para 20 tanques, a medida
perfeita para não congelar, dormir placidamente e não comprometer a viagem de ida e volta até o topo. Em 1978, Habeler e Messner escalaram rumo ao desconhecido. Habeler diz que sua maior preocupação era colocar um pé na frente do outro, sem errar, embora intimamente esperasse um colapso súbito, o momento em que já conseguiria mais continuar respirando. Os dois médicos que o aguardavam no acampamento-base os haviam advertido sobre o que estava em jogo, e quando os viram sumir montanha acima todos pensaram que caminhavam para sua tumba. Eles, porém, confiavam em sua juventude, na sua força e no benefício de escalar leves, com uma diminuta mochila às costas. Apesar de tudo, foi uma briga contra a apreensão e o cansaço extremo: Habeler sofreu alucinações, e ambos se viram ajoelhados na neve, como animais, tratando de recuperar o fôlego. Sempre olharam para o topo, como se a possibilidade de morrer não existisse. Eram feras motivadas, duas com uma fortaleza psicológica desmedida. “Foi minha alma que me levou até o topo”, escreveria Messner. Quatro décadas depois, apenas 200 alpinistas quiseram seguir seu exemplo. Muitos outros, mesmo com o desafio da subida, são considerados turistas no topo do mundo. gripped.com
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Rio Grande do Sul ganha novo roteiro turístico Campos de Cima da Serra reúne 10 municípios do extremo nordeste gaúcho
pegadaecoturismo.com.br
serranos produtores da bebida –, o Estado conta com a Rota Turística dos Campos de Cima da Serra. Sancionado em 21 de maio de 2019 pelo governador Eduardo Leite, o projeto de lei (PL) cria o roteiro que abrange dez municípios da região do extremo nordeste gaúcho, na divisa com Santa Catarina. Fazem parte da rota os municípios de Vacaria, Ipê, Pinhal da Serra, Muitos Capões, São José dos Ausentes, Monte Alegre dos Campos, Esmeralda, Campestre da Serra, Bom Jesus e Cambará do Sul. — Não podemos ficar reféns da agenda da crise. Precisamos desenvolver as potencialidades do nosso Estado e, sem dúvida, o turismo é uma delas — disse Leite ao assinar o documento. O autor do PL, deputado Tiago Simon, comemorou a assinatura do termo.
Cambará do Sul é um dos municípios da nova rota turística
Fernanda Dias Fonte: gauchazh.clicrbs. com.br - 22/05/2019
O Rio Grande do Sul acaba de ganhar mais uma rota turística oficial. Agora, além das já conhecidas
Rota Romântica – que abrange parte do Vale do Sinos até a Serra – e da Uva e do Vinho – que compreende municípios
— A Rota Turística cria uma cadeia entre os municípios, facilita a captação de recursos e ainda ajudará a organizar o trade turístico que existe nesta região, que reúne algumas das mais belas paisagens que resumem a essência serrana do nosso Estado — resumiu. 111
Fernanda Dias Fonte: Rocío Montes - brasil. elpais.com -16/03/2019 Na Carretera Austral (estrada austral), no sul do Chile, as montanhas parecem cair sobre nós e se refletem perfeitas nas águas cristalinas. Ao longo da estrada, às vezes o mar aparece e, de repente, lagoas convidam a um mergulho se o dia for propício. As águas doces e salgadas se confundem em uma paisagem de vegetação nativa, furiosa, que muda acentuadamente à medida que se avança para o sul e o entorno se torna menos verde. Quando se freia o carro para fotografias e o viajante tem o desejo de imortalizar a cena para enviá-la a seu grupo de WhatsApp, Hans Rosas, um dos guias locais, afirma com certo orgulho: “Não há nem wi-fi nem sinal para celular, mas neste lugar você sempre encontra a melhor conexão”. Estamos na Rota dos Parques da Patagônia, um percurso de 2.800 quilômetros e 17 parques nacionais, com o qual o Chile busca posicionar-se como um dos principais destinos para a observação da natureza selvagem. As águas doces e salgadas se confundem em uma paisagem que se torna menos verde quando se avança para o sul São cerca de 11,5 milhões de hectares protegidos, três vezes o tamanho da Suíça e duas vezes o da Costa Rica. A paisagem imponente e a desconexão —só se encontra sinal em certas áreas urbanas, de tempos em tempos— permitem uma experiência única de contato com o meio ambiente. Há muitas espécies ameaçadas 112
Uma irresistĂvel viagem ao sul do Chile
chile.unt.edu
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com capacidade para cerca de 19 pessoas em uma viagem de cerca de 30 minutos. Se o tempo estiver bom e a aeronave não se movimentar a ponto de paralisar o viajante, as vistas são fascinantes: de um lado, a Ilha de Chiloé, que merece uma visita à parte, o Golfo de Ancud e um desfile de vulcões e montanhas, sempre nevados. Chaitén é um povoado que renasce das cinzas. Em 2008, a erupção do vulcão homônimo transformou esta localidade em uma cidade fantasma, sepultada sob material vulcânico, dividida em duas, com casas e ruas completamente arrasadas, além de prédios simbólicos do município, como o Liceo Italia. A população nunca voltou à mesma quantidade: dos 6.000 habitantes que tinha há 10 anos, cerca de 1.500 retornaram. Mas o desastre natural não enterrou definitivamente Chaitén, que ressurgiu pouco a pouco em torno do ecoturismo, especialmente aproveitando a proximidade com o Parque Nacional Pumalín, a joia natural da região chilena de Los Lagos. Se historicamente os habitantes desta cidade se dedicavam à pecuária e extração de madeira, graças à fama da reserva ecológica agora quase tudo em Chaitén gira em torno dos serviços turísticos. “Este lugar é um paraíso: temos ilhas, geleiras, zonas montanhosas com acumulo de neve, lagos, rios, fontes termais”, descreve a prefeita Clara Lazcano, de origem espanhola. Nascida nas Astúrias, ela chegou a Chaitén há 30 anos com o marido, originário da região, e foi nesta cidade que educou os três filhos. Conta que pessoas
de diferentes partes do mundo visitam o lago Yelcho para a pesca desportiva e, recentemente, uma expedição científica da National Geographicdescobriu arte rupestre nas cavernas do monte Vilcún, que no próximo ano deverá ser aberto ao público. Esta é uma terra de vulcões: desta cidade pode-se observar o magnífico vulcão Corcovado, que integra o parque nacional de mesmo nome, um ecossistema de difícil acesso que não tem nenhum tipo de trilha preparada, mas cuja beleza se pode comprovar em todo o percurso. O parque de Pumalín O Ventisquero Colgante tem a seus pés uma lagoa de águas leitosas que pode ser percorrida de barco O Parque Nacional de Pumalín é um mundo. Na corrida para conhecer o máximo possível da Patagônia chilena, os visitantes costumam ficar cerca de dois dias nessa reserva d e 402.000 hectares. Mas se o tempo não pressionar, descobri-lo com calma
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de extinção, como os milenares alerces (cipreste-da-patagônia) do Parque Nacional de Pumalín. Cerca de 140 tipos de aves e 46 de mamíferos. O percurso abrange um terço do país –de Puerto Montt, no norte, até Cabo Horn, no sul–, integrando territórios do fim do mundo em que nunca foi fácil se locomover. A geografia complexa exige o planejamento prévio da viagem, em alguns trajetos é necessário combinar carros e barcaças, e o clima nem sempre é propício (recomendamos viajar entre setembro e maio, evitando o inverno austral). O site da Rota dos Parques, que estreou recentemente, é uma boa maneira de começar a aventura. A plataforma fornece toda a orientação necessária para se desfrutar de uma aventura que combina patrimônio natural e cultura. É uma das principais atrações deste passeio pela Patagônia: além da conservação, o projeto promovido pela Tompkins Conservation e apoiado pelo Estado chileno visa ao desenvolvimento econômico de cerca de 60 localidades com base no ecoturismo. A cidade de Puerto Montt, mil quilômetros ao sul de Santiago do Chile, costuma ser o início da viagem à Patagônia por estrada. Até este lugar chegam aviões da capital, e desta cidade o viajante embarca na direção de Chaitén, um dos epicentros urbanos da rota. Há pelo menos três maneiras de percorrer os 204 quilômetros que separam Puerto Montt de Chaitén: três vezes por semana em um barco que leva cerca de nove horas; combinando viagens de carro e outras em barcaça (no mesmo período de tempo) e por via aérea em um bimotor
pode ser realmente apaixonante, inspirador. Há 12 trilhas de diferentes graus de dificuldade – algumas apropriadas para ir com as crianças, como a Ranita de Darwin–, sete áreas de camping, espaços para piquenique, vários belvederes, centenas de cachoeiras e, nos arredores, pelo menos três fontes termais. Em Caleta Gonzalo, a entrada oeste, você pode encontrar um restaurante e alojamento em cabanas construídas com madeiras nativas e o melhor bom gosto, o de Douglas Tompkins, o filantropo norte-americano que sonhava em salvar a Patagônia chilena e argentina do desastre ecológico. Foi Tompkins, que morreu em 2015 em um acidente em caiaque no gélido Lago General Carrera, na região de Aysén–, que projetou cada detalhe do Pumalín, e a partir deste lugar construiu seu império verde, que acabou doando ao Estado chileno. O norte-americano Tompkins mostrou que se pode viver das florestas, mas sem cortá-las Fundador de marcas como The North Face, Tompkins começou a comprar terras para a conservação no início de 1990. Não era compreendido pelos moradores e autoridades locais e nacionais, que desconfiavam de seus planos, o que mudou drasticamente com o passar dos anos: atualmente reconhecem que foi Tompkins quem mostrou que é possível viver das florestas, mas sem cortá-las. Em agosto, em sua homenagem o Chile batizou o parque como Pumalín Douglas Tompkins. Foi sua joia, seu projeto pioneiro, seu legado de maior simbolismo. Ele o preparou quadro a quadro com uma imaginação surpreendente. O tom de verde com o qual gostava
de pintar alguns detalhes das construções foi chamado de verde Tompkins nas lojas de ferragens da Patagônia chilena. Até mesmo a tipografia das placas, feitas em madeira por artesãos da região, era desenhada pelo ecologista nascido no Estado de Ohio, em 1943, e que em uma viagem aos 18 anos ficou deslumbrado com estas terras. Um exército de colaboradores treinados pelo próprio Tompkins mantém vivo seu espírito em todos os detalhes de Pumalín. Como Erwin González, o administrador do parque, que transmite amor pelo seu trabalho e gosto pela perfeição. Manter o nível da reserva será um dos grandes desafios do Estado do Chile, que a partir de 30 de abril passará a administrar os parques de Pumalín e Patagônia, este de 304.000 hectares – na região de Aysén, ainda mais ao sul–, o segundo parque que Tompkins doou inteiramente ao país (até com os lençóis dos alojamentos). Nenhuma placa está faltando nas trilhas. Eles fazem parte dos 530 mil hectares no total que Tompkins acabou entregando ao Estado do Chile em um acordo concluído em 2017, após sua morte. A ideia de criar um percurso por 17 parques nacionais na Patagônia chilena foi também uma iniciativa dele, uma das últimas. Com exceção de serviços como o restaurante e alojamento em
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cabanas e barracas, Pumalín não cobra entrada. Há trilhas gratuitas que podem ser exploradas, como a de Las Cascadas, que requer cerca de três horas, através de florestas e dezenas de cachoeiras. Ou o caminho do Alerce, o mais visitado, uma reserva mundial desta espécie de cipreste, onde se pode observar exemplares impressionantes de até 3.000 anos de idade. “Valorizamos, respeitamos e trabalhamos pelo caráter público dos parques. Não acreditamos em sua privatização, embora os particulares devam colaborar com o Estado para que permaneçam em boas condições. Os parques, um espaço de renovação espiritual, são democráticos”, diz Carolina Morgado, diretora executiva da fundação Tompkins Conservation Chile.
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Chernobyl volta ao foco com nova minissérie da HBO publicseminar.org
Fernanda Dias Fonte: g1.globo.com - 04/06/2019 O sucesso de uma minissérie que examina o pior acidente nuclear da história, ocorrido em Chernobyl, fez aumentar o número de turistas que querem ver a usina e a cidade abandonada fantasmagórica em sua vizinhança por si mesmos. Uma agência de turismo de Chernobyl relatou um aumento de 40% nas reservas desde que a série da HBO estreou em maio com ótimas críticas. As excursões com guias em inglês normalmente custam cerca de US$ 100 por pessoa. Abril foi marcado pelo 33º aniversário do desastre nuclear, na então República Socialista Soviética da Ucrânia, que, causado por um teste de segurança mal sucedido, lançou pelo 4º reator da usina nuvens de material nuclear sobre boa parte da Europa. 117
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A minissérie da HBO retrata os efeitos da explosão, a enorme operação de limpeza e o inquérito subsequente. A área ao redor da usina preserva o clima de terra arrasada pós-apocalíptica, na qual cães vira-latas perambulam e a vegetação brota em edifícios sem janelas, esquecidos e repletos de lixo. Em Pripyat, cidade fantasma que já abrigou 50 mil pessoas, a maioria das quais trabalhava na usina, um parque de diversões conta com a carcaça enferrujada de um carrossel e de uma pista de carrinho de batebate e uma roda gigante que nunca chegou a funcionar – ela deveria ter sido inaugurada no feriado de 1º de maio.
Sergiy Ivanchuk, diretor da SoloEast tours, disse à Reuters que a empresa viu um aumento de m.theepochtimes.com 30% de turistas em visita à área em maio quando comparado com o mesmo mês do ano passado. As reservas para junho, julho e agosto aumentaram em aproximadamente 40% desde que a HBO exibiu a série, disse. Sua empresa oferece uma excursão especial a locais retratados no programa, inclusive o bunker onde autoridades locais decidiram a princípio não esvaziar o local após a explosão. percorrem 120 quilômetros até a área, onde podem ver os monumentos às vítimas e os vilarejos desertos e almoçar no único restaurante da cidade de Chernobyl. Os visitantes de um dia Craig Mazin, o criador da minissérie “Chernobyl”, a visitou antes de escrever o embarcam em ônibus roteiro e comentou a experiência: “Não sou um homem religioso, mas aquilo foi no centro de Kiev e a coisa mais religiosa que jamais sentirei”. 118
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Ingleses na final da Liga dos Campeões Liverpool e Tottenham decidem competição: pela segunda vez times da Inglaterra se enfrentam na final Por Lucas Henain Brandão e Rodrigo Portella. Fonte: GloboEsporte, (adaptado) em 08/05/2019. Na última quarta-feira foram definidos os finalistas da Liga dos Campeões 2018/19 e a decisão entre Tottenham e Liverpool será a segunda inglesa da história da competição. Ainda pelas semis, os Spurs enfrentou a surpresa Ajax. Em especial, consumou a primeira classificação do Tottenham para uma final com uma vitória para ser
Lucas comemora o gol da classificação para a final
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lembrada. E com o carimbo brasileiro: Lucas Moura marcou incríveis três gols no segundo tempo, o último deles aos 51 minutos nos 3 a 2 sobre o time holândes, na Johan Cruyff Arena, e pôs os Spurs na rota do Liverpool na decisão de 1º de junho em Madri. De Ligt e Ziyech haviam deixado os holandeses na frente ainda na etapa inicial, mas tudo mudou. Já o time que nunca caminha sozinho não tinha os craques Salah e Firmin, além de correr atrás de um prejuízo de três gols. Quem duvidou mais uma vez pagou o preço e viu a segunda maior virada da história da competição. Origi e Wijnaldum se vestiram de heróis improváveis, marcaram duas vezes cada na vitória incrível por 4 a 0 e ajudaram a colocar os Reds na decisão no estádio do Atlético de Madrid. A primeira vez que dois times ingleses disputaram a final da Liga dos Campeões foi na temporada 2007/08 quando o Manchester United venceu o Chelsea nos pênaltis (6 a 5) após empate de 1 a 1 no tempo normal. Na edição deste ano, a estreia será do Tottenham para decidir o título da ‘orelhuda’. A equipe treinada por Mauricio Pochettino chegou pela primeira vez na final. Já o Liverpool chegou na decisão sete vezes, tendo sido campeão em quatro oportunidades (1976/77; 1977/78; 1980/81 e 2004/05).
Origi marcou o gol da virada improvável
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Time posa para a foto após a classificação contra o Volta Redonda
A um passo da glória Vasco reedita a final contra o São Paulo em busca do segundo título da Copinha e luta para ser campeão novamente 27 anos depois Lucas Henain Brandão (lucashenainb@gmail.com) e Rodrigo Portella (rodrigo-portella@hotmail.com) Data: 24/01/2019. Os meninos da colina decidem a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior contra o São Paulo, no Pacaembu. Com uma campanha histórica, o Vasco chegou a tão sonhada decisão, algo que não acontecia desde 1999, onde enfrentou o Corinthians na final e perdeu o título. Dessa vez, o adversário também é conhecido do cruzmaltino, foi contra o mesmo 122
São Paulo, que em 1992, o gigante conquistou a sua primeira e única Copinha, com Valdir Bigode sendo o craque do time. A campanha O Vasco começou a Copinha no grupo 27, tinha como adversários o Tubarão, Taubaté e Carajás. A equipe fez uma boa fase de grupos e terminou em 1º lugar, com 7 pontos, sem perder nenhum dos três jogos. É bom lembrar que o cruzmaltino chegava nessa Copa SP com um retrospecto desfavorável, devido as últimas campanhas, então uma certa desconfiança até por
parte dos torcedores era vista, mas conforme o time jogava e mostrava bom futebol, a desconfiança se tornou uma grande confiança de que algo bom aconteceria a essa equipe. Após a fase de grupos, o Vasco aplicou duas goleadas consecutivas, na 2º e 3º fase, goleou o Juventude e o Manthiqueira por 4 a 0 e 5 a 1, respectivamente. Nas oitavas de final, o Gigante da Colina aplicou 3 a 0 no Coritiba e nas quartas despachou o Volta Redonda nos pênaltis após empate em 1 a 1 no tempo normal. O último passo antes da tão so-
nhada final foi contra o Corinthians, jogo em que o cruzmaltino foi amplamente superior, mas não aproveitou as oportunidades no tempo normal e só venceu a partida nos pênaltis. Após estar ganhando por 2x0, sofreu o empate e ainda desperdiçou uma penalidade máxima com Lucas Santos no 2° tempo, mas esse desperdício não abalou o meia, que é um dos destaques da campanha e ele próprio converteu o seu pênalti nas disputas depois. Elenco e destaques Com uma campanha de destaque, bons nomes surgem naturalmente ao longo dela, é até difícil destacar alguns e ser injusto com outros. Primeiramente, é fundamental destacar o grande trabalho feito pelo treinador Marcos Valadares, que chegou em março do ano passado, ele mudou totalmente a mentalidade do time sub-20, propondo um jogo mais ofensivo e com grande qualidade técnica, tornando o futebol da equipe bastante vistoso e bem jogado. Em relação ao time, é essencial destacar a parte ofensiva, principalmente com o trio que joga mais avançado e deve ganhar chance ainda esse ano nos profissionais, que é o caso do João Pedro, Lucas Santos e do artilheiro Tiago Reis. Ambos jogadores foram responsáveis por vários gols do time na competição, com o Tiago fazendo 8 gols e sendo vice-artilheiro, com chances ainda de chegar ao primeiro lugar da artilharia. Já o Lucas Santos, foi um dos grandes protagonistas do time, sempre bastante decisivo e participativo, com suas jogadas
futebolzinho.com/vasco
Jogadores comemoram gol na competição
habilidosas, assim como João Pedro. Vale também destacar o Linnick, que começou na reserva e ganhou a posição no meio-campo ao longo da competição. Na parte defensiva, a zaga foi trocada algumas vezes por questão de cartão ou lesão, mas mostraram segurança na maioria dos momentos. Destaque para o goleiro Alexander, que faz atuações seguras e mostrou isso nas disputas de pênaltis. A dupla de volantes com Bruno Gomes e Caio Lopes, mostraram um futebol a parte ali no meio, tanto defensivamente, quanto ofensivamente, os dois foram fundamentais na campanha e já aparentam estar prontos para atuar no time profissional. Por fim, outros também demonstram muito potencial, mas ainda são muito novos, vão ter outras competições no
Sub-20 pela frente, como Talles e o Riquelme. Avaliação final Os garotos já podem se considerar vitoriosos por chegarem tão longe, mas é óbvio que o grande objetivo ainda não foi alcançado. É necessário manter a postura dos últimos jogos, o adversário é forte e terá a maior parte da torcida ao seu favor. A torcida vascaína estará torcendo muito e caso o título venha, ele será bastante comemorado, é algo que não acontece sempre e premia um trabalho de grande dedicação. São jovens que gostam de representar a cruz de malta, a maioria ali estudou e viveu em São Januário. Chegar a final é sem dúvidas uma coroação por toda uma trajetória, que já é vitoriosa, mas pode ficar ainda melhor, com a cereja do bolo, o título de campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior. 123
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Luxemburgo conheceu o elenco nesta semana e fará a primeira partida neste domingo
AGORA COM LUXEMBURGO, VASCO BUSCA RECOMEÇO NO BRASILEIRÃO
Lucas Henain Brandão (lucashenainb@gmail.com) e Rodrigo Portella (rodrigo-portella@hotmail.com) Data: 19/05/2019. Nas últimas posições da tabela, Vasco e Avaí se enfrentarão neste domingo, às 19h, em São Januário, pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro. Lanterna e vice-lanterna buscam melhorar suas campanhas. Pelo lado vascaíno, o novo treinador Vanderlei Luxemburgo fará o primeiro jogo dele sob o comando da equipe e buscará a primeira vitória cruz-maltina na competição. A chegada do novo treinador é a esperança de recomeço para o Vasco da Gama. Na última colocação do campeonato, a equipe segue com apenas um ponto na tabe124
la em quatro partidas, sem vitória. Anunciado na semana passada, Luxemburgo teve a semana para conhecer os jogadores e acertar alguns detalhes no posicionamento do time, derrotado por 3 a 0 no último domingo, contra o Santos. Em entrevista durante a semana, ele classificou a partida como decisiva e deseja que o elenco atual entenda o que é jogar no Vasco. Trocas no time O duelo pode marcar um novo estilo de jogo no gigante da colina. Alberto Valentim e Marcos Valadares, com pensamentos táticos distintos, não deixaram padrão para o time. Já Luxemburgo deve colocar Andrey novamente no time titular, no lugar do volante Raul, assim como a volta do meia Bruno César. Com alguns desfal-
ques, Danilo Barcelos (suspenso) e Fernando Miguel (lesionado) ficam de fora. A dupla Leandro Castán e Werley, que estavam lesionados, podem iniciar jogo em campo. Yago Pikachu, criticado por ter se envolvido em confusão com a torcedores e em baixo rendimento, deverá atuar como lateral direito. Na esquerda, Henrique jogará fechando a defesa vascaína. O ataque mais provável é o trio Rossi, Máxi López e Marrony. Avaí aposta nos empates O técnico Geninho, do Leão, deve mudar algumas peças para o confronto contra o os cariocas. Na 19° colocação no campeonato, o Avaí também tenta a primeira vitória. Geninho deve estreiar o atacante Brenner, junto com João Paulo.
VASCO JOGA MAL, TOMA EMPATE NO FIM E SEGUE SEM VENCER NO BRASILEIRÃO
Vasco e Avaí empataram em 1 a 1 neste domingo (19), pela 5º rodada do Brasileirão. A partida foi realizada em São Januário e o cruzmaltino contou com o apoio da torcida, que ficou insatisfeita com o placar e vaiou muito a equipe no final do jogo. O confronto marcou a estreia de Vanderlei Luxemburgo no comando técnico do Vasco. Primeiro tempo fraco No 1º tempo, mesmo com o apoio da torcida, o Vasco jogou muito mal e não criou oportunidades de gol. A primeira etapa em si foi fraca, mas o Avaí conseguia criar as melhores chances e assustava Sidão frequentemente, que trabalhou em algumas defesas. Já pelo lado do cruzmaltino, Bruno César errava muito e encontrava dificuldades para criar jogadas. Com esse fraco desempenho coletivo, o time saiu sob vaias para o intervalo. Na volta do intervalo, a equipe não foi modificada por Luxemburgo e a
postura continuou igual. Aos 10 minutos, as primeiras alterações foram feitas, Andrey e Marrony saíram para as entradas de Fellipe Bastos e Valdívia. O panorama não mudou e o Avaí continuava melhor, chegava com perigo e Sidão, que foi o melhor em campo, salvava o cruzmaltino. Time abre o placar, mas cede o empate Aos 16 minutos, Jairinho entrou no lugar de Bruno César, que saiu vaiado e xingado pela torcida. Com a entrada do atacante, o time finalmente criou a sua primeira chance de gol, que foi somente aos 32 minutos da etapa final. Porém, não demoraria muito mais para pintar
outra oportunidade e 4 minutos depois, Ricardo Graça abriu o placar de cabeça, após cruzamento de Rossi. Com a vantagem no placar em São Januário e o time achando um gol, mesmo não jogando bem, tudo se encaminhava para um fim de jogo tenso. O Vasco ainda teve uma chance clara de ampliar o placar aos 43 minutos com Fellipe Bastos, que estava na pequena área sozinho e isolou. Nos acréscimos, a equipe sofria uma pressão desorganizada do Avaí, mas que surtiu efeito aos 49 minutos, com Daniel Amorim empatando o jogo em falha defensiva.
Estreia amarga de Luxemburgo e inicio complicado O desempenho dos jogadores foi bem fraco, não mostrando evolução ainda sob o comando do novo treinador. Por ter conseguido a vantagem no placar e tomado empate no final, a frustração dos torcedores foi ainda maior. Após o apito final, a equipe foi bastante vaiada e o atacante Rossi, em entrevista, disse que “Falta vergonha na cara pro time”. Luxemburgo terá um enorme trabalho pela frente e com o plantel atual as coisas serão ainda mais difíceis. A situação antes do jogo já não era das melhores e a pressão aumentará por não ter conseguido a vitória. Ricardo comemora o seu gol contra o Avaí
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Lucas Henain Brandão (lucashenainb@gmail.com) e Rodrigo Portella (rodrigo-portella@hotmail.com) Data: 19/05/2019.
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Kawhi Leonard classifica o Raptors
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Toronto vence Jogo 7 contra o 76ers com cesta histórica de Kawhi Leonard no último segundo: a partida se encaminhava para a prorrogação até a épica jogada do ala-armador 126
Lucas Henain Brandao e Rodrigo Portella. Fonte: Sportv, (adaptado) em 20/05/2019 Foram 48 minutos de muita tensão, como esperado para um Jogo 7 de semifinal de conferência. Mas a expressão de Kawhi Leonard era a mesma de uma partida da primeira semana de temporada. Foi com a frieza de sempre que o astro não apenas anotou 41 pontos como converteu arremesso incrível, no segundo final, para garantir a vitória, em casa, do Toronto Raptors sobre o Philadelphia 76ers: 92 a 90. Após errar um lance livre que permitiu aos Sixers empatarem o jogo a quatro segundos do fim, Kawhi manteve o emocional inabalado para, em seguida, decidir o jogo. A bola chutada da zona morta tocou o aro quatro vezes antes de cair, para explosão das arquibancadas. Com a vitória garantida, o astro finalmente extravasou e vibrou como poucas vezes se viu. Com o triunfo memorável, os Raptors fecharam a série contra os Sixers em 4 a 3 e avançaram para a segunda final da Conferência Leste na história da franquia. O adversário será o Milwaukee Bucks de Giannis Antetokounmpo, dono da melhor campanha da temporada regular. O primeiro jogo está marcado para a próxima quarta-feira. Três minutos para a história Não foi a partida mais bela em Toronto. Com a temporada na linha, naturalmente, os dois times cometeram erros e o jogo ficou truncado. Porém, no quesito emoção, certamente foi uma noite que ficará marcada na história
dos playoffs da NBA. O placar chegou aos últimos três minutos empatado em 85 a 85. Mesmo exaustos, os dois times conseguiram manter defesas compostas e dificultaram a vida dos ataques. Um chute certeiro de Kawhi seguido de roubo de bola de Kyle Lowry e bandeja acrobática de Pascal Siakam deram vantagem de quatro aos donos da casa a 1:40 do encerramento: 89-85. Na sequência, foi a vez da defesa dos Sixers aparecer. Na frente, Jimmy Butler e Joel Embiid foram agressivos, sofreram faltas, e cobraram lances livres para cortarem a diferença novamente para um ponto, com 12 segundos no relógio: 89-88. Em estratégia comum para esse tipo de situação, Philadelphia fez falta rápida em Kawhi. Ele foi para a linha e converteu o primeiro lance livre. O astro então perdeu o arremesso que colocaria a diferença novamente em três. Para piorar para o Toronto, Butler aproveitou para puxar contra-ataque e empatar o placar a quatro segundos do fim, jogando um mar inteiro de água gelada no ginásio: 90 a 90. Veio então o lance que estará para sempre na memória dos torcedores dos dois times e dos fãs da NBA. Kawhi Leonard recebeu a bola muito marcado, abriu pequeno espaço correndo para a zona morta e subiu para o arremesso contestado no estouro do relógio. A bola tocou o aro e subiu bastante. Quando parecia que o jogo iria para a prorrogação, a bola caprichosamente voltou e quicou outras três vezes até cair macia na rede. Foi o 135º Jogo 7 da história dos playoffs da NBA e apenas a primeira vez que a classificação foi
decidida com uma cesta no estouro do cronômentro. O que dizer de Kawhi Faltam palavras para definir a atuação do camisa 2 neste domingo. Como vem sendo comum nestes playoffs, Kawhi foi o ataque dos Raptors. Apesar das boas contribuições de Lowry, que foi chave na defesa e terminou com 10 pontos e seis rebotes, e Serge Ibaka, que somou 17 pontos saindo do banco, foi Leonard quem colocou Toronto na final da conferência. Dos 25 pontos anotados pelos Raptors no último quarto, 15 foram de Kawhi. O astro terminou com 41 pontos, além de oito rebotes e três roubos de bola. Bem marcado todo o jogo, Leonard não conseguiu manter a eficiência de costume, mas também não se eximiu. Os 39 arremessos feitos estabeleceram um recorde pessoal e da franquia do Toronto em pós-temporada. nba.com
Kahwi comemora após a cesta
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Mercedes assume a ponta no ranking de equipes, com Bottas e Hamilton. O inglês é a esperança de vitórias
F1 muda regras para 2019 Além de série de modificações técnicas, como asas maiores e mais simples, categoria também terá alterações no regulamento esportivo visando mais ultrapassagens Por Lucas Henain Brandão e Rodrigo Portella. Fonte: GloboEsporte, (adaptado) em 31/12/2018. A nova geração de carros da Fórmula 1 já passou por uma série de modificações desde que foi introduzida em 2014. Se no ano passado os carros ficaram mais largos, com rodas maiores, nesta temporada o Halo passou a ser obrigatório nas máquinas da categoria. Sempre em movimento e em busca de mais ultrapassagens nas corridas, a F1 mudará de novo em 2019. E na despedida de 2018 para receber o novo ano que se aproxima, as principais alterações são 128
técnicas, como as asas dianteiras, traseiras, dutos de freio e carenagem lateral; luvas biométricas, um novo modelo de capacete e mais combustível para os pilotos poderem acelerar por mais tempo são novidades que também passam a valer a partir da temporada que vem. Novas asas para voar mais longe As mudanças no regulamento para a próxima temporada da Fórmula 1 prometem permitir que os carros andem mais próximos durante as corridas, garante a Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Com asas dianteiras maiores e mais simples, asas traseiras mais largas e fundas e outras mu-
danças menores, as estimativas da entidade são de que seja reduzida em até um terço a perda de pressão aerodinâmica para o carro de trás durante uma disputa na pista, o que proporcionaria mais proximidade entre os pilotos e, consequentemente, mais brigas e ultrapassagens. Pelo novo regulamento, as asas dianteira e traseira terão suas dimensões alteradas e a configuração simplificada para que o ar direcionado ao carro de trás fique “menos sujo” e permita que os rivais que vem atrás possam seguir os carros mais de perto, proporcionando mais chances de ultrapassagens. Além das mudanças noss defletores laterais.
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Disputas entre Ferrari, Mercedes e RedBull esquentaram Barcelona. Lewis Hamilton venceu com folga o GP
Hamilton volta para a liderança Lewis vence com sobra GP da Espanha, anima torcedores e entra novamente na briga pelo título, com vinte e seis pontos. Verstappen e Bottas sofreram , mas completam o pódio Por Lucas Henain Brandão e Rodrigo Portella. Fonte: Uol.com.br, (adaptado) em 12/05/2019. Lewis Hamilton reagiu à ascensão de Valtteri Bottas e venceu hoje o GP da Espanha, em Barcelona, na quinta etapa da temporada da Fórmula 1. O atual campeão mundial, que largou em segundo, superou o companheiro de Mercedes logo na largada. Verstappen, da Red Bull, completou o pódio. Vettel e Leclerc, dupla da Ferrari, chegaram logo atrás. O resultado obtido no GP da Espanha fez o piloto inglês assumir a liderança do campeonato, com 112 pontos, contra 105 do finlandês
- Hamilton também fez a melhor volta corrida e, com isso, ganhou um ponto extra. A Mercedes, líder do mundial de construtores, alcançou a quinta dobradinha nas cinco primeiras provas de 2019, recorde histórico da Fórmula 1. Hamilton soma três vitórias na atual temporada, contra duas de Bottas. Hamilton supera Bottas na largada A próxima etapa da Fórmula 1 será daqui a duas semanas, em Mônaco. O treino classificatório será no dia 25 de maio, às 10h (horário de Brasília). A sexta corrida do ano acontecerá no dia seguinte, às 10h10. Hamilton conseguiu superar Bottas após a largada, no trecho de 739 me-
tros antes da primeira curva. O piloto finlandês acabou sendo atrapalhado por Vettel, que forçou uma ultrapassagem e quase superou o pole position - o alemão da Ferrari tentou fazer a curva por fora e até saiu da pista. Pressionado, Bottas sustentou a segunda posição, mas não conseguiu evitar que Hamilton assumisse a ponta. Vettel, por sua vez, perdeu a terceira posição para Verstappen. Piloto inglês abre vantagem Antes do encerramento da segunda volta, Hamilton já tinha aberto dois segundos de vantagem para Bottas. Na décima, com o inglês marcando a volta mais rápida da prova àquela altura, a diferença já era de três segundos. 129
MORRE NIKI LAUDA, LENDA DA FÓRMULA 1 Aos 70 anos, o ex-piloto sobreviveu a um grave acidente, voltou às pistas e conseguiu o tricampeonato. Ao lado da família, em Viena, foi vencido por uma complicação renal
Por Lucas Henain Brandão e Rodrigo Portella. Fonte: OGlobo, (adaptado) em 27/05/2019
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Por Lucas Henain Brandão e Rodrigo Portella. Fonte: OGlobo, (adaptado) em 27/05/2019. Niki Lauda e a Fórmula 1 - uma relação que deixou marcas na pele. O ano era 1976, na pista de Nürburgring, na Alemanha. Durante quase um minuto, ele ficou queimando dentro do carro, respirando fumaça e gases tóxicos. O acidente foi tão grave que um padre foi chamado ao hospital para dar a extrema unção a ele. Mas o austríaco sobreviveu numa época em que a morte fazia parte 132
do esporte tanto quanto vencer. Quarenta e três dias depois, ainda com as feridas por cicatrizar, lá estava ele de volta num carro de corrida para disputar o título. Na última etapa daquele ano, com muita chuva no Grande Prêmio do Japão, decidiu abandonar a prova pensando na própria segurança. O inglês James Hunt foi campeão com apenas um ponto de diferença. Uma história tão impressionante virou filme em 2013. “Rush: no limite da emoção” rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator para Daniel Brühl,
que homenageou Lauda nesta terça (21) numa rede social. “Foi o homem mais corajoso que eu conheci na vida”, disse. Na época do acidente, Niki Lauda já havia conquistado o título de 1975. Um ano depois de quase morrer, foi campeão de novo em 1977 e se tornou tricampeão em 1984. Nas 14 temporadas na Fórmula 1, correu com nossos três campeões: Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi. “Niki Lauda, um grande amigo, supercampeão, supercorajoso, superdeterminado”, lembrou.
Após a aposentadoria das pistas, em 1985, Niki Lauda se dedicou à sua companhia aérea. Voltou à Fórmula 1 nos anos 90 como consultor de equipes como a Ferrari e a Jaguar. Mas foi na Mercedes que ele alcançou o maior sucesso, sendo parte atuante da equipe que domina a Fórmula 1 nos últimos anos. Contratou Lewis Hamilton, que lamentou a morte nas redes sociais. “Estou sofrendo para acreditar que você se foi. Sentirei falta das nossas conversas, risadas, os grandes abraços após vencermos corridas juntos”, escreveu. Niki Lauda passou por um transplante de pulmão no ano passado. Desde então, a saúde dele nunca mais foi a mesma. Morreu nesta segunda (20), ao lado da família, em Viena, por complicações renais. Neste fim de semana, todo o circo da Fórmula 1 estará em Mônaco, o circuito mais charmoso da temporada. E não vão faltar homenagens ao tricampeão. No Boulevard Albert Premier, em um dia normal, o limite de velocidade é de 50km/h. Se ultrapassar pode levar uma multa de cerca de R$ 400 ou ter a carteira apreendida. Mas isso jamais em um domingo de GP. Os homens que escreveram e escrevem a história da Fórmula 1 passam por mais de 200km/h. Assim como Niki Lauda quando ganhou o Grande Prêmio de Mônaco em 75 e em 76. No paddock, ele era reverenciado como alguém quase sobrenatural, que venceu a morte por teimosia e força. “Ele tinha um ar de quando trabalhava, de ser duro, forte, de ter uma voz muito ativa, mas era um cara muito legal e tam-
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bém muito carinhoso”, contou Rubens Barrichello. Afetuoso com todos à volta dele, mas também frio nas decisões e na determinação. Na Fórmula 1, Niki Lauda vai ser lembrado sempre como o piloto que comprovou o poder milagroso da força de vontade. ‘Misturou talento, agressividade e consciência e se tornou uma lenda’, diz Reginaldo Leme. A Fórmula 1 era bem diferente na época de Niki Lauda. As pessoas eram mais dóceis, o ambiente mais amigável e o acesso mais fácil. Eu fui apresentado a ele pelo Emerson Fittipaldi, o que fez com que o nosso relacionamento fosse sempre muito bom. Foram muitas as oportunidades que tive de entrevistá-lo. Na maioria das vezes, o tom era bem-humorado. Como profissional era extremamente dedicado e exigente. Imaginem um piloto tendo chance de chegar à Ferrari, o sonho
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Para muitos, Lauda é uma lenda do automobilismo (1); Contra o maior rival, James Hunt, era excêntrico dada sua excepcional carreira esportiva (2); Com a 8 na frente do carro, Niki brilhou nos asfaltos (3).
de todos, e, de cara, dizer que o carro era ruim. Isso caiu como uma bomba na Itália toda. Quase uma heresia. Mas foi atendendo o que ele queria que a equipe conseguiu ganhar o campeonato de 75. No ano seguinte ele caminhava para o bicampeonato, até acontecer o acidente na Alemanha. O sacrifício todo que ele fez lutando para viver o transformou em uma pessoa de decisões ainda mais seguras. Por isso, não pensou duas vezes antes de abandonar a briga pelo título naquela corrida com chuva torrencial no Japão, porque tinha convicção de que havia algo mais importante do que vencer no esporte. Viver foi sua maior conquista. Uma atitude que a imprensa italiana chamou de fraqueza, mas eu vi como prova de coragem. Tanto quanto aquela de voltar a um carro de corrida, apenas 43 dias depois de um acidente que o deixou entre a vida e a morte. 133
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Tenista vibra após uma de suas vitórias no Masters 1000 sportv.com
Djokovic em ação no Masters 1000 de Madrid
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Roland Garros: Djokovic favorito ao título Sérvio chega como forte candidato após ser campeão do Masters 1000 de Madrid e provar que está em ótima fase Lucas Henain Brandao e Rodrigo Portella. Fonte: Sportv, (adaptado) em 24/05/2019. A melhor devolução do circuito, a capacidade impressionante de alternar a direção dos golpes entre paralelas e cruzadas e a resiliência defensiva costumeira estão de volta. Novak Djokovic espantou a desconfiança que o cercava nos últimos meses para ser campeão do Masters 1000 de Madri pela terceira vez na carreira e se credenciar como um dos principais candidatos ao título daquela que promete ser a edição mais imprevisível de Roland Garros nos últimos 15 anos. As excelentes atuações de Djokovic nas vitórias por 7/6(2) 7/6(4) contra o austríaco Dominic Thiem e 6/3 6/4 sobre o grego Stefanos Tsitsipas são fundamentais para dar moral ao sérvio na trajetória rumo a Roland Garros. O número 1 do mundo, que não superava um top 10 no saibro desde 2017, bateu dois tenistas dessa faixa de ranking para erguer o troféu no complexo da Caixa Mágica. Vice-campeão em Madri, Tsitsipas se firma definitivamente no top 10 e mostra que pode fazer uma grande campanha em Paris. O estilo de jogo agressivo, repleto de variações táticas e com poucos pontos fracos é adaptável a todos os pisos. Porém, a tarefa de vencer um Grand Slam ainda parece árdua demais para o garoto de 20 anos que derrotou Rafael Nadal neste sábado. Potencial e
tempo para adquirir maturidade não faltam ao jovem tenista. Algoz de Nadal em Roland Garros 2015, Djokovic se firma como mais uma ameaça ao reinado do espanhol onze vezes campeão em Paris. As eliminações precoces de Rafa nas semifinais de Monte Carlo, Barcelona e Madri impõem um desafio inédito ao número 2 do mundo. Desde 2004, ano anterior ao primeiro título de Slam do multicampeão na terra batida, ele jamais havia chegado a Roma sem disputar finais no saibro. Palco do último Masters 1000 preparatório para Roland Garros, Roma tem altitude inferior aos 700 metros de Madri e condições semelhantes a Paris. A elevação maior torna o jogo mais rápido na capital espanhola, o que dificulta um prognóstico ideal para o Grand Slam francês. A alternância de campeões é muito maior na Caixa Mágica, onde Nadal tem quatro conquistas no saibro, Djokovic três e Federer duas. Com a confiança restabelecida pelo título em Madri e afastado de tenistas como Rafael Nadal, Dominic Thiem e Roger Federer no caminho rumo à final, Novak Djokovic não poderia ter expectativas maiores ao desembarcar no Foro Itálico. Resta saber se o sérvio manterá o nível de atuações desta semana. O retrospecto de quem é oito vezes campeão em Roma joga a favor de Rafael Nadal, mas a chave não indica vida fácil no Foro Itálico. Um provável confronto contra Dominic Thiem logo nas quartas de final poderá ser um grande desafio. Com quatro triunfos, o austríaco é o segundo tenista com mais vitórias na terra batida diante do Rei do Saibro, sendo superado apenas por Novak Djokovic na estatística. 135
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