Nos meandros do Chandless: desenvolvimento sustentável através da pesquisa e ecoturismo na Amazônia

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NOS MEANDROS DO CHANDLESS:

desenvolvimento sustentável através da pesquisa e ecoturismo na Amazônia

Giovanna Paola Marzano Ferraz de Arruda Trabalho Final de Graduação

Trabalho Final de Graduação

Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU 2022

Nos meandros do Chandless: desenvolvimento sustentável através da pesquisa e ecoturismo na Amazônia

Giovanna Paola Marzano Ferraz de Arruda

Orientador: Prof. Ms. Jair Antonio de Oliveira Junior

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O rio, sempre o rio, unido ao homem, em associação quase mística, o que pode comportar a máxima de Heródoto para os condados amazônicos, onde a vida chega a ser, até certo ponto, uma dádiva do rio, e a água uma espécie de fiador dos destinos humanos.

Veias do sangue da planície, caminho natural dos descobridores, farnel do pobre e do rico, determinantes das temperaturas e dos fenômenos atmosféricos, amados, odiados, louvados, amaldiçoados, os rios são a fonte perene do progresso, pois sem eles o vale se estiolaria no vazio inexpressivo dos desertos. Esses oásis fabulosos tornaram possíveis a conquista da terra, e asseguram a presença humana, embelezam a paisagem, fazem girar a civilização - comandam a vida no anfiteatro amazônico. (Tocantins, 2000, p. 278)

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Agradeço

ao professor Jair pelo suporte durante minha trajetória de aprendizagem sobre a Amazônia e por apoiar minha ideia desde o início; ao professor Gilberto Belleza pelo acompanhamento do projeto e suporte ao longo do ano; às minhas chefes Natalia e Gabriela por toda compreensão, paciência e ensinamentos; aos meus colegas do estágio, pelas conversas e risadas que tornaram meus dias mais leves; aos meus amigos da faculdade que acompanharam esse processo e fizeram os últimos anos mais felizes; a todos que participaram da minha vida nos últimos anos e me apoiaram de alguma forma; a Flávia Souza pelo convite e suporte que possibilitou minha experiência transformadora no Chandless;

a Ricardo Plácido pela entrevista e compartilhamento de vivências no Chandless; a todos que conheci durante minha viagem ao Acre, pelo acolhimento e amizade durante os dias que estive lá; à minha psicóloga Camila, pelo trabalho excepcional durante as fases mais difíceis da minha vida; a Victor, por me inspirar a realizar esse trabalho, além do apoio e companheirismo indescritíveis de sempre; à minha família, por tudo.

Ao meu irmão Pietro, quem meus meros sentidos terrenos não são mais capazes de apreender, mas que está tão onipresente quanto todas as leis da natureza. Te agradeço por me inspirar todos os dias.

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Resumo

O presente trabalho apresenta um estudo sobre o cenário da Amazônia brasileira e a importância do desenvolvimento sustentável atrelado às atividades de pesquisa e ecoturismo. A partir disso, propõe-se um projeto no Parque Estadual do Chandless, Unidade de Conservação de Proteção Integral no estado do Acre. O principal objetivo da intervenção é ensaiar a construção de uma infraestrutura para as atividades de pesquisa científica e turismo sustentável em uma área remota e em alto grau de conservação, com soluções que promovam baixo impacto ambiental e visual. A pesquisa é fruto de um interesse desenvolvido durante uma experiência pessoal, juntamente à vontade de imergir no estudo de soluções sustentáveis para a arquitetura contemporânea.

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Sumário

12 Introdução

Capítulo 01: Hileia Amazônica 16 Bacia do rio Purus: características 20 Processos formadores 22 “O rio comanda a vida” 24 Arquitetura sobre palafitas

Capítulo 02: Ecoturismo e pesquisa 28 Desenvolvimento sustentável em Unidades de Conservação 30 Ecoturismo na Amazônia 32 Atividade de pesquisa na Amazônia

Capítulo 03: Estudos de caso 34 Moradias Infantis | Rosenbaum e Aleph Zero 38 Mirante do Gavião Amazon Lodge | Atelier O’Reilly 42 Wetland Research and Education Center | Atelier Z+

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Capítulo 04: Parque Estadual do Chandless 48 Acessos 50 Área de intervenção 52 Pesquisa de campo 58 Propostas de desenvolvimento sustentável

Capítulo 05: Proposta de Projeto 62 Desenvolvimento do projeto 64 Programa 66 Implantação 72 Cortes e elevações 74 Estrutura 82 Cortes ampliados 88 Plantas ampliadas 94 Soluções sustentáveis 100 Perspectivas 122 Considerações finais 124 Referências

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Introdução

A ênfase mundial dada a Amazônia, tendo em vista o atual cenário global de mudanças climáticas, nos obriga a reinterpretar as relações entre arquitetura e meio ambiente e estimular a compreensão de que a natureza é a fonte direta para sustentar a vida e assim deve permear uma exploração equilibrada dos recursos naturais.

Não é novidade que a Amazônia é o bioma de mais rica biodiversidade do mundo, tornando as atividades de pesquisa científica e turismo ecológico cada vez mais comuns como forma de conhecimento da fauna e flora da região apresentada por Euclides da Cunha como “paraíso perdido”.

A região amazônica é o maior foco de preocupação ambiental do país em decorrência das constantes intervenções humanas de exploração desequilibrada dos recursos naturais, principalmente com as atividades de desmatamento, queimadas e manejo insustentável da floresta.

A escolha do tema e da área de estudo foi fruto de um interesse de aprofundamento no estudo de arquitetura sustentável e incorporada à paisagem amazônica, além dos vernaculares ribeirinhos pertencentes às comunidades que vivem tradicionalmente sujeitas a uma convivência harmônica com a natureza. Esse interesse foi despertado a partir de uma experiência pessoal na Amazônia brasileira do estado do Acre.

O local de intervenção está situado na área do Parque Estadual do Chandless, uma Unidade de Conservação de Proteção Integral na zona centrosudoeste do estado do Acre. O local corresponde a uma área da Amazônia considerada pelo Ministério do Meio Ambiente como de suma importância para conservação ambiental principalmente por sua biodiversidade.

A partir do entendimento do cenário local, o presente trabalho final de graduação ensaia um projeto de uma nova sede de serviços e hospedagem para o Parque Estadual do Chandless, com o objetivo de explorar novas possibilidades de desenvolvimento sustentável atrelado às atividades de ecoturismo e pesquisa científica.

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Rio Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

Capítulo 01: Hileia Amazônica

A floresta amazônica possui uma área total de 6,9 milhões km², sendo a maior floresta tropical do mundo e contendo 20% da água mundial disponível.

Além do Brasil, abrange os países Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. Ocupa cerca de 49% do território brasileiro (4.196.943 milhões de km²), compreendendo os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins. (Dados do IBGE)

Representando um terço das florestas tropicais do mundo, a Amazônia abrange mais da metade da biodiversidade do planeta e sustenta papéis imprescindíveis como o abrigo de populações indígenas, a disposição de recursos hídricos, a diminuição das mudanças climáticas no mundo, além de atividades como o extrativismo, o ecoturismo, a produção de madeira tropical, a agricultura e a pecuária.

Propor um projeto em uma região complexa como a Amazônia, exige um estudo prévio para que a intervenção contemple soluções arquitetônicas eficazes para as características específicas de clima, precipitações, fauna e flora amazônicas, além do diálogo com a arquitetura vernacular existente.

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Rio Purus, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda
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bacia do rio Purus: características

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Rio Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

O Parque Estadual do Chandless está inserido na bacia hidrográfica do rio Purus e, por isso, o enfoque do estudo se dará nessa região, tendo em vista a grande extensão da Amazônia.

O rio Purus apresenta um curso sinuoso e meândrico e se entende dentro de uma faixa de planície. O rio Chandless é um de seus afluentes de margem direita, assim como os rios Acre, Iaco e Caeté.

As vazões dos rios no estado do Acre apresentam um padrão de distribuição anual heterogêneo com um período marcadamente seco entre junho e outubro e um período de maiores vazões, com variação de até 90%, entre fevereiro e março. (SOS Amazônia, 2010)

O clima predominante no Acre é o equatorial amazônico, definido pelas altas temperaturas, baixa amplitude térmica e elevada umidade. A temperatura varia entre 24,5°C e 32°C, com duas estações bem definidas: a seca e a chuvosa.

O período seco corresponde ao verão amazônico, marcado por dias quentes e noites frias. Neste período, ocorre o fenômeno conhecido localmente como “friagem”: a passagem da massa polar atlântica faz com que a temperatura caia consideravelmente por algumas horas ou dias, ficando entre 5°C e 15°C. Já o período de maiores vazões corresponde ao inverno amazônico, marcado pelas chuvas intensas e constantes.

Vazão dos rios no Acre | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

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Vazante nível mínimo verão amazônico (junho a outubro)

Nível médio

Cheia nível máximo inverno amazônico (fevereiro e março)

Esquema de cheias e vazantes dos rios | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

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processos formadores

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Rio Purus, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

A ocupação das margens dos rios amazônicos se deu, principalmente, durante as correntes migratórias impulsionadas pelo período conhecido como “ciclo da borracha”, que se passou durante a segunda metade do século XIX. Famílias nordestinas que enfrentavam secas intensas no sertão foram atraídas pela oportunidade de trabalho nos seringais da Amazônia. (S. N. SILVA, 2000)

A ocupação da bacia do rio Purus não foi diferente: esteve relacionada a políticas públicas iniciadas no ciclo da borracha, quando houve a fase de expansão das atividades de exploração da seringueira (Hevea brasiliensis) e do caucho (Castilloa elastica). Nesse momento, seringalistas brasileiros do litoral e peruanos caucheiros da serra e da selva começaram a ocupar as margens do rio Purus e seus afluentes, inclusive o rio Chandless. Em 1904 e 1905, Euclides da Cunha conduziu expedição para delimitação das fronteiras entre Brasil Peru e firmou o acordo de limites pelo Tratado do Rio de Janeiro, em 1909. (SOS Amazônia, 2010)

A bacia do rio Purus possui vários habitats estabelecidos pelos movimentos do rio, sendo uma bacia com grande importância ambiental e um grau elevado de conservação do ambiente natural. Por ter grande número de ambientes, a bacia do rio Purus possui uma diversidade de modos de uso e ocupação por parte das comunidades que se estabelecem no local. O primeiro registro de presença branca na região foi em meados do

século XIX, na época das expedições organizadas por Manoel Urbano e William Chandless. Manoel Urbano foi homenageado com a atrubuição de seu nome à cidade e, William Chandless com a atribuição de seu nome ao rio. (CABRAL et al., 2015)

O processo histórico de ocupação das áreas de várzea da Região [a]mazônica possibilitou, ao longo dos anos, uma heterogeneidade de modos de vida. O ambiente e as populações humanas reconfiguram-se em um processo diversificado que combina inúmeros elementos do espaço e da diversidade da cultura humana. A formação histórica das populações ribeirinhas da região é fruto do encontro de culturas, seja de populações locais, ameríndias, do colonialismo europeu em um dado momento ou da recente presença nordestina do período econômico da borracha. (FRAXE, 2011)

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“o rio comanda a vida”

Segundo Leandro Tocantins no título de seu livro, “O rio comanda a vida”: os ribeirinhos não só se adaptam à sazonalidade do rio como norteiam sua vida a partir dela. Para eles, o rio é a principal fonte de alimentação e transporte e a utilização dos recursos naturais de forma não destrutiva é determinante para uma convivência harmônica com o meio do qual dependem diretamente. O nível do rio define as épocas de plantio, caça e pesca.

Os rios na Amazônia constituem uma realidade labiríntica e assumem uma importância fisiográfica e humana excepcionais. O rio é o fato dominante nessa estrutura fisiográfica e humana, conferindo um ethos e um ritmo à vida regional. Dele dependem a vida e a morte, a fertilidade e a carência, a formação e a destruição de terras, a inundação e a seca, a circulação humana e de bens simbólicos, a política e a economia, o comércio e a sociedade. O rio está em tudo. (LOUREIRO, 1995, p. 121 apud NOGUEIRA, 2016)

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arquitetura sobre palafitas

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Parque Estadual do Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

Viver nas áreas de várzea é essencialmente adaptar-se aos períodos de Enchente, Cheia, Vazante e Seca: as habitações são construídas com a premissa de superar as estações e adequarse a elas. Assim, as construções ribeirinhas podem ser palafitas ou flutuantes. As flutuantes podem ser consideradas as mais adaptadas, já que permitem maior flexibilidade por flutuarem e acomodaremse às variações do rio. Já as palafitas possuem menos capacidade de adaptação, são afastadas do solo com estacas de madeira fixadas em terra firme.

e criatividade. O fato de os materiais utilizados serem fornecidos pelo meio ambiente configuram o caráter da simplicidade, e as técnicas construtivas que se adequam às circunstâncias locais retratam a adaptabilidade da construção. Para a concepção formal funcional e o uso eficiente dos materiais de construção, é necessária uma solução criativa. (WEIMER, 2012, p. XLI-XLII)

Na concepção de novas propostas é essencial demonstrar soluções que atendam aos obstáculos ambientais das áreas de várzea e complementam aquelas já existentes, evoluindo a forma de se estabeler nestes ambientes. (OLIVEIRA JUNIOR, 2009)

No perímetro de estudo, as construções são essencialmente palafitas desde os períodos de ocupação histórica, quando os seringueiros passaram a construir suas habitações nas margens do rio.

Segundo Weimer (2012), as construções ribeirinhas são manifestações construtivas da população e devem ser entendidas como “(...) arquitetura popular: aquela que é própria do povo e por ele é realizada” (WEIMER, 2012, p. XLI).

As características da arquitetura popular são, entre outras, sua simplicidade, adaptabilidade

No caso dos ribeirinhos que se estabelecem nas margens dos rios amazônicos, a adaptabilidade está relacionada à conformação com a sazonalidade do rio: os ribeirinhos foram obrigados a criar adaptações para suas construções de forma a conviver harmonicamente com os fenômenos naturais que enfrentam anualmente. (OLIVEIRA JUNIOR, 2019)

As casas ribeirinhas do Parque Estadual do Chandless são construídas com a madeira paxiúba (Socratea exorrhiza), abatidas e serradas no local. A estrutura consiste em pilares e vigas com amarrações em tesouras para sustentação da cobertura. A cobertura é de palha ou de telha metálica. As vedações são feitas com tábuas de madeira dispostas verticalmente e fixadas com pregos.

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Capítulo 02: Ecoturismo e Pesquisa

Na visão de Karola Tippmann e Donald Sinclair, o turismo sustentável é aquele que procura proteger e preservar os recursos naturais ao mesmo tempo que possibilita uma experiência satisfatória ao visitante e gera benefícios econômicos às comunidades locais.. Na Amazônia, o turismo sustentável deve funcionar como um mecanismo que auxilia o processo de conservação da natureza, fortalece a economia das comunidades e acrescenta valor nas tradições culturais locais. (LEGRAND, SIMONS-KAUFMANN e SLOAN, 2012 p. 37)

Em meio às mudanças climáticas globais, a Amazônia desenvolveu uma reputação como o último “resort selvagem” e o pulmão verde do mundo. Isso juntamente com sua história e cultura, funciona como principais atrativos para turistas potenciais. (LEGRAND, SIMONS-KAUFMANN e SLOAN, 2012 p. 37)

A implementação de atividades sustentáveis que visem a valorização do ambiente biológico e cultural é uma oportunidade de gerar renda monetária para a região. O planejamento turístico que envolva as comunidades locais e a conscientização ambiental é uma forma de desenvolvimento econômico juntamente com o estímulo do interesse em sustentabilidade. (LEGRAND, SIMONS-KAUFMANN e SLOAN, 2012 p. 37)

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Rio Purus, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda
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desenvolvimento sustentável em Unidades de Conservação

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Rio Purus, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

A prática de turismo em Unidades de Conservação é uma forma de desenvolvimento sustentável, já que movimenta a economia local ao mesmo tempo que estimula a consciência da preservação ambiental. Apesar disso, exige um planejamento eficaz para que não haja exploração insustentável dos recursos naturais.

O ecoturismo objetiva conciliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade, seja social ou ambiental. Apesar de não estar isento dos impactos negativos gerados, pode contribuir significativamente para a verba das unidades de conservação e formação de uma consciência ecológica de caráter menos instável ou superficial que pode aparecer na mente urbanizada. Além disso, reforça a preservação das áreas protegidas e dá destaque à cultura local, assim, constitui um ramo promissor no mundo de desenvolvimento sustentável que precisamos. (MENEZES, 201 5)

As Unidades de Conservação muitas vezes carecem de uma infraestrutura atrativa para turistas como estrutura para hospedagem, restaurante e atividades, e isso faz com que percam a possibilidade de desenvolvimento ecoturístico. (BOO, 1992 apud Wanderley s.d.)

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ecoturismo na Amazônia

A Amazônia possui a maior biodiversidade per capita do mundo. São mais de 40 mil espécies de plantas, 1500 espécies de aves, 400 espécies de anfíbios e 300 espécies de mamíferos. Aliada a essa vasta diversidade biológica, a região amazônica é lar de riquíssimas culturas milenares, como a dos povos Yawanawá, Sateré-Mawé, Huni Kuin, Ashaninka entre outros, cujos conhecimentos, além de seu valor intrínseco, permitem o desenvolvimento de fármacos e compreensão de processos físico-químicos. (LENAERTS, 2006) Essa riqueza natural e antropológica torna o bioma amazônico um local de extremo interesse turístico que atrai pessoas buscando se aventurar, expandir sua consciência, fotografar culturas, paisagens, fauna e flora ou simplesmente relaxar em meio à natureza. (DRUMM, 1991)

Definido pela primeira vez por CeballosLascuráin como o “ato de viajar para áreas naturais relativamente não perturbadas ou não contaminadas com o objetivo específico de estudar, admirar e apreciar a paisagem e suas plantas e animais selvagens, bem como quaisquer manifestações culturais existentes” (FENNEL, 1999), o ecoturismo se desenvolve como uma atividade econômica que permite não só a melhoria na condição de vida dos envolvidos em sua cadeia produtiva como uma redescoberta da relação do turista com o meio e a preservação de suas relações ecológicas. Essa forma de turismo se opõe ao que ficou conhecido como turismo de massa, o qual se associa a pacotes oferecidos de forma padronizada e massiva, frequentemente

por corporações transnacionais e grandes grupos. (MOWFORTH e MUNT, 2004) Dessa forma, o ecoturismo se orienta pela flexibilidade em atividades de pequena escala que garantem ao indivíduo autonomia. Entre seus principais objetivos estão a promoção de uma experiência educativa ao turista, colocando-o como agente ativo na aprendizagem, a contribuição para a preservação da natureza local e a criação de oportunidades econômicas que tornem a preservação das paisagens naturais algo benéfico para as comunidades envolvidas. (DRUMM, 1991)

Quando realizado de forma sustentável, limitando impactos ambientais através da boa gestão de resíduos sólidos, da geração de energia sustentável, da orientação correta aos turistas e impactos sociais através do envolvimento da comunidade tradicional na cadeia produtiva, o ecoturismo é capaz de transformar a dinâmica socioeconômica de estados e municípios (LEGRAND, SIMONS-KAUFMANN e SLOAN, 2012), ou até países, como é o caso da Costa Rica (KOENS, DIEPERINK e MIRANDA, 2009).

Levando em consideração que o ser humano, enquanto ser que se norteia pela humanização em uma relação dialógica com o mundo, deve buscar a liberdade para criar, construir, admirar e se aventurar (FREIRE, 2005), as atividades propostas pelo ecoturismo aprofundam um processo em que o indivíduo se propõe a compreender um local diferente de seu cotidiano.

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Rio Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

atividade de pesquisa na Amazônia

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Parque Estadual do Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

Em 1980, o remédio que ficou conhecido como captopril mudou completamente a medicina cardiovascular (BRYAN, 2009). Essa droga foi a primeira a utilizar de inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) para impedir a constrição de vasos sanguíneos e assim reduzir a pressão arterial (MAXWELL, 1990). Como os problemas cardíacos relacionados à hipertensão estão entre as maiores causas de óbito no Brasil e no mundo, a descoberta desse mecanismo biológico e a capacidade de transformá-lo em uma droga está entre as mais importantes da medicina como um todo. E tal descoberta apenas foi possível por conta da observação da natureza: os biólogos Rocha e Silva e Wilson Teixeira Beraldo, em uma pesquisa de campo, observaram os efeitos da peçonha da jararaca (Bothrops jararaca), registraram seu efeito vaso-constritivo e publicaram os dados de sua pesquisa (ROCHA E SILVA e BERALDO, 1949). Essa observação catalisou um processo criativo e permitiu a invenção do captopril.

A história do captopril é apenas uma dentre as muitas que ilustram a importância da pesquisa de campo para aplicações práticas que impactam diretamente a vida de milhões de pessoas. Outras notáveis são a do analgésico e antiinflamatório Acheflan (PERINI et al, 2015), feito a partir do óleo essencial de Codia verbenacea, a do anticoagulante batroxobina (LOCHNIT E GEYER, 1995), derivado da peçonha da jararacuçu (Bothrops moojeni) e até a aspirina, cujo princípio

ativo vem do salgueiro (Salix alba) (JACK, 1997). O fato é que a observação da natureza e a pesquisa de campo são essenciais para o cohecimento científico.

No que tange à hiléia amazônica, seja em sua fauna, em sua flora, em suas relações ecossistêmicas, ou até em sua geologia, é indiscutível que essa formação extremamente diversa carrega consigo um valor intrínseco (EHRLICH, 1997). Tendo em mente como tantos fármacos foram derivados da natureza, fica claro como estudos da Amazônia não somente cumprem um papel fundamental em nosso processo de humanização por fomentar a relação dialógica que estabelecemos com o cosmos (FREIRE, 2005), como também possui finalidades materiais práticas. Contudo, o conhecimento sobre a biota local contém inúmeros problemas: entre 25-50% das espécies de grupos taxonômicos conhecidos ainda carecem de descrição (PERES, 2005). Goulding e Ferreira (1988) demonstram, por exemplo, que das estimadas 700 espécies de peixe da Bacia do Rio Negro, apenas 450 foram propriamente descritas (GOULDING; CARVALHO e FERREIRA, 1998).

Dessa forma, a infraestrutura de pesquisa inserida em meio a locais de díficil acesso, como o Parque Estadual do Rio Chandless, garante não somente que estudos de qualidade possam ser conduzidos, como também permite o armazenamento e análise de amostras sensíveis, cujo transporte seria dificultado.

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Capítulo 03: Estudos de caso

Moradias Infantis

arquitetos: Rosenbaum e Aleph Zero local: Formoso do Araguaia, Tocantins, Brasil ano: 2017 área: 23344 m² fotografias: Leonardo Finotti referência para o projeto: conceito, estrutura e materialidade

O projeto “Moradias Infantis” é uma reforma da escola com regime de internato localizada na zona rural da Fazenda Canuanã, no Formoso do Araguaia (TO) e foi eleito uma das 25 melhores obras de arquitetura construídas no século XXI. A implantação da escola consiste em duas aldeias (uma para crianças do sexo feminino e outra para crianças do sexo masculino), como era dividida antes da reforma. Em cada aldeia são criados três grandes pátios centrais com um “recorte” na cobertura e a criação de quintais com a paisagem local. As aldeias se localizam nos dois extremos da fazenda, permitindo com que o centro seja usado para atividades educacionais.

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Moradias Infantis | imagem: Leonardo Finotti
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implantação

1. Morada feminina

2. Morada masculina

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1 2 Planta
Moradias Infantis | imagem: Leonardo Finotti
térreo

O projeto foi idealizado com estrutura de madeira laminada colada (MLC), alta tecnologia que possibilita a fabricação industrial de madeira certificada, com baixo impacto ambiental. As paredes estruturais são de tijolos de solo-cimento fabricados em obra, com o solo da própria fazenda: são prensados e moldados in loco com dimensionamento pré definido e secos ao sol. Analisando a morfologia estrutural do projeto, percebe-se a composição de pilares, vigas principais, vigas secundárias e elementos diagonais de contraventamento. O vão entre os pilares é suficiente para vencer a estrutura sem a necessidade de tesouras e treliças. A cobertura é única e se estende por toda a aldeia com inclinação de uma água e telha metálica sanduíche, como opção para isolamento térmico e acústico, além de vencer o vão estrutural.

A idealização do projeto propôs um diálogo entre técnicas contemporâneas e o rico conhecimento vernacular local. O projeto procura transformar, resgatar a cultura, incentivar as técnicas construtivas locais, a beleza indígena e seus saberes, criando uma noção de pertencimento à comunidade local e, principalmente, às crianças de Canuanã.

O projeto da escola de Canuanã foi uma referência principalmente no que tange às soluções estruturais e de materialidade: o uso de madeira e a malha estrutural simplificada, a cobertura de uma água e a telha metálica sanduíche. Além disso, a filosofia do projeto com o respeito à comunidade e às técnicas construtivas locais são situações semelhantes às reflexões estabelecidas durante o desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação e consideradas no projeto no Parque Estadual do Chandless.

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Moradias Infantis | imagem: Leonardo Finotti Corte BB

Mirante do Gavião Amazon Lodge

arquitetos: Atelier O’Reilly local: Novo Airão, Amazonas, Brasil ano: 2017 área: 1678 m² fotografias: Thais Antunes, Ruy Tone, Atelier O’Reilly, Jean Dallazem, Luciano Spinelli referência para o projeto: materialidade e sustentabilidade

O projeto do hotel Mirante do Gavião localiza-se no município de Novo Airão, aproximadamente 200 km de distância de Manaus, em um local com vista para o Rio Negro, em frente ao arquipélago Parque Nacional de Anavilhanas. O projeto surgiu da necessidade de uma pousada que estabelecesse uma interligação entre as navegações no Rio Negro pelos barcos que fazem expedições. O desenho de implantação do projeto foi desenvolvido com o objetivo de integração com a paisagem e a elaboração do melhor resultado energético para conforto térmico, ventilação cruzada, iluminação natural e acessibilidade.

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Mirante do Gavião Amazon Lodge | imagem: Thais Antunes
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Mirante do Gavião Amazon Lodge | Implantação

Mirante do Gavião Amazon Lodge | Corte restaurante

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A estrutura de madeira foi feita com desenho de um barco invertido, isso porque a comunidade ribeirinha local constrói barcos em madeira em uma tecnologia passada de geração em geração. A curvatura dos elementos de madeira externos, que também funcionam como brises, seguem a morfologia dos barcos. As construções são sobre palafitas que além da proteção do rio em épocas cheias, promovem uma ventilação inferior, reduzindo a temperatura interna. Além disso, foram desenvolvidas estratégias para melhor adaptação ao clima local.

O projeto gerou empregos para pessoas da comunidade durante a obra para construção e depois de inaugurado para atender o público visitante. Com isso, desfrutouse da mão de obra local e do conhecimento do povo ribeirinho, além de permitir o aperfeiçoamento das técnicas construtivas deles. Esse projeto é uma referência por envolver estratégias sustentáveis em uma área de floresta amazônica preservada, além de um planejamento de integração com a paisagem e a história da comunidade, o que permitiu a utilização da mão de obra local, promovendo oportunidade de trabalho e aperfeiçoamento das técnicas construtivas.

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Mirante do Gavião Amazon Lodge | Corte AA Mirante do Gavião Amazon Lodge | imagem: Jean Dallazem Mirante do Gavião Amazon Lodge | imagem: Thais Antunes

arquitetos: Atelier Z+ local: Shanghai, China ano: 2019 área: 4092 m2 fotografias: Hao Chen referência para o projeto: implantação e organização espacial

O projeto do centro de pesquisa e educação está localizado em Dongtan Wetland, que fica no ponto mais oriental da ilha Chongming, na foz do rio Yangtze. Este local fica no meio da rota entre o leste da Ásia e a Austrália, sendo uma das oito rotas de migração de aves do mundo. Por isso, Dongtan Wetland é um corredor de migração muito importante para as aves aquáticas dessa região e, consequentemente, um dos locais de habitats mais significativos para aves selvagens. O centro de pesquisa e educação foi construído como uma plataforma de pesquisa científica e monitoramento, anilhagem de pássaros e educação ambiental.

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Wetland Research and Education Center Wetland Research and Education Center | imagem: Hao Chen
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A organização espacial do projeto foi fruto da busca por minimizar o impacto no ecossistema local, integrando-o à paisagem: o projeto é dividido e disperso, formando um conjunto de volumes sobre palafitas que dão impressão de que estão flutuando na água e escondidos entre as plantas aquáticas. São cinco edifícios interligados por passarelas em zigue-zague: conferência e exposição, refeitório, pesquisa e dormitório. A implantação do projeto faz com que os volumes se incorporem à paisagem local, criando assentamentos separados e minimizando o impacto visual.

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Wetland Research and Education Center | imagem: Hao Chen Wetland Research and Education Center | Implantação

Outro ponto marcante no projeto são os telhados de duas águas virados ao contrário, formando uma estrutura em forma de Y em balanço e criando jogos de justaposições e variações nas estruturas. Isso permitiu uma sensação de abrigo para quem observa de dentro e, para quem observa de fora, a percepção de continuidade na estrutura e uma visão horizontal mais ampla e integrada à paisagem.

Esse projeto é uma referência de implantação e organização espacial: a forma como os volumes são divididos e dispersos, criando um conjunto de módulos estruturalmente semelhantes e conectados por plataformas faz com que a construção seja incorporada à vegetação, minimizando o impacto na paisagem local e criando um diálogo entre arquitetura, natureza e paisagem, questão também abordada no presente projeto na Amazônia.

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Wetland Research and Education Center | Corte Wetland Research and Education Center | imagem: Hao Chen

Capítulo 04: Parque Estadual do Chandless

O Rio Chandless localiza-se no Parque Estadual do Chandless, uma Unidade de Conservação de Proteção Integral na zona centro-sudoeste do estado do Acre a qual ocupa uma área de 695.304 hectares (4,23% do território do estado) e se situa na fronteira Brasil-Peru. (SOS Amazônia e SEMA, 2008)

O Parque foi concebido pelo Decreto No 10.670 de 02 de setembro de 2004 com intuito de “assegurar a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas cientificas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico” (Art. 2o). (SOS Amazônia e SEMA, 2008)

O Parque compreende os municípios Santa Rosa do Purus, Manoel Urbano e Sena Madureira e corresponde a uma área da Amazônia considerada pelo Ministério do Meio Ambiente como de suma importância para conservação ambiental principalmente por sua biodiversidade.

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Rio Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda
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acessos

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Rio Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

O acesso ao Parque é limitado, feito somente por via aérea partindo de Rio Branco, Acre (fretamento aéreo) ou fluvial partindo de Manoel Urbano, Acre (em um percurso que varia de 8 a 15 horas de viagem subindo o rio Purus, dependendo do barco. (SOS Amazônia e SEMA, 2008)

Estado do Acre

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Mapa de acessos | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

área de intervenção

Localização da área de intervenção no perímetro do Parque Estadual do Chandless

Localização da área

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área de intervenção

Imagem aérea da área de intervenção

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pesquisa de campo

A motivação para realização da pesquisa e projeto no Parque Estadual do Chandless surgiu durante uma viagem turística a Rio Branco (AC) em outubro de 2020. Lá tive a oportunidade de conhecer pesquisadores que realizam trabalhos acadêmicos na área do Parque. Ao ser apresentada para as características sociais e ambientais dessa região, uma curiosidade surgiu de imediato.

Em 2021 decidi ir mais a fundo no estudo sobre a arquitetura e cultura ribeirinha da região da bacia do rio Purus e foi quando comecei uma pesquisa de Iniciação Científica sobre o tema, juntamente com o professor Jair Antonio. De início realizei um estudo aprofundado com a bibliografia selecionada, além de conversas e entrevistas virtuais com um dos gestares da Unidade, Ricardo Plácido e com a engenheira florestal da Secretaria de Estado de Meio Ambiente do Acre, Flávia Souza. Mesmo assim, encontrei dificuldades de acesso à informações recentes, além da falta de levantamento fotográfico das construções locais. Em 2022 iniciei o presente trabalho final de graduação e, da mesma forma, encontrei dificuldades de obtenção de informações específicas para melhor desenvolvimento do projeto.

A convite de Flávia Souza, da Semapi, tive a oportunidade de aprofundar minha pesquisa com uma visita de campo em julho de 2022. A visita permitiu um levantamento mais aprofundado da área de intervenção, bem como um contato direto com a problemática do trabalho.

A experiência de hospedagem como pesquisadora nas dependências da sede do Parque Estadual do Chandless, possibilitou a compreensão das necessidades de infraestrutura locais, bem como a convivência com a comunidade e aproximação com o cenário cultural e ambiental.

Um exemplo do que pôde ser observado na pesquisa de campo foi a especificidade da paisagem no local de intervenção: o terreno onde a sede se localiza e seu entorno imediato tiveram sua flora afetada pelas ações humanas anteriores à transformação em Unidade de Conservação, já que essa área era a antiga Fazenda Jussara, onde haviam pastos.

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Mapa de localização das casas da comunidade | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

A comunidade do Parque Estadual do Chandless se distribui ao longo do rio Chandless de forma a estabelecer agrupamentos familiares denominados “Colocações”. Atualmente, contam-se 20 famílias dentro da área. Os dados do mapa (Figura 3) foram obtidos no Diagnóstico Socioeconômico do Plano de Manejo do Parque Estadual do Chandless

realizado por Mary Helena Allegretti com a Equipe da SOS Amazônia e publicado em outubro de 2008. Apesar de não serem dados recentes, as famílias continuam se estabelecendo da mesma forma: a mudança que ocorreu foi o crescimento das famílias dentro das Colocações existentes.

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http://pechandless.org/

Legenda da imagem:

01. alojamentos e banheiros 02. redário 03. administração 04. alojamento adicional para auxiliares 05. auditório 06. lavabo e lavanderia 07. energia por gerador a óleo diesel e rede internet 08. telefone público

Atualmente, a sede do Parque Estadual do Chandless consiste em um conjunto de construções para funcionamento das atividades de administração, serviço e alojamento temporário de funcionários e pesquisadores previamente autorizados pela Secretária de Estado de Meio Ambiente.

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Imagem aérea da infraestrutura do Parque Estadual do Chandless | disponível em
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sede do Parque Estadial do Chandless, AC | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

Diário de campo

19.07.2022

De Rio Branco (AC), saímos às 04h00 rumo a Manoel Urbano. No carro estava eu, o motorista Valfredo (Semapi), Flávia Souza (Semapi), Paola (atual Secretária de Meio Ambiente e Políticas Indígenas) e Márcio (Semapi). Chegamos em Manoel Urbano por volta das 8h00. Entramos na voadeira e seguimos viagem para o Parque Estadual do Chandless com o barqueiro conhecido como Luizinho. Por volta das 12h00 chegamos à boca do Rio Chandless e, por conta do período de seca, trocamos para uma embarcação menor. Chegamos na sede do Parque cerca de 16h00. Foi oferecida refeição (galinha, arroz e farofa), feita pela cozinheira Luana (Semapi). Além das pessoas que vieram junto comigo no carro e no barco, estão hospedados na sede outros três barqueiros, dois com mulher e filha, a cozinheira Luana da Semapi e duas assistentes sociais que trouxeram cestas básicas para os moradores.

20.07.2022

Acordei às 06h24. Comi ovo mexido com bolacha água e sal e farinha de macaxeira. Interagi com as crianças na sede, observei a paisagem e as aves. Fiz registros da estrutura da sede do Parque. Por volta das 8h15 os moradores do Parque chegaram para a grande reunião com a Secretária de Meio Ambiente. Os moradores foram chamados por família para assinatura do termos de compromisso, que os permitem continuar residindo dentro da

Unidade de Conservação. Depois disso, as famílias foram chamadas novamente para entrega das cestas básicas pelas assistentes sociais Nayane e Tamires.

O almoço foi servido para todos: feijoada com arroz e farinha. Depois disso, o barqueiro Luizinho me acompanhou de quadriciclo para observar as dependências da sede e registrar a estrutura do local. Fiz registros fotográficos e medições. Mais tarde saímos para uma pequena trilha. Lá existe uma torre de observação que não está apta para subir por conta da falta de equipamentos necessários para escalada. Saindo de lá, fui acompanhada para a pista de pouso de avião para observar. O mato está alto e ele só é roçado quando tem necessidade.

Na mesma tarde fui tomar banho no rio Chandless. O rio é bem agradável para banho e a paisagem é linda. Depois fiquei descansando na rede no redário e conversando com as crianças e funcionários da Semapi. O uso das redes é uma característica da cultura acreana que pude observar e o costume é de cada um erguer a sua quando for deitar. Assim percebi como o redário e os espaços destinados ao descanso nas redes é essencial em um lugar como o Chandless. O jantar foi arroz, farofa e peixe (pescado no próprio rio Chandless).

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21.07.2022

Acordei por volta das 7:30. Comi ovo mexido e bolacha água e sal. Logo de manhã, por volta das 8h30, fui visitar um núcleo familiar chamado “Colocação Nova Jerusalém”, dos patriarcas Antônio e Francisca. Junto comigo estava o barqueiro Luizinho, a assistente social Nayane, a Secretária de Meio Ambiente Paola e Márcio. O percurso de barco durou 20 minutos e, assim que chegamos, fomos recebidos pelo Antônio que estava trabalhando junto ao seu filho na produção de farinha de macaxeira, e ele nos explicou o processo de preparo.

uma festa de aniversário que aconteceria à tarde, para Pedro Henrique e Enzo Gabriel, que estão completando 2 anos de idade. Na festa, almoçamos galinha, farofa, arroz e macaxeira. Além disso, comemos pipoca, bolos e brigadeiro. Depois do anoitecer, todos ficaram para dançar forró, que durou até às 20h30. Fomos dormir às 21h.

22.07.2022

Depois fui recebida pela Francisca em sua casa, onde fiz levantamento fotográfico, medições e pude conversar com ela sobre o processo construtivo da casa: o genro dela quem serrou a madeira de paxiúba da própria floresta e ergueu a estrutura.

O filho de Francisca, Moacir, mora na casa ao lado e sua esposa Zenilda me convidou para visitá-la, também fiz registros e medições e conversei sobre a construção. Moacir construiu a casa sozinho, serrou a madeira de cedro e, com a ajuda da mulher e dos filhos, arrastou a palha da floresta para compor a cobertura. Ela fez questão de me contar sobre o desafio que passaram no último período de cheia do rio, quando a água ultrapassou o assoalho da casa.

Voltando para a sede, todos estavam preparando

Acordamos às 04h00, comemos e saímos às 4h53. Ainda escuro, vimos o amanhecer durante a viagem de barco. Chegamos à Manoel Urbano minutos antes do meio dia. Encontramos o motorista Valfredo e seguimos viagem para Rio Branco, onde chegamos por volta das 15h15.

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propostas de desenvolvimento sustentável

Mapa de zoneamento | Elaborado pela autora - Giovanna Ferraz de Arruda

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Normas zona de uso especial (ZUE)

- As construções e reformas deverão estar em harmonia com o meio ambiente e preferencialmente utilizar tecnologias de baixo impacto;

- Esta zona deverá conter local específico para a guarda e o depósito dos resíduos sólidos gerados na unidade, os quais deverão ser removidos para Manuel Urbano e Santa Rosa do Purus;

- A matéria orgânica gerada deverá sofrer tratamento local, exceto queima;

- A fiscalização deverá ser permanente nesta zona;

- Não será permitido o plantio de espécies exóticas nesta zona, sendo que as espécies existentes serão gradativamente substituídas pelas espécies nativas;

- As bases de operação deverão utilizar placas de energia solar;

- Os esgotos deverão receber tratamento suficiente para não contaminar o rio Chandless e seus tributários; e,

- O tratamento dos esgotos deve priorizar tecnologias alternativas de baixo impacto.

- As atividades humanas permitidas nesta Zona são aquelas definidas nos Termos de Compromisso, as de pesquisa científica, visitação e educação ambiental, definidas nos respectivos programas;

- As atividades permitidas não poderão comprometer a integridade dos recursos naturais.

(SOS Amazônia e SEMA, 2008).

No Plano de Manejo de 2008, Encarte 4 de Planejamento, uma das propostas é o desenvolvimento do Parque para atividades de ecoturismo, pesquisa, educação ambiental e visitação pública.

Após a publicação desse Plano, foi construída a sede, uma infraestrutura para alojamento de pesquisadores e serviços de adminitração e manutenção da Unidade de Conservação. Atualmente, o Parque carece de uma atualização na infraestrutura para atrair vistantes públicos, um dos objetivos dos administradores.

Os maiores atrativos para as atividades de ecoturismo e pesquisa estão ligados à Floresta Amazônica e biodiversidade: “a sua impressionante extensão, a sua rica biodiversidade e sua excepcional malha fluvial, oferecendo ao visitante uma sensação de estar em uma área totalmente natural, como poucos lugares no Brasil.” (SOS Amazônia e SEMA, 2008)

A flora e fauna (mamíferos, répteis e peixes) são grandes atrativos para o Parque e, em especial, as aves: “o estado do Acre é considerado uma das áreas de maior riqueza ornitológica de toda a Amazônia, com a possibilidade de ocorrência de cerca de 600 espécies de aves numa mesma localidade.” (SOS Amazônia e SEMA, 2008). Só no Parque, foram avistados mais de 400 espécies de aves. Além disso, os rios navegáveis, os lagos, as trilhas internas, a cultura indígena, a população tradicional e seu modo de vida são também atrativos. (SOS Amazônia e SEMA, 2008).

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Capítulo 05: Proposta de projeto

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Diante da importância do desenvolvimento sustentável, a ideia do projeto surgiu da necessidade de uma infraestrutura funcional e atrativa para a sede do Parque Estadual do Chandless. Buscou-se levar em consideração questões culturais e ambientais produzindo uma arquitetura incorporada à natureza e que dialoga com as construções vernaculares existentes.

O projeto procura fomentar as atividades de pesquisa e ecoturismo em uma área de Floresta Amazônica conservada, contemplando um programa para pesquisa, ecoturismo, serviços e escola para a comunidade local em um mesmo conjunto arquitetônico.

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desenvolvimento do projeto

Além do estudo aprofundado das características climáticas e ambientais amazônicas, os estudos de incidência solar e da direção dos ventos foram de suma importância para desenvolver um projeto com melhor conforto térmico e ventilação cruzada. A inclinação das coberturas de uma água foram pensadas de acordo com a insolação, protegendo as fachadas norte e oeste, nas quais ocorrem maior incidência solar direta. A maioria das fachadas menos protegidas também coincide com a direção dos ventos, o que garante mais

ventilação. Com um programa diversificado para contemplar hotel, centro de pesquisa, serviços e apoio à comunidade, os setores foram dispersos ao longo da área a partir da demarcação de um eixo central que conecta os dois meios de chegada ao local: a via aérea e a fluvial. Deste eixo são criados caminhos que articulam os volumes espalhados pela área. Os volumes são independentes, o que permite a construção em etapas e livre da necessidade de elaboração integral do projeto.

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Esses assentamentos criados foram idealizados pensando nos saberes construtivos locais, ao mesmo tempo que compõem uma arquitetura contemporânea: em linhas retas e paralelas, o desenho dos volumes é composto pela linha horizontal do piso elevado, seguida das linhas verticais dos pilares e finalizando com as linhas anguladas da cobertura, que produzem uma dinâmica de continuidade estrutural.

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programa

A organização espacial do projeto foi fruto da busca por minimizar o impacto no meio ambiente local, integrando-o à paisagem: são criados volumes sobre palafitas dispersos e interligados por uma grande passarela elevada no mesmo nível.

O programa contempla os seguintes setores:

área principal: lounge, recepção, restaurante, área de exposição e redário hotel: quartos de hospedagem centro de pesquisa: espaços destinados à atividade de pesquisa científica alojamentos para pesquisadores escola: espaços de estudo, de apoio e refeitório para a comunidade local. administração e serviços: salas de administração, ambulatório médico, área de serviço, cozinha, copa e alojamentos para funcionários. módulos de caixá d’água: bases dispersas para armazenamento e tratamento de água com mirante de observação depósito de barco e combustível mirante de observação

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depósito de barcos mirante

área principal hotel escola

alojamentos pesquisadores centro pesquisa administração e serviços acesso avião heliponto e campo de futebol

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implantação cobertura

leganda

1. chegada/ saída avião

2. heliponto e campo de futebol

3. quartos de hotel

4. lounge, exposição e restaurante

5. alojamentos para pesquisadores

6. centro de pesquisa

7. módulos de caixa d’água e tratamento de água

8. escola para comunidade local 9. administração/ serviços e alojamentos

10. depósito de barcos e combustível 11. acesso de barco

12. mirante

elevação 01

implantação térreo | nível 186.00

68
corte AA

leganda

1. chegada/ saída avião

2. heliponto e campo de futebol

3. quartos de hotel

4. lounge, exposição e restaurante

5. alojamentos para pesquisadores

6. centro de pesquisa

7. módulos de caixa d’água e tratamento de água

8. escola para comunidade local

9. administração/ serviços e alojamentos

69

implantação térreo | nível 181.00

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leganda

10. depósito de barcos e combustível

11. acesso de barco

12. mirante

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cortes e elevações

elevação 03 corte BB corte CC

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estrutura

A estrutura principal do projeto consiste em pilares e vigas de madeira Itaúba, material local certificado que possui alta durabilidade e resistência à umidade. Os pilares de madeira são fixados em bases de concreto, evitando o contato direto da madeira com o solo e garantindo maior durabilidade. Para fixação dos elementos da estrutura são utilizadas chapas metálicas e parafusos (ver detalhamentos).

O vigamento de laje é composto por vigas duplas fixadas no pilar e, sobre elas, barrotes de madeira se apoiam, formando o assoalho.

A cobertura é sustentada pela estrutura principal juntamente com caibros e elementos de contraventamento. São utilizadas telhas metálicas sanduíche, por ser uma solução para isolamento térmico e acústico.

det 03 det 04

det 02

isométrica estrutura módulo alojamentos e hotel | sem escala

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cobertura de telha metálica sanduíche caibros e elementos de contraventamento estrutura principal | madeira itaúba assoalho vigamento de laje

isométrica explodida estrutura módulo centro pesquisa | sem escala

75

det 01. pilar x viga inclinada det 02. pilar de concreto x pilar de madeira det 03. vigas deck corte módulo centro pesquisa

det 01 det 04 det 02 det 03

det 04. viga inclinada x centro pilar det 04. calha central escala 1:25

detalhe de fachada | módulo centro de pesquisa escala 1:50

78
79

detalhe de fachada | módulo alojamentos escala 1:50

80
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cortes ampliados

corte AA ampliado

83

corte AA ampliado

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corte BB ampliado

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plantas ampliadas

quartos de hotel | planta nível +186.00

1. quartos duplos: casal

2. quartos duplos solteiro

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lounge/ exposição/ restaurante | planta nível +186.00 1. lounge 2. exposição 3. arquibancada/ redário 4. restaurante 5. bar 6. cozinha 7. depósito de resíduos sólidos

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alojamento para pesquisadores | planta nível +186.00

1. quartos individuais PNE

2. quartos duplos

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centro de pesquisa | planta nível +186.00

1. área de estudos 2. laboratórios 3. área externa de pesquisa

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escola para comunidade local | planta nível +186.00

1. área de estudos 2. salas de aula 3. sala de leitura 4. administração/ apoio 5. refeitório 6. cozinha

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administração/ serviços e alojamentos | planta nível +186.00

1. administração 5. lavanderia

2. administração e almoxarifado 6. depósito de resíduos sólidos

3. ambulatório 7. cozinha

4. refeitório

8. alojamentos para funcionários: quartos duplos

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soluções sustentáveis

esquema ciclo da água sem escala

leganda

1. mirante de observação

7. tratamento e armazenamento de água pluvial

2. reservatório de água 8. retorno da água pluvial para o rio 3. depósito multiuso 9. uso da água pluvial para vasos sanitários

4. painel solar para aquecimento de água

5. placas fotovoltaicas para geração de energia elétrica

6. captação de água da chuva

10. ciclo de bananeiras (tratamento biológico de água

11. tanque de evapotranspiração (tratamento biológico

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água servida - chuveiro, pia, máquinas de lavar) biológico de esgoto)

O projeto também contou com o desenvolvimento de estra tégias sustentáveis para contribuir com um menor impacto no meio ambiente preservado em que está inserido e para seguir as normas da Unidade de Conservação. Foram pen sadas em soluções ecológicas para esgoto e tratamento de água: os tratamentos são biológicos a partir da termocultura com bananeiras e com evapotranspiração. Os módulos de caixa d’água acompanham o canteiro da bacia de evapo -transpiração (tratamento de resíduos sanitários) e o canteiro para o círculo de bananeiras (tratamento de água servida).

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conforto térmico | módulo alojamentos

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A estrutura das coberturas é um fator importante no projeto: considerando a temperatura média eleva da na região amazônica, as coberturas foram pen sadas de forma a criar aberturas para ventilação natural cruzada. A inclinação das coberturas foram desenvolvidas de acordo com a insolação, prote gendo as fachadas norte e oeste, nas quais ocor rem maior incidência solar direta e criando abertu ras para ventilação na direção dos ventos.

As janelas são, na verdade, molduras de madeira com ripas verticais fechadas por telas mosquetei ras, isso garante a ventilação e evita a circulação de insetos. As portas são, em sua maioria, pivotan tes ou portas camarões seguindo o mesmo princí pio de abertura para ventilação.

A cobertura em shed nos alojamentos e quartos de hotel possui duas camadas: a externa sombreia o forro interno e minimiza a absorção de calor e, a abertura superior remove o calor acumulado entre as duas coberturas. As coberturas de uma água no restante dos módulos também possuem aberturas na face mais alta e as paredes internas são conec tadas à cobertura com janelas altas, que permitem a ventilação cruzada. Além disso, a estrutura de palafitas permite prevalecer uma ventilação inferior, reduzindo a temperatura interna.

Foram utilizadas telhas metálicas sanduíches que são compostas por duas chapas metálicas e o iso por como isolante térmico entre elas, garantindo o conforto térmico e acústico, solução para as altas temperaturas e os ruídos produzidos pelas chuvas torrenciais. A pintura branca na telha metálica tam bém contribui como barreira contra a radiação so lar. Além disso, algumas construções locais já aderi ram às telhas metálicas, sendo assim uma material conhecido pela comunidade.

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conforto térmico | módulo centro de pesquisa

98
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100 lounge de
acesso
101
102 lounge/ restaurante
103

redário e espaço expositivo

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105
106
centro de pesquisa
107
108
centro de pesquisa
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110 hotel
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112 quarto de
hotel
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administração e serviços

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escola para comunidade local

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escola para comunidade local

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120 mirante
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Considerações finais

Ao longo do processo de pesquisa foi possível compreender as características físicas e culturais da região da bacia do rio Purus além do contexto da Floresta Amazônica como um todo. Isso permitiu o desenvolvimento de uma intervenção que se adequa ao cenário e à natureza local.

A elaboração do projeto exigiu um estudo para incorporar a arquitetura à paisagem, garantindo a permeabilidade visual e menor impacto ambiental. O uso de materiais naturais e técnicas construtivas semelhantes às utilizadas pela comunidade ribeirinha da região representa o diálogo entre técnicas contemporâneas e o conhecimento vernacular local.

O resgate da cultura ribeirinha no estudo das técnicas construtivas também proporcionou uma reflexão sobre como os saberes tradicionais, baseados exclusivamente na experiência, podem contribuir para a arquitetura contemporânea no desenvolvimento de estruturas adaptadas ao ambiente.

Diante das constantes notícias da exploração desequilibrada da Floresta Amazônica nos últimos anos, se torna perceptível a necessidade de fomentar a consciência ecológica e a relação harmônica entre arquitetura, meio ambiente e paisagem.

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WANDERLEY, Lilian de Lins. Turismo e ecoturismo em Unidades de Conservação Ambiental no Brasil: Estratégias de desenvolvimento econômico e incorporação do território. [S.d]. Disponível em: <https://docplayer.com. br/2060592-Turismo-e-ecoturismo-em-unidades-de-conservacao-ambiental-no-brasil-estrategias-dedesenvolvimento-economico-e-incorporacao-do-territorio.html>. Acesso em: 20 nov. 2022.

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Giovanna Paola Marzano Ferraz de Arruda Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2022.

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