Por um Mundo Melhor - 01

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POR UM MUNDO

MELHOR

ANO I JUL/AGO/SET 2015 BRASÍLIA - DF EDITORA PALOMITAS

PORQUE O MUNDO TAMBÉM É REPLETO DE BOAS NOTÍCIAS E PESSOAS EXTRAORDINÁRIAS

REVARTE A ARTE DE RESGATAR OS VALORES DO SER HUMANO

NICK VUJICIC

A IDEIA É SER PARTE DE ALGO MAIOR DO QUE VOCÊ MESMO

ÁFRICA

O MENINO QUE DOMOU O VENTO

JOVEM VIRA O HOMEM DE FERRO PARA ALEGRAR CRIANÇAS EM HOSPITAL




EDITORIAL POR QUE UMA REVISTA APENAS COM BOAS NOTÍCIAS? Certa vez, na ida ao trabalho, eu estava no carro em frente ao semáforo, quando vi um rapaz distribuindo jornais gratuitos para os motoristas. Ao pegar um deles, pensei: “Quem me dera se, em vez de crimes e corrupção, eu estivesse lendo agora apenas notícias boas! Acho que, assim, meu dia seria melhor. O que estou lendo neste jornal não vai me servir de nada. É inútil”. Foi então que pensei: “Ora, por que então você mesmo não faz um informativo assim? Você não é jornalista?”. Refleti então que, se eu, que era um profissional da mídia, pensava assim, o que não pensaria o leitor anônimo ou a trabalhadora humilde que apenas quer ler notícias que enriqueçam seu dia difícil de trabalho e não o amargurem com tanta maldade, tanto desvio de caráter, tanta miséria moral? Embora eu já trabalhasse há mais de 20 anos na imprensa e há 10 anos atuasse exclusivamente na área editorial, tendo já redigido, revisado e editado centenas de publicações, entre livros, jornais e revistas, até então eu não havia feito uma revista minha, mesmo. Para isso, para minha surpresa, precisei apenas me guiar pelo coração. O resultado disso você tem em mãos agora.

Esta primeira edição de POR UM MUNDO MELHOR traz muito do que você gostaria de ler antes de começar o seu dia: exemplos de pessoas notáveis, capazes de transformar nosso cotidiano e nossas vidas. Como exemplo, contamos a história de um jovem pobre de uma vila tão pobre quanto ele, na África, que estudou um meio de levar energia elétrica para toda a sua comunidade. Ou a história de um adolescente brasileiro que utilizou seu tempo livre para fazer uma fantasia de super-herói para alegrar crianças com câncer. Ou mesmo a história de um ex-sem-teto que teve sua vida transformada ao ver um gato faminto nas ruas, em Londres. Na seção “Perfil” desta edição inaugural, mostramos um jovem australiano que, mesmo sem braços e pernas, conseguiu ser feliz e levar uma palavra de paz, fé e esperança a milhões de pessoas em todo o mundo. Como matéria de capa, mostramos o exemplo de uma educadora carioca aposentada que conseguiu transformar as vidas de inúmeras crianças de comunidades carentes de Fortaleza (CE) ao incentivar o hábito da leitura e o comportamento ético. Esperamos que, ao tomar contato com tantas notícias dignificantes assim, você termine de ler a revista com um sentimento de que a vida também é repleta de boas notícias e pessoas admiráveis. Que este sentimento nos inspire a todos, para que possamos ser pessoas mais conscientes, tornando-nos mais aptos a contribuir para o bem coletivo e POR UM MUNDO MELHOR. Boa leitura e bem-vindo a este mundo.

EXPEDIENTE

A revista POR UM MUNDO MELHOR é uma publicação trimestral da EDITORA PALOMITAS

Projeto gráfico, designer e diagramador: Cláudio Domenech Tupinambá

CNPJ: 19.920.208/0001-57

Tratamento de imagens, logos e anúncios: Neuza Castro e Silva

Contato: revistaporummundomelhor@gmail.com Tel.: (61) 9819-9828 Fundador e editor-chefe: Paulo Henrique de Castro e Faria (RP MTb: 4136/DF) (paulo.castro.jornalista@gmail.com)

Gráfica: Teixeira

Tiragem: 1.500 exemplares Distribuição gratuita

ISSN: 2358-3207

<http://www.acessibilidadetotal.com.br/a-que-voce-e-grato>

Na sociedade global caótica de hoje, muitos acham que os bons e gloriosos modelos de vida vêm apenas de escrituras inspiradas do passado, de gestos anônimos de alteridade do dia a dia e de personalidades abnegadas em todos os tempos. Nesse contexto, a opção de revelar, sem pieguice ou sensacionalismo, sem qualquer vínculo religioso, exemplos engrandecedores de pessoas comuns, com o que há de mais precioso em nós (a bondade, o altruísmo, a humildade, o amor puro e verdadeiro...), é capaz de inspirar mudanças positivas em nossas existências. Inspiração que pode mudar, para melhor, vidas antes condenadas a um cotidiano cruel, carente de referenciais dignificantes e valores elevados, podendo desviá-las de situações vulneráveis e trajetórias equivocadas, revelando vocações de transformação social. O filósofo britânico Paul Brunton citou, certa vez, que acreditar no heroísmo gera os heróis. Da mesma maneira, acreditar na esperança propicia o surgimento de pessoas esperançosas; acreditar na bondade auxilia a vocação de pessoas bondosas, e assim por diante. Neste sentido, pode fazer a diferença em sua vida ler matérias sobre pessoas comuns que venceram medos, comodismos, convencionalismos e limitações e conseguiram, em trabalho de formiguinha, tornar este planeta um lugar melhor para se viver. Sabemos que, quando buscamos ser pessoas melhores, nós nos tornamos mais úteis à vida. Assim, tudo ao nosso redor acompanha esse crescimento de consciência, propiciando que isso se amplie para toda a coletividade.


SUMÁRIO Opinião: o impacto negativo do noticiário

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Perfil: Nick Vujicic: A vida conspira para o bem

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Adolescente vira o homem de ferro para encantar crianças doentes de hospital

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Matéria de capa: Alice Domenech Tupinambá: Resgatando valores, resgatando vidas

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Heróis de verdade

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O menino que domou o vento

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Direitos dos animais

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A necessidade do despertar interior

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Mitos e verdades da internet: o milagre da canção de um irmão

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O último sacrifício

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Ex-morador de rua vira celebridade ao largar as drogas para cuidar de um gato

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Crônica de uma vida de serviço ao próximo: Casa do Caminho

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Livro: Eu sou Malala

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Filme: A educação proibida

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Quino: Contradições

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OPINIÃO

O IMPACTO NEGATIVO DO NOTICIÁRIO ANDRÉ LIMA

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stava eu dentro de um táxi indo para o aeroporto ministrar um curso em São Paulo, enquanto o taxista ouvia um programa de rádio popular. Em poucos minutos, eu ouvi notícias de assalto, sequestro-relâmpago, acidente de carro com vítima, acidente sem vítima, engarrafamento, um caso de corrupção, o avanço da dengue, o absurdo dos impostos e mais umas coisas de que nem me lembro mais. De repente, depois de tanta negatividade, o locutor anunciou o tema de um programa que iria acontecer no final da manhã: “Como ser feliz? O que fazer para se livrar da negatividade? Como manter os pensamentos otimistas? Como encontrar a verdadeira felicidade? O que fazer para se ter uma vida mais alegre, plena? Não percam...”. Eu comecei a rir, porque parecia até piada. Depois de uma enxurrada de notícias terríveis, que, certamente, contribuíram para deixar todos ansiosos e pessimistas, o programa iria ensinar as pessoas a ser felizes.

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essa mesma tendência e precisam dar o que a maioria quer para poder ter audiência. De tanto vermos as piores notícias, vamos internalizando uma certeza cada vez maior de que o mundo é muito violento, que não tem jeito, que tudo vai se acabar, que hoje não é mais como era antigamente, que a corrupção não tem fim, que os preços estão pela hora da morte, etc.

Algumas pessoas dizem que precisamos ler as notícias para saber o que está se passando, pois temos que ver a “realidade”. Mas o que o noticiário passa não é a realidade completa. É uma parte da realidade. A pior parte dela.

Não é que coisas ruins não existam. É claro que existem. Entretanto, ficamos com uma impressão de que a realidade é muito pior do que o que realmente é, pois as notícias são selecionadas. Não importa o quanto de coisa boa aconteça: os jornais vão noticiar sempre mais notícias ruins do que boas.

O que vemos na mídia é um filtro do que acontece. Existe todo o tipo de notícia acontecendo o tempo inteiro, coisas boas e ruins. Mas, infelizmente, o ser humano, pela própria negatividade que carrega dentro de si, se sente atraído pelas más notícias. Os meios de comunicação são feitos por seres humanos que também têm

Dando um chute estatístico (é chute mesmo, pois não fiz pesquisa para isso), talvez, em média, 30% das notícias sejam boas ou neutras e 70% têm conteúdo negativo. Seria


Imagine, então, como seria se os jornais invertessem os percentuais e reservassem 80% do tempo para noticiar coisas boas: projetos, realizações, iniciativas em andamento para melhorar a saúde, educação, pessoas que alcançaram grandes objetivos, etc. Como seria a nossa percepção da realidade? Certamente, seríamos uma sociedade bem mais otimista e teríamos uma sensação maior de segurança e bem-estar, o que iria gerar mais segurança e bem-estar. Essa atração pelas notícias negativas, que provoca um misto de prazer e sofrimento, é causada pelos sentimentos negativos que nós acumulamos durante a vida. É como se o nosso sofrimento interior tivesse vida própria e desejasse se alimentar. Esse sofrimento guia muitas de nossas ações e nossos desejos e nós, de uma forma inconsciente ou semiconsciente, nos deixamos guiar por isso. A nossa negatividade interior, então, “bebe” do sofrimento das notícias e se fortalece. Observe esse processo em você e em outras pessoas, quando achamos irresistível ouvir uma notícia trágica. Nos acidentes de trânsito, vejo as pessoas andando mais devagar com o carro, atrapalhando o fluxo só para ver o acidente mais de perto. Se houver uma vítima estirada no chão, fica ainda pior. As tragédias que vemos na televisão nos deixam marcas emocionais. Não bastassem nossos próprios dramas familiares e com as pessoas próximas, acabamos por nos causar pequenos e, às vezes, grandes traumas quando absorvemos e nos emocionamos com o sofrimento de terceiros. Geramos mais raiva, tristeza, culpa e outros sentimentos para nós mesmos. A quem isso ajuda? A ninguém. Pelo contrário. Aumentando nosso sofrimento individual, estamos aumentando o sofrimento coletivo, pois nos influenciamos uns aos outros de forma involuntária. Como terapeuta, eu já precisei tratar, em alguns clientes, utilizando a EFT [“Emotional Freedom Techniques” ou Técnica de Libertação Emocional], sentimentos negativos guardados de notícias na televisão e nos jornais. O noticiário é, certamente, um grande contribuidor para o pessimismo, a depressão, o pânico e diversos outros problemas. Observe, então, o quanto nos fazemos mal, chegando a ponto de algumas pessoas precisarem levar esses traumas absorvidos para o atendimento terapêutico. Quando fui tomando consciência disso, fui me afastando cada vez mais das notícias. Já faz alguns anos que não leio jornais (só vejo

a parte de cultura e entretenimento), nem vejo noticiários de televisão. O que percebi é que não fazem a mínima falta. Comecei a dar atenção aos programas, aos livros e às notícias positivas. Isso realmente melhorou bastante meus pensamentos, que acabaram influenciando minhas ações e me trouxeram mais bem-estar.

OPINIÃO

possível se alguém quisesse criar um jornal somente com notícias horríveis, como também seria possível criar um somente com notícias ótimas. E isso teria um intenso efeito sobre como percebemos a realidade.

Antes, eu assistia a tudo e era um pessimista. Mas eu não achava isso. Dizia que eu era um realista bem informado. Realista, nada! Pois as notícias que vemos não são a realidade total, são apenas uma parte. “Não importa quantas coisas boas ocorram no mundo: os jornais vão priorizar as ruins, para vender mais” É isso que recomendo a todos. Não espere que a televisão ou o jornal mude. Comece a escolher voluntariamente o que assistir para se afastar da negatividade. Boa parte das vezes será necessário desligar a TV e não ver nada mesmo. Vão surgir pensamentos e vontades para levar você a se manter no antigo padrão. Entenda que é apenas a sua negatividade interior querendo se alimentar. Mas agora que você tem consciência disso, ficará mais fácil não ceder. Ela vai tentar lhe convencer de que você precisa estar bem informado, de que vai virar um alienado, de que é importante assistir ao noticiário. Os dois mundos existem ao mesmo tempo: o da negatividade e o das coisas positivas. A qual dos dois você quer estar mais ligado? Faça uma mudança de forma consciente para se ligar à parte positiva. Fonte: <http://www.eftbr.com.br/artigo.asp?i=228>.

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A VIDA CONSPIRA PARA O BEM

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NICK VUJICIC

Nick algumas horas antes de discursar para um estádio lotado

utor de best-sellers e palestrante aclamado em vários países, o australiano Nick Vujicic tem sido, há poucos anos, um dos mais requisitados entrevistados pela imprensa internacional. Em meio a uma avalanche semanal de mais de 8 mil perguntas da mídia mundial, além de centenas de pedidos de realização de palestras em escolas, empresas, universidades, presídios e comunidades carentes, Nick ainda encontra tempo para surfar, nadar, viajar pelo mundo e administrar suas entidades. Tudo isso seria muito natural na vida de um empresário rico ou mesmo de um ator famoso ou atleta de prestígio, mas o que torna Nick Vujicic diferente é o fato de ele ter nascido sem braços e pernas e com a vocação de transformar vidas. Portador de uma rara síndrome (a tetra-amelia), Nick deixou atrás de si um passado de limitações e rejeição social e hoje, aos 30 anos, é um exemplo de superação e no resgate de almas. Com apenas 17 anos, criou sua fundação, sem fins lucrativos, Life Without Limbs ( Vida Sem Membros ) e, tempos depois, a empresa Attitude Is Altitude ( Atitude é Altitude ). Suas palestras lotam auditórios e arregimentam uma legião de ouvintes impressionados com a força de sua mensagem de confiança nos caminhos traçados pelo destino. Ele é autor dos livros Vida Sem Limites , Indomável (publicados no Brasil pela Editora Novo Conceito) e Limitless: Devotions for a Ridiculously Good Life , ainda não editado em português. Casado e pai de um filho, Nick fez de suas limitações a grande força motriz de sua vida e ‒ mesmo perante a descrença de muitos ‒ participou de inesquecíveis aventuras, desenvolveu uma carreira excepcionalmente compensadora e viveu significativos relacionamentos amorosos. Ele conseguiu superar as provações e dificuldades de sua vida ao concentrarse na certeza de que nasceu com um propósito único e relevante, algo que a maioria das pessoas no mundo desconhece a respeito de si próprias. Nesta seção, Nick Vujicic aborda as circunstâncias de seu nascimento, sua trajetória de vida e o início de seu trabalho. Se você olha para seus próprios problemas e se pergunta: por que comigo? , Nick Vujicic pode lhe dizer que a melhor pergunta é: e por que não comigo? , numa atitude de coragem e fé perante a vida.

www.kc.uni-mb.si

PERFIL


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Minha mãe trabalhava como parteira e enfermeira pediátrica. Quando ficou grávida, ela sabia o que fazer. Seguiu dieta, evitou remédios, não consumiu álcool, nem aspirina nem outros analgésicos. Consultou-se com os melhores médicos e eles garantiram que tudo ia muito bem com a gestação. Durante a gravidez, os médicos fizeram dois ultrassons, e nada de estranho foi detectado. Assim que nasci, não deixaram que minha mãe me visse. Meu pai, que durante o parto tinha notado apenas que eu nascera sem um dos braços, vomitou e foi levado para fora da sala de parto. Chocados diante da visão do meu corpo, médicos e enfermeiras rapidamente me embrulharam em panos. Minha mãe leu a aflição no rosto da equipe médica e soube que havia algo errado. A única explicação que o médico deu foi expressa pela palavra focomelia. Minha mãe reconheceu o termo médico como a condição de má-formação congênita, em que bebês nascem com os membros pouco desenvolvidos ou até mesmo ausentes. Só fiquei sabendo dessas coisas aos 13 anos de idade, quando comecei a questionar meus pais sobre meu nascimento e a reação inicial deles à minha falta de braços e pernas. Eu tivera um dia péssimo na escola e, quando relatei minhas agruras à minha mãe, ela chorou comigo. Eu disse a ela que estava farto de não ter braços e pernas. Com lágrimas nos olhos, minha mãe me disse que ela e meu pai entenderam que Deus tinha um plano para mim e que um dia Ele o revelaria. Sua fé me permitiu ver que eu estava destinado a servir aos propósitos dEle.

Hoje, em minhas viagens pelo mundo afora, vejo situações de inacreditável sofrimento, e isso faz que eu me sinta grato por aquilo que tenho e menos propenso a me concentrar apenas no que me falta. Já vi crianças órfãs, paralíticas e com doenças paralisantes e degenerativas, mulheres forçadas a se submeter à escravidão sexual, homens presos porque eram tão pobres que sequer conseguiam pagar suas dívidas.

“Meu sonho é transformar a vida de quantas pessoas for possível” A felicidade em qualquer situação O sofrimento é universal e inacreditavelmente cruel, mas, mesmo nas piores favelas e depois das mais horríveis tragédias, meu coração se

...e na sala de aula

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O nascimento, a reação inicial de seus pais, a adaptação da família

Nick ainda criança...

alegrou quando vi pessoas que não apenas sobreviviam nesses lugares, mas também prosperavam. Coisas assim me provaram que a felicidade pode surgir em qualquer circunstância e situação, desde que depositemos nossa total confiança em Deus. Como crianças tão pobres podem sorrir? Como presidiários podem cantar com tamanha alegria? Essas pessoas transcendem as adversidades aceitando que certos eventos estão acima de seu controle e também de sua compreensão e se concentram naquilo em que conseguem acreditar e compreender. Meus pais fizeram exatamente isso. Seguiram em frente no momento em que decidiram acreditar na palavra divina de que “todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.

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PERFIL

NICK VUJICIC

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A vida conspira para o bem. Apesar das minhas limitações físicas, vivo como se não tivesse limites. Encontrei a felicidade quando entendi que, por mais imperfeito que eu seja, sou uma obra de Deus, fui criado de acordo com o plano que Ele designou para mim. Mesmo assim, sempre tento melhorar, para que possa servir melhor a Ele e ao mundo! Pense nas limitações que você mesmo impôs à sua vida ou que você permitiu que outras pessoas lhe impusessem. Agora, pense em como seria se você se visse livre dessas limitações. Como seria a sua vida se tudo fosse possível? Meus problemas físicos me propiciaram incríveis oportunidades de conhecer pessoas necessitadas e entrar na vida delas! Então, imagine só o que você pode fazer! Muitas vezes, acreditamos no que os outros dizem sobre nós ou impomos restrições à nossa própria existência. O pior é que, quando você se considera indigno, cria obstáculos ao que Deus poderia fazer por meio de você! Ele o criou por um motivo, com um propósito. Portanto, sua vida não pode ser limitada, assim como é impossível refrear o amor de Deus. Pelo fato de que somos filhos de Deus, somos perfeitamente adequados para cumprir nossos propósitos! Estou aqui para dizer que, sejam quais forem as circunstâncias, você tem uma contribuição a dar. Tenho certeza disso porque aconteceu comigo. Só de olhar para mim as pessoas podem ver que encarei e superei muitas dificuldades e muitos empecilhos. Isso faz que elas se sintam dispostas a me ouvir como fonte de inspiração

http://www.myrandomstuff.se/?p=3687

Uma mensagem de fé e confiança na vida

Ele e seu skate na infância...

e permite que compartilhe com elas a minha fé, que lhes diga que elas são amadas e que eu lhes dê esperança. Essa é a minha contribuição. É importante reconhecer seu próprio valor, saber que tem uma contribuição a fazer. Muitas vezes, são os obstáculos que nos mostram quem realmente estamos destinados a ser. A vida só nos dá o que temos condições de suportar. Para cada deficiência ou defeito que você tem, a vida o abençoou com muitas habilidades e talentos para superar seus obstáculos. Deus me equipou com uma incrível determinação e com outros dons e talentos. Mesmo sem braços e sem pernas, logo aprendi a nadar e mostrei aos meus pais que eu tinha boa coordenação motora. Uma operação e novas tecnologias me libertaram, dandome o poder de operar novas cadeiras de rodas construídas sob medida, um computador e um telefone celular.

“De vez em quando é saudável parar e olhar para o lugar em que está e se perguntar se suas ações e prioridades estão a serviço de um propósito mais elevado” A gradual passagem da infância para a adolescência Ainda muito jovem, passei por um período de depressão bastante assustador. Então, para minha eterna surpresa e gratidão, entrei na adolescência e gradualmente encontrei aceitação: primeiro a minha própria; depois, a de outras pessoas. É natural sentir-se desanimado ou deprimido, porque isso faz parte da condição de um ser humano normal. Esses sentimentos só são um perigo se você permitir que as coisas negativas fiquem na sua cabeça e tomem conta de você. Quando acreditar de verdade que foi agraciado com bênçãos – talentos, inteligência,


http://it.gloria.tv/?media=450636

...e já adulto, com Daniel Martinez

amor... – que pode compartilhar com outras pessoas, você vai começar sua jornada de autoaceitação, mesmo que seus dons ainda não sejam evidentes. Assim que der o primeiro passo de sua jornada, outras pessoas caminharão com você. Minha vida é uma aventura que ainda está para ser escrita – a sua também. Como meus pais, você provavelmente já se inquietou e se preocupou em relação ao futuro. Muitas vezes, porém, seus receios revelam-se bem menos problemáticos do que imaginava. Não é errado olhar para a frente e planejar o futuro, mas saiba que seus piores temores podem culminar em sua melhor surpresa. Talvez neste exato momento você não consiga ver a luz no fim do próprio túnel, mas saiba que meus pais também não conseguiam prever a vida maravilhosa que um dia eu teria. Não faziam ideia de como o filho deles não apenas seria autossuficiente e se dedicaria com afinco a uma carreira,

mas também seria feliz, com uma vida cheia de alegrias e propósitos! A maior parte dos temores dos meus pais jamais se materializou! Admito que, por muito tempo, eu mesmo não acreditei que tivesse algum poder sobre a minha própria história. Lutei para entender que diferença poderia fazer no mundo ou que caminho devia seguir. Eu estava convencido de que não havia nada de bom em meu corpo incompleto.

“Lembre-se: Deus ajuda quem ajuda a si mesmo” O amor e a fé dos pais como fatores determinantes para a formação de sua personalidade e da sua conscientização Quanto mais velho fiquei, mais compreendi que ser amado assim é uma bênção. Mesmo que, de vez em quando, você se sinta sozinho, tenha

em mente que é muito amado e reconheça que Deus o criou por amor. Portanto, nunca está só. O amor que Ele sente por você é incondicional, sem restrições. Lembre-se disso quando se sentir invadido por sentimentos de solidão e desespero. Quando eu era mais jovem, não conseguia evitar a sensação de ser a exceção à regra. “Por que Você não me deu pelo menos um braço?”, eu perguntava a Deus. Pense só no que eu poderia fazer com um braço! Tenho certeza de que você já passou por momentos semelhantes, em que rezou pedindo uma mudança radical na sua vida. Não existe razão para entrar em pânico se seu milagre não acontecer ou se seu desejo não se tornar realidade na mesma hora. Depende de se esforçar para atingir o propósito mais elevado para seus talentos e sonhos no mundo ao seu redor. Passei tempo demais pensando que, se meu corpo fosse normal, minha vida seria uma moleza. O que eu não percebia era que eu não precisava ser normal – simplesmente tinha de ser quem sou, o filho do meu pai, que leva a cabo o plano de Deus. No começo, eu não queria encarar o fato de que o que havia de errado comigo não era meu corpo: eram os limites que eu impunha a mim mesmo e a visão limitada que eu tinha acerca das possibilidades da minha vida. Se você não está onde queria estar ou se não realizou tudo o que espera atingir, o mais provável é que a razão resida não à sua volta, mas dentro de você. Primeiro deve acreditar em si mesmo e no seu valor. Não pode esperar isso dos outros ou ficar parado esperando que aconteça um milagre ou que apareça a oportunidade certa.

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NICK VUJICIC

Nick nadando

“Os piores momentos que testam sua fé podem ser os melhores momentos para renová-la e colocá-la em prática” A percepção de qual seria o seu verdadeiro propósito na vida

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Encontrei o caminho para meu verdadeiro propósito enquanto tentava me aproximar dos meus colegas de escola. Com o tempo, essas conversas com meus colegas sobre como enfrentar um mundo feito para dois braços e duas pernas propiciaram convites para falar a grupos de estudantes, grupos de jovens nas igrejas e outras organizações de adolescentes. Concentrei-me em dizer o que havia dentro de mim, agradecido pela oportunidade de compartilhar meu mundo e estabelecer contato com as pessoas. Sabia o que o ato de

ser “diferente” podia me ajudar a contribuir com algo especial para o mundo. Descobri que as pessoas estavam dispostas a me dar ouvidos porque bastava olhar para mim para perceber que eu tinha superado as minhas adversidades. A mim não faltava credibilidade. Instintivamente, as pessoas sentiam que eu tinha algo a dizer que poderia ajudá-las a lidar com seus próprios problemas. Deus me usou para chegar às pessoas em incontáveis escolas, igrejas, presídios, orfanatos, hospitais, estádios e auditórios. Melhor ainda: abracei milhares de pessoas em encontros cara a cara, que me permitiram dizer pessoalmente o quanto elas são preciosas. Sinto enorme prazer em garantir às pessoas que Deus tem um plano para a vida delas.

falar fazia por mim, mas demorei a perceber que as coisas que eu tinha a dizer podiam afetar as pessoas. Um dia, discursei para um grupo de 300 adolescentes, provavelmente a plateia mais numerosa que eu já tivera até então. Compartilhava com eles meus sentimentos e minha fé quando algo maravilhoso aconteceu: uma menina da plateia começou a soluçar. Não sei ao certo o que aconteceu. Fiquei espantado quando ela teve a coragem de levantar a mão e pedir a palavra, apesar da tristeza e das lágrimas. Bravamente, perguntou se podia ir até o palco para me abraçar. Fiquei perplexo. Convidei-a para subir ao palco. Ela enxugou as lágrimas enquanto caminhava na minha direção e, então, deu-me um forte abraço, um dos melhores da minha vida. A essa altura, todo mundo estava com os olhos rasos de água, inclusive eu. Mas perdi de vez o controle quando sussurrou o seguinte ao meu ouvido: “Ninguém jamais me disse que sou bonita do jeito que sou. Ninguém jamais disse que me amava. Você mudou a minha vida e também é uma pessoa bonita”.

O encontro de Nick Vujicic com Daniel Martinez

Uma circunstância marcante

Deus usou o meu corpo incomum e me

Até aquele momento, eu ainda questionava o meu próprio valor. Eu me via como alguém que simplesmente dava palestras despretensiosas como um modo de me entrosar com outros adolescentes. Ela deu-me a primeira noção de que a minha fala podia ajudar outras pessoas e mudou o meu modo de ver as coisas. Experiências como essa me ajudaram a entender que

“Naquele momento, que mudou minha vida, compreendi que eu tinha me transformado no milagre pelo qual eu tanto orava”

NoahHamiltonPhoto.com

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PERFIL

A surfista profissional Bethany Hamilton, que perdeu seu braço esquerdo em 2003, após o ataque de um tubarão, ensina Nick a surfar no Havaí, em 2008. A experiência e a superação de Bethany deram origem ao filme Coragem de Viver ( Soul Surfer ) (2011), de Sean McNamara


certeza a minha vida não seria em vão. Eu estava e estou determinado a dar a minha contribuição. E você tambÊm deve acreditar no seu poder de fazer o mesmo. A vida sem um propósito não tem sentido. Se você encontrar uma maneira de contribuir com o outro, vai encontrar sentido e propósito na sua

Uma congregação em silĂŞncio Convidei os pais de Daniel para subir com ele no pĂşlpito. Eu disse: “NĂŁo existem coincidĂŞncias na vida. Cada vez que respiramos, cada passo que damos, tudo ĂŠ determinado por Deus. NĂŁo ĂŠ coincidĂŞncia que hoje, nesta http://eranga2p.blogspot.com.br/2011/02/imagine-being-born-without-arms.html

investiu da capacidade de encorajar os espíritos e animar os coraçþes. Poucos anos atrås, aconteceu algo que me confirmou que eu tinha escolhido o caminho certo. Eu me dirigi a uma igreja da Califórnia para pregar. Seria o meu primeiro discurso para os paroquianos da Avenida Knott e não achei que soubessem muita coisa ao meu respeito. Fiquei surpreso ao ouvir alguÊm me chamando. Não reconheci a voz e nem sabia se era mesmo comigo, mas, quando me virei, vi um senhor de idade avançada acenando para mim. Ao ter a minha atenção, apontou para um rapazinho sentado ao seu lado e que parecia segurar um bebê. O homem ergueu o bebê para que eu o visse melhor. Então, eu me senti invadido por uma sensação tão intensa que, se tivesse pernas, elas teriam ficado bambas. O menino de olhos brilhantes era exatamente como eu. Sem braços. Sem pernas. Não tinha sequer um pezinho esquerdo como o que eu tenho. Embora tivesse apenas 19 meses de idade, era exatamente como eu. O nome dele era Daniel Martinez. Então, tive uma revelação, que me proporcionou uma sensação de calma. Quando era criança, não havia ninguÊm com quem eu pudesse compartilhar minha situação, que me guiasse, mas agora Daniel tem alguÊm. Posso ajudålo. Meus pais podem ajudar os pais dele. Ele não precisa passar pelo que passei. E, então, pude ver claramente que, por mais difícil que seja viver sem braços e sem pernas, a minha vida ainda tem valor e utilidade. Em mim não faltava nada que me impedisse de fazer a diferença no mundo. Minha alegria seria encorajar e inspirar outras pessoas. Mesmo se não mudasse o planeta tanto quanto eu gostaria, com

Nick realizando uma missĂŁo humanitĂĄria na Ă?ndia...

existência. A visão daquele menino tão parecido comigo foi uma poderosa confirmação da diferença que eu poderia fazer na vida de tantas pessoas, em especial de gente enfrentando tremendas adversidades, como Daniel e seus pais. O encontro foi tão instigante que tive de dividir com a congregação o que eu via e sentia.

³2¿FLDOPHQWH VRX GH¿FLHQWH mas na realidade a ausência de braços e pernas me deixou EDVWDQWH H¿FLHQWH´

igreja, haja outro menino sem braços e sem pernasâ€?. Quando disse isso, Daniel abriu um sorriso radiante e banguela, que cativou todos os presentes. A congregação ficou em silĂŞncio quando o pai do menino o ergueu ao meu lado. Aquela imagem – um rapaz e um bebĂŞ com as mesmas adversidades, sorrindo um para o outro – provocou uma onda de choro na plateia. Ao refletir sobre a minha infância, lembrei de meu sofrimento. Mas em comparação Ă infinita misericĂłrdia, Ă glĂłria e ao poder de Deus que eu sentia por causa daquele momento com Daniel,

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PERFIL

NICK VUJICIC

Reconhecer qual é o seu propósito na vida significa tudo

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Você recebe as maiores recompensas da vida quando é generoso, quando se doa sem pedir contrapartida. A ideia é melhorar a vida das pessoas, ser parte de algo maior do que você mesmo e fazer uma diferença positiva. Não acredito que alguém possa se sentir realmente realizado a menos que ajude os outros. Cada um de nós espera usar os próprios talentos e conhecimentos para conseguir outros benefícios que vão muito além de apenas pagar as contas do mês. A essência da vida não é ter, mas ser. Você pode se cercar de tudo aquilo que o dinheiro pode comprar e mesmo assim se sentir um

http://izilol.com/nick-vujicic-has-a-son-11-pics-23873.html

http://www.ideanakhebat.com/2012_06_01_archive.html

minha dor de repente ficou insignificante. Eu sabia que Deus tinha colocado aquela criança no meu caminho para que eu pudesse aliviar o fardo dela. Naquele momento, que mudou minha vida, compreendi que eu tinha me transformado no milagre pelo qual eu tanto rezava. Deus não tinha me dado a graça divina. Em vez disso, fez de mim o milagre de ...e uma missão evangelizadora na África Daniel. No mesmo dia, quando a mãe dele me abraçou, ela ser humano completamente infeliz. me disse que era como avançar alguns Conheço pessoas de corpo perfeito anos no futuro e abraçar seu próprio que não conheceram metade da filho, já adulto. Ela falou: “Você não felicidade que conheci. Em minhas faz ideia! Eu orava e pedia a Deus que me mandasse um sinal de que Ele não tinha nos esquecido, nem a mim nem ao meu filho. Você é um milagre. É o nosso milagre”.

jornadas, vi mais alegria nas favelas de Mumbai e em orfanatos da África do que em condomínios fechados e gigantescas mansões que valem milhões de dólares. Resista à tentação de se prender a objetos materiais como a casa perfeita, as roupas da moda ou o carro mais bacana. Quando você procura a felicidade em meros objetos, eles nunca são suficientes. Olhe à sua volta. Olhe para dentro de si mesmo. A experiência de entrar em contato com a família de Daniel serviu para me lembrar qual é a minha missão na Terra. Naquele dia, oferecemos a ele um raro presente, mas o encontro propiciou-me algo ainda melhor: um inigualável sentimento de realização, ao perceber sua alegria. Nenhum carro de luxo, nenhuma mansão, nada se compara à sensação de cumprir seu destino e agir conforme o plano de Deus. Reconhecer qual é seu propósito na vida significa tudo. Garanto que você também tem alguma contribuição a dar. Talvez não consiga ver isso agora, mas, se não fosse verdade, não estaria no planeta. Sei com absoluta convicção que Deus não comete erros, mas faz milagres. Eu sou um. Você também é. Texto reproduzido a partir de trechos de Vida Sem Limites e de uma conversa, ocorrida em outubro de 2012, entre Nick Vujicic e Mike Bundrant, cofundador do iNLP Center e apresentador do programa Mental Health Exposed, da Natural News Radio (http://www.naturalnews.com/037686_ nick_vujicic_life_without_limbs_interview.html).

Nick, sua esposa e seu filho


ADOLESCENTE VIRA O HOMEM DE FERRO PARA ENCANTAR CRIANÇAS DOENTES DE HOSPITAL

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esde que viu o filme do Homem de Ferro, aos 12 anos de idade, Leonardo Boa Sorte, hoje um estudante de 17 anos do terceiro ano do ensino médio da cidade de Montes Claros (MG), decidiu que um dia iria montar a armadura de seu super-herói preferido. Em vez de combater inimigos dos quadrinhos, este super-herói mineiro decidiu fazer o bem de outra maneira: fazendo a alegria de pacientes mirins da ala infantil do setor de oncologia da Santa Casa de Montes Claros. Para conceber, desenhar e fabricar a “armadura”, feita de papel-cartão, Leonardo precisou de apenas R$ 200,00 e 20 dias de trabalho durante as férias. Em visita ao hospital, o herói chamou a atenção das crianças internadas, que não largaram a mão da armadura. Até os funcionários e os pais que estavam no hospital se encantaram e tiraram fotos com o herói. Para a terapeuta ocupacional Iara Cyrino, a presença do personagem é uma motivação e ajuda no desenvolvimento do estado de saúde das crianças. O jovem afirma que ver a armadura completa foi a realização de um sonho e que as noites em claro valeram a pena. “Esse reconhecimento [das crianças, dos pais acompanhantes e dos funcionários do hospital] para mim é como se fosse um troféu”, conta o estudante.

http://www.santacasamontesclaros.com.br/\Record Minas

A CURA PELA ALEGRIA

O super-herói posa com jovem paciente da Santa Casa de Montes Claros (MG): a alegria como incentivo à cura de crianças na ala de câncer da instituição O estudante mineiro Leonardo Boa Sorte, concebendo o primeiro esboço de sua obra

Leonardo acredita que, quando estiver cursando uma faculdade, vai ter mais conhecimento para desenvolver uma nova versão da armadura, de maior qualidade e com outras funções. Ele pretende tentar vestibular para engenharia elétrica ou mecatrônica e afirma que vai continuar o trabalho voluntário nos hospitais. Boa sorte para o nosso super-herói. Confira o vídeo: <http://videos.r7.com/homem-de-ferro-donorte-de-minas-motiva-criancas-em-hospital/idmedia/5239f97d 0cf21c4964252261.html>. Fonte: <http://noticias.r7.com/minas-gerais/> (com adaptações).

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MATÉRIA DE CAPA

RESGATANDO VALORES, RESGATANDO VIDAS

ALICE DOMENECH TUPINAMBÁ

Aula de música para a criançada

PAULO CASTRO Com um enredo que traz a proposta simples e inusitada de recuperar os princípios fundamentais que estão na base da família e da sociedade (como a ética, o respeito, a educação filial e a cidadania), uma contadora de histórias, que sonhava incentivar o hábito da leitura para crianças desassistidas, fundou a associação Revarte (Resgate de Valores pela Arte), que se tornou uma referência para milhares de famílias cearenses e para o País. Com ingredientes assim, que já seriam essenciais para uma grande história de ficção, Alice Domenech Tupinambá tem reescrito muitas narrativas reais de dificuldade, penúria e omissão estatal e familiar em finais felizes repletos de casos de superação

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ra uma vez uma terra não tão distante, onde milhares de famílias e suas crianças viviam e ainda vivem à margem da cidadania e de seus direitos constitucionais. Era uma vez também uma professora aposentada que sentia um vazio interior, ao perceber que a distância das salas de aula e de suas crianças precisaria ser resolvida com a sua presença em algumas histórias dignas de figurarem em narrativas verdadeiras de carências e de vitórias improváveis. Filha de pais espanhóis, Alice Domenech Tupinambá, 78 anos, nasceu no Rio de Janeiro e trabalhou como professora por 30 anos, até se aposentar, em 1985. Em 1992, saiu de sua terra natal e mudou-se para Fortaleza (CE), pois

seu marido (hoje falecido), José Francisco Nogueira Tupinambá, que era desenhista de propagandas, havia sido transferido para a capital cearense. Juntos, eles constituíram uma família de sete filhos e 12 netos. Ela – que tinha toda uma vida ligada à educação tradicional de antigamente, cujo currículo básico apresentava disciplinas como latim e música – sentia-se preocupada com a falta de diálogo nas famílias e a precária escolarização, resultados diretos de famílias sem a presença paterna ou com histórico de alcoolismo e maus-tratos à infância. Segundo ela, problemas assim são alguns dos fatores responsáveis por mazelas sociais como a desestruturação familiar, a evasão escolar, a presença de crianças em situação de vulnerabilidade social, o subemprego, a prostituição infantil, a aventura perigosa e muitas vezes fatal do vício das drogas e o consequente empobrecimento da população brasileira. Durante a busca de se sentir útil para tanta privação que ela via, sobretudo em meio à grande periferia de Fortaleza, Alice Tupinambá começou a fazer um curso de francês. Sem que ela soubesse, aquele seria o começo do seu trabalho social.


O inĂ­cio: a favela do Alecrim Um dia, uma amiga do curso chamou Alice para ir com ela atĂŠ a favela do Alecrim, para doar pĂŁes Ă população carente que frequentava uma igreja da comunidade. Alice lembra bem do que pensou quando recebeu o convite: “eu nĂŁo gosto de assistencialismo, porque isso ĂŠ uma maneira disfarçada de lavar as mĂŁos, de aliviar a consciĂŞncia e evitar fazer um trabalho mais abrangente, mais verdadeiro, mas fui atĂŠ lĂĄ com elaâ€?. Quando ambas chegaram Ă igreja, Alice ficou chocada com o estado das crianças: estavam quase todas em estado de penĂşria e desnutridas. Alice começou a contar histĂłrias para elas e a receptividade foi tanta que ela retornou outras vezes para alegrar a criançada com suas narrativas. O grupo foi crescendo, mas Alice percebeu que estava atrapalhando a igreja, porque a movimentação de crianças era grande. Havia trĂŞs salas, sĂł com o telhado e as paredes sem acabamento. Ela chamou, entĂŁo, o pessoal da igreja e lhes perguntou: “se eu terminar a obra dessas salas, vocĂŞs me deixam fazer um trabalho com as crianças?â€?. Responderam: “claroâ€?.

“Os valores que compartilho com as crianças sĂŁo aqueles que estĂŁo perdidos na sociedade de hoje. Muitos pais nĂŁo tratam as crianças com um diĂĄlogo instrutivo. DĂŁo ordens, mandam fazer o trabalho de casa e nĂŁo se sentam com elas para elogiar, perguntar sobre seus sentimentos, dizer que elas sĂŁo mais importantes do que a roupa que usam. NĂłs nĂŁo estamos buscando o ‘ser’. NĂłs estamos perdidos no ‘ter’. Inicialmente, quando as crianças FKHJDP HODV VH PRVWUDP PHLR GHVFRQÂżDGDV 6HQWDP H HX ÂżFR ROKDQGR R TXH HODV WrP GH ERQLWR H HORJLR 1LQJXpP deve ter dito isso para elas. Ă€s vezes, vou mexer no cabelo das crianças e elas se afastam. É porque esse gesto nĂŁo VLJQLÂżFD FDULQKR SDUD HODV VLJQLÂżFD DJUHVVmR SHOR histĂłrico familiar que muitas tĂŞmâ€?. EntĂŁo, ela foi conseguindo tudo com os amigos: comida, materiais... Fez uma biblioteca, arranjou cinco mĂĄquinas de costura, conseguiu um professor voluntĂĄrio para aulas de canto e de mĂşsica... PorĂŠm, um dia, alguns paroquianos pediram para Alice nĂŁo deixar certas crianças frequentarem o espaço, pois algumas nĂŁo assistiam Ă missa ou tinham outra religiĂŁo. “Um menininho nĂŁo podia ir porque era espĂ­rita, o outro ia, mas faltava Ă missa. Fiquei chateada. Meu intuito era trabalhar com as crianças. NĂŁo interessa se o indivĂ­duo ĂŠ religioso ou ateu. Cada um tem a sua forma de ver Deus. É como os Ăłculos: cada um enxerga de uma forma diferente. E existem pessoas que nĂŁo veem Deus.

NĂŁo hĂĄ motivo para discriminar. JĂĄ vi pessoas que se diziam religiosas e tinham um comportamento lamentĂĄvel. É sĂł a forma de ver. NĂŁo se deve considerar se uma estĂĄ certa e a outra estĂĄ errada. NĂŁo quero saber de partido, de cor, de religiĂŁo. Eu quero transformar as vidas das crianças e agora estou tendo atĂŠ adultos lĂĄ. O grupo aumentou e se tornou variadoâ€?, afirmou Alice.

A semente da Revarte: a biblioteca Monteiro Lobato Devido à situação insustentåvel que se formou na igreja, Alice saiu de lå e ficou sabendo que havia uma casa do Grupo de Apoio às Comunidades Carentes, situada no Conjunto Alvorada, que estava abandonada. Alice foi atÊ lå e

Alice Domenech: diålogo, leitura, atitude inclusiva e respeito para mudar realidades duras de muitas crianças

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MATÉRIA DE CAPA explicou ao responsĂĄvel do grupo que ela tinha um projeto e um grupo de crianças, mas nĂŁo tinha onde ficar. O responsĂĄvel a ouviu e simplesmente lhe entregou a chave da casa e lhe disse que nĂŁo precisava pagar nada pelo aluguel do espaço. Alice foi toda feliz para conhecer o local e, quando chegou, descobriu que a casa estava em ruĂ­nas, em um estado lamentĂĄvel, sem qualquer estrutura e com um inĂ­cio de obra que precisava ser concluĂ­da.

“A Revarte ĂŠ mĂĄgica: ĂŠ o Ăşnico lugar onde as coisas caem do cĂŠuâ€?. De novo, com a ajuda de amigos, ela concluiu a obra. Conseguiu ainda o auxĂ­lio de uma ilustradora, que pintou as paredes do local com temas de contos infantis. “Meu sonho era montar uma biblioteca pĂşblica, porque me preocupavam muito a falta de diĂĄlogo na famĂ­lia e a pouca leitura das crianças. Eu sabia, pela minha experiĂŞncia como educadora, que muitos problemas do ser humano, sobretudo na infância, poderiam ser resolvidos com diĂĄlogo, uma atitude inclusiva e muito respeito pelo prĂłximoâ€?, afirmou.

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Depois, Alice arrumou livros, revistinhas, brinquedos, instrumentos musicais, alimentos, materiais diversos, tudo com seus próprios recursos, com doaçþes e com a ajuda de poucos amigos. Desde então, 20 anos se passaram. O projeto cresceu, assim como a quantidade de voluntårios e cursos oferecidos, alÊm do número de jovens e adultos beneficiados: centenas deles! Talentos precoces

ALICE DOMENECH TUPINAMBĂ

A educadora e alguns membros da equipe

despontaram na música, no xadrez e em outras atividades. Alunos de música são convidados para tocar em eventos e muitos jovens conseguem bolsas de estudo, concedidas por frequentadores do espaço, sensibilizados pela situação familiar paupÊrrima de muitas crianças. Cerca de 2.030 jovens estão cadastrados como leitores da biblioteca, que possui aproximadamente 20 mil títulos. Aulas de desenho, artesanato, teatro e inglês tambÊm são oferecidas, assim como sessþes de acompanhamento psicológico, socialização e orientação mÊdica. Com o tempo, Alice tambÊm conseguiu para a entidade a posse definitiva do imóvel e recebeu da prefeitura a autorização de ampliar o projeto para a Praça do Chafariz, onde a professora planeja construir quadras esportivas, seu sonho atual.

â€œĂ‰ uma alegria imensa saber que, apesar de tudo, vocĂŞ pode contribuir com alguma coisa, mudar a vida de alguĂŠm. Os meninos pelos quais nĂŁo pudemos fazer nada, que se perderam nas estradas tortas do destino, nĂŁo seria tĂŁo bom se as vidas GHOHV WLYHVVHP VLGR GLIHUHQWHV" 6HPSUH H[LVWH XPD lĂĄgrima derramada pelos que nĂŁo conseguimos ajudar, nĂŁo tem jeito. Mas existem coisas muito JUDWLÂżFDQWHV PXLWR PHVPR´ O foco do trabalho: o resgate dos valores fundamentais do indivĂ­duo Quando ĂŠ questionada sobre quantas crianças a Revarte jĂĄ ajudou nestes 20 anos de projeto, Alice desconversa: ela nĂŁo tem a menor ideia de quantas centenas de jovens tiveram suas vidas modificadas. Transformaçþes, aliĂĄs, que impactaram decisivamente, para melhor, na qualidade de vida de suas famĂ­lias.


BĂĄrbara de FĂĄtima do Nascimento Pereira (24 anos):

Lucas Vital (14 anos):

“Descobri a Revarte ainda criança. Na ĂŠpoca, nĂŁo tĂ­nhamos local para RV HQVDLRV 6HPSUH JRVWHL GH OHU PDV sĂł lia gibis. Foi a tia Alice Domenech quem me mostrou o universo dos livros. Tenho muito o que agradecer Ă Revarte e Ă sua equipe, por terem me ajudado a ser uma pessoa melhor. Principalmente Ă tia Alice, por DFUHGLWDU H FRQÂżDU WDQWR HP PLPâ€?.

“Quando eu entrei na Revarte, LD ID]HU DQRV 6y HQWUHL SRU causa das minhas irmĂŁs, que DOXJDYDP OLYURV Oi $t IXL ÂżFDQGR atĂŠ conhecer a fundadora desse impĂŠrio: Alice Domenech. Lembro atĂŠ da data, ou melhor, me lembro de todas as datas desde que nasci. Parece que tenho um calendĂĄrio imaginĂĄrio na minha cabeça. Virei um grande amigo da Alice. Com o tempo, consegui uma bolsa para estudar num colĂŠgio SDUWLFXODU 6RX JUDWR j 5HYDUWH por ter me dado essa chance e todas as outras. A Revarte ĂŠ uma verdadeira famĂ­lia para mimâ€?.

Ainda criança carente, Bårbara surpreendeu Alice Domenech ao dizer à educadora que ela queria ser engenheira química quando fosse adulta. Hoje, Bårbara cursa o 4º ano de Química Industrial na Universidade Federal do Cearå (UFC), Ê voluntåria no Laboratório de Produtos Naturais (LPN) e bolsista de iniciação acadêmica na Seara da Ciência/UFC.

Ă?talo de Oliveira Sousa (12 anos): “Em 2011, eu entrei e me inscrevi na Revarte. Um mĂŞs depois, entrei nas DXODV GH Ă€DXWD 'HSRLV FRPHFHL D fazer percussĂŁo. Eu sempre gostei GH P~VLFD H DPR YLROLQR 6HPSUH quis ter um e aprender a tocar. Faço muitas invençþes. Quero ser FRPSRVLWRU RX FLHQWLVWD 6H SXGHU eu vou ser os dois. Bem, essa ĂŠ a minha histĂłria, e ela continua, como a sua tambĂŠm...â€?. Artista promissor, Ă?talo ĂŠ um gĂŞnio precoce na mĂşsica.

Desde muito jovem, Lucas ĂŠ um talento na escrita. Ele costuma surpreender as pessoas com suas narrativas imensas, verdadeiros projetos de livros futuros. Alice Domenech ajudou a canalizar sua capacidade criativa. O maior sonho dele ĂŠ ser escritor e jornalista.

Apesar disso, a educadora guarda de cabeça e no coração os nomes de muitos talentos que brilharam pelas suas mĂŁos (veja alguns em destaque). Por fim, Alice ressalta um dos principais focos do projeto: “O que eu exijo ĂŠ ĂŠtica. É como vocĂŞ se porta, como vocĂŞ respeita o outro. Eu digo o tempo todo que nĂŁo existem diferenças entre as pessoas. Se ĂŠ dinheiro, ele acaba. Se ĂŠ juventude, acaba. Se ĂŠ beleza, acaba tambĂŠm. Tudo acaba! EntĂŁo, qual ĂŠ a diferença realmente entre as pessoas? É a educação, mas tambĂŠm a ĂŠticaâ€?, finaliza, como uma sĂ­ntese de sua obra de vida. Colaboração: LĂşcia Cardoso / Fotos: Bia Cardoso / Foto da capa: MarĂ­lia Camelo/DiĂĄrio do Nordeste

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A ARTE DE SABER VIVER

HERÓIS DE VERDADE ROBERTO SHINYASHIKI

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m dos principais motivos de angústia da competitiva vida moderna é a sensação de lutar intensamente e ainda assim não dar conta de tudo o que precisa ser feito. As pessoas trabalham como loucas, mas nunca conseguem o retorno desejado. Amam seus filhos, mas se sentem culpadas por não estar com eles tanto quanto gostariam. Amam o companheiro, mas não têm energia para desfrutar desse amor após uma longa jornada de trabalho. Desejam permanecer atualizadas, mas não conseguem ler os livros e as revistas que compram. É como se vivêssemos correndo sobre uma esteira ergométrica na academia: muito esforço para não chegar a lugar algum. Nunca se viu, em toda a história da humanidade, um culto ao ego tão exacerbado como o de hoje. As pessoas desenvolvem a necessidade de fingir que sabem tudo, ganham todas e acertam sempre. Cada vez mais, exige-se que a pessoa mostre o que não é, fale o que não sabe e exiba o que não tem. Neste mundo de ostentação, as pessoas se encontram mas não se relacionam, trabalham mas não se realizam e, principalmente, vivem sem conhecer a própria alma.

As pessoas tentam ser super-heróis e acabam se tornando superdepressivas. Na tentativa de parecer ser e ter o máximo, acabam vivendo com o mínimo. O mínimo de paz de espírito. O mínimo de amor. O resultado dessa busca neurótica é um vazio insaciável, pois ninguém consegue viver a ilusão de ser o máximo por muito tempo. Uma hora a máscara cai, e o super-herói volta a ser simplesmente um ser humano. Nesse momento, alguns não conseguem seguir adiante e fazem bobagens. Decorre disso o aumento no número de pessoas com depressão, casos de suicídio, de usuários de drogas, de viciados de todos os matizes. As pessoas precisam voltar a aprender como se enfoca um problema, como se trabalha em cima de uma dificuldade, como se estimula a superação. Vejo que existe bastante um discurso equivocado de muitos livros de autoajuda, que dizem: “é trabalhar duro”. A pessoa que está carregando lixo nos aterros sanitários vai trabalhar duro, muitas horas por dia, pode morrer de inanição, mas não vai resolver sua questão em particular se não desenvolver competências específicas do coração. De uma maneira geral, o mundo atual carece de pessoas admiráveis. Existem muitas pessoas espetaculares que estão escondidas nos laboratórios, nas empresas, nas ruas, na maioria das vezes de forma anônima, invisíveis, distantes da mídia. Por causa disso, acaba havendo uma divulgação dos exemplos dos anti-heróis, que servem de espelho para muitas outras pessoas carentes de referenciais admiráveis. A gente deveria colocar a vida no centro, não a empresa, não as políticas, mas sim a vida, e não só a vida humana, a vida animal, a vida vegetal, a vida. O mundo procura os super-heróis, mas nós precisamos mesmo é valorizar os heróis do dia a dia. Em vez da


todos os dias de sua vida. Podemos construir uma vida com significado, baseada nos sentimentos do coração, sem a preocupação de competir sempre.

Os heróis de verdade são aquelas pessoas que fazem o seu trabalho honesto com dignidade. Eu tenho um amigo cuja mãe ficou viúva, e ele era o caçula de três filhos. O pai deixou várias dívidas e, sem recursos de qualquer espécie, a mãe teve de ir para uma favela. E a mãe, com três filhos, fez que eles se tornassem pessoas com dignidade, valores, ética. Uma mulher como esta é mais admirável do que qualquer top model de capa de revista. A explicação para isso é simples: porque ela conseguiu construir não só o trabalho dela, mas a vida dos três filhos, que poderiam ter se perdido nos erros do mundo.

Os heróis de verdade são as pessoas comuns do dia a dia que vivem a sua essência. Gente comum que consegue se realizar com muita simplicidade, sem barulho nem fogos de artifício. Gente que não abre mão de seus valores e cria os filhos com alegria e dignidade. Gente que não precisa gritar para ser ouvida. Gente que não foge de sua vocação para ganhar mais dinheiro. Pessoas que, em vez de se mirar em celebridades e buscar o sucesso a qualquer preço, constroem suas vidas com base nos conselhos de seus corações. Pessoas que valorizam a essência, não a aparência.

O mundo procura os super-heróis, mas nós precisamos mesmo é valorizar as pessoas simples do cotidiano . Algum tempo atrás, eu fui entrevistado e a jornalista me perguntou: “Roberto, você se sente um homem de sucesso quando seus livros estão na lista dos mais vendidos, quando você ministra palestras para milhares de pessoas, quando as pessoas lhe pedem autógrafo?”. Eu respondi: “não, eu me sinto um homem de sucesso quando volto para casa, minha mulher me beija e meus filhos me abraçam”. As pessoas, em sua maioria, vivem com depressão, não sabem dar um beijo no filho, não sabem sorrir... Só pensam em ganhar e gastar dinheiro, mas, na verdade, são muito pobres em termos de valores. Existem, no entanto, pessoas que seguem o coração e acordam felizes com a oportunidade de viver mais um dia. Trabalham com competência, amam com generosidade, pois sabem que a plenitude da vida está na descoberta de quem somos, no aprendizado corajoso de ser quem somos e na capacidade de empreender essas descobertas. Afinal, assumir nossos sentimentos exige muita coragem em uma sociedade que nos pressiona para sorrir o tempo todo. Assumir nossos erros exige muita coragem em um mundo que parece feito de pessoas que sempre ganham todas. Assumir nossa ignorância exige muita humildade neste mundo de quem sabe tudo. Mas tenho a certeza de que, se acreditarmos que é possível, poderemos construir um mundo em que todos simplesmente sigam sua vocação, sem se preocupar em superar as outras pessoas

A ARTE DE SABER VIVER

celebridade na capa da revista, deveríamos valorizar a professora de ensino fundamental, a enfermeira do hospital público, o bombeiro, que expõe seu corpo ao perigo... Precisamos valorizar as pessoas simples do cotidiano, porque são elas que criam um lugar melhor para a gente viver.

A única maneira de se ter uma vida harmônica é ter uma vida baseada em valores. Os valores são mais importantes do que os objetivos. É fundamental que os pais ensinem isso, que as escolas ensinem. A nossa sociedade valoriza mais os objetivos do que os valores. Por causa disso, vê-se o caos que impera no mundo. Os valores (como a busca da verdade, o amor, a cooperação, a compaixão, o perdão, a solidariedade) fazem a sua personalidade, a sua alma, a sua estrutura de vida ficar mais forte. Isso permite que os sonhos verdadeiros, que são aqueles realmente essenciais para nossas vidas, se materializem. O equilíbrio nasce do respeito aos valores. Fonte: Heróis de verdade: pessoas comuns que vivem sua essência , de Roberto Shinyashiki (com adaptações).

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http://matsuhiro.blogspot.com.br/2009_10_01_archive.html

DRIBLANDO AS LIMITAÇÕES

O MENINO QUE DOMOU O VENTO Com dois livros de física elementar, um monte de lixo e a energia eólica, jovem abastece lâmpadas e celulares em sua vila no interior da África

William Kamkwamba mostra sua torre de energia, que carrega celulares e acende luzes em sua vila no Maláui, na África http://matsuhiro.blogspot.com.br/2009_10_01_archive.html

RICARDO SANTOS

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scondido entre Zâmbia, Tanzânia e Moçambique, o Maláui é um país rural com 15 milhões de habitantes. A três horas de carro da capital, Lilongwe, a vila de Wimbe vê um garoto de 14 anos juntando entulho e madeira perto de casa. Até aí, novidade nenhuma para os moradores. A aparente brincadeira fica séria quando, dois meses depois, o menino ergue uma torre de cinco metros de altura. Roda de bicicleta, peças de trator e canos de plástico se conectam no alto da estrutura e, de repente, o vento gira as pás. Ele conecta um fio, e uma lâmpada é acesa. O menino acaba de criar eletricidade. O menino e a importância de suas descobertas cresceram. William Kamkwamba, aos 23 anos, já foi convidado para programas de TV para conceder entrevistas, deu palestras no Fórum Econômico Mundial, tem site oficial, uma autobiografia – “The Boy Who Harnessed the Wind” (“O Menino Que Domou o Vento”) – e um documentário a caminho. O pontapé de tamanho sucesso se deve a uma junção de miséria, dedicação, senso de oportunidade e uma oferta generosa de lixo, ingredientes comuns a inúmeros lugares do planeta. Uma seca terrível no ano 2000 deixou grande parte da população do Maláui em situação desesperadora. Com as colheitas reduzidas drasticamente, as pessoas começaram a passar fome. “Meus familiares e vizinhos foram forçados a cavar o chão para achar raízes, cascas de banana ou qualquer outra coisa para forrar o estômago”, diz Kamkwamba. A miséria o impediu de continuar na escola, que exigia a taxa anual de US$ 80,00. Se sua história seguisse a lógica que vitima


DRIBLANDO AS LIMITAÇÕES

http://www.profumo.it/mali/english/04_the_boy_who_harnessed_the_wind.htm

http://siteseblogs.com/2012/05/como-domar-vento-william-kamkwamba

William e sua instalação de energia em casa. Atrás dele, sobre a cama, estão os livros que ele usou para sua invenção

A invenção de Kamkwamba atraiu a atenção da imprensa local

muitos rapazes na mesma situação, o destino dele estaria definido: “Se você não está na escola, vai virar um fazendeiro. E um fazendeiro não controla a própria vida; ele depende do sol e da chuva, do preço da semente e do fertilizante, etc.”, afirmou Kamkwamba. Para escapar dessa sentença, ele começou a frequentar uma biblioteca comunitária a 2 km de sua casa. No meio de três estantes com livros doados pelo Reino Unido, pelos EUA, por Zâmbia e pelo Zimbábue, Kamkwamba encontrou obras de ciências. Em particular, dois livros de física. O primeiro explicava como funcionam motores e geradores. “Eu não entendia inglês muito bem; então, associava palavras e imagens e aprendi física básica”. O outro livro se chamava “Usando Energia”, que continha imagens de moinhos

na capa e afirmava que eles podiam bombear água e gerar eletricidade. “Bombear um poço significava irrigar, e meu pai podia ter duas colheitas por ano. Nunca mais passaríamos fome! Então, decidi construir um daqueles moinhos”, disse o jovem. “Você está ficando maluco!”, era isso que Kamkwamba ouvia enquanto carregava sucata e canos para seu projeto. “Não consegui encontrar todas as peças para uma bomba

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“Conseguimos energia para quatro lâmpadas, e as pessoas começaram a vir carregar seus celulares”, lembrou ele. No Maláui, a companhia telefônica se recusou a fornecer infraestrutura para as vilas, e as empresas de celulares chegaram com torres de transmissão e baratearam os aparelhos. Por isso, hoje há mais de um milhão de aparelhos celulares no país, uma média de oito para cada cem habitantes.

Ninguém cometeu maior erro do que aquele que não fez nada só porque podia fazer muito pouco (Edmund Burke)

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http://www.profumo.it/mali/english/04_the_boy_who_harnessed_the_wind.htm

DRIBLANDO AS LIMITAÇÕES

d’água, então passei a produzir um moinho que gerasse eletricidade”. Seu primo Geoffrey e seu amigo Gilbert o ajudaram, e após dois meses as pás giravam. O gerador era um dínamo de bicicleta que produzia 12 volts, suficientes para acender uma lâmpada. As pessoas próximas a ele só acreditaram em sua conquista quando ele ligou um rádio, que na hora tocou reggae nacional. “Fiquei muito feliz. Finalmente, as pessoas reconheceram que eu não estava louco”, comemorou o rapaz.

Kamkwamba é chamado para um programa de entrevistas

A história chegou aos ouvidos do diretor da ONG que mantinha a biblioteca. Ele trouxe a imprensa, e o menino foi destaque no jornal local. Em seguida, tudo foi mais rápido. O rapaz foi levado ao diretor do programa TEDGlobal, uma organização que divulga ideias criativas e inovadoras, que convidou Kamkwamba para uma conferência na Tanzânia. O jovem aumentou o primeiro moinho para 12 metros de altura e construiu outro que bombeia água para irrigação. “Agora, posso ler à noite, e minha família pode irrigar a plantação”, disse. Depois de cinco anos, com a ajuda daqueles que descobriram sua história, Kamkwamba voltou à escola. Passou por duas instituições no Maláui, estudou durante as férias no Reino Unido e agora cursa o segundo ano da African Leadership Academy, instituição em Johannesburgo, África do Sul, que reúne estudantes de 42 países com o intuito de formar a próxima leva de líderes do continente africano. Apesar de não terem mudado em nada a sua humildade, o sucesso e as oportunidades de estudo tornaram mais ambiciosos os planos de Kamkwamba: “Quero voltar ao Maláui e botar energia barata e renovável nas vilas. Também quero implementar bombas d’água em todas as cidades. Em vez de esperar o governo trazer a eletricidade, vamos construir moinhos de vento e fazê-la nós mesmos”, finalizou. Escrito por William Kamkwamba, em conjunto com o jornalista Bryan Mealer, The Boy Who Harnessed the Wind foi lançado em 2009 nos EUA e já ficou entre os dez livros mais vendidos da livraria virtual Amazon. Fonte: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG87218-8489-221,00O+MENINO+QUE+DOMOU+O+VENTO.html> (com adaptações).


DIREITOS DOS ANIMAIS

APOIE A DEFESA DOS ANIMAIS. COMPARTILHE NO FACEBOOK A PÁGINA HOMENS DE VERDADE SÃO GENTIS COM OS ANIMAIS (WWW.FB.COM/HOMENSGENTIS)

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uando sou questionado por que gasto tanto do meu tempo e dinheiro falando sobre os animais, quando existe tanta crueldade com os homens, respondo: estou trabalhando na raiz do problema” (George Angel, fundador da filial norte-americana da Société pour la Prévention de la Cruauté Envers les Animaux (SPCA), entidade canadense, sem fins lucrativos, defensora dos direitos dos animais). Para muitos protetores dos animais, a raiz do problema é o desamor, que vitima primeiro os mais frágeis (os inocentes, os indefesos e os mais vulneráveis, os seres da natureza e do reino animal, justamente aqueles que estão na base de sustentação da vida, com o seu serviço evolutivo) para depois se voltar contra os mais fortes: os membros da sociedade de uma maneira geral.

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A NECESSIDADE DO DESPERTAR INTERIOR TRIGUEIRINHO

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ode-se dizer que o homem moderno passa pela vida sem realmente percebê-la. Tomem-se como exemplo as pessoas que vivem em áreas de alta poluição atmosférica (como os complexos industriais e as grandes metrópoles), que afirmam que, com o tempo, não sentem mais o mau odor no ar e deixam de se incomodar com a irritação nos olhos. Devido a esse acomodamento gradual, processos de degeneração física vão-se tornando crônicos e o desenvolvimento superior dos sentidos externos e internos vai sendo cerceado.

Por pautar a vida na ação imediatista, tendo em vista apenas o bem-estar pessoal, grande parte dos homens não consegue captar o que realmente se passa dentro de si e à sua volta. Podem estar num ambiente que nos planos sutis seja um potente dínamo de energias cósmicas, mas tampouco se dão conta desses aspectos impalpáveis. Por não se encontrarem em sintonia com a frequência por elas emitida, não se deixam tocar conscientemente por suas irradiações. O afinamento da capacidade de interagir de modo lúcido com essas vibrações pode ser comparado à sintonização de um aparelho de rádio: para receber determinados sinais, é preciso que esteja na frequência correta. Como pode um indivíduo contatar esferas de vida divina se restringe sua realização ao âmbito humano, focalizando prioritariamente a si mesmo e seus ideais? Por isso, o trabalho evolutivo autêntico visa ao alinhamento da consciência com valores transcendentes.

<http://joseaneascencao.blogspot.com.br/2010_08_01_archive.html>

ESPIRITUALISMO


Pensar é uma atividade que, na maior parte da humanidade, fixa a mente em coisas concretas, externas e visíveis. Quando a pessoa ainda não aprendeu que pode controlar o pensamento, este se torna desenfreado. E, quanto mais desenfreado, mais a mente se fixa em coisas externas e concretas e mais difícil se torna concentrála em coisas abstratas, elevadas. Assim, a mente se distrai, se dispersa e se mantém voltada para o que os sentidos apresentam. E muitas vezes a pessoa nem se dá conta da própria dispersão. Quem está consciente do próprio estado de dispersão e está em uma busca espiritual quer concentrar-se, porque só assim consegue centralizar a energia mental e direcioná-la para os níveis mais elevados da existência. Entretanto, para conseguir concentrar-se, não basta simplesmente querer nem mesmo fazer exercícios sistemáticos. A concentração só ocorre de fato quando a pessoa renuncia àquilo que a atrai, agrada ou contenta e se volta prioritariamente para a busca espiritual. No passado, foram criados muitos exercícios de concentração adequados para a mente daqueles tempos. Mas, em geral, os que faziam os exercícios tinham uma vida organizada, harmoniosa, sadia

e disciplinada. Não é o caso da maioria das pessoas de hoje. Atualmente, nossa civilização estimula o consumismo e uma forma de vida desordenada, comandada pelos desejos. Se alguém fizer hoje os exercícios de concentração criados no passado e viver como a maioria vive em nossos dias, cedendo aos apelos dos desejos, não conseguirá concentrar-se, porque lhe faltará certo ascetismo na vida diária, imprescindível para a concentração.

ESPIRITUALISMO

Todavia, deve-se lembrar que, do mesmo modo que os aparelhos de rádio podem ser sintonizados em diferentes frequências, a consciência pode mudar de sintonia e contatar fontes que transmitam estímulos mais elevados. É a atração dos núcleos internos, polarizados em planos superiores, que promove essa mudança. Quando ocorre, a consciência fica diante de uma prova: pode integrar-se à vibração que lhe está sendo revelada ou permanecer na frequência antiga. Os auxílios para evoluir são sempre ofertados, mas cabe ao eu consciente aceitá-los ou não.

Quando se pratica o ascetismo, ou seja, quando se renuncia a tudo o que dispersa, quando se repele tudo o que não nos leva aos níveis espirituais, quando se controlam os próprios impulsos no dia a dia, a concentração pode finalmente ocorrer. José Hipólito Trigueirinho Netto é filósofo espiritualista, autor de mais de 80 livros e quase 2 mil palestras gravadas ao vivo, que podem ser ouvidas e baixadas, gratuitamente, do site: <www.irdin.org.br>. Fonte: artigo adaptado dos textos Auxílios para Evoluir e Como Controlar o Pensamento , disponíveis em: <http:// www.trigueirinho.org.br/web/php/textos.php>. Acesso em 30/01/2014.

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O MILAGRE DA CANÇÃO DE UM IRMÃO

D

as centenas de e-mails que recebemos todos os anos com supostas histórias reais, sempre com um ensinamento enriquecedor, quais mensagens são verdadeiras mesmo e quais são invenções de internautas? Esta seção destina-se a revelar ao leitor alguns mitos e algumas verdades da internet. Reproduzimos nesta seção algumas matérias do site americano “Truth or Fiction” (“Verdade ou Ficção”) (http://www.truthorfiction.com), especializado em pesquisar a fundo se muito do que é divulgado na grande rede é fato mesmo ou pura invenção. Nesta edição, iremos apresentar uma história famosa da internet que o site provou ser mesmo real. A história que circulou pela internet:

O Milagre da Vida

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Como qualquer mãe, quando Karen soube que um bebê estava a caminho, fez todo o possível para ajudar o seu outro filho, Michael, com três anos de idade, a se preparar para a chegada. Os exames mostraram que era uma menina, e todos os dias Michael cantava perto da barriga de sua mãe. Ele já amava a sua irmãzinha antes mesmo que ela nascesse. A gravidez se desenvolveu normalmente. No tempo certo, vieram as contrações. Primeiro, a cada cinco minutos; depois, a cada três; então, a cada minuto uma contração.

Entretanto, surgiram algumas complicações e o trabalho de parto de Karen demorou horas. Todos discutiam a necessidade provável de uma cesariana. Até que, enfim, depois de muito tempo, a irmãzinha de Michael nasceu. Só que ela estava muito mal. Com a sirene no último volume, a ambulância levou a recém-nascida para a UTI neonatal do Hospital Saint Mary. Os dias passaram. A menininha piorava. O médico disse aos pais: “Preparem-se para o pior. Há poucas esperanças”. Karen e seu marido começaram, então, os preparativos para o funeral. Alguns dias antes, eles estavam arrumando o quarto para esperar pelo novo bebê. Hoje, os planos eram outros. Enquanto isso, todos os dias, Michael pedia aos pais que o levassem para conhecer a sua irmãzinha. “Eu quero cantar para ela”, ele dizia. A segunda semana de UTI entrou e esperava-se que o bebê não sobrevivesse até o final dela. Michael continuava insistindo com seus pais para que o deixassem cantar para sua irmã, mas crianças não eram permitidas na UTI. Entretanto, Karen decidiu. Ela levaria Michael ao hospital de qualquer jeito. Ele ainda não tinha visto a irmã e, se não fosse naquele dia,

<http://edinacantinhodepaz.blogspot.com.br/2012/05/o-milagre-da-cancao-de-um-irmao.html>

MITOS E VERDADES DA INTERNET


talvez não a visse viva. Ela vestiu Michael com uma roupa um pouco maior, para disfarçar sua idade, e rumou para o hospital. A enfermeira não permitiu que Michael entrasse e exigiu que Karen o retirasse dali. Mas Karen insistiu: “Ele não irá embora até que veja a irmãzinha dele!”. Então, a enfermeira acabou cedendo e Karen levou Michael até a incubadora. Ele olhou para aquela trouxinha de gente, que perdia a batalha pela vida. Depois de alguns segundos olhando, ele começou a cantar, com sua voz baixinha: “Você é o meu raio de sol, o meu único raio de sol. Você me faz feliz mesmo quando o céu está cinzento...” (“You are my sunshine / My only sunshine / You make me happy when skies are grey...”, letra da música “Sunshine”, de Johnny Cash). Naquele momento, o bebê pareceu reagir. Sua pulsação começou a baixar e se estabilizou. Karen encorajou Michael a continuar cantando. “Você nunca saberá, querida, o quanto eu a amo. Por favor, não leve o brilho do meu sol embora...” (“You’ll never know, dear, how much I love you / Please don’t take my sunshine away...”). Enquanto Michael cantava, a respiração difícil do bebê foi se tornando suave. “Continue, querido!”, pediu Karen, emocionada. “Outra noite, querida, enquanto eu dormia, sonhei que você estava em meus braços…” (“The other night dear, as I lay sleeping / I dreamed I held you in my arms...”). O bebê começou a relaxar. “Cante mais um pouco, Michael”, a mãe disse. A enfermeira começou a chorar. “Você é o meu raio de sol, o meu único raio de sol. Você me faz feliz mesmo quando o céu está cinzento. Por favor, não leve o brilho do meu sol embora”. No dia seguinte, a irmã de Michael já tinha se recuperado e, em poucos dias, foi para casa. O Woman’s Day Magazine chamou esta história de “O Milagre da Canção de um Irmão”. Os médicos a chamaram simplesmente de milagre. Karen chamou de “Milagre do Amor de Deus”. Nós a estamos chamando de “O Milagre da Vida”.

MITOS E VERDADES DA INTERNET

Karin Knapp Simmons, a avó da bebezinha, disse ao “Truth or Fiction” que a história que circulou pela internet é verdadeira e que o evento ocorreu em 1992, no Hospital St. Mary, em Knoxville, no Tennessee (EUA). Segundo a avó, a história veiculada foi reproduzida de um livro de sermões publicado pela Conferência de Holston da Igreja Metodista Unida do Leste do Tennessee, que utilizou a história real como parte das pregações, para motivação dos fiéis. Marlee – a bebezinha da história – cresceu e, em agosto de 2008, era uma linda moça, então uma estudante de 16 anos, que se descrevia como “uma adolescente comum como qualquer outra”. Marlee contou ao “Truth or Fiction” que ela canta tanto no coral de sua igreja quanto no coral de sua escola. Ainda em 2008, ela treinava estudantes no departamento de atletismo de seu colégio. Marlee revelou que seu dom é cantar e que ela se alegra quando lembra que o milagre protagonizado pelo amor de seu irmão, Michael, permitiu que ela fizesse parte desse sonho. Fonte: < http://www.truthorfiction.com/rumors/b/ brotherssong.htm> (com adaptações). <http://www.truthorfiction.com/rumors/b/brotherssong.htm>

<http://directory.rehabstudents.com/mercy-medical-center-st-mary%C2%92s-acute/>

Mercy Medical Center St. Mary s: a equipe médica do hospital não conseguiu explicar o milagre

Agora, a matéria do site “Truth or Fiction”, confirmando que a história é verdadeira.

Marlee: sua vida foi salva pelo amor do irmão, Michael

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<http://healthfwdplus.blogspot.com.br/2011/12/ultimate-sacrifice-teen-dies-days-after.html>

AMOR ALÉM DA VIDA

O ÚLTIMO SACRIFÍCIO Mãe adolescente resolve salvar a vida de seu bebê, ainda no ventre, mesmo sabendo que sua escolha poderia abreviar sua própria vida

A família reunida: nos braços da avó, o pequeno Chad Michael Lake, por quem Jenni se sacrificou

LUCIANA VICÁRIA

Os médicos deram a ela a opção do aborto, mas Jenni já tinha feito sua escolha. Eu optei pela vida [do bebê] , disse a adolescente à enfermeira que, acima de tudo, mostra como a vida é imprevisível – e como a saúde é nosso bem mais precioso. hollywoodlife.com

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oje li uma história emocionante de uma adolescente que renunciou à quimioterapia pela saúde do bebê que carregava em seu ventre, mesmo com a certeza de que, sem tratamento, reduziria ainda mais suas chances de cura. Conto a seguir a história dessa jovem guerreira, que no auge de sua dor mais profunda optou pela vida que gerava. É uma história feliz e triste ao mesmo tempo e

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O casal no início do namoro

A adolescente americana Jenni Lake, de 17 anos, sonhava em ter uma profissão, viajar pelo mundo e (quem sabe?) um dia ter filhos. Sim, no futuro, porque até o ano de 2010 ela queria saber apenas de tatuar o corpo, colocar piercings e curtir a noite com os amigos. Sua vida, no entanto, mudou drasticamente após uma dor de cabeça insistente e um exame de tomografia. Um câncer raro e agressivo no cérebro interrompeu seus planos. Jenni tinha um namorado, Nathan Wittman, de 19 anos na época, e ele esteve com ela até o último dia de sua vida. O médico dizia que o tratamento a impediria de engravidar. Isso parecia pouco importante para o casal naquele momento. Os dois continuaram namorando e o improvável aconteceu: Jenni ficou grávida. Ao saber da notícia, ela imediatamente parou com a quimioterapia, renunciou aos remédios e aos dias a mais que a droga lhe traria. Os médicos deram a ela a opção do aborto, mas Jenni já tinha feito sua escolha. “Eu optei pela vida”, disse a adolescente à enfermeira.


Debilitada, com apenas 48 quilos ao fim da gravidez, e já sem enxergar direito por conta da metástase de seu tumor cerebral, Jenni tornou-se mãe de Chad Michael Lake, um menino lindo e saudável. Jenni viveu ao lado de seu bebê por apenas 12 dias, quando, fraca por conta da doença, foi vítima de um ataque cardíaco e morreu, em novembro de 2011. O pai do bebê, Nathan Wittman, disse que Jenni foi embora feliz e que ela foi a melhor mãe que pôde, da melhor forma que pôde e enquanto a sua vida permitiu.

AMOR ALÉM DA VIDA

<http://www.borsonline.hu/cikk.php?id=51174>

Jenni foi embora feliz e ela foi a melhor mãe que pôde, da melhor forma que pôde e enquanto a sua vida permitiu

www.tempi.it

O casal com o bebê: Jenni já estava muito fraca

AP

Fonte: <http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2011/12/30/uma-vida-pela-outra> (com adaptações).

No detalhe, o pai do bebê, Nathan Wittman, com a foto de Jenni Lake

Há seres humanos que são como as velas: sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros (Padre Antônio Vieira)

Jennifer Michelle Lake: um exemplo de coragem

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felons.wordpress.com

AMIGOS SEM FRONTEIRAS

EX-MORADOR DE RUA VIRA CELEBRIDADE AO LARGAR AS DROGAS PARA CUIDAR DE UM GATO A amizade entre James Bowen e seu gato, Bob, transformou-se no maior fenômeno editorial da Inglaterra nos últimos anos

A

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história de um ex-sem-teto de Londres, na Inglaterra, tem um final bem diferente de várias que são encontradas em diversas partes do mundo. Este enredo fala do sofrimento da dependência química e da importância de uma amizade entre um homem e seu animal, um vínculo fraterno capaz de resgatar uma alma do pesadelo das drogas e outra do abandono nas ruas. Um miado salvou duas vidas. A do próprio gato e a do rapaz que encontrou o animal, machucado, grunhindo de dor no centro de Londres. O gato é Bob e o rapaz é James Bowen, um músico de rua que por 10 anos foi viciado em heroína.

Bob era o parceiro que faltava para James. O gato deu à vida do músico um novo sentido. Para cuidar do bichano, ele decidiu largar as drogas. A dupla passou a fazer o maior sucesso com o público. Só faltava um livro, e ele surgiu: “Um Gato de Rua Chamado Bob” se transformou no maior fenômeno editorial na Grã-Bretanha. Já foi traduzido para 16 idiomas, inclusive o português. Agora, o gato e o dono mal conseguem trabalhar por causa da fama. James é obrigado a parar de cantar a todo o instante para tirar fotos e vender o livro, que vem autografado pelo autor e também por seu principal personagem. “Ele [Bob] me dá amor e não exige nada em troca além de amor também. Acho que qualquer bichinho de estimação pode fazer esse papel. Bob teve o mérito de me devolver o senso de responsabilidade”, relata James. Ele conta que, agora, Bob só come ração de primeira. A refeição custa aproximadamente R$ 400,00 por mês, o equivalente a apenas um quinto do que James gastava com drogas quando ainda era um morador de rua.


AMIGOS SEM FRONTEIRAS

www.dollymix.tv

Capa do livro lançado em Londres

Um dia de autógrafos para o autor e seu principal personagem

O músico declarou: “Estou limpo. Reatei as relações com os meus pais e irmãos e tenho amigos de novo”, mas nenhum mais próximo do que Bob, o gato que continua nas ruas, só que, agora, bem acompanhado.

Confira o vídeo: <http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/07/ex-viciado-vira-celebridade-ao-largar-crack-para-cuidar-de-gato-em-londres.html>. Fonte: <www.g1.com.br>

A Minha História com Bob (2013) é uma continuação do livro Um Gato de Rua Chamado Bob

O Mundo Segundo Bob (2013) é uma continuação do livro A Minha História com Bob

Bob, um Gato Fora do Normal (2013) é uma versão do livro Um Gato de Rua Chamado Bob reescrito especialmente para crianças

www.geraldkelley.com

jardim-de-borboletas.blogspot.com

www.worten.pt

www.jn.pt

Após a publicação de “Um Gato de Rua Chamado Bob”, outros livros se seguiram:

Meu Nome é Bob (2014) é um livro de imagens para crianças escrito por James Bowen e Garry Jenkins e ilustrado por Gerald Kelley

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http://casadocaminhodearaxa.blogspot.com.br/2012/05/tadeu-da-casa-do-caminho.html

CRÔNICA DE UMA VIDA DE SERVIÇO AO PRÓXIMO

CASA DO CAMINHO

Tadeu e sua simples casa. No lado direito da foto, com fachada verde, o Hospital Casa do Caminho

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empre me perguntam por que eu abandonei minha vida. Eu não abandonei nada, minha vida é esta. Eu sinto que estou no meu lugar fazendo o que nasci para fazer. Sou feliz, realizado e tranquilo. O lugar de José Tadeu da Silva é uma casinha de adobe, de dois cômodos e chão batido, a mesma onde sua mãe preparava os unguentos e os xaropes de ervas medicinais, no início da década de 1960, para cuidar dos indigentes da periferia de Araxá (MG). E o que ele faz é dedicar todo o seu tempo à Casa do Caminho, instituição que cresceu em torno de Tadeu e de sua casa e hoje cuida de idosos, paraplégicos e doentes mentais, alimenta andarilhos e alivia as dores do corpo e do espírito dos necessitados da histórica cidade do circuito das águas.

Filho caçula de uma família humilde, aos 7 anos, Tadeu já acompanhava a mãe, Luíza Salazar Silva, nas suas incursões solitárias pelas ruas e pelas casas pobres de Araxá para limpar e tratar de feridas. E ele lembra como elas eram muito mais comuns naqueles tempos de menos recursos de assepsia e menos higiene. Sem sentir nenhum asco ou melindre, o menino lavava as chagas e aplicava as pomadas temperadas por dona Luíza na base de pó de ipé e de pé-de-perdiz. – Minha mãe era uma pessoa muito intuitiva. Percebeu que eu iria continuar o seu trabalho e investiu em mim – acredita Tadeu. Luíza morreu quando Tadeu tinha 14 anos. Na mesma época, seu pai sofreu um derrame e passou dois anos paralítico antes de também falecer. – Fui eu que cuidei dele nesse período. Fiz meu estágio prático – Tadeu tira graça dos tropeços e das provações de sua vida. O lugar do pai, na pequena casa de adobe, foi logo preenchido por dois indigentes sem condições de se cuidarem. Depois vieram outros e mais outros. Para mantê-los, e a si próprio, Tadeu trabalhou durante dez anos como operário de construção na prefeitura e como pequeno comerciante, dono de uma lanchonete. Fez um


Antes que o seu trabalho fosse reconhecido e aceito, Tadeu enfrentou preconceitos e até humilhações, especialmente da comunidade médica. Apenas com o curso primário e aplicando os conhecimentos de medicina popular herdados da mãe, Tadeu era considerado um “curador raizeiro”, tratado como charlatão. Foi a médica Juliana Maria Borges, clínica geral, que rompeu o cordão de isolamento que cercava a Casa do Caminho. – Ela veio nos visitar e viu que era um trabalho sério. Começou a trabalhar como voluntária, atendendo os idosos duas vezes por semana, e como era muito respeitada, ela foi abrindo outras portas, atraindo outros médicos e terapeutas. Sem parar de crescer, a Casa do Caminho não conta mais só com voluntários. Eles são apenas 25 fixos, que atuam nas áreas de apoio humanitário, administração e captação de recursos. Outras tantas pessoas – entre 50 e 100 por fim de semana – visitam e conversam com os velhinhos. No quadro da instituição existem 125 funcionários, que trabalham em quatro frentes de atendimento,

– Quando eles recuperam a condição de andar e se cuidar, são devolvidos para a família. Eles não estão aqui para que sejam asilados, mas para que sejam tratados. Isso a gente deixa bem claro! Que a família não pense que pode abandonar aqui os seus idosos!

CRÔNICA DE UMA VIDA DE SERVIÇO AO PRÓXIMO

– Coincidiu que, quando o dinheiro acabou, a comunidade descobriu a Casa. Eu já tinha 17 idosos morando aqui. Agora não falta gente para ajudar. Nunca precisamos fazer campanha. As pessoas batem na porta perguntando o que a gente precisa.

que funcionam em prédios separados dentro do mesmo terreno ajardinado, das quais a casinha de adobe de Tadeu é o epicentro. Na geriatria existem 80 leitos destinados a idosos e a paraplégicos sem condições de locomoção. Lá, eles são cuidados e submetidos a tratamento de fisioterapia para recuperar os movimentos.

www.minasnofoco.com.br/araxa/imagens/inauguracao_portaria_24.jpg

“pezinho de meia”. Quando já dava para se dedicar integralmente aos seus doentes, Tadeu construiu para eles uma casa maior no seu próprio terreno. Durante três anos, sustentou a Casa do Caminho com suas próprias economias.

Fachada principal do Hospital Casa do Caminho

Numa outra unidade funciona o “hospital-dia” de psiquiatria, conveniado com o Sistema Único de Saúde (SUS), com capacidade para 80 doentes. A Casa do Caminho ainda mantém um refeitório para fornecer alimentação aos andarilhos que passam pela cidade e um pequeno posto de saúde especializado em tratar feridas. Para cuidar de todo esse universo, Tadeu – que já passou anos de sua vida lavando, com as próprias mãos, 60 cobertores por dia e se diz um “especialista em detritos” – conta com um ensinamento que recebeu quando, dois anos após ter criado a Casa do Caminho, se sentiu frágil e impotente diante de tanto sofrimento com que tinha de conviver. – Eu achei que não ia ter forças. Se uma pessoa sofria, eu sofria junto. Se um velhinho morria, parecia que levava um pedaço de mim. Foi quando tive uma orientação que eu acho que vale para todo mundo que tenha essa missão: ajudar sem sofrer e amar sem paixão. A partir disso, eu aprendi a controlar minha sensibilidade e a acumular forças para fazer o que é preciso. Casa do Caminho , história integrante do livro Crônicas de Um Gesto Voluntário: histórias e relatos de pessoas que levam saúde e solidariedade a quem precisa , de Taisa Ferreira, Lúcia Leão e João Paulo Tupynambá. Ministério da Saúde, 2001. Obra Social Casa do Caminho. Sites: <www.casacaminho.com.br> <www.acasadocaminho.org.br>

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CULTURA

Eu Sou Malala (de Malala Yousafzai e Christina Lamb) Prêmio Nobel da Paz de 2014, Malala defendeu o direito das mulheres à educação em seu país e foi baleada pelo Talibã

Capa da Newsweek

Q

uando o Talibã tomou o controle do vale do Swat, no Paquistão, uma menina recusou-se a permanecer em silêncio e lutou pelo seu direito à educação. Seu nome: Malala Yousafzai. Mas ela quase pagou com a vida o preço de ousar ter acesso a um direito básico. Em 2012, Malala foi atingida na cabeça por um tiro à queima-roupa dentro do ônibus no qual voltava da escola. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. Mas a recuperação milagrosa de Malala a levou a uma viagem extraordinária de um vale remoto no norte do Paquistão para o salão das Nações Unidas, em Nova York. Aos 17 anos, em 2014, ela se tornou um símbolo global de protesto pacífico e a mais jovem ganhadora do Prêmio Nobel da Paz. “Eu sou Malala” é a história de uma família exilada pelo terrorismo global, da luta pelo direito feminino à educação e dos obstáculos à valorização da mulher em uma sociedade que valoriza filhos homens. Escrito em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, o livro acompanha a infância da garota no Paquistão, os primeiros anos de vida escolar, as asperezas da vida numa região marcada pela desigualdade social, as belezas do deserto e as trevas da vida sob o regime do Talibã.

para casa um terrorista poderia aparecer e atirar em mim [...]. Então, me perguntava o que faria. Talvez tirasse meu sapato e batesse nele, mas logo depois me dava conta de que, se agisse assim, não haveria diferença entre mim e o terrorista. Seria melhor dizer: ‘Certo, atire em mim, mas primeiro me escute. O que você está fazendo é errado. Pessoalmente, nada tenho contra você. Só quero ir à escola’”. “[Antes do atentado], meu pai vangloriava-se de minha ‘risada celestial’. Agora [depois dos tiros, já na Inglaterra, ele] se lamentava com minha mãe: ‘Aquele lindo rosto simétrico, aquele rosto resplandecente se foi; Malala perdeu o sorriso e a risada. Os talibãs são muito cruéis. Arrancaram o sorriso dela. Pode-se dar a alguém olhos ou pulmões, mas não se pode restaurar um sorriso’. O problema era provocado por um nervo facial [rompido por um tiro, o que desfigurava o rosto de Malala]. [...] Meu pai [...] fitava [minha mãe] e via uma pergunta nos [seus] olhos: por que Malala ficara assim? A menina que ela trouxera ao mundo e criara durante quinze anos tinha sido sorridente. Um dia, meu pai lhe perguntou: ‘Pekai, me diga a verdade. O que você pensa... Foi culpa minha?’. ‘Não, Khaista’, ela respondeu. ‘Você não mandou Malala roubar nem matar nem cometer crimes. Era uma coisa nobre’”. Companhia das Letras 360 páginas www.glamour.com

AP

www.ilovemuslims.net

LIVRO:

Leia alguns trechos do livro:

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“Passei a tomar o ônibus [de volta da escola] porque minha mãe começou a sentir medo de que eu andasse sozinha. Tínhamos recebido ameaças o ano inteiro. Algumas estavam nos jornais, outras vinham na forma de bilhetes ou de mensagens transmitidos pelos moradores. Como meu pai, sempre fui de sonhar acordada e, às vezes, durante as aulas, minha mente flanava e eu pensava que no caminho de volta

Malala e o símbolo de sua luta: a sala de aula


docverdade.blogspot.com

Este documentário, produzido no ano de 2012, questiona a escolarização moderna e propõe um novo modelo educativo. O atual sistema “prussiano”, originado do padrão militar de educação da Prússia, no século XVIII, tem como objetivo gerar uma massa de pessoas obedientes e competitivas, com disposição até para guerrear, se necessário. As escolas são colocadas no mesmo patamar das fábricas e dos presídios, com seus portões, suas grades e seus muros, com horários estipulados de entrada e de saída, fardamento obrigatório, intervalos e sirenes indicando o início e o fim das aulas.

CULTURA

A Educação Proibida Desafios e limites de uma educação que não defende a vida FILME:

Ou seja, o sistema educacional vigente acaba refletindo verdadeiras estruturas políticas ditatoriais, que produzem cidadãos “adestrados” para servir ao sistema capitalista. Nestes termos, qualquer metodologia educacional que busque algo diferente será considerada “proibida”. Infelizmente, esse sistema educacional equivocado foi o modelo que se espalhou pela Europa e depois pelas Américas. Sua principal falha está em um projeto que não leva em consideração a natureza da aprendizagem, a liberdade de escolha ou a importância de valores universais e princípios basilares como o amor, a ética, o respeito, a sensibilidade e as relações humanas no desenvolvimento individual e coletivo. Com base nessa educação acadêmica, milhões de jovens em todo o planeta se formam para o mercado de trabalho, mas não para que sejam seres humanos melhores, conscientes e preparados para o mundo e a vida. Um exemplo disso é que físicos nucleares são profissionais com uma formação técnica complexa, exigente e extremamente apurada, mas muitos são utilizados pela indústria bélica, para a fabricação de armas de destruição em massa, mas não para a resolução de problemas cíclicos e pungentes da humanidade. Não se pode dizer que tais profissionais não sejam bem preparados. Sim, eles são, mas para os objetivos deploráveis de muitos governos. Não foi por acaso que o Dalai Lama afirmou: “A importância da educação já foi compreendida, mas cérebros brilhantes também podem produzir grandes sofrimentos. É preciso educar os corações”. Este documentário é o resultado de mais de 90 entrevistas realizadas em 8 países sobre 45 experiências educativas não convencionais, tendo um total de 704 coprodutores. Um projeto completamente independente de uma magnitude sem precedentes, o que explica a necessidade latente para o crescimento e o surgimento de novas formas de educação. “Todo mundo fala de paz, mas ninguém educa para a paz. As pessoas educam apenas para a competição. E a competição nos leva à guerra” (Pablo Lipnizky). “Nunca duvide de que um pequeno grupo de cidadãos prestativos e responsáveis possa mudar o mundo. Na verdade, é assim que tem acontecido sempre” (Margaret Mead). Algumas das propostas e dos princípios pedagógicos que sustentam “A Educação Proibida”: Método Montessori, Pedagogia Waldorf (de Rudolf Steiner), Pedagogia Crítica, Pedagogia Liberadora (de Paulo Freire), Método Pestalozzi, Método Freinet, “A Escola Livre”, “A Escola Ativa”, Pedagogia Sistêmica, Educação Personalizada, Pedagogia Logosófica. A Educação Proibida ( La Educación Prohibida ) Direção: Germán Doin

Produção: Verónica Guzzo Download gratuito em: <http://www.educacionprohibida.com>

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A ARTE COMO CRÍTICA SOCIAL

CONTRADIÇÕES

QUINO

Membros da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) reunidos em Roma para tratar de resolver o problema da fome no mundo

Membros da Organização Internacional do Trabalho (OIT) reunidos em Genebra para tratar de resolver o problema mundial do desemprego

Membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) reunidos em Nova Iorque para tratar de resolver o problema da atual insegurança global

Membros do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) reunidos em Paris para tratar de resolver problemas como a infância sem educação, a falta de saneamento básico e a crescente escassez de água, que já afeta várias regiões do planeta

Membros da família Rosales reunidos na Villa Tachito para tratar de resolver seus problemas de fome, insegurança, desemprego, impossibilidade de mandar seus filhos à escola, ausência de assistência médica, falta de água encanada em casa...

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Fonte: <http://somosandando.com. br/2009/12/27/contradicoes-por-quino>.




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