Revista por um mundo melhor edição 11

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ANO IV Ago/SEt/Out 2020 BRASÍLIA-DF books maze publishing house COLÔNIA EDITORA INDEPENDENTE ISSN: 2358-3207

MSF: Pela dignidade dOs excluídos

COVID-19: SOLIDARIEDADE CONTRA O VÍRUS

JORNALISMO POSITIVO: Um mundo com mais notícias boas

PORQUE O MUNDO TAMBÉM É REPLETO DE BOAS NOTÍCIAS E PESSOAS EXTRAORDINÁRIAS



poemas, poesias, contos, romances, quadrinhos, artes plásticas, projetos editoriais e consultorias.

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| editorial Há semanas a mídia parece tratar só de um tema no mundo: a emergência do Covid-19, com o isolamento social e as perdas de vidas preciosas. Mas não só isso. Para a esperança de muitos, o noticiário e a internet também reportaram uma onda de solidariedade, que abraçou muitos países e, claro, também o Brasil, como uma reação humanista às dores deixadas pelo surto. Embora não seja nossa intenção repisar o que a imprensa exaustivamente esgota sobre o assunto – e embora, também, nossa linha editorial claramente recuse o foco em breaking news (pois está centrada em valores, que são permanentes, e não sujeitos à maré tendenciosa dos noticiários) –, não poderíamos ficar alheios à realidade. Como, aliás, nunca ficamos. Por isso, claro, resolvemos tocar no tema, mas com um viés distinto do que é apresentado majoritariamente na imprensa tradicional. Como matéria de capa, trazemos o trabalho notável de uma ONG humanitária que não apenas atua em tempos de Covid-19, mas há quase 50 anos luta contra todas as epidemias e surtos, catástrofes naturais ou não, além de conflitos e guerras em todo o mundo. Falamos dos Médicos Sem Fronteiras (MSF), que nos enviaram um depoimento tocante de uma médica da organização, moradora de Brasília, que nos conta sua marcante experiência na Faixa de Gaza. Ainda sobre ações solidárias, falamos de uma campanha de grupos de motociclistas, que se mobilizaram para ajudar caminhoneiros de todo o país, impactados pelo surto. Iniciada em Brasília, a campanha extrapolou o DF e ajuda a evitar que ocorra de novo uma crise de desabastecimento, como a que tomou conta do Brasil

A SOLIDARIEDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA em 2018. Ainda sobre os noticiários atuais, mostramos o papel imprescindível do jornalismo positivo em tudo isso, em matéria de Alisson Tavares, como contraponto à atuação da imprensa tradicional, para reforçar ações solidárias e conter o pânico. Ainda em paralelo à atuação humanitária de MSF e sobre o assunto de capa da nossa edição passada, entrevistamos Clara Brandão, criadora da multimistura, responsável por salvar as vidas de milhões de crianças da fome e da desnutrição. Ela nos fala do seu impressionante trabalho, dos muitos desafios que enfrenta e de como a multimistura, tão atacada por lobbys de multinacionais poderosas, é sem dúvida a melhor e mais viável opção de combate ao flagelo da fome na humanidade. Das muitas horas de entrevistas com Clara Brandão, material que daria para vários livros e ficará para uma próxima vez, ela resgata uma citação de Gandhi que bem resume seu trabalho: “Lembre-se do rosto mais pobre e mais fraco que você já viu. Pergunte a si mesmo se o gesto que você quer realizar lhe será de alguma utilidade. Seu gesto restabelecerá a esse ser a independência ou o autocontrole sobre sua própria vida e seu destino?”. Apreciem tudo isso e muito mais nesta edição, que preparamos com muito carinho para vocês. Esperamos que vocês gostem. Até a próxima edição.

expediente | A revista Por Um Mundo Melhor é uma publicação trimestral da Books Maze Publishing House e da Colônia Editora Independente e não tem fins lucrativos. Todos os recursos advindos da comercialização de seus anúncios se destinam à sustentabilidade do periódico, à remuneração de seus profissionais e ao apoio a projetos sociais, ambientais e de defesa dos vulneráveis. Books Maze Publishing House - CNPJ: 19.920.208/0001-57 Fundador e editor-chefe: Paulo Henrique de Castro e Faria / RP MTb: 4136/DF Projeto gráfico, Ilustração e Diagramação: Léo Silva Assistente editorial: Neuza Castro e Silva Foto de capa: Maud Veith/MSF. Resgate de refugiados (Mediterrâneo, 2017) Contatos: 55 61 99964 7263 / 99819 9828

Representação comercial, consultoria em produção gráfica: Cleber de Albuquerque | Colônia Editora Independente Eirelli CNPJ: 24.206.387/0001-03 coloniaeditora.com.br Tel.: (61) 99964-7263 Impressão: Qualidade Gráfica e Editora Tiragem: 3.000 exemplares ISSN: 2358-3207 Distribuição gratuita

revistaporummundomelhor.com.br

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SUMARIO | 8

PELA DIGNIDADE DOS EXCLUÍDOS

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UMA VIDA EM DEFESA DA VIDA

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UM GIRO POR UM MUNDO MELHOR

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ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE

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POR UM MUNDO COM MAIS NOTÍCIAS BOAS UMA AÇÃO PELA CIDADANIA

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SOLIDARIEDADE ENDÊMICA

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COMO FICAM CÃES E GATOS DURANTE A PANDEMIA? Gostaria de ler nossas edições anteriores? Busque em nossos contatos ou nas nossas redes sociais

A revista Por Um Mundo Melhor é a única publicação impressa de Brasília que só veicula boas notícias, além de matérias sobre saúde, educação, cultura, ações sociais, direitos dos animais e responsabilidade socioambiental. Em reconhecimento a todos os apoiadores e patrocinadores que tornam possível o sonho deste projeto, deixamos nosso mais sincero agradecimento. Sem vocês, não teríamos chegado até aqui. Cada um de vocês, à sua maneira, também contribui Por Um Mundo Melhor.


© Valdemir Cunha / Greenpeace

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Ou nós salvamos a Amazônia agora, ou ela nunca mais vai nos salvar. A Amazônia nos salva da falta de biodiversidade, da seca, das mudanças climáticas e até da fome. Duvida? Pois a floresta é a casa de milhões de espécies, protege as nascentes dos rios, ajuda a estabilizar o clima e a irrigar as plantações de alimentos do Centro-Sul. Porém, a Amazônia nunca esteve tão ameaçada. O desmatamento está batendo recordes. O Greenpeace Brasil está lutando para manter a floresta em pé há mais de 20 anos, monitorando o desmatamento, protestando e denunciando crimes ambientais. Somos independentes. Não aceitamos receber recursos de governos, empresas ou partidos políticos. Precisamos de pessoas como você para continuar a nossa luta.

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MATÉRIA DE CAPA

MSF: PELA DIGNIDADE DOS EXCLUÍDOS

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) faz, de sua intensa atuação pelas populações vulneráveis em todo o planeta, a sua marca de compromisso com a vida. Em quase meio século de história, a entidade foi agraciada com um Nobel da Paz, chorou a perda de vários de seus profissionais em zonas de guerra e se consolida como a maior ONG de ajuda humanitária do mundo na área da saúde

AGNES VARRAINE-LECA/MSF

PAULO CASTRO

Atendimento a pacientes com suspeita de cólera, em plena guerra civil (Iêmen, 2017)

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m 1971, de volta a Paris, vindos da então autoproclamada República de Biafra, envolvida em violenta guerra civil, alguns jovens médicos franceses ainda tentavam digerir os horrores presenciados. Após muita discussão, todos concluíram que não poderiam ser mais condescendentes com a política de neutrali-

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dade e de reserva da organização humanitária à qual pertenciam. Uma entidade internacional que não tomava partido em relação aos jogos políticos que deflagravam guerras, surtos e arbitrariedades, que deixavam vulneráveis – às decisões dos governantes e dos braços do capital privado


ISABEL CORTHIER/MSF

Centro para tratamento contra o HIV (Maláui, 2019)

– as populações dos países envolvidos em conflitos. Aliados a jornalistas franceses, eles decidiram criar uma outra entidade, independente, sem fins lucrativos, que, além da ajuda humanitária, também denunciasse injustiças e promovesse ações de sensibilização perante a mídia global e instituições políticas de todo o mundo, em prol da dignidade e da defesa dos povos mais afetados pela desigualdade. Nascia, assim, a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF). Em 49 anos de existência, além da intervenção e do socorro marcante a emergências humanitárias terríveis e prementes em todo o mundo (inclusive no Brasil), responsável pelos cuidados de saúde de um número incalculável de vítimas de todos os tipos de ocorrências (de guerras a desastres ambientais, de epidemias a urgências sociais), a organização – assim como muitas das populações que socorre – também registra baixas de difícil assimilação, como a morte de muitos de seus profissionais durante suas atividades. Talvez a pior delas – pelo número de atingidos – tenha ocorrido no trágico ano de 2015, quando 14 profissionais de MSF perderam suas vidas, depois

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que o hospital de traumas que a organização mantinha em Kunduz, no Afeganistão, foi alvejado, por engano, por ataques aéreos norte-americanos. Na ocasião, diversos profissionais de MSF, mesmo sob intenso bombardeio, apesar do risco às próprias vidas, lutaram para salvar seus pacientes com ingentes e heroicos esforços. O caso teve repercussões drásticas, inclusive com grave crise diplomática. Em 1999, a organização foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz, “em reconhecimento ao trabalho humanitário pioneiro em diversos continentes” e também como uma forma de honrar seus profissionais médicos, cuja atuação em mais de 70 países possibilitou – e ainda possibilita – o tratamento de dezenas de milhões de pessoas. No discurso de recebimento da premiação, o dr. James Orbinski, então presidente do Conselho Internacional de MSF, afirmou que, “embora a dignidade das pessoas em crise seja tão central para a honra que vocês nos concedem hoje, o que vocês reconhecem em nós é a nossa resposta particular a ela”.


ARQUIVO PESSOAL

UMA MÉDICA DE BRASÍLIA EM ATUAÇÃO NA FAIXA DE GAZA Dentre tantos profissionais de MSF das mais diversas nacionalidades, registramos um depoimento tocante de uma médica, moradora da Capital Federal, que atua na ONG e traz muitas lembranças marcantes da experiência.

ESCRITÓRIO DE MSF/RJ A história da médica anestesista Liliana Andrade em MSF começou em 2010, quando participou pela primeira vez de um projeto. Liliana mora em Brasília e trabalha no Hospital de Base do Distrito Federal e no Hospital da Criança de Brasília José Alencar. Ela costuma dedicar seus períodos de férias para atuar nos projetos de MSF. Ao partir para sua primeira missão, no Haiti, ela ingressou na organização. Liliana integra um grupo de cerca de 200 profissionais brasileiros que trabalham todos os anos em projetos de MSF. Eles ficam, em média, seis meses em um projeto. No caso de Liliana, a situação foi diferente. Como ela costuma atuar em missões de emergência ou em áreas de conflito, os períodos de permanência nos projetos são excepcionalmente mais curtos. Ela contabiliza 12 missões e coleciona episódios marcantes. “Acho que desafio é a palavra que resume meu trabalho em MSF”, afirma Liliana. “No início, minha motivação para trabalhar na organização era por ter perdido meus pais e meu irmão. Hoje, recebo esta oportunidade de trabalho como um presente, um verdadeiro divisor de águas na minha vida”, diz ela. Durante sua trajetória, além do Haiti, Liliana passou por países e regiões como Sudão do Sul, Paquistão, Afeganistão e Oriente Médio. Dentre as muitas histórias que tem para contar, a que compartilha a seguir ocorreu durante um projeto na Faixa de Gaza, em uma das

A médica Liliana Andrade durante trabalho em projeto de MSF na Faixa de Gaza

três vezes que esteve na Palestina, uma região marcada por conflitos milenares, onde conheceu o menino Youssef.

DEPOIMENTO DE LILIANA ANDRADE Youssef foi uma criança que atendi em um projeto que oferecia cirurgias plásticas reconstrutoras no sul da Faixa de Gaza. Em 2012, quando cheguei à região pela primeira vez, o projeto atendia principalmente crianças, vítimas do conflito entre forças israelenses e grupos palestinos, ocorrido no final de 2008 e início de 2009. Na época, Youssef tinha 3 anos de idade e apresentava queimaduras nas mãos e no rosto. Fizemos a primeira cirurgia nele, mas infelizmente ele perdeu o enxerto. Anestesiei-o algumas vezes para as intervenções cirúrgicas necessárias. No último dia em que eu estava lá, chamei o tradutor, porque nem Youssef e nem sua mãe falavam inglês. Apesar da barreira da língua, eu percebia que ele sempre prestava muita atenção quando conversávamos em in-

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BENOIT FINCK/MSF

Cuidados emergenciais a crianças e gestantes com desnutrição aguda grave (Nigéria, 2016)

glês entre nós, os profissionais estrangeiros (como eu) e os funcionários locais. Chamei o tradutor porque queria avisar ao menino que era meu último dia na Faixa de Gaza. Então, a mãe dele pegou o véu que usava e o colocou em mim. Youssef, que sempre me via sem véu, ficou me olhando. Quando me ajoelhei para ficar na mesma altura que ele, pedi para o tradutor dizer a ele que era o último dia que ele me veria. O menino me olhou, e ele, que não falava inglês, disse: “I love you, Lili”. Foi muito emocionante.

O reencontro Anos mais tarde, em 2014, quando eu ia a um projeto no Afeganistão, foi feita uma força-tarefa para levar à Faixa de Gaza profissionais de MSF com experiência em conflitos. Fiquei bem próxima à fronteira com Israel. Perguntei ao coordenador médico, que é um profissional local, se ele tinha notícias do menino Youssef, e a resposta foi positiva. Um dia, quando cheguei do hospital, Youssef estava me esperando no escritório. Foi uma

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das vezes que mais chorei de emoção em toda a minha vida. Ele havia crescido, mas demonstrava muita timidez. Quando lhe perguntava se ele se lembrava de quem eu era, ele respondia que sim, mas não levantava o rosto para me olhar. Conversando depois com o tradutor, soube que Youssef passava por problemas na escola, porque as pessoas (crianças e mães) não queriam que uma criança assim, com o rosto tão deformado, estudasse com elas. Aquele momento, em que nós nos reencontramos, era uma situação de muita vergonha para ele. Levei lápis de cor, papel e livros para colorir e ficamos brincando no jardim do escritório por um tempo. Ele se despediu e não nos vimos mais por alguns anos.

Youssef mais maduro e resiliente Quatro anos mais tarde, retornei à Faixa de Gaza e, mais uma vez, perguntei à equipe se não seria possível ter algum contato. A informação que tive era que, daquela vez, seria um pouco mais difícil, por eles terem mudado o número de telefone. O contato finalmente foi


feito, e a mãe de Youssef disse que só poderia ir ao encontro dois dias depois. Soube pela mãe que ele estava bem ansioso e ficava perguntando quando veria a Lili. Quando eu estava retornando do hospital, vi que ele me aguardava na calçada do escritório. Ele estava bem comprido. Dessa vez, quis ser fotografado e não escondeu mais o rosto. Novamente, não pude conter a emoção em revê-lo.

LAURIE BONNAUD/MSF

sobrevivência. Fiquei feliz por ver que, em 2018, ele não estava mais com todos aqueles problemas que apresentava quatro anos antes. Soube, pela mãe, que ele está na escola e que perdeu um pouco da timidez que sentia como consequência do preconceito que sofria.

Embora seu aspecto estético não permita uma recuperação cirúrgica, a parte da funcionalidade dele (como as mãos, a abertura da boca e dos olhos) foi toda recuperada. Youssef fez muito tempo de fisioterapia em Gaza. A região da mão, após a cirurgia para separar os dedos, necessitou de fisioterapia para a recuperação do movimento dos dedos, que estavam enrijecidos. Inicialmente, ele também não se alimentava bem com alimentos sólidos (apenas líquidos) e havia problemas na abertura das pálpebras. Todos os procedimentos para a sua recuperação foram fundamentais para lhe restaurar a funcionalidade do corpo e para a sua própria

Crianças posam na frente de sua casa bombardeada (Iêmen, 2018)

MOHAMMAD GHANNAM/MSF

AGNES VARRAINE-LECA/MSF

Profissionais de serviço social e psicoterapia de MSF (Territórios Palestinos, 2018)

Haussian (13 anos) e sua família moram numa tenda há três anos. Quando lhe perguntam o que quer ser quando crescer, ele diz: “se eu sobreviver, quero ser médico” (campo de Amriyat al-Falluja, Iraque, 2018)

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ENTREVISTA

CLARA TERKO TAKAKI BRANDÃO: UMA VIDA EM DEFESA DA VIDA Filha de imigrantes japoneses, formada em medicina, com especialização em pediatria e nutrologia, Clara Brandão se destaca por ter dedicado toda a sua vida à causa da infância e à cruzada contra a desnutrição. Criadora da multimistura, responsável por salvar as vidas de milhões de crianças da fome, da desnutrição crônica, do baixo peso ao nascer e da deficiência cognitiva por carências nutricionais, ela levou seu complemento alimentar prodigioso Brasil afora e a vários países em desenvolvimento, mas – devido ao lobby predatório de

poderosas indústrias alimentícias estrangeiras – viu seu trabalho ser perseguido por governos, universidades, conselhos de classe e até mesmo por entidades assistenciais que curiosamente ganharam notoriedade justamente pelo uso da multimistura. Nesta conversa, ela fala do seu trabalho, das suas lutas e do principal legado de sua notável criação 14


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A mesma menina antes da multimistura e 11 meses depois do uso

O mesmo menino antes e 7 meses depois do uso da multimistura

PAULO CASTRO

Dra. Clara, começo com um depoimento pessoal: com três dias de uso, fui salvo pela multimistura de uma anemia ferropriva grave, com cura médica comprovada. Por isso, quando leio tantos depoimentos sobre a cura de milhões de crianças pela multimistura em tão pouco tempo, não tenho nenhuma dúvida. A multimistura é tão importante que, no Pará, quando começou este trabalho (1975), nunca mais foi perdida uma vida sequer de criança por desnutrição ou anemia. Na região de Santarém, na época, assolada por seca intensa, 77,7% das crianças abaixo de cinco anos estavam desnutridas e não havia nenhum programa de suplementação alimentar. Nossas pesquisas comprovaram que os micronutrientes são essenciais para acabar com a fome oculta, que atinge quase metade da população mundial, caracterizada pela deficiência de minerais e vitaminas essenciais, como ferro, zin-

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co, cobre, selênio, vitaminas A e B6, ácido fólico... Todos presentes na multimistura, que deve ser usada todos os dias, independentemente de epidemia ou pandemia existente. Seu uso propicia a redução de anemia, hipovitaminose A e infecções, melhora o apetite, recupera a estatura da criança, faz desaparecerem a diarreia e o baixo peso ao nascer, melhora o aprendizado e o desenvolvimento neuropsicomotor, evita o risco de óbito infantil por carência nutricional, acelera o trabalho de parto e previne a hemorragia pós-parto, que é a primeira causa de óbito de mulheres grávidas no mundo. Ainda promove a desintoxicação por metais pesados (como mercúrio, chumbo, níquel, cádmio e alumínio), que é reduzida com o aporte dos micronutrientes presentes na multimistura. Muitas crianças desnutridas recuperadas pela multimistura foram alfabetizadas normalmente, sem a perda da capacidade de cognição. Uma criança


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Dra. Clara Brandão, em visita a um projeto da Unesco em Ceilândia (DF)

que era desnutrida é hoje professor universitário no Pará. Isso é inédito! Para mim, é a maior vitória de uma alimentação saudável. Desde o início, a preocupação do projeto é com a sustentabilidade das comunidades. As populações têm a necessidade de ações concretas, práticas e definitivas para os seus problemas. O ideal é que toda política pública, ao ser implementada (e, nisso, inclui-se a política de alimentação e nutrição), fosse capaz de ser reproduzida pela família e pela sociedade de forma sustentável. É por isso que a multimistura nunca foi patenteada, porque assim ela pode ser comercializada pelas comunidades, que teriam, então, uma fonte de renda e sua subsistência garantida também em termos alimentares. Como o projeto da multimistura é implementado nas comunidades onde ele atua? A multimistura usa o que existe em cada região. É uma solução local em qualquer caso, qualquer que seja o solo ou o desastre ambiental, até para a falta de água. Excetuando-se as situações de

populações com fome crônica, um grande problema não é a deficiência de volume, mas sim de qualidade dos alimentos. A falta de alimentos saudáveis gera carências que podem ocasionar até mudança de comportamento, pela ausência de micronutrientes essenciais. Com uma alimentação saudável e sustentável, a população pode consumir menos, uma média de 30%, afastando o risco de sobrepeso e obesidade, com todas as patologias relacionadas. A multimistura pode suprir isso. Se os governos brasileiros não aderem à multimistura em âmbito nacional, é por falta de vontade política ou por interesses escusos, o que dá no mesmo. Um exemplo é a aprovação da proposta de implementação nacional da multimistura, assinada por milhares de delegados de saúde do país, na plenária da 12ª CNS (2003), resolução que foi ignorada por gestões sucessivas de governos. Ninguém pode errar por 45 anos. Estamos agora no 45º ano de implantação da multimistura. É um programa que hoje já é conhecido e respeitado

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Comparação entre os valores nutricionais de um componente da multimistura (folha de mandioca) e os nutrientes da farinha de trigo: diferença abissal

em vários países. A multimistura foi levada a 19 países da África, da Ásia e da América Latina. É o único programa alimentar e nutricional que tem mais de quatro décadas de existência e nunca foi patrocinado por governos, empresas ou ONGs. Se os governos quisessem implementar uma política nutricional realmente voltada para a sustentabilidade, um passo é a mudança do atual modelo. O Brasil é autossuficiente em arroz, mandioca e milho, que são pertencentes a todos os biomas brasileiros e que, portanto, devem ser muito valorizados, porque, além de nutrirem bem, ainda mantêm o homem produzindo no campo. Outros alimentos desprezados são o farelo de arroz e a folha da mandioca, a mais produzida no planeta: toda a América Latina, África e Ásia produzem essa folha, riquíssima em nutrientes, inclusive em selênio e zinco. O próprio gergelim, presente na multimistura, tem 10 vezes mais cálcio do que o leite. A multimistura ainda

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repõe vitaminas e minerais muito carentes hoje em alimentos industrializados e da monocultura. Ao invés disso, opta-se pelo trigo, que é um produto 70% a 80% importado, não orgânico, ou seja, tem agrotóxico, necessita de transporte, que libera CO2 na atmosfera, remunerando o agricultor estrangeiro, em detrimento dos nossos pequenos agricultores, que podem produzir sem defensivos agrícolas, suprindo nutricionalmente a população local, sem a necessidade de transpor longas distâncias. Outro caso é o uso do açúcar na alimentação escolar (50 milhões por dia), que compromete a saúde desde a infância. São pequenas coisas que fazem a diferença na vida de uma pessoa, principalmente se ela for carente, estudante de escola pública... Então, fala-se em soberania e segurança alimentar, mas esse não é o foco das políticas públicas. Se privilegiarmos a sustentabilidade, as soluções locais saudáveis e sustentáveis poderiam salvar mais vidas.


NOTAS

UM GIRO POR UM MUNDO MELHOR Pai e filha às gargalhadas na guerra durante os bombardeios

Adolescente brasileira dá seu nome a asteroide após ganhar prêmio internacional

© TWITTER/@ALGANMEHMETT

Na guerra da Síria, um pai resolveu criar uma brincadeira incomum e aparentemente estranha, se não fosse com um fim pedagógico necessário. Abdullah Al-Mohammad incentivou a família e, principalmente, a filha pequena, Salwa (4), para que todos começassem a dar risada assim que ouvissem o estrondo de bombardeios ou a passagem de caças militares. Em vídeo no Twitter (https://bit.ly/3dFsWZg), postado em fevereiro, pai e filha aparecem às gargalhadas quando ouvem explosões próximas. O vídeo rodou o mundo e o pai já foi até entrevistado por grandes veículos de comunicação. Abdullah contou que ele e a esposa criaram a brincadeira para evitar que a filha desenvolva traumas e estresse pós-traumático, muito comuns em vítimas de conflitos armados.

Abdullah e Salwa: brincadeira educativa

© TWITTER/@ALGANMEHMETT

Juliana Estradioto: “quero ser uma voz para alunos brasileiros”

A jovem cientista Juliana Estradioto (19), aluna de escola pública de Osório (RS), entrou para a história da Nasa e da astronomia de um modo inusitado. Em experimento, a adolescente criou um plástico a partir do aproveitamento de resíduos do processamento da macadâmia, que seriam descartados. O material orgânico se transforma em uma membrana, que pode substituir qualquer tipo de material sintético. Em 2019, a cientista gaúcha participou da Intel Isef (EUA), uma das maiores feiras científicas do mundo para alunos secundaristas, e venceu a premiação na categoria de ciências materiais. Ela já havia sido premiada por outras descobertas excepcionais, mas nunca havia chegado tão longe: prin-

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Passeio animal MELLIEKOOIT/IMGUR

cipalmente porque Juliana teve o privilégio de ter seu nome dado a um asteroide, tornando-se a primeira brasileira a realizar tal feito. Sua descoberta será usada especialmente na medicina, para enxerto de pele e como veias artificiais.

Surto de tolerância Em tempos de pandemia pelo Covid-19, entre tantas imagens incríveis, uma cena chamou a atenção do mundo em Israel em março, pelo seu caráter de tolerância e de aceitação das diferenças. Um muçulmano (Zoher Abu Jama) e um judeu (Avraham Mintz), ambos paramédicos do serviço de emergência do hospital israelense Magen Davi Adom, durante uma rara pausa de descanso de 15 minutos, fizeram juntos na rua as suas orações, cada um à sua maneira e de acordo com suas crenças, e depois voltaram ao trabalho. Ouvido pelo The New York Times, Mintz afirmou que o coronavírus é uma doença que não faz distinção entre pessoas, religiões e gêneros. “Você deixa isso de lado. Trabalhamos juntos. Esta é a nossa vida”, destacou. UOL/REPRODUÇÃO

Eugene Bostick: amor sobre rodas

Avraham Mintz e Zoher Abu Jama: exemplo de aceitação

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Eugene Bostick (80) poderia passar por apenas mais um idoso comum de Fort Worth, no Texas (EUA), se não fosse por uma forma diferente que ele criou para exercitar o amor que sente por cães de rua. Ele e o irmão vivem em uma rua sem saída, onde muitas pessoas abandonam cães. Incomodado, Eugene criou um abrigo improvisado para os animais. Mas um dia resolveu ir além, quando viu um rapaz que fez um tipo de trem com um trator. Eugene pensou: “Uau! Isso serviria como um trenzinho de cães!”. Como ele é um ótimo soldador, pegou barris, colocou rodas e os amarrou ao trator. O resultado para os bichanos foi espetacular. “Sempre que esses cães adoráveis me ouvem ligar o trator, cara, eles ficam super animados!”, brincou Eugene. Ele diz que, no início, “colocava quatro ou cinco cães no trator e os levava. De repente, mais alguns cães apareceram. Eu disse: ‘Oh! Esse espaço não é suficiente’ – e foi, então, que inventei algo maior” (https://bit.ly/341M13b).


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Se a natureza não tiver futuro, nós também não teremos.

NOS AJUDE A

PROTEGER A VIDA O WWF-Brasil desenvolve, há mais de 20 anos, projetos e iniciativas de conservação do meio ambiente para que a sociedade brasileira conviva em harmonia com a natureza, em benefício das gerações 21 atual e futura.

#JuntosÉpossível doe.wwf.org.br


CULTURA

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE A trilogia em quadrinhos “A Marcha” mostra os primórdios da luta pelos direitos civis nos EUA e apresenta John Lewis como um de seus principais protagonistas, ao lado de grandes vultos desse período histórico, como Martin Luther King Jr., Harry Belafonte e Rosa Parks

PAULO CASTRO

“É

um pequeno passo para um homem, mas um gigantesco salto para a humanidade”. A citação de Neil Armstrong, embora irônica – pois, até hoje, não se sabe de fato qual foi o “salto” dado pela humanidade na corrida espacial –, bem poderia ser aplicada seriamente a outro contexto histórico anterior, no qual, este sim, um pequeno passo de muitos representou significativas manifestações contra a segregação racial e conquistas sociais em prol dos direitos civis, com repercussões em leis mais justas e mobilizações memoráveis contra o racismo, o preconceito e a intolerância. A série “A Marcha”, concebida pelo célebre congressista americano John Lewis, escrita

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por seu assessor político Andrew Aydin e ilustrada pelo premiado ilustrador Nate Powell, tem como mote a primeira das três marchas pacíficas (1965), realizadas por manifestantes em protesto contra a política racista do Alabama e a morte de um ativista, Jimmie Lee Jackson. Na tentativa de trilharem os 85 km da rodovia entre Selma e Montgomery, quando marchavam sobre a ponte Edmund Pettus, os manifestantes foram detidos e selvagemente agredidos por policiais. As marchas se tornaram ícones do movimento antissegregacionista nos EUA e levaram à aprovação da Lei dos Direitos ao Voto, um marco na luta pelos direitos civis no país.


SANDI VILLARREAL/DIVULGAÇÃO

Os autores Nate Powell, John Lewis e Andrew Aydin na ponte que ficou marcada na história dos direitos civis americanos

A trajetória de John Lewis como ativista, político e humanista, saído de uma humilde fazenda no Alabama até o Congresso americano, começou quando, ainda adolescente, lhe caiu nas mãos uma HQ: “Martin Luther King and the Montgomery Story” (1956), que por muitos anos foi como um manual para ele, uma ferramenta indispensável ao movimento, que ensinava como implementar o ativismo não violento nos protestos. Foi o principal motivo para John Lewis decidir narrar sua própria história em quadrinhos. Os três exemplares da saga são repletos de momentos antológicos. No primeiro fascículo, destaco alguns, dentre tantos. Um deles foi a temerária viagem que Lewis, ainda criança, fez com o tio,

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do Sul até o Norte, pela rodovia, cuja tensão, provocada em ambos, foi relembrada, resgatando toda a dramaticidade do momento, uma viagem de iniciação para o militante que Lewis viria a se tornar. Outro momento resgata o pesado e humilhante treinamento dos ativistas para evitarem revidar as agressões de seus algozes. Por fim, cito as prisões, as lutas nos tribunais e o espírito de resistência, de arrepiar, que lhes movia, mesmo atrás das grades, com suas canções de protesto e apoio mútuo. A trilogia mostra que o grande passo da humanidade é o efetuado em direção à conscientização coletiva, mesmo à custa de humilhações, dores, perdas e baixas pelo percurso, na esperança das grandes conquistas, quando o caminhante e o caminho se reconhecem como um só.


RESPONSABILIDADE

SOCIAL

POR UM MUNDO COM MAIS NOTÍCIAS BOAS O jornalismo positivo vem conquistando cada vez mais espaço e público, deixando de ser apenas uma matéria de encerramento dos jornais e ganhando a internet. O número de mídias que focam em notícias boas cresceu e tem transformado a visão de grandes veículos de comunicação

ARISSON TAVARES

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positivas para alimentar o projeto. “Não havia uma fonte. Era difícil publicar uma notícia por dia, porque não encontrávamos. Fomos construindo isso aos poucos, dia por dia, até descobrir novas fontes, fazer o publico leitor se acostumar e também começar a pautar a gente”, explica. ACERVO PESSOAL

udo começou de maneira despretensiosa em um pequeno blog, que falava de coisas boas. Era uma válvula de escape para o jornalista Rinaldo de Oliveira, cansado de falar sobre violência no jornal local que apresentava na TV. Porém, em 2009, era extremamente complicado encontrar informações

Rinaldo de Oliveira: pioneiro no segmento e premiações

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ACERVO PESSOAL

Apesar do olhar diferenciado do convencional, a busca pela qualidade e pela checagem das informações é a mesma de qualquer outro veículo jornalístico. “A diferença entre o mundo da notícia boa e o do mercado tradicional de notícia está apenas no foco. Usamos todas as técnicas do jornalismo, que aprendemos ao longo de 30 anos, trabalhando nas maiores redes de rádio e televisão do Brasil. Só que aplicamos essas técnicas para fazer matérias positivas”, enfatiza Rinaldo.

União que dá força e inspira Assim como o portal SóNotíciaBoa, surgiram outros projetos com o mesmo foco, como o site Razões para Acreditar, inaugurado em 2012. Ao invés de competitividade, mãos dadas e incentivo mútuo. Os dois sites já chegaram a fazer uma transmissão ao vivo nas redes sociais, mostrando que não existe concorrência entre eles. “Juntos somos mais fortes. Esta frase vale para tudo. Também tem lugar para todo mundo na internet”, disse Rinaldo. Paula Roosch: uma rede de empatia que ganhou força na internet

O blog se transformou em portal, o SóNotíciaBoa, inaugurado em 2011. O site virou referência em jornalismo positivo, recebendo – um ano depois da estreia – o Prêmio Engenho de Comunicação, pela inovação jornalística. De lá para cá, o projeto não parou de crescer, ganhando força, com o surgimento de novas redes sociais digitais. A iniciativa hoje tem 273 mil seguidores só no Instagram e recebeu outras premiações, com destaque para o Prêmio CNBB de Comunicação (2017). “Quando surgiu a ideia do SóNotíciaBoa, não havia nada parecido no país. Até então, a notícia boa era tratada como ‘perfumaria’ e era deixada para o final do telejornal, para o apresentador poder dizer ‘boa noite’ e sorrir. Fomos pioneiros e, com muita alegria, estamos quebrando paradigmas”, destaca ele, que recebe contribuições de profissionais do país e do exterior.

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Com a força das redes sociais, o compartilhamento de notícias positivas não se limitou apenas aos profissionais de comunicação. Com o desejo de estimular as pessoas a enxergarem a vida com um olhar mais otimista, Paula Roosch criou o Mídiamor em 2017. “Como não sou jornalista de formação, a principal dificuldade no início do projeto era verificar a veracidade das histórias, além de conciliar com meu trabalho na época. Acredite, existem fake news até positivas e ainda recebemos histórias que não são reais, apesar de serem divulgadas como verdadeiras. Prezamos muito pela qualidade do que compartilhamos”, conta a fundadora. O time do Mídiamor cresceu e hoje distribui boas notícias para mais de 177 mil seguidores no Instagram. “Acredito que nossa rede cresce rapidamente não só pelo seu teor positivo, como também pela carga emocional das histórias que contamos. Quando as pessoas veem uma de nos-


LÉO SILVA / BOOKS MAZE PUBLISHING HOUSE

Paulo Castro: opção consciente pelo jornalismo positivo

sas histórias, elas se conectam aos sentimentos mais bonitos que moram na alma: o amor, a empatia, a compaixão, o altruísmo”, conclui Paula.

Desafio que vale a pena encarar Embora grandes revistas por assinatura estejam fechando as portas por falta de patrocínio, a Revista Por um Mundo Melhor (RPMM) chega à sua 11ª edição com distribuição gratuita e impressão em material de alta qualidade. Isso só foi possível devido a uma rede de solidariedade e empresas que abraçaram a causa. O resultado é fruto de três anos de esforços e dedicação da equipe, que entrega trimestralmente três mil exemplares, além de disponibilizar a versão digital da revista na internet. Paulo Castro, publisher e editor-chefe da revista, resume o trabalho da equipe: “A repercussão entusiasmada do público nos mostra que estamos no caminho certo. Não é o caminho mais fácil, nem o mais compensador financeiramente, porque teríamos mais recursos com uma comunicação aliada à política partidária,

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à economia predatória, às fofocas de celebridades, ao sensacionalismo, à pornografia, à venda de bebidas alcoólicas, a tudo isso que condenamos. Não é o caminho mais fácil, mas é o que nossos corações escolheram seguir”, explica ele. Paulo Castro diz que a equipe fez “uma opção consciente por uma linha editorial que mostra que a vida é muito mais do que a imprensa tradicional nos mostra. A filosofia da revista se destina a um segmento sedento por publicações que fujam do imediatismo das breaking news centradas na estética da miséria humana como artifício de vendagem editorial”, argumenta. Em seguida, finaliza. “Se a vida nos dá tudo – e a natureza está aí para comprovar essa premissa –, não podemos dar menos do que tudo de nós para que a vida seja o ideal que buscamos. E isso começa na visibilidade que damos às iniciativas que fazem a diferença nas vidas de muitos. É uma simples contribuição de nossa parte por um mundo melhor, mas não menos sincera e honesta”.


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SOLIDARIEDADE

UMA AÇÃO PELA CIDADANIA O Programa Identidade Solidária, da Polícia Civil, é uma iniciativa de assistência social pioneira no DF, que garante um direito básico ao indivíduo: o de ser reconhecido como sujeito de direitos, o que lhe permite ter acesso a outros direitos fundamentais para o seu exercício pleno como cidadão DA REDAÇÃO

ASCOM/PCDF

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m 1999, o escritor Stephen Chbosky publicou um livro, chamado: “As Vantagens de Ser Invisível”, uma obra de ficção que, como o próprio nome diz, tem um enredo com viés inusitado: mostra como ser invisível pode ser algo interessante para um grupo de jovens da classe média-alta americana. Já na vida real, se tomarmos o título do livro em seu sentido oposto, principalmente para quem vem de regiões pobres e desfavorecidas das grandes cidades brasileiras, são muitas e extremamente angustiantes as desvantagens de ser invisível. Uma das formas de ser invisível é não contar com documentos básicos de identificação (como o CPF, o RG ou a certidão de nascimento), o que, para o governo, equivale a ter de provar que você existe, para ter o direito de receber benefícios públicos e ter acesso a serviços essenciais, como ter um emprego formal, comprar uma casa com financiamento e até estar matriculado em uma escola. Quase na mesma época de lançamento do livro, por volta de 1998, Eliud Sousa Martins Jr., papiloscopista da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), não parava de pensar nas limitantes dificuldades que as pessoas humildes, especialmente do Entorno do DF, enfrentavam para o seu reconhecimento como cidadãs. Depois de refletir, concebeu o esboço de

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um programa social que poderia facilitar a vida de tanta gente que vivia à margem dos seus direitos. Surgia o Programa Identidade Solidária, que em pouco tempo se tornou o principal braço social da PCDF. A iniciativa se tornou tão exitosa que, em 2001, uma lei distrital incorporou o programa à


VENCESLAU FRANCO/PCDF

Papiloscopistas da PCDF na ação “Sejus Mais Perto do Cidadão”, em Ceilândia. Ao fundo, vê-se o ônibus do programa VENCESLAU FRANCO/PCDF

estrutura da Polícia Civil e criou uma seção para geri-lo. Com um convênio com outros órgãos, a PCDF pôde adquirir o ônibus, o posto volante, o que tornou possível o trabalho de campo.

VENCESLAU FRANCO/PCDF

Os beneficiários do programa são as populações carentes do DF moradoras de regiões muito distantes dos postos de identificação da Polícia Civil. São pessoas que não possuem recursos ou condições físicas para a sua locomoção até os postos. São também os grupos especiais, como menores reclusos e participantes de programas de reinserção social, profissionalização e de recuperação de dependentes químicos, além de pacientes retidos em leitos hospitalares ou internos de instituições como asilos, abrigos e entidades assistenciais. A iniciativa engloba, ainda, colônias agrícolas, escolas de portadores de necessidades especiais, colégios da zona rural, mutirões populares de atendimento social, feiras de apoio ao cidadão, entre outros eventos de cunho social.

Reconhecimento popular Em mais de duas décadas de existência, o programa propiciou a prestação de um serviço comunitário diferenciado, maior celeridade

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VENCESLAU FRANCO/PCDF

no processo de identificação e a permanente atualização do banco de dados da PCDF, com uma estimativa de beneficiamento de 50 mil pessoas durante esse tempo. Só no ano passado, foram 3.200 atendimentos. Hoje, o programa atende, em média, 280 pessoas por mês, entre atendimentos residenciais para portadores de necessidades especiais, pessoas em hospitais e presídios e durante ações sociais.

Franco se recorda também de que, no ano passado, outro caso o comoveu: quando os integrantes da equipe atendiam pessoas especiais no albergue Vila do Pequenino Jesus, no Lago Sul, “uma estrutura que eu nunca imaginaria existir ali, em tão excelentes condições”, uma senhorinha com necessidades especiais, que teria seu documento de identidade emitido pela equipe, “pediu para a cuidadora dela que a maquiasse e que lhe colocasse a melhor roupa que ela tinha, para ser fotografada”, lembrou ele. “Quando a gente chegou, ela estava super bonita, sorrindo o tempo todo. Ela sorria tanto que a gente teve um trabalho grande para fazê-la ficar um pouco séria, pois ela não poderia tirar a foto sorrindo”, diz Franco. E conclui: “Isso é muito gratificante. É o que nos faz levantar todos os dias motivados para fazer esse trabalho”.

VENCESLAU FRANCO/PCDF

Em 21 anos de atendimentos à população carente do DF, quantos casos marcantes o programa não deve contabilizar? “Histórias, nós temos várias”, responde Venceslau Franco, chefe da Seção de Operações Papiloscópicas Externas (SOPE) da Polícia Civil. Ele lembra que, em uma delas, durante um atendimento no assentamento Rio Preto, na sede da Emater, a 70 km de Brasília, uma senhora de idade, super simpática, agradeceu emocionada a todos da equipe, dizendo-lhes que nunca ninguém havia feito nada por ela e que aquele documento de identificação, que eles haviam emitido, era o primeiro que ela tivera em toda a sua vida.

A equipe da PCDF faz a identificação de portadores de necessidades do asilo Vila do Pequenino Jesus, no Lago Sul

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SOCIEDADE

SOLIDARIEDADE ENDÊMICA

HENRIQUE CAVALCANTI/LÍGIA BOECHAT/JULIANA JACINTO

Após deixar uma trilha de perdas irreparáveis, inclusive de vidas, a pandemia do Covid-19 trouxe uma nova rotina ao mundo: quarentena, isolamento social e cuidados emergenciais. Mas também revelou uma incrível corrente mundial de solidariedade como há muito não se via. Em meio a tantos gestos de esperança, grupos de motociclistas brasilienses se uniram e mostraram um louvável exemplo de cidadania, contagiando outros grupos em âmbito nacional e sustentando esforços em prol do país

Grupos de motociclistas do DF: campanha que “contagiou” o Brasil

DA REDAÇÃO

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uem insistentemente tentou acompanhar os noticiários das primeiras semanas após o carnaval no Brasil constatou que eles só pareciam tratar de um único assunto: a emergência planetária do coronavírus, com seus desastrosos desdobramentos econômicos, políticos

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e culturais, além dos dolorosos efeitos sociais. Mas não só isso: os jornais e a internet também destacaram uma notável onda mundial de solidariedade, surgida na esteira das dores pelas vidas perdidas e pelos estragos deixados pela pandemia.


HENRIQUE CAVALCANTI/LÍGIA BOECHAT/JULIANA JACINTO

Serenatas e espetáculos de música nas varandas dos prédios, doações milionárias de celebridades dos esportes e do show business, “vaquinhas” virtuais diversas e incontáveis, o delivery social, cestas básicas para pessoas em situação de rua... Os exemplos são inumeráveis no Brasil e no mundo, o que mostra a bela capacidade que a humanidade tem de sair da sua rotina habitual e de se reinventar pensando no bem-estar do próximo. Em Brasília (DF), chamou também a atenção uma campanha de auxílio, vinda de grupos de motociclistas da cidade, que se espalhou por outros grupos afins de vários outros estados do país, como uma solidariedade endêmica, para ajudar caminhoneiros pelas estradas brasileiras. Na última semana de março, o tocante vídeo de um caminhoneiro e motociclista, que mostrou a necessidade vivida por seus companheiros de ofício, acabou viralizando e mobilizando os motoclubes da capital. No vídeo, o integrante do Coyoty’s MC Brasil clamava à irmandade motociclística do país por auxílio aos caminhoneiros. Com a quarentena, eles ficaram até com dificuldade de alimentação, pois rodam muitos quilômetros de rodovias por dia Brasil afora, mas encontravam todos os restaurantes e comércios de estrada fechados. O empresário Alexandre Boechat, presidente do Urubându Moto Clube, sediado no DF, foi um dos idealizadores do movimento solidário. Surgia, assim, em 28/03, a

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campanha: “Mate a fome de um caminhoneiro, para a fome não matar o Brasil”.

Auxílio à rede arterial que abastece o país “Sentimos que precisávamos fazer algo. Logo que veiculamos a ideia da campanha na nossa rede de contatos, já conseguimos doações em dinheiro. Assim, fizemos as encomendas de marmitas de um restaurante de conhecidos e organizamos a ação”, afirmou Alexandre, que também contou com a esposa (Lígia) para planejar a logística. O plano era ambicioso, mas viável: abastecer os caminhoneiros com refeições ao longo das rodovias pelo Brasil. Mas, para isso, necessitavam da adesão dos outros motoclubes da cidade e também de outros estados, o que logo aconteceu. Demais companheiros de motoclubes brasilienses também se integraram à campanha: Suzete Avelino e seu marido, Henrique Cavalcanti, do Motojus MC, ajudaram a coordenar a logística nas BRs, solicitando o auxílio da Polícia Rodoviária Federal, que prestou toda a ajuda possível. Sócio da Capital Moto Week Entretenimento, Pedro Affonso Franco, juntamente com Juliana Jacinto, também aderiram e ajudaram na coordenação, na


A ação começou na BR 060 e foi um sucesso. Em um só dia, foram 100 marmitas distribuídas para caminhoneiros. Com a primeira iniciativa, ideias novas surgiram: resolveram encomendar refeições de restaurantes comunitários, ao custo de R$ 1,00 a marmita, o que fez render o que eles já tinham de valores doados em caixa. Na ação seguinte, decidiram dividir o grupo em equipes, para atender também outras rodovias que cortam o DF (a BR 020 e a BR 040), além da BR 060. A campanha continua, sem prazo para acabar. Até o fim de abril, mais de 5 mil refeições foram servidas.

HENRIQUE CAVALCANTI/LÍGIA BOECHAT/JULIANA JACINTO

“Foi intensa a união de todos. Serviu para consolidar a irmandade motociclística, que se fortaleceu quando nós nos vimos atuando juntos numa causa social dessa importância”, declara Alexandre. Ele explica que os caminhoneiros compõem a rede arterial de um país, por onde passam todos os recursos para o abastecimento da nação. “Se lhes falta algo, todo o país e nossa população são prejudicados”, destaca.

HENRIQUE CAVALCANTI/LÍGIA BOECHAT/JULIANA JACINTO

mobilização e na divulgação da campanha, que foram intensas.

Eco às ações mundiais de solidariedade Pedro Affonso está certo de que a campanha é só o início de muitas outras ações solidárias semelhantes da irmandade, para fazer a diferença nas vidas das pessoas, a fim de modificar positivamente suas difíceis realidades. “Quando as pessoas se unem para fazer o bem, essa corrente contagia mais pessoas e se multiplica, envolvendo todos à sua volta. É uma forma de dar eco às ações de solidariedade que ocorrem pelo Brasil e pelo mundo afora”, explica. “Uma campanha como essa é uma oportunidade que nós, motociclistas, temos de mostrar a nossa verdadeira face de solidariedade para a sociedade. E é isso o que a gente sempre quis desde o início: ajudar indistintamente, pela união da irmandade motociclística, para auxiliar a irmandade dos caminhoneiros. E, consequentemente, assim, estamos ajudando o país como um todo”, acredita Alexandre. Suzete Avelino é da mesma opinião. “A campanha significa a preocupação com o próximo, independentemente da classe, da amizade ou do conhecimento. Nós, motociclistas, nos colocamos no lugar do outro e estamos sempre na estrada, vivendo e convivendo com a parceria dos caminhoneiros. Essa ação nos dá a oportunidade de fazer por eles o que eles sempre fizeram por nós. Esse é o nosso sentimento, inclusive de agradecimento”, finaliza.

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SAÚDE

COMO FICAM CÃES E GATOS DURANTE A PANDEMIA? Animais de estimação não são uma ameaça durante o surto do Covid-19, alerta a Organização Mundial da Saúde DA REDAÇÃO

pandemia do novo coronavírus (Covid-19) está causando muita incerteza em todo o mundo de várias maneiras; entre elas, a ameaça ao bem-estar dos animais de estimação, já que muitas pessoas associam que eles podem adoecer e espalhar o vírus. Tal desinformação está causando medo e resultando em cruel abandono e sacrifício de gatos e cães.

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A mensagem dessas entidades é simples e direta: até o momento, não há evidências científicas de que animais domésticos (cães e gatos) são uma fonte de infecção para humanos. Não há evidências de que os cães possam ficar doentes e a infecção em gatos está sendo investigada. As recoPIXABAY

Isso pode acarretar outras situações de impacto à saúde pública, como aumento de mordidas e agressões de animais, atropelamentos que resultam em acidentes de trânsi-

to e, possivelmente, aumento da ocorrência de doenças entre animais e eventuais zoonoses, como raiva e leishmaniose. O alerta é feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS), juntamente com outras entidades de renome internacional.

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mendações sobre animais incluem lavar as mãos antes e depois de interagir com eles e seus pertences, assim como manter o distanciamento se você estiver doente.

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O correto é que os donos continuem cuidando de seus companheiros de estimação e permaneçam calmos. O abandono de animais domésticos é inadmissível e, sob nenhuma circunstância, é a solução para a pandemia de Covid-19. Tampouco o sacrifício de animais. A pandemia não é e não pode ser usada, sob nenhuma circunstância, como justificativa para praticar assassinatos cruéis. Existem muitas evidências científicas de que gatos e cães melhoram e enriquecem a vida e a saúde das pessoas. Eles acompanham e protegem seus donos e suas casas e são até capazes de aprender e executar tarefas extraordinárias. Além disso, eles podem ser de grande apoio psicológico para as famílias, reduzindo os níveis de estresse e as tendências depressivas, algo de grande apoio em momentos de distanciamento social. Vamos cuidar deles e de nós mesmos também.

FONTE: CENTRO PAN-AMERICANO DE FEBRE AFTOSA E SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA DA ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (PANAFTOSA-OPAS/OMS) E ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PROTEÇÃO ANIMAL MUNDIAL (WORLD ANIMAL PROTECTION)

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Especialista em manipulação há 21 anos Fórmulas homeopáticas e alopáticas Florais e óleos Essenciais Fitoterápicos Medicina Tradicional Chinesa

O respeito pelo que se faz e por quem consome, o vínculo entre prescritores, paciente e farmacêutico e o atendimento, inclusive aos animais de estimação, permitem à Dynamis realizar a harmonia do ser humano com a natureza

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